A N O I I I / E D I Ç ÃO 6
SELO CARBON FREE
MATO GROSSO DO SUL U M A P U B L I C AÇ Ã O D O G O V E R N O D O E S TA D O D E M AT O G R O S S O D O S U L
T U R I S M O S U S T E N TÁV E L 2 0 1 8
EM NOSSA ARTE DE CAPA
FOTO TIAGO AKIRA Vista aérea Rio Sucuri - Serra da Bodoquena, Bonito - MS
EXPRESSÃO
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//SUMÁRIO CAPA
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ECODESIGN
Acessórios que levam a natureza aonde você estiver.
SINTONIA /// 6 EXPRESSÃO /// 10 ESTILO DE VIDA /// 14 CAPA /// 22 MS ENTREVISTA /// 38 ACONTECE /// 42 TURISMO ECOLÓGICO Conheça destinos turísticos que apoiam projetos de conservação.
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TALENTOS REGIONAIS /// 46
SINTONIA
6 ESTILO DE VIDA
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PROJETO ANTACANTA Histórias cantadas socialmente
ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL
justas, ecologicamente corretas e economicamente viáveis!
TALENTOS REGIONAIS
Sua alimentação pode ser mais saudável para você e para o meio ambiente.
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Editorial UMA NOVA VERSÃO Nesta edição, o tradicional prato Carreteiro ganha uma versão mais sustentável e muito
A sexta edição da Revista Mato Grosso
ria ser outra, considerando que a susten-
do Sul tem um valor especial, toda sua
tabilidade é o tema principal desta edição.
tiragem é CARBON FREE! As emissões
Para quem se preocupa com os impactos
de gases de efeito estufa associadas à pro-
que causamos no nosso dia a dia ou para os
dução do papel da revista deste mês serão
que ainda estão amadurecendo essa cons-
compensadas com o plantio de árvores na
ciência, trazemos bons exemplos e iniciati-
Floresta Amazônica. A iniciativa não pode-
vas nas mais diversas áreas. Aproveite!
saborosa é o Arroz Carreteiro de Cumbaru!
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_ Reprodução internet
A sustentabilidade nas poesias cantadas
ANO III
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asce em Mato Grosso do Sul um projeto de histórias cantadas que tem tudo a ver com sustentabilidade, é o ANTACANTA. Respeitando os princípios centrais deste conceito:
sendo socialmente justo, ecologicamente correto e economicamente viável, a anta-brasileira é usada como personagem para debater o bullying, diferenças culturais, pluralidades de ideias e muitos outros assuntos. A ideia nasceu da jornalista Ana Teresa Camargo, e as histórias que dão vida ao projeto também são de sua autoria. Por meio de poesias musicadas, a personagem da anta fala com muito bom humor de temas atuais e pertinentes, além de desconstruir preconceitos e rebater a imagem da anta como um animal pouco cativante. Voltado para crianças e jovens, o ANTACANTA já teve sua importância reconhecida com a aprovação do projeto pela Lei Rouanet – principal mecanismo de fomento à Cultura no Brasil. Com essa aprovação, o projeto está autorizado a desenvolver parcerias com empresas e pessoas que podem deduzir uma parte de seu imposto destinando a porcentagem para o projeto. Já são 17 histórias cantadas, gravadas em estúdio. Além de
Gente espoleta Gente assanhada Gente calminha Gente acanhada Gente é amor e felicidade Toda gente é bonita de verdade! Muita Beleza
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Ana Teresa, participam do projeto Yvo Ursini como produtor musical, maestro e arranjador; a cantora e compositora Thamires Tannous; Michi Ruzitschka como produtor musical e músico-violonista e o designer gráfico, Gustavo Scalamandré.
_SINTONIA
#instapoeta E tem mais: paralelo ao ANTACANTA, Ana Teresa também dá uma palinha do seu talento em uma vertente que
está em alta: a poesia no Instagram.
São textos curtos, acompanhados de
imagens em preto e branco, selecionadas na própria rede social, e que criam
conexão com o leitor. A jornalista conta que busca inspiração em imagens
que remetem a pequenas histórias
cotidianas e, por isso, batizou o projeto de #pbstories. A cada postagem,
um novo texto e uma nova reflexão. Separamos alguns para você!
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Acessórios sustentáveis
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_ Malcolm Carvalho
O conceito de “ecodesign” prevê ambientes, produtos e serviços mais simples, que consomem menos materiais e energia, duram mais e reduzem a geração de resíduos. Produzir nos preceitos do ecodesign é buscar constantemente alternativas que reduzam os impactos causados ao longo de todo o processo. Para esta edição, trazemos um exemplo de um produto exclusivo de Mato Grosso do Sul que segue essa tendência sustentável e é de muito bom gosto! Conheça o trabalho da empresa Eterna Flora. ANO III
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J
á pensou conseguir levar um pouquinho de natureza para qualquer lugar que você estiver? No dia a dia estressante do escritório, durante o longo tempo preso no trânsito, ou nos encontros com
amigos? Essa é a proposta dos acessórios produzi-
dos pela Eterna Flora. Com processo produtivo que respeita os princípios do ecodesign, as peças tem a natureza como elemento principal. São anéis, amuletos, brincos que aproximam o meio ambiente das pessoas. Plantas em estado terminal, insetos sem vida e outros tipos de matéria orgânica viram acessórios nas mãos do talentoso Rafael Segovia. O trabalho que é feito com resina e é manual em todo seu processo tem como resultado peças exclusivas, cada uma com suas características e belezas próprias. A fabricação leva de 15 a 20 dias e, nas peças com plantas e insetos, o processo inicia com a desidratação destas matérias-primas. Em seguida, é feito o revestimento de resina e, então, as peças brutas passam pela etapa de lixagem que também é manual. Na finalização, elas são furadas e polidas.
