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País em momento de expectativa

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Fórmula E

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SÓ DEPOIS DE 3 MESES GOVERNO DÁ 1º SINAL FAVORÁVEL COM ‘ARCABOUÇO FISCAL’

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AMARRAS QUE PRENDEM ECONOMIA É O QUE MAIS PREOCUPA

FALAS DO PRESIDENTE LULA DA SILVA NÃO FAVORECEM CENÁRIO

Até semana passada, com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva completando três meses, nenhuma ação econômica minimamente planejada constava na agenda do Planalto. Ao menos, nada à altura do que pode ser considerado em patamar de política pública.

Numa observação um pouquinho mais exigente, que nem de longe se afigura a algo rigoroso, a verdade é que o conjunto de projetos destinados ao importante setor deveria estar pronto – ou nos últimos retoques – ao término da fase de transição.

E pior: como o ex-presidente Jair Bolsonaro prati- camente não cumpriu o dever de comandar o país até o último dia de mandato, ausentando-se quase por completo nos meses de novembro e dezembro, a transição ganhou status de governança. Em outras palavras, a gestão Lula, de certa forma, começou dois meses antes.

Criando 14 ministérios a mais – o que, obviamente, eleva a despesa pública e contrasta com um Brasil que precisa desesperadamente conter gastos – as primeiras semanas do novo governo foram de desequilíbrio e desconexão.

Todos batendo cabeça com todos. Brigas internas reproduzidas na mídia – como a falta de enten- dimento entre a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad – e o presidente Lula indo na contramão do mercado, ampliando a instabilidade num segmento de elevada sensibilidade como o econômico-financeiro.

Assim, o que deveria ter chegado lá atrás, enfim foi anunciado. O novo arcabouço fiscal, em linhas gerais, limita o crescimento das despesas públicas à inflação.

A nova regra que substitui o teto de gastos está relativamente alinhada com a expectativa do mercado – porém longe de ser uma unanimidade. Mas, de toda sorte, já é alguma coisa.

O custo dos erros e do atraso Dificuldades na área política

O conjunto de normas apresentado pelo governo teria sido tanto melhor se anunciado nas primeiras semanas. Daria uma perspectiva ao mercado financeiro e tiraria a tensão que gera insegurança e tem pesados reflexos sobre a economia.

Contudo, pior que a demora, foi a sucessão de erros a partir das falas confusas do presidente Lula da Silva. Além de desagradar o agronegócio – um dos pilares da economia nacional – criticou o teto de gastos sem, entretanto, apontar um substituto, como agora se fez com o arcabouço. Relembrou o PAC, cogitou mudanças na reforma trabalhista e sugeriu o consumo popular para que a economia girasse. A reação do mercado financeiro e do setor produtivo foi ainda mais ruidosa com a fala presidencial de que o governo poderia reavaliar a autonomia do Banco Central.

Como resultado dos erros em série, além do fechamento de lojas de diferentes setores, fábricas, concessionárias, agências bancárias, etc., as frequentes quedas da Bolsa sacolejaram o mercado. O ‘conjunto da obra’ recebeu críticas de alguns dos economistas mais conceituados do país, entre os quais Armínio Fraga, Edmar Bacha, Henrique Meirelles e Pedro Malan. Em carta aberta ao presidente Lula, Bacha, Fraga e Malan advertiram nas últimas linhas do texto que “O desafio é tomar providências que não criem problemas maiores do que os que queremos resolver”.

Em geral a área econômica funciona como pré-condição à vitalidade das demais. Mas, também, é um terreno onde as previsões nem sempre se confirmam – sejam para melhor ou pior.

Em 2015/16 projetava-se que o país levaria anos e anos para livrar-se da pior recessão de sua história. Mas não foi assim. Dois anos depois a crise começou a dar sinais de arrefecimento com a queda da inflação, dos juros e do desemprego. Na política a situação não é diferente. Ao contrário, costuma mudar num piscar de olhos.

O presidente Lula amarga o pior momento desde o início do governo, em particular depois da infeliz fala de que poderia ser “mais uma armação do Moro”, quando o plano para assas- sinar o ex-juiz já vinha sendo investigado pela PF há meses.

Para ilustrar a fase ora vivida pelo mandatário, vamos ao que publicou o jornalista Merval Pereira, de O Globo, no último dia 28, em artigo com o título “Lula hoje é minoria”. Em destaque... “Lula não cumpre o que prometeu na campanha ao centro e não tem superpoderes, como pensa que tem”.

Logo no primeiro parágrafo, observa: “O presidente Lula está tendo um choque de realidade. Durante a campanha, fez sinais de que era um outro homem e queria unir o país. Sabia que precisava desses argumentos para ganhar a eleição. Obteve uma vitória pela menor margem de votos na história recente do país e hoje é minoritário, não tem como negar”.

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