InterINvencoes: ações artísticas a partir da ação efêmera na cidade de São Paulo

Page 1

> INTER(IN)VENÇÃO < a intervenção artística a partir da ação efêmera na cidade de São Paulo entre as décadas de 70 e 80 Heloisa Ururahy* & Maíra Vaz Valente**

RESUMO O projeto intitulado Inter(IN)venção foi selecionado pelo Edital Prêmio Pesquisador/2010 e caracterizado pela comissão julgadora como uma pesquisa circunscrita na área de Artes Visuais. O assunto tratado ao longo dos dez meses de pesquisa teve como foco a produção de intervenções artísticas no espaço público e urbano a partir de ações efêmeras entre os anos de 1970 e 1980 na cidade de São Paulo. Para tanto, foram escolhidos dois eixos. O primeiro tratou de três grupos de artistas atuantes e bastante importantes entre os anos de 1977 e 1982: Viajou sem Passaporte (1977-1982), Manga Rosa (1978-1982) e 3NÓS3 (1979-1982). O segundo eixo trouxe dois eventos idealizados e promovidos pelos próprios artistas fora de espaços institucionais: Mitos Vadios (1978) e Evento Fim de Década (1979). Diante desses objetos de investigação, as práticas de ações no espaço aberto/público nos motivaram a realizar uma série de entrevistas com os artistas participantes e atuantes da época. A pesquisa levou em conta as categorias pré-existentes Arquivo Multimeios/CCSP Arte Experimental, Arte Urbana, Intervenção Urbana e Performance como ponto de partida.

Palavras-chave: intervenção, performance, arte urbana, artes visuais, coletivos artísticos.

*Heloisa Pinto Ururahy – Artista, radialista e cineasta. Graduada bacharel em Audiovisual na Universidade de São Paulo. Mestranda do Programa Interunidades em Estética e História da Arte na mesma universidade. E-mail: lecamaria@gmail.com **Maíra Daniel Vaz Valente – Artista, pesquisadora e arte-educadora. Graduada bacharel em Artes Plásticas na Universidade de São Paulo. E-mail: mairavalente@gmail.com

1


A CIDADE COMO LUGAR DE ACONTECIMENTO As práticas de intervenções artísticas em espaços urbanos se tornaram uma expressão constante em meados dos anos de 1950. A partir dali, as ações efêmeras se tornaram notórias manifestações poéticas no contexto da arte brasileira. Assumimos uma mirada histórica nas práticas de intervenções no espaço público e urbano a partir de ações efêmeras, acreditando que há uma potência transformadora da ação no espaço. Na cidade de São Paulo, houve uma série de grupos que atuaram em meio aos fluxos e paisagens urbanas. Alguns destes atos propunham uma transformação do próprio olhar para a cidade. A metrópole deixa de ser um lugar de representação, na qual suporta a obra ou ações poéticas, para se transformar no lugar de acontecimento de si mesma. Ao escolher a cidade de São Paulo como um lugar de ações artísticas relevantes, é importante relembrarmos do artista modernista brasileiro Flávio de Carvalho (1899-1973). Ele realizou em sua trajetória duas importantes experiências: Experiência n.2 (1933) e New Look ou Traje para Homem Tropical (1956) [imagem 1, p.3]. Em uma linha histórica contínua, atribuiríamos às experimentações do artista o pioneirismo em provocar o espaço da cidade como território da arte com as suas ações. Se as experiências são consequência ou provocação de seus projetos arquitetônicos - não realizados - e de sua utópica Cidade do Homem Nu (1930), Flavio de Carvalho poderia ter idealizado o que o futuro guardaria para a capital paulista. Na metrópole idealizada pelo artista, ou seja, para o “homem do futuro” poderíamos dizer que não haveria Deus, propriedade, ou matrimônio, ela seria advento de um urbanismo pensado para uma humanidade despida da construção cultural de seu próprio corpo. Carvalho descreveria este sujeito como sem tabus escolásticos, livre para raciocinar e pensar, num contínuo processo e irrefreável de curiosidade, mudança e transformação pessoal1. Igualmente, o artista desejaria, em última instância, a metrópole do futuro como lugar de experimentação e liberdade de expressão. Poderíamos apostar, portanto, que o pensamento do homem se organiza a partir do espaço e do gesto que se imprime no espaço. Nas décadas subsequentes, observamos que os artistas transformaram os centros urbanos no próprio substrato da produção de arte. Podemos tecer alguns exemplos tanto nos países da América do Norte, como da América Latina e Europa. Nas gerações de artistas, entre 1960 e 1970, firmou-se uma inversão do que seria a cidade como suporte, para a cidade como lugar de sentido para uma produção poética. É importante ressaltar que é também neste momento da história da arte contemporânea e dos espaços compartilhados que as ações ao vivo ganham espaço dentro da produção artística. Muitas vezes, podemos afirmar ser impossível limitar ou circunscrever tais ações a partir de categorias já consagradas dos campos das Artes Visuais, das Artes Cênicas ou de outras linguagens. Performance foi o termo cunhado de maneira a abraçar e dar conta de uma série de nomes, ainda que sob protestos de diversos artistas o nome se estabeleceu e transformou-se em categoria artística. O protesto dos artistas, resistindo a uma nomenclatura única, diz respeito a uma contramão no processo de politização das manifestações poéticas2. Entretanto, nós entendemos que algo do fazer e do “ao vivo” para uma ação endereçada a um lugar específico - in loco – comprometidos com uma duração e 1

GUERRERO, Inti. Catálogo A CIDADE DO HOMEM NU. 16 abril -13 junho/2010. Museu de Arte Moderna de São Paulo. São Paulo, 2010 - pag.1. 2

STILLES, Kristine. Performance Art. In: Stilles, K. & Selz, P. Theories and Documents of Contemporary Art. Berkeley: University of California Press, 1996. Pag. 680.

2


ou temporalidade efêmera caracteriza-se com ação performativa. “A relação entre espaço e performance é tributária de sua consideração do corpo como espaço primordial onde se situa toda experiência, gênese de toda orientação e dimensão” 3, gerando uma espacialidade situacional que se polariza e se multiplica na relação com o outro. Desta forma a pesquisadora Vera Pallamin afirma: “(...) a performance rompe com a alteridade banalizada, ativando uma mistura entre o ficcional e o real. Em seu campo ‘cênico’ revolvem-se os modos de presença até então em vigor, confluindo-lhe novos ápices de atenção de maneira a refazer a compreensão do seu relevo. Corpo e espaço expressivos são a tônica em seu cenário de atuação. Nestes termos, a modulação de suas possibilidades vem se tracejando desta gestualidade.”4

Em contextos sócio-políticos específicos certas ações performáticas friccionam fluxos e contextos a tal ponto que a percepção do espaço urbano se modifica. É, portanto um lugar de manifestação da arte dada por situações, intervenções e inversões dos sentidos ordinários do espaço público. A rua se torna um campo de forças pelo atravessamento das camadas ficcionais e reais para uma mesma realidade. Através do Edital Prêmio Pesquisador 2010, a pesquisa se propôs a recolher depoimentos de integrantes de três grupos de artistas ainda pouco representados no acervo do Arquivo Multimeios do Centro Cultural São Paulo que entre as décadas de 1970 e 1980, na cidade de São Paulo, provocaram estranhamentos na “normalidade” cotidiana. Os grupos Viajou Sem Passaporte, Manga Rosa e 3NÓS3 propôs, cada um a partir do seu entendimento de cidade, jogos de sentidos que reconfigurariam o olhar para o espaço urbano. Escolhemos para além desses três grupos dois eventos idealizados e geridos pelos artistas da época: Mitos Vadios (1978) na Rua Augusta e Evento Fim de Década (1979) na Praça da Sé. Identificamos estes acontecimentos como experiências geradoras de tensão, cada um a sua maneira, nos espaços da arte assim como nos fluxos e dispositivos urbanos a partir de criações e ações efêmeras. Os documentos resultantes dessa pesquisa são depoimentos que reiteram a narração das experiências vividas por cada artista. Em formato audiovisual, as entrevistas dentro do projeto de pesquisa Inter(IN)venção propõem uma conversa encadeada a partir de uma memória insistente e da reflexão dos fatos daquela época. Nosso desafio foi o de resgatar, após 30 anos das ações, detalhes ou mesmo uma reinvenção das experiências vividas em uma época que se aspirava à liberdade de expressão e um projeto coletivo de sociedade democrática durante o final do processo de ditadura militar. [Imagem 1] - Flavio de Carvalho, New Look, 1956. Desenho e passeata por São Paulo. No decorrer da década de 1950, em seus escritos semanais sobre moda no Diário de São Paulo, Flávio de Carvalho afirma a própria história e destino da humanidade em seus costumes e modos de se vestir. Sua proposta para um traje masculino e adaptado ao clima tropical New Look (saiote, meia arrastão e blusa bufante) se tornou um fato midiático quando ele anunciou sua saída pelas ruas do centro da capital paulistana. A cidade era para Flavio de Carvalho a apoteose de suas utopias.

