Revista Cultural Prosa nª 4

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OURO PRETO

agosto de 2012 - ano 1 -nº4

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Para maiores informações: studiov@studiovartesvisuais.com.br (31) 3658.1992

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editorial Ouro Preto, joia encravada nas montanhas de Minas, simboliza indubitavelmente a súmula da arte colonial brasileira, não apenas por sua expressão histórica mas também por preservar um grandioso acervo cultural. Desde 1980 a cidade é internacionalmente reconhecida como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. A nossa publicação alimentou-se desta essência cultural e histórica da antiga Vila Rica para criar uma revista especial, com características marcantes dessa cidade que foi berço de um estilo artístico nacional diferenciado e que é palco de belos templos, edifícios históricos, teatros e museus. Tudo isso emoldurado por idílicos jardins, parques bucólicos e extensas zonas verdes com montanhas, vales, rios, cascatas e minas. Ademais, a cidade patrimônio foi intensamente e continua sendo um reduto de grandes artistas. Alguns nascidos ali, outros de passagem, mas lá sempre há quem vai para ficar. Também buscamos apresentar uma proposta artística diferenciada, cuja ousadia aqui se manifesta na diagramação, na tipografia, na escolha do suporte de impressão e, sobretudo, na liberdade de expressão. Tudo isso fortalece nosso objetivo de criar uma revista mutante, um espaço de criação, experimentação e reflexão tanto coletiva quanto particular. Por se tratar de um espaço aberto, as ideias e opiniões emitidas por entrevistados e colaboradores da revista não necessariamente refletem a opinião da redação e dos editores. Cabe ressaltar que na Revista Cultural Prosa tudo é válido, desde que executado com respeito e qualidade! Todo o conteúdo e todas as obras com as quais você, caro leitor e contemplador, irá se deparar nas páginas que se seguem, são resultados de manifestações culturais vistas na cidade, bem como de representações e composições artísticas daqueles que se deixaram inspirar pelas montanhas de Minas.

revista cultural prosa produzida pelo studio v artes visuais ano 1 – n˚ 4 – agosto de 2012 rua la plata, 79 – sion tel: (31) 3658.1992 belo horizonte/mg e-mail: studiov@studiovartesvisuais.com.br diretora: letícia lima mendanha editorial: letícia lima mendanha mariana silveira arte e diagramação: tiago farias revisão: marina palmieri impressão: paulinelli serviços gráficos tiragem: 5.000 exemplares

Acompanhe as novidades:



O Studio V Artes Visuais foi congratulado em julho de 2012 devido a criação da Revista Cultural Prosa pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais


cinema

Thiago Barcellos

Sólido representante de um cinema de incômodo, promotor de catarse nos espectadores da sala escura... Em 1983, depois de ter sido interditado pela censura por cerca de pouco mais de um ano, acabou sendo liberado, sem cortes, Pra Frente, Brasil, filme-síntese do processo de emancipação do nosso cinema. Essa foi uma conquista inédita de uma sociedade civil ainda engessada pelo signo pantanoso da ditadura militar. Se a liberação de uma obra dessa casta foi, antes de tudo um passo sem precedentes rumo à democracia brasileira e que ajudou, de certa maneira, a es-

“...uma emocionante e emocionada contribuição para outra história de nossa nação e de nosso cinema.”

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cancarar as portas da liberdade artística, o que dizer então de sua realização, tratando-se de um filme que tece a fio grosso quando o assunto são os anos de chumbo? Com motivos nos thrillers políticos de Costa-Gavras - nos quais a constante é o medo da sociedade à ignara reprimenda estatal e seu enfrentamento por parte de diminutos núcleos da população, Roberto Farias disse o que precisava ser dito de forma engenhosa, mesmo que usando de uma equação arriscada. No momento em que ele confia o herói Jofre Godói (Reginaldo Faria), cidadão comum e reto que é confundido com um guer-


“...Prisioneiros políticos vivem as mais desumanas experiencias nos gélidos porões da ditadura militar.” época em que se esperava “às pontas dos dedos dos pés” a carta de alforria das Diretas-Já. Em pleno imbróglio do “milagre econômico” e a euforia brasuca de um grande país, prisioneiros políticos vivem as mais desumanas experiências nos gélidos porões da ditadura militar. De grande repercussão na época do lançamento, diz-se que o argumento para o filme surgiu de um episódio verídico experimentado pelo próprio Reginaldo Faria. Certa feita, em tom de anedota, ele fez menção a uma senhora que carregava um revólver no bolso no check in do aeroporto Galeão. Acabou sendo levado à força para interrogatório. Do resultado da patuscada surgiu o roteiro para o longa. A respeito de Roberto Farias, vale dizer que ele foi um dos poucos cineastas nacionais a saber transitar por gêneros fílmicos tão díspares. Isto posto, cabe dizer que, ao se fazer uma dissecação de sua carreira, é fácil constatar que sempre foi uma sumidade em sua área. Dirige sob a batuta da Embrafilme veículos para Roberto Carlos, Grande Otelo e Ankito. O mais ilustre membro do clã Farias capitaneou, ainda, chanchadas, além de alternar em sua carreira filmes ambiciosos (Selva Trágica) com obras de apelo popular (Os Trapalhões e o Auto da Compadecida). Com Pra Frente, Brasil, Farias assinou os termos gerais de uma emocionante e emocionada contribuição para outra história de nossa nação e de nosso cinema. O diretor realiza um filme raro em seu estilo, sem os didatismos piegas de subprodutos que teimam em contar a respeito de uma revisão histórica simploriamente formal desse Brasil ainda varonil.

Thiago Barcellos é curtametragista, cineclubista, crítico de cinema, pesquisador da Sétima Arte e um entusiasmado pela música Jazz, essa grande experiência estética da cultura negra/branca norte-americana.

rilheiro, às garras de uma alcateia de torturadores paramilitares operantes à margem do Estado, seu filme ganha tônica. Farias usa de subterfúgios narrativos que soam mais descritivos a fim de evitar enfrentamentos que podiam ter-lhe custado caro. O cineasta desvela a via-crúcis de uma família classe média em virtude do desaparecimento de um de seus integrantes confundido com um ativista político acusado de subversão. Sua esposa Marta (Natália do Vale) e seu irmão Miguel (Antônio Fagundes) são acometidos por um calvário infernal enquanto lutam, por meios legais, por pistas a respeito de Jofre; mas esbarram nos empecilhos impostos pela polícia a juízo dos embustes ditatoriais. Vencedor dos prêmios de melhor filme e melhor edição no Festival de Gramado de 1982 e obra que tem como pano de fundo os jogos da seleção brasileira na copa de 70, no México, Pra Frente, Brasil é um sólido representante de um cinema de incômodo, promotor de catarse nos espectadores da sala escura em uma

