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Ed itoria l Abril de 2017...
com os lamps agendado para as 14.30 horas. Depois foi tempo de voltar a Alvalade e esperar até às 19.30 horas, para nova deslocação ao mesmo destino, desta vez para o embate do andebol. Uma jornada única que exigiu a presença da Torcida Verde, exclusivamente em nome da luta pela identidade do grande SCP1906 que tem no eclectismo um valor central. O mês de Abril (e todo o ano de 2017) ficará dramaticamente marcado pela trágica morte de Marco Fuccini, que ocorreu nas primeiras horas do derby. Para nós, que participamos na construção de uma bela amizade com os Ultras Viola, ainda na década de 90, esta morte constitui uma infâmia para quem faz do futebol uma festa e da amizade um valor inalienável e jamais manipulável. Esta é a hora da nossa solidariedade com os familiares e amigos de Marco. Hora de respeito e basta! Neste contexto, a Torcida Verde cancelou a coreografia preparada para derby, associando-nos aos demais grupos da Sul. Na segunda-feira seguinte depositámos um coroa de flores no preciso local onde faleceu o Marco, pretendemos assim homenagear de forma simbólica a sua memória, bem assim como toda a família Viola.
Para os indefectíveis do eclectismo do SCP o mês de Abril ficou marcado pelo facto de o futsal do SCP não ter almejado conquistar o, há tanto tempo, desejado trofeu europeu. Caímos apenas na final da competição, frente aos espanhóis do Movistar. Apesar do “estrondo” da derrota – principalmente face ao investimento realizado – é tempo de olhar em frente procurar novas conquistas, nomeadamente o campeonato nacional. A Torcida Verde esteve presente nos dois jogos desta Final-four, em Almaty, no Cazaquistão. Esta foi a maior deslocação de sempre do nosso grupo, cerca de 7000 km, superando desta formas as (várias) deslocações à Rússia e à Ucrânia já realizadas. Um feito digno de registo e que ficará para sempre na história da Torcida Verde! Cumpre referir que no dia que se disputou a final, a Torcida Verde estava igualmente mobilizada para uma exigente deslocação do Futebol a Braga e esteve igualmente presente em Alverca no apoio ao Hóquei, frente ao Juventude de Viana. No dia anterior havíamos estado em Almada, com o Andebol, numa partida que carimbou o acesso à final da Taça Challenge. De resto, também no mês de Abril, o sábado de Páscoa ficará para sempre ligado à nossa longa pelo ineditismo de uma inusitada dupla deslocação aos pavilhões do eterno rival. Menos de 24 horas depois da deslocação do futebol em Setúbal, a militância ultra na Torcida Verde ganhou forma pouco depois das 13.00 horas de sábado rumo ao pavilhão da luz para o embate do futsal www.torcidaverde.pt - geral.torcidaverde@gmail.com 2
EUROTOURs A minha primeira EuroTour Por Filipa Rocha
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as deslocações realizadas em Portugal, durante a viagem, habituei-me a ouvir as histórias da malta que ia ao estrangeiro; a relação com outros ultras, as suas vivências e as peripécias que aconteciam durante esses 4-5 dias fora de Portugal. Tudo aquilo me fascinava, fazendo crescer em mim a vontade de poder participar numa deslocação ao estrangeiro. Em 2012 surgiu a oportunidade. O Sporting apurava-se para a Final-Four da Futsal Cup, em Lleida - Espanha. Juntámos 6 membros da Torcida Verde e decidimos comprar os bilhetes de avião para Barcelona e assim começavam a traçar-se os planos para a enorme aventura. Semanas mais tarde, o Sporting alcança as meias-finais da Taça UEFA e o sorteio ditou que a meia-final fosse disputada contra o Atlético de Bilbao. A Torcida Verde organizou a deslocação de autocarro e nós não queríamos faltar ao jogo, assim decidimos alterar o rumo do nosso destino e prescindir do bilhete de avião esboçando um novo percurso: Lisboa – Bilbao no autocarro da Torcida Verde, Bilbao – Lleida em carros alugados e, por último, Barcelona – Lisboa de avião. Na véspera do jogo, saímos de Lisboa por volta das 23.00 horas. Existia um enorme frenesim na sede, a ultimar os preparativos da deslocação. Viajámos num autocarro de 2 andares. A viagem durou 9 horas e nesse tempo muito se conversou, saltou, cantou,
(bebeu), partilhou. A animação era tanta que a porta do autocarro não aguentou e abriu-se em movimento, em plena auto-estrada! Pelo menos uma pessoa ficou em desequilíbrio mas os restantes puxaram-no para dentro e fecharam a porta. Não ganhei para o susto mas ninguém se magoou e não foi por isso que os festejos abrandaram. Chegados a Bilbao faltavam várias horas para o início do jogo e existia tempo para descontrair. Passeámos pelas ruas da cidade. Bilbao estava repleta de adeptos dos dois clubes enchendo as ruas e as esplanadas. O convívio e a boa disposição eram contagiante, fossem eles adeptos dos clubes ou por exemplo senhoras de idade muito avançada que regressavam a casa com as compras da mercearia. Todos estavam em festa. Durante a tarde, já nas imediações do estádio, um grupo de elementos da Tor andava a jogar à bola sendo a baliza um portão de St. Mames, tal era o ambiente de festa e descontracção.