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_EXPRESSÃO
Este trabalho também é bastante procurado para eternizar momentos, como a pétala de uma flor recebida ou até o dentinho de leite de crianças. Tudo pode se transformar em arte de maneira sustentável. As peças começaram a ser comercializadas a cerca de um ano, e já totalizam cerca de mil exemplares. A Eterna Flora participa de exposições e eventos culturais e
@eternaflora
realiza venda por meio da sua página no Instagram. Nos próximos meses deve entrar em funcionamento o e-commerce e
_Fotos: Malcolm Carvalho
também será possível encontrar os produtos em lojas parceiras. Os acessórios custam partir de R$ 50, no caso das peças menores, chegando aos R$ 150 para exemplares maiores e mais elaborados.
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_Reprodução internet
ESTILO DE VIDA GASTRONOMIA SUSTENTÁVEL: PORQUE A SUSTENTABILIDADE PODE E DEVE PASSAR PELA ALIMENTAÇÃO. CONHEÇA BONS EXEMPLOS DE INCENTIVO À ALIMENTAÇÃO COM RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL.
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ocê pode se perguntar: “o que a minha alimen-
Normalmente, as pessoas não se preocupam com o processo
tação tem de relação com a sustentabilidade?”,
de produção e consumo dos alimentos, na contramão disso, a
podemos dizer que muita coisa! Tudo o que
gastronomia sustentável propõe que os consumidores saiam
consumimos na nossa alimentação, desde leite
do “automático” e se preocupem com algumas questões que
quente, o pãozinho da padaria ou a sobremesa depois do almo-
podem ser resumidas em três eixos principais: conhecer a pro-
ço impactam nos recursos naturais, muitas vezes, em escalas
cedência dos alimentos consumidos; evitar produtos em extin-
pouco cogitadas no nosso dia a dia.
ção e evitar o desperdício.
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_ESTILO DE VIDA
Nesse sentido, consumidores finais e também estabelecimentos comerciais devem levar em consideração quem produz os alimentos, dando preferência para os pequenos produtores que produzem sem prejudicar o meio ambiente, que não utilizam agrotóxicos e respeitam o ciclo de vida dos animais. Consumir espécies em risco de extinção não é considerada uma boa prática pela gastronomia sustentável que dá preferência para produtos orgânicos e ingredientes regionais. Os orgânicos reduzem os danos causados ao solo, aos recursos hídricos e à saúde humana. E, utilizando os produtos da região não é necessário importar itens de outras regiões, o que diminui os impactos ambientais causados pelo transporte, além de beneficiar os produtores locais e fortalecer a cultura regional. Finalizando, uma regra indispensável é evitar o desperdício de alimentos, o que reduz os gastos com ingredientes e reduz a produção de resíduos orgânicos. Separamos para esta matéria iniciativas inspiradoras que seguem a filosofia de alimentação sustentável. Confira!
_Acervo Programa de Extensão "Valorização de Plantas Alimentícias do Pantanal e Cerrado"/UFMS.
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FRUTOS DO CERRADO COMO AGENTES DE TRANSFORMAÇÃO O programa de extensão Sabores do Cerrado e Pantanal desenvolve há 11 anos ações relacionadas às plantas nativas desses biomas para melhorar a qualidade de vida de comunidades indígenas, ribeirinhas, de assentamentos agrícolas e outras em vulnerabilidade social. O trabalho consiste em levantar as espécies nativas disponíveis em cada região atendida e capacitar a comunidade para trabalhar esses recursos com finalidade econômica e de maneira sustentável. Mais de 20 comunidades já foram atendidas ao longo desses anos. Primeiramente, são levantadas e catalogadas as espécies nativas em cada região. Nas comunidades indígenas e tradicionais, os conhecimentos locais sobre as plantas alimentícias são valorizados e incluídos nas atividades. O próximo passo é orientar a comunidade em como utilizar essas plantas na própria alimentação e aproveitá-las para incrementar a renda familiar. Fazem parte desta etapa, oficinas que estimulam o desenvolvimento de receitas com frutos nativos que mesclam os conhecimentos locais e os científicos colocando ambos em prática. Os resultados são receitas como o pão de jatobá, a geleia de laranja-de-pacu entre tantas outras que são desenvolvidas a partir de alimentos típicos do cerrado, que agregam valor cultural e nutritivo. Além disso, as comunidades são orientadas para adotarem as boas práticas de coleta, armazenamento e processamento dos alimentos e instruídos para a conservação dos polinizadores, sementes e mudas, mantendo o desenvolvimento sustentável.
_Acervo Programa de Extensão "Valorização de Plantas Alimentícias do Pantanal e Cerrado"/UFMS.
sabores.sites.ufms.br 16
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Faz parte do projeto um curso anual, aberto à população em geral, que trabalha a coleta e identificação de plantas alimentícias, práticas sobre produção de mudas e conteúdos relacionados à valorização da cultura local, conservação de polinizadores e restauração de áreas degradadas. Na área específica de alimentos, é abordado o valor nutricional, boas práticas de higiene, colheita e pós-colheita, plano de negócios e ainda aulas práticas para produção de farinhas e receitas. Este ano, o curso acontece em Aquidauana. O programa de extensão é desenvolvido pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e conta com o apoio de instituições e organizações não governamentais como o ECOA e o Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado.
DOS TEMPEROS À HORTA AGROFLORESTAL Grandes mudanças começam com pequenos passos. Foi plantando alguns temperos no fundo do espaço comercial que o restaurante Les Amis deu início a uma série de iniciativas “amigas da natureza” e que demonstram o respeito com os alimentos, com o meio ambiente e com quem consome. Adepto à filosofia Slow Food - que entende as conexões entre os alimentos e o planeta propondo o cultivo de alimentos de maneira limpa com respeito ao meio ambiente, aos produtores e aos consumidores - o restaurante vem adquirindo alimentos orgânicos primando por agricultores familiares locais. O grande diferencial, porém, nasceu em vasinhos no fundo do restaurante. Foram os primeiros temperos plantados pelo próprio estabelecimento para serem usados em seus pratos. A ideia de produzir os próprios condimentos conquistou os proprietários, e as tímidas plantinhas de vasos ganharam outras companheiras e um novo local, uma pequena horta feita na laje do restaurante!