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Vanessa Maciel

EU, ZUMBI

– coisas de bar,

ou passa a régua e traz a conta, de Alexandre S. Sugere uma análise sobre o comportamento de uma sociedade voltada para a “espetacularização” de tudo

Noite de verão. Você está em um bar, E foram através de imagens e sense divertindo com seus amigos. Todos sações estranhas de cenas como esta discutem futebol, algumas questões fi- que Alexandre S. confundiu e surlosóficas e políticas, e também, as últi- preendeu os usuários das redes somas notícias da TV. Em outro momento ciais, e conquistou o público de grancompartilham músicas do celular e ti- des festivais de cinema do Brasil. Em ram fotos, contam piadas e se divertem. seus quase 8 minutos de duração, o O clima é de alegria, partilha e descon- curta-metragem Eu, Zumbi – Coisas tração, nada muito diferente das tantas de bar, ou passa a régua e traz a conoutras noites que vocês decidiram sair ta brinca, propositalmente, com o lipara beber uma cervejinha. mite tênue entre ficção e realidade. Mas você, em um momento de descuiO curta-metragem apresenta uma do, desvia a atenção dos seus amigos história de duas faces, montadas de quando percebe virando a esquina uma forma não cronológica. Na primeira pessoa diferente, alguém que não lhe parte, o personagem Rafa está graparece muito familiar. Ele caminha em vando um vídeo amador, respondendireção ao bar, com os braços esticados do à pergunta da amiga: “Porque que como quem pede ajuda, lentamente, você gosta de trabalhar com telemarmancando. Você ainda não consegue keting?”, mas subitamente o vídeo ver muito bem, se transforma em “...o filme sacrifica as estruturas mas ele parece ter um espetáculo de sangue espalhado narrativas da ficção em nome de horror. Ouvem-se por suas roupas e um grito de expressão, atenção e gritos e um tiro, e sua face. Neste mo- desconstrução para a realidade.” todos os jovens que mento seu coração estavam sentados começa a palpitar, acelerado, cheio de ao redor entram em pânico. A câmepreocupação: “Será que está machuca- ra continua ligada enquanto a amiga do?”. Mas com a aproximação, passo a que o filmava corre e grita em direção passo, você começa a ver melhor: seu contrária ao caos, também em pânirosto é estranho, parece deformado. Os co, aumentando ainda mais a tensão seus olhos são animalescos, sua pele e o medo inerente à situação. viscosa e seus traços desproporcionais. Em sequência é exibida a outra face Seu coração palpita ainda mais acele- da situação. O diretor expõe um grurado, seus olhos encaminham outra po de cineastas que acabou de finalizar mensagem ao seu coração, você se sen- um filme de zumbi e decidiu aproveite agora ofegante e confuso. A pergunta tar o figurino e a maquiagem de um de agora é outra: “Que diabos é isso?!”. seus atores para pregar uma peça nas

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pessoas que estão em um bar. Esses cineastas divertem-se, enquanto observam a aproximação do ator, e chegam a se gabar da ideia que tiveram. Mas se surpreendem quando um dos clientes do bar, assustado e nervoso, se levanta e atira na testa do seu personagem. Vê-se então a desolação e o desespero desses jovens, colocados por si próprios neste drama através de sua brincadeira, que teve um triste desfecho. Ao refletir no filme, relembro uma história do folclore hindu, em que sábios cegos apalpam um único elefante e o descrevem como seres completamente distintos. No fim da lenda, uma criança desenha no chão o elefante para um dos sábios, então, este percebe que todos estavam certos, mas cada um percebia uma verdade diferente do animal.

Montados de forma sequencial, os dois momentos do curta apresentam a situação através de duas perspectivas particulares, que acabam se encontrando de forma fatal. Curioso para mim é que, enquanto na trama o ator (homem, indivíduo único) acabou sacrificado em nome de uma brincadeira (personagem de ficção), particularmente acredito que, no plano da vida real, o próprio filme sacrifica as estruturas narrativas da ficção em nome de um grito de expressão, atenção e desconstrução para a realidade. Hoje convivemos em uma sociedade global massificada, em que grande parte das pessoas bloqueiam dois pensamentos sobre a realidade, que para mim são fundamentais. O primeiro deles é o de que nem tudo o que vemos é de fato a única verdade, e o segundo é que o tempo é particular: acontece de forma única para cada pessoa, em contextos singulares. Somos bombardeados constantemente com informações e referências ao tempo (que não os nossos) nos jornais, rádios, programas de TV, internet, redes sociais, locais de trabalho, esquinas, condomínios, dentro da sua própria casa e em todas as outras formas de relação e troca humanas. Mas, na maioria das vezes, não percebemos a sutileza nem do primeiro limite, muito menos do segundo. E a ignorância ou compreensão desses detalhes é o que diariamente impulsiona nossas percepções, ações e reações. Em Eu, Zumbi – Coisas de bar, ou passa a régua e traz a conta as pessoas que estavam no bar se assustaram e reagiram ao ator fantasiado e maquiado como se estivessem sendo atacadas de verdade, porque essa era sua realidade. Enquanto a realidade do grupo autor da pegadinha era outra. Uma situação apresentada assim no curta-metragem, mas que acontece, inúmeras e repetidas vezes, em nosso dia-a-dia, ma-

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quiada com outras cores e vestida com outros figurinos. Além de criar este diálogo com o público, o curta-metragem cutuca, com muita autenticidade, a banalização da violência no país e sugere uma análise sobre o comportamento de uma sociedade voltada para a “espetacularização” de tudo. Principalmente ao posicionar jovens curiosos fotografando e filmando com seus celulares e câmeras fotográficas o corpo no chão! Uma curiosidade sobre o curta foi justamente a ousada proposta do diretor de que os figurantes e personagens disseminassem nas redes sociais imagens fotográficas que eles mesmos fizeram durante a filmagem. Assim também um pequeno trecho do filme foi divulgado, e ambos, não à toa, causaram frisson. O curta usa e abusa de recursos que geram profunda verossimilhança com a realidade – tais como o uso de câmeras amadoras e celulares, os enquadramentos feitos pelos próprios personagens, os diálogos espontâneos e fotografia a lá Dogma 95 – dificultando a distinção entre as cenas de uma situação improvável de sábado à noite, gravada por câmeras amadoras em um bar, e as de um curta-metragem de ficção. Dessa maneira, com as imagens veiculadas de forma descontextualizada em uma mídia que contém inúmeras possibilidades de expansão da informação (na qual normalmente as pessoas veiculam acontecimentos espetaculares), não era de se estranhar a reação do público. De acordo com Thais Pimentel, do Portal Uai, a “farsa só foi revelada em uma reportagem feita por um jornal de Vitória.”