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EUROTOURS Chegou a hora do jogo e as fortes medidas de segurança e o policiamento especial e rigoroso faziam-se notar. Uma das imagens que me recordo é que apenas os olhos dos polícias estavam descobertos e vários seguravam cães. Dentro do estádio o ambiente voltou a aquecer, um jogo de nervos mas com um apoio incrível e com um pulsar na curva contagiante. A Torcida apresentou um stencil/pano em homenagem ao ultra Iñigo Cabacas que tinha falecido há alguns dias, no final do jogo, todo o estádio em uníssono gritava pelo Sporting. Um momento arrepiante, que contrastava com a tristeza e com a derrota que todos nós sentíamos na curva e que dificilmente será esquecido. O jogo terminou e as medidas de segurança voltaram a fazer sentir-se, mais rígidas do que antes, no entanto, isso não impediu o convívio entre adeptos e ultras de ambas as equipas.
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Um dos momentos mais caricatos desse dia foi exactamente esse... vários policias a formarem um cordão policial, com os braços entrelaçados entre si, e pelos intervalos que os braços formavam, membros da Torcida, e não só, trocavam cachecóis, com os adeptos Bascos cumprimentavam-se mutuamente e felicitavam pelo espectáculo que tínhamos acabado de assistir. A situação era tão “bizarra” que a policia acabou por desmobilizar e permitir que convivêssemos livremente. Do estádio seguimos então com alguns membros da Herri Norte, e festejamos com eles a sua passagem à final. Foi sem dúvida a noite com maior fair-play que vivenciei até hoje. Nós éramos os “pontos verdes” no meio de uma enorme mancha vermelha, mas em nenhum momento me senti insegura, eramos amigos e comemorámos, conversámos e convivemos pela noite dentro.
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Na manhã seguinte, e com muito poucas horas de descanso, fizemos as malas e fomos até a rent-a-car para levantar os carros e conduzirmos até Lleida. Lá chegados, pedem a carta de condução e o cartão de crédito do condutor mas faltava-nos um desses documentos. Tinha ficado esquecido em Portugal! A rent-a-car não facilitou, não deu alternativas e nós acabamos a sair da agência de “mãos a abanar”. Começava assim a nova aventura… Com 450km para fazer e com um jogo (com o Barcelona) nesse mesmo dia, o meu nível de stress era gigante! Ninguém conseguia diminuir o meu estado de nerv-
os. Comigo viajavam 3 membros experientes da Torcida, habituados a que os planos falhassem e prontamente começaram a pensar em alternativas. O certo é que chegamos a Lleida a tempo, mas para que isso acontecesse: andamos de autocarro até chegar a Zaragoza onde nos esperavam dois membros da Tor que fizeram cerca de 300 km para nos alcançar. Um esforço notório destes membros e que muito agradecemos. Depois do jogo, foram outros dois membros que nos levaram a Barcelona onde tínhamos a casa alugada. Chegámos à morada já de madrugada, quando claramente não era esse o horário combinado com o 5
EUROTOURS proprietário. O proprietário estava visivelmente chateado, estava à nossa espera desde as 21h e contava com 4 hóspedes, males entendidos provocados inglês utilizado na troca de e-mails aquando a reserva. À 1 hora da manhã, viu a sair de uma carrinha de 8 pessoas, com várias malas com um mau ar (o cansaço era gigante) e não tardou para dizer que não nos hospedava. Seguiu-se uma discussão enorme com o proprietário. Mostrámos os e-mails que referiam um grupo de 6 pessoas para assistir a UEFA Futsal Cup, tentámos explicar tudo o que tinha acontecido desde aquela manhã, vezes e vezes sem conta, mas o diálogo era muito complicado. O senhor estava irredutível e apenas dizia que existia um hotel no final da rua a 100€
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por quarto! No final, a outra rapariga do grupo tomada pela exaustão e pelo pânico de não termos sitio onde dormir, apelou ao melhor lado do proprietário e negociou o valor extra para resolver os mal entendidos. Mais de uma hora depois a questão estava ultrapassada em troca de 60€. Ao longo dos dias, outros percalços e histórias ficam na memória, incluindo: ver a bancada abanar quando toda a claque do Barcelona batia com os pés no chão ao mesmo tempo e de uma forma ritmada, a minha primeira troca de cachecol incentivada pelo meu irmão, os festejos do 30º aniversário numa discoteca dum membro da Torcida Verde, operações stop à saída da discoteca, o atraso na chegada ao aeroporto no dia de vir embora, entre outros.