3

PALLAMIN, Vera. Do lugar-comum ao espaço incisivo: dobras do gesto estético no espaço urbano. In: Medeiros, M.B; Monteiro, M.F.M. Espaço e performance. Brasília: UNB, 2007, p. 181. 4

Idem, p. 184.

3


DA ARTE A CIDADE HABITADA Viajou sem Passaporte, Manga Rosa e 3NOS3 são três grupos importantes de uma geração paulista de coletivos de artistas formados no final da década de 1970. Durante a coleta de depoimentos foi notada uma frequente fala apontando para o espaço urbano e os fluxos da cidade de São Paulo como interesse central dos jovens da época. Esse interesse da nova geração de artistas aconteceu ainda em seu processo de formação universitária. É importante apontar para as deambulações juvenis pelas ruas da cidade, como estopim para pensar a esfera pública como lugar de acontecimento da arte. Na vida da noite, da música underground como o Punk e a música da Vanguarda Paulista e das diversas experiências coletivas, esses jovens logo habitaram os novos espaços que se propunham a abrigar uma série de manifestações culturais. Em geral, eles se localizavam entre o centro da cidade (Bixiga e Praça Roosevelt), a Consolação com a Av. Paulista e a região de Pinheiros (Praça Benedito Calixto). Alguns espaços foram repetidamente citados como pontos de encontro dessa juventude: A casa Lira Paulistana era um teatro misturado a uma casa noturna localizado na Praça Benedito Calixto. Abrigava no porão de um imóvel uma série de manifestações culturais que ali se desenvolviam. O lugar foi apontado como um ponto de encontro de novas experimentações musicais da chamada Vanguarda Paulista. Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção, Língua de Trapo, Rumo e Premeditando o Breque fizeram a tônica do lugar. Já na década de oitenta esta casa também abrigou grupos de rock bastante importantes para a música nacional como o grupo Ira!, Ultraje a Rigor e Titãs, e também o hardcore punk de Cólera e Ratos de Porão. [imagem 2, p.5]. O espaço cultural Carbono 14 localizado no Bixiga (Rua 13 de maio, 383) foi idealizado e produzido por Rudá de Andrade (1930-2009), cineasta e escritor, filho de Oswald de Andrade e Pagú. Este espaço tomou importante projeção no meio cultural da época por ser o primeiro lugar com infraestrutura para abrigar diferentes linguagens simultaneamente. Segundo depoimentos seria um prédio de quatro andares com sala de projeção para mostras de filmes, um pequeno teatro e espaços para exposições de artes visuais, instalações e performances. Nas entrevistas com Ivald Granato, grupo Manga Rosa e Hudinilson Jr. esse espaço cultural é lembrado por abrigar uma produção de jovens artistas e de caráter experimental. [imagem 3, p.5]. Podemos afirmar que a partir de 1975, a vida noturna nas ruas do centro de São Paulo e nos espaços fechados de diversão salvaguardou para além da manifestação poética e do ímpeto juvenil. A boemia paulistana, juntamente com os espaços universitários é local de efervescência de pensamento e transformação de comportamentos políticos e identitários. Assim, os espaços abertos voltam a ser pontos de encontro, convivência e celebração social. Ainda em 1978, segundo os integrantes do Manga Rosa, com o retorno de alguns artistas e intelectuais do exílio, a troca de experiências e o desejo de ação estava vivo e latente. Os integrantes entrevistados se lembraram da primeira revista de artes independente que fizeram, Alienarte [imagem 4, p.5], que trouxe a primeira entrevista realizada com José Celso Martinês Correa após seu retorno do exterior. É comentado que Zé Celso estava disposto a se encontrar com quem quiser que “estivesse produzindo” na época. O diretor de teatro se tornou um grande agitador cultural daquele momento, organizando encontros e rodas de conversa e convivência no Teatro Oficina. Revela-se na fala de todos os artistas entrevistados o anseio pela liberdade. Os jovens ocupavam as ruas e os espaços culturais

4


para discutir uma possível direção para a política brasileira e o desejo de uma nova sociedade, dado que já era percebido um arrefecimento na ditadura e na censura instalada desde de 1964. Havia um desejo de construção da sociedade a partir da coletividade. Isso correspondeu diretamente a uma produção poética em grupos interdisciplinares que experimentavam linguagens. Os grupos escolhidos para essa pesquisa, curiosamente, se formaram na Universidade de São Paulo, alguns na Escola de Comunicações e Artes, outros na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. É neste lugar da universidade que grande parte dos encontros se dá, fomentando aproximações e a formação de coletivos. Celso Seabra, ex- integrante do grupo Viajou Sem Passaporte, conta que ingressou no curso de Artes Cênicas em 1975 e que neste ano houve uma grande mobilização na Escola de Comunicações e Artes para reivindicar a saída do então diretor da escola. Esta mobilização deu espaço para a retomada da atuação dos Diretórios Acadêmicos, que haviam sido anulados, e assembleia e debates entre alunos se tornaram frequentes. Coletivos de jovens artistas/estudantes saem da universidade e se lançam, neste contexto político e social, para o espaço da cidade. Propostas de intervenção se descolam de eventos estudantis, mas ainda preservam o mesmo desejo de retomada do espaço público.

[Imagem 2] Teatro Lira Paulistana, Praça Benedito Calixto, outubro/1983. <www.tardesdemais.com.br/2009/11/teatro-lira-paulistana-30-anos.html>

[Imagem 3] Programação do Carbono 14 - Foto: Marcelo Yellow <revistatrip.uol.com.br/revista/188/reportagens/os-carbonarios.html#10>

[Imagem 4] Capa da revista Alienarte nº1, agosto/1978 <imagem doada pelo artista Carlos Dias>

5


VIAJOU SEM PASSAPORTE: a cidade como fluxo O grupo Viajou sem Passaporte nasceu entre 1977/1978 na Escola de Comunicações e Artes. Era um grupo de característica heterogênea com estudantes de diferentes habilitações: música, artes cênicas, cinema, comunicação social e artes visuais. Com intensa atividade entre 1978 e 1982, o Viajou Sem Passaporte, em sua primeira formação, teve como lugar de encontro e união a Universidade de São Paulo. Os exintegrantes entrevistados afirmaram que teriam sido oito os representantes desta primeira formação: Luís Sergio Ragnole (Raghy), Celso Seabra Santiago, Marilda Carvalho, Tula Melo, Roberto (Beto) Melo, Fernanda Pompeu, Carlos Alberto Gordon e Beatriz Caldano [imagem 10,p. 10]. Também participaram do grupo Marli de Souza e Márcia Meirelles. Estes jovens tinham interesse por criar algo que não seria nem teatro, nem nada já conhecido antes. O grupo queria desenvolver e propor uma nova linguagem explorando a criatividade. Os artistas entrevistados até o momento nesta pesquisa – Raghy, Beto Melo e Celso Seabra – afirmavam que em primeira instância tinham o interesse em propor “jogos criativos”. Mais tarde, estes jogos, quando estruturados e postos em contexto público, ganharam o nome de “unidades de ação”. Os jovens do Viajou Sem Passaporte havia submetido um projeto a um edital da prefeitura o qual permitia a ocupação do Teatro Eugênio Kusnet durante quatro tardes na semana. Com o projeto aprovado e podendo freqüentar o espaço do teatro diariamente, começam as experimentações do grupo que teriam muita filiação com as propostas do surrealismo. Raghy, em depoimento cedido, aponta-nos claramente a importância do método desenvolvido para seus trabalhos. O rigor nas estruturas e nas práticas eram fundamentais para todas as ações desenvolvidas ao longo da existência do Viajou Sem Passaporte. As unidades de ação partiam da escritura de roteiros fechados, para a partir de então se improvisar. Essa mínima estrutura era tida como uma “regra do jogo”. Terminado o período do edital, aquilo que estava sendo experimentado na sala de ensaio é levado pela primeira vez para um espaço aberto no evento MITOS VADIOS (Nov./1978, ver quadro pág.7-8). Mario Ramiro, integrante do grupo 3NÓS3, em entrevista, aponta que o grupo Viajou Sem Passaporte fazia “intervenções humanas”, ou seja, o enfoque do grupo seria o enfrentamento com o fluxo social da cidade. Porém, por parte do grupo, segundo as entrevistas que nos foram dadas, o que lhes interessava seria realizar uma interferência na normalidade do cotidiano, e a nominação preferida pelo grupo era intervenção criativa. Dessa forma as intervenções criativas propostas pelo Viajou Sem Passaporte correspondiam às intervenções urbanas realizadas por outros grupos da época como 3nós3 e Manga Rosa. A expressão "intervenção" é uma terminologia que se torna corrente dentre esses jovens artistas, aproximando-se do happening pelo seu caráter efêmero, mas com o objetivo último de instaurar outra percepção das relações com a cidade. Há quem considere o Viajou sem Passaporte um grupo de tendências trotskistas, entretanto, isto não é evidenciado nas entrevistas. Embora alguns de seus integrantes tivessem integrado o movimento estudantil, participando de passeatas e debates contra o cerceamento da liberdade, as intervenções criativas não teriam uma relação partidária. Neste período, os campos de força gerados pela ditadura militar geraram uma série de situações até mesmo criativas para um protesto ou expressão. Segundo Beto Melo, o grupo não teria ligações com um movimento específico ou mesmo um comprometimento com o cenário político da época.

