PUBLICAÇÃO IEME COMUNICAÇÃO distribuição dirigida e gratuita
Curitiba/PR
_NÚMERO 03
jul/ago/set 2009 _revistainventa.com.br
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ENTREVISTA
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DEDO NO PULSO _Rico Lins
por_ISADORA HOFSTAETTER fotos_TÉO PITELLA
O trabalho de Rico Lins é uma das veias pulsantes do design gráfico. E é, sem dúvida, a veia brasileira com maior representatividade na área, tanto aqui quanto no exterior. Com 30 anos de carreira e um portfólio que inclui capas para renomadas publicações internacionais como Time, Newsweek, BIG, além de revistas nacionais como Bravo, este carioca que habita em São Paulo é defensor não de um estilo, mas de processos de criação. Designer que fez sua primeira capa ainda aos 17 anos para o jornal Opinião, Rico Lins é formado pela ESDI – Escola Superior de Desenho Industrial – e tem ninguém menos que o jornalista Zuenir Ventura como orientador de seu projeto final de faculdade. Em 1982, começou a produzir capas para a revista alemã Kultur Revolution, que o adotou como designer oficial e já publicou mais de 50 capas suas. À frente do + Studio, localizado na capital paulista, Rico Lins desenvolve projetos em conjunto com uma equipe enxuta e jovem. Buscando qualidade de vida, hoje não possui mesa fixa e não precisa deslocar-se de carro para trabalhar; apenas descer as escadas da casa, com portas e janelas amarelas, que é, além de residência, escritório.
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INVENTA - A CAPA DE UMA REVISTA ATUA COMO ROSTO DA PUBLICAÇÃO. O QUE VOCÊ LEVA EM CONTA QUANDO CRIA? Rico Lins É necessário ter uma ligação, até por conta do conteúdo que a imagem carrega. Não dá para ter uma postura muito decorativa. Quem faz a capa tem papel importante no processo de informação. As capas requerem que você mergulhe no tema. É difícil conseguir fazer uma capa que não tem nada a ver... e o que vai diferenciar é a forma como o designer trata o tema da publicação. Aí, sim, entra a visão pessoal, mas que é calçada em cima de um conteúdo editorial. Têm alguns outros divisores de águas, por exemplo, qual é o público, já que o trabalho gráfico deve ser pensado para um público específico. A periodicidade também influencia. Outra coisa é tentar usar ao máximo a capa como espaço de opinião, possibilitar que a imagem passe a opinião do designer. Isso tudo, pra mim, é muito mais importante do que o estilo. Até porque, se me prendesse a um estilo único, não teria feito todas as capas da Kultur Revolution. A revista não é minha, é outra. Eu navego em diferentes formas de expressão, seja ilustração, seja foto, seja o que for, mas sempre varia muito de uma capa para outra. Minha contribuição sempre foi muito envolvida com a publicação e busco preservar uma opinião editorial ou trabalhar de tal forma que a imagem não funcione apenas como um suporte para o texto. Procuro fazer com que a imagem tenha uma autonomia e fale por si só. Têm capas, como as da Newsweek, que eu era chamado para apresentar uma ideia e aquela ideia, que originalmente pensava em apresentar em forma de ilustração, acabava virando uma foto. Assim, assinava a direção de arte da revista.
IVT - A QUESTÃO DA PERIODICIDADE INFLUENCIA NA PRODUÇÃO APENAS PELO PRAZO? RL Se você pega uma revista mensal, o prazo é maior. No caso da semanal, a pressão é bastante grande, já que são de dois a três dias pra fazer a capa. E isso significa não só realizar a capa, mas submeter as ideias, ter a aprovação do editor... tem idas e vindas. Quando você pega publicações como a Newsweek e a Time, a estrutura de produção é muito industrial, já que são revistas semanais para quatro mercados diferentes (americano, sul-americano, europeu e asiático) e que, às vezes, coincidem de terem a mesma capa, porém nem sempre. Têm capas que são feitas especificamente para o mercado asiático, por exemplo. Lembro de uma colagem que fiz com uns olhos para a Time e foi uma legião de advogados atrás de mim para saber sobre os direitos dos olhos. Eles acionam isso tudo na hora para averiguar se o olho do fulano de tal não permite reconhecimento, para evitar que alguém processe a revista... então, fazer uma capa dentro desses termos é realmente uma operação de guerra. Além disso, como essas revistas também não podem correr o risco de não ter uma capa pronta por semana, elas são encomendadas, normalmente, a duas ou três pessoas. No esquema da imprensa editorial semanal americana, tem revista que chega a ter uma produção de 30 capas por semana. IVT - COMO UMA CONCORRÊNCIA? RL Não é nem uma concorrência. Eles têm que se calçar e ver o que funciona melhor. E nem sempre as revistas correm com um tema só. Eles sempre têm um tema e outro sobressalente. Às vezes, ocorrem coisas inesperadas como o avião que cai, o crime, coisas que acontecem, que fazem o planejamento editorial mudar, como a morte de Michael Jackson.