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Isopor, cascas de coco e outros materiais reaproveitados deram vida não só a diversos temperos como manjericão, coentro, salsinha, hortelã como também rúcula e brotos de mostarda e beterraba. Os resultados foram bons e a sensação de se engajar mais profundamente na gastronomia sustentável motivou um passo bem maior, o desenvolvimento de uma horta agroflorestal!
@lesamisbistro
O restaurante iniciou a construção de uma grande horta em um
lesamisbistro.com.br
espaço separado do prédio comercial, a ideia é suprir parte da demanda interna de alimentos frescos e também comercializar os produtos para terceiros. A horta está sendo desenvolvida no estilo de agrofloresta, mesclando hortaliças com árvores frutíferas, trata-se de um sistema de plantio de alimentos que é sustentável e ainda faz a recuperação da área. E ainda tem mais, serão cultivadas plantas típicas dos biomas sul-mato-grossense. Está sendo estudada a possibilidade de frutos como a baunilha e cereja do cerrado. A agrofloresta permite um sistema mais equilibrado, dispensando o uso de agrotóxico e protegendo os alimentos de muitas das intervenções externas.
_Ana Paula Seeman
MAIS INICIATIVAS O restaurante além de separar o lixo reciclável passou a separar, também, todo o lixo orgânico que é doado ao fornecedor de hortaliças. O pequeno produtor utiliza a matéria orgânica na compostagem para produção de húmus que serve de adubo para os alimentos consumidos pelo próprio restaurante. Além disso, o estabelecimento passou a fazer o descarte correto do óleo de cozinha. Todo o produto é descartado em um tambor e recolhido por uma empresa de reciclagem que em troca oferece produtos de limpeza.
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_ESTILO DE VIDA
_Fotos: Beatriz Branco
CHOCOLATE PANTANEIRO Se chocolate já é uma maravilha, imagina uma linha exclusiva produzida artesanalmente, embalada à mão e com ingredientes típicos do cerrado sul-mato-grossense. Parece sonho, mas não é. É assim que são produzidos os chocolates Angí que valorizam os ingredientes da região pantaneira e do cerrado, primam pela sustentabilidade da extração das plantas e frutos silvestres e que incentivam cooperativas e associações de pequenos produtores locais. O único ingrediente que é importado é o cacau que vem da Bahia e do Amazonas em forma de castanhas. O processo que transforma as castanhas em cacau é feito aqui pela própria empresa que gera, neste procedimento, sua própria manteiga de cacau – um subproduto do processo produtivo e que é utilizado na confecção das barras de chocolate.
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O mais especial, porém, é o que torna esse chocolate único: os
@angichocolates angichocolates.com
frutos do nosso Estado. Ao chocolate, são acrescidos frutos silvestres e elementos que compõem seu sabor como plantas, cascas e aparas de árvores colhidas por cooperativas locais. A extração é feita de forma sustentável por pequenos produtores de várias cidades do Estado, como Alcinópolis, Bodoquena, Bonito, Anastácio, Campo Grande e Corumbá. E os produtos são adoçados com melado da cana fornecido por uma cooperativa de mulheres indígenas de Aquidauana. Tudo isso resulta em chocolates com ingredientes únicos como castanha de baru, bocaiuva, banana da terra, jatobá, pequi com pimenta e guavira com cachaça. Além disso, os produtos são veganos – livre de lactose, glúten e de qualquer ingrediente de origem animal. Sendo a extração de suas matérias-primas de forma sustentável respeitando o ciclo dos alimentos, a sazonalidade e, inclusive, incentivando o plantio desses frutos em diversas comunidades. O chocolate sul-mato-grossense é comercializado pela internet e também em feiras gastronômicas e culturais.
_Fotos: Beatriz Branco
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RESPONSABILIDADE SOCIAL À MESA Um dos estabelecimentos ícones quando o assunto é comida natural em Campo Grande tem uma história que vai muito além dos alimentos que são servidos. O Recanto das Ervas começou, na verdade, como um viveiro que além de comercializar as mudas, oferecia oficinas que incentivavam a produção de hortas caseiras. A iniciativa de plantar os próprios temperos, ervas e hortaliças inibe o desperdício, e os impactos negativos no meio ambiente que envolvem o processo de compra, como os gases poluentes dos carros, sacolas plásticas etc. Quando se tornou um restaurante, o empreendimento incorporou o conceito mais completo de sustentabilidade à sua essência. Começando pelos ingredientes que compõem os pratos – sempre orgânicos, muitos deles de produção própria, como verduras, hortaliças, as chamadas PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais), brotos, etc.
_Fotos: Arquivo Recanto das Ervas
A sustentabilidade também chega às políticas internas da empresa que se comprometeu com a redução da produção do lixo. Além da reciclagem dos materiais, as matérias orgânicas vão para compostagem e viram adubo para a horta do restaurante. Nesse ritmo, os canudos convencionais de plástico foram substituídos por canudos de folhas de mamoeiro, que depois de utilizados, voltam ao solo como produto da compostagem. Cumprindo o princípio de ser uma empresa socialmente justa, o restaurante tem um programa de emprego para pessoas com deficiência. Atualmente são dois funcionários contratados, um deles há nove anos, e mais um por meio do estágio não remunerado. As oficinas ainda são trabalhadas e reinventadas constantemente. Uma das mais recentes ensina e incentiva a produção dos próprios produtos de limpeza que utilizam ingredientes com baixo impacto ambiental como limão, vinagre, bicarbonato de sódio e ervas! E as tradicionais oficinas de hortas caseiras ganharam um novo público, além dos adultos, as crianças também são ensinadas e conscientizadas. Como uma forma de fomentar as iniciativas sustentáveis, frequentemente o restaurante organiza feiras e festas temáticas que reúnem os mais variados tipos de produtos sustentáveis produzidos por sul-mato-grossenses comprometidos com a causa.
