La Charité des Favelas

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En nous habiter les villes que nous habitons

Dentro de nós habitam as cidades que habitamos

L’art est un chemin où nous laissons quelque chose libre de nos âmes et de nos expériences. AtoRetrato est le nom d’une performance que je joue dans les rues des villes où je vis, Rio de Janeiro.

A arte é um caminho por onde deixamos livres algo de nossas almas e vivências. Ato-Retrato é o nome de uma performance que realizo nas ruas das cidade em que moro, o Rio de Janeiro.

Il se compose de deux personnes assises, en train de parler, où l’une d’elles, moi, fait un portrait de l’autre lors de cet échange. En tant que catalyseur de la conversation, je recherche des questions qui suscitent des souvenirs de la vie dans la ville, des aspirations, des peurs, comment cette ville habite la vie de la personne dépeinte. Je capture graphiquement les mots que je reçois et les place sur la toile, composant une sorte de portrait qui est aussi un discours exprimé par mon interlocuteur. C’est ainsi que «Act-portrait» est né, un jeu avec le nom «autoportrait», où la personne se représenterait avec des mots attachés aux lignes que j’ai faites.

Consiste em duas pessoas sentadas, conversando, onde uma delas, eu, faço um retrato da outra durante essa troca. Como catalizador da conversa eu busco perguntas que agitem memórias da vida na cidade, das aspirações, dos medos, de como essa cidade habita a vida da pessoa retratada. Capturo graficamente as palavras que recebo e a coloco sobre tela, composto uma espécie de retrato que é também um discurso externado pela minha interlocutora. Assim nasce o “Atoretrato”, uma brincadeira com o nome “auto-retrato”, onde a pessoa se retrataria a si com palavras unidas aos traços que fiz.

Lorsque la Cité du Mot m’a invité à faire ma résidence Odysée * à Charité-sur-Loire, j’étais en train de terminer mon master en BD, fait à l’Université fédérale de Rio de Janeiro **. Dans mon projet de maîtrise, j’ai réalisé un album de bandes dessinées où j’ai tracé le chemin d’un trio de poètes, des femmes vivant dans différentes favelas de Rio, les célèbres Sarauzeiras Oníricas. Il s’agit d’une bande dessinée biographique qui aborde le thème toujours pertinent de l’accès aux droits de l’homme dans les zones d’exclusion sociale telles que les favelas et les périphéries des villes, au Brésil appelé «quebradas» ***. J’ai alors eu l’idée de proposer un dialogue entre les deux projets formant un dialogue entre deux villes: Rio de Janeiro, au sud-est du Brésil, je parlerais à Charité-sur-Loire, dans le centre ouest de la France, à travers les visions et les curiosités de leurs femmes sur les deux villes. Ce projet est la représentation graphique de cette étreinte faite sur une longue distance, entre deux villes qui, même si éloignées l’une de l’autre, sont à la fois très différentes mais avec des points essentiels en commun, comme deux sœurs.

Quando a Cité du Mot me convidou para realizar minha residência Odysée* em Charité-sur-Loire, eu me encontrava em fase de completar meu mestrado em histórias em quadrinhos, feito na Universidade Federal do Rio de Janeiro**. Em meu projeto de mestrado eu completava um álbum de quadrinhos onde eu mapeava o percurso de um trio de poetas, senhoras moradoras de diferentes favelas cariocas, as famosas Sarauzeiras Oníricas. Trata-se de uma história em quadrinhos biográfica e que aborda o tema sempre relevante do acesso a direitos humanos em áreas de exclusão social como são as favelas e periferias das cidades, no Brasil chamadas de “quebradas”***. Tive então a ideia de propor um diálogo entre os dois projetos formando um diálogo entre duas cidades: Rio de Janeiro, no sudeste brasileiro, conversaria com Charitésur-Loire, no centro oeste da França, através das visões e curiosidades de suas mulheres sobre as duas cidades. Este projeto é a representação gráfica deste abraço feito a longa distância, entre duas cidades que mesmo tão afastados, são ao mesmo tempo muito diferentes mas com pontos essenciais em comum, como duas irmãs.