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A criatividade e a ousadia do diretor me surpreenderam, mas não nego que a coisa toda me colocou a pensar. Durante todo o tempo em que escrevi e refleti neste texto, parte de mim desejou se transportar para dentro do curta e vivenciar a história naquele bar, como personagem daquele universo fictí-

“...seu rosto é estranho, parece deformado. Os seus olhos são animalescos, sua pele viscosa e seus traços desproporcionais.” cio - só por curiosidade das minhas próprias reações. Outra parte de mim imaginou que talvez também tivesse sido interessante ser uma das pessoas que assistiram ao vídeo de forma descontextualizada, via redes sociais. Mas sou grata por ter conhecido o vídeo exatamente como conheci. Um curta de ficção, com tudo o que se tem direito: roteiro, diretor, intenção, narrativa, equipe, personagens e vida em festivais. Só assim tenho a chance de colocar o meu lado racional e emocional em ordem para escrever essa breve análise; só assim é possível proteger a possibilidade remota da demonstração do meu lado bicho, instintivo e protetor, ou do meu possível lado sádico, “espetacularizador” da violência e da vida cotidiana. Que bom! E que a dúvida continue, quem sabe até o próximo “Eu, Zumbi”! Vanessa Maciel mora atualmente em belo horizonte/mg; formação: pais, comunicação social com habilitação em cinema e vídeo e a estrada; produções anteriores: festivais de cinema, curtas e longas-metragens, programas de tv e o projeto tela em trânsito - mostra itinerante de curtas brasileiros; atividades recentes: legendagem eletrônica, fotografia, meditação, tricô, colagens, prosa e poesia; ocupações/intensões futuras: (in) constante construção;


artes visuais

Tiago Farias é artista gráfico, ilustrador e designer. Nasceu e cresceu entre as montanhas de Minas Gerais. Natural de Teófilo Otoni, mora atualmente em Belo Horizonte, onde atua como designer gráfico e arte-diagramador da Revista Cultural Prosa, no Studio V Artes Visuais. O designer busca, neste editorial, desenvolver um trabalho de vanguarda. Eis alguns exemplos de experimentações gráficas feitas pelo artista mineiro. Estas obras fazem parte da série Visões de Ouro Preto, elaborada em 2009. Os trabalhos foram feitos a partir de fotografias autorais que receberam um tratamento gráfico digital com a utilização de texturas de café e ferrugem. Estas obras fazem parte das quarenta que compõem a série que tem como tema a antiga Vila Rica. As imagens nostálgicas exploram ângulos inusitados da cidade histórica e evocam uma certa sensação barroca através dos contrastes marcantes de luz e sombra.


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Ana Paula Martins

FAOP: A Prosa da conservação e restauração em Ouro Preto A cidade possui o único Curso Técnico de Conservação e Restauro reconhecido pelo MEC nas especificidades escultura policromada, pintura de cavalete e papel Turistas de todo o mundo visitam anualmente Ouro Preto para admirar sua arquitetura, história e cultura. Centenas de casarios históricos, monumentos e peças de arte estão espalhados pela tricentenária cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. Assim, Ouro Preto também é o cenário ideal para a formação de profissionais ligados a conservação, restauração e preservação de bens móveis e imóveis. Esse é o caso do Curso Técnico em Conservação e Restauro da Escola de Arte Rodrigo Melo Franco de Andrade | EARMFA – pertencente à Fundação de Arte de Ouro Preto | Faop, ligada à Secretaria de Estado de Cultura. O curso surgiu com o famoso restaurador Jair Afonso Inácio, na década de 1970. É considerada a primeira experiência na formação de profis-

sionais de forma regular no Brasil. O mestre transmitia os conhecimentos em aulas práticas e teóricas e, sob sua orientação, vários restauradores se formaram, originando um quadro importante de profissionais. Em 1981, foi dividido em disciplinas, com ênfase na conservação e restauração de três suportes: escultura policromada, pintura de cavalete e papel. Até hoje, é o único curso formal da América Latina nessas três especificidades. Desde o reconhecimento e a aprovação do MEC, em 2002, até 2011, o Curso Técnico em Conservação e Restauro da Faop já formou 175 profissionais. A Fundação faz o acompanhamento sistemático da inserção no mercado de trabalho dos técnicos formados. Nos últimos três anos, a taxa média de empregabilidade foi de 74,67%, com atuação em museus,

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Fotos : Núcleo de Conservação e Restauração

arquivos, ateliês particulares, instituições públicas e privadas em todo o país. Vários desses profissionais trabalham também na formação de outros alunos, tanto nos próprios cursos promovidos pela Faop, bem como de instituições afins. Um desses profissionais formados no curso técnico e que hoje trabalha no Núcleo de Conservação e Restauração da Faop é Ronaldo Martins, ouro-pretano de 26 anos. Ele conta que sempre teve vontade de fazer a capacitação e conseguiu isso após a parceria da Faop com a Secretaria de Estado de Educação, com o Programa de Educação Profissional (PEP) que passou a oferecer bolsas integrais. “No decorrer do curso, percebi a verdadeira necessidade de cuidar do patrimônio e, como ouro-pretano, vi que estava incumbido de protegê-lo. Essa missão significa não apenas falar ao mundo sobre a proteção, mas também ensinar e mostrar às pessoas próximas sobre a necessidade de cuidar do que é nosso”, aponta. Além do trabalho como gestor cultural da

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Faop, Ronaldo também compõe o grupo de assistência técnica do Núcleo e agora está concluindo a graduação em Conservação e Restauro pelo Instituto Federal de Minas Gerais | IFMG. “Devo isso tudo ao curso da Faop que, através dos professores e colegas de sala de aula, pude trocar conhecimentos, aprender e ser crítico no âmbito da valorização da cultura e do patrimônio”, completa ele.

Foco no conhecimento teórico e prático A grade curricular do curso é distribuída em quatro módulos semestrais, com carga horária total de 1552 horas, incluindo o estágio curricular. O diferencial do processo ensino-aprendizagem, segundo a diretora da Escola de Arte Rodrigo Melo Franco de Andrade, Gabriela Rangel, é que o curso “alia a fundamentação teórico-conceitual à vivência prática”. Simulações são usadas somente nos primeiros módulos. Depois, os alunos


contam com peças reais como material didático do curso para trabalhar nos três suportes (escultura policromada, pintura de cavalete e papel). Para concluir a capacitação, os discentes são responsáveis por todo o processo de restauração de uma peça oriunda da comunidade. Gabriela ainda ressalta que, quando o acervo entra como material didático, a restauração é feita com custos mínimos para a comunidade, que colabora com o pagamento do serviço de terceiros, como escultor, chassi ou acondicionamento da obra. Assim, as atividades de restauração dos acervos comunitários integram o estágio curricular. Todo o processo é orientado pelos professores de ateliê que contam com o apoio de toda a equipe técnica e pedagógica do Núcleo de Conservação e Restauração | EARMFA | Faop. A estratégia de ensino-aprendizagem oferece aos alunos uma formação consistente, com segurança para atuação no mercado de trabalho, e, às comunidades guardiãs, garante o tratamento necessário e adequado aos seus acervos, propiciando longevidade à preservação dos bens.

