A Cin Cravel Novel
Grave Sins
Papyrus Traduções de Livros
“Qui sait beaucoup ne craint rien.” “Do muito saber vem o nada a temer.”
os braços de seu amado Michael, Cin Craven encontrou satisfação para seus desejos mais primitivos, alcançando alturas de prazer que nenhum mero humano poderia imaginar. Ela também descobriu um propósito para seus poderes sobrenaturais. Cin é membro de Os Justos, um bando de assassinos que persegue os vampiros que infligem o mal sobre o mundo. Com Michael ao seu lado, a última missão de Cin a traz cara-a-cara com Marrakesh, uma bela rainha dos vampiros, meio louca e acusada pelos assassinatos humanos. Se ela for considerada culpada, Marrakesh pagará com sua vida. Cin está mais convencida de que alguém - ou alguma coisa muito mais implacável está tentando roubar o trono da rainha. É uma missão que irá colocar Michael e Cin um contra o outro, pela primeira vez, despertar o seu instinto mais sombrio e testar o seu amor como nunca antes.
Capítulo
A
mor. Uma palavra tão pequena. Quatro letrinhas. E ainda ele é o eixo sobre o qual nossas vidas se resolvem. Nós vivemos para ele, morremos para ele... matamos por ele. É o ímpeto que nos impulsiona a fazer coisas extraordinárias, ou terríveis. Ele tem criado e destruído vidas, reinados, impérios. Ele é a luz e a escuridão dentro de todos nós. Ele é o melhor de nós, e o pior de nós. Amor é, em resumo, a magia mais poderosa no mundo. E eu conheço um pouco sobre magia...
Ravenworth Hall, próximo à Londres Outubro 1828 Eu olhei abaixo para a criança, seu rosto corado de sono, e sorri. Estendendo a mão, eu corri as costas dos meus dedos sobre a velha gata cinza dormindo próximo a ela. A gata miou suavemente para mim antes de enfiar seu nariz na lanugem de sua cauda e fechar seus olhos. — Velhinha amuada —, eu sussurrei. — Não se preocupe, Prissy, eu não vou perturbar a sua garota. Inclinando-me abaixo, eu beijei a testa de Janet. Eu estava enfiando as cobertas mais aninhadamente sob seu queixo quando eu ouvi uma suave gargalhada da entrada da porta.
— Qualquer outra mãe iria morrer de medo ao ver um vampiro inclinado sobre sua filha dormindo —, Fiona disse, colocando seu ombro contra o vão da porta. — Eu preferiria me apunhalar no coração que ameaçar uma criança, especialmente sua criança, Fi, e você sabe muito bem disso —, eu zombei. Eu cruzei o quarto e olhei abaixo ao de oito anos de idade, Ian, negando com minha cabeça. — Pelos deuses, ele até mesmo dorme como um menino. As cobertas de Ian eram um chumaço no pé da sua cama. Seus braços estavam atirados sobre sua cabeça, e uma perna estava se arrastando para fora da beirada do colchão. Eu gentilmente movi sua perna de volta para cima do colchão enquanto Fiona endireitava os cobertores. Quando seu filho estava enfiado apertadamente de volta na cama, Fiona se aproximou e deslizou seu braço ao redor da minha cintura. Eu retornei o gesto e inclinei-me contra ela. — Você fez bem sozinha, Fi —, eu disse. — Você tem uma adorável família e uma boa vida. — Sim, bem, eu posso agradecer minha prima Dulcie por morrer e me deixar essa propriedade e uma renda substancial. — De nada —, eu disse com uma gargalhada —, mas eu não tive nada a ver com esses bebês. Fiona deu de ombros. — Não, mas graças ao seu legado eu não era mais a filha da governanta da casa e eu fui considerada uma esposa bastante adequada para o filho mais novo de Lorde Bascombe. Eu bufei. — John Bascombe poderia ter casado com qualquer garota que ele escolhesse, fosse ela a filha de um duque ou a copeira. Não é como se ele precisasse se preocupar sobre o pai dele renegando-o. Fiona sorriu perversamente. — Sim, quem teria pensado que o magricela John Bascombe retornaria de anos da Índia, todo crescido e lindo como o diabo —, ela disse, sustentando sua mão para cima para que a luz da vela tremeluzisse e dançasse para fora da enorme safira do seu anel de casamento —, e rico como Creso1 para começar. — Ah, então agora nós sabemos a verdade! Você se casou com ele pelo dinheiro dele, não casou? 1
(Creso- foi o último rei da Lídia, da Dinastia Mermnada, (560–546 a.C.), famoso pela sua riqueza, a qual foi atribuída à exploração das areias auríferas do Pactolo)
— Ha. John tem qualidades muito mais... convincentes... do que seu dinheiro. — Oh, pare —, eu disse. — Eu estou tendo imagens muito impróprias da jovem estrela em ascensão da Câmera dos Comuns2. Fiona me acotovelou nas costelas. — Seja imprópria com seu próprio marido. — Oh, eu sou —, eu disse com uma piscadela. — Frequentemente. Nós rimos e caminhamos de braços dados até a porta. Era como se nós fôssemos crianças novamente, como se eu nunca estivesse partido. Como se eu nunca... eu parei e olhei para trás para as crianças. Fiona sorriu e apertou minha mão. — Você alguma vez se arrependeu? — ela perguntou Eu me arrependi? Mesmo nos momentos de silêncio quando eu não podia mentir para mim mesma? — Não —, eu disse, honestamente. — Eu fiz o que eu tive que fazer ou Kali e Sebastian teriam matado todos nós. Você tem uma boa vida, Fiona. Você tem a vida que eu deveria ter. Mas esse não era mais o meu mundo, e eu estou feliz com o caminho que eu escolhi. Eu tenho um homem incrível que me ama. Eu tenho aventura e propósito. E todo ano eu consigo vir até em casa por duas semanas e ver minha família. Eu não adicionei que todo ano me matava por dentro em ver que eles cresciam e envelheciam quando eu nunca envelheceria, nunca morreria. Eu não adicionei que me preocupava que algum dia nós seríamos pegos escapando para Ravenworth por duas semanas de solidão – que algum ano John ou alguém mais que soubesse que eu estava ―morta‖ me encontraria aqui. Eu não adicionei que algumas vezes eu sentia falta de ser a simples Dulcinea Macgregor Craven, a única filha do Visconde Ravenworth, ao invés de ser Cin Craven, a Bruxa Ruiva dos Justos, juiza, júri e carrasca do Conselho Sombrio dos Vampiros. — Você nunca desejou ter filhos? — Fiona perguntou. Eu estalei minha cabeça ao redor, tirando-me do meu devaneio. — Não realmente —, eu respondi, inclinando a minha cabeça a um lado. — 2
(câmera dos comuns – é a Câmera dos Deputados do Parlamento do Reino Unido)
Especialmente quando o grito do seu mais novo parece que arranca a nossa cabeça dia e noite. — Eu não o ouço —, Fiona disse, franzindo o cenho. — Você não tem o sentido vampírico da audição —, eu respondi. — Eu posso ouvi-lo pela casa toda. — Me desculpe, Dulcie. É melhor ir ver qual é o problema. Eu juro que ele é o filho mais necessitado que eu tenho. Ele é apenas um menino, apenas como seu irmão. Janet dormia pela noite desde o início, mas não meus meninos. Ele me desgasta, aquele lá —, ela disse, mas ela sorriu enquanto disse. — Aparentemente ninguém disse á Mackenzie Bascombe que trinta e cinco era inteiramente muito velha para sua mãe estar tendo mais bebês. — Ele teve algo como uma surpresa —, eu concordei. — Nós temos outra surpresa —, a mãe de Fiona disse enquanto ela descia o corredor. — E eu não estou certa se você irá gostar, querida. A mãe de Fiona, Jane Mackenzie, tinha sido minha babá e, mais tarde, a governanta de Ravenworth. Ela esteve ali por toda a minha vida. Ela esteve ao lado da cama de minha mãe quando eu nasci e ela esteve ao lado da minha cama naquela noite, treze anos atrás, quando eu me ergui como um vampiro. Eu parti de Ravenworth Hall e deixei uma renda considerável para Fiona por minha vontade, e agora Sra. Mackenzie não era mais uma governanta. Ela ainda governava Ravenworth como ela sempre fez, mas dinheiro comprou para ela o devido respeito de uma viúva. Sra. Mackenzie era ainda uma bonita mulher de cinquenta e dois. Seu cabelo de cor acastanhada estava grisalho nas têmporas, e seu rosto tinha suaves linhas de expressão ao redor dos seus olhos e boca. Aqueles lábios que tinham me dado beijos de boa noite cada noite de meus vinte e dois anos humanos estavam agora enrugados de preocupação. — O que está errado? — eu perguntei. — Há um homem na porta. — Um homem? — Um vampiro. Bem, eu estou positivamente certa que ele seja um vampiro. Ele perguntou por Devlin.
Todo o meu corpo enrijeceu. — Você não o convidou para entrar, convidou? Sra. Mac bufou. — Claro que não. Eu relaxei de alguma maneira. Devlin e Justine estavam fora caçando com Michael, mas eles deveriam estar de volta logo. — Fiona, vá verificar o bebê. Sra. Mac, fique aqui com as crianças. Eu vou cuidar disso. Eu andei para baixo no corredor, meu temperamento aumentando com cada passo. Pelos deuses, eu consegui duas semanas de paz e sossego em um ano. Eu me perguntei que tipo de idiota suicida seria tolo o bastante para aparecer na minha porta, sem ser convidado, com minha família na residência. Ele teria sorte de partir de Ravenworth com sua cabeça ainda atada ao seu corpo.
O idiota era definitivamente um vampiro; eu podia sentir isso entre os momentos de abrir a porta. Ele era velho, também, até mesmo mais velho do que Devlin, talvez. Ele tinha cabelo escuro e sua pele parecia bronzeada, o que significava que ele era originalmente de algum lugar mais exótico do que a Inglaterra. Ele era de altura e constituição mediana. De fato, não havia nada sobre ele que não fosse mediano. Ele não era bonito como Michael ou irresistivelmente masculino como Devlin. Ele não era nada fora do extraordinário... até ele virar seus olhos pálidos aos meus e sorrir. — Srta. Craven —, ele praticamente ronronou enquanto ele erguia minha mão à sua boca. — Um prazer tomar seu conhecimento. Ele roçou seus lábios sobre meus nódulos e eu respirei um suave e involuntário ―oh.‖ Não, ele não era classicamente bonito, mas havia algo tão cru e vulgar nele que você realmente não teria notado. Observando seus lábios demorarem-se nos meus dedos me fizeram pensar naqueles lábios se movendo sobre outros lugares mais íntimos. Então é assim como se sente quando se está enfeitiçada, eu pensei. Não. Não, isso não era certo. Uma das coisas boas sobre ser um vampiro é que outro vampiro, sem importar quanto velho ele possa ser, não pode usar truques da mente contra você.
Eu puxei minha mão dele, franzindo o cenho, e estreitei meus olhos. — Quem pelo inferno sangrento é você? — Eu sou Drake, Sentinela do Conselho Sombrio. — Sua voz era rica com um sotaque exótico, Europa Oriental, talvez. Isso me deu imagens mentais de castelos sombrios e escuros, com montanhas obscuras. — Eu vim para falar com Devlin, de fato com todos vocês quatro. Eu tenho um pedido pessoal do próprio Alto Rei. — Você terá que esperar. Os outros estão fora no momento. — Minha voz soou profunda até mesmo para meus próprios ouvidos. — Então eu devo esperar. Eu posso... entrar? A inflexão da sua voz quando ele disse entrar soou quase como uma afirmação, e eu não tive dúvidas que ele tinha a intenção que eu levasse isso dessa maneira. Por um momento era tentador, mas o longínquo choro do bebê de Fiona me trouxe bruscamente de volta aos meus sentidos. — Realmente, não —, eu disse com um sorriso frio, e então eu fechei a porta na cara dele. Eu me inclinei contra a madeira e esfreguei os arrepios gelados do meu braço. Senhor e Senhora, o que era isso tudo? — Quem era, querida? — Sra. Mac perguntou do patamar da escadaria. — Problema —, eu disse, simplesmente. Quando ela franziu o cenho em confusão, eu elaborei. — Ele diz que é do Conselho. Deixemos Devlin e Michael tomarem conta disso quando eles retornarem. — Você vai apenas deixá-lo ali fora? — Eu vou. Você e Fiona vão para a cama. Vocês são as únicas que podem convidá-lo a entrar, e eu não o quero dentro dessa casa sob qualquer circunstância. Ele pode muito bem ser um bom homem, mas ele... me perturba. Eu passei por ela nas escadas e me inclinei e dei um beijo na sua bochecha. — Oh, e Sra. Mac? Quando você irá se casar com aquele homem? Ela corou e gaguejou —, O que? O que você está – — Não se incomode em negar. Eu o tenho cheirado em você nos últimos oito verões. Lorde Bascombe tem sido um viúvo por dez anos agora. Você não acha que é hora de você torná-lo um homem honesto?
Eu sorri perversamente e flutuei para cima nos degraus, deixando Sra. Mackenzie no patamar com sua boca aberta e seu rosto com uma charmosa tonalidade de rosa.
Capítulo
E
u fiquei de pé na janela do vazio quarto de hóspedes do outro lado do corredor ao meu quarto e assisti enquanto Michael, Devlin, e Justine vinham da floresta e se aproximavam da casa. Devlin, o líder do grupo, tinha seus braços ao redor da sua cônjuge e estava sussurrando algo no seu ouvido, seu cabelo loiro acariciando o rosto dele. Michael estava gargalhando com eles até seu olhar estalar em direção a casa e sua mão vir a descansar levemente na espada presa no seu quadril. Bom homem, eu pensei. Drake caminhou das sombras e foi cumprimentado por Devlin e Justine como se eles fossem velhos amigos. Drake e Michael simplesmente trocaram acenos respeitosos. Bem, isso foi interessante. Talvez eu não fosse a única perturbada pelo nosso inesperado convidado. Enquanto eles conversavam, Drake gesticulou em direção a casa e Devlin franziu o cenho. A cabeça de Michael subiu e seus olhos escanearam as janelas do segundo andar. Mesmo embora eu estivesse em pé na escuridão do quarto sob a luz sem luar, eu sabia que ele podia me ver. Ele arqueou uma sobrancelha para mim, e eu cruzei meus braços sob meu peito e neguei com minha cabeça lentamente de um lado ao outro. Michael me deu um aceno imperceptível e se virou de volta para Drake, colocando um braço ao redor
dos seus ombros em um gesto fraternal. Eu observei enquanto ele dirigia Drake em direção ao jardim da cozinha, Devlin e Justine seguindo em seu rastro. Havia um confortável mirante ali fora que ficaria bom para qualquer negócio que eles tinham que conduzir. Eu respirei um suspiro de alívio enquanto eu retornava para o meu quarto. Michael era meu cônjuge, meu amante, meu parceiro. Ele respeitaria meus desejos com isso, mas eventualmente eu teria que explicar por mim mesma. Isso, eu não ansiava. Eu caí pesadamente na minha cama e encarei o teto. O que era isso que me perturbava tanto sobre Drake? Que eu o achei atraente? Embora uma coisa rara, dificilmente era um crime. Eu pouco podia me lembrar dos rostos dos dois homens pelos quais eu fui fisicamente atraída antes de eu conhecer Michael, um de um lorde e o outro de um lacaio da casa de meu pai. Cada um deles tinha uma vez feito meu coração acelerar, mas agora eles eram, ambos, não mais do que um borrão de aquarela na minha memória. Michael queimava o meu sangue agora, e apenas Michael. Sentir uma atração por Drake, mesmo se eu não tivesse interesse em fazer nada sobre isso, de alguma forma parecia como uma traição. Justine teria me dito que eu estava sendo ridícula, que não havia mal em olhar enquanto seus lábios não seguissem seus olhos. Uma vez que ela era um vampiro de cento e cinquenta anos de idade e uma ex-cortesã, eu tendia a aceitar suas palavras em tais assuntos. Eu não tinha nada com o que me envergonhar, de verdade, mas não era tudo a mesma coisa. O que deveria ter me preocupado mais era que tipo de poder que Drake exercia. Eu sabia que ele não podia me enfeitiçar. Certamente Drake era velho, mas até mesmo Kali, que tinha passado dos dois mil, não tinha tido esse poder. Só não era possível, o que significava que qualquer que fosse o magnetismo que Drake possuísse tinha pouco ou nada a ver com ser um vampiro. Isso me fez perguntar o que Drake tinha sido como um humano. Todos tinham algum tipo de talento inato, e há algo na magia de fazer um vampiro que amplifica o que nós éramos quando nós éramos humanos. Eu tinha sido uma bruxa e minha magia estava mais forte agora, embora diferente em algumas maneiras, do que ela tinha sido quando eu estava viva. Michael
tinha sido um espadachim, e sua competência com uma lâmina era lendária dentre nossa espécie. Devlin tinha sido um soldado, um cavaleiro e um campeão, e poucos no mundo dos mortos-vivos podiam clamar se equiparar com suas habilidades e liderança, dentro e fora do campo de batalha. Justine tinha sido uma cantora de ópera e cortesã de reis. Eu frequentemente me perguntava se sua incrível voz tinha se tornado mais perfeita pela transformação quando Devlin a mudou, mas sempre pareceu uma pergunta muito rude para se fazer. Foi o seu passado como cortesã, contudo, que me fez lembrar de Drake. Eu tinha visto a forma como os homens, e mulheres, aliás, olhavam para Justine quando ela entrava nos ambientes. Ela era a encarnação do sexo. Drake tinha esse mesmo apelo, de uma forma masculina, vibrando para fora dele em ondas. Sim, definitivamente isso me fez perguntar como nosso Sentinela ganhava a sua vida quando ele tinha sido humano.
***
Quando Michael andou para dentro eu estava sentada no meio da minha cama, usando apenas minha camisola de cetim verde, meus joelhos enfiados debaixo do meu queixo e meus braços envolvendo minhas pernas. Eu estava olhando para a pintura na parede. Eu a odiava, entretanto, eu nunca diria a Michael isso. Ele a tinha pintado para mim no primeiro ano depois dele me tornar um vampiro. Era quase um porta-retrato meu em tamanho real e tão habilmente trabalhado que parecia como se eu pudesse sair da tela. Eu estava vestindo um escandaloso vestido com fendas vermelho de cortesã que eu tinha usado quando nós nos conhecemos pela primeira vez – o qual era por que ele estava pendurado aqui e não em uma das áreas comuns. Meu cabelo estava puxado para cima em uma disposição artística de cachos da cor de elegantes rubis. Quando eu era uma criança minha mãe tinha dito que meu cabelo era lindo, mas que era de uma cor não natural, e ela tinha me ensinado a usar glamour para fazê-lo parecer um acobreado normal. Eu raramente
usava mais o glamour, ao menos que eu estivesse fora dentre os humanos e precisasse me misturar na multidão. Michael amava meu cabelo e o tinha pintado em toda a sua glória vermelho-sangue. A técnica era perfeita. Ele tinha me dito mais de uma vez que dando noventa anos de prática, qualquer um podia se tornar talentoso em quase tudo. Eu tinha ainda que dominar o piano então eu assumi que, diferentemente de mim, ele tinha algum talento para começar. Não foi sua habilidade com o pincel que eu levei em consideração; foi o frio, arrogante olhar que ele deu para mim. O conjunto do meu queixo, o arquear das minhas sobrancelhas, o olhar nos meus olhos, tudo gritava Vadia. Michael e eu tínhamos tido uma enorme briga sobre isso. Ele nunca tinha completamente chegado a um acordo com o fato de que ele era um pobre filho de um arrendatário e eu era a filha de um visconde. Desde o início ele não tinha se sentido como se me merecesse. Quando nosso relacionamento era novo o assunto tinha aparecido frequentemente, mas nos anos seguintes isso tinha se tornado menos do que uma questão entre nós. Eu tinha ficado horrorizada quando eu vi a pintura pela primeira vez e perguntei a ele se essa criatura arrogante era de fato como ele me via. Ele tinha ficado genuinamente chocado com o meu receio, e desde esse dia nós combinamos em discordar sobre a pintura. Ele uma vez me disse que foi a minha força que ele pintou e que um dia, quando eu estivesse pronta, eu veria isso, também. Eu ainda estava esperando para isso acontecer. Eu arranquei meus olhos da tela, deitei minha bochecha nos meus joelhos, e olhei para Michael descansando contra a porta fechada. Pelos deuses, ele era lindo. Mesmo depois de todos esses anos ele ainda me deixava sem fôlego. Seu cabelo loiro escuro estava cortado mais curto do que ele tinha estado quando nós nos conhecemos, e o comprimento mais curto dava a ele um pouco de cachos. As costeletas bem aparadas acentuavam a borda afiada de suas maças do rosto. Seus olhos azuis estavam escuros de preocupação enquanto ele se empurrava para longe da porta, seu duro, magro corpo movendo-se com graça sobrenatural. Ele sentou-se atrás de mim, gentilmente me colocando entre suas pernas e contra seu peito enquanto ele reclinava contra os travesseiros.
— Conte-me —, ele disse simplesmente, seus lábios acariciando minha orelha. Eu inclinei minha cabeça para trás contra ele e relaxei no círculo protetor dos seus braços. O ar quente do verão agarrado a ele, junto com a fragrância apimentada do seu sabonete com aroma de limão e o mais básico indício de sangue que ele bebeu essa noite. Ele cheirava como lar, ele sentia-se como um deus, e eu quase gargalhei em voz alta que eu até mesmo tinha dado ao Drake um segundo pensamento. — Eu não gosto daquele homem —, eu disse. — Drake? Ele é muito velho e muito poderoso. Ele é o mensageiro do Alto Rei e não um homem que é acostumado a ser insultado. Ele é confiável, Cin. — Bem, eu pensava que Sebastian era inofensivo, também, uma vez atrás. — eu apontei. Sebastian tinha sido um amigo meu de infância e nada mais do que um pretendente indesejado até ele se tornar um vampiro e tentar me matar. — Eu entendo por que você não o convidou para entrar, todos nós entendemos. Você tem Fiona e Sra. Mackenzie e os pequeninos para proteger. Drake entende isso. Como se eu desse a mínima de uma forma ou de outra se eu ofendi ou não o homem. — Essa não foi a única razão por eu não o permiti entrar —, eu disse friamente. Eu podia sentir Michael enrijecer atrás de mim. — Ele já tentou seduzir você? — Bem, eu não iria tão longe para dizer isso, mas certamente ele me fez ficar desconfortável. — Podre bastardo —, Michael murmurou. Eu gargalhei. — Eu tive a impressão que vocês dois não são exatamente grandes amigos. Você pode muito bem me dizer tudo isso por que algo me diz que Drake irá contar de qualquer maneira. Michael estava silencioso por um momento. Ele e eu conversávamos sobre tudo, e sua reticência me fez ter certeza que essa estória envolvia uma mulher. Eu tinha há muito tempo parado de perguntá-lo sobre as mulheres
que tinham vindo antes de mim. Em algum nível eu estava grata a elas por fazê-lo tal incrível amante, mas secretamente eu estava apenas tão contente em fingir que ele era um monge antes dele me conhecer. Ouvir algo sobre suas amantes anteriores sempre me difundia ao ciúme do beicinho, com frustração Michael e eu concluímos que nada pode me fazer pensar menos de mim mesma. Portanto, amantes do passado eram um assunto que nós dois evitávamos. Finalmente, Michael disse simplesmente —, Eu tomei uma mulher dele uma vez. — Sério? — Não parece tão impressionante. Ele verdadeiramente não se importava com ela ou eu provavelmente não teria obtido sucesso. Você se importava com ela? Eu estava tentada em perguntar, mas eu me mantive em silêncio e o deixei terminar a estória. — Eu não deveria ter feito isso, mas eu era jovem e tolo. Isso foi depois da guerra —, ele disse, como se houvesse apenas tido uma e eu devesse saber qual delas ele estava falando. Eu assumi que ele quis dizer sobre a Rebelião Jacobina do último século, quando Devlin encontrou Michael mortalmente ferido de uma emboscada por soldados Ingleses e o tinha transformado em vampiro para salvá-lo. Eu assenti silenciosamente, encorajando-o a continuar. — Eu não acho que Drake estava verdadeiramente zangado, mas seu orgulho estava ferido. Ele tentaria até mesmo me revidar tendo você, se ele puder. Eu gargalhei. — Bem, desde que eu não vi porcos voando pela propriedade recentemente eu não acho que você devesse se preocupar. Além disso, agora que seus negócios foram concluídos, nós talvez não o veremos novamente por anos, se não décadas. — Bem, enquanto a isso... — Michael disse, correndo seus dedos lentamente para cima e para baixo no meu braço em um gesto nervoso. Eu me virei em seus braços até que eu pudesse olhá-lo no olho. — Michael? Ele suspirou. — Nós temos um trabalho. Eu estreitei meus olhos. — Quando? — Nós partimos amanhã ao anoitecer.
— Michael, você não concordou com isso! — Cin, é uma ordem do próprio Alto Rei. Ela não pode ser ignorada simplesmente por que nós estamos de férias. — Duas semanas, Michael! — eu gritei, cutucando o meu dedo nele. — Duas semanas! O ano todo nós viajamos por toda a Europa, caçando vampiros trapaceiros, trazendo morte e destruição no nosso caminho, e tudo o que eu pedi são duas semanas de paz e sossego com minha família. Você prometeu! Eu só estive aqui por cinco dias —, eu disse, com um firme soco no seu peito. Ele estendeu a mão, agarrou meu pulso, e em um movimento tranquilo eu me encontrei virada de costas com o corpo de Michael me prendendo na cama, suas mãos acorrentando meus pulsos acima da minha cabeça. — Pare de me cutucar, mulher —, ele rosnou. — Eu irei falar com Fiona pela manhã e agendar uma hora onde nós possamos voltar para uma completa quinzena. Eu prometi a você e eu cumprirei isso, mas nós temos que fazer isso. — Ele enterrou seu rosto no meu cabelo e beijou meu pescoço. — Ah, querida, você sabe que eu não levaria você para longe se não fosse necessário. Sim, eu sabia disso. Eu suspirei. — Maldito Drake em todo o caso. Eu deveria ter seguido meus instintos e arrancado sua cabeça no minuto em que eu abri a porta. Michael gargalhou contra meu pescoço e se empurrou para cima, suas mãos pressionando meus pulsos no travesseiro. — Então, moça, além de renegociar suas férias, o que eu posso fazer para compensar você? Eu sorri pela maneira maliciosa que suas sobrancelhas arquearam-se enquanto ele dizia. Deslizando minhas pernas ao redor da sua cintura, eu me pressionei contra ele. Bem, ele certamente estava pronto para fazer reparações! — Hmmm... Nós podíamos começar com isso. — eu fechei meus olhos e invoquei minha magia. Um instante mais tarde nós dois estávamos nus, seu duro corpo diretamente contra mim, e nossas roupas em uma pilha no chão ao lado da cama. Michael riu e começou a explorar minha pele há pouco exposta com sua boca. — Eu estou feliz que você finalmente dominou isso —, ele disse entre beijos. — Eu estava ficando cansado de terminar no chão enquanto que
nossas roupas permaneciam na cama. — É um pouco de prática de magia —, eu concordei, minha respiração ficando presa na minha garganta enquanto a boca dele se fechava no monte do meu seio. — Como você vai querer que eu compense você? — ele murmurou enquanto um canino estendido ralava no meu mamilo para frente e para trás, para frente e para trás. — Rapidamente ou lentamente? — Michael —, eu sussurrei. Ele me conhecia bastante bem para saber meus estados de espírito, cada fantasia minha e desejo. Ele soltou meus pulsos, agarrou meus quadris e conduziu para dentro de mim em um único golpe. Eu arqueei minhas costas e apoiei minhas palmas contra a cabeceira da cama enquanto um baixo gemido escapava de algum lugar profundo na minha alma.