Rio de Janeiro


Rocinha, Maré et Vila Vintém. Les bidonvilles atteignent la Charité Sur Loire

Rocinha, Maré e Vila Vintém. As favelas chegam a Charité Sur Loire

Vingt millions de personnes vivent dans les favelas de Rio. Ils stimulent une économie informelle de millions de reais *. Dans le système mafieux de ce territoire, des groupes de trafiquants, et plus souvent des miliciens, où d’anciens policiers militaires et même des policiers corrompus en service actif, se sont également unis à certaines confessions d’églises néo-pentecôtistes, organisent des corrals électoraux pour placer leurs représentants aux postes de pouvoir. . Aller même au niveau fédéral.

Nas favelas cariocas moram XX milhões de pessoas. Elas movem uma economia informal de outros tantos milhões de reais*. Usufruem em sistema de máfia deste território, grupos de traficantes, e mais frequentemente milicianos, onde ex-policiais militares e até mesmo policiais corruptos na ativa, unidos também a certas denominações de igrejas neopentecostais, organizam currais eleitorais para colocar seus representantes em cargos de poder. Indo até mesmo ao âmbito federal.

La classe ouvrière y vit. Enseignants, infirmières, femmes de chambre, maçons, chauffeurs de bus ... Tous soumis à une brutalité excessive et à un déni de droit systématique. Cela commence lorsque nous avons un pays où la Constitution elle-même est ignorée dans ses principes fondamentaux de logement, de santé, de travail et de sécurité. Le manque de logements et de défense des travailleurs au Brésil n’est pas accidentel. C’est un projet qui tente de s’aggraver avec la mise au pouvoir de groupes qui profitent de l’abandon des favelas. Territoire exceptionnel, où ces groupes peuvent porter atteinte aux droits de leurs résidents. L’une des formes de résistance possibles est celle encouragée par les mouvements culturels nés dans les favelas qui cherchent à changer le récit dominant que la société dans son ensemble a des favelas comme source de violence, et montrent qu’au contraire, il y a là où les qu’il existe une culture plus originale et de vraies solutions pour la transformation qui rendrait la société plus juste.

Ali vive a classe trabalhadora. Professores, enfermeiros, empregadas domésticas, pedreiros, motoristas de ônibus… Todos submetidos ao excesso de brutalidade e a negação sistemática de direitos. Que se inicia quando temos um país onde a própria Constituição é ignorada em seus princípios básicos de moradia, saúde, trabalho e segurança. A carência de moradia e defesa dos trabalhadores no Brasil não é acidental. É um projeto que tende a se agravar com a colocação no poder dos grupos que lucram com o abandono das favelas. Território de exceção, onde esses grupos podem aviltar os direitos de seus moradores. Uma das formas possíveis de resistência é a promovida pelos movimentos culturais nascidos nas favelas que através da arte procuram mudar a narrativa dominante que a sociedade como um todo tem das favelas como fonte de violência, e mostrar que, pelo contrário, ali é onde nasce o que há de mais original na cultura e soluções reais para a transformação que faria a sociedade mais justa. Os saraus de poesia e redes de comunicação das favelas tem revelado a verdadeira identidade do povo que vibra, trabalha e sonha. E neste cenário que conheci a passei a trabalhar junto das Sarauzeiras Oníricas.

Les bidonvilles des réseaux de poésie et de communication dans les favelas ont révélé la véritable identité des gens qui vibrent, travaillent et rêvent. Et dans ce scénario que j’ai rencontré, j’ai commencé à travailler avec Sarauzeiras Oníricas.

Sarauzeiras Oníricas.

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O mito que nós amamos cultuar. Le mythe que nous aimons cultiver.

É um mito de que os homens franceses sejam os mais românticos. C’est un mythe que les hommes français sont les plus romantiques.

Mulheres são vistas como responsáveis, ou mesmo culpadas, por tudo. Les femmes sont considérées comme responsables, voire coupables, de tout.

Homens que não respeitam as mulheres merecem uma lição. Les hommes qui ne respectent pas les femmes méritent d’être punis.

Prefiro manter distância. Não sou obrigada a nada. Je préfère garder mes distances. Je ne suis obligé de rien. O cardápio do La Dolcevita tem delícias reginais, o cuidado com a nutrição e carinhos com receitas de família é grande. Le menu de La Dolce Vita propose des spécialités régionales, le soin de la nutrition et de l’affection avec des recettes familiales est super.

A extrema direita sequestrou minha imagem! L’extrême droite détourné mon image!

Mas o prato mais pedido é o bife frito! Mais le plat le plus demandé est le steak frit!

A felicidade não depende de ter um homem ao seu lado. Le bonheur ne dépend pas d’avoir un homme.

