Brasília, DF, Edição 35, março 2015
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
1
2
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
3
editorial
Conheça as ideias do TEDx Universidade de Brasília
F
inalmente, chegou o dia do evento que promete surpreender Brasília, o TEDx! O ciclo de palestras, conhecido no mundo todo por espalhar ideias, desta vez, é organizado por alunos da Universidade de Brasília. O modelo TED (Tecnologia, Entretenimento, Design) foi, inicialmente, criado nos Estados Unidos com o intuito de unir pessoas de toda a parte do planeta por meio do compartilhamento de experiências. Dele, surgiu o TEDx, uma organização independente com os mesmos moldes da plataforma original, mas que atua fora dos EUA. O Grupo de Comunicação Tendências e Negócios se orgulha em ser um dos apoiadores do TEDx Universidade de Brasília. A nossa missão de divulgar práticas que incentivem o desenvolvimento do Distrito Federal está fortemente alinhada com a proposta da organização do evento que pretende impactar os brasilienses com palestras inspiradoras. As personalidades selecionadas pelo TEDx para espalharem suas ideias são pessoas que, de alguma forma, contribuem diariamente para a evolução da nossa cidade e do nosso país. Os palestrantes, que se dividem entre quatro possibilidade - Brilhantes, Inovadoras, Inesperadas e Criativas - foram escolhidos de acordo com suas experiências individuais. Entre eles, estão pessoas nacionalmente conhecidas, como a atriz e apresentadora de TV Maria Paula, e figuras com impacto local, que é caso do livreiro da Universidade de Brasília Chiquinho. Não perca! Carol Dias - editora-chefe
• Diretor Executivo: Alex Dias • Editora-Chefe: Carol Dias • Diretora Financeira: Ana Paula Santana • Redação: Eduardo Barretto, Gustavo Lúcio, Oda Paula Fernandes, Bianca Marinho Carolyna Paiva e Taise Borges • Diagramação: Alisson Carvalho • Foto da capa: Alisson Carvalho • Imagens: Alisson Carvalho, Wagner Augusto, Marcos Paulo, Raphael Farias, Magnun Alexandre, Jonathan Felix e Emerson Damasceno Gestão de Pessoas: Caio Dias Redação (61) 3964-0626 Comercial (61) 9288-0520 9905-1677 Distribuição Gratuita emails: carol.dias@grupoten.com.br contato@grupoten.com.br WWW.TENDENCIASENEGOCIOS.COM.BR
Mais Soluções Gráficas - fone: 3435-8900
4
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
O melhor curso de Brasília!
O Curso Técnico em Transações Imobiliárias a distância permite ao aluno estabelecer o seu próprio ritmo de aprendizagem. A avaliação é feita por disciplina e uma equipe de orientadores está sempre à disposição para esclarecer dúvidas. Não há aulas presenciais nem frequência obrigatória. Pré-requisito: Ter concluído o Ensino Médio ou estar em fase de conclusão. Matrículas de janeiro a janeiro.
ATENÇÃO CORRETORES DE IMÓVEIS Curso de Especialização Técnica de Nível Médio em Direito Imobiliário Curso de Especialização Técnica de Nível Médio em Avaliação Imobiliária
Únicos em Brasília Mais informações (61) 3218-8369
www.tticeteb.com.br ASA SUL – SGAS Qd. 603 Conj. C – (61) 3218-8300 / 3218-8369) TAGUATINGA – QSD Área Especial 1, Lote 4 Ed. Spazio Duo Salas 302-303 TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 :: (61) 3352-6527 / 3021-1149)
5
Sumário
Foto: Edu Moraes
38
Renato Santos no programa O Aprendiz
capa - 16
Gente que Faz - 38
Chegou a hora do TEDx Universidade de Brasília! Conheça as personalidades que vão dividir suas ideias no evento mundial.
Conheça a história de Renato Santos, que escolheu Brasília para empreender e, hoje, compartilha seus conhecimentos com o mundo inteiro.
Comportamento - 28
Capacitação - 42
Saiba quais são as práticas que fazem do chefe um líder dentro da empresa. Uma das dicas é reconhecer as habilidades dos colaboradores e se cercar de pessoas que dominam os procedimentos técnicos.
Universidades do mundo inteiro aderem ao formato de cursos à distância. Plataformas como o Coursera facilitam o acesso dos interessados a essas instituições de ensino.
Empresa verde - 32
Mês da Mulher - 50
O Centro-Oeste é a região do Brasil mais preocupada com o consumo sustentável. Em Brasília, algumas empresas inovaram para reduzir desperdícios.
No mês dedicado às mulheres, destacamos o perfil de empreendedoras e deputadas que por meio do seu trabalho, impactam o Distrito Federal.
6
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
Foto: Wagner Augusto
42
59
Preparo Físico - página 76
Felipe Pessoa é adepto de cursos online
A deputada Celina Leão é um dos nossos destaques no Mês da Mulher
Entrevista - 12 O presidente do Metrô DF, Marcelo Dourado (foto), fala sobre as perspectivas de mobilidade urbana no Distrito Federal. Foto: Wagner Augusto
editorias Dicas Empresariais
8
Entrevista 12
Empreendedorismo 48
Fugindo da Rotina
64
Receita do Chef
66
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
7
Dicas Empresariais
Alex Dias
8
1
Fechar uma empresa ficou muito mais fácil. Com o programa Bem Mais Simples, lançado pelo Governo Federal no fim de fevereiro, empresários poderão encerrar seus empreendimentos em um site na internet - www.empresasimples.com.br, por meio da chamada baixa automática. As dí-
2 3
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
A assinatura de e-mail deve ser uniforme para todos os colaboradores. Isso cria credibilidade imediata para todos os funcionários no primeiro contato com o cliente, além de destacar os e-mails da empresa entre tantos outros em cai-
4
vidas das micro e pequenas empresas serão repassadas automaticamente para os CPFs dos proprietários. A dificuldade na abertura e fechamento de empresas era umas das principais reclamações sobre o ambiente de negócios no país, que, pela pesquisa “Doing Business Report”, figurava no 120˚ lugar entre as 186 nações analisadas.
O site americano Inc. trouxe cinco dicas, que vão além da marca, para quem quer fortalecer a imagem da empresa. A primeira é o cartão de visita. Pode parecer óbvio começar por aí, mas os clientes vão conhecer seus colaboradores dentro ou fora do escritório e ter uma primeira impressão deles. Os cartões de visita devem, além de incluir a logo, refletir a qualidade do produto da sua empresa. Produtos de papel fino, apesar da distribuição eficaz, refletem negativamente sobre a marca.
5 Muitas empresas usam formulários para reunir informações sobre seus clientes. Embora possa ser fácil simplesmente jogar muito conteúdo junto, a fim de reunir as informações necessárias, vale a pena passar algum tempo concebendo as formas para que elas se encaixem à logotipo e à marca. Incluindo formulários da Web. Ferramentas como Wufoo podem ajudar a criar formas belas e eficazes que podem ser enviadas via links.
xas de entrada. O lugar de trabalho também foi destacado. A localização e o logotipo na parede não são os únicos fatores que têm um impacto sobre os clientes. Os sons, os cheiros, e a limpeza do local também podem afetar a impressão sobre sua empresa.
Todos sabem a importância que tem um bom serviço ao cliente. A empresa que não se atenta a isso, pode receber maus comentários e referências negativas. E muitas vezes o bom atendimento está em pequenos componentes, como por exemplo na saudação. A churrascaria americana usou o mote ”Oi, posso ajudá-lo”, dito por seus colaboradores, na logotipo e acabou fortalecendo a marca.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
9
10
Elo Consultoria Empresarial e Produção de Eventos SCN Quadra 02 Bloco A 1° andar Brasília – DF Inscrições e Informações (61) 3327-1142 www.eloconsultoria.com :: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
11
Entrevista
Caminho so Uma das principais bandeiras do governador Rodrigo Rollemberg durante a campanha eleitoral de 2014 foi a de priorizar um sistema integrado de mobilidade urbana. A expansão do metrô e o desenvolvimento de linhas ferroviárias que liguem o Distrito Federal ao Entorno são expectativas dos cidadãos. O atual presidente do Metrô DF, Marcelo Dourado, revela quais são os projetos para este mandato. | Carol Dias
12
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
Qual é a importância do metrô para Brasília? As pessoas devem entender que transporte público de alta capacidade no mundo só tem um nome, chama-se trilho. Um carro de passeio leva cinco pessoas, um ônibus, 50, o BrT, que é o ônibus articulado, leva no máximo 130 passageiros. Por outro lado, uma composição de metrô transporta até 1400 pessoas e do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) até 900. A capacidade de transporte do trilho é infinitamente maior à do pneu. Por isso, para enfrentar efetivamente o problema da mobilidade urbana e suburbana no Distrito Federal e na região do Entorno a resposta é trilho. Quais são os projetos? Primeiro, vamos modernizar todo o sistema metroviário do DF, que é um antigo. Em abril, haverá a licitação para a compra de dez novos trens. Em junho, lançaremos o edital de licitação para o início das obras de expansão do metrô. Vamos fazer mais duas estações em Samambaia, duas na Ceilândia e começar o metrô subterrâneo da Asa Norte. A primeira estação a ser construída é a do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). A segunda vai até a 107 Norte, para que o estudante morador da Ceilândia ou de Samabaia possa pegar o metrô e ir até a Universidade de Brasília. A palavra “integração” é fundamental nesse nosso projeto. Tem que haver integração com os ônibus, com a ciclovia e com os automóveis. Temos indicadores de que 2015 será um ano difícil. Com quais recursos esses projetos serão realizados? Os recursos para expansão, modernização e compra de novos trens foram contratados no chamado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da
obre trilhos Mobilidade, são recursos vindos do Governo Federal. O GDF não vai contribuir financeiramente com o projeto. Até porque nosso governo herdou uma situação extremamente difícil do ponto de vista orçamentário.
Presidente do Metrô DF, Marcelo Dourado
Fotos: Wagner Augusto
O BrT foi um gasto que poderia ter sido revertido em trilho? Sem dúvida. Quando eu fui superintendente da Superintendência do Desenvolvimento do Centro -Oeste (Sudeco), em 2012, apresentamos o projeto chamado Brasília-Luziânia. Aproveitamos uma linha férrea que já existe e vai da rodoferroviária até a cidade do Entorno. Contudo, a proposta não foi aceita, parece que projetos bons, eficientes e baratos não interessam à maioria dos gestores. O BrT só contempla uma faixa pequena de 48 quilômetros - enquanto o trem vai até Luziânia, um trajeto de 80 quilômetros e foi um projeto que começou com um orçamento de R$470 milhões e terminou com quase o dobro. Nesse mandato, trouxemos de volta o VLT de Luziânia que não deve ultrapassar R$300 milhões. O início das obras está previsto para, no máximo, o começo do próximo ano. Essa é a única forma de resolver o colapso do transporte entre o DF e o entorno sul.
Como será possível expandir o metrô do ponto de vista energético? Daí a importância do aumento da capacidade energética e elétrica da região Centro-Oeste, por meio de energias renováveis, como, por exemplo, a energia fotovoltaica, além do aumento da capacidade de geração de energia hidráulica no Brasil. Em relação ao metrô, foi conversado com a Companhia Energética de Brasília (CEB) que já se preparando para o aumento da produção de energia necessária à expansão do metrô. A subestação elétrica que existe hoje em Águas Claras foi construída em função de todo o sistema metroviário, cuja sede é nessa Região Administrativa. Hoje, mais de 70% dessa energia está sendo desviada para a cidade. É necessário que haja uma adequação para que a energia produzida para a estação seja efetivamente revertida para o sistema.
Existem outros projetos para fora do DF? Sim. Licitamos o Brasília-Goiânia, que é uma ferrovia importantíssima do ponto de vista econômico para o escoamento da produção do agronegócio brasileiro e da mobilidade. Os estudos ficarão prontos em junho deste ano. As perspectivas dos trens regionais no programa do nosso governo são boas e de que vão impactar todo o Brasil. É impressionante a perda que há no escoamento. A produção de Goiás, por exemplo, ao invés de subir direto ao porto de Itaqui, volta para Santos ou para Paranaguá e percorre quatro mil quilômetros a mais.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
13
ARTIGO
Faça parte do mundo das taxas baixas. Faça parte do Sicoob Executivo. Ser associado do Sicoob Executivo é ser cliente e melhores soluções em crédito, investimentos, bancário. Nosso objetivo é valorizar o associado
14Saiba mais na web
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
Soluções em Crédito
São diversas linhas de crédito para empresas de todos os portes: Crédito Rotativo; Conta Garantida Executiva; Capital de Giro; Desconto de Recebíveis: cheques, duplicatas e antecipação de cartões.
Soluções em Investimentos
Comodidade, segurança e rentabilidade. Você tem tudo isso ao investir no RDC (Recibo de Depósito Cooperativo). Além de todas as vantagens de aplicar seu dinheiro no maior Sistema de Crédito Cooperativista do País,
Soluções em Consórcios
Sua empresa pode transformar em realidade o que antes era apenas um projeto, são duas opções a sua disposição: Sicoob Consórcios Imóveis - para expandir seus negócios e aumentar o patrimônio; e Sicoob Consórcios Veículos é uma boa opção para quem precisa ampliar, renovar, ou até mesmo começar uma frota.
Soluções em Cartões de Crédito, Débito e Benefícios
O Sicoob Executivo disponibiliza uma família completa de cartões que tornam o dia a dia da sua empresa mais fácil e prático. Com os cartões empresariais, você controla melhor os gastos e separa as despesas empresariais das pessoais.
Soluções em Seguros
O patrimônio da sua empresa, construído com muito trabalho, merece estar bem protegido. Por isso, o Sicoob Executivo tem à disposição várias modalidades de seguro para garantir tranquilidade e segurança para a sua empresa, para você e para a sua família.
Soluções em Serviços da sua empresa. Sem contar que o Sicoob Executivo tem um jeito diferente de oferecer produtos e serviços bancários: ele compartilha os resultados com as empresas associadas e aplica os recursos captados nas próprias comunidades, o que movimenta a economia local, além de criar novas oportunidades de emprego e renda.
Kátia Cubel é Jornalista e Consultora de Comunicação. Diretora da Engenho Comunicação e do Prêmio Engenho de Comunicação
www.sicoobexecutivo.com.br
facebook.com/SicoobExecutivoDF
CEREL: 061 4007.1884
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
15
16 16
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015 :: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
Evento inspira brasilienses ao mostrar que a cidade é solo de várias oportunidades. Entre possibilidades brilhantes, inovadoras, criativas e inesperadas, o TEDx Universidade de Brasília espalha pensamentos capazes de mudar histórias | Carolyna Paiva
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 :: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
17 17
CAPA CAPA
Q
ual a forma mais eficaz para transformar a vida de uma pessoa e, em sequência, a sociedade? A resposta para essa pergunta vagueia em diversas áreas de estudo, como a filosofia, antropologia, psicologia. Encontrar o caminho exato ainda não foi possível por nenhum desses setores, no entanto, a história confirma: as ideias são grandes potenciais para provocar transformações. Ao longo da trajetória humana temos vários exemplos do poder de uma ideia. Como seriam nossas vidas atualmente sem o smartphone, por exemplo? Contatos se perderiam e dificultaria-se o acesso a informações. Esquecemos frequentemente que para usufruir dessa tecnologia foi preciso inventar desde o vidro até a mais recente placa mãe. Isso sem contar no profissional que vislumbrou o primeiro aparelho. “Não há nada mais poderoso do que uma ideia cujo momento chegou”, escreveu Victor Hugo. Segundo a frase, ele enaltece o poder desse processo. Entretanto, mudar e aceitar a transformação nem sempre é fácil. Muitos conceitos hoje aceitos, no passado, eram apenas sugestões malucas. No Artigo publicado na Revista Executive Digest, o consultor e conferencista internacional Ricardo Vargas alega que ideia não depende só do tempo, mas também das pessoas em torno dela. Quando existe um conjunto que a entende e é capaz de implementá-la, seu poder se manifesta. Um fato curioso exemplifica esse pensamento. Há menos de um ano, o indiano Arunachalam Muruganantham provocou grande confusão na Índia ao tentar melhorar a qualidade de vida do sexo feminino. Parte do povoado ficou tão perturbado com sua proposta que decidiu exilá-lo. Mas qual projeto absurdo esse homem desenvolveu? Uma máquina de absorventes higiênicos com capacidade de baratear o produto. Pode parecer estranho, porém, no país, esse tema é um tabu e as indianas são consideradas impuras, doentes e até mesmo amaldiçoadas no período menstrual. Mas com uma única ideia, Muruganantham mudou a realidade de mais de mil vilarejos.