6


Poder-se-ia dizer, apenas, que o Viajou Sem Passaporte propunha uma contraposição ao realismo socialista. Havia uma crítica ao Teatro do Oprimido de Augusto Boal, assim como as tentativas de “politização” da arte através de conteúdos tidos como “revolucionários”. É possível afirmar que a produção atravessar os fluxos do cotidiano advém de uma proposição de produção poética e que a situação política potencializou determinadas ações, pela ausência completa de liberdade de expressão. Fato é que eles simpatizavam com o Dadá e o Surrealismo. Do Dada, o Viajou sem Passaporte traz uma desconfiança frente à ilusão provocada pela obra de arte, e do Surrealismo, o desejo de romper as fronteiras entre a arte e a vida, distendendo assim os limites da imaginação. Portanto, nas ações do grupo Viajou sem Passaporte ficava evidente a criação de “crise na normalidade” em espaços compartilhados como ônibus, praças, peças de teatro, ou mesmo no trabalho interno do grupo. Mitos Vadios, uma reflexão sobre o mercado da arte Mitos Vadios foi um evento organizado pelo artista Ivald Granato em colaboração com uma série de outros artistas, no dia 12 de novembro de 1978 em um estacionamento alugado na Rua Augusta nº 2918. Neste evento participaram com seus trabalhos: José Roberto Aguilar, Ubirajara Ribeiro, Helio Oiticica, Ligia Pape, Genilson Soares, Francisco Inarra, Claudio Tozzi, Regina Vater, Rubens Gerchmann, Gabriel Borba, Arthur Barrio, Maurício Fridmann, LFer, Antonio Dias, Sergio Regis, Ruy Pereira, e algumas participações espontâneas como Ana Maria Maiolino, Regina Silveira, Julio Plaza e Viajou Sem Passaporte. Granato, em nota de jornal, explicava a motivação de se realizar o evento: “Mitos Vadios tenta qualificar as alternativas que podemos criar para nos livrarmos dos prejuízos que temos com o sistema de coisas acumuladas em nossas cabeças. Claro – continua Granato – que me refiro a uma parafernália de ambientações a que somos sujeitos. (...) Mitos Vadios vai tentar, pelo que sinto, uma saída real, com uma irônica interferência em cima dos mitos criados para valorizar cada vez mais as entidades fechadas”. [Folha de São Paulo, 5/Nov./1978] O articulador do evento, Ivald Granato chegou no estacionamento vestido de Ciccilo Matarazzo, em sua performance I’m not Ciccilo [imagem 5, p.7]. De terno riscado, como um patrono das artes, cumprimenta a todos e recebe o artista representante da Arte Contemporânea encarnado por Hélio Oiticica que ao longo do dia se traveste diversas vezes. Em texto crítico da época, a pesquisadora Sonia Salzstein comenta: “é a réplica vagabunda do vernissage. É impossível querer compreender os trabalhos isoladamente – aquilo era uma quermesse, uma feira, mas sempre lúcida quanto ao fato de ser uma contraposição frontal aos rituais burocratizados da arte. Os panfletos distribuídos (Toda Arte remete à cultura, não à natureza; O mercado da Arte é o preservativo da criação) implicam numa reconceituação do próprio ato de panfletar. Panfletar a Arte, e não a arte panfletária, por que não? Uma carta de princípios, a carta ácrata de Júlio Plaza, é a melhor verbalização dos MITOS VADIOS: os conceitos de duas colunas paralelas contrapõem-se um a um. Numa das linhas, significativamente, abarchos se contrapõem em hierarchos.” [Arquivo Multimeios,CCSP -1978]

Salzstein afirma que os artistas participantes se propunham a “eliminar a dicotomia entre o fazer e o pensar”. No depoimento de Ivald Granato percebemos um desejo do fazer uma grande intervenção na cidade5]a partir deste [Imagem no evento evento. Ainda que não acontecesse na rua, o espaço aberto do estacionamento permitiaIvald o ir eGranato vir do público e Mitos Vadios, outros artistas possibilitando a reconfiguração do evento a cada hora. novembro/1978, SP. <imagem doada pelo artista Ivald Granato>

[Imagem 6] Pôster do evento Mitos Vadios, novembro/1978, SP. <imagem doada pelo artista Ivald Granato>

7


Salzstein afirma que os artistas participantes se propunham a “eliminar a dicotomia entre o fazer e o pensar”. No depoimento de Ivald Granato percebemos um desejo do fazer uma grande intervenção na cidade a partir deste evento. Ainda que não acontecesse na rua, o espaço aberto do estacionamento permitia o ir e vir do público e outros artistas possibilitando a reconfiguração do evento a cada hora. Ivald Granato é artista carioca, residente na São Paulo desde 1973. Fugido da ditadura, permanece um tempo na América Latina e retorna a São Paulo sob guarda de Mário Pedrosa. Em seu tempo de formação universitária não pode concluir a escola de Belas Artes da UFRJ, por ter sido fechada pela ditadura militar logo após 1968. Granato contribui para a construção de um cenários artístico que faz da performance uma prática ampliada de sua pintura. Sua primeira performance assim que chega na cidade de São Paulo foi Velozman na porta de entrada da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP), na qual com uma moto, perfura estrutura semelhante a uma tela de pintura [imagem 7, p. 8]. Ivald Granato, em ímpeto experimental nas artes, se torna um importante artista articulador de eventos na cidade. Toma uma grande visibilidade na passagem entre as décadas de 1970 e 1980 por suas performances e parcerias com José Roberto Aguilar. É importante saber que Mitos Vadios não proporciona uma significativa modificação no mercado da arte, mas chama a atenção da opinião de críticos da arte por evidenciar uma prática experimental e livre não encontrada no stablishment do mercado, das exposições e galerias. Parece-nos que o momento de experimentalismo performático é bastante tímido, pois com a chegada da década de 1980 a produção performativa adentra museus e mostras importantes, mas não se torna uma aposta na produção poética da época. A inflexão provocada pelas experimentações na arte gera, a nosso ver, em São Paulo de meados de 1970, uma outra produção poética que faz do processo o acontecimento artístico. As práticas efêmeras e performativas afirmam este momento e propulsionam, juntamente com o período político, o desejo pela liberdade de expressão em que o gesto se sobrepõe ao objeto. Este evento é contextualizado na pesquisa como um ponto de contato com o mercado da arte e a ação dos artistas de propor outras formas de exposição de sua produção. Da geração dos coletivos, somente Viajou sem Passaporte já teria se formado na época do evento, mas uma série de grupos interessados na cidade é posterior a Mitos Vadios.

[Imagem 7] Performance Velozman, FAAP, 1975, SP. <imagens doada pelo artista Ivald Granato>

[Imagem 8] Performance Arthur Milionário, Av.Paulista, SP. <imagem doada pelo artista Ivald Granato>

[Imagem 9] Performance My romance with Andy Warhol, Av. Henrique Shaumman, SP. <imagem doada pelo artista Ivald Granato>

8


INTERVENÇÕES CRIATIVAS DO VIAJOU SEM PASSAPORTE A primeira intervenção do grupo Viajou Sem Passaporte em espaço público teria sido no evento Mitos Vadios com um jogo de improvisação dos artistas [imagens 11 e 12, p.10]. A partir de então, após a criação de uma sede no bairro da Lapa [imagem 13, p.10], o grupo começa a realizar uma série de intervenções pela cidade. Há uma predileção do grupo pela nomenclatura “intervenção criativa” por acreditarem que a intervenção urbana se daria na larga escala da cidade e teria a paisagem como o lugar da ação. Já as intervenções criativas se interessavam em provocar as pessoas diretamente. Por não haver muitas imagens disponíveis, segue uma série de descrições detalhadas das ações realizadas, que eram denominadas pelos integrantes do grupo como “unidades de ação”. Trajetória da árvore [imagem 14, p. 10] Em 1979, foi escolhida uma árvore situada no Largo do Arouche, em frente a um bar, com mesas na calçada. Cada integrante do grupo participante da intervenção caminhava em direção da árvore escolhida, contornava a árvore, e continuava sua caminhada. Havia um tempo preestabelecido para que cada integrante realizasse esta movimentação. Trajetória do curativo [imagem 15, p.10] Nesta ação realizada em 1979 com a colaboração do artista Gabriel Borba, os artistas levaram um curativo a transitar pela cidade de ônibus. Os integrantes do grupo colocaram um curativo em um de seus olhos, e pegaram todos, um em cada ponto, o mesmo automóvel de uma linha escolhida na Av. Rebouças (Jardim Miriam – Vila Gomes). Cada integrante, um a um, com seu curativo, subia no ônibus, pagava a passagem e descia no ponto seguinte. Neste mesmo ponto, já entrava outro integrante com um curativo idêntico em um de seus olhos e repetia a ação do passageiro anterior. Ao longo de oito pontos, iniciando na altura do Hospital das Clínicas, havia um curativo a bordo. Foi comentado que cada integrante seria suporte para o curativo. A ação se encerrava na descida do oitavo integrante, no mesmo ponto em que estava o colaborador, Gabriel Borba, com uma pequena placa: “Trajetória do Curativo, Viajou Sem Passaporte & Gabriel Borba”. Como método de documentação, havia sempre um observador do grupo durante as ações, que relatava impressões, conformando um texto de registro de cada intervenção realizada pelo Viajou Sem Passaporte. Trajetória do paletó Ainda em 1979, como um desdobramento da Trajetória do Curativo, esta ação também aconteceu dentro de uma linha de transporte público. Com um paletó pendurado em um dos braços, cada integrante do Viajou Sem Passaporte levaria este paletó para realizar um passeio de ônibus. Sempre que um integrante novo entrava no ônibus, o outro que já estava a bordo pedia para que ele segurasse a veste e descia no próximo ponto. Quando o último integrante do grupo recebeu o paletó, a ação continuou ao ele oferecer o paletó a um passageiro qualquer daquela viagem. O observador que permanecia para registro da ação anotou as reações e brincadeiras acerca daquela situação que se instalara. Um passageiro que recebeu o paletó decidiu leválo consigo. Para identificação da ação, no forro do paletó, havia uma etiqueta "Trajetória do Paletó, Viajou Sem Passaporte, 1979. Favor devolver este paletó no endereço Al. Jaú. nº 9". No entanto, o paletó nunca foi retornou ao endereço pedido.

