ESPAÇO ECOAR: Intervenção urbana paisagística para um espaço sustentável e ecológico

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E S P A Ç O

ECO. AR

Intervenção urbana paisagística para um espaço sustentável e ecológico, no bairro de Casa Amarela.


Figura 01: Placa sinalizadora da Horta Comunitária de Casa Amarela. Fonte: acervo autoral, 2021.


Universisdade Católica de Pernambuco Arquitetura e Urbanismo Thalita Moura Campos

ESPAÇO ECOAR: Intervenção urbana paisagística para um espaço sustentável e ecológico, no bairro de Casa Amarela.

Trabalho de graduação desenvolvido pela aluna Thalita Moura Campos, orientada pela Professora Léa de Barros Cavalcanti, e apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de arquiteta urbanista.

Recife 2021


ECOAR:

“Fazer-se ouvir ou sentir a grande distância, quer no espaço quer no tempo.” (Dicionário de português Oxford, 2017)

Um espaço ECOlógico e sustentável, que pretende possibilitar mais quaidade de vida para a população local de Casa Amarela, trazendo de volta o AR da natureza como citado pela comunidade em entrevista com ICASS*.

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Apresentação Desenvolvido na disciplina de Trabalho de Graduação II, o presente trabalho a ser apresentado com o título “ESPAÇO ECOAR: Intervenção

urbana paisagística para um espaço sustentável e ecológico, no bairro de Casa Amarela.”, teve a orientação da

professora Léa de Barros Cavalcanti, para o curso de graduação de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco.

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SUMÁRIO Introdução Narrativa Justificativa Objetivos Procedimentos Metodologicos

Semear 1.

Espaços Públicos, Pessoas E A Natureza 1.1 Transformações dos espaços públicos

1.2 As relações da modernidade com a natureza a par-

tir da Biofilia 2.

Sustentabilidade Urbana

2.1 Como surgiu e o que a define

2.2 Estratégias de sustentabilidade urbana voltadas

para espaços públicos 3.

Desenvolvimento da Acupuntura Urbana

3.1 A vitalidade impulsionada pelos espaços 4.

3.2 Acupuntura de espaços verdes

Novas Faces Da Agricultura E Do Paisagismo Na Contem-

poraneidade 4.1 Agricultura urbana e hortas comunitárias

4.2 Paisagismo funcional e jardins comestíveis

4.3 Espaços verdes e hortas urbanas nas cidades brasi-

leiras


Regar 5.

Referências Projetuais

5.1 Calçada De Todas As Cores

5.2 Parque Comunitário Meifeng

5.3 Value Farm

6.

Estudo territorial

Brotar 7.

Concepção projetual

8.

Programa e dimensionamento

9.

Projeto

10. Considerações finais 11. Referências 12. Lista de figuras


INTRODUÇÃO


A relação das pessoas com o espaço passou por grandes transformações de acordo com o desenvolvimento das civilizações. As casas que antes possuíam vastos quintais e áreas de lazer, como pátios e jardins, deram espaços a garagens e varandas com vista para enormes vizinhos de concreto. Os parques e praças, deram espaço a grandes empresariais, shoppings e estacionamentos que buscam constantemente suprir a incansável necessidade da população atual. Já a rua, deixou de ser a protagonista da vida cotidiana socioeconômica e se tornou uma mera forma de conectar lugares. Até meados do século XIX, as cidades possuíam aspectos mais bucólicos, como em Londres na Inglaterra ou em cidades europeias, as quais se davam por um ritmo de vida mais desacelerado, marcadas por uma maior interligação com o cenário rural e também por conta da ausência do acelerado avanço encontrando nos séculos em diante. As cidades passam, então, a representar uma vida agitada, com pouco tempo de lazer e muito tempo de trabalho, com grandes vias engarrafadas, poluição e densidade construtiva ao limite do espaço comportado. O ritmo dos centros urbanos que antes acolhiam sua população em praças, mercados e igrejas, passou a ser frenético tendo a vida cotidiana se passando dentro de carros e escritórios, sem perceber as consequências que isso poderia trazer. Como resultado, as cidades vêm enfrentando diversas problemáticas, sejam elas de distribuição de espaços comunitários, de habitação, dificuldade de locomoção eficiente ou até mesmo falta de saúde tanto física como mental de sua população. Uma dessas questões que vêm despertando mais debates nos últimos anos, está nas dinâmicas utilizadas na indústria agropecuária. O setor é responsável por utilizar grandes quantidades de recursos hídricos, que causam grande impacto am-

biental e que possuem seu cultivo, em muitos casos, sendo áreas rurais muito distantes dos consumidores finais desses produtos. Além do uso de combustíveis fósseis, que emitem poluentes para executar o transporte desses alimentos a longas distâncias, a produção do setor apresenta controvérsias relacionadas a qualidade de seus produtos, isso por que para que seja possível chegar em bom estado à mesa de toda população com êxito, foram necessárias diversas adaptações tecnológicas com o passar das décadas para maior lucro e efetividade na produção desses alimentos, tornando a utilizar substâncias nocivas não só para o meio ambiente, mas também para o consumo frequente de humanos. Devido esse eminente estado de socorro, faz-se necessárias intervenções a fim de alcançar cidades mais saudáveis e que proporcionem uma maior qualidade de vida para seus habitantes. Uma das soluções encontradas para esse problema está na promoção de mais espaços democráticos, que proporcionem atividades de lazer, trocas sociais e aprendizado, juntamente com usos de espaços mais acessíveis nos centros urbanos para produção de alimentos naturais saudáveis e sustentáveis, a fim de alcançar uma vida mais equilibrada aliada a indispensável presença da natureza. O presente trabalho visa propor a intervenção da praça Arnoldo Magalhães e o trecho da Avenida Professor José dos Anjos que dá acesso a praça localizados no bairro de Casa Amarela, com intuito de transformar o local que atualmente se encontra ignorado em seu contexto imediato, e trazer vida para que essa região possa ser usufruída pela comunidade local de forma ecológica, sustentável e produtiva com cultivo de alimentos locais, promovendo melhorias para a paisagem e vida na cidade. A pesquisa do trabalho é disposta

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em alguns tópicos, tendo como início a abordagem da temática que se debruça sobre como o cenário dos centros urbanos modernos foram afetados pelo progresso acelerado, tornando várias áreas carentes de espaços públicos e que possuam a presença de elementos naturais. É abordado também sobre problemáticas relacionadas a falta de sustentabilidade urbana e também questões a serem refletidas a respeito da dinâmica encontrada no setor da produção de alimentos existente na atualidade Em seguida, faz-se uma abordagem que disserta a respeito das justificativas que suportam o trabalho realizado, no qual ressalta a relação de pessoas e espaços e como esses podem afetar seus usuários de diversas formas. Em sequência se encontram as definições de objetivos determinados para o trabalho, os quais são abordados os resultados buscados com essa pesquisa, seguido pela descrição de procedimentos metodológicos utilizados para elaboração de toda investigação desempenhada para cumprimento deste trabalho. Posterior a esse capítulo, foi realizada a divisão dos tópicos em três principais partes, nomeadas como etapas do processo de cultivo na botânica. Tendo como início a primeira parte nomeada como “Semear” sendo a etapa de fundamentação teórica que será o embasamento para desenvolvimento do projeto, sendo assim a base inicial para obter os resultados esperados e estando relacionado com o significado da palavra que está ligado a dispor algo com objetivo de proporcionar resultados futuros. Tem-se a conceituação temática desenvolvendo o estudo da relação dos espaços públicos com as pessoas e a presença da natureza. Traz também os conceitos de sustentabilidade urbana tratados por Douglas Farr, seguido pelo estudo das intervenções desempenhadas com associação da acupuntura urbana abordada por Jaime Lerner. Além

disso, serão analisados conceitos contemporâneos que vêm surgindo a partir do paisagismo e sobre a produção agrícola nos centros urbanos. Após tal abordagem, é apresentada a segunda parte intitulada de “Regar”, sendo relacionada a uma fase fundamental do cultivo que deve ser feita com cautela para não pecar pelo excesso ou falta, de acordo com cada espécie para que haja o pleno desenvolvimento da planta. Portanto, nessa fase será abordado a análise investigativa e comparativa de obras semelhantes como estudo de caso ao que se pretende ser proposto, para avaliação de critérios positivos a serem implementados como lição no projeto idealizado nesta pesquisa. A leitura do território segue em sequência como tópico de análise da área de intervenção com todos seus relevantes aspectos a serem tratados para promover uma assertiva intervenção no local. Por fim, é apresentada a terceira parte “Brotar”, associada ao nascimento ou começo do desenvolvimento assim como o projeto proposto, que revelam a concepção iniciada a partir de diretrizes projetuais, zoneamento, programa e descrição de toda proposta de projeto junto com os produtos técnicos elaborados. O trabalho é finalizado, então, com uma breve reflexão a respeito das considerações finais baseadas na realização deste trabalho de graduação.

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NARRATIVA


Marcado por diversos avanços e inovações, o século XXI trouxe com si uma sede insaciável por constantes transformações. Nesse contexto, as cidades se tornam cada vez mais extensas e densamente ocupadas, que refletem uma realidade problemática a qual afeta diretamente o estilo de vida de toda sociedade. Com o constante crescimento da demanda por áreas para ocupar com novas vias e novos empreendimentos, os respiros naturais das cidades se tornam cada vez mais raros. Além disso, tem-se a questão que os espaços vêm sendo projetados se voltando cada vez mais para uma vivência mais restrita (seja ela de um indivíduo ou de certos grupos e classes sociais), juntamente a questão da predominância de diversos ambientes fechados desassociados de qualquer relação com o exterior. Tal es-

tilo de vida tem desencadeado aspectos alarmantes, como o imenso número de pessoas sedentárias, sem ao menos praticar atividades físicas no seu cotidiano pelas facilidades oferecidas com o desenvolvimento tecnológico. O uso de elevadores, transportes eficientes, espaços que não necessitam grandes locomoções, serviços de delivery ou de compras online, são muitas das ações que poderiam demandar de algum movimento físico, mas que atualmente perpetuam a dinâmica de vida estática da população, ocasionando uma deterioração da saúde pública por ser um fator determinante para desenvolvimento de diversas doenças físicas e também psicológicas.

Figura 02: Reportagem sobre práticas sedentárias da população. Disponível em: < https://www.folhape.com.br/noticias/sedentarismo-atinge-70-de-pessoas-no-mundo/101030/ > Acessado em 15 de maio, 2021.

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Figura 03: Reportagem sobre doenças causadas pelo sedentarismo. Disponível em: < https://jornal.usp.br/atualidades/sedentarismo-a-principal-causa-de-doencas-cronicas-nao-transmissiveis/ > Acessado em 15 de maio, 2021

Além da população comprometer sua saúde com a falta de exercícios físicos, existe também o debate a respeito do modo como as pessoas vêm se alimentando nas últimas décadas. As comidas processadas e industrializadas se tornaram um grande vilão para saúde pública, por serem práticas e rápidas as pessoas vêm constantemente optando por esses alimentos que ainda não são difundidos com clareza a respeito de sua composição e elementos nocivos. É preciso apontar também que como consequência da pandemia provocada pela disseminação do Coronavírus (Sars-Covid19), parte da população teve seu poder de compra reduzido devido ao alto crescimento da inflação, consequência também da crise econômica que atingiu diversos países, dentre esses, certamente o Brasil. Foi visto que nesse período muitas famílias com menos escolarizados e com rendas mais baixas, foram praticamente obrigadas a optarem por uma alimentação com grande presença do consumo de ultraprocessados devido ao inviável acesso à alimentos mais saudáveis (o que enfatiza a importância de oportunizar o acesso a esses produtos para todas as camadas da sociedade) . Já dentre as classes mais abastadas, houve um aumento geral no consumo e procura de alimentos saudáveis, especialmente frutas, legumes e verduras, com o principal objetivo de

se priorizar uma melhor saúde durante e após a pandemia (Jornal da USP, 2020 apud SCHNEIDER, S. et al. 2020). Apesar de haver esses novos fluxos de procura por alimentos saudáveis e frescos, tal tarefa nem sempre se torna algo fácil ou até mesmo barata. A produção de alimentos pelos grandes produtores na agropecuária é atualmente mais acessível em relação aos produtos naturais orgânicos, o que inviabiliza essa mudança de escolha por parte da população brasileira. Além disso, o setor industrial agrícola apresenta uma preocupante questão relacionada ao intensivo uso de substâncias maléficas não só para o ecossistema, mas também para as pessoas. A utilização abundante dessas composições para eliminação de pragas das mais variadas formas nas plantações, conhecidos como agrotóxicos, são responsáveis por poluir o solo, os lençóis freáticos, os rios e além disso causar danos à saúde dos seres vivos. Para os seres humanos, a ação desses produtos pode causar problemas como dermatoses, câncer, aborto, má formação de fetos, intoxicações até mesmo graves, levando a óbito e dentre outras doenças que são alvo de constante preocupação de organizações científicas. Com a complexidade alcançada no cenário atual, existe ainda a preocupação dos impactos ambientais ocasionados pelo modo de vida moderno da

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químicas fertilizantes para cultivo das terras; dentre outros problemas preocupantes. Além dessa desenfreada degradação do planeta, o qual se tem uma grande perda de ecossistemas e de preservação dos sistemas naturais, existe a nítida falta da presença de espaços verdes nos tecidos urbanos contemporâneos, que influenciam na falta de saúde e bem estar da população. O que ocorre é o processo originado por conta do avanço tecnológico e construtivo que provoca uma realidade extremamente desassociada de elementos naturais, sendo esses não só em relação aos espaços físicos, mas também ao estilo de vida moderno sem inúmeras práticas saudáveis.

Figura 04: Capa para revista do Instituto Nacional de Câncer. Disponível em: < https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//rrc-42-versao-integral.pdf > Acessado em 15 de maio, 2021.

sociedade. Apesar de ser uma temática que ganha cada vez mais força, a sustentabilidade ainda não é implementada na proporção necessária para reverter o resultado de toda exploração dos elementos naturais que ocorreram e que continuam ocorrendo todos os dias. Como citado antes, a agricultura industrial é responsável por apresentar, enormes impactos ambientais, sendo esses ainda além do uso dos agrotóxicos. Dentre os impactos causados pela agropecuária se tem envolvidos também fatores como: o desmatamento de diversas áreas que provocam a retirada da cobertura vegetal extinguido a biodiversidade local e contribuindo para o aquecimento global; as queimadas utilizadas para retirar as vegetações originais que provocam não só a poluição da atmosfera, (destruição da camada de ozônio) mas também do próprio solo que o torna carente de nutrientes e necessário do maior uso de substâncias

A falta de contato humano com a natureza nos tornou acostumados e provavelmente nos cegou para os danos terríveis que causamos ao nosso planeta. A sociedade de consumo moderna, por exemplo, explora recursos naturais em uma taxa que a Terra não tem como sustentar. Nosso apetite por petróleo, eletricidade, mobilidade, espaço internos e bens materiais é enorme e incessante. (FARR, 2013, p.07)

Em meio a essa realidade surgem inúmeros questionamentos a respeito dessa temática. Como prover espaços públicos de lazer diante de uma urbanização vertiginosa que ocasionou uma alta densidade construtiva? De que forma seria possível reestabelecer a ligação do homem com a natureza, para uma mais eficaz conscientização da degradação do meio ambiente e estilo de vida sustentável? Como promover um espaço no centro urbano capaz de fornecer alimentos de qualidade e que priorizem princípios ecológicos e sustentáveis? Quais necessidades devem ser priorizadas diante das diversidades existentes de tipologias de uso comunitário, para atender melhor a comunidade?

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JUSTIFICATIVA


O Brasil é o terceiro maior exportador de alimentos do mundo, mas é considerado também o maior consumidor de agrotóxicos. (FAO, 2019) Apesar de possuir a soma de bens e serviços gerados no agronegócio em cerca de 21,4% do PIB do país (IBGE, 2019), esse setor é responsável por uma significativa degradação ambiental e por trazer a mesa dos brasileiros, alimentos de qualidade questionáveis que oferecem prejuízos para saúde. Isso fez com que

um melhor uso de parques, praças, ou qualquer tipo de espaço que façam uso dessa técnica de projeto, aliada a uma função que vá além da somente estética, como ocorre no paisagismo tradicional. As hortas urbanas são capazes de produzirem de forma orgânica, diversos alimentos saudáveis até mesmo pela própria comunidade, gerando uma maior conscientização em relação aos processos agrícolas e também a importância de consumir alimentos sadios. Essas tipologias se associam ao compromisso de valorizar as biodiversidades locais, juntamente ao oportunizar o aumento de rendas familiares, ampliando e tornando mais acessível a comercialização desses produtos para a população. O Brasil possui atualmente a maior horta comunitária da América Latina, conhecida como a Horta de Manguinhos, localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro, e tendo em vista tal exemplo existente no próprio país, é possível notar a importância de dar continuidade para essas alternativas sustentáveis para as demais regiões brasileiras, como a cidade do Recife que

Figura 05: Valores de consumo de agrotóxico por país em 2017. Fonte: FAO 2018

se desenvolvesse a preocupação para novas alternativas que permitissem maneiras alternativas para produção alimentícia, com iniciativas em que os alimentos não demandassem grandes distâncias para chegar ao consumidor final, que sejam de qualidade sem uso de substancias químicas, e que ainda respeitem os conceitos ecológicos sustentáveis. Tais correntes foram encarregadas por desenvolver conceitos capazes de solucionar a relação de pouca oferta de espaços das cidades, com a necessidade produtiva de alimentos em centros urbanos, para fornecer produtos mais acessíveis para a população. As novas formas de paisagismo e agricultura, são responsáveis por agregar

Figura 06: Horta Comunitária de Manguinhos, Rio de Janeiro. Disponível em: < https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2021/02/ 6085050-manguinhos-tem-a-maior-horta-comunitario-da-america-latina.html > Acessado em 15 de maio, 2021.

ainda possui poucos espaços com essa função e que ainda não recebem a devida atenção da população. Outra questão que desperta preocupação, está na crescente urbanização que se tornou um grande obstácu-

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lo para presença biofílica, pode-se notar que a porcentagem de elementos naturais que são possíveis de ver no contexto do dia a dia de cada pessoa, são cada vez mais limitados em comparação a densidade construtiva urbana. As habitações que precisam comportar grande número de moradores, os escritórios que precisam ter produtividade máxima, o comércio que procura deter a maior quantidade de produtos possível e as vias que buscam acomodar mais veículos, são exemplos de como se dão as necessidades modernas, restando apenas uma pequena parcela dos espaços nas cidades para a implementação de elementos naturais ou parques. Os valores passaram a serem invertidos com o amplo desenvolvimento da sociedade nos períodos pós guerras, que obtiveram um crescimento desenfreado. Tal progresso foi visto como algo extremamente positivo na época,

mas que hoje é tido como uma questão complexa diante de todas problemáticas ocorridas como consequências deste avanço contraditório, já que seu impacto negativo se tornou imensurável para o meio ambiente. Com isso é preciso além de preservar os espaços verdes já existentes nas cidades, mas também resgatar os que se encontram esquecidos para propor que tais lugares sejam usufruídos da melhor forma para população viabilizando mais respiros naturais nos grandes centros urbanos, enriquecendo a paisagem e a qualidade de vida da população. A área escolhida para realizar a intervenção pretendida neste trabalho, tem como uma de suas motivações a pré-existência de uma massa vegetal original e também de plantas inseridas pela própria comunidade local. A região demonstra um forte interesse em se implementar melhorias saudáveis

Figura 07: Bairro do Rosarinho no Recife com grande presença de verticalização e densidade construtiva, em contra posição com a pouca participação de elementos naturais na paisagem urbana. Disponível em: < https://revistacontinente.com.br/secoes/indicacoes/-urbanismo--a-lei-que-redefiniu-o-horizonte-do-recife > Acessado em 15 de maio, 2021.

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para toda comunidade, o que gerou a fundação do Instituto de Casa Amarela Saudável e Sustentável (ICASS), uma organização culminada pela própria população, para buscar possíveis melhorias ao bairro. O Instituto foi responsável por dar início ao uso de áreas na região para a criação de hortas e pomares comunitários, que se tornou uma grande motivação para realização da pesquisa nessa área. A região apresenta uma real demanda por espaços mais vivos, que sejam democráticos para uso de todos, que proporcione lazer e atividades diversas, tornando o local convidativo e ainda que auxilie na obtenção de alimentos de qualidade e saudáveis, de forma ecologicamente sustentáveis. O território estudado possui um grande potencial de intervenção para aqueles que que anseiam constantemente pela ressignificação de uma área com forte presença da comunidade local, que procura fomentar práticas mais sustentáveis e espaços mais atrativos para cidade.

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OBJETIVOS


OBJETIVO GERAL Elaborar um estudo preliminar de intervenção sustentável e ecológica para a praça Arnoldo Magalhães e lote adjacente, juntamente ao trecho da Avenida Professor José dos Anjos no bairro de Casa Amarela.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS Engajar práticas sustentáveis e estilo de vida mais saudável na comunidade local, a partir do uso de hortas e pomares com a implementação do paisagismo funcional e agricultura urbana. Fomentar a vitalidade em espaços esquecidos ou sem uso (como é o caso da área de estudo). Resgatar e requalificar espaços verdes na cidade, valorizando a presença da natureza como elemento viabilizador do bem estar social. Reconectar a relação benéfica ocasionada pela constante ligação entre o humano e o meio ambiente o qual se está inserido. A partir do espaço proposto, desencadear um pensamento coletivo consciente, capaz de ‘ecoar’ a comunidade da área de estudo para ter práticas semelhantes implementadas em outras áreas da cidade.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


Para elaboração do presente trabalho foi adotado como metodologia de pesquisa um processo investigativo a respeito das temáticas abordadas, com propósito de aprofundar de forma assertiva todo conhecimento necessário para dissertar a respeito do trabalho em questão e gerar um produto a partir desse embasamento. A partir de averiguações em sites, livros, artigos, entrevistas e conversas com pessoas envolvidas na temática estudada, foi possível alcançar o objetivo final. Para alcançar os objetivos desejados, o trabalho debruçou-se a partir dos seguintes procedimentos:

da época. 2.

Estudo do território

Consiste na pesquisa de todos aspectos relevantes para entendimento da área de estudo com propósito de compreender as necessidades e características locais. Com uso também do método de pesquisa qualitativa, a partir de entrevista com o ICASS, correspondendo como representantes da comunidade do bairro que transmitiu os diversos anseios tidos pela população da região para a intervenção da área pesquisada.

1. Revisão bibliográfica

3.

Diretrizes projetuais

a. Para estudo da relação de configuração dos espaços públicos para com a sociedade e biofilia, foram utilizadas os livros URBANISMO SUSTENTÁVEL, DOUGLAS FARR (2013), CIDADE AO NÍVEL DOS OLHOS, STIPO (2012), junto a alguns artigos e estudo acerca do tema. b. A respeito de diretrizes e conceitos de sustentabilidade urbana foram utilizados os livros URBANISMO SUSTENTÁVEL, DOUGLAS FARR (2013) e URBANISMO ECOLÓGIO NA AMÉRICA LATINA, MOHSEN MOSTAFAVI, GARETH DOHERTY, ANA MARÍA DURÁN CALISTO, LUIS VALENZUELA (2019). c. Para o desenvolvimento de estudos a respeito das práticas de acupuntura urbana, foi tido como base o livro ACUPUNTURA URBANA, JAIME LERNER (2011). d. O estudo referenciado aos conceitos de paisagismo e agricultura modernos foram obtidos através de artigos, teses e estudos sobre a temática em questão. e. A investigação de elaboração dos espaços verdes e hortas urbanas no Brasil, foram feitas a partir de artigos, documentos registrados e estudos

Com base no diagnóstico realizado da área e das demandas da comunidade local, foram definidos os aspectos mais relevantes que serão norteadores para planejamento de um espaço convidativo que proporcione lazer, aliado a sustentabilidade e cultivo de alimentos de forma ecológica e funcional. Sendo assim, desenvolvidas as diretrizes projetuais para proposta do trabalho em questão.