18
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
Embora esse caso possa causar espanto, Brasília não está imune à estagnação. Na verdade, muitas pessoas veem na cidade, por exemplo, portas abertas apenas ao concurso público. A grande parte se esquece de que a capital oferece várias possibilidades. No entanto, o desejo de transformar a realidade dos brasilienses está vivo. Inspirados em um modelo dinâmico de palestras que acontece em todo o mundo, com o nome de TEDx, estudantes da Universidade de Brasília trouxeram a novidade para a capital. O tema é “Brasília, um lugar de possibilidades” e, no evento, cada palestrante tem, no máximo, 18 minutos para espalhar uma ideia. E esse é o carro chefe: compartilhar pensamentos. Para isso, os organizadores juntaram, em um mesmo espaço, pessoas, de áreas diferentes, preparadas para provocar uma vivência única nos participantes. Inspirada pela composição física da cidade, a equipe separou os palestrantes em quatro temas distintos: “Se você olha Brasília de cima e vê as tesourinhas, que são símbolos clássicos, percebe que elas têm quatro entradas. O formato de avião do Plano Piloto têm quatro pontas. Então nada mais justo, do que dividir a capital em quatro grandes possibilidades a serem oferecidas”, esclarece Caio Nunes, um dos organizadores da iniciativa. Luiza Veiga, organizadora, explica melhor cada uma dessas unidades: “As primeiras são as possibilidades brilhantes, representando ideias que brilham por si só. As segundas são inovadoras, ou seja, aquelas que constroem algo novo. Há as possibilidades criativas que estimulam a mente a criar algo. E, por fim, as possibilidades inesperadas vindas de onde menos se imagina.” De acordo com o grupo, a divisão é o elemento chave para mostrar o que a cidade tem a oferecer. “O objetivo é unir palestrantes com grandes ideias, parceiros que queiram transformar Brasília e participantes com potencial de impacto, mente aberta e vontade de mudar a sociedade”, afirma Caio. O resultado de todo o trabalho está em despertar e disseminar conhecimentos impactantes na sociedade.
Foto: Alisson Carvalho
Organizadores e palestrantes do TEDx se reúnem em ensaio antes do evento
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
19
CAPA
Possibilidades inovadoras Você já ficou incomodado com uma situação várias vezes? Engarrafamento quilométrico, desperdício de alimentos ou até aquela pessoa indesejável. O processo pode se repetir durante dias seguidos e, apesar do mal estar, não fazemos nada para mudar essa condição. Mas e se, de repente, enxergássemos aquele problema com outros olhos? Seria diferente, por exemplo, se trabalhássemos de bicicleta, colocássemos menos comida no prato ou fôssemos gentis com o próximo. Há quem aceitou o desafio. “São pessoas com visão diferente de problemas. Elas pegaram situações e transformaram em possibilidades inovadoras”, conta Ana Gabriela Pereira, organizadora. Thiago Lucas e Bruno Antunes modificaram a vida de ex-detentos. Juntos, eles reaproveitam madeiras de demolição para criar uma linha independente de móveis em Brasília capaz de auxiliar na renda dessas pessoas. Segundo os jovens, é só uma questão de “ver com a cabeça aberta e conseguir enxergar naquilo uma possibilidade de fazer diferente. Nosso intuito maior é mostrar experiências e desafios capazes de atingirem resultados.” O propósito dos empreendedores é motivar os participantes a irem além: “Todo mundo tem várias barreiras, mas as pessoas vão te ajudar se sua ideia é boa, verdadeira e positiva.” É assim que Renata Florentino vê seu trabalho. Desde 2007, a socióloga realiza intervenções para transformar a mobilidade urbana na capital. O objetivo é quebrar mitos e encontrar alternativas de tornar Brasília sustentável. “A ideia é perceber como essas vivências diversas se encontram em pontos comuns e como elas podem ser transformadas para alterar a realidade da cidade.” Ao valorizar a vivência individual de cada pessoa, Renata mostra que “bicicleta não é só para passeio” e desperta atenção que, a médio e longo prazo, cidades desenhadas para favorecer o automóvel tornam-se insustentáveis. Márcio Buson também teve o pensamento reciclado. Onde você vê sacos de cimento, o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo viu tijolos. O processo de reconstrução utiliza as fibras do material para a produção de novos produtos completamente diferentes, como paredes e telhas. “É preciso enxergar possibilidades nos saberes postos. Estamos num estado em que se cria pouco e se refaz o que já está pronto. Seja criança. Seja curioso. Explore o mundo.” Na linha de pensamentos atrevidos, Lucas Zaiden afirma ser essencial uma dose controlada de prepotência. Aos
20
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
doze, ele começou a trabalhar com publicidade e, menos de quinze anos depois, já ocupou cargos de destaque em São Paulo, Madri e Rússia. Atualmente, é Diretor Geral de Criação da campanha do Brasil para as Olimpíadas Rio 2016. “É uma oportunidade gigante de muita gente se encontrar. Brasília é uma terra muito fértil e um lugar ideal para desenvolver qualquer tipo de inovação e criatividade.” Cada escolha determinou a trajetória do publicitário e inovar diante dos desafios foi primordial. Thiago Lucas, 25, e Bruno Antunes, 29 A única dupla de palestrantes do TEDx desenvolve, com ex-detentos, um trabalho de reaproveitar madeiras de demolição e criar móveis independentes em Brasília. A inovação começou, em 2010, quando Thiago, design, teve contato com uma cooperativa chamada Sonho de Liberdade localizada na Estrutural. Na época, a organização revendia a matéria prima e produzia estacas para campanhas políticas. A renda obtida, por dia, era de aproximadamente 10 reais. Com olhar empreendedor, o jovem aproveitou a oportunidade para desenvolver uma linha mobiliária de alto valor. Mas foi Bruno, administrador, quem movimentou o processo: “via as pessoas querendo adquirir e ter contato. O trabalho conseguia produzir e dar destaque, mas ainda tinha um vazio em levar isso para o mercado”. Juntos acreditaram no projeto e geraram negócio. Eles passaram
Lucas Zaiden, 25 Enquanto os amigos passavam o tempo livre brincando, aos 12 anos, Lucas se divertia desenvolvendo sites e campanhas publicitárias. “Normalmente, a gente escolhe o que vai ser para o resto da vida preenchendo uma bolinha. Eu tive a sorte gigante de conhecer um cara que trabalhava com propaganda. E me apaixonei.” Aos 17, procurou o primeiro estágio e foi contratado por uma agência brasiliense. Dois anos depois, foi convidado a trabalhar em São Paulo. A partir dai, não parou. Madri foi a primeira possibilidade fora do Brasil e, em sequência, a Rússia. A filosofia do empreendedor é a seguinte: “Se está me fazendo crescer, me coloca
Foto: Emerson Damasceno
a idealizar, desenhar, expor e vender, sempre pensando nas limitações de maquinário e na situação de todos os trabalhadores. “Nosso sonho é estruturar cada vez mais a ideia e fazer disso a possibilidade de capacitação para eles” afirmam os empreendedores. De acordo com Thiago e Bruno, o próprio TEDx é
em conflito e existe ainda uma entrega que faz sentido, o projeto não está terminado.” Tanta criatividade resultou em alguns Leões em Cannes, o mais importante prêmio da publicidade mundial. O dia a dia do publicitário se expressa na “responsabilidade e compromisso do trabalho, mas com a sensação de brincar em tudo o que faço.” De volta à Brasília, Lucas foi convidado a ocupar o cargo de Diretor Geral de Criação da campanha do Brasil para as Olimpíadas Rio 2016. “Ironicamente, as melhores mudanças aconteceram em Brasília”, comenta o jovem em relação ao projeto e ao convite de palestrar no TEDx. Ao ter a vida guiada por desafios, ele define atrevimento como a palavra da sua vida, desde que esteja na quantidade certa.
uma oportunidade de gerar projetos, empreendimentos e ações voltadas pra a comunidade de impacto positivo. “Com o tempo, a gente entendeu que o principal não é ter ideia, mas compartilhar e validar. A partir do momento em que se unem pensamentos distintos, é criado algo mais interessante” Foto: Wagner Augusto
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
21
capa
Foto: Alisson Carvalho
Brilhantes
Ser brilhante é um desafio. Essa nomenclatura surge quando certa pessoa desperta em nós o brilho por mérito próprio. São atos, características ou uma conquista que provocam admiração nos observadores. Enquanto a maioria vive de forma simples, um personagem brilhante produz sua própria luz. Assim também acreditam os organizadores do TEDx, para eles, “de alguma forma suas ideias podem impactar e já impactam a sociedade onde eles vivem”, revela Cecília Lourenço. Total consumidora de TEDx, a atriz, escritora, apresentadora de televisão e psicóloga brasiliense, Maria Paula, utiliza a oportunidade de palestrar no
22
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
TEDx para falar de uma coisa séria: transformar Brasília na capital da paz mundial. Para ela, nossa cidade já é solo de muita harmonia, porque une nacionalidades do mundo de forma amigável. “Brasília tem vocação de fazer com que todos consigam chegar ao diálogo e vou propor que a gente faça daqui um palco de negociação de conflitos”, afirma Maria Paula. Foi em busca de compartilhar experiências e transformar realidade que Jéssica Paula passou dois meses no leste da África. Aparentemente, ser mulher, deficiente física e estrangeira atrapalharia a jovem, no entanto, ela mostra que “todos os pro-
blemas podem ser vantagens. Não é porque se tem uma adversidade que isso vai ser um obstáculo. É só uma questão de transformar conflitos em grandes oportunidades”. Como jornalista, ela entende não haver nada melhor do que uma experiência para modificar sua vida. “Trazer novas vivências para outras pessoas pode motivá-las e isso se torna um ciclo de ideias maravilhosas.” Mas as ideias não precisam ser gigantes para brilharem. O professor Ricardo Fragelli, encontrou metodologias diferentes para engajar os alunos e fazer do estudo algo prazeroso dentro da Universidade de Brasília. A temida disciplina Cálculo 1, conhecida pelo alto índice de reprovação, virou na sala de aula desafios, jogos e até simulações de shows de auditório. Os métodos conhecidos como o Rei da Derivada, Trezentos e Summaê garantiu, ao docente, oito prêmios nacionais sobre o Ensino de Ciências de Instituições como MEC, CAPES e ABED. Para os estudantes, a prática aumentou para 85% o índice de aprovação. Trabalhar em prol da educação também é tarefa brilhante de Francisco Joaquim de Carvalho, popularmente chamado de Chiquinho. Há 40 anos na UnB, o livreiro é amigo de professores, alunos, servidores e escritores. Impossível mensurar quantas histórias já passaram pela “Livraria do Chiquinho”, mas o colecionador de autógrafos compartilha ideias através da ótica do livreiro e leva, ao TEDx, a experiência de ter encontrado essas múltiplas personalidades.
Francisco Joaquim de Carvalho, 54 “Minha profissão é livreiro. É uma profissão muito simples, mas muito importante.” Assim é a vida de Chiquinho. A rotina de trabalho com os livros se tornou o grande prazer de sua vida. Nascido no Piauí, veio para Brasília na década de 1970, quando começou o envolvimento com as letras. O primeiro emprego na capital era de jornaleiro. Para conseguir vender o jornal, ele lia todo o material e, de acordo com o perfil de quem passasse, enaltecia uma manchete diferente. “Se o moço gostava de futebol, era como se eu contasse algo sobre o Neymar. Se gostasse de fofoca, eu falaria da Gisele Bündchen.” Dessa forma, descobriu o perfil do próprio leitor. À Universidade, chegou em 1975. Durante quatro anos, vendeu jornal e revistas, com olhar atencioso para a personalidade de cada comprador. Os livros complementaram o aprendizado. Foi por meio deles que desvendou e conheceu a fundo todas as pessoas, desde alunos a grandes escritores. Após quase meio século em Brasília, o livreiro acompanhou a evolução do processo da leitura e compreendeu a necessidade de conhecer a fundo cada autor e obra dos detalhes a superficialidades. Para ele, brilhante é ter o cotidiano de labutar e ser amigo de várias figuras de Brasília. “É uma dádiva ter encontrado essas personalidades, pensadores e escritores.” Em memória, Chiquinho transforma a vida dos participantes do TEDx por meio de histórias marcantes de grandes nomes, como de Mia Couto, Eliane Lage, Cora Coralina, Rubens Figueredo e Jean Braudillard. Foto: Magnun Alexandre
Maria Paula, 44 O sorriso no rosto transparece a simpatia que todos já conhecem. Foram mais de 15 anos atuando no programa Casseta e Planeta, quase dez escrevendo para uma coluna semanal no Correio Brasiliense, além de vários filmes. No entanto, por trás da fama, Maria Paula é mãe, estudou medicina chinesa, acupuntura, e trabalhou em projetos que mudaram a saúde e educação do Brasil, como a garantia à licença-maternidade de seis meses e a creches públicas de qualidade para todas as crianças do país. No TEDx, uma ideia de caráter mais amplo invade os participantes: fazer da nossa cidade a capital da paz mundial. “Temos aqui todo o tipo de templo ecumênico, a Embaixada do Kuwait ao lado da dos Estados Unidos e todos vivem pacificamente.” Para ela, Brasília já é uma cidade plural e tolerante, e devemos espalhar esse sentimento para o resto do planeta: “É preciso fazer disso realmente um grande propósito. Que surja aqui uma plataforma para alcançar o bem estar e, então, vamos oferecer isso para o mundo.”
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
23
capa capa
Possibilidades inesperadas Onde o senso comum alegar não existirem alternativas, surgem pessoas para provar o contrário. Esses perfis compõem o bloco de possibilidades inesperadas. “Por trás de histórias e projetos, há personagens com trajetórias de superação que mostram ser possível executar uma ideia, basta ver um problema como possibilidade de crescimento”, ressalta Lázaro Viana. Negra e de origem pobre, a vencedora do Prêmio Nacional de Educação em Direitos Humanos de 2014, Gina Ponte, ultrapassou barreiras econômicas e sociais para gerar uma experiência transformadora na vida de seus alunos. Por meio de um projeto sobre mulheres, a educadora fez com que estudantes conhecessem histórias de “heroínas”, como Anne Frank e Malala Yousafzai. A vivência foi tão intensa que houve entre os jovens um processo de ressignificação na forma como eles enxergam não só as mulheres, mas também a si mesmos. “A possibilidade maior que eu vi em Brasília foi voltada à educação. Eu vivi momentos transformadores em escolas públicas e decidi ser professora para permitir aos meus alunos essa experiência.” Aproveitar oportunidades é também o grande motivador de Alexandre. Aos 23 anos, enquanto trabalhava para o Batalhão de Atividades Especiais da Polícia Militar, foi atingido
24
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
por um amigo de farda. Ao passar por uma operação radical, os médicos não encontraram outra saída a não ser amputar completamente a perna direita. Desde a primeira semana, Alexandre não se permitiu fazer daquela situação algo ruim. Voltou a se exercitar, entrou na faculdade, abriu um estúdio de tatuagem e, tempos depois, foi convidado a ser o primeiro fisiculturista amputado do Brasil. Perceber as particularidades de cada indivíduo e entender o que os move é a grande paixão de Alex Cabon. O palestrante e executivo francês domina, além do idioma natal, os dialetos inglês, português e o espanhol. Ajudar pessoas e organizações a alcançarem seu máximo é o grande interesse de Alex. Para o TEDx Universidade de Brasília, ele chama a atenção ao potencial do Brasil e evidencia a força da nossa pátria em ser um dos países mais eficientes do mundo. Marco Gomes já colocou esse pensamento em prática. Fundador da Boo-Box, considerada uma das cinco empresas de publicidade mais inovadoras do mundo pela revista FastCompany e apontada pela Forbes como um dos empreendimentos mais inovadores do Brasil, ele coordena uma equipe com mais de 40 pessoas e atinge 6 em cada 10 brasileiros conectados. Mas para tirar os planos do papel, o empreendedor contrariou várias estatísticas.
