Bahia é mesmo um lugar abençoado! Mar clarinho, céu azul... É tanta natureza!
E nós cuidamos dessa natureza todos os dias. Com as nossas mãos. Com o nosso trabalho.
É um orgulho só, painho! Quero aprender logo tudo o que preciso.
Fazenda Santo Anjo
Pode deixar que eu te ajudo, filho. Te ensino tudo sobre a nossa empresa, sobre o nosso cacau!
Ó paí ó, é só o que eu quero! O senhor é massa!
Filho, olha só pra essa fazenda!
Eita, é coisa demais, painho!
É na Luz do Vale que fermentamos as sementes do cacau. E tem cochos e barcaças só pra cacau orgânico! Em poucos meses, a fazenda Santo Anjo também vai ter local pra secar as sementes no sol.
Quando o cacau tá seco, ele vai para o depósito. A gente nunca pode misturar os lotes desta fazenda aqui, a Santo Anjo, com as que vêm da fazenda Luz do Vale, sabia? Por isso quem trabalha no depósito recebe bastante treinamento. Lá a gente também tem depósitos que ficam perto da plantação.
E como faz pra plantar o cacau? A gente tem um viveiro porreta. Com tudo que é muda de cacau pra plantio.
Quero conhecer!
Pronto! Vem cá que vou mostrar pra você.
Tá vendo o tanto que essa terra é boa?
Tem tudo que a semente de cacau carece pra enraizar. As mudas são feitas em terriço da fazenda mesmo!
Oxente! Esse meu painho manja de tudo!
E para adubar?
Este viveiro aqui é só para mudas orgânicas, então a gente usa húmus de minhoca, esterco e rochas moídas para adubar.
São muitos anos mexendo com essa terra, filho. A gente aprende tudo de cor e salteado.
Pra não faltar comida pras plantas, a gente usa os adubos que são permitidos pela agricultura orgânica, sabe? Os pós de rocha e os fertilizantes naturais a gente pode usar pra aplicar na terra e nas folhas das plantas. Aqui só tem planta bem cuidada!
E a gente cuida das pessoas também... Reparou que aqui na fazenda todo mundo usa equipamentos de segurança? Pra mexer com adubação, carece de máscara, porque o fertilizante é em pó.
Quem trabalha com roçadeira usa abafadores de som, avental de couro, viseira ou óculos de proteção, caneleiras, camiseta de manga comprida e botas de borracha...
Carece mesmo?
Botas de borracha e bainha para facão.
...podão, caixa de colheita...
...É a mesma coisa pra quem trabalha com motosserra.
É claro, criatura! É muito importante se proteger. Para preparo de área, plantio, roçadas, poda, colheita e quebra de cacau, precisa sempre de equipamento de proteção:
E o tanto de ferramenta que a gente usa na área orgânica? Usa tesoura, facão...
...e pulverizador com motor e manual.
Daí depende: tá vendo onde acaba a plantação de cacau? Até ali é a fazenda Santo Anjo.
Nas divisas com os vizinhos que têm plantio, vão ser plantadas barreiras vegetais grandes, com mais ou menos 6 km.
Painho, essa fazenda é grande... Como se sabe qual terra é da nossa fazenda e qual terra é do vizinho?
E essa fazenda toda faz rotação de culturas?
Do outro lado, a fazenda faz limite com quadras convencionais internas, que não são orgânicas. Lá, vamos usar uma margem 50 metros de cacau, que é uma barreira vegetal. Aí ninguém vai poder aplicar insumos proibidos na nossa terra.
Faz não. O cacau, no sistema cabruca, é um cultivo que dura bastante. O que se faz aqui é plantar cacau junto a banana e outras frutas, que dá pra gente e para os bichos comerem. Desse jeito, nós aumentamos a vida na plantação. E, olha, aumenta tanto que ela pode viver mais de 100 anos, por isso não carece da rotação!
A cabruca é um sistema de plantação de cacau muito antigo e inteligente, filho! Tem a cobertura das árvores nativas da Mata Atlântica, tá vendo? Então nem precisa irrigar! Olha só como a terra fica protegida.
Painho, e se uma praga atinge uma dessas árvores, o que a gente faz? Isso é muito importante, filho, porque como é uma plantação orgânica, a gente não usa nenhum produto para controle de doenças.
E depois que a gente planta, como que colhe?
A safra principal começa em setembro e vai até março. Mas tem também a safra temporão, que vai de abril a agosto.
Se aparecer algum fungo da vassourade-bruxa, a gente poda e tira ele dos ramos e dos frutos infectados. Se for alguma erva invasora, o que dá pra fazer é roçar de biscó e só. Não pode usar os produtos de mata mato, não.