@recantodaservas
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CAPA
TURISMO SUSTENTÁVEL OPÇÕES TURÍSTICAS QUE APOIAM E DESENVOLVEM INICIATIVAS SUSTENTÁVEIS E DE CONSERVAÇÃO
_ Luis Palacius
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_Acervo Baía das Pedras
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_CAPA // TURISMO ECOLÓGICO
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e a pegada é sustentável, Mato Grosso do Sul é referência no turismo. Está no nosso estado o melhor destino de ecoturismo do mundo: Bonito. E também foi em terras sul-mato-grossenses que o Pantanal se abriu
para o mundo como uma possibilidade de turismo sustentável. Para desenvolver o ecoturismo, no entanto, a atividade precisa gerar impactos positivos econômicos, ambientais e sociais. A definição do Ministério do Meio Ambiente é: “segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista por meio da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações". O ecoturismo pode ser entendido, então, como as atividades turísticas baseadas na relação sustentável com a natureza, comprometidas com a conservação e a educação ambiental. É importante por fazer contribuições significativas para o bem-estar ambiental, social, cultural e econômico dos destinos e das sociedades em que está inserido, além de ser um agente de incentivo à sustentabilidade para as comunidades locais. Sua prática surgiu como um movimento ambiental global em resposta às preocupações com o desenvolvimento econômico, à degradação do meio ambiente e as questões sociais provocadas pelo turismo em massa. Em Mato Grosso do Sul, Bonito e Pantanal são destaques nessa atividade. A primeira foi eleita 15 vezes como o melhor destino de Ecoturismo do Brasil, pela revista Viagem e Turismo, conta com mais de 20 propriedades privativas e estaduais, a maioria delas são Reservas Particulares de Patrimônio Natural que oferecem atrativos turísticos em áreas totalmente preservadas. Já a maior planície alagável do mundo, o Pantanal, reconhecido como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, apresenta uma das maiores concentrações de vida silvestre da Terra e com o toque especial da cultura pantaneira. Separamos algumas iniciativas de projetos, empresas e pessoas que levam à sério a missão de contribuir social e ambientalmente dentro do turismo. Acompanhe!
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PROJETO ARARA AZUL Criado em 2003, o Instituto Arara Azul, localizado no Pantanal sul-mato-grossense, promove a conservação da arara-azul, da biodiversidade e do Pantanal como um todo, por meio do envolvimento e da conscientização das pessoas para a utilização racional dos recursos naturais. A ONG desenvolve pesquisas e o monitoramento de diversos ninhos desta espécie para proteção do silvestre e do seu habitat. Há décadas, passou a utilizar o turismo sustentável como uma ferramenta para educar os visitantes e como uma iniciativa empreendedora para ajudar a custear os trabalhos – uma ação ímpar que agrega o turismo ao terceiro setor. Funciona da seguinte forma: por meio de roteiros já pré-determinados, os turistas podem acompanhar o trabalho dos pesquisadores nos diversos ninhos monitorados no Estado. É um turismo de observação que respeita o bem-estar das aves, o acompanhante não interfere na rotina do animal, não o manuseia e não estressa o silvestre com os vícios do turismo de massa. É uma oportunidade das pessoas conhecerem o comportamento real dos animais em seu habitat natural e entenderem melhor o trabalho dos pesquisadores. Além do turismo, o Instituto Arara Azul ainda conta com diversas outras iniciativas, que trocam produtos e serviços por doações para auxiliar na manutenção deste trabalho, como a loja virtual com produtos exclusivos da ONG como camisetas, canecas, marcadores de página, chaveiros e muitos outros acessórios. A campanha “Adote um Ninho” também ajuda no custeio dos trabalhos, os interessados se tornam padrinhos de um ninho natural ou artificial.
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_CAPA // TURISMO ECOLÓGICO _Lucas Rocha
_Fernanda Fontoura
_Luis Palácius
@institutoararaazuloficial institutoararaazul.org.br
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_Acervo Biofaces
biofaces.com
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_CAPA // TURISMO ECOLÓGICO
BIOFACES E o que você acha de uma rede social específica de contemplação da natureza? Mais uma ideia inovadora e genuinamente sul-mato-grossense. O Biofaces foi criado em 2012 por um advogado apaixonado em observar a vida selvagem. Seu objetivo? Aproximar pessoas com esse mesmo hobby e promover o turismo de observação que gera desenvolvimento, emprego e lucro ao mesmo tempo em que é sustentável. A rede social que já conta com mais de três mil membros tem usuários em 20 países e registros de encantar os olhos. Além de fotos, podem ser postados vídeos, registros de som e evidências de vida selvagem como pegadas, tocas, etc, também é possível elaborar uma lista de observação e desenhos científicos. O sistema é superinterativo e permite que os usuários escrevam recados uns para os outros e votem na foto destaque da semana. Os participantes também ganham prêmios pela quantidade de registros que têm. Para incentivar pousadas e hotéis que permitem a contemplação da natureza, é possível que o usuário crie uma lista de espécies de um lugar específico e sempre que o estabelecimento for marcado como localização, o registro do usuário do Biofaces aparece na página do estabelecimento nas redes sociais. E tem mais! Os animais publicados são catalogados, duas biólogas trabalham nessa categorização que descreve os dados básicos como alimentação e hábitos de vida das espécies, a classificação segue um modelo adotado pela ONU. Dessa maneira, além de rede social, o Biofaces também é um enorme banco de dados de vida silvestre, já são mais de 11 mil espécies e há quem diga que é o maior depositário nacional de registros de mamíferos, répteis, anfíbios e invertebrados.