***
Os lençóis estavam emaranhados em uma pilha no pé da cama, havia sangue seco em ambos nossos pescoços, e eu estava tão desossadamente contente que eu poderia ter ronronado. Eu descansei minha cabeça no peito de Michael e tracei meus dedos sobre os quadrados musculosos do seu estômago. — Eu amo esses pequenos sulcos — eu murmurei, distraidamente. — Michael, você nunca me contou o que é o trabalho. Onde nós estamos indo? Sua boca se apertou e ele deitou para trás e fechou seus olhos. Finalmente ele disse simplesmente —, Marrakesh. Foi o suficiente. Aquela única palavra amarrou meu estômago em nós. Eu enfiei minhas unhas nos seus bíceps. — Você não está falando sério. Ele abriu um olho e olhou abaixo para mim. — Eu desejaria que não estivesse. Eu deitei minha cabeça de volta para baixo no seu peito, pensando. ―Querida Deusa. Marrakesh.‖
Capítulo
E
xistem muitas coisas que eu amo sobre ser um vampiro, mas o processo de conseguir ir de um lugar ao outro não é definitivamente uma delas. Oh, certamente a nova carruagem de Devlin providenciava o melhor conforto que o dinheiro podia pagar. Os assentos eram suaves e profundos, no meu preferido tom de vermelho escuro, e os revestimentos eram de um tranquilizador esbranquiçado com apenas uma sugestão de meio tom de rosa. Havia whisky contrabandeado, fino champanhe, e uma pequena seleção de frutas frescas para fazer a jornada mais tolerável. Por tudo que a carruagem era espaçosa e confortável, contudo, nós ainda estávamos viajando horas e horas e noite após noite em uma caixa sem janelas. Sem importar quanto fastidioso Devlin era sobre a manutenção e reparo, havia sempre uma chance de que algo quebraria e nos deixaria encalhados na lateral da estrada enquanto o sol subia; assim as janelas eram profundamente pintadas de preto para nos impedir de queimar como uma batata frita se tal coisa acontecesse. Havia noites, entretanto, como esta, quando eu teria prazer em negociar com a chance de terminar em uma bola de chama agonizante por uma janela com uma vista. Eu deveria ter montado lá em cima com Devlin quando ele ofereceu na última parada. Nós não contratamos um motorista humano, e Devlin frequentemente preferia tomar as rédeas ao invés de viajar na carruagem. Eu não podia culpálo. A condução era espaçosa, mas Devlin tinha quase um metro de noventa e
oito de altura e constituído como uma parede de tijolos. Ele não gostava de ficar confinado, e Michael tinha relutantemente concordado em viajar lá em cima com ele na última etapa da viagem. Justine estava sentada perto de mim, tricotando. Sempre me fazia rir um pouco por dentro ao ver a ex-cortesã e matadora de vampiro fazendo algo tão doméstico. Seu pálido cabelo loiroprateado estava puxado para trás, suspenso em grandes cachos descendo nas suas costas e sobre um ombro. Ela amaldiçoou sob sua respiração enquanto ela retirava vários pontos e começava novamente. Eu ri interiormente. Eu não estava certa que algo realmente resultaria de todo o tricô de Justine – ela era simplesmente uma daquelas pessoas que não podia suportar em ter mãos paradas, isso a mantinha ocupada durante longas viagens. Eu corri meus dedos sobre o romance gótico que dispunha fechado no meu colo e finalmente, quase relutantemente, virei meu olhar ao homem sentado do meu outro lado. Em um esforço de superar minha inicial antipatia por ele, Drake pareceu estar fazendo um esforço concentrado em me ganhar. Durante a viagem ele virou com toda a força o seu sombriamente muito apelativo charme na minha direção, e eu achei desconcertante a maneira com que ele pareceu ter melhor aparência quanto mais tempo eu gastava na sua companhia. Seu cabelo escuro estava curto e cacheado, seu rosto prazerosamente quadrado. Se o seu nariz era um pouco largo demais e seus lábios muito finos para ser de fato lindo, você não notaria isso uma vez que você olhasse dentro dos seus olhos. Ele me observava agora, como um predador observa sua presa, e eu não tinha ideia do que estava acontecendo por detrás desses caçadores, profundos olhos verdes musgo. Havia coisas sombrias por detrás da zombada arrogância dos seus olhos, ofensivas, coisas zangadas. Coisas que eu não queria sequer conhecer. Justine tinha sussurrado quando nós estávamos sozinhas, ―Você não pode evitar além de se perguntar como seria em tê-lo, não pode?‖ Não, eu imagino que eu não posso. Ele não seria um amante gentil, embora você pudesse ver, em algum lugar lá no fundo, que ele poderia ter sido no passado, em outra vida. Não, o Drake que se sentava do meu outro lado agora iria consumir você e arrastar você abaixo para dentro de qualquer inferno que ele vivia. Eu não acho que qualquer mulher passional evitaria em se perguntar, de uma distância
segura, como seria em estar de pé no centro dessa tempestade. — Quanto tempo isso vai levar? — eu perguntei a ele. Ele inclinou sua cabeça ao lado. — Você está tão ansiosa em retornar para seus humanos? Pela deusa, sim, eu queria gritar. Ravenworth era minha âncora, meu último vínculo com o mundo humano. Era o lar e aqueles que viviam ali eram minha família – não a família da qual eu tinha nascido, mas a família que eu criei. Meus parentes de sangue tinham virado as costas para mim depois de eu me tornar um vampiro. Tia Maggie, a irmã de minha mãe, pensava que eu era malvada. Mesmo o meu primo Thomas, cuja vida eu tinha uma vez salvo, preferiu me manter em uma distância segura. Mas aqueles em Ravenworth me tratavam como se eu fosse a mesma garota que eu sempre fui. Eu queria assistir as crianças de Fiona brincarem com a nova ninhada de Prissy de grandes-ótimos gatinhos. Eu queria ver como as coisas acabaram com Sra. Mac e Lorde Bascombe. Jovem Tim, que era apenas um menino do estábulo quando eu me tornei um vampiro, era agora um homem crescido, casado com Chloe Harper e esperando seu primeiro filho para o mês que vem. Ele era o cavalariço de John Bascombe, e eu ansiava em sentar na baia com ele a noite toda, esperando pela bisneta da minha antiga égua Missy parir o seu primeiro potro. Eu estava ansiosa para voltar aos meus humanos? Sim, por que voltando ali havia vida e nascimento e coisas jovens para brincar, e para onde eu estava indo haveria apenas mágoa e luta e morte. Eu dei a ele um olhar que disse muito e virei meu rosto para longe. — Não é uma coisa fácil, depor um monarca —, Drake comentou. — Você deveria saber —, Justine murmurou. — Sim, eu sei —, ele disse, friamente. — Eu fui Rei das Terras Orientais por muitos séculos, mas a loucura me pegou, assim como parece ter pego a Rainha das Terras Ocidentais. As Fúrias vieram para mim então, justo como Os Justos vão para ela agora. As Fúrias eram três irmãs que eram nossa contrapartida na Europa Oriental. Eu nunca as encontrei, mas era dito que elas não podiam ser seduzidas por um rosto bonito. Michael me disse que Drake perdeu a mulher
que ele amava, uma mulher humana, para a praga antes que ele pudesse transformá-la. Drake tinha ficado louco e se tornado um perigo não apenas para si mesmo, mas também para aqueles que dependiam da sua liderança. O Alto Rei ordenou sua remoção e enviou as Fúrias para escoltar Drake ao Castelo de Tara, no fundo das Montanhas Connemara da Irlanda. Ele gastou muitos longos anos ali, e quando sua mágoa tinha diminuído ele se tornou o Sentinela do Alto Rei, seu mensageiro dentre as cortes dos vampiros inferiores do mundo. — Nós a levaremos ao Alto Rei, então? Foi isso que as Fúrias fizeram com você —, eu observei. — Eu não tinha matado humanos —, ele respondeu. — Você sabe que a penalidade para isso é a morte. É isso que você faz. — Você acredita que ela seja culpada? Ele encolheu de ombros. — Eu nunca acredito em nada sem prova, o qual é por que nós estamos aqui. Isso não será uma tarefa fácil. Se ela é culpada, seu rei não a deixará ir sem uma briga. Eu suspirei. Se ela matou humanos, então como reforços do Alto Rei, nós tínhamos a obrigação de executá-la. Se ela estivesse simplesmente insana, então o Alto Rei concederia tutela para ela, e nós a escoltaríamos para o Castelo de Tara. Eu ouvi que mais do que um vampiro o chamava de Castelo do Terror, embora em defesa do Alto Rei esses não eram vampiros que estavam em boas graças. Drake pareceu ter saído disso bem, mas certamente eu não gostaria de dizer ao Rei das Terras Ocidentais que nós estávamos removendo sua rainha da capital. O pensamento de ter que executá-la, entretanto, era aterrorizador. Dentre nossa espécie você não conseguia ser rei por um acidente de nascimento ou fortuna. Não, dentre vampiros você tinha que lutar para clamar o reino, e havia uma razão que reis raramente eram desafiados pelos seus tronos. Essas não eram criaturas que você desejaria cruzar. — Como ela é? — eu perguntei. Justine colocou sua agulha de tricô no seu colo e olhou para mim, a tristeza nos seus olhos falando alto. Eu tinha me esquecido que essa era uma mulher que Justine contava como uma amiga. — Ela é linda. Ela é justa e leal
em suas transações com seus súditos. Ela é leal ao seu rei e o ama além da medida. E ela é a mulher mais assustadora que eu já conheci. — Justine deu um encolher de ombros Gaulês. — Ela é tudo o que uma rainha deveria ser. Eu olhei de volta para Drake, pensando que se isso dependesse de mim eu diria ao Alto Rei que ele poderia sangradamente bem colocar o seu traseiro em um barco e vir ele mesmo fazer. Entendendo o amotinado olhar no meu rosto, Drake rapidamente mudou o assunto. — Você ainda não veio a Tara fazer a sua reverência, Srta. Graven. — Eu tenho vários anos ainda. Eu sou obrigada a fazer uma aparição nos meus primeiros vinte anos depois de minha morte. Eu sou apenas um vampiro por treze. Drake gesticulou uma mão com desdém. — Isso não importa. O Alto Rei deixou-me dizer-lhe que você não precisa se incomodar com a viagem. Eu vou reportar minhas impressões a ele e ele mesmo poderá julgar seu caráter até a próxima reunião do Conselho. — Ele não quer me ver? — eu perguntei, um calafrio rastejando acima na minha coluna com as implicâncias disso. Todos os vampiros eram obrigados a penhorar suas fidelidades ao Alto Rei e assinar seus nomes no Livro das Almas. Não fazer isso significava que você vivia do lado de fora das regras do Conselho Sombrio; que você não tinha honra e nenhuma promessa de proteção sob nossas leis. Também significava que você não era obrigado a cumprir essas leis, e que um dia Os Justos, ou alguém como nós, provavelmente iria caçar você e matar você. Por ser dispensada de tal cerimônia importante fez meu estômago se apertar. Eu nunca ouvi do Alto Rei fazendo tal coisa antes. Por que fazer uma exceção para mim? Como se soubesse o que eu estava pensando, Drake inclinou sua cabeça a um lado e disse —, Você é um tanto quanto uma anormalidade dentre os mortos-vivos. Nós não tínhamos tido uma bruxa-virando-vampiro antes, você sabe. Para ser bastante honesto com você, o Alto Rei está cauteloso com o seu poder. O choque que eu senti deve ter sido registrado no meu rosto, por que Drake riu e se colocou mais profundamente nas almofadas de veludo. — Oh, sim, você é bastante famosa dentre vampiros do comprimento e
largura da Europa. Justine bufou. Ela, ao menos, ainda pensava em mim como uma irmãzinha que precisava ser protegida e ensinada como sobreviver no nosso mundo. Mesmo embora eu tendo lutado ao seu lado por cerca de uma década, ela ainda parecia pensar em mim como a filha protegida do aristocrata de vinte e dois anos de idade que ela conheceu pela primeira vez. Quanto inocente eu deveria ter parecido para ela naquela época. Quando ela tinha vinte e dois, Justine tinha sido há tempos uma cantora de ópera famosa e a amante de dois reis. Havia vezes quando eu pensava que ela sempre me veria como, aquela jovem garota sem importar quantos anos passassem. — É verdade —, Drake disse. — Eles falam seu nome nos sussurros. Por cinco mil anos Kali matou e fugiu de todos que o Alto Rei enviou contra ela, e então aqui veio você, um mero lapso de uma garota que não tinha uma semana de transformada, e a derrotou. — Eu tive muita ajuda —, eu assegurei a ele. E eu tinha tido. Eu tive Fiona, Sra. Mackenzie, Os Justos, Archie, e o querido e velho Sr. Pendergrass, que sua alma descanse em paz. Eu não poderia ter feito isso sem eles, mas quando o final veio tinha sido apenas eu e Kali. Eu tinha fugido e ela não. — Não obstante isso foi bastante impressionante, e você pode entender como um homem sabido manteria você à distância, ao menos até ele avaliasse você completamente. — E ainda sim, aqui está você —, eu observei. Ele inclinou ao outro lado da carruagem em um movimento tão rápido que eu mal vi, e agarrou minha mão. Ele virou seus olhos verde musgo para mim e sorriu. E seus lábios fecharam-se sobre meus nódulos, um afiado canino cortando minha carne e sua língua se lançou para fora para provar o sangue que brotou. — Ah, mas eu tenho um desejo mortal. Todos sabem disso. Minha respiração saiu em um ímpeto enquanto eu arrancava minha mão para longe. Pela maior parte da viagem a conversa de Drake comigo tinha sido preenchida com duplos sentidos bem colocados, os quais tinham irritado meu cônjuge no final.
— Aparentemente —, eu disse. — Michael vai matar você, você sabe, se você não parar de flertar comigo tão descaradamente. — Ele pode tentar —, Drake disse com um sorriso cruel, correndo sua língua sobre o dente que tinha me cortado. — Nous sommes ici. Finalement!3 — Justine anunciou um pouco alto demais. Eu arranquei meu olhar do rosto gargalhando de Drake, percebendo que enquanto nós estávamos conversando eu não tinha notado que a cadência da estrada tinha mudado. O estalar das rodas nos paralelepípedos significava que nós tínhamos entrado na cidade. Justine colocou sua agulha de tricô no compartimento lateral, todo o tempo murmurando uma ininteligível torrente de Francês enquanto ela fazia uma carranca de desaprovação para Drake. Sua voz era muito baixa e rápida para eu captar qualquer coisa mais do que uma palavra aqui e ali, mas eu tive a distinta impressão que ele estava sendo repreendido. — Aqui —, ela disse, enquanto ela puxava uma garrafa de whisky e delicadamente enrugava seu nariz à distância. Justine não se importava com whisky. — Você pode muito bem passar isso adiante. Todos nós vamos precisar disso essa noite, n’est-ce pas4? Eu peguei e bebi um longo gole direto da garrafa antes de entregar a Drake, que me seguiu. O que dizer quando os juízes tinham que se fortalecer com líquido encorajador antes de interrogar um suspeito? Nada bom, eu garanto.
3 4
(Nós estamos aqui. Finalmente!) (não é?)
Capítulo
E
u podia ouvir Michael e Devlin pularem em direção as laterais enquanto eu balançava a porta da carruagem aberta pelo lado de dentro. Michael não tinha vindo me ajudar a sair. Claro, eu não precisava de ajuda, mas ele sempre era tão cavaleiro. O fato de que ele estava de pé perto da carruagem com suas costas para mim, seu casaco enfiado para trás, em um lado, e sua mão levemente descansando na cesta empunhada da claymore5 no seu quadril, me fez pausar. Eu olhei passando por ele e Devlin para a muito boa casa de três andares na frente de nós – e aos dois vampiros incomuns que estavam flanqueando a porta. Eles eram altos e amplos e pareciam como algo saído de 1001 Noites nas Arábias. O que os faziam até mesmo mais espetaculares era que eles eram gêmeos. A iluminação a gás da rua pareceu brilhar pra fora das suas cabeças carecas e moldar seus olhos escuros nas sombras debaixo das suas grossas sobrancelhas. O homem na minha esquerda tinha um brinco de argola de ouro na sua orelha direita, e seu irmão tinha um combinando na sua esquerda. As calças brancas de linho e túnicas que eles vestiam se assentavam na sua pele com perfeição. Uma faixa estava amarrada ao redor de suas cinturas, as extremidades com franjas penduradas perto dos seus joelhos e no topo de suas lustrosas botas pretas. Eles pareciam como um par de exótico suporte de 5
(claymore – é uma variante escocesa da espada medieval montante utilizada durante os séculos XV e XVI. Possui gume duplo e é manejada com as duas mãos, impedindo o guerreiro de utilizar um escudo. A palavra claymore vem do gaélico escocês claidheamh mòr e significa espadão. A claymore é um tipo de espada montante, porém mais leve)
livros. Eu suprimi a urgência de pular para fora da carruagem, correr acima daqueles degraus, e dar uma olhada melhor neles, na maior parte por que os homens estavam completamente em pose agora e isso teria arruinado o momento. Drake não fez movimento para sair da carruagem, então eu me desloquei no assento e me firmei de volta nas sombras. Quem sabia quanto tempo isso duraria? Eu tinha assistido essa dança, por isso é que me fez lembrar, em incontáveis ocasiões ao longo dos anos. Havia horas quando se fazer de legal era mais fácil do que outras, mas as formalidades tinham que ser observadas, consideradas. Era apenas educado quando ao entrar em um novo território tornar-nos conhecidos aos vampiros governantes, embora como Os Justos, nós não respondíamos a ninguém além do próprio Alto Rei. Cada cidade, ou país em muitos casos, tinha um soberano ou soberana que detinha o domínio sobre os vampiros que residiam no seu território. Esses soberanos inferiores eram governados por um regente na mais próxima grande cidade ou capital. Os regentes eram governados pelos seus respectivos rei e/ ou rainha, e esses monarcas eram subordinados apenas ao Alto Rei de Tara. O Conselho Sombrio era um corpo de governo constituído pelos regentes, os reis e rainhas, e do próprio Alto Rei. Eles se encontravam a cada trezentos anos para renegociar leis e políticas, mas uma sessão de emergência podia ser convocada a qualquer hora pelo Alto Rei ou pelo monarca das Terras Ocidentais ou Orientais. De acordo com os decretos do Conselho Sombrio que foram prescritos no ano de 1360, a Europa era dividida em dois reinados. O Rei das Terras Ocidentais governava sobre a Britânia, os países da Escandinava, da Europa ocidental, e a maior parte do que uma vez foi o Sagrado Império Romano. A Rainha das Terras Orientais governava todas as terras da Polônia, Turquia, e da Rússia oriental à Índia. Poderia parecer uma divisão desproporcional em termos de tamanho, mas a população do mundo vampiro estava densamente centrada no norte, oeste, e centro Europeu. Em termos de números de seus domínios, os dois reinados eram divididos de forma bastante equilibrada. Do lado de fora da Europa a população de vampiro era esparsa, e sua lealdade ao Conselho Sombrio variava. A China não era membro do
Conselho. Era sabido que havia vampiros vivendo ali, mas não havia maneira de dizer quantos. O imperador vampiro mantinha seu pessoal estritamente confinado em suas próprias terras. Eu nunca conheci alguém que tinha visto um dos seus vampiros, ou que tinha viajado para dentro do território do imperador e retornado para contar. As Américas estavam se tornando mais povoadas, e havia rumores que o Alto Rei anexaria o continente sob seu governo e estabeleceria uma similar divisão de poderes ali quando o Conselho se encontrasse novamente no próximo século. A África pertencia as Terras do Ocidente, mas por óbvias razões relacionadas ao sol muitos poucos vampiros viviam ao sul do Mediterrâneo, ou no Mar Cáspio. Inferno, os únicos vampiros Árabes que eu já tinha visto estavam agora descendo os degraus da casa de pedra cinza na nossa frente. — Devlin —, o homem na esquerda disse, inclinando sua cabeça. — Khalid —, Devlin respondeu em um igualmente respeitoso, mas cauteloso tom. Ambos os rostos dos homens estavam cuidadosamente em branco, embora o irmão de Khalid estivesse atrás dele com seus massivos braços cruzados sobre seu peito e uma feroz carranca no seu rosto. Isso nunca era um bom sinal. — Nós temos negócios com MacLeod —, Devlin afirmou. — A corte está dispersa ou retirada ao Castelo da Escuridão, e meu rei e rainha estão indispostos —, o tom de Khalid era desdenhoso, como se ele esperasse que nós simplesmente disséssemos obrigado, e saíssemos dirigindo, e isso seria o fim. Eu estava bastante certa que ele sabia por que nós estávamos aqui, e eu estava disposta a apostar que ele não era suficientemente estúpido em pensar que ele poderia se livrar de nós. Eu notei o dedão de Michael acariciando o cabo da sua espada enquanto a voz grave e baixa de Devlin respondia —, Essa noite está minguando, velho amigo, e nós precisaremos vê-lo antes do amanhecer. Suas portas sempre estiveram abertas para mim antes. — Ele olhou acima para as janelas sem vista da casa. — Ou você tem algo aí dentro a esconder? O rosto de Khalid permaneceu impassível enquanto ele e Devlin estavam a meros metros um do outro, seus olhares presos, esperando ver quem recuaria primeiro. O irmão de Khalib não era tão paciente, e o baixo rosnado
que veio da sua garganta mostrou apenas quanto ofensivo ele levou o comentário de Devlin. O homem pisou adiante, e eu vi a mão de Michael se mover para envolver o punho da sua espada. As coisas iam ficar complicadas para os gêmeos se aquela lâmina saísse da sua bainha. Justine puxou uma das adagas da sua bota e colocou uma mão no meu ombro, me empurrando de costas no assento enquanto ela movia-se para frente. Drake agarrou seu pulso, negando com a cabeça, então pisou para fora da carruagem daquela assustadora maneira graciosa que vampiros faziam, como se puxado por cordas que ninguém podia ver. — Khalid —, Drake disse em um tom tão despreocupado como se ele tivesse perguntado ao homem se ele queria leite ou açúcar com seu chá. Uma palavra. Foi tudo o que custou para Drake e todo o quadro mudou. Khalid e seu irmão curvaram-se abaixo para Drake, e Michael tirou sua mão da sua espada. — Sua Alteza —, Khalid disse, sua cabeça ainda curvada. — Alteza não mais, meu amigo —, Drake respondeu, segurando o ombro de Khalid —, Mas eu teria três quartos pela duração da nossa visita, e vistos para a carruagem e os cavalos. — Como você desejar, meu senhor. — Khalid virou para seu irmão. — Hashim, faça isso. Drake caminhou para cima nos degraus até a porta da frente da casa como se ele fosse dono do lugar. Ele chamou de volta sobre seu ombro —, Oh, e Khalid, mostre as damas seus quartos para se refrescarem e diga ao rei que nós desejamos uma audiência em uma hora. Khalid se curvou novamente, e eu percebi que em algum ponto no passado Drake provavelmente tinha sido seu rei. — Será feito —, ele respondeu. As palavras eram alegres o bastante, mas a expressão no seu rosto não era. Ele pareceu como se ele quisesse ou matar alguém ou vomitar. Eu não podia fazer nada sobre o último, mas eu podia fazer algo sobre o primeiro. Uma coisa que Devlin me ensinou ao longo dos anos era desequilibrar seu inimigo a cada chance que você tinha. Eu não queria que Khalib decidisse que violência pudesse envolver qualquer coisa que ele pensou que estava para
acontecer com sua rainha. Eu deixei Michael me dar uma mão para descer da carruagem, dei a ele um caloroso sorriso, e então caminhei para ficar na frente de Khalid. Eu estava muito contente agora que usava o vestido de transporte de cetim âmbar escuro ao invés das minhas habituais bermudas feitas sob encomenda. Eu mergulhei em uma baixa reverência. Quando eu me endireitei, eu peguei o braço de Khalib e sorri para ele. Ele olhou abaixo para mim como se ele não tivesse uma pista do que fazer. — Nós podemos? — eu perguntei, gesticulando para a porta. Ele assentiu e me escoltou para cima dos degraus enquanto Devlin, Michael, e Justine seguiam atrás de nós. O pobre homem estava claramente miserável e confuso, mas ao menos ele não pareceu como se quisesse arrancar a cabeça de ninguém mais. Eu tentei muito arduamente não gargalhar. Eu frequentemente invejava Justine e sua altura e suas incríveis pernas longas, mas algumas vezes, apenas algumas vezes, era útil ser pequena e delicada. ―Pequena e delicada‖ sempre deixavam um grande homem desequilibrado, especialmente se você conseguisse lançar nisso ―desamparado‖ também. Quando Khalid abriu a porta, eu virei meus olhos de cor de whisky para ele e sorri timidamente enquanto eu passava. Ele não exatamente sorriu de volta, mas seu rosto se suavizou um pouco. Sendo pequena e gentil não seria útil uma vez que nós estivéssemos cara a cara com o rei – ali eu teria que ser forte e assustadora – mas por agora isso nos tinha levado dentro da casa sem ninguém começar uma briga. Já que era melhor do que muitas designações que nós tivemos no decorrer dos anos. Havia algo no ar, entretanto, que me disse que entrar nessa casa ia ser completamente mais fácil do que sair.
Capítulo
H
ashim entregou nossos baús no nosso quarto no terceiro andar, depositando-os sem cerimônia com um baque e uma carranca antes de sair do quarto de uma maneira similar. Sacudindo minha cabeça, eu abri meu baú e vistoriei o conteúdo. Essa noite as roupas tinham que ser escolhidas com cuidado. Se essa fosse uma audiência normal com um governante territorial então eu teria que usar um dos meus esplêndidos vestidos, mas essa noite nós tínhamos que mostrar que nós éramos fortes, que nós éramos Os Justos. Nada comum daria. Eu retirei meu bermudão de couro preto, feito para encaixar firmemente contra minhas curvas, e as botas de couro altas até a coxa que iam com ele. Eu vim a preferir as botas altas até a coxa por que eu achei conveniente ter minhas adagas presas a cada coxa, ao invés de ter que perder tempo abaixando a mão para puxá-las do interior das botas na altura das coxas. Além disso, eu achei que as botas mais compridas faziam minhas pernas parecerem mais longas, o que não era um feito fácil quando você tinha um metro e sessenta e cinco. Eu puxei para fora uma camisa carmesim com mangas apertadas que terminavam em pontas nos meus pulsos, e uma sobrecasaca pesadamente incrustada com bordado de seda carmesim. Deitando esses sobre a extremidade da cama de quatro pilastras, eu me virei para assistir Michael se vestir. Ele notou minhas escolhas e retirou roupas para combinar. Eu subi os
pequenos degraus perto da cama e deitei de lado, minha cabeça escorada em uma mão, a outra mão descansando na curva do meu quadril, e o observei enfiar a camisa preta para dentro da sua bermuda preta e abotoá-la. — Parece uma pena cobrir toda essa pele bonita —, eu meditei. Ele sorriu perversamente, seus olhos azuis brilhando. — Dê-me cerca de algumas horas e você pode tirar tudo isso novamente. — Promessas, promessas. Ele abotoou a camisa, deixando-a aberta no pescoço. Michael apenas usava uma gravata se eu absolutamente o obrigasse. O colete preto e carmesim bordado vinha a seguir, e ele colocou o seu casaco preto ao lado do meu. — Sua vez —, ele disse, agarrando meu tornozelo e me puxando na beirada da cama. Eu me levantei e ofereci minhas costas para ele. — Você tem que me desfazer. Suas mãos circularam minha cintura e seus lábios traçaram junto do meu pescoço, parando para sugar gentilmente sobre o fraco pulso. — Qualquer hora que você queira, minha senhora, qualquer hora que você queira. Eu gargalhei suavemente, perversamente. — Eu quero dizer os botões, querido. — Oh. — Seus longos, dedos marcados pelas batalhas lentamente desfizeram a fila de botões que corriam nas minhas costas até que o vestido de transporte escorregasse do meu corpo para se empoçar no chão. Meu espartilho e anágua rapidamente seguiram até que eu ficasse de pé nua com minhas costas para ele, suas mãos movendo-se sobre minha pele. — Deus, moça, você é a coisa mais bonita que eu já vi. — Mesmo depois de todos esses anos? — Mesmo depois da eternidade —, ele prometeu. Suas mãos escorregaram sobre meus quadris e cruzaram meu estômago, movendo-se propositalmente para cima para cobrir meus seios. Ele rolou meus mamilos entre seus dedos gentilmente no início e depois mais forte. Eu gemi e arqueei meu corpo contra ele, estendendo a mão para trás para mergulhar os dedos de ambas as mãos dentro do seu cabelo loiro escuro. Eu inclinei minha cabeça para trás e o puxei para baixo a mim até que seus lábios
encontraram os meus. Ele me beijou gentilmente, tenramente, e cada vez que eu tentei aprofundar o beijo ele se retirava, mordiscando meus lábios ou acariciando sua língua levemente contra eles. — Você é um provocador —, eu murmurei, frustrada. — Eu sou? Nós veremos isso. Seu pé calçado com a bota esticou e chutou os degraus da escada para mais perto. Erguendo-me pela cintura, ele me colocou abaixo no degrau inferior. Eu me virei para interrogá-lo, mas ele serpenteou um braço ao redor da minha cintura, me puxando para mais perto até que eu senti sua ereção pressionada contra meu traseiro com palpitante necessidade. Ele plantou sua outra mão firmemente no meio das minhas costas e empurrou a parte superior do meu corpo para frente. Eu agarrei a lisa pilastra de madeira da cama com ambas as mãos e me inclinei contra ela. Sua mão correu para baixo através da ondulação do meu quadril e depois para cima no interior da minha coxa. Não havia provocação na sua conduta agora. Eu espalhei minhas pernas e seus dedos me clamaram, me acariciando até eu gemer o seu nome, e então eles deslizaram para dentro. Eu empurrei a minha nádega contra ele, movendo em um frenético ritmo, sentindo o longo, duro comprimento dele contra meu bumbum enquanto seus dedos acariciavam dentro e fora de mim. Sua mão livre subiu para cobrir meu seio, e apenas quando eu pensei que enlouqueceria com a sensação dele dentro de mim e contra mim, ele se aproximou e colocou sua boca na tenra carne justo onde meu ombro encontra com meu pescoço... e me mordeu. Seus dentes afundaram na minha carne enquanto dois dedos deslizavam forte dentro de mim. Meu corpo começou a tremer e eu gritei seu nome. — Isso mesmo, moça —, ele sussurrou contra meu pescoço. — Ah. Deus, você é tão apertada. Seus lábios retornaram ao lugar onde ele tinha me mordido e ele sugou gentilmente. Eu lancei minha cabeça para trás em êxtase enquanto os tremores me sacudiam. Meus joelhos cederam e eu agarrei a coluna da cama para suporte. O braço de Michael envolveu apertadamente ao redor da minha cintura, e ele enterrou seu rosto no meu pescoço. — Oh, pela Deusa, Michael, as coisas que você faz comigo —, eu inalei
em um trêmulo sussurro. A batida na porta me teria feito pular se um once6 de tensão não tivesse deixado o meu corpo. — Não creio que eu precise perguntar o que vocês dois estão fazendo aí dentro —, Justine chamou. — Mas vocês têm quinze minutos para terminar isso. Eu ri e Michael gemeu contra meu pescoço. — Você acha que nós podemos os dois ficar nus, terminar isso apropriadamente, e se vestir de novo em quinze minutos? — eu perguntei. Ele riu. — Eu preferiria que você apenas me devesse uma, moça. Eu me virei em seus braços, pressionando-me flagrantemente contra ele. — Esse é um débito que eu pagarei alegremente.