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SEMEAR (lat seminare). Lançar sementes em terra previamente preparada para que germine; Dispor algo com o objetivo de obter resultados futuros. - Dicionário Michaelis, 2015.


1. ESPAÇOS PÚBLICOS, PESSOAS E A NATUREZA


1.1 TRANSFORMAÇÕES DOS ESPAÇOS PÚBLICOS NAS CIDADES

O cenário das cidades vem mudando a cada década com as renovações e transições de novos pensamentos sociais, mas algo que permanece e pode ser considerado inerente às realidades das cidades, são os espaços públicos e sua vital presença para alcance de uma boa urbanização. As vias e espaços públicos são importantes indicadores do êxito das cidades ao expandir seu território com qualidade, já que esses são elementos responsáveis por criar a imagem e identidade de uma respectiva área. São com base em referências como essas que é possível classificar a eficiência dos transportes públicos, da igualdade em acesso aos espaços pelas diferentes classes sociais, pela qualidade de vida de sua população, pela configuração dos diferentes usos espaciais e desenvolvimento econômico. O estabelecimento de funções culturais, sociais, econômicas e políticas nas cidades e municípios, são drasticamente influenciadas pela configuração de suas ruas e espaços. A negligência de planejamentos assertivos, tornam as cidades segre-

gadas e desiguais, como é o caso de espaços privatizados e térreos voltados para o interior dos edifícios, que tornam o desenho da cidade pouco atraente e até mesmo inseguro.

Figura 08: Pintura da cidade de Vienna, na Áustria, no século XVIII demonstrando o movimento das ruas da época. Disponível em: < https://de.wikipedia.org/wiki/Datei:Bernardo_Bellotto,_called_Canaletto_-_Vienna,_Dominican_Church.jpg > Acessado em 16 de maio, 2021.

Figura 09: Cidade de Belfast na Irlanda do Norte com a presença de Bondes e carroças em 1898. Disponível em: < https://en.wikipedia.org/wiki/Royal_Avenue,_Belfast#/media/File:Royal_Avenue_Belfast2.jpg > Acessado em 16 de maio, 2021.

A transição histórica nos espaços públicos no decorrer dos séculos foi refletida pelas diversas transformações no modo de vida da sociedade com o decorrer do tempo. Até meados do século XVIII, os centros urbanos se configuravam pela integração da cidade à movimentação da vida social e econômica, em lugares públicos como mercados, portos, igrejas, prefeituras, dentre outros. Já com a virada do século, torna-se possível encontrar uma nova dinâmica de fluxo urbano com a utilização dos meios de transportes que demandam por ferrovias e estradas para atender ao crescimento da economia, tornando o desenho urbano cada vez disperso pelo crescimento das escalas das quadras, resultadas pela fuga da população dos centros das cidades para áreas mais acessíveis.

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Figura 10: Times Square em Nova York (EUA) na década de 50 com a presença dos automóveis protagonizando as vias. Disponível em: < http://transpressnz.blogspot.com/2011/02/times-square-nyc-1950s.htm > Acessado em 16 de maio, 2021.

Logo depois, veio a criação de uma nova forma de consumo comercial e de serviços, os shoppings centers. (ver figura 10) Esses grandes complexos fechados que se voltavam para o interior do lote, com a presença de vastos estacionamentos, foram responsáveis por danos aos desenhos urbanos difundidos até os dias de hoje. Os centros comerciais que antes eram protagonizados pelas ruas e que antes possuíam um grande fluxo de pessoas movido pelas atividades econômicas, passaram a ser lugares mais isolados e distantes do viés dos espaços públicos. No período encontrado entre as décadas de 70 e 90, houve certa decadência do modelo de segregação de bairros por setores difundidos no início

do século XX nos principais centros europeus e norte americanos. Após a Segunda Guerra Mundial ocorreu então, mais uma nova transformação no modo de pensar sobre tecido urbano com o surgimento dos automóveis. As cidades passam a ser setorizadas em áreas de

Figura 11: Antigo Orchard Shopping Center, em Illinois (E.U.A) em 1950. Disponível em: < http://mallsofamerica.blogspot. com/2005/12/old-orchard-shopping-center.html > Acessado em 16 de maio, 2021.

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acordo com tipo de atividade (comercial, residencial, etc.) empobrecendo as trocas sociais tidas dos espaços públicos. Esse processo gerou uma nova forma de urbanização que pregava por grandes vias, quadras abertas, com a presença de parques e áreas verdes seguindo os conceitos do movimento modernista. O que se passou a ter foi uma renovação do tecido urbano a partir da percepção das consequências de todo tráfego necessário para se locomover entre os diferentes setores da cidade, gerando uma revisão da relação entre a escala humana e a escala das cidades, que modificaram a zona de transição tida entre os espaços privados e públicos. Esse período marcou o início da transfiguração das cidades que passaram a resgatar leituras urbanas encontradas em séculos passados. Na verdade, deixamos para trás a cidade moderna do século 20 e nos deparamos, sem aviso prévio, com as metrópoles mutantes da contemporaneidade. A metrópole contemporânea apresenta imensas áreas desarticuladas e dispersas pelo território. São áreas dotadas de fluxos variados, em trânsito permanente, com fraturas que esgarçam o tecido urbano, estabelecendo aparente semelhança entre partes dispersas. (SOUZA; AWAD, 2012)

A partir dos anos 90, o que se observa é a valorização dos espaços públicos com a tentativa de renovar os centros das cidades, como forma de regenerar os locais de encontros e trocas sociais, de lazer e que movimentam a economia local. Os espaços abertos como parques, praças, e as vias também se tornam alvo dessa revalorização e ressignificação dos espaços públicos. A sociedade torna ainda, a valorizar essas áreas como uma maneira de fomentar a economia das cidades, não só para um melhor desenvolvimento e evolução da qualidade de vida, mas também

Figura 12: Avenida Paulista em São Paulo (Brasil) com uso de vias públicas para passeios aos domingos. Disponível em: < https://www.itdp.org/2019/12/05/four-years-of-car-free-sundays-on-paulista-avenue/> Acessado em 16 de maio, 2021.

para o progresso do setor turístico com a promoção de eventos públicos e festivais, que atraem constantes visitantes e agregam para a identidade das cidades modernas ( WERF, ZWEERINK, TEEFELEN, 2015). Apesar de todas essas transformações ocasionadas pelos diferentes períodos históricos no decorrer da humanidade, os espaços públicos das cidades sempre tiveram uma importância intrínseca em sua existência. Sendo o local de encontro social, de práticas de lazer, de desempenhar a cultura específica de cada lugar e de ainda exercer atividades políticas sendo palco de manifestações das mais diversas causas em toda história da sociedade. As novas tendências do urbanismo encontrado do contexto atual, procuram trazer infraestruturas que incluam o espaço privado e o espaço público, possibilitando a permeabilidade das comunidades de diferentes origens sociais, econômicas e culturais.

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1.2 AS RELAÇÕES DA MODERNIDADE COM A NATUREZA A PARTIR DA BIOFILIA

Nos primórdios da história humana, tinha-se a natureza como um elemento que muitas vezes foi tido como obstáculo para a sobrevivência, sendo a partir da domesticação dessa natureza juntamente aos animais, que transformou a história do homem ao seu favor. Passou-se a pensar que o homem era o detentor da natureza e que essa deveria sempre provir para saciar as necessidades da sociedade, sendo esse um dos resultados de uma visão antropocentrista adotada como crença por muito tempo. Apesar de tal contexto histórico, é possível encontrar também vertentes como a do filósofo Jean Jaques Rousseau (1712-1778), que demonstrava paixão pela natureza, defendendo a manutenção e conservação da existência das florestas, dos animais e demais elementos naturais. Ele acreditava que a relação homem/natureza era algo de extrema importância e que o distancia-

mento ocorrido entre essas duas partes, por conta da apropriação do homem para com os recursos naturais, trouxe diversos prejuízos. Para ele, a partir do momento em que se buscou obter lucro com a exploração desses recursos, não somente para fins de sobrevivência, ocasionou um desequilíbrio que foi se tornando cada vez mais profundo. O filósofo defendia que o homem vivia feliz e em paz no Estado de Natureza, mas que no Estado de Sociedade, esse se corrompeu gerando a desigualdade de classes e a perda da sua liberdade natural. É possível notar que mesmo após séculos, o discurso citado previamente de Rousseau, encaixa-se quase que perfeitamente com o contexto da atualidade moderna, tornando cada vez mais necessário reconhecer o valor da natureza como elemento vital e trazê-la

Figura 13: Jean-Jacques Rousseau recolhendo ervas em Ermenonville (1712-78), de Nicolas Andre Monsiau (Bibliothèque Nationale, Paris, France). Disponível em: < https://revistacult.uol.com.br/home/rousseau-a-passeio/ > Acessado em 18 de maio, 2021.


novamente para a realidade de todos. Para desencadear essa transformação, a arquitetura ecológica tem um papel indispensável por desempenhar que os espaços sejam desenvolvidos com devido respeito e cuidado ao meio ambiente o qual se está inserido, além de preservar e gerar o mínimo de impacto na natureza. A presença dos elementos naturais na realidade dos indivíduos, são responsáveis por despertar através dos sentidos sensoriais, percepções e sensações que são suscetíveis a ocasionar influência direta no comportamento humano. Essa correlação, então, passou a ser estudada e aprofundada pelo fenômeno da biofilia, que surgiu como uma proposição de novo olhar na existência humana aliada à natureza presente nos espaços. O termo “biofilia” foi introduzido pelo psicólogo social Eric Fromm, no livro Coração do Homem (1964), popularizando-se a partir de 1984 por Edward Osborne Wilson e nas últimas décadas se tornou algo amplamente discutido, que obteve bastante destaque nas áreas de arquitetura e urbanismo. Sua definição consiste na relação de amor e de interdependência que os seres humanos possuem com o meio ambiente e os demais seres vivos (FARR, 2013). Está diretamente ligado aos efeitos que esses elementos podem trazer para a vida das pessoas e que foi algo esquecido com o decorrer dos avanços tecnológicos e urbanos. Segundo estudos desenvolvidos por Stephen Robert Kellert (1943-2016) e Elizabeth F. Calabrese para o livro “The Practice of Biophilic Design”, foram determinados três tipos de experiências relacionadas à natureza. 1. A primeira delas é a experiência direta, que representa o contato real com elementos naturais no ambiente construído, formado pelos seguintes atributos:

a. Luz – A presença da luz natural permite a noção de tempo pela transição de dia/noite e também das estações, possuindo efeito de sensações de bem-estar. b. Ar - A ventilação natural é bastante relevante para promover conforto e produtividade c. Água - Sua presença pode aliviar estresse, causar satisfação, melhorar desempenho e também a saúde. O contato com esse elemento pode ser promovido através dos diversos sentidos do corpo humano. d. Plantas - A presença de vegetação e flores, são uma das mais utilizadas estratégias biofílicas por seu êxito ao proporcionar experiências de contato com o ambiente natural. Sua presença pode reduzir níveis de estresse, contribuir para saúde física, auxiliar no conforto e auxiliar na produtividade. Sendo importante ressaltar que sua presença nos espaços deve ser em abundância para que tais resultados possam ser atingidos. e. Animais – a relação humana com animais é algo que sempre existiu na história. Apesar de ser um elemento mais complexo para se inserir nos espaços, é recomendado que esse contato deve existir sempre que possível. f. Clima – Possuir nos espaços a percepção e contato com o clima, é algo considerado fundamental e que resulta sendo um fator estimulante para as várias funções humanas. g. Paisagem natural – Foi visto que as pessoas tendem a preferir a presença da natureza ou elementos naturais, ao invés de elementos artificiais que tentem remetê-los. A ligação com esses sistemas naturais pode ser despertada a partir de vistas, meios de observação, interação direta e até mesmo a participação ativa. h. Fogo – Para esse elemento foi visto que ele é capaz de desencadear conforto, mas também a ansiedade


cas. c. Cores naturais - No passado, foram responsáveis por determinar importantes significados ao buscar recursos como alimentos, por exemplo. As cores que simulam tons presentes na natureza, como tons terrosos, são responsáveis por estabelecer essa relação biofílica com o indivíduo no espaço. d. Simulação de luz e ar naturais – Por conta dos avanços tecnológicos, os ambientes com ventilação e iluminação artificial passaram a ser algo comum no dia a dia das pessoas. Essa

Figura 14: Projeto com presença de vários elementos biofílicos Disponível em: < https://www.ro-co.uk/ > Acessado em 18 de maio, 2021.

e por isso seu efeito pode variar pela forma aplicada no ambiente ou pela experiência de cada indivíduo. 2. Já a experiência indireta com a natureza, consiste no contato com a representação ou imagem desses elementos. Podem ocorrer pela demonstração em sua condição original, por padrões que o remetem ou apresentação de suas características. a. Imagens da natureza – A representação ou imagem da natureza nos ambientes, podem ocasionar contentamento emocional e também intelectual. b. Materiais naturais – Os materiais naturais são capazes de trazer aos espaços visuais e texturas naturais, que impulsionam um estímulo considerável em comparação aos mesmo que não possuem tais característi-

Figura 15: Projeto com presença de vários elementos biofílicos. Disponível em: < https://www.ro-co.uk/ > Acessado em 18 de maio, 2021.

troca nem sempre é benéfica, mas é possível utilizar tais elementos para que simulem a presença de luz e ar naturais para um melhor conforto. e. Formas e figuras naturais – Elementos diversos que detêm referência natural podem ser especialmente atraentes aos sentidos do corpo, que ao serem adotados podem transformar a dinâmica dos ambientes.

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f. Evocação da natureza - São representações indiretas e interpretações geradas através do design, de elementos naturais ou da própria natureza. g. Riqueza de informações – A natureza possui uma incontestável complexidade estabelecida pela sua diversidade e variabilidade. Os ambientes ricos em detalhes, dispõem respostas positivas por uma grande variedade de experiências proporcionadas por esses elementos ao entrarem em contato com os indivíduos. h. Envelhecimento, mudança ou transição do tempo – Os humanos tendem a responder de forma positiva ao processo natural de amadurecimento, que demonstra a capacidade da natureza de se adaptar em relação às transformações ocasionadas.

i. Geometrias naturais - Referem-se a propriedades matemáticas que são comumente encontradas na natureza. j. Biomimédica – São formas e funções presentes na natureza, que tem propriedades implementadas para soluções de questões e didáticas humanas. 3. Por último, a experiência de espaço e lugar, está relacionada às características de ambientes da natureza que provocam experiências de saúde e bem-estar humanos progressivos.

Figura 17: Presença do elemento de perspectiva e refúgio. Disponível em: < https://casavogue.globo.com/Arquitetura/ noticia/2020/10/o-que-e-arquitetura-biofilica.html > Acessado em 18 de maio, 2021.

Figura 16: Projeto com geometrias naturais, riqueza em detalhes e dentre outros aspectos biofilicos. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/01-157662/arquitetura-biomimetica-o-que-podemos-aprender-da-natureza > Acessado em 18 de maio, 2021.

a. Perspectiva e refúgio – Ambas funções podem ser funcionais e satisfatórias ao serem inseridas no ambiente construído sendo duas funções complementares. A perspectiva implica no espectro de observação de vistas amplas e o refúgio, relaciona-se como lugar que fornece abrigo e segurança

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b. Complexidade organizada – Os espaços complexos organizados são considerados bastante atrativos por terem várias opções e oportunidades. Sendo a complexidade um elemento muito encontrado nos elementos e sistemas naturais, o uso dessa mesma lógica para aplicação espacial se guia pelo mesmo referencial. c. Integração de peças ao todo – Tem-se por uma integração satisfatória de elementos que pertencem a um contexto geral, mas que se conectam. d. Espaços de transição – A transição clara entre áreas e ambientes, é responsável por causar impactos positivos sensórias. Tais espaços são elementos que ligam o interior ao exterior.

e. Mobilidade e orientação – A locomoção entre espaços realizada de maneira simples e clara é um significativo fator para provocar sensações de bem-estar. As pessoas procuram alternativas que promovam segurança, muitas vezes caracterizadas por caminhos e locais com entradas e saídas claras. f. Conexão cultural e ecológica ao lugar – Consiste no apego por lugares familiares, que possuem significados associados e que se destacam por sua identidade com elementos humanos. Já a conexão ecológica se define pela valorização de acordo com paisagens naturais que formam um significado para o indivíduo ou certa civilização. Tem-se que o apego cultural e ecológico a um certo espaço, tende a motivar o zelo por conservar

Figura 18: Projeto de Templo que apresenta conexão cultural, além de outros valores biofílicos. Disponível em: < https://unsplash.com/photos/HprJoPvgk-s > Acessado em 18 de maio, 2021.

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e cultivar os ambientes naturais e construídos pelo homem. A partir de tais aspectos relacionados à influência da natureza nos espaços construídos, torna-se válido observar como a implementação desses elementos se dão em grandes escalas e quais melhorias o design biofílico pode trazer para os centros urbanos. Segundo estudos, foi visto que bairros verdes ou com maior presença de sistemas naturais, são associados a diminuição de estresse e promovem melhorias na saúde física e mental. As populações que possuem esse maior contato natural apresentam melhorias no humor, no desempenho cognitivo, na criatividade e ainda, foi visto que tais fatores podem

ocasionar diminuição da mortalidade e na desigualdade de saúde. (BEATLEY; NEWMAN, 2013) Construções de parques, praças, arborização de vias, implementação de telhados verdes e criação de jardins comunitários, são algumas das iniciativas capazes de agregar uma maior leitura natural aos espaços urbanos. Além desses exemplos, existem outras várias formas para se inserir elementos biofílicos nas diferentes escalas promovidos por um urbanismo biofílico. Alguns exemplos por categoria de possíveis intervenções são:

ESCALA

ELEMENTOS DO DESIGN BIOFÍLICO

Edifício

Telhado verde Átrios verdes Teto jardim Paredes verdes Espaços internos com iluminação natural Pátios verdes

Quadra

Habitações concentradas em torno de áreas verdes Jardins e espaços com uso de espécies nativas Ruas arborizadas Árvores urbanas Desenvolvimento de baixo impácto (LID)

Rua

Vales cobertos de vegetação e ruas com menores escalas Paisagismo comestível Alto grau de permeabilidade Restauração córregos urbanos Florestas urbanas Parques ecológicos

Bairro

Jardins comunitários Pocket parks/ parques de bairro Implementação de elementos verdes em áreas cinzas e marrons (áreas obsoletas sem presença de arborização ou qualquer elemento verde) Riachos urbanos e áreas ribeirinhas Redes ecológicas urbanas Escolas verdes

Comunidade

Rede de copas de ávores no tecido urbano Florestas e pomares comunitários Arborização de corredores viários Sistema de fluviais com margéns alagadas produtivas Sistemas ribeirinhos

Região

Sistemas regionais de espaços verdes Arborização de grandes corredores de transporte público

Figura 19: Elementos de design biofílico segundo Timothy Beatley e Peter Newman. Fonte: Biophilic Cities Are Sustainable, Resilient Cities, 2013.

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Com a implementação desses diversos elementos, torna-se possível desenvolver cidades biofílicas segundo Timothy Beatley e Peter Newman (2017), que são aquelas que proporcionam contato próximo diariamente com elementos naturais e que ainda buscam conscientizar e fomentar a preservação da natureza. Para se enquadrem a esta categoria, associam-se às cidades as seguintes características:

dades devem possibilitar caminhos e conexões de áreas verdes, para que a população possa desfrutar de caminhadas e passeios com a presença dos elementos biofílicos nas cidades.

1. Natureza abundante nas proximidades com grande número de habitantes – As cidades devem possuir programas públicos de infraestrutura, que promovam a integração de áreas verdes, sendo dedicado uma parte do orçamento direcionado especificamente para esses projetos.

Figura 21: Pessoas caminhando pelo parque linear urbano Jack and Jean Leslie Riverwalk (EUA). Disponível em: < https://i.pinimg.com/originals/b4/ea/f2/b4eaf26d090b92a1abe7ab91542f4c87.jpg > Acessado em 18 de maio, 2021.

Figura 20: Visitantes no Mission Dolores Park, São Francisco (CA, EUA) utilizando os vastos espaços verdes como lazer próximos a cidade. Disponível em: < https://unsplash.com/ photos/h82CAi8as7E > Acessado em 18 de maio, 2021.

2. Afinidade entre cidadãos, flora e fauna nativa – As características naturais originárias de cada lugar como clima, fauna e flora são aspectos fundamentais para identidade de um lugar ou paisagem. Com isso, deve haver a iniciativa governamental para que a população seja educada, conscientizada e estimulada a conhecer esses elementos, os cultivando e preservando. 3. Oportunidade para estar ao ar livre e desfrutar da natureza – As ci-

4. Ambientes multissensoriais – Podem ser proporcionados através de espaços naturais e corredores ecológicos inseridos no tecido urbano, para que se conectem às experiências de sons, visadas e aromas da natureza nesses espaços, assemelhando-se a percorrer um parque, , por exemplo. 5. As cidades biofílicas concedem um papel importante à educação da natureza – Ao promover oportunidades para os habitantes se conectarem com a natureza, as cidades biofílicas devem incentivar, a partir de uma educação, uma vida mais sustentável para toda população se tornar mais consciente.

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Figura 22: População utilizando espaço verde que contrasta diretamente com as edificações do seu entorno. Disponível em: < https://unsplash.com/photos/h82CAi8as7E > Acessado em 18 de maio, 2021.

6. Investimento em infraestrutura social que ajude a população urbana a compreender a natureza – É preciso que essas cidades se empenhem em trazer sempre novas ações biofílicas para cidade, com isso, deve-se dedicar cerca de 5% do seu orçamento para gerar biodiversidade e promover no mínimo um projeto biofílico por ano. 7. As cidades biofílicas tomam medidas para apoiar ativamente a conservação da natureza – Desenvolvimento de uma lógica urbana compacta e eficiente para que as áreas de sistemas naturais sejam devidamente conservadas. 8. Promovem-se a instalação de estruturas verdes em edifícios, de forma a aliviar a sobrecarga induzida pela massificação de uma malha urbana compacta – Como consequência da urbanização acelerada promovendo altas

densidades urbanas, o que se propõe é a intervenção de espaços em desuso ou abandonados nas cidades, para implementação de componentes naturais. 9. Implementação de formas de transporte amigos do meio ambiente – Com a grande demanda por locomoção da população todos os dias, é preciso assegurar formas de transporte que sejam capazes de atender a necessidade da população de forma sustentável, minimizando os impactos ambientais. 10. Clara noção de ciclos presentes na natureza e de formas de interação com a mesma – Esse item fala sobre a importância de gerir seus recursos naturais corretamente, para que seja evitada a degradação desenfreada do meio ambiente. Diante da complexa situação encontrada nas diversas cidades urbanizadas em que houve uma brusca inversão

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das tipologias de elementos que supostamente deveriam prevalecer para uma melhor qualidade de vida ocorrida na história, encontra-se uma imediata necessidade de se buscar a direção oposta. O desejo se torna agora, de resgatar o estilo de vida que se tinha nos séculos passados com a ampla presença de espaços abertos em contato constante com a natureza, a presença de diversos parques, áreas verdes e ruas arborizadas. O pensamento do urbanismo, como o modernista, foi um dos motivadores para a eliminação da presença natural nas cidades, mas que agora perde lugar para um urbanismo sustentável e ecológico. Para entender a relevância que eses elementos possuem na vida de cada ser humano, é preciso observar os resultados causados pelo estilo de vida moderno, sendo este diretamente relacionado a pouca prática de atividades físicas, alimentação nociva em grandes quantidades, constante estresse das demandas da vida contemporânea e diversas outras questões atuais. Tendo esses fatores como algo determinante para a qualidade de vida, tem-se uma população com problemas de saúde físicos e mentais, como obesidade, depressão, ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), e inúmeros outros que são apenas uma amostra do grande impacto que a humanidade vem enfrentando. O contato direto com a natureza entra, então, como uma medida de “salvação” que foi encontrada pelo design biofílico ao reintegrar os espaços e trazer novamente ambientes benéficos, capazes de gerar bem estar instantâneo com a presença desses elementos naturais, e que ainda são aptos a estimularem a concentração, a capacidade cognitiva, a produtividade e também a criatividade. Tendo em vista tal reflexão a respeito da biofilia e sua inquestionável importância para o dia a dia dos seres

humanos, é preciso salientar ainda, que a presença desses conceitos nos contextos urbanos são fundamentais para solucionar problemáticas como a falta de espaços verdes para descontração nas “selvas de pedra”, na perca significativa de elementos da fauna e flora com o crescente do avanço urbano e nos impactos ambientais ocasionados nas cidades. Como consequência dessa tendência de todos os tipos de assentamentos humanos a suprimir natureza, a maioria das pessoas vive sem contato diário com sistemas naturais. Elas não fazem ideia de onde vêm a água, a energia ou o alimento que consomem nem para onde seus resíduos líquidos ou sólidos vão. Como não são informadas sobre os sérios danos que seu estilo de vida causa à natureza, seguem sua vida cotidiana praticamente ignorando o assunto. (FARR,2013 p.36)

Vale ressaltar que a relação e contato direto com a natureza pode trazer uma mudança significativa para o pensamento da população: a conscientização ambiental. Com todo o distanciamento ocorrido nessa relação homem/ natureza, as pessoas passaram a não valorizar ou não se importar com os recursos naturais desperdiçados e todos os impactos causados pelo seu consumo desenfreado. Não se sabe exatamente de onde vem tudo que é utilizado e muito menos para onde se vai, o que torna imensamente mais árdua a tentativa de conscientizar contra os impactos causados pelo modelo de vida moderna capitalista. Logo, para que essas cidades verdes sejam concebidas com êxito, é fundamental observar características determinantes de pensamento e estilo de vida da população. A participação da comunidade nesse processo faz com que estejam empenhadas a cultivar o meio ambiente e suas cidades. Como

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ocorre nas cidades biofílicas, as quais os residentes estão direta e ativamente engajados em aprender, desfrutando e cuidando da natureza ao seu redor e desenvolvendo conexões emocionais importantes com a natureza. Essa temática traz então, várias reflexões a respeito da participação da natureza na vida do homem, por ser capaz de gerar a saúde aos espaços e as vidas das pessoas, influenciando até mesmo no processo de socialização da população e em como o indivíduo compreendendo o lugar que vive, mas que em contrapartida ainda não é enxergada com o devido grau de urgência pela humanidade.

