Edição 37

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Brasília, DF, Edição 37, maio de 2015

TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 37 maio de 2015 ::

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Consórcio de Serviços Seu sonho por inteiro e o pagamento em suaves parcelas.

O Sicoob Executivo mais uma vez inova pensando em você. O Consórcio de Serviços acabou de ser criado, para que aquele sonho seja realizado e pago bem tranquilamente. Este produto serve para serviços com nota fiscal. O que era muito distante agora está ao alcance de quem é Sicoob Executivo.

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EDITORIAL

Transformação

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TEDx influenciou a equipe do Tendências e Negócios. A parceria firmada com o evento mundial trouxe, além de visibilidade, muito conhecimento para nós. Dentre os palestrantes, nos impressionamos particularmente com duas das histórias, que, neste mês, compõem a reportagem de capa. Uma é a do professor de arquitetura da UnB Márcio Buson capaz de transformar sacos de cimento em tijolos. A outra, a da empresa de design de móveis Baru, os sócios Bruno Antunes e Thiago Lucas dão oportunidade a ex-detentendos criando peças com madeira de demolição. Além desses dois personagens, encontramos outros, ligados ao desenvolvimento do Distrito Federal com a missão de transformar lixo, na visão de muitos, em oportunidades. O jovem de 23 anos Felipe Fiuza faz parte do grupo musical Patubatê, os instrumento utilizados por eles são feitos a partir de materiais descartados em obras. A artista plástica Nina Coimbra também faz parte da nossa seleção, cuja criação consiste em dar novas identidades a móveis fora de uso. Com foco no desenvolvimento social, o Coletivo da Cidade renova bicicletas usadas para distribui-las na Estrutural. E finalmente, o casal de designers Andrea e Marcelo Judice não reutilizaram objetos descartados para causar a transformação, eles melhoraram a vida de toda uma comunidade abandonada aos olhos da sociedade. Nesta edição, vamos trazer também um especial em comemoração ao mês do aniversário de Brasília. Escolhemos alguns dos estabelecimentos que fazem parte da construção da nossa capital e que continuam desenvolvendo Brasília até hoje.

Carol Dias - editora-chefe

• Diretor Executivo: Alex Dias • Editora-Chefe: Carol Dias • Diretora Financeira: Ana Paula Santana • Redação: Eduardo Barretto, Victor Pires, Bárbara de Alencar, Bianca Marinho Carolyna Paiva e Taise Borges • Diagramação: Alisson Carvalho • Foto da capa: Emerson Damasceno • Imagens: Alisson Carvalho, Wagner Augusto, Marcos Paulo, Raphael Farias, Magnun Alexandre, Jonathan Felix e Emerson Damasceno Gestão de Pessoas: Caio Dias Redação (61) 3964-0626 Comercial (61) 9288-0520 9905-1677 Distribuição Gratuita emails: carol.dias@grupoten.com.br contato@grupoten.com.br WWW.TENDENCIASENEGOCIOS.COM.BR

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A CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL AGORA TEM DEFENSORIA PÚBLICA. Defender os direitos de quem precisa é nosso dever. Se você precisa de um advogado e não pode pagar por esse serviço, você pode recorrer à Defensoria Pública. E a Câmara Legislativa, para atender quem mais precisa, inaugurou, em suas dependências, o Núcleo de Atendimento Jurídico ao Cidadão resolvendo questões de família, de registro público e de órfãos e sucessões. Em dois meses, foram mais de 500 atendimentos.

Praça do Servidor De segunda a sexta, das 7h30 às 18h Mais informações: www.cl.df.gov.br

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Sumário

Foto: Arquivo público

54 Feiras

Capa - 16

Gente que Faz - 26

Restos de construção, bicicletas encostadas, e até móveis abandonados são usados para tornar o sonho de empreendedores de Brasília realidade

Conheça a história de uma personagem que desenvolve projetos para transformar a vida de muita gente. Maria Abadia incentiva a cultura na Estrutural

Empreendedorismo - 40 Comportamento - 50 Empreendedores da cidade se conectam em grupos empresarias. Veja como o networking pode ser uma prática importante para melhorar o negócio

Programas de fidelização de clientes ganham força frente a crise econômica. A Carta Curinga, clube de benefícios de Juiz de Fora, MG, chega a Brasília

Empresa verde - 46

Capacitação - 60

O desenvolvimento sustentável é uma meta dentro das empresas, sejam elas pequenas ou grandes. O restaurante DuoO é um exemplo de como pequenas ações geram grandes frutos

Jovens universitários de Brasília formam um grupo de preparo para alunos ingressaram no Ensino Superior. O Vestibular Cidadão é uma organização voluntária e gratuita

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dedicada a estudantes de baixa renda


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Networking pode ser uma prática importante para melhorar o negócio

Foto: divulgação Instagran

64 Brasília sob novas perspectivas

Entrevista - 12 O senador Hélio José, que é também engenheiro eletricista, explica a importância de novas formas de produção de energia no país Foto: Marcos Paulo

editorias Dicas Empresariais

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Entrevista 12

Empreendedorismo 48

Fugindo da Rotina

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Receita do Chef

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Dicas Empresariais

Alex Dias

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A todo instante surgem novas polêmicas causadas por consumidores injustiçados que usam as mídias sociais para expressar sua insatisfação. Este mês, foi a vez da Arezzo prestar contas pelo meio virtual. A rede de calçados teve de explicar por que a palmilha que se soltou do sapato de uma cliente após dois dias de uso pertencia a uma marca concor-

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Planejar não é só uma questão de formalidade. Por meio do planejamento estratégico, as organizações são capazes de visualizar novas oportunidades e analisar a realidade do empreendimento. O planejamento também possibilita direcionar o trabalho da organização, maximizar ganhos e minimizar deficiências. Para colocar o planejamento

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rente da empresa. A repercussão começou depois que a consumidora compartilhou a foto da sandália no Facebook. O caso mostra por que estar presente no meio virtual é, hoje, uma questão de sobrevivência para as marcas. Por meio das mídias sociais, a Arezzo pôde explicar o ocorrido para a cliente que se sentiu lesada e responder às críticas dos consumidores que opinaram de todos os lugares do país. Fonte: Portal Exame

É natural encontrarmos, nas grandes e pequenas empresas, profissionais com perfis totalmente diferentes. O difícil é direcionar todos eles para um objetivo organizacional comum. Para conquistar o engajamento de toda equipe, a empresa deve ter missão e valores integrados e bem definidos e, dessa forma, fazer com que os membros se sintam parte do todo. Nesse aspecto, o papel da liderança é fundamental, afinal, o líder será o exemplo a ser seguido pelo restante do grupo. Além disso, é fundamental ter o desafio em mente: zelar pelo bem-estar da equipe não é responsabilidade só do RH, mas do gestor também. Fonte: Sebrae

estratégico em prática dentro da empresa, no entanto, são necessárias algumas etapas. Inicialmente, o gestor precisa definir seu negócio, para evitar que a organização seja percebida de forma equivocada. Posteriormente, deve estabelecer sua missão – razão de ser da empresa – e visão de futuro. Por fim, é preciso definir os valores ou princípios filosóficos que regem as decisões da organização. Fonte: Sebrae

A estrutura organizacional define o modo como as pessoas são alocadas nos cargos de uma empresa. Por meio dela, os líderes conseguem aproveitar melhor o potencial de cada colaborador. Na hora de montar uma estrutura organizacional, no entanto, é preciso ficar atento a alguns pontos. Optar por uma hierarquia horizontal ou vertical é a primeira necessidade. Considere também se sua empresa é formada por equipes que trabalham de forma independente umas das outras ou não. Então, monte uma base eficiente de comunicação interna e planeje a divisão das demandas de trabalho entre cada setor do seu negócio.

5 Jovens empreendedores têm conquistado espaço no mercado cada vez mais cedo. Seu sucesso se deve, muitas vezes, à coragem de arriscar e ao entusiasmo com que administram os negócios. O site Inc. trouxe dez lições que podemos aprender com esses jovens: 1. O sucesso não é questão de sorte. Ela só favorece aquele que está preparado e disposto a trabalhar. 2. Seja confiante. Acredite no seu potencial e encare as críticas. 3. Envolva-se com um projeto estimulante, capaz de motivá-lo todos os dias. 4. Conheça sua empresa melhor do que ninguém. 5. Trabalhe duro. Depois, trabalhe mais. 6. Conserve a energia e a paixão pelo seu ofício sempre. 7. Estipule um objetivo e acredite que pode alcançá-lo. Acredite que você merece. 8. Calcule os riscos e, então, salte com os dois pés sobre eles. 9. Faça o que tiver que fazer hoje. Não deixe para amanhã. 10. Seja paciente e comemore cada pequena vitória.

Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios

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ENTREVISTA

Alternativas para energia Senador Hélio José trabalha para que o Brasil diversifique sua matriz energética

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esde 1953 não se via uma crise hídrica no Brasil como a que passamos nos últimos dois anos. Não fosse apenas a escassez da água, o país sofre também com a falta de energia elétrica, já que mais de 80% de sua matriz é proveniente de hidroelétricas. Por esse motivo, a população e alguns representantes começam a se movimentar para pensar em novas formas de produção de energia no país. O senador Hélio José é engenheiro eletricista e desenvolveu no Senado Federal o Projeto de Lei 201/2015, que visa incentivar empresários e cidadãos a buscarem novas fontes energéticas. Para ele, a solução está em diversificar as formas de produção. O Brasil tem 83 % de sua energia produzida por hidrelétricas. Devemos trabalhar outras energias? Já passou da hora do Brasil se voltar para outros tipos de produção de energia. Já estamos começando. Há oito anos, a energia eólica era traço no país. Com investimento num programa chamado Proinfa e outros incentivos do Ministério de Minas e Energia, hoje o Brasil tem 4% da sua matriz energética por meio dos ventos. Este tipo de energia chegou a um preço bastante competitivo e, consequentemente, se torna viável. No entanto, não possuímos muita capacidade de armazenamento deste tipo de energia, mas, na progressiva, ela pode chegar a atingir até 10% da nossa matriz energética.

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Onde está concentrada? Nas regiões de maior concentração de ventos, o Nordeste, no Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia, em Minas Gerais também, mas um pouco menos. O Rio Grande do Sul possui grandes parques eólicos. Os moinhos de geração de energia eólica precisam deste vento mais forte para poder garantir uma geração adequada, mas tem também um aproveitamento menor. Uma possibilidade para o futuro de uma energia barata, seria o conjugado de um sistema de menor escala da energia eólica com a fotovoltáica - via os raios solares- para um aproveitamento doméstico. Isso seria acessível a toda população. Inclusive, atenderia melhor comunidades isoladas, onde não chega rede de energia. O governo deveria subsidiar esses equipamentos para torná-los mais baratos? O Brasil precisa priorizar outras matrizes energéticas. A fotovoltáica, por exemplo, hoje é só traço, assim como era a eólica. A gente espera em cinco anos a energia capitada por painéis solares ganhe força, países importantes como Portugal, Espanha, Alemanha, Noruega, Suécia já os utilizam como parte importante da produção de energia. No Brasil, precisamos fazer a mesma coisa. Mas os captadores de energia solar, que são as células fotovoltáicas, são caras, porque não tem subsídio do governo.


Foto: Marcos Paulo

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ENTREVISTA

“Cada pessoa poderia investir em painéis fotovoltáicos em seus telhados, em um curto período de tempo, paga-se todo o investimento e ainda é possível vender a sobra”

Que tal seria a isenção de impostos? O governador Rodrigo Rollemberg e o secretário de Fazenda, Leonardo Colombini, me garantiram que em Brasília vamos dar um jeito de isentar todos os impostos das células fotovoltáicas. No Senado Federal, apresentei o PLS 201/2015, para determinar o subsídio e facilitar o brasileiro a adquirir painéis de energia fotovoltáica. Devemos aproveitar o Sol, que está ao alcance de todos. Os dois últimos anos foram os de maior estiagem no nosso país. O Brasil corretamente investiu bastante na energia de hidroelétrica, que representa muito mais da metade da sua matriz energética hoje, mas acompanhamos o risco do sistema com a baixa nos reservatórios na região do Sudeste. A energia solar vai compensar, pela sua produção ser feita de uma forma descentralizada, a energia e consumida onde é gerada. Assim, diminui a necessidade de uma rede, o que minimiza os gastos.

Esse é um sistema caro? O Brasil é o maior produtor de silício do mundo, que a matéria prima-prima básica dos painéis fotovoltáicos. Muitas vezes, o consumidor confunde o painel fotovoltaíco com o de aquecimento de água, que no Brasil é caro e de pouco rendimento. Isso inclusive marginalizou um pouco a energia solar em nosso país. O painel de captação fotovoltáica é um painel leve, que serve para armazenar energia, que pode ser usada em momentos do dia que não tem sol. Espero que no curto período de tempo os painéis fotovoltáicos estejam ao alcance de todos para gerar energia doméstica. Aqueles que tiverem condição de instalar mais do que consomem poderiam até vender para a rede. Se fizermos um monte de micro geração de energia, vamos abaixar o pico e tirar o risco do apagão. Qual é a viabilidade de popularizar esses painéis? Todos os tetos poderiam ser utilizados para instalação de painéis fotovoltáicos, quando houver a regulamentação e o Brasil tiver um medidor de energia, fazendo diferença para a pessoa pagar ou receber em crédito. Todo mundo poderá ter painéis fotovoltáicos nos tetos. Mas tem que ter regulamentação e incentivos. Minas Gerais é o único estado brasileiro em que as pessoas pagam a diferença de fluxo. Estou prevendo apresentar um novo projeto de lei prevendo que o Brasil inteiro pague ape-

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nas pelo fluxo, o ICMS, porque não tem sentido cobrarmos duplamente o imposto das pessoas. Além disso, tem também a energia dos espelhos, a heliotérmica. Terras improdutivas, poderiam se tornar fazendas de geração de energia elétrica. Na Espanha e nos Estados Unidos, por exemplo, tem muito disso, grandes fazendas de espelhos, que produzem energia elétrica. Essa energia, no Brasil, poderia ser aproveitada em terras devolutas, servir para aliviar o sistema e ainda gerar um lucro para os donos das terras.

Quais são as outras alternativas de energia? No estado de São Paulo, hoje, a maioria dos empresários produtores de cana de açúcar já são auto produtores de energia via o bagaço da cana, via energia da biomassa. O Brasil é um dos países maiores em bio massa. A palha do arroz, o bagaço da cana, a casca do coco, tem vários insumos no Brasil que podem gerar energia elétrica. Além disso, tem a questão da energia nuclear. A expectativa do Ministério de Minas e Energia é que se faça até 2030 mais quatro usinas nucleares. A energia nuclear está cada vez mais segura e é uma realidade em vários países. O Brasil tem com Angra 1, Angra 2 e conclui o 3, sem nenhum risco, nunca houve nenhum problema. A energia fotovoltáica é a mais favorável para a região Centro-Oeste? Para o Brasil inteiro, nós temos Sol o ano todo. Espero que em oito anos este tipo de sistema seja pelo menos 10% da matriz energética brasileira. Os maiores produtores hoje de painéis fotovoltáicos estão na China, na Coréia, Portugal e Alemanha. Esses produtores precisam vir para o país e investir na nossa terra, que é o maior produtor de silício. Isso é importante é de largo alcance social. Cada pessoa poderia investir em painéis fotovoltáicos em seus telhados, em um curto período de tempo, paga-se todo o investimento e ainda é possível vender a sobra, quando estiver regulamentada a forma de fazê-lo. A micro geração distribuída é fundamental para o equilíbrio do sistema, mais de 50% da matriz energética de Portugal é de geração distribuída. Aí entra a importância das energias alternativas como a eólica, a fotovoltaíca, a biomassa. O Brasil não pode ficar na dependência total da chuva.


Foto: Ozimpio Souza

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Imagen: divulgação

Viaje sem dor de cabeça

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romoção de viagem para o Chile para quatro pessoas. Quem não ficaria tentado ao pipocar uma oferta desse tipo na tela do computador? Flávia Gomes ficou. Na hora, a psicanalista comprou o pacote de férias para toda a família. Contudo, as passagens não faziam parte de promoção. Conclusão: o passeio acabou ficando muito mais caro do que se tivesse sido planejado por uma agência de turismo. A internet chegou com suas facilidades e promovendo a redução do custo de viagens. Mas não é sempre assim. A história de Flávia é uma entre tantas vividas por quem escolhe a liberdade da web à segurança garantida pelas agências de viagem. De acordo com o diretor secretário da Associação Brasileira de Agências de Viagem no DF (Abav), Hugney Veloso, a forma como as companhias aéreas e as agências virtuais trabalham é “encaixotada”. Para ele, o advento tecnológico funciona muito bem até o surgimento de um contratempo. “Se você tiver algum problema relacionado à mudança de horário ou à perda de voo do pacote comprado pela internet, é muito difícil

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Mudança de hábito

entrar em contato imediato com alguém e encontrar uma solução”, explica Hugney. Mesmo com a proliferação das agências virtuais, os estabelecimentos físicos ainda respondem pela maior parte das compras de pacotes de viagens. De acordo com a Abav, a fatia da população que confia nas novas tecnologias é de apenas 10%. Isso porque, apesar dos preços parecerem tentadores, as empresas virtuais são líderes em reclamações de pessoas que tiveram problemas com os pacotes adquiridos. “É o barato que sai caro”, garante Flávia. “As agências continuam sendo a melhor opção para qualquer tipo de viagem”, adverte Hugney. O turismólogo chama atenção para os deslocamentos em função do trabalho. “O diretor ou o colaborador precisa das informações de voo corretamente. Ele deve chegar ao seu destino e saber se o hotel reservado está próximo do seu local de trabalho. Afinal, o mais importante em uma viagem de negócios é a comodidade e a dinamicidade”. Alexandre Bahia é secretário executivo do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif). Segundo ele, que a instituição realiza, em média, sete viagens por mês – todas programadas pela agência de viagens DF Turismo. Para Alexandre, a grande vantagem do serviço é a segurança: “Em voos internacionais, dependendo do destino, as conexões são mais complicadas. O risco de perder o avião é muito grande”. Tendo viajado das duas formas, com e sem o auxílio da agência, Alexandre diz ter aproveitado melhor o tempo em viagens organizadas pela DF Turismo. Ele também destaca a diferença do acompanhamento de um profissional com experiência na área: “Isso transmite para a corporação e para o cliente uma confiança maior e, ainda, pode evitar alguns transtornos para o viajante, que muitas vezes ocasionam prejuízos para a empresa”. Na DF Turismo, por exemplo, o funcionário passa por um treinamento antes de atender os clientes. “A reciclagem é constante. Além do curso, os diretores da empresa estão sempre transmitindo conhecimento aos colaboradores”, afirma o gerente comercial da DF Turismo, Sérgio Gadelha.