Mais un vrai compagnon Mas um companheiro rend la de verdade torna a vie plus vida mais alegre. joyeuse. Nosso planeta corre perigo! As pessoas sofrem! Notre planète est en danger! Les gens souffrent!

A Terra não aguentará mais abusos! É preciso respeitá-la assim como se deve respeitar às mulheres. La Terre ne peut plus subir d’abus! Elle doit être respectée tout comme les femmes doivent être respectées.

Aqui mais de 60% são idosas. Não li- La plus grande peur est de traverser Nascer, crescer, amar, viajar pelo gam pra ditadura da moda. É a beleza cette vie sans me réaliser en tant mundo por todos os lugares, e retornatural, Nem a Terra, nem as mulhe- que personne. nar à Charité para recarregar-se de res, são para o mercado de consumo! energia e novos sonhos.

Ici, plus de 60% sont des personnes âgées. Ils ne se soucient pas de la dictature de la mode. C’est la beauté naturelle. Ni la Terre ni les femmes ne O maior temor é passar por esta vida sem me realizar como pessoa. sont destinées au consommation! La Charité des Favelas 4

Naître, grandir, aimer, parcourir le monde partout et retourner à La Charité pour se ressourcer avec énergie et nouveaux rêves.


Eva

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Patrícia

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São tempos amargos, de desânimo, onde as pessoas não percebem o tesouro das artes bem a sua frente. Ce sont des temps amers et découragés où les gens ne perçoivent pas le trésor des arts juste devant eux.

É destruidor o homem que diz “faça o que tu queres!” para se alienar da responsabilidade afetiva.

C’est destructeur le homme qui dit “cést comme tu veux!” pour s’éloigner de la responsabilité affective.

Le Désert des Tartares

As feministas assustaram os homens. Conheci Paris inteira marchando nas manifestações dos anos 60. Les féministes ont effrayé les hommes. J’ai connais tout Paris dans les marches des années 60.

Antigamente era preciso pedir permissão aos homens pra viajar, mas eu formei-me em artes, vim de Paris para Charité, tive dois filhos, me divorciei, fui dona de livraria... Sou livre.

Mulheres são criativas...Mas vejo os homens já com espírito velho diante da modernidade do mundo. Les femmes sont créatives ... Mais je vois des hommes avec un esprit ancien avant la modernité du monde.

Cedem seu lugar para as máquinas e desistem: “Faça o que tu queres.”

Dans le passé, il fallait demander aux hommes la permission de voyager, mais je suis diplômé en arts, je suis venu de Paris à la Charité, j’ai eu deux enfants, j’ai divorcé, j’ai possédé une librairie... Je suis libre.

Ils abandonnent leur place pour les machines et ils abandonnent: “cést comme tu veux!” La Charité des Favelas 7

Minha mãe se casou com 16 anos para sair da casa dos pais. Com 18 ela foi mãe, e eu já tenho condições de escolha de vida que uma mulher não tinha 20 anos antes.Ma mère s’est mariée à 16 ans pour quitter la maison de ses parents. À 18 ans, elle était mère, et j’ai déjà des conditions pour choisir une vie qu’une femme n’avait pas 20 ans auparavant.

Encontrei esta forma de sapateiro na Argentina. Transformei no livro: “Ao Pé da Letra”, da Editora do Livro Único! Somente um exemplar, especial e inegualável (como cada uma de nós!) J’ai trouvé cette forme de cordonnier en Argentine. Je l’ai transformé en livre «Au Pied de la Lettre», par Éditions du Livre Unique! Un seul exemplaire, spécial et inégalé (comme chacune de nous!)

Eu sou amiga, mãe e artista. Sou livro e livre. Sou Calibris, KALLI LIBRIS, o belo livro.

Je suis une amie, une mère et une artiste. Je suis un livre et libre. Je suis Calibris, KALLI LIBRIS, le beaux livre.


Muitos vem aqui em busca de paz, santuário ou um lugar para se estabelecer na aposentadoria.

Uma boa cidade, a cidade é tranquila. Mas se você quiser encontrar alguém pra paquerar...prrrr! Une bonne ville, la ville est calme. Mais si vous voulez trouver quelqu’un avec qui flirter ... prrrr!tions, Claire?”

Estamos em guerra contra um inimigo invisível. Nous sommes en guerre contre un ennemi invisible

“Posso lhe fazer algumas perguntas, Claire?” Pois não! “Puis-je vous poser quelques questions, Claire?” Mais oui!

