PROGRAMA INTEGRADO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA (PIC) PERÍODO DE AGOSTO/2019 A JULHO/2020 RELATÓRIO FINAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PERÍODO DE AGOSTO/2019 A JULHO/2020
ESTUDO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO MUNICÍPIO CAMPINAS-SP PELA ANÁLISE MULTITEMPORAL DA SUSCETIBILIDADE À INUNDAÇÃO
Discente: Thiago Massucato Cinti RA: 18706598 Faculdade: Arquitetura e Urbanismo
Proponente (Orientador): Projeto de pesquisa: Área de Avaliação da CAPES/MEC: Linha de pesquisa: Grupo de Pesquisa:
Modalidade: ( ) PIBIC/CNPq ( X ) FAPIC/Reitoria ( ) FAPESP ( ) Outra Agência: _____________
Campinas, agosto 2020
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I.
Desenvolvimento do Plano de Trabalho de Iniciação Científica
O cronograma de pesquisa apresentado no Quadro 1 apresenta as atividades realizadas no período: agosto de 2019 a julho de 2020.
Quadro 1: Cronograma de Atividades realizadas na Integralização da Proposta de Iniciação Científica Atividade
Revisão Bibliográfica Seleção e Aquisição de Material Mapeamento físico-ambiental Classificação de Imagem Mapeamento de uso e ocupação do solo Elaboração de mapas físicos e ambientais Aplicação dos modelos de suscetibilidade à inundação Apresentação e discussão dos Resultados parciais Elaboração de artigo para o simpósio internacional: XII SIIU 2020 Elaboração do Relatório Parcial Conclusão Relatório Parcial Analises física e dos instrumentos de saneamento básico e drenagem urbana nas bacias escolhidas
Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul
Pesquisa sobre técnicas de Desenvolvimento de Baixo Impacto (Low Impact Development, LID) Estudo preliminar para implantação de técnicas de Desenvolvimento de Baixo Impacto nas áreas em estudo Apresentação e discussão dos Resultados Elaboração de Relatório Final
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II.
Desenvolvimento do Projeto de Pesquisa de Iniciação Científica
RESUMO As inundações são fenômenos naturais, que na contemporaneidade têm se intensificado nos centros urbanos, sobretudo em razão do processo de implantação de uma forma de urbanização que se mostra insensível à vários aspectos próprios do local. Objetivo: o presente estudo teve por objetivo analisar a correlação entre o aumento dessa área impermeabilizada e a suscetibilidade à inundação no município de Campinas, entre 1981 e 2018, visando avaliar e identificar os pontos suscetíveis à inundação antropogênica e propor alterações urbanísticas, a fim de mitigar esse fenômeno. Metodologia: parte-se da utilização da classificação digital de imagem e do método multicritério pela Analytic Hierarchy Process (AHP), para ponderar as variáveis na elaboração de um panorama que conta com modelos de suscetibilidade à inundação em um contexto natural e antrópico. Resultados: observa-se um acentuado crescimento da área impermeabilizada em direção a periferia, região esta que se mostra mais suscetível a este risco uma vez que não conta com uma infraestrutura qualificada de drenagem urbana como na região central. Assim, identifica-se os pontos que apresentam a ocorrência desse fenômeno, e seleciona-se dois desses para se estudar maneiras de mitigar esses efeitos utilizando técnicas relacionadas ao LID. Considerações Finais: o uso dessas práticas para ações urbanas se mostra de grande eficiência na drenagem e absorção da água, qualidade ambiental na retenção de poluentes e as características estéticas paisagísticas promovidas por este método. Palavras – chave: Análise Espacial, Ambiente Urbano, Risco, Inundação, LID.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 5 2. OBJETIVO ..................................................................................................................... 6 3. MÉTODO ....................................................................................................................... 6 3.1. Elaboração da base de dados...................................................................................6 3.2. Uso e cobertura antropogênica do solo...................................................................9 3.3. Modelos de inundação por meio do método de multicritérios AHP.....................10 4. RESULTADO E DISCUSSÃO .................................................................................... 12 4.1. Localização das áreas de estudo.............................................................................16 4.2. Análise e caracterização das bacias hidrográficas..................................................17 4.3. Levantamento das dinâmicas urbanas....................................................................24 4.4. Desenvolvimento de Baixo Impacto (LID).............................................................27 4.5. Aplicação do LID nas áreas em estudo...................................................................35 5. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 45 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 46
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1. INTRODUÇÃO A análise do crescimento urbano e seu impacto sobre a suscetibilidade à inundação é um viés para abordar a adequação das ações antrópicas sobre o ambiente natural. O mapeamento multitemporal do uso e ocupação do solo e modelagem de suscetibilidade à inundação possibilita questionar a eficiência da infraestrutura do sistema de drenagem urbana, e consequentemente avaliar a eficácia das ações e diretrizes do planejamento urbano para amenização de risco à população. Essa temática é relevante para Campinas -SP, Brasil (Fig. 1), ao considerar que este município se constitui em um importante polo industrial e tecnológico do estado de São Paulo, passando nas últimas décadas por um intenso processo de modernização dos setores industrial e agrícola, que favoreceu um grande fluxo populacional para a área urbana, a qual carece de estudos multitemporais que retratam e fornecem um prognóstico sobre a adequação do adensamento e da qualidade de sua infraestrutura. O presente estudo teve por objetivo diagnosticar tipo e magnitude da correlação entre a densidade da área impermeabilizada e a suscetibilidade à inundação no município de Campinas, entre 1981 e 2018, visando avaliar a influência do adensamento de área impermeabilizada sobre o potencial de áreas inundáveis. Esperar-se que a suscetibilidade à inundação esteja direta e positivamente associada aos tipos de uso e ocupação do solo que contribuem para o aumento de áreas impermeabilizadas, à medida que ocorre a expansão urbana ao longo do período analisado. Portanto a investigação questiona a premissa do aumento de área impermeabilizada, em decorrência do processo de expansão urbana, ter necessariamente como consequência o aumento de áreas suscetíveis à inundação pela ação antropogênica multitemporal, quando comparado ao perigo natural. O conhecimento das potencialidades do meio natural promove um desenvolvimento mais conservacionista, permitindo um ordenamento territorial mais adequado Ross (1994). A partir dessa premissa foram identificados fatores que influenciam na fragilidade natural à inundação, ou seja, que atual de forma direta no escoamento de água superficial e, portanto, podem interferir no acumulo de água e, consequentemente, provocar um evento de inundação (Amaral & Ribeiro, 2009).
