Concurso Nacional para a Capital do Brasil

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O CONCURSO NACIONAL PARA A CAPITAL DO BRASIL SILVA, Marcelo Teixeira – marceloooi@ibest.com.br NUNES, Edivanaldo – naldo-poeta@hotmail.com ROMANO, Elisabetta – UFPB - elisabetta.romano@gmail.com

Resumo O objetivo dessa dissertação é relembrar, analisar rapidamente os quatro projetos melhores colocados no Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil,


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realizado em 1956, além de especificar algumas peculiaridades do Edital. Todos os projetos têm pontos interessantes. Observa-se, em decorrência dessa pequena análise, o espírito daquela época, que foi um período de grande importância para a produção arquitetônica brasileira, marcando-se a construção e o registro de uma cultura urbanística nacional, marcada pela grande variedade de referências. É interessante notar como as propostas representavam o otimismo desenvolvimentista daqueles anos. Palavras-chave: Plano Piloto, capital, Brasil, projetos.

Abstract The objective of this dissertation is to remember, quickly analyze the four best projects placed in the National Competition of the Pilot Plan of the new capital of Brazil, held


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in 1956, and specify some peculiarities of the Bid. All projects have interesting points. It is observed as a result of this brief analysis, the spirit of that era, which was a period of great importance for the Brazilian architecture, marking the construction and registration of a national urban culture, marked by the wide variety of references. It is interesting to note how the proposals represented the optimism of those developmental years.

Keywords: Pilot Plan, capital, Brazil, projects.


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Introdução A abertura do concurso nacional de projetos para a construção da nova capital federal abriu as

portas do Brasil para um dos grandes momentos da história da arquitetura e urbanismo mundial. Projetos com visões arrojadas, modernas, inovadoras, singulares, algumas viáveis, outras nem tanto, chegaram às mãos da comissão julgadora. Dos 26 projetos participantes do concurso, a análise dos quatro melhores colocados já é suficiente para nos mostrar que todas as propostas eram resultado de grande competência naquela época e nos


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ajudará a compreender até onde os conceitos urbanos modernistas foram incorporados e contextualizados para o Brasil. Propositalmente, o projeto vencedor, de autoria do arquiteto Lúcio Costa será analisado por último, justamente para comparação e verificação do porquê desta proposta ter conquistado os jurados.

2 2.1

O Concurso O Edital O edital do concurso, lançado em setembro de 1956 exigia que os planos contivessem o “traçado

básico da cidade, indicando os principais elementos da estrutura urbana, a localização e a interligação


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dos diversos setores, centros, instalações e serviços, distribuição de espaços livres e vias de comunicação”, além de um relatório justificativo. Os planos deveriam ser feitos na base de uma cidade para 500 mil habitantes e levar em conta a presença do Lago Paranoá (criado três anos depois, formado pelos rios Gama e Torto). Para tanto, os candidatos tiveram acesso aos principais estudos geológicos, geotécnicos, de drenagem, topográficos, entre outros.

2.2

Projeto nº2 - Plano Piloto da Nova Capital (2º lugar)

Boruch Milmann, engenheiro, João Henrique Rocha e Ney Fontes Gonçalves.


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Neste plano urbanístico a cidade seria formada por três núcleos principais. O maior se destinaria às residências, todas próximas do lago. No centro desse núcleo estariam os edifícios governamentais, rodeados por um setor habitacional exclusivo para funcionários públicos. O núcleo intermediário abrigaria toda a área comercial. O terceiro núcleo, também de habitações, seria destinado às classes sociais mais baixas. Avaliação dos jurados • muito atraente a localização das habitações na península • densidade aproximadamente exata


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• centro comercial isolado e formalizado numa série rígida de superblocos de tamanho igual • não utilização da parte mais elevada do terreno

2.3

Projeto nº8 - Plano Piloto da Nova Capital do Brasil (3º lugar empate)

Marcelo Roberto, Maurício Roberto, Antonio A. Dias, arquitetos. Sete unidades urbanas com 72.000 pessoas cada uma, podendo se expandir para 10 ou 14 unidades. Cada unidade teria o formato de um círculo com 2.400 metros de diâmetro, e seria como "uma cidade completa".


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Essas mini-cidades seriam autônomas – com igreja, escola, comércio, hospital, parques, centros culturais, locais de trabalho e, no meio, um departamento governamental. Cada núcleo urbano teria uma função administrativa: Administração Regional, Comunicações, Finanças, Artes, Ciências e Letras, Bemestar social e Produção. Para preservar as mini-cidades da expansão desordenada, haveria um cinturão verde ao redor delas. Os trajetos entre as sete unidades e o parque federal seriam feitos de monotrilho e os percursos dentro das células seriam a pé ou por esteiras rolantes.


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Avaliação dos jurados • O programa para construção e financiamento é prático e realista • O estudo sobre a utilização da terra é o melhor e mais completo do concurso • É válido para qualquer cidade numa região plana; não é especial para Brasília • Não é o plano para uma capital nacional

2.4

Projeto nº17 - Brasília-Plano Piloto (3º lugar empate)

Rino Levi, Roberto Cerqueira Cesar, Luis Roberto Carvalho Franco, arquitetos. Projeto Estrutural: Paulo Fragoso, engenheiro.


