6. Diabetes e estresse
6. Diabetes e estresse OCT 49 anos, feminino, do lar. A Sra. Olga tem diabetes há 3, que se manifestou após um complicado processo de divórcio. Ela insiste em atribuir o seu diabetes ao estresse, embora tenha obesidade grau 2 e hipertensão arterial. Como atribui sua doença ao estresse, acha que não precisa fazer dieta ou exercício, apenas cuidar do emocional. Não encontrei entre as causas de diabetes nada que relacione esta doença ao estresse. Não existe diabetes relacionado ao estresse ou simplesmente isto foi esquecido da classificação?
DISCUSSÃO Em primeiro lugar, é importante entender como o estresse pode alterar a glicemia: estresse externo, como o decorrente dos problemas cotidianos, ou interno, relacionado ao modo como reagimos aos problemas, está ligado a liberação de hormônios, em especial adrenalina e cortisol, relacionados ao aumento da resistência à insulina. A resposta ao estresse ocorre em todos os seres vivos, e é uma reação ligada à sobrevivência: assim, quando um homem primitivo se deparava com um animal selvagem a reação hormonal era a liberação dos hormônios citados para permitir que as respostas orgânicas possibilitassem maior captação muscular da glicose, capacitando-o para a fuga (ou para lutar com o animal), assim como modificações cardíacas necessárias para tal. É a reação luta/fuga. Isto não é diferente ainda hoje, embora na vida moderna os fenômenos estressantes sejam muito mais crônicos do que agudos, como no exemplo citado. De todo modo, no estresse crônico os mesmos hormônios são liberados, e embora não tão intensamente, são continuamente, por longos períodos de tempo.
O estresse crônico não é saudável para ninguém, mas para pessoas com diabetes
ele é particularmente complicado porque pode resultar em hiperglicemia. No entanto, o estresse por si não é capaz de ser uma causa de diabetes, uma vez que, se a pessoa submetida ao estresse tiver a função pancreática normal, ela aumentará a
sua secreção de insulina para fazer frente à resistência insulínica decorrente desses hormônios.
Um exemplo de estresse agudo resultando em hiperglicemia é a da hiperglice-
mia hospitalar. Muitos pacientes quando doentes podem apresentar glicemia elevada, o que por si pode piorar o prognóstico durante este episódio. Numerosos estudos demonstraram que pessoas não diabéticas que têm hiperglicemia de estresse durante uma doença aguda têm maior mortalidade e morbidade do que os que não tiveram hiperglicemia. Isto pode significar tanto que a glicemia elevada é lesiva quanto que a hiperglicemia poderia ser um marcador de gravidade. Uma parte dessas pessoas desenvolverá diabetes no futuro: um estudo mostrou que entre pessoas internadas, 3,5% dos normoglicêmicos e 17,1% dos que tiveram hiperglicemia durante a hospitalização evoluíram para diabetes em 5 anos, o que conferiu um risco relativo de diabetes de 5,6. Portanto, a hiperglicemia hospitalar pode ser vista como um fator de risco para diabetes.
Voltando a paciente em questão, pode ser útil se ela compreender que do ponto
de vista populacional outros fatores como obesidade e sedentarismo são os principais vilões como risco para diabetes, e por isso as modificações de estilo de vida com dieta e exercício são importantes para uma vida melhor, Gornik I, Vujaklija-Brajkovic A, Renar IP, Gasparovic V. A prospective observational study of the relationship of critical illness associated hyperglycaemia in medical ICU patients and subsequent development of type 2 diabetes. Crit Care. 2010;14(4):R130.