EUROTOURS Conseguimos embarcar, fomos os últimos. Estávamos cansados, desertos para chegar a casa, o Sporting tinha perdido todos os jogos, mas eu vinha mais rica. Tinha finalmente compreendido o que levava o meu irmão a falar com tanta paixão do movimento Ultra, de outras grupos ultras, de tudo o que existia para além dos 90 minutos de jogo… Tinha conhecido pessoas novas e convivido dentro e fora da Torcida Verde… Tinha sentido o espírito de grupo e de família que existe na Torcida e que tantas vezes é comentado… Tínhamos conseguido ultrapassar todos os percalços que surgiam e que não foram poucos…
Senti-me membro e parte integrante do grupo. Em suma, em 4 dias materializaram-se muitos dos conceitos e ensinamentos que os membros do grupo me tinham passado, que fazem a Torcida Verde ser o grupo inconfundível que é. Tudo isto, para além das memórias inesquecíveis e do crescimento a nível pessoal, foi o catalisador que aumentou a minha vontade de aprofundar o conhecimento sobre a história da Torcida e do movimento Ultra e que hoje me faz relatar o passado com a mesma paixão que via no meu irmão e em outros elementos do grupo.
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mentalidade PAULINHO “pescado” a beira mar No mês de Agosto de 1987 vivemos um episódio que mudaria para sempre a vida de um jovem sportinguista. Naquele ano o verão estava particularmente quente e o mês de Agosto atingia o pico das temperaturas, pelo que a praia era o refúgio mais apetecível para fugir à canícula. Em plena praia de Carcavelos, destacava-se um veraneante equipado com umas calças de fato de treino pretas (!) e uma camisola do grande SCP, o qual se exercitava com uma bola junto à beira-mar, resistindo a visíveis limitações físicas. O apelo desta manifestação clubista foi irresistível pelo que o primeiro contacto com aquele verdadeiro “leão-marinho” seria inevitável. Vencidas inesperadas dificuldades de comunicação com a universal linguagem leonina, o veraneante Paulo
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Gama seria nosso companheiro de praia nos dias que se seguiram. Uma visita ao seu lugar de alojamento seria o próximo passo. A viagem até à CERCIL de São João de Brito, proporcionou-nos a descoberta de um novo mundo, também participado pelos companheiros do Paulo. No seu quarto integralmente forrado com recortes de revistas e jornais com notícias e atletas do SCP, Paulo Gama parecia viver noutro mundo. O seu mundo. O inevitável contacto com a directora do centro de acolhimento era o caminho para levar aquele incrível adepto leonino aos jogos em Alvalade, exigindo-nos o compromisso de ir buscar o Paulo antes dos jogos e no final dos mesmos levá-lo de volta. Esta tarefa seria facilitada pelo
facto da nossa sede de então situar-se na Praça de Alvalade, perto da CERCIL de Alvalade. Volvidos meses, fomos “convocados” para uma misteriosa reunião com os responsáveis do Centro de acolhimento do Paulo. O psicólogo responsável começou por fazer o ponto de situação do Paulo Gama decorrente da experiência com a Torcida Verde, valorizando a sua maior sociabilidade com os companheiros do centro, decorrente da evolução da capacidade comunicativa e até motora. A questão de fundo porém era outra; Paulo Gama estava prestes a atingir a maioridade, pelo que não poderia permanecer naquele Centro. Foi então que os responsáveis da CERCIL de Alvalade nos afirmaram que a “solução” poderia passar pela sua integração no SCP. Surpreendidos e atónitos, explicámos aos nossos interlocutores que não tínhamos competência para conquistar esse sonho, ainda para mais numa altura em que não tínhamos quaisquer apoios no clube. Disponibilizámo-nos a proporcionar uma reunião com directores do SCP, da qual resultaria a integração do Paulo Gama nos quadros do SCP. O resto é do conhecimento público. O Paulo conquistou o respeito de todos os funcionários do SCP e o carinho de toda massa adepta leonina. Em 2002 o Paulo foi premiado pela UEFA em Mónaco. Paulo Jorge Gama, o agora popular “Paulinho”, significa por si mesmo, uma gran
de demonstração de afirmação da Torcida Verde. Podemos dize-lo sem qualquer dose de “arrogância”. O prémio da UEFA para o SCP foi, antes de mais, para o Paulinho e também, já agora, para a Torcida Verde e os técnicos que connosco interagiram. Eis uma demonstração do carácter interventivo dum grupo organizado de adeptos, a Torcida Verde e dum Clube, que ostenta o estatuto de utilidade pública, o Grande Sporting Clube de Portugal.