***
Havia uma fina linha entre parecer agressivo e parecer como um assassino. Eu pensei que todos nós nos saímos muito bem, embora nossa paleta de cor corria na maior parte ao preto. Inteiramente nós provavelmente tínhamos armas suficientes conosco para ter invadido a Bastilha, mas a única lâmina visível era a claymore de Michael. Ele tinha deixado para fora da casaca e ao invés tinha a longa espada em sua bainha nas costas dele. Ele disse que isso recordaria ao rei que eles eram conterrâneos. Essa não era a espada com cesta empunhada que ele usou mais cedo, mas a grande ambidestra claidheamh mor7das Terras Altas. Michael raramente usava essa espada por que ela tinha um metro e quarenta de comprimento e quase impossível de se ocultar. Era, contudo, uma impressionante arma e, de acordo com Fiona, não tão perto de pesada como ela parecia. Eu não saberia. Tendo força vampira, eu achava bastante fácil manejar com uma mão. Eu arrastei meus olhos de Michael enquanto Drake finalmente desceu as escadas. O Sentinela fez o seu caminho até mim e correu um apreciativo olhar 6 7
(um once – 28,34 gramas, é uma unidade de massa usada em diferentes sistemas) (claidheamh mor – claymore em gaélico)
sobre meu vestuário. — Minha querida —, ele disse suavemente —, você parece deliciosamente perigosa. — Por que, obrigada —, eu respondi. Estava claro que ele teria gostado de continuar a conversa, mas eu tinha notado a carranca no rosto de Michael enquanto ele despejava os cumprimentos então eu educadamente me desvencilhei da companhia de Drake. Foi prerrogativa do Rei que nos fez esperar pela audiência, mas eu duvidava que nós ficaríamos no espaçoso patamar do segundo andar muito mais tempo, agora que Drake estava aqui. Eu não imaginei que ele estaria contente em descansar em umas das cadeiras estofadas de veludo e aguardar a vontade do rei. Pessoalmente, eu teria estado mais do que feliz em me retirar ao meu quarto e perder toda a coisa. Havia uma sensação pesada no ar que não tinha nada a ver com o esquema de decoração, o que tendia a seguir na maior parte o veludo vermelho e o forte dourado. Apenas enquanto eu abria minha boca para perguntar se alguém mais sentia isso, também, Khalid, vestido pesadamente de discreta seda verde bordada na sua cabeça com turbante aos seus pés com botas pretas, lançou abertas as grandes portas duplas e nos conduziu para dentro. A sala que nós entramos fez minha respiração ficar presa com a total imprevisibilidade dela. Enquanto que o restante da casa, das salas de recepção no primeiro andar aos quartos no terceiro andar, pareceu como se seus mobiliários tivessem sido roubados de Versailles, essa sala era constituída como uma medieval Câmara de Presença8. Era o tipo de sala onde um rei com séculos de idade estaria confortável. As paredes revestidas de tapeçarias eram feitas da mesma pedra cinza que o chão e montadas em intervalos regulares com castiçais sustentando tochas de chamas. Uma fileira de cadeiras medievais sem encosto forrava as paredes, esquerda e direita, mas diferentemente disso, a sala estava desprovida de móveis. Exceto pelo trono e o homem que se sentava sobre ele. MacLeod, Rei das Terras Ocidentais, não era exatamente o que eu esperava, também. Eu conheci muitos vampiros, e matei mais do que alguns, 8
(Câmara de Presença – lugar onde o rei recebia convidados, assembléias, etc.)
mas MacLeod foi o primeiro que eu vi que tinha sido bastante velho quando ele se transformou, para ter respingos liberais de prata no seu escuro cabelo. Dito isso, eu não tinha problema imaginando-o em alguma antiga batalha com corpos espalhados coberto de sangue claymore nas mãos. Seu rosto, com sua forte mandíbula quadrada e profundo queixo fendido, atraiu minha atenção. Era um rosto que tinha sido marcado durante seus anos mortais, então você sabia sem dúvida que ele era muito mais bonito nos finais dos seus quarenta anos do que tinha sido no início dos seus vinte. Havia rugas naquele rosto que lembravam o seu apertar os olhos no sol, e ele era infinitamente mais interessante por tê-las. Não, ele não parecia nem um pouco como eu esperava que ele fosse. O que ele aparentava era cada centímetro de um rei, do seu curto cabelo sal e pimenta aos seus amplos ombros envoltos em plena regalia das Terras Altas. Esse era um homem acostumado a dar ordens e tê-las seguidas sem pergunta. Ele tinha um ar de autoridade sobre ele, um senso de confiança inquestionável que ele podia encarar qualquer um que ele se encontrasse e sair vitorioso. Se ele estivesse em uma sala com cem outros homens, eu ainda saberia que ele era um rei. Claro, o trono certamente ajudava em transmitir a imagem. Vampiros, eu vim a perceber, eram particularmente afeiçoados a tronos, quer eles sustentassem qualquer reivindicação a um ou não. MacLeod usava esse com muita confiante graça como ele usava seu kilt e sporran9, como se fosse uma extensão dele mesmo e do seu poder. A madeira de séculos de idade era escura com a idade e pesadamente esculpida, e eu me perguntei brevemente que rei morto há tempos ou imperador se sentou ali antes dele. Meu olhar moveu-se para a esquerda do rei, para onde Hashim estava vestido em uma versão verde escura do vestuário do seu gêmeo, e finalmente fixou-se em uma pequena mulher de pé à direita de MacLeod. Ela obviamente era um vampiro, e eu me perguntei se ela era a rainha. Se sim, ela era requintada. Ela usava um vestido que tinha sido o auge da moda no último século, com sua ampla saia e metros de dobras e rendas. Ela deveria ter parecido fora de moda, mas ela não pareceu. Ela pareceu como se 9
(kilt – saiote escocês e sporran – é uma bolsa de couro usada na frente do kilt)
ela tivesse nascido para vestir isso, e eu não podia imaginá-la nos estilos menos complicados dos dias de hoje. Seu brilhoso cabelo preto estava amontoado em cachos simulados acima da sua cabeça, e cada feição no seu rosto com formato de coração não era nada menos que perfeição. Sobrancelhas pretas arqueadas delicadamente sobre olhos que pareciam ser violetas. Ela era como uma pequena boneca de porcelana. Ela não pareceu como alguém que Justine teria chamado de a mais assustadora mulher que eu já conheci. Khalid nos parou na metade da sala e disse em sua profunda voz com sotaque —, Sua Alteza, Rei das Terras Ocidentais, posso eu apresentar Drake, Sentinela do Alto Rei de Tara, e seus companheiros, Os Justos. — Os Justos? — a mulher arfou, sua mão indo para a sua garganta. Seus olhos se ampliaram enquanto eles viajavam sobre nós quatro, e então ela fez algo que eu nunca pensei que veria nesse novo mundo em que eu vivia. O vampiro desmaiou.
Capítulo
O
s homens correram para frente mas Justine e eu ficamos para trás, olhando. — Mas que —? — Eu abri minha boca, fechei-a, abri novamente. — Vampiros não desmaiam! — Eu exclamei em um sussurro. Justine riu e olhou para mim. — Ela fez a sua rotina de indefesa perfeitamente, mon amie. Eu olhei para ela, ofendida. Nunca me ocorreu fazer algo como fingir um desmaio. — Bem, certamente parece que está funcionando —, eu disse, arqueando uma sobrancelha. — Ela tem o seu homem bajulando-a completamente... mon amie. Os olhos de Justine se estreitaram quando ela observava Devlin colocar a mulher em seus braços. Michael estava freneticamente ventilando-a com suas mãos. Khalid andava de um lado para o outro atrás deles, e Drake tinha se movido para cima a fim de observar toda a cena com uma perplexa expressão. Hashim, eu notei, não tinha se movido um centímetro. De fato, seu olhar permaneceu cravado em mim. MacLeod estava observando a mulher com preocupação no seu rosto, mas não tinha se levantado da sua posição de sentado. Não era a rainha, por tanto. Então quem era ela? Ela estava para se encontrar estancada se Michael e Devlin não parassem de babar em cima dela,
e nesse ponto eu não estava certa quem seria aquela a fazer o fato, eu ou Justine. — Ela está bem? — Khalid perguntou. — Ela ficará bem —, Drake o assegurou. — Quem é ela? — A jovem dama é nova em Edinburgh —, Khalid explicou, então sua voz caiu em um sussurro. — Eu acredito que ela teve uma briga com o seu amor. Ela chegou de navio sem um xelim com ela. Um dos Guardas teve piedade dela e a trouxe aqui. Naturalmente, o rei era bom o bastante para oferecê-la um quarto. Os olhos violetas da mulher tremularam abertos, e ela arfou quando ela viu Michael e Devlin inclinados em cima dela. — Você não tem nada que ter medo de nós —, Devlin disse, sua voz tão profunda e grave que eu não estava certa se iria assustá-la em outro desmaio. — Qual é o seu nome? Ela olhou para ele com amplos, olhos redondos. — Belinda —, ela sussurrou, colocando uma mão frágil no peito dele. — Mas você pode me chamar de Bel. Eu rolei meus olhos e desloquei meu peso. Os dedos de Justine estavam avançando até mesmo mais perto para a adaga com safira na ponta que ela tinha escondida na sua bota. Eu clareei minha garganta, e Michael virou sua cabeça para me olhar. Eu dei a ele um olhar significativo e franzi meus lábios. Seu olhar se moveu sobre meu rosto, e depois para o de Justine. Ele deu uma olhada nela e esticou a mão abaixo, puxando a mulher aos seus pés enquanto ele gentilmente empurrou Devlin para longe dela. Justine relaxou um pouco, e soltou um fôlego. Eu certamente não iria querer estar na pele de Devlin se ele sequer fosse tolo o suficiente para se vadiar. Drake pisou acima e tomou controle da situação. — Minha querida Belinda, nós não estamos aqui para lhe prejudicar. Nós estamos aqui para investigar os corpos que tem aparecido na cidade nos meses recentes. MacLeod inclinou-se para trás e estreitou seus olhos. — Deixe de jogar conosco, Drake. Você está aqui para investigar minha rainha. Você está aqui por que algum espião na minha corte tem sussurrado ao Alto Rei que ela é culpada. Isso é o por quê de você os ter trazido com você —, ele disse com um
gesto extenso. Drake inclinou sua cabeça. — Se ela é culpada, então ela deve pagar o preço. Os dedos de MacLeod agarraram o braço do trono, seus nódulos tornando-se brancos. — O que você fará, Drake? Ter um deles tirando a cabeça dela? Trancá-la longe em algum lugar nas entranhas do Castelo de Tara? Drake lançou suas mãos atrás da sua cabeça e caminhou. — Muito rápido para julgar, meu velho amigo. Você acha que ela é culpada? A cabeça de MacLeod sacudiu para trás. — Claro que não. Mas ela está... não está bem. Parta daqui, e eu vou levá-la para dentro das montanhas no Caisteal Dubhar, e não levá-la de volta para a cidade. Caisteal Dubhar, ou Castelo Sombrio, era a residência de campo do rei ao norte de Inverness. Era remota e bem protegida, uma verdadeira fortaleza. Drake negou com sua cabeça. — Eu não vou barganhar com você. A verdade deve ser descoberta, de uma maneira ou de outra. MacLeod se inclinou para frente. — Ela é minha esposa, meu mundo. Eu não vou deixar você levá-la. — Com todo o respeito devido, Alteza, você está em desvantagem numérica. MacLeod inclinou-se para trás e riu. — Você não é um guerreiro, Drake, e a garota de cabelo vermelho é uma mera inexperiente. Três contra três e a probabilidade é que eu vou levar um dia todo. Khalid e Hashim flanquearam seu rei, e eu não tinha nenhuma ilusão que eles estavam tão desarmados quanto eles pareciam estar. Nós certamente não estávamos. Isso poderia ficar conflitante rapidamente. Eu me movi para cima para ficar entre Michael e Devlin, e Justine se aproximou para guardar minhas costas. — Com todo o devido respeito, Alteza —, eu ecoei, estendendo minha mão, palma para cima. Eu conjurei uma bola de pura magia acima da minha palma, brilhando com uma luz iridescente dourada. Com um pensamento e um toque de glamour, a bola pareceu queimar em chamas. Não era uma chama verdadeira, apenas uma ilusão dela, mas eu estava contando com o fato
de que ninguém iria colocar isso em teste. Tecnicamente, eu podia conjurar fogo na palma da minha mão, mas eu nunca tentaria com vampiros sendo tão inflamáveis. — A inexperiente suplica em discordar. Essa é uma luta que você não pode vencer. — Eu estalei meus dedos e a bola de chamas desapareceu. — Então por que nós não tentamos discutir isso como adultos racionais ao invés? Cinco pares de olhos me consideraram com fascinação e horror, ou ambos. A mão de Bel foi para a sua garganta e eu vociferei, — Mulher, se você desmaiar novamente você irá acordar em chamas. — ela engoliu e deu um passo atrás, mas agradecidamente permaneceu sob seus pés. MacLeod sorriu. — Tanto poder em tal pequena embalagem. É melhor você ter cuidado em não se tornar tão poderosa, você é mais como uma deficiência do que uma habilidade para o Alto Rei. Eu olhei para Drake, mas sua expressão não me deu nada. Era, de fato, tão vazia de qualquer reação da afirmação de MacLeod, do que um frio nó de pavor apertado em meu estômago. Ah, pederasta, isso era tudo o que precisava. Eu não podia fazer nada sobre isso agora, entretanto, então eu me preocuparia com isso mais tarde. No momento eu tinha problemas maiores, como Hashim deslizando na minha direção com a descrição de uma serpente. — Ela é perigosa, Sua Alteza. Ela irá usar a sua magia para realizar qualquer efeito que eles desejem, quer ele seja verdade ou não. — Eu me balancei para trás no meu calcanhar com a força do seu medo e ódio. — Deixe-me matá-la agora. — Não seja um tolo —, eu vociferei. — Eu não ofendi você de nenhuma maneira, Hashim. — A sua existência é uma afronta a Alah. Você é uma abominação —, ele cuspiu. — Oh. Diz o vampiro. Algumas vezes eu realmente não sei quando manter a minha boca fechada, e essa foi uma dessas vezes. A mão de Hashim recuou para me atingir, e antes que eu pudesse sequer piscar duas coisas aconteceram de uma vez: Eu ouvi um tapa de carne contra carne e o agudo assobio de aço limpando uma bainha. Eu não tinha hesitado. Eu sabia sem dúvida que ele
nunca seria capaz de me tocar, não com Michael estando na minha direita e Devlin na minha esquerda. Um músculo contraiu na bochecha de Hashim enquanto ele entendia o resultado da sua tolice. A mão de Devlin agarrou no seu pulso nem quinze centímetros do meu rosto, e a ponta da claymore de Michael estava pressionada na sua jugular. Eu olhei para Michael e encontrei o seu rosto frio como pedra. Suas altas maças do rosto pareciam afiadas como as bordas de uma faca quando sua mandíbula estava fechada com fúria. — Você deita uma mão na minha mulher —, ele disse em uma baixa, mortal voz —, e você vai morrer sangradamente. Khalid esticou a mão e puxou o seu irmão para trás, sussurrando ferozmente para ele em Árabe. Eu olhei para MacLeod. — Não é com a minha magia que você precisa se preocupar é com qualquer que seja a magia que está sendo empregada aqui antes de mim. O ar fracamente cheira a ela. Todos olharam ao redor como se eles esperassem ver a magia flutuando acima das suas cabeças. Eu gargalhei e neguei com minha cabeça. — Para algumas pessoas cuja inteira existência é devido a algum tipo de magia, sempre me impressiona que vampiros não sejam os mais sensitivos a ela. Alguém está trabalhando com magia nessa casa. — Que tipo de magia? — Drake perguntou. Era uma pergunta que eu desejaria poder responder. Ver outra bruxaria era uma das primeiras coisas que minha tia Maggie me ensinou quando eu recebi o meu poder. Apenas como humanos ou vampiros, havia bruxas boas e bruxas más, e isso era importante, Maggie tinha dito, para ser capaz de sentir que tipo de magia estava sendo trabalhada ao seu redor. O que estava nessa casa, entretanto, não se parecia com nada que eu já encontrei antes. — Eu não sei —, eu disse. — Mas definitivamente está aqui. — É impossível —, MacLeod disse. — Eu nem sequer vi uma bruxa em mais séculos do que eu me importo em contar. — Não é só possível —, eu respondi —, como aconteceu. Se a rainha não estava trabalhando com magia, então talvez alguém tenha trabalhado contra ela. Você diz que ela está indisposta?
MacLeod estava em silêncio por um momento. Havia esperança em seus olhos, esperança que eu tinha colocado ali, mas ele ainda não confiava em mim. Era uma pena, mesmo, uma vez que eu era a sua melhor esperança de salvar a sua rainha. Finalmente ele falou. — Ela está. Você acha que a indisposição dela é devido a algum tipo de feitiço? Eu encolhi de ombros. — Eu preciso vê-la. Eu não posso prometer nada, mas é possível que eu saiba se ela está sendo influenciada pela magia de alguém. MacLeod assentiu e se ergueu. — Você pode subir a nossa câmara, mas apenas você. Eu avancei adiante, mas Michael agarrou meu pulso. — Ela não vai a nenhum lugar nessa casa sozinha. MacLeod arqueou uma escura sobrancelha para ele. — Você ousa sugerir que sua mulher viria a ser ferida enquanto sob minha proteção pessoal? — Ela já teve oferta de violência —, Michael disse, gesticulando em direção à Hashim. — Eu direi a você novamente, Alteza, ela não vai a nenhum lugar, sozinha. MacLeod olhou para Hashim, e então assentiu. — Que assim seja. Mas o resto de vocês deve permanecer aqui. Drake abriu a boca para protestar, mas eu prendi sua visão e neguei com a cabeça. Ele me deu um longo olhar, então inclinou sua cabeça para mim e permaneceu em silêncio. MacLeod estava irrequieto e eu pela primeira vez estava ansiosa para agradá-lo. Eu queria todo esse negócio terminado com tanta rapidez quanto possível.
***
Toda a casa era tão excessivamente feita com veludo vermelho e dourado que o quarto de MacLeod me impressionou tanto quanto a sua Câmara de Presença. Era um massivo, quarto sem janela, mesmo assim, não era
opressivo. Era confortável; o tipo de quarto que podia manter você ocupada durante longos dias de verão. As paredes estavam penduradas com ricas, vibrantes tapeçarias, e o piso de madeira brilhava com verniz. Uma mesa de pesado carvalho dispunha-se em ângulo no canto esquerdo do quarto, sua superfície coberta com papéis e pilhas de livros. As estantes que consumiam as duas paredes atrás dela estavam similarmente abarrotadas com textos e pedaços de papéis salientes aqui e ali. Um enorme globo empoleirado em um suporte de bronze a esquerda da mesa. Do outro lado do quarto, um fogo na lareira queimava, iluminando os dois sofás Romanos que flanqueavam a lareira e a baixa mesa entre eles. Uma larga, bem-usada cadeira fixava-se diretamente do outro lado da lareira, fazendo a pequena área de estar bastante aconchegante. A direita da porta uma segunda lareira espelhava a primeira, lançando sombras trêmulas ao outro lado de uma enorme, baixa cama envolta em puro aconchego. Parecia como algo que você poderia encontrar em um harém de sultão. Meu olhar viajou acima para o teto da Renascença Italiana, pintado com cenas de deuses e deusas. Eu sacudi minha cabeça e sorri. Era exatamente o tipo de quarto eclético que um bemviajado vampiro de dois mil anos de idade teria, preenchido com recordações e antiguidades. A única coisa faltando era a rainha. Os ombros de MacLeod estavam visivelmente tensos. — Ela estava aqui cerca de uma hora atrás —, ele disse, quase em um sussurro. Eu podia sentir a mesma essência inebriante nessa câmara, mais forte aqui do que tinha estado no restante da casa. Quem quer que fosse responsável por isso tinha estado aqui recentemente. — Se ela foi levada, como eles entraram? — eu perguntei. Ele olhou para mim sem compreender, e eu assenti para a pesada chave na sua mão que ele tinha usado para destravar a porta. Ele olhou abaixo para ela como se ele estivesse vendo pela primeira vez. — A tranca tem a intenção de mantê-la segura, não para mantê-la prisioneira. — Ele assentiu para a porta, e eu percebi que em adição à trava havia uma pesada barra de ferro que podia ser colocada atravessada na porta do lado de dentro. Esse era o refúgio deles, seu lugar de descanso durante o dia, e como tal seria barrado do lado de dentro para que eles pudessem sair,
mas que ninguém pudesse obter aceso do lado de fora. — Nós devemos encontrá-la antes do romper do dia —, Michael disse. — Venha, Alteza, nós vamos alertar os outros e dividir e procurar na casa. MacLeod assentiu, e nós três movemos rapidamente descendo o corredor. Quando nós alcançamos a cabeça das escadas eu parei. — Você dois sigam em frente. — Eu gesticulei na direção oposta, em direção ao nosso quarto. — Eu vou pegar alguns suprimentos e ver se uma localização de feitiço pode nos ajudar a encontrá-la. Michael estreitou os olhos na minha direção. Ele sabia muito bem que fazia anos desde que a maior parte da minha magia não requeria nenhum tipo de feitiço ou ritual para se aperfeiçoar, e ele sabia que eu carregava pouco comigo no caminho da parafernalha mágica. — Eu vou ajudar você —, ele ofereceu, me desafiando a contestar. — Obrigado —, MacLeod disse, e ao meu aceno ele se virou e continuou descendo os degraus. — O que você está disposta a fazer? — Michael perguntou quando o rei estava fora de vista. Eu encolhi de ombros. — Quem quer que esteja usando magia nessa casa esteve naquele quarto. Eu quero algum tempo ali para ver se eu posso conseguir algo. Ele negou com sua cabeça. — Eu não estou deixando você sozinha nessa casa. — Michael, meu amor, eu não estou sem minhas próprias defesas. Além disso, nós não sabemos se algo nefasto está realmente acontecendo com ela. Ela podia ser aquela trabalhando nessa magia por tudo que nós sabemos, e fugiu de medo que nós descobríssemos sua culpa. — Ele me deu um olhar dúbio e eu suspirei. — Eu sei, isso não parece certo para mim, também, mas alguém nessa casa não está sendo sincero, e eu preciso descer ali e observar cuidadosamente. Procurar por algo suspeito. Eu acho que nós podemos descartar com segurança MacLeod como um suspeito, mas os outros três...se certifique que nenhum deles vá procurar sem um de nós com eles. Agora vá —, eu disse, me esticando para cima e beijando-o rapidamente. — Eu vou
ficar bem. — Você tem quinze minutos —, ele disse —, e depois eu voltarei. — Isso é tudo o que eu preciso —, eu chamei sobre meu ombro enquanto eu me apressava de volta para a câmera de MacLeod. Uma vez do lado de dentro eu fiquei no pé da cama, limpando minha mente de tudo, e estendi meus sentidos para fora. Não foi minha magia, contudo, que atraiu minha atenção para a tapeçaria na parede a minha direita, foi a muito fraca corrente de ar que soprou junto da minha bochecha. Eu me aproximei e corri minha mão o longo dos unicórnios saltitando e fadas, apreciando a habilidade do mestre tecelão mesmo enquanto eu sentia aquela corrente de ar mais uma vez. Em direção a extremidade da tapeçaria minha mão empurrou-se para dentro do espaço vazio. Eu agarrei o tecido e o puxei ao lado. Havia uma porta que tinha sido deixada em aberto, deslizando nitidamente em um esconderijo na parede. Além da porta havia degraus conduzindo acima a uma direção e descendo à outra. Seria mais lógico pegar a escada para baixo – perto assim do amanhecer qualquer vampiro sano certamente seguiria para baixo – mas algo me atraiu inexoravelmente para cima ao curto lance de escadas à minha esquerda, o qual terminou em uma pesada escotilha de aço no teto. Eu deslizei o ferrolho e empurrei a escotilha, saindo em direção ao telhado. O som de choro atraiu minha atenção a um pequeno, coberto de estanho, gazebo. Eu olhei ao redor antes de eu me aproximar, procurando nas sombras qualquer visão de perigo. Outra além da mulher no gazebo, eu não podia sentir nenhuma outra presença ao meu redor. A pesada treliça me impedia de ver o lado de dentro da estrutura, então eu caminhei lentamente ao outro lado do topo do telhado e dando a volta pela frente. Os sons da agitação da cidade se filtraram até mim: vozes gritando, tanto em saudação ou aborrecimento; os cascos dos cavalos clicando nos paralelepípedos, o tinir dos freios e o baixo estrondo de pesados carrinhos. Acima disso, todo o Castelo de Edinburgh colocava-se alto em seu poleiro de pedra cinzenta, como uma mãe dragão aninhada, continuando a cuidar de sua cria. Apenas os soluços abafados de uma mulher no gazebo perturbaram a diferente cadência comum da cidade acordada. Eu caminhei dando a volta no
canto do gazebo e parei, minha mão voando para a minha boca. Ela estava de joelhos, seus pulsos acorrentados atrás das suas costas a uma robusta viga de suporte no gazebo. Seu longo cabelo loiro em apertados cachinhos, cobrindo seu rosto e seu corpo nu. Seus ombros sacudiam-se com cada soluço violento, mas ela não ergueu sua cabeça quando eu dei um passo à frente. Ela não pareceu perceber que eu estava ali. Eu estendi uma mão para ela. — Marrakesh? — eu perguntei, suavemente.
Capítulo
E
la lançou sua cabeça para trás e soltou um grito rouco. Eu puxei minha mão para longe. Se ela fosse a rainha, então eu não deveria tocá-la. Ela tinha poder, essa aqui, o poder de se ver dentro da sua alma com o mero toque da sua mão. E se ela desejasse, ela podia destruir você com o que ela encontrasse ali. Não era o poder de vampiro, ou bruxaria. Era... algo mais... e essa era a razão que ela fosse temida e respeitada pelos vampiros por todo o mundo, a razão de MacLeod não ter sido desafiado pelo seu trono em séculos. Ela era sua executora, e foi dito que o último vampiro a desafiá-lo correu gritando para o sol quando Marrakesh o tocou. Ela sentiu toda a dor que ele causou ao longo dos vários séculos de sua existência e virou essa dor de volta para ele, inundando-o com uma maré de emoção que rompeu sua sanidade e o conduziu do Caisteal Dubhar para o sol da tarde. Eu era apenas um vampiro por treze anos, mas até mesmo eu tinha feito coisas que eu não queria reviver. E então eu fiquei ali, me perguntando o que fazer a seguir, e observando a Rainha das Terras do Ocidente chorar como se o seu coração estivesse sendo arrancado do seu peito. — Você me trairia assim? — ela gemeu. Eu dei um passo para trás e neguei com minha cabeça. — Minha rainha. Eu não fiz isso a você, eu juro. Mas como ela terminou aqui, assim? Como alguém poderia ter feito isso
sem tocá-la? Talvez quem quer que estivesse trabalhando na magia que eu senti, tivesse usado um feitiço para fazê-lo ou fazê-la imune ao poder da rainha. O que eu não daria por esse feitiço nesse momento, eu pensei. — Eu amava você —, ela sussurrou, e eu franzi o cenho e inclinei minha cabeça para um lado. — Eu me tornei tudo o que você queria que eu fosse, e mais. Eu tentei tão árduo agradar você. Ela não estava olhando para mim. De fato, ela nem sequer pareceu perceber que eu estava ali. Eu me movi ao redor para que eu estivesse diretamente na sua linha de visão, mas o olhar nos olhos dela estavam tão vitrificados e distantes que eu sabia que o que quer que fosse que ela estivesse vendo, não era o topo do telhado de Edinburgh, e certamente não era eu. — Eu amei você —, ela disse novamente, parecendo perdida e ferida e confusa. — Você é meu marido, Conall. Eu dei tudo a você – dinheiro e terras... cada centímetro do meu corpo e alma. Como você pode fazer isso? Bem, esse certamente não era MacLeod. Deuses, ela podia estar revelando a sua vida humana? Ela tinha que estar bem além de mil anos de idade. O que possivelmente podia magoar tanto assim, depois de todo esse tempo? Eu balancei minha cabeça. Isso era algo sobre o qual eu não deveria saber nada, sobre o qual não queria saber nada. Eu deveria partir. Eu deveria ir e pedir ajudar. Mas ela pareceu tão magoada e vulnerável que eu não podia me fazer mover. Eu fiquei ali, imóvel como uma estátua, enquanto toda a narrativa de apertar o estômago despencava de seus lábios. — E você... — Ela virou sua cabeça levemente para a direita, como se alguém mais estivesse ali de pé. — Eu amava você como uma irmã. Você foi minha primeira amiga quando eu vim aqui como uma noiva. — Ela gargalhou roucamente, e esse não foi um som bonito. — Você foi até mesmo bondosa o bastante para me dar conselhos sobre como agradar meu marido na cama. Que tola eu fui. Eu pensei que você era tão sabida, mas era bastante fácil quando você sabia em primeira mão o que ele queria, não era? Me conte, Nessa, quanto tempo você tem dormido com meu marido? Eu esperei enquanto ela escutou as vozes que apenas ela podia ouvir. Finalmente ela fechou seus olhos, curvou sua cabeça, e caiu para baixo tão
longe quanto as correntes permitiram-na. Eu não precisei ouvir o outro lado da conversa para saber a resposta para essa pergunta. — Então era tudo uma mentira, desde o início. Por Danu, por que você me faria acreditar que você me amava, Conall? Eu me casei com você por que meu tio pediu isso para mim, e ele é o Uí Níall. Eu nunca esperei por amor e teria ficado contente sem ele. Eu mal a ouvi quando ela sussurrou —, Seu bastardo. — Ela ergueu sua cabeça, e seus olhos estavam vermelhos, seu rosto molhado com lágrimas. — Então agora você planeja me jogar fora nessa praia com insignificante tesouro na esperança de que eles me levarão e deixe sua aldeia sozinha. E o que você dirá ao meu tio? Que eu fui morta em um ataque surpresa? E então você estará livre para se casar com a mulher que você ama. Que conveniente. Grave-me bem, Conall, você não irá se safar com isso, nenhum de vocês. Ela começou a se puxar violentamente contra as correntes que prendiam seus pulsos enquanto ela gritou o nome do seu marido. Finalmente, ela afundou-se em seus calcanhares, chorando e tremendo como se ela fosse ruir. — Marrakesh? — eu disse, não realmente esperando uma resposta. Vampiros geralmente mudavam seus nomes depois que eles se transformavam, e se ela acreditava que ela estava no passado, ainda humana, ela não reconheceria Marrakesh como seu nome. Qualquer que tenha sido o seu nome humano eu não sabia, então eu simplesmente acariciei o seu cabelo e disse, — Querida, eu vou conseguir ajuda. Eu voltarei logo, eu prometo, e então isso estará terminado. Ela lançou sua cabeça para cima, seus olhos amplos e selvagens com medo. — Shh! — ela disse. — Silêncio! Eles estão vindo. Eles estão aqui. Eu neguei com minha cabeça. — Quem está aqui? De quem você está com medo? Sua respiração saía em rasos suspiros. — Vikings. Eu me balancei para trás em meus calcanhares. Ele tinha dito a ela que ele a amava, dormiu com sua melhor amiga, e então a jogou em uma praia como um sacrifício aos Vikings? Inferno sangrento, que tipo de maldito marido faz isso? — Mas que inferno está acontecendo aqui? — uma voz masculina
vociferou atrás de mim. Eu me girei, atraindo a curta espada que estava embainhada na minha espinha enquanto eu virei. Era MacLeod. Me ocorreu brevemente que quem quer que tenha feito isso com a rainha ou possuía forte magia ou era alguém que ela confiava, alguém que não iria tropeçar com o toque do seu poder. O homem com quem ela dormia todo dia, talvez? Um marido a tinha emboscado para ser morta por Vikings, apenas para ter outra tocaia para ser morta pelo sol da manhã? Eu abaixei a espada. Ele estava desarmado, e o olhar de dor no seu rosto enquanto ele avançou passando por mim para a sua esposa era tão sombrio que apertou meu coração. Eu queria acreditar que ele não poderia ter feito esse tipo de coisa. Contudo, eu não era uma garota estúpida, então eu mantive a espada na minha mão. — Eu encontrei-a assim —, eu disse. — Eu não sei o que está errado com ela. Ela fala de Vikings. — Ela me disse, claro, como ela veio a ser Marrakesh quando eu a encontrei, mas eu nunca tinha visto... As correntes sacudiram-se atrás de mim, e eu olhei sobre meu ombro para vê-la lutar para se levantar aos seus pés. Com um majestoso lançar de sua cabeça ela jogou seu cabelo sobre seu ombro e olhou fixamente para MacLeod como se ela verdadeiramente o visse. — Bastante bonito —, ela sussurrou para si mesma. Meu olhar oscilou entre eles, cada um encarando o outro em extasiada atenção. Eu pisei para o lado, incerta do que estava acontecendo. — Viking —, ela chamou. — Eu tenho uma barganha para fazer com você. Ela estava alta e orgulhosa, confiante na sua beleza, sem vergonha da sua nudez. Ela era vários centímetros mais alta do que eu e não gorda, necessariamente, apenas... sólida. Era uma figura de que uma vez foi elegante e sem dúvida seria novamente. Ela tinha sido jovem quando ela foi transformada, em seus vinte eu teria imaginado, e era ao menos vinte anos (e vários séculos) mais nova do que MacLeod. Seu cabelo loiro pendia em apertados cachos até a sua cintura, e seus olhos eram como veludo verde
enquanto eles se moviam sobre o rosto e corpo de MacLeod. Ele caminhou até ela e ficou diante dela. Mesmo embora ela estivesse acorrentada e nua, eu não tinha dúvida de quem tinha vantagem ali. Ela era como uma cobra hipnotizando sua presa. — Você dificilmente está na posição de fazer barganhas, senhora —, MacLeod respondeu, como se ele fosse um ator nesse pequeno drama. — Eu não estou? Eu sou a senhora do castelo acolá —, ela disse e assentiu sobre seu ombro, pressionando suas costas na viga e arqueando seu corpo enquanto ela fazia isso. Muito bem feito. Ele estava inteiramente nas mãos dela. — E eu posso assegurar-lhe que há mais tesouro ali do que a insignificância que deita na praia. — Eu não preciso da ajuda de nenhuma mulher para me sustentar, ou a um tesouro dentro —, ele respondeu. Obviamente MacLeod conhecia o que tinha acontecido com ela todos aqueles séculos atrás e estava bancando o guerreiro Viking para ela. Com qual propósito, eu não tinha ideia, talvez simplesmente uma desculpa da sua própria curiosidade. Independentemente, eu permaneci paralisada e observei a cena sendo atuada. Ela gargalhou. — O tesouro está bem escondido. Você pode desmantelar pedra por pedra. Você pode procurar até Lugnasa e nunca encontrá-lo. Eu darei a você o que você solicita em troca de duas coisas. Ele gargalhou suavemente. — Você tem coragem, senhora, e espírito. Eu gosto dessas coisas nas mulheres. Que benefício é esse que você pede de mim em troca por esse tesouro. Ela ergueu seu queixo. — Eu sou a sobrinha do rei Uí Níall. — Você deseja ser resgatada de volta ao seu tio? — Eu fui desonrada —, ela respondeu com uma gargalhada amarga. — Eu nunca posso voltar ali e sustentar minha cabeça erguida. Mas eu sou uma dama, Viking, e não tenho nenhum interesse em me tornar uma escrava. Eu seria a sua dama. Trate-me como uma princesa deveria ser tratada e eu farei você mais feliz do que você jamais foi, na cama e fora dela. Ele correu seus dedos sobre sua bochecha e agarrou seu queixo. — Eu poderia ter você aqui e agora, senhora, e não pagar por isso. Ela sorriu. — Você é um velho homem, Viking. Você quer realmente
uma mulher na sua cama com quem você tem que lutar toda noite? Dê-me o que eu quero, e eu lhe darei o que você quer, de boa vontade. — O que faz você pensar que eu desejo ter você na minha cama toda a noite? Eu poderia ter você uma vez e vender você como uma escrava aos Mouros. Ela levantou sua cabeça como se acenando para ele se aproximar. Quando ele se moveu para perto, ela se inclinou adiante tão longe quanto as correntes permitiam, seus lábios quase tocando os dele. Seu olhar moveu aos lábios dele, e ela lambeu os seus próprios. — Você não me deixará ir sem me ter. E uma vez que você me tiver, você não me deixará ir. — Ela ergueu seus olhos para ele. — Dê-me o que eu quero, e eu vou ser o melhor que você jamais teve. Ele engoliu. — Feito —, ele disse, quando ele encontrou a sua voz. Ela se inclinou de costas contra a viga e deixou seu olhar cair timidamente. Era um gesto coquete. — E a segunda coisa que você me pediria? — ele solicitou. Ela estava em silêncio por um momento e então ergueu seus olhos aos deles. Foi-se a ousada sereia ou a tímida coquete. O ódio que queimava como fogo verde em seus olhos me fez dar um passo atrás. — Mate-os todos —, ela assobiou.
