Sintese de Culturas

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Brasília síntese de culturas

Letícia Maia Lemos Thiago Pereira Melo


Resumo A síntese de culturas da capital federal brasileira, objeto do nosso estudo, mostra como heterogêneo é nosso país e como esta característica é evidente em Brasília, garantindolhe isto como uma marca própria. O como e o por que de tamanha miscigenação, os traços marcantes das culturas que originaram esta nova cultura brasiliense e a formação de seu povo serão trabalhados neste artigo. Palavras chave: Cultura,brasiliense,miscigenação

Resumen Resumen: La síntesis de las culturas en la capital federal de Brasil, el objeto de nuestro estudio, muestra la heterogeneidad en nuestro país y cómo esta característica se hace

evidente en Brasilia, lo que le valió una marca. El cómo y el porqué de tal mestizaje, los aspectos más llamativos de las culturas que llevaron a esta nueva cultura de Brasilia y la capacitación de su gente serán abordados en este artículo. Palabras clave: Cultura, Brasilia, el mestizaje


Introdução Uma terra de estrangeiros que aqui se misturam “Conjunto de pessoas que não habitam o mesmo país, mas que estão ligadas por sua origem, sua religião ou por qualquer outro laço”, assim define a pesquisadora ORLANDI (2002) o termo „povo‟ e, apesar da população de Brasília habitar o mesmo país, esta seria sua melhor definição, já que os brasilienses foram formados por brasileiros que em sua maioria pouco tinham em comum. Mas o sonho de mudança de vida que os guiou até o Planalto Central fez deles um povo em essência, tornou-os muito mais que o conjunto de indivíduos que habitam uma cidade. Contar a história de como surgiu uma cultura tão rica e miscigenada nos faz repensar às tantas críticas que foram feitas à construção de Brasília. Diante das fachadas política e econômica encontrava-se o verdadeiro interesse: deslocar para o centro do território nacional grandes contingentes populacionais para que tornassem a alavanca do desenvolvimento somando riquezas culturais de todos os pontos cardeais do país. A construção de um povo Para a construção da nova Capital Federal, uma obra tão grandiosa e com tão pouco tempo para ser finalizada, era preciso um grande contingente de mão-de-obra. Com a promessa de um futuro melhor, com base na analogia de um oásis no deserto, a migração para o Distrito Federal foi inevitável. Trabalhadores de todas as regiões do país começaram a se unir para construir a nova capital, e assim o fizeram. Esses trabalhadores, conhecidos por candangos, não deveriam ter permanecido após a construção da cidade, assim como previam os mentores do Plano Piloto. Mas, não só ficaram como passaram a ocupar a periferia de Brasília com um número muito maior que o previsto de pessoas – segundo o IBGE, em 1959 a população de candangos era de aproximadamente 65% do total de habitantes de Brasília. Eles formaram o núcleo bandeirante e mais adiante contribuíram para o crescimento das cidades-satélites, característica peculiar da capital federal, que isolaram Brasília, tornando-a uma “ilha” irreal no meio de uma imensa periferia.


Contudo, foi esse grande e miscigenado contingente populacional que passou a constituir o cidadão brasiliense. Uma nova língua foi surgindo derivada das línguas dos imigrantes. Um novo modo de vida foi criado, habituado a forma do planejamento da cidade. E um caráter mais sério, acompanhando a destinação político-administrativa da cidade. O Planalto Central, como disse o compositor JOBIM (1961), seria o „herdeiro‟ de todas as culturas, de todas as raças, com um sabor todo próprio, e assim, com o propósito de abrigar os poderes políticos, Brasília abrigou, também, uma bagagem cheia de sonhos e sotaques. A síntese na prática As características culturais de Brasília não são marcadas apenas pelos regionalismos trazidos pelos candangos, nem pela peculiar urbanização que ganhou a nova capital do país, mas, também, por uma infinidade de temas, como a música brasiliense, a dedicação pelas artes visuais ou a marcante espiritualidade que envolve a cidade. A criação da capital já incentivava a produção musical, como, por exemplo, as marchinhas criadas em 1958, “Vamos pra Brasília”, na voz de Jorge Veiga e “Não vamos pra Brasília”, que retrucava a anterior, cantada pelo grupo Os Cariocas. Na década de 1980, com um repertório cheio de críticas e ironias, o rock do Planalto Central foi lançado ao Brasil como um desabafo às irregularidades políticas já existentes naquela época, como cantou o grupo Legião Urbana na música “Que país é este”: “... nas favelas, no senado / poeira pra todo lado / ninguém respeita a constituição / mas todos acreditam no futuro da nação...” (RUSSO, 1987). Outros grupos também cantavam por uma política mais limpa, mais clara, como Os Paralamas do Sucesso, Capital Inicial e Plebe Rude. Porém, apesar de ser o mais conhecido, o rock não é o único estilo musical brasiliense. Despontam o reggae como o do grupo Natirruts, o sertanejo, herança dos candangos nordestinos, os grupos de chorinho e o hip-hop.


