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voz levante

mAri viEirA Instagram: @amarivieira Facebook: Mari Vieira

um TETo pArA

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ENcoNTrAr SuA voz - iv

Escrevendo sobre as possibilidades de nós, mulheres, encontrarmos a nossa voz em meio a um contexto de grande empobrecimento como o atual, foi inevitável pensar na luta da população nas periferias das inúmeras regiões do Brasil, e nesse caso equivale dizer que essa luta é da população negra, pois como diz a incrível Juliana Borges, no livro Encarceramento em massa “A pobreza no Brasil tem cor. Aliás, negros são pobres porque são negros no Brasil. E não são negros porque são pobres”. Isso diz muito sobre a estruturação da sociedade brasileira cujas bases se assentam no sistema escravista. Desde a assinatura da Lei Aurea em 1888, que teoricamente libertava o povo negro das perversidades da escravidão, assistimos a sociedade criar mecanismos de exclusão e manutenção da pobreza de negros e negras.

É histórica a desigualdade de acesso aos direitos básicos garantidos pela constituição. É constante na vida negras e negros o precário acesso à saúde, ao saneamento básico e as constantes discriminações que dificultam a admissão no mercado de trabalho. Essa somatória de desgraças sociais patrocinadas pelo racismo, machismo e descaso governamentais tornou a população negra, particularmente as mulheres, muito mais vulneráveis a todo e qualquer revés na sociedade, claro, não seria diferente na pandemia de covid-19. Desde os primórdios da vida da mulher negra no Brasil existe uma imensa dificuldade para encontrar um teto, espaço de segurança, de recolhimento, de descanso, de proteção, de afeto, de autocuidado e cuidado com o próximo, de cura, de criação, de refinamento intelectual, de

tudo que se precisa para uma mulher se sentir segura para colocar sua voz no mundo e modificá-lo.

Se colocarmos o livro de Virginia Woolf “Teto todo seu” sob a perspectiva vivida pelas mulheres negras que diuturnamente lutam por algo muito mais sensível, encontramos mulheres antes de lutarem por terem direito a uma profissão, lutam por suas vidas. As mulheres negras no Brasil precisam lutar para se manterem vivas em uma sociedade que as querem mortas. Dados do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontam que em casos de homicídios as mulheres negras são 73% das vítimas e nos casos de feminicídio as mulheres negras são 60% do total de casos em que constam a informação de raça. A estatística não deixa dúvida: se manter viva é a primeira luta da mulher negra. A conquista de um teto para a prática de sua voz vem depois ou paralelamente, pois essas lutas são complexas demais para acharmos que elas acontecem uma de cada vez. Elas ocorrem em um emaranhado de brigas, dores, aflições e múltiplos afetos que a mulher negra vive constantemente.

É de suma importância a conquista de nossa voz. Termos a nossa voz significa contarmos a nossa história, deixarmos de sermos objetos das muitas vezes perversas pesquisas e curiosidades alheias, vide a história de Sarah Baartman. É importantíssimo que a voz de nossas ancestrais ecoe na nossa voz. A nossa resistência se faz pela necessidade de que os princípios dessa sociedade racista e machista seja destroçado com o máximo de urgência, para isso precisamos estar vivas. Para conquistarmos um teto temos que estar vivas. Para estarmos vivas precisamos de alimento. Para termos alimentos precisamos de trabalho. E chegamos em um ponto que novamente paramos nos entraves criados do racismo e machismo. Não vejo outro modo de todas as mulheres, não somente as negras que compõem o grupo mais vulneral socialmente, terem um teto, terem sua voz audível sem enfrentarmos e modificarmos estruturas machistas e racistas do mundo atual.

Fim

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