Figura 23: Visitantes desfrutando dos elementos naturais proporcionados no parque registrado. Disponível em: < https://unsplash.com/photos/h82CAi8as7E > Acessado em 18 de maio, 2021.

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2. SUSTENTABILIDADE URBANA


2.1 COMO SURGIU E O QUE A DEFINE O termo sustentabilidade já se tornou algo bastante difundido nos últimos anos, por conta das crescentes preocupações e debates com os impactos gerados pela humanidade. A definição de desenvolvimento sustentável é estabelecida pela Organização das Nações Unidas como “O desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades.”, mas essa definição se torna mais complexa à medida que envolve as diversas áreas de atuação. Para a arquitetura e o urbanismo a ideia de sustentabilidade urbana vem se difundindo cada vez mais e sendo implementada em inúmeras cidades. A fim de entender do que se trata e como surgiu esses conceitos que vêm implementando uma forma de construção ou intervenção dos espaços mais consciente, é preciso voltar um pouco à sua linha do tempo. Tendo como partida o ano de 1928, o qual ocorreu o primeiro CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna), esse que nada mais era que um movimento que pretendia promover reformas capazes de melhorar os desenhos urbanos das cidades, as formas de habitação, o saneamento e a saúde pública. Isso se deu pelo fato de muitas cidades europeias com partes mais antigas e habitadas pela população mais carente, possuírem uma considerável insalubridade e insegurança que tornavam a qualidade de vida extremamente problemática. Esse movimento se deu, então, como um dos primeiros episódios marcantes de busca pela melhoria de centros urbanos, através de iniciativas que desenvolvessem formas menos inóspitas de construir habitações ou outros tipos de edificações. Os CIAMs foram considerados fo-

mentadores de outras diversas vertentes que buscavam fomentar melhorias para as condições de vida e desenvolvimento nos centros urbanos. A partir desse ponto, foi possível obter posteriormente o que se tem como “Crescimento Urbano Inteligente” em 1996, com a determinação dos seus 10 princípios inaugurados por Harriet Tregoning, que estabeleciam parâmetros para criação de bairros mais caminháveis, atraentes, com sua comunidade ativamente envolvida, diferentes usos do solo, preservação de espaços abertos ou ambientes em situação crítica, variedades de transportes e ainda ideais de urbanização compacta. Com todos esses movimentos surgindo em prol do progresso inteligente, surge os ideais do urbanismo sustentável, uma vertente que foi influenciada por todos esses movimentos já citados e que busca uma infraestrutura de qualidade para atender toda população, transporte público efetivo e a caminhabilidade confortável para que os pedestres possam usufruir dos espaços da cidade de forma democrática (FARR, 2014). Essa vertente defende alguns critérios norteadores como: a. Centro e limite bem definidos, que correspondem a restringir limites claros aos bairros, para que esses possam ter maior sociabilidade de seus moradores. Isso implica em o estímulo de sua população para ser responsável por desenvolver e preservar seus espaços por conta de um sentimento de pertencimento gerado na convivência entre si, a fidelização de comércios da região e também outras relações que são responsáveis por conseguir um desenvolvimento em cadeia da comunidade local. b. A compacidade é um critério que está relacionada ao aumento da

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eficácia da sustentabilidade, relacionada à necessidade de uma determinada área exigir uma mínima densidade considerada ideal para economia de recursos e infraestrutura. Um exemplo dessa didática seria o fato de ter pessoas que moram em pavimentos superiores aos de comércios e serviços, pois com essa logística é possível evitar um grande fluxo de pessoas para outras regiões mais distantes, economizando uso de transportes que poluem e fazendo com que os pedestres tenham mais poder de compra. Essa compactação de pessoas também resulta no menor uso de infraestruturas, redução da emissão de poluentes, consumo de energia e ainda pode conservar a natureza, já que impede o progresso desordenado capaz de destruir áreas naturais e diminuir a quantidade de áreas pavimentadas.

através de bons passeios de ruas que conectam bem todas as quadras e bairros adjacentes. e. Biofilia, esse último conceito diz respeito a interação do urbanismo sustentável que procura apesar dos densos espaços urbanos, relacionar as pessoas com a natureza por entenderem a grande importância que essa ligação detém na vida do ser humano.

c. O aspecto da completude diz respeito ao fato de ser extremamente importante que um bairro possua

Figura 25: Projeto de bairro sustentável com presença da biofilia. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/ br/941077/bairro-sustentavel-projetado-por-stefano-boeri-na-albania-comecara-a-ser-construido > Acessado em 01 de junho, 2021.

Figura 24: Projeto de bairro sustentável com presença de vários usos conectados. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/941077/ bairro-sustentavel-projetado-por-stefano-boeri-na-albania-comecara-a-ser-construido > Acessado em 01 de junho, 2021.

diversos tipos de usos, tornando esse mesmo completo e capaz de atrair a população local. d. A conectividade está relacionada a nada mais que possuir um transporte público de qualidade e eficiência,

Além de diretrizes urbanas de sustentabilidade que foram bastante difundidas, houve paralelamente nesse período a investigação de métodos capazes de trazer a sustentabilidade em outras escalas para as cidades. A arquitetura urbana sustentável, entra então nesse cenário para articular estratégias que auxiliem no desempenho das edificações. Com a mudança climática e o constante crescimento do mercado mobiliário, as cidades foram perdendo seus espaços verdes e se deparando com o fenômeno chamado de “ilhas de calor”, fenômeno esse que desencadeia uma concentração de altas tempera-

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Figura 26: Central Parque em Nova York (EUA), que proporciona um oásis verde urbano no centro da cidade. Disponível em: < http://www.mellows.com.br/pturistico-centralpark/ > Acessado em 01 de junho, 2021.

turas em grandes centros urbanizados pela falta de elementos naturais que trariam um balanceamento em contraponto com a densa massa construtiva encontrada nessas áreas. Uma medida que se tornou popular e foi utilizada em diversos projetos pelo mundo, foi a intervenção na “quinta fachada”, assim chamada por Le Corbusier na era do movimento modernista na arquitetura. A quinta fachada nada mais é que a cobertura das edificações que por muito tempo foram tratadas como mero local para instalações técnicas, mas que a partir disso passou a ser introduzida como uma área útil abrigando jardins, ambientes de contemplação ou mesmo para lazer. Podem ser utilizados também como “telhado verde”, uma solução criativa que promove diversas melhorias não só para a edificação que se encontra inserida, mas também no cenário que o rodeia. O conceito corresponde a utilização dessa área da coberta, para adotar uma camada de vegetação responsável

Figura 27: Representação de telhados verdes em edificações no centro da cidade. Disponível em: < https://blog.regionaltelhas.com.br/telhado-verde-o-que-e-como-funciona-e-quais-suas-vantagens/ > Acessado em 01 de junho, 2021.

por proporcionar o resgate do elemento verde, que muitas vezes se encontra ausente nos lotes e tem sua readequação para os topos das edificações. Esse recurso teve uma ampla aceitação por conseguir trazer a captação de águas pluviais para reutilizo em jardins ou limpeza, auxiliar também na drenagem em épocas de chuvas ( grande problemática muito encontrada nas cidades urbanizadas), maior proteção contra o sol tornando a temperatura interna da edificação mais agradável por uma di-

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minuição de até 5° C, absorção de gases CO2 nocivos a atmosfera e ainda ter a capacidade de minimizar os efeitos das ilhas de calor nas cidades.

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2.2 ESTRATÉGIAS DE SUSTENTABILIDADE URBANA VOLTADAS PARA O ESPAÇO PÚBLICO

Visando alcançar as mudanças que serão capazes de trazer sustentabilidade para o contexto de cada vez mais cidades, é preciso repartir a porção de participação de cada agente protagonista nesse retrato atual, que foi criado há séculos da ação humana no meio ambiente. Além da óbvia participação da população consciente em suas práticas e a intervenção de estratégias arquitetônicas em cada lote citadas no tópico anterior, é preciso ainda, contar com a massiva participação dos espaços públicos para uma cidade sustentavelmente ideal. Com cenários urbanos se tornando cada vez mais brutais com a natureza e com a grande concentração em concreto construído, os elementos verdes nas suas mais diversas escalas distribuídas nos contextos urbanos se fazem indispensáveis. Componentes como praças, mini parques, parques, jardins, dentre outros espaços verdes, são propulsores de microclimas locais capazes de modificar a umidade do local, de diminuir a temperatura amenizando consequências geradas pelas ilhas de calor, podem ainda reduzir a velocidade dos ventos, filtrar os raios solares, absorver o excesso de poluição sonora e também do ar, que principalmente em grandes centros, possuem uma alta taxa de poluentes devido ao excessivo uso de automóveis por queima de combustíveis fósseis. O setor construtivo é tido como um dos que mais consomem matéria natural, que possuem um alto nível na geração de resíduos e que também produzem quantidades enormes de gás carbônico, agredindo a camada de ozônio do planeta terra. Todas essas questões são consideradas como uma imensa preocupação que necessita ur-

gentemente da aplicação de mais soluções significativas. No âmbito dos espaços urbanos essa lógica é necessária para utilização de métodos e materiais sustentáveis de baixo impacto, recicláveis e que proporcionem melhorias para o ambiente que se está inserido. Como exemplo desses referenciais, tem-se o uso de pisos permeáveis em parques e ruas, que possibilitem auxiliar a drenagem das águas pluviais pela cidade e que também facilitam o retorno desse recurso ao solo natural. A implementação de mobiliários urbanos produzidos a partir de materiais reutilizados e sustentáveis teriam também seria mais uma alternativa para tornar esses espaços mais conscientes.

Figura 28: Uso de piso permeável em calçada de edifício. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/catalog/br/ products/9637/piso-intertravado-bloquetes-macicos-ou-permeaveis-braston?ad_source=neufert&ad_medium=gallery&ad_name=close-gallery > Acessado em 01 de junho, 2021.

A iluminação pública é outra temática que pede uma nova forma de intervenção, mas que infelizmente ainda é algo pouco disseminado nas cidades pelo mundo. A questão é que esse recurso foi inicialmente desenvolvido para melhorar as vias de circulação tanto para os pedestres, como para os carros. Era uma forma de estimular a vida noturna, mas que na escala alcançada

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sos naturais, valorizando e preservando para um estilo de vida que desencadeia menos impacto e que possa garantir a vida também de qualidade para as gerações futuras.

Figura 29: Iluminação por postes de captação de energia solar. Disponível em: < http://revistagalileu.globo.com/Revista/ Common/0,,ERT162458-17770,00.html > Acessado em 01 de junho, 2021.

atualmente pelos grandes centros urbanos, causou malefícios como o fenômeno do ofuscamento, a poluição luminosa e o claro uso excessivo de energia. Tais consequências são responsáveis por tornar baixa a visibilidade das estrelas até mesmo para os astrônomos. Esse excesso causa um gigante desperdícios de energia ao iluminar áreas demasiadamente e também áreas com pouco fluxo de pessoas, como são os casos de diversas estradas. É fundamental reconhecer esses indicadores, para ter uma iniciativa de aplicação da iluminação pública de acordo com a verdadeira demanda dos espaços e principalmente pensando na sustentabilidade fazendo uso da energia solar captada por esses mobiliários. É notória a urgente necessidade que a humanidade encontra em repensar seu meio de viver e sua relação com os recursos naturais, sendo algo cada vez mais reconhecido pela sociedade. Tendo em vista que os ciclos e funções ecológicas, sociais e culturais, são capazes de aumentar a valorização urbana dos locais sob intervenção e que isso traz consigo uma qualidade indiscutível para os espaços urbanos e não urbanos, promover essa transformação nas cidades só poderão ter bons impactos na realidade de todos. A sustentabilidade tem um papel fundamental ao reconhecer a verdadeira situação dos recur-

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3. DESENVOLVIMENTO DE ACUPUNTURA URBANA


3.1 A VITALIDADE IMPULSIONADA PELOS ESPAÇOS Acredito que algumas “magias” da medicina podem, e devem, ser aplicadas às cidades, pois muitas delas estão doentes, algumas quase em estado terminal. Assim como a medicina necessita da interação entre médico e paciente, em urbanismo também é preciso fazer a cidade reagir. (LERNER, 2011, p.7)

Com cenários cada vez menos humanizados em muitas cidades, faz-se necessária a intervenção de espaços com intuito de reabilitá-los e torná-los parte da paisagem urbana que é almejada para uma boa qualidade de vida. O termo “acupuntura urbana” deriva a partir das combinações de conceitos da tradicional acupuntura asiática (que se entende pelo uso de agulhas em partes pontuais do corpo como tratamento para diversas doenças), juntamente as estratégias modernas de intervenções urbanas (como placemaking, por exemplo). Tem como definição, nada menos que a transformação de um contexto em questão, ocasionada por ações aplicadas pontualmente em uma determinada área da cidade. Sendo assim, as ideias inseridas nesses espaços são capazes de gerar ‘cura’ não só para o que está ao seu redor, mas também para outros contextos de maiores escalas, isso por que se acredita que é possível contagiar em cadeia outras transformações nas mais diversas formas, sendo um organismo responsável por influenciar de maneira positiva, os demais pertencentes desse determinado sistema. Tais intervenções podem ocorrer em diferentes escalas, mas se caracterizam certamente como estratégicas e pontuais, tendo-se em muitos casos

soluções com baixo investimento e de execução prática. Essa ideia passou a ser uma importante ferramenta de transformação de espaços públicos, já que pode ser implementada até mesmo pelas próprias comunidades nos bairros aos quais habitam. A simples mudança de uma calçada que tornem a convidar pessoas para utilizá-la, pode resultar em uma boa acupuntura urbana. Isso faz com que uma determinada região possa ser beneficiada de diversas formas, como exemplo do caso citado, resultaria no maior fluxo de pessoas transitando que corresponde a atração de mais vitalidade aos espaços, redução da insegurança por conta da vigilância social, podendo ocasionar ainda, acréscimo a demanda dos comércios, desenvolvendo a economia local. Uma intervenção que demonstra isso, foi a solução proposta em um shopping ao ar livre de Xangai, na China, o qual o espaço passou a promover uma experiência única aos pedestres, com espaços de permanência atrativos para seus visitantes e todas suas famílias. (ver figura 29)

Figura 30: Pessoas desfrutam da dinamicidade provocada pelo projeto de intervenção. Disponível em: < https://www. archdaily.com.br/br/946957/projetos-de-requalif icacao-urbana-e-os-desafios-da-gentrificacao-o-caso-da-china?ad_ source=search&ad_medium=search_result_all >. Acessado em 02 de maio, 2021

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de ligação entre os distintos habitantes, que além de possuírem um novo espaço para práticas esportivas, passam a valorizar esse equipamento como arti-

Figura 31: Vista superior do projeto que mostra o destaque espacial ocasionado pela intervenção com diversas pessoas utilizando o espaço. Disponível em: < https://www.archdaily. com.br/br/946957/projetos-de-requalificacao-urbana-e-os-desafios-da-gentrificacao-o-caso-da-china?ad_source=search&ad_medium=search_result_all >. Acessado em 02 de maio, 2021

As intervenções de acupuntura também podem reaver espaços, capazes de promover novas oportunidades de interação social e lazer, em regiões carentes de espaços públicos de qualidade. Para regiões mais marginalizadas, o uso desses conceitos pode desencadear em resultados muito positivos, por promover um rompimento benéfico da realidade espacial em muitas comunidades. Esses locais passam a ressignificar a relação dos habitantes com os espaços públicos e também trazem a oportunidade de práticas de lazer para o seu dia, pois muitas vezes os espaços designados para essas atividades se encontram a longas distâncias em relação às comunidades. Uma iniciativa que mostra essa perspectiva, foi a implementação pela ONG Love.futebol e seus colaboradores, no projeto de recuperação de uma quadra esportiva no Valle de Chalco, localizado no México. (ver figura 32) Essa área se caracteriza com diversas problemáticas desencadeadas pelo traçado sociocultural constituído através da presença de diversos grupos indígenas na mesma comunidade, afetando assim, a conexão da população com a cidade. Com isso, a acupuntura entra na narrativa como instrumento

Figura 32 e 33: Fotos com resultado do projeto que tornou o espaço um local de encontro da comunidade e para práticas de esportes. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/ br/899566/quadra-la-doce-o-futebol-como-intervencao-social-e-urbana >. Acessado em 02 de maio, 2021.

culador da identidade local. Uma boa acupuntura se trata de proporcionar meios ou espaços capazes de convidarem pessoas para as ruas, sendo importante criar pontos de encontros e principalmente viabilizar que cada função urbana estimule plenamente esses encontros. Quanto mais a cidade for compreendida como integradora de funções, mais vida seus espaços terão. (LERNER, 2011). A acupuntura urbana além de possibilitar novos usos para espaços desumanizados ou revitalizar o ultrapassado para algo novo, pode também recuperar o que já foi esquecido. Na cidade de Seul, na Coreia do Sul, o governo propôs algo inesperado e complexo até mesmo para os dias de

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hoje: a eliminação de vias elevadas no centro da cidade, para recuperação do riacho soterrado de Cheongggyecheon e a construção de um parque urbano linear em suas margens (ver figura XX). A iniciativa gerou uma nova imagem para a cidade, que passou a buscar alinhar aspectos da modernidade e progresso, atrelados a conservação de elementos naturais que formam identidade dos ecossistemas locais, além de conectar o espaço urbano juntamente a sua população, ao desfruto de parques e ambientes com a forte presença da natureza. A o propor intervenções capazes de requalificar os mais diversos espaços urbanos, tem-se os conceitos abordados anteriormente como mecanismo que avalia a necessidade específica de cada lugar e sua comunidade, para propor uma transformação suficientemente significativa que traga vitalidade e uso aos lugares com grandes potenciais das cidades.

Figura 35: Pessoas passeando pelo parque linear de Seul. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/899566/quadra-la-doce-o-futebol-como-intervencao-social-e-urbana >. Acessado em 02 de maio, 2021.

Figura 33 e 34: Fotos de antes e depois do trecho, mostrando suas gritantes diferenças. https://www.masterambiental. com.br/noticias/cidades-sustentaveis/uma-impressionante-renovacao-urbana-em-seul/ > Acessado em 02 de maio, 2021.

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3.2 ACUPUNTURA DE ESPAÇOS VERDES Tendo em vista o grande crescimento construtivo dos centros urbanos, sendo um dos grandes fatores que resultam na falta de espaços urbanos com presença de elementos naturais, é possível salientar a importância que a acupuntura urbana verde detém por conta de todos possíveis efeitos positivos provocados com a presença de elementos biofílicos. Quando direcionada para a proposição de espaços verdes, essa estratégia de intervenção se torna mais complexa, pois isso faz com que acarrete também outras necessidades e preocupações para a forma que tais espaços serão implementados. Em comparação a intervenções mais simples, a sugestão de elementos naturais em qualquer espaço clama por um empenho ainda mais especial, já que esses componentes se fazem necessários de uma manutenção e cuidados específicos. Para o êxito dessas ações é preciso contar com a colaboração da comunidade para que haja o zelo e em alguns casos, a gestão participativa. A atenção e interesse das pessoas para as ações de acupuntura urbana se faz fundamental, pois proporciona que haja não só a devida conscientização, mas também permite que os habitantes usufruem do espaço com afeição, cuidando para que esses sejam cultivados. É visto que a rotina das pessoas nos centros urbanos possui um ritmo cada vez mais acelerado, restando pouco ou nenhum tempo para se atinar ao seu ambiente externo. Essa ligação de indivíduos para com o que está ao seu redor vem sendo enfraquecida com a modernidade, provocando em muitos uma considerável carência de gentilezas urbanas. É possível encontrar diversos espaços públicos em desuso, abandonados ou esquecidos nos contextos das cidades (ver imagens XX), parte por

falta de iniciativa pública e investimento que são muitas vezes um fator determinante, mas que também não se deve negar o importante papel que a sociedade tem para a formação da paisagem urbana.

Figura 36: Área em desuso e abandonada onde seria uma praça. Disponível em: < http://blogdofirminojunior.blogspot. com/2014/06/cade-reforma-da-praca.html > Acessado em 02 de maio, 2021

Figura 37: Descaso com área publicada Praça Tiradentes na cidade do Recife. Disponível em: < http://jconlineinteratividade.ne10.uol.com.br/galeria/2016,04,25,5693,galeria.html > Acessado em 02 de maio, 2021

Além do fato dos espaços públicos não serem sempre usufruídos plenamente, o que se encontra muitas vezes é a falta do sentimento de pertencimento, de identidade e consequentemente de amor pelas cidades onde se vive, perpetuando pensamentos de desinteresse pelos espaços públicos. Apesar dessa perspectiva, existem casos

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ainda vistos de singelos atos de apreço pelos seus habitantes a cidade. Essas atitudes ficaram conhecidas como gentileza urbana, conceito criado que parte do conhecido ditado popular “gentileza gera gentileza”. Está relacionado ao fato de entre as próprias pessoas ocorrerem atitudes que estimulam o amor pela a cidade, cada gesto nesse sentido é uma gentileza urbana. São ações e ideias criativas que refletem a consciência das pessoas de que a gentileza urbana é indispensável na vida da cidade. (LERNER, 2011) A acupuntura dos espaços verdes se torna, então, grandes agentes catalisadores para que esses lugares sejam capazes de resgatar o sentimento de gentileza urbana da população. Em Xangai, na China, foi proposto um projeto chamado Urban Bloom (ver figura XX), que transformou um antigo

estacionamento localizado em uma área que mescla diversos usos, em um jardim urbano com meios artificiais. O projeto renova e revigora uma área que passa a se tornar convidativa para os transeuntes, que além de aproveitarem o jardim com diferentes atividades, podem aprender a partir dessa iniciativa que como é possível propor espaços de qualidade mesmo em centros adensados construtivamente e ainda utilizar a sustentabilidade ao seu favor. Apesar de efêmero na paisagem, o Urban Bloom permite lembrar o valor de desfrutar do espaço urbano, sendo uma manifestação que demonstra a nova lógica aplicada a proposição de espaços nas cidades para benefício da população.