9


[Imagem 10] - Tula, Márcia, Celso, Bia, Marilda, Raghy, Gordon e Beto, 1979, SP. Foto: Hudinilson Jr. <www.facebook.com/pages/Viajou-Sem-Passaporte>

[Imagem 13] - Sede do grupo Viajou Sem Passaporte na Lapa, SP.<www.facebook.com/pages/Viajou-Sem-Passaporte>

[Imagens 11 e 12] – Intervenção do Viajou Sem Passaporte no evento Mitos Vadios, Nov./1978, SP. Na foto à esquerda, Raghy e na foto à direita, Beto Melo e Carlos Gordon. <imagens doadas pelo artista Ivald Granato>

[Imagem 14] - Trajetória da Árvore – Viajou Sem Passaporte, Largo do Arouche, 1979, SP. <www.facebook.com/pages/Viajou-Sem-Passaporte>

[Imagem 15] - Trajetória do Curativo – Viajou Sem Passaporte e Gabriel Borba, SP. <www.facebook.com/pages/Viajou-Sem-Passaporte>

10


OUTRAS INTERVENÇÕES E PROJETOS DO VIAJOU SEM PASSAPORTE Além das unidades de ação realizadas na rua, nos foram relatadas três intervenções que geraram bastante polêmica e reação da classe artística. Elas teriam uma mesma proposta de instauração de crise na normalidade, entretanto seria no próprio meio artístico já estabelecido. Assim, segundo os entrevistados pouco se diferenciavam em intenção, às ações realizadas em espaços públicos ou nos teatros. As intervenções teatrais contavam com um número ampliado de participantes. Outros jovens artistas eram convidados para integrar a proposta. A estrutura predeterminada das trajetórias anteriormente descritas se repetiria. O grupo Viajou Sem Passaporte e seus colaboradores entravam no teatro como público, normalmente, para assistir a uma determinada peça teatral, e em dado momento da peça, previamente estudado, todos começavam a propor uma interação diferente com o que estavam assistindo. Em uma das intervenções, durante a encenação, os integrantes subiram ao palco e deitaram no chão, como corpos mortos. Permaneceram ali até o final da peça. Os atores e público eram tomados de sobressalto. Essas intervenções geravam desconforto na classe teatral e nos dias subseqüentes, muitas foram noticiadas ou criticadas na mídia impressa. Também foi relatado que o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Diversão do Estado de São Paulo (SATED) instaurou uma sindicância para apurar os acontecimentos. Projeto Feijão O ex-integrante Celso Seabra nos relatou sobre o Projeto Feijão realizado pelo grupo. Como um “experimento científico”, na sede do grupo, uma série de grãos de feijão foram germinados em pequenos potes com algodão e água. Cada agrupamento de feijão foi submetido, a diferentes tratamentos a partir de uma categoria previamente estabelecida: alguns teriam um tratamento amistoso, outros receberiam insultos, outros abandonados, e assim por diante. Foram feitas fichas individuais acompanhando o desenvolvimento de cada um deles. Num segundo momento da experiência, os feijões eram distribuídos para pessoas de diversas áreas de conhecimento, todos acompanhados de suas fichas com instruções rigorosas de tratamento. Indicava-se uma data, para o comparecimento de todos os participantes da experiência, com seus devidos feijões, em ato público a se realizar em frente à Faculdade de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo. Seabra conta que num sábado de 1979, com o instituto fechado aconteceu a solene entrega dos feijões. Algumas pessoas compareceram, incluindo um representante do Secretário Municipal de Cultura, Mário Chamie, que fora convidado a participar do projeto. InUDê A InUDê, Feira de Inutilidades Domésticas, foi um evento organizado pelo Viajou Sem Passaporte em seu galpão-sede. A feira anual de utilidades domésticas (UD) era a referência desta ação. Os integrantes do grupo construíram uma série de máquinas inúteis para o dia a dia, como por exemplo, um quebrador de ovos, espécie de escorregador de 1,80 metros de altura, com uma canaleta na qual se depositava o ovo, que escorregaria e se espatifaria dentro de uma frigideira presa ao final do objeto. O grupo Viajou sem Passaporte foi parceiro de ação do grupo 3NÓS3 que também integra essa pesquisa. Também participou do projeto “Ao Ar Livre” do grupo Manga Rosa e em conjunto com outros coletivos de artistas da época realizaram o evento Fim de Década (Dez./1979, ver quadro abaixo, pág.12).

11


Evento Fim de Década, refletindo sobre as possibilidades da arte O evento Fim de Década foi realizado no final do ano de 1979 na cidade de São Paulo e idealizado pelos coletivos artísticos atuantes na época: 3NÓS3, Viajou Sem Passaporte, D’Magrela, Grupo Gextu, entre outros. Desejava-se comemorar o fim de um período de situação política bastante difícil para a sociedade brasileira e o vislumbre de uma nova década. A Praça da Sé foi o local escolhido para o acontecimento de uma série de ações coletivas com a população que ali transitava. Algumas “bases” foram criadas pelos coletivos, e em cada uma a proposição era diferente. Havia bases para improvisação teatral, roda de massagem, projeção de filme, desenho, improvisações musicais, entre outras. Cada grupo de artista se responsabilizou pela montagem e condução das atividades de uma das bases. Segundo Raghy, ex-integrante do Viajou Sem Passaporte, muitos transeuntes se interessaram e aderiram às proposições do evento. Ele conta que houve quem tenha deixado de ir trabalhar para passar à tarde com os jovens artistas. Embora o evento Fim de Década não tenha sido muito comentado pelos artistas nas entrevistas que recolhemos para esta pesquisa, quando perguntávamos sobre o evento aos participantes, a maioria citava as pequenas intervenções que antecederam o próprio evento como de um peso mais significativo em suas memórias. Mario Ramiro e outros artistas, se lembraram da ação realizada em uma estação do metrô na qual os passantes pela catraca recebiam um papel em branco dos integrantes do grupo Viajou Sem Passaporte e eram avisados para receber um carimbo na saída da estação, onde havia uma barraca que registrava: Evento Fim de Década: Basta! Outra ação bastante lembrada foi a intervenção na abertura da XVa. Bienal de São Paulo. Um agrupamento de jovens vendados e amarrados era levado por outro jovem a passear pelo prédio da Bienal de São Paulo onde emitiam comentários acerca das obras que por eles eram “vistas”. Esta intervenção foi noticiada, sem menção ao evento, pelos jornais da época [imagem 16, p. 12]. Essas ações tinham o intuito de conseguir da Secretaria Municipal de Cultura, autorização para uso da Praça e verba para a realização do Evento. Novamente, segundo Raghy, era fundamental a ciência da prefeitura acerca do aconteceria, pois haveria uma grande estrutura a ser montada, com grande demanda de tempo e espaço. Grande parte do Evento, segundo Celso Seabra, foi preparado no galpão-ateliê do grupo Viajou Sem Passaporte. Este grupo e o coletivo 3NOS3 tiveram grande importância para a sistematização de um catálogo do Evento Fim de Década. Além da narração dos artistas, este é o documento mais importante que encontramos em toda a pesquisa sobre o assunto, já que poucos registros do Evento ainda existem. Também percebemos que não é dada, pelos próprios artistas, tamanha relevância ao Evento em suas memórias ou documentos, no entanto, o registramos como um acontecimento de caráter independente e coletivo. Idealizado, produzido e realizado pelos grupos paulistas de intervenção atuantes da época, é possível ver o evento Fim de Década como uma grande mobilização que consegue aproximar o público ao processo dos artistas. [Imagem 17] - Pôster Evento Fim de Década, dez./1979, SP. <www.facebook.com/pages/ Viajou-Sem-Passaporte>