Antes • O principal produto era a venda de passagens aéreas emitidas manualmente. • Os Estados Unidos era o destino internacional mais procurado. Em viagens dentro do país, a preferência era pelos ônibus. • As agências se especializavam em uma única demanda de destino. • A maior parte dos clientes se concentrava na classe A. • As operações com os clientes eram por telefone. O risco de overbooking era maior, ou seja, muitas vezes eram vendidas mais passagens do que o número de assentos existentes. Depois • Graças à internet, surgem novos tipos de comunicação com o cliente e são criados sistemas operacionais para diminuir as chances de overbooking nos voos. • Os serviços das agências ficam cada vez mais personalizados, indo muito além da venda de passagens. Agora, elas organizam todo o roteiro da viagem. • O público-alvo, atualmente, são as classes C,D e E, que passam a aquecer o turismo. • O custo da compra com as agências ficou bem mais barato graças à informatização e à diversificação de pacotes.

Internet: uma aliada Apesar da concorrência criada pelo mundo virtual, as agências transformaram o que poderia ser um inimigo em um grande aliado. Atualmente, munir-se de equipamentos tecnológicos otimiza o tempo de busca e permite ao cliente ter maior liberdade nos preparativos da viagem. A redução

do custo é outro fator levantado por Gadelha: “Nós trabalhamos direto com os sites das companhias aéreas. Temos parcerias com locadoras de veículos e redes de hotéis. Dentro desse ambiente, podemos fazer um pacote bem mais barato para o cliente”.

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CAPA

MIDAS DO Foto: arquivo pessoal

O que ninguém mais quer vale ouro para um grupo de brasilienses. Do design, música, construção, mobilidade e saúde, eles não veem o fim no descarte de um objeto – é só o começo de um negócio bom para todos | Eduardo Barretto

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Dfeito por Nina Coimbra com cadeira “Pina” de Angelo Duvoisin - Foto: Emerson Damasceno

“Resto”, “não serve mais”, “lixo”. Estamos sempre ouvindo esses termos – que aumentam ao passo que consumimos mais. Nos últimos dez anos, a quantidade de lixo gerada pelo brasileiro aumentou 21% – enquanto a população do país cresceu 9,6%, menos da metade. Não tem desculpas: as pesquisas só nos são desfavoráveis, e não adianta botar a falta na conta da nova classe média. Ao longo de 2013, cada brasileiro produziu em média 383 quilos de lixo, mais de um quilo por dia. As estarrecedoras 63 milhões de toneladas de detritos desse ano encheriam 441 Maracanãs. Não bastassem os números podres da geração de lixo, também lidamos mal com os resíduos, muitas vezes destinados a locais errados. No Distrito Federal, a 15 quilômetros dos palácios modernistas suntuosos de mármore


PLANALTO Foto: Wagner Augusto

Foto: Magnun Alexandre

e traços ousados, está o lixão da Estrutural, que recebe duas toneladas de dejetos todos os dias e ostenta a marca de maior da América Latina. O plano do governo era acabar com todos esses depósitos do país até agosto do ano passado, mas estamos muito longe da meta. De acordo com dados deste mês da Secretaria do Meio Ambiente do DF, ainda há 570 lixões clandestinos no Distrito Federal. Infelizmente, o descarte excessivo e inadequado não é um mau hábito do século XX ou XXI. Na mitologia greco-romana, o deus do inferno – e associado ao lixo – Plutão (para os romanos) ou Hades (para os gregos) raramente era encontrado em altares. Com feições repugnantes, ele só conseguiu uma esposa depois de roubá-la, e o deus utilizava um capacete de invisibilidade. Não fazemos o mesmo quando mandamos para longe nossos

restos? E o planeta-anão Plutão, xará do rei das profundezas? Quando ainda era planeta, era o mais afastado do Sol no Sistema Solar. Mas nem todos querem distância desse mundo. Ele é admirável aos olhos de alguns empreendedores da capital que, se não estão em mitos gregos, têm atitudes heroicas. Como o mitológico rei grego Midas, transformam em ouro tudo o que toca. “Resto”, “não serve mais”, “lixo”. Essas palavras ganham outro sentido para essas pessoas, movidas a transformações de verdade. Onde muitos veem o fim, eles enxergam a oportunidade e fazem negócios surgir de restos de obra, madeira de demolição e até dos descastes de outros. E dá samba? Com certeza – e muito design, arquitetura, música, mobilidade urbana e saúde pública.

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CAPA Fotos: Magnun Alexandre

Mas que nada Quando conheceu a marimba – versátil instrumento africano que lembra o xilofone – por intermédio de um amigo, o músico brasiliense Felipe Fiúza (foto) tinha apenas 19 anos e estudava Percussão Musical na Escola de Música de Brasília. Ele parecia ter apenas uma opção: conseguir dolorosos R$ 25 mil para comprar um modesto modelo nacional do objeto. Na prática, o jovem tinha tudo para esquecer a marimba e continuar seus estudos com outros sons. “Foi uma paixão que tive, e em pouco tempo vi que já era amor. Fiquei querendo muito ter a minha, e me arrisquei a fazer”, conta Fiúza, ao reconhecer que o primeiro resultado não chegou a ficar satisfatório. De novo, uma alternativa parecia óbvia: largar tudo aquilo e esperar para ver o que os estudos o trariam. “Com um pouco de prática, eu poderia sim ter minha marimba. Quando consegui, intensifiquei a pesquisa e quis levar esse ensino aos meus alunos”, recorda. A partir daí, onde todos só viam uma pilha de entulho, Fiúza

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via instrumentos em potencial – e mais potencial ainda em seus estudantes. Felipe ainda continua os estudos na Escola de Música, e tamanha determinação surpreende pela pouca idade: 23 anos. O aluno-professor já implementou o ensino da música por meio de marimbas feitas de restos de obra na ONG Aldeias Infantis e no Instituto Aprender. O apetrecho, ao contrário da maioria dos instrumentos percussivos, alia ritmo, harmonia e melodia, um prato cheio para a musicalização de crianças ávidas por tocar notas na escola, ainda mais quando as frequências vêm de um instrumento feito de resto de construção. O artefato passa de um objeto endeusado e distante para algo próprio dos estudantes, fazendo com que tenham uma familiaridade valiosa com a prática musical. Os materiais mais usados por Felipe são compensado e porcelanato, pela abundância em entulhos. Contudo, madeira, tubo de PVC, vidro e alumínio podem facilmente entrar na roda. O lixo vira luxo em uma pequena oficina na casa, dele lugar onde os instrumentos do celebrado grupo brasiliense Patubatê – de batuque sustentável, do

qual Fiúza é membro – também são preparados, e lá o trabalho mais pesado é feito: corte da madeira e outros procedimentos de marcenaria. Depois, ele leva os pedaços para as crianças, e aí os pequenos exercitam a coordenação motora fina encaixando e colando as novas teclas da marimba. Alguma parte quebrou? Conserta-se. “Quero mostrar para as pessoas a proximidade da marimba em nossas vidas, e quero fazê-las olhar o lixo de outra forma. Despertar que do lixo de obra pode sair sim um som melódico e harmônico”, explica Felipe. Por enquanto, o foco de ação do músico tem sido no Itapoã e Paranoá, mas ele planeja expandir não só as aulas, mas também o trabalho de conscientização ambiental. Atualmente, o músico busca apoio de lojas de construção para doar materiais – mesmo que descartados – e um patrocínio para ajudá-lo a levar a ideia adiante. “O pensamento da natureza finita tem chegado, e o susto tem feito muita gente acordar. Seguir essa ideia por meio da arte pode ser mais bonito e menos doloroso”, ensina o jovem professor, com o dom não só de ensinar, mas de reger.

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CAPA

Madeira de transformação Os cartões corporativos estilizados e com cor amadeirada da Baru Design trazem os nomes de Thiago Lucas, Diretor de Criação, ou Bruno Antunes, Diretor Executivo, e seus respectivos celulares. Mas a Baru está muito longe de ser uma empresa comum – de propósito. Para fazer os móveis, árvores não são derrubadas; o desenho refinado das estruturas contrasta com madeiras de inúmeras colorações; a madeira utilizada é de demolição; o mobiliário não é feito em uma fábrica barata e poluente na Ásia, mas em uma cooperativa de ex-detentos no maior lixão da América Latina. Além disso tudo, você não vai encontrar mais ninguém no time da Baru além dos dois jovens brasilienses (foto) de 25 e 29 anos – eles dão conta do recado, e em menos de um ano de negócio já são sucesso de crítica. Com uma proposta arrojada – ter na base do negócio também a sustentabilidade e o comércio justo –, a organização, que carrega no nome uma árvore do Cerrado, deixa para o consumidor – por enquanto, só por pedidos online no portal Baru Design – uma tarefa árdua: se impressionar mais com o objetivo, a execução coerente, a história ou a veia empreendedora da Baru. Isso antes de admirar os móveis, porque daí em diante os olhos são fisgados. Quando Thiago ainda era aluno de Desenho Industrial na Universidade de Brasília (UnB), estava em busca de organizações para trabalhar para e causar impacto ali mesmo. Em 2010, ele conheceu a cooperativa Sonho de Liberdade, no Lixão da Estrutural, que “além de madeira, recicla vidas” – como gosta de repetir o idealizador Fernando de Figueiredo –, pois dá a outros cem ex-detentos do Complexo Penitenciário da Papuda uma oportunidade de reinserção social. “O maior trabalho é reinserir esse pessoal que estava em situação de risco. A gente hoje não depende de governo, juiz, promotor, doação, mas exclusivamente do nosso suor”, orgulha-se Fernando, para, segundos depois, mudar o tom da voz ao comentar o caminho espinhoso para uma vida digna de volta depois da cela. Ele diz com a tristeza de quem sabe da escuridão do trajeto, mas se vale de um modo enérgico, como quem não quer que essa situação se repita com outros. “Se tentam manter um cara atrás das grades, aqui fora não se faz nada para essa pessoa mudar de vida. É fácil punir, maltratar e jogar o cidadão

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dentro do sistema. Depois, ele tem de voltar para a sociedade”, cobra, ao mesmo tempo em que dá o exemplo. Com oito anos de história, a Sonho de Liberdade hoje reaproveita, além de madeira, cimento e ferragens. São toneladas e toneladas de material resgatadas das montanhas da Estrutural a cada dia. Toneladas ressignificadas, reaproveitadas e colocadas nas engrenagens da economia novamente. Várias empresas parceiras oxigenam a demanda da Sonho. Uma delas é a Baru. No ano seguinte, em 2011, Thiago formou-se em Desenho Industrial. Em 2012 foi a vez de Bruno, graduar-se em Administração, também pela UnB. Apesar do pouco tempo com ensino superior completo, eles não esperaram o diploma para entrar no mercado. Os dois se conheceram ao trabalhar em uma incubadora social – durante a UnB e depois –, e fundaram a Baru Design em julho do ano passado. A primeira e por enquanto única linha tem seis mobiliários – mesas de centro, lateral, de jantar e café, aparador e banco –, um painel e uma mandala, e foi batizada de Estrutural. Explorando as diferentes histórias e tons de cada ripa de madeira de demolição incorporada às peças – o que suaviza a sisudez fria sem cair no simplório –; expondo o mobiliário como um produto em aberto,


Fotos: Wagner Augusto

com encaixes sem segredo; e valendo-se de traços retos e contemporâneos com superfícies vazadas, as estruturas são polivalentes. Como é impossível ter dois móveis exatamente da mesma tonalidade com madeiras de demolição – o oposto da lógica industrial e pasteurizada de grande escala –, os méritos do projeto logo aparecem: há algo unindo essas dezenas de cores de madeira – a beleza simples e ousada para quem vê. “Enfrentamos dificuldades no começo e até hoje. Na cooperativa, o maquinário é bem simples, quebra bastante, e a manutenção não é barata. É diferente de quando você tem uma marcenaria pronta. Tem de estar sempre mantendo. Outro ponto difícil é mostrar o seu móvel para muita gente no começo”, conta Bruno. Thiago e Bruno já rabiscam juntos – cada um a seu modo – os planos pilotos dos próximos voos da Baru. A preocupação com a sustentabilidade e com o impacto social, levando benefícios a todos os envolvidos na cadeia produtiva, será uma constante: eles já buscam novas parcerias com gente do meio. “Queríamos um negócio com contexto legal, um móvel com história. As pessoas que trabalham com essas peças devem ter orgulho em falar”, lembra Bruno. A dupla já tem motivos para tanto.

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CAPA

Tijolo com tijolo num desenho mágico Há cerca de 13 anos, Márcio Buson (foto), professor de Arquitetura da UnB, estava em um canteiro de obras no Varjão à frente de um projeto da Universidade. Toda obra trata logo de arranjar um lugar para descartar restos e lixo – até aí, nenhuma novidade. Mas o que o educador percebeu, quando foi mexer nessa pilha de entulho e tentar dar mais ordem ao local, influencia até hoje suas pesquisas, e já muda o modo como se constrói ecologicamente no Brasil. “Nessa região onde jogavam os sacos de cimento e que ficava exposta a chuva e sol, estava difícil retirar os sacos. O solo estava mais duro, formou-se ali uma mistura bem resistente. E isso chamou minha atenção”, lembra Buson. De 2006 a 2009, o professor fez doutorado para investigar o tema em Portugal. Lá, a propósito, os sacos de cimento são considerados tóxicos e requerem atenção. Isso porque os resquícios de cimento na embalagem dão margem para o solo ser de certa forma impermeabilizado, sem contar as substâncias que podem contaminar lençóis freáticos, os lençóis d’água. Além de reaproveitar um lixo inevitável de toda obra básica – o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNCI) estimou em 900 milhões o número de sacos cheios no país em 2013 –, livra a

natureza de uma mistura perigosa: solo cimentado sem planos de ser calçada. Batizado de krafterra, o bloco compactado composto por cimento, o saco do material (kraft) e terra foi desenvolvido pelo professor e hoje a pesquisa está em modo público. Buson conta que já recebeu ligações de fabricantes interessados em saber mais sobre o projeto, em tornar o negócio rentável, mas ele considera que seu dever foi cumprido. “A pesquisa está aí para quem quiser ver, na inter-

Dfeito por Nina Coimbra (foto) com cadeira “Pina” de Angelo Duvoisin - Foto: Emerson Damasceno

Nos olhos de quem vê Certamente, a reciclagem é vital. É uma das formas para gerar menos lixo e prolongar a vida útil de quase tudo. Para as nações europeias, por exemplo, é comum a maior parte do lixo ser reciclada – e não pense que lá o consumo e a geração de resíduos são menores. Mas há outros caminhos. Nem sempre os produtos descartados precisam ser derretidos, prensados e transformados em artefatos de menor qualidade. O upcycling propõe pensar os objetos sob uma ótica de geração de valor, sempre para algo maior. Em Brasília, a artista plástica Nina Coimbra dá novas identidades a móveis fora de uso – doados ou até abandonados. E os resultados são extremamente finos. Graduada em artes plásticas no Estados Unidos e com especialização em restauração e conservação de arte na Itália, Nina estreou a Dfeito em 2012, na capital do Brasil, que tem uma matéria-prima rica também quando o assunto é mobiliário. A audácia modernista não se limitou ao Eixo Monu-