O óbvio não vende revista, não chama atenção na banca, não é informação. ENTREVISTA_ Rico Lins
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IVT - E A DIVERSIDADE DE PÚBLICO? RL Tem gente que, se faço uma coisa, interpreta outra. E isso é bom porque é sinal que você fez a pessoa pensar, mesmo que não seja exatamente o que você havia colocado. Trabalhar muito com clichê também é positivo na medida em que há garantia de comunicação clara, mas deve haver o cuidado de aproveitar isso para poder trazer uma luz nova ao clichê, porque senão fica óbvio. E o óbvio não interessa a ninguém. O óbvio não vende revista, não chama atenção na banca, não é informação. É preciso deixar uma porta aberta para a reflexão do leitor. Se você dá tudo muito mastigado, como a publicidade normalmente faz, a pessoa automaticamente se sente excluída daquele processo. A gente precisa valorizar a inteligência do leitor, fazer o cara pensar um pouco. As capas não são respostas: são até mais perguntas do que realmente respostas. O tema tratado existe dentro de um contexto, uma história gráfica, e é realmente importante levar em consideração tudo isso. Ainda mais porque o design gráfico, e sobretudo o design gráfico para a mídia impressa, tem uma importância muito grande na formação de repertório. É necessário passar informações, as mais variadas possíveis, mesmo que condensadas em uma imagem só, sabendo que todos os tipos de público vão estar vendo aquilo. A capa pode comunicar tanto com um garoto ou com um adolescente, como ter uma informação que não passa para eles, mas passa para outra pessoa com outro tipo de repertório. São camadas de leitura da capa. Trabalhar com isso enriquece. Na publicidade isso é mais complicado, há um compromisso maior com a obviedade. IVT - HÁ LIBERDADE PARA CRIAR? RL Liberdade você cava, né? É necessário argumentar bem e, dependendo do editor ou do diretor de arte, isso flui super tranquilo. Tem uma questão da educação do olhar, a educação visual. É preciso saber ver. Muitas vezes, as pessoas veem a imagem, mas não veem o que está por trás dela e, aí, é necessário argumentar e contextualizar. Têm pessoas que já contextualizam com o olhar, deixando tudo mais fácil. Agora, têm outras que dão um trabalho danado. IVT - EXISTE ALGUMA CAPA QUE TENHA MARCADO MAIS? RL Vejo cada capa de um jeito diferente. Mas todas têm uma história para ser contada. Mais uma vez, isso depende muito do perfil do público, da forma. Às vezes, é uma história da produção: a solução da capa vem da relação de criação do momento que a capa está sendo feita. Às vezes, é uma relação feita com o tema, a forma como o designer absorve aquele tema. Têm outras em que o mais importante é o retorno do público, que é uma surpresa. Às vezes, as pessoas veem ou se relacionam com coisas que em princípio não eram as principais para você, mas que de repente aquilo chama a atenção para alguém. O mais legal é que essa coisa de importância independe da publicação. Qualquer capa pode marcar, tanto a capa da Newsweek quanto da Bravo, das revistas de moda ou da Inventa.