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_Acervo Baía das Pedras
FAZENDA BAÍA DAS PEDRAS Na Nhecolândia, região conhecida como coração do Pantanal, a Fazenda Baía das Pedras, além de trabalhar com o turismo de contemplação abriu suas portas para projetos de pesquisa e conservação. Atualmente, os projetos científicos trabalham a conservação da anta-brasileira e do tatu-canastra. As equipes de pesquisa passam de dez a quinze dias por mês na fazenda que oferece acomodação, alimentação e suporte logístico. Em contra partida, os turistas recebem informações sobre os projetos, são convidados a assistirem palestras e têm a possibilidade de acompanhar os pesquisadores em atividade no campo. Ao mesmo tempo em que apoia projetos de conservação, a iniciativa também educa os visitantes e estimula turismo ecológico de respeito ao meio ambiente e aos animais silvestres. Conheça um pouco sobre os projetos sediados neste hotel-fazenda.
@baiadaspedras baiadaspedras.com.br
PROJETO TATU-CANASTRA Liderado pelo Dr. Arnaud Desbiez, este é o primeiro projeto que estuda o tatu-canastra em longo prazo. Iniciado em 2010, o objetivo é estudar a espécie e entender melhor seu papel ecológico, para aprender como protegê-la para as gerações futuras.
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_CAPA // TURISMO ECOLÓGICO
O tatu-canastra é um dos animais menos conhecidos e estudados na zoologia moderna com o agravante de ser uma espécie ameaçada de extinção. Com os trabalhos desenvolvidos no Pantanal, foi possível levantar uma série de descobertas, desde aspectos básicos até informações mais complexas. Com esses estudos constatou-se que o tatu-canastra fun-
_Fotos: Arquivos Projeto Tatu-canastra
ciona como uma espécie de engenheiro do ecossistema. O animal passa o dia inteiro embaixo da terra em profundos buracos, cavando na média de um buraco novo a cada dois dias e esses espaços oferecem um habitat para diversos outros silvestres. Os pesquisadores registraram mais de 50 espécies diferentes utilizando as tocas cavadas pelos tatus. As pesquisas desenvolvidas no Pantanal forneceram informações inéditas, como o primeiro registro de reprodução do tatu-canastra e dados detalhados sobre o padrão de deslocamento da espécie e outros aspectos centrais de comportamento. Este projeto rendeu a Arnaud Desbiez o prêmio Whitley de Conservação Ambiental, conhecido como o Oscar da Conservação em 2015.
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_Marina Klink - INCAB
INICIATIVA NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DA ANTA BRASILEIRA (INCAB) – PROGRAMA PANTANAL Desde 2008, um grupo de pesquisadores se dedica a estudar a ecologia espacial, organização social, reprodução e comportamento da anta-brasileira no Pantanal. A fundadora do projeto científico é a engenheira florestal, doutora em manejo de biodiversidade, Patrícia Medici, do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas. A população de antas no Pantanal é bem conservada, diferente de outras áreas como a Mata Atlântica ou o Cerrado, o que possibilita o estudo da anta em seu estado e ambiente ideais, por ser um contexto natural, sem interferências humanas. O hotel-fazenda oferece um verdadeiro laboratório a céu aberto para a pesquisa. Os estudos realizados por este projeto levantaram importantes informações sobre os aspectos reprodutivos e comportamentais da anta que só haviam sido estudados, até então, em zoológicos. O trabalho no Pantanal já tem 10 anos e vai dar origem a um plano de ação para conservação da anta na região.
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REFÚGIO ECOLÓGICO CAIMAN Considerada a primeira operação de ecoturismo no pantanal sul-mato-grossense, o Refúgio Ecológico Caiman é uma fazenda de 53 mil hectares na cidade de Miranda. Dentre as atividades desenvolvidas, o Refúgio Ecológico tem o Programa de Conservação da Natureza. Reconhecido nacional e internacionalmente, este programa inclui a manutenção de uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) e o apoio a projetos de pesquisa e manejo de espécies. Em 2017, o Refúgio Ecológico Caiman foi finalista na categoria Meio Ambiente do Prêmio WTTC Tourism for Tomorrow, que contempla organizações e estabelecimentos que adotam melhores práticas para a preservação do meio ambiente, do patrimônio natural e cultural. Conheça os projetos apoiados por eles:
_Foto reprodução internet
PROJETO ONÇAFARI Promove o ecoturismo no Pantanal através da habituação de onças-pintadas e lobos-guarás em veículos de safári fotográfico. Os animais continuam totalmente selvagens em seu estado mais natural, porém, deixam de enxergar os veículos como uma ameaça desenvolvendo, assim, o turismo de contemplação. Existem outras duas vertentes deste projeto, o Onçafari Science que monitora o comportamento dos animais, avalia o estado de saúde e faz pesquisas em ecologia e fisiologia da onça-pintada, aumentando o conhecimento científico sobre a espécie e potencializando sua proteção. Já o Onçafari Rewild, é um o projeto de pesquisa de reintrodução de onças pintadas, uma importante ferramenta para a recuperação de populações ameaça-
_Foto reprodução internet
das de extinção.
PAPAGAIO-VERDADEIRO Desenvolvido pela fundação Neotrópica do Brasil, o projeto busca a conservação do papagaio-verdadeiro, uma das aves mais carismáticas e conhecidas do Brasil, através da geração de conhecimento científico e sensibilização da sociedade quanto aos danos do comércio ilegal de animais silvestres.