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Foto: Wagner Augusto

net. Deve ter muita gente usando esse método, e a ideia era essa. A motivação está mais nisso: trabalhar em algo simples. São soluções simples, que no fim da conta não têm nada demais. Não têm nenhum agente químico, não têm segredo. A gente tenta divulgar a pesquisa o máximo possível”, explica o professor, cujo discurso modesto não diminui a grandeza do estudo, que atentou-se para as fibras do papel kraft, barato e abundante em obras. A mistura também leva terra, que em construções ainda é alvo de um certo preconceito no imaginário popular por

estar exageradamente associada ao mosquito barbeiro e à doença de Chagas. O material é usado em construções milenares. Isso sem contar que o recurso natural é um dos mais fartos do globo, deixando o bloco compacto a um custo baixíssimo. Além de poder ser utilizada em tijolos e adobes, a mistura serve como argamassa de assentamento, em várias técnicas da chamada arquitetura de terra – como para chapiscar, revestir e dar o acabamento. Assim, o ciclo de uma obra é fechado. Imagine terminar uma reforma e ter meios para complementar outra – do vizinho, talvez, ou de uma próxima empreitada. A terra, o papel kraft, o cimento… tudo pode ser ressignificado. Em um país entre os maiores produtores de cimento do planeta e que em 2013 teve um consumo per capitade 353 quilos do material, segundo o SNIC, é um passo e tanto. Ainda mais ao observar o número despresível da parcela de sacos de cimento atualmente reciclada. Para Buson, que percebeu o solo mais rígido depois da influência de sacos de cimento há mais de uma década, a consciência ecológica vem aos poucos. “No mundo como um todo, as pessoas não têm essa sensibilidade. Na Europa também não é diferente. Eles têm uma política voltada pra isso, que incentiva e pune. Os cidadãos foram quase obrigados pelo governo. Isso aos poucos vai se incorporando”, espera Márcio, que em dois meses volta a Portugal para continuar sua pesquisa – agora o foco vai dos blocos compactados para os tijolos adobes. Quem disse que, depois de muito trabalho, os sonhos não podem sair do papel – kraft –?

mental. Muitos móveis foram feitos nos primórdios da cidade para dar uma nova roupagem à administração federal, que em tudo buscava ser vanguarda. Mas Nina não faz exatamente uma restauração, pois o objetivo não é trazer o móvel de volta para o original. Em vez disso, são acrescentadas novas cores, texturas e auras a um esqueleto extremamente plástico e aclamado. A originalidade dessas peças chega a um nível antes inimaginável. Sobre pernas de cadeira que chamam a atenção, podem estar tons de azul turquesa, laranja ou qualquer outra cor, que tiram o móvel do museu e convidam a novas experiências com o bom design. “Fui fazendo e percebendo que as pessoas gostavam. Encontrava uma forma de reanimar os móveis. Talvez tenha sorte por não ter me limitado às artes. Hoje as pessoas sabem o que faço e doam peças”, afirma Nina, ao admitir já ter uma coleção de doações em casa esperando pela atenção da artista. É um dos

reflexos da aprovação de seu trabalho. Não há um padrão engessado: Nina age sozinha e é livre em suas criações, e às vezes o produto final é uma composição de dois móveis. Nina Coimbra faz parte do Entre Eixos, coletivo de jovens designers em Brasília que vem mostrar novas possibilidades ao mobiliário contemporâneo, com um pé no moderno da capital. Surgido no ano passado, o Entre Eixos é formado pelos estúdios, além do que leva o nome de Nina: Domingo Arquitetura, Eduardo Borém, Dimitri Lociks, Sartto Design e os jovens Bruno e Thiago, da Baru. De 2 a 5 de fevereiro, cada estúdio do coletivo levou para a Paralela Móvel, no Museu Brasileiro de Escultura (MuBE) em São Paulo, um móvel com o tema Brasília. A jovem apresentou a estante Balzaca, com madeira freijó. Já a Baru Design expôs a cadeira Planalto, feita em jequitibá. Deu certo: três grandes revistas de design deram destaque ao Entre Eixos pela participação pioneira na Paralela.

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Pedal diurno Na mesma Estrutural da Sonho de Liberdade, prosperam várias outras tentativas de negócios com o reaproveitamento. Muitas vezes, com baixa escolaridade e pouca renda, os moradores da região entram em um ciclo vicioso. Além disso, boa parte dos postos de trabalho está no Plano Piloto, o que torna a saga por uma vida melhor ainda mais dura. Quando uma iniciativa dessas dá certo, os resultados são impactantes, pela extrema dedicação dos envolvidos e senso de colaboração. Atendendo cerca de 200 crianças – e, indiretamente, suas famílias – no contraturno das aulas, o Coletivo da Cidade aposta na arte, música, educação e capacitação para não deixar esses pequenos fazerem parte de tristes estatísticas. O mote, em países desenvolvidos, dos três R – reduzir, reciclar e reutilizar – pode parecer supérfluo, um hobby ou um hábito altruísta. Mas o Coletivo não está preocupado com nomes bonitos sem uma aplicação que gere mudança. E tem necessidades mais urgentes de fazer acontecer. Dois projetos destacam-se: o Bikes Coletivas e o Maria Costura. Ambos datam de 2010, e eram chamados de Bicicletas Vivas e Maria Costureira. No caso das bikes, em alta nesses tempos de discussões acirradas sobre mobilidade urbana, o grupo

Foto: Arquivo Pessoal

Da esquerda para a direita: Marcelo, Deolinda, Maria e Andrea

Que bonito é Os últimos personagens deste especial são um casal de pesquisadores. Designers, eles ajudaram a transformar uma comunidade miserável de 60 mil pessoas no Rio de Janeiro, mas não reutilizaram objetos abandonados. A justificativa para os professores Andrea e Marcelo Judice estarem neste espaço é um convite a um olhar mais amplo para o que realmente significa reaproveitar. Nina Coimbra dá vida nova a móveis; os meninos da Baru, a madeira de demolição; Márcio Buson e Felipe Fiúza a restos de obra; as Marias costureiras a sobras de tecido. Já Andrea e Marcelo ajudaram a dar vida nova a todo um vilarejo no Rio de Janeiro. Se reaproveitar é passar algo da ineficiência para a eficiência – com uma mudança de olhar, atitude e disposição –, o casal de

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Foto: Arquivo Pessoal

de cerca de 50 jovens fazia oficinas de restauração com bicicletas doadas ou abandonadas, e as disponibilizava para a comunidade. Neste mês, após uma reformulação, a iniciativa volta com 25 bicicletas para uso comunitário. Uma mostra simples de como oportunidades estão por toda a parte. O que grandes

pesquisadores entra para nossa lista. É também um incentivo para quem deseja transformar a realidade mas pensa não ser bom o suficiente. Basta focar no antes e depois: se algum aspecto da vida de alguém estava pior antes de você agir, você está começando a transformar – para muito além de reciclagens, reutilizações, upcycling. O que importa é solucionar. Toda mudança nos leva para frente, e se ela for um hábito, os impactos serão brilhantes. Andrea e Marcelo tinham acabado de chegar na Finlândia para o doutorado – dos dois. Bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), eles tinham uma atribuição a mais no país gelado: um filho de apenas cinco meses. Foram quatro anos na Finlândia pesquisando o design social, a ser aplicado em comunidades com função de transformá-las. O trabalho de Andrea (Design pela esperança, em tradução livre) concentrouse mais no processo de pesquisa, enquanto o de seu marido (Você é importante!, em tradução livre) tratou de design e linguagem de jogos. No meio dos estudos, era necessário ir a uma comunidade com piores condições de vida, aplicar a pesquisa e desenvolver conjuntamente ferramentas mais adequadas de comunicação. Mas… a Finlândia tem Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e indicadores sociais altíssimos. A resposta do casal? Ir a Namíbia, na África – com o filho junto. “Às vezes nós esperamos que todos tenham a mesma linguagem, a mesma capacidade de pensar e se comunicar igualmente. Na Namíbia, não sabíamos falar nada com eles. Por gestos, eu perguntava a história daquelas pessoas com o vírus HIV. A resposta veio em um pano bordado. Quando eu ia imaginar isso? Não dá para chegar em uma comunida-


Foto: Arquivo Pessoal

capitais do país ainda não conseguiram fazer sem episódios de roubo e depredação, a Estrutural mostra fôlego e determinação. Há cinco anos, uma turma de mulheres teve três opções: trabalhar colaborativamente como cozinheiras, cabeleireiras ou costureiras. A agulha e a linha foram as ferramentas escolhidas,

o curso de formação evoluiu para a produção, e nesse tempo passaram por lá dezenas de “Marias costureiras”. A partir principalmente de banners, lonas e retalhos de tecido, florescem bolsas, estojos, peças de cozinha e aventais. O grupo atendeu até a pedidos para o carnaval do Distrito Federal. Para incrementar as vendas diárias e encomendas, a intenção é passar a comercializar pela internet, e o site já está em construção por estudantes de Comunicação da UnB. Mas se os pequenos são o público-alvo do Coletivo, por que tantas ações com adultos? “Para criar um ambiente protetor para a criança, precisamos estar articulados com a comunidade, com a família. É importante uma boa alimentação para essa criança, mas isso só será possível se houver uma condição financeira mínima. É aí que trabalhamos também com os pais”, explica Coracy Coelho, coordenador do Coletivo da Cidade. “É uma lição para a sociedade como um todo. O reaproveitamento envolve todo mundo. Essas experiências são importantes porque, além do papel ambiental, há um papel econômico. E as pessoas podem contribuir com o mínimo. São nos pequenos hábitos de vida que mudamos nossa relação com o lixo”, completa.

de impondo um modo de comunicação”, conta Andrea Judice, atualmente professora do Desenho Industrial na UnB. De volta à Finlândia, receberam um convite de um médico brasileiro para atuarem em uma comunidade carente no Rio de Janeiro, a Vila Rosário, no município de Duque de Caxias. Quando Andrea e Marcelo chegaram, a comunidade de 60 mil pessoas tinha o segundo maior índice de tuberculose no país. Depois de três anos, com uma equipe de 50 profissionais voluntários – contando com os dois –, a incidência da grave enfermidade aproximava-se do zero. Talvez, o principal remédio utilizado tenha sido uma comunicação adequada ao meio, com doses de afeto, atenção e energia. Antes, o recenseamento mal era feito; os cartazes do posto de saúde não representavam as pessoas de verdade – foram tiradas fotos antes de novos materiais de divulgação; a linguagem excessivamente técnica impunha medo e preconceito quanto à doença – que deve ser tratada necessariamente até

o fim, para que a bactéria não evolua. O mais importante foi que eles saíram da Vila Rosário, mas os moradores de lá continuam implementando a transformação – foram capacitados na própria linguagem, depois de muito método, paciência e observação dos professores O casal recebeu uma dezena de propostas de emprego na Europa. “Mas achamos que é hora de se estar no Brasil”, diz Andrea. “Nosso doutorado foi com dinheiro do governo brasileiro, dos impostos dos cidadãos. Isso pesou para aceitar o convite para atuar na comunidade do Rio. E lá, as pessoas que sobem de vida não deixam a comunidade, elas são leais”, completa a professora. O bebê de cinco anos já é um menino de 11. No começo deste mês, o trio familiar começou a analisar uma comunidade do Itapoã para futuros trabalhos, e em junho Marcelo volta à Vila Rosário para desenvolver uma próxima etapa do trabalho: um portal para a comunidade. Foto: Arquivo Pessoal

Vila Rosário: saneamento básico precário Foto: Arquivo Pessoal

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GENTE QUE FAZ

Reciclando histórias

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badia Teixeira contribui com a vida dos moradores da Cidade Estrutural não apenas recolhendo materiais recicláveis. Os livros encontrados no lixo por ela também mudam a vida de muitas pessoas da região, que possui o segundo menor Índice de Desenvolvimento Humano Metropolitano (IDHM) do DF. A Estrutural é repleta de personagens que lutam de alguma forma pelo desenvolvimento da cidade. Abadia é uma delas. No Gente que Faz deste mês, você vai conhecer a história dessa mulher que se dedica a melhorar a vida de outros brasilienses. | Bianca Marinho

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ouglas descobriu o poder da leitura muito cedo. Quando criança, aprendia brincando. Na escola, percebeu a importância dos livros para ajudar no aprendizado e conquistar boas notas. Em uma cidade onde mais da metade da população não estuda, ele foi exceção. Viu a carência de esporte, lazer e cultura desviar caminhos; mas não o seu. Onde nem um por cento da população tem nível superior, foi contra as estatísticas mais uma vez: passou no vestibular da UnB para fonoaudiologia. Abadia não teve a mesma sorte. Primogênita de uma família de 13 filhos, a mineira deixou sua cidade natal com o sonho de estudar. Ao chegar em Brasília, em 1986, encontrou dois entraves: não conseguiu passar no vestibular da universidade pública e não teve dinheiro para pagar uma particular. As contas também não foram piedosas, precisava trabalhar no que sabia. Foi assim que o sonho de estudar foi substituído pelo trabalho como costureira. Passou a ter como missão realizar esse sonho nos outros: quer uma Estrutural que estuda, busca

conhecer e rompe barreiras sociais e de preconceito. Mudou destinos, como o de Douglas, que até hoje recorre aos livros da biblioteca comunitária situada na casa dela. Ao se mudar para a Estrutural, em 1998, Abadia se incomodou e trabalhou para transformar a realidade da região. A primeira iniciativa foi se unir a um grupo que promovia a alfabetização no local. “Vi crianças brincando nas ruas, no meio do lixo espalhado. Percebi que contribuir para o trabalho de outras pessoas e melhorar a sociedade eram obrigações minhas”, conta Abadia. Na época, era ainda mais difícil estudar. As crianças precisavam se deslocar até escolas de cidades vizinhas. Depois da criação de escolas na Estrutural, o movimento se voltou para ajudar a melhorar a educação. Foi assim que, em 2008, surgiu o Movimento de Educação e Cultura da Estrutural (MECE). O grupo, que já atuava desde 2000, fomenta, hoje, alguns grandes projetos no município, como a Marcha Mundial de Mulheres e a Prefeitura Regional Comunitária. De acordo com a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios 2013/2014, um terço da população ainda precisa se deslocar para estudar em cidades próximas.

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GENTE QUE FAZ “Para a sociedade de classes, quem trabalha com lixo é lixo igual.” A reflexão do artista plástico Vik Muniz no documentário Lixo Extraordinário demonstra o preconceito sofrido por catadores. Quando começaram a entulhar um buraco que foi utilizado na construção de Brasília, a família de Abadia viu ali uma oportunidade de trabalho. Desde 1994, ela já mandava o lixo separado. Reconhecendo a importância da reciclagem, não se importava com o preconceito por ser catadora. Foi quando percebeu que poderia reciclar mais do que papel, reciclar também conhecimento. Começou a reunir livros em baixo de árvores e disponibilizá-los. Com o aumento da quantidade, trouxe-os para sua própria casa a fim de protegê-los da chuva. Descobriu que alguns títulos encontrados no lixo eram relíquias. Mesmo sem saber, começou a criar uma Biblioteca comunitária, que mais tarde recebeu o nome de Catando Palavras e funcionou de 2000 a 2005, quando o Conselho Federal fechou o local por insalubridade. Abadia começou a retirar dinheiro da própria renda para investir na biblioteca. Mesmo com os livros nas caixas, a demanda é grande e muita gente ainda vai lá para doar e pegar livros emprestados. Só em 2014, emprestou 800 livros. “Quero mostrar para a sociedade que livro não se joga fora. É preciso ser passado para que tenha função nas mãos de outras pessoas”, afirma. A finalização da obra, prevista para este ano, é aguardada como um prêmio. A preocupação de Abadia vai além da educação. Ambientalista, feminista, educadora e ativista, trabalha em projetos para desen-

economia, política e cultu“Vi crianças no meio do volver ra na cidade. O Projeto Pontos de Memória chegou à Estrutural partindo do pressuposto que o sentimento de pertencimento afasta a violência. Ao colocar o protagonismo nos moradores locais, o projeto visa resgatar a história da Estrutural. Dentro do Ponto de Memória, os moradores conheceram as editoras populares da Argentina, que trabalhavam com a reciclagem de papelão. Em uma votação feita na comunidade, o nome escolhido não poderia ser outro: Editora Popular Abadia Catadora. Os cinco livros já editados são de escritores locais e internacionais. Abadia também se envolveu na criação do Banco Comunitário da Estrutural, que permite comunidades mais carentes ter acesso ao crédito, inclusive, pessoas que não possuem endereço e documentação e não conseguem empréstimos em bancos comuns. A moeda social foi chamada de Conquista em referência ao valor simbólico das lutas por direito e desenvolvimento travadas pelos moradores da Estrutural. O banco já realizou empréstimo para 108 pessoas. O fundo de 16 mil que foi formado pelo MECE se transformou em 70 mil e o dinheiro é emprestado em real e na moeda Conquista. Todos esses projetos foram criados para as pessoas perceberem que são capazes de mudar a própria realidade. Hoje, a missão de Abadia é viver para o social. Deseja alcançar a comunidade inteira atendendo o máximo de pessoas possíveis em todos os projetos. Não teve filhos, mas transmitiu a muitas criaturas o legado da educação. Deixou de ser mãe de poucos para se tornar mãe de uma cidade inteira.

lixo das ruas. Percebi que contribuir para

o trabalho de outras

pessoas e melhorar a sociedade eram

obrigações minhas.”

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Entenda os projetos Bibliotecas Comunitárias

Criadas com objetivo de ampliar o acesso da comunidade à informação, são espaços de leitura que preservam a natureza de uso público e inserem a comunidade nos processos decisórios. Têm acervo multidisciplinar e geralmente possuem organização improvisada ou intuitiva. São uma reação da própria comunidade no combate à desigualdade de acesso à informação.

Editoras Populares

Também conhecidas como editoras cartoneras, são editoras cujos livros são feitos de maneira artesanal, com papelão recolhido nas ruas por catadores e capas pintadas à mão. Buscam tornar as obras literárias mais acessíveis e aumentar o rendimento dos trabalhadores que ganham a vida coletando papelão nas ruas da cidade. Têm origem em 2003 com a editora argentina Eloísa Cartonera. No Brasil, a Dulcineia Catadora, em São Paulo, foi pioneira.