Capítulo
M
acLeod —, eu disse, rasgando o meu olhar do rosto de Marrakesh e olhando sobre meu ombro. — Nós não temos mais tempo para isso. O amanhecer está aqui. MacLeod se sacudiu e olhou para o céu. — Maldito seja —, ele xingou. Ele puxou as correntes, mas elas estavam apertadas e imóveis por um robusto cadeado do tamanho do meu pulso. Eu sustentei minha espada. — Isso irá ajudar? — eu perguntei. Ele olhou para a espada, e então de volta para os pulsos dela, negando com sua cabeça. — Mesmo se eu pudesse quebrar o cadeado com isso. Eu não posso chegar até ela. Eu embainhei a espada e me movi para o outro lado a ela. — O pilar. Arranque o pilar e nós podemos liberá-la. Nós vamos nos preocupar sobre tirar as correntes uma vez que nós estivermos do lado de dentro. Ele assentiu, agarrando o pilar de madeira que era tão largo como a minha perna e o rompeu como um galho. A extremidade do telhado cedeu enquanto Marrakesh se arremessava adiante nos braços de MacLeod. E foi quando eu notei as suas costas. Mesmo com o céu oriental tornando-se rosa com o amanhecer, eu não pude evitar além de parar e encarar. Todas as suas costas desde as suas omoplatas à base da sua coluna estavam cobertas com uma grande tatuagem. Um enorme corvo preto
—
ocupava mais do que o meio das suas costas, suas asas abertas e espalhadas sobre suas omoplatas, suas penas brilhantes pretas reluzindo com uma sugestão de dourado. Atrás do corvo uma lua cheia brilhava como prata líquida. O bico do corvo segurava um raminho de avelã, e cada talão segurava um ramo de abeto10 e sabugueiro. A tinta verde era tão brilhante que as plantas pareciam vivas. Atrás do pássaro, ondas rodopiavam em várias tonalidades de azul e verde, se afunilando abaixo em um V na base da sua coluna. Salmão rosa e dourado nadava naquelas ondas, suas escamas brilhando. Cercando toda a tatuagem e preenchendo qualquer espaço vazio estavam escudos de proteção Celtas, em espirais, e círculos, fazendo toda a coisa parecer algo tirado do Livro de Kells11. As cores eram tão vibrantes e reluzentes que eu estendi a mão para tocá-la, para ver se a tinta ainda estava molhada. E não estava. — MacLeod — eu perguntei. — Ela tem isso desde quando ela foi transformada em vampiro —, ele disse rapidamente enquanto ele erguia Marrahesh e a embalava no seu peito. Ele olhou sobre seu ombro para o amanhecer rompendo no horizonte. — Depressa. Nós corremos para o outro lado do topo do telhado, e eu pisei ao lado para permitir que ele carregasse a sua rainha para baixo dos degraus na minha frente. Eu deslizei atrás dele e fechei o alçapão, largando o ferrolho para trancá-lo do lado de dentro. MacLeod se deslocou nos degraus, me dando espaço para me mover passando por ele e segurar a tapeçaria para trás. Uma vez que nós estávamos do lado de dentro, eu fechei a porta e notei duas fechaduras a mais, esculpidas no painel de madeira. Ao menos que o sequestrador dela possuísse magia suficiente para abrir as travas do lado de fora, quem quer que tenha levado Marrakesh em direção aquele telhado tinha entrado no seu quarto e não na passagem além. Interessante, eu pensei enquanto eu deslizei as travas nos lugares e deixei a tapeçaria cair de volta para esconder a porta. 10
(abeto - é o nome popular das diversas espécies do gênero Abies. São árvores coníferas da família Pinaceae, nativas de florestas temperadas da Europa, Ásia e América do Norte.) 11 (Livro de Kells - também conhecido como Grande Evangeliário de São Columba, é um manuscrito ilustrado com motivos ornamentais, feito por monges celtas por volta do ano 800 AD no estilo conhecido por arte insular.)
MacLeod a tinha deitado na cama e tirado a sua blusa para cobrir a nudez dela. Eu poupei um olhar apreciativo para o seu peito levemente musculoso, e então fui para inspecionar os pulsos atados da rainha. Eu passei minha mão sobre as correntes, procurando por qualquer toque duradouro de magia. Quando eu não encontrei nenhum, eu fechei meus olhos e empurrei o meu poder dentro do cadeado, sussurrando —, Abra. O cadeado rompeu aberto e as correntes deslizaram dos seus pulsos. A cabeça de MacLeod estalou para cima. — Por que você não fez isso no telhado? Eu encolhi de ombros. — Alguém está trabalhando com magia nela. Eu só assumi que o cadeado estaria protegido. Eu certamente teria protegido-o, se eu tivesse feito isso com ela. — E se ele tivesse, então o que? — Eu não tenho encontrado uma proteção que eu não pudesse romper em dez anos, mas isso teria levado tempo que nós não tínhamos. Ele assentiu e escorregou os braços de Marrakesh dentro das mangas da blusa dele, murmurando palavras de amor em Gaélico para ela enquanto ele fazia. Isso era uma coisa tão íntima que eu me senti subitamente como uma voyeur. Eu limpei minha garganta. — Eu apenas vou e contar aos outros que ela foi encontrada. Tente colocá-la para descansar, e eu voltarei para ver o que eu posso fazer por ela. Minha mão estava na porta do quarto quando ele chamou meu nome. Eu me virei e olhei para ele, o orgulhoso Rei das Terras Ocidentais, sem camisa e acariciando sua jovem rainha em seus braços. O olhar no seu rosto estava preenchido com dor e desamparo. — Obrigado —, ele disse —, por acreditar nela. Eu neguei com minha cabeça. — Eu não sei no que eu acredito, Alteza, mas eu sei que ela não fez isso consigo mesma. Ele me olhou por um momento, como se a força da sua vontade sozinha pudesse me fazer acreditar na sua inocência, então assentiu e virou sua atenção de volta para a sua dama. Eu escorreguei para fora da porta, e bati direto em Michael.
— Nós a encontramos —, eu disse, gentilmente empurrando-o para trás enquanto ele esticava seu pescoço para dar uma olhada dentro da câmara real. — Mas nós temos um problema. Eu expliquei as circunstâncias cercando o retorno da rainha, deixando as partes essenciais para quando nós estivéssemos sozinhos. Ele se inclinou de costas contra a parede e fechou seus olhos. — Bem, inferno. Isso não podia ter sido fácil, poderia? Considerando as circunstâncias, nós temos que contar aos outros que ela foi encontrada, e suspender as buscas. — Concordo. — Eu disse. — E eu quero calcular a reação de Khalid e Hashim quando eles receberem a notícia.
***
Eu teria adorado ter visto algo nos rostos dos tenentes de MacLeod. Alguma máscara de culpa ou irritação com as notícias de que a rainha estava segura, teria sido legal. Infelizmente, os gêmeos não mostraram sinal de nada além de grande alívio. Até mesmo Bel esvoaçou e enxugou uma lágrima com seu lenço de mão quando ela se informou que Marrakesh estava segura agora enfiada longe na sua câmara. Era claro para mim que Devlin estava procurando pela mesma reação que eu estava, por que ele legivelmente grunhiu de frustração. — Eu quero todos na câmera de MacLeod —, ele disse. — Agora, eu quero toda essa estória dita desde o início. Eu não gosto de não saber o que sangrento inferno está acontecendo. Enquanto nós seguíamos para as escadas, Bel divagou. — Oh, uma aquisição! Eu nunca estive na câmera real antes. Você acha que esse vestido é apropriado? Talvez eu devesse ir me trocar antes. — Seu vestido é adorável, querida —, eu disse enquanto ela roçava passando por Justine e por mim para seguir os homens subindo as escadas. Os dedos de Justine se curvaram em garras enquanto ela esticava as mãos para os saltitantes cachos brilhosos de Bel. Eu bati nas suas mãos, sufocando
uma risada enquanto eu fazia. — Você realmente acha isso? — Bel perguntou quando ela se virava nos degraus, o esperançoso olhar no seu rosto dando lugar a várias piscadelas espantadas enquanto ela me observava golpeando Justine. Eu acotovelei Justine nas costelas. Era a sua vez de se fazer de legal, depois de tudo. Ela resmungou e então inclinou sua cabeça, seus dentes parecendo apenas um pouco selvagens enquanto ela sorria para a beleza escura acima de nós. — Muito bem, chérie. — Hmm. Não, eu nunca gostei do gosto disso, mas talvez um bom Bourdeaux iria bem com um inquérito. O que você acha Michael? — Bel perguntou enquanto ela sorriu e se virou, deixando Justine e eu olhando de boca aberta para o pé da escada. *** Justine e eu sentamos em um dos sofás Romanos do quarto de MacLeod, observando enquanto o rei andava de um lado ao outro diante da lareira, seu olhar ocasionalmente escorregando para a sua esposa. A rainha estava dormindo na sua cama coberta com uma tela no outro lado do quarto, obliquamente a todos nós. Bel e Drake ocuparam o outro sofá enquanto Khalid e Hashim ficaram de pé como, bons sentinelas, de cada lado da lareira. Michael estava em pé atrás de mim, esfregando lentos círculos no fundo do meu pescoço com o seu polegar. Eu tamborilei meus dedos impacientemente em um braço do sofá enquanto eu escutava Drake gentilmente explicar a diferença entre um inquérito e um interrogatório para Bel. Finalmente, eu disparei um olhar penetrante para Devlin, que se inclinou para trás na sua cadeira, estalando seus dedos, e disse —, Alteza, talvez você gostaria de começar do princípio? MacLeod parou de vagar e olhou para Devlin como se ele tivesse acabado de se lembrar que o resto de nós estava no quarto. Eu tive a impressão que andar na frente da lareira era um hábito dele de longa data. Ele suspirou e inclinou um ombro largo contra o canto da cornija. — Vários meses atrás eu soube de um informante na cidade que havia
vários corpos frescos sendo dissecados na Faculdade de Medicina de Edinburgh. Como nós todos sabemos, há, infelizmente, um comércio muito lucrativo para os Ressurreicionistas esses dias. Os corpos que estavam sendo usados pelo Dr. Knox na Faculdade de Medicina, contudo, eram muito frescos para terem sido roubados de seus túmulos, então eu pedi a Clarissa para se certificar que esses corpos não fossem vítimas de vampiros. — Quem é Clarissa? — Devlin perguntou. — Uma das damas da rainha e um membro de longa data da minha corte. Clarissa frequentemente caçava perto da Faculdade de Medicina, então eu pedi a ela para investigar sobre os corpos quando ela tivesse escravizado um dos alunos de medicina. Ela reportou que os corpos eram antigos, sem mordidas ou veias abertas, e sem perda de sangue. Aparentemente a causa da morte na maior parte deles foi sufocação. Eu decidi que isso era uma questão para as autoridades humanas e pensei que fosse o final disso. Eu inclinei para frente e captei a atenção de Drake. — Então se essas pessoas não foram mortas por vampiros, então por que nós estamos aqui? Drake olhou para o rei. — Você quer dizer a ela, ou digo eu? MacLeod fez uma carranca para ele e inclinou sua cabeça. — Você tem seus espiões na minha corte, então eu tenho certeza que você sabe tanto quanto eu sei —, ele disse severamente. Drake não pareceu estar incomodado com o tom e continuou com a estória. — Nós estamos aqui por que veio a atenção do Alto Rei que recentemente, enquanto Clarissa estava fora caçando, que ela viu um dos corpos sendo entregue na Faculdade de Medicina... pela própria rainha. — Isso é ridículo, eu disse a você! — MacLeod gritou. — Ela não teria feito isso. Ela não poderia ter feito isso! Eu estava com ela naquela noite. Toda a noite. Drake olhou para ele com simpatia ecoada no seu rosto. — Você entende, meu amigo, por que eu não posso aceitar sua palavra para isso. Qualquer vampiro que cruzaria o deserto do norte da África para roubar uma mulher não teria escrúpulos sobre mentir ao salvá-la. O Alto Rei não pode piscar um olho sobre isso, MacLeod, você sabe disso. Você mesmo é rei e sabe que, como tal, você deve dispensar igualmente justiça ou você não é
digno do seu título. Você é um bom homem, meu amigo, e um ótimo rei. Você deve nos deixar ver isso até o final. MacLeod olhou para ele por um longo momento antes de virar suas costas para nós e suportar seus braços contra a cornija. — Saiam —, ele disse em uma baixa, áspera voz. — Todos vocês saiam. Eu tive o bastante por uma noite. Todos nós olhamos para Drake, incertos do que fazer. Ele fechou seus olhos e respirou fundo. Então ele se levantou e sem palavras sustentou uma elegante mão para assistir Bel a se erguer. Nós entendemos a dica dele e todos desfilamos na frente de MacLeod. Ele nunca olhou para cima. Ele era o rei, depois de tudo, e nós tínhamos sido dispensados. Enquanto eu fechava a porta silenciosamente atrás de nós, Devlin virouse para Khalid. — MacLeod enviou Clarissa para o Castelo da Escuridão com o resto da corte? — ele perguntou. Khalid afastou o olhar, e então encontrou os olhos de Devlin. — Não, ela permaneceu para trás por que o rei sabia que você desejaria questioná-la. Devlin assentiu. — Eu farei isso agora, antes de todos nós nos retirarmos pelo dia. Khalid enquadrou seus ombros. — Isso não será possível. Eu rosnei internamente. Devlin tinha emitido uma ordem, e ele não era um homem acostumado a ter a sua autoridade questionada. Devlin arqueou uma preta sobrancelha para o homem, e seu rosto se fixou naquela fria arrogância que eu tinha vindo a conhecer tão bem. — Eu disse que eu iria questioná-la agora, Khalid. Eu percebo que você é o primeiro tenente do Rei das Terras Ocidentais, mas não se esqueça de quem sou eu. Eu não espero pelo seu agrado, você não espere pelo meu. Khalid se eriçou, parecendo como se ele fosse desafiar essa afirmação; então a tensão deixou o seu corpo e ele encolheu um ombro. — Como você desejar, meu senhor. E foi assim que nós oito terminamos marchando para baixo na grande escadaria e atravessando as dependências comuns para a larga cozinha na parte posterior da casa. Localizada dentro de uma parede distante estava uma
espessa porta de carvalho. Khalid puxou a porta aberta como se ela pesasse nada e espreitou para baixo nos escuros degraus para uma adega de vinhos. — Eu pensei que ela fosse um membro da corte —, eu bradei. — Por que ela está sendo mantida aqui em baixo? Khalid pausou na escada e se virou para olhar para mim. — Clarissa foi pega em um pouco de um dilema. Se ela dissesse a vocês o que ela viu, então ela sentiu que estava traindo a sua rainha. Se ela tentasse encobrir o que ela acreditava ser a verdade, então ela temia que a Rainha Ruiva dos Justos saberia que ela estava mentindo. Ela tentou fugir na noite passada, e quando ela foi pega MacLeod ordenou que ela fosse trancada em uma cela aqui em baixo até a chegada de vocês. Então os vampiros do mundo pensavam que eu de alguma forma usava magia para dizer uma mentira da verdade? Interessante. Na teoria, eu imagino que poderia invocar algum tipo de feitiço de detecção de mentira, mas bruxaria não era realmente meu forte. Para ser bastante honesta, eu não poderia identificar uma mentira de uma verdade nada melhor do que a pessoa ao lado. Poderia ser útil que os outros pensassem que eu pudesse, entretanto, então eu apenas assenti e mantive minha boca fechada. A adega era grande, com garrafas de vinhos e outros artigos domésticos empilhados juntos de uma parede. Na sua maior parte, embora, estava vazia exceto pela massiva cela de contenção que ficava em um canto. Era ali onde nós deveríamos encontrar a relutante Clarissa, mas não havia ninguém na cela. Eu caminhei até ela e coloquei minha mão contra o ferro frio das barras. A única coisa do lado de dentro era uma cama estreita, um lavatório... e uma pilha de poeira no chão. Eu olhei para os outros e cada um de nós se virou para Khalid com horror. — Como eu disse a você, interrogar Clarisse não será possível —, ele disse com um tom gelado. — Mas que inferno aconteceu aqui? — Devlin perguntou calmamente. Khalid negou com sua cabeça, e subitamente pareceu muito cansado. — Eu não sei. Nós fomos informados que vocês estariam aqui antes do amanhecer. Hashim estava aqui com ela, para vigiá-la e mantê-la com companhia. Por volta das quatro horas dessa tarde ele subiu correndo as
escadas para me dizer que ela estava morta. Ele não disse nada. Um minuto ela estava ali e no próximo.... — Ele gesticulou para a pilha de poeira e fragmentos de ossos, tudo o que restava quando você matava um vampiro velho. Todos nós olhamos para Hashim e ele jogou seu queixo para cima, aquela expressão arrogante cruzando seu rosto como se ele desafiasse qualquer um de nós a questioná-lo. Curiosamente, nenhum de nós disse nada até que finalmente Drake se moveu adiante e disse gentilmente —, Você talvez tenha caído no sono, velho amigo? Hashim virou seus olhos zangados para ele e disse em uma voz recortada —, Eu não dormi. Eu ouvi um som lá em cima e me virei para olhar, mas não havia nada ali. Quando eu virei de volta... ela se foi. Nós não entramos para coletar seus remanescentes. Nós deixamos tudo exatamente como estava para você inspecionar. — Você disse que ouviu algo lá em cima. Poderia alguém ter... — Hashim estreitou seus olhos para mim e eu mordi minha língua antes que as palavras passado por você pudessem sair da minha boca. — Ninguém entrou e ninguém saiu —, ele disse redondamente. —E Khalid tinha a única chave da cela. — Oh, Deus —, veio uma pequena voz da parte de trás do nosso grupo. Eu tinha felizmente me esquecido sobre Bel até então. — Ela se matou —, ela disse, lançando aqueles olhos violetas para mim —, por sua causa. Eu dei um passo involuntário para trás, e meu cotovelo bateu nas barras da cela. Me afastando do seu olhar acusatório, eu inquiri os conteúdos da cela novamente. — Não há arma —, eu disse. — Ela não poderia ter arrancado a sua própria cabeça, e não há estaca no chão. Se ela se matou, então como ela fez isso? Todos se moveram alguns passos para frente e olharam para dentro da cela como se alguma resposta subitamente se tornasse aparente. Mas não havia resposta, e olhando para o que restou de Clarissa eu estava começando a suspeitar que perguntas eram tudo o que nós iríamos encontrar nessa casa.
Capítulo
E
u não dormi bem naquele dia. Eu continuei sonhando sobre estar trancada naquela cela, desamparada, enquanto alguém corria uma estaca através do meu coração. Era um dos meus cinco maiores jeitos de não morrer. Eu não acho que Michael dormiu nada, e nós dois estávamos mais do que aliviados do que irritados quando Devlin bateu na nossa porta no início da tarde. Eu me sentei na cama, colocando os lençóis ao meu redor, enquanto Michael falava para ele entrar. Devlin fechou a porta atrás dele e se lançou para a cadeira mais próxima, correndo uma mão através do seu cabelo preto em um gesto nervoso que eu vim a conhecer tão bem nos últimos treze anos. — Onde está Justine? — eu perguntei. — Você não a deixou sozinha, deixou? Eu não achava que nenhum de nós estava seguro nessa casa, e eu não podia imaginar Devlin deixando o amor da sua vida morta-viva dormindo e sozinha. — Não, eu a mandei para buscar Drake. Nós cinco precisamos fazer uma busca nessa casa de cima a baixo. É uma grande casa que está crivada com passagens secretas, e apesar da afirmação de MacLeod eu quero me certificar malditamente bem que não há ninguém dentro dela que nós não sabemos. Eu concordei completamente. MacLeod disse que a casa estava vazia exceto por eles cinco, e nós cinco, mas sua esposa era uma suspeita de
assassinato, e depois de encontrar Marrakesh naquele telhado nessa manhã eu não estava tão certa se eu deveria estar agregando-o nessa mesma categoria. Seria tolice acreditar na palavra dele em algo a esse ponto. — Me conte algo, Cin —, Devlen perguntou. — Você conhece magia negra. Com o que nós estamos lidando aqui? Eu arqueei uma sobrancelha para ele. — Eu não conheço magia negra, Devlin. Você sabe que eu não pratico isso. Ele estendeu sua mão. — Me desculpe. Eu simplesmente quis dizer que você sabe como ela se parece, como é o cheiro dela. Depois de Veneza, eu quero dizer. Eu estreitei meus olhos. — Não me julge por isso, Devlin. Eu fiz o que tive que fazer, ou Gage teria nos matado. — Querida —, Michael disse calmamente —, ninguém está julgando você. Ele está apenas perguntando. Devlin me considerou com olhos muito pacientes e vigilantes. Eu soprei meu fôlego e forcei a tensão dos meus ombros. Michael estava certo. Eu estava excessivamente sensível ao assunto. Eu tinha o direito de estar, também. Se um feiticeiro do mal sequestrasse você, seu amor, e seus melhores amigos, e a necessidade forçasse você a usar magia negra para matar o feiticeiro mencionado e uma dúzia de outras pessoas a fim de escapar, você ficaria um pouco tocada sobre isso, também. Tanto quanto eles sabiam, eu tinha me limpado daquele mal, estava tão pura quanto eu estava antes de nós colocarmos os pés em Veneza. Eu não tinha dito a nenhum deles, incluindo Michael, mas eu ainda podia sentir dentro de mim, esperando por qualquer desculpa para sair e brincar. As razões que eu mantinha isso longe deles eram muitas e diversas, e tendo a insinuação de Devlin que eu conhecia as artes sombrias me atingiu um pouco perto demais na minha secreta culpa para eu estar confortável. — Me desculpe —, eu disse. — É apenas um assunto penoso. Eu realmente não sei muito sobre magia negra, mas eu conheço uma quando eu sinto e cheiro. A magia que foi realizada nessa casa é similar, mas não é exatamente como o que eu senti em Veneza. A magia de Gage tinha cheiro de enxofre e sangue velho... e poder. Essa cheira muito a enxofre, não tanto
assim como sangue, e tem o exageradamente amargo odor de... — Eu fechei meus olhos e inalei —, ...absinto, talvez? — eu encolhi de ombros. — Eu não posso dizer a vocês que tipo de magia é, mas eu posso dizer que é poderosa e provavelmente muito perigosa. Devlin assentiu. — Você saberia se você entrasse em uma dependência onde o feitiço tinha sido lançado? Eu pensei sobre isso por um momento. — Possivelmente. O cheiro iria permanecer na dependência onde o feitiço foi lançado. Mas se você acha que alguém esperto o bastante e poderoso o bastante para trabalhar nesse tipo de feitiço vai ter um altar localizado no seu quarto, você está se iludindo. Ao menos que ele seja um tolo arrogante, ele não fará isso fácil para nós descobrirmos. Eu provavelmente posso encontrar o quarto, mas eu duvido que ele irá nos dizer muita coisa sobre quem fez o feitiço. — É um começo, entretanto —, ele disse. — E mais do que nós conseguimos até agora. — Eu entendo onde você está indo com esse raciocínio, Devlin —, Michael interrompeu —, mas ninguém além de mim descobriu a falha nessa teoria? Devlin inclinou-se adiante. — O que você quer dizer? — Eu quero dizer —, Michael disse —, que nós estamos tão acostumados com a magia de Cin que nós esquecemos que ela é o único vampiro que qualquer um já ouviu falar que também é uma bruxa. — Qual é o seu ponto? — eu perguntei. Michael se virou para mim. — Você sentiu cheiro de um humano nessa casa? Eu franzi o cenho. — Bem, não, mas a essência de magia negra, ou qualquer tipo de magia que seja essa, pode encobrir isso. Devlin rosnou e inclinou de costas na cadeira. — Mas o resto de nós não pode cheirar ou sentir a magia da maneira que você pode. Claro. Eu poderia não sentir cheiro de humano nessa casa, mas eles certamente deveriam ser capazes. Eu caí pesadamente para trás contra os travesseiros. — Maldito seja —, eu disse para o teto. — Então, o que? Nós estamos
lidando com outro demônio em forma humana? O que iria mascarar a essência de um humano. Devlin negou com sua cabeça. — Eu teria conhecido a essência de um demônio. Eu passei anos na presença de Kali, depois de tudo. Aqui é um pensamento: Podia ser uma bruxa ou um feiticeiro invocando um feitiço para obliterar sua essência? Eu me sentei reta novamente e dobrei os lençóis de volta ao meu redor. — Honestamente, eu não sei. Eu nunca precisei tentar isso, mas eu imagino que não seria tão difícil. Houve um breve bater na porta, e antes que eu pudesse bradar, Justine espreitou para dentro, seguido por Drake e Bel. Eu estava surpreendida em ver Bel e me perguntei que diabos Justine esteve pensando para trazê-la junto. Eu olhei afiadamente para ela, mas ela simplesmente rolou seus olhos e colocou mais distância entre ela e Bel quanto era possível. Drake escorou um ombro contra a cornija e cruzou seus braços. Seu olhar demorando nos meus ombros nus e no lençol envolto apertadamente ao meu redor. Vendo aquele olhar, eu resisti com a urgência de exigir que todos partissem do quarto para que eu pudesse me vestir. Vampiros mais velhos eram indecentes a um grau chocante; nenhum deles teria dado muita atenção ao ser vista em tal estado de vestimentas. O fato que eu estava desconfortável apenas servia para me lembrar apenas o quanto nova eu era. — Minha querida, você gostaria do seu robe? — Drake perguntou, arrancando o traje do topo do meu baú onde eu tinha descartado-o mais cedo. Era uma coisa suntuosa de seda carmesim e delicado bordado Oriental, importado da China. Ele o segurou, como se eu devesse me levantar da cama e permitir que ele me ajudasse a vestir. Todos os olhos se viraram para mim, esperando pela minha resposta, e eu tentei esconder o rubor que rastejava nas minhas bochechas. Eu abaixei minha cabeça e murmurei —, Eu estou bem onde estou, obrigada. Drake encolheu de ombros e lançou o robe ao lado. Eu olhei para Michael e encontrei seus olhos estreitos em Drake, um músculo contraindo na sua mandíbula. — Então —, Devlin disse, atraindo nossa atenção de volta a conversa. —
Não é nem uma bruxa humana ou um demônio. Drake gargalhou. — Uma bruxa ou um demônio? Eu acho que é mais provável que Marrakesh realmente assassinou aquelas pessoas e MacLeod matou Clarissa e então tentou matar Marrakesh a fim de encobrir isso. — Eu não o descartaria —, eu concedi —, mas eu vi o rosto dele quando ele encontrou a rainha e eu honestamente não acho que ele tem algo a ver com isso. Drake encolheu de ombros. — Você se torna um ator muito bom em dois mil anos, Cin. Eu pensei sobre isso e então neguei com minha cabeça. — Não, eu ainda não acho que ele fez isso. — Se nós vamos nomear MacLeod como suspeito, então nós devemos nomear Khalid e Hashim também —, Justine interrompeu. — Eu os conheço há muitos anos e eles fariam tudo pelo rei deles. Eu não acredito nisso – eu não quero acreditar nisso – mas Khalid era o único com a chave daquela cela. Ele poderia facilmente ter matado Clarissa para impedi-la de contar o que ela viu, e seu irmão o teria acobertado com aquela estória ridícula. — Essa é a resposta mais simples —, eu disse — mas isso ainda não se assenta bem para mim. Pela primeira vez, não explica por que a magia estava sendo praticada nessa casa. — Isso ainda não nos leva a nenhum lugar —, Michael disse. — Qualquer um dos três poderia tê-la acorrentado a aquele gazebo. — Eu acho que Marrakesh fez isso a ela mesma —, Bel disse enquanto ela delicadamente se acomodava na outra cadeira do quarto e alisava a seda azul gelo do seu vestido sobre seu colo. Todos nós olhamos para ela. Finalmente eu disse —, Você acha que a Rainha das Terras Ocidentais tirou todas as suas roupas, saiu em direção ao teto justo antes do amanhecer, e se acorrentou ao gazebo? — Por que não? — ela disse. — Faz perfeito sentido para mim. Se você está indo se incendiar em uma coluna de fogo, você iria querer arruinar um perfeito bom vestido, agora não iria? Eu comecei a perguntar por que qualquer vampiro que queria saudar o amanhecer precisava se acorrentar a um prédio, ou como ela iria sequer
conseguir fazer isso sozinha, mas eu pensei melhor sobre isso. Ao invés eu disse —, Sua lógica é... verdadeiramente única. Bel sorriu vivamente. — Porque, obrigada. Eu neguei com minha cabeça e virei de volta para Drake. — Claro, essas teorias são completamente boas e bem arranjadas, mas eu achei que, enquanto isso funciona bem quando lidando com humanos, as ações de vampiros raramente são explicadas na simplicidade dos termos. Drake sorriu para mim. — Então quando você ouve sobre patas de cavalos — Eu sorri para ele. — Eu pensei em unicórnios, não cavalos. Além disso, nenhuma dessas teorias explica o uso de magia dentro da casa. — Ah —, Drake disse —, mas você está assumindo que uma tem tudo a ver com a outra. Eu ergui minha cabeça para um lado. — Você está certo. Alguém na corte poderia ser uma bruxa humana que esteve praticando alguma forma de arte sombria nessa casa por algum tempo. Isso explicaria o duradouro cheiro e a ausência de qualquer essência humana. Então nós estamos de volta ao início novamente com um monte de perguntas e absolutamente sem respostas. Devlin empurrou sua massiva estrutura para fora da cadeira. — Oh, nós teremos por Deus algumas respostas antes do próximo amanhecer. Primeiro, nós estamos indo fazer uma busca nesse lugar de cima a baixo, e então ao pôr do sol nós vamos sair. Eu não posso confiar em alguma coisa que alguém me disser nessa casa, mas há pessoas nessa cidade que não tem interesse nisso de um jeito ou de outro, e nós vamos conversar com elas. — Ele olhou para Michael. — Você alguma vez desejou ir à faculdade? Michael estreitou os seus olhos azuis para o seu velho amigo. — Não —, ele disse com cuidado. — Por quê? Devlin sorriu. — Por que você terá a sua chance essa noite.