@refugioecologicocaiman caiman.com.br ANO III
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FAZENDA SAN FRANCISCO À margem esquerda do rio Miranda, ao final da Serra da Bodoquena, a Fazenda San Francisco, localizada no município de Miranda, é um dos destinos para quem quer conhecer e vivenciar a cultura pantaneira em sua maior essência. San Francisco é uma fazenda com produção voltada à pecuária e agricultura de arroz irrigado. Aliado às culturas, as áreas de reserva florestal fazem deste destino um superatrativo do ecoturismo, que possibilita atividades como safári fotográfico, passeio de chalana, focagem noturna, trilhas sobrepondo áreas do Pantanal, canoagem e cavalgadas. A pegada ecológica da fazenda também está na tradição em apoiar projetos de conservação ambiental, o que já lhe rendeu, inclusive, o título de Criador Conservacionista do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres. A fazenda foi o espaço de importantes projetos de pesquisa como Ecologia Jaguatirica e estudo sobre a viabilidade econômica da Palmeira Carandá. Além disso, apoia e cede espaço para desenvolvimento do Projeto Arara Azul, Projeto Papagaio-verdadeiro, Gadonça, entre outros. Conheça mais sobre alguns deles.
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_CAPA // TURISMO ECOLÓGICO
_Fotos: Arquivo Fazenda San Francisco
GADONÇA O projeto estudou a interação entre grandes predadores carnívoros silvestres e animais domésticos na região do Pantanal, desenvolveu atividades de pesquisa, manejo, turismo científico e treinamento de estudantes e profissionais da área ambiental. Este trabalho deu origem a diversas pesquisas científicas, reportagens televisivas nacionais e internacionais. As onças continuam sendo monitoradas por meio de rádio transmissores, bem como o ataque desses felinos ao rebanho bovino.
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PROJETO JAGUATIRICA Estudo da dieta das jaguatiricas foi realizado por meio da análise das fezes, de restos de presas encontradas e por observações de predação em campo. Os resultados deste projeto foram os primeiros obtidos em uma área muito antropizada do Pantanal, e revelaram um consumo mais alto de pequenos roedores do que em outras áreas onde a espécie foi estudada. Os resultados indicam que a espécie é relativamente flexível a alterações nos habitats considerados apropriados, desde que ainda haja remanescentes de áreas florestadas nas proximidades que forneçam razoável diversidade de presas e locais para abrigo. Na nova etapa do projeto, os pesquisadores monitoram as jaguatiricas estudando os fatores que influenciam sua sobrevivência e acompanham as condições de saúde desses animais.
_Arquivo San Francisco
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_CAPA // TURISMO ECOLÓGICO
ESTUDO DA HERPETOFAUNA O nome Herpetofauna é dado ao conjunto de animais formado pelos anfíbios (sapos, rãs e pererecas) e pelos répteis (lagartos, cobras, jacarés, cágados e jabutis). Estes organismos são importantes para os ecossistemas em diversas partes do mundo. As pesquisas que têm sido realizadas na Fazenda San Francisco buscam descobrir quantas e quais espécies podem ser encontradas na área e quais são os ambientes que favorecem a ocorrência de cada espécie. Outro ponto importante da pesquisa é que ela procura entender melhor como esses grupos se comportam frente à alteração do ambiente, estudando a ocorrência e reprodução dos anfíbios na área de plantio de arroz irrigado.
@faz.san.francisco.pantanal fazendasanfrancisco.tur.br
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MS ENTREVISTA Dalvana Lopes Internacionalista
Empreendedorismo Social é um conceito e um ramo de negócios que vem crescendo e ganhando enorme repercussão mundo afora. Não é para menos, quão bom é desenvolver um negócio que gera lucro com o objetivo principal de buscar soluções para problemas sociais, não é mesmo? Melhor que isso, é saber que uma jovem mulher sul-mato-grossense é destaque neste setor. De Eldorado para a Assembleia Internacional da ONU, Dalvana Lopes de 26 anos foi a única mulher brasileira selecionada por um sistema de bolsas para participar da 22ª Youth Assembly - a maior conferência sobre liderança jovem e ODS, em Nova Iorque.
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_Arquivo pessoal
Filha de uma professora municipal e de um trabalhador rural, foi a primeira a concluir ensino superior na família. Mulher, negra, batalhadora e como ela mesma diz “Alguém nada comum que segue quebrando tradições e fazendo diferente por onde passa”. Foram pelas inúmeras dificuldades enfrentadas por não ter conhecimento da língua considerada “universal”, o inglês, que Dalvana iniciou sua história na educação e seu projeto “Teaching Teachers”, que carimbou seu passaporte para essa experiência nos Estados Unidos. O “Teaching Teachers”, projeto de ensino de língua estrangeira acessível a professores da rede pública, rendeu à Dalvana uma das quatro vagas brasileiras para o Programa de Bolsas Jovens na ONU. Esse programa viabiliza a participação de jovens de baixa renda que estejam desenvolvendo ou envolvidos em trabalhos sociais na "Assembleia da Juventude" que discute problemas mundiais e auxilia no desenvolvimento de soluções sustentáveis.