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Fig. 1 Localização da área de estudo. Elaborado pelos autores.
2. OBJETIVO O presente estudo teve por objetivo diagnosticar tipo e magnitude da correlação entre a densidade da área impermeabilizada e a suscetibilidade à inundação no município de Campinas, entre 1981 e 2018, visando avaliar a influência do adensamento de área impermeabilizada sobre o potencial de áreas inundáveis. Ademais, busca-se também a identificação dos postos suscetíveis à inundação antropogênica e propor alteração urbanísticas próximas a esses, a fim de mitigar a ocorrência desse fenômeno. 3. MÉTODO Na elaboração dos modelos de Perigo Natural à Inundação e de Perigo Antropogênico à Inundação nas datas 1981, 1993, 2003, 2011 e 2018, foi utilizado o método multicritério pela Analytic Hierarchy Process (AHP) para ponderar, em cada modelo, os critérios: densidade de drenagem, distância de drenagem, declividade, pluviometria, formação geológica, tipos de solo, cobertura vegetal, sendo, este último, substituído pelo uso e cobertura do solo empregado nos modelos antropogênicos (Fig. 2).
3.1.Elaboração da base de dados 3.1.1. Mapa de declividade O mapa de declividade do município de Campinas foi gerado a partir do Modelo Digital de Elevação - SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) com resolução de 30m, onde o 6
mesmo foi dividido em 05 classes: 0 a 3%, 3 a 8%; 8 a 20; 20 a 45% e 45 a 75%, conforme proposta da EMBRAPA (Santos et al., 2006). 3.1.2. Mapa de tipo de solos O mapa de tipos de solos foi obtido por digitalização e reclassificação das feições do Mapa Pedológico Semidetalhado do município de Campinas, na escala 1:50.000 (Valladares, et al., 2008). Foi empregando o agrupamento das classes de solos pelo segundo nível categórico do sistema brasileiro de classificação de solos, Santos et al. (2006) e adaptado para o sistema mundial de solos, apresentando as classes: Argissolos Vermelho-Amarelo; Cambissolos Haplico; Complexos Organossolos/ Gelissolos; Latossolos Vermelho-Amarelo; Luvissolos Cramico; Neossolos Quartzaronico e Nitossolos Haplico. 3.1.3. Mapa de densidade e distância de drenagem A densidade de drenagem foi determinada a partir do plano de informação da rede hidrográfica obtido no site da Agência Nacional das Águas (ANA, 2018), na escala 1:50.000. Pelo método de densidade linear para área calculou-se a densidade de extensão de drenagem por quilômetro quadrado. Conforme proposta de classificação de Villela & Mattos (1975) foram geradas cinco classes: <0,5 km/km²; 0,5 – 1,5 km/km²; 1,5 – 2,5 km/km²; 2,5 – 3,5 km/km² e >3,5 km/km². A partir do mesmo dado, foi obtido o mapa de distância de drenagem, que foi dividido em 4 classes: <30 m; 30 – 50 m; 50 – 100m e >100 m. 3.1.4. Mapa de tipos de vegetação original O mapa dos tipos de vegetação original do Município de Campinas, foi adquirido a partir do recorte da região de estudo do mapa nacional de vegetação produzido pelo Projeto RADAMBRASIL na escala 1:250.000. A classificação do mesmo segue a proposta de Veloso et al (1991), apresentando as classes: Contato Savana/Floresta Estacional; Contato Savana/Floresta
Ombrófila;
Floresta
Estacional
Semidecidual;
Floresta
Estacional
Semidecidual Montana; Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Densa Montanha; Savana e Savana Gramíneo-Lenhosa. 3.1.5. Mapa de pluviométrico Os dados pluviométricos foram levantados na base de informações do DAEE (2018). Selecionou-se 16 postos hidrológicos da região metropolitana de Campinas que disponibilizavam série de dados mensais para o período de 1970-2017. O mapa de pluviometria foi gerado pelos valores de médios anuais de precipitação, que foram especializados e 7
interpolados método do Inverso da Distância Ponderado (IDW), gerando o mapa de distribuição pluviométrica em três classes: 107,00–114,00 mm/mês; 114,00–119,00 mm/mês e 119,00– 125,73 mm/mês. 3.1.6. Mapa de litológico (Geologia) O mapa litológico foi auferido pela Prefeitura Municipal de Campinas (2009), produzido pelo Instituto Geológico cuja classificação se apresenta disposta nas seguintes siglas: sedimentos terciários-quartenários (Qa), biotita granito porfirítico róseo (PSγmP), biotita granito quigranular leucocrático (PSγmL), hololeucocrátio (PSγmH) e fino com muscovita e granada (PSγmG), hornblenda-biota granito gnáissico porfirítico (PSγjP),
biotita granito
gnáissico inequigranular (PSγjI), miloníticas (PS-εOM), granito gnáissico equigranular (PMiγg), gnaisses indiferenciados (PMiI), xistosos (PMiGx) e bandados (PMiGb), granada biotita gnaisses (PMiGg), gnaisse granitoide facoidal (PMiF), ritmitos (CPiR), subgrupo Itararé indiferenciado (CPiI), associação de ritmitos e diamictitos (CPiD), arenitos (CPiA), diabásios (JKB).
Fig. 2 Parâmetros empregados nos modelos de inundação natural e antropogênicos. Elaborado pelos autores.
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3.2.Uso e cobertura antropogênica do solo Uma vez obtido o modelo da suscetibilidade à inundação no período anterior à ocupação urbana, foi realizado, posteriormente, para análise e mapeamento dos contextos de ocupação territorial do período de estudo, os mapas de uso e cobertura do solo do município, pela classificação digital das imagens orbitais do sistema LANDSAT adquiridas em 02/agosto/1981, 22/junho/1993, 25/maio/2003, 23/maio/2011 e 08/agosto/2018, com resolução espacial de 30m (Fig. 3). Foram realizados os processamentos de realce de imagem e georreferenciamento. Em seguida, foi empregado o método de classificação por região para o mapeamento das classes de uso e cobertura do solo: urbano, agrícola, solo exposto, vegetação arbórea, vegetação rasteira e água. Para tanto, as imagens foram segmentadas em áreas homogêneas definidas pelos limiares de área, textura, média e variância dos valores de reflectância espectral (Jensen, 1982; Meneses & Almeida, 2012). Esses modelos antrópicos foram interpolados junto aos demais dados, substituindo os dados de Tipos de Vegetação pelo Uso e Cobertura do Solo de cada período, assim, obteve-se seis modelagens da suscetibilidade à inundação, sendo estas, uma com ausência urbana e as demais criando um panorama da expansão da cidade ao longo das datas estudadas.
