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2.4 Arquitetura Guarani Mbyá

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3.5 Zoneamento

3.5 Zoneamento

2.3 Arquitetura Guarani Mbyá

A arquitetura dos Mbyás é fortemente sustentável, do modo vernacular é utilizado somente materiais e recursos do próprio ambiente da construção. E por isso, lutam constantemente pela preservação do meio ambiente.

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Na Terra Indígena de Tenondé Porã além das construções tradicionais indígenas, existem também as habitações provenientes do CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo), que foram projetadas em conjunto com a população e a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), respeitando seus costumes, hábitos e usos. A construção das casas se tornou necessária devido a escassez de recursos naturais nas aldeias, impossibilitando a criação das ogas (casas em guarani) da maneira tradicional.

Fig. 15 - Moradias Indígenas CDHU. Fonte: Governo do Estado de São Paulo, 2012. Autor: Fabio Knoll, editado pela autora.

Fig. 16 - Casa de Reza em Tenondé Porã. Fonte: Tenondé Porã, 2021. Autor desconhecido, editado pela autora.

Porém, há pelo menos uma construção tradicional na aldeia, essa seria a casa de reza, utilizando dos recursos naturais e simbólicos. É importante ressaltar como a arquitetura é influenciada pela cultura e religião dos Guarani. Nos mitos, de acordo com Costa (1993, p.115) a “primeira terra” (Avy Tenondé) que era imperfeita e foi destruída por um dilúvio, era plana e suportada por dois paus ou hastes de milho. Mas uma dessas hastes foi retirada, causando um terremoto. A “segunda terra”

(Avy Apy) onde hoje vivem, imperfeita e que será destruída pelo fogo, possui fundamentos (rapyta) de pedra (itá), e por isso não será possível a destruição pelo fogo. Essa fundação é de pindó (espécie de palmeira sagrada pelos Mbyás), ela é encontrada facilmente nos locais em que vivem, e pode ser utilizada na parede, cobertura e estrutura . Segundo Costa (1993), a palavra ita em Guarani significa tanto “pedra” como também “estrutura”, logo, usando o pindó como equivalente à pedra.

Os materiais construtivos dos Mbyá são derivados da Mata Atlântica. E basicamente usam de espécies arbóreas como estrutura e vedações; espécies de taquara, capim ou folhas de palmeira como cobertura ; e o barro como revestimento lateral das paredes.

Citando as principais técnicas construtivas, o cedro ou yary em Guarani, é utilizado como pilar, tendo o tamanho necessário para a sustentação das casas, tem relação com a divindade Yvyra Nhamandú (CADOGAN, 2003), e é associada com a criação e sustentação do mundo.

A taquara-mansa ou tekua eteí em Guarani, é utilizada na forma de feixes macerados que formam uma espessa camada de cobertura , pode ser utilizada também inteiriça ou em trama como vedação na lateral das paredes, as ripas da cobertura que apoiam as telhas também são de taquara. O material tem relação com a heroína chamada Takuá Vera Chy Ete (CADOGAN, 2003).

O cipó, também chamado de yxpó pelos Guarani tem a função de estabilizar a estrutura com técnicas de encaixe e amarração, segundo

Zanin (2006, p.122) é exemplificado através da expressão Mbyá: “o cipó é nosso prego”.

O pau-a-pique consiste em madeiras roliças posicionadas lado a lado verticalmente e horizontalmente, amarradas com cipó, e criando uma trama que deve ser preenchida com terra crua.

Os pisos das casas são feitos também da terra crua, também chamada de yvy em Guarani, o uso possibilita o fogo de chão e aumenta o isolamento térmico interno.

A posição das casas em relação ao sol também está ligada diretamente às suas crenças, pois o sol (Nhamandú) é a divindade principal. E por isso, as construções são posicionadas para o oeste, pois no amanhecer recebe o olhar de Nhamandú por trás, e no final do dia o olhar diretamente pela entrada da casa. A posição estratégica faz com que as ogas possam ser protegidas da maior incidência solar e dos ventos fontes.

Fig. 17 - O percurso do sol (Nhamandú ) pelas orientações (Karaí), zênite (Jakairá ) e oeste (Tupã ). Fonte: Dissertação Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFRGS, 2007. Autora: Letícia Thurmann Prudente. Fig. 18 - Croquis esquemáticos das ogas ou oó (casa) dos Mbyá. Fonte: Dissertação Programa de PósGraduação em Engenharia Civil da UFRGS, 2007. Autora: Letícia Thurmann Prudente.

Além disso, em relação ao conforto ambiental a ventilação cruzada é possível graças a tecnologia e material da cobertura. O ar entra pela porta, é aquecido pelo calor do fogo de chão, sobe pela pressão e sai pela cobertura. Vale ressaltar como a ventilação ocorre saindo pela cobertura, mas como a água de chuva não entra nas fibras, devido a inclinação acentuada que permite o escoamento da água.

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