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MS: Como nasceu o projeto “Teaching Teachers” e o que ele propõe? Dalvana: O projeto nasceu a partir de uma demanda que identifiquei dando aulas de inglês em uma escola particular em Amambai. Eu tinha alunas que eram professoras de inglês da rede pública e algumas vezes elas me pediam para ensinar em sala o que elas trabalhariam com seus alunos no dia seguinte, ao invés de seguir a programação da apostila do curso. Então, percebi que como elas deveriam ter diversos professores no nosso Estado na mesma situação, precisando de capacitação e muitas vezes sem condições de pagar o valor de mercado e o pior, em cidades que não têm escolas de inglês. Assim nasceu o projeto “Teaching Teachers”, com o objetivo de democratizar o acesso e o aperfeiçoamento do inglês para professores, que são os formadores dos nossos jovens. _Foto Divulgação The Youth Assembly
MS: Você tem uma história pessoal de dificuldades por não dominar o inglês, sua experiência tem relação com o insight para a criação deste projeto? Dalvana: Sim, com certeza. Sempre estudei em escola pública e O evento é uma iniciativa da Friendship Abassadors Foundation
em Eldorado, não tinha escola de inglês. Quando entrei na facul-
(FAF) em parceria com a ONU e para participar era necessário que
dade, no curso de Relações Internacionais na FGD tive dificuldades
o projeto inscrito estivesse relacionado a um dos Objetivos de
para acompanhar a turma por ser um curso mais elitizado, focado
Desenvolvimento Sustentável (ODS) trabalhados por eles. O “Te-
em quem teve um ensino diferente do que eu tive na rede pública,
aching Teachers” atende ao objetivo de educação assim definido:
e por praticamente exigir o domínio da língua inglesa, o que eu não
“Assegurar educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promo-
tinha. Foi então que eu comecei a trabalhar na universidade para
ver oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”.
pagar meu curso de inglês, mas percebi que só conseguiria a fluên-
Foi com sua história de vida e o potencial de transformação do seu
cia, de fato, e em um tempo mais curto, tendo uma experiência no
projeto que Dalvana foi selecionada e esteve entre os 1,5 mil parti-
exterior o que eu consegui um tempo depois morando no Suriname
cipantes de 112 países.
com meu tio.
O evento que aconteceu entre os dias 9 e 14 de agosto promoveu palestras, workshops e discussões para expor problemas mundiais
MS: Por que apostar no ensino de língua estrangeira?
de desenvolvimento e avaliar ideias e soluções que integram os jo-
Dalvana: A educação de qualidade em língua estrangeira, princi-
vens participantes. A ideia é que todo o conhecimento e experiên-
palmente o inglês, pode abrir portas para novas oportunidades e
cias compartilhados lá, ajudem os jovens empreendedores sociais
mudar a realidade de muitos jovens, assim como a minha tem sido
a desenvolverem seus projetos em suas localidades.
mudada. Depois que dominei o inglês muitas oportunidades se
Nós preparamos uma entrevista para você conhecer melhor o pro-
abriram para mim e é isso que espero que aconteça com os jovens
jeto da Dalvana e sua história de vida. Vale apena a leitura!
de baixa renda do nosso Estado.
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_MS ENTREVISTA
MS: Como foi sua experiência no Suriname e como aconteceu?
envolvidas no empreendedorismo social, focados em criar ne-
Dalvana: Desde que percebi que precisaria dominar o inglês
gócios que solucionam problemas da sociedade, contribuindo
para ter um desempenho melhor na faculdade e para me pre-
para justiça social. Fomos preparados para estruturar nossos
parar para as oportunidades, comecei a pesquisar pacotes de
projetos, a prospectar parceiros e investidores e encorajados
intercâmbio, mas custavam muito acima do que minha famí-
por empreendedores sociais que já são cases de sucesso.
lia poderia pagar. Quando já tinha desistido da ideia, meu tio, que é militar do exército, foi designado para uma missão in-
MS: Depois da sua participação na Assembleia o que seu pro-
ternacional, no Suriname. Ele sabia dessa minha vontade e me
jeto já evoluiu?
convidou para ir com a família dele. Morei lá por um ano, foi o
Dalvana: Ainda estou na parte de estruturação, mas a ideia é
tempo que tive para conquistar a fluência. A língua materna
fazer uma parceria com pessoas do exterior que tenham inte-
deles é o holandês e apesar do inglês ser comum entre eles,
resse em fazer intercâmbio no Brasil e contratá-las para darem
onde morei não havia escola de inglês para eu estudar, tinha
aulas de inglês nas cidades do interior do Estado, especialmen-
apenas uma escola regular que era particular e que o ensino
te nos municípios que não têm escola de língua estrangeira, a
era todo em inglês. Consegui me matricular nela e aos 21 anos,
um preço acessível e compatível com o a realidade dos profes-
já na faculdade, voltei ao ensino médio para aprender inglês.
sores. Estou tentando uma parceria com uma empresa social que desenvolve um trabalho similar no Rio de Janeiro e São Pau-
MS: Sobre a oportunidade de participar da Youth Assembly,
lo com crianças de comunidades carentes.
como aconteceu? Dalvana: Eu sigo nas reses sociais um brasileiro que é como um
MS: Para finalizar, o que a educação significa para você?
“influencer” de jovens que querem ser bem-sucedidos, e ele di-
Dalvana: Acredito na educação como agente de transformação
vulgou que o Programa de Bolsas para Jovens da ONU no Brasil
social. Sempre estudei em escola pública e tive a sorte de ter
estava selecionando jovens de baixa renda para participarem
bons professores, inclusive uma professora que sempre me di-
da 22ª Youth Assembly. Eu me candidatei e participei do pro-
zia para acreditar em mim e no meu potencial, para não me
cesso que foi bem longo, até pensei que não tinha dado certo,
limitar a minha cidade. Eu acreditei nela e acreditei na educa-
mas a resposta saiu e para minha alegria foi positiva.