O Núcleo de Conservação e Restauração da Faop funciona em um casarão oitocentista, o antigo Ginásio Mineiro, localizado no bairro Rosário, em Ouro Preto. Atualmente, 64 pessoas cursam Conservação e Restauro. Em agosto, o curso receberá mais 11 alunos.

Prestação de serviços Além da restauração de obras empregadas como material didático do curso técnico, o Núcleo de Conservação e Restauração também realiza a prestação de serviços para particulares. O interessado procura a Faop e os técnicos fazem um laudo com diagnóstico da peça. Então, ocorre o processo de restauração com custo mais baixo, pois o pró-labore do profissional não é incluído no orçamento, sendo cobrado o material utilizado no serviço. A peculiaridade de todo o trabalho da Faop é a sua vocação de mobilização comunitária e sua atuação em educação patrimonial. A intervenção não termina com a restauração. É feita ainda a higienização e preparação do local para onde a peça será devolvida,

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no caso das esculturas, por exemplo. A comunidade também é envolvida no processo e sensibilizada e instruída sobre como conservar a obra. Está aí mais uma qualidade do profissional formado pela Faop: a sensibilidade em se relacionar com as comunidades. O ex-aluno e restaurador Ronaldo Martins comunga dessa ideia: “Espero que, cada vez mais, as pessoas possam se descobrir com o curso e perceber a verdadeira importância de preservar e conservar. Eu amo o que faço, e o resultado disso está nas obras restauradas e no sorriso de cada um da comunidade quando devolvemos o seu objeto de devoção restaurado e protegido”. Em 2011, somando-se o acervo de material didático e a prestação de serviços, o Núcleo de Conservação e Restauração atendeu a 17 distritos e cidades mineiras e um município capixaba. Nesse período, foram restauradas ou estavam em processo de restauração 192 obras (imaginária, tela, códice, missal, obra de arte e documento), além de higienizadas e acondicionadas 695 peças (partitura e livro).

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Vagas gratuitas Desde 2008, a Faop é credenciada junto ao Programa de Educação Profissional (PEP) da Secretaria de Estado de Educação - no programa estruturador do Governo de Minas. O convênio possibilita a oferta anual de 60 vagas gratuitas para o Curso Técnico em Conservação e Restauro. A presidente da Faop, Ana Pacheco, enaltece que essa parceria com o PEP contribui de forma significativa para a ampliação do acesso da comunidade ao curso. “Apesar de não ser um curso caro para os estudantes, muitas pessoas tinham dificuldade de ingressar devido aos custos das mensalidades, materiais e equipamentos necessários. Agora, democratizamos ainda mais essa capacitação, pois esse convênio recebe alunos bolsistas, além da abertura de turma no período da noite o que possibilita que trabalhadores também possam participar”, explica. A própria comunidade ouro-pretana também começou a participar


Seminário Patrimônio Cultural Em setembro, a Fundação de Arte de Ouro Preto promove a sexta edição do Seminário Internacional Patrimônio Cultural - Conservação e Restauração no século XXI, de 24 a 28 de setembro, em Ouro Preto. O evento é voltado para profissionais, gestores culturais, professores, estudantes e demais interessados nos processos, desafios e possibilidades da conservação e restauração do patrimônio cultural material. O seminário inclui conferências, palestras, mesas de debate, oficinas, exposições e muito mais. O objetivo é incentivar a preservação do patrimônio cultural abordando os principais aspectos que permeiam a conservação e a restauração no século XXI: o pensar, o ensinar, e o fazer. O evento fomenta, ainda, a troca de experiências entre os participantes de toda parte do mundo. Em breve, a Faop divulgará detalhes sobre as inscrições e a programação completa em seu site: www.faop.mg.gov.br

Ana Paula Martins, jornalista formada pela Universidade Federal de Viçosa, co-autora do blog BomSerá – uma visão pessoal de Ouro Preto e assessora de Comunicação da FAOP

mais do curso. “A gente sabe que nem todos os alunos vão se tornar efetivamente restauradores e ingressar ativamente no mercado de trabalho. Contudo, eles demonstram uma satisfação pessoal tão grande de falar ‘eu moro nessa cidade histórica importante e sou restaurador’. Como eles conhecem o processo de degradação do bem, por exemplo, e podem opinar e propor diagnósticos sobre o processo de restauração”, explica a coordenadora do Núcleo de Conservação e Restauração, Carla Santana. Além de ser graduada em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Uberlândia, a coordenadora também é formada pelo curso técnico da FAOP. Para ela, o curso contribui para o aumento da autoestima dos alunos, em especial os ouro-pretanos. “Eles se sentem importantes porque contribuem para a preservação do patrimônio e sabem defender a sua cidade”. A iniciativa também beneficia a cidade, que possui a formação de mão de obra capacitada e especializada em seu próprio território.

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poesia

Otacílio Melgaço

Oratório

Museu-de-tudo e então eu vejo O engenho do mundo que sobejo. Semente do dilúvio à deriva Invade a memória enlouquecida...

Segue o depoimento deixado como prólogo ou epílogo - como queiram - à leitura de seu Mineiriano, poema especialmente destinado à Revista Cultural Prosa: Dentre o rizoma, que é minha pro“ le sonora, há um veio delicadamente voltado ao cancioneiro popular brasileiro (se assim posso dizer). Fazendo parte de uma trilogia, na qual também constam O Nome do Rosa e Veredas Mortas, Desiderium é o álbum no qual se encontra Oratório, musicalização de um poema escrito em uma transfigurada noite de Cordisburgo, poema em que, esperava eu, distante de estereotipias, enaltecer minha relação anímico-visceral, “relação-em-transe” com Guimarães Rosa. Para mim, um hino aos Gerais...ou...Deus e o Diabo em versos, no meio do redemoinho...

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Outra terceira almargem romanceira, Oratório da imagem traiçoeira. Imagem-nação: sagarana-teia; Pecado, dai-me ilusão d›Insana ceia santa, santa...

Minas: cantochão de barro, oca iguaria, Hóstia consagrada ao profano que seria Útero que encerra áurea Era; Cantoria envereda, silencia...

Inconfidencia a dor de ser vários, O corpo em carne viva nos calvários E as Minas do silêncio-da-terra Decantam o destino que lhes resta...


As Sete Sereias-do-longe “ Se amam de olhos vendados Tecendo o atalho-do-onde Por Deus foi o mar fecundado. Espelho do céu: vão-se as almas Das Sete Sereias vendadas, Vingança do mar que acalma A nau da esperança que vaga. Na foz dessas águas se entranham Murmúrios de todas as fontes, E as Sete Sereias se banham No berço dos belorizontes. O amor descansa na loucura Do ventre-da-foz de si mesmo, Por ele, elas se aventuram Profund’alma do seu segredo. A tenda-de-Deus se incendeia: Prenúncio da felicidade, Reverso que não fantaseia Sereias das Sete Saudades.