Marco Gomes, 28 Em 2006, Marco Gomes ficou incomodado com a forma como as publicidades em mídias sociais e blogs eram feitas. Praticamente formado por links patrocinados com textos e sem imagens, o jovem viu nesse espaço uma possibilidade de aprimorar o setor. “Não me sentia bem ao relacionar meu conteúdo, que eu tinha tanto trabalho de produzir, com os anúncios feitos. Faltavam riqueza e beleza espalhadas em vários sites ao mesmo tempo”, conta o blogueiro. No ano seguinte, um protótipo sobre o assunto estava pronto e chamou a atenção de investidores. Logo, a ideia transformou-se em projeto e, em sequência, surgiu a Boo -Box, empresa que atualmente atende clientes mundiais como a Ford, Unilever, PNG, Google e Microsoft. No en-
tanto, Marco Gomes não só inovou como contrariou a maioria das estatísticas. “Muitos diriam ser impossível ter feito uma empresa que gera renda para mais de 60 mil pessoas no Brasil. Como morador do Gama e com ensino público, a tendência era eu ter um emprego mediano ou ser funcionário público.” Essa experiência ele deseja transmitir no TEDx. “Não digo que é fácil ou igual, mas com a dedicação correta e estando no lugar e hora certos, você pode aumentar as chances.” Para o empresário, o evento traz mais modernidade e amplia os horizontes de carreiras para quem está no processo de educação. Trazer à tona temas como o empreendedorismo tende a mudar o cenário de Brasília e livrar a cidade do estigma de que concurso público é a única opção.
Foto: Wagner Augusto
Alexandre Medeiros, 36 Alexandre teve uma adolescência como a maioria dos jovens de sua época. Aos 18, ingressou no exército. Em sequência, passou no concurso da Polícia Militar e foi alocado para o Batalhão de Atividades especiais. No entanto, sua vida mudou cinco anos depois. Atingido por um colega de farda, o jovem ficou 40 dias internado e, dentro desse período, uma operação radical resultou na amputação de uma perna. O processo foi um despertar. “Eu tinha a possibilidade de parar e pegar o salário no final do mês ou eu podia continuar e tentar construir algo melhor. A primeira hipótese eu já sabia o resultado. Decidi arriscar a segunda” Com 15 dais de alta, começou a nadar e, uma semana depois, voltou a fazer musculação, mesmo sem autorização médica. Também decidiu cuidar da mente: passou para no vestibular para História e, anos depois, já estava como professor em sala de aula. “Só o fato de fazer o normal já chamava atenção e entendi que realizando o nosso papel, conseguimos algo importante. Para mudar, é preciso partir de si.” No entanto, um convite inesperado, em 2013, marcou sua história. “Um técnico de fisiculturismo me viu treinando e percebeu um potencial. Eu achava super estranho as pessoas fazendo aquelas poses, mas era uma oportunidade de realizar algo diferente.” O desafio fez com que ele se apaixonasse pelo exercício. Com o tempo, percebeu que a prática era formada por pessoas inteligentes com objetivo de construírem algo melhor. Esse pensamento o guia até hoje. “A gente costuma achar que, para mudar o mundo, temos de fazer coisas grandes, mas só é preciso conhecer a nós mesmos. Não tem nada que te impeça, a não ser você.” TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
25
capa
Foto: Alisson Carvalho
Criativos Da capital formada por pessoas de vários lugares e culturas diferentes, existem aquelas que aproveitam a diversidade para solucionar problemas de forma criativa. As práticas são aplicadas dentro do empreendedorismo, questões sociais ou lazer. “Esperamos que os participantes tirem, dessas palestras, um pouco das soluções e apliquem nas dificuldades diárias”, comenta Iago Boson. Apolinário Passos é estudante de Comunicação Social na UnB. Antes de terminar sua segunda graduação, o jovem já leva para o TEDx suas ideias e representa os universitários no evento. Em 2010, enquanto ainda cursava Ciência da Computação, inovou na forma de produzir sistemas e desenvolveu sites para UNICEF, Sebrae e o site oficial da Dilma. Em uma viagem profissional, Apolinário coordenou a campanha digital da campanha presidencial em Gana e, depois dessa experiência, foi em busca de novos ares. Autodidata, criativo e multidisciplinar, o empreendedor defende a ideia de que devemos estar sempre em busca de aprendizado. “Se algo te atiça a curiosidade, não deixe de lado. Corra atrás e veja até onde isso te leva.” No caso de Fábio Pedroza, foi a música que o fez superar as adversidades e atravessar problemas de forma criativa. Baixista da banda Móveis Coloniais de Acajú, fundou a Agência Circula, uma incubadora de bandas independentes do Distrito Federal. Há mais de 16 anos no ramo, transformou arte em negócio e já organizou vários cursos para formar produtores de eventos culturais na capital. “A música pode ser transportada para qualquer outra possibilidade. Porque, no fundo, você está trabalhando criatividade e crescimento entre seres humanos.” Ao conciliar estratégia e cultura, o empreendedor ultrapassou dificuldades do mercado artístico e as transformou no seu diferencial. No TEDx, a originalidade ultrapassa barreiras. O professor do Departamento de Desenho Industrial, Tiago Barros desvenda, pela ótica do design, o mistério da inteligência artificial. Conhecido pela sua pesquisa no campo da arte computacional evolutiva sobre a vida artificial, ele mistura áreas diferentes para encontrar, equilibrando arte e tecnologia, um pensamento lógico nas relações sociais atuais.
26
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
Dentro das relações diárias, a Professora do Departamento de Psicologia Valeska Zanello aborda um assunto aparentemente comum no nosso dia a dia: o xingamento. Feminista e coordenadora do grupo de pesquisa “Saúde mental e Gênero”, ela analisa o hábito cotidiano de forma divertida e sob uma ótica do comportamento. Diante de cada situação, Valeska busca compreender como as palavras tomam forma e desvendar as diversas mensagens passadas através do ato de xingar.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
27
COMPORTAMENTO
X
Chefes Líderes A liderança nem sempre é uma característica presente no perfil dos gestores. Entenda mais sobre a importância dessa habilidade e de como detectar se você é, ou não, um líder | Taise Borges
28
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
D
elegar tarefas, garantir que os prazos sejam cumpridos, prezar pela qualidade das entregas. Essas são algumas das demandas diárias dos chefes – gestores que ocupam cargos hierárquicos dentro das organizações e, por vezes, lidam com equipes numerosas e profissionais de personalidades totalmente diferentes. No entanto, para conseguir que a equipe trabalhe com harmonia, visando os mesmos objetivos, o gestor precisa ser mais que um chefe: é fundamental que ele seja um líder para os profissionais que dirige. O bom líder não é aquele que necessariamente sabe realizar as tarefas técnicas – e essa é uma de suas características peculiares: ele sabe reconhecer as habilidades dos colaboradores e se cercar de pessoas que dominam a metodologia. O líder também tem maior capacidade de inspirar e influenciar as pessoas. Mostra a direção que a equipe deve seguir e caminha junto dela, ajudando na superação das dificuldades. Não busca apenas os resultados, mas a melhor maneira de alcançá-los. Tem a capacidade de ouvir e se fazer ouvido. O chefe que não possui a capacidade de liderança, no entanto, age de forma diferente. Ele tende a comandar a equipe, impor ordens e ser autoritário. É temido, não respeitado. Centraliza o poder e só pensa em resultados e lucros, deixando de lado o bem-estar coletivo. Seus colaboradores não se sentem abertos a relatar problemas ou pedir conselhos, afinal, o chefe faz questão
de apontar os erros da equipe. Se algo não dá certo, joga a responsabilidade sobre os funcionários e não divide o mérito quando o objetivo é alcançado. O chefe pode e deve ser um líder, mas um líder não ocupará, necessariamente, um cargo de chefia. “Por vezes, estamos inseridos em uma equipe em que um dos colaboradores é aquele que, efetivamente, é ouvido pelo grupo, enquanto o chefe lança mão do poder hierárquico que possui para fazer com que os processos aconteçam, muitas vezes de forma autoritária”, explica o consultor Henrique Santana. Assim como existem gerentes que não são bons líderes, também é possível encontrarmos líderes que não são bons gestores. “O líder sem habilidades gerenciais pode conseguir inspirar a equipe, mas não é capaz de fazer com que ela atinja os resultados necessários. Falta-lhe habilidade para administrar as rotinas organizacionais”, complementa o consultor Wilson Contoyannis. Se o chefe e o líder são pessoas diferentes, a equipe pode se dividir entre os que ficam ao lado do primeiro – por medo da punição – e os que se identificam mais com as ideias do segundo. Ao invés de se consolidar como uma equipe unida, de alto desempenho e que trabalha pelas mesmas metas, o grupo sofrerá uma ruptura. “Uma das atribuições do chefe – e, para isso, é preciso que ele seja um líder – é manter a unidade da equipe e administrar as emoções dela”, explica Henrique. Segundo ele, o chefe ideal deve ser capaz de equilibrar duas questões: o aspecto emocional do grupo e a gestão das tarefas.
Meu chefe não é um líder A equipe leva em consideração o que o chefe diz? Cumpre os prazos estipulados por ele? O grupo é unido ou fragmentado? Quanto alguém está com problemas, costuma procurar o chefe ou outro integrante do grupo? As respostas a essas perguntas podem indicar se um gestor ocupa, ou não, o papel de líder dos seus colaboradores. Se o chefe reconhece que não exerce a liderança da equipe e deseja aperfeiçoar a habilidade, ele deve procurar auxílio. “Existem cursos de liderança que facilitam o autoconhecimento. Adquirir informações relacionadas à gestão de grupo, imposição de limites, engajamento e integração dos colaboradores à organização também é importante”, lembra Henrique Santana. De acordo com Wilson Contoyannis, há gestores que lideram pelo carisma, pelo magnetismo pessoal. Essas são qualidades inatas aos indivíduos – o que não significa que não possam ser aperfeiçoadas. No entanto, a liderança como competência, que inclui atitudes e comportamentos específicos, pode ser desenvolvida por qualquer pessoa e potencializar o que o indivíduo já tem em sua personalidade. “Qualquer um pode ser treinado para liderar, mas a forma como essa liderança será exercida terá muito a ver com a personalidade individual. Alguns vão usar mais o carisma, por exemplo; outros, a persuasão”, ressalta o consultor. Se a falta de liderança do chefe atrapalha o desempenho
da equipe, o colaborador pode se posicionar por meio de ferramentas institucionais como o feedback 360º e a pesquisa de clima organizacional. Mas, se esses mecanismos não fazem parte da cultura da empresa, é possível que o chefe dê abertura para receber opiniões dos funcionários. Dessa forma, o feedback pode ser transmitido por meio da sugestão de um novo processo para a organização. É o que explica Henrique Santana: “Se as entregas não obedecem aos prazos estipulados, pode ser sugerido um quadro para que a equipe faça um checklist das tarefas. O colaborador não terá dito que o chefe é desorganizado, mas solucionará um problema de gestão da empresa”. Para o consultor, liderar com transparência é fundamental. Por isso, é importante que o chefe deixe claro qual o modelo de gestão do empreendimento, os princípios que regem a relação entre chefia e colaboradores, as ferramentas de cobrança das tarefas e os prejuízos que a equipe terá caso elas não sejam cumpridas dentro do prazo. Ressaltar os benefícios que caberão aos colaboradores de destaque também é necessário. “Sabe-se que uma das principais causas para a troca de emprego, atualmente, não é a questão salarial, mas o relacionamento com a chefia: o colaborador não é ouvido, não é reconhecido, vive em um ambiente ruim de trabalho e não se enxerga como parte da organização”, explica Henrique.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
29
COMPORTAMENTO
Caso de sucesso Leonardo Antonialli é um dos três sócios de uma empresa brasiliense de tecnologia. Após dez anos administrando o empreendimento da mesma maneira, os gestores perceberam que a desmotivação pela qual passavam refletia no desempenho da equipe de colaboradores. Buscaram, então, o auxílio de um consultor para diagnosticar os problemas e encontrar soluções. Era preciso retomar a direção do trabalho, que fluía de forma muito solta, e encontrar o equilíbrio entre controle e liberdade. Desenvolver a liderança dos chefes foi uma necessidade natural. “Fizemos uma autoavaliação e percebemos que os
mesmos problemas aconteciam há anos. Para quebrar o ciclo e mudar o formato da gestão, propomos mais transparência e a retomada do comando do grupo. Mostramos que os donos da empresa estavam de volta, motivados e dispostos a liderar pelo exemplo”, explica Leonardo. Para ele, a liderança do chefe é essencial tanto aos gestores, quanto aos colaboradores. Apenas os líderes que conhecem bem a organização e a equipe são capazes de fazer um bom trabalho: “É preciso entender cada área da empresa, cada atividade e, aí sim, liderar o grupo e cobrar a realização das tarefas”.
Preocupação atual Jovens profissionais estão ocupando cargos de chefia cada vez mais cedo. Em comum, eles têm a preocupação de trabalhar em empresas onde seus esforços são reconhecidos, em que haverá espaço para crescer e se desenvolver e onde seus colaboradores poderão usufruir dos mesmos benefícios. É o que explica Henrique Santana: “Se analisarmos as jovens empresas, veremos que elas estão cada vez mais preocupadas com o fator humano e voltadas mais para a cooperação do que para o controle. A meta está sempre visível, mas sabe-se que, quanto mais
30
a equipe está satisfeita, mais resultados ela proporcionará à organização”. Entre as prioridades dos jovens chefes também está o desenvolvimento da liderança. Isso explica a proliferação de cursos sobre o assunto e a inserção do tema em pesquisas de graduação. Ao passo que a liderança se tornou alvo de estudos, surgiram diversas teorias que objetivam analisar o funcionamento dessa dinâmica e instruir aqueles que desejam dominar as técnicas. Dentre as principais, destacam-se:
Teoria Situacional Considera que, dentro de um grupo, existem várias situações possíveis e diversos perfis diferentes de líderes. A situação faz o líder e determina sua forma de liderar. Se, por exemplo, é preciso tomar decisões relacionadas à gestão, um entendedor do assunto assumirá a liderança. Da mesma forma, um profissional do setor de RH será o líder se a decisão a ser tomada envolver questões relacionadas a recursos humanos.
Teoria do Carisma Acredita que o carisma é o principal fator da liderança. Exercê-la, portanto, só é possível àquele que tem o carisma na essência da personalidade. É através dessa característica que o líder consegue conquistar a empatia dos liderados, motivá-los de forma natural e influenciá-los a seguir o melhor caminho.
Teoria Transformacional Sustenta o argumento de que o verdadeiro líder é capaz de mudar o comportamento dos liderados a partir da inspiração, estímulo intelectual e consideração das necessidades individuais de cada um. O líder, portanto, motiva as pessoas a agirem além de suas capacidades e, dessa forma, alcança os resultados desejados pela organização.
Teoria da Atribuição Defende que o líder de uma equipe é revelado por meio de um processo natural ao longo do tempo. O líder é colocado nesse papel com o consentimento dos demais integrantes do grupo, sendo que essa responsabilidade é dada por merecimento, com base na conduta do escolhido.
