PUCCINI
LA BOHÈME
Seja bem-vindo ao Theatro Municipal de São Paulo. Veja abaixo algumas informações para você aproveitarda melhor forma esta experiência única. Fotos e vídeos Ficamos muito contentes quando você tira uma foto no Theatro Municipal. Inclusive criamos a hashtag #eunomunicipal para que possamos identificar sua foto nas mídias sociais e compartilhar no facebook do Theatro (/ theatromunicipalsp). Entretanto, após o terceiro sinal e após os intervalos, pedimos que você desligue seu celular e tablet, pois mesmo a luminosidade da tela do aparelho tira a atenção de quem está ao seu lado. E queremos que os destaques da ópera sejam apenas os cantores no palco. Fotos com fins comerciais precisam de autorização prévia. Conversas Por mais baixo que se fale, ou sussurre, as conversas e comentários atrapalham muito os outros espectadores. Espere o intervalo para compartilhar suas opiniões. Cadeiras Nossas belas e centenárias cadeiras passam regularmente por manutenção, mas se alguma delas ranger com você, tenha paciência com ela e procure fazer o mínimo de barulho, pois apesar de terem presenciado um século de óperas elas não chegam a ser afinadas. Aplausos Se você gostou muito da interpretação de uma ária, sinta-se à vontade para aplaudir, mas na ópera não há a necessidade dos aplausos a cada trecho cantado ou tocado. Aos finais dos atos e da ópera você pode se manifestar à vontade. Alimentos Não é permitida a entrada com comidas e bebidas no interior da sala de apresentações. Pedimos especial atenção aos papéis de bala, que podem fazer um barulho e tanto. Tanto no térreo quanto no segundo andar há cafés, que ficam abertos antes do início da ópera e nos intervalos. Crianças Indicamos a idade de 10 anos para que as crianças comecem a frequentar as óperas, mas pedimos especial atenção dos pais e responsáveis, pois além da duração, as óperas abordam diferentes temas, alguns dois quais podem não ser apropriados às crianças menores.
bem-vindo à ópera
la bohème ópera em quatro atos música de giacomo puccini libreto de luigi illica e giuseppe giacosa
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execução
realização
histórico de apresentações 05
elenco e datas de apresentação 06
sinopse 08
um conto de natal irineu franco perpetuo 12
“sofro, logo existo”: a ópera chega aos miseráveis luiz felipe pondé 20
giacomo puccini 26
gravações de referência 30
libreto 33
biografias dos artistas 116
fichas técnicas 142
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Foto da montagem de La Bohème, de 2013, do Theatro Municipal de São Paulo
estreia mundial Teatro Regio de Turim, 1° de fevereiro de 1896 Arturo Toscanini regente Cesira Ferrani (Mimì), Camilla Pasini (Musetta), Evan Gorga (Rodolfo), Tieste Wilmant (Marcello), Antonio Pini-Corsi (Schaunard), Michele Mazzara (Colline), Alessandro Polonini (Benoît / Alcindoro), Dante Succhi (Parpignol) primeira apresentação em são paulo Teatro São José, 13 de agosto de 1897 Giorgio Polacco regente Annunziata Stinco-Palermini (Mimì), Cleonice Campagnoli (Musetta), Giorgio Quiroli (Rodolfo), Alessandro Arcangeli (Marcello), Luigi Baldassari (Schaunard), Donato Rotoli (Colline), Scipio Pecci (Benoît / Alcindoro) Primeira apresentação no Theatro Municipal de São Paulo Edoardo Vitale regente 1911 – Ano da inauguração do Theatro Titta Ruffo (Marcello), Adelina Agostinelli (Mimì), Rosa Garavaglia (Musetta), Alessandro Bonci (Rodolfo), Vincenzo Bettoni (Schaunard), Paolo Ludikar (Colline), Concetto Paterna (Benoît) Mais recente apresentação no Theatro Municipal de São Paulo 10, 12, 14, 15, 17, 19, 21, 22, 26, 28 e 29 de dezembro de 2013 Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, Coro Lírico, Coral da Gente John Neschling / Jader Bignamini regentes Arnaud Bernard direção cênica, cenografia e desenho de luz Alexia Voulgaridou / Susanne Braunsteffer (Mimì), Atalla Ayan / Fernando Portari / Jean-François Borras (Rodolfo), Simone Piazzola / Leonardo Neiva (Marcello), Mattia Olivieri / Guilherme Rosa (Schaunard), Felipe Bou / Giovan Battista Parodi (Colline), Mihaela Marcu / Cláudia Azevedo (Musetta), Saulo Javan (Benoît), Carlos Eduardo Marcos (Alcindoro), Jean Nardoto (Parpignol).
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histórico de apresentações
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo Coro Lírico Municipal de São Paulo Coro Infantojuvenil da Escola Municipal de Música de São Paulo Eduardo Strausser direção musical e regência Gianluca Martinenghi (1, 4 e 7/05) regência Arnaud Bernard direção cênica, cenografia, desenho de luz Carla Ricotti figurinos Julianna Santos remontagem de direção cênica Valéria Lovato remontagem de iluminação Bruno Greco Facio regente do coro lírico Regina Kinjo regente do coro infantojuvenil
la bohème giacomo puccini abril 30 sáb às 20h maio 1° dom às 17h 03 ter às 20h 04 qua às 20h 06 sex às 20h 07 sáb às 20h 08 dom às 17h
Mimì Cristina Pasaroiu (30/04, 3, 6 e 8/05) Maija Kovalevska (1, 4 e 7/05) Rodolfo Ivan Magri (30/04, 3, 6 e 8/05) Riccardo Gatto (1, 4 e 7/05) Marcello Mattia Olivieri (30/04, 3, 6 e 8/05) ZhengZhong Zhou (1, 4 e 7/05) Musetta Mihaela Marcu (30/04, 3, 6 e 8/05) Anna Maria Sarra (1, 4 e 7/05) Schaunard ZhengZhong Zhou (30/04, 3, 6 e 8/05) Patricio Sabaté (1, 4 e 7/05) Colline Mattia Denti (30/04, 3, 6 e 8/05) Murilo Neves (1, 4 e 7/05) Benoît e Alcindoro Inácio De Nonno (30/04, 3, 6 e 8/05) Leonardo Pace (1, 4 e 7/05) Parpignol Renato Tenreiro Sargento Alessandro Gismano Guarda Rodrigo Nunes 6
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Foto da montagem de La Bohème, de 2013, do Theatro Municipal de São Paulo
sinopse ato I Em uma mansarda, na véspera de Natal, o poeta Rodolfo, o pintor Marcello e o filósofo Colline buscam maneiras de enfrentar o frio parisiense. A penúria é tanta que não há recursos sequer para comprar lenha para a lareira. A situação é salva por Schaunard, o músico, que divide o teto com os outros três amigos, e traz o dinheiro que obteve com um excêntrico nobre inglês. Batem à porta: é Benoît, o proprietário, cobrando o aluguel. Os amigos dão de beber ao velho que, embora casado, acaba por se vangloriar de suas conquistas femininas. Fingindo indignação, os jovens aproveitam a oportunidade para expulsá-lo de casa, julgando assim paga a dívida. Eles decidem celebrar a ocasião no Café Momus, no Quartier Latin. Rodolfo fica para trás, para terminar um artigo de jornal. Nesse instante, bate à sua porta uma vizinha, de saúde frágil, em busca de fogo. Atrapalhada, ela acaba perdendo a chave no apartamento do poeta. Rodolfo aproveita o escuro para pegar a mão da moça, que revela ser a florista Mimì. Impacientes, do lado de fora, Marcello, Colline e Schaunard chamam Rodolfo que, tendo trocado votos de amor com Mimì, resolve com esta se juntar a eles. ato II Em um Quartier Latin tomado pela multidão, Rodolfo apresenta Mimì aos amigos. Eles ocupam uma mesa no Café Momus, onde Marcello se abala com a chegada de Musetta, sua ex-namorada, acompanhada pelo velho Alcindoro. A moça faz todo tipo de escândalo para chamar a atenção do pintor, até que, queixando-se de seu calçado estar apertado, manda Alcindoro se dirigir a um sapateiro para comprar outro. Marcello não resiste ao flerte e se joga nos braços de Mimì, quando a
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multidão, eufórica, se reúne para saudar uma parada militar. Nesse instante, a conta do jantar no café é apresentada. Os jovens estão sem dinheiro, e Musetta surge com a solução: deixar a despesa para Alcindoro. Os amigos se retiram junto com o desfile militar, enquanto Alcindoro, de volta ao Momus, encontra apenas as contas a esperá-lo. Intervalo 25’ ato III Mimì chega a um posto alfandegário, junto ao qual há um cabaré, no qual Marcello trabalha como pintor. Tossindo, ela se queixa ao amigo dos ciúmes de Rodolfo. Sabendo da presença do poeta, Mimì resolve se esconder. Rodolfo discute sua situação com Marcello; inicialmente, faz acusações a Mimì, para, por fim, dizer a verdade. A saúde da namorada é frágil demais, e ele não dispõe de recursos para ajudá-la. Comovida pelo que ouve, Mimì se revela, e o casal opta pela separação – não durante o inverno, mas quando chegar a primavera, época em que a solidão é mais suportável. Enquanto isso, Marcello ouve a voz de Musetta, a rir dentro do cabaré. Tem um ataque de ciúmes e, entre insultos e acusações, também este casal se separa. Intervalo 15’ ato IV Na mesma mansarda do primeiro ato, Rodolfo e Marcello fingem trabalhar mas, na verdade, consomem-se de saudades de suas amadas. Colline e Schaunard chegam; os quatro tentam driblar a pobreza com piadas e brincadeiras. A agitação está no auge quando é interrompida por Musetta, anunciando que Mimì está mal e vem atrás dela. Todos se apressam para acomodar a doente na cama e saem, para empenhar seus poucos bens em busca de remédios e um médico. Rodolfo fica a sós com a amada, e o casal relembra seu amor. Os jovens regressam com medicamentos e dinheiro, mas não há esperança. Absorto em seus pensamentos, Rodolfo só percebe o que aconteceu com Mimì pelos olhares e atitudes dos amigos e, soluçando, atira-se sobre o corpo sem vida da florista.
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Foto da montagem de La Bohème, de 2013, do Theatro Municipal de São Paulo
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O toscano Giacomo Puccini (1858-1924) pode ser considerado não apenas o maior compositor italiano de ópera depois de Verdi, mas o zênite da grande tradição lírica de seu país, inaugurada por volta de 1600. Para Mosco Carner, o autor de La Bohème “não nos lança em muitos planos diferentes, como fazem Mozart, Wagner, Verdi e Strauss, mas em seu próprio plano, o mais característico deles, em que a paixão erótica, a sensualidade, a ternura, o patético e o desespero se encontram e se fundem. Ele foi um mestre sem rivais”. Puccini representa, para a ópera italiana, o que Mahler significa para o sinfonismo austrogermânico, ou Richard Strauss para o drama musical alemão: o ápice e o final de uma gloriosa linha evolutiva. Continuaram, evidentemente, a existir compositores italianos de ópera depois do autor de Tosca, mas a própria função social desta forma de arte mudou. O curto lapso de tempo existente entre a última ópera de Puccini, Turandot (estreada postumamente, em 1926), e a estreia do primeiro filme sonoro, O Cantor de Jazz (1927), parece sugerir uma passagem de bastão — como grande entretenimento urbano, o cinema estava fadado a ser a ópera do século XX.
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Por sinal, para alguns comentadores, em La Bohème, Puccini parece já prefigurar o tipo de tempo dramático que seria ideal na arte cinematográfica. Nesta ópera, como assinala Conrad Wilson em seu livro sobre o compositor, “a música é a ação, e a ação a música, de um jeito novo na ópera. Isso é o que faz a descrição musical, vividamente exata, de cada incidente do segundo ato, única na história da ópera. Temos música que não está congelada no tempo, do jeito que
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normalmente tem que ser na ópera. Mesmo a parte orquestral, assim como o canto, soa coloquial, com frescor, sem sacrificar a beleza nem da sonoridade instrumental, nem da vocal. Ninguém – à exceção do próprio Puccini, em um momento do terceiro ato de Manon Lescaut – jamais tinha feito nada assim antes na ópera italiana, e ninguém voltaria a fazê-lo com sucesso”. Wilson menciona Manon Lescaut, terceira ópera de Puccini e sua primeira partitura a realmente consolidá-lo como compositor de sucesso. Pouco antes da estreia, em fevereiro de 1893, no Teatro Regio de Turim, o autor encontrou em um café, em Milão, o napolitano Ruggero Leoncavallo (18571919), ao qual disse que sua próxima ópera seria baseada no romance Scènes de la vie de Bohème, do francês Henry Murger (1822-1861). Leoncavallo – que acabara de fazer sucesso com I Pagliacci – ficou indignado. Afinal, ele não apenas vinha trabalhando no tema desde o inverno anterior, como ainda chegara a oferecer o libreto a Puccini. E denunciou o até então amigo em um artigo no jornal Il Secolo, de propriedade de seu editor, Sonzogno. A resposta do compositor, no jornal Il Corriere della Sera, não se fez esperar. Em carta esboçada por Luigi Illica, porém assinada por Puccini, o tom é de desafio: “ele vai compor, eu vou compor, e o público julgará”. Como sintetiza o Dicionário Grove: “Leoncavallo provavelmente tinha razão, mas isso teve pouca consequência, pois sua versão, terminada após considerável atraso, praticamente um ano depois da de seu competidor, é hoje mero exemplo do gosto da época”. A Bohème de Puccini subiu ao palco pela primeira vez em 1º de fevereiro de 1896, no Teatro Regio de Turim, regida por Arturo Toscanini. A de Leoncavallo estreou em 6 de maio de 1897, no Teatro La Fenice, em Veneza. Embora, no início, a recepção crítica da criação do autor de I Pagliacci (entre outros motivos, devido a sua maior fidelidade ao texto original de Murger) tenha sido até mais favorável que a de seu concorrente, a posteridade seria
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implacável, reservando espaço para apenas uma Bohème – a de Puccini. Não é impossível que um compositor altamente competitivo – que tivera a coragem de compor Manon Lescaut a partir do mesmo livro que rendera, poucos anos antes, a ópera de maior sucesso do francês Jules Massenet (1842-1912) – tenha na verdade se sentido estimulado ao ver que um colega escolhera, para uma ópera, se basear em um livro igual. O irônico é que, naquela época, La Bohème estava longe de ser a única opção de Puccini. Enquanto ainda estava compondo Manon Lescaut, ele disse ao irmão Michele, radicado na Argentina, que sua próxima criação teria Buda como protagonista. Outra ideia, perseguida com maior afinco, era adaptar La Lupa (A Loba), do siciliano Giovanni Verga (1840-1922) – cuja Cavalleria Rusticana fora transformada em ópera por Pietro Mascagni (18631945) com clamoroso sucesso, em 1890. Puccini chegou a ir a Catania (cidade natal de Bellini, o autor de Norma), para discutir o assunto com Verga. Na viagem, fez uma parada em Malta, onde, ao tirar fotos da frota britânica, foi preso pelas autoridades locais, acusado de espionagem. De regresso da Sicília, encontrou, no bar do navio, a Condessa Gravina, filha do primeiro casamento de Cosima Wagner (viúva do autor de Tristão e Isolda) com o pianista e regente Hans von Bülow. Conversa vai, conversa vem, Puccini narrou à aristocrata a trama de sua próxima criação, que envolvia uma mulher siciliana passional assassinada durante uma procissão de Sexta-Feira Santa. Embora o tema tivesse tudo a ver com o verismo que Cavalleria Rusticana tornara hegemônico na ópera italiana daquela época, a condessa ficou chocada com a crueza da narrativa. Puccini, que já tinha dúvidas a respeito do tema, resolveu naquele instante abandonar o projeto La Lupa. O libreto de La Bohème foi iniciado quando o compositor ainda estava indeciso entre este tema e a obra de Verga. Seus autores já haviam
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participado da criação de Manon Lescaut, e estariam envolvidos ainda nas partituras mais populares de Puccini: Tosca e Madama Butterfly. Eles eram os literatos Luigi Illica (1857–1919) e Giuseppe Giacosa (1847–1906). As tarefas estavam, aparentemente, muito bem definidas. A partir da ópera de Murger, Illica montaria um roteiro geral, que deveria ser colocado em versos por Giacosa. Só que, a exemplo de Verdi, Puccini era perfeccionista e centralizador, interferindo bastante no trabalho dos libretistas e, consequentemente, gerando grande tensão e insatisfação. O primeiro a pedir para sair foi Giacosa, no outono de 1893. Em carta a Giulio Ricordi, editor de Puccini, lamentava-se por não estar fazendo trabalho artístico e sim um “pedantismo minucioso e cansativo”. Preso na cena entre Musetta e Marcello no terceiro ato, queixava-se do prazo apertado: “se Puccini não estivesse com tanta pressa… Talvez eu conseguisse achar forças de novo”. Mal conseguiu apagar esse incêndio, Ricordi viu-se obrigado a tranquilizar o outro libretista, que também pediu demissão, alegando que estava sendo “usado, jogado fora, pego de novo, e enxotado como um cachorro”. A situação se acalmou, apesar das palavras duras de Puccini a seu editor: “tudo o que eu quero é que a obra seja como tem que ser: lógica, concisa e equilibrada. No momento, ela não é nada disso. […] Illica tem mais é que se acalmar e voltar ao trabalho”. Trabalho esse que, por seu turno, Puccini desenvolveu essencialmente em Torre del Lago, onde o compositor escreveu a maioria de suas óperas. Perto de sua Lucca natal, Torre del Lago abriga, desde 1930, um festival exclusivamente dedicado ao compositor. Enquanto escrevia a partitura, Puccini criou um Clube Bohème, com amigos que se encontravam em uma velha cabana para comer, beber e jogar cartas. O estatuto da entidade, da qual Puccini era o presidente de honra, tinha artigos que proibiam
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silêncio e honestidade no carteado; a sabedoria só era permitida “em casos especiais”. Não é impossível que algo do clima fanfarrão e lúdico do Clube tenha transbordado para as páginas da ópera. Como também é legítimo ver, em La Bohème, nostalgia do compositor com relação à sua própria mocidade. Talvez não seja descabido entender como um tributo pessoal de Puccini a esses tempos o tema que ouvimos logo no começo da ópera (e que funciona como uma espécie de leitmotiv dos quatro amigos): ele é derivado de uma partitura orquestral do compositor, o Capriccio Sinfonico, de 1883 – época em que, como estudante do Conservatório de Milão, ele dividia alojamento com Mascagni. Debussy, que não era exatamente um fã dos compositores italianos de ópera daquela época, chegou a afirmar ao espanhol Manuel de Falla que “ninguém descreveu melhor a Paris daquela época do que Puccini em La Bohème”. O período a que Debussy se referia é o reinado de Luís Felipe (monarca citado nominalmente na ópera), entre 1830 e 1848, durante o qual se passou a juventude de Murger que, com fortes elementos autobiográficos, publicou suas Scènes de la Vie de Bohème (Cenas da Vida Boêmia) inicialmente como folhetim, entre 1845 e 1849. O êxito levou a uma adaptação teatral, em parceria com Louis Thèodore Barriére, em 1849, e à aparição da obra em livro, em 1851. Além de colocar a si mesmo como o poeta Rodolfo, Murger compôs seus personagens a partir de algumas figuras reais, como o pintor e compositor Alexandre Schanne (protótipo de Schaunard), o teólogo Jean Wallon (molde de Colline) e o pintor François Germain Léopold Tabar (modelo de Marcello). Isso para não falar no Café Momus que, até seu fechamento, em 1850, ficava no número 17 da rue des Prêtres-Saint-Germain-l’Auxerrois, entre o Louvre e a Pont Neuf. O desafio dos libretistas foi transformar os episódios soltos da obra de Murger em uma
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Foto da montagem de La Bohème, de 2013, do Theatro Municipal de São Paulo
totalidade coerente e concisa. O plano original de Illica incluía cinco cenas: a terceira, que descrevia uma festa na casa de Musetta, enquanto sua mobília era removida devido ao não pagamento do aluguel, acabou sendo excluída. Além disso, embora a obra de Murger tenha uma Mimì, a protagonista de La Bohème aglutina também traços de uma personagem secundária do livro: Francine, que morre de tuberculose depois de viver alguns meses com um escultor chamado Jacques. No dicionário operístico que tem seu nome, Gustave Kobbé enfatiza a eficiência de Puccini na mescla dos registros cômico e dramático: “Ambientada no Quartier Latin parisiense, onde é proverbial a convivência do drama com a alegria, ela evolui numa mistura de risos e lágrimas que nos chama a atenção para o fato de que os autores e compositores capazes de esmiuçar os arrebatamentos da paixão são legião, mas poucos são os que têm o dom sutil da comédia. É esse toque de comédia que distingue muitas das passagens da partitura de Bohème, alternadamente esfuziante, apaixonada e eloquente nos momentos de desespero”. O Dicionário Grove afirma que, em La Bohème, Puccini “colocou em música ação em que cada gesto reflete a vida cotidiana; ao mesmo tempo, criou um nível mais elevado de narrativa, transmitindo metaforicamente um mundo em que o tempo é fugaz, em que os jovens são os personagens principais. Um desencanto irônico é evidente mesmo nos momentos de maior intensidade poética, e o amor se eleva de uma situação necessariamente mundana, para regressar a ela”. O Grove descreve: “para estabelecer o quadro individual ou coletivo de um grupo de artistas sem dinheiro, Puccini combinou, de forma frouxa, diferentes tipos de som: grandes melodias líricas, células motívicas flexíveis, a tonalidade como ferramenta semântica, colorido orquestral brilhante e variado”.
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Escapando da estrutura fixa da “ópera de números” que dominou o século XIX italiano, Puccini também demonstrou uma utilização muito pessoal daquilo que os wagnerianos chamariam de leitmotiv, ou “motivo condutor”, aqui empregado como poderosa ferramenta sugestiva, e de manejo do tempo psicológico e dramático. “Conforme a ópera avança, a música, recapitulando o que já passou, move-se na direção do tempo absoluto, coletando cada matiz de significado do texto e reconstruindo-a como algo novo, uma memória coletiva fundada na ordem em que os temas são introduzidos”, diz o artigo do Grove, ao descrever como, no quarto ato, Puccini reutiliza os temas que aparecem no primeiro. O dicionário conclui: “liberada das restrições da narrativa convencional, a ópera revela o peso simbólico de um evento trágico, que interrompe bruscamente a passagem do tempo. Rodolfo, e todos aqueles que compartilham seus sentimentos, não têm tempo para refletir: a tragédia pára a ação, e fixa a dor na eternidade da arte”.
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La Bohème, de Giacomo Puccini, estreou em Turim em 1896. A fortuna crítica a considera a primeira “ópera proletária”. Até então, os personagens e enredos viviam em mundos aristocráticos ou divinos. Com La Bohème, pobres e miseráveis ganham estatuto de homens e mulheres que representam, também eles, as grandes angústias humanas. Sendo a ópera sempre vista como a forma dramática por excelência, do humano no limite de suas emoções e decisões morais, nunca foi comum pensar “na gente pequena” como representantes de tais situações arquetípicas. Se a forma operística é a narrativa da descida aos infernos, com La Bohème é chegada a hora dos desfavorecidos provarem sua capacidade de viver grandes sofrimentos. Já no terreno dos mortosvivos, outra região que era privilégio da aristocracia, fosse ela de terra (barões, condes, duques) ou espiritual (como santos e santas), o século XIX já começara a ouvir narrativas de manifestações de “mortos-vivos da gente pequena” caminhando fora de seus túmulos. O próprio espiritismo kardecista, como é conhecido no Brasil, é prova da “democratização” do mundo espiritual, pois qualquer família pode ter seu fantasma particular.
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Vale lembrar, por exemplo, que nos textos medievais sobre o drama do amor romântico (termo posterior, mas que aqui cabe para entendermos de que tipo de amor falamos), os autores sempre pensavam que pessoas comuns (plebeus) não eram capazes de viver tais dramas terríveis porque suas almas e vidas eram soterradas em necessidades muito elementares, que os aproximava da existência animal, e sendo o amor romântico medieval sempre proibido pelas virtudes (quase sempre se dava numa situação de adultério), só nobres eram capazes deste conflito entre desejo e obrigações
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morais. Com La Bohème, os artistas miseráveis e suas amantes empobrecidas na Paris do século XIX entram para o panteão de um dos arquétipos do sofrimento humano mais dramático: o do amor impossível por causa da morte de um dos amantes, no caso de La Bohème, a florista Mimì (Lúcia). Ascender ao sofrimento moral e amoroso intenso também é signo de se tornar plenamente humano. “Sofro, logo existo”, poderíamos dizer, seguindo filósofos trágicos como o alemão Arthur Schopenhauer (século XIX) e o espanhol Miguel de Unamuno (século XX). Uma “ópera proletária” indica, portanto, uma mudança na sensibilidade europeia, que passa a “olhar pra baixo” e ver que ali também há vida inteligente e sensível. Claro, se estamos falando de miseráveis que passam fome e moram mal, nem por isso se trata de pessoas com pouco valor estético e intelectual, pelo menos no que tange aos quatro jovens colegas que dividem o pequeno apartamento onde se passam o primeiro e quarto atos do libreto. A própria ideia de boemia parisiense da época pressupõe pobreza material, mas riqueza espiritual. A boemia parisiense é uma filosofia de vida que recusa a responsabilidade do dinheiro. Rodolfo, um poeta, Marcello, um pintor, Colline, um filósofo e Schaunard, um músico, formam o quarteto de amigos fiéis na dedicação à arte e à filosofia. Vivem pelo espírito e não pela matéria. Boemia não é apenas ficar bêbado de noite, é ficar bêbado de noite e viver entre mulheres “de vida fácil”, porque assim pede a filosofia da vida verdadeira, aquela que não está à venda para o mundo burguês, mas que sofre os efeitos de sua insensibilidade ao espírito não materialista. Alcindoro, velho rico, que é apaixonado por Musetta, a mulher fatal, não passa de um pobre coitado (nossos heróis boêmios deixam a conta pra ele no segundo ato), portanto, um burguês que demanda piedade mais do que desprezo, porque mesmo com todo o dinheiro do mundo, não consegue fazer Musetta amá-lo mais do que a Marcello, um pintor pobre. E mais: Alcindoro é um joguete na mão de Musetta, portanto, seu dinheiro
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Foto da montagem de La Bohème, de 2013, do Theatro Municipal de São Paulo
nada vale no mundo do desejo. Benoît, outro representante da “classe de posses”, é na verdade um arruinado que exerce mal sua função de “explorador” como dono do apartamento miserável dos heróis boêmios: esquece-se de cobrar as dívidas do aluguel em troca de fazer parte da confraria dos seus devedores, mas que se mostram afetivos com ele. É justamente nesse mundo que nascerão os grandes movimentos sociais e estéticos que varrerão o mundo ocidental a partir do século XIX. A burguesia, com sua dupla face, de revolucionária, contra a aristocracia, e de conservadora, contra o socialismo, terá no ideal da arte pela arte uma de suas imagens positivas mais cultivadas: aquela da criação artística e intelectual na sua pureza como reduto contra a fúria do dinheiro. Apenas quando descobrimos que tudo está à venda - e só descobrimos isso com o advento do mundo burguês -, começamos a nos perguntar a sério sobre os limites do dinheiro. Viver como se ele não contasse é uma forma de apontar seus limites sobre o espírito. A alegria da boemia é a prova de que mesmo a fome e o frio (nossos quatro heróis abrem o libreto passando fome e frio) não são suficientes para destruir espíritos livres. Eis o sonho das vanguardas estéticas embaladas pela revolução romântica que começara já em meados do século XVIII em solo alemão. A burguesia já nasceu infeliz por conta da vergonha que sente por seu amor ao dinheiro. A aristocracia “era”, a burguesia nunca ascendeu a esta condição porque depende do que “tem”, e, portanto, nunca “é”. Este vazio lhe acompanha a todos os lugares caros e chiques que frequenta, traindo a condição eterna de nova rica. O talento artístico ou intelectual é da ordem do “ser”, assim como o sangue nobre: ou se é artista e intelectual brilhante ou não. Esta é uma das raízes da reverência ao talento artístico e intelectual pensado pelo mundo burguês como “inato” e não adquirido. Mas, se o mundo estava mudando, com a arte romântica e de vanguarda revelando talentos
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mesmo nas classes sociais pobres, todos os seres humanos continuam iguais de alguma forma. Artista, filósofo, rico, pobre, ignorante, todos os homens e mulheres amam e desejam e sofrem por isso, e morrem sem piedade. Em La Bohème, pela presença feminina o eterno se repete, mesmo no mundo em transformação. A mulher, para o homem que a deseja, sempre representa a forma de realidade mais concreta, aquela que domina tanto o corpo quanto o espírito. As duas personagens femininas, Mimì e Musetta, dominam o drama, cada uma representando um arquétipo feminino que povoa o imaginário masculino: a primeira, a da frágil amada tuberculosa, vítima de uma vida sempre injusta, revelando nossa incapacidade de protegê-la; a segunda, a irresistível e indomável, que tem prazer em nos torturar, mostrando que não somos seu dono. O conflito entre o par romântico principal, Rodolfo e Mimì, se revela no terceiro ato quando ela, arfante, busca Marcello no cabaré onde ele trabalha para contar que Rodolfo rompera com ela. A causa, aparentemente invisível, parece ser a culpa que ele sente por ser incapaz de impedir a morte de sua amada tuberculosa. A arte livre pode tudo, menos vencer a morte. Pelas mãos da tuberculosa, Rodolfo conhece a verdadeira “arte do espírito”: saber-se limitado à condição que a matéria em si (o corpo e não o dinheiro) impõe. Claro, fosse ele rico, poderia aliviar o sofrimento de sua amada Mimì, mas sendo ele um miserável, ela sofrerá ainda mais e morrerá mais cedo. Se o amor ao dinheiro não o tinha vencido, a mulher amada vítima (também) de sua pobreza o desespera. A morte de Mimì derrota a boemia. No quarto ato, com a ajuda dos amigos e Musetta, o par romântico se reencontra, e Mimì morre em paz. Ao final, todos velam a bela morta, vítima da maior injustiça de todas: a morte, esta guerreira sem pressa e sem vaidade, como dizia o escritor polonês/inglês Joseph Conrad. Já o drama entre Marcello e Musetta percorre um outro roteiro da relação entre o homem e o eterno
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feminino. Musetta usa o milionário Alcindoro pra brincar com os sentimentos de Marcello. Mas se aqui o dinheiro parece vencer o artista, a verdade é que isso não acontece. Musetta ama Marcello, mesmo que o torture de ciúmes. A necessidade de causar ciúmes no amado é uma das formas mais conhecidas que as mulheres têm de mostrar quem domina quem. Eis um tema atávico, pouco afeito às modas da “crítica ideológica ao machismo”. Todo homem que realmente ama uma mulher sabe o poder que ela tem sobre ele. Só quem nunca amou de verdade desconhece este fato, antigo como as estrelas. De certa forma, a frágil “vence” a sedutora no poder sobre o homem. Rodolfo é derrotado pela doença de Mimì assim como pela sua (dele, Rodolfo) miséria material que o torna incapaz de salvá-la. Marcello vence, de certa forma, o “adversário” Alcindoro, o milionário coitado, conquistando a sedutora Musetta. No quarto ato, Musetta e os três amigos voltam com uma manta recém-comprada para aquecer a pobre Mimì. Ela, feliz na sua humildade diante da infelicidade e da morte, agradece poder estar ali, com seu amor Rodolfo, aquecida numa noite gelada. Musetta cuida da única vela que ilumina a mansarda dos quatro heróis boêmios, pequena fonte de luz e calor para aqueles que representam a todos os miseráveis do mundo. Mimì morre. A intensidade máxima do afeto, marca do drama operístico, é um traço essencial do humano heróico. O mundo moderno ia então se aprofundando ao longo do século XIX, e assim como a república e a democracia nasciam pouco a pouco, os miseráveis também começavam a ganhar nomes próprios nesta vida, que muitas vezes parece “um ator correndo de um lado pro outro do palco, um conto narrado por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada”, como dizia o aristocrata desgraçado Macbeth, na tragédia que carrega seu nome, escrita pelo imortal Shakespeare, um homem comum.