Muitas mulheres aqui são comerciantes e há também muitas que são enfermeiras, que trabalham no hospital, cuidando dos idosos ou nas casas de repouso. Beaucoup de femmes ici sont commerçantes et il y en a aussi beaucoup qui sont infirmières, qui travaillent à l’hôpital, s’occupent des personnes âgées ou dans les maisons de retraite. Mas as sextas-feiras no Entre Pots, você fará amizades com charitienses vindos de todo o mundo, com certeza!

Beaucoup viennent ici à la recherche de la paix, d’un sanctuaire ou d’un lieu de retraite.

Nossas casas nascem como flores das antigas muralhas do priorado, e nossas crianças brotam como as primaveras na margem do Loire. Nos maisons naissent comme des fleurs des vieux murs du prieuré, et nos enfants s’épanouissent comme les sources des bords de Loire.

Se algum homem me ofender, eu respondo! Sempre tive um temperamento forte, não permito abuso jamais. Si um homme m’offense, je réponds! J’ai toujours eu un bon caractère, je n’autorise jamais les abus.

Mais les vendredis à Entre Pots, vous vous ferez des amis avec des charitiens venus du monde entier, c’est sûr! La Charité des Favelas 8

Não, me faz falta um homem para ser feliz. Estou solteira há três anos. Non, j’ai besoin d’un homme pour être heureux. Je suis célibataire depuis trois ans.

“E você teria algumas perguntas para eu levar às mulheres de meu país?” Assim de repente não! Posso pensar mais tarde? “Et auriez-vous des questions à poser aux femmes de mon pays?” A tout de suite, non! Puis-je penser plus tard?


Claire

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La CharitĂŠ sur Loire


Les villes sont vieilles dames qui parlent à distance

As cidades são velhas senhora que conversam à distância

Après avoir fait ses portraits-actes, j’ai demandé aux femmes de Charité de poser quelques questions à poser aux poètes des favelas. Là, elle a pu lancer quelques curiosités.

Após realizar seus ato-retratos, eu pedi às mulheres de Charité que formulassem algumas perguntas também para serem levadas às poetas das favelas. Ali ela puderam lançar algumas curiosidades.

Il était intéressant pour moi en ce moment de découvrir que presque involontairement, s’il y a des accidents lorsque les villes parlent, chaque personne interrogée semble refléter beaucoup de leurs enquêteurs. Eva et Lindacy partagent voyage, cuisine, bravoure et goût de la liberté. Ce sont des oiseaux qui volent dans les étés de la poésie. Et à la taverne d’Eva, La Dolc’Evita, il y a des soirées de poésie de la Charité.

Foi interessante para mim neste momento descobrir que quase sem querer, se é que existe acasos quando cidades conversam, cada entrevistada parecia espelhar bastante de suas entrevistadoras. Eva e Lindacy compartilham viagens, culinárias, valentia e gosto pela liberdade. Elas são passarinhas que voam nos verões da poesia. E na taverna de Eva, a La Dolc’Evita, que acontacem os saraus de poesia da Charité.

Et je pouvais facilement reconnaître Yolanda dans la romantique Patricia Muller. Tous deux trouvant des moyens de dépasser les déceptions amoureuses avec leurs partenaires choisis, trouvant en eux-mêmes et leurs amis des sources inépuisables pour se renforcer. Tous deux ont le talent de la création graphique. Ils créent des images et des livrets, ont leurs ateliers où ils découpent du papier, cousent des épines, colorent le monde avec des mots et des encres! Cette paire de femmes a la douceur et la sensibilité d’un look rêveur. Et Claire était mon sauveur. Dans les jours qui ont suivi le décret de quarantaine qui a transformé notre ville en scène fantôme, elle était à son travail, fournissant de la nourriture aux familles, un masque de garnison, des gants et de l’alcool, face à un ennemi invisible dans une étrange guerre, femme forte parmi les forts (et il n’y avait que des femmes qui travaillaient ce jour-là). La force de ceux qui sont des femmes dans ce monde. Et la personne la plus forte que je connaisse, c’est une douce poète du nom de Maria Inez, qui, comme Madame de Charité, m’a parlé de surmonter, de se retourner, de l’aide sociale. Voici les réponses des poètes aux dames de Cahrité. Quelle belle journée ce sera quand nous pourrons tous être ensemble au-delà de cette rencontre dans les arts, dans un nouveau monde qui viendra lorsque toutes les villes rouvriront.

