Versos livres 2

Page 1

2

Versos Livres A poesia está em tudo

Editor: Antonio Luiz Lopes ( Touché) Guarulhos - SP


Capa original do fanzine , publicado em 1999


VERSOS LIVRES a poesia está em tudo

Conteúdo da edição nº 2 do fanzine Versos Livres, Guarulhos, SP, editado para livro eletrônico. Diversos Autores. Filiado à FEBAC. Federação Brasileira de Alternativos Culturais http://fanzineversoslivres.blogspot.com.br

Editor: Antonio Luiz “Touché” touche.sp@uol.com.br

Ilustrações: Edgar Walter, Luiz de Souza, Raymond Leech


SUMÁRIO Sonhos (Isabel Borazanian) Guarulhos, 20 anos ( Pedro Jorge) Quase Ecológica ( Touché) Jimmy Hendrix (José Alaércio) Inspiração Interrompida ( Jurandy Santos) Nova Semana de Arte Moderna (Emerson Oliveira) Quadro de Palavras (Nefert Irã) Orvalho ( Rodrigo César) Cidadão do Mundo (Valéria L. Santos) Estou Vendendo a Mim Mesmo ( Castelo Hansenn) Os Sonhos ( Rubens G.) Restos de Sol ( Célia Regina) Noite ( Pedro Dias Gonçalves) Pré Modernismo/Versos Íntimos (Augusto dos Anjos) Livros Recebidos

9 10 13 14 18 19 21 22 23 27 29 31 32 33 36


SENSAÇÕES




SONHOS

São lanças lançadas Querendo beijar um pedaço do céu. São formas fincadas plantadas no chão. São sonhos se armando em segredos de paixão

Isabel Borazanian (Guarulhos-SP)

9


GUARULHOS 20 ANOS Cidade que eu vi crescer uma geração inteira, desde os tempos de colégio. Quanto tempo passou ! A garotada cresceu e foi cada um pro seu canto. Muita coisa mudou, mas continua provinciana Ninguém foi realmente embora. Quem não lembra de quem e quem não conhece quem ? Cidade provinciana de relações provincianas. Guarulhos, para mim, é uma Igreja no centro que já foi diferente.

10


É um colégio de padres que já não é de padres. A Dom Pedro e Sete : Uma rua que desce Outra que sobe, uma grande ladeira que me leva prá casa. E uma estação de subúrbio que se transformou numa praça, onde me sento prá fumar. Guarulhos, é isso : uma cidade. um subúrbio Um monte de preconceitos e de tramas secretas. E um amontoado de pessoas vazias. que me olham. Guarulhos para mim é tudo : o primeiro baile, o primeiro amor, o primeiro porre. 11


Os amigos que perdi, os amigos que ganhei a poesia e a perdição. Guarulhos está no meu sangue, é meu passado, É meu presente meu ódio e meu amor. A vontade de fugir . A vontade de ficar Guarulhos é isso : Um símbolo na minha vida.. Uma página em branco onde escrevi minha história.

Pedro Jorge Guarulhos-SP

12


QUASE ECOLÓGICA

Plantaram nessa terra, uma frondosa árvore. Que se chama Ignorância. Que todo dia, os artistas, os estudantes e os operários vão regar, com o suor de seus rostos

Touché Guarulhos/SP

13


JIMMY HENDRIX

Seus dedos traziam cada toque com a força de um raio que explodia os acordes e sua guitarra como ele tomava forma humana e gritava e chorava e ria até chegar em pleno orgasmo e depois penetrava num êxtase profundo e como um pluma vagava pelos prados da delícia... mas de repente sem que sua própria mente percebesse aqueles dedos inquietantes eletrizavam tudo, novamente querendo 14


outros limites e navegavam furiosos fazendo aquele instrumento entre gritos e choros dizer ao mundo toda a incerteza de uma geração. e foi numa força cósmica que ao mergulhar no seu mundo , ele encontrou seu limite ilimitado e nos restou então só um adeus... ( trecho )

José Alaércio Guarulhos-SP

15


QUADRO DE PALAVRAS

16


17


INSPIRAÇÃO INTERROMPIDA

O poeta lírico teve uma inspiração de amor Que acabou quando o onibus lotado de proletários famintos Passou E Deus ficou quietinho Em seu templo azulado ..