Fig. 3 Expansão urbana do Município ao longo das datas estudadas. Elaborado pelos autores.
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3.3.Modelos de inundação por meio do método de multicritérios AHP A partir do método de multicritérios AHP (Analytic Hierarchy Process) foram produzidas matrizes de decisão para cada modelo (Tabela 1), assim, estabeleceu-se e definiuse a valoração para gerar a relação de importância pareada e inversamente proporcional entre os fatores já apresentados, gerando pesos referente ao grau de relevância para a suscetibilidade à inundação para cada critério analisado com índices de consistência adequados.
Tabela 1 Valoração de importância atribuída para cada critério utilizando o método AHP. Elaborado pelos autores.
Também foram atribuídas cargas individuais para as variáreis que compõem cada critério (Quadro 1), hierarquizando, assim como feito com os pesos, quais variáveis são mais suscetíveis à inundação.
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1 2 3 4 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 6 7 8 1 2 3 4 5 6 7 8 1 2 3 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7
Parâmetros/Variáveis Distância de Drenagem (m)
0 – 30 30 – 50 50 – 100 > 100 Densidade de Drenagem (km2/km) <0,5 0,5 – 1,5 1,5 – 2,5 2,5 – 3,5 >3,5 Declividade (%) 0–3 3–8 8 – 20 20 – 45 45 – 75 Tipo de Solo Argissolo Vermelho-Amarelo Cambissolo Haplico Complexo de Gleissolo Haplico e Melanico Complexo Organossolos e Gleissolos Latossolo Vermelho-Amarelo Luvissolo Cramico Neossolo Quartzaronico Nitossolo Haplico Tipo de Vegetação Contato Savana/Floresta Estacional Contato Savana/Floresta Ombrófila Floresta Estacional Semidecidual Floresta Estacional Semidecidual Montana Floresta Ombrófila Densa Floresta Ombrófila Densa Montana Savana Savana Gramíneo-Lenhosa Classes de Pluviometria (mm/mês) 107,00 – 114,00 114,00 – 119,00 119,00 – 125,73 Geologia Qa CPiA CPiD CPiP CPiI PSYOM PSYmL, PSYmH, PSYmG, PSYmP, PSYjP, PSYjI PMiF, PMiYg, PMiGb, PMiGx, PMiGg, PMiI JKB Uso e Cobertura do Solo Água Urbano Espaçado Urbano Denso Vegetação Rasteira Vegetação Arbórea Solo Exposto Outros
Perigo Natural Peso
Perigo Antropogênico Peso
0,355
0,289
1 3 6 8 10
0,257
0,196
10 8 4 2 1
0,108
0,091
6 3 10 10 5 7 2 6
0,068
0,052
4 4 2 2 1 1 10 9
0,031
----
1 6 10
0,138
0,099
3 1 3 3 1 5 8 8 8
0,041
0,032
10 8 9 7 1 5 4
----
0,242
Carga 10 6 3 1
Índice de consistência 0,08 para o modelo de Perigo Natural à Inundação e 0,07 nos modelos de Perigo Antropogênico à Inundação.
Quadro 1 Pesos e cargas para os modelos de perigo à inundação natural e antropogênicos. Elaborado pelos autores.
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Para geração de cada modelo foi empregado o método de integração multicritério ponderado no sistema de informação geográfica-ArcGis. A suscetibilidade à inundação foi classificada pelo método quatis em: muito baixa, baixa, média, alta e muito alta. Em cada data analisada, o coeficiente (r) de Pearson averiguou a correlação entre área impermeabilizada e classes de suscetibilidade à inundação, em cada faixa de distância de 2km em relação ao ponto central (marco zero da cidade). Os níveis de correlação foram classificados em muito alto (r entre 0,90 a 1,00), alto (r entre 0,70 a 0,90), moderado (r entre 0,50 a 0,70), baixo (r entre 0,30 a 0,50) e insignificante (r menor que 0,30). 4. RESULTADO E DISCUSSÃO No período analisado a área urbanizada aumentou de ~35km² para ~191km², caracterizando um expressivo crescimento horizontal. As faixas de adensamento de áreas impermeabilizadas apresentam uma relação inversamente proporcional à distância em relação ao centro urbano. As áreas de suscetibilidade à inundação apresentam perfis para as classes muito baixa e baixa que se reduzem entre o modelo natural e o estimado para a data de 1981, não se modificando até 2018. Por outro lado, as classes média e alta de suscetibilidade à inundação aumentam entre o modelo natural e o estimado para a data de 1981, que se mantém até 2018 (Fig. 4 e Fig. 5).
Fig. 4 Classes de suscetibilidade à inundação natural e antropogênicas. Elaborado pelos autores
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Ao analisar a suscetibilidade à inundação ao longo das faixas de distâncias do centro para as áreas periféricas, observa-se um perfil semelhante para todas as classes, indicando a ocorrência de crescimento tanto da suscetibilidade alta quanto baixa nas áreas periféricas. Porém, essas tendências têm formas de crescimento diferentes, sendo linear para as classes de suscetibilidade muito baixa e baixa; e exponencial para as classes média e alta. Esses perfis determinaram a ocorrência de uma associação moderada, para todas as datas analisadas, entre a proporção de área impermeabilizada em cada faixa e a suscetibilidade alta e muito alta à inundação. A natureza inversa dessa associação sugere que a suscetibilidade está nas áreas periféricas. O presente estudo observou que as áreas próximas à região central não apresentam elevado perigo de inundação apesar da elevada proporção de áreas impermeáveis.