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
31
EMPRESA VERDE
Sinal verde Empresas do DF se destacam nacionalmente na produção sustentável e se mantêm com as próprias pernas | Eduardo Barretto
Q
uando se trata de consumo sustentável, a impressão comum é que as evoluções não duram, e que o percurso é mais difícil do que o usual. De tempos em tempos, práticas inovadoras perdem espaço no mercado ou são mantidas a um custo salgado, repassado com mais força para o consumidor. Mas se esses altos e baixos são naturais a qualquer setor da economia, o cenário atual é de subida – e, a nível nacional, Brasília está na crista da onda. A boa maré é uma combinação rara – e desejada – de fatores, a começar pelo comportamento dos brasileiros em relação ao impacto causado à natureza. Comandada pelo Ministério do Meio Ambiente, a pesquisa “O Que O Brasileiro Pensa do Meio Ambiente e do Consumo Sustentável” é o panorama nacional mais detalhado do tema. Nele, trabalham em parceria órgãos federais, organizações não governamentais, setor privado e institutos de pesquisa. Com intervalo por volta de meia década entre um estudo e outro, a publicação mais recente tem pouco mais de dois anos, e está na quinta edição. O resultado? Nesta, foi explorada pela primeira vez a relação entre sustentabilidade e consumo – e a consciência ambiental no país quadruplicou. Quando a primeira pesquisa foi feita, há 23 anos, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento – conhecida como Eco-92, com sede no Rio de Janeiro –, o tema “meio ambiente” não era sequer elencado como um dos dez maiores problemas do Brasil. Já na última edição, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
32 32
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015 :: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
– Rio+20, também na Cidade Maravilhosa –, a questão já aparecia em sexto lugar. Se 46% dos entrevistados não sabiam citar um problema ambiental no país, cidade ou bairro em 1992, a cifra foi de 10% em 2012. Além de ser um marco conceitual para a pesquisa, a Eco-92 pavimentou o caminho para o Protocolo de Kyoto, que seria aberto para assinaturas cinco anos depois. Bons cenários nacionais, isolados, nunca foram suficientes para determinar conjunturas de cidades. Mas outro estudo recente baliza os consumidores do Centro-Oeste e o Norte – tomados como um grupo só pela pesquisa “Retratos da Sociedade Brasileira - Perfil do Consumidor Brasileiro 2014”, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) – como campeões em consciência na hora de adquirir produtos. Dos moradores dessas regiões, 62% estão dispostos a pagar mais por um bem se souberem que ele foi produzido corretamente em quesitos ambientais. Em segundo vem o Nordeste, 11 pontos percentuais abaixo. A média nacional é de 50%. Consumidores do Centro-Oeste e Norte também são os que mais levam em conta se a empresa prejudica o meio ambiente, e mais pesam o consumo de energia do produto na decisão de levá-lo para casa. “O DF tem características diferenciadas, parecidas com as de países desenvolvidos. Altos índices de escolaridade, renda, padrão de vida. E aqui tem outra semelhança: a tendência de se preocupar com o meio ambiente e o consumo sustentável”, explica José Matias-Pereira, professor de Administração da Universidade de Brasília.
33
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 :: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
EMPRESA VERDE mERCADO SUSTENTÁVEL
~
Qualquer movimento em direção a medidas verdes dentro da empresa é um investimento, uma aposta – mesmo que seja o certo a fazer. Isto é, nenhum cenário favorável vai oferecer uma grande margem de segurança para essas mudanças a ponto de a coragem e o espírito empreendedor não serem decisivos. Há quatro anos à frente do restaurante Babel, na 215 sul, o chef e gestor Diego Koppe (foto) começou logo a alterar procedimentos, mas não ficou só no reaproveitamento de água: até a admissão de funcionários – um processo estritamente interno e nem sempre pensado estrategicamente – já era peça da nova cultura buscada pela empresa. Por mais que, na relação empresa-empregado, seja doutrinada a importância de alinhamento entre valores organizacionais e valores pessoais, nem sempre fica clara a aplicação prática dessa receita. Mas quando uma embarcação quer ser impulsionada por novos ventos, os marinheiros devem estar dispostos a ajustar as velas quantas vezes for
~
~ , TRIPULACaO DeCOLAGEM AUTORIZAdA ~ ATENCaO
preciso. Da mesma forma, é preciso muito mais do que um bom piloto para que um avião faça um bom percurso. “Não adianta eu querer empurrar um hábito de consciência ambiental em quem não faz isso em casa. A pessoa que não deixa luz acesa, que cozinha reaproveitando comida incorpora esses costumes, e não preciso nem dar treinamento. É da pessoa”, conta Koppe. Os frutos começam a brotar: a empresa reduziu seu quadro de funcionários de 12 para quatro; a cozinha só processa os alimentos em um dia da semana – cortando o desperdício com o processo Cook & Chill; até a máquina de gelo entrou na dança do reaproveitamento de água; e os clientes viram saltar aos olhos uma doce novidade: alguns pratos, como os finos risotos e filés, tiveram o preço enxugado em mais de R$ 20 – “Sem mudar absolutamente nada da qualidade. Eles percebem”, promete o chef, que também tem uma empresa de consultoria e apresenta o caso Babel em palestras empresariais Brasil afora. Foto:Wagner Augusto
34
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
Foto:Wagner Augusto
A CHEIA NOS NEGoCIOS O mercado de lava-jatos tem muito do que reclamar. No Distristo Federal, a conta de água já subiu 16,2%, com reajuste em março. O Sudeste brasileiro vive a pior crise hídrica do século, e a Câmara Municipal de São Paulo aprovou em fevereiro um projeto que prevê multa de R$ 1000 para quem for flagrado lavando carros ou calçadas com água tratada. A matéria ainda precisa passar pela sanção do prefeito Fernando Haddad (PT), mas é sintomática: lavar carros nesses tempos despencou na lista de prioridades. Na contramão da seca nos negócios, uma empresa brasiliense do ramo vai em boa correnteza. A Restaura Car começou há cerca de nove anos, na Asa Sul, quando Flávio Bonfá começou a lavar carros com água reaproveitada da chuva. Hoje, são 12 lojas na capital e uma no Rio. Enquanto os carros são limpos, o chão está seco. Os funcionários não utilizam aventais, botas de borracha ou óculos protetores. Inacreditável para um lava-jato, a cena se repete na empresa. Não há mangueiras,
sabão, jatos, esponjas: somente soluções à base d’água – duas de fabricação própria – e panos especiais. Para cada carro lavado, um lava-jato convencional gastaria cerca de 400 litros de água, diz Vitor Bonfá, filho de Flávio e sócio da Restaura Car no Taguatinga Shopping. Em cada ecolavagem, são gastos de quatro a seis litros – até cem vezes menos. “Aqui o cliente sai de carro limpo, mas de consciência limpa também”, diz Bruno Cavalcante, gerente da loja de Taguatinga, em funcionamento há seis meses. A conta de água da loja não passa dos R$ 300, conta Bonfá, e é mais provável que o gasto seja maior com luz do que com água – algo impensável para um lava-jato. As unidades, que costumam ficar em garagens ou estacionamentos, agendam horários e oferecem ainda uma garantia automática de 24 horas em caso de chuvas. No Brasília Shopping e no Taguatinga Shopping, os clientes podem deixar lixo eletrônico, que é enviado para cooperativas de reciclagem.
35 35
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 :: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
EMPRESA VERDE
SELO DE PROPAGANDA Para cumprir e superar expectativas dos clientes, as empresas devem saber o que seus consumidores esperam quando o assunto é responsabilidade com o meio ambiente. Afinal, o que é aguardado das empresas? A percepção desses valores vai muito além de propagandas. É necessária uma relação de confiança, já que, por via de regra, a compra de produtos mais rigorosos e conscientes vem mais cara, e a primeira reação é priorizar o que dói menos no bolso. A consciência leve não sobrevive com o bolso vazio – e isso vale para quem está dos dois lados do balcão. Na pesquisa “O Que o Brasileiro Pensa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável”, foram publicadas várias respostas sobre o que é realmente demandado das empresas, na escolha de cada cliente. As afirmações mais recorrentes orbitam em torno de quatro pilares. O primeiro é atuar por convicção, mais do que por marketing. Isso quer dizer que o cliente não quer ver uma pirotecnia de selos responsáveis se na cozinha do restaurante o desperdício é rotina. É almejado que as empresas ajam por ideais – assim como
é mostrado em qualquer publicidade. Em seguida, vem a necessidade de reprogramar processos. Produtos mais duráveis, recicláveis, menos agressivos e mais econômicos devem passar na frente preferencialmente. Na ponta do lápis, o barato pode sair caro, e o abastecimento da loja deve ser pensado não mais somente em curtíssimo prazo. O terceiro ponto mais citado pelos entrevistados é que as empresas tomem a iniciativa, antes de qualquer pressão dos consumidores ou do próprio mercado. Nada mais natural para quem deve agir por convicção. Fechando a quadra de conselhos está a preocupação com o bem-estar da empresa. Quando se fala de consumo sustentável, não está em curso uma tentativa de desmantelar o negócio. Pelo contrário: os clientes também esperam que a imagem institucional e a competitividade da empresa tenham valores agregados como fruto de uma maior responsabilidade socioambiental – até para que isso possa ser visto com bons olhos pelo resto do mercado, e as boas práticas se alastrem.
Pesquisa REALIZADA NO CENTRO- OESTE O(a) sr(a) estaria ou não estaria disposto a pagar mais caro por um produto se soubesse que a sua produção é ambientalmente correta?
Em sua decisão de comprar um produto, o(a) sr(a) leva em conta se a empresa que o produz prejudica o meio ambiente na sua produção?
Estaria disposto--------------------------- 62% Não estaria disposto--------------------- 20% Depende do quanto mais caro------- 12% Não sabe/Não respondeu--------------- 6%
Sim-------------------------------------------- 46% Não-------------------------------------------- 44% Depende da diferença do preço------- 6% Não sabe/Não respondeu--------------- 4%
Em sua decisão de comprar um eletrodoméstico ou eletrônico, o(a) sr(a) leva ou não leva em conta o consumo de energia do produto, buscando aqueles que consomem menos energia elétrica?
Sim---------------------------------------------------------------------------------------------------------79% Não---------------------------------------------------------------------------------------------------------11% Depende da diferença do preço------------------------------------------------------------------11% Não sabe/Não respondeu----------------------------------------------------------------------------2%
36
Fonte:CNI
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
ECONOMIA SEM PREJUIZO AO VERDE Consumir de modo consciente não se restringe a compras pontuais e caras. Mesmo as escolhas do dia a dia estão carregadas de consequências ambientais – e o movimento comum é uma transição gradual. Engana-se quem pensa que só veganos gastam mais com um produto ambientalmente responsável. O Bioon, o maior ecomercado de Brasília, tem mais de 7 mil produtos cadastrados. Higiene, suplementos, hortifruti, limpeza, cosméticos: tudo passa pelo pente fino que busca por realçadores de sabor, adoçantes, corantes, conservantes. Davi Neves, proprietário, diz que o processo é feito com calma, e que cada rótulo é lido. “Ainda não acho que as pessoas pagariam mais por um produto sustentável, só por ele ser sustentável. Se pesar somente isso, acho que ainda escolhem o que custa menos. Mas se nessa decisão entrar saúde, bem-estar pessoal, aí eu acho que as pessoas pagam mais caro sim”, explica Neves. Giovanna Vicentini, estudante de Publicidade de 21 anos, frequenta o Bioon principalmente por causa dos cosméticos. Lá, nenhum produto desse tipo é testado em animais, por exemplo. “Para alimentação, acho que hoje já está mais comum achar produtos naturais e atitudes sustentáveis. Mas quanto a cosmético ainda é muito difícil. São usados muitos produtos químicos que a gente nem sabe que estamos absorvendo pela pele ou cabelo. Na indústria cosmética, é algo que as pessoas pouco se importam, apesar de ser algo bem sério”, afirma. Já Amanda Venício, estudante de Jornalismo, é vegana e prioriza os produtos industrializados do ecomercado. As compras são pontuais porque são mais caras. Também estudante, Flávia Mendonça não é vegetariana ou vegana, e justifica o hábito como uma decisão pessoal de harmonia com a natureza. “Faz um tempo que tomei a decisão de levar a minha vida de uma forma diferente, mais
harmônica possível com o meio ambiente e com o meu corpo. Estou no caminho para me tornar vegetariana”, conta. Além da rigorosa seleção do que pode ser comercializado, o ecomercado fomenta produtores rurais orgânicos, coleta lixo e óleo de cozinha e faz ações de conscientização ambiental com crianças da Escola Parque 303 Norte. O piso da loja não foi ao fogo para ser produzido, e os uniformes dos funcionários são feitos de garrafas PET. A disposição do público de se engajar com ações verdes também pode ser verificada em eventos temáticos. Foi o caso do Vila Brasil, no começo de dezembro do ano passado no Parque da Cidade, cuja programação cultural atraiu 20 mil pessoas. Uma iniciativa do Vila trocava dez latinhas de alumínio vazias por uma cheia. Desfecho: foram recolhidas com a ação 5490 latas vazias, mais de 70 kg – e retornadas à plateia 549 latinhas cheias gratuitas. O modelo já é estudado para aplicação em outras capitais. Para julho deste ano, a R2 Produções pretende realizar um evento sem copos descartáveis, com bicicletas que geram energia para recarga de celular e atividades físicas com maquinário para bombeamento de água. Os hábitos sustentáveis podem estar até em estabelecimentos com fluxo frequente de pessoas, sem estar necessariamente relacionados com produtos mais refinados, como um supermercado. A unidade do Super Maia de Sobradinho é modelo verde para todo o Distrito Federal há cerca de um ano e ostenta o número expressivo de 60% de economia desde que as mudanças foram implementadas. Biodiesel é utilizado no gerador de energia; a luz elétrica só é ligada quando o dia está com pouca iluminação natural; a água da chuva é captada; o telhado é térmico; a frota de caminhões tem controle de fumaça; e só são utilizadas lâmpadas LED, que duram 25 vezes mais e são recicláveis.
37 37
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 :: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
GENTE QUE FAZ
O talento de um conselheiro Desde a graduação, Renato Santos adquiriu experiência em empreender e, hoje, compartilha seus conhecimentos com empresários do mundo inteiro | Taise Borges
38
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
E
ste mês, o Gente que Faz conta a história de um administrador que dedica sua vida a incentivar o empreendedorismo no Brasil e no mundo. Renato Santos é consultor do Sebrae – o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – e já representou a entidade em eventos por todo o país e em programas de TV. Além disso, é cofundador da atual versão do Empretec, programa desenvolvido pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD) e que, hoje, é o principal método, do mundo, para formação de empreendedores. Impulsionar o empreendedorismo proporcionou, a Renato Santos, um dos “maiores patrimônios conquistados durante a carreira”: ele já conhece todos os estados brasileiros e 48 países do planeta. Nascido em Uberlândia, Minas Gerais, e criado em Goiânia, Renato Santos escolheu Brasília para estudar e fazer carreira. Aos 16 anos, mudou-se para a capital federal, onde cursou Administração na Universidade de Brasília (UnB). “Sou apaixonado por esta cidade”, confessa o empreendedor que, desde a graduação, já revelava o desejo de ter o
próprio negócio. Durante o curso, Renato foi presidente do Centro Acadêmico de Administração da UnB e participou da fundação da AD&M Consultoria Empresarial – empresa júnior onde os estudantes, ainda hoje, podem experimentar o cotidiano do mercado de trabalho ao executar projetos e ocupar cargos de gestão. Renato, posteriormente, também assumiu a presidência da AD&M. O contato com o Sebrae começou aí: a empresa júnior fez um convênio com a entidade de apoio às micro e pequenas empresas. A parceria foi o impulso que a AD&M precisava para se desenvolver e para que Renato Santos ingressasse no Sebrae como consultor. “Tenho muito orgulho dessa parceria de mais de 20 anos com a entidade”, afirma. Dos tempos de UnB, também surgiu a sociedade que deu origem, em 2006, a uma rede de restaurantes. Renato Santos se juntou a dois colegas de faculdade e abriu os estabelecimentos em diversos shoppings de Brasília. Hoje, mesmo depois da mudança de marca dos restaurantes, Renato ainda é sócio de algumas operações da rede em Brasília. O empreendedor também atuou na fundação da Traço Logística, quando, em parceria com um amigo da adoles-
cência, identificou uma oportunidade de negócio. A irmã do sócio de Renato tinha uma empresa especializada na impressão eletrônica de projetos arquitetônicos. As motos responsáveis pelas entregas das impressões chamavam a atenção pela eficiência do serviço e credibilidade transmitida pelos entregadores, que andavam uniformizados. A empresa começou a ser demandada, então, para realizar entregas – serviço que não oferecia. Renato e o amigo aproveitaram a chance: uniram-se e fundaram a vertente da empresa especializada em transporte e distribuição de produtos. Em paralelo aos investimentos na empresa de logística e na rede de restaurantes, Renato desenvolveu a atividade de consultor. Hoje, o administrador atende organizações no Brasil e no exterior. “Foquei minha carreira no trabalho de consultoria, no atendimento a empresas e instituições como o Sebrae”, explica. Recentemente, Renato Santos aceitou outro desafio: o empreendedor exercerá o cargo de CEO da Megamed Saúde, rede paulista de clínicas e laboratórios voltada para a nova classe média. “Meu foco, em 2015, é consolidar a atuação da Megamed em São Paulo e continuar atuando como consultor do Sebrae.”
