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2.1 A cidade e os indígenas

2. GUARANIS EM SÃO PAULO

2.1 A cidade e os indígenas

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Antes da chegada dos europeus na América Latina, os Guaranis habitavam e transitavam entre áreas que hoje conhecemos como Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina , esses povos que se dividem em etnias como Mbyá, Nhandewa e Kaiowá , viviam sem fronteiras de países ou estados, e andavam por seus territórios livremente. Além dos conflitos diretos travados entre ocidentais e indígenas por posse de terra, os habitantes sofriam também com a escravização e trabalho forçado (OTERO, 2011).

E em 1910 foi criado pelo Estado brasileiro, o Serviço de Proteção aos índios (SPI), no qual retiravam os Guaranis Mbyá de áreas com potencial econômico e os alocavam em pequenas áreas próximas aos Postos Indígenas. Os povos muitas vezes resistiam e fugiam das imposições do órgão indigenista, e retornavam as áreas antes ocupadas.

De acordo com o relato gravado para os Relatórios Circunstanciados de Identificação e Delimitação das Terras Indígenas, coordenado por Spensy Pimentel, Karai que já viveu no Paraná, no litoral paulista e atualmente reside na T.I. (Terra Indígena) do Jaraguá explica o motivo da saída do Paraná para São Paulo:

“...Naquela época, tinha aquelas coisas de trabalho forçado, trabalho escravo. Então, muitos que vinham para cá era para fugir desses trabalhos escravos que tinha naquela época. Porque, você morava ali, mas para você visitar outra aldeia tinha que pedir permissão do chefe [do Posto Indígena]. Ele, sim, faria uma autorização escrita, colocava o prazo, o tempo que você ia ficar na aldeia. Então, você falava: “vou ficar vinte dias”, e eles colocavam no papel. Aí, você levava o papel para o cacique da aldeia e avisava. Quando estava faltando mais ou menos um dia para vencer, o cacique dizia que já era hora de voltar: “está acabando seu prazo de ficar aqui”. Se caso não retornasse nesse prazo, a própria Funai mandava o pessoal ir buscar a pessoa para ela retornar. Aí, na chegada, ela tinha um castigo por não ter obedecido a ordem do chefe ali. Então, devido a isso, meus pais, quando nós viemos, viemos escondidos.” 1

Tenondé Porã, localizada na zona Sul de São Paulo, a 70 quilômetros da Praça da Sé e Próximo à Serra do Mar, surgiu de processos migratórios, principalmente do Paraguai e Argentina. De acordo com Ladeira; Azanha (1988, p.15) os Guarani Mbyá habitantes da T.I. Tenondé Porã são aqueles que “descendem daqueles grupos que não se submeteram aos encomenderos espanhóis e tampouco às missões jesuítas, refugiando-se nos montes e nas matas tropicais da região do Guairá dos Sete Povos.”

Cabe também enfatizar, a constante luta pela demarcação de terra , desde 1940 os Guaranis se tornaram alvo de posseiros e com a construção da rodovia Rio-Santos na década de 1970 a especulação imobiliária teve um aumento significativo em todo o entorno, fazendo com que os indígenas tivessem que defender suas terras. Somente com a criação do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) em 1983 , que houve elaboração de medidas para demarcação das Terras Indígenas, incluindo a Tenondé Porã. Contudo, mesmo após o reconhecimento de suas terras os povos ainda enfrentam desafios com a mancha urbana crescendo desordenadamente, e constantemente há invasão de terra por loteamentos irregulares e especulação imobiliária.

Nos dias de hoje, os Guaranis são os únicos que ainda vivem em aldeias na cidade de São Paulo, e de acordo com o Terras Indígenas no Brasil somam o total de três mil pessoas, divididos entre as principais: Tenondé Porã, Krucutu e a Tekoah Itu.

Em Parelheiros, habitam cerca de 1,2 mil Guaranis, e a aldeia é formada por oito grandes famílias, que vivem da subsistência, assistência social e trabalhos dentro da própria tekoa, ofertados pelas escolas e postos de saúde. Esses moram em casas de alvenaria construídas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo (CDHU).

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