E pude reconhecer facilmente Yolanda na romântica Patrícia Muller. Ambas encontrando formas de crescer acima de decepções amorosas com seus parceiros escolhidos, encontrando em si e nas amigas fontes inesgotáveis para se fortalecer. As duas tem o talento da criação gráfica. Criam imagens e livretos, tem seus ateliês onde cortam papel, costuram lombadas, colorem o mundo com palavras e tintas! Esse par de mulheres tem a doçura e sensibilidade de um olhar sempre sonhador. E Claire foi minha salvadora. Nos dias seguintes ao decreto de Quarentana que transformou nossa cidade em um cenário pra fantasmas, ela estava em seu posto de trabalho, fornecendo alimento pras famílias, guarnecidade de máscara, luvas e álcool, enfrentando um inimigo invisível numa guerra estranha, mulher forte entre fortes (e só haviam mulheres trabalhando naquele dia). A fortaleza de quem é mulher neste mundo. E a pessoa mais forte que eu conheço, é uma doce poeta chamada Maria Inez, que como a senhora de Charité, me falou de superação, de virada na vida, de assistência social. Aqui seguem as respostas das poetas às senhoras de Cahrité. Que lindo será o dia quando todas nós pudermos estar juntas para além deste encontro nas artes, num novo mundo que virá quando cidades todas se reabrirem.


A poesia suga as tristezas. Minha vida mudou quando me encontrei na Flup! A Festa Literária das Periferias. La poésie aspire la tristesse. Ma vie a changé quand j’ai rencontré Flup! Le Festival Littéraire des Périphéries.

Morei nas ruas, é ruim, mas prefiro ir pra rua a morar com estranhos. Hoje sou abençoada com o abrigo de uma grande família. J’ai vécu dans la rue, c’est mauvais, mais je préfère vivre dans la rue que vivre avec des inconnus. Aujourd’hui, j’ai la chance d’avoir l’abri d’une grande famille.

“Alimente sua fé e seus medos morrerão de fome”. Minha cidade abriga tantas fés. Deus é seu tutor e como ele seu futuro será promissor! ”Nourrissez votre foi et vos peurs mourront de faim.” Ma ville abrite tant de religions. Dieu est ton tuteur et comme lui ton avenir sera prometteur!

Nos livros encontrei mistérios e pontes. Encontrei amigos que me animaram em minha caminhada literária. Dans les livres, j’ai trouvé des mystères et des ponts. J’ai rencontré des amis qui m’ont encouragé dans mon parcours littéraire. A necropolítica mata o sonho. Reduz vida à estatística. Uma bala perdida é uma dor encontrada no peito de uma mãe. La nécropolitique tue le rêve. Il réduit la vie aux statistiques. Une balle perdue est une douleur trouvée dans le cœur d’une mère. Eu tenho uma (gata) cega e com a bacia quebrada. É o meu xodó! Tem um quarto só pra ela. J’ai une aveugle (chate) avec un bassin cassé. C’est mon bébé! Elle a une chambre pour elle.

Sou peixe deste cardume, despertada por um ser de luz, Écio Salles, agora ao lado de Deus. Je suis un poisson de cette école, réveillée par un être de lumière, Écio Salles, désormais aux côtés de Dieu.

A gente toma pênalti, cai na área e se levanta. Insiste até o gol da vitória e corre pro abraço!.

On prend une pénalité, on tombe dans la zone et on se lève. Insistez jusqu’au but gagnant et courez pour le câlin!

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Minha mãe, minha maior inspiração. Ensinou-me usando um pau para escrever no chão de terra. Paus e terras. Poesia em tons de barro. Ma maman, ma plus grande inspiration. Il m’a appris à écrire avec un bâton sur le sol sale. Bâtons et motifs. Poésie d’argile.


Maria Inês

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Yolanda

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Quando fiz quatro anos meu pai me ensinou a decorar e recitar poemas. Ele dizia pra todo mundo que eu ia ser uma artista. Aos seis anos meu pai morreu. Quand j’ai eu quatre ans, mon père m’a appris à décorer et à réciter des poèmes. Il a dit à tout le monde que j’allais être artiste. À six ans, mon père est décédé.