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
39
gente que faz
Brasília: cidade para empreender O conhecimento sobre o cenário econômico do Distrito Federal permite a Renato Santos avaliar os principais obstáculos e facilidades encontradas pelos empreendedores brasilienses. E para o administrador, as vantagens, no DF, superam as dificuldades: “Considero o Distrito Federal um local muito propício para empreender. Vejo menos dificuldades aqui do que em outros lugares do país”. Renato lembra que a média de renda da população brasiliense é muito superior à nacional. Essa realidade possibilita a demanda por produtos classificados como “supérfluos”. “É possível ir muito além daquelas necessidades básicas, como alimentação, vestuário, saúde, transporte. Há mercado para negócios muito especializados”, explica Renato. De acordo com o consultor, a população altamente educada e com um dos maiores percentuais brasileiros de acesso à internet também viabiliza negócios com investimentos iniciais baixos, desenvolvidos através da rede. A implantação de novos empreendimentos, no entanto, é prejudicada por uma questão: perdemos para várias unidades da Federação quando o assunto é acesso à mão de obra qualificada. “No Distrito Federal, competimos com o governo pelos grandes talentos. É o único senão que vejo em empreender no DF.” Renato exemplifica: “Se consigo um gerente para minha empresa – um profissional qualificado, inteligente, com energia – é provável que ele trabalhe durante o dia e, à noite ou no final de semana, esteja se preparando para uma oportunidade no setor público”.
Renato reitera que trabalhar para o Estado representa uma oportunidade de crescimento para muitos profissionais, além da garantia de segurança e estabilidade financeira. E a disputa pelas vagas no setor público está cada vez maior, mesmo entre os jovens. “Basta olhar para a proliferação de empresas e profissionais voltados ao apoio daqueles que almejam um cargo público: cursinhos, editoras, professores particulares”, ressalta. O que não significa que não existam profissionais aspirantes às condições que o funcionalismo público não pode oferecer: “No setor privado, a ascensão do profissional capacitado ocorre de forma mais rápida. Além disso, o Estado não é, tradicionalmente, o melhor lugar para se realizar sonhos profissionais”. Para incentivar o empreendedorismo entre os jovens, nada funciona melhor do que o exemplo – é no que acredita Renato Santos. “Quanto mais casos de empreendedores bem-sucedidos permearem a vida das pessoas, mais elas se guiarão por esses bons exemplos. Casos não apenas de profissionais cujas empresas cresceram, mas de pessoas profissionalmente realizadas em suas próprias empresas”, explica. Além dos bons exemplos, é preciso criar condições econômicas favoráveis, como menores cargas tributárias e processos menos complexos para implantação e fechamento de negócios: “Se fosse menos burocrático e mais barato abrir um negócio, as pessoas se arriscariam mais nessa atividade”.
O Aprendiz Em 2011, a convite do Sebrae, Renato Santos estreou como comentarista das tarefas realizadas pelos participantes do programa O Aprendiz , da Rede Record. Dois anos depois, o empreendedor assumiu a função de conselheiro ao lado de Roberto Justus, apresentador do programa. “Descobri que não há limites para o que as pessoas são capazes de fazer quando estão comprometidas com um objetivo. Quando motivadas, fazem o que acreditamos ser impossível. Também não há limites para o que um bom líder é capaz de
40
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
instigar em sua equipe”, afirma Renato ao comentar as lições aprendidas com os participantes do programa. Antes do reality show, Renato já havia representado o Sebrae no programa Hoje em Dia , da mesma emissora, no qual respondia dúvidas dos telespectadores sobre pequenos negócios. Também participou do quadro Negócio Fechado , no programa de Luciano Hulk, na Rede Globo. Desde 2013, Renato Santos é consultor do Minuto Sebrae , programa da rádio CBN, Jovem Pan e Band News São Paulo.
Passos para o sucesso Para Renato Santos, existem quatro premissas básicas para um empreendimento de sucesso. O primeiro deles é o capital – todo negócio, sem exceção, precisa de um investimento mínimo para começar. O capital é necessário à aquisição de insumos, contratação de colaboradores, investimento em divulgação, ou seja, para criação de uma estrutura mínima para que o consumidor confie no que está sendo oferecido. “Esse capital servirá para tudo, exceto para remunerar os sócios e adiantar os lucros que virão com o passar do tempo”, explica Renato. Hoje, já é possível estruturar uma empresa de modo que ela comece com um caixa muito pequeno. É possível, também, conseguir investidores-anjo que banquem esse capital inicial. Também é preciso estar atento às novas oportunidades e saber aproveitá-las: “É necessário ter sensibilidade para diferenciar as ideias apenas interessantes daquelas destinadas ao sucesso”. Renato lembra que o que determina o êxito de uma empresa é a quantidade de pessoas dispostas a pagar pelo produto oferecido. “Por isso, o empreendedor precisa ter um bom nível de conexão social, ser capaz de compreender o que as pessoas desejam, processar essas ideias e ofertar serviços que atendam às necessidades do público.” Para atuar em um mercado, o empresário também precisa ter um conhecimento técnico mínimo sobre ele: “Um empreendedor não será bem-sucedido se começar um negócio em um segmento no qual não tem conhecimento prévio algum.”
Empretec De acordo com Renato Santos, a quarta e última premissa básica para um empreendimento de sucesso é o perfil empreendedor. E esse perfil, Renato conhece bem. Desde 2002, ele é consultor da UNCTAD. O órgão da ONU desenvolveu o Empretec, programa para formação de empreendedores. Renato Santos é um dos consultores responsáveis pela expansão mundial do programa, tendo atuado na negociação e implantação do Empretec em 14 países, em quatro diferentes continentes. O programa existe, hoje, em 35 nações, inclusive no Brasil, e já impactou mais de 310 mil empreendedores pelo mundo. A metodologia do Empretec deriva de uma pesquisa com empreendedores de todo planeta, a qual detectou dez características comportamentais indispensáveis ao sucesso empreendedor. São elas: busca por oportunidades e iniciativa, exigência de qualidade e eficiência, correr riscos calculados, persistência, comprometimento, planejamento e monitoramento sistemático, busca de informações, estabelecimento de metas, persuasão e rede de contatos, independência e autoconfiança. Nas palestras que ministra pelo Empretec ao redor do mundo, Renato Santos aborda o perfil empreendedor a fim de desenvolver e aperfeiçoar essas características nos empresários participantes do programa.
Foto: Edu Moraes
Renato Santos com Roberto Justus no programa O Aprendiz
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
41
capacitação
ADMIRÁVEL MUNDO NOVO Cursos online não param de se multiplicar e ganhar qualidade – e existem vários feitos sob medida para você | Eduardo Barretto
42
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
F
elipe Pessoa (foto) tem mais de mil livros – dentro do próprio quarto. De obras graúdas de Medicina a clássicos de bolso, Antropologia a quadrinhos, prosa a poesia: está tudo lá, muitas vezes em páginas amareladas impressas há décadas e costuradas em capas cuidadosas, outras tantas em delicadas brochuras. De posse apenas dessas informações, o leitor pode imaginar que seja mais adequado tratar Felipe por “senhor Pessoa”, e que o senhor seja um símbolo do modelo antigo de educação: presencial, à base de livros, sem internet ou interatividade. Mas Felipe tem só 21 anos, está na segunda graduação e já fez 18 cursos online completos – e teve de comprar um HD externo para armazenar o material. O jovem é a personificação do que acontece hoje em sala de aula: é cada vez mais inevitável extrapolar o esquema livro-quadro-professor. Alunos do ensino fundamental já criam grupos de WhatsApp para compartilhar conteúdo, lembrar de provas e tirar dúvidas; fotografias de quadro negro – se este ainda não é digital – já começam a substituir preciosos minutos de escrita no caderno pautado; o professor que apresenta slides de Powerpoint se vê rodeado por alunos com pendrive na mão no fim da aula… Cada um desses sinais é uma mostra do que está por vir. A lista de como aos poucos mudamos nossa forma de assimilar conhecimento, do padrão presencial para o virtual, é volumosa como uma Barsa – e não para de crescer. “Daqui a dez, 15 anos, não vai haver uma distinção tão nítida entre esses dois tipos de ensino”, projeta Lúcio Teles, professor de pedagogia da Universidade de Brasília (UnB) que estuda educação a distância desde 1987. Imagine uma empresa que apresenta, entre o célebre trio organizacional missão-visão-valores (MVV), a missão de “ser aberta a pessoas, lugares, métodos e ideias”. Essa mesma corporação assume promover “justiça social”. O discurso poderia vir de algum filme de super-herói – ou de uma propaganda em que uma empresa finge ser um –, mas é da Open University (OU), instituição inglesa cuja sede fica a 80 km do centro de Londres, no caminho entre Oxford e Cambridge – cidades prestigiadas justamente pelas instituições de ensino superior multicentenárias, mas que se restringiam aos seus portões. Fundada em 1969 com a proposta de superar fronteiras geográficas, econômicas ou de qualquer outra espécie, a universidade tem atualmente estudantes de 128 países – só considerando os cursos de MBA. “Não há estudante típico da OU”, diz o site da instituição, que se orgulha de ser a universidade na Europa que mais tem estudantes com necessidades especiais em seu quadro: no período letivo de 2012/2013 (no Hemisfério Norte as aulas vão de se-
tembro a junho, por causa dos invernos rigorosos), mais de 20 mil alunos desse tipo capacitaram-se com a OU. E para quem acha que cursos virtuais são para pessoas em férias ou com tempo livre: 73% dos estudantes da Open University também trabalham. É tudo uma questão de determinação – seja para alavancar a carreira, mudar de área ou aprofundar-se em algum assunto. Basta uma conexão básica de internet.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
43
capacitação
APRENDIZADO SEM MUROS Quando o assunto é plataforma de curso online, o maior nome é o Coursera. Entre os sites com DNA brasileiro, o Veduca é o campeão em acessos. Três anos atrás, os dois começaram os trabalhos e encararam o desafio de oferecer cursos das universidades mais renomadas do mundo, com bibliografia, avaliações, ementa e todo o suporte que uma formação universitária pela internet pode ter. É um divisor de águas de portais como o TED – gigante mundial que reúne tecnologia, entretenimento e design há três décadas, abordando qualquer assunto em vídeos de curta duração, de forma inovadora e atrativa. “Diferente do TED, que também gosto muito, e consiste em palestras mais focais, o Coursera apresenta uma matéria de nível universitário. Para mim, isso é mais sedutor do que uma palestra de quinze minutos. Fica mais estruturado e detalhado”, conta Felipe Pessoa, o jovem dos mil livros, formado em Tradução e atualmente aluno de Direito. Felipe começou a fazer cursos online quando nasciam Coursera e Veduca, e tem interesse por lições de História, Artes e Línguas. “Sempre que eu recomendava o Coursera para alguém, a pessoa parecia que tinha descoberto a roda”, lembra. Davi Marinho (foto), de 22 anos, não conhece Felipe
44
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
Pessoa, mas parece ter descoberto a roda quando conheceu o Coursera em outubro do ano passado. “O primeiro curso que eu fiz foi de Introdução à Produção Musical. É incrível porque é uma coisa complicada que demanda muito trabalho. Mas a universidade Berklee (em Boston, nos Estados Unidos) produziu o curso de uma forma de fácil entendimento. Se você acompanha a aula direitinho, você entende todas as partes do processo. A partir daí, é só prática”, afirma Davi. O Coursera já bateu a marca de 12 milhões de alunos alcançados desde o começo do site, em 2012. Em setembro de 2014, o Brasil era o quinto país em alunos no portal, mesmo não sendo contemplado com cursos daqui. Foi quando o site fez uma parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Outra instituição brasileira, a Fundação Lemann, tem cursos cadastrados, mas a Lemann se notabilizou por uma nobre ajuda: a tradução de vídeos do inglês (principal língua do Coursera) para o português, catapultando o acesso de brasileiros e estreitando essa relação que já rende bons frutos. O número de usuários cadastrados no Veduca dobrou ao longo de 2014: pulou de 214 mil para 548 mil. O Ve-
duca já tem 27 cursos da USP e um da Universidade de Brasília (UnB), sobre Bioenergia. O portal também tem um sobre energias renováveis, feito em associação com a Organização das Nações Unidas (ONU). Como seus alunos, esses sites não se acomodam ou se isolam. No mês passado, o Coursera anunciou uma parceria com empresas colossais, alçadas a esse patamar justamente pela junção entre internet, juventude e informação. Organizações como Google, Instagram e Shazam (aplicativo para celular que identifica, em segundos, músicas desconhecidas pelo usuário – tocadas na rádio, por exemplo –, em um banco de dados de mais de 15 bilhões de canções) vão ajudar o Coursera na criação de cursos que futuramente serão transformados em especializações. Além de um feedback valioso de empresas que vivem conectadas e trabalham com conteúdo massivo, o Coursera abre espaço para ganhar oxigênio nas finanças – um calcanhar de Aquiles em todos os portais de educação a distância –, já que os alunos de especializações têm mais interesse em alavancar a carreira e o salário, alcançam os pré -requisitos elevados desses cursos – pois detêm uma educação sólida e continuada – e têm bom poder aquisitivo. Em contrapartida, o mercado também está de olho nesses alunos, que se capacitam mais alinhados com o mundo fora das salas de aulas universitárias, criticadas pelos conteúdos ultrapassados. Por exemplo, o McDonald’s é parceiro do College of America, instituição sem fins lucrativos que busca capacitar adultos pela internet.
Explorando a conectividade, a persistência e usando indicadores de qualidade afinados com o mercado de trabalho, esses cursos valem ouro, mesmo trabalhando o conceito mais elementar da educação: compartilhamento de conhecimento. O que está mudando é em quais meios e canais isso vai ser feito. “Se eu pudesse avaliar o Coursera, eu diria que foi o melhor complemento de estudos que eu tive até então. Sem esses cursos na internet, eu estaria bem diferente mesmo. Posso garantir”, explica Felipe Pessoa. Davi ressalta o aumento do alcance da educação de qualidade a pessoas mais pobres: “Eu imagino mesmo um futuro onde o conhecimento pela internet seja o acesso à democratização do conhecimento. Assim, não seria uma coisa elitista. Eu quero muito que essa ideia de curso pela internet funcione, porque tem muito potencial para mudar o mundo”. Contudo, Davi pode ser uma exceção ainda: a professora de pedagogia da UnB Maria de Fátima Guerra, que já orientou mais de 100 monografias à distância, conta como a percepção da população é baixa quanto ao acesso restrito de informação. “Eu estava vendo na televisão o pessoal levando urna para as pessoas votarem. Estavam levando urna para uma cidade ribeirinha no Amazonas, e isso demorou uns três dias de barco. Mas espera aí, como que a educação chega num lugar desse? Foi aí que eu vi que, nos dias de hoje, eles não resolveriam o problema de educação com construção de prédio, de escola. É possível dar mais formas de solução.” Qual político que, nas eleições, prometeu construir polos de educação a distância, ou investir em tecnologia em vez de construir escolas?