Capítulo
P
ara desgosto eu terminei fazendo par com Bel na busca pela casa. Eu arrastei Justine para o lado antes que nós começássemos e perguntei a ela por que ela tinha trazido Bel para isso, de qualquer modo. — Ela estava subindo as escadas quando Drake e eu estávamos seguindo até o seu quarto e ela de alguma forma conseguiu se convidar juntamente —, ela respondeu. — E você não podia apenas ter dito não? Os olhos de Justine se estreitaram. — Acredite em mim, eu tentei. — Bem, por que eu tenho que ir com ela? — Drake declinou em formar par com ela, e ela não está indo com Devlin. — Ou Michael —, eu concordei. — E se ela vir comigo haverá outro assassinato dentro de uma hora. Então depende de você, minha amiga, levá-la. — Muito obrigada, sempre —, eu disse, minha voz gotejando com sarcasmo. Eu olhei ao redor da sala de estar até meus olhos encontrarem Drake descansando em uma cadeira na lareira. Ele ergueu quando eu me aproximei. — Eu não suponho que consigo convencer você a tomar Bel na busca? — eu perguntei.
— Eu tomaria você com prazer —, ele respondeu sedutoramente, e eu soube que ele não estava falando da busca. — Ah, mas você não pode me ter —, eu o assegurei. — Então devo eu apenas estar contente em venerar você a distância. Eu neguei com minha cabeça. — Você é um ultrajante paquerador. Drake sorriu. — Minha querida, você não tem ideia de quanto ultrajante eu posso ser. Antes que eu pudesse responder, o olhar de Drake moveu do meu rosto para algum lugar sobre meu ombro esquerdo. Eu me virei para encontrar Michael em pé atrás de mim. Eu sorri para ele. — Eu estava apenas tentando convencer Drake em fazer parceria com Bel —, eu disse. Meu sorriso vacilou quando Michael nem olhou para mim ou deu uma resposta. Seus olhos nunca deixando Drake. — É hora —, ele finalmente falou. Drake inclinou sua cabeça. — Eu vou encontrar você lá em cima. Havia malícia nos olhos de Michael enquanto ele observava Drake deixar o quarto. Quando o outro homem estava fora do alcance da voz Michael se virou para mim. — Você tem que encorajá-lo? — Ele exigiu. — Eu não fiz nada do tipo! Michael bufou e olhou para mim com descrença. Eu estreitei meus olhos. — Eu não tenho absoluto interesse naquele homem e eu nunca, por palavras ou ações, deixei-o acreditar em outra coisa. Ele paquera todas as damas, Michael. Se ele presta atenção particular em mim é apenas para irritar você. E você, pela sua própria admissão, trouxe isso para si mesmo. — Oh, então isso é minha culpa —, Michael vociferou e se virou para partir. Eu olhei para as costas dele por um momento, perplexa. Eu nunca o ouvi falar comigo com tal tom, nunca vi aquele olhar frio nivelado na minha direção. Eu corri atrás dele, agarrando sua manga e puxando-o a uma parada. — Michael! — eu exclamei. — O que está errado com você? Ele cerrou seus dentes e não disse nada.
— Oh, pelo amor de Danu... você está com ciúmes! Eu era aquela com crise de ciúmes, não Michael. Certamente muitos homens tinham flertado comigo ao longo dos anos e eu tinha visto o ciúme de Michael aguçado na ocasião, mas nunca nada assim. Eu não sabia o que fazia Drake diferente nos olhos dele, mas o pensamento que eu podia ter um caso com outro homem era simplesmente tão ridículo que eu gargalhei. Com um rosnado Michael empurrou-se passando por mim e avançou do quarto. — Michael, espere! — eu gritei. Eu comecei a ir atrás dele novamente, mas Bel subitamente pairou na porta, bloqueando minha saída. — Você está pronta para começar? — ela perguntou brilhantemente. Eu suspirei e olhei passando por ela, franzindo o cenho. Depois que nós estivéssemos terminado a busca, eu iria encontrar Michael e resolver isso. Por agora, talvez fosse sábio deixá-lo estar e deixar seu temperamento esfriar.
Bel e eu fomos designadas para o segundo andar, que na sua maioria consistia da Câmera de Presença e menores salas de recepções e escritórios. Os quartos estavam no terceiro andar onde Drake e Michael estavam procurando, e Devlin e Justine tinham pego o andar térreo e o porão. Bel seguiu juntamente atrás de mim, seu constante falatório intrometendo meus pensamentos do que eu iria dizer para Michael mais tarde. Eu tentei ignorá-la, mas ela não pareceu entender o que eu estava fazendo. Aparentemente ela era uma daquelas pessoas que não permaneciam em silêncio, por que ela não me deu um momento disso. Nós estávamos perto de terminar com a nossa busca, não encontrando absolutamente nada fora do ordinário, quando algo no seu incessante balbucio prendeu minha atenção. — O que você disse? — eu me virei e perguntei a ela. Ela pareceu um pouco assustada por um momento, como se ela não estivesse esperando que eu escutasse, e de fato eu não tinha estado por toda uma hora.
— A rainha —, ela disse. — Ela está louca por semanas. Ela estava demente como uma caixa de esquilos até mesmo antes de eu chegar à Edinburgh. Na segunda noite que eu estava aqui eu a encontrei vagando pelos corredores, falando com as pastelarias. Eu só olhei para ela, esperando por uma explicação, mas ela simplesmente olhou de volta para mim com aquele olhar agradavelmente vazio no seu rosto. — Mas como —, eu disse muito lentamente —, pastelarias? — Você sabe —, ela disse, gesticulando uma mão em direção as paredes —, as pastelarias. Eu olhei para a parede que ela estava apontando e disse através de dentes cerrados —, Você quer dizer tapeçarias12? — Sim, é isso —, ela respondeu brilhantemente enquanto ela continuou a descer o corredor. — Falando com as paredes. — Ela negou com sua cabeça e olhou ao redor para se certificar que eu estava seguindo, o que eu estava. — Eu não sei por que MacLeod apenas não deixa que Drake leve-a embora para o Castelo de Tara e acabe com isso antes que ela mate mais alguém. — Então você acha que ela é a assassina? — eu perguntei. Ela encolheu de ombros. — Quem mais seria? Ela foi pega entregando corpos, do que eu ouvi. Foi por isso que MacLeod mandou a corte para longe, você sabe. Eles já tinham partido na hora em que eu cheguei aqui, mas eu ouvi do Old Bear13 lá em baixo nas Galerias que a razão que MacLeod mandou a corte para longe é por que Marrakesh tinha um olhar vil para ele e eles perderiam todo o respeito por ela se eles a vissem assim. Então ele teve que cuidar de todas as coisas desagradáveis ele mesmo. Isso é apenas o início dos problemas dele, se você me perguntar. Eu quero dizer, como você pode ser o Rei das Terras do Ocidente se você não pode sequer impedir a sua própria esposa de correr por aí tão selvagem como um bando de doninhas? Eu estou dizendo a você, que ele precisa se livrar dela e encontrar uma nova executora ou ele vai perder tudo. Eu pisquei para ela. Essa foi a coisa mais inteligente, racional que eu a tinha ouvido dizer até o momento. — As Galerias? — eu perguntei. — Você 12 13
(tapestries em inglês) (Old Bear – Velho Urso)
quer dizer as partes subterrâneas da cidade? — Sim, você conhece? — ela me indagou enquanto ela abria as portas duplas no final do corredor que conduzia para o estúdio formal de MacLeod. — Eu ouvi sobre o subterrâneo de Edinburgh, mas eu nunca vi. — Oh, você deveria ir. Há muitas pessoas. Quando eu cheguei aqui em primeiro lugar, Khalid me levou para a cidade e me deixou caçar com Old Bear. Eu não sei por que eles o chamam de Old Bear. Ele não parece velho. Talvez ele tenha sido um vampiro por muito tempo? E ele não é grande e peludo como um urso. Ele é meio baixo e magro e cheira como menta. Não, não, nada como um urso, de fato, ao menos que fosse um urso muito pequeno. Um que gosta de doces de menta. Mas então ele seria chamado de Little Bear14 ao invés de Old Bear, você não acha? Tudo o que eu sei é que ele sabe simplesmente tudo sobre tudo. Ele é aquele que me mostrou as Galerias e todos os melhores lugares para caçar. É muito fácil beber nas Galerias. Há apenas pessoas pobres ali em baixo, e eles parecem ansiosos para fazer algo por uma moeda. O cheiro é horrível, entretanto. Eu quero dizer realmente, o quanto difícil é para se banhar? Eu só não sei por que as pessoas iriam escolher viver assim... E esse foi o ponto em que eu parei de escutar novamente. Pareceu que eu estaria seguindo para baixo da cidade com Michael e Devlin essa noite. Eu precisava de sangue, e se Bel estava certa e esse Urso soubesse simplesmente tudo sobre tudo, então ele era alguém com quem nós precisávamos falar.
14
(Little Bear – Pequeno Urso)
Capítulo
N
ada incomum foi descoberto por nenhum de nós durante a busca na casa. Isso foi frustrante, mas o que sinceramente tinha me colocado no limite foi o fato de que toda á tarde, Michael tinha com sucesso resistido aos meus súbitos esforços de pegá-lo sozinho. Na completa escuridão ele e Devlin tinham partido para a Faculdade de Medicina sem muito como um adeus. Justine e eu seguimos logo depois, descendo as ruas Hanover e Princess para a Ponte Norte, depois cruzando a High Street para a Ponte Sul e o Cowgate. Teria sido mais rápido pegar uma carruagem, mas eu acho que Justine sentiu que eu precisava de tempo e ar fresco para clarear minha cabeça. Drake tinha ficado para trás nas sombras, observando a casa e qualquer um que pudesse vir ou ir dela. Meus instintos me disseram que MacLeod não tinha nada a ver com o ataque pela vida de Marrakesh, e eu estava tendo sérias dúvidas se ou não a própria Marrakesh era culpada de assassinato. Drake podia acreditar tudo o que ele quisesse na Lex parsimoniae15, mas nós tivemos assassinatos, magia sendo executada na residência real, e uma rainha que estava falando com pessoas que não estavam ali e fazendo só as Deusas sabiam o que mais. Eu não acreditei por um minuto que essas coisas não 15
(É um princípio lógico atribuído ao lógico e frade franciscano inglês William de Ockham (século XIV). O princípio afirma que a explicação para qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à explicação do fenômeno e eliminar todas as que não causariam qualquer diferença aparente nas predições da hipótese ou teoria.)
estavam relacionadas. Mas eu tinha estado errada antes, o qual é por que Drake estava ficando para trás para manter um olho na casa. Eu ardentemente esperava que Michael fosse descobrir alguma valiosa informação sobre os assassinatos, ou ao menos sobre os trabalhos das aulas de anatomia e os corpos que estavam sendo dissecados ali. Esse dever tinha caído sobre ele por que ele era adequado por passar por um aluno de medicina. Drake parecia como um aristocrata libertino e Devlin, bem, Devlin tinha quase um metro e noventa e oito de altura pesava cento e vinte e sete quilos. Ele parecia como ele era, um guerreiro. Ele e Drake pareciam homens que você não quereria encontrar em um beco escuro. Michael, tendo um metro e setenta e sete com uma sólida, porém ágil constituição, iria enturmar-se melhor e não atrairia qualquer atenção indevida. A ironia disso era que, dos três deles, Michael era o mais perigoso. Se viesse a acontecer um confronto, era melhor você enfrentar Devlin. Ele seria razoável e não ofereceria a você violência ao menos que fosse evidente que você merecesse. Com Michael, você meio que assumiria suas chances pelo humor dele. Devlin e eu tínhamos nascidos na aristocracia. Ele tinha sido criado para comandar exércitos de homens, e eu para comandar exércitos de empregados. Nós dois tínhamos aprendido a partir de uma precoce idade a gerenciar propriedades e inquilinos. Responsabilidade pela vida de outras pessoas e bem estar tinha se criado em nós. Michael e Justine, ambos, tinham vindo de começos mais escassos. Suas únicas responsabilidades tinham sido se importar com seus familiares e alimentá-los, e eles realizaram isso por quaisquer meios necessários. Eles dois tiveram dificuldade e que lutar por tudo que eles conseguiram. Se encurralado em um canto, Devlin e eu éramos mais aptos a conversar e debater nosso caminho para sair disso. Era a nossa natureza ao ver um problema, investigar todos os lados de sua questão, e então herdar um justo e racional ultimato em como o dito problema iria ser melhor resolvido. Michael e Justine iriam apenas chutar o seu traseiro e se importar sobre o certo e errado disso mais tarde. Isso os fazia infinitamente mais perigosos. Eles dois eram crus e impetuosos e passionais. Essa era uma das razões do por que Devlin e eu os amávamos. Eles eram selvagens e livres de uma forma que nós ansiávamos ser, mas nunca seríamos. Nós éramos apenas muito
sangradamente Ingleses. Justine andou ao meu lado agora, suavemente sussurrando debaixo da sua respiração, mas eu podia ver seus olhos observando as ruas em ambas as direções enquanto nós fazíamos nosso caminho descendo para a Ponte Sul. Ela estava com comichão por uma briga essa noite. Eu tinha sido obrigada por ela a usar a Cruz Craven ao redor do meu pescoço. Justine tinha bastantes jóias elegantes, mas a Cruz Craven era uma peça muito grande e exagerada e iria atrair a atenção que ela queria. Era uma cruz Céltica trabalhada em ouro e disposta com vinte e quatro grandes rubis vermelhos sangue e incontáveis pequenos diamantes; usando o colar nessa parte da cidade era muito garantido que as pessoas estariam em pé na fila para cortar minha garganta por ele. Ao menos essa era a reação que eu estava esperando. Justine queria uma briga, então eu usei o colar. Nunca poderia ser dito que eu não era uma boa amiga. Nós estávamos relativamente seguras na Rua Princess, onde, nesses tempos modernos com a ameaça de invasão terminada, aqueles que poderiam dispor tinham se mudado dos limites confinados das cidades emparedadas. A casa na cidade de MacLeod estava na elegante Cidade Nova, uma maravilha arquitetônica que era uma das razões de Edinburgh ter merecido o apelido de Atenas do Norte. Aqui em baixo na Cidade Velha, contudo, nenhuma mulher humana estaria segura andando nas ruas com milhares de libras em jóias ao redor do pescoço. Aqui as classes mais pobres estavam muito confinadas em altos cortiços e um labirinto de coelho subterrâneo nas ruas e nas câmaras. Dado ao firme aumento da população e da quantidade limitada de espaço dentro das paredes da cidade, os residentes tinham construído a uma altura vertiginosa de seis a doze andares. Havia muitos lugares na Cidade Velha onde você poderia andar na rua em plena luz do dia e nunca sentir o sol na sua pele. Combinando isso com a população de bem mais de cem mil pessoas, e você tinha o paraíso de um vampiro. E não apenas eles construíram para cima, eles também construíram para baixo, criando completas cidades subterrâneas em alguns lugares. Eram nas galerias subterrâneas abaixo da Ponte Sul que Bel tinha dito que nós encontraríamos Old Bear. Nós estávamos quase na Cowgate quando um homem saiu da entrada sombria para uma das muitas ruelas estreitas, arrastando um jovenzinho mal
vestido pelo colarinho da sua camisa. Justine e eu pausamos enquanto o homem olhou para cima e nos viu. Ele nos deu um olhar avaliador e então sussurrou para a criança e empurrou o menino na nossa direção. A criança tropeçou, então colocou seus pés debaixo dele e fez seu caminho na nossa direção. Ele era magro e sujo, suas roupas rasgadas penduradas na sua pequena estrutura. Ele pareceu ter cerca de doze, mas provavelmente era mais velho do que isso. Havia um toque de medo nos seus olhos, mas principalmente ele tinha esse amadurecido olhar cansado, que muitas crianças pobres nas grandes cidades tinham, como se eles tivessem visto mais horror do que qualquer um deveria e estavam agora completamente dessensibilizado. É um olhar de desespero, um olhar que diz que eles não estavam com medo da morte por que o que quer que ela trouxesse, tinha que ser melhor do que isso. Eu odiava ver esse olhar no rosto de qualquer pessoa, mas ver isso no de uma criança sempre partia o meu coração. — Perdão, damas —, ele disse, arrancando a sua boina —, vocês estariam procurando por uma refeição quente, então? — Me desculpe? — eu perguntei, não entendendo o que era que ele queria saber, ou porquê. O garoto olhou atrás para o homem, quem eu assumi que fosse o seu pai. O homem se curvou e gesticulou para o menino com suas mãos, como se dissesse Ande com isso. O garoto olhou de volta para nós, torcendo sua boina entre suas mãos. — Eu sei que vocês são e eu estava perguntando se vocês estão procurando por uma quente refeição. Ele bateu seu dedo na lateral do seu pescoço — Apenas custa dois penes a bebida. Eu sacudi minha cabeça para trás e olhei para Justine. — É isso o que acontece na cidade de MacLeod? Crianças vendendo seu sangue? — É a lei de MacLeod que se você beber de um pobre, você deve pagálos —, Justine disse. — É uma boa lei, mas toda lei é susceptível a exploração, non? O garoto pareceu ficar nervoso com a nossa conversa e o ultraje na minha voz. — Oh, senhorita, se você gosta de algo mais velho do que... — Ele virou
para o seu pai novamente, e o homem latiu uma ordem. Logo houve um som embaralhado das reentrâncias sombrias do beco e uma mulher que poderia apenas ser a mãe do menino apareceu com cinco crianças como escadinha. A mãe não parecia mais velha do que trinta, seu cabelo vermelho cor de cenoura em desordem e uma grande contusão roxa desfigurando sua bochecha vermelha. Seus olhos estavam mortos, vagos, mas suas mãos seguraram a sua filha mais velha, uma garota com cerca de quatorze, e o seu mais novo, um menininho de talvez sete, em um aperto mortal. O pai finalmente pisou adiante, olhando para mim com um sorriso malicioso que fez minha pele arrepiar. — Qualquer um de vós quer, senhoras, dois pene a bebida. Eu apertei meus punhos até que minhas unhas tivessem deixado profundos sulcos nas minhas palmas. — Justine, você tem a sua bolsa com você? — Eu perguntei e olhei para ela com uma piscadela. — Oui —, ela disse. — Eu vou cuidar disso. Justine pegou o menino gentilmente pelo braço e o guiou até sua mãe. Eu observei enquanto ela arrancava a mão da sua filha mais velha e colocava o que pareceu como uma nota de dez libras nela. Era provavelmente perto do que uma arrumadeira ganharia em um ano. — Cuide dos seus filhos e vá —, ela disse. — Fuja desse homem que machuca você e vende seus filhos, como prostitutas nas ruas. Volte para o lugar que você estava da última vez que você foi feliz. A mãe encarou Justine por um longo tempo, então pareceu atônita com o dinheiro na sua mão. Ela virou sua cabeça lentamente para olhar para seu marido. O rosto do homem mostrou momentâneo choque, mas quando os punhos da sua esposa se fecharam apertadamente na nota, o semblante dele mosqueou com raiva. — Isso será meu. Eu sou o homem da casa! — ele disse e avançou em direção a ela. Ela estremeceu para trás, instintivamente movendo seus filhos com ela. Justine pisou na frente dela no mesmo momento em que eu agarrei o homem pelo seu pescoço e o puxei para trás.
— Você —, eu assobiei no ouvido dele —, é menos do que nada. Nada que eles têm pertence mais a você. Você não irá machucá-los, nunca mais. Ele lutou contra mim, mas ele era apenas um humano, e um completamente patético. Eu o segurei sem esforço como alguém seguraria um animal de estimação enquanto ele me xingava, Justine, e sua esposa, e seus filhos em sucessão. A mãe se virou de volta para Justine com olhos amplos e sussurrou —, Quem é você? — Eu sou o Demônio da Justiça —, ela respondeu —, Agora vá. A mãe enfiou o dinheiro dentro do corpete e olhou mais uma vez para seu marido. Ela disparou a ele um olhar que estava zangado, desafiador, e triunfante, e isso o enfureceu mais ainda. Ele me atacou, e eu o esbofeteei na lateral da cabeça forte o bastante para trazê-lo de joelhos. Sua esposa sorriu. — Obrigada —, ela disse. Ela se virou de volta para Justine e estendeu a mão, pegando a dela. — Obrigada. Que a Graça de Deus brilhe para sempre em você. Justine apertou sua mão. — Vá. Nós vamos cuidar dele. A mulher correu com suas crianças descendo a rua, pastoreando-as como uma mãe galinha. O menino que tinha se aproximado de nós parou e olhou para trás para nós com espanto, mas sua irmã rapidamente o agarrou pela camisa e o puxou ao longo da rua. O bastardo aos meus pés rosnou, eu o puxei aos seus pés. Eu estava faminta e ele estava assustado, seu sangue batendo nas suas veias, me chamando. — Normalmente eu iria enfeitiçar você para que você não sentisse nenhuma dor, mas eu quero machucar você. Eu quero que você sinta tudo. Eu quero provar seus medos como você provava o medo da sua família toda vez que você abusava deles. Para quantos vampiros você vendeu aquelas crianças? Você pode imaginar o quanto assustados eles devem ter ficado? — Eu o puxei de costas contra mim para que meus lábios pairassem bem acima da grande veia que latejava no seu pescoço. — Não importa —, eu assobiei. — Você vai saber. — Sua vadia! — ele cuspiu. — Eu vou matar você por isso! E então eu
vou rastrear aquela prostituta infiel e matá-la, também! Eu gargalhei. — Você não irá fazer nada do tipo. Você irá sangrar para mim, e então eu vou arrastar você de volta para qualquer cova do inferno que você veio. — Eu enfiei minhas unhas nos seus braços. — E se você sequer chegar perto daquela mulher ou das suas crianças novamente, eu virei para você no escuro da noite. Não haverá nenhum lugar que você possa fugir, nenhum lugar que você possa se esconder. Eu vou sangrar você até secar e me divertir nos seus gritos enquanto eu fizer. Claro, eu não iria, mas eu descobri que quando você é um vampiro um pouco de ameaça vai longe. Ele se calou, finalmente percebendo o problema em que ele estava. Eu olhei sobre seu ombro e observei Justine se aproximar. O coração do homem batia como asas de beija-flor sob os meus dedos, abaixo dos meus lábios. Minhas presas se alongaram e eu as afundei no lado direito do seu pescoço. Ele gritou enquanto sangue derramava na minha boca. Tinham se passado anos desde que eu tomei de um humano e não o enfeiticei. Havia vampiros que amavam os gritos, o medo, mas eu não era um deles. Eu senti a breve angústia de arrependimento por eu não ter colocado ele sob feitiço. E então as memórias vieram. Quando você se alimenta de um humano você obtêm imagens, flashes dos seus pensamentos ou memórias. Não é como passear pelos caminhos das memórias deles, mas você obtêm partes e pedaços do que quer que aconteça que eles estejam pensando na hora. Eu aprendi a me bloquear disso por que eu não me alimento de tímidas virgens que me dariam imagens de pular por campos de lavanda na luz do sol. Não, eu geralmente me alimento daqueles que merecem ser usados como comida pelos mortos vivos: estupradores, degoladores, ladrões, e vagabundos. O tipo de homens que você encontraria em becos escuros à noite. Eu não quero saber o que eles estão pensando; normalmente é coisa de pesadelos. Esse homem não era diferente. Alguns segundos de horror que aquelas crianças tinham experimentado nas suas mãos e eu fechei firmemente aquela porta mental. E então eu mordi mais forte. O clique dos saltos de Justine no paralelepípedo captou minha atenção. Enquanto eu bebia, eu a observei vir a ficar em pé na nossa frente. Ela fechou suas mãos na camisa do homem e então atacou rapidamente e sem hesitação.
Ambas de nós nos alimentamos dele, uma de cada lado do seu pescoço. Quando o seu batimento cardíaco começou a desacelerar eu me afastei. — Justine —, eu disse. Ela não se moveu dele. Eu a agarrei pelo cabelo e a afastei. — Justine, pare. Você irá matá-lo. — Ele merece isso. — Sim, ele merece —, eu disse em uma calma, voz racional. — Mas a vida dele não é nossa para tomar. Era ilegal matar humanos, exceto sob circunstâncias extenuantes. Ele precisava morrer apenas não era uma defesa válida. O Alto Rei tinha decretado que nós não deveríamos matar humanos, e que nós nunca deveríamos interferir nos negócios do mundo deles. Uma vez que ainda não havia um vampiro que pudesse derrotar o Alto Rei em um combate mano a mano, a palavra dele era lei. Além disso, era apenas senso comum que você não andasse por aí extinguindo uma fonte renovável de comida. Sem mencionar que fazendo isso iria atrair atenção para nossa espécie. Verdade, nós éramos mais fortes e mais rápidos do que humanos. Um vampiro podia lutar com vinte deles e ainda sair vitorioso. Mas se você unisse bastante humanos, armados com tochas suficientes, eventualmente números absolutos e poder de fogo – muito literalmente – sairiam vitoriosos. Humanos gostavam da máfia, e a máfia não era amiga dos vampiros. Assim, sem matar e sem intromissão. Mesmo se eles tinham a morte próxima. Justine tinha que ser relembrada sobre isso às vezes. Ela tinha uma forte sensação do que estava certo e o que estava errado. Para alguém que tinha vivido por séculos ela ainda tinha uma visão quase infantil do mundo. Coisas eram pretas e brancas para ela. Ela e Michael, ambos, muito raramente viam o cinza com o qual a maior parte de nós aprendeu a viver. E eles eram cabeça quente o bastante que se Devlin e eu não mantivéssemos um olho neles, eles poderiam terminar sendo culpados pelos crimes que nós tão frequentemente executávamos os vampiros. Eu não podia contar as vezes ao longo dos anos que eu tive que recuar Justine antes que ela cruzasse aquela linha. Ela frequentemente não apreciava meus esforços ao seu favor. Esse era o caso dessa vez.