Otacílio Melgaço é compositor, arranjador, multi-instrumentista e cantor (além de poeta, dramaturgo, roteirista, fotógrafo, cineasta bissexto, cordiógrafo - como se auto define -, webdesigner etc.) oriundo de Minas Gerais. Tem mais de 15 álbuns fonográficos produzidos, que vão da música erudita contemporânea à popular brasileira. No campo da literatura, a primeira de suas trilogias teatrais foi traduzida para o Alemão por Curt Meyer-Clason, o mesmo que apresentou Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e outros nomes a terras germânicas. Atualmente, em paralelo a seus engendros, dedica-se ao projeto Baal des Quat’z’arts, banda, segundo ele “de cunho mais que cosmopolita, babélico (de experimental art rock)”. O primeiro EP, Island in the Moon, terá lançamento em breve. Vide Portal | O.M.: www.otaciliomelgaco.vilabol.uol.com.br

De minha mesma série “Cordisburguesa” - da qual surgiu Oratório -, dei à luz Sereias das Sete Saudades. Guimarães Rosa, certa feita, citara existir as “Sereias dos Sete Longes”. Seriam elas: Si-Mesmo, o Céu, a Felicidade, a Aventura, o Longo Atalho chamado Poesia, a Esperança Vendada e a Saudade sem Objeto. Inspirado em tamanha epifania e levando em conta que em Minas Gerais já foram encontrados vestígios de que há dois bilhões de anos houve mar, escrevinhei (e depois musiquei) Sereias das Sete Saudades. Este poema trata das Minas mais prístinas, em Era de serem inda forjadas, legendárias, próximas do itinerário fluídico das Odisseias... E prova disso: no berço dos “belorizontes” é que tais Sereias (seres mitológicos - aqui “aquageralistas”, “pré-sertanejeiros”; senhoras de um canto que, por fim, anunciaria o transe dos aboios...) viriam se banhar...

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E U Q É E U ? Q M O E T O T E R OURO P Quem diria fosse aquele moço rebelde, muitos anos depois, buscar em uma paisagem barroca a grande inspiração de sua pintura moderna? Criou assim, um novo estilo de interpretação do barroco mineiro. Guignard viria a tornar-se o grande pintor de Ouro Preto, conseguindo transportar para as telas, com fidelidade e cor local, todo o misticismo da cidade-monumento. Sentiu, como nenhum outro, o drama dos Inconfidentes; seus retratos de Marília de Dirceu granjearam fama internacional. Há dois anos, tendo como modelo a jovem Margarida, filha de seu ex-aluno Mário Silésio, Guignard captou toda a ingenuidade e a pureza de Marília, numa rara atmosfera noturna de Ouro Preto. O quadro famoso seria depois adquirido pelo Museu Nacional de Belas Artes, onde ora se encontra exposto. As obras tendo por tema a antiga Vila Rica se tornaram as mais numerosas, mais procuradas e mais apreciadas. Guignard, fluminense descendente de franceses, fez-se mineiro e cidadão número um de Ouro Preto. Recorramos novamente a Cecília Meireles, em outros versos inéditos, para descobrir esta identidade:

O que é que Ouro Preto tem? Tem montanhas e luar; tem burrinhos, pombos brancos, nuvens vermelhas pelo ar; tem procissões nas ladeiras, com dois sinos a tocar; opas de todas as cores, anjinhos a caminhar… Tem rosário, São Francisco, Santa Ifigênia, Pilar… Tem altares, oratórios, cadeirinhas de arruar… Casas de doze janelas, estudantes a cantar… Tem saudades e fantasmas, (...) E ali na rua das Flores, na varandinha do bar, tem figura risonha do grande pintor Guignard que Deus botou neste mundo para Ouro Preto pintar.

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Trecho do poema retirado de roteiro feito para a TV Itacolomi canal 4: Programa: “Esta é a sua Vida” (63/XXVI) Produção, script: Carlos Gaspar terça-feira, 6/10/1959. Obs.: O material original se encontra em posse do Studio V Artes Visuais, pertencente à diretora Letícia Lima Mendanha, sobrinha-neta de Arlinda Correa Lima, artista plástica. O roteiro é assinado em todas as páginas por Guignard, amigo pessoal de Arlinda.


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literatura

MISTÉRIOS

Luciene B. Emerique

& MONSTROS

NA INCONFIDÊNCIA É complicado intertextualizar fatos históricos à fantasia e sair coisa boa. Mas, quando o livro Inconfidencia Mineira (Editora Estronho, 2012, org. M.D. Amado) foi-me apresentado de forma concreta, ou seja, através da leitura, logo no primeiro conto foi desfeito este primeiro receio. Trata-se de um livro de contos escritos por diversos autores. Cada um deles é apresentado antes de seu respectivo trabalho, como se eles quisessem contar a história. São 7 contos, todos eles inseridos no cenário da Vila Rica inconfidente, antes, durante ou depois da morte do mártir Tiradentes. Cada um dos contos é diferente à sua maneira. Alguns autores fizeram o uso de criaturas míticas, outros vestiram-se de figuras históricas como Dirceu, alcunha dada a Tomás Antônio Gonzaga. Antes de falar dos contos, contextualizar essa parte da história de Minas Gerais, que plantou as sementes da futura república brasileira, faz-se necessário. Portugal procurava metais preciosos no Brasil colônia desde sua descoberta em 1500. Finalmente, no final do século XVII, foram descobertos os

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primeiros veios auríferos em uma região que em 1720 foi denominada “Província de Minas Gerais”. A descoberta de metais preciosos na colônia, até então pouco explorada em sua extensão, foi a salvação econômica de Portugal. As diversas guerras e o grande investimento na expansão ultramarina, somados ao terremoto que afligiu Lisboa, a capital do país, em 1755, levaram o governo a dívidas exorbitantes e à necessidade urgente de recursos. A ambição desmedida do governo português, no entanto, não soube como administrar essa riqueza. Por causa dessa ambição, várias foram as revoltas separatistas idealizadas pelos “brasileiros”. A Inconfidência, Conjuração ou Insurreição Mineira foi, inicialmente, um movimento contra o abuso da coroa portuguesa na cobrança de impostos. O famoso “quinto” correspondia a 20%, ou seja, à quinta parte de todo ouro extraído nas minas. O ciclo do ouro encontrava-se em decadência desde 1763 e, mesmo assim, o povo das Minas, a mando de sua majestade, o Rei D. João V junto à administração local atrelada a este cobrava a mesma quantidade de impostos referente ao auge do ciclo.