Figura 38: Pessoas utilizando os espaços de permanência com elementos verdes no centro urbano. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/893605/urban-bloom-aim-architecture-plus-urban-matters > Acessado em 02 de maio, 2021

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Outro exemplo que demonstra como é possível sugerir espaços que ressignifique os locais os quais estão inseridos, desencadeando novos usos, novas relações com a comunidade local e mais qualidade para a vida das pessoas que vão utilizar por conta da contraposição de elementos biofílicos em relação a sua carência nessas áreas, está em mais uma iniciativa proposta na cidade de Xangai, na China. O local que antes foi uma ruela estreita entre dois edifícios e que se encontrava esquecido como vazio sem uso, foi transformado em uma galeria de rua e também um mini parque (ver figura 38 e 39). A reativação do espaço para os habitantes

consistiu na junção de um agradável jardim e também um museu vivo que expõe sobre a arquitetura histórica da região, constituindo uma forte identidade local juntamente a possibilidade de desfrutar de uma experiência única nesse espaço.

Figura 39: Foto tirada antes da intervenção. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/957241/pocket-park-xinhua-road-shanghai-shuishi?ad_source=search&ad_medium=search_result_all > Acessado em 02 de maio, 2021.

Figura 40: Foto tirada após, com resultado do projeto. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/957241/pocket-park-xinhua-road-shanghai-shuishi?ad_source=search&ad_ medium=search_result_all > Acessado em 02 de maio, 2021.

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4 . NOVAS FACES DA AGRICULTURA E DO PAISAGISMO, NA CONTEMPORANEIDADE


4.1 AGRICULTURA URBANA E HORTAS COMUNITÁRIAS A agricultura tem cerca de 12 mil anos, foi a partir dessa atividade que o ser humano ao entender seu uso e domesticá-la, permitiu que a humanidade evoluísse para que se formassem as cidades que existem hoje. Civilizações antigas como a do Egito, desenvolveram-se e prosperaram por conta do astuto uso das plantações a seu favor. Em períodos de chuvas, em que a água do rio transbordava e inundava as margens, era feito o plantio de diversas espécies, que no período de estiagem se realizava a colheita. É possível ver como a relação dessa civilização, assim como muitas outras, tiveram sua cultura influenciada pelos ciclos naturais de suas atividades agrícolas. (ver figura 41)

Figura 41: “Aaru Field Of Reeds” ilustração antiga que mostra como seria o paraíso da cultura egípcia com a presença de vários elementos naturais. Disponível em: < https://egyptianocculthistory.blogspot.com/2017/11/lecture-aaru-or-field-of-reeds.html > Acessado em 02 de maio, 2021.

Partindo para o cenário atual, o enorme setor gerado através dessa atividade é responsável por grande parte da economia de muitos países, sendo um dos principais o Brasil. Apesar de todas as riquezas e avanços trazidos pela prática da agricultura, tal atividade teve um brusco crescimento no último século seguindo a demanda mundial e mercantil de consumidores e grandes produtores. Segundo relatórios divulgados pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura)

que avalia a demanda por alimentos e o uso de recursos para produzi-los: Em 2050 serão necessários mais 60% de alimentos – até 100% nos países em desenvolvimento – para alimentar o mundo e a agricultura vai manter-se como o maior sector consumidor de água a nível mundial, o que representa em muitos países cerca de 2/3 ou mais da disponibilidade procedente de rios, lagos e aquíferos. (FAO, 2021)

Os dados mostram a preocupante situação que o planeta se encontra ao fornecer insumos para a humanidade, mesmo com esforço de algumas organizações como a FAO e a ONU (Organização das Nações Unidas) para alertar as nações dos problemas ambientais causados pelo consumo insustentável da população mundial, não se alcançaram níveis de mudança necessário para desacelerar esse ritmo. Atualmente o setor da agropecuária é dos que mais polui o meio ambiente e que mais consome água doce, além de deter ainda um grande desperdício desse recurso. Com a escassez de água atingindo mais de 40% da população do mundo todo (FAO, 2021), a previsão para esse cenário nos próximos anos torna ainda mais preocupante por poder alcançar até mesmo 2/3 em 2050, e ao observar as previsões da quantidade de alimento necessária para sustentar a população futura, fica nítida que será quase impossível suprir tal necessidade sem mudança das práticas atuais. Com isso, fazem-se necessárias as novas iniciativas para produção de alimentos da modernidade, capazes de gerar insumos saudáveis, orgânicos de forma sustentável, consciente e ecológica. Os principais processos de transformação da agricultura tradicional (que é caracterizada pelo seu uso em áreas rurais), foram o de essa atividade

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Alimento

Água necessária

Carne bovina

15.400 litros de água/kg

Chá verde

8.860 litros de água/kg

Arroz

2.500 litros de água/kg

Cana de açúcar

1.800 litros de água a cada 1 kg

Pão

1.600 litros de água/ kg

Cevada

1.420 litros de água/ kg

Maçã

125 litros de água por unidade

Leite

1.000 litros de água para 1 l de leite

Vinho

610 litros de água/kg

Figura 42: Tabela que relaciona alimentos e quantidade de água necessária para produzi-los. Fonte: Water Footprint Network, 2016 editada pela autora.

passar a ser introduzida nos contextos dos centros urbanos e a criação de hortas comunitárias. A agricultura urbana passou a ser adotada devido às consequências provocadas pelos fenômenos que a sociedade vem enfrentando nas últimas décadas, como o crescimento exponencial da população, os fluxos de êxodo rural e as crises econômicas mundiais. O cenário gerado por essas condições formou uma enorme carência de oportunidades de renda para as pessoas que se encontram às margens da sociedade, e também o constante crescimento da demanda mundial por produtos agrícolas. (AQUINO; LINHARES, 2007, pg. 142) Além desses fatores, a sociedade vem presenciando cada vez mais os impactos causados pela monocultura da agropecuária causados não só ao meio ambiente, mas também a saúde humana, o que motiva muitos a buscarem alternativas mais sustentáveis e saudáveis para implementarem ao seu estilo de vida. A prática de cultivar alimentos nos contextos urbanos diferem em alguns pontos da tradicional agricultura

ruralista. Tendo como principal e mais nítida característica que a distingue, a escala. Essa técnica faz uso em pequenas porções de terras, tanto em áreas urbanas quanto em periurbanas (entorno das cidades), de forma estratégica. Isso ocorre porque muitas das áreas utilizadas são bem restritas, apresentando também a falta de conhecimentos técnicos daqueles que irão executá-la e que não dedicam seu tempo integralmente a essa atividade (geralmente por possuir outras atribuições cotidianas). Outra questão também se dá pelo fato de esse cultivo ser majoritariamente dedicado para o próprio consumo daqueles que plantam ou para venda em pequena escala, já que o motivo principal por trás dessa iniciativa não é exclusivamente gerar lucro, mas sim fomentar formas mais sustentáveis no consumo de alimento saudável e que caso seja para produção de renda, é realizada em pequena escala como a venda de excedentes. Com as diferenças apresentadas entre as duas técnicas de cultivo, vale ressaltar por outro viés, as potencialidades viabilizadas pela agricultura urbana. Sua versatilidade parte do princípio que o ambiente o qual é introduzida, pode mudar de acordo com a necessidade e demanda do indivíduo. Desde de o plantio em um vasto lote de terra com exposição a luz natural, ao uso em canteiros suspensos, em vasos dentro de um apartamento ou até mesmo em jardins com iluminação artificial. Com tal flexibilidade, o uso da agricultura nos centros urbanos apresenta uma grande capacidade de transformação, para as cidades contemporâneas que vêm sendo mais utilizadas com intuito de reverter os excessos cometidos pela humanidade no planeta terra e ainda fornecer alimentos acessíveis e de qualidade para a população. De acordo com artigo divulgado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA; DINNYS, 2003), a agricultura urbana pode apresentar vários atributos positivos, os quais dentre eles consistem:

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Figura 43: Intervenção em área ociosa para gerar jardim e horta comunitária com espaços de permanência em Nova York, EUA. Disponível em: < https://www.architecturaldigest.com/gallery/bette-midler-new-york-restoration-project-slideshow > Acessado em 28 de maio, 2021.

a. Produção capaz de fornecer alimentos de qualidade e saudáveis que não possuam substâncias químicas nocivas para saúde humana. b.

Reaproveitamento de lixo como composto orgânico para adubação, além da reutilização de embalagens para separação de mudas ou para parcelas de cultivo (garrafas plásticas, pneus, caixas, etc.).

c. Utilização de espaços vazios tornando a cidade mais viva e atrativa. Substituem locais esquecidos que podem trazer insegurança, acúmulo de lixo e dentre outras questões. d. Com envolvimento da comunidade nas atividades de hortas comunitárias o que se tem é uma educação ambiental gerada pelo contato que essas passam a ter com o meio natural e seus recursos. e. Oportuniza a segurança alimentar, pois aqueles que produzem os alimentos passam a ter controle sob todos os processos contidos no cultivo excluindo possível contato ou consumo com defensivos agrícolas. f. A partir da produção local de insumos, é desenvolvida a comunidade local como um todo, possibilitando o cooperativismo. g. Pode ser considerada como uma atividade de lazer e ferramenta para alívio de estresse, em que ao entrar em

contato com a natureza essa prática possa trazer mais qualidade de vida para as pessoas. h. Além de alimentos, a agricultura urbana pode fazer cultivo de plantas medicinais que combatem doenças de forma natural, sendo assim uma farmácia caseira acessível à população. i.

A introdução de plantações no contexto urbano (de acordo com sua escala) podem ser responsáveis por gerar microclimas que auxiliam o controle de temperatura e umidades locais, trazendo maior conforto para os seres que habitam o local.

j.

Uma grande vantagem do uso de plantações em contextos urbanos está no auxílio de escoamento de águas pluviais. Por muitas cidades apresentarem problemas de drenagem ocasionadas pela vasta urbanização que reduziu bruscamente a porcentagem de solo permeável, as hortas servem como um grande agente na solução dessa didática por permitir que a água da chuva seja drenada para o solo.

k. Ao aplicar a agricultura nas cidades urbanizadas, esse elemento possibilita uma nova leitura da paisagem, em que atribui um grande valor estético por sua presença natural, tornando as cidades mais atrativas para se viver.

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l.

Com a produção de alimentos para o consumo individual ou comunitário, além da possível venda de excedentes, torna-se viável a diminuição da pobreza permitindo mais acesso local a comida nutritiva e fonte de renda.

m. Por fim, um importante fator viabilizado pela agricultura urbana é a introdução de práticas sustentáveis e ecológicas no cotidiano da população. A prática pode incluir o reaproveitamento de água, uso de energia renovável (dentre outras iniciativas sustentáveis) e a plantação responsável, a qual tem como conceito norteador o compromisso de manter e recuperar a biodiversidade dos agroecossistemas.

Figura 44: Comunidade local cuidando de horta comunitária. Disponível em: < https://sorriso.mt.leg.br/noticia/vereador-pede-implantacao-de-horta-comunitaria-no-bairro-sao-francisco-5d6680a0753c9 > Acessado em 28 de maio, 2021.

A prática de agricultura urbana é corriqueiramente associada com a implementação de hortas comunitárias, pois ao observar as atuais necessidades e dinâmicas modernas da cidade é possível notar que a mão de obra que mais se adequa para tal ação, está na própria comunidade que será consumidora desses produtos. Os principais determinantes que viabilizam o êxito de hortas comunitárias, está na iniciativa governamental aliada a participação ativa das pessoas. Como exemplo da relevância que o apoio político pode ter, tem-se a Programa de Verticalização da Pequena Produção Agrícola (PROVE) criado no ano de 1995 na cidade de Bra-

sília, gerada pela iniciativa governamental que pretendia fomentar produções agrícolas nas áreas urbanas e periurbanas da região, sendo uma ação crucial para gerar oportunidades para pequenas agroindústrias da época. Outro caso que se destaca foi o da criação pela prefeitura de Teresina (PI) do “Programa Multisensorial Integrado Vila-Bairro” em que iniciou com objetivo de atuar como terapia ocupacional para crianças carentes, mas que posteriormente foi crescendo e passou a gerar insumos para famílias de baixa renda. Premiada nacionalmente, a iniciativa promoveu a utilização de áreas ociosas para atender cerca de 2.503 famílias com renda entre 1 e 2 salários mínimos, em que de 117 hectares existem 38 hortas (AQUINO; LINHARES, 2007, pg. 144). Em 2021 o Brasil passou a ter a maior horta comunitária da América Latina que ocupa cerca de quatro campos de futebol e que localiza-se onde antes havia sido uma área de consumo de drogas. A Horta Urbana Comunitária de Manguinhos, no Rio de Janeiro, produz mensalmente cerca de duas toneladas de alimentos, foi criada em 2013 pela prefeitura da região e pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente. A iniciativa é responsável por empregar 21 moradores e que com a atual pandemia ocasionada pelo Coronavírus, iniciada em 2020 gerando grande crise econômica, a horta foi fundamental ao ser responsável por complementar a alimentação de cerca de 800 famílias da comunidade (Folha de São Paulo, 2021). O projeto gerou grandes transformações na vida da população como mostram os relatos: “O que a gente produz, a gente traz para casa, doa para outros moradores e também vende. Temos um carrinho para expor os produtos e vendê-los a preço simbólico. Também oferecemos nossos alimentos em feiras e até na Ceasa. Tudo o que a gente vende, a gente divide entre a gente, independente da bolsa que a gente ganha”.

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“Esse projeto mudou a minha vida. Antes, eu comia qualquer tipo de comida. Hoje, aprendi a me alimentar. Através dessa horta, tenho o meu carrinho. Ela me ajudou de tudo quanto era maneira. Estava entrando em depressão, com pressão alta”. (Relatos dos moradores por Simone Tagliani, Engenharia 360, 2021)

produção de autoabastecimento. Com isso, o país conseguiu não só assegurar que a população fosse sempre abastecida, mas também passou a economizar os custos de transporte e exportação de muitos recursos, além de gerar empregos. É possível ver que em cada lugar as pessoas são capazes de adaptar a prática de tal atividade a sua respectiva realidade. Em Paris, na França, foi inaugurada em 2020 a maior fazenda urbana em telhados do mundo que faz uso de hidroponia (cultivo de vegetais a partir da água combinada com soluções nutritivas) e aeroponia (cultivo de vegetais a partir do ar combinado com soluções nutritivas) para produzir frutas e vegetais sem agrotóxicos.

Figura 45: Vista superior da Horta de Manguinhos, RJ. Disponível em: < https://engenharia360.com/horta-comunitaria-manguinhos-do-rio-de-janeiro/ > Acessado em 28 de maio, 2021.

Figura 47: Uso da técnica de aeroponia na Nature Urbaine em Paris, França. Disponível em: < https://ciclovivo.com.br/ mao-na-massa/horta/paris-maior-fazenda-urbana-telhado/ > Acessado em 29 de maio, 2021. Figura 46: Horta Urbana em Havana, Cuba. Disponível em: < https://convencao2009.blogspot.com/2009/04/ > Acessado em 29 de maio, 2021.

A experiência de agricultura urbana e hortas comunitárias já formam um fenômeno presente em diversos lugares do mundo e que continua crescendo a cada dia. Como ilustração de tal fato se tem o caso de Cuba (ver figura 45), em que foi obrigada a adotar tal modelo devido à queda de sistemas socialistas, como o da União Soviética, que fornecia apoio comercial para boa parte da economia do país. Quando uma imensa crise atingiu Cuba pela falta de insumos de quase todos setores, a solução foi a de instituir um conjunto de medidas em que cada província detivesse uma

Figura 48: Projeto Nature Urbaine em Paris, França. Disponível em: < https://ciclovivo.com.br/mao-na-massa/horta/paris-maior-fazenda-urbana-telhado/ > Acessado em 29 de maio, 2021.

Como em grandes centros urbanos como o de Paris, o uso do solo é majoritariamente ocupado por edificações, a prática de atividades como as hortas com cultivo diretamente na terra se torna algo inviável pela escassez de

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territórios. Apesar disso, a capacidade de adaptação dos seres humanos permite que novas soluções sejam criadas para promover uma forma de vida mais sustentável. O projeto nomeado de “Nature Urbanie” (Natureza urbana), conta com uma área de cerca de 14 mil metros quadrados inteiramente na coberta do edifício que terá capacidade produtiva de mais de mil frutas e vegetais por dia sem agrotóxicos ou fertilizantes químicos. Em meio ao cotidiano corrido da grande capital, o projeto possibilita novos empregos, um grande espaço natural na cidade, trocas sociais, o restabelecimento da ligação com a natureza, a educação sobre hábitos alimentares saudáveis, dentre outros benefícios que surgirão com sua implementação.

Figura 49: Projeto Nature Urbaine em Paris, França. Disponível em: < https://ciclovivo.com.br/mao-na-massa/horta/paris-maior-fazenda-urbana-telhado/ > Acessado em 29 de maio, 2021.

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4.2 PAISAGISMO FUNCIONAL E JARDINS COMESTÍVEIS A utilização de ornamentações na paisagem e em ambientes a partir de jardins é um fenômeno antigo que se originou desde os primórdios de civilizações antigas. Utilizados em sua maioria como recurso estético para trazer bem estar e também demonstrar riqueza ou religiosidade, os jardins da antiguidade possuíam diversificados estilos, tipos e funções. Na Grécia antiga esses locais eram considerados sagrados, com a presença de espécies nativas formando um caráter mais “selvagem” da natureza intocável pela ação do homem. Já no Egito, a civilização utilizava os jardins além de sua função estética, pois se tinha a prática de cultivo de plantas frutíferas, papiros que forneciam obra prima para um tipo de papel amplamente utilizado na época, além de palmeiras para o conforto local e a flor de lótus que era um símbolo espiritual. Partindo para o cenário medieval, o uso de jardins era feito de forma simplista, o qual se cultivavam plantas pensando em suas utilidades além da função ornamental que era realizada através do cultivo de várias flores para decoração de altares e ambientes religiosos. A população da época valorizava o plantio com intuito de promover a alimentação local, além disso ocorria

ainda nos mosteiros, a plantação de espécies medicinais e aromáticas com a apreciação da presença da natureza como associação do paraíso divino. Outro modelo que apresenta o costume de apreciar espaços formados pelos elementos de sistemas naturais como espaço sagrado, está presente nos jardins orientais. Essa tipologia apresenta a contemplação sensorial e espiritual dos jardins, além da primordial admiração estética. Com a idealização de que os jardins deveriam proporcionar a busca da recriação da natureza, eram concebidos com valores simbólicos atrelados ao espiritualismo de suas crenças, baseando-se sempre nas condicionantes pré-existentes de cada local sendo elas a topografia, o clima e as espécies já existentes no meio ambiente que se estaria inserido. Muito utilizada na ornamentação de templos religiosos, a idealização meticulosa desses ambientes o permitia que fossem adequados para práticas de meditação, de conexão com o meio natural ou as demais funções pertencentes a suas crenças espirituais.

Figura 51: Ilustração de jardim tradicional japonês. Disponível em: < https://www.arquidicas.com.br/jardim-japones/ > Acessado em 29 de maio, 2021.

Figura 50: Ilustração de jardim medieval. Disponível em: < https://www.uol.com.br > Acessado em 29 de maio, 2021.

O estilo paisagístico que se seguiu no último século usá de referências a partir de todas as vertentes de jardins presentes na história, porém o

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que se teve foi a predominância da natureza como elemento de adorno nas paisagens para espaços particulares e públicos, assim como em muitas civilizações europeias na era do renascentismo. O conceito e prática do paisagismo se trata, então, de uma atividade que se originou a partir da junção do olhar arquitetônico – que proporciona a percepção da paisagem com visão crítica e analítica, o artístico – que permite a concepção criativa e expressão de sentimentos, e por fim a botânica- responsável por conhecimentos técnicos para uso de cada elemento natural na paisagem. A combinação das três vertentes faz com que o profissional da área atue na concepção de paisagens baseadas em como essas poderão afetar a experiência daqueles que visitarão um determinado ambiente. Com as diversas problemáticas ocorridas nas cidades modernas provenientes da globalização e evolução urbana (já abordadas anteriormente nos demais capítulos), o paisagismo das últimas décadas passou a buscar novas correntes de atuação que resgatam muitos dos elementos abordados como características dos jardins antigos presentes na história que já se havia existência de um pensamento funcional que vai além da beleza proporcionada nesses ambientes. Antes disso, torna-se importante compreender as três vertentes abordadas por César e Cidade (2003), que segundo eles guia os novos conceitos do paisagismo moderno, sendo esses: 1. Paisagismo com ênfase na arquitetura da paisagem – Tem como visão o enaltecimento da organização do espaço como todo. Trata-se de uma perspectiva mais holística do paisagismo, distanciando-se do conceito tradicional dessa prática como restrita à jardinagem, partindo para as variadas escalas de intervenção. É buscado atender as determinantes estéticas e funcionais da paisagem para aqueles que desfrutarão da

Figura 52: Projeto paisagístico que desenha a paisagem a partor da arquitetura do espaço. Disponível em: < https:// www.esquemaimoveis.com.br/noticias/paisagismo/ > Acessado em 28 de maio, 2021.

mesma. O que se tem é o fato de o paisagismo deixar de ser um complemento da paisagem urbana, para atuar como protagonista desse cenário, de forma livre. 2. Paisagismo com ênfase na percepção – Essa vertente está intimamente associada a ciências sociais e humanas, pois seu maior foco está no alcance das expectativas humanas. Sua percepção está diretamente voltada a questões psicológicas e sensoriais que as paisagens podem desencadear nos seres vivos, correspondendo às expectativas sociais e também explorando a capacidade

Figura 53: Projeto paisagístico sensorial por Sainz Arquitetura. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/927590/ pavilhao-e-jardim-sao-geraldo-sainz-arquitetura?ad_source=search&ad_medium=search_result_all > Acessado em 01 de junho, 2021.

de impactos psicossociais, a partir da introdução de elementos lúdicos e transcendentais, por exemplo. 3. Paisagismo ambiental – Tem como princípio básico a valorização da rela-

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ção dos sistemas naturais com a sociedade e a priorização dos aspectos ecossistêmicos. Suas práticas e didáticas estão envolvidas com a preservação da natureza, do meio ambiente e a promoção da sustentabilidade no meio urbano.

Figura 54: Projeto de parque em Nova York que promove reintegração da natureza com elementos biofílicos. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/962378/parque-little-island-heatherwick-studio?ad_source=search&ad_medium=search_result_all > Acessado em 01 de junho, 2021.

Com o desenvolvimento desses conceitos que segmentam o paisagismo em três perspectivas distintas, é possível notar o potencial de transformação que tais ações podem possibilitar ao meio em que os seres vivem. Com cidades se tornando cada vez mais complexas e pelo constante crescimento populacional tornando os espaços densos, é preciso otimizar de forma estratégica o uso do paisagismo o tornando menos um acessório de contemplação e o convertendo para ser o meio de interação humana com a natureza, promovendo a sustentabilidade e ecologia. “A utilização do paisagismo funcional deve priorizar e consorciar técnicas de composição, estética e harmonia incluindo no projeto o cultivo de plantas com diferentes funcionalidades e que participam também da ornamentação, sendo essas usadas nas diversas texturas e extratos dos projetos (ALENCAR; CARDOS, 2014, pg. 4)

O conceito de Paisagismo Funcional procura estabelecer a criação de espaços que sejam capazes de combinar a estética com a funcionalidade. Vale lembrar que a beleza proporcionada por elementos naturais, é encarregada por despertar sentimentos positivos no ser humano de acordo com os conceitos da biofilia (sendo essa já considerada uma função intrínseca), e que por esse fator sua participação deve ser sempre implementada. Outra característica necessária a ser citada está na distinção entre jardim com função comestível e a tipologia de hortas, pois os jardins nesse caso são pensados como paisagismo ornamental aliada a atribuição de uso de espécies que possam ser consumidas. Já as hortas, são criadas voltadas primordialmente à produção de insumos, tendo o planejamento da estética não sendo algo priorizado ou até mesmo levado em consideração.

