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PAGINA COM TÍTULO INTRODUÇÃO E ETC...



JAMAICA

“A RECICLAGEM É UMA CURA A FERIDA DO MEIO AMBIENTE”.

Valdir Carvalho dos Santos conhecido como Jamaica é baiano e tem 47 anos. Começou a trabalhar com a reciclagem, não por opção, mas por necessidade. Por causa de um problema com o sono, a narcolepsia, ficou quase impossível arrumar um trabalho por não conseguir ficar acordado durante o dia inteiro. A partir dessa sua condição de saúde, achou na reciclagem uma forma de sobreviver e ganhar a vida. Jamaica está em São Paulo há 29 anos. Criado em Amargosa, sertão baiano, chegou em 1988, depois de um convite do cunhado. A viagem serviu para fugir da vida difícil. “Eu vivia no sertão e ia para a cidade apenas uma vez por mês. Vim para São Paulo de ônibus”, relembrou. Na capital paulista, começou a trabalhar em uma obra, até encontrar na reciclagem um modo de ganhar dinheiro. Atrelado ao ofício, apoiou-se na filosofia do reggae - por isso, veste-se todos os dias com roupas coloridas. “O reggae me ensinou a sobreviver aqui em São Paulo. São letras que ensinam como a gente deve viver”, contou Jamaica, que é fã do cantor Edson Gomes e do jamaicano Bob Marley. “O Bob levou o nome da Jamaica para o mundo. Muito antes do Bolt.”





“O RECICLADOR MUITAS VEZES É RECONHECIDO COMO LIXEIRO QUANDO NA VERDADE DEVERIA SER CONHECIDO COMO AMBIENTALISTA. ”

Jamaica sempre morou na Vila Cisper. Lá, passou a recolher papelão na rua e, depois, fazer o mesmo no Parque Ecológico. Sua alegria é dar um rolê com o seu carro no parque onde encontra os amigos, alimenta os quatis, alem de fazer reciclagem, o que o faz se sentir em casa. Entretanto, nos últimos anos, a prática não é suficiente para cobrir todo orçamento. “Reciclagem só fica na lábia dos governantes, está acabando. Seis anos atrás eu vendia material por um preço muito mais alto. O valor do ferro caiu muito. O nosso salário é muito baixo. 50 quilos de papelão não compra um quilo de pão”.



“SOU FELIZ PORQUE SOU PRIVILEGIADO. MEUS FILHOS NUNCA ME DERAM TRABALHO E TENHO AMIGOS QUE SÃO MINHA FAMÍLIA”.

Mesmo que haja uma necessidade eminente de recicladores, o trabalho de reciclagem não é valorizado como qualquer outro, as autoridades não olham para o reciclador como um agente da limpeza e do meio ambiente. São tratados como, simplesmente, pessoas que catam lixo, sem direito a uma condução e muito menos cesta básica. “Nós que retiramos o lixo que estaria na rua, somos praticamente garis e não recebemos nenhum tipo de ajuda.” “O reciclador muitas vezes é reconhecido como lixeiro quando na verdade deveria ser conhecido como ambientalista. ” Apesar de se sentir pouco valorizado na reciclagem, o cenário muda no bairro onde mora. Por onde passa é cumprimentado, uns vem conversar e algumas mães até deixam seus filhos com ele quando precisam resolver algo longe. Divorciado, mora sozinho, apesar de ter dois filhos na faixa dos 20 anos que moram com a mãe.” Por ser muito gente boa e amigo de todo mundo, suas refeições estão garantidas no bar de um amigo de longa data que o ajuda sempre que precisa, e faz questão de não cobrar nenhum centavo.














“NÃO TENHO DO QUE RECLAMAR”. Preocupado com o futuro das crianças do seu bairro, criou um projeto para incentiva-las com a leitura. Quando consegue uma geladeira na reciclagem, a tranforma numa biblioteca móvel, e deixa em algum ponto do bairro. Na porta está escrito “ leva e traz”. A ideia é levar um livro e deixar outro, assim às crianças e também os adultos terão sempre o que ler. Na mesma perspectiva do projeto de leitura, Jamaica também reforma televisões vindas da reciclagem, e as distribui pelo bairro, exibindo filmes e clipes de reggae para os transeuntes. As dificuldades não impedem Jamaica de ver felicidade na rotina. “Sou feliz porque sou privilegiado. Meus filhos nunca me deram trabalho e tenho amigos que são minha família. Não tenho do que reclamar”.



















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