No ano de 1789 ocorreu o mais temido. A derrama foi proclamada. Esta consistia no pagamento forçado dos impostos atrasados. A meta estipulada pelo governo de Portugal era de 100 arrobas de ouro por ano. Caso essa meta não fosse alcançada, seriam confiscados bens imóveis e materiais até que fosse atingido o estipulado. Esse foi o estopim para que alguns dos cidadãos descontentes com essas condições na cidade de Vila Rica juntassem suas ideias para acabar com o abuso português e quiçá lutar por uma nação independente. Os principais idealizadores do movimento foram, dentre outros, o contratador Domingos de Abreu Vieira, os padres José da Silva e Oliveira Rolim, Manuel Rodrigues da Costa e Carlos Corrêa de Toledo e Melo, o cônego Luís Vieira da Silva, os poetas Cláudio Manuel da Costa, Inácio José de Alvarenga Peixoto e Tomás Antônio Gonzaga, o coronel Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o capitão José de Resende Costa e seu filho José de Resende Costa Filho, o sargento-mor Luiz Vaz de Toledo Piza e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, apelidado de “Tiradentes”. O movimento não deu certo por causa de uma traição. O coronel Joaquim Silvério dos Reis delatou seus companheiros às autoridades. A condenação dos insurretos foi determinada no mesmo ano de 1789. O statussocial e econômico muito influenciaram no castigo. Alguns foram inteiramente absolvidos, outros foram condenados ao exílio, outros foram detidos e enviados para o Rio de Janeiro. O único inconfidente condenado à morte foi Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes”. A morte do mártir é ilustrada na capa do livro. TiHFB_Incon

radentes foi enforcado e esquartejado em cinco partes também no Rio de Janeiro. Os membros e o tronco foram espalhados pelos caminhos das Minas e pregados em postes, entre Minas e o porto de Parati, no Rio de Janeiro, lugar do escoamento do ouro. A cabe-

“O status social e econômico muito influenciaram no castigo.”

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Luciene B. Emerique, historiadora e graduanda pela UFMG em Letras português/grego. Professora de língua portuguesa e literatura brasileira. Rockeira e leitora da Prosa.

ça do alferes foi salgada (para evitar a decomposição) e enviada a Vila Rica, onde foi exposta na hoje chamada Praça Tiradentes, no exato lugar em que sua estátua é exibida, em frente ao atual Museu da Inconfidência, antigo Palácio do Governo. Bom, então vamos ao livro. Tudo isso foi só um gostinho da imaginação desses autores, tão fantásticos quanto a obra. Em Antevisões distintas do destino de um herói da inconfidência, de Chi-

gustação.in

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01/02/2012

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co Pascoal, Tiradentes é o personagem principal. O conto é o único que não evidencia o fantástico, mas é o conto mais próximo de outro possível desfecho do destino do inconfidente. O autor “humaniza” o hoje considerado inalcançável mártir. Prometeu Inconfidente, de Zé Wellington, é surpreendente. O início do conto é uma contextualização do que pode acontecer. Em nenhum momento você espera o que vem no final. A dica está

“Apesar da cidade de Ouro Preto ser uma fonte inesgotável de história e de tristezas é um dos berços da luta do povo pela abolição e pela república.” no epílogo de Bernardo Guimarães, A cabeça do Tiradentes. Tive a sensação de estar lendo Mary Shelley. A insurreição de SorLand.. É o mais interessante no que diz respeito à mudança de atores. O Brasil tem outro nome, “SorLand”, e foi colonizado por noruegueses pagãos que precisavam da ajuda do governo da Britannia. Uma espécie de mundo “steampunk” com tecnologia avançada. Nessa Inconfidência futurística (apesar de acontecer em 1789) há batalhas com bombas e máquinas de guerra. A semelhança é o interesse inglês, já que a Britannia nada mais é do que a Inglaterra, só que tem o papel contrário ao realizado na história real. Uma criação revolucionária de A. Z. Cordenonsi. Tiradentes é um reencarnado em Dia Marcado, de Jota Marques. O inconfidente tem a chance de ser o traidor, e assim o faz, mas há um preço a pagar. Pode ser que esse pagamento não seja cobrado nessa vida, mas em outras... Amanda Reznor vem com um conto misterioso, o suspense é quase palpável. Em Revelações de Páscoa,

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Helena é uma menina normal, uma estudante em viagem a Portugal. Uma atitude muda todo seu destino, levando-a a Ouro Preto atual, onde sua bisavó vai abrir seus olhos. Há muitos segredos provindos da metrópole que continuam presentes na cidade histórica. Goldfield é formado em história pela Unesp, o que fez com que os acontecimentos no conto fossem precisos com relação aos fatos históricos. No conto Sanguineus regium, o que mais trabalha com o fantástico, o autor utilizou-se do mítico vampiro na construção da história e dos personagens. Uma boa mistura. O último conto, Dirceu, é narrado em primeira pessoa. O autor Davi M. Gonzales veste-se de Dirceu, um dos nomes poéticos de Tomás Antônio Gonzaga. A história do conto se passa após a Inconfidência, e o poeta está condenado a viver no exílio, em Moçambique, na África. Os ossos desse inconfidente tinham sido extraditados para o Brasil há pouco tempo (ele morrerá na Africa). Dirceu e outros de seus companheiros estão enterrados no Museu da Inconfidência, em um memorial em homenagem aos hoje considerados heróis, aberto à visitação todos os dias, na atual Ouro Preto. Apesar da cidade de Ouro Preto ser uma fonte inesgotável de história e de tristezas, é um dos berços da luta do povo pela abolição e pela república. A cidade é ponto turístico de Minas Gerais e atrai não somente estudiosos mas também curiosos. A Revista Cultural Prosa vai sortear um livro todos os meses. O primeiro é Inconfidência Mineira. Esse é o primeiro volume da coleção História Fantástica do Brasil, que apresenta também A Guerra dos Farrapos e A Guerra do Paraguay dois outros acontecimentos marcantes da história brasileira.


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música

O Acúrdigos é um grupo marcado pela versatilidade. Formado basicamente por cinco músicos da região de Ouro Preto, o grupo conta sempre com convidados que trazem um “tempero” novo a cada apresentação. Com um repertório abrangente, tocam samba-rock, MPB, música cubana, jazz, reggae, blues e rock, dentre vários outros estilos – sempre com muita energia e a alegria de tocar entre amigos. Com músicos talentosos e dedicados, o show do Acúrdigos se destaca pela qualidade do som apresentado e pela escolha do repertório, sempre elogiado pela originalidade e bom gosto. Em busca de novas perspectivas e crescimento artístico, o grupo começou a se aventurar pelo universo das artes cênicas e tem trabalhado desde 2010 com criação e execução de trilhas sonoras e sonoplastia. O grupo conta sempre com amigos convidados em suas apresentações, sendo eles: Wesley Procópio (trombone), Ulysses Antunes (trompete), e Henrique Rocha (percussão). Além de seus cinco integrantes fixos: Bráulio Santos (voz, violão), Luís Felipe Gomes (sax), Juliano Pires (Baixo, voz), Henrique Ibraim (bateria, voz) e Ciro Medeiros (voz, violão, percussão e escaleta), que cedeu entrevista para a Revista Cultural Prosa.