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giacomo puccini 1851 Publicação do romance Scènes de la Vie de Bohème, de Henri Murger (1822-1861), no qual a ópera foi baseada. 1858 Nasce Giacomo Puccini, em Lucca, na Toscana, o sétimo filho de uma família de músicos. Os homens da família ocuparam o cargo de maestro di cappella da catedral de São Martino por 124 anos. 1876 Aos 12 anos, caminha 30 km com o irmão até Pisa para assistir a uma ópera pela primeira vez: Aida, de Giuseppe Verdi. 1880 Entra para o Conservatório Musical de Milão. Divide o quarto com o jovem Pietro Mascagni (1863-1945). 1884 Estreia, em Milão, da primeira ópera de Puccini, Le Villi, composta para o concurso Sonzogno (o mesmo que, cinco anos depois, daria o prêmio principal para Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni). Embora não tenha vencido, a ópera de Puccini chamou a atenção de Giulio Ricordi (1840-1912), dono da editora G. Ricordi & Co. 1889 Sua segunda ópera, Edgar, foi um fracasso. Giulio Ricordi, em defesa do compositor, culpou o libretista Ferdinando Fontana pelo texto ruim. 1891 Puccini se muda para Torre del Lago, pacata comunidade próxima a Lucca. Além de se dedicar à caça, é em Torre del Lago que ele escreve suas óperas mais famosas. 1893 O sucesso chega para Puccini, com a estreia de Manon Lescaut, tão bem recebida que Puccini foi considerado o sucessor de Giuseppe
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Verdi (que uma semana depois estreava sua última ópera, Falstaff). Trabalhando sobre o mesmo texto que Jules Massenet (1842-1912) utilizara para escrever sua ópera Manon, Giacomo Puccini tinha total confiança de que sua obra faria sucesso. Inicialmente, Puccini quis escrever o texto sozinho, para que nenhum “libretista tolo” o atrapalhasse. Por insistência de Ricordi, cinco libretistas trabalham na ópera, incluindo Ruggero Leoncavallo (1857-1919), compositor de I Pagliacci, e a dupla Luigi Illica e Giuseppe Giacosa, que se tornam os principais colaboradores de Puccini. 1896 Estreia de La Bohème em Turim, com regência de Arturo Toscanini, amigo próximo do compositor, e libreto de Illica e Giaccosa. 1900 Estreia Tosca, outra ópera de Puccini que atravessaria o tempo sobre os palcos de todo o mundo. 1903 Puccini oficializa sua união com Elvira Gemignani, com quem tinha um caso desde 1884. Até então, Elvira era casada com Narciso Gemignani, um sedutor inveterado. Quando Narciso morre, vítima de um marido ciumento, Elvira se vê livre para casar com Puccini e registrar o filho dos dois, Antonio. Neste mesmo ano, Puccini sofre um grave acidente automobilístico quando ia de Lucca a Torre del Lago. Tem a perna prensada pelo veículo e é salvo por um médico que testemunhara o acidente. Durante a recuperação, começa a trabalhar em Madama Butterfly. 1909 Elvira, enciumada, acusa Puccini de ter um caso com a criada Doria Manfredi. Envergonhada, a criada comete suicídio, e a autópsia revela que ela ainda era virgem. Mesmo inocentado das acusações, Puccini não se livra da culpa que o abate. Documentos revelados recentemente mostram que Puccini tivera um caso com a prima de Doria, Giulia Manfredi. 1910 Compõe La Fanciulla del West, ópera sobre a corrida pelo ouro na Califórnia, com estreia no Metropolitan Opera de Nova York.
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1919 Puccini compõe o Inno a Roma (Hino a Roma), marcha apropriada pelo partido fascista italiano para as cerimônias públicas. 1924 Fumante inveterado, Giacomo Puccini morre em Bruxelas, vítima de um câncer na garganta, deixando Turandot inacabada. Embora Franco Alfano tenha terminado a ópera, na récita de estreia o regente Arturo Toscanini interrompeu a apresentação no momento em que o compositor parara, declarando: “aqui a ópera terminou, porque neste momento o maestro morreu”.
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Foto da montagem de La Bohème, de 2013, do Theatro Municipal de São Paulo
gravações de referência CD Herbert von Karajan regente Filarmônica de Berlim / Coro da Deutsche Oper Mirella Freni (Mimì), Luciano Pavarotti (Rodolfo), Nicolai Ghiaurov (Colline), Elizabeth Harwood (Musetta), Rolando Panerai (Marcello), Gianni Maffeo (Schaunard) DECCA
CD Sir Thomas Beecham regente Coro e Orquestra RCA Victor Jussi Björling, Victoria de los Angeles, Robert Merrill, Lucine Amara & Giorgio Tozzi EMI
CD Giuseppe Antonicelli regente Coro e Orquestra do Metropolitan de Nova York Richard Tucker, Bidu Sayão, Francesco Valentino, Mimi Benzell, Nicola Moscona Sony Music
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DVD Jesús López Cobos regente Giancarlo del Monaco diretor cênico Coro e Orquestra do Teatro Real de Madri Inva Mula (Mimì), Aquiles Machado (Rodolfo), Laura Giordano (Musetta), Fabio Maria Capitanucci (Marcello), David Menéndez (Schaunard), Felipe Bou (Colline) Opus Arte
BLU RAY Daniele Gatti regente Damiano Michieletto diretor cênico Filarmônica de Viena Anna Netrebko (Mimì), Piotr Beczala (Rodolfo), Massimo Cavalletti (Marcello) & Nino Machaidze (Musetta), Alessio Arduini (Schaunard), Carlo Colombara (Colline) Deutsche Grammophon
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Foto da montagem de La Bohème, de 2013, do Theatro Municipal de São Paulo
libreto PRIMEIRO ATO
QUADRO PRIMO
Um sótão [...Mimì era uma moça graciosa, que devia corresponder e combinar particularmente com os ideais plásticos e poéticos de Rodolfo. 22 anos: pequena, delicada... Seu vulto parecia o esboço de uma figura aristocrática: seus traços eram de uma elegância admirável... O sangue da juventude corria quente e vivaz em suas veias, colorindo de tintas vermelhas sua pele transparente, com o candor aveludado da camélia... Essa beleza adoentada seduziu Rodolfo... Porém, o que o deixou mais loucamente enamorado da senhorita Mimì, foram suas mãozinhas, que ela soube, mesmo nos afazeres domésticos, conservar mais brancas do que as da deusa do ócio]
In soffitta [...Mimì era una graziosa ragazza che doveva particolarmente simpatizzare e combinare con gli ideali plastici e poetici di Rodolfo. Ventidue anni; piccola, delicata... Il suo volto pareva un abbozzo di figura aristocratica; i suoi lineamenti erano d’una finezza mirabile... Il sangue della gioventù scorreva caldo e vivace nelle sue vene e coloriva di tinte rosse la sua pelle trasparente dal candore vellutato della camelia... Questa beltà malaticcia sedusse Rodolfo... Ma quello che più lo rese innamorato pazzo di madamigella Mimì furono le sue manine che essa sapeva, anche tra le faccende domestiche, serbare più bianche di quelle della dea dell’ozio] [Ampia finestra dalla quale si scorge una distesa di tetti coperti di neve. A sinistra, un camino. Una tavola, un letto, un armadietto, una piccola libreria, quattro sedie, un cavalletto da pittore con una tela sbozzata ed uno sgabello: libri sparsi, molti fasci di carte, due candelieri. Uscio nel mezzo, altro a sinistra. Rodolfo guarda meditabondo fuori della finestra. Marcello lavora al suo quadro Il passaggio del Mar Rosso, con le mani intirizzite dal freddo e che egli riscalda alitandovi su di quando in quando, mutando, pel gran gelo, spesso posizione]
[Uma ampla janela da qual se vê uma grande extensão de tetos cobertos de neve. À esquerda, uma lareira. Uma mesa, uma cama, um armarinho, uma pequena biblioteca, quatro cadeiras, um cavalete de pintor com uma tela inacabada e um banquinho: livros esparsos, muitos maços de papel, dois castiçais. Porta no meio, outra à esquerda. Rodolfo olha pela janela, meditabundo. Marcello trabalha no quadro A travessia do Mar Vermelho, com as mãos enrijecidas pelo frio, que ele aquece soprando de vez em quando, e mudando de posição constantemente, devido ao frio] MARCELLO [Sentado, continuando a pintar] Esse Mar Vermelho me amolece e congela como se gotejasse em cima de mim.
MARCELLO [Seduto, continuando a dipingere] Questo Mar Rosso - mi ammollisce e assidera come se addosso - mi piovesse in stille. [Si allontana dal cavalletto per guardare il suo quadro] Per vendicarmi, affogo un Faraon!
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[Afasta-se do cavalete para observar o quadro] Por vingança, afogo um faraó. [Volta ao trabalho. Para Rodolfo:] O que está fazendo? RODOLFO [Virando-se um pouco] No céu cinzento vejo Paris fumegar em mil chaminés [Apontando para a lareira sem fogo] E penso nessa velha chaminé vagabunda e enganadora que vive em ócio, como uma grande senhora.
[Torna al lavoro. A Rodolfo:] Che fai? RODOLFO [Volgendosi un poco] Nei cieli bigi guardo fumar dai Mille comignoli Parigi [Additando il camino senza fuoco] e penso a quel poltrone di un vecchio caminetto ingannatore che vive in ozio come un gran signore. MARCELLO Le sue rendite oneste da un pezzo non riceve.
MARCELLO Já faz um bom tempo que ela não recebe seus honestos rendimentos.
RODOLFO Quelle sciocche foreste che fan sotto la neve?
RODOLFO O que esses bosques estúpidos estão fazendo debaixo da neve?
MARCELLO Rodolfo, io voglio dirti un mio pensier profondo: ho un freddo cane.
MARCELLO Rodolfo, quero lhe contar um pensamento profundo: que frio do cão!
RODOLFO [Avvicinandosi a Marcello] Ed io, Marcel, non ti nascondo che non credo al sudore della fronte.
RODOLFO [Aproximando-se de Marcello] E eu, Marcel, não vou esconder que não acredito no suor do seu rosto. MARCELLO Meus dedos estão gelados quase como se ainda os tivesse mergulhados naquela grande geleira que é o coração de Musetta... [Deixa escapar um grande e longo suspiro e deixa de pintar, depondo paleta e pincéis]
MARCELLO Ho diacciate le dita quasi ancora le tenessi immollate giù in quella gran ghiacciaia che è il cuore di Musetta... [Lascia sfuggire un lungo sospirone, e tralascia di dipingere, deponendo tavolozza e pennelli] RODOLFO L’amore è un caminetto che sciupa troppo...
RODOLFO O amor é uma chaminé que consome demais...
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MARCELLO … e com pressa!
MARCELLO ... e in fretta!
RODOLFO … onde o homem é lenha...
RODOLFO ... dove l’uomo è fascina...
MARCELLO … e a mulher é o trasfogueiro...
MARCELLO ... e la donna è l’alare...
RODOLFO … uma arde em um sopro...
RODOLFO ... l’una brucia in un soffio...
MARCELLO …e o outro fica olhando.
MARCELLO ...e l’altro sta a guardare.
RODOLFO Enquanto isso gelamos...
RODOLFO Ma intanto qui si gela...
MARCELLO …e morremos de inanição!
MARCELLO ...e si muore d’inedia!...
RODOLFO Precisamos de fogo...
RODOLFO Fuoco ci vuole...
MARCELLO [Agarrando uma cadeira, prestes a quebrá-la] Espere... Sacrifiquemos a cadeira! [Rodolfo impede com energia o ato de Marcello. De repente, Rodolfo solta um grito de alegria, por uma ideia que teve]
MARCELLO [Afferrando una sedia e facendo atto di spezzarla] Aspetta... sacrifichiam la sedia! [Rodolfo impedisce con energia l’atto di Marcello. Ad un tratto Rodolfo esce in un grido di gioia ad un’idea che gli è balenata]
RODOLFO Eureca! [Corre até a mesa, levando um volumoso manuscrito]
RODOLFO Eureka! [Corre alla tavola e ne leva un voluminoso scartafaccio]
MARCELLO Achou?
MARCELLO Trovasti?
RODOLFO Sim. Aguce o seu engenho; que as ideias ardam em chama.
RODOLFO Sì. Aguzza l’ingegno. L’idea vampi in fiamma.
MARCELLO [Apontando para o quadro] Queimamos o Mar Vermelho? RODOLFO Não.
MARCELLO [Additando il suo quadro] Bruciamo il Mar Rosso? RODOLFO No.
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Tela pintada fede. Que meu ardente drama nos esquente.
Puzza la tela dipinta. Il mio dramma, I’ardente mio dramma ci scaldi.
MARCELLO [Com pavor cômico] Você vai ler? Fiquei gelado.
MARCELLO [Con comico spavento] Vuoi leggerlo forse? Mi geli.
RODOLFO Não, que o papel se dissolva em cinzas e a inspiração regresse aos céus. [Com tom de importância] Um grande mal ameaça o século... E Roma está em perigo...
RODOLFO No, in cener la carta si sfaldi e l’estro rivoli ai suoi cieli. [Con importanza] Al secol gran danno minaccia... E Roma in periglio...
MARCELLO [Com exagero] Grande coração!
MARCELLO [Con esagerazione] Gran cor!
RODOLFO [Dá a Marcello uma parte do manuscrito] O primeiro ato.
RODOLFO [Dà a Marcello una parte dello scartafaccio] A te l’atto primo.
MARCELLO Aqui.
MARCELLO Qua.
RODOLFO Rasgue.
RODOLFO Straccia.
MARCELLO Acenda. [Rodolfo bate a pederneira, acende uma vela e vai até a lareira com Marcello; botam fogo juntos na parte do manuscrito colocada na lareira, depois pegam as cadeiras e se sentam, aquecendo-se com volúpia]
MARCELLO Accendi. [Rodolfo batte un acciarino, accende una candela e va al camino con Marcello: insieme dànno fuoco a quella parte dello scartafaccio buttato sul focolare, poi entrambi prendono delle sedie e seggono, riscaldandosi voluttuosamente]
RODOLFO E MARCELLO Que belo clarão! [A porta dos fundos se abre com estrondo e entra Colline, gelado, tiritando, batendo os pés, jogando com ira, na mesa, um pacote de livros amarrado com um lenço]
RODOLFO E MARCELLO Che lieto baglior! [Si apre con fracasso la porta in fondo ed entra Colline gelato, intirizzito, battendo i piedi, gettando con ira sulla tavola un pacco di libri legato con un fazzoletto]
COLLINE Eis que surgem os sinais do Apocalipse. Não aceitam penhor na véspera de Natal!
COLLINE Già dell’Apocalisse appariscono i segni. In giorno di vigilia non si accettano pegni!
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[Interrompe-se, surpreso, ao ver fogo na chaminé] Uma chama!
[Si interrompe sorpreso, vedendo fuoco nel caminetto] Una fiammata!
RODOLFO [A Colline] Silêncio, meu drama está sendo encenado.
RODOLFO [A Colline] Zitto, si dà il mio dramma.
MARCELLO …no fogo.
MARCELLO ...al fuoco.
COLLINE Acho-o brilhante.
COLLINE Lo trovo scintillante.
RODOLFO Vivo. [O fogo diminui]
RODOLFO Vivo. [Il fuoco diminuisce]
COLLINE Mas dura pouco.
COLLINE Ma dura poco.
RODOLFO A brevidade, grande mérito.
RODOLFO La brevità, gran pregio.
COLLINE [Erguendo a cadeira do outro] Autor, dê-me sua cadeira.
COLLINE [Levandogli la sedia] Autore, a me la sedia.
MARCELLO Rápido. Os entreatos são de morrer de tédio.
MARCELLO Presto. Questi intermezzi fan morire d’inedia.
RODOLFO [Pega outra parte do manuscrito] Segundo ato. MARCELLO [A Colline] Nem um sussurro. [Rodolfo rasga parte do manuscrito e o lança na lareira; o fogo se reanima. Colline aproxima mais a cadeira e esquenta as mãos: Rodolfo está de pé, junto aos dois, com o resto do manuscrito] COLLINE Pensamento profundo! MARCELLO A cor certa!
RODOLFO [Prende un’altra parte dello scartafaccio] Atto secondo. MARCELLO [A Colline] Non far sussurro. [Rodolfo straccia parte dello scartafaccio e lo getta sul camino: il fuoco si ravviva. Colline avvicina ancora più la sedia e si riscalda le mani: Rodolfo è in piedi, presso ai due, col rimanente dello scartafaccio] COLLINE Pensier profondo! MARCELLO Giusto color!
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RODOLFO Naquela faísca azul e lânguida esfuma-se uma ardente cena de amor.
RODOLFO In quell’azzurro - guizzo languente sfuma un’ardente - scena d’amor.
COLLINE A página crepita.
COLLINE Scoppietta un foglio.
MARCELLO Ela tinha beijos.
MARCELLO Là c’eran baci!
RODOLFO Agora quero ouvir três atos de uma vez. [Joga o resto do manuscrito no fogo]
RODOLFO Tre atti or voglio - d’un colpo udir. [Getta al fuoco il rimanente dello scartafaccio]
COLLINE Assim se realizam as ideias dos audazes. TUTTI O belo desaparece em alegre labareda. [Aplaudem com entusiasmo: depois de um momento, a chama diminui] MARCELLO Meu Deus, a chama já está baixando... COLLINE Que drama mais vão e frágil! MARCELLO Range, encrespa-se, morre.
COLLINE Tal degli audaci - I’idea s’integra. TUTTI Bello in allegra - vampa svanir. [Applaudono entusiasticamente: la fiamma dopo un momento diminuisce] MARCELLO Oh! Dio... già s’abbassa la fiamma. COLLINE Che vano, che fragile dramma! MARCELLO Già scricchiola, increspasi, muore.
COLLINE E MARCELLO [O fogo se apaga] Abaixo, abaixo o autor. [Pela porta do meio entram dois rapazes: um com alimentos e garrafas de vinho e charutos, e o outro com um feixe de lenha. Com o barulho, os três que estão junto à lareira se viram e, com gritos de deleite, se lançam sobre a comida trazida pelo rapaz, colocando-a na mesa. Colline pega a lenha e a leva para a lareira. Começa a anoitecer]
COLLINE E MARCELLO [Il fuoco è spento] Abbasso, abbasso l’autore. [Dalla porta di mezzo entrano due garzoni, portando l’uno provviste di cibi, bottiglie di vino, sigari, e l’altro un fascio di legna. Al rumore, i tre innanzi al camino si volgono e con grida di meraviglia si slanciano sulle provviste portate dal garzone e le depongono sul tavolo. Colline prende la legna e la porta presso il caminetto: comincia a far sera]
RODOLFO Lenha!
RODOLFO Legna!
MARCELLO Charutos!
MARCELLO Sigari!
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COLLINE Bordeaux!
COLLINE Bordò!
TUTTI A sorte nos destinou a abundância de uma feira. [Os rapazes partem]
TUTTI Le dovizie d’una fiera il destin ci destinò. [I garzoni partono]
SCHAUNARD [Entra pela porta do meio com ar de triunfo, jogando moedas no chão] O Banco de França está em risco por causa de vocês. COLLINE [Recolhendo as moedas, com Rodolfo e Marcello] Recolham, recolham! MARCELLO [Incrédulo] São pedaços de metal! SCHAUNARD [Mostrando-lhe uma moeda] Está surdo? Não enxerga? Quem é esse homem? RODOLFO [Inclinando-se] Luís Felipe! Inclino-me perante o meu rei! TODOS Luís Felipe está aos nossos pés! [Colocam as moedas na mesa. Schaunard quer contar sua sorte, mas os outros não escutam; vão e vêm, ocupados, colocando tudo em cima da mesa] SCHAUNARD Vou lhes contar: esse ouro, ou melhor, prata, tem uma bela história...
SCHAUNARD [Entra dalla porta di mezzo con aria di trionfo, gettando a terra alcuni scudi] La Banca di Francia per voi si sbilancia. COLLINE [Racattando gli scudi insieme a Rodolfo e Marcello] Raccatta, raccatta! MARCELLO [Incredulo] Son pezzi di latta!... SCHAUNARD [Mostrandogli uno scudo] Sei sordo?... Sei lippo? Quest’uomo chi è? RODOLFO [Inchinandosi] Luigi Filippo! M’inchino al mio Re! TUTTI Sta Luigi Filippo ai nostri pie’ [Depongono gli scudi sul tavolo. Schaunard vorrebbe raccontare la sua fortuna, ma gli altri non lo ascoltano: vanno e vengono affaccendati disponendo ogni cosa sul tavolo] SCHAUNARD Or vi dirò: quest’oro, o meglio argento, ha la sua brava storia... MARCELLO [Ponendo la legna nel camino] Riscaldiamo il camino!
MARCELLO [Colocando a lenha na lareira] Vamos aquecer a lareira!
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COLLINE Sofreu tanto com o frio.
COLLINE Tanto freddo ha sofferto.
SCHAUNARD Um inglês... Um senhor... Lorde ou milorde , algo assim, queria um músico...
SCHAUNARD Un inglese... un signor... lord o milord che sia, voleva un musicista...
MARCELLO [Jogando o pacote de livros de Colline para longe da mesa] Fora! Vamos preparar a mesa! SCHAUNARD Eu saio voando. RODOLFO Cadê o acendedor? COLLINE Lá. MARCELLO Aqui. [Acendem um grande fogo na lareira] SCHAUNARD E me apresento. Ele me aceita: pergunto... COLLINE [Arrumando a comida] Assado frio! MARCELLO [Enquanto Rodolfo acende a outra vela] Torta doce! SCHAUNARD Para quando as aulas? Responde: Começar... Olhar! [E me aponta um papagaio no primeiro andar] depois acrescenta: Você vai tocar até aquele morrer!
MARCELLO [Gettando via il pacco di libri di Colline dal tavolo] Via! Prepariamo la tavola! SCHAUNARD Io? Volo! RODOLFO L’esca dov’è? COLLINE Là. MARCELLO Qua. [Accendono un gran fuoco nel camino] SCHAUNARD E mi presento. M’accetta: gli domando... COLLINE [Mettendo a posto le vivande] Arrosto freddo! MARCELLO [Mentre Rodolfo accende l’altra candela] Pasticcio dolce! SCHAUNARD A quando le lezioni?... Risponde: Incominciam... Guardare! [E un pappagallo m’addita al primo piano] poi soggiunge: Voi suonare finché quello morire!. RODOLFO Fulgida folgori la sala splendida.
RODOLFO Que a magnífica sala brilhe com esplendor.
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MARCELLO [Coloca as duas velas na mesa] Agora as velas!
MARCELLO [Mette le due candele sul tavolo] Or le candele!
SCHAUNARD E foi assim: Toquei por três longos dias. Daí usei o encanto de minha bela presença. Seduzi a serva, dei salsa para ele! O louro esticou a asa, o louro abriu o bico, e morreu como Sócrates! [Vendo que ninguém lhe dá atenção, pega Colline, que passa perto, com um prato]
SCHAUNARD E fu così: Suonai tre lunghi dì. Allora usai l’incanto di mia presenza bella. Affascinai l’ancella, gli propinai prezzemolo! Lorito allargò l’ali, lorito il becco aprì, da Socrate morì! [Vedendo che nessuno gli bada, afferra Colline che gli passa vicino con un piatto]
COLLINE Torta doce!
COLLINE Pasticcio dolce!
MARCELO Comer sem toalha?
MARCELLO Mangiar senza tovaglia?
RODOLFO [Tira um jornal do bolso e o desdobra] Uma ideia...
RODOLFO [Levando di tasca un giornale e spiegandolo] Un’idea...
COLLINE E MARCELLO O Constitucional!
COLLINE E MARCELLO Il Costituzional!
RODOLFO Ótimo papel... Come-se e se devora um suplemento!
RODOLFO Ottima carta... Si mangia e si divora un’appendice!
COLLINE Quem!
COLLINE Chi?!...
SCHAUNARD [Urrando de despeito] O diabo que os carregue! [Depois, ao vê-los prestes a comer a torta fria] O que vocês estão fazendo? [Com gesto solene, estende a mão sobre a torta e impede que os amigos a comam; depois, leva os pratos da mesa, colocando-os no pequeno armário] Não! Estes alimentos são a reserva para os dias futuros, tenebrosos e obscuros. Comer em casa na
SCHAUNARD [Urlando indispettito] Che il diavolo vi porti tutti quanti! [Poi, vedendoli in atto di mettersi a mangiare il pasticcio freddo] Ed or che fate? [Con gesto solenne stende la mano sul pasticcio ed impedisce agli amici di mangiarlo; poi leva le vivande dal tavolo e le mette nel piccolo armadio] No! Queste cibarie sono la salmeria pei dì futuri tenebrosi e oscuri. Pranzare in casa il dì della vigilia mentre il Quartier Latino le
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véspera de Natal enquanto o Quartier Latin enfeita suas ruas com salsichas e guloseimas? Quando um odor de bolinhos perfuma as velhas ruas? MARCELLO, RODOLFO E COLLINE [Rodeiam Schaunard, rindo] A vigília de Natal! SCHAUNARD Lá as moças cantam contentes, com um estudante fazendo eco a cada uma! Um pouco de religião, meus senhores: bebe-se em casa, mas se come fora. [Rodolfo fecha a porta a casa, depois todos se sentam à mesa e servem o vinho. Uma batida na porta: param, estupefatos] BENOÎT [De fora] Com licença? MARCELLO Quem é? BENOÎT Benoît! MARCELLO O proprietário! [Baixam os copos] SCHAUNARD Porta na cara. COLLINE [Grita] Não tem ninguém. SCHAUNARD Está fechado. BENOÎT Uma palavra. SCHAUNARD [Depois de consultar os outros, vai abrir] Uma só!
sue vie addobba di salsicce e leccornie? Quando un olezzo di frittelle imbalsama le vecchie strade? MARCELLO, RODOLFO E COLLINE [Circondano ridendo Schaunard] La vigilia di Natal! SCHAUNARD Là le ragazze cantano contente ed han per eco ognuna uno studente! Un po’ di religione, o miei signori: si beva in casa, ma si pranzi fuori. [Rodolfo chiude la porta a chiave, poi tutti vanno intorno al tavolo e versano il vino. Si bussa alla porta: s’arrestano stupefatti] BENOÎT [Di fuori] Si può? MARCELLO Chi è là? BENOÎT Benoît! MARCELLO Il padrone di casa! [Depongono i bicchieri] SCHAUNARD Uscio sul muso. COLLINE [Grida:] Non c’è nessuno. SCHAUNARD È chiuso. BENOÎT Una parola. SCHAUNARD [Dopo essersi consultato cogli altri, va ad aprire] Sola!
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BENOÎT [Entra sorridente: vê Marcello e, mostrando-lhe um papel, diz] Aluguel!
BENOÎT [Entra sorridente: vede Marcello e mostrandogli una carta dice:] Affitto!
MARCELLO [Recebendo-o com grande cordialidade] Olá! Dêem uma cadeira.
MARCELLO [Ricevendolo con grande cordialità] Olà! Date una sedia.
RODOLFO É para já.
RODOLFO Presto.
BENOÎT [Esquivando-se] Não precisa. Queria...
BENOÎT [Schermendosi] Non occorre. Vorrei...
SCHAUNARD [Insistindo com suave violência, coloca-o sentado] Sente-se.
SCHAUNARD [Insistendo con dolce violenza, lo fa sedere] Segga.
MARCELLO Quer beber? [Serve-lhe vinho] BENOÎT Obrigado. RODOLFO E COLLINE Um brinde. [Todos bebem. Benoît, Rodolfo, Marcello e Schaunard sentados, Colline de pé. Benoît baixa o copo e se volta para Marcello, mostrando-lhe o papel] BENOÎT Esse é o último trimestre. MARCELLO [Com ingenuidade] Com prazer. BENOÎT Então... SCHAUNARD [Interrompendo] Mais um gole. [Enche os copos]
MARCELLO Vuol bere? [Gli versa del vino] BENOÎT Grazie. RODOLFO E COLLINE Tocchiamo. [Tutti bevono. Benoît, Rodolfo, Marcello e Schaunard seduti, Colline in piedi. Benoît depone il bicchiere e si rivolge a Marcello mostrandogli la carta] BENOÎT Questo è l’ultimo trimestre. MARCELLO [Con ingenuità] Ne ho piacere. BENOÎT E quindi... SCHAUNARD [Interrompendolo] Ancora un sorso. [Riempie i bicchieri]
43 La Bohème
BENOÎT Obrigado.
BENOÎT Grazie.
OS QUATRO [Brindando com Benoît] À sua saúde! [Sentam-se e bebem. Colline pega o banquinho junto ao cavalete e também se senta]
I QUATTRO [Toccando con Benoît] Alla sua salute! [Si siedono e bevono. Colline va a prendere lo sgabello presso il cavalletto e si siede anche lui]
BENOÎT [Retomando a conversa com Marcello] Vim atrás do senhor porque, no semestre passado, prometeu-me…
BENOÎT [Riprendendo con Marcello] A lei ne vengo perché il trimestre scorso mi promise...
MARCELLO Prometi e mantenho. [Mostrando a Benoît as moedas de cima da mesa] RODOLFO [Pasmado, baixo, para Marcello] O que você está fazendo? SCHAUNARD [Como o outro] Está louco? MARCELLO [Para Benoît, sem dar atenção aos dois] Viu? Agora fique um momento em nossa companhia. Diga: quantos anos tem, caro senhor Benoît? BENOÎT Os anos? Meu Deus! RODOLFO Mais ou menos a nossa idade. BENOÎT [Protestando] Mais, muito mais. [Enquanto fazem Benoît tagarelar, vão enchendo seu copo, à medida que ele o esvazia]
MARCELLO Promisi ed or mantengo. [Mostrando a Benoît gli scudi che sono sul tavolo] RODOLFO [Con stupore, piano a Marcello] Che fai?... SCHAUNARD [Come sopra] Sei pazzo? MARCELLO [A Benoît, senza badare ai due] Ha visto? Or via, resti un momento in nostra compagnia. Dica: quant’anni ha, caro signor Benoît? BENOÎT Gli anni? Per carità! RODOLFO Su e giù la nostra età. BENOÎT [Protestando] Di più, molto di più. [Mentre fanno chiacchierare Benoît, gli riempiono il bicchiere appena egli l’ha vuotato]
44 Theatro Municipal de São Paulo
COLLINE Ele disse mais ou menos.
COLLINE Ha detto su e giù.
MARCELLO [Abaixando a voz, em tom malandro] Outra noite, no Mabil...
MARCELLO [Abbassando la voce e con tono di furberia] L’altra sera al Mabil...
BENOÎT [Inquieto] Hein?
BENOÎT [Inquieto] Eh?!
MARCELLO Ele foi apanhado em pecado de amor.
MARCELLO L’hanno colto in peccato d’amore.
BENOÎT Eu?
BENOÎT Io?
MARCELLO Negue.
MARCELLO Neghi.
BENOÎT Um acaso.
BENOÎT Un caso.
MARCELLO [Lisonjeando-o] Bela mulher!
MARCELLO [Lusingandolo] Bella donna!
BENOÎT [Meio embriagado, subitamente comovido] Ah! Muito!
BENOÎT [Mezzo brillo, con subito moto] Ah! Molto.
SCHAUNARD [Dando um tapa nas costas] Patife!
SCHAUNARD [Gli batte una mano sulla spalla] Briccone!
COLLINE Sedutor! [Dá um tapa no outro lado das costas]
COLLINE Seduttore! [Fa lo stesso sull’altra spalla]
RODOLFO Patife!
RODOLFO Briccone!
MARCELLO [Exagerando] Um mulherão! Cabelo encaracolado e ruivo.
MARCELLO [Magnificando] Una quercia! Un cannone! Il crin ricciuto e fulvo.
RODOLFO Um homem de bom gosto.
RODOLFO L’uomo ha buon gusto.
45 La Bohème
MARCELLO Ele se regozijava, ágil e altivo.
MARCELLO Ei gongolava arzillo, pettoruto.
BENOÎT [Lisonjeado] Sou velho, mas robusto.
BENOÎT [Ringalluzzito] Son vecchio, ma robusto.
COLLINE, SCHAUNARD E RODOLFO [Com gravidade irônica] Ele se regozijava, altivo e ágil.
COLLINE, SCHAUNARD E RODOLFO [Con gravità ironica] Ei gongolava arzuto e pettorillo.
MARCELLO E a virtude feminina cedia a ele.
MARCELLO E a lui cedea la femminil virtù.
BENOÎT [Com plena confiança] Tímido na juventude, estou compensando agora. É passatempo, uma mulherzinha alegre e um pouco... [Gesticula, fazendo formas acentuadas] Não digo uma baleia, ou um mapa-mundi, ou uma cara redonda de lua cheia, mas magra, magricela, não e não! As mulheres magras são uma dor de cabeça, e muitas vezes uma chatice. E vivem cheias de dor, por exemplo, minha mulher... [Marcello dá com o punho na mesa e se levanta; os outros o imitam: Benoît os fita, aturdido]
BENOÎT [In piena confidenza] Timido in gioventù, ora me ne ripago. È uno svago qualche donnetta allegra e un po’... [Accenna a forme accentuate] Non dico una balena, o un mappamondo, o un viso tondo da luna piena, ma magra, proprio magra, no e poi no! Le donne magre sono grattacapi e spesso sopraccapi. E son piene di doglie, per esempio mia moglie... [Marcello dà un pugno sulla tavola e si alza: gli altri lo imitano: Benoît li guarda sbalordito]
MARCELLO [Com força] Esse homem é casado e traz desejos indecentes no coração!
MARCELLO [Con forza] Quest’uomo ha moglie e sconce voglie ha nel cor!
OS OUTROS Horror!
GLI ALTRI Orror!
RODOLFO Ele contamina e empesteia nossa casa honesta!
RODOLFO E ammorba, e appesta la nostra onesta magion!
OS OUTROS Fora!
GLI ALTRI Fuor!
46 Theatro Municipal de São Paulo
MARCELLO Vamos botar pra quebrar.
MARCELLO Si abbruci dello zucchero.
COLLINE Vamos expulsar o réprobo.
COLLINE Si discacci il reprobo.
SCHAUNARD [Majestoso] Será expulso pela moral ofendida!
SCHAUNARD [Maestoso] È la morale offesa che vi scaccia!
BENOÎT [Chocado, tenta falar, inutilmente] Eu disse...
BENOÎT [Allibito, tenta inutilmente di parlare] Io di...
RODOLFO, COLLINE [Cercam Benoît, empurrando-o para a porta] Silêncio!
RODOLFO, COLLINE [Circondano Benoît sospingendolo verso la porta] Silenzio!
BENOÎT [Cada vez mais chocado] Meus senhores...
BENOÎT [Sempre più sbalordito] Miei signori...