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
45
capacitação
OLHOS NOS OLHOS OU NA TELA? Educação a distância não é, necessariamente, uma oposição ao ensino em sala. É tudo o que acrescenta ao ensino presencial. Em se tratando de conhecimento absorvido, não importa o modo: o que vale é uma educação de qualidade – e se puder ser gratuita, como o grosso dos cursos ofertados por sites como Coursera e Veduca, melhor ainda. Mas nem só desses portais vive o ensino a distância. Além de pessoas intelectualmente curiosas que estudam online por lazer, há quem queira um diploma de graduação – que vai vir depois de muito esforço, já que o computador não pode deixar as disciplinas mais frouxas. “O curso tem que ser de qualidade. Não é qualquer educação a distância, nem qualquer instituição. A qualidade passa pela qualificação do professor, pela capacidade dialógica, pela capacidade de se fazer presente. O grande sucesso de um curso a distância é o aluno não se sentir só. Ele tem que sentir que tem toda uma equipe por trás”, explica Maria de Fátima Guerra. A legislação vigente determina a inclusão de momentos presenciais nessas capacitações para avaliações, apresentações de trabalhos de conclusão, estágios obrigatórios e atividades de laboratório, por exemplo. Por outro lado, o aluno também deve trabalhar para ter qualidade. “Tem que ser autônomo, se motivar para aprender, se organizar. É preciso priorizar o curso que está fazendo. Não se faz um curso a distância sem sobra de tempo. Tem que ser tão importante quanto as demais coisas que precisam ser feitas”, receita a professora. O velho debate entre qual modelo de educação é melhor não tem data de validade. Mas ambos os modos têm vantagens e desvantagens. Davi Marinho, entusiasta do curso de produção musical no Coursera, acentua a liberdade do aluno online de aprender no próprio tempo: “Ter uma videoaula com imagem de qualidade e legendas em português é muitas vezes melhor do que ter aulas presenciais na faculdade, porque no vídeo pelo menos você, além de ver na hora que quiser, pode voltar na mesma hora se não entender alguma parte”. O professor Lúcio Teles conta que, em um mesmo ano, o curso de Pedagogia na UnB teve mais evasão no módulo presencial do que à distância. Teles cita ainda que pesquisas têm comprovado que uma mesma formação, ofertada online e presencialmente e com boa orientação, dá ao virtual resultados acadêmicos iguais ou superiores ao presencial. A professora Maria de Fátima Guerra compara: “Eu falo:
46
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
se a presença fosse o que determina a qualidade, nenhum curso presencial no Brasil seria de péssima qualidade. A gente vê aluno e professor todo dia, e ainda temos uma educação muitas vezes deficitária”. Em uma relação híbrida, e não de polarização, cada vez mais os cursos na internet estão aprimorando o acompanhamento do aluno, e os presenciais estão incrementando as aulas com ferramentas interativas.
números
20 mil 82%
alunos com necessidades especiais fizeram cursos na Open University no ano passado.
das instituições que responderam ao Censo Educação à Distância no Brasil 2013/2014 apostam em aumento no número de matrículas.
12 milhões
é o total de alunos que já se capacitaram pelo Coursera, em funcionamento há três anos.
214 mil para 548 mil mais que o dobro – foi quanto aumentou o número de estudantes em 2014 no Veduca, maior portal de cursos online do Brasil.
AOS MESTRES, COM CARINHO Um exemplo está na rede pública – justamente onde a qualidade da educação e do acesso à informação pecam. Professores do estado de São Paulo têm um acervo de 3 mil itens tecnológicos, como videoaulas, jogos e infográficos para modernizar o ensino. O número é 65% maior do que no começo do ano passado, e tudo passa pelo crivo de educadores do estado para adequar o conteúdo ao currículo. Uma pesquisa da Secretaria de Educação de São Paulo mostra que a aceitação do sistema pelos docentes é de 94%. Os mestres recebem na própria escola o treinamento para lidar com essas ferramentas, gravar videoaulas e até falar melhor em público, em uma parceria da secretaria com o YouTube e a Fundação Lemann. A ascensão da educação digital não quer dizer que os professores estão fadados a acabar – muito pelo contrário. Na segunda semana de março, em que é comemorada a Semana de Educação Aberta pela organização internacional Consórcio de Educação Aberta, um portal deixou a versão de teste e promete ajudar na revolução da educação. Entretanto, não há cursos de universidades, ementas, certificados: o site não é voltado para quem está sentado à mesa anotando no caderno, mas para quem está de jaleco branco e com mãos sujas de giz. O Versal, em convênio com dois portais grandiosos de educação, dá formas para
que o professor possa virtualizar a sala de aula. Aquela apresentação insossa de Powerpoint com fundo branco e letras pretas é terminantemente proibida. Em vez disso, gráficos em alta definição, vídeos, infográficos e até imagens e esquemas em 3D. A maneira pela qual o portal ensina os professores a navegar no site não poderia ser outra – uma videoaula. Os docentes também podem migrar da sala de aula para a internet. Foi o caso do professor Paulo Jubilut – sim, o responsável por publicar aqueles vídeos fofos ou bizarros do mundo animal na sua linha do tempo no Facebook, mesclados com informações técnicas. Depois de 12 anos em sala de aula, Jubilut foi demitido de uma escola de classe alta em Curitiba no final de 2011. O professor iria desistir da carreira, e queria gravar e publicar as aulas – com uma simples webcam – para deixar de legado. Logo, o YouTube lhe enviou uma mensagem alertando para a alta audiência dos vídeos e para a possibilidade de gerar lucro. Hoje, o portal Biologia Total oferece apostilas, videoaulas e cursos focados na Biologia de vestibulares – há até alguns específicos para quem quer passar para Medicina. O plano anual sai a R$ 9,42 por mês. Utilizada principalmente para divulgar o site do professor, a página Biologia com o Prof. Jubilut tem mais de 2,2 milhões de curtidas no Facebook.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
47
EMPREENDEDORISMO
Marcas consolidadas são alternativa para novos empreendedores Das 32 franqueadoras da região Centro-Oeste, 53% são de Brasília, diz ABF | Oda Paula Fernandes
O
s resultados sobre a implantação e o progresso de novos negócios depende do comprometimento do empreendedor ao traçar valores, metas e missões à nova empresa. E esse conjunto de regras exige acompanhamento sistemático. Além disso, dedicação e determinação trazem os resultados positivos e tornam uma marca conhecida na região onde atua, até que a empresa seja uma franqueadora, cobiçada por novos investidores. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), das 32 franqueadoras da região Centro-Oeste, 53% são de Brasília -17. Por ano, as franquias de Brasília geram R$ 9,2 bilhões, e oferecem desde serviços de beleza, passando por cursos profissionalizantes e reparos até alimentação. A ABF assegura que é um segmento com crescimento maior que outros setores da economia, já que ele triplicou no Brasil entre os anos 2003 e 2013. A movimentação pulou de R$29 bilhões para R$155 bilhões e em 2014 ficou a frente de outros segmentos como indústria e agricultura. Para fomentar negócios nesse segmento, foi realizado, pelo Sebrae-DF, o II Encontro de Franquias do Distrito Federal. Foram abertos 28 estandes de expositores com oportunidades de franquias e microfranquias (nas áreas de alimentação, moda, estética, educação e serviços), oito delas eram de fornecedores e 4 de instituições financeiras. “Trata-se de gerar oportunidades únicas para quem pensa em abrir um negócio e quer conhecer
48
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
o universo do franchising, para quem já é franqueado e busca comercialização, para as empresas fornecedoras que querem saber se seu perfil se adéqua ao mercado de franchising e para todo e qualquer empresário que busca conhecimento”, explica Antonio Waldir Oliveira Filho, diretor superintendente do Sebrae no DF. O empresário do segmento de industrianato, Francisco Costa, comemora a expansão do negócio. “Trabalhar com o industrianato é fazer de modo artesanal produtos de beleza e higiene pessoal em grande quantidade”, explica. Segundo ele, que está expandindo o negócio para as regiões Sul e Nordeste, a franquia é o melhor caminho para manter a marca no mercado. “A partir de R$80 mil é possível investir num negócio como este. E para ter todas as garantias de viabilidade do negócio é feita uma análise que inculi o perfil do cliente, o potencial do ponto de venda e o investimento”, acrescenta Costa. De acordo a ABF, a alta taxa de sobrevivência dos empreendimentos do Distrito Federal (80%) e o varejo forte contribuem para o destaque da capital no cenário nacional, a cidade ocupa a oitava posição no ranking. A instituição explica que para abrir uma franquia, o investimento varia de acordo com o tamanho, a localização e o tipo de negócio. No DF, por exemplo, o investimento inicial mínimo de algumas franquias é de R$22 mil. Criado em 2010, o Açaí do Japa surgiu por necessidade do empreendedor e fundador da marca, Wesley
Foto: Wagner Augusto
Francisco (foto), mais conhecido por Japa. Sem emprego, ele não tinha dinheiro para investir no negócio, e a participação de amigos e da família foi decisiva. Com apenas uma estante da mãe, uma tenda e insumos comprados com dinheiro emprestado, ele começou a fazer o Açaí e vender na Praça Central do Paranoá, cidade onde mora. Com três anos e nove meses, a empresa se tornou uma rede e se prepara para ocupar outras regiões. “Hoje nós temos 7 lojas espalhadas pelo DF, a parte de franquias tem opções como bike, moto, trailer e loja fixa e mais de R$1 milhão investidos em maquinário na fábrica. Por mês, processamos 30 toneladas de açaí e o nosso foco é a qualidade do produto, do fruto que foi selecionado cada um dos 3 fornecedores”, comemora Francisco. O investimento para adquirir e se tornar um franqueado é de R$22 mil na bicicleta e pode chegar até R$220 mil com a loja. A expectativa do gestor da marca é de, até o final de 2015, abrir pelo menos uma franquia em cada estado brasileiro. Atualmente, o Açaí do Japa está também em Minas Gerais, na Bahia e em Goiás. Outra marca de sucesso nascida no DF é o Panelinhas do Brasil. A primeira loja surgiu em 2013 no Setor de Abastecimentos e Indústrias (SIA). Ao pensar no negócio, o empreendedor trouxe para a linha fastfood o sabor do tempero da comida caseira, porém regional. “A ideia era otimizar o tempo - que está cada vez menor - e oferecer aos nossos clientes do Centro-Oes-
te um alimento caseiro, mas regional, com o sabor do tempero tradicional de cada região”, afirma Luiz Carlos, criador do Panelinhas do Brasil. O conceito da marca era vencer a concorrência das multinacionais, principalmente na linha de sanduíches. “Basicamente a empresa surgiu em 2013 com âmbito de expansão para o Centro-Oeste, então em 2015 estamos intensificando nesta região. A gente tenta buscar esse gosto múltiplo, então pegamos o baião, que é nordestino; a galinhada com pequi, que é goiana; a feijoada carioca e assim por diante. Agora estamos lançando outros pratos das culturas paraense e gaúcha. Assim, podemos brincar com o nome da empresa em todas as regiões do Brasil”, revela Luiz Carlos. O crescimento da marca, que virou franquia em 2014, foi o planejado pelo empresário. Além das 22 lojas dentro do DF, a marca já está em outros quatro estados – Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Ele espera que, em 2016, seja possossível chegar em São Paulo e em todo Nordeste e Norte brasileiro. Segundo empresários, que fizeram de seus negócios uma rede de franquias, para ser um franqueado não é necessário ser conhecedor da área que se propõe a investir, uma vez que o comprador tem incluso o treinamento para operar a empresa. Aliás, ser franqueado de uma marca conceituada traz ao investidor a segurança de aplicar o dinheiro em um negócio testado e aprovado, ou seja, ele não precisa se preocupar com a aprovação dos clientes.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
49
Mulh Mulh mês da mulher
Mulheres de negócio Conheça a história de três empreendedoras que, com dedicação e amor pelo que fazem, conquistaram espaço e, hoje, são proprietárias de grandes empresas | Bianca Marinho e Taise Borges
50
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
heres heres N
o mês dedicado às mulheres, é preciso lembrar daquelas que, por meio do trabalho e esforço diário, contribuem para o desenvolvimento econômico do Distrito Federal: as mulheres de negócio. O mais recente Anuário das Mulheres Empreendedoras e Trabalhadoras em Micro e Pequenas Empresas – estudo realizado pelo Sebrae, em parceria com a instituição de pesquisa Dieese – aponta que o cenário empreendedor no DF é cada vez mais feminino. Na década entre 2002 e 2012, a quantidade de em-
pregadoras, no Distrito Federal, cresceu 64%. O valor foi o quarto maior registrado no país. Atualmente, as mulheres correspondem a 31% dos donos de empresas no Brasil. Nesse percentual, estão incluídas Maria Amélia, Rita Trindade e Renata La Porta, empresárias que lançaram suas marcas em Brasília e conquistaram o público da capital com produtos e serviços inovadores. Donas de empresas que, hoje, são líderes nos seguimentos de mercado em que atuam, as três mulheres são bons exemplos de como o amor pela profissão é indispensável ao crescimento do negócio.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
51
mês da mulher
Foto: Raphael Farias
Doce sucesso
Muito trabalho para transformar em realidade o sonho de cada cliente
52
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
C
asamento, aniversário infantil, batizado, formatura, chá de bebê, festa de debutante. Datas especiais envolvem muitas expectativas. Conhecedora desses desejos, a Maria Amélia Doces vem se firmando como empresa preparada para auxiliar na realização de sonhos. Por trás de todo o sucesso, está o cuidado e a dedicação da empresária que dá nome à marca. Maria Amélia Campos Dias (foto) é atenta aos detalhes e se envolve em tarefas que vão desde enrolar pão de queijo a atender os clientes. O prazer por cozinhar surgiu na infância. “Cresci com esse gosto, faço por amor. Quando fiquei adulta, Dona Terezinha, minha mãe do coração, me ensinou seus segredinhos e a como melhorar. Tive muitos anjos na minha vida”, conta. Logo que começou a trabalhar, o interior de Minas tornou-se pequeno para a visibilidade que adquiriu. Foi o marido, Ronaldo, que teve visão empreendedora e decidiu dar um passo importante: mudar-se para a capital do país. Há 14 anos no Distrito Federal, o negócio se expandiu. Com produção média semanal de 150 mil docinhos e 500 quilos de bolo, a rede conta, hoje, com seis cafeterias e uma fábrica situada no Lago Sul. Apesar da estrutura, a gerente de marketing Diná Costa garante que os valores iniciais da empresa se preservaram: “Nosso diferencial está na qualidade dos produtos, que são artesanais e frescos. Também trabalhamos com itens personalizados e inovamos ao trazer produtos temáticos para o mercado de Brasília”. A qualidade dos produtos e o sucesso da rede são resultados da motivação dos mais de 180 funcionários. São valores como respeito, crescimento colaborativo e senso de dono que incentivam Manuela Gonçalves a trabalhar na empresa há mais de seis anos. “O que mais gosto é do envolvimento dos funcionários. A gente não só aprende, como também ensina e cresce com a empresa. Acompanhamos todo o processo de transformação da matéria prima e vemos o sonho do cliente ser realizado”. Conquistar e fidelizar os clientes são desafios para as empresas, seja pela diversidade que o mercado oferece, seja pela exigência e von-