Bancos Comunitários

Ponto de memória

O programa foi criado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) em parceria com o Ministério da Cultura para valorizar a memória social. Os impactos vão desde a melhora da qualidade de vida da população até o fortalecimento das tradições locais e dos laços de pertencimento. Na ponto de memória da Estrutural, a exposição “Movimentos da Estrutural – Luta, Resistência e Conquista” contou com a visita de 500 crianças de escolas da comunidade.

Movimento de Educação e Cultura da Estrutural (Mece)

Fundado em 2008, trabalha desde 2000 para defender a educação e fomenta, hoje, alguns grandes projetos na Estrutural. Entre eles, a Marcha Mundial de Mulheres, movimento que busca construir uma perspectiva feminista afirmando a igualdade como base da sociedade; e a Prefeitura Regional Comunitária, associação de moradores que toca a Casa dos Movimentos, espaço de várias associações que lutam por melhorias sociais na região.

Geridos pela comunidade, esses bancos são voltados para geração de trabalho e renda e busca ajudar a desenvolver a cidade. Promovem a economia solidária e a criação de redes locais de produção e consumo por meio de empréstimos com taxas de juros menores que as praticadas pelo mercado. A moeda social tem o objetivo de gerar riqueza e sustentabilidade local, uma vez que a riqueza do bairro gira nele próprio. Com o desconto nas mercadorias, o consumidor aumenta o poder aquisitivo e é estimulado a comprar produtos locais, e os estabelecimentos comerciais ganham com a fidelização dos clientes e valorização do comércio. Já a comunidade como um todo ganha com os investimentos para melhoria da região.

TENDÊNCIAS E E NEGÓCIOS NEGÓCIOS Ed. Ed. 37 37 maio maio de de 2015 2015 :::: TENDÊNCIAS

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GENTE QUE FAZ

Solicitação de amizade

pendente

As redes sociais não são de hoje, mas estão cada vez mais indispensáveis no mundo corporativo | Eduardo Barretto “Olha, estou chateado contigo, @DeezerBrasil ! Como vc para de funcionar pra mim e me deixa na mão, sem poder ouvir minhas músicas?! Vacilo…” (sic). Com apenas um caractere faltando para o limite de uma publicação no Twitter, em 11 de maio do ano passado o publicitário Victor Fraga destilou diretamente sua decepção com o Deezer, serviço online de música por streaming. Com quase 100% dos seus usuários – mais de 16 milhões de pessoas a cada mês – ouvindo canções pelo celular, a um toque de redes sociais prontas para espalhar reclamações, o Deezer poderia agir de várias formas. Mas, com o problema de Victor resolvido, a gigante da música digital enviou-lhe pelo Twitter, além de um rostinho feliz, um trecho da música Faço Tudo Por Você, da banda gaúcha de pop-rock Leonna. O que ele dizia? “O meu coração eu vou te dar. Jamais quero te ver sofrer. Tua presença me faz enlouquecer”. Além de adotar um tom emotivo e pessoal, o Deezer divulgou a primeira música da banda, e ainda encaminhou a plateia dessa homenagem a seu site, para acessar outras playlists. Golaço. Organizar-se em redes é próprio do ser humano, como comunicar-se, caçar, comer, e remonta às eras mais primitivas. O que muda com o tempo é o nível de complexidade e hierarquia dessas estruturas. Ao mesmo tempo, as plataformas de redes sociais como as conhecemos – Facebook, Twitter, Instagram – não

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são novidade de 2015, nem 2014, nem 2005. De certa forma, elas nasceram com a própria internet, em uma época onde havia raros emissores de mensagens e muitos receptores, totalmente passivos. Hoje todos podem ser emissores – e sorte do Deezer que Victor foi prontamente atendido e afagado. “Tem uma característica das redes sociais que outras mídias não têm: as outras pessoas veem. Você faz um comentário, outros podem ver. Além disso, são redes que estão indo cada vez mais para a lógica mobile”, explica João Pedro Moreira, sócio da agência Look’n Feel. É ponto pacífico que um julgamento negativo sobre uma marca corre mais rápido do que um positivo – um estudo fala que a diferença de alcance é superior a três vezes. Ainda, a idade de uma rede social não indica que ela estancou: há tendências extremamente dinâmicas em jogo. Um levantamento interno do Facebook mostrou que o volume de publicações de vídeos na rede social cresceu 75% em todo o mundo durante o ano passado. E isso gera um efeito cascata. Com a internet na palma da mão a custos decrescentes – tanto dos serviços quanto de aparelhos modernos –, mesmo com a economia nacional longe da boa forma, o alcance dessas ferramentas bate sucessivos recordes. A internet móvel não deve ser restrita aos celulares: laptops, notebooks e tablets também engrossam o caldo. Mais da metade dos brasileiros já


69%

da amostra afirmam usar ferramentas de análise para entender o que é dito em relação à marca, produto ou serviço

62%

dos entrevistados afirmam que as redes sociais contribuem para a mobilização corporativa;

49%

da amostra indicam como positivo o aumento do conhecimento sobre assuntos das próprias organizações

49%

dos participantes apontaram a criação de percepções mais favoráveis em relação à organização e às marcas

está conectada à rede mundial de computadores. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a fatia de internautas no país passou de 49,2% em 2012 para 50,1% em 2013. De um ano para o outro, foram 2,5 milhões de internautas novos, totalizando 86,7 milhões de usuários de internet – o equivalente às populações somadas de Austrália e França – com dez anos ou mais, universo amostral da pesquisa. “Um diretor do Facebook falou recentemente que hoje em dia o concorrente deles não é o Twitter ou o Instagram. É a televisão, é a rádio, porque eles competem pela mesma verba de anunciantes”, conta João. As redes sociais são também espaço de reverberação: uma campanha infeliz no rádio, por exemplo, pode facilmente virar uma epidemia no mundo virtual. Um dos clientes da agência já questionava a eficácia de comunicação institucionais na grande mídia, sempre com preços exorbitantes. Rodrigo Melo, hoje sócio do Cantucci Bistrô, fez seu trabalho de conclusão de curso com esse foco. Hoje, trabalhando e pensando ao lado de gestores com média de idade de 25 anos, Rodrigo vê o Cantucci – que completa dois anos como bistrô em junho – com 23 mil curtidas no Facebook. “Em meios tradicionais, como TV, ou você gasta muito ou não anuncia nada. Eu já estava descrente

Fonte: “Espaços corporativos em redes sociais digitais e processos de colaboração nas organizações: realidade no Brasil” - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje)

O acesso à internet é uma prática para a quase totalidade dos donos de micro e pequenas empresas brasileiras, aquelas que faturam até R$ 3,6 milhões por ano.

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TECNOLOGIA

A empresa de análise de plataformas de media, Jobvite, revelou que 89% dos selecionadores nos Estados Unidos esperam usar as redes sociais como meio de escolha dos profissionais nos próximos anos.

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desse jeito de se comunicar com o consumidor. Agora, pelas redes sociais, nós já usamos para uso pessoal, já sabemos como utilizar. Sem falar que você tem uma liberdade de orçamento incrível. Para um restaurante pequeno, serviu perfeitamente. E deu muito resultado”, comemora Rodrigo – com razão: em 2013 o faturamento do bistrô aumentou 100%, e no ano passado, 110%. Com o propósito de servir comida de boa gastronomia a preços acessíveis, o restaurante divulga algumas promoções e pratos – o cardápio é volante – só nas redes sociais. “Além de divulgar, queremos nos comunicar mesmo. Utilizamos as redes sociais como canais de comunicação e relacionamento com o cliente”, conta Rodrigo. Com sócios tão jovens, o sucesso do Cantucci não veio de propagandas em “horários nobres”. Sem um centavo investido na grande mídia, o restaurante consegue ofertar pratos refinados a preços acessíveis, como o agnoli de abóbora – massa caseira com abóbora, coco fresco, castanha-do-pará ao molho sugo e carne seca – a somente R$ 30. Ter curtidas, fãs, seguidores, amigos… É preciso tomar cuidado com o modo pelo qual os resultados da comunicação digital de uma empresa são aferidos. Tomemos por exemplo o Facebook nosso de cada dia: em algumas agências de publicidade, que trabalham com gerenciamento de páginas virtuais, o comentário, o compartilhamento e a curtida têm pesos diferentes na mensuração do alcance. Também é necessário saber com quem se comunicar, uma vez que as ações têm de ser calculadas e miradas – não adianta sair atirando a esmo. Por isso vale a pena entender qual o posicionamento da organização. “A pessoa tem que saber que a empresa tem que se comportar como uma pessoa. Tudo está no jeito como você vai falar. Tem que dar um tom humano, não de e-mail corporativo, aquela fala distante”, mostra João Pedro. Quando Victor Fraga se dirigiu ao Deezer como “contigo”, foi só mais uma mostra não só de como as empresas têm de personificar-se mas como também os próprios internautas esperam isso. “Eu prefiro reclamar em rede social porque lá é muito mais rápido, e as coisas tomam proporções maiores em menos tempo. Se eu reclamo, quero fazer um alerta para meus amigos. Ou se o serviço foi legal, quero mostrar que essa empresa é bacana”, explica Victor. “As marcas têm que entender que não dá para usar linguagem de telemarketing com um público mais jovem. Para mim, o principal é a questão da conversa”, completa. Para o comunicador organizacional Felipe Chaves, o bom gerenciamento de uma página governamental no Facebook foi de grande ajuda, mas por estar bem organizada e preparada. “Eu precisava imprimir o boleto do IPVA no site da secretaria de Fazenda do Distrito Federal e estava


dando erro. Entrei na página deles no Facebook para reclamar, mas lá mesmo eu consegui baixar o documento. Não precisei reclamar”, conta Felipe. Ponto para a Secretaria de Fazenda, que se antecipou, e ponto para o jovem, que conseguiu resolver seu problema sem maiores entraves. Casos como o de Felipe, que aconteceu no mês passado, são frequentes: o obstáculo é muito pequeno e pode ser resolvido na hora – e é justamente a não resolução de algo banal que irrita as pessoas e gera reclamações raivosas nas redes. As falhas devem ser vistas não só como algo a ser recuperado, mas evitado. Como em um Fla x Flu, quem errar menos vence. Um levantamento da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), feito com 53 empresas de diversos segmentos, todas entre as 1000 Maiores Empresas do Brasil, prestigiado ranking do jornal Valor Econômico, mostrou que 69% das entrevistadas afirmam que utilizam ferramentas de análises e mensuração para entender o que os usuários estão dizendo em relação à marca, serviço ou produto. Para os próximos anos, a expectativa do estudo é que a avaliação do sentimento do cliente em relação à marca, produto ou serviço seja a principal preocupação das corporações. No acirrado jogo empresarial, há substituições – mesmo que graduais. Com a entrada cada vez maior de redes sociais nas empresas, há que se esperar que as outras tecnologias, mais antigas, sejam afetadas. Uma pesquisa da Education First, realizada em dez países, incluindo o Brasil, aponta que o uso do e-mail para assuntos de trabalho atualmente é de 77%, e pode cair para 64%. O telefone pode despencar de 69% para 50%. E até as enfadonhas e improdutivas reuniões podem estar com os últimos dias registrados: queda prevista de 65% para 47%. As redes sociais devem subir de 40% para 60%, e as videoconferências também devem manter a alta: 48% para 66%. Mais do que uma era de mudança, trata-se de uma mudança de era. As redes também devem ser pensadas para o público interno das empresas: os funcionários. A mesma pesquisa mostrou que a aceitação dessas ferramentas para o engajamento é de 62%. 49% disseram que aumentaram o conhecimento sobre assuntos da própria empresa, e criaram percepções mais favoráveis do local em que trabalham. Antes mesmo de serem selecionados para o trabalho, os funcionários podem ter passado por um pente fino por causa de seu comportamento digital: a empresa de análise de plataformas de media Jobvite revelou que 89% dos recrutadores nos Estados Unidos esperam usar as redes sociais como meio de escolha dos profissionais nos próximos anos.

De acordo com o estudo, realizado pela Education First junto a 1.023 profissionais da área de negócios em dez países, incluindo o Brasil, entre os respondentes, 44% mencionaram um aumento da consciência do público sobre os produtos e marcas da empresa onde trabalham devido às redes sociais. Outros 40% disseram que elas ajudam a estabelecer uma imagem de empresa moderna. No geral, 83% dos entrevistados consideram que as redes sociais terão muita ou alguma importância dentro dos próximos três anos. Como consequência, a comunicação nos negócios sofrerá mudanças significativas devido a elas.

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TECNOLOGIA

Gamificação:

a nova tendência no mundo dos negócios Técnica inspirada no universo dos jogos é alternativa para aumentar a produtividade e melhorar o engajamento da equipe |Bárbara de Alencar

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I

magine ganhar bônus por tomar café ao acordar ou ser recompensado por dar bom dia ao vizinho e ao colega de trabalho. A sociedade ainda não chegou nesse estágio, porém, desde 2010, o mundo corporativo e educacional utiliza uma nova estratégia de engajamento de pessoas para aumentar a produtividade e a qualidade do aprendizado, a Gamificação. O conceito nada mais é do que a apropriação da dinâmica de jogos – como missões, premiações e gratificações - para estimular o rendimento e o envolvimento de indivíduos em comportamentos desejados. Segundo pesquisas da consultoria Gartner, em poucos anos, 70% das maiores empresas mundiais utilizarão técnicas de gamificação em pelo menos um setor. A expectativa é que esse mercado cresça aproximadamente 60% ao ano e movimente mais de U$ 5 bilhões até o fim de 2018, somente nos Estados Unidos. No Brasil, essa estratégia ainda é pouco conhecida, mas está deixando de lado o aspecto de novidade para se tornar um diferencial no mundo corporativo. O nome é inspirado no termo em inglês Gamification e tem origem no universo dos jogos, tendo em vista o engajamento natural do ser humano a esse tipo de entretenimento, seja no xadrez, Tetris ou Warcraft. De acordo com o Censo Gamer Brasil, realizado pela InsideComm e pela Associação Comercial, Industrial e Cultural de Games (Acigames), os brasileiros passam em média duas horas por dia em frente ao videogame. Se fossem reunidos todos os gamers do país e somado todo o tempo dedicado aos jogos eletrônicos, seriam gastas mais de 40 bilhões de horas só nesse tipo distração. “A grande diferença dos jogos para a gamificação é o

objetivo. A finalidade do jogo é entreter e a da gamificação é produzir resultados onde ela estiver sendo aplicada”, explica Ricardo Costa, diretor executivo da Funifier Gamification Plataform. Em sua avaliação, os jogos como recreação não oferecem nada aos propósitos corporativos, porém, esse setor possui um vasto campo de pesquisa e conhecimento na área de comportamento. “A indústria dos jogos foi a que mais amadureceu na capacidade de captar atenção das pessoas. Nos últimos 30 anos, ela teve uma contribuição expressiva de pessoas vindas da área da psicologia, que usaram os jogos como laboratório para testar teorias da motivação humana”, esclarece. Costa mantém uma multinacional listada no último relatório da consultoria Enterprise Gamification entre as cinco melhores do segmento. O empresário descobriu a eficiência da dinâmica de jogos quando fez um processo de seleção de funcionários. Na tentativa de motivar a capacitação da equipe antes de ter que efetivamente contratá-la, ele acabou descobrindo o poder da gamificação. Para isso, Ricardo decidiu gamificar o curso de capacitação dos funcionários. O candidato só desbloqueava o módulo sequente da aprendizagem após completar com êxito o conteúdo total anterior. Depois, ele criou um ranking entre os participantes e conseguiu um maior envolvimento. “Comecei a ver uma maior permanência deles no sistema”, lembra. O ponto curioso da experiência inicial de Ricardo Costa ocorreu quando ele teve que demitir um dos funcionários. “Ele era pai de família e pediu para conversar comigo. O que você imagina que uma pessoa que está sendo demitida vai querer conversar com você? Qualquer coisa no sentido de não demitir ou pedir indicação, mas

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TECNOLOGIA ele não queria nada disso. Ele só pediu uma coisa: não me tira do ambiente de treinamento porque eu estou no topo do ranking, não posso perder aquela posição”, relata entusiasmado. Educação corporativa Na vanguarda da gamificação no Brasil, o Sebrae já realiza iniciativas na área há alguns anos. Desde 2013, o Desafio Sebrae, que tem como objetivo disseminar a cultura empreendedora, é realizado em uma plataforma gamificada. Hoje, o jogo de jovens empreendedores atende 40 mil alunos. Segundo a gerente adjunta da Unidade de Capacitação Empresarial da instituição, Olivia Castro, o modelo de ensino brasileiro ainda está voltado a um padrão tradicional, centralizado no professor, no qual o aluno participa de forma muito passiva. “Isso dialoga pouco com o cotidiano dos nativos digitais, pessoas que já nasceram na era da internet, extremamente conectadas. Fica muito distante da realidade da sala de aula.” Na Universidade Corporativa do Sebrae, a estratégia dos games foi utilizada pela primeira vez no concorrido programa de trainee da organização. Para Paulo Volker, gerente adjunto a instituição, é importante que a expressividade da gamificação no internacionalmente seja observada e entendida por qualquer empreendedor para se manter competitivo no mercado. “Um ponto fundamental para qualquer empresário de qualquer tamanho: ter mais conhecimento sobre gamificação melhora o seu negócio. Quando uma coisa começa a ocorrer na sociedade global,