Ela assobiou para mim e lançou o homem contra a parede, onde ele se dobrou como uma boneca de pano descartável. — Ah, merda, você o matou então? — uma voz masculina perguntou. Eu me girei, surpresa que alguém tinha conseguido aparecer atrás de mim sem eu senti-lo. Isso não acontecia com frequência. Isso significava que eu estava ficando desleixada ou que o vampiro inclinado contra a parede era muito velho. Eu estava apostando no último. Ele tinha cerca da altura de Michael, mas ele parecia mais baixo. Seu corpo não tinha o peso dos músculos de Michael, e dava a ele uma magra, aparência de faminto. Seu cabelo era escuro e cortado curto, mesmo assim ele conseguiu parecer despenteado, como se ele tivesse corrido seus dedos através dele. O cabelo curto acentuava suas feições aquilinas e o par de redondos óculos empoleirados no seu nariz. Ele estava vestido bastante ao acaso em um colete marrom com um pequeno padrão listrado que não combinava muito com suas calças marrons. Sua camisa de cor creme estava aberta na sua garganta, e as mangas estavam dobradas até seus antebraços. Ele pareceu como nada mais do que um letrado que ficava curvado sobre seus livros o dia todo. Isso iria enganar a maioria das pessoas. — Ele irá viver —, eu disse cuidadosamente, e esperei que eu estivesse certa. — Uma pena —, o vampiro respondeu. — Eu quase fecharia os olhos se alguém matasse esse aí. — Você o conhece? Ele andou até o homem no chão e o cutucou com um pé. O homem gemeu, mas não se moveu. O vampiro encolheu de ombros e se virou de volta para mim, tirando seus óculos e limpando as lentes com um lenço de mão amarrotado que ele tinha acabado de tirar das profundidades dos seus bolsos no tórax. Eu me impressionei com a simulação. Como um vampiro ele não precisava deles para ver claramente. Talvez significasse para acalentar aos vampiros que ele lidava um falso sentido de segurança. Com os óculos ele parecia como um modesto letrado; sem eles ele parecia mais como um homem que pudesse cortar sua garganta por sua bolsa. — Eu tentei manter as crianças afastadas de nós —, ele disse, — mas
não é fácil. Aquele ali pensa que um duro dia de trabalho iria matá-lo. É apenas uma questão de tempo antes dele ter sua filha mais velha trabalhando nas ruas para que ele possa sentar a sua bunda preguiçosa no pub todo o dia e noite. — Justine deu a mãe algum dinheiro. Esperançosamente ela irá usá-lo para levar seus filhos para longe daqui. Ele se aproximou e ficou de pé bem perto de mim. Ele olhou para mim, ao meu rosto, meu cabelo, meu pescoço. Não era um olhar predatório. Era mais como se ele estivesse memorizando cada detalhe, da sarda da minha bochecha esquerda ao número das pedras do meu colar. Era... desconcertante. — Sim —, ele disse, sua voz gotejando com sarcasmo —, por que as mulheres tão frequentemente fazem o que é melhor para elas. Eu captei uma baforada de menta enquanto ele falava. O que Bel tinha dito? Eu não sei por que eles o chamam de Old Bear. Ele não parece velho. Talvez ele tenha sido um vampiro por muito tempo? E ele não é grande e peludo como um urso. Ele é meio baixo e magro e cheira como menta. Eu sorri. — Sr. Bear —, eu disse de uma maneira tão profissional quanto eu pude reunir —, meu nome é Cin Craven. Eu preciso falar com você sobre alguns assuntos urgentes considerando a rainha. Eu esperei pela sua resposta, mas ele simplesmente ergueu a sua cabeça ao lado, seus olhos escuros me avaliando. Era como uma ave de rapina deveria aparentar justo antes dela mergulhar para baixo e arrancar um rato do campo. Eu dei um passo para trás e reuni minha compostura. Pelos deuses, eu era a Bruxa Ruiva dos Justos, e eu não fui feita para me sentir como um rato do campo, especialmente por alguém com algum nome ridículo. — Sr. Bear —, eu comecei de novo, mas ele se virou para Justine e falou rapidamente em Francês. Era um perfeito, idiomático Francês que traduzi livremente para algo como. Por que a mulher surda continua me chamando de Sr. Bear? Eu bati meu pé e ele virou sua atenção de volta para mim. — Você não precisa falar com ela como se eu não estivesse aqui —, eu disse. — Eu entendo Francês perfeitamente. Eu vivi com ela pelos últimos treze anos, depois de tudo. E eu não sou surda. Eu chamei você de Sr. Bear por que eu
fui informada que havia um homem que eu poderia encontrar perto das Galerias da Ponte Sul que sabia tudo sobre tudo que acontecia em Edinburgh, e seu nome é Old Bear. Ele franziu o cenho e perguntou —, Quem exatamente, disso a você isso? — Belinda. Eu não obtive resposta. — Bel —, eu disse novamente. — Pequena, cabelo escuro, olhos lavandas, burra como uma caixa de pedras. O franzido acabou e ele sorriu. — Ah, sim, a extraordinária adorável convidada do rei da rainha. Ela disse que meu nome era Old Bear? — Sim, ela disse. Ele lançou sua cabeça para trás e gargalhou. Eu olhei para Justine e ela apenas encolheu de ombros. Old Bear se dobrou sobre si, suas mãos em seus joelhos. Era uma agradável gargalhada, e quase era contagiosa. Quase. Eu cruzei meus braços e esperei por ele terminar. E levou um tempo. Os óculos e o lenço de mão reapareceram para fora do seu bolso. Ele limpou seus olhos e então colocou seus óculos de volta. Quando ele se recompôs mais uma vez ele disse —, É uma coisa boa que ela seja bonita por que ela não tem o juízo que Deus deu a uma ratazana. Meu nome não é Old Bear, é Aubert, Jacques Aubert. Eu sou o Chefe da Guarda da Cidade de Edinburgh. Ele estendeu sua mão e eu a peguei, sacudindo minha cabeça, — Aquela mulher é uma ameaça —, eu murmurei. Eu o apresentei a Justine, e eles trocaram gentilezas em Francês. — Então, Senhor Aubert, você é Francês? — eu perguntei. Quando ele chegou primeiro seu sotaque era Escocês, mas falhava para frente e para trás em vários dialetos Ingleses também. Seu Francês, contudo, era perfeito. — Eu sou muitas coisas, Srta Craven, mas sim, eu vim da França originalmente. Eu tenho, contudo, estado em Edinburg desde que Mary Stuart estabeleceu-se no trono, e a honesta Belinda está correta sobre uma coisa: eu sei tudo que há para saber sobre o que acontece na minha cidade. — Oh, bom —, eu disse, não gostando muito do seu tom presunçoso —, então talvez você possa me dizer quem está matando humanos sob sua vigília.
Ele estremeceu. Oh, ele disfarçou isso bastante rápido, mas eu captei. — Eu não sei nada sobre isso. Não é um problema de vampiro. — Alguém tentou assassinar a sua rainha na noite passada —, Justine disse. — Isso não é um problema de vampiro, então o que é? Ele olhou para Justine. — A casa do rei é dele para proteger. Ele tem Khalid e Hashim, e eles estão mais do que aptos para a tarefa. O que acontece dentro da corte não é meu negócio. Ela perguntou sobre os assassinatos, e eu estou dizendo a vocês que eu não acho que um vampiro seja responsável. — Por quê? — eu perguntei. — Por que os corpos não estão sendo entregues por vampiros, não há marcas de punções neles, e eles não estão drenados de sangue. Se fosse um vampiro matando essas pessoas, por que eles não iriam beber deles? Se você não vai se alimentar, qual é o objetivo? Eu tendia a concordar com ele, e eu me perguntei se Michael seria capaz de verificar as afirmações de MacLeod e Aubert sobre a condição dos corpos quando ele voltasse da sua visita da Faculdade de Medicina essa noite. — Clarissa viu a própria rainha entregar um dos corpos —, eu remarquei. — Sim, e Clarissa é poeira agora, ela não é? — ele vociferou. — Você está com medo —, eu murmurei. Ele assentiu. — E você seria uma tola se não estivesse. Eu não estou com medo de algo com o qual eu possa lutar, mas algo que pode passar pelos tenentes do rei e assassinar um vampiro na cela de contenção da corte sem ninguém ver nada, não é algo com que eu queria me envolver. — O que ou quem está fazendo isso, está atrás da sua rainha —, eu apontei. — Sim, bem, e é por isso que você está aqui, não é? Você faz o seu trabalho, e eu faço o meu. — Eu estou tentando fazer meu trabalho, Aubert, mas você está fazendo isso sangradamente difícil. Você pode mentir para mim e me dizer que você não sabe de nada, mas eu acho que você provavelmente sabe o que acontece na cidade baixa desde o número de garrafas de whisky que são contrabandeadas para dentro e para fora daqui nos dias básicos. Você realmente vai permitir que sua rainha morra por que você teme falar comigo?
Ele passou sua mão através do seu cabelo: — Ah, besteiras —, ele murmurou e então serpenteou a mão para fora e me puxou contra ele. Eu comecei a lutar, mas então ele estava sussurrando no meu ouvido e eu congelei. — Eu vi homens entregando os corpos na faculdade —, ele disse —, e eles sempre são homens. Todo o vampiro na cidade tem ouvido rumores, mas Clarissa foi a única que até mesmo afirmou ter realmente visto algo associado à rainha com essas mortes. — Você sabe como eles foram mortos? — eu sussurrei. — Eu ouvi que a maioria é mais apta a sufocação —, ele respondeu. — E se você é um vampiro, por que você mataria um humano dessa forma? — Você não mataria —, eu respondi —, especialmente não se você está tentando fazer parecer que outro vampiro tem feito as mortes. — Sim, a única forma que você mataria alguém assim é se você fosse humano. — Ou se você fosse um vampiro que está louco. Aubert apertou seus lábios. — Eu posso lhe assegurar que se a Rainha das Terras Ocidentais estivesse correndo por toda Edinburgh assassinando mais de uma dúzia de pessoas no último ano, alguém além de Clarissa teria visto algo. — Está certo —, eu disse e pisei para trás. — Você pode me dizer se alguém novo assumiu residência em Edinburgh ou nas áreas circundantes desde que os assassinatos começaram? Aubert tirou um bloco do seu bolso no tórax e folheou através dele. — Claro que eu posso. O controle de imigração é uma das minhas responsabilidades primárias. Exceto os funcionários da corte há cem vampiros residentes permanentes em Edinburgh e cinquenta lugares destinados para visitantes. Visitantes devem requerer por um lugar de férias e apenas são permitidos ficar por seis meses antes deles serem exigidos a deixarem a cidade. É uma política que é estritamente aplicada. — Ele inclinou sua cabeça em direção a nós. — Emissários do Alto Rei não tem necessidade de requerer uma entrada, claro. — Então há aproximadamente cento e cinquenta vampiros na cidade? — Justine perguntou.
Ele levantou uma sobrancelha para ela. — Há aproximadamente cerca disso, minha querida menina. Há exatamente cinquenta vampiros visitantes na cidade, nenhum dos quais esteve aqui mais tempo do que seis meses. A corte compõe de cinquenta residentes permanentes, mas todos eles fugiram para o Castelo Sombrio, com isso apenas deixa cinquenta residentes que não estão ligados com a corte. Adicionando a isso vocês cinco, o próprio rei e a rainha, Khalid e Hashim, eu, e meus quatro capitãs, há exatamente cento e quatorze vampiros em Edinburgh. Justine e eu olhamos uma para a outra. — Isso é... impressionante. — eu disse. — O que você faz se alguém se muda sem permissão? — Eu saberia disso dentro de uma hora e seria dado a eles vinte e quatro horas para partir ou eu, dentro dos meus direitos como Chefe da Guarda, os lançaria nas ruas ao meio-dia. Esse certamente seria uma maneira muito eficiente de forçar a lei. — E sobre Bel? — eu perguntei. — Quando ela chegou, exatamente? Aubert folheou através do seu bloco de anotações. — Ela desembarcou em Leith quatro meses atrás. Eu assenti. De todos os residentes da casa do rei, ela era a única que nós poderíamos razoavelmente excluir como um suspeito. Minha atenção foi pega pelo som de alguém correndo abaixo na rua. Um jovem homem veio correndo para fora da escuridão como se os vários cães do inferno estivessem atrás dele. Ele derrapou a uma parada na frente de Aubert. — Wächter, eine gruppe von zehn vampiren ist gerade ohne genehmigung in die stadt eingedrungen16. Aubert assentiu e respondeu —, Danke, Fritz. Ich werde mich darum kummern17. Ele se virou de volta para nós. — Vocês terão que me dar licença, senhoras. Eu tenho uma situação que requer minha atenção. Justine sorriu. — O que você tem é um grupo bastante grande de vampiros invadindo a sua cidade, Warden. Você se importaria de alguma ajuda com isso? — Você fala alemão muito bem. — Ele sorriu e inclinou sua cabeça. — 16 17
(Guardião, um grupo de dez vampiros acabou de penetrar na cidade sem permissão.) (Obrigado, Fritz. Eu vou cuidar deles.)
Uma mulher de muitos talentos. Merci beaucoup, mademoiselle, mas eu posso lidar com isso. Ele beijou ambas as nossas mãos de uma maneira bastante cortês e então nos propôs adieu. Enquanto eu o assistia desaparecer na rua de paralelepípedos, o jovem Alemão seguindo atrás, Justine veio ao meu lado e colocou sua mão no meu braço. — O que ele disse a você? — ela perguntou. Eu olhei ao redor, me perguntando apenas quem era para que Aubert temesse que ele fosse ouvido. Eu prendi meu braço ao dela e disse —, Vamos encontrar nossos meninos, e eu direi a você no caminho.
Capítulo
―E
ntão o que você acha? — Eu perguntei a Justine. — Eu acho que Jacques está certo. É muito improvável que a rainha matou uma dúzia de pessoas sem que
ninguém visse algo. — Ninguém além de Clarissa, isso sim. Ela encolheu de ombros. — Eu acho que essa cidade provavelmente está formigando com os espiões de Aubert. Ele não seria um bom Administrador se não estivesse. Eu neguei com minha cabeça. — Isso é o que eu não entendo. Por que um vampiro mataria várias pessoas sem beber delas? Um vampiro feroz sempre irá beber. Nós temos visto isso com bastante frequência. — E por que vender esses corpos para um humano para vender à Faculdade de Medicina? Não há razão lógica para isso. — Ela gesticulou uma mão. — IL est fou18. — Sim, isso é maluco —, eu respondi. — Novamente, talvez isso seja o que nós fomos feitos a acreditar. No momento em que nós duas dissemos, duas figuras familiares deram a volta na Ponte Sul da Rua Infirmary a uma quadra na nossa frente. Justine e eu pausamos enquanto nós observamos nossos homens fazerem seus caminhos subindo a rua na nossa frente. Eu amava a maneira em que Michael andava, 18
(IL est fou – isso é loucura)
cheio de graça masculina com apenas um toque de arrogância. Justine sorriu e me cutucou. — Pare de babar. Mon Dieu, você dois são como coelhos —, ela brincou. — Nós dois? Não tente me dizer que você não arranca as roupas de Devlin em toda chance que você tem. Eu vivo com vocês dois. Eu sei. Ela me deu aquele sorriso coquete. — Bem, ele é particularmente adorável sem suas roupas. Eu gargalhei. Nós podíamos tê-los chamado, mas no momento nós simplesmente os seguimos subindo a estrada, aproveitando a vista. — Você estava falando? — Justine perguntou. — Eu estava? — eu murmurei, pensando em nada mais do que eu gostaria de estar fazendo com Michael nesse momento. — Que nós fomos feitos a acreditar que a rainha é maluca? — Oh, sim —, eu disse, recompondo minha mente sobre o assunto em questão. — Eu acho que nós entramos no meio de um golpe. — De verdade? Então por que não ir atrás de MacLeod ao invés de Marrakesh? Se ela for executada, ele ainda é o rei. — Mas por quanto tempo? No caso de você não ter notado, eu não acho que o homem faça algo. Ela é aquela que todos temem. Ela é aquela que impõe a punição. Ele parece ser menos do que um figurante. Se você quer tomar um trono, você derruba o poder atrás do trono primeiro. Justine sacudiu sua cabeça. — Isso pode ser verdade, mas eu acho que você subestima MacLeod. Ele recebeu seu reino do próprio Alto Rei. Eu duvido que tal honra fosse concedida a um homem que não merecesse. Eu encolhi de ombros. — Ele pode muito bem ter merecido. Mas quantos séculos atrás foi isso? Talvez ele sinceramente seja uma força com quem contar. Como alguém saberia? Parece que Marrakesh esteve rodando a cidade aqui por algum tempo. De qualquer forma, eu não acho que necessariamente importa qual seja a verdade, mas o que o assassino acredita. — Então nós a desconsideramos. Mesmo se o assassino for atrás do trono de MacLeod, ou ele for atrás dela. Em ambos os casos, nós o arrastamos para o campo descoberto. — E se ela de verdade é louca e executa a matança das pessoas, se nós
pudermos tirá-la da cidade e isolá-la, nós saberemos disso, também. Justine assentiu. — Oui, é um bom plano. Eu estava para chamar Michael e Devlin quando eu vi algo que me congelou. Eles estavam descendo a rua, conversando seriamente um com o outro, muito como Justine e eu estávamos fazendo, quando eles passaram uma prostituta descansando contra o poste de uma das lamparinas. Pela distância as feições dela eram indiscerníveis, mas ela tinha um incrível impressionante seio que enchia o corpete do que se passava como um vestido a ponto de transbordar. E Michael olhou. Devlin passou andando por ela sem piscar um olho, mas Michael, meu Michael, se virou e olhou. Eu parei e encarei. Ele continuou andando sem dar uma palavra a ela, mas aquele olhar apreciativo me fez sentir como se alguém tivesse acabado de me socar no estômago. Levou à Justine vários passos para perceber que eu não estava mais ao lado dela. Ela se virou e voltou para mim. Ela tinha visto, também, e por alguma razão isso fez a dor aguda piorar ainda mais. — Ele olhou —, eu disse, minha voz soando miserável até mesmo para mim. — Claro que ele olhou, chérie. Ele é um homem. Eu neguei com minha cabeça. — Devlin não olhou. Ela bufou. — Devlin captou meu cheiro no momento em que eles fizeram a curva na Ponte Sul. — Ela deu de ombros. — É o novo perfume que eu comprei em Paris. — Que adorável —, eu murmurei, por que pareceu ser a coisa a se dizer. Justine tocou minha bochecha e virou o meu rosto, me fazendo olhar para ela —, Chérie, isso não significa nada. Eles são vampiros, verdade, mas eles ainda são apenas homens. Um homem irá olhar para uma prostituta com seus peitos saindo da frente do seu vestido. Claro que ele irá olhar, mas é só um olhar. Por que você se zanga com tal ninharia? Você sabe que Michael ama você com todo o seu coração. — Eu sei —, eu sussurrei. — É só que eu nunca o vi olhar para outra mulher assim antes. Eu não estou com raiva, eu só... eu preciso andar.
Se eu ficasse com Justine nós alcançaríamos Devlin e Michael em poucos minutos, e eu particularmente não queria ver Michael agora. Meu orgulho estava ferido, e se eu não obtivesse alguma perspectiva eu iria dizer algo rancoroso para ele que eu provavelmente me arrependeria mais tarde. Eu me virei e desci a Praça Hunter atrás do Tron Kirk. — Cin! Espere! — Justine chamou. Eu ergui uma mão e a dispensei. — Eu vou encontrar você de volta na casa. Eu estou bem. Mas eu não estava bem. Oh, eu não me preocupava sobre uma prostituta que ele olhou na rua, não realmente. Eu seria o pior tipo de hipócrita se isso me chateasse, por não ter olhado para Drake com similar apreciação recentemente? O que me incomodou foi que eu vi Michael olhar para mim dessa forma, centenas de vezes, mas eu nunca tinha visto esse olhar dirigido para outra mulher. Eu pensei na noite em que Fiona e eu conversamos sobre as viagens do marido dela para a Índia. Era isso o que ela quis dizer sobre karma? Essa era a minha punição por aproveitar a brincadeira da paquera de Drake um pouco demais? Isso já tinha causado um racha entre Michael e mim, e agora isso. Eu apertei meu passo, cortando a Rua Bank, passando o muito impressionante novo Banco da Scotland. Quando eu cheguei ao parque que se localizava nas sombras do Castelo de Edinburgh, eu levantei minha saia e corri. O parque não era muito grande. Eu podia correr por quilômetros sem me cansar, e nesse momento eu sentia como se eu pudesse correr por dias. Quando eu cheguei à extremidade distante do parque eu parei e me inclinei contra a cerca de ferro, olhando o trânsito movendo-se ao longo da Rua Princes. Foi apenas uma olhada. Eu sabia que isso não significou nada, mas tendo em conta a discussão que nós tivemos mais cedo, eu senti como se meu mundo estivesse começando a desfiar.
Capítulo
E
u estava quase voltando para a casa da cidade quando eu ouvi um movimento atrás de mim. Eu me virei e encontrei Drake em pé nas sombras, me observando. — Problemas no paraíso, minha querida? — ele perguntou enquanto ele caminhava para mim lentamente. Eu olhei para cima, dentro dos seus olhos verdes. — Eu não sei sobre o que você está falando. — Claro que você sabe —, ele disse suavemente, inclinando-se na minha direção até seus lábios estarem quase tocando os meus. Eu represei com a urgência de me afastar e ficar de guarda. Nós teríamos isso por agora, Drake e eu. Ele inalou. — Você cheira a descontentamento. O garoto fez você zangar-se. — Não é nada —, eu disse de forma curta. — É só uma noite ruim. Meu corpo ficou tenso quando seus dedos subiram e acariciaram minha bochecha, lentamente traçando para baixo na minha mandíbula, meu pescoço. — Você se importaria em fazê-lo pagar por ferir você? Você pode deixar toda essa raiva saciar-se comigo. Eu prometo a você uma noite que você nunca irá se esquecer.
Seus dedos continuaram descendo, descendo, e eu agarrei seu pulso e apertei. — Você deve parar com isso, Drake —, eu vociferei. — Eu sei que você tem uma história com Michael e você só diz essas coisas para nivelar uma pontuação com ele. Eu abomino ser usada de tal maneira. Drake negou com sua cabeça. — É isso que você pensa? Eu vou admitir que me agrada vê-lo louco com ciúmes, mas Cin, você é uma mulher que vale a pena arriscar qualquer desagrado com um cônjuge —, ele disse, e um estranho tipo de ternura tomou conta das suas feições. Foi um olhar que eu nunca tinha visto nos olhos de Drake antes e eu quase acreditei que ele falou a sério. — Todo esse cabelo carmesim e pele pálida – você é como fogo e gelo, minha querida. Eu vou apostar com cada homem que você conhece, maravilhas de como seria ter você. Eu deitei minha cabeça no seu peito, e disse suavemente. — Me desculpe, Drake. Ninguém além de Michael jamais me terá. Sua expressão ficou mais fria e aquela pouca ternura transitória subitamente se foi, como se ele firmemente batesse a porta em tal emoção vulnerável. — Você é tão nova —, Drake gargalhou daquela sua amarga maneira sem humor. — Justine me avisou a ficar longe de você. Ela disse que Michael foi o único amante que você já teve e que você não estava disposta a jogar os meus jogos. Você não sabe o que você está perdendo, minha querida. Eu o empurrei para longe de mim. Me irritou saber que Justine diria algo assim para ele. Justine e eu éramos melhores amigas, mas algumas vezes ela agia como se eu fosse incapaz de cuidar de mim sem a sua orientação. Quanto tempo duraria até ela parar de me vir como uma recém transformada inexperiente que ela tinha que mimar e proteger? — Deixe-me explicar algo a você, Drake —, eu disse asperamente. — Você pode ser um demônio de bonito, mas você não desperta interesse em mim. Eu não sinto nada por você, e você não sente nada por mim além da possibilidade de superar Michael pelo que quer que tenha acontecido entre vocês dois no passado. Michael é meu coração e minha alma, e se você acha que eu iria trair isso apenas pelos seus encantos, então você é tão louco quanto a rainha. Ele olhou abaixo para mim e sorriu, me dando uma expressão tão
condescendente que eu quis puni-lo com uma bola de fogo bem ali na calçada. Eu neguei com minha cabeça tristemente. — Você fica aqui com esse olhar no seu rosto, me zombando pela minha juventude e inexperiência. Realmente passou tanto tempo desde que você se apaixonou? — Eu perguntei. — Não importa. Se você não pode entender minha razão, então me deixe colocar nos termos em que um exausto mulherengo como você irá compreender. — Eu agarrei a lapela da sua sobrecasaca, puxando-o para baixo para que eu pudesse sussurrar no seu ouvido. — Ao menos que você me dê dez orgasmos em uma hora, como ele pode, então você não tem nada mais para me oferecer. Eu o larguei e caminhei até o outro lado da rua. Com raiva de Michael por dormir com aquela mulher desleixada todos aqueles anos atrás e me colocar nessa posição em primeiro lugar, e comigo mesma por talvez permitir que as coisas com Drake fossem tão longe, mas na maior parte eu estava com raiva de Drake pelo desprezo do impacto que seus jogos estavam causando na minha vida. Eu subi os degraus da casa na cidade dois de cada vez, e então bati a porta atrás de mim. Khalid saiu de uma das salas de estar, com uma carranca de desaprovação no seu rosto, e abriu sua boca para dizer algo. — Onde ele está? — eu vociferei. — O rei? — Khalid perguntou. — Sim, o rei. Onde ele está? — No seu estúdio —, Khalid respondeu, seu olhar desaprovador transformando-se em um de espanto. Provavelmente não era frequente que ele visse uma mulher com raiva invadindo a residência real. Algo me ocorreu, entretanto, enquanto eu estava atravessando a rua depois de deixar Drake com sua boca aberta na calçada. MacLeod estava sendo menos do que acessível conosco, e essa noite eu estava com um humor bastante desagradável para forçar algumas respostas dele.
Capítulo
E
u abri as portas do estúdio de MacLeod. Ele estava sentado na sua mesa, lustrando uma muito linda bainha em forma de cesta para a claymore*19, a qual ele imediatamente largou quando eu bati as portas atrás de mim. Ele se levantou aos seus pés e nós nos encaramos sobre o outro lado da mesa. — Onde eles vivem? — Eu perguntei. — Quem? — Sua corte. Eu conversei com Jacques Aubert essa noite. Ele disse que existem cinquenta vampiros na sua corte que estão agora no Castelo da Escuridão. Não há quartos suficientes nessa casa para acomodar todos eles. Quando eles estão na cidade, onde eles vivem? Ele olhou para mim com expressão intrigada, como se ele não pudesse compreender o significado. Talvez ele não tivesse entendido ainda, mas ele iria. — Eles vivem nas outras casas na cidade. — Que —, Eu disse lentamente —, que outras casas? — Eu sou dono de duas casas em ambos os lados dessa aqui. Elas foram convertidas a abrigos da corte. — E você não achou que isso fosse importante para nos contar, oh, digamos, enquanto nós estamos fazendo a busca nessa casa? Ele encolheu de ombros. — Eu não achei que isso fosse relevante. Eu fechei meus olhos e dei uma firme respirada. Eu tive que dar, ou eu ia 19
Antiga espada escocesa.
explodir. — Você não achou que era relevante que a pessoa que está usando magia contra a sua rainha muito possivelmente está fazendo isso de um quarto diretamente do outro lado da parede do seu quarto? Isso não pareceu relevante para você? Você é estúpido? Ou você está tentando assassiná-la? Seus olhos se estreitaram e eu pude sentir a raiva erguendo-se nele. Provavelmente não tinha sido sábio pressioná-lo assim, mas eu estava no fim do meu limite essa noite e eu estava cansada de tentar convencer a todos que MacLeod era inocente quando ele estava se fazendo parecer culpado com cada volta. Ele apoiou seus punhos na mesa e inclinou-se sobre ela. — Você não irá falar comigo dessa forma, madame. Eu sou o rei aqui, não você. Eu apoiei minhas mãos no lado oposto da mesa e me inclinei em direção a ele. — Então por que você não tira a sua bunda daí e começa a agir como tal! — Perdão? — Alguém está testando o seu trono, MacLeod, e eles estão usando Marrakesh para conseguir. Pelo o que eu vi ela é a monarca aqui, não você. Ela é aquela que todos temem. — Eu tenho questões mais importantes para me preocupar do que o policiamento de uma mão cheia de vampiros da cidade. Eu sou o Rei das Terras Ocidentais, devidamente escolhido pelo próprio Alto Rei. Você acha que toda a Europa Ocidental apenas governa por si só? Eu inclinei a minha cabeça para um lado. — Como você conseguiu ser o Rei das Terras Ocidentais, de qualquer forma? Ele pareceu surpreso, como se ninguém tivesse sequer perguntado-o isso antes. — Eu estava aqui quando o Alto Rei estava lutando por todos os cantos pelo seu direito de governar. — Então você absolveu-se bem no campo de batalha com ele? Eu perguntei. — Não, na realidade Drake e eu fomos os únicos que declinamos de erguer armas contra ele. Ele nos deu nossos reinos por que nós tivemos a sabedoria de não lutar uma batalha que nós não podíamos vencer. Ele disse que ele precisava de reis que possuíssem a sabedoria de manter uma cabeça no
lugar e não ficarem tão presos à excitação da batalha e que eles não saberiam quando eles estavam seguindo para o desastre. Ele pareceu orgulhoso desse fato, mas sua estória apenas adicionou-se à minha crescente frustração. — Então você conseguiu o seu trono por não lutar, e você o manteve deixando a sua rainha lutar por você? Isso talvez fosse algo errado a se dizer. Em um piscar de um olho ele não estava mais de pé ao outro lado da mesa. Eu nunca tinha visto um vampiro se mover rápido assim. Meus olhos não puderam sequer rastreá-lo. Quando eu me virei para ver onde ele tinha ido, a ponta da claymore, que tinha estado na sua mesa, estava pressionada na minha bochecha. Precisou que eu desse respirações firmes e me mantivesse bem parada. — Deixe-me explicar algo a você, garotinha —, ele resmungou, sua voz baixa e vibrante com raiva mal contida. — Eu sou provavelmente o vampiro mais velho que você irá alguma vez conhecer. Eu estava liderando homens para a batalha quando Roma ainda era um império. Eu tenho derramado sangue o bastante para encher a Fontana de Trevi. Eu posso assegurar a você que eu não temo a morte ou a batalha. Há razões para que Marrakesh seja minha executora, razões que você não pode vir a entender, e eu não sinto a necessidade de justificá-las para você. Eu movi um passo para a esquerda. Quando a lâmina não seguiu, eu dei outro passo e me virei. De pé ali com aquela espada na sua mão, ele pareceu como o rei que ele deveria ser. — Bem, talvez você devesse explicá-las para mim —, Eu disse suavemente —, por que nesse momento eu sou apenas a única pessoa que não acha que você seja culpado de algo aqui, e quanto mais você esconde coisas de nós, mas culpado você parece. Ele abaixou sua espada ao seu lado, a ponta dela batendo contra a sua bota para marcar sua irritação. — Eu não estou escondendo nada de você, Senhorita Craven. As casas estão trancadas e as únicas chaves para elas estão dentro do meu cofre. Apenas Marrakesh e eu temos a combinação. — E não há passagens secretas em nenhumas dessas casas? Ele sorriu. — Sim, há passagens para serem utilizadas como rotas de fuga
em caso de incêndio, mas todas elas estão trancadas e parafusadas por dentro. — E é impossível que alguém possa ter arrombado por meio de uma janela? — Todas as janelas do piso térreo estão seladas, e como essa noite todas as vidraças estão intactas. Eu suspirei. Ele não estava de propósito tentando debilitar nossos esforços; ele realmente não entendia com o que ele estava lutando. — MacLeod, uma boa bruxa ou feiticeiro não precisa das suas chaves para abrir essas casas. Não há uma trava feita que eu não possa arrombar com magia, e você nunca saberá se eu fiz isso ou não. Ele pareceu envergonhado. — Eu não tinha ideia —, ele disse finalmente. — Esse é o problema. Você não tem ideia com o que você está lidando aqui. Você precisa ser direto comigo, e pelos deuses, você precisa nos ajudar ao invés de nos impedir, e nos deixar fazer nossos trabalhos antes que seja muito tarde. — Ela está certa. Eu me virei para ver Marrakesh de pé na entrada da porta. Eu me perguntei apenas exatamente quanto da nossa conversa ela ouviu. Dada a sensitividade da audição de um vampiro e ao volume pelo qual nós estivemos gritando um com o outro, eu estava apostando que ela ouviu a maior parte. Ela pisou para trás e empurrou a larga porta. — Venha, Srta Craven —, ela disse e acenou para o corredor. — Eu acredito que é a hora de você e eu termos uma conversa.