IVT - E COMO É SEU PROCESSO DE CRIAÇÃO? RL Não tenho um método no sentido linear. O processo de criação para mim é conseguir entrar no tema e encontrar um caminho de diálogo com ele de alguma forma. Quando você encontra isso, e que às vezes não vem imediatamente, é possível definir o conceito de capa. Primeiro é preciso ter claro o conceito. Depois você faz. Normalmente fazer é mais fácil do que pensar, então costumo pensar bastante antes para ter algumas soluções e ideias e ver qual delas se sustenta melhor. IVT - A EXPOSIÇÃO “UMA GRÁFICA DE FRONTEIRA”, QUE ACABA DE SER ENCERRADA NO INSTITUTO TOMIE OHTAKE, FOI UMA CELEBRAÇÃO DA SUA CARREIRA? RL Para mim, foi uma possibilidade de reflexão em cima do trabalho, de poder conviver em um espaço definido, várias coisas que foram produzidas. Alguns trabalhos foram feitos com distância muito grande de tempo, mais de 20 anos de diferença. Foi a possibilidade de ver como esses trabalhos antigos e os atuais conseguem dialogar, e mais, poder perceber como o público interage com isso. Muitas vezes você não tem o feedback do público, ele pode vir filtrado, algum amigo fala, o editor fala ou você reflete e pensa alguma coisa, mas as pessoas não têm muito o hábito, a não ser que a pessoa seja da área, aí fica comentando a capa de uma revista ou de um livro. Para mim, foi uma certa celebração, sim, no sentido de confirmar um compromisso criativo. A intenção é levar esta exposição para outras capitais, inclusive Curitiba. IVT - VOCÊ SENTE FALTA DO RETORNO DO PÚBLICO? RL É sempre bom. Fiz uma capa para a revista BIG, uma revista europeia, e essa capa era uma edição brasileira. Eu tinha que falar sobre o Brasil. Eu não queria falar do Brasil para inglês ver, queria ter uma visão do Brasil mais sintética, com elemento de sensualidade, de cor, de natureza, alguns atributos brasileiros sem cair no clichê. Então, eu acabei usando a imagem de figo cortado. Essa imagem sintetiza tanto a coisa da cor, quanto a coisa da natureza, da sensualidade... é meio erótica, é uma imagem que condensa várias coisas. Ao mesmo tempo que essa capa foi super bem recebida em vários lugares de artes, teve donos de bancas de jornal que não a colocaram exposta porque consideraram a capa pornográfica! Então como é que você vai saber? Ter a informação do público para mim é o máximo porque eu penso “poxa, a pessoa viu ali dentro o que ela está a fim de ver”.
IVT - CONNEXIONS>CONEXÕES É A PRÓXIMA EMPREITADA? RL Essa exposição é uma contrapartida da Brasil em Cartaz - exposição que eu fui convidado a montar em 2005, no ano do Brasil na França, em uma cidade chamada Chaumont, onde eles têm uma das maiores coleções gráficas, sobretudo cartazes. A exposição deles deve ter uns 40 mil cartazes. Eu fui convidado para levar uma exposição de cartazes brasileiros para lá. O cartaz brasileiro é “o primo pobre” do mundo gráfico brasileiro. São muito híbridos e é exatamente esta a característica que faz com que sejam interessantes. Eu organizei essa exposição lá, e agora eles queriam que alguma coisa acontecesse aqui no Brasil. Neste ano que é o ano da França no Brasil, estou fazendo a curadoria com a ajuda da Christelle Kirchstetter - que foi quem dirigiu o Polo de Grafismo de Chaumont. Vão ter dois eventos: um no Instituo Tomie Ohtake, que vai ser uma exposição dos cartazes da coleção histórica de Chaumont. Nesta exposição têm questões de controle de clima, de segurança, até porque cartazes raros fazem parte, um Toulese-Lautrec, enfim, cartazes desde o século XIX até os contemporâneos. Há o outro lado do evento que acontecerá no SESC Pompéia, que utiliza um pouco da atitude e atuação de Chaumont, que é a criação de residências para designers e trabalhos do dia a dia do design gráfico. Uma coisa mais voltada ao acompanhamento, desenvolvimento do design. Aí, a gente resolveu fazer alguma coisa que fosse um pouco “o dedo no pulso” do que está acontecendo agora. Nós selecionamos dez franceses e dez brasileiros, grupos ou individuais, para estabelecer durante dois meses esse diálogo criativo. Cada um vai ter espaço na exposição, vai ter também workshop, seminário, conferência e outras coisas acontecendo.
