PSICOLOGIA
segunda opinião: psicologia Dificuldade em dividir o diagnóstico de diabetes com colegas na escola David, 9 anos, diabético tipo 1 desde 6 anos de idade, recentemente mudou para escola municipal na região da Grande São Paulo e não quer que os colegas e professores fiquem sabendo que ele é diabético. Qual a orientação que devo dar aos pais de David? A escola é um elemento que desempenha um papel importante no desenvolvimento e na formação da criança e deve-se partilhar com ela todas as situações que são importantes e que envolvam a vida da criança. A escola deve ser informada e esclarecida sobre o que é diabetes e o tratamento que a criança está recebendo. Deverá ser esclarecida sobre o uso de insulina, sobre a necessidade de a alimentação ser controlada, sobre sintomas de hipoglicemia e o que necessita ser feito nestas ocasiões. A professora da criança desempenhará um papel importante não só pela formação acadêmica, mas também deverá ser uma parceira dos pais e ajudar essa criança a realizar seus autocuidados no seu dia a dia junto aos seus colegas, o que vai também contribuir para minimizar possíveis brincadeiras e sentimentos discriminatórios.
Autonomia para a criança / adolescente com diabetes: viagem Ingrid, 11 anos, diabética tipo 1 há 3 anos e atualmente é capaz de realizar a automonitoração e aplicar de insulina com a supervisão dos pais. A tia que é muito próxima da criança está planejando visitar amigos e parentes no interior do estado no feriado, mas tem medo de levá-la junto. Existe alguma restrição para este tipo de situação? Como a família deve proceder? É natural que amigos e parentes tenham receio em sair e/ou viajar com a criança que é diabética. Entretanto, é importante que a criança participe das atividades, de passeios e viagens para que ela perceba que pode levar a sua vida e desenvolver-se como as outras
crianças. A família mais ampla e amigos próximos devem ser esclarecidos sobre diabetes, sobre a rotina da criança, ou seja, sobre monitorizações, insulina, alimentação, esportes e correção de hipoglicemia. Essas pessoas deverão ser capazes de realizar esses autocuidados, auxiliar a criança quando necessário, estar junto com ela nos momentos em que for realizar a monitorização, aplicar insulina, tendo uma postura acolhedora. Para que isso ocorra é necessário que esses familiares vivenciem um dia na rotina da criança junto com os pais e se sintam capazes de desempenharem esse papel de cuidador. Isso ajudará os pais e a criança a desenvolverem uma relação de confiança com seus familiares e amigos, para que esse convívio ocorra em todas as situações sociais.
Autonomia para a criança / adolescente com diabetes: aplicação de insulina Lucas tem 7 anos e é diabético desde 4 anos de idade. Sempre foi estimulado a participar das atividades envolvidas no autocuidado do diabetes. Nesta idade é seguro permitir que a criança faça a aplicação de insulina sozinho? Apesar ter 7 anos, todas atitudes positivas que ele tiver em relação aos seus autocuidados devem ser estimuladas. Inicialmente, oriente os pais a estarem sempre junto dele para monitorar e ver se ele já tem habilidade suficiente para aplicar a insulina, e orientálo paulatinamente sobre o que terá que fazer caso seja necessário. Após essa primeira etapa, os pais podem atuar apenas como observadores e só interferir se houver necessidade; assim, desenvolverão uma relação de parceria e confiança. Esta atitude também auxiliará os pais a confiarem na capacidade do filho em aplicar insulina nos momentos em que estiverem ausentes (como na escola, festinhas de aniversário, etc). Quanto mais cedo a criança realizar seus autocuidados e assimilar porque tem que realizá-los, melhor será a sua adesão ao tratamento.
Medo de hipoglicemia noturna José Augusto, 14 anos, diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1 com 11 anos. No início do uso de insulina o paciente teve um episódio de hipoglicemia noturna, acordou muito agitado e confuso. Desde então, o pai ou a mãe dorme ao lado do paciente, com medo de que ele tenha hipoglicemia e ninguém veja.
Os filhos precisam sentir-se seguros e esta segurança é percebida através das atitudes dos pais. Dormir junto com o filho demonstra para ele que algo não está bem. Para que os pais fiquem mais tranquilos seria interessante fazer uma medida de glicemia capilar ao deitar e, se necessário, oferecer ao adolescente um alimento. Se mesmo assim os pais não estiverem seguros, oriente-os a ir até o quarto do filho e ver como ele está; o que pode ser feito em dois horários na madrugada, durante alguns dias. Se tudo correr bem, os pais podem ir apenas uma vez por noite, até que se sintam confiantes a dormirem no próprio quarto sem ter que ir até o quarto do filho.