tade do público de experimentar novas opções. Qualidade, cumprimento de prazos e bom atendimento são imprescindíveis, mas ter a inovação como um dos pilares da empresa pode ser o diferencial na hora de cativar o cliente. Por isso, a ideia de crescimento colaborativo não se aplica só aos funcionários. O público também tem liberdade para sugerir e trazer novas tendências. “Às vezes, pedem um doce que não temos, mas que podemos fazer. Com a ajuda do cliente, vamos criando novas receitas”, explica Maria Amélia. O tradicional Bolo Revelação é um exemplo de colaborativismo, pois começou com um pedido de uma cliente. Ao encomendá-lo, os futuros pais entregam o exame que indica o sexo do bebê e a Maria Amélia Doces faz o bolo com uma cor especial por dentro, que releva o resultado. “É uma sensação muito gostosa porque acabamos participando de momentos muito íntimos das pessoas. É um compromisso e uma responsabilidade muito grande também”, confessa a doceira. Maria Amélia também atende o público infantil e revela que, para encantar as crianças, é preciso muita atenção e criatividade. “A imaginação delas é muito fértil. Temos que superar suas expectativas. Acaba sendo um público mais trabalhoso que o de casamentos.” A qualidade dos doces, a pontualidade e o bom relacionamento foi o que fidelizou a funcionária pública aposentada Beatriz Coimbra: “Sou cliente há muitos anos. Com a empresa, fiz o casamento do meu primeiro filho e foi um grande sucesso. Agora, meu outro filho vai se casar e vou repetir os pedidos”. A empresária também adoça a vida de quem precisa: é parceira da Abrace, instituição de assistência a crianças e adolescentes com câncer e doenças do sangue. “Contribuímos com a festa de debutante das meninas da instituição, com o casamento comunitário, com a festa do Dia das Crianças. Fazemos tudo com muito carinho”, conta Maria Amélia. O cuidado com os funcionários, a inovação e a qualidade das entregas refletem no crescimento da rede, que não perde as características artesanais. Em 2015, Maria Amélia segue com a missão de reunir qualidade, criatividade e bom gosto na confecção de bolos e doces.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
53
Foto: Bruno Stuckert
mês da mulher destaque
Ingredientes secretos Quando o amor pela gastronomia se une à vontade de empreender
U
ma temporada de estudos na Suíça transformou o caminho da empreendedora Renata La Porta (foto). Para se sustentar em território estrangeiro, a carioca trabalhou, entre outros lugares, em uma lanchonete e um restaurante. “Comecei limpando o chão. Também fui garçonete, até me tornar auxiliar de cozinha. Foi aí que comecei a aprender
54
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
mais sobre gastronomia”, lembra Renata que, hoje, é proprietária do buffet que leva seu nome e que está entre os mais requisitados da cidade. Desde criança, Renata é apaixonada por gastronomia. Gostava de experimentar novos sabores e preparar pratos diferentes. Ninguém da família trabalhava na área mas, intuitivamente, ela sabia que seu caminho estava ligado à arte de cozinhar. Abrir um negócio próprio também estava em seus planos:
“Sempre soube que tinha nascido para empreender. O que exatamente ia fazer, não sabia, mas meu caminho era esse”. Na Suíça, Renata dedicou-se a um curso de graduação que mesclava conhecimentos em gestão, finanças e direito empresarial. Ao retornar do país europeu, veio para Brasília, onde moravam os pais e, aqui, formou-se em Administração. Aos conhecimentos culinários já adquiridos, Renata somou o que aprendeu em cursos de aprimoramento na Espanha, França e até na Tailândia. Então, chegou o momento de colocar tudo em prática. O primeiro empreendimento no qual Renata se arriscou foi uma lanchonete na Universidade de Brasília. “Volta e meia, recebo noivos aqui que eram meus clientes na UnB”, diverte-se Renata. O estabelecimento cresceu e a empreendedora tornou-se proprietária de várias lanchonetes. Nesse período, começaram a surgir demandas para organização de pequenos eventos, coquetéis para poucas pessoas. Foi o cenário perfeito para que, mais tarde, fosse inaugurado o Renata La Porta Buffet. A empresa já existe há 16 anos – tempo suficiente para a consolidação da marca no Distrito Federal. Renata conhecia os princípios que garantiriam o sucesso do negócio e, neles, fundamentou seu trabalho. A inovação era um dos valores essenciais. “Procurei saber o que já existia no mercado e no que eu poderia inovar. Minha proposta sempre foi a de oferecer algo totalmente diferente”, ressalta. Para conquistar seu espaço, também foi preciso disciplina financeira. “Tudo o que eu ganhava, era reinvestido na empresa. Foi assim durante anos.” Renata dedicou-se ao máximo para que o empreendimento crescesse, exercendo todo o tipo de função: foi copeira, atendente e cozinheira, tudo ao mesmo tempo. No entanto, para a empreendedora, o que diferencia uma empresa de sucesso é o respeito com o cliente e a maneira com que ela lida com os problemas. “Se sua postura é correta, ética e sincera, a empresa tem mais chances de ser bem-sucedida”, explica. O Espaço Renata La Porta foi aberto seis anos depois do buffet e representou a satisfação de uma necessidade que a proprietária identificou no mercado. Segundo ela, Brasília é bem servida de espaços para grandes eventos, com capacidade entre 500 e mil convidados. Para as pequenas recepções, no entanto, não existem tantas escolhas. “Muitos
clientes me pediam um espaço para festas menores, eventos corporativos para 50 ou 100 pessoas. Como não tínhamos tantas opções em Brasília, abrimos nosso próprio espaço para eventos no Lago Sul”, explica ela. O buffet Renata La Porta é capaz de produzir seis eventos em um único dia. E seja na preparação de uma feijoada, um churrasco, um cardápio indiano ou de alta gastronomia francesa, a proprietária garante: a especialidade da casa é fazer comida boa e prestar serviços nota dez, com capricho e profissionalismo. Renata também afirma que, junto de seus colaboradores, é capaz de preparar qualquer tipo de menu. “Se, um dia, me pedirem um cardápio que, por acaso, eu nunca tenha feito, não será problema. Testarei em minha cozinha até alcançar o melhor resultado. Só não abro mão de utilizar ingredientes de primeira linha e de trabalhar com a minha equipe.” Recentemente, Renata tirou do papel um projeto inovador que, há tempo, pretendia colocar em prática: o La Porta em Casa. O projeto possui duas vertentes. Uma delas é a loja online por meio da qual o público pode fazer pedidos e receber alguns dos mais de 70 produtos integrantes do buffet. “Para uma pequena recepção em casa, o cliente não precisa solicitar o buffet inteiro, apenas o jantar completo ou um prato específico”, explica a proprietária. A segunda vertente inclui quatro itens best-sellers vendidos em pontos de venda específicos de Brasília. “A linha de congelados, no Brasil, é muito simples. Não existem pratos mais sofisticados. Por isso, nossos produtos têm feito tanto sucesso”, comemora. Os testes para aprimorar o La Porta em Casa continuam e devem ser o foco do trabalho da empreendedora em 2015. Também estão, nos planos, ampliar os pontos de venda dos produtos e lançar, no site, cardápios especiais para datas comemorativas como a Páscoa, Dia das Mães e Dia dos Namorados. Se o buffet é um ramo de negócio que exige dedicação e inovações constantes, é recomendável que Renata se dedique a um hobby nos momentos de lazer. Apesar de já ter gravado um CD em que interpreta músicas de cantores e bandas como Caetano Veloso, Rolling Stones e Beyoncé, a atual paixão da empresária é pintar. “Pinto telas a óleo, já tenho várias. Pretendo fazer minha primeira exposição em breve”, informa Renata.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
55
mês da mulher
Inovar para crescer A dentista que reuniu diferentes profissionais e transformou seu consultório em um verdadeiro spa
P
ara Rita Trindade (foto), gerir um negócio próprio não é um mistério. Administrar um conjunto de empresas também não é. Dentista e empresária há 33 anos, ela é dona do Grupo que leva seu nome e que compreende um spa – com tratamentos odontológicos, médicos e estéticos – um departamento de cursos e treinamentos e uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Rita atribui o crescimento da empresa à sua força de vontade: “Já passamos por dificuldades, mas todas foram superadas. Sou persistente. Hoje, percebo que não adianta ser só dentista. É preciso entender das questões administrativas e jurídicas também”. Rita nasceu em São Paulo e se formou em Odontologia no interior de Minas Gerais. Durante a graduação, estagiou com profissionais exigentes, o que garantiu que adquirisse experiência prática e destaque entre os colegas da faculdade. Veio para Brasília em 1989, a convite de um professor, e abriu o consultório no Lago Sul em sociedade com ele. “Na época, eu tinha uma clínica em Uberlândia, em Minas. Ficava metade da semana lá e a outra metade em Brasília”, lembra. Rita se especializou em próteses, implantes e estética dental em universidades do Brasil, Alemanha e Estados Unidos. E o que, antes, era apenas um consultório se transformou em um Spa Médico Odontológico – um novo conceito para a capital federal. Os profissionais do Grupo trabalham em conjunto para tratar as necessidades de cada paciente. O cliente pode passar o dia inteiro no consultório, aproveitar os tratamentos odontológicos e estéticos e relaxar. “O paciente pode vir para fazer um tratamento dentário e se interessar por cuidar da pele ou por um dos nossos procedimentos estéticos.
56
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
Promovemos uma transformação que eleva a autoestima das pessoas”, explica a empresária. Apesar do crescimento da empresa, Rita Trindade mantém os princípios que sempre nortearam seu trabalho como dentista. A qualidade do serviço prestado e a inovação dos tratamentos oferecidos estão entre os valores que tanto preza. “A Odontologia atual se preocupa mais com o custo, em saber qual o prazo mínimo em que se pode fazer um tratamento para que o dentista lucre mais. Essa Odontologia não é a minha. Prezo pelo bem -estar dos meus clientes e não consigo trabalhar de outra forma”, ressalta a empreendedora. Em 1996, o Grupo Rita Trindade passou a oferecer cursos e treinamentos em diversas áreas, especialmente na da saúde. Professores de várias cidades do país são convidados a trazer, para Brasília, novidades de suas áreas de atuação e dividi-las com profissionais interessados. Já a OSCIP foi criada em 2004. Uma das mais importantes ações sociais realizadas pela Organização foi a Caravana do Sorriso, em que crianças moradoras do Gama, no Distrito Federal, foram atendidas por médicos e dentistas em consultórios móveis. Às 7h, todos os dias, a dona da empresa já está no consultório. “Quando chego mais cedo, cuido de demandas da parte administrativa. Só saio às 20h30, 21h. Para a empresa crescer, não tem como ser diferente: é preciso estar de olho em todos os processos.” Hoje, o Grupo possui cerca de 40 profissionais, entre os quais estão o marido, o médico Armando Pires, e a filha de Rita, Carolina Trindade, responsável pela gestão da clínica. Mesmo com o sucesso da empresa, Rita escolheu continuar atendendo os pacientes. “Clinicar é o que amo e o que sei fazer bem”, confessa a empreendedora.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
57
mês da mulher
Poder feminino Conheça a batalha de três deputadas distritais até a Câmara Legislativa | Carol Dias
A
pesar de ter sido o 42˚ país a instaurar o sufrágio feminino, o Brasil ocupa, atualmente, a 156º posição – entre 188 países – no ranking de representatividade feminina na política. Aqui, elas possuem apenas 10% dos cargos no parlamento. A baixa participação motivou, em 1997, a criação de uma lei de cota eleitoral que define o mínimo de 30% e o máximo de 70% do número de candidaturas para cada sexo. No entanto, a norma não garante a entrada feminina no parlamento. O que vemos são partidos que lançam candidatas sem chances de serem eleitas, apenas para cumprir a determinação jurídica.
58
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
No Distrito Federal, o histórico é parecido: as mulheres ainda são minoria. A Câmara Legislativa já passou por sete gestões. De todas elas, cinco é o número máximo de cadeiras ocupadas por mulheres em uma só legislatura – o que representa 20% dos parlamentares. No mês das mulheres, apresentamos o perfil de três das deputadas escolhidas pelo povo nas eleições de 2014. De acordo com a escritora e filósofa francesa Simone Beauvoir, “é pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantirlhe uma independência concreta”. Se ela estiver certa, em breve, a desigualdade dos espaços ocupados por gêneros diferentes na política desaparecerá.
Exemplo em casa A presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), Celina Leão (foto), já nasceu sabendo que a força de uma mulher é igual à de um homem, ou até maior. A frase de um político da capital direcionada a ela – “A Celina é a deputada mais macho da CLDF” – não quer dizer muita coisa para a parlamentar. “Dizem isso por causa da minha coragem. Mas, lá em casa, as mulheres são muito mais corajosas que os homens, ou seja, essa não é uma característica exclusiva de um sexo”. Contudo, Celina confessa que tal atributo foi uma herança: “Tenho certeza que tive influência de casa. Minha mãe batalhou para que as mulheres participassem da política”. A história da deputada está ligada à da mãe, Maria Célia Leão. Irmã de quatro homens e duas mulheres, Celina foi a única que seguiu a progenitora na atividade política. Foram muitas as lutas ao lado da mãe: “Ela reunia as mulheres e falava, ‘não podemos ficar só fazendo comida. Não podemos só receber, temos que participar’”, lembra. Maria Célia é, de acordo com Celina, uma mulher a frente do seu tempo. Foi a primeira mulher no estado de Goiás a se divorciar oficialmente e uma das poucas engajadas à política na época. A presidente da CLDF recorda as aventuras vividas quando pequena, lutando pela igualdade entre gêneros: “Antes da Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, minha mãe e outras mulheres saíam juntas para fazer o flagrante da violência”. Antigamente, a prisão do agressor só era garantida se a polícia presenciasse o crime. “A mulher que era vítima de violência ia para a porta de casa e o policial ficava escondido. Quando ela dizia uma palavra que o marido não gostasse e era agredida, o policial fazia o flagrante.” As experiências serviram para que Celina enxergasse as diferenças de tratamento entre homens e mulheres. Contudo, o exemplo que teve, na figura de sua mãe, provou que essa desigualdade pode e deve ser combatida. Ela acredita que a situação está mudando: “É uma questão cultural, mas quando o Estado cria mecanismos para gerar educação e condições de trabalho para todo mundo, aprendemos que somos todos iguais. Já está melhorando muito”. A deputada cita o exemplo que teve em casa. “Hoje, o marido também cuida das crianças. Antigamente, isso não acontecia.” Apesar das transformações, a deputada ressalta a baixa representatividade da mulher na política como um problema ainda recorrente no Brasil. Para ela, a determinação de, no mínimo, 30% das candidaturas femininas dentro dos partidos não é suficiente. “A cota garante uma participação partidária, mas não efetiva. O certo seria que essa porcentagem fosse referente às vagas na CLDF.” Assegurar a presença das mulheres nas eleições não é sinal de que elas estão ingressando na política. Segundo Celina, as candidatas não recebem a mesma atenção que um homem. “Uma campanha requer uma estrutura grande. As mulheres ainda têm dificuldade de ter acesso a isso. A manutenção do ingresso feminino na política vai acontecer quando elas tiverem condição de ter acesso ao apoio que é dado a outros candidatos.”