Fig. 5 Mapeamento da suscetibilidade à inundação natural e antropogênicas no período de análise. Elaborado pelos autores
Também se verificou, em comparação com os pontos de inundação presentes nos dados municipais, a ocorrência de dois fenômenos. O primeiro se refere às regiões presentes nos mapas gerados que apresentariam altíssima vulnerabilidade às inundações, no entanto não estão cotadas como áreas de risco pela prefeitura (A, B, C, D). Já o segundo, áreas semelhantes às 13
essas, no entanto que apresentam seu registro como áreas de ocorrência de inundações (E, F). Desse modo, analisou-se as intervenções de infraestrutura realizadas nas primeiras: (A) na Avenida José de Souza Campos, córrego Proença (bacia do ribeirão Anhumas), o projeto introduzido na região central do Município de Campinas-SP, ao longo dessa via de grande fluxo que apresenta um curso d'água canalizado em seu subsolo, a proposta de intervenção consiste na interrupção da canalização da vertente hídrica em determinado trecho, o que faz com que a água volte à superfície em um vala escavada onde é formada uma área de retenção temporária de água, impedindo que ocorra inundações no trecho seguinte do rio em momentos de grande vasão; (B) projeto implantado de um Parque Linear na região norte do município, ao longo do Ribeirão das Pedras (Anhumas), ocupando uma área desde sua nascente até o limite municipal, tendo como proposta a revitalização da área de APP, promovendo a reposição da cobertura vegetal e a instalação de equipamento urbano de uso público, com o objetivo de criar um eixo linear ao longo do curso d'água conectando os vários pontos de matas, lagos e afluentes do ribeirão; (C) no Jardim Santa Genebra, ribeirão das Pedras (Anhumas), o projeto estabelecido no trecho inicial do Ribeirão das Pedras, próximo a sua nascente, caracterizado por uma área de entorno altamente urbanizada, possui a proposta de escavação de uma vala ao longo do curso d'água, onde o mesmo é retido em períodos de grande escoamento impedindo a inundação do ribeirão a jusante; (D) no Jardim Amoreiras, região sul do município, ao longo do trecho central do Rio Capivari, região caracterizada como uma área que se encontra em processo de adensamento urbano, a proposta consiste na implantação de uma lagoa junto a vertente do rio que pode servir como um local para a retenção temporária de um volume extra de água em um instante de intensa vasão, mas que vem a atendente também o objetivo de um espaço de lazer e permanência para a população local, apresentando um programa voltado para a prática de atividades físicas. Como também foram observados os pontos críticos que necessitam de ações: (E) no Jardim Boa Esperança, o córrego Proença encontra-se totalmente canalizado e exposto, sem a presença de uma APP e com suas margens totalmente ocupadas e impermeabilizadas, o que gera uma enorme vazão pluvial para esse corpo d'água, causando enchentes, devido à pouca distância das vias que o margeiam e a cota inferior de implantação dessas, em comparação ao nível da água do córrego; 14
(F) no Jardim Campineiro, córrego da Lagoa (ribeirão do Quilombo), o ribeirão sofre uma grande pressão externa, devido à ausência de área de proteção (APP) em seu curso, além de ocorrer a ocupação de sua planície de inundação por sub-moradias e moradias de baixa renda, o que acarreta um problema ainda maior na questão da inundação já que estes são os principais afetados na ocorrência de enchentes e alagamentos. Com isso, constatou-se, assim como também veiculado no Plano Municipal de Saneamento Básico (PMSB) de Campinas publicado em 2013, que os problemas de enchentes e inundações ocorrentes no município, apresentam, de maneira genérica, duas principais origens: A primeira, diz respeito a um sistema de drenagem obsoleto, que não mais atende as necessidades de sua área de atuação, devido ao aumento das áreas impermeabilizadas decorrentes do crescimento urbanístico da cidade (PMSB, 2013). Exemplificada no ponto E. Já o segundo tipo, é resultado da ocupação indiscriminada dos fundos de vale e áreas de inundação, portanto um problema estrutural e de difícil solução, tendo em vista as complicações sociais que a desobstrução dos fundos de vale podem acarretar (PMSB, 2013). Exemplificada no ponto F. A partir desse resultado, parte-se para a avaliação de como são implantados os serviços de infraestrutura das micro e macrodrenagens das águas pluviais urbanas para essas regiões destacadas como pontos que necessitam de intervenções, verificando sua eficácia, complexidade, impacto urbano e garantia de usabilidade pela população.
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4.1. Localização das áreas de estudo
Fig. 6 Identificação e localização das bacias 1 e 2 no Município de Campinas-SP. Elaborado pelos autores.
As áreas de estudo, assim como já mencionas, trata-se do trecho do córrego Proença localizado no Jardim Boa Esperança, na região Leste de Campinas (BACIA 1) / (PONTO E); e o Córrego da Lagoa localizado no Jardim Campineiro, região Norte de Campinas (BACIA 2) / (PONTO F) (Fig. 6). A determinação da área para análise foi feita por meio dos critérios hidrológicos, a partir da localização do ponto de inundação fornecido pela Prefeitura de Campinas, e fora traçado a bacia hidrográfica a montante desse. As referências para o traçado se apresentaram por meio da obtenção das Curvas de Nível com distanciamento vertical de 10 metros a partir do Modelo Digital de Elevação - SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) com resolução de 30m, e a partir do mesmo, fora delimitado os divisores de água relativos às cumeeiras identificadas nesse modelo. 16
4.2. Análise e caracterização das bacias hidrográficas Para o desenvolvimento de uma análise das Bacias em estudo mais detalhada e completa, foi desenvolvida a metodologia apresentada no esquema abaixo (Fig. 7), onde foram divididas e enfatizadas as Características Físicas e as Características Urbanísticas e Ambientais das mesmas.
Fig. 7 Esquema desenvolvido com base em TAVATI, 2009 para análise das características físicas, urbanas e ambientais das áreas de estudo. Elaborado pelos autores.
Os mapas referentes às Características Físicas das BACIAS 1 e 2 (Fig. 8 e Fig. 9), apresentam-se como recortes da área correspondente à bacia hidrográfica nos mapas já apresentados anteriormente de Pluviometria, Declividade, Tipos de Solo e Geologia do Município de Campinas, utilizados para gerar o modelo de Suscetibilidade Natural e Antrópica à Inundação.
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Fig. 8 Parâmetros físicos presentes na Bacia 1. Elaborado pelos autores.
Fig. 9 Parâmetros físicos presentes na Bacia 2. Elaborado pelos autores.