Figura 55: Jardim com permanêmcia e espaços de cultivo no jardim, tornando-o um jardim comestível. Disponível em: < https://minhacasa.abril.com.br/mais-verde/moradores-de-condominio-residencial-criam-horta-comunitaria/ > Acessado em 01 de junho, 2021.

A grande questão da temática buscada por esse novo conceito de concepção paisagística, está na forma que se é pensada a intervenção para cada espaço, devendo levar em conta todas as características determinantes, os problemas a serem solucionados e as demandas que se pretendem atender. Utilizadas nas mais diversas escalas, tal dinâmica oferece um uso mais inteligente de recursos, além de resultados

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mais assertivos e personalizados. Algumas das possibilidades atribuídas a essa prática são: a. Função medicinal/terapêutica – Com uso de plantas aromáticas que despertam os sentidos e sensações humanas, podendo também ser o cultivo de plantas medicinais para curas naturais de algumas doenças. b. Fornecer alimento – Através do uso de espécies que sejam capazes de produzir o cultivo de alimentos e hortaliças transformando um mero jardim em um jardim comestível (um dos métodos mais utilizados dentre os citados).

a compreender mais os processos naturais, além de todas etapas de cultivo de cada espécie promovendo também uma conscientização ecológica. d. Restauração ambiental - Ao contribuir com o meio ambiente fornecendo mais áreas naturais, essa iniciativa pode devolver os espaços a sua forma mais natural. e. Resgate dos elementos verdes - Com a escassez de elementos verdes nas zonas mais densas das cidades (em população e/ou cons-

c. Valor educativo - Por meio do constante contato humano com esse ambiente natural, o indivíduo passa

Figura 58: Proposta de corredor verde para Cali na Colômbia. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/781254/assim-sera-a-segunda-fase-do-corredor-verde-de-cali-em-colombia > Acessado em 01 de junho, 2021.

Figura 56 e 57: Intervenção em área ociosa para gerar jardim e horta comunitária com espaços de permanência em Nova York, EUA. A iniciativa trouxe diversos benefícios, dentre eles os de restauração ambiental e elementos naturais. Disponível em: < https://www.architecturaldigest.com/gallery/bette-midler-new-york-restoration-project-slideshow > Acessado em 01 de junho, 2021.

Figura 59: Proposta de corredor verde para Cali na Colômbia. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/781254/assim-sera-a-segunda-fase-do-corredor-verde-de-cali-em-colombia > Acessado em 01 de junho, 2021.

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e sustentavelmente ecológicos. O conceito de paisagismo funcional se torna uma real solução para atender as demandas modernas, possibilitando a aproximação e conscientização do homem para com a natureza.

Figura 60: Mecanismo de reaproveitamento de água para irrigação de jardins como uma alternativa sustentável. Disponível em: < https://www.vivadecora.com.br/revista/sustentabilidade-e-reutilizacao-de-agua > Acessado em 01 de junho, 2021.

trução), esse paisagismo pode oferecer pequenas soluções como jardins nas varandas, hortas verticais, telhados verdes, dentre outras alternativas. f. Promoção de corredores ecológicos - Ao se inserir mais espaços verdes nas cidades, com uso de espécies nativas, é possível viabilizar os corredores verdes que são áreas lineares com a presença da vegetação, que ao interligar reservas de florestas e parques, tornam possível a conexão da flora, atraindo passagem ainda da fauna silvestre. São então importantes elementos de conexão e restauração ecológicos. g. Sustentabilidade de recursos – Uso estratégico de soluções práticas para reutilização de recursos como água, compostos orgânicos, energia, dentre outras soluções. Com uso desse distinto pensamento para intervir e gerar novas paisagens, o funcionalismo tido no respectivo conceito corresponde a necessidade de se ter espaços que possam ser verdadeiramente significativos para a sociedade e para o meio ambiente, tornando a coexistência de ambos (natureza e homem) inteiramente harmônica. Trata-se de um paisagismo que foca solucionar problemas da sociedade contemporânea, possibilitando jardins produtivos

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4.3 ESPAÇOS VERDES E HORTAS URBANAS NAS CIDADES BRASILEIRAS Com a vinda da família real no século XIX, as cidades passaram por uma reorganização urbanística, em especial a cidade do Rio de Janeiro por ser a que sediava a coroa portuguesa. A capital foi reorganizada a partir de inúmeras intervenções urbanísticas para que pudesse atender às novas demandas de funções político-administrativas. Nessa mesma época, ocorreu a construção dos três primeiros parques urbanos públicos na cidade, sendo eles o Passeio Público do Rio de Janeiro, o Campo de Santana e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Outra grande iniciativa que ocorreu no cenário das grandes cidades brasileiras, teve-se quando em meados do século XIX, após enfrentar secas causadas pela grande devastação de massa vegetal para exploração de obra prima para exportação, foi designado o reflorestamento de uma grande área afetada que se encontrava dentro da cidade. Plantadas cerca de 100 mil mudas em 13 anos, a região que ficou conhecida como Floresta da Tijuca, é considerada até hoje uma das maiores florestas urbanas do mundo. A floresta passou a ser não só uma importante reserva natural, mas também um parque de acesso público com turismo ecológico, composto por com áreas de lazer, trilhas, mirantes e lagos para serem usufruídos pela po-

Figura 61: Vista de um dos mirantes presentes no Parque Nacional da Floresta da Tijuca. Disponível em: < https://parquenacionaldatijuca.rio/ > Acessado em 01 de junho, 2021.

pulação (SILVA, 2018). Ao final desse mesmo século e com o início da República, houveram várias iniciativas urbanísticas relevantes pelas cidades do país, sendo implementadas bulevares, jardins nas avenidas e praças, criação de parques urbanos, espaços verdes e dentre outras iniciativas que trouxeram o início de uma valorização da presença dos elementos verdes nos meios urbanos, passando a se tornar um elemento comum na paisagem das principais cidades e capitais do país. Com o enriquecimento trazido pela economia do café no Brasil, muitas cidades foram beneficiadas por tal prosperidade, que acarretou na verdadeira transformação do cenário urbano tido até então, que era composto por imensos espaços de praças sem presença da vegetação, com intuito apenas de receber reuniões de interação social. Pela primeira vez o paisagismo foi implementado em grande escala, a partir da arborização nos espaços públicos, formando uma nova concepção de paisagem urbana correspondendo a um grande referencial na trajetória das grandes cidades brasileiras(SILVA, 2018). Com o passar das décadas, novas necessidades e problemáticas foram surgindo no cenário do país, fazendo-se fundamental a introdução da prática de hortas urbanas e periurbanas como espaços verdes de paisagens produtivas, proporcionando o uso estratégico dessas áreas para própria comunidade e meio ambiente. No Brasil foram implementados vários projetos públicos e iniciativas da própria população, havendo alguns exemplos que se destacaram para abordagem na pesquisa realizada. Foram selecionados alguns desses exemplos por se destacarem ao apresentar lições importantes. O primeiro caso a ser citado se trata de um dos primeiros projetos rea-

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lizados no Brasil. O programa de hortas urbanas desenvolvido pela prefeitura de Sete Lagoas, em Minas Gerais, foi criado em 1982 com objetivo de possibilitar inclusão socioprodutiva para garantir a segurança alimentar da população local. Contando com hortas espalhadas em sete bairros da região, os lotes onde ocorrem o cultivo são cedidos pela prefeitura que fornece todos recursos necessários como água encanada, energia elétrica, ferramentas, insumos para plantação e também o transporte dos alimentos até as feiras da cidade, ficando a cargo da comunidade credenciada a administrar e cultivar essas áreas. Tendo cerca de 320 famílias beneficiadas com a produção de 90 espécies, sendo essas hortaliças, plantas medicinais e condimentares, o projeto conta ainda como sendo responsável por fornecer produtos para a merenda das escolas públicas municipais. Considerada uma referência no cenário nacional, as hortas de Sete Lagoas continuam em atividade garantindo alimentos para população de qualidade e saudáveis.

plexo de hortas, o qual beneficia aproximadamente 400 famílias, tendo os produtos destinados ao autoconsumo e também a comercialização em feiras da cidade. Devido a sua importância para a região, em 2017 foi realizada uma proposta de urbanização responsável por integrar as áreas das hortas com os eixos centrais viários permitindo uma melhor acessibilidade, além da construção de um parque linear e a renovação das áreas destinadas ao cultivo para aprimorar a sustentabilidade da região.

Figura 63: Horta Dirceu. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/883261/projeto-de-hortas-comunitarias-da-prefeitura-de-teresina-recebe-premio-internacional-do-bid > Acessado em 28 de maio, 2021.

Figura 62: Hortas comunitárias de Sete Lagoas. Disponível em: < https://www.setedias.com.br/noticia/economia/programa-de-hortas-comunitarias-completa-34-anos-/77/13848 > Acessado em 01 de junho, 2021.

Em Teresina, no Piauí, encontra-se mais um caso de horta urbana que foi implementado desde o ano de 1987 (sendo também uma das mais antigas do país), que detém cerca de 200.000 metros quadrados de área de cultivo, que são subdivididas pelas ruas que cortam o bairro. A horta urbana do Bairro Dirceu, conta como sendo um com-

Figura 64 e 65: Projeto requalificação Horta Dirceu. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/883261/projeto-de-hortas-comunitarias-da-prefeitura-de-teresina-recebe-premio-internacional-do-bid > Acessado em 28 de maio, 2021.

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Já como referencial mais recente, tem-se a Horta de Lomba do Pinheiro em Porto Alegre (RS). Localizada no bairro de mesmo nome, a horta iniciada em 2011 possui uma área de aproximadamente 7.000 metros quadrados com toda sua produção realizada de forma orgânica, sem usos de agrotóxicos ou fertilizantes químicos destinada ao consumo dos voluntários e também para comercialização local. A iniciativa partiu da própria comunidade que se mobilizou com auxílio de órgãos governamentais, ONGs (organizações não governamentais) e instituições educacionais, gerando um espaço não somente para o cultivo de alimentos, mas que proporciona o cultivo de relações sociais e com a natureza. O espaço é responsável por abrigar palestras, rodas de conversas, oficinas de horticultura, produção de mudas, atividade como jogos, exercícios de relaxamento e ioga, além de eventos sazonais, tornando o projeto um verdadeiro espaço de lazer para a população que vai muito além da função apenas

Figura 65: Horta comunitária Lomba do Pinheiro. Disponível em: < http://cplombadopinheiro.blogspot.com/2015/12/horta-comunitaria-da-lomba-do-pinheiro.html > Acessado em 28 de maio, 2021.

Figura 66: Encontro popular na horta Lomba do Pinheiro demonstrando o envolvimento social. Disponível em: < http:// cplombadopinheiro.blogspot.com/2015/12/horta-comunitaria-da-lomba-do-pinheiro.html > Acessado em 28 de maio, 2021.

de horta comunitária. Voltando o olhar da análise para a cidade do Recife, encontra-se um importante registro histórico a partir da contribuição deixada pelo primeiro prefeito eleito por voto popular (1955-1959), Pelópidas Silveira. Responsável por um enorme legado, Pelópidas foi responsável pela reforma de praças, construção de vias, urbanização de bairros mais distantes do centro da cidade, pela instalação de serviços de ônibus elétricos e dentre outras transformações. Com as diversas propostas desenvolvidas em sua gestão, vale destacar a sua proposta de cinturão verde para as áreas de periferias do Grande Recife para abastecer a cidade, onde seriam implantadas hortas e pomares. O que permitiu o surgimento da ideia de CEASA (Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco), zona de interesse para os pequenos comerciantes pudessem vender gêneros alimentícios ao alcance do polo consumidor.

Figura 67: Proposta de cintura verde em segundo mandato de Pelópidas Silveira para o Grande Recife. Disponível em: < https://www.archdaily.com. br/br/883261/projeto-de-hortas-comunitarias-da-prefeitura-de-teresina-recebe-premio-internacional-do-bid > Acessado em 28 de maio, 2021.

Atualmente na capital pernambucana, as hortas urbanas populares são pouco desenvolvidas quando comparadas com as demais citadas anteriormente. A horta Palha de Arroz, localizada no bairro do Arruda, foi criada

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desde 2016 pelas mulheres da comunidade com apoio do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá e outras organizações, promovendo a plantação de alimentos e ervas medicinais para as famílias voluntárias. O espaço além de agregar melhorias na alimentação para elas, também proporcionou experiências de conforto psicológico pelo contato com a natureza, trazendo ainda debates sobre feminismo, cooperação e organização entre as mulheres participantes (FASE ORG, 2018).

Figura 68: Mulheres da comunidade local em Horta da Palha de Arroz. Disponível em: < https://www.mulheresaup.com/ post/of icina-de-quintais-produtivos-na-horta-comunit%C3%A1ria-mulheres-guerreiras-de-palha-de-arroz > Acessado em 28 de maio, 2021.

Figura 69: Iniciativa de horta comunitária na Linha do Tiro em Recife. Disponível em: < https://www.brasildefatope.com. br/2020/01/21/hortas-urbanas-garantem-alimentacao-saudavel-e-ocupam-espacos-ociosos-das-cidades > Acessado em 28 de maio, 2021.

Outra iniciativa é a horta comunitária da Linha do Tiro, que surgiu da iniciativa local de reciclar lixo orgânico da região e que foi construída com garrafas PETs, madeiras ou outros materiais reutilizados. O espaço foi criado a partir

da parceria dos moradores do Conjunto Habitacional Naná Vasconcelos e da Secretaria de Saneamento do Recife e que hoje proporciona a educação da comunidade sobre os benefícios alimentares e medicinais das espécies cultivadas, sobre como usá-los para ter seu melhor aproveitamento e também sobre como cuidar de cada planta. Já o caso da comunidade Pequenos Profetas teve uma abordagem distinta, a qual foi realizada a transformação da coberta do edifício que sedia a ONG de mesmo nome, em uma horta comunitária. O projeto Telhado Eco Produtivo - semeando novos horizontes, criado há cinco anos, conta com a participação de cerca de 287 famílias que trabalham na horta e recebem produtos coordenados em 400 m² de canteiros com verduras, legumes e temperos orgânicos. “É um espaço que visa discutir e estimular ações de sustentabilidade e responsabilidade socioambiental, bem como democratizar o acesso aos conceitos e práticas de produção orgânica e alimentação saudável em comunidades com baixo índice de desenvolvimento humano no Recife.” (PEQUENOS PROFETAS, WEBSITE 2021)

O projeto que começou “apenas” como uma forma de aproveitar o espaço disponível para produção de alimentos, tornou-se muito mais que isso. Contando como uma oficina de conhecimento auto sustentável, o Telhado Eco Produtivo recebe jovens e seus familiares oferecendo informações e orientações práticas sobre cultivo orgânico de hortaliças e cuidados com o meio ambiente. Todos envolvidos se comprometem a serem responsáveis pela produção e colheita dos orgânicos, que, posterior-

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Figura 70: Horta comunitária Telhado Eco Produtivo em Recife. Disponível em: < http://jconlineinteratividade.ne10.uol.com.br/ galeria/2016,11,03,6466,galeria.html > Acessado em 28 de agosto, 2021.

mente, ficaram disponíveis para as comunidades numa feirinha local, realizada quinzenalmente, com os produtos a preço populares. Tendo ainda, o apoio da ONG para receberem também apoio técnico para produzir suas próprias hortas em casa. ““A iniciativa conta ainda com uma cozinha-apoio para aulas de gastronomia orgânica e alimentação saudável, e, em breve, terá uma sala eco educativa, onde ocorrerão exibições de vídeos e palestras com temáticas socioambientais.” .” (PEQUENOS PROFETAS, WEBSITE 2021)

Para o processo de produção se tem os jovens responsáveis por semear os canteiros, enquanto uma vez por semana, as mães ficam designadas aos

Figura 71: Horta comunitária Telhado Eco Produtivo em Recife. Disponível em: < http://jconlineinteratividade.ne10.uol. com.br/galeria/2016,11,03,6466,galeria.html > Acessado em 28 de agosto, 2021.

canteiros para colher e levar o alimento para casa. Com tal iniciativa, o que resulta vai além de assegurar alimentação e ter também um cardápio saudável para as famílias, mas também, os envolvidos aprendem como cultivar alimentos com as próprias mãos, a importância da alimentação saudável e por fim a conexão com práticas mais sustentáveis.

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Por fim, é possível observar que muito ainda pode ser feito e implementado na cidade do Recife para promover mais espaços verdes e hortas urbanas comunitárias para alcançar maior parte da população, beneficiando as diversas famílias com alimentos saudáveis para uma qualidade de vida melhor.

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REGAR

(lat rigare).

Molhar ou umedecer por borrifo ou irrigação ; Fazer ficar molhado - Dicionário Michaelis, 2015.


5. REFERÊNCIAS PROJETUAIS


ANÁLISE DE CRITÉRIOS Para melhor entendimento da temática e suas formas de aplicar em projetos, foram pesquisadas referências projetuais que oferecem aprendizados a partir de estratégias utilizadas que se adequam com a proposta que será elaborada para o Espaço Ecoar. Os critérios de cada projetos foram separados em: Integração social ( que oportuniza

Características Relevantes

trocas sociais em seu espaço); Soluções sustentáveis ( que apresenta estratégias para promover sustentabilidade); Inclusão biofílica ( que aderem elementos da natureza no espaço, como vegetação por exemplo); e Produtividade paisagística ( que sugerem espaços para cultivo de hortas urbanas comunitárias ou pomares).

Rua De Todas As Cores

Value Farm

Parque Comunitário Meifeng

Integração Social

Produtividade paisagística

Soluções Sustentásveis

Inclusão Biofilica

Figura 72: Quadro de características para estudo de casos. Fonte: Autora.

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Figura 73: Projeto Rua de Todas as Cores. Fonte: Archdaily.com


5.1 RUA DE TODAS AS CORES Ficha técnica Projeto – LAO Engenharia & Design, Zoom Urbanismo Arquitetura e Design Localização – São Paulo, Brasil Área – 400m² Ano do projeto – 2018

O projeto consiste na intervenção de uma calçada para o evento da Casa Cor de 2018, que teve como conceito norteador tornar o espaço que é muitas vezes tratado como apenas elemento de passagem, em um ambiente completo que atenda as demandas de acessibilidade, mobiliários urbanos, sustentabilidade, ativação do espaço, manifestação artística e dentre outros.

épocas de chuva por conta da falta de áreas com solo natural, a equipe desenvolvedora da proposta adotou como um dos mais relevantes aspectos, o uso de piso drenante na calçada responsável por permitir que a água possa permear o material e retornar ao solo. Outra solução para essa mesma temática, está na aplicação de jardins de chuva, que são ligados à sarjeta da avenida possibilitando que o excesso de água fique represado e seja absorvido naturalmente pela terra, evitando assim o acúmulo de água nas ruas em épocas de grande volume de precipitação pluviométrica. A proposta tida nesta iniciativa, de agregar os diversos conceitos distintos e possíveis para tornar o espaço de uma calçada em uma verdadeira sala de estar urbana, a partir de soluções simples porém inteligentes.

Como elementos de composição de uma paisagem atrativa se tem a introdução de uma estrutura de madeira que funciona como arquibancada, mas que com as transições de alturas distintas envolve os transeuntes criando uma ocasião de interação visual com o espaço. Além disso, o projeto apresenta a inclusão da arte urbana ao longo do projeto, tornando o local mais colorido e dinâmico sendo um trajeto vivo e interessante. Figura 74: Jardins de chuva e piso permeável. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/600615/value-farm-thomas-chung > Acessado em 01 de junho, 2021.

Figura 74: Projeto promovendo uma sala de estar urbana. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/600615/ value-farm-thomas-chung > Acessado em 01 de junho, 2021.

A partir das preocupações envolvendo os obstáculos enfrentados pelas cidades, principalmente brasileiras, em

Figura 75: Presença da arte urbana, mobiliários e vegetaçao no projeto. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/ br/600615/value-farm-thomas-chung > Acessado em 01 de junho, 2021.

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Figura 76: Projeto Value Farm. Fonte: Archdaily.com

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5.2 VALUE FARM Ficha técnica Projeto – Thomas Chung Localização – Senzhen, China Área – 8.120 m² Ano do projeto – 2013

A proposta foi idealizada a partir de duas perspectivas, sendo a primeira delas a de promover espaços verdes produtivos em terras “artificiais” que nessa narrativa assume por ser os telhados de edificações de uma região urbana de alta densidade. O conceito parte da iniciativa de promover espaços verdes produtivos nos telhados de um bairro conhecido por sua alta densidade construtiva, para estabelecer melhorias na eficiência energética dos prédios, no microclima da área, na qualidade de vida da população, dentre outras positivas consequências. A segunda referência para inspiração projetual se deu a partir do desenho urbano gerado pelo mercado de 170 anos, que estava para ser demolido da Graham Street. Onde se especulou novamente a introdução da leitura de telhados verdes para essa mesma área, renovando o tecido da região com novos usos e novos elementos de paisagem.

tura (2013), localizada em uma área de regeneração pós industrial. Na instalação foram tidos vários quadrantes que representam os desenhos das cobertas das edificações citadas anteriormente, e que ao apresentar alturas distintas, servem para o cultivo de diferentes espécies de acordo com suas respectivas necessidades espaciais. O local utiliza água de um tanque instalado para resgatar as fontes naturais encontradas no subsolo com um sistema de irrigação integrado.

Figura 78: Projeto Value Farm. Disponível com irrigação. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/600615/value-farm-thomas-chung > Acessado em 01 de junho, 2021.

A iniciativa da VALUE FARM valoriza a intervenção urbana e paisagística como sendo algo muito além da mera contemplação da paisagem. O projeto busca destacar o processo de recriação e revivência do espaço, recuperando a sua fecundidade como principal característica e formando uma nova produção de cultura para a antiga zona industrial que passa a celebrar a sustentabilidade urbana, a segurança alimentar, a acessibilidade, autossuficiência, acessibilidade e por fim, a natureza.

Figura 77: Projeto Value Farm com visitantes. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/600615/value-farm-thomas-chung > Acessado em 01 de junho, 2021.

Com ambas reflexões estabelecidas, a proposta foi implementada em um lote para a Bienal Shenzhen Hong Kong Bi-city de Urbanismo/Arquite-

Figura 79: Vista projeto Value Farm. Disponível em: < https:// www.archdaily.com.br/br/600615/value-farm-thomas-chung > Acessado em 01 de junho, 2021.

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Figura 80: Projeto Parque Comunitário Meifeng Fonte: Archdaily.com


5.3 PARQUE COMUNITÁRIO MEIFENG Ficha técnica Projeto – Zizu Studio Localização – Guangdong, China Área – 4.6704 m² Ano do projeto – 2020

Em uma região composta por vilas urbanas, casas antigas e áreas industriais, a existência de um terreno ocioso por quase 20 anos, onde era ocupado por estacionamentos ou depósitos irregulares de resíduos, clamava por uma intervenção de uso público. Foi em 2019 que finalmente a área de Meilin, localizada no norte do Distrito de Futian (China), ganhou o projeto responsável por desenvolver um parque comunitário que é parte de três conceitos norteadores para sua concepção sendo eles: amplitude, ecologia e diversidade.

edificada da região, a presença de oportunidades para lazer seguros e confortáveis, são fundamentais para uma melhor qualidade de vida. Algumas das decisões projetuais sustentáveis realizadas, foram a de retirar o concreto do piso existente o substituindo por pisos que permitissem o respiro do terreno, além de também reutilizar esse material destituído de duas formas. A primeira delas foi a de empilhar os blocos de cimentícios quebrados para remoção do piso, para formação de uma microtopografia que dialoga com a vegetação local estabelecendo uma relação de simbiose. A outra iniciativa foi a de depositar os fragmentos de concreto como forma de camadas de cascalho subterrâneo em partes onde o jardim possui valas para auxiliar na drenagem de águas pluviais.