TODOS Silêncio! [Empurrando Benoît porta afora] Fora, senhor! Fora daqui! [Na porta, olhando para o patamar da escada] … e boa noite a vossa senhoria. [Voltando ao centro do palco, rindo] Ah! Ah! Ah! Ah!
TUTTI Silenzio! [Spingendo Benoît fuori dalla porta] Via signore! Via di qua! [Sulla porta guardando verso il pianerottolo sulla scala] ... e buona sera a Vostra signoria. [Ritornando nel mezzo della scena, ridendo] Ah! Ah! Ah! Ah!
MARCELLO [Fechando a porta] Paguei o trimestre.
MARCELLO [Chiudendo l’uscio] Ho pagato il trimestre.
SCHAUNARD Momus nos espera no Quartier Latin.
SCHAUNARD Al Quartiere Latino ci attende Momus.
MARCELLO Viva quem gasta!
MARCELLO Viva chi spende!
SCHAUNARD Vamos dividir o butim! [Dividem as moedas da mesa] Rodolfo e Schaunard, vamos dividir!
SCHAUNARD Dividiamo il bottino! [Si dividono gli scudi rimasti sul tavolo] Rodolfo e Schaunard, dividiam!
MARCELLO [Estendendo a Colline um espelho quebrado]
MARCELLO [Presentando uno specchio rotto a Colline]
47 La Bohème
Lá há beldades caídas do céu. Agora que você está rico, cuide da decência. Urso, penteie o cabelo. COLLINE Pela primeira vez, travarei conhecimento com um barbeiro. Guiem-me ao ridículo ultraje de uma navalha. MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE Vamos. RODOLFO Fico para terminar o artigo do Castor. MARCELLO Vai logo. RODOLFO Cinco minutos. Sou do ramo. COLLINE Vamos esperá-lo embaixo, na portaria. MARCELLO Se demorar, vai ouvir um coro!
Là ci sono beltà scese dal cielo. Or che sei ricco, bada alla decenza! Orso, ravviati il pelo. COLLINE Farò la conoscenza la prima volta d’un barbitonsore. Guidatemi al ridicolo oltraggio d’un rasoio. MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE Andiamo. RODOLFO Io resto per terminar l’articolo di fondo del Castoro. MARCELLO Fa presto. RODOLFO Cinque minuti. Conosco il mestiere. COLLINE Ti aspetterem dabbasso dal portiere. MARCELLO Se tardi, udrai che coro!
RODOLFO Cinco minutos. [Pega uma luz e abre a porta: Marcello, Schaunard e Colline descem a escada]
RODOLFO Cinque minuti. [Prende un lume ed apre l’uscio: Marcello, Schaunard e Colline escono e scendono la scala]
SCHAUNARD [Saindo] Corte logo a cauda do seu Castor!
SCHAUNARD [Uscendo] Taglia corta la coda al tuo Castoro!
MARCELLO [De fora] Fique de olho na escada. Segure o corrimão.
MARCELLO [Di fuori] Occhio alla scala. Tienti alla ringhiera.
RODOLFO [Acima do patamar, perto da porta aberta, levantando a luz] Devagar!
RODOLFO [Sul pianerottolo, presso l’uscio aperto, alzando il lume] Adagio!
COLLINE [De fora]
COLLINE [Di fuori]
48 Theatro Municipal de São Paulo
Está um breu só! [As vozes de Marcello, Schaunard e Colline vão se afastando]
È buio pesto. [Le voci di Marcello, Schaunard e Colline si fanno sempre più lontane]
SCHAUNARD Maldito porteiro! [Barulho de alguém rolando]
SCHAUNARD Maledetto portier! [Rumore d’uno che ruzzola]
COLLINE Caramba!
COLLINE Accidenti!
RODOLFO [À porta] Colline, você morreu?
RODOLFO [Sull’uscio] Colline, sei morto?
COLLINE [Distante, da escada, abaixo] Ainda não!
COLLINE [Lontano, dal basso della scala] Non ancor!
MARCELLO [Mais distante] Venha logo! [Rodolfo fecha a porta, coloca a luz no chão, libera um canto da mesa, onde coloca tinteiro e papel, senta-se e se põe a escrever, depois de apagar a outra luz, que estava acesa; interrompe-se, pensa e volta a escrever; inquieta-se, destroi o escrito e joga a pena fora]
MARCELLO [Più lontano] Vien presto! [Rodolfo chiude l’uscio, depone il lume, sgombra un angolo del tavolo, vi colloca calamaio e carta, poi siede e si mette a scrivere dopo aver spento l’altro lume rimasto acceso: si interrompe, pensa, ritorna a scrivere, s’inquieta, distrugge lo scritto e getta via la penna]
RODOLFO [Desanimado] Não estou inspirado. [Uma tímida batida na porta] Quem é?
RODOLFO [Sfiduciato] Non sono in vena. [Si bussa timidamente all’uscio] Chi è là?
MIMÌ [De fora] Perdão.
MIMÌ [Di fuori] Scusi.
RODOLFO [Levantando-se] Uma mulher!
RODOLFO [Alzandosi] Una donna!
MIMÌ Por favor, minha luz apagou.
MIMÌ Di grazia, mi si è spento il lume.
RODOLFO [Corre para abrir] Pronto.
RODOLFO [Corre ad aprire] Ecco.
49 La Bohème
MIMÌ [À porta, com a luz apagada e uma chave na mão] Eu queria...
MIMÌ [Sull’uscio, con un lume spento in mano ed una chiave] Vorrebbe...
RODOLFO Acomode-se por um instante.
RODOLFO S’accomodi un momento.
MIMÌ Não precisa.
MIMÌ Non occorre.
RODOLFO [Insistindo] Eu peço, entre. [Mimì entra, e logo começa a sufocar]
RODOLFO [Insistendo] La prego, entri. [Mimì, entra, ma subito è presa da soffocazione]
RODOLFO [Solícito] Está se sentindo mal?
RODOLFO [Premuroso] Si sente male?
MIMÌ Não... Não é nada.
MIMÌ No... nulla.
RODOLFO Está pálida!
RODOLFO Impallidisce!
MIMÌ [Tossindo] A respiração... Essas escadas... [Desmaia, e Rodolfo mal consegue segurá-la e acomodá-la em uma cadeira, enquanto castiçal e chave caem das mãos de Mimì]
MIMÌ [Presa da tosse] Il respir... Quelle scale... [Sviene, e Rodolfo è appena a tempo di sorreggerla ed adagiarla su di una sedia, mentre dalle mani di Mimì cadono candeliere e chiave]
RODOLFO [Embaraçado] O que é que eu faço agora? [Vai pegar água, que borrifa no rosto de Mimì] Isso! [Fitando-a com grande interesse] Que cara de doente! [Mimì volta a si] Está se sentindo melhor?
RODOLFO [Imbarazzato] Ed ora come faccio?... [Va a prendere dell’acqua e ne spruzza il viso di Mimì] Così! [Guardandola con grande interesse] Che viso da malata! [Mimì rinviene] Si sente meglio?
MIMÌ [Com um fio de voz] Sim.
MIMÌ [Con un filo di voce] Sì.
50 Theatro Municipal de São Paulo
RODOLFO Aqui está frio demais. Sente-se perto do fogo. [Mimì faz um gesto negativo] Espere... um pouco de vinho... MIMÌ Obrigada... RODOLFO [Dá-lhe o copo e o enche] À sua. MIMÌ Pouco, pouco. RODOLFO Assim? MIMÌ Obrigada. [Bebe] RODOLFO [Admirando-a] [Que bela menina!] MIMÌ [Levantando-se, busca o castiçal] Agora permita que eu acenda a luz. Já passou tudo. RODOLFO Quanta pressa!
RODOLFO Qui c’è tanto freddo. Segga vicino al fuoco. [Mimì fa cenno di no] Aspetti.. un po’ di vino... MIMÌ Grazie... RODOLFO [Le dà il bicchiere e le versa da bere] A lei. MIMÌ Poco, poco. RODOLFO Così? MIMÌ Grazie. [Beve] RODOLFO [Ammirandola] [Che bella bambina!] MIMÌ [Levandosi, cerca il suo candeliere] Ora permetta che accenda il lume. È tutto passato. RODOLFO Tanta fretta?
MIMÌ Sim. [Rodolfo vê o castiçal no chão, recolhe-o e o entrega a Mimì, sem dizer nada]
MIMÌ Sì. [Rodolfo scorge a terra il candeliere, lo raccoglie, accende e lo consegna a Mimì senza far parola]
MIMÌ Obrigada. Boa noite. [Prepara-se para sair]
MIMÌ Grazie. Buona sera. [S’avvia per uscire]
RODOLFO [Acompanha-a até a porta] Boa noite. [Retoma imediatamente ao trabalho]
RODOLFO [L’accompagna fino all’uscio] Buona sera. [Ritorna subito al lavoro]
51 La Bohème
MIMÌ [Sai, depois reaparece na porta ainda aberta] Oh! Que desligada! A chave do meu quarto, onde eu deixei?
MIMÌ [Esce, poi riappare sull’uscio che rimane aperto] Oh! Sventata! La chiave della stanza dove l’ho lasciata?
RODOLFO Não fique na porta; a luz vacila ao vento. [A luz de Mimì se apaga]
RODOLFO Non stia sull’uscio; il lume vacilla al vento. [Il lume di Mimì si spegne]
MIMÌ Meu Deus! Acenda-a de novo.
MIMÌ Oh Dio! Torni ad accenderlo.
RODOLFO [Acorre com sua vela para voltar a acender a de Mimì porém, ao se aproximar da porta, essa também se apaga, e o quarto fica escuro] Oh Deus! A minha também se apagou.
RODOLFO [Accorre colla sua candela per riaccendere quella di Mimì, ma avvicinandosi alla porta anche il suo lume si spegne e la camera rimane buia] Oh Dio!... Anche il mio s’è spento!
MIMÌ [Avança tateando, encontra a mesa e coloca o castiçal em cima dela] Onde estará a chave?
MIMÌ [Avanzandosi a tentoni, incontra il tavolo e vi depone il suo candeliere] E la chiave ove sarà?...
RODOLFO [Está perto da porta e a fecha] Que breu!
RODOLFO [Si trova presso la porta e la chiude] Buio pesto!
MIMÌ Que desgraça!
MIMÌ Disgraziata!
RODOLFO Onde estará?
RODOLFO Ove sarà?
MIMÌ Que vizinha inoportuna...
MIMÌ Importuna è la vicina...
RODOLFO [Volta-se para de onde vem a voz de Mimì] Nada disso.
RODOLFO [Si volge dalla parte ove ode la voce di Mimì] Ma le pare?...
MIMÌ [Repete com graça, avançando com cuidado] Que vizinha inoportuna... [Procura a chave no pavimento, arrastando os pés]
MIMÌ [Ripete con grazia, avanzandosi ancora cautamente] Importuna è la vicina... [Cerca la chiave sul pavimento, strisciando i piedi]
52 Theatro Municipal de São Paulo
RODOLFO O que é isso? De jeito nenhum.
RODOLFO Cosa dice, ma le pare!
MIMÌ Procure.
MIMÌ Cerchi.
RODOLFO Estou procurando. [Bate na mesa, onde coloca a vela, pondose a buscar a chave tateando o chão]
RODOLFO Cerco. [Urta nel tavolo, vi depone il suo candeliere e si mette a cercare la chiave brancicando le mani sul pavimento]
MIMÌ Onde estará? RODOLFO [Encontra a chave e deixa escapar uma exclamação; depois, subitamente arrependido, coloca-a no bolso] Ah! MIMÌ Achou? RODOLFO Não! MIMÌ Parecia... RODOLFO É verdade... MIMÌ [Busca, tateando] Está procurando? RODOLFO Estou! [Finge procurar porém, guiado pela voz e pelos passos de Mimì, tenta aproximar-se dela que, inclinada no chão, segue na busca, tateando; nesse momento, Rodolfo se aproxima, abaixando a mão para que ela encontre a de Mimì] MIMÌ [Surpresa] Ah!
MIMÌ Ove sarà?... RODOLFO [Trova la chiave e lascia sfuggire una esclamazione, poi subito pentito mette la chiave in tasca] Ah! MIMÌ L’ha trovata?... RODOLFO No! MIMÌ Mi parve... RODOLFO In verità... MIMÌ [Cerca a tastoni] Cerca? RODOLFO Cerco! [Finge di cercare, ma guidato dalla voce e dai passi di Mimì, tenta di avvicinarsi ad essa che, china a terra, cerca sempre tastoni: in questo momento Rodolfo si è avvicinato ed abbassandosi esso pure, la sua mano incontra quella di Mimì] MIMÌ [Sorpresa] Ah!
53 La Bohème
RODOLFO [Segurando a mão de Mimì, com a voz cheia de emoção] Que mãozinha mais gelada! Deixe-me esquentá-la. Que adianta procurar? No escuro, não se acha nada. Mas por sorte é noite de luar, e a lua está aqui perto. Espere, senhorita, vou lhe dizer em duas palavras quem sou, o que faço e como vivo. Quer? [Mimì fica em silêncio: Rodolfo larga sua mão e ela, recuando, encontra uma cadeira, na qual se deixa cair, tomada pela emoção] Quem sou? Sou um poeta. O que faço? Escrevo? E como vivo? Vivo. Na minha pobreza alegre ostento, como um grande senhor, rimas e hinos de amor. De sonhos, de quimeras e de castelos no ar, minha alma é milionária. Às vezes, do meu cofre, roubam todas as joias dois ladrões: os olhos bonitos. Eles entraram agora com você e os meus sonhos de hábito, meus belos sonhos rapidamente se dissiparam. Mas o furto não me perturba, porque, no lugar deles, ficou a doce esperança! Agora que você me conhece, diga. Quem é você? Gostaria de dizer? MIMÌ [Titubeia um pouco, depois se decide a falar; sempre sentada] Sim. Chamam-me de Mimì, mas o meu nome é Lucia. Minha história é breve. Faço bordados de tela ou de seda, em casa e fora... Sou tranquila e alegre, e meu passatempo é fazer lírios e rosas. Gosto daquelas coisas que têm uma doce magia, que falam de amor, de primavera, de sonhos e de quimeras, essas coisas que se chamam poesia... Você me entende?
RODOLFO [Tenendo la mano di Mimì, con voce piena di emozione!] Che gelida manina! Se la lasci riscaldar. Cercar che giova? Al buio non si trova. Ma per fortuna è una notte di luna, e qui la luna l’abbiamo vicina. Aspetti, signorina, le dirò con due parole chi son, che faccio e come vivo. Vuole? [Mimì tace: Rodolfo lascia la mano di Mimì, la quale indietreggiando trova una sedia sulla quale si lascia quasi cadere affranta dall’emozione] Chi son? Sono un poeta. Che cosa faccio? Scrivo. E come vivo? Vivo. In povertà mia lieta scialo da gran signore rime ed inni d’amore. Per sogni, per chimere e per castelli in aria l’anima ho milionaria. Talor dal mio forziere ruban tutti i gioielli due ladri: gli occhi belli. V’entrar con voi pur ora ed i miei sogni usati e i bei sogni miei tosto son dileguati. Ma il furto non m’accora, poiché vi ha preso stanza la dolce speranza! Or che mi conoscete, parlate voi. Chi siete? Via piaccia dir? MIMÌ [È un po’ titubante, poi si decide a parlare; sempre seduta] Sì. Mi chiamano Mimì, ma il mio nome è Lucia. La storia mia è breve. A tela o a seta ricamo in casa e fuori... Son tranquilla e lieta ed è mio svago far gigli e rose. Mi piaccion quelle cose che han sì dolce malìa, che parlano d’amor, di primavere, di sogni e di chimere, quelle cose che han nome poesia... Lei m’intende?
54 Theatro Municipal de São Paulo
RODOLFO [Comovido] Sim.
RODOLFO [Commosso] Sì.
MIMÌ Chamam-me de Mimì, nem sei por que. Moro sozinha, cozinho para mim, nem sempre vou à missa, mas rezo bastante para o Senhor. Vivo solitária, em um quartinho branco: olhando para os tetos e para o céu; mas quando a neve derrete o primeiro sol é meu o primeiro beijo de abril é meu! Brota em um vaso uma rosa... Folha a folha eu a espio! Tão gentil é o perfume da flor! Mas as flores que eu faço, ai de mim, não têm aroma. Não saberia narrar mais nada a meu respeito; sou a sua vizinha, que veio importunar fora de hora.
MIMÌ Mi chiamano Mimì, il perché non so. Sola, mi fo il pranzo da me stessa. Non vado sempre a messa, ma prego assai il Signore. Vivo sola, soletta là in una bianca cameretta: guardo sui tetti e in cielo; ma quando vien lo sgelo il primo sole è mio il primo bacio dell’aprile è mio! Germoglia in un vaso una rosa... Foglia a foglia la spio! Cosi gentile il profumo d’un fiore! Ma i fior ch’io faccio, ahimè! non hanno odore. Altro di me non le saprei narrare. Sono la sua vicina che la vien fuori d’ora a importunare.
SCHAUNARD [Do pátio] Ei! Rodolfo! COLLINE Rodolfo! MARCELLO Ó de casa. Não está escutando? [Rodolfo se impacienta com os gritos dos amigos] Sua lesma! COLLINE Poetastro! SCHAUNARD Que se dane o preguiçoso! [Cada vez mais impaciente, Rodolfo se aproxima, tateando, da janela, que abre, colocando-se um pouco para fora para responder aos amigos, que estão embaixo,
SCHAUNARD [Dal cortile] Ehi! Rodolfo! COLLINE Rodolfo! MARCELLO Olà. Non senti? [Alle grida degli amici, Rodolfo s’impazienta] Lumaca! COLLINE Poetucolo! SCHAUNARD Accidenti al pigro! [Sempre più impaziente, Rodolfo a tentoni si avvia alla finestra e l’apre spingendosi un poco fuori per rispondere agli amici che sono giù nel cortile: dalla finestra aperta entrano i raggi lunari, rischiarando così la camera]
55 La Bohème
no pátio; pela janela aberta, entram raios de lua, que iluminam o quarto] RODOLFO [Na Janela] Vou escrever três linhas voando. MIMÌ [Aproximando-se um pouco da janela] Quem são?
RODOLFO [Alla finestra] Scrivo ancor tre righe a volo. MIMÌ [Avvicinandosi un poco alla finestra] Chi sono? RODOLFO [A Mimì] Amici.
RODOLFO [A Mimì] Amigos.
SCHAUNARD Sentirai le tue.
SCHAUNARD Você vai ouvir poucas e boas.
MARCELLO Che te ne fai lì solo?
MARCELLO O que está fazendo sozinho?
RODOLFO Non sono solo. Siamo in due. Andate da Momus, tenete il posto, ci saremo tosto. [Rimane alla finestra, onde assicurarsi che gli amici se ne vanno]
RODOLFO Não estou sozinho. Estamos em dois. Vão até o Momus e guardem lugar, que logo chegaremos. [Fica à janela para se assegurar de que os amigos estão partindo] MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE [Afastando-se] Momus, Momus, Momus, vamos embora, calados e discretos. Momus, Momus, Momus, o poeta encontrou a poesia. [Mimì se aproxima mais da janela, de modo a ser iluminada pelos raios da lua; Rodolfo, ao se voltar, vê Mimì como que envolta por uma auréola de luz, e a contempla, quase estático] RODOLFO Oh suave menina, oh doce rosto circundado pela tênue aura da lua, em você eu vejo o sonho que sempre quis sonhar! [Cingindo Mimì entre seus braços] Fremem na minha alma as doçuras supremas, no beijo freme o amor! [Beija-a]
MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE [Allontanandosi] Momus, Momus, Momus, zitti e discreti andiamocerle via. Momus, Momus, Momus, il poeta trovò la poesia. [Mimì si è avvicinata ancor più alla finestra per modo che i raggi lunari la illuminano: Rodolfo, volgendosi, scorge Mimì avvolta come da un nimbo di luce, e la contempla, quasi estatico] RODOLFO O soave fanciulla, o dolce viso di mite circonfuso alba lunar in te, vivo ravviso il sogno ch’io vorrei sempre sognar! [Cingendo con le braccia Mimì] Fremon già nell’anima le dolcezze estreme, nel bacio freme amor! [La bacia]
56 Theatro Municipal de São Paulo
MIMÌ [Extremamente comovida] Ah! Só você manda, amor! [Quase se abandonando] [Ah, como seus elogios caem doces em meu coração... só você comanda, amor!]
MIMÌ [Assai commossa] Ah! tu sol comandi, amor!... [Quasi abbandonandosi] [Oh! come dolci scendono le sue lusinghe al core... tu sol comandi, amore!]
MIMÌ [Liberando-se] Não, pelo amor de Deus!
MIMÌ [Svincolandosi] No, per pietà!
RODOLFO Você é minha!
RODOLFO Sei mia!
MIMÌ Seus amigos estão esperando...
MIMÌ V’aspettan gli amici...
RODOLFO Já está me mandando embora?
RODOLFO Già mi mandi via?
MIMÌ [Titubeando] Queria dizer... mas não ouso...
MIMÌ [Titubante] Vorrei dir... ma non oso...
RODOLFO [Com gentileza] Diga.
RODOLFO [Con gentilezza] Dì.
MIMÌ [Com graciosa malícia] E se eu fosse com vocês?
MIMÌ [Con graziosa furberia] Se venissi con voi?
RODOLFO [Surpreso] Como assim, Mimì? [Insinuante] Seria tão doce ficar aqui. Lá fora está frio.
RODOLFO [Sorpreso] Che?... Mimì? [Insinuante] Sarebbe così dolce restar qui. C’è freddo fuori.
MIMÌ [Com grande abandono] Estarei pertinho de você!
MIMÌ [Con grande abbandono] Vi starò vicina!...
RODOLFO E na volta?
RODOLFO E al ritorno?
MIMÌ [Maliciosa] Curioso!
MIMÌ [Maliziosa] Curioso!
57 La Bohème
RODOLFO [Amorosamente ajuda Mimì a colocar o xale] Dê-me o braço, minha pequena. MIMÌ [Dá o braço a Rodolfo] Obedeço, meu senhor! [De braços dados, cruzam a saída] RODOLFO Diga que me ama... MIMÌ [Com abandono] Eu te amo! RODOLFO Amor! MIMÌ Amor!
RODOLFO [Aiuta amorosamente Mimì a mettersi lo scialle] Dammi il braccio, mia piccina. MIMÌ [Dà il braccio a Rodolfo] Obbedisco, signor! [S’avviano sottobraccio alla porta d’uscita] RODOLFO Che m’ami di’... MIMÌ [Con abbandono] Io t’amo! RODOLFO Amore! MIMÌ Amor!
SEGUNDO ATO QUADRO SECONDO No Quartier Latin [Gustavo Collline, o grande filósofo; Marcello, o grande pintor; Rodolfo, o grande poeta; e Schaunard, o grande músico – como chamavam um ao outro – frequentavam regularmente o Café Momus, onde eram apelidados Os Quatro Mosqueteiros, por serem inseparáveis. Realmente: chegavam juntos, divertiam-se e iam embora sempre juntos – muitas vezes, sem pagar a conta, e com um “acorde” digno da orquestra do Conservatório. A senhorita Musetta era uma bela moça de 20 anos, muita paquera, um pouquinho de ambição, e nenhuma ortografia. Delícia dos jantares do Quartier Latin. Uma perpétua alternância entre carruagem e transporte coletivo, entre rua Breda e Quartier Latin. - O que vocês queriam? Tenho muita necessidade de respirar o ar dessa vida. Minha existência louca é como uma canção: cada um de meus amores é uma estrofe – mas Marcello é o refrão] Um cruzamento de ruas que ganha a forma de praça; lojas, vendedores de todo tipo; em um lado, o
Al Quartiere Latino. [Gustavo Colline, il grande filosofo; Marcello, il grande pittore; Rodolfo, il grande poeta; e Schaunard, il grande musicista - come essi si chiamavano a vicenda - frequentavano regolarmente il Caffè Momus dove erano soprannominati: I quattro Moschettieri, perché indivisibili. Essi giungevano infatti e giuocavano e se ne andavano sempre insieme e spesso senza pagare il conto e sempre con un “accordo” degno dell’orchestra del Conservatorio. Madamigella Musetta era una bella ragazza di venti anni, molta civetteria, un pochino di ambizione e nessuna ortografia. Delizia delle cene del Quartiere Latino. Una perpetua alternativa di brougham bleu e di omnibus, di via Breda e di Quartiere Latino. - O che volete? - Di tanto in tanto ho bisogno di respirare l’aria di questa vita. La mia folle esistenza è come una canzone: ciascuno de’ miei amori è una strofa, - ma Marcello ne è il ritornello] Un crocicchio di vie che al largo prende forma di piazzale;
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Café Momus. Véspera de Natal. [Multidão grande e diversa; burgueses, soldados, domésticas, rapazes, meninas, estudantes, costureiras, guardas etc. À porta de suas lojas, os vendedores arrebentam a garganta de gritar, chamando a multidão de clientes. Separados nessa grande massa de gente, vagam Rodolfo e Mimì de um lado, Colline em uma loja de conserto de roupas; Schaunard, em uma loja de ferro-velho, compra um cachimbo e uma trompa; Marcello é levado pelo capricho das pessoas. Vários burgueses em uma mesa, do lado de fora do Café Momus. É noite. As lojas estão enfeitadas de lampiõezinhos e lanternas acesas; uma grande lanterna ilumina a entrada do Café]
botteghe, venditori di ogni genere; da un lato, il Caffè Momus. La vigilia di Natale. [Gran folla e diversa: borghesi, soldati, fantesche, ragazzi, bambine, studenti, sartine, gendarmi, ecc. Sul limitare delle loro botteghe i venditori gridano a squarciagola invitando la folla de’ compratori. Separati in quella gran calca di gente si aggirano Rodolfo e Mimì da una parte, Colline presso la bottega di una rappezzatrice; Schaunard ad una bottega di ferravecchi sta comperando una pipa e un corno; Marcello spinto qua e là dal capriccio della gente. Parecchi borghesi ad un tavolo fuori del Caffè Momus. È sera. Le botteghe sono adorne di lampioncini e fanali accesi; un grande fanale illumina l’ingresso al Caffè]
VENDEDORES [À porta de suas lojas, outros percorrendo a multidão e oferecendo suas mercadorias] Laranjas, tâmaras! Castanhas quentes! Brinquedos, crucifixos. Torrones! Chantilly! Caramelos! Torta! Tentilhões, pardais! Flores para as beldades!
VENDITORI [Sul limitare delle loro botteghe, altri aggirandosi tra la folla ed offrendo la propria merce] Aranci, datteri! Caldi i marroni! Ninnoli, croci. Torroni! Panna montata! Caramelle! La crostata! Fringuelli passeri! Fiori alle belle!
A MULTIDÃO [Estudantes, costureiras, burgueses e povo] Quanta gente! A correr! Que balbúrdia! Segure firme. Com licença. [Do café. Gritando e chamando os garçons, que vão e vêm, atarefados] Aqui, rápido! Garçom! Um copo! Corre! Cerveja! Bebida! Um café! VENDEDORES Leite de coco! Jaquetas! Cenouras! A MULTIDÃO [Afastando-se] Quanta gente, vamos embora! SCHAUNARD [Depois de tocar a trompa que pechinchou longamente com um vendedor de ferrovelho] Este ré está desafinado! Quanto custam a trompa e o cachimbo?
LA FOLLA [Studenti, sartine, borghesi e popolo] Quanta folla! Su, corriam! Che chiasso! Stringiti a me. Date il passo. [Dal caffè. Gridando e chiamando i camerieri che vanno e vengono affaccendati] Presto qua! Camerier! Un bicchier! Corri! Birra! Da ber! Un caffè! VENDITORI Latte di cocco! Giubbe! Carote! LA FOLLA [Allontanandosi] Quanta folla, su, partiam! SCHAUNARD [Dopo aver soffiato nel corno che ha contrattato a lungo con un venditore di ferravecchi] Falso questo Re!
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[Paga] COLLINE [Junto à costureira, que cerziu a aba de um grande capote] Um pouco usado... Mas é sério, e o preço está bom... [Paga, distribuindo equilibradamente entre os muitos bolsos do capote os livros que carrega] RODOLFO [De braço dado com Mimì, atravessa a multidão, rumo à loja da modista] Vamos. MIMÌ Vamos levar a touca? RODOLFO Agarre firme no meu braço... MIMÌ Estou agarrada... Vamos! [Entram na loja de uma modista]
Pipa e corno quant’è? [Paga] COLLINE [Presso la rappezzatrice che gli ha cucito la falda di uno zimarrone] Un poco usato... Ma è serio e a buon mercato... [Paga, poi distribuisce con giusto equilibrio i libri dei quali è carico nelle molte tasche dello zimarrone] RODOLFO [A braccio con Mimì, attraversa la folla avviato al negozio della modista] Andiamo. MIMÌ Andiamo per la cuffietta? RODOLFO Tienti al mio braccio stretta... MIMÌ A te mi stringo... Andiamo! [Entrano in una Bottega di modista]
MARCELLO [Solitário, em meio à aglomeração, com um embrulho debaixo do braço, olhando para as moças que a multidão praticamente joga em seus braços] Também estou com vontade de gritar: Moças alegres, quem quer um pouco de amor? Brinquemos juntos de vender e comprar!
MARCELLO [Tutto solo in mezzo alla folla, con un involto sotto il braccio, occhieggiando le donnine che la folla gli getta quasi fra le braccia] Io pur mi sento in vena di gridar: Chi vuol, donnine allegre, un po’ d’amor! Facciamo insieme a vendere ea comprar!
UM VENDEDOR Ameixas de Tours! [Entra um grupo de vendedoras]
UN VENDITORE Prugne di Tours! [Entra un gruppo di venditrici]
MARCELLO Por um soldo, dou meu coração virgem! [A garota se afasta, rindo]
MARCELLO Io dò ad un soldo il vergine mio cuor! [La ragazza si allontana ridendo]
SCHAUNARD [Dá uma volta em frente ao café Momus, enquanto aguarda os amigos: armado de seu enorme cachimbo e da trompa
SCHAUNARD [Va a gironzolare avanti al caffè Momus aspettandovi gli amici: intanto armato della enorme pipa e del corno da
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de caça, fita a multidão com curiosidade] Correndo entre empurrões e cabeçadas, a multidão se apressa e se diverte ao provar alegrias loucas, insatisfeitas... ALGUMAS VENDEDORAS Brinquedos, broches! Tâmaras e caramelos! VENDEDORES Flores para as beldades! COLLINE [Chega ao ponto de encontro, agitando triunfalmente um livro velho] Cópia rara, aliás única: a gramática rúnica! SCHAUNARD Homem honesto! MARCELLO [Chegando ao café Momus, grita para Schaunard e Colline] Vamos jantar! SCHAUNARD E COLLINE Rodolfo? MARCELLO Entrou em uma modista. RODOLFO [Saindo da modista com Mimì] Venha, os amigos estão esperando. VENDEDORES Chantilly! MIMÌ [Apontando para uma touca, que enverga graciosamente] Essa touca rosa me cai bem? [Marcello, Schaunard e Colline buscam uma mesa vaga ao ar livre, mas só há uma, ocupada por burgueses honestos. Os três amigos fulminam-os com olhares de desprezo, depois entram no café]
caccia guarda curiosamente la folla] Fra spintoni e testate accorrendo affretta la folla e si diletta nel provar gioie matte... insoddisfatte... ALCUNE VENDITRICI Ninnoli, spillette! Datteri e caramelle! VENDITORI Fiori alle belle! COLLINE [Se ne viene al ritrovo, agitando trionfalmente un vecchio libro] Copia rara, anzi unica: la grammatica Runica! SCHAUNARD Uomo onesto! MARCELLO [Arrivando al caffè Momus grida a Schaunard e Colline:] A cena! SCHAUNARD E COLLINE Rodolfo? MARCELLO Entrò da una modista. RODOLFO [Uscendo dalla modista insieme a Mimì] Vieni, gli amici aspettano. VENDITORI Panna montata! MIMÌ [Accennando ad una cuffietta che porta graziosamente] Mi sta bene questa cuffietta rosa? [Marcello, Schaunard e Colline cercano se vi fosse un tavolo libero fuori del caffè all’aria aperta, ma ve n’è uno solo ed è occupato da onesti borghesi. I tre amici li fulminano con occhiate sprezzanti, poi entrano nel caffè]
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MOLEQUES Leite de coco!
MONELLI Latte di cocco!
VENDEDORES Torta! Chantilly! [De dentro do café] Garçom! Um copo! Rápido! Licor de cereja!
VENDITORI Oh, la crostata! Panna montata! [Dall Caffè] Camerier! Un bicchier! Presto, olà! Ratafià!
RODOLFO [Para Mimì] Você é morena, e essa cor lhe cai bem.
RODOLFO [A Mimì] Sei bruna e quel color ti dona.
MIMÌ [Admirando o mostruário de uma loja] Belo colar de coral!
MIMÌ [Ammirando la bacheca di una bottega] Bel vezzo di corallo!