Por meio desses dados, é possível notar que fisicamente, sem a intervenção humana no processo de impermeabilização do solo, as áreas referentes às duas bacias delimitadas não apresentariam facilidade para a ocorrência de fenômenos naturais como a inundação. Uma vez que, embora, essas apresentam uma pluviometria abundante e uma grande quantidade de leitos hídricos, principalmente na BACIA 1, o tipo de solo presente e a declividade natural do terreno nessa região promoveria o escoamento da água, impedindo que a mesma se acumulasse. Relativo à questão ambiental e urbana, nota-se em uma comparação temporal, a expressiva mudança na Cobertura Vegetal do Solo das bacias (Fig. 10 e Fig. 11), em fatores de quantidade e características da mesma. Como observado nas figuras a seguir, além de uma enorme redução da área vegetada, que fora substituída, com o passar dos anos, por áreas urbanas de densidades médias e altas, e por áreas destinadas à produção agrícola, muitos locais onde se permaneceu com uma vegetação perene, essa foi alterada, e passou de florestas com uma grande concentração arbórea para campos e pastagens com uma cobertura predominantemente herbácea. Essa última alteração no cenário natural contribuiu ainda mais para a ocorrência de inundações, uma vez que grandes maciços arbóreos facilitam a penetração da água no solo e, 18
assim, a mentem nos topos de morros e impede que essa escoe e se acumule na planície próxima aos leitos hidrográficos. (EMBRAPA, 2015).
Fig. 10 Comparação entre a cobertura vegetal do solo natural e a atual da Bacia 1. Elaborado pelos autores
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Fig. 11 Comparação entre a cobertura vegetal do solo natural e a atual da Bacia 2. Elaborado pelos autores
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Desse modo, a partir do método da Classificação Digital de Imagem adquirida do sistema LANDSAT em agosto de 2018 com resolução espacial de 30 metros, em conjunto com dados da vegetação original, obtidos por meio do Projeto RADAMBRASIL, foram possíveis a comparação e a quantificação dessa notória redução da área de vegetação presente nas bacias, que contava com originalmente 1539,5 hectares e decaiu para 871,77 hectares na BACIA 1, e a redução de 1554,9 hectares para 564,8 hectares na BACIA 2. Ademais, fez-se uso do mesmo método de Classificação de Imagem para produzir a atual quantificação e configuração espacial do solo referente a relação entre as áreas que permanecem permeáveis e as quais foram impermeabilizadas pelo processo de urbanização (Fig. 12 e Fig. 13). Com isso, obteve-se o valor resultante de 73,2% de área permeável na BACIA 1 e 66,4% para a BACIA 2. Nota-se que apesar da maior parte da área ainda se manter permeável, localizada fora do perímetro urbano do Município de Campinas, ela por si só não é suficiente para a absorção e retenção da água oriunda das chuvas, uma vez que há carência de uma formação vegetal mais densa, assim como já mencionado. Desse modo, a água é drenada, em sua maior parte, pelos cursos d’água, o que faz com que o volume desses aumentem e não seja comportado pela infraestrutura implantada na área urbana, sobretudo no primeiro caso, onde o ponto de inundação se localiza em um estrangulamento do leito fluvial por meio de uma canalização.
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Fig. 12 Identificação e quantificação das áreas permeáveis e impermeáveis da Bacia 1. Elaborado pelos autores
Fig. 13 Identificação e quantificação das áreas permeáveis e impermeáveis da Bacia 2. Elaborado pelos autores
Quanto à essa infraestrutura, ela pode se apresentar de duas formas, a de microdrenagem que pode ser definida como um sistema de drenagem em nível de loteamento e que é composta pelos pavimentos das ruas, guias, sarjetas, bocas de lobo, galerias de águas pluviais e também canais de pequenas dimensões (PMSB, 2013), ou seja, a mesma é responsável pela drenagem 22
pluvial dos logradouros e é implantada no momento em que a via, onde esses se localizam, passa pelo processo de geometrização e pavimentação; e a de macrodrenagem, que se apresenta como o conjunto dessa drenagem urbana primaria com a drenagem natural dos corpos hídricos e da bacia onde esses se localizam. Referente à microdrenagem, a BACIA 1 apresenta essa infraestrutura bem consolidada, com todas as vias próximas ao ponto de inundação pavimentadas e com esse sistema de drenagem devidamente implantado, ainda que obsoleto. Já a área de entrono ao ponto crítico, na BACIA 2, a mesma situação não ocorre, por se tratar de uma região mais carente, muitas vias ainda não possuem pavimentação, e consequentemente uma rede de drenagem subterrânea, o que dificulta ainda mais o escoamento da água na ocorrência de intempéries. Além dos já citados, analisou-se também fatores referentes ao uso e ocupação do solo das bacias delimitadas, esses foram obtidos a partir do recorte feito nos mapas em escala municipal já apresentados (Fig. 14 e Fig. 15), porém com maior especificação da área urbanizada. Calculou-se ainda, como complemento da análise, a Taxa de Ocupação referente às edificações presentes nas áreas impermeabilizadas, obtendo os valores resultantes de uma ocupação edilícia de 0,215 ou 21,5% para a BACIA 1 e 0,274 ou 27,4% para a BACIA 2.
Fig. 14 Uso e cobertura do solo na Bacia 1. Elaborado pelos autores
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Fig. 15 Uso e cobertura do solo na Bacia 2. Elaborado pelos autores
4.3. Levantamento das dinâmicas urbanas Julgou-se necessário, para a total compreensão das áreas em questão, realizar, além das análises já apresentadas, o levantamento, não apenas das características presentes na região a montante dos rios, mas também na sua região de entorno, compreendendo, em uma escala mais aproximada, como ocorre a ocupação do solo de forma mais detalhada, indicando seus usos de acordo com a função e o impacto que essas provocam quanto ao grau de impermeabilização do solo de acordo com a taxa de ocupação que as edificações exercem dentro do lote. Ademais, definiu-se e demarcou-se as vias de maior fluxo dentro do recorte apresentado, de maneira que essas pudessem garantir um maior entendimento da mobilidade no contexto urbano, para que se possa avaliar uma possível alteração no sistema viário no desenvolvimento do projeto caso haja necessidade, bem como a própria acessibilidade de pedestres e veículos nos locais de intervenção. A partir desse levantamento (Fig. 16 e Fig. 17), constatou-se que ambas as regiões de intervenção se localizam em áreas predominantemente residenciais com edificações ocupadas por uma única família, no entanto com características físicas e com o traçado urbano diferentes. Enquanto a primeira região conta com uma topografia mais íngreme e com um desenho de 24
quadras e vias mais orgânicos na tentativa de melhor se adequar a essa declividade acentuada, a segunda apresenta-se relativamente plana, com um desenho mais ortogonal, em grid, resultando em quadras com formatos retangulares. Constatou-se ainda diferenças quanto às regiões vizinhas ao ponto original de inundação, uma vez que o ponto presente no Jardim Boa Esperança apresenta seu entorno totalmente ocupado e urbanizado, com uma área livre somente em pontos próximos ao leito do Córrego Mato a Dentro, já o ponto localizado no Jardim Campineiro encontra-se no limite da urbanização municipal, onde faz divisa com um grande vazio urbano, já considerado como zona rural do município. Desse modo, apesar dessa diferença de implantação urbanística, procura-se garantir uma requalificação urbana, para ambos, por meio da implantação, junto com uma técnica de drenagem mais eficientes e de fácil aplicação, equipamentos e áreas de permanência que possam ser utilizadas pela população local, a fim de garantir o melhor aproveitamento dessa região.