Figura 82: Vista de caminhos e jardins criados com blocos de concreto. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/ br/956190/parque-comunitario-meifeng-zizu-studio > Acessado em 01 de junho, 2021. Figura 81: Localização do projeto com entorno. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/956190/parque-comunitario-meifeng-zizu-studio > Acessado em 01 de junho, 2021.

O projeto conta com locais de permanência para descanso ou atividades sociais, com pista de corrida, espaços abertos para prática de esportes ou outras atividades físicas, playgrounds para crianças e ainda corredores com exposições culturais. O parque passou a ser um importante equipamento urbano usufruído pela população local, pois com toda densidade populacional e

Figura 83: Fragmentos de concreto usados nas valas de retenção pluvial. Disponível em: < https://www.archdaily.com. br/br/956190/parque-comunitario-meifeng-zizu-studio > Acessado em 01 de junho, 2021.

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5.4 ANÁLISE DOS ESTUDOS A partir da Rua de Todas as Cores se tem como referencial a intervenção de uma via pública que torna o espaço em atrativo com novos usos com principalmente com a adição da arte urbana e também soluções inteligentes que auxiliam na sustentabilidade e escoamento das águas pluviais na região. Já a Value Farm, apresenta questões extremamente relevantes por oferecer uma paisagem verde que vai além da contemplação possuindo as hortas com capacidade produtiva. A implementação dessa leitura está relacionada a diversas consequências positivas, sendo algumas delas a viabilização do contato dos indivíduos com a produção de alimentos dentro do cenário urbano. Por último, o Parque Comunitário Meifeng prova sua relevância por, além de realizar uma grande intervenção no lote proporcionando um parque que atendesse toda comunidade local com diversos usos, agrega ainda valores ecológicos e sustentáveis para concepção de todo seu projeto.

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6. ESTUDO TERRITORIAL


A área escolhida para intervenção do projeto localiza-se no bairro de Casa Amarela na cidade do Recife, que consta na Região Político Administrativa III (RPA 3). Com os estudos desempenhados nesse capítulo, foi possível analisar o território e seu contexto, sendo possível identificar as demandas locais, potencialidades e também suas principais características relevantes para a temática trabalhada.

6.1 ASPÉCTOS HISTÓRICOS A área de estudo se localiza no bairro de Casa Amarela, na cidade do Recife. A região era conhecida como Arraial no século XVII, formada por refugiados do exército e da população tanto de Olinda, como de Recife, após a invasão holandesa. No final do século XVIII, posterior a rendição invasora, muitos moradores retornaram ao local reconstruindo as casas destruídas e

assim formando a Povoação do Arraial Velho. Mais tarde, essa região passou a ser chamada de Casa Amarela por conta do referencial que se tinha como um ponto de encontro, a partir de uma casa pintada sempre de amarelo localizada próxima ao terminal da antiga estrada de ferro. A casa pertencia ao comendador Joaquim dos Santos Oliveira, que era um rico português que havia se mudado para a região por recomendação médica ao apresentar sintomas de tuberculose que vieram a ser curados depois (GASPAR. 2003). Encontrada no cruzamento entre a rua Padre Lemos e a Estrada do Arraial, a casa ainda existente foi tombada pelo IPHAN (Instituto Histórico e Artístico Nacional) em 17 de julho de 1974, como um conjunto paisagístico histórico. Apesar de ter passado por diversos donos ou usos com o decorrer dos anos, a casa permanece com sua identidade estampada na cor ama-

Figura 84: Rua Padre Lemos, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, no ano de 1952. Disponível em: < https://revista.algomais.com/cultura/pernambuco-antigamente/8-fotos-de-casa-amarela-antigamente > Acessado em 02 de maio, 2021.

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rela sendo, sem dúvidas, um grande marco para história do bairro e da cidade do Recife.

Figura 85: A casa amarela responsável pela identidade do bairro. Disponível em: < http://bairrosderecife.blogspot. com/2012/10/casa-amarela.html > Acessado em 02 de maio, 2021.

6.2 CARACTERIZAÇÃO GERAL Após acontecimentos mencionados anteriormente, a região teve no início do século XX, o fenômeno de ocupação dos morros que margeiam o centro causados pelo crescimento populacional ocorrido na época. O bairro era caracterizado por ser um dos mais populosos, mas que teve isso mudado no ano de 1988 quando houve a Lei Municipal 14.452 que formulou os existentes 94 bairros de Recife, a qual a área de Casa Amarela passou a desconsiderar as regiões dos morros (mantendo apenas o Alto Santa Isabel) e outras áreas que foram reavidas como novos bairros independentes, como Poço da Panela e Tamarineira. O bairro é conhecido atualmente pelo seu vasto comércio ativo, seja pela presença do Mercado, ou pelo grande número de comerciantes e serviços que existem na área. A região também possui uma grande parte ocupada por moradias sendo um dos dois principais usos do bairro (juntamente ao comércio) que é considerado um ótimo lugar para se residir, por conta de suas características e boa localização na cidade.

6.3 ELEMENTOS DE DESTAQUE A área designada para estudo foi escolhida de acordo com os limites censitários delimitados pela pesquisa do IBGE de 2010. A partir dos elementos marcantes da área e alguns que se encontram próximos, foram escolhidos os de maior influência para essa pesquisa. Um componente considerado entre os mais importantes para o bairro de Casa Amarela e que se encontra a alguns metros da área de intervenção é o conhecido Sítio da Trindade. O local foi fundamental na história do bairro por ter sido construído o Forte Arraial Bom Jesus, sendo um ponto central da resistência contra a invasão holandesa e que posteriormente ao ser preocupado foi nomeado de Sítio da Trindade, seu nome atual. Após ser desapropriado para uso público no início dos anos 50, a área de 6,5 hectares abriga uma grande vegetação natural que proporciona espaço para caminhada e atividades ao ar livre para a população, além de contar também com o Chalé Trindade Peretti, que é utilizado para atividades culturais. O sítio é um grande marco para sua região por receber ainda festas culturais em diferentes épocas do ano, recebendo um grande número de visitantes.

Figura 86: Sítio da Trindade. Disponível em: < http://www2.recife.pe.gov.br/servico/sitio-trindade?op=MTMy > Acessado em 02 de maio, 2021.

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A área contém trecho do canal do Vasco da Gama, que já foi um riacho de mesmo nome, mas que hoje encontra-se poluído pelos descartes indevidos de esgoto e lixo. Corresponde ao maior canal de drenagem da zona norte e de toda a cidade, que já possui projeto de requalificação, porém que ainda não foi executado. Esse é um dos vastos recursos hídricos do Recife que não foram até então valorizados da forma correta, mas que apresentam um grande potencial na promoção de espaços convidativos para toda população.

Figura 88: Trecho da Av. Norte contida na área de estudo. Fonte: Google Earth.

6.4 ASPÉCTOS SOCIOECÔNOMICOS

Figura 87: Trecho do Canal Vasco da Gama. Fonte: Acervo autora, agosto 2021.

Uma importante via da cidade está presente no território pesquisado e que caracteriza a conexão do bairro da Macaxeira ao de Santo Amaro e ao do Recife. A avenida Norte passa por vários bairros da cidade como Torreão, Encruzilhada, Rosarinho, Tamarineira e Casa Amarela. A avenida foi composta pelo traçado de uma antiga linha férrea que chegava até a cidade de Limoeiro, mas que foi desativada em meados do século 20. É responsável por uma grande parte do trafego do norte da cidade, o que significa que o lote onde será realizada a intervenção terá um fácil acesso a mais partes da cidade por estar localizado bem próximo a uma via tão importante e utilizada pelos recifenses.

O bairro localizado na Zona Noroeste da cidade, possui 188,0 hec² de área com uma com população residente de acordo com último censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de cerca 29.180 habitantes, com média de 3,4 moradores por domicílio. O valor do Rendimento Nominal Médio dos Domicílios equivale a um total de R$ 4.326,69, mas que esse número possui consideráveis variantes de acordo com os setores do bairro, já que existe uma diversidade econômica quando se diferenciar áreas com condomínios de classe média/alta, em comparação as comunidades, como as encontradas no Alto de Santa Isabel. Sua população corresponde a maioria feminina com 55,47%, sendo 44,53% masculina, e com uma faixa etária consideravelmente jovem de maior porcentagem entre 25 e 59 anos, sendo 52,02% do total de toda população da região.

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Com acesso a todas infraestruturas básicas, essa região do Bairro de Casa Amarela parte na verdade pela falta de pavimentação e tratamento de calçada na Avenida Professor dos Anjos que se encontra ainda com barro, que em períodos de chuvas dificulta a circulação da área. Outro fator a se levar em conta é a falta de tratamento com o trecho do canal onde ocorre a colocação indevida de lixo e esgoto.

Figura 89: Dados socioeconômicos do bairro de Casa Amarela. Disponível em: < http://www2.recife.pe.gov.br/wp-content/ uploads/CASA-AMARELA.jpg > Acessado em 12 de maio, 2021.

6.5 ASPECTOS GERAIS DA ÁREA DE INTERVENÇÃO Após analisar princípios fundamentais do bairro de Casa Amarela, foi designada uma região de entorno imediato aos lotes do projeto, que corresponde a uma das áreas censitárias delimitadas pelo último censo do IBGE. Para o acesso do local, pode ser feito através das principais vias que são a Avenida Professor José dos Anjos e a Rua Arnoldo Magalhães, responsáveis pelo trânsito de modais como automóveis, motocicletas e bicicletas (às ruas não fazem parte das rotas de ônibus de transporte público). A região possui edificações em sua maioria residenciais com gabaritos entre 1 e 3 pavimentos, mas também com a presença de alguns prédios com gabaritos mais altos. As tipologias consistem em casas térreas ou com mais pavimentos, prédios com cerca de 6 pavimentos ou com aproximadamente 15 pavimentos e edificações de comércio ou serviço com visadas para as ruas e cerca de 2 ou 3 pavimentos. Com acesso a todas infraestru-

Figura 90: Foto da área mostrando edifício com gabarito de 7 pavimentos. Fonte: Google Earth.

Figura 91: Foto da área mostrando casa unifamiliar com menor gabarito. Fonte: Google Earth.

Figura 92: Foto da área mostrando casa unifamiliar com maior gabarito. Fonte: Google Earth.

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Os lotes que serão utilizados para implementação do projeto se encontram atualmente em desuso total ou pouco uso. Isso porque em um atualmente funciona um estacionamento irregular realizado de forma indevida e a área que existe a atual horta desenvolvida pelo ICASS em parceria com a comunidade local. Já seu lote vizinho está atualmente sem uso algum. A ventilação para essa área se dá pelo Leste no verão, pelo Sudeste em todas esta-

ções, mas em maior parte na primavera e inverno, e pelo Sul recebe mais ventilação no outono e inverno. Os raios solares da área ocorrem com abundância por se localizar em um entorno de predominância de limiares baixos, mesmo existindo um grande edifício ao lado, a área do projeto possui uma considerável incidência solar pelo Oeste durante todo ano e ao Leste sendo maior nas estações de inverno e verão.

Figura 93: Foto do lote mostrando vista da Av. Prof. José dos Anjos. Fonte: Google Earth.

Figura 95: Foto do segundo lote mostrando vista da R. Arnoldo Magalhães. Fonte: Google Earth.

Figura 94: Foto do lote mostrando vista da R. Arnoldo Magalhães antes da construção da praça. Fonte: Google Eart, maio 2021

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Mapa Da Área E Aspectos Gerais (Figura 96) Fonte: ESIG, editado pela autora.

POENTE

NASCENTE

VENTILAÇÃO

Legenda: Área de intervenção Praça Arnoldo Magalhães Lote em desuso Atual Horta de Casa Amarela ESC: 1 : 5.000


6.6 ASPECTOS LEGISLATIVOS A partir do Plano Diretor da Cidade do Recife (Lei nº 17.511/2008), planejamento municipal responsável por organizar estratégias, diretrizes e regras que orientam o desenvolvimento urbano da cidade que teve sua mais recente atualização (LEI COMPLEMENTAR Nº 2/2021), a cidade do Recife é dividida em duas macrozonas sendo elas a Macrozona de Ambiente Natural e Cultural (MANC) que se refere a elementos naturais como massas vegetais, recursos hídricos e também aos patrimônios culturais da cidade, sendo dividida em Zona de Ambiente Natural (ZAN) e Zona de Desenvolvimento Sustentável (ZDS). Já a Macrozona de Ambiente Construído (MAC), consiste na parcela do território que seja caracterizada pela “predominância de um conjunto edificado com diferentes padrões morfo tipológicos e diversas formas de uso e ocupação do solo e pela maior capacidade de suporte para adensamento construtivo e populacional”, a qual é composta pelas Zona de Ambiente Construído (ZAC), Zona Centro (ZC) e Zona de Reestruturação Urbana (ZRU).

c) coeficiente de aproveitamento máximo - 4,0; Sendo a área composta também pela Zona de Desenvolvimento Sustentável (ZDS) a qual o lote do projeto está inserido, que se refere ao “território de influência da rede hídrica principal e secundária que penetra no espaço urbano do Recife, associada às áreas com presença de patrimônio cultural e das Unidades que integram o Sistema Municipal de Unidades Protegidas (SMUP)”. Essas zonas possuem o objetivo de garantir o equilíbrio urbanístico-ambiental e a preservação dos recursos naturais e dos patrimônios culturais com as seguintes diretrizes.

Ao analisar a área de estudo, foram encontradas duas zonas, sendo a primeira dela a Zona de Ambiente Construído - Planície 2 (ZAC Planície 2) que corresponde “às áreas menos aptas ao adensamento construtivo e populacional, localizadas nas áreas mais distantes do centro e com infraestrutura insuficiente, e da necessidade de aplicação de conceitos de adaptação climática e gestão de riscos a desastres”. Seus critérios correspondem a: a) coeficiente de aproveitamento mínimo - 0,1; b) coeficiente de aproveitamento básico - 1,0;

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Mapa De Legislação Da Área (Figura 97) Fonte: ESIG, editado pela autora.

Legenda: Legenda: Área dede análise Área análise ZDS Capibaribe - Zona dede Desenvolvimento Sustentável ZDS Capibaribe - Zona Desenvolvimento Sustentável IPAV - Imóvel dede Proteção dede Área Verde IPAV - Imóvel Proteção Área Verde ZAC Planície 2 -2Zona dede Ambiente Construído ZAC Planície - Zona Ambiente Construído Zona dede Reestruturação Urbana - ZRU 2 2 Zona Reestruturação Urbana - ZRU

ESC: 1 : 5.000 ESC: 1 : 5.000


I - estimular e potencializar a relação entre o sítio natural e os valores materiais e imateriais, consolidados ao longo do tempo e expressos na identidade de Recife; II - estimular padrões sustentáveis de ocupação compatíveis com a presença de patrimônio cultural, infraestrutura instalada, equipamentos e serviços; III - permitir a convivência de usos múltiplos no território, estimulando o uso misto, a fachada ativa e o desenvolvimento de novos padrões morfotipológicos e de uso do espaço público, de modo a qualificar a relação entre os espaços públicos e privados; IV - permitir o adensamento populacional ou construtivo associado a padrões de construção que estabeleçam maior relação entre os espaços públicos e privados; V - recuperar áreas degradadas, implantar corredores ecológicos urbanos e arborização no sistema viário urbano de modo a integrar espaços verdes; VI - proteger os elementos já construídos e reconhecidos como marcos na paisagem; VII - promover programas de revitalização dos corpos hídricos, implantação requalificação de calçadas, arborização, ciclofaixas e ciclovias associadas à rede hídrico-ambiental estruturadora do território para a caracterizá-la como zona de baixo carbono e contribuir para qualificação do Recife como Cidade Parque. VIII - conservar áreas permeáveis a partir da adoção de soluções de infraestrutura verde de adaptação climática; IX - estimular o desenvolvimento do Programa de Premiação e de Certificação em Sustentabilidade Ambiental do Recife a ser concedido a pessoas físicas e jurídicas, públicas e privadas, assim como às iniciativas comunitárias, pelas boas práticas e a adoção da Certificação e concessão do Selo de Sustentabilidade Ambiental para os empreendimentos e atividades urbanas com práticas sustentáveis, nos termos da legislação pertinente; X - promover ações de educação ambiental sobre aspectos favoráveis à recuperação, proteção, conservação e preservação do patrimônio natural e cultural; e XI - estimular e proteger as comunidades tradicionais presentes em seu território e seus modos de fazer. XII - estimular a adoção do Selo Escola Verde, instituído por meio da Lei Municipal nº 18.374/2017, para certificação ambiental de escolas municipais que desenvolverem quaisquer ações, atividades ou projetos relacionados à educação ambiental e/ou ao uso sustentável de recursos naturais. Figura 98: Diretrizes da ZDS Fonte: Plano Diretor do Recife Lei N2, 2021.

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As ZDS são divididas e localizadas de acordo com os corpos hídricos principais e secundários formadores das suas respectivas bacias hidrográficas sendo estas subdivididas em Beberibe, Capibaribe, Tejipió e Centro. Para desenvolvimento deste trabalho que localiza-se na ZDS Capibaribe, onde observa-se que essa zona possui suas margens compostas por uma concentração de média e alta densidade populacional e construtiva. Outros pontos que constam são que essas áreas apresentam valores materiais e imateriais para a identidade da cidade, além de compreender práticas de atividades pesqueiras. Além disso, essas zonas determinam áreas que não seja permitido construir, por ser exclusividade para implantação do projeto Parque Capibaribe nas margens do rio de áreas públicas. Com base nas informações abordadas acima, a ZDS Capibaribe apresenta os seguintes coeficientes de aproveitamento:

mônios devem ser preservados cerca de no mínimo 70% da área cadastrada. Atualmente são 98 IPAVs pela cidade do Recife, com intuito de não só de amenizar o clima, mas também para conservar a fauna permitindo o equilíbrio ecológico na malha urbana e o conforto para a população. O IPAV 76 foi registrado com 17 espécies frutíferas, 7 espécies arbóreas e ainda 7 espécies arbustivas.

a) coeficiente de aproveitamento mínimo - 0,1; b) coeficiente de aproveitamento básico - 1,0; c) coeficiente de aproveitamento máximo - 2,0; O último aspecto legislativo da área a ser abordado é a respeito do IPAV de número 76, que se encontra próximo ao lote de intervenção. Os IPVAs são Imóveis de Proteção de Área Verde, sendo uma categoria pertencente às Unidades Protegidas do Recife criada pela Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife-LUOS (Lei Municipal nº 16.176/1996) e por leis posteriores, como o Plano Diretor (Lei Municipal nº 17.511/2008) que o enquadrou como Unidade de Equilíbrio Ambiental e no Sistema Municipal de Unidades Protegidas-SMUP (Lei Municipal nº 18.014/2014). É determinado, então, que nesses patri-

Figura 99: Limite da área verde do IPAV 76 em 2013. Fonte: Prefeitura do Recife.

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6.7 USO E OCUPAÇÃO A partir da análise feita na área foi possível notar que a mesma é formada por sua maioria sendo de uso habitacional de casas unifamiliares e com presença de alguns prédios residenciais, apesar da pesquisa revelar que o bairro de Casa Amarela é uma região com a presença forte em comércios, foi observado que existem muitas zonas com concentrações maiores de edificações residenciais, mas que ainda sim, apresentam alguns lotes de uso comercial ou com serviços. Com a área estudada não foi diferente, apesar de predominância do uso e ocupação serem de habitação, existem também edificações com uso comercial ou de serviço. Foi identificado ainda, uma edificação onde funciona uma instituição educacional, o Educandário Evangélico Ideal funciona para crianças entre 7 e 11 anos. A região também apresenta um lote com uso de galpão e outro lote de uso especial, que não foi possível encontrar mais informações. O que se tem é uma área pouco diversa e que pode ser considerada com densidade populacional mediana, já que maior parte dos lotes são ocupados por residências unifamiliares. A região apresenta um grande potencial para a proposta de intervenção que se pretende realizar, por conta da exis-

tência prevalecente de residências que acarretarão em uma maior interação da comunidade local com o equipamento comunitário.

Figura 101: Foto da área mostrando comércio local. Fonte: Google Earth.

Figura 102: Foto da área mostrando edifício de menor gabarito com uso habitacional. Fonte: Google Earth.

Figura 103: Foto da área mostrando uso habitacional em residência unifamiliar. Fonte: Google Earth.

Figura 100: Foto da área mostrando o Educandário. Fonte: Google Earth.

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Mapa De Uso e Ocupação (Figura 104) Fonte: ESIG, editado pela autora.

1

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Legenda: Habitação Lotes sem uso (vazios) Serviço Comércio Edificação especial Uso misto (comércio/habitação

Tipos de atividade: 1 - Oficina automobilística / 2 - Armazén de contruções 3 - Oficina automobilística / 4 - Serviços para motocicletas 5 - Aluguel de carretas / 6 - Vidraçaria 7 - Reparos para móveis / 8 - Comércio diverso 9 - Educandário Ensino Ideal / 10 - Bar e Restaurante 11 - Galpão / 12 - Uso específico não indentificado 13 - Uso específico não indentificado/ 14 - Serviços para automóveis.

Educacional ESC: 1 : 5.000

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6.8 MOBILIDADE E FLUXOS Ao analisar a área, foi observado um tráfego de veículos de reduzido a moderado de acordo com a transação de horários. As ruas recebem circulação de veículos automotivos, bicicleta e pedestres, sendo apenas a Avenida Nortes com corredores de ônibus. Figura 105: Foto da área mostrando uso misto (habitação e comércio. Fonte: Google Earth.

Figura 106: Foto da área mostrando edifício que apresenta uma das maiores densidades populacionais da área e que se encontra ao lado dos lotes de intervenção. Fonte: Google Earth.

No mapa produzido é possível ver as intensidades para cada rua, assim como sentido ( a única com sentido único na área é a Rua Guimarães Peixoto). Para o fluxo de pedestres todas calçadas possuem aproximadamente mesmo teor de circulação pelos pedestres, tendo como ponto diferencial as permanências dos transeuntes no encontro da Avenida Professor José dos Anjos com a Rua Arnoldo Magalhães devido aos pequenos comércios encontrados nessa localidade.

Figura 107: Foto da área mostrando foco de permanência dos moradores da região. Fonte: Acervo autora, novembro 2021.

Figura 108: Foto da área mostrando comércios. Fonte: Acervo autora, novembro 2021.

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Mapa De Mobilidade e fluxo viário (Figura 109) Fonte: ESIG, editado pela autora.

Legenda: Fluxo leve Fluxo entre leve e moderado Fluxo ent re moderado e intenso Sentidos das vias que são únicos Fluxo existente de automóveis Fluxo existente de bicicletas Fluxo existente de pedestres ESC: 1 : 5.000


6.9 ASPECTOS NATURAIS Com a presença do canal do Vasco da Gama (um marcante recurso hídrico que pode ser revitalizado para maior valorização), o território apresenta algumas árvores e vegetações que o margeiam, sendo importantes elementos da paisagem natural da cidade do Recife. A região possui diversas espécies encontradas não somente nas ruas, mas também no lote da praça e no espaço utilizado pela comunidade de Casa Amarela para cultivos de espécies frutíferas. (ver mapa de aspectos naturais) Algumas das principais espécies encontradas foram: Amendoeira-da-praia (Terminalia catappa), Sibipiruna (Caesalpinia pluviosa), Palmeira-do-açúcar (Arenga saccharifera) e Cássia-imperial (Cassia fistula), dentre outras.

Figura 111: Foto da área mostrando Amendoeira-da-praia. Fonte: Acervo autora, setembro 2021.

Figura 110: Foto da área mostrando Sibipiruna. Fonte: Acervo autora, setembro 2021.

Figura 112: Foto da área mostrando Cássia Imperial. Fonte: Acervo autora, setembro 2021.