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IVT - E COMO FOI A ESCOLHA DOS PARTICIPANTES? RL Eu queria primeiro buscar trabalhos que tivessem uma característica de certa forma autoral, que não fosse uma simples resposta a uma demanda de mercado, mas que fosse possível entender um pouco como conseguir articular uma ideia autoral e, ao mesmo tempo, ter mercado. Uma outra etapa da seleção era envolver pessoas que estão trabalhando na área, mas não são necessariamente consagradas, que tenham um trabalho desenvolvido, mas que não tenham nenhum medalhão. Eu acho isso legal, pegar essa moçada para mostrar o que é que está acontecendo. Na escolha brasileira, eu também fiz questão de abrir um pouco o leque, então tem gente de vários lugares, tem São Paulo e Rio, mas tem também Porto Alegre, Recife. Outra coisa era variedade: tem gente que trabalha com o impresso, com intervenção urbana, com mídia eletrônica, e outras coisas. A ideia é colocar todos esses designers para e ver o que acontece. O design é que faz isso, de misturar tudo. A arquitetura faz um pouco, a literatura faz também, mas faltam as artes visuais.
O design é cultura, não é só mercado ou tecnologia.
IVT - COMO É O MERCADO EXTERIOR, EM COMPARAÇÃO COM O BRASIL? RL Eu acho que não dá para dizer que o Brasil é a bola da vez, mas o país está ocupando um espaço muito interessante. O grande problema está no fato de como a gente se reconhece. “Ah, o trabalho brasileiro é internacional”. Existe essa preocupação de fazer parte do que está lá fora quando, na verdade, a gente faz parte até o osso do que está lá fora. Nós somos um país colonizado, um país que é uma mistura de informações, um saco de gatos. O Brasil sempre foi global. O compromisso maior é no sentido de tentar trabalhar, valorizar e perceber a nossa forma particular de resolver a questão da identidade cultural que é múltipla, que é confusa, toda fragmentada. Mas é exatamente isso que eu acho que dá força para o trabalho criativo brasileiro. É um olhar fresco do ponto de vista do trabalho criativo. E o design, em todas as áreas (gráfico, produto, moda ...), tem conseguido qualidade sem que necessariamente ela seja comparada com a qualidade lá de fora. Estamos sendo mais proprietários de alguns atributos, reconhecendo qualidades nossas. Tem também a questão da história gráfica brasileira. Houve um momento em que teve muita defasagem tecnológica e de repente isso teve uma aproximação grande. Mas a linguagem gráfica é cultural. O design é cultura, não é só mercado ou tecnologia. Aí as informações passam a ter um valor muito grande.
IVT - ESSA IDENTIDADE BRASILEIRA ESTÁ PRESENTE EM SEU TRABALHO. RL É, e nos processos também. Acho que nós temos essas referências, não só essas da cultura de massa brasileira, mas a cultura de massa em geral. Existe uma coisa interessante que é uma transgressão: quando você usa uma referência de um determinado contexto para falar de outro contexto. Áreas de atrito são sempre interessantes do ponto de vista criativo. De repente usar com a Carmen Miranda alguma coisa que não tem nada a ver com a Carmen Miranda. E isso é um olhar brasileiro. O Brasil faz essas misturas, sempre fez e sempre vai fazer isso bem feito. A característica de identidade, para mim, se resolve mais no processo do trabalho do que nos elementos usados para compor este trabalho ou no resultado final dele. Por exemplo, essa coisa de reutilização de material, de reciclagem, de usar papel para embrulhar comida: são apropriações que nós (brasileiros) fazemos. IVT - HÁ ALGUM TEMPO, UMA FRASE SUA FICOU CONHECIDA: “A PERFEIÇÃO É PÉSSIMA”. ELA CONTINUA SENDO PÉSSIMA? RL Há esse compromisso com a perfeição sem questionar isso. Primeiro porque se você vai buscar a perfeição, você vai morrer louco, não dá. Segundo porque não adianta acreditar nessa perfeição, pois ela não existe. A perfeição é fria e o incompleto é muito melhor que o completo porque o incompleto é includente. Quando a coisa não está completa, a pessoa tem um espaço para entrar nela. É tão fechado que o cara diz não tenho nada a ver com isso”. Ninguém mexe nas coisas perfeitas. O perfeito é péssimo porque ele corta uma possibilidade de comunicação, que é chamar a pessoa para a conversa. É importante sempre preservar um espaço, que é o espaço para o acaso, para o que dá errado, para uma interpretação que não é a sua. Ter um espaço aberto no sentido de incluir o olhar do outro para que ele complete esse olhar. Nesse sentido, a perfeição continua sendo péssima (risos).