Alguns vizinhos ajudavam. Minha mãe catava papel na rua pra vender. A pobreza piorou e passamos muita fome. Meu irmão descobriu um brejo onde ele pegava rãs que eu limpava e comíamos com farinha. La pauvreté s’est aggravée et nous avions très faim. Mon frère a découvert un marécage où il a attrapé des grenouilles que j’ai nettoyées et mangées avec de la farine.

O dia mais feliz foi quando recebi meu primeiro salário como aprendiz de costureira aos quatorze anos. Com oito anos fui morar com um tio, que me dava uma surra de cinto por dia. Depois de um ano escapei. Voltei a me interessar por poesia, me apaixonei pelos sonetos de Olavo Bilac. À huit ans, je suis allée vivre avec un oncle qui me battait tous les jours. Après un an, je me suis échappé. Je me suis de nouveau intéressé à la poésie, je suis tombé amoureux des sonnets d’Olavo Bilac. Mas ele começou a me maltratar verbalmente. Um dia, ele me machucou. Nós mulheres temos mais deveres do que direitos. Os homens tem mais direitos do que deveres. Mais il a commencé à me maltraiter verbalement. Un jour, il m’a blessé. Nous, les femmes, avons plus de devoirs que de droits. Les hommes ont plus de droits que de devoirs.

(Minha neta, Emilie) (Ma petite-fille, Emilie)

Certains voisins ont aidé. Ma maman a ramassé du papier dans la rue pour le vendre.

Le jour le plus heureux a été celui où j’ai reçu mon premier salaire d’apprentie couturière à l’âge de quatorze ans.

Après huit ans de rencontres, je me suis mariée. Sa mère me détestait. J’ai eu trois enfants, et c’était la meilleure partie.

Tornei-me escritora, poeta e ativista cultural através da Flup*. Quando criança sonhava ser muitas coisas, mas com o tempo esqueci tudo. O que tenho hoje é o suficiente pra ser feliz.

Voltei pra escola e completei meus estudos. Com quase cinquenta anos me divorciei. Je suis retourné à l’école et j’ai terminé mes études. À presque cinquante ans, j’ai divorcé.

Depois de oito anos namorando me casei. A mãe dele me odiava. Tive três filhos, e isso foi a melhor parte.

Dona de Mim *

*Maître a Moi

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Je suis devenu écrivain, poète et activiste culturel à travers Flup*. Enfant, je rêvais de beaucoup de choses, mais avec le temps j’ai tout oublié. Ce que j’ai aujourd’hui suffit pour être heureux. *A Festa Literária das Periferias, *La Fête littéraire des périphéries


Bolo de Rolo. Pura poesia!

Rouler le gâteau. Poésie pure!

Fui criada por uma prostituta. Ela bebia muito e morreu de tristeza. J’ai été élevé par une prostituée. Elle a beaucoup bu et est morte de tristesse.

Com oito anos já trabalhava na casa dos outros. E precisei largar a escola. À l’âge de huit ans, il travaillait déjà chez d’autres personnes. Et j’ai dû abandonner l’école. Não acreditavam que eu ia escrever um livro! ls ne croyaient pas que j’allais écrire un livre!

A flor, mais linda do meu jardim, se chama Ivonete! Ela é mãe que escolhi e tenho hoje. La plus belle fleur de mon jardin s’appelle Ivonete! C’est la mère que j’ai choisie et que j’ai aujourd’hui. Ser mulher é ser doadora de afetos e amor. Geramos vidas. Não conheci minha mãe biológica. Être une femme, c’est être un donneur d’affection et d’amour. Nous générons des vies. Je ne connaissais pas ma mère biologique.

Ser mulher, é muito difícil, somos cobradas pelos, erros e acertos, na nossa casa e ainda na sociedade. Être une femme est très difficile, nous sommes accusés d’erreurs et de succès, chez nous et même dans la société.

Pra que meus filhos não passassem dificuldade, fui buscar oportunidade no Rio de Janeiro. Pour que mes enfants ne connaissent pas de difficultés, je suis allé chercher une opportunité à Rio de Janeiro.

A favela da Rocinha é meu lar há mais de quarenta anos. La favela de Rocinha est ma maison depuis plus de quarante ans.

Aprendi a ler as primeiras letras sozinha já adulta. J’ai appris à lire les premières lettres moi-même à l’âge adulte.

Sou uma sonhadora e sempre alcancei meus sonhos. Je suis un rêveur et j’ai toujours réalisé mes rêves. La Charité des Favelas 16


Lindacy

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A autora.


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