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Mapa De Aspectos Naturais (Figura 113) Fonte: ESIG, editado pela autora.

Legenda: Vegetação existente Corpo d’água existente (Canal Vasco da Gama)

ESC: 1 : 5.000

99


As ruas da área são consideradas muito arborizadas, sendo a maior concentração de massa vegetal da zona encontrada no terreno que é classificado como IPAV 76, que apresenta várias árvores arbóreas e também frutíferas. Logo após essa área do IPAV, dispõe-se um dos lotes que se pretende intervir para o projeto, em estado de abandono, mas com a presença de algumas vegetações e com solo natural. O terreno da praça que se encontra na esquina da Rua Arnoldo Magalhães com a Avenida Professor José dos Anjos, contém algumas árvores que foram plantadas pela própria comunidade. Após a construção do projeto realizado pela Prefeitura do Recife, o ICASS juntamente com a com os moradores do bairro plantaram cerca de vinte mudas, sendo dentre elas espécies frutíferas de acerola, pitanga, graviola, goiaba, manga, carambola, cupuaçu e ubaia. Já o pequeno lote ao lado do canal, onde se encontra a pomar/horta comunitária de Casa Amarela com pés de tomate, melão, berinjela, coentro amora, acero-

la, banana, cacau, cajá, carambola, goiaba, mamão, maracujá, manga, dentre outros. Tais espaços apresentam uma grande importância para o estudo da área por apresentar não só a existência de elementos naturais, mas também que alguns deles foram implementados pela própria comunidade demonstrando o engajamento e vontade local de alcançar áreas com maior presença da natureza.

Figura 115: Foto da área mostrando Pomar de Casa Amarela. Fonte: Acervo autora, setembro 2021.

Figura 114: Foto da área mostrando Pomar de Casa Amarela. Fonte: Acervo autora, setembro 2021.

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6.10 SOBRE A COMUNIDADE DE CASA AMARELA

Figura 116: Projeto Rua Ideal - bairro saudável de Casa Amarela em parceria com UFPE em 2016. Fonte: Acervo ICASS.

Uma etapa fundamental para desenvolvimento deste trabalho e também para análise territorial, foi entrar em contato com pessoas da comunidade local do bairro para entender melhor as demandas e apurar o entendimento da área. Para isso, foi estabelecido contato com o Instituto Casa Amarela Saudável e Sustentável (ICASS) que se trata de uma iniciativa desenvolvida pelos próprios moradores da localidade, com intuito de promover ações e mobilizações para tornar o bairro mais seguro, saudável e sustentável. Iniciado em 2007 com o descontentamento em relação a insegurança do bairro, os moradores realizaram encontros em que se foi nomeado, a princípio, de “SOS Casa Amarela” e que posteriormente teve a expansão para o debate de mais temáticas com finalidade de desenvolver uma melhor qualidade de vida na região, tendo foco principal na saúde e sustentabilidade.

Em entrevista com coordenador geral do Instituto, Vandson José de Holanda (datado em 24 de março de 2020), foi visto que o ICASS trabalha com propostas em várias áreas, desde iniciativas para uso de energia solar em prédios do bairro de Casa Amarela, até a seleção de possíveis áreas da região para cultivo de hortas e pomares urbanos em parceria com a Secretaria de Executiva de Agricultura Urbana. Há alguns anos, o ICASS em conjunto com os moradores, deram início a iniciativa de criação de hortas para comunidade local com intuito de fomentar uso de espaços para obter alimentos mais saudáveis e sustentáveis. Foram cultivadas várias espécies, mas que pela dinâmica cotidiana de diversos moradores distintos utilizando a mesma pequena área, observou-se que seria mais assertivo para tal realidade se adequar mais com plantio de árvores frutíferas ou espécies com menos necessidade de manutenção e consu-

101


mo de água. A ação foi tida como um resultado satisfatório, apesar de ainda requerer melhorias em termos de organização e estrutura, no entanto se tem a demonstração do empenho local de se desenvolver formas de uma vida mais consciente.

Figura 118: Área da horta de Casa Amarela. Fonte: Acervo pessoal, Agosto de 2021.

Figura 117: Área da horta de Casa Amarela. Fonte: Acervo pessoal, Agosto de 2021.

Figura 120: Área da horta de Casa Amarela. Fonte: Acervo pessoal, Agosto de 2021.

A área em que hoje se encontra a Praça Arnoldo Magalhães, já foi muito utilizada por pessoas das proximidades que praticavam esportes na área descampada e ainda, recebeu posteriormente intervenções que partiram de iniciativa dos moradores que em suas tentativas promoveram mobiliários decorativos a partir de materiais recicláveis para buscar resgatar a vitalidade do local.

Figura 118: Área da horta de Casa Amarela. Fonte: Acervo pessoal, Agosto de 2021.

Figura 121: Área de intervenção anos anteriores pelos moradores com materiais recicláveis. Fonte: Acervo ICASS.

102


Figura 122: Área de intervenção anos anteriores pelos moradores com materiais recicláveis. Fonte: Acervo ICASS.

Figura 123: Área de intervenção anos anteriores pelos moradores com materiais recicláveis. Fonte: Acervo ICASS.

Anos depois o lote foi utilizado em parte pelo ICASS com plantio de várias árvores frutíferas, mas também abrigou permanência irregular de estacionamentos e estabelecimentos informais com venda de comidas e bebidas alcoólicas, indo de encontro a todo propósito da comunidade de moradores juntamente ao Instituto.

Figura 125: Foto do lote mostrando ocupação irregular da área do lote. Fonte: Google Earth.

Visitando o local é possível observar que mesmo após anos, o trecho da Avenida Professor José dos Anjos continua sem a infraestrutura básica sendo a rua ainda em barro com muita irregularidade e que em períodos de chuva se torna caótica para os que residem nas proximidades. A intervenção dessa via pode ser responsável por agregar um importante acesso para a área que evolui cada vez mais a partir de iniciativas da comunidade, mas que ainda carece da atenção para participação de iniciativas públicas na região.

Figura 126: Foto do segundo lote mostrando vista da R. Arnoldo Magalhães. Fonte: Google Earth.

Figura 124: Área com intervenção do ICASS com cultivo de pomar 2020. Fonte: Google Earth.

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Figura 127: Lotes de intervenção em vista superior. Fonte: Google Earth. 2021

Agora, a comunidade vem trabalhando para melhorias na área em torno da praça recém construída e também em possíveis intervenções no próprio lote da praça, para que seja possível tornar a área mais atrativa e frequentada pela população do bairro de Casa Amarela.

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6.11 PROPOSTA EXISTENTE A proposta existente para parte da área de intervenção dessa pesquisa, trata-se de um projeto para requalificação da Praça Arnoldo Magalhães. A iniciativa elaborada em 2020 pela Prefeitura do Recife, propõe 850,05 m² de área verde, com 896,99 m² de área impermeável e mais 1521,73 m² de área semi permeável. Possui também a proposição de alguns mobiliários como bancos, um elemento artístico de ornamentação e também um mobiliário de recreação infantil. O desenho é tido como geométrico e dinâmico ao preencher a área com diagonais formando caminhos e permanências. Com o decorrer da pesquisa em questão, tal projeto foi dado início em meados de Junho e finalizado em Julho de 2021. A construção da praça Arnoldo Magalhães, que foi renomea-

da de ‘Praça Casa Amarela Saudável e Sustentável’ pela comunidade, foi finalizada com participação ativa da opinião dos moradores locais. Isso porque, ao se iniciar o processo houve uma considerável falta de comunicação entre a Prefeitura e a população de Casa Amarela em sua etapa de criação do projeto para a praça. Sem a escuta da comunidade local, realizou-se um projeto que não atingia todos anseios idealizados pela comunidade, retirando ainda parte da vegetação existente no lote (que foram plantadas pela própria população local) e também devido a falta de disposição de usos comerciais (como quiosques), espaços para cultivo de plantas e mais oportunidade de permanências convidativas para os visitantes na proposta realizada.

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0

R0.3

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R0.30 R0.45

R0.45

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PAVER TERRACOTA A: 502,65m²

119°

°

63

R0.30 .25

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73°

AREIA FINA A: 1019,08m²

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R0.

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113°

ÁREA VERDE A: 850,05m²

PISO DE CONCRETO A: 896,99m²

Figura 128: Proposta existente para área. Fonte: Prefeitura da Cidade do Recife.

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O projeto foi realizado com pequenas, porém importantes alterações da comunidade que impediram a retirada de mais árvores existentes e que plantaram novas mudas, além de ainda realizarem a pintura do muro existente com arte homenageando a praça. Como consequência se obteve um projeto de praça simples com mobiliários de baixo custo, mas que foi executado rapidamente e entregou esperança de novas mudanças para toda comunidade do bairro com a possibilidade de novos começos com um estilo de vida mais saudável e sustentável, tendo um lugar certo para comemorar a iniciativa persistente dos moradores da região.

Figura 129: Projeto Praça de Casa Amarela Saudável e Sustentável executado. Fonte: Acervo autoral, Agosto de 2021.

Figura 130: Projeto Praça de Casa Amarela Saudável e Sustentável executado. Fonte: Acervo autoral, Agosto de 2021.

Figura 131: Projeto Praça de Casa Amarela Saudável e Sustentável executado. Fonte: Acervo autoral, Agosto de 2021.

Figura 132: Projeto Praça de Casa Amarela Saudável e Sustentável executado. Fonte: Acervo autoral, Agosto de 2021.

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Para uma nova intervenção, o que se deseja é que seja proporcionado áreas para plantação de pomares, mais espaços de troca social, quiosques para venda de alimentos saudáveis, melhoria e pavimentação da Avenida Professor José dos Anjos, pois é um importante acesso à área e que se encontra em um estado de considerável descaso. O que se idealiza é que a avenida seja uma via com a vasta presença de árvores frutíferas, ao invés de depósito de entulhos que ocorre com frequência mesmo com denúncia dos moradores do local, e também que o trecho do Canal Vasco da Gama seja revitalizado para ser contemplado como elemento positivo da paisagem. A meta é que toda essa região se torne uma área agradável e convidativa para que passe a ter vida e uso comunitário para atividades sustentáveis e saudáveis

Figura 132: Vista da parte frontal da Praça com acesso para Av. Prof. José dos Anjos. Fonte: Acervo autoral, Agosto de 2021.

Figura 133: Vista da parte frontal da Praça com acesso para Av. Prof. José dos Anjos onde existe o canal Vasco da Gama. Fonte: Acervo autoral, Agosto de 2021.

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BROTAR (prov brotar). Começar a desenvolver-se (o germe do grão ou a semente); nascer; - Dicionário Michaelis, 2015.


7. CONCEPÇÃO PROJETUAL


7.1 CONCEPÇÃO O projeto do Espaço Ecoar parte da intervenção entre a Avenida Professor José dos Anjos e a Rua Arnoldo Magalhães, com a expansão da existente praça, o pomar comunitário de Casa Amarela e juntamente aos trechos das ruas que os permeiam. As principais diretrizes que guiaram sua elaboração e foram fundamentados com decorrer de toda pesquisa, contam com os três principais pilares defendidos como intenções projetuais sendo eles: 1.

INTERATIVO:

a. Conceber um ambiente versátil e articulado, que possa desencadear uma rica troca social na região para o verdadeiro aproveitamento da população – Promover uma área que protagonize a participação da comunidade com usos diversos, que sejam capazes de cativar as pessoas a sempre usufruírem do local, despertando o apego e valorização para que o projeto seja preservado como elemento da identidade do bairro de Casa Amarela. b. Constituir espaços de lazer e recreação para a população usufruir – Gerar espaços de lazer como áreas de permanência capazes de trocas sociais e espaços de lazer como playgrounds e local para aulas de atividades ao ar livre, que proporcionem uma melhor experiência para todos usuários que irão utilizar o projeto desenvolvido. c. Estabelecer um novo elemento da paisagem urbana local para enriquecer a identidade do bairro e da comunidade local – Potencializar a identidade da região com um novo equipamento que forneça possibilitar práticas saudáveis, sustentáveis e uma melhor qualidade de vida para a população.

d. Promover um espaço interessante com uso da arte para complementação estética do local – A partir da existência de um espaço atrativo com elementos artísticos, tornar as pessoas atraídas e despertas ao interesse de ativar o local utilizando-o e zelar pelo mesmo para que sempre esteja em bom estado fazendo parte da vida da população. 2.

SUSTENTÁVEL:

a. Revitalizar e potencializar a presença de elementos naturais na região - Promover a reativação da área a partir da preservação de espécies vegetais já presentes no local, dando o seu devido protagonismo e acentuando sua presença com a implementação de mais espécies locais. Assim a região terá um uso otimizado da massa vegetal presente. b. Explorar a melhor potencialidade da área com elementos verdes, a partir do uso do paisagismo funcional – Com uso da leitura de paisagismo funcional, introduzir na área de intervenção uma leitura não só capaz de agregar valor estético, mas que também seja apta a agregar aromas e produtividade ao projeto. c. Explorar práticas e materiais sustentáveis, que gerem pouco ou nenhum impacto ambiental, para serem introduzidas na área do projeto – Com base na reutilização de matérias ou uso de elementos sustentáveis, conceber um projeto que seja capaz de gerar pouco ou nenhum impacto ambiental para o meio o qual se está inserido.

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3.

SAUDÁVEL:

a. Articular espaço para produção de alimentos orgânicos para a comunidade dos moradores do bairro de Casa Amarela – Gerar um local onde as pessoas sejam capazes de produzir de forma independente, alimentos saudáveis, sustentáveis e acessíveis para uma alimentação mais saudável através de hortas comunitárias e pomares. b. Conceber locais para que estimulem a prática de atividades físicas – A partir de mais oportunidades de espaços para práticas de atividade, promover a saúde física da população para que doenças causadas pelo sedentarismo sejam evitadas. c. Promover a conscientização de hábitos alimentares saudáveis para uma melhor qualidade de vida – Com as práticas da produção de alimentos, a quais a população terá pleno conhecimento a respeito das etapas necessárias para produção desses itens ricos em nutrientes e sem o uso de produtos químicos, será possível promover a conscientização da importância de uma alimentação saudável para um estilo de vida mais qualitativo e longevo.

7.2. ZONEAMENTO E PROGRAMA O zoneamento e programa foram pensados de forma que otimizasse toda área de intervenção. O posicionamento da horta e estufa ao extremo mais distante do lote faz com que o local fique mais reservado em relação aos demais usos do projeto, permitindo melhor fluxo para aqueles que estarão envolvidos na logística de produção. As zonas com mais fluxos de pessoas, como as áreas de permanência e pátio multiusos, foram implementadas nas áreas mais “externas” do lote com intuito de promover maior interação com as pessoas que estiverem transitando a área, permitindo um convite atrativo a usufruir do programa disposto no local. Por último, foram propostos vários passeios convidativos juntamente com as vias compartilhadas, para que possa haver uma maior interligação entre as áreas de intervenção tornando toda área agradável para uso da população local.

d. Conceber um espaço urbano com a ampla presença da natureza, que sejam aptos a gerar impactos benéficos para saúde mental da população – Criar um local que com a presença de vários elementos biofílicos estabelecendo um respiro natural do cenário urbano, fornecendo a contemplação visual das vegetações e os aromas das frutas e flores presentes no local, para desencadeamento de sensações positivas nos seus visitantes.

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Zoneamento e Programa (Figura 134) Fonte: Ilustrado pela autora.

Legenda: 1. ATIVIDADES Quiósques Bancos elevados e espaço multiusos 2. LAZER Playground Áreas de permaência Passeios convidativos Vias compartilhadas

3. PRODUTIVIDADE Horta Estufa 4. SERVIÇO Depósito e banheiros

ESC: 1 : 5.000

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8. O PROJETO


8.1 MEMORIAL DESCRITIVO O local de intervenção do projeto se encontra em uma área com presença de significativos elementos naturais como, por exemplo, o Canal Vasco da Gama e rica diversidade de vegetação existente, contendo também espécies cultivadas pela própria comunidade local. Tal comunidade essa, que foi tida como uma dos principais motivações para direcionamento do projeto, pois ao entrar em contato com o Instituto de Casa Amarela Saudável e Sustentável (ICASS), foi tido o conhecimento de hábitos e anseios da população local,provocando a idealização do projeto, então, com a proposição de espaços convidativos com princípios sustentáveis e saudáveis. A partir do projeto existente da Praça Arnoldo Magalhães, foi realizada uma nova intervenção para área que tivesse como princípio a reutilização de seu traçado, assim como também as linhas de força existentes e tendo em vista o melhor aproveitamento possível do que existe atualmente. Foram mantidos elementos como o piso intertravado dos percursos, os canteiros e incluindo também a maior área de playground. Com boa parte do desenho original mantido para uma coerência sustentável em relação aos conceitos norteadores, pois ocasionaria maior gasto de recursos financeiros, uso de obra prima e geração de mais resíduos ao meio ambiente, a intervenção para o lote conjunto a praça segue as mesmas linhas de força, porém trazendo novos usos ao local. A nova proposição se inicia na adaptação do que antes ocupava um playground menor (com adição de espaço do novo lote) , mas que será substituído por um grande pátio para prática de atividades ao ar livre, assim como também receber feiras locais semanalmente. Na mesma área foi implemen-

tado ainda, assentos escalonados que podem servir tanto para permanência dos visitantes, como para eventos que tenham a ação de serem assistidos por espectadores. O projeto inclui também um volume como quiosque de refeições, que foi implantado estrategicamente na área da praça onde se encontrou uma importante permanência de movimento de pessoas da localidade. Aproveitando tal fluxo, o quiosque funcionará como mais um polo atrativo de permanência para os que visitarem a área do projeto. Outra alteração da praça original, foi a de adotar a extremidade oposta à rua do lote, um espaço para alimentação com permanências, proporcionando a interação e descanso dos visitantes. A estrutura também conta com banheiros, sala para reunião para uso do ICASS ou da comunidade. Foi introduzido, ainda, com uma pequena estufa separada dos demais usos por um jardim de inverno. O ambiente possui suas paredes em vidro e também fechamento de material translúcido na coberta para uma maior eficiência na criação de mudas, flores e hortaliças. A ideia é que essa estufa possa abrigar espécies que não sejam possíveis em horta comum e que tal espaço possa fornecer apoio para produção de mudas para a comunidade. Um dos setores com sua função mais significativa do projeto, encontra-se no lote anexado à praça atual, o qual foi proposto um grande espaço para horta comunitária. As divisões foram feitas para possibilitar o melhor cultivo de diversas espécies, com medidas respeitando da melhor forma possível as recomendações de especialistas da área, permitindo que cada canteiro tenha espaçamentos confortáveis para circula-

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ção da área. A área conta ainda com um espaço de apoio para auxílio no manuseio de plantas da horta e também um depósito para materiais e ferramentas utilizadas para o cultivo no local. Algo de grande importância ao idealizar a nova intervenção, era a de priorizar o uso do paisagismo funcional de forma que toda vegetação disposta no projeto respeitasse tais conceitos. Como aplicação de tal segmento, tem-se primeiramente implementação da horta comunitária que fornece uma leitura de espaço verde comestível com cultivo de diversas espécies para consumo da própria comunidade. Para as demais áreas que se encontram com solo natural e jardim, foi pensando em inserir plantas comestíveis ou medicinais, além da adição de árvores frutíferas. É importante ressaltar que para decisão de toda materialidade foi usado como guia, os conceitos estudados sobre Biofilia, refletindo no vasto uso de madeira e revestimentos com aspectos naturais. Aliado intimamente com a Biofilia, utilizou-se da sustentabilidade mobiliários utilizados no projeto, a prioridade foi de recorrer aqueles que fossem de soluções recicladas ou com questões ecológicas utilizando sua fabricação e descarte. Para o piso foram priorizados revestimentos drenantes para que não impeçam a permeação natural da água no solo. Outras decisões sustentáveis no projeto foram as de implementação de painéis solares para uso de energia limpa, de também sistema de reservatório para captação e reutilização de águas pluviais e ainda uma estação de ecoponto para coleta seletiva com devido descarte de resíduos.

pelo crescimento das espécies ali plantadas. Para essa área então, foi introduzido novos mobiliários urbanos e também alguns caminhos partindo da nova calçada que proporcionasse uma melhor interação da área com o espaço da cidade. Promovendo assim a reativação do espaço para todos momentos do dia, pois devido sua grande massa vegetal o local se tornou pouco iluminado em períodos noturnos ocasionando insegurança. Com a proposta sugerida no projeto, essa área passa a ser um passeio convidativo em qualquer período pela população local. Juntamente aos lotes de áreas para diferentes usos, foi proposto ainda a implementação de vias compartilhadas no trecho imediato de seu entorno. As vias pretendem oportunizar mais interação entre todos os espaços citados no texto acima, oferecendo passeios agradáveis e seguros pela área de intervenção, com uso de mobiliários adequados e presença de várias árvores completando o cenário natural que permeia o canal Vasco da Gama ( que se leva em conta que o trecho seria tratado para melhor conforto dos transeuntes).

Além dos lotes citados, tem-se também a intervenção da área onde é encontrada a horta “improvisada” da comunidade de Casa Amarela, que apesar do nome, identifica mais pela categoria de pomar por conta da grande quantidade de cobertura vegetal ocasionada

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8.2 PAGINAÇÃO

TIPO 02

Para a paginação foi buscado manter maior parte da pedra existentente e ao promover mais caminhos continuar com o mesmo uso de revestimento. Já para os demais espaços foram utilizados pisos drenantes que possuem uma melhor performance ao possibilitar uma maior permeabilidade natural do solo, o tornando um produto mais sustentável a ser utilizado em regiões com problemas de escoamento pluvial. TIPO 01

Usado em :Percursos da praça Tipo: Paver Fornecedor: Concrepoxi. Dimensões: 10 x 20 cm. Cor: Natural

Usado em :Percursos da vias de pedesres e veiculos Tipo: Megadreno Reciclé Fornecedor: Braston. Dimensões: 60 x 1.19 cm. Cor: Cinza

Figura 137: Piso megadreno Disponível em: <http://braston.com.br/produtos/megadreno/#modelo>. Acessado em 06 de dezembro, 2021.

TIPO 03 Usado em :Percursos da vias de pedesres e veiculos Tipo: Megadreno Granili Fornecedor: Braston. Dimensões: 60 x 1.19 cm. Cor: Prata Platina

Figura 135: Paver Concrepoxi. Disponível em: <http://www.concrepoxi.com.br/artefatos/produtos/>. Acessado em 06 de dezembro, 2021.

Figura 138: Piso megadreno Disponível em: <http://braston.com.br/produtos/megadreno/#modelo>. Acessado em 06 de dezembro, 2021.

1

2 1

2 2

3 3

Figura 136: Trecho de paginação do Projeto Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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8.3 MOBILIÁRIOS

CINZEIROS E PORTA SACO PET: MMCITÊ no design VALET.

Para os mobiliários urbanos, foram escollhidos em sua maioria, pertencentes ao catálago da MMCitè, empresa que apesar de internacional possui sede no Brasil, e que é comprometida com a sustentabilidade em todos seus produtos além de também realizar projetos sociais reutilizando materias restantes para brinquedos de crianças. MESAS: MMCITÊ no designRAUSTER.

Figura 141: Mobiliário urbano. Fonte: MMCité. 2021

LIXEIROS: MMCITÊ no design NANUNK.

Figura 139: Mobiliário urbano. Fonte: MMCité. 2021

BICICLETÁRIO: MMCITÊ no designBIKEBLOCQ.

Figura 142: Mobiliário urbano. Fonte: MMCité. 2021

BALIZADORES: MMCITÊ no design LOT.

Figura 140: Mobiliário urbano. Fonte: MMCité. 2021

Figura 143: Mobiliário urbano. Fonte: MMCité. 2021


Já para os bancos de permanência, foi elaborado a volumetria de assentos que funcionassem em conjunto com canteiros de cultivo para plantas medicinais correspondendo a proposta de implementação do paisagismo funcional defendido neste trabalho. Tais mobiliários seriam formados de materiais como madeira para os assentos, possibilitando um maior conforto aos visitantes mesmo em temperaturas elevadas. Para as jardineiras, seriam modeladas no local com uma mistura de cimento e barro.