[Imagem 16] - Tonho Penhasco, Renato Cosentino, Rafael França, Marion Strecker, Celso Pucci, Marilda Carvalho, Bienal, 1979, SP. <www.facebook.com/PauloZocchi> [Imagem 18] - Foto do Evento Fim de Década, dez./1979, SP. <www.facebook.com/pages/Viajou-SemPassaporte>

12


Manga Rosa: a cidade como lugar Nessa pesquisa o grupo Manga Rosa aparece como um importante propositor com a obra/exposição Ao Ar Livre, intervenção em placa de outdoor na Rua da Consolação, em 1981. O projeto durou aproximadamente um ano, abrindo espaço para uma série de outros artistas que trabalhavam naquele momento com a cidade. Do período de 1978 a 1982, o grupo fez uma série de inserções na cidade de São Paulo inspirados pela poesia concreta. O desenho, as artes gráficas e a escultura eram assuntos chave na produção dos jovens artistas: Carlos Dias, Francisco (Chico) Zorzete e Jorge Bassani (Joca), os principais integrantes deste coletivo. Bassani e Zorzete tiveram sua formação universitária na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Dias fez curso técnico no antigo colégio IADE e mais tarde, graduou-se em filosofia. O grupo teve dois endereços de trabalho que possibilitaram uma série de projetos. Um dos espaços utilizados para a construção de objetos era a casa de Carlos Dias no bairro da Saúde e o outro foi, por um curto período, um estúdio alugado na Rua Augusta, no qual havia uma prensa Off Set. Ali foram realizados uma série de trabalhos gráficos que, antes da chegada de Dias, o Manga Rosa já produzia. Uma das propostas que impulsionou a criação do coletivo foi a confecção de um revista independente para divulgação de novos artistas, com entrevistas e experimentações gráficas: Alienarte [imagem 4, pág. 5]. A primeira revista trouxe a público uma entrevista com José Celso Martinez Correia, diretor de Teatro Oficina, recém chegado do exílio. Outros artistas também foram entrevistados, Jorge Mautner (literatura), Ednardo (música) e Luiz Carlos Maciel (contracultura), assim como poetas que colaboravam com a revista. Em depoimentos dados ao projeto Inter(IN)venção, os integrantes do Manga Rosa apontam o interesse pela cidade a partir de sua vivência nela. As caminhadas pelas ruas do centro da cidade de São Paulo motivariam os seus primeiros trabalhos. A visualidade da cidade e os espaços de convivência impulsionaram os projetos realizados pelo grupo no espaço urbano. A primeira inserção no espaço da cidade foi nomeada “DeFormativa”, na qual placas, semelhantes a placas de sinalização, foram instaladas na Rua Martins Fontes [imagens 19, pág.13]. A partir daí, uma série de trabalhos, em espaços da comunicação visual são propostos pelo coletivo.

[Imagem 19] – DeFormativa – Grupo Manga Rosa, Rua Martins Fontes, SP. Nas fotos, o artista Carlos Dias. <imagens doadas pelos artistas Jorge Bassani e Carlos Dias>

13


No pequeno estúdio da Rua Augusta, em 1981, o Manga Rosa iniciou seu projeto chamado Ao Ar Livre. O poema de Torquato Neto inspira o projeto [imagem 20, pág.15]. Primeiro passo conquistar espaços Tem espaço à bessa ocupe se vire. Ocupando uma placa de outdoor em frente à Praça Roosevelt, na Rua da Consolação, diversos experimentos visuais tomariam o espaço da publicidade. A estrutura foi cedida pela Central de Outdoors e o Manga Rosa produzia em Off Set a imagem a ser instalada. Convidados, muitos artistas aderiram ao projeto, também alguns coletivos propuseram seu outdoor: Alex Vallauri, Antonio Saia, Viajou Sem Passaporte, Regina Silveira, 3NÓS3 e dois de seus integrantes separadamente (Mario Ramiro e Hudinilson Jr), além do próprio grupo Manga Rosa, entre outros [imagens 22-31, pág.15-16]. Seus três integrantes separadamente (Joca, Zorzete e Carlos) utilizavam também, um outro espaço de outdoor, na Av. Rebouças, para a realização de trabalhos pessoais [imagens 32-37, pág.17] Interessante notar que esta intervenção na visualidade da cidade, aponta para a própria mídia como um lugar de ação. A comunicação na cidade se torna um lugar possível de intervenções poéticas de maneira a transformá-la. A modificação da função de uma placa de outdoor provoca, em certa instância, outro olhar para os espaços de uso mercadológico das cidades. A objetividade da comunicação urbana é desviada pelo gesto poético do desenho. A placa de outdoor se apresenta como suporte para um trabalho de arte, e torna a Rua da Consolação um lugar para se ver. Os artistas propositores do projeto mencionaram a exposição organizada em 1980 por Paulo Bruscky, na cidade de Recife, como uma referência. Em Recife, Bruscky utilizou uma série de placas de Outdoors, no projeto Ao Ar Livre, foram utilizadas somente uma em cada local. Se ao longo de um ano houve a troca da imagem a cada 15 dias, pensamos a necessidade desse olhar que é tomado de sobressalto por uma intervenção efêmera em meio ao circuito publicitário. Modifica-se a informação circulante e se repensa os canais utilizados pelo sistema para sua propaganda. Zorzete, em depoimento cedido, chama a atenção para frase considerada emblemática do projeto veiculada na primeira placa feita pelo Manga Rosa: “Ocupe e se Vire”. Para o artista era necessário ocupar a cidade, buscar espaços de expressão e com isso ir às ruas e transformar o espaço público. As intervenções propostas em Ao Ar Livre tinham a duração de, aproximadamente, quinze dias. Havia a permissão e negociação com uma instituição comercial, entretanto é possível atribuímos a qualidade performativa à concepção e viabilização do projeto pelo Manga Rosa. A distinção entre a comunicação e o pensamento sobre a comunicação é o ponto de partida. O grupo incorpora, com uma seleção bastante porosa, os questionamentos dos outros sobre comunicação e arte na cidade. Alguns artistas trabalharam com a placa como um suporte semelhante a uma tela de pintura. Houve propostas, ainda, que problematizavam o outdoor e criavam uma situação em que a placa se tornaria o lugar de ação, como foi a intervenção intitulada “Das duas às quarto” do Viajou Sem Passaporte [imagens 38 a 42, pág.18]. Já o coletivo 3NÓS3 propôs o outdoor INTERVERSÃO que “invadia” com um plástico vermelho as placas e estruturas ao lado, evidenciando esse espaço da cidade com um suporte de ação e pensamento possíveis de expansão [imagens 28-29, pág.16].

14


O Ao Ar Livre terminou por insatisfação de seus realizadores, quando decidiram rasgar a placa de maneira a revelar aquilo que ela mesma encobria. O grupo Manga Rosa se configurou como um importante grupo de articulação e encontros em seu ateliê. Tiveram uma estreita relação com os coletivos Olhar Eletrônico 5 e Ateliê Janaína6. É possível notar nas entrevistas, uma criação bastante comprometida com a coletividade. O projeto Ao Ar Livre se configurou como um espaço de encontro e diálogo de uma série de artistas que estavam pensando, naquele momento, sobre as possibilidades de inserção artística na cidade, ampliando o debate sobre a Arte Urbana do momento.

[Imagens 20 e 21] – Página e capa scanneadas do livro de Torquato Neto com o poema grifado. <imagens doadas pelo artista Carlos Dias>

[Imagens 22 e 23] – Primeiro outdoor do grupo Manga Rosa na Av. Consolação, 1981, SP. <imagens doadas pelos artistas Jorge Bassani e Carlos Dias>

[Imagens 24 e 25] – Segundo outdoor do grupo Manga Rosa na Av. Consolação, 1981, SP (foto e desenho) <imagens doadas pelos artistas Jorge Bassani e Carlos Dias>

5

Produtora de vídeos independente formada em 1981 por Fernando Meirelles, Paulo Morelli, Marcelo Machado, Dário Vizeu, Beto Salatini, Renato Barbiere e Marcelo Tas, entre outros. 6

Ateliê Mãe Janaína foi outro coletivo formado na FAU-USP com sede no Alto de Pinheiros.