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Fig. 16 Análise Urbana da Região Próxima à área de Inundação 1, evidencia-se os Usos e Coberturas do Solo, bem como o Layout Viário da Cidade. Elaborado pelos autores
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Fig. 16 Análise Urbana da Região Próxima à área de Inundação 2, evidencia-se os Usos e Coberturas do Solo, bem como o Layout Viário da Cidade. Elaborado pelos autores
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4.4. Desenvolvimento de Baixo Impacto (LID) Segundo o Department of Defense (2004), o método de Desenvolvimento Urbano de Baixo Impacto (Low Impact Development - LID) é uma estratégia de gestão de águas pluviais, empregada principalmente na América do Norte e Europa, focalizada no gerenciamento e restauração de funções hidrológicas naturais do local para atingir objetivos de proteção do recurso natural e requerimentos regulamentários ambientais (Tucci et al., 2012). O LID emprega uma variedade de características naturais e intervenções construídas de projeto para reduzir a taxa de escoamento superficial, filtrar os poluentes, facilitar a infiltração da água no solo, viabilizar a evapotranspiração vegetal, armazenar temporariamente a água, de modo que essa tenha tempo para ser absorvida, e promover o uso múltiplo das áreas ambientais urbanas. Assim, para cumprir essas demandas, o mesmo apresenta, segundo Tucci et al, alguns conceitos fundamentais que devem ser integrados ao processo de planejamento para sua devida implantação: • Uso da hidrologia como parte do projeto, buncando imitar as dinâmicas naturais do local e criar um processo eficaz de drenagem das águas pluviais que viza ser sensível à questões como a topografia e as linhas de drenagem perenes e intermitentes; • Delimitação de micro-áreas para a gestão hídrica, a fim de apresentar um leque maior de possibilitades de técnicas que possam ser implantadas; •
Controle das águas pluviais na fonte, na tentativa de reduzir ou eliminar os riscos associados a transporte de poluentes para áreas a jusante;
•
• Uso de métodos simples não-estruturais para interceptar e filtrar poluentes; • Criação de uma paisagem multifuncional que além de servir ao propósito das práticas de LID, possa servir como elementos paisagísticos do ambiente. O LID emprega técnicas compensatórias na escala da micro e macrodrenagem que buscam contrabalancear os efeitos da urbanização desregulada e da impermeabilização do solo e, assim, mitigar a ocorrência de inundações em grau e quantidade. Este modelo incorpora essas técnicas de controle da drenagem, através de bacias de detenção e retenção, áreas de infiltração, trincheiras, valas, pavimentos permeáveis, poços de infiltração, telhados verdes, e outros dispositivos. A seguir, exemplifica-se alguns desses: 28
Bioretenção ou “Jardim de Chuva” Segundo Alisson, essa técnica de drenagem consiste na construção de filtros subterrâneos permeáveis, compostos por camadas sobrepostas de grama, solo para jardim, areia, brita e manta geotêxtil, que permitem reter poluentes e funcionar como um reservatório para o amortecimento da água da chuva, armazenando-a por um determinado período de tempo de modo que possa posteriormente infiltrar ou ser absorvida naturalmente pelo solo. A camada superficial do sistema, composta por vegetação, permite reter a água da chuva de modo a não causar problemas de erosão, e em períodos em que não houver escoamento, essa vegetação atende também ao proposito paisagístico, podendo ser composta por espécies que apresentam boa resistência a ambiente inundáveis.
Fig. 18 Jardim de Chuva. Fonte: (https://br.pinterest.com/pin/341077371749655472/)
Fig. 19 Seção de um Jardim de Chuva. Fonte: Adaptado de (http://biblus.accasoftware.com/ptb/jardim-de-chuva-projeto/)
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Poço de Infiltração Apresenta-se como uma escavação em forma cilíndrica ou retangular preenchida em suas laterais por pedras ou por uma estrutura perfurada de pvc ou concreto pré-moldado de forma a permitir que a água seja absorvida pelo solo. É mais indicada quando não se dispõe de espaço ou quando a urbanização existente, já consolidada, inviabiliza a implantação das medidas dispersivas de aumento de infiltração. Outra característica importante, é sua facilidade de associação com outras técnicas como trincheiras, pavimentos permeáveis ou valas de bioretenção.
Fig. 20 Poço de Infiltração. Fonte: Adaptado de Department of Defense (UNITED STATES, 2004)
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Telhado Verde A técnica consiste na utilização de vegetação rasteira (grama) pré-cultivada nos telhados de edificações, promovendo controle acústico, amenização de temperaturas internas, aumento de umidade e qualidade do ar através da evaporação natural e da filtração das particular de poeira, e criação de uma paisagem esteticamente mais agradável (PRINCE GEORGE’S COUNTY, 1999). Apesar dessas vantagens, essa técnica demanda uma série de pré-requesitos que muitas vezes impedem sua instalação, como um adequado tratamento da laje, com a aplicação de diversas camadas e materiais a fim de promover sua impermeabilização, o prédimencionamento da mesma, no momento da construção para poder aquentar essa carga excedente, e a manutenção periódica, o que a torna, de certa forma, custosa.
Fig. 21 Telhado Verde. Fonte: (https://www.ademilar.com.br/blog/construcao-civil/telhado-verde-em-curitiba//)
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Fig. 22 Telhado Verde em Camadas. Fonte: Tavanti, 2011
Micro-reservatórios de água de chuva Os micro-reservatórios de detenção são dispositivos inviduais de controle do escoamento superficial, normalmente utilizados para armazenar temporariamente a água para ser utilizada posterioemente nas atividades no lote. Esses se apresntam como barris ou tanques, pré-fabricados, ou em alvenaria, concreto, que podem ser implantados ao ar livre, ou dentro de uma edificação que coleta as águas pluviais através de um sistema de calhas e condutores. A água armazenada pode ser utilizada para abastecimento (após tratamento), ou, na maioria dass vezes, para irrigação de grama, lavagem de superfícies ou automóveis, e uso em sanitários. Desse modo, segundo Prince George’s County (1999), o armazenamento no lote com posterior reúso também cria oportunidade para conservação e redução de custos para obtenção de água.