Rapaz, é tudo feito na mão. A gente usa o podão para cortar o fruto da árvore, que cai no chão. Depois um colega junta os frutos e faz as rumas, que, no cacau, a gente chama de bandeiras.
Aí, uns três dias depois de colhidos, tem um pessoal que quebra os frutos para separar as cascas e as sementes. Eles usam facões, que se chamam bodogos, e caixas de madeira.
Depois o cacau mole quebrado é transportado em sacos até a rodagem, onde o caminhão ou o trator vem buscar para levar para os cochos.
A gente chama a semente e a polpa de cacau mole. Os frutos doentes não se misturam com o cacau bom, que seca separado numa barcaça só pra ele. E olha só, o cacau bom não pode ir com pedaços de casca e nem com sibiras.
Oxente, painho, que arerê! É muita informação!
Calma, filho, com o tempo você vai saber de tudo. E se tiver dúvida, é só procurar nesse livrinho aqui que tem todas essas informações. Ou, pronto, me pergunta que eu ajudo você!
Quando completa um cocho com o cacau que chegou, o pessoal já anota logo o código do lote e o colega já passa pro tablet, que tem um sistema com todas as informações do cacau da fazenda.
Na área de cochos de fermentação, o cacau mole é recebido e os colegas fazem nova medição para conferir com a medida do campo.
Que moderno!
E o que acontece com o cacau mole?
Depois, o cacau fica nas barcaças ou nas estufas, que secam o cacau usando apenas o calor do sol.
Ele fica na fermentação, que ocorre em cochos de madeira por seis a oito dias. Lá, a temperatura é bem controlada para tudo dar certo.
Então, o cacau seco é colocado em sacos de 60 quilos...
...E uma amostra é retirada para análise de qualidade.
Durante todas as etapas, o código do lote tem que estar junto do cacau pra não misturar os lotes.
Precisa de muita atenção, filho, principalmente com o cacau orgânico!
O armazém de cacau orgânico é compartilhado com o cacau convencional, só que o local destinado ao cacau orgânico é exclusivo e identificado com placas.
cacau orgânico cacau convencional
Lá é tudo sequinho, tem piso de madeira, tem pallets e você não vai encontrar nenhum inseto ou um cheiro ruim. Só poucas pessoas podem entrar nesse lugar, que é exclusivo para amêndoas de cacau.
Como que faz pra manter tudo tão limpo?
Esse é o processo de higienização.
Os cochos e barcaças do beneficiamento de cacau são lavados a cada seis meses, na entressafra de cacau, mas toda semana eles são varridos. Os equipamentos plásticos são limpos semanalmente.
Os sacos saem daqui naqueles caminhões, que têm lonas e estrados limpos. E todos os lotes são registrados desde o começo do beneficiamento.
Assim temos o registro de tudo bem direitinho e podemos rastrear o produto pra comprovar que é um cacau dos bons.
Painho, os sacos de cacau já saem daqui com rótulo?
...E é lá que eles colocam rótulo de chocolate orgânico. Entendeu?
Não, filho, o produto final é comercializado sem rótulo de orgânico, porque o cacau é vendido para a fábrica de chocolate...
Oxe! Já entendi tudinho.
Agora só falta saber de papelada, essas coisas que não são da terra.
Pronto! Tá na hora de conhecer a administração da fazenda.
Olha o tanto de animal solto que tem aqui Aqui a vida selvagem é protegida! Ninguém pode caçar.
Ó paí ó! Já tá todo mundo reunido.
Os colaboradores são CLT, não tem contratação temporária e tem alguns serviços especializados, como consultoria em assessoria técnica, são terceirizados.
Sabia que você, eu e todos que trabalham aqui são contratados certinho como diz a lei?
E aquilo, painho? Pra que serve? São as caixas de reclamação, pra gente opinar se achar que alguma coisa tá errada. Tem algumas aqui na fazenda e nos ônibus de trabalhadores. Pode dar uma canetada e colocar o papelzinho lá.
Acredita que no ano que vem vamos ter até auditorias? Elas vão acontecer todo semestre e é a nossa equipe interna que vai organizar tudinho. Assim a fazenda ficar cada vez melhor!
Agora vai lá, meu filho, vai lá que esse é o primeiro dia de uma jornada porreta!
Estarrou, painho! O senhor é muito bala!
Eu não vejo a hora de começar! Já sinto que faço parte dessa história toda!
Ao senhor Rubem e ao seu filho Ricardo, colaboradores da Agrícola Conduru que inspiraram essa história. Embora os fatos narrados nesse Manual de Boas Práticas sejam fictícios, Rubem e Ricardo já passaram por muitas dessas situações na vida real e conhecem cada canto das nossas fazendas. Rubem trabalha há muitos anos com cacau. Ricardo começou no campo e hoje, aos 20 anos, estuda Administração e trabalha com o sistema de gestão de informação da empresa.