15


[Imagem 26] – Outdoor de Regina Silveira, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>

[Imagem 27] – Outdoor de Alex Vallauri, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>

[Imagens 28 e 29] – Outdoor INTERVERSÃO do grupo 3NÓS3, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>

[Imagem 30] – Outdoor de Mario Ramiro, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>

[Imagem 31] – Outdoor de Hudinilson Jr, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>

16


[Imagens 32, 33, 34] Outdoors de Carlos Dias, Av. Rebouรงas, 1981, SP. <imagens doadas por Jorge Bassani e Carlos Dias>

[Imagem 35] Outdoor de Jorge Bassani, Av. Rebouรงas, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>

[Imagens 36 e 37] - Outdoors de Chico Zorzete, Av. Rebouรงas, 1981, SP. <imagens doadas por Jorge Bassani e Carlos Dias>

17


[Imagens 38, 39, 40, 41 e 42] - Outdoor do Viajou Sem Passaporte, Rua da Consolação, 1981, SP. <imagens doadas por Jorge Bassani e Carlos Dias>

18


3NÓS3: a cidade como suporte Os artistas Hudinilson Jr., Mario Ramiro e Rafael França se conheceram e trabalham juntos pela primeira vez por ocasião de uma exposição de Xilogravura que realizaram no metrô São Bento junto de Marília Gruenwaldt. Nesta ocasião, estreitaram-se os laços de amizade entre os rapazes, que após o término da exposição, tornaram-se a se encontrar para realizar projetos e conversar sobre arte. Mario Ramiro e Rafael França cursavam Artes Plásticas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Hudinilson Jr. iniciou sua formação artística na Fundação Armando Álvares Penteado, mas não concluiu o curso. Havia um interesse, compartilhado entre os três, pelo desenho e pelos processos de reprodução, nas diferentes técnicas de gravura ao xerox. Em depoimentos, comenta-se que havia freqüentes encontros na casa de Rafael França na Rua das Palmeiras, no bairro de Santa Cecília, onde eram comuns as discussões sobre arte e seus projetos. Na ocasião da posse do último governo da ditadura militar, de João Figueiredo, o presidente da distensão, os três jovens artistas tinham ideias de ação que se relacionavam com o evento. A casa de Rafael França se localizava próxima a Praça Marechal Deodoro, onde queriam realizar um trabalho com a relação direta entre a estátua e os militares. No entanto, eles nos contam que ficaram receosos com a intensa presença da polícia militar nas ruas da cidade e decidiram não agir na data do empossamento. Passado um tempo, retomaram a decisão de intervir, mas expandiram a ação para outros monumentos e estátuas da cidade. Os artistas fizeram um mapeamento prévio, com um trajeto de estátuas que lhes pareciam mais interessantes. Conseguiram o auxílio de um amigo para o transporte e de uma amiga para o registro da ação em fotografia. O horário escolhido para a realização era a madrugada para que mantivessem o anonimato. Em 27 de abril de 1979, munidos de sacos de lixo de plástico pretos, seguiram o roteiro idealizado e cobriram as cabeças das esculturas escolhidas. A ação foi denominada Ensacamento [imagem 43, p.20]. Na manhã seguinte, Hudinilson Jr, Mario Ramiro e Rafael França se ocuparam de avisar a imprensa de maneira anônima. Telefonavam de diferentes pontos da cidade para alguns veículos impressos e perguntavam pelo motivo do encobrimento das estátuas. A imprensa ficou bastante interessada pelo assunto e no dia seguinte já havia registro e texto sobre a ação nas páginas dos cadernos que tratavam de cidade e cotidiano de vários jornais. No entanto, ainda não se sabia sobre a intenção poética da ação. Segundo material pesquisado em arquivos dos artistas os veículos interessados foram: Folha da Tarde, Última Hora e Diário da Noite. Até a realização da ação Ensacamento, os três jovens artistas ainda não se nomeavam como grupo, ou tão pouco se chamavam 3NÓS3. No entanto, com tamanha repercussão na imprensa, eles decidiram idealizar uma segunda intervenção. Em julho, já sob a configuração 3NÓS3, realizaram o X-Galeria [imagem 44, p.20]. Também durante a madrugada, com uma fita adesiva, fizeram um “X” na porta das Galerias de Arte mais tradicionais da cidade de São Paulo. Simbolicamente, os artistas lacraram as galerias que já se mantinham fechadas para o público, e também aquelas que não se abriam para um novo tipo de produção. Por fim, a porta da galeria fechada pelo adesivo recebia a seguinte mensagem mimeografada: “o que está dentro fica, o que está fora se expande”. Segundo Hudinilson Jr, essa ação foi noticiada incluindo a autoria do 3NÓS3, deixando-os bastante apreensivos. No entanto, ainda que temesse qualquer censura, nada aconteceu e o grupo decidiu por continuar sua produção.

19


Hudinilson Jr nos conta que para cada intervenção realizada pelo grupo, fazia-se um planejamento prévio cuidadoso e metódico. Ao realizarem as duas ações descritas acima, trajeto e locais foram mapeados com antecedência. Outro dado bastante interessante revelado foi de que o 3NOS3 fazia trabalhos em variadas escalas. Entre o planejamento e execução de uma grande intervenção na cidade, outras pequenas ações eram realizadas. Chama-nos a atenção o trabalho intitulado Intervenção VI que costurou o vão de acesso da Av. Paulista com a Av. Rebouças, próxima a Rua da Consolação. A confecção deste plástico demandou investimento do grupo na busca por uma empresa apoiadora para a ação, além de grande força coletiva para que a instalação da imensa faixa vermelha fosse realizada. Neste momento é importante perceber o esforço e o trabalho em conjunto com outros coletivos atuantes da época, por exemplo. Uma marca, citada por muitos artistas entrevistados, do grupo 3NÓS3 é o de fazer da cidade suporte para o acontecimento visual. Diferentemente de fazer da cidade um lugar de acontecimento, é uma situação arquitetônica ou urbanista que suporta a modificação visual desejada. No caso de Intervenção VI o projeto foi feito em cima da planta oficial daquele trecho da cidade. “A cidade para nós era como uma folha de papel” comentou Hudinilson Jr. em depoimento concedido. Quando os integrantes do 3NÓS3 encobriram a cabeça das estátuas da cidade de São Paulo, eram os monumentos que continham todo o gesto do grupo, ainda que invisíveis. Já o “X” inscrito nas portas das galerias provocava o próprio meio da arte, inserido na cidade por suas estratégias de exibição (museus e mostras) e comercialização (galerias). Em Intervenção VI agiganta-se a escala do trabalho, um gesto individualmente não pode mais dar conta da ação e o trabalho passa a se relacionar com a cidade e seus edifícios. O espectador volta a uma situação de quem olha e testemunha um desenho na cidade. O trabalho complementa-se a uma ideia de cidade a partir das suas esferas, seus fluxos e espaços, modificando-os. Quando o 3NOS3 consegue a produção de grandes plásticos para seus projetos com a empresa PlasticFIVE, devolve ou revela à cidade uma lógica de planaridade do próprio projeto arquitetônico e urbanístico pelo qual a cidade já passou. Neste plano a ação é condensada em uma só linha, invertendo o lugar-cidade em cidadesuporte.

[Imagem 43] – Ensacamento – 3NÓS3, 1979, SP. <documentos do acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP>

InterVERsão X InterVENção

20

[Imagens 44 e 45] – X-Galeria – 3NÓS3, 1979, SP. <http://artebrasileira1970.blogspot.com/2007/12/3ns3operao-x-galeria-1979-interveno.html>


O termo adotado pelo grupo 3NÓS3 era originalmente “INTERVERSÃO”. Hudinilson Jr., em seu depoimento, alega que a escolha pelo uso deste termo advinha da linguística: interversão advém de interverter, ou seja, modificar, inverter, alterar a ordem, ou ainda desordenar ou transtornar. Diferentemente do termo intervenção que sugere uma interferência. Intervir é na linguística tomar parte voluntariamente, gerando uma interferência. Neste caso, o desejo do grupo eram as alterações possíveis que uma ação poderia obter num espaço. Na cidade se torna claro que ao ensacar uma estátua, as formas de se relacionar com aquilo podem se modificar, provocando até mesmo um transtorno.

[Imagem 46] – “Interdição” – 3NÓS3, 1979, SP. <Acervo Videobrasil online>

[Imagem 47] – Grupo 3NÓS3 - Hudinilson Jr., Rafael França e Mario Ramiro, SP. Frame do documentário ‘Rafael França: obra como testamento. <Acervo Videobrasil online>