Jurandy Santos São Paulo

18


NOVA SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1999

In splendóribus 1999 O sacro momento Pange Língua mio dio.. Dois amores, duas artes... Splendóribus momento.. 1999 1999 1999 1999 1999 Admirável ano De nossos amores.. Feche a porta e deixe-me amá-la, nem que seja por alguns minutos... Inumeráveis são as carícias Por entre os livros, cadernos E folhas avulsas.. Incendeia-me Poemas inacabados.. Oramos em silêncio Entre beijos e abraços.. Um novo livro ,novas vidas É 1999, de amor sem fim.. É 1999, uma nova época Surge solene... 19


Embriagada por desvarios E encantos passados.. Posso ver Oswald de Andrade Com sua coroa de flores Emergindo Neste mar de calmaria.. Embevecido por esta Tarde chuvosa.. E aí consigo ver você, Largada nostálgica Nesta cama.. Venha Tarsila do Amaral, Anita Malfati Cecília Meirelles Cantar comigo 1999 Porque todos os gostos são bons.. E todas as tardes suaves.. Mário de Andrade pede bis!!

Emerson Oliveira Cubatão - SP

20


QUADRO DE PALAVRAS

Os verdes campos De outrora , Hoje são vermelhos E brotam neles As sementes da revolta.. São Josés Que não se conformam , São Marias Que não se consolam.. Pedrinhos e Narizinhos Nos faróis da cidade , Esquecidos sem identidade.. Este quadro, Eu pinto do Brasil, Com tinta fresca da realidade Que todo mundo Finge que não viu...

Nefert Irã (do livro "Aos Poetas" )

21


ORVALHO Orvalho Fruto da noite Brotando nos galhos Rodrigo CĂŠsar Curitiba/ParanĂĄ

22


CIDADÃO DO MUNDO

Pobres cidadãos do mundo ! Devorados Pelos dentes de cristal.. Encarcerados Entre as grades agressivas E as muralhas do medo.. Trancafiados Cidadãos do mundo... Atrás do concreto Das correntes e trincos Entre cofres e alarmes Nas fortalezas do medo.. Pobres Cidadãos do mundo Empilhados Em prateleiras de concreto Tendo por céu... O teto !

23


E por jardins O congestionamento Dos pĂĄtios de cimento...

ValĂŠria L. Santos Guarulhos- SP

24


HORIZONTES

25


26


ESTOU VENDENDO A MIM MESMO

Estou vendendo a mim mesmo, Quem dá mais ? Quem dá mais ? Prostituto de um mundo decadente Vendo meu corpo, minha mente... Eu sei falar mentiras cavernosas Eu sei calar verdades dolorosas Encher de letras um monte de papel... Sei escrever discursos laudatórios.. Sei escrever poemas em mictórios Falar doçuras, destilando fel.... Estou vendendo a minha pena (que pena) Pelo melhor preço da praça ( de graça ) Por uma casa, um fusca ,um TV colorido Um prato de lentilhas, ou mesmo um bom sortido..

27


Estou vendendo a mim mesmo Quem dá mais ? Quem dá mais ? O resto, as coisas que não valem nada (meus sonhos, vícios, medos e besteiras, o meu primeiro amor, a poesia primeira, as coisas que envergonho de dizer) Essa, eu guardo muito bem guardado, Debaixo do meu pé de goiabeira Onde enterrei meus passos e meu gato Onde brinquei de príncipe encantado Onde sonhei em conquistar o mundo Onde eu pensei que a vida é prá valer. Estou vendendo a mim mesmo.. Quem dá mais ? Quem dá mais ?