RODOLFO Tenho um tio milionário. Se o bom Deus o chamar, compro para você um colar ainda mais bonito! [Rodolfo e Mimì, em doce colóquio, dirigemse para o fundo do palco, perdendo-se na multidão. Numa loja, ao fundo, um vendedor sobe em uma cadeira e, com grandes gestos, oferece malharia, gorros noturnos, etc. Um grupo de rapazes corre ao redor da loja e prorrompe em alegres risadas]
RODOLFO Ho uno zio milionario. Se fa senno il buon Dio, voglio comprarti un vezzo assai più bel! [Rodolfo e Mimì, in dolce colloquio, si avviano verso il fondo della scena e si perdono nella folla. Ad una bottega del fondo un venditore monta su di una seggiola, con grandi gesti offre in vendita delle maglierie, dei berretti da notte, ecc. Un gruppo di ragazzi accorre intorno alla bottega e scoppia in allegre risate]
MOLEQUES [Rindo] Ah! Ah! Ah! Ah!
MONELLI [Ridendo] Ah! Ah! Ah! Ah!
COSTUREIRAS E ESTUDANTES [Correndo no fundo, perto dos moleques] [Rindo] Ah! Ah! Ah!...
SARTINE E STUDENTI [Accorrendo nel fondo presso i monelli] [Ridendo] Ah! Ah! Ah!...
BURGUESES Vamos seguir as pessoas! Meninas, fiquem atentas! Que barulho! Que multidão! Vamos pela rua Mazzarino! Estou sufocando, vamos embora! Veja, o café está perto! Vamos ao Momus! [Entram no café]
BORGHESI Facciam coda alla gente! Ragazze, state attente! Che chiasso! Quanta folla! Pigliam via Mazzarino! Io soffoco, partiamo! Vedi il Caffè è vicin! Andiamo là da Momus! [Entrano nel Caffè]
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VENDEDORES Laranjas, tâmaras, brinquedos, flores! [Muita gente entra de todos os lados e circula pela praça, depois se junta no fundo. Colline, Schaunard e Marcello saem do café carregando uma mesa; são seguidos por um garçom com cadeiras: os burgueses da mesa vizinha, perturbados pelo barulho dos três amigos, levantamse depois de um tempo e se vão. Voltam a avançar Rodolfo e Mimì, que observa um grupo de estudantes] RODOLFO [Com doce reprovação, a Mimì] Está olhando para quem? COLLINE Odeio o vulgo profano tanto quanto Horácio. MIMÌ [Para Rodolfo] Está com ciúmes? RODOLFO A suspeita acompanha o homem feliz. SCHAUNARD E eu, quando estou farto, quero abundância de espaço... MIMÌ [Para Rodolfo] Está feliz? MARCELLO [Para o garçom] Queremos um jantar excepcional. RODOLFO [Apaixonado, para Mimì] Ah, sim, muito! E você? MIMÌ Sim, muito! ESTUDANTES E COSTUREIRAS Lá para o Momus! Vamos!
VENDITORI Aranci, datteri, ninnoli, fior! [Molta gente entra da ogni parte e si aggira per il piazzale, poi si raduna nel fondo. Colline, Schaunard e Marcello escono dal caffè portando fuori una tavola; li segue un cameriere colle seggiole; i borghesi al tavolo vicino, infastiditi dal baccano che fanno i tre amici, dopo un po’ di tempo s’alzano e se ne vanno. S’avanzano di nuovo Rodolfo e Mimì, questa osserva un gruppo di studenti] RODOLFO [Con dolce rimprovero, a Mimì] Chi guardi? COLLINE Odio il profano volgo al par d’Orazio. MIMÌ [A Rodolfo] Sei geloso? RODOLFO All’uom felice sta il sospetto accanto. SCHAUNARD Ed io, quando mi sazio, vo’ abbondanza di spazio... MIMÌ [A Rodolfo] Sei felice? MARCELLO [Al cameriere] Vogliamo una cena prelibata. RODOLFO [Appassionato a Mimì] Ah, sì, tanto! E tu? MIMÌ Sì, tanto! STUDENTI E SARTINE Là da Momus! Andiamo!
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[Entram no café]
[Entrano nel caffè]
MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE [Para o garçom, que corre apressado dentro do café, enquanto um outro sai com tudo necessário para preparar a mesa] Rápido! [Rodolfo e Mimì se dirigem ao Café Momus]
MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE [Al cameriere, che corre frettoloso entro al Caffè, mentre un altro ne esce con tutto l’occorrente per preparare la tavola] Lesto! [Rodolfo e Mimì s’avviano al Caffè Momus]
PARPIGNOL [De dentro, ao longe] Chegaram os brinquedos de Parpignol! RODOLFO [Junta-se aos amigos, apresentando-lhes Mimì] Dois lugares. COLLINE Finalmente! RODOLFO Chegamos. Esta é Mimì, alegre florista. Sua chegada completa a bela companhia, porque eu sou o poeta, ela é a poesia. Do meu cérebro brotam os cantos, de seus dedos brotam as flores; das almas exultantes brota o amor. MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE [Rindo] Ah! Ah! Ah! Ah! MARCELLO [Irônico] Meu Deus, que ideias esquisitas! COLLINE [Solene, apontando para Mimì] É digna de entrar. SCHAUNARD [Com autoridade cômica] Que entre se for preciso.
PARPIGNOL [Interno, lontano] Ecco i giocattoli di Parpignol! RODOLFO [Si unisce agli amici e presenta loro Mimì] Due posti. COLLINE Finalmente! RODOLFO Eccoci qui Questa è Mimì, gaia fioraia. Il suo venir completa la bella compagnia, perché son io il poeta, essa la poesia. Dal mio cervel sbocciano i canti, dalle sue dita sbocciano i fior; dall’anime esultanti sboccia l’amor. MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE [Ridendo] Ah! Ah! Ah! Ah! MARCELLO [Ironico] Dio, che concetti rari! COLLINE [Solenne, accennando a Mimì] Digna est intrari. SCHAUNARD [Con autorità comica] Ingrediat si necessit.
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COLLINE Não dou mais que um acesso! [Sentam-se todos em volta da mesa, enquanto o garçom volta]
COLLINE Io non dò che un accessit! [Tutti siedono intorno al tavolo, mentre il cameriere ritorna]
PARPIGNOL [Pertíssimo] Chegaram os brinquedos de Parpignol!
PARPIGNOL [Vicinissimo] Ecco i giocattoli di Parpignol!
COLLINE [Ao ver o garçom grita, com ênfase:] Salame! [O garçom apresenta a lista da comida, que passa pelas mãos dos quatro amigos, examinada com uma espécie de admiração, e profundamente analisada. Da rua Delfim vem um carrinho de mão cheio de enfeites e flores, iluminado com bexigas; é empurrado por Parpignol, o popular vendedor de brinquedos; uma turba de meninos o segue, saltando alegremente, e cerca a carreta, admirando os brinquedos]
COLLINE [Vedendo il cameriere gli grida con enfasi:] Salame! [Il cameriere presenta la lista delle vivande, che passa nelle mani dei quattro amici, guardata con una specie di ammirazione e analizzata profondamente. Da via Delfino sbocca un carretto tutto a fronzoli e fiori, illuminato a palloncini: chi lo spinge è Parpignol, il popolare venditore di giocattoli; una turba di ragazzi lo segue saltellando allegramente e circonda il carretto ammirandone i giocattoli]
MENINAS E MENINOS [De dentro] Parpignol, Parpignol! [No palco] Olha o Parpignol, Parpignol! Com o carrinho todo florido! É o Parpignol, Parpignol! Quero o trompete, o cavalinho, o tambor, o pandeiro... Quero o canhão, quero o chicote, … o pelotão de soldados! SCHAUNARD Veado assado! MARCELLO [Examinando o cardápio e pedindo ao garçom, em voz alta] Um peru! SCHAUNARD Vinho do Reno! COLLINE Vinho de mesa!
BAMBINE E RAGAZZI [Interno] Parpignol, Parpignol! [In scena] Ecco Parpignol, Parpignol! Col carretto tutto fior! Ecco Parpignol, Parpignol! Voglio la tromba, il cavallin, il tambur, tamburel... Voglio il cannon, voglio il frustin, ... dei soldati il drappel. SCHAUNARD Cervo arrosto! MARCELLO [Esaminando la carta ed ordinando ad alta voce al cameriere] Un tacchino! SCHAUNARD Vin del Reno! COLLINE Vin da tavola!
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SCHAUNARD Lagosta sem casca! [Meninas e meninos, cercando o carrinho de Parpignol, gesticulam com grande vivacidade; um grupo de mães vem buscar os meninos e, encontrando-os em volta de Parpignol, ralham com eles; uma pega o filho pela mão e outra tenta levar embora a filha, ameaçando e gritando inutilmente; meninas e meninos não querem ir embora]
SCHAUNARD Aragosta senza crosta! [Bambine e ragazzi, attorniato il carretto di Parpignol, gesticolano con gran vivacità; un gruppo di mamme accorre in cerca dei ragazzi e, trovandoli intorno a Parpignol, si mettonoa sgridarli; l’una prende il figliolo per una mano, un’altra vuole condur via la propria bambina, chi minaccia, chi sgrida, ma inutilmente, ché bambine e ragazzi non vogliono andarsene]
MÃES [Berrando e ameaçando] Ah! Seus malandros endiabrados, o que vieram fazer nesse lugar? Para casa, para a cama! Vamos embora, seus feiosos desajeitados, ou as palmadas vão parecer poucas! Para casa, para a cama, seus malandros, para a cama! [Uma mãe pega pela orelha um menino, que se põe a choramingar]
MAMME [Strillanti e minaccianti] Ah! Razza di furfanti indemoniati, che ci venite a fare in questo loco? A casa, a letto! Via, brutti sguaiati, gli scappellotti vi parranno poco! A casa, a letto, razza di furfanti, a letto! [Una mamma prende per un orecchio un ragazzo il quale si mette a piagnucolare]
UM MENINO [Choramingando] Quero o trompete, o cavalinho! [Enternecidas, as mães decidem comprar de Parpignol; as crianças pulam de alegria, apoderando-se dos brinquedos. Parpignol parte pela rua Comédia. Meninos e meninas seguem-no com alegria, marchando e fingindo tocar os instrumentos infantis recém-adquiridos]
UN RAGAZZO [Piagnucolando] Vo’ la tromba, il cavallin!... [Le mamme, intenerite, si decidono a comperare da Parpignol, i ragazzi saltano di gioia, impossessandosi dei giocattoli. Parpignol prende giù per via Commedia. I ragazzi e le bambine allegramente lo seguono, marciando e fingendo di suonare gli strumenti infantili acquistati loro]
RODOLFO E você, Mimì, o que quer?
RODOLFO E tu, Mimì, che vuoi?
MIMÍ Creme.
MIMÌ La crema.
SCHAUNARD [Com extrema autoridade para o garçom, que anota os pedidos] E muita pompa. Há uma dama entre nós!
SCHAUNARD [Con somma importanza al cameriere, che prende nota di quanto gli viene ordinato] E gran sfarzo. C’è una dama!
MENINAS E MENINOS Viva Parpignol, Parpignol! [De dentro] O tambor! O pandeiro! [Mais ao longe]
BAMBINE E RAGAZZI Viva Parpignol, Parpignol! [Interno] Il tambur! Tamburel! [Più lontano]
66 Theatro Municipal de São Paulo
O pelotão de soldados!
Dei soldati il drappel!
MARCELLO [Prosseguindo a conversa] Senhorita Mimì, que presente raro o seu Rodolfo lhe deu?
MARCELLO [Come continuando il discorso] Signorina Mimì, che dono raro le ha fatto il suo Rodolfo?
MIMÌ [Mostrando a touca, que tira de um embrulho] Uma touca de renda, toda rosa, bordada; combina bem com meus cabelos morenos. Desejo a touca há tanto tempo! E ele leu o que meu coração escondia... Quem lê dentro de um coração conhece o amor, e é... leitor.
MIMÌ [Mostrando una cuffietta che toglie da un involto] Una cuffietta a pizzi, tutta rosa, ricamata; coi miei capelli bruni ben si fonde. Da tanto tempo tal cuffietta è cosa desiata!... Egli ha letto quel che il core asconde... Ora colui che legge dentro a un cuore sa l’amore ed è... lettore.
SCHAUNARD Perito professor... COLLINE [Complementando a ideia de Schaunard] … que já tem diplomas, e cujas rimas não são as primeiras armas...
SCHAUNARD Esperto professore... COLLINE [Seguitando l’idea di Schaunard] ... che ha già diplomi e non son armi prime le sue rime...
SCHAUNARD [Interrompendo] … tanto que até parece verdade o que ele diz!
SCHAUNARD [Interrompendo] ... tanto che sembra ver ciò ch’egli esprime!
MARCELLO [Olhando para Mimì] Oh bela idade de enganos e utopias! Há fé, esperança, e tudo parece belo!
MARCELLO [Guardando Mimì] O bella età d’inganni e d’utopie! Si crede, spera, e tutto bello appare!
RODOLFO A mais divina das poesias, meu amigo, é a que ensina a amar!
RODOLFO La più divina delle poesie è quella, amico, che c›insegna amare!
MIMÌ Amar é mais doce que o mel...
MIMÌ Amare è dolce ancora più del miele...
MARCELLO [Zangado] … de acordo com o gosto, é mel ou fel!
MARCELLO [Stizzito] ... secondo il palato è miele, o fiele!
MIMÌ [Surpresa, para Rodolfo] Meu Deus! Eu o ofendi!
MIMÌ [Sorpresa, a Rodolfo] O Dio! L’ho offeso!
67 La Bohème
RODOLFO Ele está de luto, minha Mimì.
RODOLFO È in lutto, o mia Mimì.
SCHAUNARD E COLLINE [Para mudar o assunto] Alegria e um brinde!
SCHAUNARD E COLLINE [Per cambiare discorso] Allegri, e un toast!
MARCELLO [Ao garçom] Traga licor!
MARCELLO [Al cameriere] Qua del liquor!
MIMÌ, RODOLFO E MARCELLO [Levantando-se] Fora pensamentos, copos para cima! Bebamos!
MIMÌ, RODOLFO E MARCELLO [Alzandosi] E via i pensier, alti i bicchier! Beviam!
TODOS Bebamos!
TUTTI Beviam!
MARCELLO [Interrompendo, por ter visto Musetta ao longe] Vou beber veneno! [Deixa-se cair na cadeira. Na esquina da rua Mazzarino aparece uma belíssima senhora de ar namorador e alegre, e sorriso provocante. Segue-a um senhor pomposo, cheio de pretensões nos trajes, nos modos, na pessoa]
MARCELLO [Interrompendo, perché ha veduto da lontano Musetta] Ch’io beva del tossico! [Si lascia cadere sulla sedia. All’angolo di via Mazzarino appare una bellissima signora dal fare civettuolo ed allegro, dal sorriso provocante. Le vien dietro un signore pomposo, pieno di pretensione negli abiti, nei modi, nella persona]
RODOLFO, SCHAUNARD E COLLINE [Com surpresa, vendo Musetta] Oh!
RODOLFO, SCHAUNARD E COLLINE [Con sorpresa, vedendo Musetta] Oh!
MARCELLO Ela!
MARCELLO Essa!
RODOLFO, SCHAUNARD E COLLINE Musetta!
RODOLFO, SCHAUNARD E COLLINE Musetta!
LOJISTAS [Vendo Musetta] Olha! Ela! Sim! Olha! Ela! Musetta! Está no auge! Que belo traje!
BOTTEGAIE [Vedendo Musetta] To’! - Lei! - Sì! - To’! - Lei! - Musetta! Siamo in auge! - Che toeletta!
ALCINDORO [Ofegante] Como um carregador... correr para cá... para lá... Não! Não! Não dá...
ALCINDORO [Trafelato] Come un facchino... correr di qua... di là... No! No! non ci sta...
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Não aguento mais!
non ne posso più!
MUSETTA [Com passos rápidos, olhando para lá e para cá como se procurasse alguém, enquanto Alcindoro a segue, bufando e zangado] [Chamando-o, como um cachorrinho] Vem, Lulu! Vem, Lulu!
MUSETTA [Con passi rapidi, guardando qua e là come in cerca di qualcuno, mentre Alcindoro la segue, sbuffando e stizzito] [Chiamandolo come un cagnolino] Vien, Lulù! Vien, Lulù!
SCHAUNARD Esse tipo feio parece estar suando! [Musetta vê a mesa dos amigos em frente ao Café Momus e manda Alcindoro se sentar na mesa liberada pelos burgueses, pouco antes] ALCINDORO [Para Musetta] Como? Aqui fora? Aqui! MUSETTA Senta, Lulu! ALCINDORO [Senta, irritado, erguendo a gola do sobretudo e resmungando] Peço que por favor reserve esses apelidos para a intimidade! [Um garçom se aproxima e prepara a mesa]
SCHAUNARD Quel brutto coso mi par che sudi! [Musetta vede la tavolata degli amici innanzi al Caffè Momus ed indica ad Alcindoro di sedersi al tavolo lasciato libero poco prima dai borghesi] ALCINDORO [A Musetta] Come! qui fuori? Qui? MUSETTA Siedi, Lulù! ALCINDORO [Siede irritato, alzando il bavero del suo pastrano e borbottando] Tali nomignoli, prego, serbateli al tu per tu! [Un cameriere si avvicina e prepara la tavola]
MUSETTA Não dê uma de Barba Azul! [Senta-se à mesa, virada para o café]
MUSETTA Non farmi il Barbablù! [Siede anch’essa al tavolo rivolta verso il caffè]
COLLINE [Examinando o velho] É o vício reservado...
COLLINE [Esaminando il vecchio] È il vizio contegnoso...
MARCELLO [Com desprezo] Com a casta Susana!
MARCELLO [Con disprezzo] Colla casta Susanna!
MIMÌ [Para Rodolfo]
MIMÌ [A Rodolfo]
69 La Bohème
Pois está bem vestida!
È pur ben vestita!
RODOLFO Os anjos andam pelados.
RODOLFO Gli angeli vanno nudi.
MIMÌ [Com curiosidade] Você a conhece! Quem é?
MIMÌ [Con curiosità] La conosci! Chi è?
MARCELLO [Para Mimì] Pergunte para mim. Seu nome é Musetta; sobrenome: tentação Sua vocação é de rosa dos ventos gira e muda o tempo todo de amante e de amor. Como a coruja é uma ave sanguinária; seu alimento ordinário é o coração... Devora o coração! Por isso, não tenho mais coração... Passem-me o molho!
MARCELLO [A Mimì] Domandatelo a me. Il suo nome è Musetta; cognome: Tentazione! Per sua vocazione fa la Rosa dei venti; gira e muta soventi e d’amanti e d’amore. E come la civetta è uccello sanguinario; il suo cibo ordinario è il cuore... Mangia il cuore! Per questo io non ne ho più... Passatemi il ragù!
MUSETTA [Abalada ao ver que os amigos não estão olhando para ela] Marcello me viu... Não está olhando para mim, o malvado! [Cada vez mais zangada] E esse Schaunard dando risada! Todos eles me dão uma raiva! Ah, se eu pudesse bater, se eu pudese arranhar! Mas à mão, aqui, eu só tenho esse pelicano! Espera! [Gritando] Ei! Garçom! [O garçom vem: Musetta pega um prato e cheira] Garçom! Esse prato fede a requentado! [Joga o prato no chão com força; o garçom se apressa a recolher os cacos]
MUSETTA [Colpita nel vedere che gli amici non la guardano] Marcello mi vide... Non mi guarda, il vile! [Sempre più stizzita] Quel Schaunard che ride! Mi fan tutti una bile! Se potessi picchiar, se potessi graffiar! Ma non ho sottomano che questo pellican! Aspetta! [Gridando] Ehi! Camerier! [Il cameriere accorre: Musetta prende un piatto e lo fiuta] Cameriere! Questo piatto ha una puzza di rifritto! [Getta il piatto a terra con forza, il cameriere si affretta a raccogliere i cocci]
ALCINDORO [Detendo-a] Não, Musetta...
ALCINDORO [Frenandola] No, Musetta...
70 Theatro Municipal de São Paulo
Calma! Calma!
Zitta zitta!
MUSETTA [Vendo que Marcello não se volta] (Não se volta)
MUSETTA [Vedendo che Marcello non si volta] (Non si volta)
ALCINDORO [Com desespero cômico] Calma! Calma! Calma! Tenha modos, educação!
ALCINDORO [Con comica disperazione] Zitta! Zitta! Zitta! Modi, garbo!
MUSETTA (Ah, não se volta!)
MUSETTA (Ah, non si volta!)
ALCINDORO Está falando com quem?
ALCINDORO A chi parli?...
COLLINE Esse frango é um poema!
COLLINE Questo pollo è un poema!
MUSETTA [Raivosa] (Eu bato, eu bato!)
MUSETTA [Rabbiosa] (Ora lo batto, lo batto!)
ALCINDORO Está falando com quem?
ALCINDORO Con chi parli?...
SCHAUNARD O vinho é excepcional.
SCHAUNARD Il vino è prelibato.
MUSETTA [Irritada] Com o garçom! Não me irrite! Quero fazer o que me der na telha...
MUSETTA [Seccata] Al cameriere! Non seccar! Voglio fare il mio piacere....
ALCINDORO Fala baixo fala baixo! [Pega o cardápio com o garçom e começa a pedir o jantar]
ALCINDORO Parla pian parla pian! [Prende la nota del cameriere e si mette ad ordinare la cena]
MUSETTA Quero fazer o que me der na telha. Não me irrite.
MUSETTA Vo’ far quel che mi pare! Non seccar.
COSTUREIRAS [Atravessando o palco, param um momento, olhando para Musetta] Olha, olha quem está aí,
SARTINE [Attraversando la scena, si arrestano un momento vedendo Musetta] Guarda, guarda chi si vede,
71 La Bohème
é ela mesma, Musetta!
proprio lei, Musetta!
ESTUDANTES [Atravessando o palco] Com aquele velho que gagueja...
STUDENTI [Attraversando la scena] Con quel vecchio che balbetta...
COSTUREIRAS E ESTUDANTES … é ela mesma, Musetta! [Rindo] Ah, ah, ah, ah!
SARTINE E STUDENTI ... proprio lei, Musetta! [Ridendo] Ah, ah, ah, ah!
MUSETTA (Será que ele está com ciúmes dessa múmia?)
MUSETTA (Che sia geloso di questa mummia?)
ALCINDORO [Interrompendo o pedido para acalmar Musetta, que segue agitada] A compostura... a situação... a virtude... MUSETTA (Vejamos se ainda tenho poder para fazê-lo ceder!) SCHAUNARD A comédia é estupenda! MUSETTA [Olhando para Marcello, em voz alta] Você não olha para mim! ALCINDORO [Achando que Musetta lhe dirigiu a palavra, alegra-se e lhe responde, com gravidade:] Você está vendo que eu estou fazendo o pedido! SCHAUNARD A comédia é estupenda! COLLINE Estupenda RODOLFO [Para Mimì] Fique sabendo, para o seu governo, que eu jamais perdoaria.
ALCINDORO [Interrompendo le sue ordinazioni, per calmare Musetta che continua ad agitarsi] La convenienza... il grado... la virtù... MUSETTA (Vediam se mi resta tanto poter su lui da farlo cedere!) SCHAUNARD La commedia è stupenda! MUSETTA [Guardando Marcello, a voce alta] Tu non mi guardi! ALCINDORO [Credendo che Musetta gli abbia rivolto la parola, se ne compiace e le risponde gravemente] Vedi bene che ordino!... SCHAUNARD La commedia è stupenda! COLLINE Stupenda! RODOLFO [A Mimì] Sappi per tuo governo che non darei perdono in sempiterno.
72 Theatro Municipal de São Paulo
SCHAUNARD Ela fala com um para ser escutada pelo outro.
SCHAUNARD Essa all’un parla perché l’altro intenda.
MIMÌ [Para Rodolfo] Eu te amo tanto, e sou toda sua! De que perdão está falando?
MIMÌ [A Rodolfo] Io t’amo tanto, e son tutta tua!... Ché mi parli di perdono?
COLLINE [Para Schaunard] E o outro, cruel, finge que não entende, mas saboreia como se fosse mel.
COLLINE [A Schaunard] E l’altro invan crudel... finge di non capir, ma sugge miel!...
MUSETTA [Como acima] Mas o seu coração está martelando!
MUSETTA [Come sopra] Ma il tuo cuore martella!
ALCINDORO Fale baixo.
ALCINDORO Parla piano.
MUSETTA [Sempre sentada, dirigindo-se intencionalmente a Marcello, que começa a se agitar] Quando eu vou sozinha pela rua, as pessoas param e olham, procurando a minha beleza da cabeça até os pés...
MUSETTA [Sempre seduta dirigendosi intenzionalmente a Marcello, il quale comincia ad agitarsi] Quando men vo soletta per la via, la gente sosta e mira e la bellezza mia tutta ricerca in me da capo a pie’...
MARCELLO [Aos amigos, com voz sufocada] Amarrem-me na cadeira! ALCINDORO [Tenso] O que as pessoas vão dizer? MUSETTA ...daí eu saboreio o desejo sutil, que transpira dos olhos, e que sabe deduzir dos encantos visíveis as belezas ocultas. Assim o eflúvio do desejo me assalta e me faz feliz! ALCINDORO [Aproxima-se de Musetta, tentando fazê-la silenciar]
MARCELLO [Agli amici, con voce soffocata] Legatemi alla seggiola! ALCINDORO [Sulle spine] Quella gente che dirà? MUSETTA ... ed assaporo allor la bramosia sottil, che da gli occhi traspira e dai palesi vezzi intender sa alle occulte beltà. Così l’effluvio del desìo tutta m’aggira, felice mi fa! ALCINDORO [Si avvicina a Musetta, cercando di farla tacere] Quel canto scurrile
73 La Bohème
Essa canção indecente remexe a minha bílis! MUSETTA E você, o que sabe, o que lembra que lhe destroi e o faz fugir de mim? Eu sei bem: você não quer expressar as suas angústias, mas se sente morrer! MIMÌ [Para Rodolfo] Estou vendo bem... Aquela coitadinha, completamente apaixonada por Marcel, está completamente apaixonada! [Schaunard e Colline se levantam e ficam de lado, observando a cena com curiosidade, enquanto Rodolfo e Mimì ficam sozinhos, sentados, falando-se com ternura. Marcello, cada vez mais nervoso, sai do lugar, querendo ir embora, mas não consegue resistir à voz de Musetta] ALCINDORO O que as pessoas vão dizer? RODOLFO [Para Mimì] Marcello amou-a um dia. SCHAUNARD Ah, Marcello cederá! COLLINE Quem sabe o que vai acontecer? RODOLFO [Para Mimì] A leviana abandonou-o para levar uma vida melhor. [Alcindoro tenta inutilmente persuadir Musetta a voltar à mesa, onde o jantar já está pronto] SCHAUNARD Ambos gostam da armadilha...
mi muove la bile! MUSETTA E tu che sai, che memori e ti struggi da me tanto rifuggi? So ben: le angoscie tue non le vuoi dir, ma ti senti morir! MIMÌ [A Rodolfo] Io vedo ben... Che quella poveretta, tutta invaghita di Marcel, tutta invaghita ell’è! [Schaunard e Colline si alzano e si portano da un lato, osservando la scena con curiosità, mentre Rodolfo e Mimì rimangon soli, seduti, parlandosi con tenerezza. Marcello, sempre più nervoso ha lasciato il suo posto, vorrebbe andarsene, ma non sa resistere alla voce di Musetta] ALCINDORO Quella gente che dirà? RODOLFO [A Mimì] Marcello un dì l’amò. SCHAUNARD Ah, Marcello cederà! COLLINE Chi sa mai quel che avverrà! RODOLFO [A Mimì] La fraschetta l’abbandonò per poi darsi a miglior vita. [Alcindoro tenta inutilmente di persuadere Musetta a riprendere posto alla tavola, ove la cena è già pronta] SCHAUNARD Trovan dolce al pari il laccio...
74 Theatro Municipal de São Paulo
COLLINE Santo Deus, numa briga dessas...
COLLINE Santi numi, in simil briga...
SCHAUNARD … tanto quem arma quanto quem cai.
SCHAUNARD ... chi lo tende e chi ci dà.
COLLINE … Colline jamais vai cair!
COLLINE ... mai Colline intopperà!
MUSETTA (Ah! Marcello está inquieto...)
MUSETTA (Ah! Marcello smania...)
ALCINDORO Fale baixo! Silêncio, silêncio!
ALCINDORO Parla pian! Zitta, zitta!
MUSETTA [...Marcello está derrotado!] Sei bem que você não quer expressar as suas angústas. Ah! Mas você se sente morrer.
MUSETTA [Marcello è vinto!] Sò ben le angoscie tue non le vuoi dir. Ah! Ma ti senti morir.
ALCINDORO Tenha modos, educação! Silêncio, silêncio!
ALCINDORO Modi, garbo! Zitta, zitta!
MUSETTA [A Alcindoro, rebelando-se] Quero fazer o que me der na telha! O que me der na telha, não me irrite! Não me irrite!
MUSETTA [Ad Alcindoro, ribellandosi] Io voglio fare il mio piacere! Voglio far quel che mi par, non seccar! Non seccar!
MIMÌ Essa infeliz me dá pena!
MIMÌ Quell’infelice mi muove a pietà!
COLLINE (Ela é bela, não estou cego, mas gosto muito mais de um cachimbo e um texto grego!)
COLLINE (Essa è bella, io non son cieco, ma piaccionmi assai più una pipa e un testo greco!)
MIMÌ [Estreitando-se contra Rodolfo] Eu te amo! Essa infeliz me dá pena! O amor que não é generoso é triste! Essa infeliz me dá pena!
MIMÌ [Stringendosi a Rodolfo] T’amo! Quell’infelice mi muove a pietà! L’amor ingeneroso è tristo amor! Quell’infelice mi muove a pietà!
RODOLFO [Toma Mimì nos braços, arrebatado]
RODOLFO [Cingendo Mimì alla vita]
75 La Bohème
Mimì! O amor que não sabe vingar as ofensas é fraco! Amor extinto não ressurge!
Mimì! È fiacco amor quel che le offese vendicar non sa! Non risorge spento amor!
SCHAUNARD (O fanfarrão vai ceder em instantes! A comédia é estupenda! Marcello cederá!) [A Colline] Se uma pessoa tão linda lhe concedesse a intimidade você mandaria a Belzebu essa sua ciência resmungona!
SCHAUNARD (Quel bravaccio a momenti cederà! Stupenda è la commedia! Marcello cederà!) [A Colline] Se tal vaga persona, ti trattasse a tu per tu, la tua scienza brontolona manderesti a Belzebù!
MUSETTA (Agora tenho que me livrar do velho!) [Simulando forte dor no pé, senta-se novamente] Ai!
MUSETTA (Or convien liberarsi del vecchio!) [Simulando un forte dolore ad un piede, va di nuovo a sedersi] Ahi!
ALCINDORO O que é?
ALCINDORO Che c’è?
MUSETTA Que dor, que queimação!
MUSETTA Qual dolore, qual bruciore!
ALCINDORO Onde? [Inclina-se para desafivelar o sapato de Musetta]
ALCINDORO Dove? [Si china per slacciare la scarpa a Musetta]
MUSETTA [Mostrando o pé, com coqueteria] No pé! Solte, desate, rompa, rasgue! Eu imploro... Lá embaixo tem um sapateiro. ALCINDORO Imprudente! MARCELLO [Extremamente comovido, avançando] Minha juventude, você não morreu, nem morreu a sua recordação! SCHAUNARD E COLLINE, DEPOIS RODOLFO A comédia é estupenda!
MUSETTA [Mostrando il piede con civetteria] Al pie’! Sciogli, slaccia, rompi, straccia! Te ne imploro... Laggiù c’è un calzolaio. ALCINDORO Imprudente! MARCELLO [Commosso sommamente, avanzandosi] Gioventù mia, tu non sei morta, né di te morto è il sovvenir! SCHAUNARD E COLLINE, POI RODOLFO La commedia è stupenda!
76 Theatro Municipal de São Paulo
MARCELLO Se você batesse na minha porta, meu coração é que iria abrir!
MARCELLO Se tu battessi alla mia porta, t’andrebbe il mio core ad aprir!
MUSETTA Corre logo! Quero um outro par! Ai! Que ferida! Maldito sapato apertado!
MUSETTA Corri presto! Ne vòglio un altro paio. Ahi! che fitta, maledetta scarpa stretta!
ALCINDORO O que as pessoas vão dizer?
ALCINDORO Quella gente che dirà?
MUSETTA Vou tirá-lo... [Tira o sapato, que coloca em cima da mesa]
MUSETTA Or la levo... [Si leva la scarpa e la pone sul tavolo]
ALCINDORO [Tentando deter Musetta] Mas a minha posição! MUSETTA Está aqui. MIMÌ Vejo bem que ela está apaixonada por Marcello! ALCINDORO Você quer me comprometer? Espera! Musetta! Eu vou! [Esconde prontamente o sapato de Musetta na jaqueta, depois abotoa o casaco] MUSETTA [Impacientando-se] Corra, vá, corra. Logo! Vá! Vá! [Alcindoro parte apressado. Musetta e Marcello se abraçam com grande entusiasmo] MUSETTA Marcello! MARCELLO Minha sereia!
ALCINDORO [Cercando di trattenere Musetta] Ma il mio grado! MUSETTA Eccola qua. MIMÌ Io vedo ben ell’è invaghita di Marcello! ALCINDORO Vuoi ch’io comprometta? Aspetta! Musetta! Vo’. [Nasconde prontamente nel gilet la scarpa di Musetta, poi si abbottona l’abito] MUSETTA [Impazientandosl] Corri, va, corri. Presto! Va! Va! [Alcindoro va via frettolosamente. Musetta e Marcello si abbracciano con grande entusiasmo] MUSETTA Marcello! MARCELLO Sirena!
