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O pessegueiro da biblioteca: homenagem à Norma Haru Thais Matarazzo

Plantio do pessegueiro em homenagem à Norma Haru. Foto: Thais Matarazzo

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Por Thais Matarazzo

Na segunda quinzena de agosto último foi a vez da gradual abertura das bibliotecas na cidade de São Paulo.

Ao saber da notícia meu coração bateu mais forte!

Tenho preferência por fazer lançamento de livros e saraus em bibliotecas, espaços que sempre me fascinam.

A “Mário de Andrade” tem um espaço especial na minha vida. Foi lá que em 1999 iniciei minhas investigações históricas sobre a “era de ouro do rádio”. Foi um momento rico da minha vida, era mágico folhear periódicos antigos, conhecer “um mundo” de livros diversos, ter contato com pesquisadores, historiadores, outros consulentes e com bibliotecários nota 10, como a Tamiko, a Fátima Tamartugo, a D. Eugênia, a Carminho, a Mariúsa e a Norma Haru — a saudosa Norminha.

Os amigos da Caminhada Noturna pelo Centro desejavam prestar uma homenagem à saudosa

Norminha. Reunindo disposição e solidariedade, trabalharam no projeto, acredito que liderado pela Cecília Oka e o Carlos Beutel, e conseguiram o apoio da direção da “Mário de Andrade”.

Ficou decidido que seria plantada uma muda de cerejeira no jardim da biblioteca em tributo à memória da Norma, uma bibliotecária de referência para leitores, estudantes e pesquisadores nacionais e internacionais.

O Laercio Cardoso de Carvalho a apelidou de “Norma Google”, pois ela sempre indicava bibliografia e outras fontes de informação para todo tipo de assunto.

Além do trabalho profissional, Norminha foi uma pessoa cheia de virtudes. Praticava boas ações e colocava em prática o amor ao próximo, sem fazer alarde. Auxiliava às pessoas sem distinção.

A homenagem aconteceu na manhã de 14 de agosto, um sábado frio, no jardim da Biblioteca Mário de Andrade.

◄ Cecília Oka e Laercio Cardoso de Carvalho. Foto: Thais Matarazzo.

Thais Matarazzo

Devido às restrições da pandemia, somente um pequeno e selecionado grupo pode participar do evento. Fui uma das contempladas. Que alegria!

Como a cerejeira exige muitos cuidados e não se adapta ao clima da cidade, a muda escolhida foi um pessegueiro, uma espécie nativa do oriente, representando a ancestralidade da homenageada.

Os amigos se mobilizaram e compraram a muda. E o grupo todo desdobrou-se em várias ações para “fazer o evento acontecer”. Foi uma “operação amizade.”

Aquela manhã foi intensa e todos estavam emocionados à flor da pele. Como comentou a Cecília Oka, foi um ritual.

A programação definida pela biblioteca começou com a fala da diretora, seguida por Beutel, Cecília e outros amigos. Todos choraram, os depoimentos dos colegas a quem a Norma ajudou, em momentos de aflição, foram lindos. Enfim, que nobre legado ela nos deixou! Segundo os colegas, ela esteve envolvida com seu trabalho até onde suas forças permitiram. Um exemplo de funcionária!

Em seguida aconteceu o plantio do pessegueiro no jardim da frente da biblioteca, defronte a Rua da Consolação.

Foto: Vera Lúcia Dias Foto: Thais Matarazzo

Carlos Malungo Josélia Aguiar, ex-diretora da “Mário de Andrade”

Norminha (ao centro) cercada por seus amigos e com os mil tsurus

O Carlos me chamou para colocar a muda no local cavucado pelos jardineiros. Fiquei emocionada, talvez porque eu tenha a mesma doença que acometeu a Norminha! Serei sempre grata a ele por este gesto expressivo de carinho.

Não fiz o serviço sozinha. Como tenho metástase óssea, não consigo pegar objetos pesados, então, o gentil Ednei ajudou a carregar a muda. Em seguida, começamos a jogar terra com as mãos, sem luvas.

A seguir demos espaço para outros amigos fazerem o mesmo. Um momento especial foi quando a Cecília convidou as crianças, Gabriel e Helena, filhinhos de Gisele e Luís, casal que se conheceu na Caminhada Noturna.

Tomada pela emoção, permaneci assistindo o término do plantio e, ao final, colocamos alguns origamis de pássaro.

A árvore é o símbolo sagrado da vida, cujo significado perpassa pela fecundidade e imortalidade. Está associada à criação do universo, representando a ligação entre vários planos, como a terra, o céu e também o submundo.

Com certeza deixei escapar muitos detalhes daquela mágica manhã de sábado. Foi tudo tão sublime, intenso e cheio de ternura que sinto aquela energia positiva toda vez que me recordo.

E para fechar com chave de ouro, o mineiro Carlos Mahlungo tocou e cantou a sua música Borboletar, da qual a Norminha gostava tanto.

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