ção que me fez chegar a uma universidade pública me abrindo os olhos para diversas possibilidades. Acredito que a educação
MS: O que acha que foi o diferencial para você ser escolhida?
pode mudar vidas, como mudou a minha. Muitos dos proble-
Dalvana: Bem, acredito que pelo meu histórico de vida. Sou
mas que temos no Brasil se devem por gargalos na educação,
mulher militante do movimento negro, feminista. Tive que
desde a pessoa que joga lixo na rua, até quem entra no crime
vencer uma série de obstáculos para garantir o meu direito de
por falta de perspectivas. Espero contribuir para que a educa-
um ensino superior com qualidade. E também pelo projeto que
ção mude a vida de mais pessoas.
pretendo desenvolver voltado à democratização do ensino de língua estrangeira em cidades do interior do Estado, é um projeto que está bem atrelado a um dos Objetivos Sociais de De-
_Arquivo pessoal
senvolvimento Sustentável da Assembleia que é o relacionado à educação. MS: E como foi sua experiência na Assembleia da ONU? Dalvana: Foi incrível. Uma imersão de conhecimento e aprendizado, networking com pessoas do Brasil e do mundo que estão
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ACONTECE FESTIVAL DE INVERNO DE BONITO REÚNE 50 MIL EXPECTADORES
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_ACONTECE
_Fotos: André Patroni
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19ª edição do Festival de Inverno de Bonito (FIB) contou com 106 atrações artísticas e uma programação diária gratuita de mais de 17 horas. A agenda ampla e diversificada teve shows musi-
cais, apresentações de artes cênicas, oficinas, palestras, seminários, debates e atividades relacionadas ao meio ambiente, turismo, gastronomia e educação. Além dos artistas sul-mato-grossenses, mais 10 estados foram re-
presentados no Festival que reuniu um público de 50 mil pessoas e teve como uma de suas características principais a descentralização das ações, com programação em distritos e assentamentos. Uma das novidades foi o espaço aberto para importantes discussões sobre cultura, cidadania e meio ambiente.
Diretamente do nordeste brasileiro, o cortejo de abertura do Festival foi comandado pelo grupo Camboi que apresentou o número Cavalo Marinho, uma expressão da cultura popular nordestina há mais de 100 anos.
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As mulheres tiveram espaço especial nesta edição com discussões sobre o trabalho literário produzido por mulheres e a palestra da ativista pelos direitos da população negra, Ângela Epifânio.
Assuntos voltados para o meio ambiente foram destaques nesta edição em exposições, palestras, seminários e ações como o Mutirão de Limpeza nos córregos urbanos de Bonito.
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_Fotos: André Patroni
As apresentações de artes cênicas contaram com performances impactantes de grandes nomes do teatro e da dança brasileiros e de grupos regionais que apresentaram experiências estéticas variadas e incríveis como as dos grupos Street Pop (MS), Nós no Bambu (DF), Balé Teatro Guaíra (PR), entre outros. Na música, a diversidade falou alto, os shows principais foram de Michel Teló, Almir Sater & Renato Teixeira, Milton Nascimento e Anavitória. As aberturas ficaram por conta das bandas e músicos sul-mato-grossenses Maria Alice, Ton Alves, Catarse Retrô e dos artistas bonitenses no show “Canta Bonito”. As apresentações reuniram cerca de 40 mil pessoas na Praça da Liberdade.
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TALENTOS REGIONAIS
Adicione à inspiração francesa, a valorização das essências regionais, uma pitada da gastronomia mundial e regue com consciência ambiental. Tá aí a receita do sucesso de Ana Paula Seeman.
_Arquivo Les Amis
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_TALENTOS REGIONAIS
ARROZ CARRETEIRO DE CUMBARU INGREDIENTES 300g de arroz cateto vermelho 1 litro de caldo de legumes natural ou água* 1 cebola picadinha 1/4 xícara de azeite de oliva 1/2 xícara de vinho branco seco (opcional) 1 dente de alho 1 alho-poró 200g de tomate cereja confitado 50g de castanhas de cumbaru, metade para misturar e restante para finalizar 1 cenoura grande em brunoise 1 abobrinha em brunoise Temperinhos a gosto (noz moscada, pimenta do reino, cheiro-verde e manjericão) _Arquivo Pessoal
Sal a gosto * Água quente para terminar de cozinhar o arroz, caso for preciso
Se o assunto é sustentabilidade, nada melhor que uma releitura de um prato genuinamente sul-mato-grossense que tem em sua composição um fruto típico da nossa re-
PREPARO (1) Fatie o alho-poró (inclusive a parte verde), pique
gião. Além de valorizar a cultura, fomentar os pequenos
a cebola em cubinhos bem pequenos, corte a cenou-
produtores locais, a receita é de dar água na boca.
ra e abobrinha em brunoise, pique o cheiro-verde e
Está curioso? Então chega de mistério. O prato desta edição
quebre as castanhas. (2) Use o restante do azeite para
é o Arroz Carreteiro de Cumbaru. A castanha é típica do cer-
fritar a cebola já na panela. Em fogo baixo ou médio,
rado e a ideia é oferecer uma opção saudável, cheia de sabor e que resgate a identidade gastronômica dessa região. Essa autoria saborosa e cheia de estilo já é um preview do talento da Ana que se rendeu à culinária depois de ter trabalhado em outros negócios sem encontrar, no entanto, sua verdadeira identidade profissional, o que só aconteceu quando abriu seu restaurante, o Les Amis Bistrô. Em sua formação, coleciona experiências em restauran-
mexa bem pra não queimar e, quando estiver quase transparente, acrescente o alho macerado e deixe dourar. (3) Coloque o arroz na mesma panela e dê uma "fritadinha" nele também. Acrescente o alhoporó, a cenoura, a abobrinha, o sal e o vinho. Mexa bem. Acrescente os temperos, um pouco do caldo de legumes quente e deixe ferver. (4) Aos poucos, vá colocando mais caldo e mexendo o arroz. Vá experimentando o arroz e, se o caldo acabar, use mais água
tes familiares de países europeus, a paixão pelos encon-
quente para terminar de cozinhar. (5) Pra finalizar,
tros em torno da mesa e a própria satisfação de apreciar
acrescente metade das castanhas e o tomate confi-
uma boa comida. Tudo isso, somado ao conceito de Slow
tado, dê uma mexidinha de leve pra que eles não se
Food, no qual é adepta, deu origem a essa receita que ela
desfaçam muito. Sirva com as castanhas por cima.
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ACESSÓRIOS SUSTENTÁVEIS Leia mais na página 10