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de maneira reiterada e sistemática, qualquer empreendedor tem que prestar atenção”, destaca. Gamificação na universidade Além de funcionar como estratégia eficiente melhorar os processos de aprendizagem e a produtividade no ambiente corporativo, as técnicas de games oferecem um potencial ainda não explorado devidamente na educação formal. Na Universidade de Brasília, as possibilidades lúdicas da dinâmica de jogos foram estudadas pelo Laboratório Ábaco de Pesquisas Interdisciplinares sobre a Informática e a Educação. A investigação sobre o tema foi realizada em parceria com a Universidade de Laval (Canadá) e resultou em um software chamado SIGA, destinado à formação e aperfeiçoamento de professores, e no livro Gamificação como estratégia educativa, lançado no fim de abril. “Essas novas estratégias, que são bastante testadas em outros meios de formação, em empresas, em outras situações não escolares, têm como contribuição aumentar o engajamento, a persistência, o envolvimento. Nosso trabalho é uma experimentação de isso tudo para ver como funciona no meio da educação formal”, explica o professor e coordenador do projeto Gilberto Lacerda. História Receber recompensas por comportamentos desejados não é algo novo. No exército, soldados que triunfavam em missões recebiam medalhas de honra como reconhecimento. Na educação, premia-se de diversas formas as


boas atitudes, a disciplina, a dedicação aos estudos. Na sociedade atual, as técnicas de gamificação podem ser encontradas em variados setores. Os programas de fidelização de clientes, por exemplo, pontuam comportamentos específicos, como comprar em certo estabelecimento ou utilizando certo cartão de crédito. Em troca, as empresas que gerenciam essas recompensas recebem informações importantes para traçar estratégias de marketing mais assertivas. A ideia de que o aprendizado é mais propício quando baseado em recompensa ao invés de punições surgiu ainda na década de 1920, nos estudos de B. F. Skinner. Ele pregava que a educação e a modelagem de comportamento através do reforço positivo eram mais efetivas. Uma de suas experiências mais famosas é a de condicionamento de animais, na qual ratos e pombos recebiam comida depois de realizar uma tarefa, como pressionar uma barrinha na famosa caixa de Skinner. Entretanto, segundo o professor Lúcio Teles, integrante do projeto sobre gamificação do Laboratório Ábaco, o processo de aprendizado com a dinâmica de jogos vai além. “Existe um aspecto na gamificação que é o da colaboração. Ainda que a noção de competição permaneça, o que realmente se dá é que existe a colaboração. Autores como Lev Vygotsky explicavam que o indivíduo aprende melhor quando auxiliado por outro”, ressalta. Experiência brasiliense De acordo com Monclair Cammarota, diretor executivo da Ekoá Jogos Empresariais, seja para aplicações corporativas ou educacionais, o mercado de gamificação é um segmento que cresce e agrega diversos tipos de profissionais. “Para transformar o processo educacional em algo interessante, precisamos de designer, de roteirista, de especialistas em gestão. É uma ciência multidisplinar e, por isso, tem muitas oportunidades tanto para profissionais quanto para empresas”, pondera. Na Sasse Produtos Promocionais, o processo de gamificação teve início em abril e não foi feito com plataformas já criadas, mas sim a partir de um algoritmo matemático que calcula a pontuação dos competidores. A empresa se baseou no UFC e criou o Ultimate Sasse Championchip, no qual os funcionários foram estimulados a competirem e colaborarem entre si. No primeiro mês de campanha, a empresa teve 6% de aumento de visitas dos executivos e um crescimento de 46% no faturamento. “Nos primeiros dias, a gente já percebeu a equipe muito mais engajada, comprometida e com foco no resultado”, avalia Kátia Sasse, diretora da empresa.

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TECNOLOGIA

Foto: divulgação

Novos

caminhos do

jornalismo

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esde a revolução numérica, a forma de transmitir informações mudou. Graças à internet a relação do público com as notícias é outra. Em primeiro lugar, os veículos foram “forçados” a dividir seu conteúdo -ou parte dele-, ou seja, quem tem acesso à rede tem informação. Depois, o leitor, outrora passivo, passa a produzir também e a interagir com as mídias. Essas transformações exigiram uma mudança dos grupos de comunicação. Em Brasília, no último ano, acompanhamos as barreiras- ora superadas, ora não- enfrentadas por algumas empresas da capital. Entrevistamos o secretário de Comunicação, Ricardo Callado, para comentar o assunto.

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A Internet mudou o jeito de fazer jornalismo? Precisamos considerar dois momentos distintos: O primeiro com a chegada da Internet, que provocou a interação da mídia tradicional com esse novo canal de comunicação. Jornais, revistas e TVs montaram portais. Rádios passaram a ter programações transmitidas online e ao vivo. Coberturas antes inimagináveis de se fazer, hoje é transmitida em tempo real. Os sites de notícias e os blogs passaram a difundir a informação em tempo real. As mídias sociais, como Facebook e Twitter, além de agilizar a informação, servem como difusor dos portais de jornais, revistas, rádios e TVs, através de links com matérias mais bem elaboradas. Com isso, potencializam o imediatismo da informação. O segundo momento acontece com a chegada dos smartphones e a multiplicação de aplicativos, que facilitaram o acesso à informação, de qualquer lugar. Hoje, toda e qualquer pessoa tem informação pontual, literalmente, ao alcance das mãos. O celular, inicialmente usado para chamadas, desempenha esse papel. Soma-se a essa revolução tecnológica, a mais nova ferramenta, que veio contribuir para a disseminação de notícias, o WhatsApp.

Como é possível conquistar um leitor/telespectador com tanta informação disponível na internet? É preciso fazer sempre o bom e velho jornalismo. Levar a notícia de forma clara, correta, respeitando o leitor, o telespectador, o ouvinte. Conteúdo com qualidade gera credibilidade.

Qual é o futuro dos meios de comunicação? Se reinventar sempre. A concorrência com as mídias digitais não inviabilizam produtos como jornais, TVs e rádios. Mas servem para o aperfeiçoamento. Blogs e sites não substituem as mídias tradicionais. Tem público para todos os meios de comunicação. Quem conseguir entender esse momento, consegue sobreviver. Acho que vai haver uma depuração do jornalismo e os melhores e que oferecem credibilidade vão se manter. Isso vale também para sites e blogs.

Deve haver regulamentação da mídia? Qual é a melhor forma de regulamentá-la? Regulamentar para quê? O Brasil têm leis suficientes para combater excessos que possam ser cometidos na imprensa. Esse é um projeto partidarizado para calar e amedrontar jornalistas e veículos de comunicação. Só regimes ditatoriais querem calar a imprensa. Calar a imprensa é calar a verdade. E só tem medo da verdade quem comete ou pretende cometer crimes. O Brasil é uma democracia. Já tentaram calar o Ministério Público e continuam tentando censurar a imprensa. Mas não vão conseguir. O Brasil é maior do que qualquer projeto de poder.

O conteúdo dos veículos deve mudar? Cada meio de comunicação tem que oferecer um conteúdo diferenciado. Redes sociais, por exemplo, são responsáveis pela informação instantânea. Rádios complementam com um debate sobre o assunto. As TVs acrescentam imagens e chegam a um público maior. Jornais e revistas precisam se aprofundar nos assuntos para atrair os leitores. Levar uma informação que não esteja disponível em outros veículos e fazer o leitor pensar, formar opinião. Para isso, a credibilidade é essencial. Qual é a relação da mídia com o furo jornalístico depois da internet? É preferível dar a notícia correta e verdadeira do que ser o primeiro a informar e fazê-lo de forma incorreta, equivocada. Com a velocidade de informações, daqui a cinco minutos ninguém lembra mais quem foi o autor do furo. Vai lembrar quem escreveu o melhor texto, com informações mais concretas. Essa opinião vale para notícias do cotidiano. Matérias investigativas, principalmente feitas por revistas, jornais e TVs, sempre vão continuar existente e não sofrem qualquer prejuízo, pelo contrário a internet é um aliado na difusão das informações.

Você acha que os veículos devem deixar a objetividade de lado e começar a se posicionar? Defendo que todos os veículos de comunicação tenham espaço para opinião. O jornalista tem que ter opinião, porém de forma isenta. Nos últimos anos, o jornalismo declaratório invadiu muitas redações e trouxe prejuízo à informação. É o jornalismo “disse quê..”, onde o texto possui mais aspas do que informações relatadas pelo jornalista. A preguiça mental de muitos repórteres inicia ainda na disseminação de cursos de jornalismos, que não prepara o profissional para o mercado. Jogar conteúdo para o graduando é muito fácil. Na prática, numa redação, o mundo real é outro.

Você acha que a forma de monetizar as mídias vai mudar? Como isso pode funcionar? Não existe mercado para viabilizar financeiramente a quantidade de blogs e sites que proliferaram nos últimos anos. Os melhores irão sobreviver. Publicidade é decorrente de audiência. E audiência se consegue com credibilidade e boa informação. O mesmo vale para jornais, revistas, rádios e TVs. Em Brasília, como você vê o mercado de comunicação? O mercado está em crise. Jornais tradicionais passam por problemas financeiros sérios. Alguns ameaçam fechar as portas. As demissões nas redações viraram rotinas. Isso não tem a ver com a concorrência da internet. A publicidade, tanto pública quanto privada, diminuiu muito o volume. Isso tem a ver com a crise financeira que o país passa. Em momento como estes, é preciso criatividade.

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EMPREENDEDORISMO

Networking Por que é tão importante ao profissional moderno ter uma rede de contatos ativa | Taise Borges

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Networking foi o que salvou a empresa de José Paulo Furtado, a N Produções. O empreendedor enfrentava dificuldades financeiras na manutenção do seu negócio e sabia que bons contatos poderiam ajudá-lo a se renovar. “Precisávamos vender mais e estabelecer relacionamentos com os grandes empresários da cidade”, explica o administrador de empresas. José Paulo criou, então, o Café e Contatos: convidou um grande empreendedor local – com quem nunca conseguia se encontrar – para um café da manhã com outros quarenta pequenos empresários. O convidado especial foi o centro das atenções durante o dia e respondeu a todas as questões feitas pelos demais participantes. Terminado o café, José Paulo recebeu um telefonema digno de comemoração: “Ele aceitou patrocinar o evento que estávamos organizando na empresa”. A estratégia utilizada pelo gestor foi responsável por aproximá-lo de todos os grandes empresários que ele desejou ter em sua rede de contatos. A cada novo encontro, José Paulo também os convencia da qualidade dos serviços prestados pela sua empresa que sobreviveu graças aos relacionamentos estratégicos do administrador. Atualmente, a organização se dedica a realizar eventos focados em educação corporativa e desenvolvimento de pequenas, médias e grandes organizações. O encontro realizado graças ao patrocínio conseguido no Café e Contatos, aliás, foi o Top 10 Empresarial, série de palestras com profissionais capazes de inspirar outros empreendedores. Hoje, o evento é um dos principais

projetos da N Produções, recebe patrocínio de renomadas empresas nacionais e está na 11ª edição. A sobrevivência e evolução da N Produções é só um exemplo do benefício representado pelo Networking no mundo corporativo. O termo em inglês significa rede (net) traçada no ambiente de trabalho (working). Em síntese, significa que quanto maior o leque de contatos de um profissional, maior a possibilidade de ele realizar bons negócios, estabelecer parcerias, conseguir uma boa colocação no mercado de trabalho, obter informações, trocar experiências, entre tantas outras oportunidades que um bom relacionamento pode garantir. “Todos nossos clientes foram conseguidos de um a um. Não conheço outra maneira de tornar um marca conhecida senão pelo contato direto com compradores e investidores”, afirma José Paulo. Convencido da importância do Networking para o crescimento dos negócios, o administrador da N Produções transformou o Café e Contatos no Clube N. A associação reúne 150 empresários e, mensalmente, realiza encontros para proporcionar a troca de experiências entre eles. “Um empreendedor não consegue atingir seus objetivos sem conhecimento. Por isso, precisamos ouvir mais. Se o empresário está passando por uma crise nos negócios e precisa oxigenar as ideias, o clube é o melhor ambiente para ele”, ressalta José Paulo. O ambiente também propõe facilitar a geração de novos negócios pois, todas as vezes que um dos associados necessita de um produto ou serviço, ele recorre, primeiramente, aos demais empresários da associação. “Já tivemos até sociedade feita aqui dentro”, completa o gestor da N Produções.

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EMPREENDEDORISMO

Rede de contribuições O Networking também é fundamental àqueles que atuam no mesmo segmento de mercado. Interessados em estabelecer novos contatos com profissionais da área, os membros da Wend Tecnologia – empresa que oferece consultoria e soluções corporativas em programação de sistemas – criaram o Café com Negócios. O evento facilita o Networking ao reunir empresários e diretores exclusivamente do segmento de Tecnologia da Informação. “A área de TI tem uma particularidade: é comum que as grandes empresas comprem os serviços das pequenas para, por exemplo, não precisar contratar e treinar novos funcionários”, explica Juliana Ribeiro, sócia da Wend. No Café com Negócios, cada diretor fala do produto ou serviço oferecido pela sua empresa. Há também um momento dedicado à troca de cartões. Uma semana depois do evento, os contatos de todos os empresários são enviados aos participantes do encontro. Dessa forma, o gestor que se interessou pelo trabalho de uma empresa, mas não teve tempo para entrar em contato com ela no encontro, pode procurá-la depois. Os Cafés são grandes oportunidades para estabelecimento de parcerias e surgimento de novas ideias de negócio. É o que explica Juliana: “Um dos participantes desenvolveu o projeto depois de conseguir apoio com um dos líderes governamentais que conheceu no evento. São as parcerias estabelecidas entre nós que garantem nosso lugar no mercado”.

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Networking também na universidade


Para o estudante universitário, a importância do Networking está relacionada, principalmente, à colocação no mercado de trabalho. Com o objetivo de aproximar alunos e empregadores e acelerar a criação de oportunidades para estudantes da Universidade de Brasília (UnB), foi criada a INTEGRAR. A associação de universitários existe desde 2011 e tem como principal projeto a realização da Feira de Oportunidades. O evento já levou à UnB mais de 50 empresas em suas quatro edições. Novas organizações devem participar da feira deste ano, que está prevista para agosto. “As Feiras de Oportunidade são muito fortes em uni-

versidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Nossa ideia é semelhante à delas: queremos levar à UnB empresas interessadas em oferecer oportunidades de estágio e de processos trainee para os alunos”, explica Laísa Guedes, membro da INTEGRAR. Segundo a estudante, a feira já proporcionou oportunidades a vários alunos da UnB. Um deles esteve na terceira edição do evento e visitou o estande de uma empresa de engenharia, pela qual acabou sendo contratado como estagiário. Na última feira, o ex-aluno já era um dos profissionais expositores do estande. “Agora, ele já terminou o curso e foi contratado pela empresa”, conta Laísa.

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EMPREENDEDORISMO

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estratégias para seu Networking

Além da oportunidade de fechar bons negócios, conseguir um cargo na empresa desejada e constituir parcerias e sociedades de sucesso, profissionais que estabelecem relacionamentos estratégicos entram em contato com uma diversidade de opiniões e hábitos. Essa realidade estimula a criatividade do indivíduo e expande sua visão organizacional e de mercado. Os benefícios do Networking são, portanto, incontestáveis. Mas, para tecer essa rede, existem algumas dicas que podem ajudar o profissional com mais dificuldade:

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•1 Em palestras, conferências, cursos e outros eventos que favorecem o Networking, busque se envolver com novas pessoas em vez de se restringir a grupos familiares. Por mais cômodo que seja estar acompanhado por conhecidos, é preciso sair da zona de conforto. O momento pede que você vença a timidez e se lance ao desafio. •2 Carregue sempre alguns cartões de visita e, ao receber o cartão de alguém, não o guarde imediatamente. Leia o que está escrito e aproveite para comentar ou perguntar algo sobre a pessoa que o entregou. •3 Faça perguntas em vez de falar apenas de si e do seu negócio. Envolva-se na conversa, demonstre interesse e entusiasmo. • 4 Fale sobre seu perfil, não sobre seu currículo, afinal, você não está em uma entrevista de emprego. Aborde suas convicções e características. •5 Seja interessante – acumule conhecimento técnico e cultural também.


Mantenha contato A Amcham - Brasil é uma instituição que, desde 1919, atua na expansão de ambientes de negócio e na promoção de Networking entre os gestores associados. Segundo Ana Paula Brandão, gerente regional da empresa em Brasília, ter uma rede de relacionamentos ativa contribui para a valorização e aceitação da marca no mercado, assim como para estreitar o relacionamento com atuais clientes, cultivar novas sociedades e prospectar futuros parceiros. “Para ser lembrado durante uma negociação ou para uma eventual indicação, o executivo deve ser visto entre seis e oito vezes por mês. Por isso, oferecemos aos nossos associados uma média de dez eventos mensais, para que escolham, entre eles, os que melhor se encaixam às suas agendas e público-alvo almejado”, explica Ana Paula. Mas o que fazer depois desses encontros profissionais? A continuidade das relações é uma das principais dificuldades enfrentadas por aqueles que

desejam expandir o Networking. O desafio está em estreitar os laços de confiança e estabelecer conexões baseadas no comprometimento mútuo. Sabe-se que, para cultivar um relacionamento, é preciso, por exemplo, manter a conversa em dia. Por mais que você utilize o e-mail para se conectar, acredite: um telefonema ou um encontro podem ser mais eficientes. Um erro recorrente é o de ativar a rede de contatos apenas quando se precisa de um favor. No entanto, pedir favores pontuais pode contribuir para o fortalecimento dos vínculos. Prestar favores também vale. Um lembrete de aniversário ou uma informação nova relacionada à conversa da semana anterior faz diferença. Ou seja: a construção – e manutenção – da rede de contatos é trabalho diário. Com um pouco de prática e vontade, o capital social se torna cada vez maior, assim como a capacidade para estabelecer novos vínculos.