Do Projeto à conclusão da Pesquisa

21


Inter(IN)venção: as intervenções urbanas a partir de práticas performativas na cidade São Paulo entre as décadas de 70 e 80. Através do Edital Prêmio Pesquisador2010 foi possível realizar o projeto Inter(IN)venção que encontrou, nos materiais no AMM/CCSP e em arquivos particulares, documentos históricos sobre intervenções nos espaços urbanos, a partir de ações efêmeras. O recorte privilegiou a cidade de São Paulo entre as décadas de 1970 e 1980. Enfocamos, no assunto escolhido, situações e ações performáticas significativas que modificavam espaços, fluxos e percepções da cidade. É importante ressaltar que estas intervenções se distinguiam de interferências físicas na arquitetura ou implementação de esculturas na malha urbana. Notamos que as intervenções urbanas foram capazes de atribuir outros significados ao sujeito no seu contexto público urbano. A investigação fixou como referências iniciais, eventos organizados por artistas que atuavam paralelamente ao sistema oficial da arte, experimentando outras formas de ação e produção artística. Os coletivos atuantes na época como 3NÓS3, Manga Rosa, Viajou sem Passaporte, entre outros, e as manifestações Mitos Vadios e Evento Fim de Década foram o foco deste projeto. Cumprimos com o objetivo de complementar e promover uma continuidade a algumas categorias já presentes no Arquivo do CCSP: Arte Experimental, Arte Urbana, Intervenção Urbana e Performance. Os três grupos foram contatados e entrevistados, de acordo com a disponibilidade de cada um. Documentos, como fotos e reportagens, a maioria em formato digital, e alguns catálogos de exposições foram reunidos, juntamente com um texto desenvolvido a partir da pesquisa. É fato que esta investigação não se encerra aqui, somente cumpre a sua primeira etapa. O nosso interesse e desejo, ainda na submissão do projeto, é organizar o material de maneira a construir um roteiro para a realização de um filme documentário que possa sistematizar o tema para o grande público. Este formato adicional de conclusão da pesquisa deve reunir os depoimentos coletados e articulá-los aos materiais de arquivo sobre o assunto, encadeando uma narrativa sobre este importante momento da arte contemporânea brasileira. Finalmente, esperamos o possível apoio da instituição com a disponibilização de recursos suficientes para, finalmente, produzir o último desdobramento desejado para circulação em território nacional da pesquisa do Edital de 2010 do Centro Cultural São Paulo: Inter(in)venção.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

22


[Imagem 1] p.3 - Flávio de Carvalho, New Look, 1956. Desenho e passeata por São Paulo. http://acidadedohomemnu.blogspot.com/2010/04/flavio-de-carvalho.html [Imagem 2] p. 5 – Teatro Lira Paulistana, Praça Benedito Calixto, outubro/1983. http://www.tardesdemais.com.br/2009/11/teatro-lira-paulistana-30-anos.html [Imagem 3] p. 5 - Programação do Carbono 14 - Foto: Marcelo Yellow <revistatrip.uol.com.br/revista/188/reportagens/os-carbonarios.html#10> [Imagem 4] p. 5 - Capa da revista Alienarte nº1, agosto/1978 <imagem doada pelo artista Carlos Dias> [Imagem 5] p. 7 - Ivald Granato no evento Mitos Vadios, novembro/1978, SP. <imagem doada pelo artista Ivald Granato> [Imagem 6] p. 7 - Pôster do evento Mitos Vadios, novembro/1978, SP. <imagem doada pelo artista Ivald Granato> [Imagem 7] p. 8 - Performance Velozman, FAAP, 1975, SP. <imagens doada pelo artista Ivald Granato> [Imagem 8] p. 8 - Performance Arthur Milionário, Av.Paulista, SP. <imagem doada pelo artista Ivald Granato> [Imagem 9] p. 8 - Performance My romance with Andy Warhol, Av. Henrique Shaumman, SP. <imagem doada pelo artista Ivald Granato> [Imagem 10] p. 10 - Tula, Márcia, Celso, Bia, Marilda, Raghy, Gordon e Beto, 1979, SP. Foto: Hudinilson Jr. <www.facebook.com/pages/Viajou-SemPassaporte> [Imagem 11] p. 10 – Intervenção do Viajou Sem Passaporte no evento Mitos Vadios, Nov./1978, SP. Na foto, Raghy. <imagem doada pelo artista Ivald Granato> [Imagem 12] p. 10 – Intervenção do Viajou Sem Passaporte no evento Mitos Vadios, Nov./1978, SP. Na foto, Beto Melo e Carlos Gordon. <imagem doada pelo artista Ivald Granato> [Imagem 13] p. 10 - Sede do grupo Viajou Sem Passaporte na Lapa, SP.<www.facebook.com/pages/Viajou-Sem-Passaporte> [Imagem 14] p. 10 - Trajetória da Árvore – Viajou Sem Passaporte, Largo do Arouche, 1979, SP. <www.facebook.com/pages/Viajou-Sem-Passaporte>. [Imagem 15] p. 10 - Trajetória do Curativo – Viajou Sem Passaporte e Gabriel Borba, SP. <www.facebook.com/pages/Viajou-Sem-Passaporte>. [Imagem 16] p. 12 - Tonho Penhasco, Renato Cosentino, Rafael França, Marion Strecker, Celso Pucci, Marilda Carvalho, Bienal, 1979, SP. <www.facebook.com/PauloZocchi>. [Imagem 17] p. 12 - Pôster Evento Fim de Década, dez./1979, SP. <www.facebook.com/pages/ Viajou-Sem-Passaporte>. [Imagem 18] p. 12 - Foto do Evento Fim de Década, dez./1979, SP. <www.facebook.com/pages/Viajou-Sem-Passaporte>. [Imagem 19] p. 13 – DeFormativa – Grupo Manga Rosa, Rua Martins Fontes, SP. Nas fotos, o artista Carlos Dias. <imagens doadas pelos artistas Jorge Bassani e Carlos Dias>.

23


[Imagens 20 e 21] p. 15 – Página e capa scanneadas do livro de Torquato Neto com o poema grifado. <imagens doadas pelo artista Carlos Dias>. [Imagens 22 e 23] p. 15 – Primeiro outdoor do grupo Manga Rosa na Av. Consolação, 1981, SP. <imagens doadas pelos artistas Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagens 24] p. 15 – Segundo outdoor do grupo Manga Rosa na Av. Consolação, 1981, SP (foto). <imagem doada pelos artistas Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagens 25] p. 15 – Segundo outdoor do grupo Manga Rosa na Av. Consolação, 1981, SP (desenho). <imagem doada pelos artistas Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 26] p. 16 – Outdoor de Regina Silveira, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 27] p. 16 – Outdoor de Alex Vallauri, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagens 28] p. 16 – Outdoor INTERVERSÃO do grupo 3NÓS3, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagens 29] p. 16 – Outdoor INTERVERSÃO do grupo 3NÓS3, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 30] p. 16 – Outdoor de Mario Ramiro, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 31] p. 16 – Outdoor de Hudinilson Jr, Av. Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 32] p. 17 - Outdoor de Carlos Dias, Av. Rebouças, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 33] p. 17 - Outdoor de Carlos Dias, Av. Rebouças, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 34] p. 17 - Outdoor de Carlos Dias, Av. Rebouças, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 35] p. 17 - Outdoor de Jorge Bassani, Av. Rebouças, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 36] p. 17 - Outdoor de Chico Zorzete, Av. Rebouças, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 37] p. 17 - Outdoor de Chico Zorzete, Av. Rebouças, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 38] p. 18 - Outdoor do Viajou Sem Passaporte, Rua da Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 39] p. 18 - Outdoor do Viajou Sem Passaporte, Rua da Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 40] p. 18 - Outdoor do Viajou Sem Passaporte, Rua da Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 41] p. 18 - Outdoor do Viajou Sem Passaporte, Rua da Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>.

24


[Imagem 42] p. 18 - Outdoor do Viajou Sem Passaporte, Rua da Consolação, 1981, SP. <imagem doada por Jorge Bassani e Carlos Dias>. [Imagem 43] p. 20 – Ensacamento – 3NÓS3, 1979, SP. <documentos do acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP>. [Imagem 44] p. 20 – X-Galeria – 3NÓS3, 1979, SP. <http://artebrasileira1970.blogspot. com/2007/12/3ns3-operao-x-galeria-1979-interveno.html>. [Imagem 45] p. 20 – X-Galeria – 3NÓS3, 1979, SP. <http://artebrasileira1970.blogspot. com/2007/12/3ns3-operao-x-galeria-1979-interveno.html>. [Imagem 46] p. 21 – “Interdição” – 3NÓS3, 1979, SP. <Acervo Videobrasil online>. [Imagem 47] p. 21 – Grupo 3NÓS3 - Hudinilson Jr., Rafael França e Mario Ramiro, SP. Frame do documentário ‘Rafael França: obra como testamento. <Acervo Videobrasil online>.