Outra característica cultural brasiliense é a ampla difusão do cinema, com produções que buscam retratar o seu povo e a história de sua cidade, como Conterrâneos velhos de guerra, As vidas de Maria, Brasília 18%, Doces poderes, etc. Anualmente acontecem festivais de cinema, entre os quais se destaca o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, um dos mais tradicionais do Brasil, que se destaca pelo fato de permitir apenas a inscrição de filmes brasileiros. Brasília possui um lado místico muito marcante, inspirado ainda no século XIX, quando Dom Bosco profetizou que surgiria a Terra da Promissão, no hemisfério sul, entre os graus 15 e 20, localização que engloba a atual Capital Federal. Várias histórias foram surgindo com o tempo, como a propensão da cidade para atração e aterrissagem de discos voadores, além de contatos extraterrestres. Esse lado mágico de Brasília fez surgir algumas comunidades não ortodoxas no Distrito Federal, como a Cidade do Sol, com sede em Brasília, que têm autonomia pra viver ao seu modo, conforme seus próprios costumes, de uma forma quase secreta. Toda essa forte marca cultural de Brasília fez com que ela fosse nomeada, no Bureau Internacional de Capitais Culturais, no ano de 2007, a Capital Americana da Cultura para o ano de 2008, sucedendo Cuzco. O Bureau promoveu uma votação popular que elegeu as sete maravilhas do Patrimônio Cultural Material de Brasília: a Catedral, o Congresso Nacional, o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Templo da Boa Vontade, o Santuário Dom Bosco e a Ponte JK. Conclusão Trazida de todas as regiões, mas nem tão arrastada quanto no Nordeste, nem tão „chiada‟ quanto no sudeste, e sem os „tchês‟ do sul, a cultura brasiliense é forte e única, concebida com os desenhos mais marcantes das culturas brasileiras. Nenhuma outra Capital seria mais um centro de cultura do que esta, que abrigou e ainda abriga tantos costumes e tradições. Porém, Brasília está longe de ser tipicamente brasileira, já que não possui estádio de futebol ou time, tão pouco carnaval de rua dentro do perímetro do Plano Piloto. Brasília tornou-se uma pequena ilha, rodeada de Brasil por todos os lados.


Referências: ORLANDI, Eni. A Noção de Povo que se Constitui em Diferentes Discursividades no Brasil. São Paulo, 2002. NUNES, Augusto. Revista Veja, Edição especial – Brasília 50 anos. Versão Digital. São Paulo: Editora Abril, 2009. REVISTA VEJA, EDIÇÃO ESPECIAL – BRASÍLIA 50 ANOS. Versão Digital. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/especiais/brasilia/solidao-dividida-blocos-p-166.html>. Acesso em 17/05/2010. PORTAL SÃO FRANCISCO. História de Brasília. Disponível em : <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/historia-de-brasilia/historia-de-brasilia.php>. Acesso em 17/05/2010. PORTAL BRASIL. Cidade de Brasília. Disponível em: <http://www.portalbrasil .net/brasil_cidades_brasilia.htm>. Acesso em 15/05/2010. PORTAL DE NOTÍCIAS O POVO. Brasília 50 anos, Editorial. Disponível em: <http://opovo.uol.com.br/opovo/especiais/brasilia50anos/974983.html>. Acesso em 17/05/2010. PASSEIWEB. História de Brasília. <http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/historia/historia_do_brasil/os_anos_de _jk/os_anos_jk> (Acesso em 22/03/2010) JORNALNH. Censo de 1959 revela quem eram os candangos que construíram Brasília. Disponível em: <http://www.jornalnh.com.br/site/noticias/ geral,canal-8,ed-60,ct-506,cd-255275.htm>. Acesso em 21 de abril de 2010. JOBIM, Tom, MORAES, Vinicius de. Sinfonia da Alvorada. Disponível em: <http://www.diaadia.pr.gov.br/temasatuais/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=321>. Acesso em 27/06/2010.


Imagens (em ordem de aparição): Croqui do Plano Piloto de Brasília <http://static.hsw.com.br/gif/brasilia-1.jpg>

Plano Piloto Vista Satélite <http://veja.abril.com.br/especiais/brasilia/ imagens/primordios5.jpg> Caminhão candangos < http://www.ralysite.com.br/www.ultratempo.com.br/Familia_ Schwabacher_1953_1970/1960_caminhao_candangos.jpg> Caminhão candangos 2 <http://4.bp.blogspot.com/_nSUTPW2NzY0/Rwp_wks9s8I /AAAAAAAAAPM/LTcq3_6xDYI/s400/candangos.aspx > Família candangos < http://www.gdf.df.gov.br/045/img/ilu/comentario_segundo.jpg > Núcleo Bandeirante < http://www.bandeirante.df.gov.br/sites/100/200/Fotos%20 Historico/foto_bandeirante1.jpg> Cúpula da Câmara dos Deputados < http://3.bp.blogspot.com/_P3BvaDvVAyk/ S89HMlPT59I/AAAAAAAADIk/VCKMhtZaaBE/s400/c%C3%BApula+da+c% C3%82mara+dos+deputados+brasilia.jpg> Multidão em Brasília < http://n.i.uol.com.br/ultnot/album/090421_f_023.jpg> Ensaio Aborto Elétrico < http://veja.abril.com.br/especiais/brasilia/imagens/ cultura2.jpg> As vidas de Maria < http://www.asvidasdemaria.com.br/img/ft/ft_02.jpg> Brasília Capital Americana da Cultura para o ano de 2008 < http://www.cacacc.org/img/BrasiliaCAC.jpg> Monumento Dois Candangos < http://www.theodora.com/wfb/photos/brazil/dois_ candangos_monument_brasilia_brazil_photo_gov_tourist_ministry.jpg>


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