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EMPRESA VERDE

A formiga e o elefante No reino das empresas, existem ações de responsabilidade social de todos os tamanhos. O importante é não ficar só na propaganda | Eduardo Barretto

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oda boa fábula permite inúmeras interpretações – mas não devemos limitar-nos pela “moral da história”. Para a narrativa que tem como protagonistas o maior animal terrestre e um dos menores, a lição mais comum é não julgar pelo tamanho. Contudo, colocar no mesmo relato dimensões físicas tão diferentes – toneladas ao lado de gramas – dá margem também para lançar um olhar comparativo mais profundo: além dos dados pelos dados, abre caminho para lançar mão da proporcionalidade. Isso significa que características, forças e fraquezas devem ser inseridas no devido contexto. Na savana das empresas, também há formigas e elefantes. E se ambos tiverem ações voltadas para a conservação do próprio habitat?

Responsável por aquilo que cativas Não importa o tamanho da organização. Ela será cada vez mais cobrada por ter uma responsabilidade social desenvolvida. A lista de motivos para essa onda verde dos consumidores e empresas não para de multiplicar-se – enquanto a água, a terra e o ar das capitais vão ficando cada vez mais poluídos. Um relatório da consultoria internacional Euromonitor fez projeções para o comportamento de consumidores do mundo todo ao longo do ano passado. De acordo com a publicação, 65% das pessoas procuram ter uma atitude posi-

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tiva em relação à natureza, e metade está preocupada com as mudanças do clima. Mesmo na internet essa postura é visível: o termo “aquecimento global” foi um dos dez mais buscados no Google em 2014. A crescente qualificação de mão de obra; a escalada dos impactos da produção na natureza; o maior acesso à informação; o desenvolvimento do ensino de ecologia nas escolas; a capacidade de organização e comunicação elevada da sociedade; e a concorrência acirrada são alguns dos ingredientes que levam a receitas que respeitam o meio ambiente. Cada negócio vai adequar o modo de preparo, o tempo de forno, a qualidade da farinha, o tamanho da porção. E teremos de miúdos cupcakes a bolos quilométricos dignos de aniversário de São Paulo. O importante é não tirar a mão da massa. A responsabilidade social diz respeito a valores preocupados também com o mundo da porta da empresa para fora: comunidade, autoridades públicas, meio ambiente e cultura são algumas frentes que não podem passar despercebidas nos dias de hoje. Se a Constituição determina ser dever do Estado garantir aos cidadãos direitos fundamentais como saúde e transporte, é inconcebível dizer que isso é exclusivo do governo. Pelo contrário: parcerias público-privadas são cada vez mais recorrentes, e cada empresa é responsável por aquilo que cativa – toda a sociedade, em vez de somente bolsos e cofres sedentos por lucro. Uma pesquisa com profissionais, encomendada pela IBM – a maior empresa de tecnologia da informação do mundo –, reforça a cheia da maré consciente: 75% dos entrevistados afirmaram que uma organização com responsabilidade social e um plano de voluntariado retém talentos e influência na hora de escolher entre duas oportunidades de emprego. A consultoria australiana You & Company encontrou um cenário parecido: 83% das pessoas em busca de uma carteira assinada disseram que escolheriam a empresa com maior responsabilidade social. Na mesma pesquisa, metade dos entrevistados admitiu preferir trabalhar em companhias éticas, mesmo com salários menores. Postura estranha? Não. Nada mais coerente. Se uma empresa abre mão de uma parte de seus lucros para retornar algo à sociedade – os consumidores exigem essa atitude e até ameaçam fazer boicotes barulhentos nas redes sociais quando constatam uma organização irresponsável –, por que esses consumidores também não desconsiderariam parte de seu salário? Claramente, a corrida não é por dinheiro. O mesmo raciocínio é usado quando é comprado um produto no Hemisfério Norte com o selo Fair Trade – que garante que todas as etapas, do campo até o mercado, foram financeiramente justas com as partes envolvidas, principalmente com os produtores –, mesmo sendo um pouco mais caro. É o caro que sai barato.

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EMPRESA VERDE

Devagar e sempre Proporcionalmente, as formigas são mais fortes do que os elefantes, já que o inseto pode suportar dezenas de vezes a massa do seu corpo. Se a formiga não deixa passos de peso, ela tem um corpo adaptado para suportar o que empecilhar seu caminho: seu exoesqueleto é muito leve, e toda a carga suportado é dividido em seis patas. Isso explica aquelas folhas gigantes andando pelo jardim – embaixo há uma formiga trabalhadora. Fica claro que em empresas pequenas é mais fácil fazer planos saírem do papel. Uma simples reunião pode dar início a uma cadeia de transformações, enquanto em uma transnacional a mudança pode levar eras – diretorias, conselhos, presidência e acionistas podem alongar o caminho a níveis quilométricos. Ainda, em organizações menores, os efeitos vêm a curto prazo, já que nascem de ações muitas vezes na própria sede. Isso ajuda a motivar os funcionários e a abastecer a necessidade direta dos clientes, pois a mudança está sendo feita, por exemplo, no hall do restaurante, e não em uma floresta longínqua no Kilimanjaro; só visualizada em vistosas propagandas cinematográficas de gigantes do mercado, tão persuasivas como o horário eleitoral. No restaurante DuoO, 103 Sul, o próprio nome do estabelecimento chama a atenção. Um petisco – sem glúten e com muito sabor – das inúmeras diferenças que o consumidor encontrará no local. “Nosso conceito trabalha com a dualidade, com as duas partes do alimento: a que é descartada e a que geralmente é consumida. Na marca DuoO, o primeiro O é cheio, completo, e o segundo O é maior, mas só o contorno. Casca e polpa. Utilizamos os dois”, explica o jovem sócio Nicolas Fujimoto (foto). A aplicação de tudo isso está em toda a parte, mas talvez o foco seja o reaproveitamento dos alimentos – quer lugar mais adequado para isso do que um restaurante? –: o DuoO

Passos de peso A Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) conta seu lucro no fim do ano em bilhões de reais. Em 30 de setembro do ano passado, a empresa chegou a ultrapassar a Petrobras como a mais valiosa da América Latina. Se a marca parece distante e restrita às bolsas

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utiliza aquilo que você pode considerar como “parte que não presta” da comida – cascas, talos e sementes, por exemplo. No cardápio estão todas as delícias, avessas a qualquer rótulo de insossas por serem porções de um estabelecimento preocupado com o reaproveitamento: pizzas – com massa própria –, filés, camarões, massas, brownies, muffins, além de pratos veganos suculentos. O cliente rapidamente se acostuma a quatro siglas, que indicam as qualidades – e não restrições – de cada pedida: zero glúten, zero lactose, zero açúcar, e uso de biomassa de banana verde.

de valores ao redor do mundo, basta saber que é praticamente impossível – “praticamente” só para tranquilizar os matemáticos – pedir uma bebida, alcóolica ou não, em um bar ou restaurante no Brasil que não seja uma entre as aproximadamente 30 produzidas, envasadas ou comercializadas pela Ambev. Com o que mais uma empresa desse porte pode sonhar? Ser a melhor empresa de bebidas do mundo, claro. Mas a frase não para por aí nos materiais institucionais da Ambev: “Ser a melhor empresa de bebidas do mundo em um mundo melhor”. Em 2013 e 2014, nos 25 países em que o grupo Anheuser-Busch InBev – maior cervejaria do mundo, da qual a Ambev faz parte – mantém operações, foram compartilhadas metas ambientais, a ser batidas até 2017. Entre elas: reduzir em 15% as emissões de carbono, diminuir o consumo de energia e a emissão de gases de


pleta um ano neste mês, e a do Sudoeste – forneria, especial para pizzas, na quadra 8 do Setor Gráfico – comemora cinco meses. Os dois espaços mostram que o conceito de dualidade da casa não fica só na gastronomia funcional. É difícil encontrar um objeto sequer cuja função original não tenha sido modificada para que ele fosse reaproveitado: garrafas e trompetes são luminárias; conchas de feijão são maçanetas; e barris de chope fazem parte de bancos. Na fachada da loja, a concepção de se aproveitar tudo é praticada com força: há várias latas de alumínio pintadas. O conteúdo original delas? Leite em pó, doado a crianças carentes – e logo arranjou-se uma utilidade para as dezenas de vasilhas.

“Nossa preocupação está muito mais em valores nutricionais. O quanto a gente consegue tirar o máximo de nutrientes de um alimento, do que a quantidade calórica”, diz Nicolas. O peso maior da qualidade da alimentação sobre o número de calorias parece óbvio: estamos sempre vasculhando rótulos de produtos atrás das informações nutricionais… para olhar somente o valor calórico. É como se estivéssemos atrás do menor número, não importando a qualidade nutricional. O restaurante tem duas filiais na cidade: a da Asa Sul com-

efeito estufa em 10%, e abater cem mil toneladas dos materiais usados para fazer embalagens. As metas de redução na emissão de carbono, em percentuais, são maiores do que as de países signatários do Protocolo de Kyoto. De novo, é necessário colocar tudo no seu devido contexto – mas também ter noção do significado de uma porcentagem para uma empresa desse calibre. Um dos projetos de responsabilidade social da Ambev foi no Distrito Federal: microbacia do Crispim, Gama. Em parceria com a ONG internacional WWF, o objetivo foi tirar o Crispim da situação vulnerável de poluição. Resumo da ópera: criação de um viveiro para 10 mil mudas de árvores, plantio de 6 mil mudas, monitoramento da qualidade da água em seis córregos, e mobilização de oito mil pessoas. A iniciativa foi mais uma da empresa a ser lau-

reada: Prêmio Benchmarking Brasil, um dos mais respeitados selos de sustentabilidade nacionais. Três estatísticas simbolizam bem alguns dos resultados no Brasil: 99,04% dos subprodutos gerados no processo de fabricação de bebidas são reaproveitados; a economia de água beirou os 40% nos últimos 12 anos; a idade média da frota da empresa é menor do que quatro anos – enquanto a brasileira é de 20. Além disso, há mais de dois anos a Ambev já faz garrafas PET com material 100% reciclado, o que já levou às prateleiras e refrigeradores de todo o Brasil quase 700 milhões de garrafas PET desse tipo. Se o capricho do DuoO e a magnificência da Ambev são, respectivamente, uma formiga e um elefante zelosos em uma savana, o ideal seria que todo o reino animal assim fizesse. Moral da história: tamanho não é documento.

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COMPORTAMENTO

Fidelização de clientes:

estratégia eficaz para os novos paradigmas de mercado | Bárbara de Alencar

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om o desaquecimento na economia global, as empresas são obrigadas a procurar novas táticas para se manter no mercado. Surgem assim, os programas de fidelidade. Essas ações não são exatamente novidade, mas ganharam força no país e, hoje, crescem em ritmo acelerado, alavancando o faturamento mesmo em tempos de crise. As iniciativas nesse segmento seguem o mote “mais importante do que conquistar novos clientes é conservar os antigos”, pois os consumidores fiéis são mais rentáveis. Para ter ideia sobre a importância desse tipo de marketing, em 2014, só nos Estados Unidos, foram investidos $2 bilhões, de acordo com o relatório da Capgemini Consulting, publicado em março deste ano. Na capital federal, três sócios, Felipe Manara, Gabriel Machado e Marcel Carneiro, se juntaram para inovar nos modelos de fidelização de clientes. Eles trouxeram de Juiz de Fora (MG) a Carta Curinga, um clube de benefícios que oferece descontos, vantagens e, segundo eles, experiências exclusivas. O modelo consiste na publicação de uma revista que oferece de scontos em estabelecimentos parceiros em segmentos como gastronomia,

entretenimento, moda, saúde e bem estar. Cada exemplar vem com um cartão com vigência de 60 dias, quando outra edição é lançada, podendo conter novos benefícios. Para trazer o projeto mineiro para Brasília, Manara explica que foram realizados estudos de mercado nos quais se constatou que apenas 14% das pessoas acreditam em publicidade tradicional. Ou seja, as mídias e formas de comunicação convencionais já não agregam tanta confiança à marca no imaginário do consumidor. Outro dado importante revelado na pesquisa é a estimativa de que dois terços de toda economia mundial seja movida por recomendações pessoais. “As pessoas confiam nas recomendações de outras”, destaca o empresário. De acordo com Manara, o grande diferencial da Carta Curinga está na experiência oferecida aos empresários parceiros e ao cliente final. “Não somos simplesmente um clube de descontos. Pelo contrário, entendemos o negócio dos nossos parceiros e queremos garantir que eles sejam um sucesso tanto sob o ponto de vista empresarial quanto na parte de comunicação, que envolve a imagem desses estabelecimentos para o público e a boa experiência que eles conseguem gerar”, explica.

Dotz Muito além de descontos, o programa da Dotz – sua segunda moeda – é um dos que mais crescem no país. Criada no ano 2000, por Oswaldo Chade e seus filhos Roberto e Alexandre, a empresa atua como uma iniciativa de coalizão com diversos estabelecimentos unidos em torno de uma só ação de fidelidade. Ou seja, um empreendimento contrata a Dotz, que oferece em contrapartida a fidelização da clientela e estratégias de marketing que auxiliam no aumento do faturamento, baseadas no perfil de consumo do público fiel da empresa. A jornalista Lavínia Campos está entre os 14,5 milhões de brasileiros fidelizados ao programa de coalizão da família Chade. Diariamente, ela vai ao supermercado e, quando a atendente do caixa pergunta “CPF na nota ou Dotz?”, a resposta é enfática – “Dotz!”. Com os pontos adquiridos a partir de compras de produtos essenciais ao dia a dia, ela já conseguiu resgatar uma sanduicheira, pipoqueira, massageador de pés e um HD externo. “As vantagens para os clientes

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Foto: Wagner Augusto

Felipe Manara, Gabriel Machado e Marcel Carneiro, sócios da revista Carta Curinga

são grandes porque o crédito se dá por meio da compra regular de produtos do cotidiano em empresas conveniadas, sem que represente adicional de preço ao consumidor final. Os ganhos podem ser maiores ou menores, de acordo com a cotação do Dotz na empresa conveniada”, ressalta Lavínia. Os benefícios dessas ações para fisgar o público são de mão dupla. Enquanto uma compra de supermercado pode virar desconto em uma farmácia, posto de gasolina ou até um artigo novo, as empresas também vêem o faturamento crescer, apesar do desaquecimento na economia. De acordo com dados da Dotz, em 2014, o programa levou mais de 390 mil novos clientes para o Bob’s com gasto de aproximadamente R$ 16 milhões. Na farmácia Pague Menos, a estratégia de marketing alavancou o gasto médio dos clientes em 47% e o investimento no programa de fidelização se pagou em seis meses.

Dicas para escolher um programa de fidelidade De acordo com Geraldo Tardin, diretor presidente do Instituto Brasileiro Ed Estudo e Defesa das Relações de Consumo (IBEDEC DF), existem cuidados essenciais para tirar maior proveito dos programas de recompensa ao cliente. “A fidelização nunca é gratuita. Na área de telefonia ou TV a cabo, os planos de minutagem mais baratos ou concessão de um aparelho estão sempre atrelados a multas.” 1. Atenção ao ser fiel. Ler o contrato antes de assinar é crucial. 2. Ficar atento aos prazos de validade dos pontos. 3. Calcular o custo-benefício, ou seja, se o resgate da recompensa não será subutilizado. No caso das passagens aéreas, por exemplo, checar se não há promoção daquele trecho é o melhor para não gastar mais em milhas. 4. Escolher um programa que seja mais adequado a sua rotina de consumo, para dali extrais mais pontuação.

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COMPORTAMENTO

Milhas e milhas distantes

Valor da Informação

As primeiras ações de fidelização de clientes no Brasil começaram no setor aéreo, com os programas Multiplus, da TAM, e Smiles, da extinta Varig, revitalizado pela Gol em 2011. A partir de viagens e compras realizadas no cartão de crédito, o consumidor ganha pontos que podem ser trocados por passagens para qualquer parte do mundo. Somente em 2014, o programa Smiles teve R$ 283,9 milhões de lucro líquido. No quarto trimestre do ano passado, a companhia atingiu 8,5 bilhões de milhas resgatadas, o que representa 921 mil produtos e bilhetes aéreos emitidos. Embora as milhagens sejam um benefício almejado por muitos, elas também são líderes em reclamação. A jornalista Julia Carricondo é uma das pessoas que não acredita completamente nas vantagens oferecidas pelos programas de recompensa dessas companhias. Cliente do programa Smiles há aproximadamente nove anos, ela relata problemas como dificuldade em adquirir as passagens com as milhas, alto preço na taxa de transferência de pontos para o programa, além do curto prazo de validade da pontuação. “Nunca são só as milhas. Sempre é aquilo e mais dinheiro. Mas as milhas não são suas? Acho que não precisaria ter que pagar uma taxa para transferir, além da taxa para tirar a passagem. Às vezes, sai o valor da passagem. Falta fiscalização e estabelecer um prazo. Hoje cada operadora dá o tempo que quer”, aponta. Em 2010, um levantamento do Banco Central do Brasil revelou que o consumidor brasileiro perdeu 101 bilhões de pontos nos programas de recompensa dos cartões de crédito. O montante de milhas expiradas em um ano seria suficiente para emitir mais de cinco milhões de passagens aéreas entre o Brasil e qualquer destino da América do Sul. Os dados levaram o Congresso Nacional a analisar o Projeto de Lei 4015/2012 para regulamentar as ações. A proposta estipula, entre outras coisas, o prazo de validade dos pontos. De acordo com o texto, a pontuação oriunda de programas de bens e serviços não poderão expirar em menos dois anos. Já os pontos adquiridos em companhias aéreas deve valer até três anos. Para Bruno Nissental, fundador do aplicativo Oktoplus, criado para facilitar o gerenciamento dos programas de fidelidade, ainda há muito a ser feto no âmbito de regulamentação desse nicho. Entretanto, deve ser observado o impacto de algumas dessas medidas sobre as empresas, como uma extensa validade dos pontos. “Os programas são uma livre iniciativa da empresa. Existe um setor financeiro por trás dos programas de fidelidade. Então, com certeza você vai impactar na outra ponta”, pondera.