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
59
mês da mulher
Superação Nascida no interior de Minas Gerais, a deputada Luzia de Paula (foto) foi criada em uma casa onde as mulheres eram a maioria e, por isso, encarregavam-se de “papéis que não tinham meninos para assumir”. Dos onze irmãos da parlamentar, apenas três eram homens. Sendo assim, aos sete anos, foi escalada para trabalhar ao lado dos pais na lavoura. Esse foi um fator importante para que Luzia não temesse os desafios da vida e nem recuasse diante das barreiras impostas ao “sexo frágil”. “Na minha família, o machismo não imperou muito, mas por força da circunstância. As meninas tinham que ir para roça lavrar terra, mexer com gado, que eram atividades consideradas masculinas e tínhamos que cumpri-las para ajudar em casa”, conta. Luzia afirma que o exemplo da mãe também foi importante para a construção de uma imagem de mulher forte. “Minha mãe sempre ocupou o espaço dela. Não esperava pelo meu pai para resolver as questões pertinentes à casa e aos filhos. Era ela mesma quem resolvia tudo.” A deputada batalhou para chegar à Câmara Legislativa e fala da época em que passou necessidades: “Vim de uma família pobre de lavradores. Não faltava alimento em casa, mas todo o resto sim, vestimenta, calçado”, lembra. Em 1975, a parlamentar se casou. Então, enfrentou o primeiro obstáculo em sua vida na condição de mulher: Luzia não tinha com quem deixar os filhos para estudar e trabalhar. Apesar de interromper o sonho acadêmico para cuidar da família, o caminho seguido foi importante para que, hoje, na Câmara Legislativa, a deputada defendesse bandeiras ligadas ao desenvolvimento infantil. Moradora de Ceilândia, ela transformou a sala de sua casa em um lugar onde recebia e tutelava crianças do bairro enquanto outras mães iam trabalhar. Mantinha a creche com bazares, quermesses, rifas. Luzia sempre recebeu apoio do marido, Luiz Antônio de Paula, para realizar seus sonhos. Na vida adulta, assim como na casa dos pais, homem e mulher tiveram a mesma dificuldade para vencer na vida e ambos concluíram a aspiração de finalizar o Ensino Superior. “Os dois passaram pelo mesmo problema, tivemos que crescer juntos. Ele é um grande parceiro. Um homem que compreende seu papel dentro da sociedade”, fala orgulhosa do marido que se tornou filósofo no mesmo ano em que Luzia foi intitulada pedagoga. A estrada percorrida pela parlamentar a levou à disputa nas urnas em 2006. Apesar de não ter sido eleita deputada distrital, como suplente, Luzia ocupou a cadeira de parlamentar na CLDF durante um ano e meio. Essas eleições marcam o ingresso da pedagoga na política. Segundo ela, ainda que a participação da mulher no parlamento seja baixa, o preconceito contra o gênero feminino vem diminuindo: “Até pela questão da cota partidária. Outro evento foi a eleição de uma mulher para presidente do país. Isso ajuda a mudar essa relação cultural, para que mulheres venham, cada vez mais, ocupar espaços de poder”.
60
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
Barreiras culturais Já a deputada Sandra Faraj (foto) teve que enfrentar o preconceito de uma cultura. Nascida em Brasília e de família libanesa, a parlamentar convivia com os costumes machistas do Oriente Médio. Além do mais, na casa, as mulheres eram minoria, só três – ela, a irmã e a mãe – enquanto os homens dominavam – seis irmãos e o pai. Sandra conta que a diferença entre os gêneros estava desde as pequenas ações, como ter um namorado, às grandes iniciativas: “Tive que conquistar o apoio da minha família, ao longo dos anos, para entrar na política”. O pai de Sandra foi prefeito e militante no Líbano, mas não desejava que a filha seguisse o mesmo caminho. Para entrar na vida pública, a parlamentar contou com a ajuda de um dos irmãos, Pastor Fadi Faraj. O que a motivou foi “poder ser a voz daqueles que não tinham”. Ao lado do irmão, o desejo da deputada era de trabalhar com políticas voltadas para mulheres e famílias carentes, algo que já realizava antes de ser eleita. O projeto Sim Para Família garantia à Sandra o envolvimento com as comunidades, já que a organização promove a integração de creches, orfanatos, centros de recuperação, instituições religiosas, entidades sociais públicas e privadas. Com menos de três meses de exercício parlamentar, a deputada já tem três projetos encaminhados na Câmara Legislativa em defesa da mulher. O primeiro é um banco de empregos para quem sofre violência doméstica. “Queremos garantir que essas mulheres tenham oportunidades.” O segundo propõe punir pessoas físicas e jurídicas que
discriminarem o sexo feminino, dificultando, à empresa, conseguir concessão fiscal, financiamento ou contratos com o governo. O terceiro projeto é a cota de 30% dos cargos públicos reservados às mulheres. A última proposta da deputada está ligada também à preocupação com a entrada feminina na política. “Apesar de algumas conquistas da mulher nos meios político e social, ela ainda tem pouca representatividade e pouco cargo eletivo.” Para Sandra, o problema está na falta de apoio que as candidatas recebem. “Dados do Tribunal Regional Eleitoral revelam que, nas eleições de 2014, por exemplo, as mulheres foram 20% das candidaturas, mas só tiveram 8% do total da verba.” A solução para diminuir essa desigualdade seria “ter o mesmo tipo de financiamento na campanha de um e de outro”. A diferença entre homens e mulheres no campo político não se reflete apenas durante as eleições. Sandra Faraj acredita que a cobrança é maior de acordo com o sexo. “Esperam muito mais da gente por sermos mulheres. O olhar para cima de nós é discriminatório, como se não fôssemos conseguir.” Ela provou o contrário: foi eleita com mais de 20 mil votos, ficando na frente de 13 parlamentares homens. A dica da deputada para vencer os desafios está na frase de William Churchill: “Você nunca vai chegar onde quer se parar para atirar pedras em todo cão que late para você no meio do caminho”. “Eu sigo sempre em frente, não paro para criticar ninguém. Foco no meu objetivo, invisto nele e sempre dá certo.”
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
61
mês da mulher
Mulheres no mercado imobiliário Trabalhar com transações imobiliárias era uma tarefa destinada somente a homens. Mas essa concepção vem mudando e as mulheres já representam 30% do total de corretores | Gustavo Lúcio
62
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
C
om um perfil mais dinâmico, detalhista e criativo, as mulheres passaram a desempenhar um papel importante no mercado de imóveis. Dados do Sistema ConfeciCreci mostram que o número de profissionais femininas atuando em transações imobiliárias é cada vez maior. No primeiro levantamento, realizado em 2005, foram constatados 8,3% de participação feminina na categoria, levando-se em consideração profissionais de todo o país. Em 2011, a quantidade saltou para 33%. Segundo o Sistema, a diferença de gênero deve ser igualada em até sete anos. No Distrito Federal, essa realidade não é diferente. Dos 12 mil registros profissionais ativos no Conselho Regional de Corretores de Imóveis do DF (Creci-DF), 3,6 mil são de mulheres – cerca de um terço do total, índice parecido com o nacional. “Antigamente, a corretagem de imóveis era vista apenas como profissão de homem, concepção que está mudando com o passar dos anos. As mulheres estão descobrindo cada vez mais sua independência e a necessidade de crescer profissionalmente, até mesmo para contribuir com o orçamento familiar”, explica o presidente do Creci-DF, Hermes Alcântara, que também acrescentou que, do total de mulheres na corretagem de imóveis, a maior parte possui idade entre 34 e 43 anos. Segundo Sonia Amaral Ruscher, corretora de imóveis há 25 anos, a mulher tem vários compromissos: ser mãe, avó e ainda cuidar dos clientes como corretora. Mas para se manter no mercado, elas têm de de-
mostrar que conseguem realizar várias tarefas sociais e profissionais ao mesmo tempo: “Por sermos mulheres, temos que provar três vezes mais que somos capazes para superarmos os homens. Atualmente temos múltiplas funções e conseguimos realizar todas, sem deixar a família, a vaidade e a vida social de lado”. Os profissionais imobiliários são responsáveis pela intermediação de imóveis, tais como a compra, a venda e o aluguel. No caso das mulheres, as características naturais delas se tornaram requisitos essenciais ao segmento, principalmente para clientes exigentes. “Eu me identifiquei com o mercado e acho ele vem se identificando com as mulheres. Desde 1991 tive apenas um cliente que não me aceitou como profissional para transação imobiliária. Mas hoje vejo que os clientes confiam mais nas corretoras, por realizarmos todas as tarefas e conseguirmos finalizar todas sem dar prejuízo às partes”, declarou a corretora Izabel Cristina. Para o especialista em vendas e gestão Diego Maia, mesmo com as diferenças de gênero que existem no mercado imobiliário nacional o certo é evidenciar o bom profissional independente de sexo, cor, religião ou convicções políticas. Porém as mulheres possuem visão bem diferente dos homens: “Enquanto os corretores de forma geral se preocupam com os fatores concretos na hora de mostrar o imóvel, as corretoras tentam sensibilizar os clientes sobre como ele vai se ver morando naquele apartamento ou casa. As abordagens delas são subjetivas e emocionais, enquanto as dos homens são mais palpáveis e realistas. Eu prefiro ficar com a abordagem das mulheres”, finalizou.
Creci no mês das mulheres Para comemorar do Dia Internacional da Mulher, a Associação de Corretores de Imóveis (ACI) e o Creci-DF realizaram um concurso de beleza entre as profissionais do Mercado Imobilário, o Miss Corretora 2015. Participaram do evento, inédito no Brasil, oito concorrentes. “O objetivo é destacar a feminilidade e a simpatia das mulheres corretoras, trabalhadoras e guerreiras do mercado de imóveis do DF”, afirmou
a representante da Diretoria Feminina do Creci-DF, Vilma Vaz. A vencedora foi Kilma Araújo, corretora desde 2007. “Não esperava que, aos 50 anos, fosse ganhar um concurso de beleza. Existem muitas mulheres lindas atuando. Estou muito agradecida”. Graças ao sucesso da primeira edição do Miss Corretora, o evento fará parte do calendário anual de eventos do Conselho.
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
63 63
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
FUGINDO DAROTINA
aqui Estamos | Carolyna Paiva
Foto: Magnun Alexandre
64
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
C
om apenas duas muletas e uma mochila, a jovem deficiente física de 21 anos explorou o leste africano. Por trás do cenário, várias famílias buscando se encontrar. Essa era a situação de Jéssica Paula (foto) em agosto de 2012. Enquanto fazia intercâmbio na Espanha, a estudante decidiu conhecer o Marrocos à turismo, mas não imaginava encontrar, no país, refugiados de regiões vizinhas. De frente a esse quadro, a maioria das pessoas continuaria o passeio, mas Jéssica, que sempre gostou de escrever sobre casos únicos, quis conhecer a fundo os relatos marcantes daquele povo. O interesse aumentou ainda mais ao perceber a escassa biografia sobre o assunto. Estava decidido: iria a lugares pouco explorados e documentados por estrangeiros para conhecer ditaduras, ainda em vigor, e conversar com os protagonistas dessas histórias. O primeiro destino foi a Etiópia em maio de 2013. No país, conversou com vários moradores dos campos de refugiados. A maioria vinha de um estado do Sudão, chamado Nilo Azul. Já de início, houve grande surpresa, porque “eu imaginava que eles procurassem esses espaços para ter uma vida
melhor. O que acontece, na maioria das vezes, é uma fuga de milícias que matam, estupram e sequestram pessoas. Eles passam meses fugindo ou perdidos em vilarejos e florestas até que alguém os acha”. Apesar da angústia, foi na Etiópia que a jovem ouviu de uma refugiada a frase de incentivo a continuar desbravando a África: “Então, quando voltar para o seu mundo, conte para eles que estamos aqui.” E ela entendeu que, se não conseguia mudar aquela situação, poderia contar sobre isso. O contato com os sobreviventes incentivou Jéssica a seguir em frente. Entender onde e como esses ataques aconteciam determinou a próxima parada: o Sudão. Explorar o novo território não foi tão fácil como a jovem gostaria. Além das dificuldades que limitavam a caminhada, como o dialeto árabe e o calor de 52 graus – que derreteu as borrachas de sua muleta –, a ditadura estabelecida pelo governo proibia o acesso a vários locais. “Lá não pode estrangeiro. Nem a Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras podem entrar dependendo da região”, declara. No entanto, ela não se permitiu parar. Disfarçada de mulçumana, religião predominante, chegou a Nilo Azul, estado que enfrenta uma guerra civil entre o Sudão e Sudão do Sul. Na área, foi possível vivenciar a dor local, ao entrar em contato com crianças soldados – meninos de 7 a 15 anos que lutam em guerras – e suas famílias vítimas dos ataques. Entretanto, rapidamente foi descoberta por um oficial. Em menos de 24 horas, Jéssica guardou em fotografias um dos poucos registros existentes do local nos dias de hoje. O destino seguinte foi o Sudão do Sul, lugar muito afetado por conflitos. A cultura cristã e a falta de energia no país inteiro chamaram a atenção de Jéssica. “Eu não tinha dinheiro para hospedagem, então fiz amizade com uma moradora. Assim, pude sentir como eles vivem. Existem trincheiras dentro de casa e lugares específicos para reservar comida. Ou eles defendem a família da guerra ou participam dela.” Como mulher, deficiente física e estrangeira, não faltaram desafios. O véu, utilizado na maioria das regiões, não ficava no lugar por causa do vento. “Você é mais respeitada com o véu, mas era muito difícil segurar a muleta e aguentar o calor e o vento. Mas com certeza o pior era infraestrutura” comenta Jéssica. Sem água encanada, banheiros e luz, os banhos eram com balde e caneca e um buraco no chão atendia as necessidades físicas. Alimentar-se era caríssimo, porque a guerra impedia produções agrícolas, logo tudo era importado. Para piorar, o sistema bancário brasileiro nem sempre era reconhecido nos países. A última parada foi em Uganda, onde aprendeu grandes lições. Na região, conheceu ex-reféns de um dos dez criminosos mais procurados no mundo pela Corte Penal Internacional Joseph Kony. Entre os fugitivos estavam a ex-enfermeira e um adolescente de 18 anos que fora sequestrado aos sete. O ponto culminante para a saída de Jéssica foi contrair malária. Passados cinco dias após a re-
cuperação, pegou um avião para a Europa e logo estava de volta no Brasil. “Minha família não tenta mais impedir, mas não incentiva. Até hoje minha mãe lê reportagens e descobre coisas.” O grande apoio, segundo Jéssica, veio da esposa Thailyne Araujo: “Na viagem, ela era meu suporte e refúgio, eu falava tudo com ela. Foi uma das poucas que me incentivou”. Depois de dez meses, a aventura virou um livro com fotografias e informações sobre as vivências e conflitos na região e, principalmente, histórias dos personagens encontrados. Para concretizar o projeto e imprimir mil livros, a jovem investiu em um sistema de “vaquinha virtual”, conhecido como crowdfunding , em que buscou arrecadar R$ 15 mil reais. Ao todo, conseguiu R$ 17.575, dinheiro que promete levar a história adiante. Após dois meses na África, Jéssica se comove ao lembrar o que passou. O fato mais emocionante compõe o último capítulo do livro. Ainda no início da viagem, um refugiado da Etiópia chamado Bruno a perguntou se ela tinha família. Surpreso com a resposta assertiva, ele questionou: “Eles te amam e estão esperando você?”. Ao entender a situação, a brasiliense encheu os olhos de lágrimas, então o africano completou: “Você tem muita sorte”. Hoje, depois de tudo o que enfrentou, ela tem certeza – é muito sortuda. Imagens do arquivo pessoal de Jéssica Paula
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
65
Receita do Chef Para o mês de março, o chefe Waldeone preparou umas das especialidades do restaurante La Tambuille: o filé ao molho funghi acompanhado de um risoto de parmesão. Ingredientes para o Molho Funghi 25 funghi porcini secchi 1 xícara (chá) de vinho tinto seco 1 xícara (chá) de caldo de carne (molho roti) 1 cebola média picada 2 dentes de alho 1 colher (sopa) de farinha de trigo (se necessário) 1 colher (sopa) de manteiga Mergulhe os cogumelos no vinho e reserve por uma hora. Numa frigideira, refogue o alho e as cebolas na manteiga em fogo baixo. Acrescente os cogumelos cortados e mexa devagar. Depois, dissolva a farinha no vinho e adicione ao molho. Continue adicionando o vinho (o mesmo utilizado para hidratar os cogumelos, coado) e o molho roti e deixe engrossar. Ingredientes para o Risoto de parmesão 3 xícaras (chá) de arroz para risoto 300 g de queijo tipo parmesão em pedaço 2 cebolas médias 4 dentes de alho 1colher (sopa) de manteiga 7 xícaras (chá) de água com caldo de legumes (molho consomê) Óleo Sal a gosto Frite o alho e a cebola na panela com óleo. Acrescente o arroz e deixe-o fritar por um minuto. Acrescente o molho consomê em etapas para que o arroz não fique seco. Despeje aos poucos o queijo ralado e no fim acrescente a manteiga. Foto: Wagner Augusto
66
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015
TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS Ed. 35 março de 2015 ::
67
68
:: TENDÊNCIAS E NEGÓCIOS - Ed. 35 março 2015