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Fig. 23 Barris para a captação de água pluvial. Fonte: (https://www.ecycle.com.br/3313-sistema-de-captacao-de-agua-da-chuva.html /)
Pavimentação Permeável A pavimentação permeável pode se apresentar por meio de diversos elementos, como placas de concreto permeavel, onde retira-se o agregado miúdo da mistura, permitindo que a água escoe, blocos de cocreto que quando postos juntos, resultam em ligações com fissuras por onde água pode ser absorvida pelo solo, e por blocos de concreto ou alvenaria vazados, onde, muitas, são plantadas gramas nessas aberturas, inpedindo a erosão. Segunto Tavanti, a utilização de pavimentos permeáveis é um caminho eficiente de redução do percentual de impermeabilidade em uma bacia. Estes dispositivos se adaptam melhor para áreas de baixo tráfego, como estacionamentos, vias e passeios. Ademais, em alguns casos, dependendo das características do subsolo, o resultado obtido com a utilização deste tipo de estrutura pode levar a condições melhores que as de prédesenvolvimento.
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Fig. 24 Placa de Concreto Permeรกvel. Fonte: (https://www.tecnosilbr.com.br/concreto-permeavel-o-que-e-e-quais-seus-grandes-atrativos)
Fig. 25 Blocos de Concreto vazados com Grama. Fonte: (https://fotos.habitissimo.com.br/foto/piso-grama_662840)
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Bacia de Detentenção Para Baptista et al. (2005), as bacias de detenção são grandes estruturas de engenharia de acumulação temporária e/ou de infiltração de águas pluviais na escala da macrodrenagem, utilizadas para gerar o amortecimento de inundações geradas em contexto urbano de grande impermeabilização, redução de volumes de escoamento superficial, e redução da poluição difusa de origem pluvial. Ainda para os autores, as bacias de detenção podem se apresentar como: Bacias a céu aberto (com espelho d`água permanente; bacias secas que armazenam água apenas durante eventos de precipitação; e bacias de zonas úmidas); Bacias subterrâneas ou cobertas (empregada em zonas densamente ocupadas onde não há espaço para implantação na superfície). Dentre essas, as que melhor se adequam ao LID são os dispositivos secos, uma vez que o mesmo pode ser utilizado para outras finalidades, integrando-se, assim, ao meio ambiente e ao tecido urbano, e exercendo urbanidade ao permitir usos nestes locais como áreas para lazer e prática de esportes, parques, áreas paisagísticas, etc.
Fig. 26 Bacia de Detenção Seca que também funciona como quadra para a prática de esportes. Fonte: (http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/dep/usu_img/bacia_benajamin_2.jpg)
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4.5. Aplicação do LID nas áreas em estudo Área de Inundação 1 A região onde se localiza esse ponto de inundação apresenta-se com um alto grau de ocupação e impermeabilização do solo, tendo o tecido urbano avançado sobre a área de várzea, e chegado a promover o processo de canalização de um trecho do Córrego mato a Dentro. Buscou-se na proposta de projeto, adequar-se as estruturas já existentes ao sistema LID, promovendo o redesenho viário em alguns seguimentos e implantado técnicas que otimizem a drenagem nessa região. Em contrapartida à alternativa de iniciar um projeto de loteamento desde sua base de planejamento, utilizando os conceitos já citados do Desenvolvimento de Baixo Impacto, optou-se apenas por adequar o atual cenário, uma vez que essa causaria um menor impacto social na área, seria menos custoso ao poder público por não ter que exercer numerosas desapropriações e trabalharia com exemplificações, que serviriam para outras regiões da cidade, de como transformar uma área que apresenta a urbanização convencional em um ambiente hidrológicamente mais adequado. Dentre as principais modificações, destaca-se a restauração da área de preservação permanente (APP) de 15 metros em cada margem do Córrego, por meio da desapropriação total de vinte lotes de moradias unifamiliares que ocupavam a planície de inundação. Essa ação se justifica através do argumento da criação de um corredor ecológico de mata, ligando desde a nascendo desse curso hídrico até sua foz e posteriormente a área de várzea do Ribeirão Anhumas (Fig. 16). Após a devida compreensão do sistema viário, mantem-se as dimensões de 7 - 8 metros do leito carroçável das vias que apresentariam maior fluxo, sendo essas as coletoras. Já nas locais, esse número é reduzido para 6 metros, utilizando essa nova faixa de terra para a implantação de biovaletas ou jardins de chuva, mantendo espaçamento para o acesso do veículos aos lotes (Fig. 29). Foi proposta também a pavimentação permeável nas margens da APP, com o objetivo de gerar espaços destinados à circulação e nas porções onde essa se apresenta mais larga, promover usos relacionados a áreas de permanência. Criou-se também, na parte onde a topografia se mostra mais elevada, um mirante térreo com bancos e jardins de chuva, assim é possível vislumbrar, nas cotas inferiores, a vegetação presente nas margens do Córrego.
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Fig. 27 Região de Entorno à área de Inundação 1, Situação Atual. Elaborado pelos autores.