Quando um internauta navega pela web, em uma pesquisa pelo Google, o site coleta dados para, dali, refinar os anúncios que aparecem para aquela pessoa especificamente. Isto é, se você pesquisa por patins, por exemplo, toda a publicidade que surgirá na sua tela será sobre aquele produto, uma vez que o site já sabe da sua intenção em adquiri-lo. Nos programas de fidelidade, o funcionamento é parecido. Embora tragam benefícios ao consumidor final com descontos e benefícios, essas ações também têm um lado pouco conhecido pelos brasileiros – a informação de consumo. Ao registrar o CPF em um programa, a empresa refina dados como hábitos e preferência por produtos, frequência de compras, valor médio de gastos, entre outros itens preciosos para definir estratégias de marketing certeiras para o consumidor. Para Geraldo Tardin, os brasileiros ainda não têm noção do valor da informação que passam. “Eles sempre têm uma ideia de que é uma cortesia, uma bonificação da empresa. Mas isso está atrelado a algum custo”, alerta.

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Oktoplus – gerenciamento de benefícios Criado pelo empresário Bruno Nissental, a ferramenta Oktoplus surge em meio ao crescimento dos programas de recompensas aos clientes. Reunindo 24 tipos de ações de fidelização do cliente, o site e o aplicativo gratuitos facilitam a vida de quem precisa gerenciar muitos pontos. A ferramenta alerta sobre a expiração de pontos com 60 dias de antecedência, além de calcular o saldo potencial de pontos entre os programas nos quais podem ser transferidos e oferecer textos sobre as regras de cada programa. Outro diferencial é o buscador de passagens aéreas, que traz informações sobre voos, quantidade de milhas necessárias para resgatar as passagens, de acordo com cada programa.


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COMPORTAMENTO

Muito mais que feiras

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Fotos: Victor Pires

Brasília é palco de eventos que impulsionam a economia local, ocupam espaços públicos e alimentam a cidade com atividades culturais | Victor Pires

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capital do país não é mais a mesma. A velha ideia de que a cidade não tem opções de lazer, os habitantes são frios e distantes e as ruas são vazias perde sentido em contato com a realidade. Esta é, na verdade, uma cidade pulsante, cheia de vida, com pessoas engajadas em fazer a diferença e com uma população sedenta por novidades. A mudança foi comprovada por pesquisa coordenada pela antropóloga Leticia Abraham, diretora da agência Mindset, braço do WGSN Group, maior portal de estudos de tendências do mundo. O estudo faz parte do projeto Retrato Brasília, que busca construir um mapa estético e comportamental da cultura jovem na cidade. A iniciativa tem patrocínio do Banco do Brasil e realização do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em conjunto com o Correio Braziliense. Com caráter qualitativo, a pesquisa mapeou os grupos e expressões mais relevantes nas áreas de Artes, Design, Empreendedorismo e Cultura Urbana. Foram entrevistados 90 jovens, com idade entre 18 e 35 anos, atuantes nos segmentos listados. A análise dos resultados indicou, entre outros pontos, que, hoje, “floresce o orgulho e a vontade de conhecer, refletir e repensar a cidade, além de valorizar o que nela já existe”. Brasília é, sem dúvida, uma cidade singular. No cenário retratado pela Mindset, foi possível notar a busca de uma identidade cultural representante das características próprias da cidade. Os pesquisadores viram que “Brasília vive um movimento que tem a cara de um jovem que não quer ser igual a ninguém”. Em abril, a capital completou 55 anos. “A cidade de Brasília é muito nova. Não acho que Brasília tenha construído uma identidade consolidada”, afirma o estudante Guilherme Maculan. O jovem integra o Coletivo Livre, grupo responsável por organizar as Feiras Livres, eventos realizados no

fim do Eixão Norte, com apresentações musicais e cênicas, oficinas, DJs, comércio de alimentos e produtos diversos. Na busca por identidade, a capital do país tem sido palco de uma onda de eventos abertos ao público, com o intuito de ocupar os espaços livres da cidade por meio de atividades culturais, comerciais, esportivas, artísticas. As opções são diversas: apenas entre os dias 18 e 21 de abril, por exemplo, foram realizados pelo menos quatro. Apesar da variedade de propostas e formatos, alguns se destacam e ajudam a formar um quadro dos atores e ideias envolvidos na tendência, cada vez maior, de utilizar os espaços livres da cidade em manifestações construtivas. O PicniK é o maior em público e número de expositores (comerciantes que divulgam e vendem produtos nos eventos). A Feira Livre chegou à 3ª edição no dia 19 de abril de 2015. A Vila Planalto conta com a Feirinha da Vila, organizada pelo Coletivo Vilada. O mais novo dos quatro é o Viva Brasília, com foco em comidas e cerveja. Mesmo com propostas distintas, os eventos têm pontos em comum: propiciam interação entre os habitantes da cidade e a troca de experiências. Outra semelhança é a receptividade por parte do público. O número de frequentadores aumenta de uma edição para outra. Segundo Miguel Galvão, um dos organizadores do PicniK, “Brasília vem se mostrando muito aberta a esse tipo de manifestação. A cidade está com sede de vida. Existem pessoas com

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COMPORTAMENTO fome de cidade”. Quem se beneficia em especial desse tipo de evento são empreendedores que fazem parte de um segmento relativamente novo: a economia criativa. Em um mundo dinâmico como o atual, a criatividade tornou-se um fator imperativo para a competição. Artistas, designers, chefs, estilistas e microempreendedores em geral aproveitam os novos espaços em eventos de ocupação das áreas públicas para divulgar produtos e, é claro, vender. Intertítulo - Eixão do lazer, da gastronomia, da música, da arte e de encontros A Feira Livre foi realizada pela primeira vez no dia 7 de setembro de 2014, no Eixo Rodoviário de Brasília, o Eixão, na altura da 115 norte. O grupo organizador, Coletivo Livre, é composto por 13 amigos que atuam em diferentes áreas, entre elas música, artes plásticas e publicidade. Da junção de ideias, surgiu a vontade de fazer um evento diferente, para tirar as pessoas de casa e contribuir com a ocupação da cidade. Guilherme Maculan revela que, apesar do nome, exposição e venda de produtos não fazia parte da ideia inicial dos organizadores. Pelo contrário. Segundo ele, o grupo tinha “a proposta de desenvolver outra vertente de evento, em que as pessoas não necessariamente tenham que gastar dinheiro para estar nele. Na Feira Livre, você não tem que ir simplesmente para comprar coisas, é mais para aproveitar o dia”. O Coletivo Livre queria um ambiente com música de qualidade e oficinas voltadas para o desenvolvimento socioambiental. Mesmo assim, a primeira edição atraiu expositores: houve comércio de alimentos, artesanato, roupas e trabalhos de artistas independentes. Com a Feira Livre, os empreendedores criativos contavam com mais um espaço para levar produtos e ideias a um público interessado em novidades. Lojas virtuais também são presença frequente em eventos como esse. Os donos aproveitam os espaços para fazer divulgação da marca, estar em contato direto com os clientes e ter retorno e novas visões sobre os itens vendidos. Segundo Guilherme Maculan, “transformar em tátil os produtos das pessoas que têm lojas virtuais teve boa receptividade por parte do público”.

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A 2ª edição da feira, realizada em 2014, ficou marcada pela adesão de novos participantes e o crescimento do projeto. Segundo a organização, ao longo do dia, entre 800 e mil pessoas passaram pela área do evento. Na primeira edição, o número de frequentadores foi de no máximo 300, de acordo com o Coletivo Livre. Além disso, a quantidade de expositores também aumentou. O expositor Lucas Marques, um dos criadores da revista em quadrinhos brasiliense Aerolito, afirma : “Qualquer feira, principalmente uma livre, como essa, é um incentivo para a gente vir, vender, mostrar nosso trabalho e conhecer também o trabalho do pessoal”. Marques esteve presente na 3ª Feira Livre, realizada em abril deste ano. Diversas oficinas animaram o evento, como malabarismo, skate para iniciantes, yoga, horta verti-


Fotos: Arquivo Público

cal, criação de abelhas. Apresentações circenses e cênicas também tiveram espaço. Bandas e DJs se alternaram divulgar música de qualidade. O artista plástico Vittor Ibanes expôs seu trabalho, ao lado do sócio Leandro Figueiredo. Donos da marca Janela do Infinito, reúnem camisetas e quadros com desenhos de Ibanes. Para aumentar a interação com o público, a dupla ofereceu pintura de rosto tribal gratuitamente. Apesar de ter sido o primeiro evento do qual participou, Leandro acredita que a realização “é importante para divulgar a cultura alternativa de Brasília”. O sucesso do evento refletiu no aumento do público, desta vez, a organização contabilizou entre duas e três mil pessoas ao longo de todo o dia. A parceria com Viva Brasília, evento organizado pelo clube de assinatura Viva

Cerveja, ampliou ainda mais o alcance. As iniciativas estavam marcadas para o mesmo dia e, ao invés de entrarem em conflito por causa do choque de datas, as organizações resolveram unir as forças. Segundo Jair Tannus, sócio do Viva Cerveja, a junção dos eventos aconteceu de forma bastante espontânea. A união aumentou a área da Feira Livre e disponibilizou mais opções de alimentação para os presentes. Além disso, o clube de cervejas fez parceria com o aplicativo de táxis Uber e disponibilizou vouchers para trechos de até R$50,00. O foodtruck Los Batateiro’s, de Talitha Lima e Jefferson Santos, esteve presente no Viva Brasília. Talitha acredita que a grande vantagem para o expositor, além do ganho financeiro, é a oportunidade de divulgar o produto para diversos públicos. Foi o caso de Fellipe Moura, do Calango Juice. A marca, especializada em sucos artesanais, feitos da mistura de várias frutas, tem uma Range Rover customizada para participar de eventos. Moura vê com bons olhos o aumento do número de iniciativas que utilizam espaços livres da cidade: “Para mim, isso é sensacional. Ocupar a rua e pode fazer seu negócio, empreender. Poder ter pelo menos o inicial para tocar seu próprio negócio. É um adianto para muita gente”. Guilherme Maculan acredita que a aceitação de projetos como a Feira Livre e o Viva Brasília começou a aumentar a partir de outro, mais antigo: o PicniK. “Depois do PicniK, foi possível observar que as pessoas criaram empatia com esse tipo de evento”, afirma. Um PicniK para dez mil pessoas O PicniK é organizado pelo grupo Picnik no Calçadão. O nome remete ao início do projeto, encabeçado atualmente por Miguel Galvão, Julia Hormann e Carol Monteiro. Em 2012, Galvão já promovia eventos em Brasília e foi procurado por um funcionário da Administração Regional de Brasília com o objetivo de ajudar a atrair pessoas para o calçadão no fim da Asa Norte. Para atingir a meta, os organizadores pensaram em uma plataforma de encontro diurno entre pessoas e ideias interessantes da cidade. Nascia assim o PicniK. A primeira edição do evento, segundo Galvão, foi realizada com muita dificuldade. A infraestrutura era precária

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COMPORTAMENTO e contava com cerca de 20 expositores, apenas. Mesmo assim, a organização calcula ter conseguido atingir um público de quase duas mil pessoas durante o dia. A segunda edição, também em 2012, continuou apresentando dificuldades. Diante do cenário negativo, os organizadores decidiram pensar em estratégias para fazer um terceiro PicniK. Na 3ª edição, em 2013, os organizadores tiveram foco em captar expositores de Brasília com ideias próprias da cidade. Segundo Galvão, foi quando o evento alcançou maior sucesso. “O custo de ter uma vitrine no Plano Piloto é praticamente proibitivo. Então, o que a gente pensou: ‘o PicniK talvez possa ser uma vitrine dessa Brasília que a gente gosta e que a gente quer enxergar mais forte”, afirma. Neste ano, o evento foi realizado no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) e teve circulação de cerca de dez mil pessoas. No mesmo ano, os organizadores levaram o evento para o Jardim Botânico de Brasília. O crescimento constante chamou atenção de expositores e patrocinadores. Atualmente, o PicniK tem patrocínio do Cartão BRB e da CocaCola e, a cada evento, cerca de 500 expositores procuram a organização.A última edição, realizada em 2015 no Parque da Cidade, recebeu mais de dez mil pessoas. Maria Paula Dias trouxe de Goiânia a marca de roupas, Mapi 49. Para ela, o evento “é ótimo para exposição de um produto novo e para vendas”. A empreendedora lamenta não haver, em Goiânia, um movimento parecido com esse. Maria Paula acredita que isso se deve ao perfil da população de Brasília: “os brasilienses saem de casa”, afirma. Outra loja de vestuário que também participou foi a Satan Kiddo. Guilherme Pinheiro, o proprietário da marca criada em 2013, esteve em outras edições e afirma que “o evento melhorou muito. Agora, conta com mais visibilidade e apoio”. Apesar disso, “os expositores independentes perderam um pouco de espaço para marcas maiores”, lamenta o empreendedor.

O foco da exposição hoje está, principalmente, na venda de produtos. No entanto, workshops, música, apresentações teatrais e esportes também animam o ambiente. Para a última realização do evento, a organização fez parcerias para disponibilizar oficinas de nutrição felina e meditação, entre muitas outras. Um dos destaques da parte cultural foi a apresentação do espetáculo Os Saltimbancos Músicos de Bremen, pela Cia. Teatral Mapati. Os organizadores planejam realizar outras quatro edições do PicniK este ano. A exposição no PicniK não é gratuita. As taxas variam entre R$220 e R$800, dependendo da atividade, da localização e do tamanho do stand. No PicniK do Parque da Cidade, a organização fez parceria com o Sindicato, agremiação de artistas independentes de Brasília com o objetivo de possibilitar a presença de expositores mais experimentais. A taxa cobrada foi de R$70 por expositor ou marca, e eles foram alocados em uma área específica do evento, o local ficou marcado pelo nome: o Motim num PicniK. O produtor, editor e escritor independente Willian Pereira integrou o grupo. Segundo ele, o valor pago à organização foi um investimento positivo. Para o escritor, o público do PicniK é comporto por “muita gente com alto grau crítico, que sabe muito bem o que vem consumir. Às vezes, nem vêm consumir nada, mas conhecer pessoas, fazer networking, se divertir”. O expositor Lucas Fernandes, do Incoerente Coletivo, participou de outros PicniKs como frequentador. Neste ano, também fez parte do Motim lançando a revista do Coletivo, formado por seis quadrinistas. Fernandes afirma que a participação foi proveitosa: “Se a gente parar para pensar, o público que consome quadrinhos é muito restrito, mas quem frequenta este evento consome nosso produto. Então, para nós, vale a pena publicar e fazer a venda do zine [publicação independente] aqui”.

A Vila Planalto não fica de fora

as passaram pelo local. A resposta positiva por parte da comunidade animou o grupo a planejar mais iniciativas. Foi quando a Feirinha da Vila surgiu, como uma vertente do Coletivo Vilada, e a primeira edição foi realizada em março de 2015. A Vila Planalto recebeu a 2ª Feirinha da Vila no mês seguinte. Além da exposição e venda de produtos, o Coletivo Vilada garantiu também a programação cultural. Para isso, o evento recebeu as bandas Os Gatunos, Canela de Ema e o DJ MV Milk, além do poeta Joãozinho da Vila, que recitou trabalhos autorais. Marcus destaca que o evento é voltado para o desenvolvimento da comunidade: “Não é uma coisa só de artistas, de produtores culturais, de quem participa como cabeça pensante, é de toda a Vila”. Desse modo, também há incentivo à economia. Na 2ª Feirinha, 17 comerciantes venderam comidas e 14 outros expositores venderam

Outra tendência que tem florescido em Brasília é a dos coletivos. Grupos de indivíduos com interesses em comum, ideias inovadoras e disposição para fazer a diferença ganham espaço na capital. É o caso do Coletivo Vilada, formado por artistas, jornalistas e moradores da Vila Planalto interessados em aproveitar o potencial da comunidade para receber eventos. Segundo Marcus Vinicius Leite, membro do Vilada, o local carecia de atrações culturais. O primeiro evento organizado pelo grupo foi o Festival do Beco, em junho de 2014. Cerca de quatro mil pesso-

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peças de vestuário, artesanato, acessórios e outros produtos diversos. Além disso, a organização montou um bar, para arrecadar dinheiro. Ricardo Gomes, do Buriti Zen, produz marmitas veganas e orgânicas na Vila Planalto. Aproveitou a Feirinha para espalhar conhecimentos para o público presente, numa espécie de aula sobre a importância da alimentação orgânica. “A gente gosta muito de trazer, além da nossa culinária, mais informações”. Para expor, os comerciantes contribuíram com uma taxa de R$80. Mônica Bentes, dona da Anouk Bags, marca especializada em acessórios para bicicleta, veio do Rio de Janeiro para participar do PicniK e aproveitou para marcar presença na Feirinha da Vila. Ela considera o cenário de Brasília diferente: “No Rio, tem algumas feiras, mas muitas delas cobram muito caro. É complicado porque você acaba repassando para o produto, que fica mais caro.