77 La Bohème
SCHAUNARD Estamos na última cena! [Um garçom traz a conta]
SCHAUNARD Siamo all’ultima scena! [Un cameriere porta il conto]
RODOLFO, SCHAUNARD E COLLINE [Com surpresa, levantando-se com Mimì] A conta?
RODOLFO, SCHAUNARD E COLLINE [Con sorpresa alzandosi assieme a Mimì] Il conto?
SCHAUNARD Tão rápido?
SCHAUNARD Così presto?
COLLINE Quem pediu?
COLLINE Chi l’ha richiesto?
SCHAUNARD [Para o garçom] Vejamos! [Depois de examinar a conta, passa-a para os amigos]
SCHAUNARD [Al cameriere] Vediam! [Dopo guardato il conto, lo passa agli amici]
RODOLFO E COLLINE [Observando a conta] Que caro! [Bem ao longe, ouve-se a retirada militar, que vai se aproximando, pouco a pouco] MOLEQUES [Vindo da direita] A retirada! COSTUREIRAS E ESTUDANTES [Saem apressados do Café Momus] A retirada! COLLINE, SCHAUNARD E RODOLFO [Apalpando os bolsos vazios] O dinheiro já era! SCHAUNARD Colline, Rodolfo, e você, Marcel? MARCELLO Estamos na lona. SCHAUNARD Como? RODOLFO Ao todo, tenho trinta soldos!
RODOLFO E COLLINE [Osservando il conto] Caro! [Lontanissima si ode la Ritirata militare che a poco a poco va avvicinandosi] MONELLI [Accorrendo da destra] La Ritirata! SARTINE E STUDENTI [Sortono frettolosamente dal Caffè Momus] La Ritirata! COLLINE, SCHAUNARD E RODOLFO [Tastandosi le tasche vuote] Fuori il danaro! SCHAUNARD Colline, Rodolfo e tu Marcel? MARCELLO Siamo all’asciutto SCHAUNARD Come? RODOLFO Ho trenta soldi in tutto!
78 Theatro Municipal de São Paulo
COLLINE, SCHAUNARD E MARCELLO [Chocados] Como? Não tem mais?
COLLINE, SCHAUNARD E MARCELLO [Allibiti] Come? Non ce n’è più?
SCHAUNARD [Terrível] Mas cadê o meu tesouro? [Levam as mãos aos bolsos: ninguém sabe explicar o rápido sumiço dos escudos de Schaunard. Surpresos, entreolham-se]
SCHAUNARD [Terribile] Ma il mio tesoro ov’è? [Portano le mani alle tasche: sono vuote: nessuno sa spiegarsi la rapida scomparsa degli scudi di Schaunard sorpresi si guardano l’un l’altro]
MUSETTA [Para o garçom] Dê-me a minha conta. [Ao garçom que lhe mostra a conta] Muito bem! Some logo esta e aquela! [O garçom une as duas contas e faz a soma] Paga o senhor que estava aqui comigo!
MUSETTA [Al cameriere] Il mio conto date a me. [Al cameriere che le mostra il conto] Bene! Presto, sommate quello con questo! [Il cameriere unisce i due conti e ne fa la somma] Paga il signor che stava qui con me!
RODOLFO, MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE [Acenando na direção que Alcindoro foi. Entre si, comicamente] Paga o senhor!
RODOLFO, MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE [Accennando dalla parte dove è andato Alcindoro. Fra lor comicamente] Paga il signor!
COLLINE Paga o senhor!
COLLINE Paga il signor!
SCHAUNARD Paga o senhor!
SCHAUNARD Paga il signor!
MARCELLO … o senhor!
MARCELLO ... il Signor!
MUSETTA [Recebe as duas contas do garçom e as colocas na mesa, no lugar de Alcindoro] E onde estava sentado vai encontrar minha saudação!
MUSETTA [Ricevuti i due conti dal cameriere li pone sul tavolo al posto di Alcindoro] E dove s’è seduto ritrovi il mio saluto!
RODOLFO, MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE E onde estava sentado vai encontrar a minha saudação!
RODOLFO, MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE E dove s’è seduto ritrovi il mio saluto!
[Vindas da esquerda, com a retirada ainda ao longe, as pessoas correm de um lado para outro do palco, vendo de qual lado chegarão os militares]
[Accorrendo da sinistra, la Ritirata essendo ancor lontana, la gente corre da un lato all’altro della scena guardando da quale via s’avanzano i militari]
79 La Bohème
BURGUESES A retirada!
BORGHESI La Ritirata!
MOLEQUES [Tentando se orientar] Está vindo de onde?
MONELLI [Cercando di orientarsi] S’avvicina per di qua!?
COSTUREIRAS E ESTUDANTES Não, de lá!
SARTINE E STUDENTI No, di là!
MOLEQUES [Indecisos, indicando o lado oposto] Estão vindo de lá!
MONELLI [Indecisi, indicando il lato opposto] S’avvicinan per di là!
COSTUREIRAS E ESTUDANTES Estão vindo de lá! [Abrem-se várias janelas, aparecendo no balcão mães com meninos, que ansiosamente olham de onde vem a retirada]
SARTINE E STUDENTI Vien di qua! [Si aprono varie finestre, appaiono a queste e sui balconi mamme coi loro ragazzi ed ansiosamente guardano da dove arriva la Ritirata]
BURGUESES E VENDEDORES [Irrompem do fundo, abrindo caminho entre a multidão] Licença! Licença!
BORGHESI E VENDITORI [Irrompono dal fondo facendosi strada tra la folla] Largo! Largo!
MENINOS [Alguns, das janelas] Quero ver! Quero ouvir! Mamãe, quero ver! Papai, quero ouvir! Quero ver a retirada!
RAGAZZI [Alcuni dalle finestre] Voglio veder! Voglio sentir! Mamma, voglio veder! Papà, voglio sentir! Vo’ veder la Ritirata!
MÃES [Algumas, das janelas] Lisetta, fique calada! Tonio, pare com isso! Fique calado, pare com isso! [A multidão invade o palco; a retirada se aproxima, pela esquerda]
MAMME [Alcune, dalle finestre] Lisetta, vuoi tacer? Tonio, la vuoi finir? Vuoi tacer, la vuoi finir? [La folla ha invaso tutta la scena, la Ritirata si avvicina sempre più dalla sinistra]
COSTUREIRAS E BURGUESES Estão vindo por aqui!
SARTINE E BORGHESI S’avvicinano di qua!
MULTIDÃO E VENDEDORES Sim, por aqui!
LA FOLLA E I VENDITORI Sì, di qua!
MOLEQUES Quando chegar iremos atrás dela!
MONELLI Come sarà arrivata la seguiremo al passo!
80 Theatro Municipal de São Paulo
MARCELLO A retirada está chegando!
MARCELLO Giunge la Ritirata!
MARCELLO E COLLINE Que o velho não nos veja A fugir com sua presa!
MARCELLO E COLLINE Che il vecchio non ci veda fuggir colla sua preda!
MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINEA A multidão cerrada será nosso esconderijo!
MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE Quella folla serrata il nascondiglio appresti!
MIMÌ, MUSETTA, RODOLFO, MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE Rápido, rápido, rápido!
MIMÌ, MUSETTA, RODOLFO, MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE Lesti, lesti, lesti!
VENDEDORES [Depois de fechar as lojas, saem à rua] Nesse rufar se escuta a majestade da pátria! [Todos olham para a esquerda; a retirada está para entrar na praça; a multidão recua e, dividindo-se, forma duas alas – à esquerda, ao fundo, e à direita -, enquanto os amigos, com Musetta e Mimì,formam grupo à parte, perto do café]
VENDITORI [Dopo aver chiuso le botteghe, vengono in strada] In quel rullio tu senti la patria maestà! [Tutti guardano verso sinistra, la Ritirata sta per sbucare nel crocicchio, allora la folla si ritira e dividendosi forma due ali da sinistra al fondo a destra, mentre gli amici con Musetta e Mimì - fanno gruppo a parte presso il caffè]
A MULTIDÃO Licença, licença, eles chegaram! Em fila! [A retirada militar entra da esquerda, precedida por um Tambor-Mor gigantesco, manejando com destreza e solenindade seu Bastão de Comando, indicando o caminho a percorrer] MULTIDÃO E VENDEDORES Eis o Tambor-Mor! Mais orgulhoso que um guerreiro antigo! O Tambor-Mor! Olá, Sapadores! A retirada chegou! Olhem! O belo Tambor-Mor! O bastão de ouro, todo esplendor! Que olha, passa, vai! [A retirada atravessa o palco, dirgindose para o fundo, à direita. Não podendo caminhar, por só ter um pé calçado, Musetta é erguida nos braços por Macello e Colline, que rompem as filas dos espectadores para seguir a retirada; ao ver Musetta levada em triunfo, a multidão faz clamorosas ovações. Marcello,
LA FOLLA Largo, largo, eccoli qua! In fila! [La Ritirata Militare entra da sinistra, la precede un gigantesco Tamburo Maggiore, che maneggia con destrezza e solennità la sua Canna di Comando, indicando la via da percorrere] LA FOLLA E I VENDITORI Ecco il Tambur Maggior! Più fier d’un antico guerrier! Il Tamburo Maggior! Gli Zappator, olà! La Ritirata è qua! Eccolo là! Il bel Tambur Maggior! La canna d’ôr, tutto splendor! Che guarda, passa, va! [La Ritirata attraversa la scena, dirigendosi verso il fondo a destra. Musetta non potendo camminare perché ha un solo piede calzato, è alzata a braccia da Marcello e Colline che rompono le fila degli astanti, per seguire la Ritirata; la folla vedendo Musetta portata trionfalmente, ne prende pretesto
81 La Bohème
Colline e Musetta vão atrás da retirada, seguidos por Rodolfo e Mimì, de braços dados, e Schaunard com a trompa, depois estudantes e costureiras a saltitar alegremente, depois meninos, burgueses e mulheres em macha. A multidão se afasta, ao fundo, seguindo a retirada militar] RODOLFO, MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE Viva Musetta! Coração de criança! Glória e honra, honra e glória do Quartier Latin!
per farle clamorose ovazioni. Marcello e Colline con Musetta si mettono in coda alla Ritirata, li seguono Rodolfo e Mimì a braccetto e Schaunard col suo corno imboccato, poi studenti e sartine saltellando allegramente, poi ragazzi, borghesi, donne che prendono il passo di marcia. Tutta questa folla si allontana dal fondo seguendo la Ritirata militare] RODOLFO, MARCELLO, SCHAUNARD E COLLINE Viva Musetta! Cuor birichin! Gloria ed onor, onor e gloria del quartier latin!
MULTIDÃO E VENDEDORES Todo esplendor! O homem mais bonito da França é o belo Tambor-Mor! Olhem lá! Ele, olha, passa e vai! [Grito da multidão, de dentro] [Enquanto isso, Alcindoro, com um par de sapatos bem embalados volta para o Café Momus, em busca de Musetta; o garçom, perto da mesa, pega a conta que ela deixou, apresentando-a cerimoniosamente a Alcindoro que, vendo a soma, e não encontrando mais ninguém, deixa-se cair em uma cadeira, estupefato e chocado]
LA FOLLA E I VENDITORI Tutto splendor! Di Francia è il più bell’uom! Il bel Tambur Maggior Eccolo là! Che guarda, passa; va! [Grido della folla, dall’interno] [Intanto Alcindoro con un paio di scarpe bene incartocciate ritorna verso il Caffè Momus cercando di Musetta; il cameriere, che è presso al tavolo, prende il conto lasciato da questa e cerimoniosamente lo presenta ad Alcindoro, il quale vedendo la somma, non trovando più alcuno, cade su di una sedia, stupefatto, allibito]
TERCEIRO ATO
QUADRO TERZO
A barreira d’Enfer. [A voz de Mimì tinha uma sonoridade que penetrava no coração de Rodolfo como as badaladas de uma agonia... Por sua vez, ele tinha por ela um amor ciumento, fantástico, bizarro, histérico... Vinte vezes estiveram a ponto de se separar. Deve-se confessar as suas vidas eram um verdadeiro inferno. Contudo, em meio às tempestades de suas brigas, paravam de comum acordo para tomar fôlego no fresco oásis de uma noite de amor... ao amanhecer, porém, uma batalha imprevista fazia o amor fugir, assustado. Assim, se vida era, viveram dias alegres
La barriera d’Enfer. [La voce di Mimì aveva una sonorità che penetrava nel cuore di Rodolfo come i rintocchi di un’agonia... Egli però aveva per lei un amore geloso, fantastico, bizzarro, isterico... Venti volte furono sul punto di dividersi. Convien confessare che la loro esistenza era un vero inferno. Nondimeno, in mezzo alle tempeste delle loro liti, di comune accordo si soffermavano a riprender lena nella fresca oasi di una notte d’amore... ma all’alba del domani una improvvisa battaglia faceva fuggire spaventato l’amore. Così, se fu vita, vissero giorni lieti alternati a molti pessimi nella continua attesa del
82 Theatro Municipal de São Paulo
alternados com muitos péssimos, na contínua espera do divórcio. Musetta, por doença originária de família, e por instinto material, tinha o espírito da elegância. Essa curiosa criatura, logo que nasceu, já pediu um espelho. Inteligente e arguta, mas sobretudo rebelde contra tudo que tivesse sabor de tirania, possuía apenas uma regra: o capricho. O único homem que amou de verdade foi com certeza Marcello – talvez porque apenas ele sabia fazê-la sofrer; o luxo, porém, era para ela condição de saúde] [Do lado de lá da barreira, o boulevard externo e, no extremo fundo, a estrada de Orléans, que se perde ao longe, entre as altas casas e a névoa de fevereiro; do lado de cá, à esquerda, um cabaré e o pequeno largo da barreira; à direita, o boluevard d’Enfer; à esquerda, o SaintJacques. À direita ainda, a entrada da rua d’Enfer, que leva ao Quartier Latin. O cabaré tem como emblema o quadro de Marcello, A travessia do Mar Vermelho, porém embaixo, em letras grandes, está escrito Ao porto de Marselha. Aos lados da porta estão pintados a fresco um turco e um soldado de infantaria, com enorme coroa de louros em volta do fez. Na parede do cabaré, virada para a barreira, uma janela ao rés-do-chão, de onde sai luz. Cinzentos, altos e em longas fileiras, os plátanos que costeiam o largo da barreira repartem-se diagonalmente na direção dos dois bouevards. Há bancos de mármore entre cada plátano. É fim de fevereiro, com neve por todas as partes. Ao se levantar a cortina, o palco está imerso na incerteza da luz do início da alvorada. Sentados em frente a um braseiro, os guardas aduaneiros bocejam. Do cabaré chegam, de tempos em tempos, gritos, batidas de copos, risadas. Um guarda sai do cabaré com vinho. A cancela da barreira está fechada. Detrás da cancela fechada, batendo os pés de frio e soprando nas mãos geladas, estão alguns varredores]
divorzio. Musetta, per originaria malattia di famiglia e per materiale istinto, possedeva il genio dell’eleganza. Questa curiosa creatura dovette, appena nata, domandare uno specchio. Intelligente ed arguta, ribelle soprattutto a quanto sapesse di tirannia, non aveva che una regola: il capriccio. Certo il solo uomo da lei veramente amato era Marcello - forse perché egli solo sapeva farla soffrire; ma il lusso era per lei una condizione di salute] [Al di là della barriera, il boulevard esterno e, nell’estremo fondo, la strada d’Orléans che si perde lontana fra le alte case e la nebbia del febbraio, al di qua, a sinistra, un Cabaret ed il piccolo largo della barriera; a destra, il boulevard d’Enfer; a sinistra, quello di SaintJacques. A destra, pure, la imboccatura della via d’Enfer, che mette in pieno Quartiere Latino. Il Cabaret ha per insegna il quadro di Marcello Il passaggio del Mar Rosso, ma sotto invece, a larghi caratteri, vi è dipinto Al porto di Marsiglia. Ai lati della porta sono purê dipinti a fresco un turco e uno zuavo con una enorme corona d’alloro intorno al fez. Alla parete del Cabaret, che guarda verso la barriera, una finestra a pianterreno donde esce luce. I platani che costeggiano il largo della barriera, grigi, alti e in lunghi filari, dal largo si ripartono diagonalmente verso i due boulevards. Fra platano e platano sedili di marmo. È il febbraio al finire, la neve è dappertutto. All’alzarsi della tela la scena è immersa nella incertezza della luce della primissima alba. Seduti davanti ad un braciere stanno sonnecchiando i Doganieri. Dal Cabaret, ad intervalli, grida, cozzi di bicchieri, risate. Un doganiere esce dal Cabaret con vino. La cancellata della barriera è chiusa. Dietro la cancellata chiusa, battendo i piedi dal freddo e soffiandosi su le mani intirizzite, stanno alcuni Spazzini]
83 La Bohème
VARREDORES Ei, aí, guardas! Abram! Olá! Somos de Gentilly! Os varredores! [Os guardas seguem imóveis; os varredores batem com as vassouras e pás na cancela, berrando, batendo os pés] Está nevando! Olá! Estamos congelando!
SPAZZINI Ohè, là, le guardie! Aprite! Ohè, là! Quelli di Gentilly! Siam gli spazzini! [I Doganieri rimangono immobili; gli Spazzini picchiano colle loro scope e badili sulla cancellata urlando, battendo i piedi] Fiocca la neve... Ohè, là!... Qui s’agghiaccia!
UM GUARDA [Levantando-se, sonolento, e esticando os braços] Já vou! [Abre, os varredores entram, e se afastam pela rua d’Enfer. O guarda volta a fechar a cancela]
UN DOGANIERE [Alzandosi assonnato e stirandosi le braccia] Vengo! [Va ad aprire, gli Spazzini entrano e si allontanano per la via d’Enfer. Il Doganiere richiude la cancellata]
VOZES INTERNAS [Do cabaré, acompanhando o canto com batidas de copos] Quem no beber encontrou o prazer no seu copo, Ah! No ardor de uma boca encontrou o amor! MUSETTA [Do cabaré] Ah! Se o prazer está no copo, o amor está em boca jovem! VOZES INTERNAS [Do cabaré] Traleralé... Eva e Noé! [Dão uma risada clamorosa] LEITEIRAS [De dentro] Olá! Olá! [O Sargento Aduaneiro sai do Corpo de Guarda e manda abrir a barreira] GUARDA As leiteiras já chegaram! [Tilintar de sinos e golpes de chicote. Pelo boulevar externo passam carros com grandes lanternas de pano acesas entre as rodas. De dentro]
VOCI INTERNE [Dal cabaret, accompagnano il canto battendo i bicchieri] Chi nel ber trovò il piacer nel suo bicchier, Ah! D’una bocca nell’ardor, trovò l’amor! MUSETTA [Dal cabaret] Ah! Se nel bicchiere sta il piacer, in giovin bocca sta l’amor! VOCI INTERNE [Dal cabaret] Trallerallè... Eva e Noè! [Dànno in una risata clamorosa] LATTIVENDOLE [Dall’interno] Hopplà! Hopplà! [Dal Corpo di Guardia esce il Sergente dei Doganieri, il quale ordina d’aprire la barriera] DOGANIERE Son già le lattivendole! [Tintinnio di campanelli e schioccare di fruste. Pel Boulevard esterno passano dei carri colle grandi lanterne di tela accese fra le ruote. Interno]
84 Theatro Municipal de São Paulo
CARRETEIROS Olá!
CARRETTIERI Hopplà!
LEITEIRAS [Perto] Olá! [A neblina se atenua; começa a amanhecer. Entrando em cena, montadas em burros, aos guardas, que fazem o controle e deixam passar:] Bom dia!
LATTIVENDOLE [Vicinissime] Hopplà! [La nebbia dirada e comincia a far giorno. Entrando in scena a dorso di asinelli, ai doganieri, che controllano e lasciano passare] Buon giorno!
CAMPONESAS [Entrando em cena, com cestas no braço. Para os guardas] Manteiga e queijo! Frango e ovos! [Pagam, e os guardas deixam passar. Depois de chegar ao cruzamento] Para que lado você vai? Para São Miguel. Nos encontramos mais tarde? Ao meio dia. [Afastam-se, por diversos caminhos. Os guardas retiram os bancos e o braseiro. Mimì, vinda da rua d’Enfer, entra olhando atentamente ao redor, tentando reconhecer os lugares, porém, ao chegar ao primeiro plátano, é colhida por um violento acesso de tosse: recupera-se e, ao ver o Sargento, aproxima-se dele]
CONTADINE [Entrando in scena con ceste a braccio. Ai doganieri] Burro e cacio! Polli ed uova! [Pagano e i Doganieri le lasciano passare. Giunte al crocicchio] Voi da che parte andate? A San Michele! Ci troverem più tardi? A mezzodì! [Si allontanano per diverse strade. I Doganieri ritirano le panche e il braciere. Mimì, dalla via d’Enfer, entra guardando attentamente intorno cercando di riconoscere i luoghi, ma giunta al primo platano la coglie un violento accesso di tosse: riavutasi e veduto il Sergente, gli si avvicina]
MIMÌ [Para o Sargento] Perdão, sabe me dizer qual é a estalagem... [Não se lembrando do nome] em que trabalha um pintor?
MIMÌ [Al Sergente] Sa dirmi, scusi, qual’è l’osteria... [Non ricordando il nome] dove un pittor lavora?
SARGENTO [Apontando para o cabaré] Aquela.
SARGENTE [Indicando il Cabaret] Eccola.
MIMÌ Obrigado. [Sai uma empregada do cabaré; Mimì se aproxima] Boa mulher, poderia me fazer o favor de procurar o pintor Marcello? Preciso lhe falar.
MIMÌ Grazie. [Esce una fantesca dal Cabaret; Mimì le si avvicina] O buona donna, mi fate il favore di cercarmi il pittore Marcello? Ho da parlargli. Ho tanta fretta.
85 La Bohème
Estou com muita pressa. Diga-lhe, baixo, que Mimì está esperando. [A empregada volta para o cabaré] SARGENTO [A um passante] Ei, esse cesto! GUARDA [Depois de inspecionar o cesto] Vazio! SARGENTO Passa! [Outras pessoas passam pela barreira, afastando-se em diversas direções. Os sinos do hospício Maria Tereza dão o toque matutino. É dia, um dia de inverno, triste e escuro. Do cabaré, saem alguns casais, de volta para o lar] MARCELLO [Sai do cabaré e, surpreso, vê Mimì] Mimì? MIMÌ Sou eu. Esperava encontrá-lo aqui. MARCELLO É verdade. Estamos aqui há um mês, às custas do taberneiro. Musetta ensina canto aos passantes; eu estou pintando aquele guerreiro na fachada. [Mimì tosse] Está frio. Entra. MIMÌ Rodolfo está? MARCELLO Sim. MIMÌ Não posso entrar. MARCELLO [Surpreso] Por quê?
Ditegli, piano, che Mimì lo aspetta. [La fantesca rientra nel Cabaret] SARGENTE [Ad uno che passa] Ehi, quel panier! DOGANIERE [Dopo aver visitato il paniere] Vuoto! SARGENTE Passi! [Dalla barriera entra altra gente, e chi da una parte, chi dall’altra tutti si allontanano. Le campane dell’ospizio Maria Teresa suonano mattutino. È giorno fatto, giorno d’inverno, triste e caliginoso. Dal Cabaret escono alcune coppie che rincasano] MARCELLO [Esce dal Cabaret e con sorpresa vede Mimì] Mimì?! MIMÌ Son io. Speravo di trovarti qui. MARCELLO È ver. Siam qui da un mese di quell’oste alle spese. Musetta insegna il canto ai passeggeri; Io pingo quel guerrier sulla facciata. [Mimì tossisce] È freddo. Entrate. MIMÌ C’è Rodolfo? MARCELLO Sì. MIMÌ Non posso entrar. MARCELLO [Sorpreso] Perché?
86 Theatro Municipal de São Paulo
MIMÌ [Prorrompe em pranto] Meu bom Marcello, socorro!
MIMÌ [Scoppia in pianto] O buon Marcello, aiuto!
MARCELLO O que foi?
MARCELLO Cos’è avvenuto?
MIMÌ Rodolfo me ama, mas foge de mim, e se destroi de ciúmes. Um passo, uma palavra, um afago,uma flor o fazem suspeitar... Daí vêm a dor e a ira. Às vezes, à noite, finjo dormir e sinto ele espionando os meus sonhos, com o olhar fixo no meu rosto. Grita comigo a cada instante: Você não serve para mim, arrume outro amante. Ai de mim! Eu sei que são palavras da raiva, mas como responder, Marcello?
MIMÌ Rodolfo m’ama. Rodolfo m’ama mi fugge e si strugge per gelosia. Un passo, un detto, un vezzo, un fior lo mettono in sospetto... Onde corrucci ed ire. Talor la notte fingo di dormire e in me lo sento fiso spiarmi i sogni in viso. Mi grida ad ogni istante: Non fai per me, prenditi un altro amante. Ahimè! In lui parla il rovello; lo so, ma che rispondergli, Marcello?
MARCELLO Quem é como vocês não pode viver junto. Sou leve para Musetta, e ela é leve para mim, pois nos amamos em alegria... Cantos e risos, essa é a flor do amor constante. MIMÌ Tem razão. Melhor nos separarmos. Ajude-nos; tentamos muitas vezes, porém em vão. Faça o seu melhor.
MARCELLO Quando s’è come voi non si vive in compagnia. Son lieve a Musetta ed ella è lieve a me, perché ci amiamo in allegria... Canti e risa, ecco il fior d’invariabile amor! MIMÌ Dite bene. Lasciarci conviene. Aiutateci voi; noi s’è provato più volte, ma invano. Fate voi per il meglio. MARCELLO Sta ben! Ora lo sveglio.
MARCELLO Está bem! Vou acordá-lo.
MIMÌ Dorme?
MIMÌ Está dormindo?
MARCELLO E piombato qui un’ora avanti l’alba; s’assopì sopra una panca. [Fa cenno a Mimì di guardare per la finestra dentro il Cabaret] Guardate... [Mimì tossisce con insistenza. Compassionandola]
MARCELLO Caiu por aqui uma hora antes do amanhecer; adormeceu em cima de um banco. [Gesticula para Mimì olhar pela janela, para dentro do cabaré]
87 La Bohème
Veja... [Mimì tosse com insistência. Apiedando-se dela] Que tosse! MIMÌ Meus ossos estão quebrados desde ontem. Na noite passada, fugiu de mim, dizendo: Acabou. Saí ao amanhecer e vim para cá. MARCELLO [Observando Rodolfo no interior do cabaré] Está acordando... Está levantando, procurando-me... Está vindo. MIMÌ Não pode me ver! MARCELLO Volte para casa... Mimì... Por favor, não faça cena aqui! [Empurra Mimì suavemente na direção do canto do cabaré, de onde ela logo ergue a cabeça, curiosa. Marcello corre de encontro a Rodolfo] RODOLFO [Sai do cabaré e corre na direção de Marcello] Marcello. Finalmente! Aqui ninguém nos ouve. Quero me separar de Mimì. MARCELLO Você é tão volúvel?
Che tosse! MIMÌ Da ieri ho l’ossa rotte. Fuggì da me stanotte dicendomi: È finita. A giorno sono uscita e me ne venni a questa volta . MARCELLO [Osservando Rodolfo nell’interno del Cabaret] Si desta... s’alza, mi cerca... viene. MIMÌ Ch’ei non mi veda! MARCELLO Or rincasate... Mimì... Per carità, non fate scene qua! [Spinge dolcemente Mimì verso l’angolo del Cabaret di dove però quasi subito sporge curiosa la testa. Marcello corre incontro a Rodolfo] RODOLFO [Esce dal Cabaret ed accorre verso Marcello] Marcello. Finalmente! Qui niun ci sente. Io voglio separarmi da Mimì. MARCELLO Sei volubil così? RODOLFO Già un’altra volta credetti morto il mio cor, ma di quegli occhi azzurri allo splendor esso è risorto. Ora il tedio l’assale.
RODOLFO Uma vez mais eu já achava que meu coração estava morto, mas o esplendor daqueles olhos azuis o ressuscitou. Agora ele foi tomado pelo tédio.
88 Theatro Municipal de São Paulo
MARCELLO E você quer outro funeral? [Sem conseguir ouvir as palavras, Mimì busca o momento oportuno e, sem ser vista, consegue se enfiar atrás de um plátano, perto do qual os dois amigos conversam]
MARCELLO E gli vuoi rinnovare il funerale? [Mimì non potendo udire le parole, colto il momento opportuno, inosservata, riesce a ripararsi dietro a un platano, presso al quale parlano i due amici]
RODOLFO Para sempre!
RODOLFO Per sempre!
MARCELLO Mude de tema. O amor tétrico, que destila lágrimas, é coisa de louco. Se não rir e crepitar, o amor é fraco e feio. Você é ciumento.
MARCELLO Cambia metro. Dei pazzi è l’amor tetro che lacrime distilla. Se non ride e sfavilla l’amore è fiacco e roco. Tu sei geloso.
RODOLFO Um pouco.
RODOLFO Un poco.
MARCELLO Colérico, lunático, cheio de preconceitos, chato, obcecado.
MARCELLO Collerico, lunatico, imbevuto di pregiudizi, noioso, cocciuto!
MIMÌ [Para si] (Agora está a irritá-lo! Coitadinha de mim!)
MIMÌ [Fra sé] (Or lo fa incollerir! Me poveretta!)
RODOLFO [Com amargura irônica] Mimì é uma assanhada, que paquera com todos. Basta um viscondezinho almofadinha fazer olho de peixe, e ela levanta a saia, mostrando o tornozelo com um ar de promessa e animador.
RODOLFO [Con amarezza ironica] Mimì è una civetta che frascheggia con tutti. Un moscardino di Viscontino le fa l’occhio di triglia. Ella sgonnella e scopre la caviglia con un far promettente e lusinghier.
MARCELLO Posso dizer uma coisa? Você não parece sincero.
MARCELLO Lo devo dir? Non mi sembri sincer.
RODOLFO Pois bem, não. Não sou. É em vão que escondo minha verdadeira tortura. Amo Mimì acima de tudo no mundo, amo, mas tenho medo, tenho medo! Mimì está tão doente! Cada dia declina mais.
RODOLFO Ebbene no, non lo son. Invan nascondo la mia vera tortura. Amo Mimì sovra ogni cosa al mondo, io l’amo, ma ho paura, ma ho paura! Mimì è tanto malata! Ogni dì più declina. La povera piccina è condannata!
89 La Bohème
A pobre pequena está condenada! MARCELLO [Surpreso] Mimì? MIMÌ [Para si] Como assim? RODOLFO Uma tosse terrível lhe sacode o débil peito, e a face esquelética está avermelhada de sangue... MARCELLO [Tenta afastar Rodolfo] Pobre Mimì! MIMÌ [Chorando] Ai de mim, vou morrer! RODOLFO Meu quarto é uma toca esquálida... O fogo está apagado. O vento norte entra e fica rodando. Ela canta e sorri, e o remorso me assalta. Sou a razão do mal fatal que a está matando! Mimì é uma flor da serra. A pobreza arrancou suas pétalas; para devolvê-la à vida o amor não basta! MARCELLO Que fazer, então? Ah, que pena! Coitadinha! Pobre Mimì! MIMÌ [Desolada] Oh, minha vida! [Angustiada]
MARCELLO [Sorpreso] Mimì? MIMÌ [Fra sé] Che vuol dire? RODOLFO Una terribil tosse l’esil petto le scuote e già le smunte gote di sangue ha rosse... MARCELLO [Vorrebbe allontanare Rodolfo] Povera Mimì! MIMÌ [Piangendo] Ahimè, morire! RODOLFO La mia stanza è una tana squallida... Il fuoco ho spento. V’entra e l’aggira il vento di tramontana. Essa canta e sorride e il rimorso m’assale. Me, cagion del fatale mal che l’uccide! Mimì di serra è fiore. Povertà l’ha sfiorita; per richiamarla in vita non basta amore! MARCELLO Che far dunque? Oh, qual pietà! Poveretta! Povera Mimì! MIMÌ [Desolata] O mia vita! [Angosciata] Ahimè! È finita O mia vita! È finita Ahimè, morir!
90 Theatro Municipal de São Paulo
Ai de mim! Acabou-se. Oh, minha vida! Acabou-se. Ai de mim, vou morrer! [A tosse e os soluços violentos revelam a presença de Mimì] RODOLFO [Vendo-a, e correndo em sua direção] O quê? Mimì! Você aqui? Você me ouviu? MARCELLO Ela estava escutando? RODOLFO Sou propenso ao medo, e fico bravo por nada. Vem aqui, no calor! [Tenta fazê-la entrar no cabaré] MIMÌ Não, aquele odor me sufoca! RODOLFO Ah, Mimì! [Toma Mimì amorosamente nos braços e a acaricia. Ouve-se Musetta, rindo desbragadamente no cabaré] MARCELLO Musetta está rindo. [Corre para a janela do Cabaré] Está rindo com quem? Que assanhanda! Vai aprender. [Entra impetuosamente no cabaré] MIMÌ [Soltando-se de Rodolfo] Adeus. RODOLFO [Surpreso] O quê? Está indo embora? MIMÌ [Afetuosamente] Para o lugar de onde saiu, alegre, seguindo o seu grito de amor, Mimì vai voltar sozinha para o ninho solitário.