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a palavra “acústico”. No início ninguém entendia o nome e era difícil de guardar, mas, como já esperávamos, à medida que a banda ia ficando conhecida, o nome ganhava um significado e começava a ser reconhecido como marca, passando a fazer sentido mesmo sem existir no dicionário.

sempre foi o show. E de indicação em indicação, acabamos nos tornando uma das bandas mais importantes na cena ouropretana. Hoje, parte do grupo está também envolvida em outros projetos e bandas, fazendo trilhas para teatro, compondo, gravando etc., e assim vamos trocando experiências e crescendo cada vez mais.

cil oferecer essas músicas ao público e criar uma atmosfera de descontração e liberdade.

Quais são as referências do grupo Acúrdigos para a escolha do repertório? CM: Nossa principal preocupação é tocar músicas que nós gostamos do jeito que nós gostamos. Assim fica fá-

Lincon Zarbieti

Bar do Festival Acurdigos

Falem um pouco sobre a formação e a trajetória da banda até o momento. Ciro Medeiros: O Acúrdigos é um grupo de amigos que tocam juntos há mais de 10 anos. Começamos como banda de rock e pop rock, mas decidimos nos aventurar em outros estilos, pelo prazer de ouvir e tocar música de qualidade, sem muitos rótulos ou amarras. Os primeiros anos foram bem difíceis. Praticamente pagávamos para tocar. E toda a produção sempre foi feita por nós mesmos, de modo que a melhor publicidade da banda

Como foi o processo da escolha do nome “Acúrdigos”? CM: Isso é engraçado. Nós sempre brincamos muito com a questão da língua e dos dialetos, fazíamos paródias nos ensaios e, quando decidimos dar um tempo com as guitarras e começarmos a tocar acústico, nós falamos que tocaríamos “acúrdigos”, ou seja, é só uma brincadeira com

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Como vocês definem o som da banda? CM: O grande trunfo do Acúrdigos é sempre colocar muita energia no show e estabelecer uma ponte entre as músicas tocadas e o público. Então o som do Acúrdigos é um som presente, que cria uma atmosfera particular, que envolve e, claro, anima. Vocês já tocam juntos há mais de dez anos. O que mudou no grupo, musicalmente falando? CM: Mudou muito. E a mudança veio do trabalho individual, principalmente. Cada um dos músicos sempre teve


a preocupação de buscar novas experiências e inserir novos elementos na mistura. Hoje somos mais abertos, mais livres para criar e experimentar e, claro, somos mais capazes de fazer isso também, tecnicamente falando. Qual a relação de vocês com a cidade de Ouro Preto? E como vocês veem o cenário ouropretano? CM: Ouro Preto permite e, de certa forma, nos induz a sermos ecléticos e abertos a novas experiências. A cidade é um caldeirão cultural, oferece muitas oportunidades. Mas não é fácil entrar no mainstream. A cena ouropretana é muito disputada e os artistas daqui tem que buscar espaço entre artistas de outras regiões e do resto do país. Qual foi o momento mais marcante na história de vocês? CM: É difícil dizer algo assim, porque quase sempre depois de um show nós saímos com a sensação de que foi o melhor de todos (risos). Mas acho que o carnaval de 2012, quando fomos convidados a tocar no palco do Pro-

“Ouro preto é um caldeirão cultural, nos induz a sermos ecléticos e abertos a novas experiencias.” jeto Candonguêro, foi especial. Havia muitos amigos presentes, o som estava perfeito. Foi uma tarde mágica. Quais os planos para o futuro do grupo? CM: A ideia agora é começar a inserir nossas composições nos shows e composições de artistas ainda não consagrados. Em termos de produção, pensamos que já é hora de sairmos de casa e experimentarmos mais o cenário mineiro e nacional. Podemos esperar um show do grupo Acúrdigos em BH? CM: Com certeza. Se ganhássemos um real para cada pessoa que nos diz que deveríamos tocar em BH, estaríamos ricos! (risos). O que nos falta é tempo pra produzir essa inserção na cena belorizontina, mas já estamos trabalhando nisso e, claro, aceitamos convites!

Tais Correa

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Vitor Timóteo

Rafel Mota

teatro

FIQUE À VONTADE E SENTE-SE

O Grupo Residência “Residência” é o nome do grupo teatral fundado por Julliano Mendes, Leonardo Magalhães e Flaviano Silva. Logo depois da fundação, Geuder Martins veio fazer parte da trupe. Leonardo Magalhães mudou-se para Vitória e hoje é integrante da Cia. Folgazões. Flaviano tornou-se fundador do Instituto Candongueros de Ouro Preto, instituto de articulação cultural muito atuante na cidade. Geuder Martins mudou-se para o Rio de Janeiro para dar continuidade à carreira em vídeo e cinema. Hoje, apenas Julliano Mendes permanece no nú-

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cleo fixo do Grupo, contando sempre com a participação de colaboradores. A história do nome é algo bem curioso. Segundo Mendes, “...em 2000, logo após uma bem sucedida participação no MoMu, festival de monólogos e música original do departamento de Artes da Universidade Federal de Ouro Preto, os integrantes da montagem resolvem inscrevê-la no Festival de Teatro de Curitiba”. No formulário de inscrição havia a lacuna “contato” e, logo após, a lacuna “endereço” para serem preenchidas. Sob a pressão das coisas feitas na última hora, a primeira lacuna foi preenchida com a palavra “residência” e, abaixo, o endereço da residência de um dos integrantes do ainda inominado grupo. “Alguns dias depois, um e-mail de resposta do Festival de Curitiba, embora indeferis-

Riel Machado

O título remete a um convite a que você se sinta em casa. Ouro Preto é uma casa do mundo. Entre suas montanhas, suas neblinas por onde se comunicam as palavras conspiratórias, os olhares de expectativa e os corações repletos de poesia que as esquinas declamam, somos sempre convidados a ficar. Ouro Preto é uma cidade que também fica dentro da gente. A gente mora ou se deixa morar por ela, juntos com sua liberdade e sua cultura. Nesse espetáculo geral está a arte do Grupo Teatral Residência.


se a inscrição na mostra principal do evento, presenteou o grupo com uma inusitada resposta. O e-mail dizia: ‘Residência: recebemos sua inscrição.’ etc.”, explica o ator. Pronto, ali estava nomeado um dos primeiros grupos de teatro formados por alunos oriundos do Curso Superior de Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto.

Doze anos de palco

pendente, o que faz com que sempre as mesmas pessoas executem todas as funções”,pondera o líder do Grupo.