As feiras daqui são bem mais em conta”. Em Brasília, os coletivos interagem entre si e se auxiliam. Prova disso foi a presença do Coletivo Desculpinha na Feirinha da Vila. Formado por 12 artistas que produzem colaborativamente, o Desculpinha produziu as ilustrações do evento e, por isso, puderam expor gratuitamente. Kabe Rodriguês, um dos expositores, acredita que “o espaço dessas feiras acaba sendo maior para novos tipos de produção”. O Coletivo Vilada planeja fazer a Feirinha da Vila mensalmente. Assim como outros eventos desse estilo, entra em um contexto propício para esse tipo de iniciativa. Um dos destaques da pesquisa do Retrato Brasília diz que “a cidade que era abandonada aos fins de semana, feriados e principalmente nas férias tornou-se um polo de cultura e entretenimento”. E, pelo que parece, ainda vem muita coisa pela frente.

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CAPACITAÇÃO TECNOLOGIA

Cidadania no edital

Jovens brasilienses se unem e oferecem a alunos de baixa renda preparo para competir por uma vaga em universidades públicas | Bianca Marinho

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eatriz se apaixonou pelo direito aos sete anos. A profissão era uma oportunidade de fazer o que sempre quis: trabalhar ajudando as pessoas. Dedicou tempo, saúde e atenção aos estudos com o objetivo de ser aprovada na Universidade de Brasília (UnB). Na época, aluna de uma escola pública da Asa Sul, Beatriz passou por diversos obstáculos, como greves e falta de professores. Foi quando viu a necessidade de reforçar os estudos em um

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cursinho, pelo qual os pais não poderiam pagar. O contato com o Vestibular Cidadão veio por meio de uma campanha realizada pelos professores na escola dela. A estudante precisou de dedicação para conciliar as aulas noturnas no cursinho e o último ano do Ensino Médio. No entanto, a rotina de esforço foi valiosa para a aprovação na UnB pelo Programa de Avaliação Seriada (PAS). Hoje, a caloura de Direito vê o Vestibular Cidadão como um canal de oportunidade para as pessoas realizarem seus sonhos. “É só


uma etapa, mas é um degrau muito importante para alcan- cursa Medicina e dá aula de matemática no Vestibular Cidaçar a realização profissional e pessoal”, afirma. dão. O voluntário afirma que é gratificante acompanhar a traO Vestibular Cidadão é uma organização voluntária e jetória do aluno até a aprovação. “O voluntariado ensina a ter gratuita para alunos e ex-alunos da rede pública ou estu- tato com pessoas e a vivenciar realidades diferentes”, conta. dantes da rede privada com bolsa integral se prepararem Gabriel Silva Garcia estudou na rede pública e foi aluno para o vestibular e Enem. Com turmas nos turnos vespertino bolsista da rede privada. O estudante da UnB foi presidente e noturno, o número de 30 alunos por classe subiu para 120. do Vestibular Cidadão em 2014 e vê a organização como A área administrativa é formada por 25 membros divididos uma oportunidade valiosa. Hoje, é membro da diretoria de em cinco diretorias: Recursos Humanos, Relações Externas Administrativo-Financeiro, coordenador da cadeira de mae Marketing, Administrativo-Financeiro, Ensino e Presidên- temática e professor. De acordo com Gabriel, o diferencial cia. O corpo docente é composto por 53 professores. De se- dos alunos do Vestibular Cidadão é o interesse. “Para quem gunda a sexta, as aulas são ministradas no Centro de Ensino leciona, nada é melhor do que um aluno dedicado. Nada Médio Elefante Branco e, nos finais de semana, no Centro paga a satisfação de ver o nome de ex-alunos na lista de de Ensino Médio Setor Oeste. aprovados e encontrá-los na UnB.” O projeto nasceu no final de 2003 por iniciativa de aluO cursinho serve como revisão do conteúdo aprendido nos de graduação do curso de Relações Internacionais da na escola, além de direcionar os estudos e ensinar novas UnB. Leonardo Kazuo é um dos fundadores e conta que o matérias. Amanda Coimbra dos Santos terminou o Ensino cursinho foi criado com o intuito de dar oportunidade a alu- Médio no final do ano passado e quer cursar Arquitetura e nos de escolas públicas ingressarem nas universidades. “A Urbanismo na UnB. “É uma ótima oportunidade, porque um ideia surgiu dessa vontade de fazer um projeto social dentro cursinho não é barato. Os professores são dinâmicos e dedida faculdade de Relações Internacionais, um curso com ca- cados, usam o tempo deles para montar listas de exercício racterísticas elitistas. Aproveitamos o conhecimento adquiri- e mandam slides.” do para ajudar outros a conquistarem o sonho já conquistaA atenção dedicada a cada aluno foi um diferencial na do por nós.” No início, o desafio do grupo foi conseguir um vida de Neyrilene Raquel, aprovada no curso de Comunicaespaço para as aulas e atrair o apoio de voluntários. “O que ção Social no final do ano passado. “Os professores te ajunos movia era a vontade de fazer a diferença”, lembra. dam a criar uma grade de estudos e caso tenha qualquer dúDe acordo com a presidente, Ana Luísa Cazetta, a or- vida você pode recorrer a eles. Ter um tutor foi uma forma ganização atua para formar pessoas conscientes da impor- importante de incentivo.” O exemplo dos voluntários tamtância do seu trabalho na sociedade. bém inspira alunos como Karolliny Para ela, o envolvimento dos volunMedeiros Costa, caloura do curso tários e dos alunos é motivador. “É de Letras Francês. Durante o segunINSCRIÇÕES muito bom trabalhar com voluntádo semestre de 2014, ela estudou Os interessados em estudar rios engajados. Tem gente de todos no Vestibular Cidadão e diz que o no Vestibular Cidadão devem os cursos trabalhando com o mesmo acesso ao conteúdo, a monitoria e o se inscrever no Processo Seobjetivo: transformar Brasília em um auxílio dos professores foram deterletivo. As datas de inscrições lugar melhor.” minantes. “Estou me formando para serão divulgadas na página do Para ser professor na organização, ser professora. Então, esse exemplo Facebook e os interessados denão é preciso cursar a graduação ou me incentivou a fazer projetos e a vem preencher um formulário ser formado na área em que pretentrabalhar por outras pessoas como disponível no site www.vestide lecionar. Jheimyson Rêgo Barnabé eles trabalharam por mim.” bularcidadao.com.br.

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Ajuda contra a depressão

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ato suicida do copiloto Andreas Lubitz que matou 150 pessoas, traz à tona discussões sobre a doença que é o mal do século 21: a depressão. O tema é tratado em diversos filmes, documentários, livros. Recentemente em cartaz, o longa-metragem francês “Dois dias e uma noite” conta uma história de superação. Vivida por Marion Cotillard, a personagem central sofre de depressão e, por isso, é afastada do emprego. O enredo mostra o destino dessa mulher na empresa sendo decidido pelos colegas de trabalho, que devem escolher entre a permanência da funcionária ou um aumento no contracheque. O filme evidencia as barreiras impostas pela patologia que devem ser superadas diariamente para ser controlada. O roteiro ainda revela a importância do apoio de quem cerca uma pessoa diagnosticada com depressão. Histórias desse tipo não estão apenas na ficção. Aqui em Brasília, a RM Clínica recebe pessoas que passaram por situações como essa. Há poucos meses em tratamento, Mariana (nome fictício) foi afastada do emprego após sofrer um assalto enquanto estava trabalhando. O incidente causou crises de pânico constantes na operadora de caixa. “Voltei a trabalhar logo depois do crime, mas tinha medo o tempo todo. Muitas cenas me remetiam àquele momento.” Hoje, ela conta que o desafio é viver um dia de cada vez. “Ainda tenho trauma. Quando ouço vozes altas ou sinto qualquer movimento brusco, me assusto. Coisas ligadas a assalto, ainda mexem muito comigo. Mas estou melhorando aos poucos com o acompanhamento psicológico e psiquiátrico.” Rafaela Massouh, administradora da RM Clínica, explica que cada diagnóstico deve ser visto de maneira diferente. “Existem casos que necessitam de internação. A unidade da

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clínica de Sobradinho recebe essas pessoas.” De acordo com Rafaela, é importante tratar a doença de uma forma multidisciplnar: “A equipe é composta por psiquiatra, psicólogo, terapeuta, nutricionista, professor de educação física, assistente social, além de enfermeiros que cuidam 24 horas por dia de cada um dos pacientes”. Após o período de internação, que varia de acordo com o caso, a pessoa volta para o ambiente de trabalho, mas segue com o acompanhamento da clínica, localizada na Asa Norte. A assistência é importante para a pessoa não ter novas crises.


Tempos modernos Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a depressão é a segunda doença que causa mais incapacidade no trabalho, levando uma pessoa deprimida a faltar sete dias por mês. O psiquiatra e psi-

canalista francês Christophe Dejours é especialista na relação entre trabalho e doença mental. De acordo com ele, a doença se intensificou nos últimos 15 anos, por causa da mudança na organização de trabalho, quando a avaliação individual do desempenho, a exigência de “qualidade total” e o outsourcing viraram prioridades dentro das empresas. De acordo com Dejours, “o que mudou é que as solidariedades desapareceram (…). A destruição pelos gestores dos elos sociais no trabalho fragiliza a todos perante a doença mental”. O foco na produtividade afasta o olhar do chefe ou do próprio colega de trabalho do indivíduo. Isso resulta em um dos problemas levantados pelo psiquiatra da RM Clínica Ewerton Torreão: a subestima da doença. “Há uma tendência do ser humano em desvalorizar a depressão. Muitas vezes, o enfermo apresenta todos os sintomas, mas as pessoas a sua volta reagem como se não fosse nada”. O acidente provocado por um pai com os quatro filhos dentro do carro foi lembrado por Torreão. Para ele, a tragédia poderia ter sido evitada se o homem tivesse passado por um tratamento. A rádio francesa RFI ressaltou, em uma reportagem sobre o voo da Germanwings, a responsabilidade da companhia Lufthansa por não ter levado a sério a fragilidade psicológica do copiloto – já que o rapaz de 28 anos havia sofrido crises depressivas que tentava esconder para não prejudicar a carreira. A matéria também chama atenção para como pessoas com males físicos passageiros são mais bem aceitos pelos chefes e colegas de trabalho do que os profissionais com problemas ligados ao estado psicológico. “Muitos funcionários preferem esconder os problemas a se expor ao julgamento alheio.” Contudo, de acordo com Torreão, é possível identificar os sintomas de quem está sofrendo depressão: “Tristeza acima da média; isolamento; demonstração de que os prazeres, outrora compartilhados em grupo, não têm mais graça, a chamada anedonia. A pessoa depressiva não reage ou parece que está sempre com preguiça, como se não tivesse dormido bem nem se alimentado direito”. A recomendação, segundo ele, é procurar um psicólogo para uma avaliação da intensidade da doença.

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FUGINDO DAROTINA

sob novas perspectivas Empresa brasiliense ganha espaço ao possibilitar que turistas e moradores conheçam encantos pouco explorados da capital federal | Taise Borges

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Praça dos Três Poderes, a Catedral Metropolitana, o Museu Nacional, a Torre de TV – todos esses pontos turísticos são velhos conhecidos dos moradores de Brasília e paradas certas no roteiro de qualquer turista que visita a capital. Mas será que a cidade planejada que, este mês, completa 55 anos de vida, não tem mais a oferecer além dos já consagrados monumentos? A Experimente Brasília nasceu para mostrar que sim. A empresa propõe que os clientes conheçam a cidade por meio de passeios inusitados pela capital do país e, dessa forma, sintam Brasília como se fossem típicos moradores. Entre os roteiros turísticos propostos, es-

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tão percorrer a rota de produção do vinho no cerrado, explorar a trilha dos azulejos de Athos Bulcão e fazer um tour para conhecer as espécies arbóreas típicas da vegetação local. Para os amantes da fotografia, também é possível realizar expedições guiadas pelo Lago Paranoá e se aventurar em um passeio de balão sobre a Chapada dos Veadeiros. A empresa criada pelas turismólogas Patrícia Herzog e Tatiana Petra foi fundada em 2013. A parceria entre as empreendedoras, no entanto, existe desde 2004, quando criaram a Tríade, empreendimento cujos produtos pretendem valorizar o patrimônio, o turismo e a educação. Foi a Tríade que possibilitou a realização da primeira trilha pelos prédios com obras de Athos


Fotos: Instagram Experimente Brasília

Bulcão – projeto que, em 2009, ganhou um prêmio oferecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Athos está para Brasília assim como Gaudí está para Barcelona. Ele é a cara da cidade e é essencial os brasilienses conhecerem seu trabalho mais de perto”, explica Patrícia, que é Diretora Criativa da empresa. O empresário Adriano Teles participou de duas rotas propostas pela Experimente Brasília: um passeio pelo universo da arte brasiliense e uma expedição fotográfica em que pôde despertar seu olhar para a beleza de cenas do cotidiano. Para ele, muitos detalhes do dia a dia passam despercebidos até para quem vive na cidade há muito tempo: “Moro na Asa Norte há 29 anos, mas nunca tinha parado para observar os prédios de perto, as possibilidades da mobilidade urbana. O passeio me possibilitou essa experiência”. Para conectar ainda mais a capital aos seus moradores e comemorar o aniversário da cidade, a empresa está preparando um roteiro especial: o Experimente a Utopia. No dia 21 de abril, durante o Festival Retrato Brasília, serão oferecidas expedições gratuitas aos interessados em conhecer intimamente os arredores do Cine Brasília, onde ocorre o festival.

Verde Perto As expedições turísticas oferecidas pela Experimente Brasília são guiadas por moradores locais apaixonados pela capital. Entre os guias e profundos conhecedores da cidade modernista estão a professora Ana Paula Jacques, o fotógrafo Lucas Las-Casas e o historiador Gabriel Camargo. O poeta Nicolas Behr também contribui com a empresa ao guiar as expedições chamadas “verde perto”, feitas aos domingos, no Eixão. Nesses passeios, é possível aprender sobre a floração, frutificação e reprodução das espécies vegetais do cerrado – conhecimentos adquiridos pelo poeta experiente observador da natureza regional. Os passeios pelo Eixão são feitos com uma bicicleta tipicamente brasiliense: a Nuvenzinha, também chamada Camelinho, criada em Brasília entre as décadas de 70 e 80. Costuma-se creditar sua autoria a Zé do Pedal, folclórico morador da cidade. O modelo, inspirado na bicicleta Monareta, se caracteriza pelo alto guidão e rodas de aro menor do que das bicicletas comuns. Ao escolher o típico meio de transporte, a Experimente Brasília consegue despertar o olhar de moradores e turistas não somente para o verde que colore a capital e passa despercebido pelos mais apressados, como também para a criatividade e tradições do brasiliense.

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Receita do Chef Para a comemoração do aniversário de Brasília, o chef Waldeone do restaurante La Tambouille preparou um delicioso linguado ao molho de maracujá. A porção serve seis pessoas. Para o mês de março, o chefe Waldeone preparou umas das especialidades do restaurante La Tambuille: o filé ao molho funghi acompanhado de um risoto de parmesão. Ingredientes 200g de açúcar Ingredientes para o Molho Funghi 2 maracujás inteiros 25 funghi porcini secchi 1 copo de suco de laranja 1 xícara (chá) de vinho tinto seco 1 copo de suco de maracujá (concentrado) 1 xícara (chá) decreme caldo de deleite carne (molho roti) 1 colher (sopa ) de 1 cebola média picada Em uma panela quente faça um caramelo com o açúcar, deixando cozinhar um minuto no fogo alto. Em 2 dentes de alho seguida misture o resto dos ingredientes. Faça o filé de linguado grelhado em 50 ml de óleo. 1 colher (sopa) de farinha de trigo (se necessário) 1 colher (sopa) manteiga Ingredientes para odeacompanhamento: Mergulhe os cogumelos no vinho e reserve por uma hora. Numa frigideira, refogue o alho e as 120g de cebola cebolas na manteiga em fogo baixo. Acrescente os cogumelos cortados e mexa devagar. Depois, 600g de camarão rosa dissolva a farinha no vinho e adicione ao molho. Continue adicionando o vinho (o mesmo uti5 ovos lizado para hidratar os cogumelos, coado) e o molho roti e deixe engrossar. 500g de farinha 100g de manteiga Ingredientes para o Risoto de parmesão 2 bananas da terra 3 xícaras de arroz para risoto a farinha. Frite os ovos em uma panela separada e depois junte tudo Frite a cebola(chá) e o camarão. Acrescente 300 g de queijo parmesão em pedaço com o restante dos tipo ingredientes. 2 cebolas médias 4 dentes de alho 1colher (sopa) de manteiga Foto: Alisson Carvalho 7 xícaras (chá) de água com caldo de legumes (molho consomê) Óleo Sal a gosto Frite o alho e a cebola na panela com óleo. Acrescente o arroz e deixe-o fritar por um minuto. Acrescente o molho consomê em etapas para que o arroz não fique seco. Despeje aos poucos o queijo ralado e no fim acrescente a manteiga. Foto: Wagner Augusto

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