[La tosse e i singhiozzi violenti rivelano la presenza di Mimì] RODOLFO [Vedendola e accorrendo a lei] Che? Mimì! Tu qui? M’hai sentito? MARCELLO Ella dunque ascoltava? RODOLFO Facile alla paura per nulla io m’arrovello. Vien là nel tepor! [Vuol farla entrare nel Cabaret] MIMÌ No, quel tanfo mi soffoca! RODOLFO Ah, Mimì! [Stringe amorosamente Mimì fra le sue braccia e l’accarezza. Dal Cabaret si ode ridere sfacciatamente Musetta] MARCELLO È Musetta che ride. [Corre alla finestra del Cabaret] Con chi ride? Ah, la civetta! Imparerai. [Entra impetuosamente nel Cabaret] MIMÌ [Svincolandosi da Rodolfo] Addio. RODOLFO [Sorpreso] Che! Vai? MIMÌ [Affettuosamente] D’onde lieta uscì al tuo grido d’amore, torna sola Mimì al solitario nido. Ritorna un’altra volta a intesser finti fior. Addio, senza rancor.
91 La Bohème
Vai voltar a costurar flores de mentira. Adeus, sem rancor. Escute, escute. Reúna as poucas coisas que deixei esparsas. Na minha caixa há um bracelete de ouro e o livro de orações. Embrulhe tudo em um avental, que mandarei o porteiro buscar... Atenção, embaixo do avental está minha touca rosa. Se você quiser, pode continuar com ela, como lembrança de amor. Adeus, sem rancor. RODOLFO Então acabou mesmo? Você está indo embora, minha pequena? Adeus, sonhos de amor! MIMÌ Adeus, doce despertar da manhã! RODOLFO Adeus, vida de sonhos...
Ascolta, ascolta. Le poche robe aduna che lasciai sparse. Nel mio cassetto stan chiusi quel cerchietto d’or e il libro di preghiere. Involgi tutto quanto in un grembiale e manderò il portiere... Bada, sotto il guanciale c’è la cuffietta rosa. Se vuoi serbarla a ricordo d’amor. Addio, senza rancor. RODOLFO Dunque è proprio finita? Te ne vai, te ne vai, la mia piccina?! Addio, sogni d’amor!... MIMÌ Addio, dolce svegliare alla mattina! RODOLFO Addio, sognante vita... MIMÌ [Sorridendo] Addio, rabbuffi e gelosie! RODOLFO ... che un tuo sorriso acqueta!
MIMÌ [Sorrindo] Adeus, broncas e ciúmes!
MIMÌ Addio, sospetti!...
RODOLFO … que o seu sorriso acalma!
MARCELLO Baci...
MIMÌ Adeus, suspeitas!
MIMÌ Pungenti amarezze!
RODOLFO Beijos...
RODOLFO Ch’io da vero poeta rimavo con carezze!
MIMÌ Amarguras pungentes! RODOLFO Que eu, como verdadeiro poeta, rimava com carícias!
92 Theatro Municipal de São Paulo
MIMÌ E RODOLFO Ficar sozinho no inverno é terrível! Enquanto na primavera, temos o sol por companhia! [No cabaré, barulho de pratos e copos quebrados]
MIMÌ E RODOLFO Soli d’inverno è cosa da morire! Soli! Mentre a primavera c’è compagno il sol! [Nel Cabaret fracasso di piatti e bicchieri rotti]
MARCELLO [De dentro] O que você estava fazendo? O que disse àquele senhor, perto do fogo?
MARCELLO [Di dentro] Che facevi, che dicevi presso al fuoco a quel signore?
MUSETTA [De dentro] O que você quer dizer? [Sai correndo] MIMÌ Ninguém está sozinho em abril. MARCELLO [Parando na porta do cabaré, virado para Musetta:] Quando eu entrei você mudou de cor. MUSETTA [Com atitude de provocação] Aquele senhor me dizia: A senhorita gosta de dançar? RODOLFO Conversamos com lírios e rosas. MARCELLO Leviana, frívola, galinha! MUSETTA Corando, eu respondi: posso passar noite e dia dançando. MARCELLO Palavras que escondem fins desonestos. MIMÌ Dos ninhos vem um chilreio gentil... MUSETTA Quero liberdade absoluta!
MUSETTA [Da dentro] Che vuoi dir? [Esce correndo] MIMÌ Niuno è solo l’april. MARCELLO [Fermandosi sulla porta del Cabaret, rivolto a Musetta] Al mio venire hai mutato colore. MUSETTA [Con attitudine di provocazione] Quel signore mi diceva: Ama il ballo, signorina? RODOLFO Si parla coi gigli e le rose. MARCELLO Vana, frivola, civetta! MUSETTA Arrossendo rispondeva: Ballerei sera e mattina. MARCELLO Quel discorso asconde mire disoneste. MIMÌ Esce dai nidi un cinguettio gentile... MUSETTA Voglio piena libertà!
93 La Bohème
MARCELLO [Prestes a se lançar contra Musetta] Eu acabo com você se a pegar de paquera!
MARCELLO [Quasi avventandosi contro Musetta] Io t’acconcio per le feste se ti colgo a incivettire!
MIMÌ E RODOLFO Quando a primavera floresce, temos o sol por companhia! As fontes tagarelam, a brisa da noite.
MIMÌ E RODOLFO Al fiorir di primavera c’è compagno il sol! Chiacchieran le fontane la brezza della sera.
MUSETTA Que grito é esse? Que canto é esse? Não estamos unidos no altar.
MUSETTA Ché mi gridi? Ché mi canti? All’altar non siamo uniti.
MARCELLO Cuidado, que debaixo do meu chapéu não cabem certos ornamentos...
MARCELLO Bada, sotto il mio cappello non ci stan certi ornamenti...
MUSETTA Detesto esses amantes que dão uma de maridos...
MUSETTA Io detesto quegli amanti che la fanno da mariti...
MARCELLO Eu não sirvo de palhaço para aprendizes atrevidos.
MARCELLO Io non faccio da zimbello ai novizi intraprendenti.
MIMÌ E RODOLFO Estende bálsamos para as dores humanas.
MIMÌ E RODOLFO Balsami stende sulle doglie umane.
MUSETTA Faço amor com quem quiser! MARCELLO Leviana, frívola, galinha! MUSETTA Não lhe agrada? Fique em paz, então. Musetta vai embora. MARCELLO Vai embora? Muito obrigado: [Irônico] agora fiquei rico. Meus cumprimentos. MIMÌ E RODOLFO Quer esperar até a primavera?
MUSETTA Fo all’amor con chi mi piace! MARCELLO Vana, frivola, civetta! MUSETTA Non ti garba? Ebbene, pace. ma Musetta se ne va. MARCELLO Ve n’andate? Vi ringrazio: [Ironico] or son ricco divenuto. Vi saluto. MIMÌ E RODOLFO Vuoi che spettiam la primavera ancor?
94 Theatro Municipal de São Paulo
MUSETTA Musetta vai embora. [Irônica] Sim, vai embora. Meus cumprimentos. Senhor: adeus! Digo-o com prazer.
MUSETTA Musetta se ne va [Ironica] Sì, se ne va! Vi saluto. Signor: addio! vi dico con piacer.
MARCELLO Obedeço e me vou!
MARCELLO Son servo e me ne vo!
MUSETTA [Afasta-se, correndo furibunda; de repente, detém-se e grita:] Pintorzinho de venda!
MUSETTA [S’allontana correndo furibonda, a un tratto si sofferma e gli grida] Pittore da bottega!
MARCELLO [Do meio do palco, gritando:] Víbora!
MARCELLO [Dal mezzo della scena, gridando] Vipera!
MUSETTA Sapo! [Sai]
MUSETTA Rospo! [Esce]
MARCELLO Bruxa! [Entra no cabaré]
MARCELLO Strega! [Entra nel Cabaret]
MIMÌ [Partindo com Rodolfo] Sempre sua, pelo resto da vida...
MIMÌ [Avviandosi con Rodolfo] Sempre tua per la vita...
RODOLFO Vamos nos separar...
RODOLFO Ci lasceremo...
MIMÌ Vamos nos separar na estação das flores...
MIMÌ Ci lasceremo alla stagion dei fior...
RODOLFO … na estação das flores... MIMÌ Queria que o inverno fosse eterno! MIMÌ E RODOLFO [De dentro, afastando-se] Vamos nos separar na estação das flores!
RODOLFO ... alla stagion dei fior... MIMÌ Vorrei che eterno durasse il verno! MIMÌ E RODOLFO [Dall’interno, allontanandosi] Ci lascerem alla stagion dei fior!
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QUARTO ATO
QUADRO QUARTO
No sótão [Naquela época, os amigos já estavam “viúvos” há tempos. Musetta tornara-se personagem quase oficial; Marcello não a encontrava há três ou quatro meses. De Mimì, também, Rodolfo nunca mais tinha ouvido falar desde que ficara sozinho. Num dia em que Marcello, escondido, beijava uma fita esquecida por Musetta, viu Rodolfo escondendo uma touca – a touca rosa – esquecida por Mimì: Muito bem! Murmurou Marcello. Ele é tão vil quanto eu! Vida alegre e terrível...]
In soffitta [In quell’epoca già da tempo gli amici erano vedovi. Musetta era diventata un personaggio quasi ufficiale; da tre o quattro mesi Marcello non l’aveva incontrata. Così pure Mimì; Rodolfo non ne aveva più sentito parlare che da se medesimo quando era solo. Un dì che Marcello di nascosto baciava un nastro dimenticato da Musetta, vide Rodolfo che nascondeva una cuffietta - la cuffietta rosa - dimenticata da Mimì: Va bene! Mormorò Marcello. Egli è vile come me! Vita gaia e terribile!...]
[A mesma cena do Ato 1: Marcelo está novamente em frente a seu cavalete, como Rodolfo está sentado à mesa; querem convencer um ao outro que estão trabalhando incansavelmente, embora só façam tagarelar]
[La stessa scena del Quadro 1: Marcello sta ancora dinanzi al suo cavalletto, come Rodolfo sta seduto al suo tavolo: vorrebbero persuadersi l’un l’altro che lavorano indefessamente, mentre invece non fanno che chiacchierare]
MARCELLO [Prosseguindo a conversa] Em um cupê?
MARCELLO [Continuando il discorso] In un coupé?
RODOLFO Com parelha e libré. Cumprimentou-me rindo. Olá, Musetta! Eu disse. E o coração? “Não bate, ou não escuto, devido ao veludo que o cobre”.
RODOLFO Con pariglia e livree. Mi salutò ridendo. To’, Musetta! Le dissi. E il cuor? “Non batte o non lo sento grazie al velluto che il copre”.
MARCELLO [Fazendo esforço para rir] Fico feliz, de verdade! RODOLFO [Para si] (Hipócrita! Se consome e rindo) [Retoma o trabalho] MARCELLO [Pinta com grandes pinceladas] Não bate? Muito bem! Já eu vi... RODOLFO Musetta?
MARCELLO [Sforzandosi di ridere] Ci ho gusto, davver! RODOLFO [Fra sé] (Loiola, va! Ti rodi e ridi) [Ripiglia il lavoro] MARCELLO [Dipinge a gran colpi di pennello] Non batte? Bene! Io pur vidi... RODOLFO Musetta?
96 Theatro Municipal de São Paulo
MARCELLO Mimì.
MARCELLO Mimì.
RODOLFO [Estremecendo, para de escrever] Você a viu? [Recompõe-se] Olha só!
RODOLFO [Trasalendo, smette di scrivere] L’hai vista? [Si ricompone] Oh, guarda!
MARCELLO [Interrompe o trabalho] Estava de carroça, vestida como uma rainha.
MARCELLO [Smette il lavoro] Era in carrozza vestita come una regina.
RODOLFO [Em tom alegre] Viva! Fico contente.
RODOLFO [Allegramente] Evviva! Ne son contento.
MARCELLO [Para si] (Mentiroso, está se destruindo de amor)
MARCELLO [Fra sé] (Bugiardo, si strugge d’amor)
RODOLFO Ao trabalho.
RODOLFO Lavoriam.
MARCELLO Ao trabalho. [Retomam o trabalho]
MARCELLO Lavoriam. [Riprendono il lavoro]
RODOLFO [Atira a pena] Que pena infame! [Sempre sentado, e muito pensativo]
RODOLFO [Getta la penna] Che penna infame! [Sempre seduto e molto pensieroso]
MARCELLO [Atira o pincel] Que pincel infame! [Olha fixamente para o quadro, depois, escondido de Rodolfo, tira uma fita de seda do bolso e beija-a]
MARCELLO [Getta il pennello] Che infame pennello! [Guarda fissamente il suo quadro, poi di nascosto da Rodolfo estrae dalla tasca un nastro di seta e lo bacia]
RODOLFO (Oh, Mimì, você não volta mais. Oh belos dias, mãos pequenas, cabelos cheirosos, pescoço de neve! Ah! Mimì, minha breve juventude! [Tira a touca de Mimì da caixa da mesa] E você, leve touca, que, ao partir, ela
RODOLFO (O Mimì tu più non torni. O giorni belli, piccole mani, odorosi capelli, collo di neve! Ah! Mimì, mia breve gioventù!] [Dal cassetto del tavolo leva la cuffietta di
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escondeu debaixo da almofada, que conhece toda nossa felicidade, venha aqui para o meu coração! Para meu coração morto, já que morreu o amor.)
Mimì] E tu, cuffietta lieve, che sotto il guancial partendo ascose, tutta sai la nostra felicità, vien sul mio cuor! Sul mio cuor morto, poich’è morto amor)
MARCELLO (Eu não sei como o meu pincel faz para trabalhar misturando cores contra a minha vontade. Se estou a fim de pintar céus e terras, invernos ou primaveras, ele acaba traçando duas pupilas negras e uma boca provocante, e o que sai é o rosto de Musetta... O que sai é o rosto de Musetta com seus encantos e fraudes. Musetta se diverte, meu coração a chama de vil e vil, meu coração a aguarda)
MARCELLO (Io non so come sia che il mio pennel lavori ed impasti colori contro la voglia mia. Se pingere mi piace o cieli o terre o inverni o primavere, egli mi traccia due pupille nere e una bocca procace, e n’esce di Musetta e il viso ancor... E n’esce di Musetta il viso tutto vezzi e tutto frode. Musetta intanto gode e il mio cuor vil la chiama e aspetta il vil mio cuor)
RODOLFO [Põe a touca em cima do coração e depois, desejando esconder sua comoção de Marcello, vira-se para ele e pergunta, com desenvoltura] Que horas são? E Schaunard que não volta? MARCELLO [Meditativo, estremece com as palavras de Rodolfo e responde, em tom alegre:] É hora do jantar de ontem. [Entram Schaunard e Colline; o primeiro com quatro pães, o outro com um pacote] SCHAUNARD Chegamos. RODOLFO E então? MARCELLO E então? [Schaunard coloca os pães na mesa. Com desprezo] Pão?
RODOLFO [Pone sul cuore la cuffietta, poi volendo nascondere a Marcello la propria commozione, si rivolge a lui e disinvolto gli chiede] Che ora sia? E Schaunard non torna? MARCELLO [Rimasto meditabondo, si scuote alle parole di Rodolfo e allegramente gli risponde] L’ora del pranzo di ieri. [Entrano Schaunard e Colline, il primo porta quattro pagnotte e l’altro un cartoccio] SCHAUNARD Eccoci. RODOLFO Ebben? MARCELLO Ebben? [Schaunard depone le pagnotte sul tavolo. Con sprezzo] Del pan?
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COLLINE [Abre o pacote, extraindo um arenque que também coloca na mesa] Um prato digno de Demóstenes: arenque...
COLLINE [Apre il cartoccio e ne estrae un’aringa che pure colloca sul tavolo] È un piatto degno di Demostene: un ‘aringa...
SCHAUNARD …salgado.
SCHAUNARD ... salata.
COLLINE A comida está na mesa. [Sentam-se à mesa, fingindo estar em uma lauta refeição]
COLLINE Il pranzo è in tavola. [Siedono a tavola, fingendo d’essere ad un lauto pranzo]
MARCELLO Essa é uma esbórnia digna de quarta-feira de cinzas.
MARCELLO Questa è cuccagna da Berlingaccio.
SCHAUNARD [Põe o chapéu de Colline em cima da mesa, colocando dentro dele uma garrafa de água] Vamos colocar o champanhe no gelo.
SCHAUNARD [Pone il cappello di Colline sul tavolo e vi colloca dentro una bottiglia d’acqua] Or lo sciampagna mettiamo in ghiaccio.
RODOLFO [Para Marcello, oferecendo pão] Escolha, barão: truta ou salmão? MARCELLO [Agradece, aceita, volta-se a Schaunard e lhe oferece outro pedaço de pão] Duque, uma língua de papagaio? SCHAUNARD Obrigado, mas engorda. Hoje tenho baile. [Recusa gentilmente, serve-se de água e passa o copo a Marcello; o único copo passa de um a outro. Colline, que devorou seu pão com grande pressa, se levanta] RODOLFO [Para Colline] Já satisfeito? COLLINE [Com importância e gravidade]
RODOLFO [A Marcello, offrendogli del pane] Scelga, o barone; trota o salmone? MARCELLO [Ringrazia, accetta, poi si rivolge a Schaunard e gli presenta un altro boccone di pane] Duca, una lingua di pappagallo? SCHAUNARD Grazie, m’impingua. Stasera ho un ballo. [Gentilmente rifiuta, si versa un bicchiere d’acqua poi ló passa a Marcello; l’unico bicchiere passa da uno all’altro. Colline, che ha divorato in gran fretta la sua pagnotta, si alza] RODOLFO [A Colline] Già sazio? COLLINE [Con importanza e gravità] Ho fretta.
99 La Bohème
Estou com pressa. O rei me espera. MARCELLO [Solícito] Alguma trama? RODOLFO [Levanta-se, aproxima-se de Colline e diz, com curiosidade cômica] Algum mistério? MARCELLO Algum mistério? COLLINE [Passeia, pavoneando-se, com ar de grande importância] O rei me chama ao Ministério! RODOLFO, SCHAUNARD E MARCELLO [Circundam Colline e fazem grandes mesuras] Muito bem! COLLINE [Com ar protetor] Porém... Verei... Guizot! SCHAUNARD [Para Marcello] Passe-me o copo. MARCELLO [Dá-lhe o único copo] Sim, bebe que eu papo! SCHAUNARD [Solene, sobe em uma cadeira, erguendo alto o copo] Permita-me a nobre assembleia... RODOLFO E COLLINE [Interrompendo] Basta!
Il Re m’aspetta MARCELLO [Premurosamente] C’è qualche trama? RODOLFO [Si alza, si avvicina a Colline, e gli dice con curiosità comica] Qualche mister? MARCELLO Qualche mister? COLLINE [Passeggia pavoneggiandosi con aria di grande importanza] Il Re mi chiama al Minister. RODOLFO, SCHAUNARD E MARCELLO [Circondan Colline e gli fanno grandi inchini] Bene! COLLINE [Con aria di protezione] Però... Vedrò... Guizot! SCHAUNARD [A Marcello] Porgimi il nappo. MARCELLO [Gli dà l’unico bicchiere] Sì, bevi, io pappo! SCHAUNARD [Solenne, sale su di una sedia e leva in alto il bicchiere] Mi sia permesso al nobile consesso... RODOLFO E COLLINE [Interrompendolo] Basta! MARCELLO Fiacco!
MARCELLO Frouxo!
100 Theatro Municipal de São Paulo
COLLINE Que fiasco!
COLLINE Che decotto!
MARCELLO Dê no pé!
MARCELLO Leva il tacco!
COLLINE [Tomando o copo de Schaunard] Dê-me o copo.
COLLINE [Prendendo il bicchiere a Schaunard] Dammi il gotto!
SCHAUNARD [Com um gesto, pede aos amigos que o deixem prosseguir. Inspirado] Estou irresistivelmente inspirado pela canção!
SCHAUNARD [Fa cenno agli amici di lasciarlo continuare. Ispirato] M’ispira irresistibile l’estro della romanza!...
OS OUTROS [Berrando] Não!
GLI ALTRI [Urlando] No!
SCHAUNARD [Rendendo-se] Ação coreográfica, então?
SCHAUNARD [Arrendevole] Azione coreografica allora?...
OS OUTROS [Aplandindo, rodeiam Schaunard, fazendo-no descer da cadeira] Sim! Sim!
GLI ALTRI [Applaudendo, circondano Schaunard e lo fanno scendere dalla sedia] Sì! Sì!...
SCHAUNARD A dança com música vocal!
SCHAUNARD La danza con musica vocale!
COLLINE Liberemos o salão... [Colocando mesa e cadeiras de lado, dispõem-se a dançar] Gavota.
COLLINE Si sgombrino le sale... [Portano da un lato la tavola e le sedie e si dispongono a ballare] Gavotta.
MARCELLO [Propondo várias danças] Minueto.
MARCELLO [Proponendo varie danze] Minuetto.
RODOLFO Pavana.
RODOLFO Pavanella.
SCHAUNARD [Marcando a dança espanhola] Fandango.
SCHAUNARD [Marcando la danza spagnola] Fandango.
101 La Bohème
COLLINE Proponho a quadrilha. [Os demais aprovam]
COLLINE Propongo la quadriglia. [Gli altri approvano]
RODOLFO [Com alegria] Mãos às damas.
RODOLFO [Allegramente] Mano alle dame.
COLLINE Eu comando! [Finge estar em grandes preparativos para comandar a quadrilha]
COLLINE Io détto! [Finge di essere in grandi faccende per disporre la quadriglia]
SCHAUNARD [Improvisando, bate o tempo com grande importância cômica] Lalerá, lalerá, lalerá, lá.
SCHAUNARD [Improvvisando, batte il tempo con grande, comica importanza] Lallera, lallera, lallera, là.
RODOLFO [Chega perto de Marcello e faz uma grande reverência, oferecendo-lhe a mão] Graciosa senhorita...
RODOLFO [Si avvicina a Marcello, gli fa un grande inchino offrendogli la mano] Vezzosa damigella...
MARCELLO [Com modéstia, imitando a voz feminina] Respeite a modéstia. [Com voz natural] Por favor.
MARCELLO [Con modestia, imitando la voce femminile] Rispetti la modestia. [Con voce naturale] La prego.
SCHAUNARD Lalerá, lalerá, lalerá, lá.
SCHAUNARD Lallera, lallera, lallera, là.
COLLINE [Ditando os passos] Balancez. [Rodolfo e Marcello dançam a quadrilha]
COLLINE [Dettando le figurazioni] Balancez. [Rodolfo e Marcello ballano la quadriglia]
MARCELLO Lalerá, lalerá, lalerlá, lá.
MARCELLO Lallera, lallera, lallera,
SCHAUNARD [Provocando] Antes vem o rondó.
SCHAUNARD [Provocante] Prima c’è il Rondò.
COLLINE [Provocando] Não, sua besta!
COLLINE [Provocante] No, bestia!
102 Theatro Municipal de São Paulo
SCHAUNARD [Com desprezo exagerado] Que modos de lacaio! [Rodolfo e Marcello continuam a dançar]
SCHAUNARD [Con disprezzo esagerato] Che modi da lacchè! [Rodolfo e Marcello continuano a ballare]
COLLINE [Ofendido] Se não me engano, o senhor está me insultando! Saque a espada. [Corre até a lareira e agarra as tenazes]
COLLINE [Offeso] Se non erro, lei m’oltraggia. Snudi il ferro. [Corre al camino e afferra le molle]
SCHAUNARD [Pega a pá da lareira] Pronto! [Colocando-se em posição de combate] Em guarda. Vou beber o seu sangue.
SCHAUNARD [Prende la paletta del camino] Pronti. [Mettendosi in posizione per battersi] Assaggia. Il tuo sangue io voglio ber.
COLLINE [Imitando-o] Um de nós será estirpado. [Rodolfo e Marcello param de dançar e estouram de rir]
COLLINE [Fa altrettanto] Uno di noi qui si sbudella. [Rodolfo e Marcello cessano dal ballare e si smascellano dalle risa]
SCHAUNARD Preparem uma maca.
SCHAUNARD Apprestate una barella.
COLLINE Preparem um cemitério. [Schaunard e Colline combatem]
COLLINE Apprestate un cimiter. [Schaunard e Colline si battono]
RODOLFO E MARCELLO [Com alegria] Enquanto a contenda urge, gira e pula o rigaudon. [Dançam em torno dos duelantes, que fingem estar cada vez mais ferozes. A porta se escancara e entra Musetta, em grande agitação]
RODOLFO E MARCELLO [Allegramente] Mentre incalza la tenzone, gira e balza Rigodone. [Ballano intorno ai duellanti, che fingono di essere sempre più inferociti. Si spalanca l’uscio ed entra Musetta in grande agitazione]
MARCELLO [Avistando-a] Musetta!
MARCELLO [Scorgendola] Musetta!
MUSETTA [Ofegante] É a Mimì.
MUSETTA [Ansimante] C’è Mimì...
103 La Bohème
[Com viva ansiedade, rodeiam Musetta] É a Mimì, que me segue e está mal.
[Con viva ansietà attorniano Musetta] C’è Mimì che mi segue e che sta male.
RODOLFO Cadê ela?
RODOLFO Ov’è?
MUSETTA Ao subir as escadas não aguentou. [Vê-se, através da porta aberta, Mimì sentada no degrau mais alto da escada]
MUSETTA Nel far le scale più non si resse. [Si vede, per l’uscio aperto, Mimì seduta sul più alto gradino della scala]
RODOLFO Ah! [Precipita-se na direção de Mimì; Marcello também se aproxima]
RODOLFO Ah! [Si precipita verso Mimì; Marcello accorre anche lui]
SCHAUNARD [Para Colline] Vamos trazer aquela caminha. [Trazem ambos a cama]
SCHAUNARD [A Colline] Noi accostiam quel lettuccio. [Ambedue portano innanzi il letto]
RODOLFO [Com ajuda de Marcello, leva Mimì à cama] Ali. [Baixo, aos amigos:] Bebida. [Musetta se aproxima com o copo d’água e dá um gole a Mimì]
RODOLFO [Coll’aiuto di Marcello porta Mimì fino al letto] Là. [Agli amici, piano] Da bere. [Musetta accorre col bicchiere dell’acqua e ne dà un sorso a Mimì]
MIMÌ [Com grande paixão] Rodolfo!
MIMÌ [Con grande passione] Rodolfo!
RODOLFO [Coloca com cuidado Mimì em cima da cama] Quieta. Descanse.
RODOLFO [Adagia Mimì sul letto] Zitta, riposa.
MIMÌ [Abraça Rodolfo] Oh, meu Rodolfo! Quer que eu fique aqui com você? RODOLFO Ah! Minha Mimì, sempre, sempre! [Persuade Mimì a se deitar na cama, cobrindo-a e, com muito cuidado, acomodando o travesseiro sob sua cabeça]
MIMÌ [Abbraccia Rodolfo] O mio Rodolfo! Mi vuoi qui con te? RODOLFO Ah! mia Mimì, sempre, sempre! [Persuade Mimì a sdraiarsi sul letto e stende su di lei la coperta, poi con grandi cure le accomoda il guanciale sotto la testa]
104 Theatro Municipal de São Paulo
MUSETTA [Chama os outros à parte, dizendo, a meia voz:] Ouvi dizer que Mimì tinha fugido do visconde e estava no fim da vida. Onde estaria? Procurei, procurei... Vi-a passando na rua, arrastando-se, sofrendo. Disse-me: Não aguento mais... Sinto que estou morrendo... [Agitando-se, eleva a voz sem perceber] Quero morrer com ele! Talvez esteja à minha espera... Musetta, você me acompanha? MARCELLO [Faz sinal de falar baixo, e Musetta se afasta mais de Mimì] Psiu. MIMÌ Sinto-me muito melhor... Deixe-me dar uma olhada. [Com doce sorriso] Ah, como estou bem aqui! Renasço, volto a sentir a vida... [Erguendo-se um pouco, e voltando a abraçar Rodolfo] Não, você não vai mais me abandonar! RODOLFO Bendita boca, você ainda fala comigo! MUSETTA [À parte, aos outros três] O que vocês têm em casa? MARCELLO Nada! MUSETTA Nem café? Nem vinho? MARCELLO [Com grande desconforto] Nada! Ah! Miséria!
MUSETTA [Trae in disparte gli altri, e dice loro sottovoce] Intesi dire che Mimì, fuggita dal Viscontino, era in fin di vita. Dove stia? Cerca, cerca... La veggo passar per via trascinandosi a stento. Mi dice: Più non reggo... Muoio! Lo sento... [Agitandosi, senz’accorgersene alza la voce] Voglio morir con lui! Forse m’aspetta... M’accompagni, Musetta? MARCELLO [Fa cenno di parlar piano e Musetta si porta a maggior distanza da Mimì] Sst. MIMÌ Mi sento assai meglio... lascia ch’io guardi intorno. [Con dolce sorriso] Ah, come si sta bene qui! Si rinasce, ancor sento la vita qui... [Alzandosi un poco e riabbracciando Rodolfo] No! tu non mi lasci più! RODOLFO Benedetta bocca, tu ancor mi parli! MUSETTA [Da parte agli altri tre] Che ci avete in casa? MARCELLO Nulla! MUSETTA Non caffè? Non vino? MARCELLO [Con grande sconforto] Nulla! Ah! miseria!
105 La Bohème
SCHAUNARD [Depois de observar Mimì cuidadosamente, diz a Colline, com tristeza, à parte] Em meia hora estará morta! MIMÌ Estou com tanto frio! Se eu tivesse um regalo! Nunca vou conseguir aquecer minhas mãos? [Tosse] RODOLFO [Toma os dedos de Mimì nas mãos, esquentando-os] Aqui nas minhas! Cale-se! Falar lhe cansa. MIMÌ Estou com um pouco de tosse! Estou acostumada. [Vendo os amigos de Rodolfo, chama-os pelo nome: solícitos, eles se aproximam] Bom dia, Marcello, Schaunard, Colline... bom dia. [Sorrindo] Estão todos aqui, todos aqui, sorrindo para Mimì. RODOLFO Não fale, não fale. MIMÌ Estou falando baixinho, não tenha medo. [gesticulando para que Marcello se aproxime] Preste atenção: Musetta é muito boa. MARCELLO Eu sei, eu sei. [Pega a mão de Musetta. Schaunard e Colline se afastam, com tristeza: Schaunard se senta à mesa, com o rosto nas mãos; Colline fica pensativo] MUSETTA [Afasta Marcello de Mimmì, pega os brincos e dá a ele, dizendo, a meia voz]
SCHAUNARD [Osservata cautamente Mimì, tristemente a Colline, traendolo in disparte] Fra mezz’ora è morta! MIMÌ Ho tanto freddo! Se avessi un manicotto! Queste mie mani riscaldare non si potranno mai? [Tossisce] RODOLFO [Prende nelle sue le mani di Mimì riscaldandogliele] Qui nelle mie! Taci! Il parlar ti stanca. MIMÌ Ho un po’ di tosse! Ci sono avvezza. [Vedendo gli amici di Rodolfo, li chiama per nome: essi accorrono premurosi presso di lei] Buon giorno, Marcello, Schaunard, Colline... buon giorno. [Sorridendo] Tutti qui, tutti qui sorridenti a Mimì. RODOLFO Non parlar, non parlar. MIMÌ Parlo piano, non temere, Marcello. [Facendo cenno a Marcello di appressarsi] Date retta: è assai buona Musetta. MARCELLO Lo so, lo so. [Porge la mano a Musetta. Schaunard e Colline si allontanano tristemente: Schaunard siede al tavolo, col viso fra le mani; Colline rimane pensieroso] MUSETTA [Conduce Marcello lontano da Mimì, si leva gli orecchini e glieli porge dicendogli sottovoce] A te, vendi, riporta qualche cordial, manda un dottore!...
106 Theatro Municipal de São Paulo
Venda-os, compre um tônico, mande um médico!
RODOLFO Riposa.
RODOLFO Descanse.
MIMÌ Tu non mi lasci?
MIMÌ Vai me deixar?