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simbolosscp Jesus Correia, um grande desportista. Jesus Correia foi um desportista de eleição, jogando em simultâneo Futebol e Hóquei em Patins ao mais alto nível, chegando inclusive a representar em ambas as modalidades a Selecção Nacional. No Hóquei em Patins, Jesus Correia jogou no Paço de Arcos, onde alcançou algumas vezes o titulo de campeão da 1ª Divisão, somando diversas internacionalizações, sagrando se mesmo Campeão Europeu e Mundial. No futebol foi o extremo-direito da mais forte linha avançada de todos os tempos em Portugal, que ficou celebremente conhecida pelos cinco violinos. Conquistou ao serviço do nosso Sporting sete Campeonatos Nacionais, duas Taças de Portugal e dois Campeonatos de Lisboa, onde jogou durante nove temporadas, entre 1943 e 1952, jogando mais de 300 partidas de leão ao peito, 208 das quais de carácter oficial, marcando 160 golos, entre os mais de 250 que totalizou ao longo da carreira, números verdadeiramente impressionantes, que fazem do mesmo um dos mais brilhantes e completos jogadores da história do futebol português. Jesus Correia nasceu em Paço de Arcos e foi no clube local que se iniciou a jogar Hóquei em Patins, e tentou a sua sorte no Futebol do Belenenses, porém foi reprovado por Augusto Amaro, que curiosamente seria o seu ídolo.Quem ficou a ganhar foi o S.C.P., porque Joseph Szabo, que morava perto de Paço de Arcos, o foi descobrir nos treinos do Hóquei, definindo-o logo como o “atleta ideial”. 14
”. Pouco tempo depois Szabo tratou de levar Jesus Correia para o nosso clube, e apesar do Estoril se ter intrometido na corrida pelos serviços do atleta, a intervenção do seu chefe, que na altura era também dirigente do Sporting, no Grémio dos Armazenistas de Mercearia, onde trabalhava, desviou o para a equipa de Alvalade. Recebeu a quantia de 12.000$ para assinar o contrato e na sua primeira época ao serviço do clube leonino, sagrou se logo Campeão Nacional. Só na temporada seguinte é que Jesus Correia se viria a afirmar como titular indiscutível do nosso Sporting, ocupando o lugar de Adolfo Mourão, outro atleta histórico do nosso clube. Nesta época viveu uma das suas inúmeras tardes de glória, na Final da Taça de Portugal de 1945, quando foi
o marcador do golo solitário com que o S.C.P. derrotou a equipa do Olhanense, a poucos minutos do fim do jogo. Outra tarde inesquecível para este grande atleta aconteceu em Madrid, onde num jogo contra o Atlético local, Jesus Correia marcou 6 golos, na nossa vitória por 6-3. Nesta altura já era presença assídua na Selecção Nacional Portuguesa, na qual realizou 13 partidas, registando 3 tentos. Abandonou o futebol em 1952, quando tinha apenas 28 anos de idade. Foi pressionado na altura pelo Sporting a optar entre o futebol e o Hóquei em Patins. Optou então pelo Hóquei, e pelo clube da terra onde tinha nascido, deixando assim espantado e em choque o mundo leonino, que não pensava que Jesus Correia tomaria esta opção. O atleta explicou
na altura, que devido a já ter 30 anos de idade, seria mais fácil para si conseguir manter se ao mais alto nível no Hóquei em Patins. A sua ligação afectiva ao nosso clube prolongou se ao longo do tempo, tendo sido um dos cinco violinos distinguido com o Prémio Stromp na categoria “Saudade” em 1993 e com a medalha de ouro do Sporting Clube de Portugal. Faleceu a 30 de Novembro de 2003, quando já era o único dos violinos ainda presente entre nós. Pouco tempo antes de falecer, foi ele que deu o pontapé de saída na inauguração do novo Estádio José Alvalade, num jogo que opôs o nosso clube contra a equipa inglesa do Manchester United.
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