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Fig. 28 Região de Entorno à área de Inundação 1, Proposta de Implantação do Projeto. Elaborado pelos autores
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Fig. 29 Recorte 1, Detalhe Viário em Planta e Seção Transversal com base no Guia Global de Desenho de Ruas. Elaborado pelos autores
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Fig. 30 Recorte 2, Detalhe Viário em Planta e Seção Transversal com base no Guia Global de Desenho de Ruas. Elaborado pelos autores
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Área de Inundação 2 Quanto a Área de Inundação 2, a região onde essa se localiza apresenta-se como o limite do perímetro urbano do Município de Campinas, no entanto o bairro conta com uma elevada densidade populacional. Os problemas de inundação nessa área se dão devido a ocupação irregular da área de várzea no Ribeirão do Quilombo. Assim no caso anterior, buscou-se nessa proposta de projeto apenas adequar o atual cenário às técnicas do LID, uma vez que além das justificativas já mencionadas, esse encontrase implantado em uma área relativamente plana, assim não houve, para sua implantação, uma movimentação no terreno excessiva com cortes e aterros. As modificações nessa área consistem na desapropriação de lotes que ainda se encontram em caráter irregular ou apresentam perigo à inundação devido sua cota de implantação estar próxima ao leito do ribeirão. No mesmo local, na busca por uma requalificação urbana e para trazer programas para a população local, uma vez que na região não se encontram áreas de lazer, insere-se uma área esportiva com duas quadras que em caso de grandes cheias no curso d’água, estas também podem desempenhar a função de bacias de detenção, armazenando temporariamente as águas. Junto a essa, encontra-se uma extensa calçada em piso permeável que promove localidades de permanência em seus trechos mais largos e também gera uma transposição do Ribeirão, destinada apenas para os pedestres, que os conduzem até uma pequena praça na margem oposta, promovendo, assim, uma nova ligação com o bairro vizinho. A respeito das alterações no sistema viário, essas se deram de forma mais discretas, em comparação à Área 1, uma vez que as vias já apresentavam dimensões mínimas. No entanto, ainda se propõe a implantação de um canteiro central com um eixo palmeiras na principal via coletora do bairro, com o objetivo de aumentar a área permeável e garantir uma nova paisagem visual nessa via. Dispõe-se, também, pequenos jardins de chuva nas vias perpendiculares à coletora, onde foi possível o enlarguecimento das calçadas. Devido a sua estreiteza, algumas vias foram modificadas em seu sentido de rolamento, tornando-se sentido único, a fim de diminuir os riscos à acidentes. Por fim, procurou-se, também, a recomposição vegetal da APP que se encontrava muito degrada, assim, instiga-se o plantio de árvores em um raio de 30 metros a partir das margens do Ribeirão. 41
E.T.E.
Fig. 31 Região de Entorno à área de Inundação 2, Situação Atual. Elaborado pelos autores.
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Fig. 32 Região de Entorno à área de Inundação 2, Proposta de Implantação do Projeto. Elaborado pelos autores
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Fig. 33 Recorte 1, Detalhe Viário em Planta e Seção Transversal com base no Guia Global de Desenho de Ruas. Elaborado pelos autores
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Fig. 34 Recorte 2, Detalhe Viário em Planta e Seção Transversal com base no Guia Global de Desenho de Ruas. Elaborado pelos autores
4. CONCLUSÃO Nota-se, atualmente, com o inchaço das cidades, o aumento vertiginoso do grau de impermeabilização do solo e, consequentemente, a frequência de fenômenos relacionados às inundações, sobretudo em áreas de periferias que carecem de infraestruturas de drenagem ou que apresentem ocupações irregulares nas margens dos cursos hídricos. Assim, o presente estudo buscou evidenciar a importância do planejamento urbano prévio, antes do estabelecimento de um novo loteamento, buscando sempre levar em conta as características físicas da área e procurando executar as melhores soluções de traçado para adequar a malha urbana à essas superfícies. Foi possível comparar a eficácia de dois sistemas de urbanização muito distintos, observando sempre o ganho das Técnicas de Desenvolvimento de Baixo Impacto sobre as formas de ocupação convencionais em questões relacionadas a eficiência da drenagem e absorção da água pelo solo, qualidade ambiental na retenção de poluentes e as características estéticas paisagísticas promovidas por este, principalmente ao longo do sistema viário. Desse modo, recomenda-se a partir dessa experiência, o uso das práticas do LID para novos desenvolvimentos urbanos, estas, agora, estando presentes desde os estudos preliminares de ocupação e não somente depois de implantado, na tentativa de mitigar a ocorrencia de fenomenos naturais, como a inundação. Ademais, para sua total consolidação no espação urbano, defende-se que a população deve receber mais informações sobre os benefícios do LID, bem como das suas responsabilidades na manutenção dessas estruturas. Só assim, o Desenvolvimento de Baixo Impacto proposto nesse trabalho garantirá a gestão sustentável das águas pluviais no meio urbano.
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REFERÊNCIAS AGÊNCIA FAPESP. (2016) Sistema de bioretenção de água de chuva pode ajudar a combater enchentes. Website: http://agencia.fapesp.br/sistema-de-bioretencao-de-agua-de-chuva-podeajudar-a-combater-enchentes/22575/ (Acessado 21/07/2020). AMARAL, R.; RIBEIRO, R. R. (2009) Inundação e Enchentes. In: L. K. TOMINAGA, J. ANA–Agência Nacional das Águas. (2018) Base Hidrográfica Ortocodificada Multiescalas de Bacias do Atlântico Sul e Sudeste. Website: http://metadados.ana.gov.br/geonetwork/srv/pt/main.home (Acessado 08/08/2019). DAEE – Departamento de Água e Esgoto. São http://www.hidrologia.daee.sp.gov.br/ (Acessado 20/08/2019).
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(2018).
Website:
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VALLADARES, G.S.; COELHO, R.M. & CHIBA, M.K. (2008) Mapa pedológico do Município de Campinas, SP. Campinas: CNPM. VELOSO, H.P., RANGEL-FILHO, A.L.R & LIMA, J.C.A. (1991) Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal. IBGE, Rio de Janeiro. VILLELA, S.M. & MATTOS, A. (1975) Hidrologia aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil.
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III.
Produção Técnico-Científica Associada
3.1. Produção sob a forma de artigo científico em co-autoria com o orientador 1. Elaborou, em conjunto com o orientador, o resumo simples associado ao trabalho de Iniciação Científica publicado nos Anais do XXIV Encontro de Iniciação Científica, PUCCampinas, 2019 (Anexo 1). 2. Elaborou, em conjunto com o orientador, o artigo: “Associação entre suscetibilidade à inundação e desenvolvimento da área urbanizada de Campinas-SP”, que foi submetido e aprovado para o XII SIIU - SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE INVESTIGAÇÃO EM URBANISMO São Paulo/Lisboa – 2020, que será realizado de 15 a 17 de junho de 2020 (Anexo 2) 3. Elaborou, em conjunto com o orientador, o artigo: “Proposta de implantação de técnica de drenagem de baixo impacto em área urbana consolidada - estudo em campinas/SP”, que foi submetido para o 17° CONGRESSO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, POÇÕS DE CALDAS - 2020, que será realizado de 23 a 24 de setembro de 2020 (Anexo 3)
3.2. Participação em Sessões de Comunicação Oral e Painéis de Eventos Científicos 1. Foi realizada a apresentação de um pôster referente a este trabalho de Iniciação Científica no XXIV Encontro de Iniciação Científica PUC-Campinas, 2019. (Anexo 4).
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Anexo 1
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Anexo 2
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Anexo 3
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Anexo 4
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