RODOLFO No! No! [Mimì a poco a poco si assopisce, Rodolfo prende una scranna e siede presso al letto. Marcello fa per partire, Musetta lo arresta e lo conduce più lontano da Mimì]
RODOLFO Não! Não! [Mimì adormece aos poucos; Rodolfo pega uma cadeira e senta perto da cama. Marcello faz menção de partir; Musetta o detém e o afasta de Mimì] MUSETTA Escute! Talvez seja a última vez que a coitadinha expressa um desejo! Vou atrás do regalo. Vou com você. MARCELLO [Comovido] Como você é boa, minha Musetta. [Musetta e Marcello partem, apressados] COLLINE [Enquanto Musetta e Marcello conversavam, ergueu o sobretudo. Com comoção crescente] Escute, velho capote, eu fico na planície, e você agora deve ascender ao monte sagrado. Receba meus agradecimentos. Você jamais curvou o dorso gasto aos ricos e poderosos. Filósofos e poetas passaram pelos seus bolsos como se fossem refúgios tranquilos. Agora que os dias felizes acabaram eu lhe digo: adeus, meu amigo fiel. Adeus, adeus. [Embrulhando o casaco, coloca-o debaixo do braço; ao ver Schaunard, aproxima-se dele e dá um tapa nas costas, dizendo, com tristeza:] Schaunard, cada um do seu jeito, [Schaunard levanta a cabeça]
MUSETTA Ascolta! Forse è l’ultima volta che ha espresso un desiderio, poveretta! Pel manicotto io vo. Con te verrò. MARCELLO [Commosso] Sei buona, o mia Musetta. [Musetta e Marcello partono frettolosi] COLLINE [Mentre Musetta e Marcello parlavano, si è levato il pastrano. Con commozione crescente] Vecchia zimarra, senti, io resto al pian, tu ascendere il sacro monte or devi. Le mie grazie ricevi. Mai non curvasti il logoro dorso ai ricchi ed ai potenti. Passâr nelle tue tasche come in antri tranquilli filosofi e poeti. Ora che i giorni lieti fuggîr, ti dico: addio, fedele amico mio. Addio, addio. [Colline, fattone un involto, se lo pone sotto il braccio, ma vedendo Schaunard, si avvicina a lui, gli batte una spalla dicendogli tristemente] Schaunard, ognuno per diversa via [Schaunard alza il capo] mettiamo insiem due atti di pietà; io... questo! [Gli mostra la zimarra che tiene sotto il
107 La Bohème
façamos juntos esse ato de caridade; eu... assim! [Mostra-lhe o capote que leva debaixo do braço] E você …. [Mostrando Rodolfo inclinado sobre Mimí, adormecida] deixe-os sozinhos! SCHAUNARD [Levanta-se. Comovido] Tem razão, filósofo! [Olhando para a cama] É verdade! Vou-me embora! [Olha ao redor e, para justificar a partida, pega a garrafa d’água e desce, atrás de Colline, fechando a porta por precaução] MIMÌ [Abre os olhos, vê que todos partiram e estica a mão para Rodolfo, que a beija amorosamente] Eles já foram? Estava fingindo dormir Porque queria ficar sozinha com você. Há tantas coisas que eu queria dizer, ou só uma, que é grande como o mar, como o mar, profunda e infinita... [Põe os braços em volta do pescoço de Rodolfo] Você é o meu amor, e toda a minha vida! RODOLFO Ah, Mimì, minha bela Mimì! MIMÌ [Deixa os braços caírem] Ainda sou bonita? RODOLFO Bela como uma aurora. MIMÌ Você errou a metáfora. Queria dizer bela como um pôr-do-sol. “Chamam-me de Mimì, nem sei por quê”. RODOLFO [Enternecido e carinhoso]
braccio] E tu... [Accennandogli Rodolfo chino su Mimì addormentata] lasciali soli là!... SCHAUNARD [Si leva in piedi. Commosso] Filosofo, ragioni! [Guardando verso il letto] È ver!... Vo via! [Si guarda intorno, e per giustificare la sua partenza prende la bottiglia dell’acqua e scende dietro Colline chiudendo con precauzione l’uscio] MIMÌ [Apre gli occhi, vede che sono tutti partiti e allunga la mano verso Rodolfo, che gliela bacia amorosamente] Sono andati? Fingevo di dormire perché volli con te sola restare. Ho tante cose che ti voglio dire, o una sola, ma grande come il mare, come il mare profonda ed infinita... [Mette le braccia al collo di Rodolfo] Sei il mio amore e tutta la mia vita! RODOLFO Ah, Mimì, mia bella Mimì! MIMÌ [Lascia cadere le braccia] Son bella ancora? RODOLFO Bella come un’aurora. MIMÌ Hai sbagliato il raffronto. Volevi dir: bella come un tramonto. Mi chiamano Mimì, il perché non so. RODOLFO [Intenerito e carezzevole] Tornò al nido la rondine e cinguetta. [Si leva di dove l’aveva riposta, sul cuore, la cuffietta di Mimì e gliela porge]
108 Theatro Municipal de São Paulo
A andorinha voltou ao ninho e canta. [Tira a touca do peito, onde a havia colocado, e a dá para Mimì] MIMÌ [Com alegria] A minha touca... Ah! [Estica a cabeça para Rodolfo, que lhe coloca a touca. Mimì coloca Rodolfo sentado perto de si e fica com a cabeça apoiada em seu peito] Você se lembra de quando entrei aqui pela primeira vez? RODOLFO Eu me lembro!
MIMÌ [Gaiamente] La mia cuffietta... Ah! [Tende a Rodolfo la testa, questi le mette la cuffietta. Mimì fa sedere presso a lei Rodolfo e rimane colla testa appoggiata sul petto di lui] Te lo rammenti quando sono entrata la prima volta, là? RODOLFO Se lo rammento! MIMÌ Il lume si era spento...
MIMÌ A luz estava apagada...
RODOLFO Eri tanto turbata! Poi smarristi la chiave...
RODOLFO Você estava tão perturbada! Depois perdeu a chave...
MIMÌ E a cercarla tastoni ti sei messo!...
MIMÌ E passou a procurá-la tateando!
RODOLFO E cerca, cerca...
RODOLFO Procura daqui, procura dali...
MIMÌ Mio bel signorino, posso ben dirlo adesso: lei la trovò assai presto...
MIMÌ Meu belo senhorzinho, agora posso dizer: você a encontrou bem rápido...
RODOLFO Aiutavo il destino...
RODOLFO Ajudava o destino... MIMÌ [Lembrando-se do encontro com Rodolfo, na véspera de Natal] Estava escuro, e não se via meu rubor... [Sussurra as palavras de Rodolfo] “Que mãozinha mais gelada... Deixe-me esquentá-las!” Estava eſcuro, e você segurava na minha mão... [Mimì é tomada de um espasmo de sufocação e deixa cair a cabeça, exaurida]
MIMÌ [Ricordando l’incontro suo con Rodolfo la sera della vigilia di Natale] Era buio; e il mio rossor non si vedeva... [Sussurra le parole di Rodolfo] Che gelida manina... Se la lasci riscaldar! Era buio e la man tu mi prendevi... [Mimì è presa da uno spasimo di soffocazione e lascia ricadere il capo, sfinita]
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RODOLFO [Apavorado, segura-a] Meu Deus! Mimì! [Nesse instante, Schaunard volta; ao grito de Rodolfo, corre para perto de Mimì]
RODOLFO [Spaventato, la sorregge] Oh Dio! Mimì! [In questo momento Schaunard ritorna: al grido di Rodolfo accorre presso Mimì]
SCHAUNARD O que é?
SCHAUNARD Che avvien?
MIMÌ [Abre os olhos e sorri para confortar Rodolfo e Schaunard] Nada. Estou bem.
MIMÌ [Apre gli occhi e sorride per rassicurare Rodolfo e Schaunard] Nulla. Sto bene.
RODOLFO [Acomoda-a no travesseiro] Silêncio, por favor.
RODOLFO [La adagia sul cuscino] Zitta, per carità.
MIMÌ Sim, sim, perdão, serei boazinha. [Musetta e Marcello entram com cuidado; Musetta com um regalo, e Marcello com um frasco]
MIMÌ Sì, sì, perdona, ora sarò buona. [Musetta e Marcello entrano cautamente, Musetta porta un manicotto e Marcello una boccetta]
MUSETTA [Para Rodolfo] Dorme?
MUSETTA [A Rodolfo] Dorme?
RODOLFO [Aproximando-se de Marcello] Repousa.
RODOLFO [Avvicinandosi a Marcello] Riposa.
MARCELLO Estive no médico! Ele virá; apressei-o. Esse é o tônico. [Pega uma lâmpada a álcool, coloca em cima da mesa e acende]
MARCELLO Ho veduto il dottore! Verrà; gli ho fatto fretta. Ecco il cordial. [Prende una lampada a spirito, la pone sulla tavola e l’accende]
MIMÌ Quem fala?
MIMÌ Chi parla?
MUSETTA [Aproxima-se de Mimì e lhe entrega o regalo] Eu, Musetta.
MUSETTA [Si avvicina a Mimì e le porge il manicotto] Io, Musetta.
MIMÌ [Com a ajuda de Musetta, ergue-se da cama, pegando o regalo com alegria quase infantil]
MIMÌ [Aiutata da Musetta si rizza sul letto, e con gioia quasi infantile prende il manicotto]
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Oh, como é belo e delicado! Minhas mãos não ficarão mais lívidas. O calor vai embelezá-las... [Para Rodolfo] É você quem está me dando? MUSETTA [Rápido] Sim. MIMÌ [Estende uma mão a Rodolfo] Seu imprudente! Obrigado. Mas é caro. [Rodolfo prorrompe em pranto] Está chorando? Eu estou bem... Para que chorar desse jeito? [Coloca as mãos no regalo e incina a cabeça graciosamente sobre ele, para adormecer] Aqui... amor... sempre contigo! As mãos... no calor... e... dormir. [Silêncio] RODOLFO [Tranquilizado ao ver que Mimì adormeceu, afasta-se dela com cuidado e, pedindo com gestos que os outros não façam barulho, aproxima-se de Marcello] O que o médico disse? MARCELLO Virá. MUSETTA [Esquenta no fogareiro a álcool o remédio trazido por Marcello e murmura uma oração, quase inconscientemente. Rodolfo, Marcello e Schaunard conversam entre sim, bem baixo; de tempos em tempos, Rodolfo vai até a cama, vigiando Mimì, e volta para junto dos amigos] Bendida mãe de Deus, tenha piedade dessa coitadinha que não deve morrer. [Interrompendo-se, para Marcello] Isso aqui precisa de conserto; a chama está vacilando.
Oh, come è bello e morbido! Non più le mani allividite. Il tepore le abbellirà... [A Rodolfo] Sei tu che me lo doni? MUSETTA [Pronta] Sì. MIMÌ [Stende una mano a Rodolfo] Tu, spensierato! Grazie. Ma costerà. [Rodolfo scoppia in pianto] Piangi? Sto bene... Pianger così, perché? [Mette le mani nel manicotto, si assopisce inclinando graziosamente la testa sul manicotto in atto di dormire] Qui.. amor... sempre con te! Le mani... al caldo... e... dormire. [Silenzio] RODOLFO [Rassicurato nel vedere che Mimì si è addormentata, cautamente si allontana da essa e fatto un cenno agli altri di non far rumore, si avvicina a Marcello] Che ha detto il medico? MARCELLO Verrà. MUSETTA [Fa scaldare la medicina portata da Marcello sul fornello a spirito, e quasi inconsciamente mormora una preghiera. Rodolfo, Marcello e Schaunard parlano assai sottovoce fra di loro; di tanto in tanto Rodolfo fa qualche passo verso il letto, sorvegliando Mimì, poi ritorna verso gli amici] Madonna benedetta, fate la grazia a questa poveretta che non debba morire. [Interrompendosi, a Marcello] Qui ci vuole un riparo perché la fiamma sventola. [Marcello si avvicina e mette un libro ritto
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[Marcello se aproxima e coloca um livro em pé em cima da mesa, formando um biombo] Isso. [Retoma a oração] E que ela possa se curar. Virgem santa, eu sou indigna de perdão enquanto Mimì, pelo contrário, é um anjo do céu. [Enquanto Musetta reza, Rodolfo se aproxima dela] RODOLFO Ainda tenho esperança. Você acha que é grave? MUSETTA Não creio. SCHAUNARD [Caminhando na ponta dos pés, vai observar Mimì, faz um gesto de dor e volta para junto de Marcello. Com voz entrecortada] Marcello, morreu... [Rodolfo, enquanto isso, percebeu que o sol da janela vai bater no rosto de Mimì, e procura dar um jeito; Musetta percebe e lhe aponta seu xale; ele sobe em uma cadeira e estuda o modo de estendê-lo sobre a janela] [Marcello, por sua vez, se aproxima da cama e se afasta, aterrorizado; enquanto isso, entra Colline, colocando dinheiro na mesa, perto de Musetta] COLLINE Musetta, para você! [Depois, ao ver que Rodolfo não consegue colocar o xale, corre em seu auxílio, perguntando de Mimì] Como está? RODOLFO Está vendo? Está tranquila. [Volta-se para Mimì; enquanto Musetta faz sinal de que o remédio está pronto, desce da cadeira mas, ao ir em direção a ela, percebe o comportamento estranho de
sulla tavola formando paravento alla lampada] Così. [Ripiglia la preghiera] E che possa guarire. Madonna santa, io sono indegna di perdono, mentre invece Mimì è un angelo del cielo. [Mentre Musetta prega, Rodolfo le si è avvicinato] RODOLFO Io spero ancora. Vi pare che sia grave? MUSETTA Non credo. SCHAUNARD [Camminando sulla punta dei piedi va ad osservare Mimì, fa un gesto di dolore e ritorna presso Marcello. Con voce strozzata] Marcello, è spirata... [Intanto Rodolfo si è avveduto che il sole della finestra della soffitta sta per battere sul volto di Mimì e cerca intorno come porvi riparo; Musetta se ne avvede e gli indica la sua mantiglia, sale su di una sedia e studia il modo di distenderla sulla finestra. Marcello si avvicina a sua volta al letto e se ne scosta atterrito; intanto entra Colline che depone del danaro sulla tavola presso a Musetta] COLLINE Musetta, a voi! [Poi visto Rodolfo che solo non riesce a collocare la mantiglia corre ad aiutarlo chiedendogli di Mimì] Come va?... RODOLFO Vedi?... È tranquilla. [Si volge verso Mimì, in quel mentre Musetta gli fa cenno che la medicina è pronta, scende dalla scranna, ma nell’accorrere presso Musetta si accorge dello strano contegno di Marcello e Schaunard. Con voce strozzata dallo sgomento] Che vuol dire
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Marcello e Schaunard. Com a voz alterada pelo medo] O que quer dizer esse ir e vir, esse jeito de me olhar... MARCELLO [Não se contém, corre até Rodolfo e, abraçando-o, grita, com voz angustiada:] Coragem! RODOLFO [Precipita-se para a cama de Mimì, ergue-a e, sacudindo-a, grita, no máximo do despero. Chorando] Mimì! Mimì! [Atira-se sobre o corpo inanimado de Mimì. Musetta, apavorada, corre até a cama, solta um grito de angústia, ajoelhando e chorando aos pés de Mimì, do lado oposto de Rodolfo. Schaunard se abandona abatido em uma cadeira, à esquerda. Colline vai aos pés da cama, arrasado pela rapidez da catástrofe. Marcello soluça, voltando as costas para o proscênio]
quell’andare e venire, quel guardarmi così... MARCELLO [Non regge più, corre a Rodolfo e abbracciandolo con voce angosciata grida] Coraggio! RODOLFO [Si precipita al letto di Mimi, la solleva e scotendola grida colla massima disperazione. Piangendo] Mimì... Mimì!... [Si getta sul corpo esanime di Mimì. Musetta, spaventata corre al letto, getta un grido angoscioso, buttandosi ginocchioni e piangente ai piedi di Mimì dalla parte opposta di Rodolfo. Schaunard si abbandona accasciato su di una sedia a sinistra della scena. Colline va ai piedi del letto, rimanendo atterrito per la rapidità della catastrofe. Marcello singhiozza, volgendo le spalle al proscenio]
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Foto da montagem de La Bohème, de 2013, do Theatro Municipal de São Paulo
No início do século 20, havia em São Paulo conjuntos orquestrais mantidos por associações e colégios, mas não uma orquestra profissional especializada em ópera. As companhias líricas internacionais que se apresentavam no Theatro Municipal traziam, além dos solistas, músicos e corais completos. Na década de 1920, uma orquestra profissional foi montada e passou a realizar apresentações esporádicas no Theatro Municipal, mas somente em 1939 o grupo tornou–se permanente e passou a se apresentar com maior frequência, sob o nome de Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal de São Paulo. Em 1949, um projeto de lei oficializou o conjunto, que passou a se chamar Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e a fazer parte das temporadas líricas e de dança do Theatro. Com atuações de destaque em todos esses anos, em 1940 a orquestra inaugurou o estádio do Pacaembu e, em 1955, tocou na reabertura de Theatro Municipal a ópera Pedro Malazarte, de Camargo Guarnieri, regida pelo próprio autor. Realizou, ainda, concerto em homenagem aos participantes dos Jogos Pan–Americanos de 1963, em São Paulo, e fez sua primeira excursão ao exterior em 1971, com todo o elenco, para apresentação da ópera II Guarany, de Carlos Gomes, no Teatro San Carlo, na Itália.
orquestra sinfônica municipal de são paulo
Muitos mestres da música contribuíram para o crescimento da Orquestra Sinfônica Municipal, entre eles Arturo de Angelis, Zacharias Autuori, Edoardo Guarnieri, Lion Kasniefski, Souza Lima, Eleazar de Carvalho e Armando Belardi. Atualmente, John Neschling é o diretor a rtístico do Theatro Municipal de São Paulo e regente da Orquestra Sinfônica Municipal.
116 Theatro Municipal de São Paulo
Desde agosto de 2014, Eduardo Strausser é assistente do maestro John Neschling e regente residente do Theatro Municipal de São Paulo. Nesta temporada, Strausser regerá La Bohème, de Puccini; Elektra, de Richard Strauss; e Fosca, de Carlos Gomes. No Theatro Municipal de São Paulo, dirigiu grandes artistas, como Gregory Kunde, Vitalij Kowaljow, Andrei Bondarenko, Lana Kos e Svetlana Aksenova. Regeu orquestras como a Kurpfälzischen Kammerorchester, de Mannheim, a Orquestra Sinfônica de Berna, a Südwestdeutsche Philharmonie de Konstanz, a Berliner Camerata e o Festival de Cordas de Lucerna; com a Meininger Hofkapelle, dirigiu A Flauta Mágica, de Mozart. Este ano, Strausser fez seu debut com a Orchestra Filarmonica del Teatro La Fenice, de Veneza, estreará no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e retornará à Berliner Camerata e ao Teatro Verdi de Padova. Entre 2012 e 2014, foi diretor artístico da Orchesterverein Wiedikon e da Kammerorchester Kloten, em Zurique. Nascido em São Paulo, em 1985, Strausser estudou na Zürcher Hochschule der Künste, onde recebeu com distinção os títulos de mestre e especialista na classe do renomado Professor Johannes Schlaefli. Em 2007, passou o verão em Kürten, Alemanha, onde estudou análise e interpretação com Karlheinz Stockhausen. Participou de masterclasses com Bernard Haitink e David Zinman, na Suíça, e com Kurt Masur, em Nova York. Em 2008, foi selecionado para participar do prestigiado Fórum Internacional de Regentes do Ferienkurse für Neue Musik em Darmstadt, onde teve a oportunidade de trabalhar com compositores como György Kurtág e Brian Ferneyhough.
117 La Bohème
eduardo strausser regente residente e diretor musical
Gianluca Martinenghi estudou piano com Piero Rattalino e composição com com Bruno Bettinelli. Tem colaborado com músicos como Gianandrea Gavazzeni, Bruno Campanella e Yuri Ahronovitch. Tem regido em teatros como o Massimo di Palermo, o Comunale di Bologna, a Ópera de Roma, Arena de Verona, Teatro Bellini de Catania, Deutsche Oper de Berlim, Teatro Carlo Felice de Genova, Teatro Lírico de Cagliari, Teatro Petruzzelli de Bari, Teatro Donizetti de Bergamo, Teatro Pavarotti de Modena, Teatro Comunale de Ferrara, Ópera da Irlanda, Teatro Nacional de Ópera e Ballet de Tirana, Palm Beach Opera, Teatro Goldoni de Livorno, Teatro Verdi de Pisa, Teatro Nacional Esloveno de Maribor, Teatro Nacional da Macedônia, Sydney Opera House, Teatro Verdi de Salerno, Teatro Nacional da Croácia e Teatro Lübeck.
gianluca martinenghi regente
Gianluca combina a presença nos palcos líricos com o repertório sinfônico, que apresenta com orquestras como a Sinfônica Siciliana, Orchestra Regionale dell’Abruzzo, Sinfônica de Málaga, Sinfônica das Ilhas Baleares, Sinfônica da Cidade de Murcia, Orquestra de la Suisse Romande, Sinfônica de Laval, Sinfônica de Campinas, Sinfônica de Tenerife, Orquestra Toscanini de Parma, Sinfônica de Hong Kong, Sinfônica de Maribor, Sinfônica de Macerata, Orquestra do Festival Puccini de Torre del Lago, a Münchner Rundfunkorchester, Sinfônica de Montreal e Filarmônica de Montecarlo.
118 Theatro Municipal de São Paulo
Formado por cantores que se apresentam regularmente como solistas nos principais teatros do país, o Coro Lírico Municipal de São Paulo atua nas montagens de óperas das temporadas do Theatro Municipal, em concertos com a Orquestra Sinfônica Municipal, com o Balé da Cidade e em apresentações próprias. Desde 2013 sob o comando de Bruno Greco Facio, o grupo passou por um aprimoramento técnico e vocal e hoje conta com mais de 80 integrantes, prontos a interpretar diferentes papéis, em óperas cantadas em idiomas como o italiano, alemão, francês, russo e espanhol, como aconteceu na última temporada. O Coro Lírico foi criado em 1939 e teve, como primeiro diretor, o maestro Fidélio Finzi, que preparou o grupo para a estreia em Turandot, em 13 de junho de 1939. Em 1947, Sisto Mechetti assumiu o posto de maestro titular e, somente em 1951, o coro foi oficializado, sendo dirigido posteriormente por Tullio Serafin, Olivero De Fabritis, Eleazar de Carvalho, Armando Belardi, Francisco Mignone, Heitor Villa-Lobos, Roberto Schnorrenberg, Marcello Mechetti, Fábio Mechetti e Mário Zaccaro. O Coro Lírico Municipal recebeu os prêmios de Melhor Conjunto Coral de 1996, pela APCA, e o Carlos Gomes 1997 na categoria Ópera.
119 La Bohème
coro lírico municipal de são paulo
Paulistano, graduado em composição e regência pelas Faculdades de Artes Alcântara Machado, estudou sob a orientação dos mestres Abel Rocha, Isabel Maresca e Naomi Munakata. No ano de 2011, assumiu a regência do Collegium Musicum de São Paulo, tradicional coro da capital, dando continuidade ao trabalho musical do maestro Abel Rocha. Por 11 anos, dirigiu o Madrigal Souza Lima, trabalho responsável pela formação musical de jovens cantores e regentes.
bruno greco facio regente do coro lírico municipal
Em 2010, foi preparador do coro da Cia. Brasileira de Ópera, projeto pioneiro do maestro John Neschling que percorreu mais de 20 cidades brasileiras com a ópera O Barbeiro de Sevilha, de Gioachino Rossini. A convite do maestro Neschling, tornou– se regente titular do Coral Paulistano em fevereiro de 2013 e, em dezembro do mesmo ano, assumiu a direção do Coro Lírico Municipal de São Paulo.
120 Theatro Municipal de São Paulo
Fundado no final de década de 1970, o Coro Infantojuvenil da Escola Municipal de Música é integrado por crianças e adolescentes que frequentam os cursos de formação da instituição e nele desenvolvem tanto as aptidões musicais quanto as sociais.
coro infantojuvenil da escola municipal de música de são paulo
A excelência do trabalho desenvolvido pelo grupo, dirigido desde 2011 pela maestrina Regina Kinjo, é atestada pelos frequentes convites que recebe para apresentações junto a importantes grupos sinfônicos, como a Orquestra Sinfônica da USP e a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, além de participações em montagens de ópera da temporada lírica do Theatro São Pedro e do Theatro Municipal de São Paulo.
121 La Bohème
Regente coral, Regina Kinjo é professora do Coro Infantojuvenil da Escola Municipal de Música de São Paulo e do Coral do Colégio Oshiman, além de professora de capacitação para professores na rede municipal de Osasco. Dirige, desde a formação, o Madrigal Sempre en Canto. Trabalhou no Projeto Guri, Emesp Tom Jobim, Meninos do Morumbi, Instituto Baccarelli e Coral Vozes da Infância. Ministrou aulas de canto coral infantil e infantojuvenil no Festival de Inverno de Campos do Jordão, Festival de Artes de Itu e de Bragança Paulista; regência coral infantojuvenil na Oficina de Música de Curitiba, Festival Música nas Montanhas em Poços de Caldas e Música na Serra em Lajes; além de workshops diversos. Apresentou-se com seus grupos em eventos como o Prêmio Itaú UNICEF no Credicard Hall, Natal na Praça Júlio Prestes, Projeto Guri e Toquinho na Sala São Paulo, Natal da ULM com Lobão – Memorial da América Latina e SESC, Projeto Guri – Fortuna e Monges Beneditinos, entre outros. Participou de episódios da série Aprendiz de Maestro, com o maestro João Maurício Galindo, e realizou concertos a convite dos maestros Roberto Sion, Mônica Giardini, Abel Rocha, Marcos Sadao e Ricardo Bologna. Dirigiu o coro da ópera I Pagliacci, no Centro de Cultura Judaica, a convite do diretor Iacov Hillel. Com o Coro Infantojuvenil da Escola Municipal de Música, participou das óperas L’enfant et les Sortilèges, I Pagliacci, Otello, no Theatro Municipal de São Paulo, e Poranduba, no Theatro São Pedro.
regina kinjo regente do coro infantojuvenil da escola municipal de música
122 Theatro Municipal de São Paulo
Arnaud Bernard estudou no Conservatório Nacional de Estrasburgo e participou, como violinista, da Orquestra Filarmônica daquela cidade. Em 1988, tornou-se assistente de Nicolas Joël, e colaborou com Jean-Claude Auvray na França e Alemanha. No ano seguinte, tornou-se diretor cênico no Théâtre du Capitole de Toulouse, trabalhando como assistente de direção de todas as grandes produções daquele teatro. Trabalhou em alguns dos mais importantes teatros de ópera do mundo, como o Covent Garden, Metropolitan Opera, alla Scala de Milão, Opéra Bastille e o Teatro Colón de Buenos Aires. Foi assistente de direção em diversas cidades da França, como Lyon, Nice, Paris, Montpellier, Monte Carlo e Bordeaux; e também em outros países, como Alemanha, Bélgica, Inglaterra, Argentina, Japão e Estados Unidos. A partir de 1999, foi diretor cênico de alguns dos maiores títulos operísticos em diversos teatros pelo mundo. Apresentou Roméo et Juliette, de Gounod, na Lyric Opera de Chicago (com Roberto Alagna e Angela Gheorghiu), no Beijing Music Festival, em Tóquio, em Marselha, Lausanne e Bilbao. Assinou uma nova produção de L’Elisir d’Amore no Théâtre du Capitole em Toulouse (com a estreia de Marcelo Alvarez no papel de Nemorino); Lakmé, no Teatro Massimo de Palermo; La Bohème para a Arena de Verona; e uma nova produção de Falstaff para o Teatro São Carlo de Nápoles, reapresentada em Lausanne e no Teatro Colón.
123 La Bohème
arnaud bernard diretor de cena, cenógrafo e iluminador
Carla Ricotti começou a trabalhar como cenógrafa e figurinista em 1995, na montagem da peça O Pequeno Príncipe, do Piccolo Teatro de Milão, com regência de Stefano de Luca. Desde então, Carla assinou inúmeras apresentações teatrais com diretores como Angelo Longoni, Guido de Monticelli, Giulio Bosetti, Maurizio Scaparro e Leo Muscato. Colaborou com John McFarlane, James Ivory e Jean Paul Gaulfier junto ao teatro Della Pergola de Florença. Desde 2011 colabora regularmente com Arnaud Bernard em diversos espetáculos, entre eles Le Roi de Lahore, de Massenet, para o teatro La Fenice de Veneza; La Traviata, para a Ópera de Praga; Falstaff, de Verdi, para o Teatro de San Carlo em Nápoles e a Ópera de Lausanne; Carmen, de Bizet, para a Ópera Nacional Finlandesa, em Helsinki; e La Bohème para o Teatro Mikahilovsky de São Petersburgo, ópera pela qual foi nomeada ao prêmio Golden Mask por melhor desenho de figurino do ano.
carla ricotti figurinos
É professora de cenografia e história do figurino na Scuola del Teatro Musicale, em Novara, e docente da Academia de Belas Artes de Brera. Entre seus trabalhos recentes, estão a cenografia e figurino do musical Happy Days, com regência de Saverio Marconi, realizado com a Compagnia della Rancia; Fausto, de Gounod, na Ópera Nacional da Grécia, em Atenas; e a ópera I Capuleti e i Montecchi, de Bellini, para a temporada de 2012-2013 da Fundação Arena di Verona.
124 Theatro Municipal de São Paulo
Julianna Santos é graduada em Direção Teatral pela UFRJ. Em 2003, ainda na universidade, iniciou com As Bodas de Fígaro o trabalho como assistente de direção de ópera. Desde então, atua como assistente de direção nos principais teatros de ópera do país, tendo participado em montagens de mais de 50 diferentes títulos.
julianna santos remontagem de direção de cena
Trabalhou no Theatro Municipal de São Paulo, Teatro Municipal do Rio de Janeiro, Palácio das Artes de Belo Horizonte e Theatro São Pedro, em São Paulo. Participou por três anos consecutivos do Festival de Amazonas de Ópera e, em 2013, dirigiu O Morcego, de Johann Strauss II.. No Festival de Inverno de Petrópolis, remontou Così Fan tutte e As Damas Trocadas. Em 2010, dirigiu o concerto cênico Máscaras, no Theatro Municipal de Niterói, e também La Traviata em versão reduzida para piano. Por cinco semanas acompanhou o processo de remontagem da ópera O Rapto no Serralho na Opera Company of Philadelphia. Atualmente, faz parte da equipe de direção cênica do Theatro Municipal de São Paulo, como diretora residente. Trabalhou como assistente de renomados diretores, como André Heller-Lopes, Andrea de Rosa, Arnaud Bernard, Caetano Vilela, Carla Camuratti, Cesare Lievi, Davide Livermore, Filippo Tonon, Henning Brockhaus, Pier Francesco Maestrini, Livia Sabag, Marco Gandini, Sergio Vela, Stefano Poda e William Pereira, trabalhando com maestros como Alain Guingal, Ira Levin, Luiz Fernando Malheiro, Jacques Delacôte, John Neschling, Oleg Caetani, Ramón Tebar, Silvio Viegas , Victor Hugo Toro e Yoram David.
125 La Bohème
Natural de Vinhedo, interior de São Paulo, Valéria Lovato cria luz desde 2001 para diversos espetáculos na região metropolitana de São Paulo e Campinas. Estudou física aplicada na Unicamp, migrando posteriormente para a primeira turma de iluminação da SP Escola de Teatro, sob coordenação de Guilherme Bonfanti.
valéria lovato remontagem de iluminação
Dentre os grupos teatrais com os quais trabalhou estão a Cia. dos Atores, Coletivo Improviso, Cia. Acidental, Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, Cia. Linhas Aéreas e Ópera na Mala, tendo trabalhado com iluminadores renomados como Guilherme Bonfanti, Wagner Freire, Renato Machado, Maneco Quinderé, Caetano Vilela e Mirella Brandi. Atualmente é coordenadora de iluminação do Theatro Municipal de São Paulo, onde trabalhou com diretores como Marco Gandini, Pier Francesco Maestrini, Arnaud Bernard, David Livermore, Livia Sabag, Giancarlo del Monaco, Stefano Poda, entre outros. Em 2014, foi responsável pela remontagem de luz de Cavalleria Rusticana, montagem de 2013 do Theatro Municipal de São Paulo.
126 Theatro Municipal de São Paulo
Cristina Pasaroiu começou a estudar música em Bucareste e continuou a formação nos Conservatórios de Genebra e Milão. Em 2009, se formou na Universität fur Musik und Darstellande Kunst, em Viena, tornando-se membro do Programa para Jovens Artistas de Bolonha, até 2010, período em que venceu competições internacionais de canto. Em 2009, estreou como Magda em La Rondine no Teatro Comunale de Bolonha. Estreou como Violetta em Violetta em La Traviata em 2011, no Nordhausen Theater, e cantou em La Rondine na Ópera de Lorraine. Voltou a La Traviata em Rudolstadt e foi Micaëla no Festival St. Margarethen. Entre 2012 e 2015, foi Fiordiligi em Così fan tutte em Kassel e na Vlaamse Opera; Adriana Lecouvreur, Desdemona em Otello e La Traviata na Ópera de Frankfurt; Gilda em Rigoletto; Violetta no Erl Festival e na Ópera Nacional de Bucareste; Mimì em La Bohème no Festival St. Margarethen e nas Termas de Caracalla; Micaëla em St. Gallen, Musetta na Opéra d’Avignon; e Desdemona no Staatstheater. Na Ópera de Nice interpretou, em 2014, Adriana Lecouvreur, em 2015, Rachel em La Juive e Violetta e, em 2016, Valentine em Les Huguenots. Estreou no Grand Teatre del Liceu de Barcelona como Suor Angelica. Futuros compromissos incluem Gilda no Aalto-Theater Essen; Contessa em Le Nozze di Figaro em St. Gallen; Micaëla no Bregenzer Festspiele; e La Traviata, Manon e Così Fan tutte no Staatstheater Wiesbaden. Gravou Carmen com a Deutsche Grammophon e La Bohème para a Magazzini Sonori.
127 La Bohème
cristina pasaroiu soprano
A jovem soprano letã Maija Kovalevska estudou na Academia de Música J. Vitols da Letônia, com o professor A. Garanca, e estreou em Don Giovanni em 2003 na Ópera Nacional da Letônia, em Riga, sua cidade natal. A estreia no Metropolitan Opera de Nova York – MET ocorreu em 2006, como Mimì em La Bohème. As participações seguintes no MET incluíram Turandot, Carmen e novamente La Bohème. Cantou em Don Giovanni em Munique e estreou na Royal Opera House de Londres com Carmen.
maija kovalevska soprano
No Festival de Salzburgo estreou em 2007, com Benvenuto Cellini regida por Gergiev. Naquele mesmo ano, estreou em Tóquio com As Bodas de Fígaro e com a Los Angeles Opera em La Bohème. Em 2008, as estreias continuaram com La Bohème na San Francisco Opera e Eugene Onegin no Festival de Glyndebourne. Além da colaboração com o MET, canta regularmente com a Ópera de Viena, Royal Opera House e Ópera de Munique. Maija Kovalevska recentemente estreou na Dresden Semperoper com Iolanta, no Teatro alla Scala e em Guangzhou (China) em Turandot, no Covent Garden e em Hamburgo com La Bohème, em Buenos Aires em As Bodas de Fígaro e, com a Ópera Viena, em Eugene Onegin, Simon Boccanegra e La Traviata. Atuou também em Don Giovanni em Palermo e Eugene Onegin em Genebra. Recentemente, cantou Carmen no México, La Bohème em Sydney, Eugene Onegin com a Staatsoper de Viena e Don Giovanni em Gênova. Dentre os futuros compromissos está La Bohème em Dresden e Falstaff em Genebra.