Autonomia para a criança / adolescente com diabetes: atividades na escola Maria Gabriela, 12 anos, é diabética e quer acampar junto com os colegas em um passeio promovido pela escola. A mãe vem em consulta com dúvidas se deve deixar ou não. Como posso ajudar a mãe a resolver este conflito? O portador de diabetes deve experimentar todas as atividades que as crianças e adolescentes vivenciam. Essas experiências fazem parte do desenvolvimento psicossocial e vão refletir na sua saúde mental. Entretanto, os pais devem estar seguros se o filho será capaz de realizar medida de glicemia capilar, administrar as aplicações de insulina e eventuais correções, se for o caso. Essa relação de confiança deve ser estabelecida no dia-a-dia, onde os autocuidados devem realizados de maneira satisfatória em casa e nas atividades diárias pelo próprio diabético, sob supervisão dos pais, que irão auxiliar nas dificuldades que possam surgir até que todos estejam confiantes, seguros e tranquilos. Outro passo a ser dado é conversar com os responsáveis pelo acampamento, esclarecer a rotina de autocuidados, da alimentação, o que fazer em caso de hipoglicemia e demonstrar para eles os passos a serem dados, se necessário.
Mudança de hábitos na família Maria Eduarda, 6 anos, foi diagnosticada recentemente como portadora de diabetes tipo 1. Ela tem mais 2 irmãos não-diabéticos. Os pais, que ainda estão em fase de adaptação,
querem que todos os filhos façam a mesma dieta para acompanhar a “Duda” e, se os irmãos quiserem comer doces foram orientados a fazê-lo escondido. Diante do diagnóstico tão recente de diabetes e do impacto desta nova situação na família, como médico, devo apoiar esta conduta dos pais, mesmo que temporariamente? A família deve alimentar-se de maneira saudável e doces também fazem parte dessa alimentação, como qualquer outro alimento. A criança diabética vai se deparar com todos os tipos de alimentos na vida escolar, social e futuramente profissional, por isso, deve aprender a fazer escolhas saudáveis e os doces podem ser consumidos em dias escolhidos como especiais. Membros da família comendo qualquer alimento escondido poderão desenvolver hábitos inadequados e, principalmente, omitir o que está realmente acontecendo.
Autonomia para a criança / adolescente com diabetes: mudança de comportamento Aline, 19 anos, diabética tipo 1 há 7 anos, durante a fase de pré-adolescência e adolescência manteve controles glicêmicos não adequados com valores de hemoglobina glicada sempre próximos a 9%. Por vezes omitia a aplicação de insulina e fazia a ingestão de alimentos ricos em carboidratos. Atualmente, refere que está mais consciente da necessidade do autocuidado e tem feito as aplicações de insulina seguindo as orientações médicas. Hemoglobina glicada atual 7,9%. A mãe, que foi a principal cuidadora durante os primeiros anos de diabetes, não acredita nesta mudança de comportamento e nem que Aline faz dieta e toma os medicamentos corretamente. A relação com a mãe precisa ser refeita, para que possam estabelecer uma relação de confiança. Para isso, o ideal é começar do passo inicial, ou seja, começar realizando glicemia capilar, aplicando insulina junto com a mãe, para que ela possa participar dos controles e alimentação. Deste modo, ela poderá se sentir segura
quanto à capacidade da filha no autocuidado. Restabelecendo esses passos, mãe e filha poderão sentir-se novamente confiantes e seguras.
Cuidador em relação ao diabetes: paciente x familiar Antônio, 52 anos, é diabético, dislipidêmico, hipertenso e obeso. Não faz dieta e não tem tempo para atividade física, pois sai de casa muito cedo para trabalhar e só retorna à noite. A esposa vem em consulta e reclama da dificuldade do marido com o tratamento e que ele só comparece obrigado às consultas médicas. Vejo que esta dificuldade de adesão ao tratamento é muito comum entre os portadores de diabetes e geralmente as esposas acabam assumindo o cuidado integral do diabetes do parceiro. A paciente precisa, em primeiro lugar, se conscientizar de hábitos mais saudáveis e cuidar da sua alimentação. A equipe de saúde e a família poderão ajudá-lo nesse processo, conversando com ele que ser diabético é um fato. Peça para ele listar os cuidados que deverá seguir. Nesse momento vocês podem conversar sobre quais são os hábitos atuais e compará-los com os que devem ser seguidos. Provavelmente ele perceberá as discrepâncias que estão ocorrendo. Isso facilitará a sua percepção do que está acontecendo consigo, e então deixe que ele escolha um ou dois cuidados que sejam mais fáceis de tornarem-se hábitos. Deixe-o estabelecer pequenas metas com espaços de tempo para cumpri-las. Conversem também sobre as dificuldades que ele enfrentará em realizar essas mudanças e também quem poderá auxiliá-lo, caso ele deseje, neste plano. Experimente esse plano por algumas semanas e, quando conseguirem êxito, acrescente paulatinamente outras situações. A mudança de comportamento é gradual, a família e a equipe de saúde devem ter o mesmo objetivo. A esposa precisa mostrar que também é difícil para ela e que está tentando compreendê-lo e não repreendê-lo. Lembre que o paciente é livre para escolher o que é importante para a própria vida, e essas escolhas devem ser respeitadas ainda que ele não se disponha a fazer as mudanças necessárias. Ninguém pode viver a vida do outro. Os movimentos para as mudanças de estilo de vida são, às vezes, graduais. Reprimir ou recriminar nunca é o melhor caminho para acelerar esse processo