Luminária Pública de Led SMD 200W para Poste de Rua Branco Frio 6500k IP67 com Fotocélula.

Figura 146: Luminparia utilizada como referência no projeto. Disponível em: <https://www.digitalled.com.br/luminarias-de-poste/luminaria-publica-de-led-smd-200w-para-poste-de-rua-branco-frio-6500k-ip67-com-fotocelula>. Acessado em 06 de dezembro, 2021.

Piso Tátil Elemento Direcional – Inox (Und.) Safe Park Figura 144: Mobiliário urbano proposto pela autora. Fonte: Autora, 2021

Poste cônico contínuo reto - Ibilux Iluminação.

Figura 147: Piso tátil metálico utilizada como referência no projeto. Disponível em: <https://safeparksinalizacao.com/produtos/ detalhes/piso-tatil-elemento-direcional-inox-und/>. Acessado em 06 de dezembro, 2021.

Piso Tátil Elemento de Alerta – Inox (Und.) Safe Park

Figura 148: Piso tátil metálico utilizada como referência no projeto. Disponível em: <https://safeparksinalizacao.com/produtos/ detalhes/piso-tatil-elemento-de-alerta-inox-und/>. Acessado em 06 de dezembro, 2021. Figura 145: Poste para acoplar luminária utilizado como referência no projeto. Disponível em: <https://www.ibilux.com.br/ produtos/poste-conico-continuo-reto/>. Acessado em 06 de dezembro, 2021.

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8.4 VEGETAÇÃO

podem ser comestíveis, bem como as folhas novas, quando bem tenras.

Para ornamentação paisagística do projeto tendo como conceitos norteadores tudo que foi estudado a respeito do paisagismo funcional, todas espécies escolhidas para serem inseridas no local foram cuidadosamente avaliadas segundo suas funções ( podendo ser produtivas por gerar algum fruto, serem comestíveis como hortaliças ou medicinais). Vale ressaltar também, que para escolha das novas árvores introduzidas no local, foi usado como referencial o Manual de Arborização da Prefeitura Do Recife. Sendo então, as espécies escolhidas foram:

Nome popular: Pitomba-da-bahia, Pitombeira, Pitombeira-da-baía, Curuiri, Uvalha-do-campo. Nome científico: Eugenia luschnathiana Klotzsch ex B.D. Jacks Função: Comestível/ Frutífero. Descrição: Os frutos podem ser consumidos “in-natura”(são ricos em vitamina c) ou utilizado na produção de geleias e doces. Excelente árvore ornamental devido ao tronco rosado.

Nome popular: Tamarindeiro - Tamarindo Nome científico: Tamarindus indica L. Função: Comestível/ Frutífero. Descrição: O valor do tamarindo é ressaltado pelo seu alto conteúdo de vitaminas e minerais. A polpa tem 98% de ácido tartárico e açúcares solúveis, além de ser rica em pectina, ácidos orgânicos, vitaminas B e C e betacaroteno. As folhas contêm fósforo, potássio, cálcio, magnésio, vitamina C e betacaroteno. As sementes cozidas podem ser consumidas como aperitivos. As flores

Figura 150: Ilustração Pitombeitra. Disponível em: < https:// commons.wikimedia.org/wiki/File:Eugenia_luschnathiana_ 11zz.jpg > Acessado em 04 de dezembro, 2021.

Nome popular: Araçá-boi. Nome científico: Eugenia stipitata Função: Comestível/ Frutífero e Medicinal.

Figura 149: Ilustração Tamarindeiro. Disponível em: < http://www.odairplantas.com.br/muda/133/ tamarindo > Acessado em 04 de dezembro, 2021.

Descrição: É uma planta arbustiva, nativa da região amazônica, ainda pouco conhecida no Brasil e no mundo. Um arbusto tropical perfeito para pequenos ou grandes pomares domésticos. Possui propriedades anticance-

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rígenas além de ser rico em vitamina c apresenta cerca de 5 vezes mais a quantidade de vitamina C do que as outras frutas cítricas.

Nome popular: Penicilina, Perpétua-brasileira.

É baixa manutenção, o araçá-boi produz cerca de 4 a 5 vezes por ano, se estiver em condições favoráveis sendo de sol pleno ou meia sombra..

Função: Ornamental e medicinal.

Figura 151: Ilustração Araça-boi. Disponível em: < https://matonoprato.com.br/2020/09/02/araca-boi/ > Acessado em 04 de dezembro, 2021.

Nome científico: Alternanthera brasiliana Descrição: A penicilina é a uma planta herbácea e ereta de sol pleno ou meia sombra, com qualidades medicinais e ornamentais, nativa de regiões tropicais das Américas, principalmente ao longo da costa do Atlântico. Floresce no inverno e início da primavera, despontando pequenas inflorescências com formato de pompom e cor branca-creme. Com uso das folhas e flores da Penicilina, é indicada para prisão de ventre, Prostatite, Tumores, Afecções da bexiga, Afecções hepáticas, Diarréia, Intoxicações Alimentares. Possui propriedades diurética, digestiva, depurativa, antidiarréica, antinflamatória, analgésica e antibiótica.

Nome popular: Grama-esmeralda. Nome científico: Zoysia japonica. Função: Ornamental. Descrição: A grama-esmeralda tem folhas estreitas, pequenas e pontiagudas, de coloração verde intensa. Deve ser cultivada a pleno sol, em solos férteis, com adubações semestrais e regas regulares.

Figura 152: Ilustração Grama Esmeralda. Disponível em: < https://www.jardineiro.net/plantas/grama-esmeralda-zoysia-japonica.html > Acessado em 04 de dezembro, 2021.

Figura 153: Ilustração Penicilina. Disponível em: < http://paisagismo.andfatiola.com/2015/07/alternanthera-brasiliana.html > Acessado em 04 de dezembro, 2021.

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Para ornamentação das jasdineiras projetada com os bancos dispostos pelo projeto, foi idealizado uso de diversas espécies de hortaliças, vegetação medicinal ou aromática de acordo com a motivação da comunidade. Como ponto de partida são s ugeridas algumas espécies para cultivo nesses espaços.

Função: Comestível e Medicinal.

Nome popular: Capuchinha, Agrião-do-méxico, Chagas, Coleária-dos-jardins, Flor-de-chagas.

Seu valor medicinal a partir do bulbo e folhas, tem indicação para baixa libido feminina ou masculina, risco de trombose, câncer, sinusite, cefaléias, pressão-alta, diabetes.

Nome científico: Tropaeolum majus Função: Comestível e Medicinal.

Descrição: É uma planta herbácea, bulbosa, entouceirada e florífera, originária da África do Sul e amplamente utilizada em jardins por suas qualidades ornamentais e baixa manutenção. É uma planta bastante versátil, além do seu valor estético o alho-social é comestível e pode ser usado como tempero da mesma forma que o alho comum.

Descrição: É conhecida em diversas culturas, como uma planta multifuncional. Além de ornamental e medicinal, pode ser utilizada também na culinária. Suas folhas são bastante arredondas e sem brilho. O sabor de sua flor é picante, sendo usadas em saladas frias, sucos e finalização de pratos. A floração ocorre na primavera e verão. Podendo usar caule, folhas e a flor, essa espécie é indicada para afecções da pele, problemas digestivos, problemas pulmonares, escorbuto e insônia.

Figura 155: Ilustração Alho Social. Disponível em: < http:// www.odairplantas.com.br/muda/405/alho-social > Acessado em 04 de dezembro, 2021.

Figura 154: Ilustração Capuchinha. Disponível em: < https:// www.hortaeflores.com/2015/07/capuchinha-tropaeolum-majus.html > Acessado em 04 de dezembro, 2021.

Nome popular: Alho-social, Tulbalgia Nome científico: Tulbaghia violacea

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8.5 REPRESENTAÇÃO DO PROJETO Serão dispostos a seguir, todo material produzido para representação gráfica da proposta proporcionando melhor entendimento da proposta elaborada.

N

Figura 156: Planta de Situação em escala 1 : 2 000 m mostrando a localização do lote na área de estudo. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Planta de Locação e Coberta (Figura 157) Fonte: Ilustrado pela autora.

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N

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Planta Baixa (Figura 158) Fonte: Ilustrado pela autora.

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N Planta Baixa com foco na edificação (Figura Fonte: Ilustrado 159) Fonte: pela Ilustrado autora.pela autora.

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N

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ELEVAÇÃO LONGITUDINAL

Figura 160: Elevação Longitudinal. Fonte: Autora, dezembro 2021.

ELEVAÇÃO TRANSVERSAL

Figura 161: Elevação Transversal. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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CORTE AA’

Figura 162: Corte AA’. Fonte: Autora, dezembro 2021.

CORTE BB’

Figura 163: Corte BB’. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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CORTE CC’

Figura 164: Corte CC’. Fonte: Autora, dezembro 2021.

CORTE DD’

Figura 165: Corte DD’. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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CORTE EE’

Figura 166: Corte EE’. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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CORTE FF’

Figura 167: Corte FF’. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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8.6 VISTAS DA PROPOSTA

Figura 168: Vista da Avenidad Professor José dos Anjos’. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 169: Vista da Avenidad Professor José dos Anjos e frente dos lostes de intervenção. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 170: Vista do Pomar de Casa Amarela após intervenção. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 171: Vista do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 172: Vista da Horta Comunitária do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 173: Vista da Horta Comunitária do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

Figura 175: Vista da estufa do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 174: Vista da Horta Comunitária do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

Figura 176: Vista da estufa do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 177: Vista da Horta Comunitária do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

Figura 179: Vista do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 178: Vista da bancos escalonados do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

Figura 180: Vista do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 181: Vista do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 182: Vista do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 183: Vista do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

Figura 185: Vista noturna dos percusos dá área de intervenção. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 184: Vista noturna dos percusos dá área de intervenção. Fonte: Autora, dezembro 2021.

Figura 186: Vista noturna do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 187: Vista noturna dos percusos dá área de intervenção. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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Figura 188: Vista noturna do Espaço Ecoar. Fonte: Autora, dezembro 2021.

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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Com cidades em constante crescimento e urbanização, em que nem sempre ocorre o planejamento coerente para melhor qualidade de vida ou otimização de recursos, o que se vê em muitos centros urbanos é a falta de uma lógica organizacional elaborativa que seja capaz de converter as cidades em meios que conectem sua população com uma realidade mais sustentável e saudável. Dessa forma será possível solucionar as problemáticas tratadas neste trabalho como as de deterioração do meio ambiente, urbanização vertiginosa e também a falta de saúde mental ou física na vida das pessoas da sociedade moderna. Portanto, é possível notar o grau de relevância que se tem em promover novos espaços públicos com a presença da natureza e com as versáteis utilidades para se alcançar cidades mais atrativas, que se preocupam com o meio ambiente e que buscam ser mais benéficas para sua população. O trabalho foi desenvolvido com base nos três eixos temáticos escolhidos para contexto do projeto sugerido, foi abordado sobre o desenvolvimento de espaços públicos nas cidades e como esses se relacionam com a biofilia juntamente a presença dos seres vivos. Permeia também, sobre o desenvolvimento dos conceitos de sustentabilidade e seus principais aspectos, tendo em seguida a respeito da acupuntura urbana e como sua intervenção no cenário das cidades pode acarretar mudanças que transcendem os espaços transformados. Tendo ainda sobre as hortas urbanas e o paisagismo funcional, que enfatizam a necessidade imediata de tornar os espaços da paisagem urbana produtivos. Além desses estudos foram realizadas análises de outros projetos para serem adotados como referencial comparativo e ainda, a observação de todos aspectos relevantes encontrados na área de intervenção para uma proposta mais coerente com o contexto.

Posteriormente foi apresentado a proposta de intervenção desenvolvida para a área em questão no bairro de Casa Amarela, que ilustra a importância que existe na implantação de espaços que possam proporcionar à população lazer aliado ao contato com a natureza e que provoque contato com a produção de alimentos verdadeiramente saudáveis. A área estudada apresenta um grande potencial de transformação não só para a comunidade local, mas também para outros possíveis visitantes que possam reproduzir iniciativas semelhantes em outros bairros da cidade do Recife. Permitindo dessa maneira, que os ideais desenvolvidos sejam capazes de “ecoar” transformando novas pessoas e novos espaços.


11. REFERÊNCIAS 166


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SANTOS, Vanessa Isabel Manzarra. Desenho para um planeta vivo: biofilia uma solução para o urbanismo e arquitectura sustentáveis. Orientador: Prof.ª Doutora SCHNEIDER, S. et al. Os efeitos da pandemia da Covid-19 sobre o agronegócio e a alimentação. Estudos Avançados, São Paulo, v. 34, n. 100, 2020. DOI: https://doi.org/https://doi.org/10.1590/ s0103-4014.2020.34100.011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/kQdC7V3FxM8WXzvmY5rR3SP/?lang=pt. Acesso em: 30 ago. 2021. SILVA, Romero Gomes Pereira da. Cenários dos espaços verdes urbanos no Brasil. Orientador: Carlos Hiroo Saito. 2018. Tese (Doutorado) - Curso de Política e Gestão da Sustentabilidade, Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília, 2018. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/32155. Acesso em: 1 jun. 2021. STIPO EQUIPE PARA ESTRATÉGIAS E DESENVOLVIMENTO URBANOS. A Cidade ao Nível dos Olhos, segunda versão, estendida: Lições para os plinths. Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do RS, 2015. SOUZA, Carlos Leite de; AWAD, Juliana di Cesare Marques. Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes: Desenvolvimento Sustentável num Planeta Urbano. Porto Alegre: Bookman Editora

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12. LISTA DE FIGURAS


Figura 01: Reportagem sobre práticas sedentárias da população. - pg. 04

Figura 14: Projeto com presença de vários elementos biofílicos - pg. 21

Figura 02: Reportagem sobre doenças causadas pelo sedentarismo. - pg. 05

Figura 15: Projeto com geometrias naturais, riqueza em detalhes e dentre outros aspectos biofilicos - pg. 22

Figura 03: Capa para revista do Instituto Nacional de Câncer. - pg. 05 Figura 04: Valores de consumo de agrotóxico por país em 2017. - pg. 08 Figura 05: Horta Comunitária de Manguinhos, Rio de Janeiro. - pg. 08 Figura 06: Bairro do Rosarinho no Recife com grande presença de verticalização e densidade construtiva, em contraposição com a pouca participação de elementos naturais na paisagem urbana. - pg. 09 Figura 07: Pintura da cidade de Vienna, na Áustria, no século XVIII demonstrando o movimento das ruas da época. pg. 16

Figura 16: Presença do elemento de perspectiva e refúgio. - pg. 22 Figura 17: Projeto de Templo que apresenta conexão cultural, além de outros valores biofílicos. - pg. 23 Figura 18: Elementos de design biofílico segundo Timothy Beatley e Peter Newman. - pg. 24 Figura 19: Visitantes no Mission Dolores Park, São Francisco (CA, EUA) utilizando os vastos espaços verdes como lazer próximos a cidade. - pg. 25 Figura 20: Pessoas caminhando pelo parque linear urbano Jack and Jean Leslie Riverwalk (EUA). - pg. 25

Figura 08: Cidade de Belfast na Irlanda do Norte com a presença de Bondes e carroças em 1898. - pg. 16

Figura 21: População utilizando espaço verde que contrasta diretamente com as edificações do seu entorno. - pg. 26

Figura 09: Times Square em Nova York (EUA) na década de 50 com a presença dos automóveis protagonizando as vias. - pg. 17

Figura 22: Visitantes desfrutando dos elementos naturais proporcionados no parque registrado. - pg. 28

Figura 10: Antigo Orchard Shopping Center, em Illinois (E.U.A) em 1950. - pg. 17 Figura 11: Avenida Paulista em São Paulo (Brasil) com uso de vias públicas para passeios aos domingos. - pg. 18 Figura 12: Jean-Jacques Rousseau recolhendo ervas em Ermenonville (1712-78), de Nicolas Andre Monsiau (Bibliothèque Nationale, Paris, França). - pg. 19 Figura 13: Projeto com presença de vários elementos biofílicos. - pg. 21

Figura 23: Projeto de bairro sustentável com presença de vários usos conectados. - pg. 31 Figura 24: Projeto de bairro sustentável com presença da biofilia. - pg. 31 Figura 25: Central Parque em Nova York (EUA), que proporciona um oásis verde urbano no centro da cidade. - pg. 32 Figura 26: Representação de telhados verdes em edificações no centro da cidade. - pg. 32

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Figura 27: Uso de piso permeável em calçada de edifício. - pg. 33 Figura 28: Iluminação por postes de captação de energia solar. - pg. 34 Figura 29: Pessoas desfrutam da dinamicidade provocada pelo projeto de intervenção. - pg. 37 Figura 30: Vista superior do projeto que mostra o destaque espacial ocasionado pela intervenção com diversas pessoas utilizando o espaço. - pg. 38 Figura 31 e 32: Fotos com resultado do projeto que tornou o espaço um local de encontro da comunidade e para práticas de esportes. - pg. 38 Figura 32 e 33: Fotos de antes e depois do trecho, mostrando suas gritantes diferenças. - pg. 39 Figura 34: Pessoas passeando pelo parque linear de Seul. - pg. 39 Figura 35: Área em desuso e abandonada onde seria uma praça. - pg. 40 Figura 36: Descaso com área publicada Praça Tiradentes na cidade do Recife pg. 40 Figura 37: Pessoas utilizando os espaços de permanência com elementos verdes no centro urbano. - pg. 41 Figura 38: Foto tirada antes da intervenção. - pg. 42 Figura 39: Foto tirada após, com resultado do projeto. - pg. 42 Figura 40: “Aaru Field Of Reeds” ilustração antiga que mostra como seria o paraíso da cultura egípcia com a presença de vários elementos naturais. - pg. 44 Figura 41: Tabela que relaciona alimentos e quantidade de água necessária

para produzi-los. - pg. 45 Figura 42: Intervenção em área ociosa para gerar jardim e horta comunitária com espaços de permanência em Nova York, EUA. - pg. 46 Figura 43: Comunidade local cuidando de horta comunitária. - pg. 47 Figura 44: Vista superior da Horta de Manguinhos, RJ. - pg. 48 Figura 45: Horta Urbana em Havana, Cuba. - pg. 48 Figura 46: Uso da técnica de aeroponia na Nature Urbaine em Paris, França. pg. 48 Figura 47: Projeto Nature Urbaine em Paris, França. - pg. 48 Figura 48: Projeto Nature Urbaine em Paris, França. - pg. 49 Figura 49: Ilustração de jardim medieval. - pg. 50 Figura 50: Ilustração de jardim tradicional japonês. - pg. 50 Figura 51: Projeto paisagístico que desenha a paisagem a partir da arquitetura do espaço. - pg. 51 Figura 52: Projeto paisagístico sensorial por Sainz Arquitetura. - pg. 51 Figura 53: Projeto de parque em Nova York que promove reintegração da natureza com elementos biofílicos. - pg. 52 Figura 54: Jardim com permanência e espaços de cultivo no jardim, tornando-o um jardim comestível. - pg. 52 Figura 55 e 56: Intervenção em área ociosa para gerar jardim e horta comunitária com espaços de permanência em Nova York, EUA. A iniciativa trouxe

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diversos benefícios, dentre eles os de restauração ambiental e elementos naturais. - pg. 53 Figura 57: Proposta de corredor verde para Cali na Colômbia. - pg. 53 Figura 58: Proposta de corredor verde para Cali na Colômbia. - pg. 53 Figura 59: Mecanismo de reaproveitamento de água para irrigação de jardins como uma alternativa sustentável. - pg. 54 Figura 60: Vista de um dos mirantes presentes no Parque Nacional da Floresta da Tijuca. - pg. 55

de estar urbana. - pg. 63 Figura 72: Jardins de chuva e piso permeável. - pg. 63 Figura 73: Presença da arte urbana, mobiliários e vegetação no projeto. - pg. 63 Figura 74: Projeto Value Farm - pg. 64 Figura 75: Projeto Value Farm com visitantes. - pg. 65 . Figura 76: Projeto Value Farm. Disponível com irrigação. - pg. 65 Figura 77: Vista projeto Value Farm. - pg. 65

Figura 61: Hortas comunitárias de Sete Lagoas. - pg. 56

Figura 78: Projeto Parque Comunitário Meifeng - pg. 66

Figura 62: Horta Dirceu. - pg. 56

Figura 79: Localização do projeto com entorno. - pg. 67

Figura 63 e 64: Projeto requalificação Horta Dirceu. - pg. 56 Figura 64: Horta comunitária Lomba do Pinheiro. - pg. 56 Figura 65: Encontro popular na horta Lomba do Pinheiro demonstrando o envolvimento social. - pg. 57 Figura 66: Proposta de cintura verde em segundo mandato de Pelópidas Silveira para o Grande Recife. - pg. 57

Figura 80: Vista de caminhos e jardins criados com blocos de concreto. - pg. 67 Figura 81: Fragmentos de concreto usados nas valas de retenção pluvial. - pg. 67 Figura 82: Colagem de localização da área de estudo,Recife, Casa Amarela e área de estudo(respectivamente) - pg. 69

Figura 67: Mulheres da comunidade local em Horta da Palha de Arroz. - pg. 58

Figura 83: Rua Padre Lemos, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife, no ano de 1952. - pg. 70

Figura 68: Iniciativa de horta comunitária na Linha do Tiro em Recife. - pg. 58

Figura 84: A casa amarela responsável pela identidade do bairro. - pg. 71

Figura 69: Quadro de características para estudo de casos. - pg. 61

Figura 85: Sítio da Trindade. - pg. 71

Figura 70: Projeto Rua de Todas as Cores - pg. 62 Figura 71: Projeto promovendo uma sala

Figura 86: Trecho do Canal Vasco da Gama. - pg. 72 Figura 87: Trecho da Av. Norte contida na área de estudo. - pg. 72

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Figura 88: Dados socioeconômicos do bairro de Casa Amarela. - pg. 73

Figura 104: Foto da área mostrando uso misto (habitação e comércio. - pg. 79

Figura 89: Foto da área mostrando edifício com gabarito de 7 pavimentos - pg. 73

Figura 105: Foto da área mostrando edifício que apresenta uma das maiores densidades populacionais da área e que se encontra ao lado dos lotes de intervenção. - pg. 79

Figura 90: Foto da área mostrando casa unifamiliar com menor gabarito - pg. 73 Figura 91: Foto da área mostrando casa unifamiliar com menor gabarito. - pg. 73

Figura 106: Foto da área mostrando vegetação local com vista para o Canal. pg. 79

Figura 92: Foto do lote mostrando vista da Av. Prof. José dos Anjos. - pg. 74

Figura 107: Mapa De Aspectos Naturais. - pg. 80

Figura 93: Foto do lote mostrando vista da R. Arnoldo Magalhães. - pg. 74

Figura 108: Proposta existente para área. - pg. 81

Figura 94: Foto do segundo lote mostrando vista da R. Arnoldo Magalhães. - pg. 74

Figura 109: Área de intervenção anos anteriores. - pg. 82

Figura 95: Mapa De Características Gerais Da Área - pg. 74 Figura 96: Mapa De Legislação Da Área - pg. 75 Figura 97: Diretrizes da ZDS. - pg. 76

Figura 110: Área de intervenção anos anteriores. - pg. 82 Figura 111: Área de intervenção em vista superior. - pg. 82 Figura 112: Área de intervenção anos anteriores. - pg. 83

Figura 98: Limite da área verde do IPAV 76 em 2013. - pg. 77 Figura 99: Foto da área mostrando o Educandário. - pg. 78 Figura 100: Mapa De Uso e Ocupação. 78 Figura 101: Foto da área mostrando comércio local. - pg. 79 Figura 102: Foto da área mostrando edifício de menor gabarito com uso habitacional. - pg. 79 Figura 103: Foto da área mostrando uso habitacional em residência unifamiliar. - pg. 79

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UNICAP Recife 2021


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