Capítulo
E
u segui Marrakesh silenciosamente subindo as escadas para o seu aposento, sentindo-me um pouco como uma estudante sendo chamada para o escritório da diretora. Exceto que nenhuma diretora jamais se aparentaria como Marrakesh. Seu longo cabelo dourado estava solto e o vestido branco que ela usava assentava-se nas suas curvas, sua cauda seguindo atrás dela em um sussurro. As mangas eram longas e em forma de sino e parcialmente obscurecidas com luvas nas suas mãos. Tudo o que ela precisava era de um chapéu cônico com uma echarpe fluindo dele, e ela se pareceria como o ideal de todos para uma princesa medieval. Seu aposento estava quente, um fogo rugindo na lareira provendo em abundância calor e luz. Hashim estava inclinado sobre a mesa entre os dois sofás Romanos. Ele pulou para cima quando ele nos ouviu entrar no quarto, como se ele tivesse sido pego fazendo algo que ele não deveria estar fazendo. Eu olhei atrás dele para ver no que ele tinha estado tão ocupado, e encontrei um serviço de chá com prata ornamentada na mesa. Ele me viu olhando para isso e fez uma careta. O grande Árabe não gostou que eu o peguei entregando chá para a rainha. Com a escassez de servos na casa alguém tinha que fazer isso, e eu assumi que ele pensou que tal tarefa era inferior para ele. Eu sorri para ele no que eu esperei que fosse de uma amigável, encorajadora maneira, mas ele apenas fez uma careta mais séria, se isso fosse possível. De verdade, o
homem não gostava de mim. Eu me perguntei, não pela primeira vez, se era apenas comigo ou se ele tinha uma aversão com todas as mulheres. Hashim se curvou para Marrakesh. — Eu estarei bem ao lado de fora se você precisar de mim, minha rainha. Ela inclinou sua cabeça para ele. — Obrigada, Hashim. Marrakesh sentou-se em um dos sofás e acenou para eu me sentar perto dela. As grandes portas duplas fecharam-se com um sólido baque, um pouco mais vigorosamente do que o necessário, enquanto eu me sentava. Marrakesh estremeceu. — Você terá que perdoá-lo —, ela disse. — Ele se preocupa. Eu sorri para ela tensamente. — Vá em frente e diga —, ela disse. — Você certamente não se conteve em nada com MacLeod alguns minutos atrás. Eu ri. — Eu estava meramente pensando que ele se preocupa desnecessariamente. Se eu desejasse prejudicar você, eu teria deixado você se queimar essa manhã. Suas sobrancelhas se ergueram e ela me encarou por um momento. Depois ela gargalhou. — Touché, Srta Craven. Chocolate? — ela perguntou, derramando o rico, líquido escuro dentro de uma delicada xícara de porcelana Sevres. Eu inalei o aroma. — Mmmm. Inglês ou Suíço? Ela sorriu. — Holandês, de fato. É feito com um novo processo. Prove. Ela entregou para mim a xícara e pires e eu os peguei, sendo muito cuidadosa para não tocá-la de qualquer forma enquanto eu pegava. Eu soprei sobre a borda da xícara, observando-a, e esperei enquanto ela derramava outra para si mesma. Tomando um sorvo, eu deixei a bebida rolar pela minha língua antes de eu engolir. — Querida Deusa, esse tem que ser o melhor chocolate que eu já provei. — Não é adorável? Eu vou embalar um pouco para você quando o seu trabalho aqui tiver terminado.
Eu a agradeci. Ela tomou um apreciativo sorvo depois se estabeleceu contra uma extremidade do sofá. Eu me estabeleci contra a outra e nós nos consideramos sobre as xícaras Sevres brancas e douradas enquanto eu esperava por ela começar a conversa. — Eu ouvi que eu devo a você um grande débito, Srta Craven. MacLeod me contou que você salvou minha vida essa manhã. Eu neguei com minha cabeça. — Me agradaria se você me chamasse de Cin —, Eu disse. — E você não me deve nada, Majestade, de verdade. Eu só estou feliz por ter encontrado você antes que o amanhecer encontrasse. — Assim eu estou —, ela respondeu. — Você está se sentindo melhor? — Eu perguntei. — O que quer que esteja me deixando indisposta, vem e vai. Eu assumo que eu estou perfeitamente lúcida no momento. — Ela deu um longo sorvo do seu chocolate, e eu tive que reprimir a urgência de me deslocar desconfortavelmente sob o seu olhar. — Então me conte, você só me salvou para que você e Devlin possam me matar mais tarde, ou me prender lá em cima no Castelo de Tara como uma maluca? Eu fui silenciada por um momento e depois disse, com sinceridade —, Eu não sei ainda. Ela gargalhou. — Bem, eu lhe agradeço por ser honesta, de qualquer forma. Me dá esperanças que você manterá uma mente aberta. Eu conheço Devlin e Justine, e eu sei que eles serão justos. Eu tenho fé que você irá pegar quem quer que esteja tentando me fazer parecer culpada desses assassinatos. Eu não posso acreditar que alguém de fato imagina que eu estou correndo por Edimburgo matando pessoas e vendendo seus cadáveres. Isso é ridículo. Eu não disse a ela que todos nós tínhamos basicamente chegado à mesma conclusão. Eu estava esperando que se ela estava motivada a provar a sua inocência, então ela deixaria algo escorregar que poderia realmente ser útil para nós. — Eu estou contente em ter ajudado a descobrir isso, entretanto —, ela disse. — É óbvio pelo o que aconteceu na noite passada que, quem quer que seja responsável está trabalhando em alguma magia sórdida contra mim. — Você acha que alguém está trabalhando em magia contra você? — Eu
perguntei. — Eu tenho perdido horas, umas poucas aqui e ali no início, agora algumas vezes são dias. Ontem, por exemplo – um minuto eu estava sentada naquela cadeira na frente da lareira, tentando compreender o Gaston de Blonseville de Sr. Radcliffe, e no seguinte eu estava acorrentada ao terraço no telhado, aparentemente. Eu nem sequer me lembrei de estar ali. — Então você não se recorda de ver ou ouvir nada incomum enquanto você estava lendo? Mesmo se isso pareça sem importância, pode ser útil. Ela negou com sua cabeça. — Não, nada. Bem, isso era desanimador. Agora nós tínhamos alguém que não podia apenas trabalhar com magia, mas também impedir a uma rainha vampira o sentido da audição. — E sobre comida e bebida? — Eu perguntei. — Você teve algo de comer ou beber precedente aos... incidentes? Ela estreitou seus olhos. — Você acha que alguém está me drogando? Eu encolhi de ombros. — Ou conseguiu derramar uma poção mágica dentro da sua comida. Eu olhei para baixo à minha xícara de chocolate, e ela olhou para a dela. Marrakesh cuidadosamente colocou a dela abaixo na bandeja, e eu fiz o mesmo com a minha. Ela fez mais barulho do que eu gostaria. Minha mente piscando imagens de Hashim inclinado sobre a bandeja quando eu entrei, do olhar de culpa no seu rosto quando ele se levantou. Meu estômago se remexeu e eu tive que afastar o meu olhar do bule de prata quando Marrakesh perguntou. — Não —, ela disse. — Eu não tive nada desde que Khalid trouxe um jovem homem para mim cerca de nove horas. — Você tem pessoas regulares das quais, você bebe? — Eu perguntei. Não era incomum para vampiros ter autênticos haréns de doadores dispostos. Muitos vampiros não gostavam de beber de estranhos, e eu descobri que os vampiros das altas classes, reis das suas cortes, normalmente não saíam e caçavam. Eles tinham pessoas que traziam as suas refeições para eles. Alguns hábitos, nem a morte mudava. Marrakesh me surpreendeu, entretanto. — Não —, ela disse. —
Khalid traz para MacLeod e para mim algo fresco toda a noite. É tão fácil para os humanos se viciarem em nos alimentarem, sem importar o quanto dispostos eles pensam que estão. Ela estava certa. Beber sangue de um humano é uma coisa muito sensual, quer você deseje que isso seja ou não. É por isso que a maioria dos vampiros irá geralmente apenas beber do sexo oposto, ao menos que seus gostos sexuais sigam para o mesmo gênero para começar. O processo pode ser doloroso, pode ser completamente erótico, ou o humano pode sair sem se lembrar de alguma coisa. Tudo depende do grau de controle que o vampiro exerce na alimentação. Frequentemente um humano que tem sido usado regularmente irá implorar por isso, como outro imploraria por uma droga ou por um toque de paixão. Os sentimentos não eram reais, entretanto. Eles não estavam atados a nada mais substancial do que magia de vampiro. Também, uma vez que você bebe de humanos, eles são essencialmente seus. Um vampiro forte pode se arrastar para dentro das suas cabeças e os inclinar à vontade dele ou dela. Se eles não usados como alimento novamente, a influência irá passar eventualmente, mas isso poderia levar semanas, meses, ou anos, dependendo da idade e força do vampiro em questão. As possibilidades de abusar desse poder são surpreendentes. É ilegal pelas leis do Conselho Sombrio, mas é uma coisa muito difícil de ser provada, e é feita com mais regularidade do que o Alto Rei gostaria. — MacLeod me disse o que eu falei na noite passada —, a rainha disse, me puxando dos meus pensamentos. — E que você viu as tatuagens nas minhas costas. Eu adestrei minhas feições e respondi —, Sim, embora eu esteja surpreendida que ele lhe tenha dito. Ela sustentou suas mãos enluvadas para fora, palmas para cima, e disse ― É meu dom, ou minha maldição. Ele não pode esconder nada de mim. As luvas oferecem proteção da minha habilidade, mas há vezes, com ele, quando eu não as uso. Claro. Qualquer hora em que ela o tocasse ela poderia ser capaz de ver o que ela quisesse na cabeça dele. Havia momentos, como essa noite, quando eu desejaria que eu pudesse dizer o que Michael estava pensando tão facilmente
assim. Marrakesh negou com sua cabeça. — Eu nem sequer tenho que lhe tocar para saber o que você está pensando agora. Nunca inveje a minha habilidade. Tem sido uma tensão no meu relacionamento com MacLeod desde o início. Nós nos amamos com tudo o que nós temos, mas há algumas partes de você mesmo, que você deveria ser capaz de manter em privado, até mesmo do seu amor. Você tem alguma ideia do quanto forte homem ele é, ser capaz de não esconder nada de mim a fim de ser meu marido? Você pode sequer começar a imaginar o que seria ter o seu amor sabendo cada pensamento ou sentimento que alguma vez passeou pela sua mente? Eu considerei aquilo por um momento. As coisas que eu estive pensando sobre Drake na carruagem piscaram através da minha cabeça, e eu pensei sobre como mortificada eu estaria se Michael sequer soubesse que eu tive esses pensamentos. E eu realmente queria saber o que correu através da mente dele quando ele estava comendo os peitos daquela prostituta com os olhos, essa noite? Marrakesh sorriu. — Eu vejo que você entendeu. — Então —, Eu disse lentamente —, você saberia se MacLeod estivesse de alguma forma conectado com o que está acontecendo com você? Ela bufou. — Eu saberia se MacLeod achasse que meu vestido era pouco atraente. Eu posso assegurar a você que ele não está conspirando em me matar. Eu assenti e depois algo me ocorreu. — Marrakesh! — Eu exclamei, quase dando um tapa na minha testa por eu não ter pensado nisso mais cedo. — Você pode resolver isso! Toque neles; é tudo o que você tem que fazer. Então você saberá... — Mas ela já estava negando com sua cabeça. — Por que não? — Essa habilidade que eu tenho, não tem filtro, Cin. Eu não posso apenas selecionar e escolher o que eu vejo. Quando eu toco alguém, eu vejo tudo. Eu os conheço de dentro para fora. Não é um truque de magia. É uma arma. Há coisas que todos nós enterramos profundamente, e elas deveriam ser autorizadas a ficar ali. Hashim, em particular, teme que eu o toque. — Mas você não vê? Essa é a razão principal de que você deveria fazer
isso. Você é poderosa, Majestade, e no momento outra pessoa está puxando as suas cordas como um marionetista. Se você tem a habilidade de impedir isso, mas você não irá fazer por que os seus tenentes são cheios de melindres... — — Eu não irei forçar tal humilhação sobre meus amigos, especialmente não quando eu sei dentro do meu coração que eles são inocentes. — Mas você não pode ter certeza disso. — Claro que eu tenho. Eu sei por que... — Ela pausou por um longo momento como se reunindo seus pensamentos, depois sorriu um sorriso amargo e disse —, Depois do que você ouviu e viu na noite passada você me tem em um pouco de desvantagem. Ninguém vivo sabe o que você sabe agora, exceto MacLeod, Khalid, e Hashim. Eu quase estendi a mão e toquei a sua mão. Quase. — Se eu pudesse retirar o conhecimento disso, eu iria, Majestade. Não é meu direito saber tais coisas, e eu quero assegurar-lhe que nada do que você disse enquanto sob a influência de... qualquer coisa que seja... nunca irá mais longe do que daquele telhado. Ela assentiu. — Eu lhe agradeço por isso. Contudo, agora que você sabe metade da estória, você pode muito bem ouvir o resto. Depois você irá entender por que eu não mais suspeitaria que Khalid ou Hashim, tentariam me prejudicar mais do que MacLeod prejudicaria. Confiança não é uma das minhas virtudes, não é algo que eu dou facilmente. Há apenas três pessoas nesse mundo que eu confio. Nós temos um laço, Khalid, Hashim, MacLeod, e eu, um que foi forjado com dor e sangue. — Eu não posso imaginar o horror que você deve ter sentido naquela praia —, Eu disse. — Se aquilo tivesse sido o fim, depois talvez eu não fosse tão... prejudicada —, ela disse. — Mas aquilo foi apenas o começo.
Capítulo
E
la inclinou-se para trás, não olhando para mim mas sim para o fogo na lareira, até que eu pensei que ela tinha se esquecido que eu estava ali. Quando ela falou, sua voz estava imparcial, como se ela estivesse contando uma estória pela qual ela não tinha parte. Talvez assim fosse como ela tivesse que contar, para superar. — Magnus me tirou daquela praia. Ele vingou-se da minha honra como eu tinha pedido, e em retorno eu o mostrei onde o ouro e objetos de valor estavam escondidos. Ele era um homem de palavra, um homem honrável, e ele se casou comigo dentro de um mês. Eu não sei se eu poderia ter dito que eu era feliz, necessariamente. Eu não sei se eu poderia ter sido feliz naquele ponto da minha vida, mas eu estava contente. Magnus me tratou como uma rainha e no ano seguinte eu dei a ele um filho. — Ela fechou seus olhos e sorriu amargamente com a memória. — Magnus estava tão orgulhoso dele. Ele adorava aquele bebê, e nada era muito bom para nenhum de nós. Erik tinha dez meses de idade quando seu pai foi assassinado em um ataque surpresa. Ninguém viu isso acontecer, mas eu sei que ele foi apunhalado nas costas pelo seu sobrinho. Gunnar sempre foi o herdeiro de Magnus, e então eu apareci e dei a ele uma forte e saudável criança. Ele nos odiava com o fogo de milhares de sóis. Eu orava à noite para que Gunner fosse assassinado em
batalha, ou que ao menos Magnus vivesse bastante tempo para o seu filho crescer em virilidade, para que ele pudesse se proteger. Quando eles trouxeram o corpo de Magnus para casa, para mim, eu soube que meu filho e eu logo estaríamos mortos. Não havia lugar para eu ir, ninguém podia nos proteger de Gunnar. — O que aconteceu? — Eu sussurrei. Uma lágrima escorreu na sua bochecha. — Aquele bastardo desalmado, que sua alma seja amaldiçoada pela eternidade, afogou o meu bebê e me vendeu como escrava. Ele ficou de pé no estaleiro e me disse que eu não era nada mais do que uma prostituta que seu tio vestiu como uma rainha, e que agora eu seria mais uma vez o que eu estava destinada a ser. Meu coração doeu por ela. Eu não podia imaginar por quanto ela passou esses anos. Ela deu um profundo estremecido fôlego. — Eu terminei em Algiers. Darius era um vampiro de... apetites variados. Ele tinha um harém de centenas de mulheres, mas não eram apenas as mulheres que alimentavam as suas necessidades. Homens, garotos, garotas, não importava para Darius. Algumas vezes ele participava, e outras ele apenas gostava de assistir. Uma concubina que ficou grávida por um dos seus escravos humanos era recompensada, e Darius era presenteado com outra alma para destruir enquanto ele desejasse. Desnecessário dizer que, eu vivi com medo de ficar grávida. Khalid e Darius eram os próprios exemplos disso. Sua mãe tinha morrido no parto, e eu os coloquei debaixo da minha asa. Eu tentei protegê-los, mas Darius era fascinado pelo fato que eles eram gêmeos. Você não pode imaginar os horrores que eles suportaram no crescimento. Eu soprei um fôlego, pensando que todas as minhas teorias estavam desvendando-se diante de mim. Khalid e Hashim não eram apenas soldados para ela, eles eram seus filhos. — Darius não apenas mantinha as concubinas para o seu próprio entretenimento. Aquelas que eram particularmente esqueléticas... ele as prostituía por ouro, ou terras, ou informação. Eu estava ali por um pouco mais de um ano, Khalid e Hashim eram apenas bebês, quando Darius veio a mim e disse que ele ia me presentear ao Calife de Córdoba, e que eu ia obter a
informação que ele queria ou ele mataria Khalid e Hashim. Eu tinha acabado de perder um filho alguns anos antes e eu não podia suportar perder aqueles dois bebês preciosos também. Então eu fui com ele para Córdoba, onde o calife se encontrou muito interessado em mim. Ele também tinha uma tendência a falar muito enquanto ele estava fazendo amor. — Ela encolheu de ombros. — Quando eu obtive a informação que Darius exigiu, ele me roubou do lugar e me levou de volta para Algiers. Ele disse que ele estava tão satisfeito comigo que ele não podia suportar perder a minha beleza para os estragos do tempo. Ele me transformou em um vampiro, como ele fazia com algumas das suas favoritas concubinas. Pela primeira vez ela virou seu rosto do fogo e olhou para mim. — Eu ansiava pelo dia quando minha beleza desapareceria e ele não teria mais interesse em mim. Algumas vezes ele matava seus humanos quando seus rostos e corpos não mais o agradavam, mas aqueles que tinham sido obedientes ele frequentemente libertava. — Ela gargalhou. — Não que eu tivesse algum lugar para ir se ele me libertasse, mas um escravo raramente pensa tanto para frente assim. Então ao invés de merecer a minha liberdade, eu fui forçada a outras três centenas de anos de escravidão para a cobiça, os apetites distorcidos, e os caprichos frívolos de Darius. Eu engoli. Eu tinha achado que eu queria saber disso, mas agora eu não estava certa. Eu procurei por alguma coisa segura para comentar, qualquer coisa que iria tirar aquele olhar de lembrança dolorosa dos seus olhos. — E as tatuagens? — Eu perguntei. — Eu assumo que elas estão ligadas ao seu dom de alguma forma. Todas elas são símbolos de conhecimento, profecia, ou proteção. — Darius tinha um padre Irlandês em uma das suas prisões. Ele nunca o prejudicou, nunca sequer bebeu dele ou o forçou a fazer as coisas que o resto teve que fazer para sobreviver. Eu acho que ele serviu como um espelho para Darius. Quanto mais chocado o padre ficava pelas perversões de Darius, mais Darius gostava. As tatuagens eram, na época, nada mais do que tintas. Eu usei para ter que me deitar imóvel por dias naquele momento, enquanto o padre me pintava como um manuscrito com iluminuras antes de Darius me dar de presente para um rei ou outro. Ele pensou que as marcas no meu corpo
intrigariam os homens. O padre desenhou símbolos de conhecimento na esperança de que eu fosse bem sucedida na minha missão, e não ser punida por Darius ao falhar em adquirir o que quer que ele quisesse. Depois de Córdoba, Darius me pintou novamente antes dele me transformar. Quando eu acordei como um vampiro, as marcas eram permanentes... e eu tinha a habilidade de ver dentro da alma de um homem simplesmente ao tocá-lo. — É um dom impressionante. Eu nunca ouvi sobre algo assim antes. — E eu não tinha. Normalmente, à exceção da sua magia vampírica padrão, as habilidades do vampiro eram uma ampliação das habilidades que eles tinham como humanos. A clarividência de Marrakesh era completamente nova depois dela se transformar. Eu me perguntei quanto disso era devido aos pesados simbolismos das tatuagens nas suas costas. Ela encolheu de ombros. — Foi, e ainda é, uma benção e uma maldição. Por outro lado, depois de Darius perceber o que tinha acontecido, ele nunca me tocou novamente. No outro, eu era agora de infinito valor para ele e ele nunca me deixaria ir. Foi-me dado um quarto de suíte e eu nunca novamente tive que enfrentar o que as outras concubinas tiveram. Isso me fez atrevida. Nós tentamos escapar uma vez quando Khalid e Hashim tinham vinte. Darius nos pegou e eu passei os próximos cinco anos em uma cela sem janelas bebendo sangue velho de um jarro, e isso era apenas quando alguém se incomodava em se lembrar que eu estava ali embaixo. Quando eu fui solta e eu vi quanto Khalid e Hashim tinham sofrido — Ela fechou seus olhos e negou com sua cabeça. — Meu Deus, Cin, as cicatrizes que eles tinham, ambas internas e externas. E Darius os tinha transformado, por que ele sabia que isso me machucaria. Deixá-los humanos era a única coisa que eu alguma vez pedi para ele. — Como você terminou aqui? — Eu perguntei. — Em 1250 um jovem homem emitiu uma intimação para um e para todos virem e o desafiarem pelo direito de governar o mundo vampiro. A data do combate estava determinada em 1º de Julho de 1260, por que levaria anos para os novos viajarem por toda a Europa, Ásia Central, e Norte da África. Darius gargalhou disso, como fez a maioria no início. Quando a data do desafio se aproximava, contudo, mais e mais vampiros fizeram acordos para
comparecerem. Depois de tudo, se alguém ia ser o rei de todos nós, então você preferiria que fosse você e não o seu vizinho. Eles foram em massa, e quando a poeira baixou o Alto Rei tinha vencido o direito de governar, e MacLeod tinha ganho as Terras Ocidentais enquanto Drake tinha ganho o Oriente. — Darius atendeu o desafio? — Não —, ela disse. — Não, ele não atendeu, e ele se recusou a aceitar a autoridade do Alto Rei ou assinar o seu nome do Livro das Almas. MacLeod veio até ele e deu a ele duas escolhas: Ou Darius poderia jurar fidelidade ao Alto Rei, ou ele encararia um exército que tomaria tudo o que ele tinha, incluindo sua vida. Eu ergui minha sobrancelha. — Eu estou surpresa que MacLeod tenha feito essa viagem. Agora é nossa responsabilidade ir ao Alto Rei. Ela encolheu de ombros. — As coisas eram diferentes no início. Quando os dois reinos eram novos havia muitas concessões estendidas aos vampiros mais velhos em um esforço de trazê-los pacificamente sob a dominação do Alto Rei. Agora que nosso regulamento se estabilizou há tempos, tais compromissos não são mais feitos. — Então MacLeod viu você quando ele foi visitar Darius? — Eu o imaginei encontrando-a e instantaneamente se apaixonando. — Ele viu. Nós tínhamos mudado de Algiers para Marrakesh então. MacLeod veio para obrigar obediência de Darius... e ele partiu comigo. — Darius desistiu de você? Ela gargalhou. — Não —, ela disse com um brilho travesso no seu olhar. — MacLeod me roubou. Khalid e Hashim vieram ao seu aposento uma noite e imploraram a ele para me levar para longe. Eles lhe disseram que eu faria a ele uma excelente rainha. Darius selou o seu próprio destino quando ele ficou ganancioso e me enviou para MacLeod, requisitando em usar minhas habilidades e meu dom para descobrir tudo que eu pudesse sobre o rei – seus planos, suas fraquezas, tudo. — Você fez? — Eu perguntei quando ela pausou e não continuou. Ela sorriu e seus olhos ficaram com um olhar sonhador, distante. Eu estava feliz que ela finalmente se lembrou de algo agradável. Ela tinha o olhar
de uma mulher apaixonada, e isso ficava muito melhor nela do que a dor que eu tinha visto em seu rosto até agora. — Eu descobri tudo o que eu precisava saber —, ela disse. — Eu descobri que ele era um bom homem, um guerreiro de incríveis habilidades, e um sábio líder. Eu também descobri mais prazer na sua cama em uma noite do que eu tinha experimentado em toda a minha vida. Mas Darius não iria desistir de mim; eu era muito valiosa para ele. Por dias seus homens nos observaram como falcões. MacLeod tinha apenas uma mão cheia de soldados com ele, não o bastante para derrubar o exército de Darius. Quando nós finalmente fizemos o nosso movimento, Khalid e Hashim foram para oeste, os homens de MacLeod foram para leste, e MacLeod e eu fomos para norte para Tangier. Os homens de Darius tiveram que se dividir para procurar por nós. Nós ficamos fora das estradas para que nós não fôssemos localizados. Quando nós não encontrávamos abrigo pelo dia, nós nos enterrávamos na areia para que nós não nos queimássemos. Reze para cada deus que você acredita que você nunca tenha que saber como é isso. Foram semanas de puro inferno antes de nós alcançarmos o porto em Tangier. — Ela ficou silenciosa por um momento e depois ela disse —, É por isso que eu amo tanto Edimburgo. É verde, e chove com frequência, e eu nunca tenho que sentir a areia contra a minha pele novamente. — O que aconteceu com Khalid e Hashim? Eles seguiram você até aqui? — Eles foram para oeste, guiando uma porção dos homens de Darius para longe de MacLeod e mim. Eles conseguiram chegar à capital ocidental em Vienna — — Eu achei que a capital ocidental, fosse em São Petersburgo? — Era Vienna quando Drake era o rei. A nova rainha mudou-se para São Petersburgo no ultimo século. Eles dizem que ela e Peter o Grande eram amantes, você sabe. Eu ri internamente. Ainda me impressionava como os antigos vampiros se deslocavam em torno das palavras como novo e velho. A nova Rainha das Terras Orientais tinha sentado em seu trono desde que Drake foi deposto em 1680. — Em todo o caso, os homens de Darius os pegaram em Vienna. Khalid
e Hashim assumiram que MacLeod e eu ou estávamos a salvo ou recapturados e não havia razão para continuar guiando os soldados em uma perseguição selvagem. Eles deixaram os soldados alcançarem-nos em um campo do lado de fora da cidade. Eles lutaram, e Khalid e Hashim mataram todos eles. Drake ouviu isso e, independente do que ele seja, ele é um... homem prático. Ele tinha um novo reino e ele é um diplomata, não um guerreiro. Ele ofereceu à Khalid e Hashim a cabeça de Darius em troca de duzentos anos de serviço. — Eles aceitaram a oferta? — Oh, sim. Era um pequeno preço a se pagar por vingança. — Mas como ele fez isso? Se o reino de Drake era tão novo, como ele reuniu soldados o bastante para tomar o palácio de Darius? Eu estou assumindo que tal lugar seria quase impenetrável. Ela sorriu amplamente. — Oh, ele era. Drake, como eu disse, é um homem muito prático. Por que enviar um exército quando um soldado faria? — Um soldado? — O palácio pode não ter se enfraquecido, mas Darius certamente sim. Alecto era jovem então e muito ansiosa em se provar para o novo rei. Eu lancei a minha cabeça para trás e gargalhei. Alecto era uma das três irmãs, as Fúrias, quem eram a contrapartida dos Justos no rei oriental. — Então ela o matou? — Sim, e enviou suas cinzas para mim com seus cumprimentos. Eu caí em silêncio, pensando. Não apenas tinham Khalid e Hashim crescido com Marrakesh como uma figura materna, eles tinham escapado de serem prisioneiros de um mestre apenas para dar a volta e se comprometerem com outro, tudo para mantê-la a salvo. — Entendendo agora a sua... história —, Eu disse suavemente, — Eu tenho que me perguntar por que você escolheria um nome como Marrakesh? — Eu fiz isso para que eu nunca me esquecesse de onde eu vim. Para que eu nunca ficasse mimada e confortável com minha posição aqui e esquecesse que eu uma vez, tinha sido escrava. — Eu teria pensado que seria algo que você iria querer colocar para trás de você e tentar esquecer —, Eu salientei. Ela negou com sua cabeça. — Não, nunca. Enquanto eu me lembrar da
dor, eu nunca permitirei que isso aconteça novamente. Não há nada mais importante do que o poder de controlar o seu próprio destino. — Ela deu um fôlego desigual e se inclinou para frente. — É por isso que você tem que encontrar quem quer que esteja fazendo isso comigo. Eu não vou entrar de bom grado em outra prisão, Cin. Eu preferiria ser apunhalada do quê trancada à distância no interior do Castelo Tara. Eu sei que eles dizem a você que os antigos algumas vezes enlouquecem. Eles podem até mesmo apontar para Drake quando eles disserem isso. Mas Drake ficou louco quando o amor da sua vida morreu. Eu estou aqui com o meu amor. O amor da minha vida, Cin, e eu sou feliz. Se trezentos anos com Darius não me quebraram, eu posso assumir a você que eu simplesmente não acordei louca um dia, sem rima ou razão para isso. Alguém está fazendo isso comigo. Você acredita nisso? — Sim —, Eu sussurrei. — E você irá me ajudar? — Sim, eu irei ajudar você —, Eu disse. — Mas você tem que se ajudar também. Você tem uma impressionante arma à sua disposição, Marrakesh. Use-a. Eu posso acreditar que MacLeod e Khalid e Hashim são devotados a você, mas os outros têm suas dúvidas. Se você pode positivamente limpar todos nessa casa, então nós podemos continuar e olhar para outro lugar. A única outra opção é remover você da cidade a fim de eliminar quem quer que esteja fazendo isso. Ela negou com sua cabeça. — Uma rainha não abandona a sua capital em época de guerra. Isso seria visto como um sinal de fraqueza. — Marrakesh, nós não temos uma direção. Nós nem sequer temos algumas teorias sólidas sobre quem poderia estar por trás disso. — Outra além daquelas na minha criadagem, você quer dizer —, Eu não respondi. Eu só a observei enquanto ela pensava sobre isso. Finalmente, ela assentiu. — Eu farei isso, mas apenas se eles vierem a mim de bom grado. Eu não irei ter tal coisa ordenada deles, você me entende? — Eu entendo —, Eu disse. — Eu irei contar à MacLeod agora. — Cin —, ela disse enquanto eu alcançava a porta. — Obrigada. Eu neguei com minha cabeça. — Não me agradeça ainda. Eu tenho a sensação que isso vai piorar antes de melhorar.