Castelo Hannsenn Guarulhos/SP

28


OS SONHOS

Os sonhos se perdem Na hora da realidade. Os sonhos morrem Na visão da verdade. É tão triste Ver tudo se acabar É tão triste Ver o que a gente quer Não se realizar.. Os sonhos vão deixando De ocupar espaço Os sonhos das artérias. Das veias, dos nervos de aço É tão triste ver a moléstia É tão triste ver Os mefistófeles sem justiça Os sonhos voam na imaginação Os sonhos dos diversos Sem nexo, sem sexo, 29


sem aterrisão... É tão triste ter subordinação É tão triste se fazer acepção Os sonhos Correm pela estrada infinita Os sonhos dos avós, dos pais Dos tios, filhos e do artista.. É tão triste ver nada se criar Da maneira que a gente Se fez planejar.. Os sonhos Navegam no imenso mar.. Os sonhos da imagem do sol no céu do luar.. É tão triste ver tudo se acabar É tão triste ver o que a gente Quer não se realizar....

Rubens G. Guarulhos/SP

30


RESTOS DE SOL

Restos de sol no céu Precedem o anoitecer.. Restos de vida em mim Sustentam minhas ilusões.. A angústia atormenta A razão vacila.. O olhar se apaga A tarde padece.. Envolta no crepúsculo.. E no céu vermelho Os rastros de nuvem Cintilam o espaço Enquanto perseguem O horizonte.. E os restos de mim Gotejam pelos caminhos, Enquanto perseguem Meus sonhos.. Célia Regina Guarulhos /SP 31


NOITE

Festa de luzes, gotas de luar Surpreendendo-nos pela tua janela ; Os meus olhos fixos no teu corpo, Tua figura divinamente bela e a luz enciumada esconde-se Escurecendo o quarto, Trazendo negritude Sem saber que a luz Que vem do teu olhar Ilumina a alcova em sua plenitude

Pedro Dias Gonçalves Do livro : “Momentos”

32


O PRÉ MODERNISMO

VERSOS ÍNTIMOS

Vês ! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão - esta pantera Foi tua companheira inseparável ! Acostuma-te à lama que te espera ! O Homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras, sente inevitável Necessidade de também ser fera. Toma um fósforo. Acende teu cigarro ! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija !...

Augusto dos Anjos

33


Augusto dos Anjos (1884-1914) foi um importante poeta brasileiro, deixou sua marca na literatura pelas inovações temáticas e de estilo. Chegou a ficar conhecido como “Poeta da morte”, pela obsessão que nutria pelo tema. “Versos Íntimos” é um dos poemas mais conhecidos do escritor, que morreu muito jovem, com apenas 30 anos. O único livro publicado em vida foi “Eu”. O autor foi inspirado por importantes nomes da literatura, como Olavo Bilac e Graça Aranha. Apesar de ter convivido com o parnasianismo e o simbolismo, apresentou inovações na escrita, sendo difícil classificá-lo em apenas um movimento literário. O autor é classificado até como poeta prémodernista. O período literário conhecido como PréModernismo situa-se, aproximadamente, nas duas primeiras décadas do séc. XX, precedendo o movimento modernista de 34


22. Na verdade, o Pré-Modernismo não corresponde a uma escola literária, mas sim a um confluir de escritores que, não correspondendo a nenhuma das estéticas de fins do século XIX, tiveram uma produção de impacto, apresentando novas vertentes estilísticas e/ou temáticas em nossa literatura. Os principais autores do período são: Lima Barreto (1881-1922) João do Rio (1881-1921) Augusto dos Anjos (1884-1914) Euclides da Cunha (1866-1909) Monteiro Lobato (1882-1948) Fonte: http://educacao.globo.com/literatura/assunto /movimentos-literarios/pre-modernismo.html

35


LIVROS RECEBIDOS Vasto Abismo - novelas. Nilto Maciel - Ed. Cótica. Caixa Postal 2205- Brasília- CEP 70349- 970 – Trecho: " Como é fácil enganar com palavras ! Quem perceberá o quanto estou iludindo ? Ou estarei me enganando com palavras ? Não, não existe engano, ilusão. Nós é que estamos inaptos para as sutilezas. Ninguém pode escapar ao sortilégio das palavras que inventa. No entanto, poucos são os inventores de palavras e sonhos. A história de cada um de nós é a história que inventamos. Nós a mitificamos a cada sonho, a cada delírio, a cada descida ao poço da consciência."

36


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.