ENTREVISTA_ Rico Lins
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IVT - SEU TRABALHO É REFERÊNCIA. QUEM SÃO SUAS REFERÊNCIAS? RL Tenho várias. Mas, cada vez mais, a referência sou eu. A forma como vejo o design, usar um trabalho de um soviético do começo do século passado e ao mesmo tempo uma tipografia experimental feita por um cara de não-sei-onde e colocar essas duas coisas para conversar. Existe influência das duas, certo? Isso é muito característico. Agora, as coisas que mais gosto, visualmente, são os trabalhos mais autorais e não executivos. Eu também sou muito curioso, então, estou sempre tentando pegar coisas de outros lugares. Existem influências simultâneas. Desde misturar o pop americano com o construtivismo russo, com a literatura de cordel. É difícil saber realmente o que me influencia, depende de cada projeto. Eu tento deixar essas influências o mais explícito possível. Se estou fazendo um trabalho que se refere a determinado momento da história ou determinada situação, procuro deixar bem explícito que é aquela influência, que é aquilo lá que está na roda. Não tento ficar disfarçando e fazendo um sub-polonês ou um pseudo japonês, entendeu? IVT - PARA VOCÊ, QUEM SÃO OS EXPOENTES DA NOVA GERAÇÃO DO DESIGN GRÁFICO BRASILEIRO? RL O mercado de design cresceu muito ultimamente. Tem muitas escolas produzindo designers, não só no Brasil. Isso veio na carona do Desktop Publisher, na carona das mídias digitais, com o uso diferenciado das ferramentas. Mas a maior parte das escolas ainda está concentrada em ensinar software, são poucas as que ensinam a pensar. Os trabalhos mais interessantes são os voltados para o mercado de cultura, até porque há uma maior flexibilidade de compartilhar um repertório do que quando a coisa é muito voltada para uma ação de marketing, onde há uma limitação. O que é errado, né? Não é porque você está fazendo uma coisa voltada para o mercado, para vendas, que tem que fazer uma coisa mais fácil, entendeu? Acho que, pelo contrário, têm trabalhos que conseguem marcar exatamente porque são inesperados. E eu acho essa surpresa fundamental!
Tenho visto muita moçada trabalhando com street art e trabalho gráfico. Existe também uma atenção cada vez maior para uma reflexão, um espaço de crítica de design que não existia antes. Do ponto de vista do mercado editorial, tem muita coisa boa acontecendo com livros. Na linha de cartazes, não temos tantas pessoas trabalhando, mas pelo fato de conseguir imprimir um cartaz digitalmente, não mais no offset, e ser possível fazer pequenas tiragens, abriu uma brecha e também influenciou para que o cartaz fosse visto como mídia. Por outro lado, no trabalho editorial para revistas, sinto limitações. As revistas acabam tendo que brigar muito em banca e, muitas vezes, as capas estão na base da obviedade. É difícil hoje encontrar capas que você diz “puta, que capa”! Essa coisa de misturar um pouco as mídias: o cara faz um design para exposição, trabalho impresso, ele também é VJ e está trabalhando com tipografia em roupa. Esse tipo de mistura de expressões é uma coisa que está cada vez mais presente. E essa moçada que falamos que vem para o Connexions>Conexões tem essa característica, moçada nova com 20, 30 anos no máximo. No Rio, se não me engano, tem um grupo chamado Cubículo Bacana e outro chamado Arterial que são bem legais. Em São Paulo tem o Bijari, um coletivo com uns dez caras trabalhando com arquitetura, interação urbana, gráfico, muito interessante. Do ponto de vista editorial tem a Elaine Ramos da Cosac Naify, que é uma pessoa que vai fazer parte da exposição Connexions>Conexões. E não só ela, mas toda a atitude da Cosac é super louvável porque você tem capas - o reposicionamento do livro, não só como conteúdo, mas como produto. Você compra porque é bonito, é legal e você quer ter aquele negócio. O livro passou a ser um produto mais experimental. Tem um trabalho interessante também sendo feito com tipografia digital, que são mais imagéticas. As pessoas conseguem fazer sua própria fonte, então, passa a ter uma coisa mais autoral. Bom, de tendência, acho que é por isso aí. Tem muita gente, mas de qualidade são poucos, o mercado é bem restrito.
Áreas de atrito são sempre interessantes do ponto de vista criativo.
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