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA: Textos GUERRERO, Inti. catálogo A Cidade do Homem Nu. 16 abril -13 junho/2010. Museu de Arte Moderna de São Paulo. São Paulo, 2010. MITOS VADIOS, São Paulo: Folha de São Paulo. Artes Visuais. 05.11.1978, pag.58. PALLAMIN, Vera. Do lugar-comum ao espaço incisivo: dobras do gesto estético no espaço urbano. In: Medeiros, M.B; Monteiro, M.F.M. Espaço e performance. Brasília: UNB, 2007. SALZSTEIN, Sonia. Apontamentos para uma avaliação da arte experimental em São Paulo, na década de 70. São Paulo: Arquivo Multimeios, CCSP, DT 1834 : 1978. STILLES, Kristine. Performance Art. In: Stilles, K. & Selz, P. Theories and Documents of Contemporary Art. Berkeley: University of California Press, 1996. Arquivos Acervo Videobrasil Online Arquivo pessoal de Carlos Dias; Arquivo pessoal de Ivald Granato; Arquivo pessoal de Jorge Bassani; Centro Cultural São Paulo - Arquivo Multimeios MAC-USP - Museu de Arte Contemporânea Internet

25


EXPOSIÇÃO A CIDADE DO HOMEM NU. http://acidadedohomemnu.blogspot.com/2010/04/flavio-de-carvalho.html LIRA PAULISTANA. http://www.tardesdemais.com.br/2009/11/teatro-lira-paulistana-30anos.html OS CARBONÁRIOS. revistatrip.uol.com.br/revista/188/reportagens/os-carbonarios.html#10 PAULO ZOCCHI. www.facebook.com/PauloZocchi>. PAULO TREVISAN. http://artebrasileira1970.blogspot.com/2007/12/3ns3-operao-x-galeria1979-interveno.html>. VIAJOU SEM PASSAPORTE. www.facebook.com/pages/Viajou-Sem-Passaporte

BIBLIOGRAFIA ADICIONAL: Textos AGRA, Lucio. (Re)Viewing Live Art. In: Parachute nº116, 2004, p. 54-67. ALDANA, Erin. Transnational Interpretations of the Local: The Problem of AberturaPeriod Art in Brazil. Paper in 18 pages. ALDANA, Erin. Interventions into Urban and Art Historical Spaces: The Work of the Artist Group 3Nós3 in Context, 1979-1982. Ph.D. dissertation, University of Texas, Austin, 2008. BÁRBARA, Vanessa. Viajou Sem Passaporte: a intervenção urbana criativa. <http://web. archive.org/web/20071028114043/www.rizoma.net/interna.php?id=143&secao=intervencao> BASSANI, Jorge. Informação e contra-informação na gráfica urbana – uma experiência com outdoors no crepúsculo da modernidade. 10 PÁG. BENASSI, Carla Beatriz. Coletivos de arte na atualidade: panorama, apresentação e dois estudos de caso. 18º Encontro da ANPAP – 21 a 26/09/2009 - Salvador, Bahia. BRIDGES, Steven L. Making the Invisible Visible: A City in Multiples and the Art of Multiplicity. Disponivel em: http://artandeducation.net/papers/view/19 BUETI, Federica. No place to sit (a walk around the new context). Disponível em: http://artandeducation.net/papers/view/18 CABRAL, Ana Julia Cury de Brito. Sociedade do Espetáculo e Resistência Juvenil: Estratégias Midiáticas na Formulação de uma Contracultura. In: Trabalho apresentado ao NP 13 – Comunicação e Cultura das Minorias, do V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom. CARREIRA, André. A cidade como dramaturgia do teatro de invasão. CARROLL, Ed. Life:art - Experiences Of Being Public. Disponivel em: http://artandeducation.net/papers/view/20 DARRIBA, Paula. Um breve panorama sobre a Performance no Brasil. Publicado em: “Performance y arte-acción” sob o Título: “Fusión de Lenguajes” – Org. Josefina Alcázar e Fernando Fuentes. Ediciones sin Nombre, Citru, Ex Teresa. México, 2005. FABRIS, Annateresa. Pretextos para uma intervenção. set.1982 (s/ref) FUREGATTI, Sylvia. Arte e Meio Urbano - Elementos de formação da estética extramuros no Brasil. Dissertação de Doutorado. FAU-USP. Orientação do Prof. Dr. Luiz Américo de Souza Munari, São Paulo, 2007.

26


GROSSMANN, Martin. Arte contemporânea brasileira: a procura de um contexto. In: (org.) BASBAUM, Ricardo. Arte contemporânea brasileira: texturas, dicções, ficções, estratégias. RJ: Rios Ambiciosos, 2001, p.350-358. GUATTARI, Felix. Caosmose: um novo paradigma estético. São Paulo: Editora 34, 2002. HOLMES, Brian. El dispositivo artístico, o la articulación de enunciaciones colectivas. Originally: “The Artistic Device. In: <http://www.u-tangente-org> JEUDY, Henri Pierre & JACQUES, Paola Berenstein (Org.) Corpos e cenários urbanos: territórios urbanos e políticas culturais. Salvador : EDUFBA ; PPG-AU/FAUFBA, 2006. JONES, Amelia. Rupture. In: Parachutes nº 123, 2006, p.15-37. LAGNADO, Lisette. Trópico - O que é arte pública? In: site da Fundação Bienal. (opiniões de vários artistas, curadores e teóricos). MAZETTI, Henrique Moreira. Entre o afetivo e o ideológico: as intervenções urbanas como políticas pós-modernas. In: ECO-PÓS-v.9, n.2, agosto-dezembro 2006, pp.123-138. ____. Resistências criativas: os coletivos artísticos e ativistas no Brasil. LUGAR COMUM Nº25-26, pp. 105-120. MELENDI, Maria Angélica. Performances clandestinas / performances públicas: regras, rituais, símbolos. In: ROLLA, Marcos Paulo; HILL, Marcos. Manifestação Internacional de Performance. Belo Horizonte:Centro de Experimentação e Informação de Arte,2005,p.81-90. OLIVIERI, Silvana Lamenha Lins. Cidade, corpo e cinema. UFBA, 9 pág. PALLAMIN, Vera. Arte Urbana. São Paulo – região central. Obras de caráter temporário e permanente. SP: Annablume: Fapesp, 2000. ____. Extensões e recuos espaciais dos grafites urbanos paulistanos: um aspecto sobre o processo de circulação de suas imagens. CICLO DE DEBATES – MUBE, Mesa: Grafite e Urbanismo. 18/set. 2010. ____. PÓS n.21. Brechas na Paisagem. Resenha de livro. São Paulo, junho/2007, p.250252. ____. Do lugar-comum ao espaço incisivo: dobras do gesto estético no espaço urbano. In: Medeiros, Maria Beatriz de; Monteiro, Marianna F. M. (orgs.) Espaço e Performance, pp. 181–193. Brasília: Editora da Pós-Graduação em Arte da Universidade de Brasília, 2007. ____. Intervenções urbanas e comunidades - entre o consenso e o dissenso. In: Revista do Instituto de Artes das Américas, vol. 3, no.1. Belo Horizonte, Instituto de Artes das Américas, C/Arte, 2006, pp. 91–99. PONTBRIAND, Chantal. São Paulo: Incursion>Excursion. Parachute, n.116, 2004. RAGNOLE, Luís Sérgio. Viajou Sem Passaporte. Arte em Revista, São Paulo, Kairós: CEAC, ano 6, no. 8, pp. 116-119, outubro de 1984. RAMIRO, Mario. Between Form and Force: Connecting Architectonic, Telematic and Thermal Spaces. In: http://leonardo.info/isast/spec.projects/ramiro/ramiro.html ____. Grupo 3nos3: the outside expands. In: Parachute nº116, 2004. REIS, Paulo Roberto de Oliveira. A exposição O Corpo na Cidade e uma reflexão sobre história da arte brasileira. XXX Colóquio do Comitê Brasileiro de História da Arte, RJ. REVISTA DArt n.2 ano 1998: Alex Vallauri: trajetória Passo a Passo p. 36-39. (Maria Olímpia Vassao e Maria Adelaide do Nascimento Pontes). REVISTA DArt n.141 ano: abril/2004: Interação Arte Homem Comum. p.74-94. (Maria Olímpia Vassao). ROLNIK, Sueli. Awaken from lethargy: art and public life in São Paulo at the century´s turn. Parachute, n.116, 2004. ____. Memória do corpo contamina o museu. 12p.

27


ROSAS, Ricardo. Notas sobre o coletivismo artístico no Brasil. In: <www.uol.com.br/tropico>. 7 pág. SPANGHERO, Maíra. Grupo 3NOS3. In: <http://www.cibercultura.org.br/tikiwiki/tikiindex.php?page=Grupo%203NOS3> TEIXEIRA, Ana Maria Pimentel.Trocas: A arte na rua e a rua na arte. Dissertação de Mestrado. ECA-USP. Orientação do Prof. Dr.Martin Grossmann, São Paulo, 2005. Arquivos Acervo Itaú Cultural Acervo Videobrasil Online Arquivo Multimeios – Centro Cultural São Paulo Arquivo pessoal de Carlos Dias; Arquivo pessoal de Ivald Granato; Arquivo pessoal de Jorge Bassani; Arquivo pessoal de José Roberto Aguilar; Arquivo pessoal de Mario Ramiro; Centro Cultural São Paulo - Arquivo Multimeios MAC-USP - Museu de Arte Contemporânea Internet BLOG DO GRUPO MANGA ROSA. http://grupomangarosa.blogspot.com/ ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/ 3NOS3. Vídeo da obra: Conecção – In: <http://vimeo.com/3836410> Entrevistas IVALD GRANATO. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 25/JUL./2011. GRUPO MANGA ROSA. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 30/JUL./2011. LILIAN AMARAL. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 06/AGO./2011. MARIO RAMIRO. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 08/AGO./2011. ROBERTO MELO. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 15/AGO./2011. JORGE BASSANI. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 22/AGO./2011. CARLOS DIAS. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 27/AGO./2011. JOSÉ ROBERTO RAGNOLE. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 24/SET./2011. HUDINILSON JR. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 29/SET./2011. CELSO SEABRA. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 01/OUT./2011. FRANCISCO ZORZETE. Entrevista para pesquisa Inter(IN)venção. 19/OUT./2011.

28


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.