O próximo espetáculo O Residência, com a sua proposta de desenvolvimento de novas dramaturgias, vem estudando, lendo e discutindo novos textos que, possivelmente, se transformarão em futuras e premiadas apresentações. Em plena fase de rearticulação, o Grupo, em breve definirá uma nova montagem. Além disso, está inscrito com novos projetos em leis de incentivo e editais estaduais e nacionais. Como uma das mais representativas células produtoras de teatro do novíssimo movimento de produção de artes cênicas da cidade de Ouro Preto, o Grupo traz sempre uma expectativa de um bom espetáculo. O seu currículo de 7 montagens, “todas primando pelo valor do texto e pela fusão do teatro com outras linguagens artísticas, sinalizam para um próximo espetáculo de muita emoção”, pondera Julliano. Grupo Residência Teatro e Audiovisual, a sua arte não é por acaso. Colaborador: Vanderlei Timóteo, jornalista, escritor, roteirista e um excelente pai.

Vitor Timóteo (estudante de Publicidade e Propaganda, curioso pelo Marketing Digital, atualmente tem a sua rotina dividida entre o estágio em uma agência experimental e a faculdade).

A trajetória do Residência é repleta de sucessos. Conquistou os prêmios Myriam Muniz da Funarte pela montagem de Rato do Subsolo ou O Ódio Impotente, em 2009. Também em 2009 recebeu o prêmio Cena Minas da Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais pela produção do projeto Apar(ê)ça na sede do Grupo. E em 2012 recebeu o prêmio Rede Nacional de Artes Visuais pela produção do Projeto Pixel Ação, intervenção sonoro-visual em espaço público. “Além disso, na estreia do Grupo, com a versão reduzida de Os Cadernos no MoMu, festival de monólogos e música original da UFOP, recebeu os prêmios de melhor ator e melhor diretor”, conta Mendes. O Grupo trabalha sempre com o desenvolvimento de novas dramaturgias, mesmo quando trabalha com adaptações de literatura. E desde o início as dramaturgias ficaram a cargo de Julliano Mendes. “É uma experiência renovada, ainda que carregada de angústias e ansiedades”, revela o dramaturgo. Julliano conta que a viabilidade financeira do Grupo sempre dependeu da conjunção de prêmios e incentivos públicos recebidos com o atendimento institucional a empresas e com a produção de teatro empresarial e vídeo institucional. “A grande dificuldade desse processo é conectar o trabalho institucional ao processo de criação de espetáculos, pela falta de uma estrutura de produção e administração inde-

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polivoz

Casa da Ópera Teatro Municipal de Ouro Preto

Quem passasse pela Rua de Santa Quitéria, na segunda metade de 1770, veria, recém-inaugurada, a Casa da Ópera de Vila Rica. Quem passa pela Rua Brigadeiro Musqueira, a qualquer hora, [nos dias de hoje], vê tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, o Teatro Municipal de Ouro Preto. A Casa da Ópera de Vila Rica, o mais antigo prédio teatral da América do Sul, custou 16 mil cruzados a João de Souza Lisboa, construtor e proprietário da obra, concluída em 1769. Contratador dos reais quintos e das entradas, Souza Lisboa, fascinado pela arte teatral, recebeu desde o início apoio do Conde de Valadares, governador da Capitania, e de seu secretário, o poeta Cláudio Manoel Costa. Enquanto viveu, Souza Lisboa esteve à frente da Casa da Ópera de Vila Rica, contratando atores em Sabará e no Tijuco, relacionando nomes de personalidades influentes – intelectuais, militares, políticos – capazes de prestigiá-lo em momentos decisivos, preocupando-se com a pintura e a decoração do prédio. Em carta

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a um amigo, Joaquim José freire de Andrade, intendente do ouro em Goiás, Souza Lisboa destaca e valoriza o fato inovador de haver substituído os homens travestidos de mulheres por atrizes, e uma delas desempenhava o papel com “todo o primor, melhor que as do Rio de Janeiro”. Inevitável, portanto, que a casa da Ópera de Vila Rica morresse um pouco com seu criador, em 1778. Ressurgiu oito anos depois, triunfalmente, nas festas dos desposórios do infante D. João, com três noite de ópera e a presença esperada e aplaudida de Joana Maria, Violanta Mônica e A. Fontes. A partir daí, sob diferentes administradores, a Casa da Ópera viveu períodos de altos e baixos, sem, no entanto, deixar de funcionar. Por volta de 1817, com as atenções do poder público voltadas para suas necessidades de reforma e manutenção, reviveu os antigos dias de glória, que ameaçavam tornar-se cada vez mais distantes. Centro dos anseios culturais da sociedade, a Casa da Ópera reagia positivamente ao interesse a comunidade. Em 1820,


o entusiasmo do público e das companhias era tão grande que os espetáculos chegaram a ser semanais. O público, sem se importar com a dificuldade do acesso à acidentada Rua de Santa Quitéria, lotava, a cada semana, as galerias e a plateia central, num plano um pouco inferior ao palco. O escritor Affonso Ávila, autor de “O Teatro em Minas Gerais: Séculos XVIII e XIX” afirma: “A quem visita hoje o Teatro Municipal de Ouro preto, antiga Casa da Ópera, parece ainda tomá-lo de uma atmosfera de envolvimento, de impacto dramático, lembrando nisso o clima barroco, que era o ambiente propício de seus primeiros freqüentadores e seus primeiros espetáculos”. A atmosfera de envolvimento quase desaparece completamente em 1885, quando o governo provincial chega a planejar a construção de um novo teatro em Vila Rica que, Capital, merecia. Ao passar o governo da Província para seu sucessor, conselheiro Herculano Ferreira Penna, o presidente Francisco Diogo Pereira de Vasconcelos declara: “V. Exc. resolverá com parecer mais acertado, dotando esta cidade com um edifício que propor-

cione a seus habitantes algumas distrações, aproveitando os talentos e a propriedade de alguns jovens, que muito se acanham trabalhando no antigo theatro próximo a desabar”. Nem o Teatro desabou, nem construíram outro. E a reforma, concluída após sete anos, “foi executada com perfeição e economia”. No entanto, persistentes, governantes e governados de Vila Rica continuam, no final do século XIX, a sonhar com um teatro espaçoso, confortável, moderno. Entre vários motivos, um sobressai: com a ameaça de transferir a Capital para outro local, quem sabe a construção de um grande teatro modificasse os fatos? Os fatos foram modificados no final do século XIX, em Vila Rica, em Minas Gerais e no resto do país com a chegada do fonógrafo e do cinema. Os teatros viram a freqüência reduzida, e o de Ouro Preto não fugiu à regra. No entanto, aos poucos a convivência entre o antigo e o novo foi-se estruturando, cada qual ocupando o próprio espaço. Mais uma vez, o Teatro Municipal de Ouro Preto não fugiu à regra. Fonte: www.ctac.gov.br

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