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Projetado para 288.000 pessoas em blocos de 300 metros de altura e 70.000 pessoas em extensões fora do plano. Não previa “satélites”. A população máxima prevista era a mesma do edital do concurso (500.000hab.). A inovação desse projeto era resolver as necessidades urbanas pela arquitetura, ou seja, haveria uma cidade autônoma dentro de cada residência. Os superblocos de 80 andares seriam divididos em seis quadras. Cada uma teria três superblocos e uma grande praça no meio, com escola primária e secundária, comércio, centros culturais e de saúde, cinema, igreja e a prefeitura da quadra. Os hospitais e centros esportivos eram dispostos de forma a servir duas ou mais quadras.


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Os edifícios governamentais ficariam num parque à beira do Lago Paranoá (uma espécie de “Parque dos Três Poderes”) e os superblocos se distribuiriam ao redor deles. Avaliação dos jurados • Boa aparência • Boa orientação • Do ponto de vista plástico, são os edifícios de apartamentos que dão feição à capital, não os edifícios governamentais • Altura desnecessária; resistência aos ventos.


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2.5

Projeto nº22 - Plano Piloto para Brasília (1º colocado)

Lúcio Costa, arquiteto Comentários do Júri Críticas 1. Demasiada quantidade indiscriminada de terra entre o centro governamental e o lago 2. O Aeroporto talvez tenha que ser mais afastado 3. A parte mais longínqua do lago e as penínsulas não são utilizadas para habitações 4. Não especificação do tipo de estradas regionais, especialmente com relação a possíveis cidades satélites.


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Vantagens 1. O único para uma capital administrativa do Brasil 2. Seus elementos podem prontamente ser apreendidos: o plano é claro, direto e fundamentalmente simples – como, por exemplo, o de Pompéia, o de Nancy, o de Londres feito por Wren e o de Paris de Louis XV 3. O plano estará concluído em dez anos, embora a cidade continue a crescer 4. O tamanho da cidade é limitado: seu crescimento após 20 anos se fará (a) pelas penínsulas e (b) por cidades satélites


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5. Um centro conduz a outro, de modo que o plano pode ser facilmente compreendido 6. Tem o espírito do século XX: é novo; é livre e aberto; é disciplinado sem ser rígido 7. O método de crescimento – por arborização, alguns caminhos e a artéria principal – é o mais prático de todos 8. As embaixadas estão bem situadas, dentro de um cenário variável O projeto, segundo o próprio Lucio Costa, "nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz". Procurou-se em seguida uma adaptação à topografia local, ao escoamento das águas, à melhor orientação. Houve uma


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clara preocupação de aplicar ao urbanismo os princípios considerados mais avançados da técnica rodoviária, eliminando os cruzamentos através de retornos em desnível. Conferiu-se ao eixo norte-sul pistas centrais de alta velocidade. Pistas laterais foram previstas para a distribuição do tráfego local, que conduz diretamente ao setor residencial. O eixo transversal leste-oeste, denominado "monumental", recebeu o centro cívico e administrativo, o setor cultural, o centro comercial e de diversões, o setor administrativo municipal. Destacam-se no conjunto os edifícios autônomos destinados aos poderes fundamentais - legislativo, executivo e judiciário - que formam a triangular Praça dos Três Poderes. A partir do edifício do Congresso Nacional, que ocupa o setor oeste da praça, rumo à interseção dos eixos, desenvolve-se a monumental Esplanada dos Ministérios.


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2.6

Conclusão Um dos grandes motivos que levou Lúcio Costa a vencer o concurso foi o memorial descritivo do projeto, um dos mais belos textos da língua portuguesa, que induz o leitor a acreditar que a solução só poderia ser aquela. Convence o leitor de que o caráter monumental - Monumentalidade - é essencial para a nova capital. JK lembra o que era o projeto na exposição das propostas para a escolha do vencedor: Tudo era pobre na apresentação – desleixo aliado à pobreza do material –, mas havia grandeza na concepção. [...] Nele, tudo era coerente. Racional. E em face da sua essência urbana, caso fosse executado, conferiria grandeza à nova capital.


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Tratava-se, sem dúvida, de uma verdadeira obra de arte, tanto pela clareza quanto pela hierarquia dos elementos integrantes do conjunto. (KUBITSCHEK, 2000, p.63).

Não existia a cidade certa ou a errada, cada uma tem vantagens e desvantagens. Existia o projeto ruim e o bom, e o do Lucio era o melhor. Todos os projetos do concurso estão hoje superados. Eles se basearam, principalmente, nos conceitos do Modernismo, que começou a ser refutado internacionalmente já durante o projeto e a construção de Brasília. A cidade projetada com ênfase no automóvel, edifícios residenciais soltos uns dos outros no gramado, projetar para um futuro utópico e não para a dura realidade do presente, era parte das teorias urbanísticas do Modernismo.


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Referências KUBITSCHEK, Juscelino de. Por que construí Brasília. Senado Federal, Conselho Editorial, 2000. XVI + 477 p. – (Coleção Brasil 500 anos) TAVARES, Jeferson Cristiano. Projetos para Brasília e a cultura urbanística nacional. São Paulo: EESC USP, 2004.

COSTA, Lúcio. Relatório do Plano-Piloto de Brasília. Rio de Janeiro, 1957. BRAGA, Milton L. A. O Concurso de Brasília: Os 7 Projetos Premiados, São Paulo, Dissertação de Mestrado:FAU – USP, 1999.


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SARDENBERG, Luis Felipe. Outras <http://www.dzai.com.br/lfbas/blog/outrasbrasilias>. Acessado

Brasílias.

Disponível

em

COSTA, Aline Moraes. (Im)possíveis Brasílias: os projetos apresentados no concurso do plano piloto da nova capital federal. Dissertação de Mestrado, Campinas, São Paulo, 2002.


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