128 Theatro Municipal de São Paulo
Nascido em Cantania, estudou canto com Domenica Monti e no Conservatório Giussepe Verdi com Giovanni Canetti e Wilma Borelli. Teve o privilégio de estudar com Luciano Pavarotti. Venceu competições internacionais como a Riccardo Zandonai e a Francesco Maria Martini.
ivan magri tenor
Próximos compromissos incluem Rodolfo em La Bohème no Teatro Petruzzelli de Bari; Duque em Rigoletto na Opera di Firenze, Staatsoper Stuttgart, Staatsoper Hamburg e Semperoper Dresden; Rodolfo em Luisa Miller na Staatsoper Hamburg; o papel-título em Werther na Ópera de Budapeste; e Nemorino em L’Elisir d’Amore no Covent Garden. Em temporadas recentes foi Alfredo em La Traviata na Staatsoper Berlin, Ópera de Israel, Deutsche Oper Berlin, Savonlinna Opera Festival, Florida Grand Opera, Bayerische Staatsoper, Palau de les Arts, Macerata Opera Festival e em Seul; Rodolfo em Luisa Miller na Opernhaus Zürich e Staatsoper Hamburg; Duque em Rigoletto na Deutsche Oper Berlin, Ópera de Budapeste, Dutch National Opera, Opera di Firenze, Comunale di Bologna, Teatro Sociale em Como, Ópera de Las Palmas, Deutsche Oper Berlin, Regio de Turim e Estonian Opera; L’Elisir d’Amore no Teatro Colón, Ópera de Lima, Teatro Regio, Teatro dell’Opera di Roma e Festival Donizetti em Bergamo; Gabriele em Simon Boccanegra no Palau de les Arts de Valência; Arturo em I Puritani no Comunale di Bologna, Latvian National Opera e Slovak National Theatre; I due Foscari em Valência; Werther na Estônia; Un Giorno di Regno no Regio di Parma, dentre outros.
129 La Bohème
Nascido em Veneza, estudou no Conservatório Benedetto Marcello de sua cidade natal e se aperfeiçoou com Vittorio Terranova, Ernesto Palacio e Giacomo Aragall em Barcelona e Viena. Participou de masterclasses com Richard Barker, Roberto Scandiuzzi e Mariella Devia. Estuda atualmente com Antonio Lemmo e Enzo Ferrari. Venceu concursos internacionais como o Silvano Pagliuca, o Martinelli-Pertile e, em 2014, o Premio Etta Limiti e o Concorso Riccardo Zandonai.
riccardo gatto tenor
Já cantou Ferrando em Così fan tutte em Padova; Cambiale di Matrimonio em Udine; Gianni Schicchi em Trento; e Almaviva em O Barbeiro de Sevilha em Sarzana, Bassano, Vicenza, Amsterdã. Recentemente interpretou Nemorino em L’Elisir d’Amore em Cosenza; e Manfredo em Vespri Siciliani em Reggio Emilia, Modena e Piacenza. Em 2014, cantou em Alcina em Tel Aviv; Così fan tutte no Pafos Aphrodite Festival; Lucia di Lammermoor em Bergamo e Treviso. Foi Alfredo na celebrada produção de Ferzan Özpetek para La Traviata no San Carlo de Nápoles. Convidado regular do Festival della Valle d’Itria, em Martina Franca, cantou na ópera Nûr com Tiziana Fabbricini e, em 2013, foi Lupino em Ambizione Delusa, de Leonardo Leo. Colaborou com maestros como Nello Santi, Stefano Ranzani, Jordi Bernacer, Walter Attanasi, Giampaolo Bisanti, Yishai Steckler e Claudio Desderi; e foi dirigido por Maria Francesca Siciliani, Paolo Panizza, Caterina Panti Liberovici, Diana Kienast, Davide Livermore, Niv Hoffman, entre outros.
130 Theatro Municipal de São Paulo
Formado muito jovem no Conservatório G.B.Martini de Bolonha, Mattia Olivieri entrou em 2009 para a Escola de Ópera Italiana de Bolonha. Estreou no papel de Papageno em O Conto da Flauta Mágica, a partir da obra de Mozart, no Projeto de Formação para a Ópera, e foi Giorgio em La Gazza Ladra.
mattia olivieri barítono
Em 2011 estreou como Dulcamara em O Elixir do Amor em Jesi, papel que interpretou no ano seguinte no Sarzana Opera Festival; foi Zweiter Revolutionär em Das geheime Königreich, o papeltítulo de Der Diktator, Giorgio em La Gazza Ladra na Semperoper Dresden, Papageno em A Flauta Mágica, segundo sacerdote em Il Prigioniero, Primeira Criatura em Frankestein ovvero l’Amor non Guarda in Faccia, em Bolonha, e Don Prudenzio em Il Viaggio a Reims em Pesaro. Em setembro de 2012 entrou para o Centro de Aperfeiçoamento de Valência, onde foi Cherubini na zarzuela El Duo de la Africana, de M.F. Caballero, e Schaunard em La Bohème, sob direção de Riccardo Chailly. Entre os compromissos recentes e futuros estão Così fan tutte em Valência e Nice; o protagonista em Don Giovanni em Palermo e Trieste; Turandot na Arena de Verona; La Finta Giardiniera na Glyndebourne Tour; Carmen no Teatro Carlo Felice de Gênova; a estreia como Marcello em La Bohème em Atenas e São Paulo e como Figaro em O Barbeiro de Sevilha em Nice; o Stabat Mater de Szymanovsky em Bari; Turandot e Réquiem de Donizetti no Festival de Bregenz; e La Bohème, O Elixir do Amor e Don Giovanni no La Scala de Milão.
131 La Bohème
O barítono chinês ZhengZhong Zhou estudou no Conservatório de Música de Shanghai e no Centre National d’Insertion Professionnelle d’Artistes Lyriques de Marselha. Venceu o terceiro prêmio na Competição Internacional de canto de Toulouse em 2012. Foi membro entre 2010 e 2012 do Jette Parker Young Artists Programme, no Covent Garden, quando alternou com Dmitri Hvorostovsky no papel de Valentin em Fausto.
zhengzhong zhou barítono
Já interpretou Silvio em I Pagliacci na Ópera de Monte Carlo e no Théâtre du Capitole Toulouse; Almaviva em As Bodas de Fígaro em Pequim; Balstrode em Peter Grimes no Festival Musical de Beijing; Marcello em La Bohème no Royal Albert Hall; Valentin em Fausto na Ópera de Hong Kong; Sir Riccardo Forth em I Puritani e Poeta em Il Turco in Italia na Ópera de Santiago; e diversas apresentações na Deutsche Oper Berlin. Cantou em concertos com o Ensemble Mini, a Deutsche Radio Philharmonie Saarbrücken Kaiserslautern e um concerto de gala no Barbican Centre. Outros destaques são papéis principais em Carmen; As Bodas de Fígaro; O Barbeiro de Sevilha na China e no Japão; Un Conte de Noël em Avignon, Marselha e Toulon; O Cavaleiro da Rosa na Opéra de Marseille; Rigoletto em Paris; e Roméo et Juliette, Werther, Tosca, Madama Butterfly, Salomé e Il Viaggio a Reims no Covent Garden. Cantou Des Grieux em Le Portrait de Manon no Meet the Young Artists Week; Requiem de Fauré no Royal Ballet; e em Roméo et Juliette, Werther, As Bodas de Fígaro, La Bohème e Il Viaggio a Reims no Covent Garden.
132 Theatro Municipal de São Paulo
Nascida em Timisoara, na Romênia, estudou no conservatório de sua cidade e efrequentou as masterclasses de Corneliu Murgu, Vladislav Piavko e Renée Corenne. Cantou no Coro da Ópera de Timisoara e, de 2007 a 2009, aperfeiçoou-se na Áustria com bolsa da CEE Musiktheater Academy de Viena.
mihaela marcu soprano
Desde 2009, é solista da Ópera Nacional de Timisoara, onde interpretou papéis principais em óperas como La Bohème, Carmen, As Bodas de Fígaro, Die lustige Witwe e Il Pipistrello. Com estes dois últimos títulos realizou turnê pela Holanda e Bélgica. Na temporada 2010-2011, estreou como Musetta em La Bohème e Lauretta em Gianni Schicchi. Recentemente estreou como Violetta em La Traviata. Atua em concertos na Romênia, Itália, Bélgica, Holanda, Alemanha e Áustria, onde se apresentou com a Wiener Staatsoper. Recentemente, estreou em Il Corsaro, La Clemenza di Tito em Trieste e Capuleti e i Montecchi e Hanna Glawari em A Viúva Alegre com a Filarmônica de Verona. Entre os compromissos recentes e futuros estão I Capuleti e i Montecchi em turnê em Oman com a Filarmônica de Verona, La Traviata em Marselha, La Bohème nas Termas de Caracalla, I Capuleti e i Montecchi e L’Elisir d’Amore no La Fenice, Don Pasquale em Trieste, Medea em Corinto em Martina Franca, I Capuleti e i Montecchi em Atenas, A Viúva Alegre em Cagliari, Rigoletto com a Filarmônica de Verona e O Morcego em Trieste. Foi reconhecida pelos críticos de música da Operatta-Musical como A Melhor Voz e Artista da Romênia em 2011.
133 La Bohème
Nascida em 1988, Anna Maria Sarra tem se aperfeiçoado na Accademia Nazionale di Santa Cecilia em Roma, na Academia Rossiniana do Festival de Ópera Rossini, na Escola de Ópera Italiana de Bolonha e como membro do Junges Ensemble do Theater an der Wien (temporada 2012/13).
anna maria sarra soprano
Já teve oportunidade de se apresentar em alguns dos mais importantes teatros dentro e fora da Itália, como o Theater an der Wien, Teatro São Carlos de Lisboa, Teatro del Maggio Musicale Fiorentino, Festival Aix-en-Provence, Teatro Filarmonico di Verona e Teatro Comunale de Bolonha, com maestros como Michele Mariotti, JeanChristophe Spinosi, Stefano Ranzani, Claudio Scimone, Micheal Guttler e Marco Angius, e diretores cênicos como Moshe Leiser, Patrice Caurier, Damiano Michieletto e Henning Brockhaus. Anna Maria Sarra abriu a temporada 2015/16 no papel de Pamina, em produção de A Flauta Mágica assinada por Damiano Michieletto para o La Fenice. Em seguida, estreou no papel de Outono em Die Bassariden, na Ópera de Roma, em A Viúva Alegre (Valencienne) no San Carlo de Nápoles, e na Ópera de Toulon, na Ópera dos Três Vinténs, de Kurt Weill. Na temporada 2014/15, interpretou Adina (O Elixir do Amor) no Teatro Carlo Felice de Gênova, Quatre Chansons Françaises, de Britten, com a Orquestra do La Fenice, com regência de Jonathan Webb, Caroline (Le Toréador) e Oscar (Um Baile em Máscara) no Massimo de Palermo e Musetta (La Bohème) no San Carlo de Nápoles.
134 Theatro Municipal de São Paulo
Patricio Sabaté iniciou os estudos musicais em 1991 no Conservatório da Universidade do Chile, onde atualmente é professor da cátedra de Interpretação Superior em Canto. Foi aluno de Carmen Luisa Letelier, Carlos Beltrami, Patricio Mendez e se aperfeiçoou em 2007 com o maestro Bruno Pola em Lugano, na Suíça. Foi premiado pelos Amigos do Teatro Municipal em 1994 e nomeado aos prêmios da Associação dos Jornalistas de espetáculos APES 2004 e Altazor 2011; reconhecido como Melhor Solista Nacional em 2008 pelo Círculo de Críticos de Arte de Valparaíso; escolhido pelo Círculo de Críticos de Arte do Chile como Melhor Personalidade de 2009 na categoria Ópera Nacional e, em 2014, premiado com menção especial pela participação na Flauta Mágica de Mozart. Já se apresentou no Chile, Argentina, Uruguai, Colômbia, Nicarágua, França e Finlândia. Cantou mais de 30 óperas e, dentre seus papéis mais notáveis, estão os de Fígaro, Don Giovanni, Orfeo, Dandini (La Cenerentola), Belcore (Elixir do Amor), Sulpice (A Filha do Regimento), Malatesta (Don Pasquale), poeta (O Turco na Itália), Silvio (I Pagliacci) e Pelléas (Pelléas et Mélisande). Seu repertório sinfônico e de câmara inclui cantatas, missas e paixões de J.S. Bach, oratórios de Händel, missas de Mozart, de Brahms, Lieder de Mahler, além de obras vocais de Schoenberg, Eisler, Shostakovich e Britten.
135 La Bohème
patricio sabaté barítono
Iniciou os estudos de música em 2001, sob orientação de Gabriella Ragazzi, e estreou no mesmo ano em Falstaff em Gênova. Em 2004 estreou em Il Viaggio a Reims e em Vestale di Mercadante no Festival de Ópera de Wexford e, em seguida, na Ópera de Nice em La Traviata.
mattia denti baixo
Cantou em La Traviata nos teatros Comunale de Bolonha, Valli de Reggio Emilia, La Fenice de Veneza, em Wiesbaden, La Scala de Milão e Verdi de Trieste; em Peter Grimes nos teatros de Modena, Reggio Emilia e Ferrara, em Carmen em Savona e em l’Arlesiana em Mântua. Estreou com grande aceitação da crítica em Rigoletto, Don Giovanni, Un Ballo in Maschera, Gianni Schicchi, Madama Butterfly e Nabucco. Recentemente cantou em La Traviata e The Gambler no La Scala; Boris Godunov no La Fenice; Semyon Kotko no Teatro Lírico de Cagliari; Un Ballo in Maschera no Teatro Verdi de Salerno; La Traviata no Japão, em turnê do Teatro Regio de Turim; Falstaff no Teatro Regio de Parma; Andrea Chénier com a Orquestra Verdi de Milão; Otello no Teatro Regio de Parma (Festival Verdi) e no Teatro La Fenice de Veneza; e Gianni Schicchi no Teatro del Maggio Musicale Fiorentino. Compromissos recentes incluem Nabucco no Teatro Lírico de Cagliari e no Teatro Verdi de Parma; uma longa colaboração com o La Fenice para La Traviata e para Otello no Japão e em Veneza; L’Africaine no La Fenice, La Traviata na Staatsoper de Munique e Timur na Ópera de Nice. Em 2015 cantou em Nabucco na Opera de Kiel e nos teatros de Modena e Piacenza.
136 Theatro Municipal de São Paulo
Murilo Neves é bacharel em Canto Lírico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e estudou com Ilza Corrêa no Rio de Janeiro e Rita Patanè em Milão. Seus trabalhos de maior destaque incluem Raimondo em Lucia di Lammermoor no Festival Amazonas de Ópera, Pistola em Falstaff no Teatro Solís em Montevideo e Peter Quince em A Midsummer Night’s Dream ao ar livre no Parque Lage do Rio de Janeiro. Apresentou-se em grandes teatros do Brasil, como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Primeiro Soldado em Salomé, Alonso em Il Guarany, entre outros), o Theatro São Pedro em São Paulo (Le Bailli em Werther) e o Palácio das Artes em Belo Horizonte (Raimondo em Lucia di Lammermoor e Roucher em Andrea Chénier).
murilo neves baixo
Participou de diversas edições do Festival Amazonas de Ópera, como Zuñiga em Carmen, Samuel em Un Ballo in Maschera, Harasta em A Raposinha Astuta, Angelotti em Tosca, Der Medizinalrat/ Der Theaterdirektor/ Der Bankier em Lulu, entre outros. Com a OSB Ópera e Repertório atuou como Trulove em The Rake’s Progress, como Trouffaldino em Ariadne auf Naxos no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e como Adraste em Renaud na Sala Cecília Meirelles. Com a Orquestra Sinfônica da USP, cantou as partes de Bearkeeper/ Grand Inquisitor/ King Ivan em Candide, na Sala São Paulo.
137 La Bohème
Inácio De Nonno é doutor em música pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestre em música – suma cum laude – pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde é professor nas classes de Canto.
inácio de nonno barítono
Prêmio Especial para a Canção Brasileira no XII Concurso Internacional de Canto do Rio de Janeiro, do repertório de Inácio De Nonno constam mais de 30 primeiras audições mundiais de peças e óperas para ele compostas. Tem participação em 32 CDs, todos dedicados ao repertório brasileiro, desde restaurações do material colonial até os compositores contemporâneos. O CD da ópera Colombo, de Carlos Gomes, em que interpreta o papeltítulo, ganhou o prêmio da APCA e o prêmio Sharp de 1998. O repertório de Inácio De Nonno enfatiza, ainda, a música antiga, o lied alemão – com destaque para os ciclos de canções de Schubert –, e a canção francesa, especialmente os compositores Ravel, Fauré e Poulenc. Emópera, Inácio conta com 40 papéis efetivamente apresentados em público, dentre eles o de Corisco em A Menina das Nuvens de Heitor VillaLobos e Dr. Falke em O Morcego de Johann Strauss Jr., ambos no Theatro Municipal de São Paulo. Por sua pesquisa e dedicação à música brasileira, foi eleito o mais novo membro da Academia Brasileira de Música.
138 Theatro Municipal de São Paulo
Leonardo Pace foi solista no Theatro Municipal de São Paulo nas óperas Os Contos de Hoffmann (2003); Andrea Chénier (2006); I Pagliacci (2009 e 2011); L’enfant e les Sortilèges (2011); O Rouxinol (2012); Ça Ira (2013); Otello (2015) e Manon Lescaut (2015). Cantou ainda em Carmen no Theatro da Paz; Lieder Eines Fahrenden Gesellen (Mahler) com a Sinfonia Cultura, El Niño Judio e Manon Lescaut no Theatro São Pedro.
leonardo pace baixobarítono
Em 2002 e 2003 foi premiado com bolsa de estudos pela Fundação Vitae do Brasil. Estudou canto com seu pai, Héctor Pace, com Leilah Farah e Lenice Prioli e, em 2003, foi um dos vencedores do IV Concurso de Canto Bidú Sayão, em Belém do Pará. Em 2008, participou do XII Festival Amazonas de Ópera, cantando nas óperas Ariadne auf Naxos (Strauss); Ça Ira (R.Waters) e no concerto Barroca. Destacou-se em O Messias de Händel (2009) e no Te Deum de Dvorák (2012) com a Orquestra Experimental de Repertório, e, no projeto Ópera Cantada e Contada, foi Escamillo, Germont e Marcello. Foi solista no Réquiem de Brahms com a Camerata Antiqua de Curitiba e, com a Orquestra Sinfônica da USP, cantou em A Origem do Fogo, de Sibelius, na Sala São Paulo (2012). Leonardo cantou sob a regência de maestros como John Neschling, Jamil Maluf, Luiz Malheiro, Karl Martin, dentre outros. Desde 2008 é integrante do Coro Lírico Municipal de São Paulo.
139 La Bohème
Aos sete anos de idade, Renato Tenreiro começou os estudos de piano com Denise Zemunner Freitas e, anos mais tarde, entrou para a Universidade Livre de Música Tom Jobin (atual Emesp), dando início aos estudos de técnica vocal.
renato tenreiro tenor
Foi bolsista coralista do Coral do Estado de São Paulo, sob regência de José Ferraz de Toledo, e atuou como solista em obras como a Paixão Segundo São João, de J.S. Bach, As Sete Últimas Palavras, de Dubois e O Messias, de Händel. No repertório lírico, foi solista em títulos como Amahl e os Visitantes Noturnos de Menotti, A Flauta Mágica de Mozart, Werther de Massenet, L’Elisir d’Amore de Donizetti, Norma de Bellini, Eugene Onegin de Tchaikovisky, dentre outras, tanto dentro do Theatro Municipal de São Paulo como em outras importantes salas de concerto do país. Desde 2011, integra o Coro Lírico do Theatro Municipal de São Paulo, sob regência de Bruno Greco Facio, destacando-se como solista em algumas óperas da casa. Renato Tenreiro recebe orientação vocal de Helly-Anne Caram.
140 Theatro Municipal de São Paulo
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La Bohème
Foto da montagem de La Bohème, de 2013, do Theatro Municipal de São Paulo
la bohème pianistas correpetidores Anderson Brenner Paulo Almeida atores Alex Bingó Alan Ferreira Alessandro Aguipe André Matos El Gato Juliana Zulatto Peter Dias Elô Gelfuso Thiago Di Giovanni Rafael Braga Bianca Muniz Giballin Gilberto Janne Cordeiro Cristiano Dantas Leonardo Carvalho Aline Neves José Junio Lucas de Souza Ari Cegatto Elis Valeriano Noele Brito Renato Caetano Sérgio Ramos Sergio Seixas Priscila Dias Victor Gomes produção de cenografia Praxinoscópio Prod. Cenográficas coordenação de execução da cenografia Renato Theobaldo Roberto Rolnik assistentes de execução da cenografia Fernando Passetti Fernanda Câmara adereços
Edu Paiva Ruth Takiya chapelaria Eduardo Laurino aderecista Allan Torquatto assistentes de aderecistas Michael Costa Almeida Davi do Nascimento Silva Rúbia de Campos Nery Mordoch coordenação de cenotecnia Denis Nascimento Jorge Ferreira Silva Jonas Soares cenotécnicos João Pereira Alicio Silva Erlany Pereira dos Santos Reginaldo Nascimento Cassio Luis Gilberto Ferreira Pedro Lino Marcelo Feitosa Marcio Feitosa Guilherme Nascimento Diego Santana Isabela Nascimento Karen Luizi Jacqueline Nascimento Sandra Yamamoto Marcelo Thome Amadeu Fernandes Genilson de Alencar serralheiros José Gomes dos Santos Júlio César de Lucas Lucas Enídio dos Santos Rigo costureira Jô Felix produtores de cenografia Claudia Lima Marcos Terra
secretária administrativa Any Ribeiro assistente de produção Joventino Neto alfaiataria Betto Rigor modelistas Paula Gascon Nilda Dantas Tandara Hoffmann Bene Calistro costureiras Cristina França Célia Calistro Cidinha Calistro Elizangela Dally Ivete Dias Lúcia Medeiros Patrícia Medeiros Val Nogueira Vera Menezes tradução do libreto sinopse e gravações de referência Irineu Franco Perpetuo legendas MP Legendas palestra preparatória Flo Menezes fotos montagem la bohème 2013 Fábio Mendonça
142 Theatro Municipal de São Paulo
orquestra sinfônica municipal de são paulo diretor artístico John Neschling primeiros-violinos Abner Landim (spalla)* Pablo de León (spalla)* Alejandro Aldana Amanda Martins de Lima Martin Tuksa Adriano Mello Edgar Leite Fabian Figueiredo Fábio Brucoli Fábio Chamma Fernando Travassos Francisco Krug Heitor Fujinami John Spindler Liliana Chiriac Paulo Calligopoulos Rafael Bion Loro Sílvio Balaz Victor Bigai segundos-violinos Andréa Campos* Maria Fernanda Krug* Nadilson Gama Roberto Faria Lopes Wellington Rebouças André Luccas Djavan Caetano Evelyn Carmo Juan Rossi Helena Piccazio Mizael da Silva Júnior Oxana Dragos Ricardo Bem-Haja Ugo Kageyama violas Alexandre de León* Silvio Catto* Tânia Campos Abrahão Saraiva Adriana Schincariol
143 La Bohème
Bruno de Luna Cindy Folly Eduardo Cordeiro Eric Schafer Licciardi Jessica Wyatt Pedro Visockas Roberta Marcinkowski Tiago Vieira violoncelos Mauro Brucoli* Raïff Dantas Barreto* Mariana Amaral Moisés Ferreira Alberto Kanji Charles Brooks Cristina Manescu Joel de Souza Maria Eduarda Canabarro
Teresa Catto contrabaixos Brian Fountain* Taís Gomes* Adriano Costa Chaves Sanderson Cortez Paz André Teruo Miguel Dombrowski Vinicius Paranhos Walter Müller flautas Cássia Carrascoza* Marcelo Barboza* Andrea Vilella Cristina Poles Renan Mendes oboés Alexandre Ficarelli* Rodrigo Nagamori* Marcos Mincov Rodolfo Hatakeyama** clarinetes Camila Barrientos Ossio* Tiago Francisco Naguel* Diogo Maia Santos Domingos Elias Marta Vidigal fagotes Fábio Cury*
Matthew Taylor* Marcelo Toni Marcos Fokin Osvanilson Castro trompas André Ficarelli* Thiago Ariel* Eric Gomes da Silva Rafael Fróes Rogério Martinez Vagner Rebouças Daniel Filho** trompetes Fernando Lopez* Marcos Motta* Breno Fleury Eduardo Madeira Thiago Araújo trombones Eduardo Machado* Raphael Campos da Paixão** Hugo Ksenhuk Luiz Cruz Marim Meira tuba Luiz Serralheiro harpa Jennifer Campbell* Paola Baron* piano Cecília Moita* percussão Marcelo Camargo* César Simão Magno Bissoli Sérgio Ricardo Silva Coutinho Thiago Lamattina tímpanos Danilo Valle* Márcia Fernandes* gerente da orquestra Manuela Cirigliano assistente Mariana Bonzanini
inspetor Carlos Nunes montadores Alexandre Greganyck Paulo Broda Rafael de Sá aprendiz Gabriel Cardoso Vieira * Chefe de naipe ** Músico convidado
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O Santander é Patrocinador-Mantenedor do Theatro Municipal de São Paulo e apresenta as Séries Terças e Domingos II da Temporada Lírica 2016.
145 La Bohème
coro lírico municipal de são paulo regente titular Bruno Greco Facio regente assistente Sergio Wernec pianistas Marcos Aragoni Marizilda Hein Ribeiro sopranos Adriana Magalhães Angélica Feital Antonieta Bastos Berenice Barreira Cláudia Neves Elayne Caser Elaine Moraes Elisabeth Ratzersdorf Graziela Sanchez Jacy Guarany Juliana Starling Laryssa Alvarazi Marcia Costa Marivone Caetano Marta Mauler Milena Tarasiuk Monique Corado Rita Marques Rosana Barakat Sandra Félix Sarah Chen Viviane Rocha mezzo-sopranos Ana Carolina Sant’Anna Carla Campinas Caroline Jadach Cláudia Arcos Erika Belmonte Juliana Valadares Keila de Moraes Marilu Figueiredo Mônica Martins Robertha Faury contraltos Celeste Moraes
Clarice Rodrigues Elaine Martorano Lidia Schäffer Ligia Monteiro Magda Painno Maria Favoinni Vera Ritter tenores Alex Flores Alexandre Bialecki Antonio Carlos Britto Dimas do Carmo Eduardo Góes Eduardo Pinho Eduardo Trindade Fernando de Castro Gilmar Ayres Luciano Silveira Luiz Doné Marcello Vannucci Márcio Valle Miguel Geraldi Paulo Chamié-Queiroz Renato Tenreiro Rubens Medina Rúben de Oliveira Sérgio Macedo Valter Estefano Walter Fawcett barítonos Alessandro Gismano Daniel Lee David Marcondes Diógenes Gomes Eduardo Paniza Guilherme Rosa Jang Ho Joo Jessé Vieira Marcio Marangon Miguel Csuzlinovics Roberto Fabel Sandro Bodilon Sebastião Teixeira baixos Claudio Guimarães Fernando Gazoni Leonardo Pace
Marcos Carvalho Matheus França Orlando Marcos Rafael Thomas Rogério Nunes Sérgio Righini assistentes administrativas Elisabeth De Pieri Eugenia Sansone Inspetora Thais Vieira Gregório montador Bruno Silva Farias
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coro infantojuvenil da escola municipal de música de são paulo regente Regina Kinjo cantores Ana Clara Neves Silveira Ananda Abreu Pastore Angela Maznik Oliveira Angelo Nagao Francisco Asaph Sousa Bastos Auanne Victória Miranda Bianca Barba Bagestero Daniel Jailton Pereira Débora Macuco Bonini Désirée Brissac Pereira Emanoel Sampaio Lobo Eric Neves Silveira Gabrielle Nycolle de Oliveira Helen Reis da Costa Julia Silva Borges Luana Moraes Isiama Luis Fernando dos Santos Maíra Greco Onias Maria Clara Verderame Mariana Neves Silveira Marina Garcia Custódio Paulo César de Lima Renata Garcia Custódio Sabrina Miyahira Sara Izar de Oliveira
ficha técnica operacional diretoria artística diretor artístico John Neschling assessores da direção artística Eduardo Strausser Thomas Yaksic Clarisse De Conti secretária Eni Tenório dos Santos aprendiz Carolyni Amorim Marques da Silva coordenador de programação artística João Malatian diretor de palco cênico Ronaldo Zero assistente de direção de palco cênico Caroline Vieira assistente de direção cênica Ana Vanessa coordenador de figuração Aelson Lima auxiliar administrativa Ana Luiza Alves arquivo artístico coordenadora do arquivo artístico Maria Elisa P. Pasqualini assistente de coordenação Milton Tadashi Nakamoto copistas e arquivistas Ariel Oliveira Cássio Mendes Jonatas Ribeiro Karen Feldman
Leandro José Silva Paulo Cesar Codato Raíssa Encinas Roberto Dorigatti auxiliar administrativa Maria de Fatima diretoria de produção diretora de produção Anna Patricia produtoras executivas Nathalia Costa Rosa Casalli produtores Pedro Guida Arthur Costa assistente de produção Laysa Padilha aprendizes Samara Silva Gomes Karina Macedo Pinheiro palco diretor técnico Nicolàs Boni assistente de direção técnica Daniela Gogoni chefe da cenotécnica Aníbal Marques (Pelé) subchefe de maquinaria Paulo M. de Souza Filho acervo de ferramentas Marcelo Luiz Frozino maquinistas Carlos Roberto Ávila Ermelindo Terribele Ivaildo Bezerra Lopes Odilon dos Santos Motta Paulo Henrique São Bento Peter Silva Mendes de Oliveira Uiller Ulisses Silva Wilian Daniel Perosso
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mecânica cênica Alex Sandro N. Pinheiro responsável da contrarregra João Paulo Gonçalves contrarregras Eneas R. Leite Neto Paloma Neves da Costa Sandra Satomi Yamamoto Sergio Augusto de Souza chefe de som Sérgio Ferreira operadores de som Christian Ribeiro Daniel Botelho chefe de iluminação Valéria Lovato técnicos de iluminação Fernando Azambuja Igor Augusto F. Oliveira Lelo Cardoso Olavo Cadorini Ubiratan Nunes Estagiários Jonathan Froise Paulo Rogerio dos Santos Aprendizes Nattan R. Vieira Teixeira Victor Hugo Fonseca de Campos figurino diretora de figurino Imme Moller produtores de Figurinos Fernanda Câmara Emilia Reily camareiras Alzira Campiolo Isabel Rodrigues Martins Katia Souza Lindinalva M. Celestino Maria Auxiliadora Maria Gabriel Martins Nina de Mello Regiane Bierrenbach Tonia Grecco
visagista Simone Barata assistente de visagismo Tica Camargo maquiadores Sheila Campos Alina Peixoto Marcela Costa Tamyris Alves Gleice Diana Cecília Degan Biah Bombom Thais Tereza Diogo Souza Marina Peev Isabel Vieira Juliana dos Santos Giulia Piantina cerimonial Egberto Cunha indicadores de público Adryane dos Reis Aguinaldo Roberto Lago Alyne Cristina dos Reis Andrea Barbosa da Silva Andressa Severa Romero Danielle Bambace Fabio Monserrat Fernanda Reimberg Lima Helen Cristine Vieira Jonas Silva de Sousa Jorge Ramiro da Silva Santos Juliana Gabriel de Oliveira Karina Crossi de Mendonça Luciano Pereira Luiz Roberto Lemos Marcela Costa Marcelo Souza Ferreira Maria dos Remedios Mariana Ferreira da Silva Marilivia Fazolo
Nadjane Nunes Barbosa Patricia de Moura Mesquita Patrícia Harumi Pedro Henrique Oliveira Roseli Deatchuk Rosimeire Pontes Carvalho Sandra Marisa Peracini Suely Guimarães Sousa Sylvia Carolina S A Caetano Tatiane Lima da Costa Victor Alencar Silva Vilma Aparecida Carneiro créditos da publicação editor Gabriel Navarro design gráfico Kiko Farkas/ Máquina Estúdio Designer Assistente Ana Lobo/ Máquina Estúdio atendimento Michele Alves/ Máquina Estúdio
Acesse o site theatromunicipal.org.br e conheça as equipes completas da Fundação Theatro Municipal, do IBGC e da Prefeitura de São Paulo.
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A Caixa Econômica Federal apresenta a récita de 04 de maio de 2016 da ópera La Bohème, no Theatro Municipal de São Paulo.
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patrocinador mantenedor - série terças e série domingos II
patrocinador - série sábados I e série sábados II
agradecimento
copatrocinador
apoio
agência de negócios e relações institucionais
compra de ingressos
Municipal. O palco de S達o Paulo