Capítulo
E
u deixei o quarto e topei diretamente em um peito bastante impressionante. — Ummph —, Eu grunhi e o contornei. — Não é um pouco impróprio para um rei estar pairando no corredor, espionando? Ele cruzou seus braços sobre seu peito. — Você entende agora por que ela é da forma que ela é? Por que nossas vidas funcionam como elas funcionam? Eu me inclinei de costas contra a parede. — Ela tem um desejo compreensível de estar no controle de tudo a sua volta, por que ela não estava no controle de nada por bastante tempo. — Sim, mas é mais do que isso —, ele disse. — Eu fiz dela uma rainha, e eu fico em segundo plano por que duas vezes na sua vida ela perdeu um marido e perdeu o seu lugar no mundo por causa disso. Eu a amo muito para ver isso acontecer com ela novamente. Ela é minha executora por que se algo deve acontecer com ela, independentemente do que você poderia pensar, eu ainda seria rei. Se, contudo, algo deve acontecer comigo, então eu preciso que ela seja forte o bastante para governar esse reino sem mim. Meu coração derreteu apenas um pouco. — Então me ajude agora —, Eu disse. — Ela concordou em usar seu dom para excluir qualquer um nessa casa como suspeito. Ele pareceu surpreso, e depois assentiu. — Tudo bem. — Khalid e Hashim parecem culpados. Devlin e os outros nunca irão
acreditar que eles não estão envolvidos sem prova. Essa é a forma mais rápida que eu conheço para conseguir isso e nos dar liberdade para olhar em outro lugar. Marrakesh se recusa a forçar qualquer um a submeter-se a isso, então eu não me importo com o que você terá que fazer para se certificar que eles se tornem dispostos, você me entende? Ele assentiu. — Isso será feito.
Capítulo
V
erdadeiro com a sua palavra, MacLeod reuniu todos no seu aposento. Marrakesh estava vestida com um vestido deslumbrante de seda verde que perfeitamente combinava com seus olhos – olhos que continuavam se lançando nervosamente sobre ambos os seus tenentes. Eu os observei também, para me certificar que ao menos eles aparentavam estar aqui por suas próprias vontades. Khalid pareceu resignado e tão estóico como uma estátua. Hashim pareceu como se ele pudesse se tornar violentamente doente a qualquer momento. Bel apenas pareceu confusa, como sempre. Devlin tinha decidido que Marrakesh deveria tocar Bel também. Uma vez que ela estava vivendo na casa por vários meses, Bel podia ter visto ou ouvido uma infinidade de coisas que poderiam não ser fora do comum para ela, mas talvez fossem para a rainha. — Devemos começar? — Eu perguntei. — Isso é mesmo necessário? — Hashim perguntou, e a tensão entre seus olhos disse que a pergunta significava mais para ele do que seu tom sem emoção implicava. Drake apareceu e colocou sua mão no braço do Árabe. — Eu temo que seja, velho amigo. Hashim assentiu mais uma vez e depois olhou para mim como se fosse tudo minha culpa, a qual eu supus que era. — Isso vai doer? — Bel perguntou, seu lábio inferior tremendo
encantadoramente. — Não, não deverá —, Marrakesh a assegurou. — Eu começarei com o rei e talvez isso acalme a todos. Ela tirou suas luvas, as quais eram exatamente do mesmo tom de verde do seu vestido, e as colocou sobre as costas do sofá Romano. Sem qualquer orientação todos na sala pareceram ter se separado em duas filas. Drake, Devlin, Justine, Michael, e eu ficamos de pé encarando os outros, esperando. Eu franzi o cenho e contornei Michael ao outro lado, mas essa posição não era melhor. De onde eu estava, eu não seria capaz de ver o rosto de Marrakesh. Eu queria medir sua reação enquanto ela lia cada um deles, então, atraindo o menor da atenção para mim possível, eu me movi até a mesa de MacLeod e me inclinei contra ela. Estava bem melhor. Daqui suas costas não estavam mais para mim, e eu podia ver os dois em perfil. Eu observei enquanto ela se aproximou de MacLeod e suspendeu suas mãos, palmas para cima. Ele sorriu para ela e colocou suas mãos nas dela. Ela fechou seus olhos e respirou profundamente. Eu esperava sentir algo similar ao que eu tinha sentido quando outra bruxa convocava seu poder, mas, qualquer que fosse a fonte do dom de Marrakesh, não era a mesma da minha. Houve uma vibração no ar, quase como aquela de uma tempestade se aproximando, mas nada que estalava como magia de bruxa. Eu não sei o que Marrakesh viu ou sentiu, mas quando ela abriu seus olhos ela sorriu ao seu marido e se inclinou acima para colocar um simples beijo nos lábios dele. — Eu amo você —, ela sussurrou e eu sorri com ela. Quando ela tirou suas mãos de MacLeod, a vibração parou. Ela se moveu para Khalid a seguir. — Você faz isso de livre vontade? — ela perguntou. Ele olhou abaixo para ela um momento, depois assentiu sério. Ela estendeu suas mãos, e ele se aproximou para pairar relutantemente bem acima das dela. Eu segurei minha respiração, esperando que ele não recuasse no último momento e arruinasse com tudo. Foi quando Marrakesh deu um passo para trás antes dele tocar as mãos dela. Depois ela deu outro passo, sacudindo sua cabeça. MacLeod se moveu em direção a ela com suas mãos estendidas,
mas antes que ele pudesse alcançá-la, a cabeça da rainha rompeu para cima e ela se lançou em direção a Khalid. O grande homem cambaleou para trás com medo, tropeçando no sofá atrás dele. Antes que alguém pudesse superar o seu choque e reação, Marrakesh puxou a cimitarra de Khalid da bainha em sua cintura. Ela balançou a lâmina em um amplo arco, forçando MacLeod a pular para trás, fora do seu alcance. E então ela se virou e olhou diretamente para mim. Loucura encheu seus olhos enquanto ela gritava e corria para mim, a cimitarra erguida em sua mão direita. Eu corri para o outro lado da mesa, em parte por instinto e em parte por que colocando um grande pedaço de mobília entre nós me dariam os preciosos segundos que eu precisava para convocar minha magia. MacLeod foi mais rápido, entretanto, e a agarrou ao redor da cintura, balançando-a para fora dos seus pés. A cimitarra caiu das suas mãos, fazendo barulho sobre o piso de madeira. A rainha gritou sua frustração e começou a arranhar os braços do seu marido em um esforço para se libertar. Khalid tinha recobrado sua compostura e interveio, agarrando os seus pulsos. Marrakesh estava gritando e batendo enquanto MacLeod a rodopiou para prendê-la entre ele e as costas do sofá. — As luvas! — ele gritou. — Coloque as luvas nela! Um olhar de horror cruzou o rosto de Drake e ele correu para ajudar, apanhando as luvas das costas do sofá. O que eu tinha visto do dom de Marrekesh tinha sido bastante benigno, mas era evidente pelo olhar no rosto de Drake que nem sempre era assim. Eu estava apostando que ele a conhecia muito bem para saber que, nesse estado, sua habilidade poderia causar algum sério estrago. Drake e Khalid estavam lutando com ela para colocar as luvas enquanto Bel se encolheu atrás de Hashim. Foi apenas quando eu percebi que em algum momento durante a briga Michael tinha se colocado entre mim e a rainha, sua espada extraída. Devlin e Justine estavam na frente dele. Com a imediata ameaça à minha constante saúde e bem-estar terminada, eu comecei a notar outras coisas também – como o cheiro de enxofre e absinto. Eu me girei e encarei a parede atrás da mesa de MacLeod. Aquele horrível fedor pareceu estar emanando de lá. Eu coloquei minha mão nos lambris.
Quem quer que seja, ele estava na porta ao lado da casa conjugada, produzindo feitiços para fazer a rainha enlouquecer antes que ela descobrisse qualquer coisa que iria incriminá-lo ou ao seu cúmplice. — Ele está aqui! — Eu gritei e contornei Michael, agarrando a manga da sua camisa. — Vamos, ele está aqui! Eu praticamente arrastei Michael do aposento. Ele, lógico, não tinha ideia sobre o que eu estava falando ou para onde nós estávamos indo, mas ele seguiu mesmo assim. Enquanto nós corríamos escada abaixo, Devlin e Justine em nossos encalços, eu expliquei. — MacLeod negligenciou em nos contar que duas casas geminadas vizinhas que flanqueiam essa, são usadas como residências da corte. Ele não pareceu acreditar que era importante uma vez que elas estão vazias e trancadas. Nós voamos para a porta da frente e corremos acima nos degraus da casa geminada vizinha. Devlin bateu seu ombro na porta. Ela rachou e gemeu, mas se sustentou. — MacLeod é uma besta —, ele resmungou, se afastando para tentar novamente. Eu coloquei minha mão no seu peito e o sustentei para trás. — Não, ele apenas não percebeu que qualquer bruxa que faça valer a sua magia possa fazer isso. Eu coloquei minha mão na trava. Meu sangue estava correndo com a excitação de que nós pudéssemos pegar esse bastardo traiçoeiro, e minha magia voou para dentro da fechadura com tal força que não somente fez a trava ceder, mas toda a porta voar para dentro e bater contra a parede como um estalo de raio. Bem, tanto para ser discreto. Devlin e Michael avançaram nos degraus dois de cada vez, armas extraídas. Eu segui atrás. Eu não tinha lâmina, mas eu tinha minha magia, e eu estava esperando que fosse o suficiente. Justine estava nas minhas costas com mais armamento nas mãos do que eu achei que ela pudesse esconder sob aquele vestido. O quarto que nós estávamos procurando estaria no final do corredor no terceiro andar. Eu estava apostando que seria uma imagem espelhada da suíte de MacLeod. Devlin chutou a porta abrindo-a e todos nós nos espalhamos no quarto
com muito menos cautela do que eu teria aconselhado, se eu não tivesse estado tão vigorosa com a excitação de que nós realmente poderíamos pegar esse demônio no ato. O cheiro de enxofre e absinto me asfixiou. Era uma grande suíte, muito como a de MacLeod, mas estava vazia. Eu rodopiei, e Justine estava tão perto atrás de mim que a ponta da sua espada quase cortou minha camisa. — Cuidado! — Eu disse, apertando meus seios e fazendo uma carranca para ela. Ela me deu um olhar e deu um passo para trás. — Que vá tudo para o inferno! — Devlin gritou em frustração. Ele puxou abrindo as portas do grande guarda-roupa, o qual se erguia contra a parede oposta aos pés da cama. Havia roupas nele e mais nada além. Rosnando, ele espreitou do quarto, lançando as portas abertas à esquerda e à direita enquanto ele descia o corredor. — Vá com ele e o ajude a vasculhar a casa —, Eu disse. Justine assentiu e saiu, mas Michael ficou ao meu lado. — Se você acha que eu vou deixar você aqui sozinha, você está aturdida. Eu sorri com a sua preocupação, especialmente desde que ele tinha estado tão chateado comigo mais cedo naquela noite. — Tudo bem —, Eu disse —, mas fique bastante imóvel e me deixe fazer isso. Ele assentiu e recuou. Eu fechei meus olhos e alcancei meus sentidos e minha magia. Eu podia ouvir três conjuntos de passos subindo os degraus. Eu ouvi Devlin falando com Drake e Hashim. Bel estava gorjeando à distância sobre algo. Eles estavam dizendo à Devlin que nenhum deles tinha visto ninguém sair da casa depois que nós entramos. Eu os desliguei e virei minha atenção de volta a esse quarto. Eu suspendi minhas mãos na minha frente, empurrando minha magia para fora, sentindo-a formar um círculo a minha volta como uma névoa de luz reluzente dourada. Eu me movi através do quarto, esperando que a magia encontrasse algo que ela gostasse, alguma magia semelhante que o feiticeiro, ou quem quer que fosse, tinha usado para lançar seus feitiços. Magia era assim algumas vezes, como se fosse uma coisa viva que sentia um espírito da mesma natureza. Ela se moveu sobre Michael, se fixando ao seu redor, calma e firme.
Minha magia reagia dessa forma com mortos-vivos. Humanos pulsavam energia e vitalidade, como um batimento de coração. Vampiros desprendiam a quietude vítrea de um perfeito lago sereno sob a luz do luar. Eu caminhei o redor dele como uma sonâmbula, ainda na esperança de que minha magia fosse selecionar algo que nos daria uma pista do que tinha sido feito aqui, mas eu não estava sentindo nada fora do comum. Isso mudou quando eu alcancei a porta. Havia algo ali, algo que eu nunca tinha sentido antes. Minha magia derramou para fora às pressas, movendo-se como dedos curiosos sobre um objeto estranho. Eu abri meus olhos e eu podia vê-la cercando algo com formato humano – exceto que não havia nada ali. Ela se fixou ao redor do nada, mas o que quer que fosse, não era nem humano nem vampiro. Pareceu ter características de ambos. Eu não tinha visto nada como isso desde quando eu era humana. Lembrou-me o brilho do horizonte em um dia quente, morto e vivo, quente e firme. A forma moveu-se rapidamente em direção à porta, e eu puxei minha magia para trás. — Mas que diabo foi isso? — Michael respirou. Eu me afundei na cadeira mais próxima, sua cobertura de linho voando em um suave puff. — Eu não acho que MacLeod precisa de um matador —, eu disse. — Eu acho que ele precisa de um padre.
Capítulo
C
omo pelo inferno sangrento, eu tenho um fantasma? — MacLeod exigiu. — É uma casa nova. Ninguém morreu — aqui! — Exceto Clarrisa —, Bel resmungou. Eu franzi meus lábios e olhei ao redor do quarto. Todos estavam olhando para mim, na expectativa que eu tivesse todas as respostas. Eu olhei para Marrakesh, imóvel como morta na sua cama. MacLeod tinha dito que ela desmaiou depois de nós deixarmos o quarto, e ele não podia acordá-la. Vendo-a deitada ali assim, me fez desejar que eu de fato tivesse todas as respostas. Eu suspendi minhas mãos em súplica. — Tudo o que eu sei é o que eu vi. Era tudo o que eu tinha a oferecer, e não era de perto o bastante.
No amanhecer Michael e eu caímos na cama, exaustos. Ele estava deitado com suas mãos dobradas atrás da sua cabeça e eu estava curvada contra o seu lado. Normalmente ele teria colocado seus braços a minha volta e me puxado para perto, mas essa manhã ele não fez nada. Eu olhei para ele. Ele estava encarando o teto, seu rosto tão em branco que eu não podia ler seus pensamentos.
— Justine me informou que eu chateei você essa noite —, ele finalmente disse. — Eu não estava zangada com você —, Eu respondi suavemente. — Você não estava? — ele disse, como se ele não acreditasse em mim. — Eu corri de volta para cá, para me desculpar com você e eu vi você... com Drake. Eu fiquei quieta por um momento, me perguntando se ou não eu deveria contá-lo a simples verdade. — Eu não vou mentir para você, Michael. Ele estava tentando me levar para a cama dele. — Eu notei. — E eu disse a ele sem rodeios que eu não estava interessada, que eu amo você, e que ele nunca me teria. — Sério —, ele disse acidamente. Eu me sentei e olhei abaixo para ele. — O que você acha? Que eu estava tão zangada por que você comeu uma prostituta com os olhos, que eu vim diretamente para cá e tentei seduzir Drake na rua? — Isso é o que certamente pareceu de onde eu estava —, ele respondeu. Eu estreitei meus olhos. — Sua besta —, Eu cuspi e afastei os lençóis. — Eu nunca dei a você uma razão para não confiar em mim e mesmo assim desde quando nós chegamos a Edimburgo você tem me tratado como se eu fosse uma rameira, pronta para pular na cama de Drake na primeira oportunidade. — Eu apanhei meu roupão e com raiva empurrei meus braços dentro dele. — Eu não mereço isso, Michael. A porta fez um satisfatório estrondo enquanto eu a batia no meu caminho para fora.
Eu fiquei no corredor, incerta do que fazer a seguir. Havia outros quartos que eu poderia usar, mas eu estava muito zangada para dormir. Ao invés disso, eu vaguei para baixo, à biblioteca e encarei em branco as prateleiras por um longo tempo. Os gostos de MacLeod corriam pesadamente para histórias, tratados sobre guerra, e poesia. Não havia um romance gótico no lote. Finalmente eu movi a escada que permitia acesso às prateleiras superiores e subi para retirar
um livro de poesia. Eu desabei no sofá de couro e folheei as páginas. A cada poucos minutos, eu olhei até a porta da biblioteca, expectante que Michael entraria a qualquer momento. Eu não entendia o que estava acontecendo conosco. Tinha havido vários vampiros ao longo dos anos que tentaram seduzir tanto Michael quanto a mim, para separar um do outro, e nós sempre gargalhamos com tais tentativas. A própria ideia que alguém pensaria que isso poderia ser feito nos divertia. O que tinha mudado desde a chegada de Drake? O homem frio e irracional lá em cima não era o Michael que eu conhecia. Em algum momento perto do crepúsculo eu caí no sono com o livro de poesia aberto no meu colo. Eu cochilei irregularmente até que eu ouvi a porta suavemente fazer um clique ao se fechar. Michael, eu pensei, sentando-me. Mas não era Michael. Eu soprei uma respiração irritada enquanto Drake entrava na sala. — Então, você e o garoto tiveram uma briga, não tiveram? Toda a casa ouviu a sua porta do quarto batendo. Eu devo dizer, minha querida, que eu estou surpreso em encontrar você aqui. Uma mulher sempre deve arremessar o homem para fora, não de outra forma. — Ele não me jogou para fora —, Eu rosnei, desapontada que todo o dia tinha passado e Michael não se incomodou em me espiar para se reparar pelo seu abominável comportamento. — E eu desejo que você parta. Não vai ajudar muito se Michael encontrar nós dois aqui sozinhos. Drake arrancou o volume titulado Poesias Kentish do meu colo e olhou abaixo para o poema que eu estive lendo quando eu caí no sono. — Ah, Thomas Wyatt. Eu rolei meus olhos e arranquei o livro de volta. — Se você não vai partir, então eu vou. Eu caminhei até a prateleira. Drake me seguiu e inclinou-se contra a estante de livros, seu olhar quente viajando pela extensão do meu corpo. — Quem lista para a caça, eu sei onde fica um traseiro —, ele citou do poema. Eu olhei abaixo para ele do topo da escada e respondi —, Quem lista sua caça, eu coloco-o sem dúvida, / Assim como eu, pode gastar o seu tempo em
vão. / E esculpido com diamantes em letras simples, / Não está escrito sobre a sua volta justo no pescoço, / Não me toques, por Cesar eu sou, / E selvagem para segurar, embora eu pareça manso. Eu tinha acabado de recolocar o livro na prateleira quando a escada deslocou-se subitamente para a direita e eu perdi o equilíbrio. Eu cambaleei para trás... e aterrissei nos braços de Drake. — Eu aposto que você seria uma coisa selvagem —, ele murmurou. — Bem, não é uma imagem linda? Eu empurrei Drake e me virei para encontrar Michael em pé na entrada da porta. Ele não estava contente. — Michael —, eu sussurrei. Ele me encarou e depois deu a volta nos seus calcanhares e foi embora. — Você fez isso de propósito —, Eu vociferei para Drake antes de correr atrás de Michael. Eu o peguei na sala de estar. — Michael, não é o que você pensa. Ele se virou rapidamente e agarrou a parte superior do meu braço. — Por que toda vez que eu venho me desculpar com você eu lhe encontro nos braços daquele bastardo? Eu neguei com minha cabeça. — Eu estava no degrau mais alto da escada recolocando o livro e eu caí. Ele me pegou antes que eu atingisse o chão. Não foi nada mais do que isso. Michael negou com sua cabeça e me empurrou para longe. — Você sempre tem uma explicação pronta para tudo —, ele disse enquanto ele se movia passando por mim. — Você alguma vez parou para considerar que por que é a verdade? Eu estremeci quando a porta da frente bateu atrás dele.
Eu rondei a casa toda a noite como um animal enjaulado. Michael ainda não tinha retornado, e não escapou da observação de ninguém, que Bel também estava sumida. Eu sabia na minha cabeça que Michael não iria vadiar, não com Bel e não por despeito, mas dizer isso ao meu coração era uma questão inteiramente diferente. Para tornar muito pior, durante toda a noite todo
mundo olhou para mim com piedade silenciosa em seus olhos. Exceto por Hashim – ele realmente sorriu pela primeira vez. Drake ficou me rondando, eu supus que ele esperava que meu orgulho ferido fosse me impulsionar para a sua cama, mas ele finalmente desistiu e retirou-se ao seu quarto. Alguma hora depois das três da manhã eu deixei que Devlin e Justine falassem comigo para entrar no jogo vingt-et-un20. Eu de má vontade concordei em negociar, mas recusei em jogar contra qualquer um deles, como todos eles eram bastantes adeptos em marcar cartas. Eles fizeram um esforço concertado para serem divertidos e tentaram afastar minha mente do fato que meu cônjuge me deixou, mas seus gracejos espirituosos apenas serviram para me relembrar o quanto sólido o relacionamento deles era e quanto o meu estava despedaçando. Eu nunca deveria ter deixado Michael partir. Eu deveria tê-lo feito ficar e brigar comigo até nós resolvermos toda essa confusão. Isso é o que Justine teria feito. Ela e Devlin muitas vezes se enfureciam um com o outro como um furacão – uma tormenta brutal que rapidamente passava e dava lugar a uma pacífica calma depois da tempestade. Talvez eu devesse ter aprendido pelos seus exemplos. Michael e eu tínhamos certamente nossos desentendimentos ao longo dos anos, mas nada assim tinha alguma vez ficado entre nós e eu não tinha ideia como lidar com isso. Perto do amanhecer eu supliquei cansaço, Devlin e Justine, se retiraram ao seu quarto. Eu olhei para o relógio e miseravelmente decidi que onde quer que Michael e Bel estivessem, era quase muito tarde para eles conseguirem chegar em casa antes do sol nascer. Eu tinha acabado de alcançar o primeiro patamar da escada quando algo largo e sólido atingiu a porta da frente. Eu rodopiei e ouvi alguém se atrapalhando com a chave na fechadura. Um momento mais tarde Michael e Bel tropeçaram para dentro da casa, rindo. Rindo? Mas que... — Você está bêbado —, eu cuspi acusatoriamente. Eles dois se endireitaram, parecendo envergonhados por mim, e eu pude cheirar o gin e whisky por todo o caminho ao outro lado da sala. Precisava de uma grande quantidade de bebida alcoólica para fazer um vampiro ficar bêbado, e eles dois cheiravam como se eles tivessem se banhado na coisa. Eles 20
Vinte e um em Francês, ou blackjack em inglês. É um jogo de apostas.
ficaram de pé ali, esperando pela minha reação. Devo tê-los surpreendido quando eu me virei de costas e continuei subindo os degraus ao meu quarto. Eu queria marchar àqueles degraus para baixo e confrontá-los, mas eu estava com tanta raiva que minhas mãos estavam tremendo e eu estava com medo que se eu não colocasse alguma distância entre nós eu pudesse apenas matar os dois.
Capítulo
E
u tranquei a porta do meu quarto e me inclinei contra ela. Espontaneamente, as velas no quarto explodiram a vida e o fogo na lareira queimou mais brilhante, como se em resposta. Eu já podia sentir, que a escuridão dentro de mim aumentava com meu temperamento. Coisas ruins iam acontecer se eu não tomasse controle das minhas emoções rapidamente. Eu fechei meus olhos, dei uma respiração irregular, e pensei em Veneza. Dez anos atrás Devlin, Justine, Michael e eu ficamos ali para um feriado. Quando eu era humana eu ansiava experimentar um passeio romântico de gôndola descendo aqueles famosos canais, e Michael tinha finalmente cumprido sua promessa e me levado ali. Tinha sido uma viagem maravilhosa até nós quatro sermos raptados por um covil de bruxas más. O líder delas, um Inglês chamado Edmund Gage, tinha planejado usar as execuções Dos Justos e minha própria conversão ao lado sombrio da magia, como o seu instrumento de vingança contra o governante local. Eu era jovem naquele momento e, apesar do treinamento da minha tia Maggie, minha magia ainda era selvagem e quase incontrolável. Se a deusa Morrigan – a criadora dos vampiros e de todas as coisas sobrenaturais que caçavam à noite – não tivesse intervindo, Gage teria matado a todos nós. Ela me mostrou como subordinar o meu poder, como lutar com Gage e vencer. Eu não percebi na época qual seria o custo.
Em um último ato de desafio Gage me infectou com sua magia negra. Ela tinha me consumido, queimando-me de dentro para fora, e eu tinha feito coisas indescritíveis. Eu fui responsável pela morte de uma dúzia de humanos, e Devlin, Justine, e Michael não tinham sido capazes de me impedir, não enquanto eu estava cheia com o poder de Gage. Mesmo embora Gage e seu covil fossem maus, tivessem assassinado incontáveis inocentes em uma busca por sangue para alimentar sua magia negra, eles ainda eram humanos. Eu matei vampiros malfeitores por menos do que eu tinha feito naquela noite. Morrigan, contudo, tinha parecido satisfeita. Ela me absolveu de qualquer culpa na questão, mas isso não acalmou minha consciência ou parou os pesadelos que ainda me acordavam ocasionalmente. Ela também limpou a magia negra de Gage do meu corpo. Ao menos isso é o que todos pensamos naquela época. Não demorou muito para eu aprender a verdade. Eu ainda podia sentir os remanescentes da magia negra, profundamente. A escuridão gostava de mim. Ela gostava do sangue que eu bebia e da violência que era tão frequentemente parte da minha vida. Eu podia sentir aquela escuridão dentro de mim agora, me implorando bastante para libertá-la. Minha raiva a alimentou e ela queria sangue e dor e vingança. Eu pensei nos olhares de horror e pena nos rostos dos meus amigos todos aqueles anos atrás, quando eu finalmente recobrei o sentido e percebi o que tinha feito. Eu pensei em Michael e como, independentemente dos nossos problemas atuais, eu ainda amava-o com todo o meu coração. Aquelas coisas, como sempre, ajudaram a empurrar o poder de Gage para baixo até ele vir a descansar em algum canto escuro e secreto da minha alma. Sentindo mais em controle de mim mesma, eu caminhei ao outro lado e sentei na beirada da cama. Eu ainda estava sentada ali vários minutos mais tarde, encarando em branco à porta trancada e me perguntando o que fazer a seguir, quando a maçaneta virou e uma suave maldição veio do outro lado. Eu cruzei o quarto e puxei a porta abrindo-a para encontrar Michael de pé no corredor com aparência desgrenhada e apologético e fedendo a whisky. — Eu te amo —, ele disse, se balançando levemente aos seus pés. — Eu sei —, eu respondi e cruzei meus braços sobre meu peito. — Mas você está sangradamente louco se você acha que eu vou deixar você subir na
minha cama depois de você passar toda a noite fora bebendo com aquela vagabunda. Ele fechou seus olhos e balançou para um lado tão subitamente que eu tive que esticar a mão e firmá-lo antes que ele caísse. Engolindo forte, ele olhou para mim e disse —, eu juro por tudo que há de mais sagrado, Cin, nada aconteceu. Eu levantei uma sobrancelha para ele. — E isso teria tido mais influência sobre mim se você acreditasse quando eu disse a você a mesma coisa sobre Drake —, Eu respondi, e depois eu pisei para trás e fechei a porta na cara dele. Eu inclinei minha cabeça contra a madeira e o escutei do outro lado. Ele ainda estava lá fora; eu podia ouvi-lo respirando. Subitamente um alto baque do corredor me fez pular. Eu abri a porta e espiei para fora. Michael estava deitado espalhado no chão, inconsciente. — Oh, pelo amor de Danu —, Eu murmurei. Enquanto eu ainda estava tentando decidir se o arrastava para dentro ou deixava-o exatamente onde ele estava, Bel apareceu no topo das escadas. Ela olhou para a forma inerte de Michael e depois ergueu seus lindos olhos lavanda para os meus. — Eu posso lhe assegurar que não me escaldei nas suas reservas —, ela disse —, mas eu duvido que você acreditaria em mim agora. Ela continuou descendo o corredor e eu a observei ir, assimilando a maneira pela qual seus brilhantes cachos negros saltavam com o balançar dos seus quadris enquanto ela andava. Com uma baixa maldição eu apanhei um cobertor da cama e o lancei para o corpo dormindo de Michael. Depois eu bati a porta e a tranquei.
Capítulo
O
que seguiu foram duas semanas fatigantes que me deixaram no limite da minha amarra emocional. Michael e eu vivíamos como estranhos na mesma casa, nenhum de nós disposto a ceder e admitir que nós estávamos errados. Eu sabia que eu era parcialmente culpada pelo que tinha acontecido com Drake. Eu o tinha tratado como qualquer outro homem que inocentemente flertava comigo. Mas não havia nada inocente sobre o que Drake estava fazendo, e eu deveria ter percebido isso mais cedo e ter colocado um fim nisso. Michael, contudo, tinha grosseiramente exagerado toda a situação. Eu podia tranquilamente ter perdoado isso, mas eu me recusava a varrer para debaixo do tapete o fato de que ele ficou fora toda a noite bebendo com outra mulher. Apenas rastejando iria consertar isso e Michael, estupidamente teimoso como ele era, ainda não tinha implorado pelo meu perdão. O fato dele não ter questionado todas as minhas ações até agora, perguntando o que eu tinha feito, o fazia pensar que eu deveria ser a primeira a me desculpar. E se todos esses pensamentos não fossem suficientes para me enlouquecer, pareceu que toda a cidade estava conspirando para me fazer duvidar de mim mesma. Depois de eu ter revelado minha crença de que nós estávamos lidando com um fantasma, MacLeod tinha desfilado um sortimento de padres e ministros por todas as três casas. Ele até mesmo trouxe velhas senhoras que tinham a reputação de serem capazes de se comunicar com mortos. Ele realmente chegou ao ponto de conseguir que o Reverendíssimo
Daniel Sanford, Bispo de Edimburgo viesse abençoar a casa. Todos nós tentamos nos afastar do bispo durante o processo. Cruzes e água benta somente eram eficazes se manejadas por um crente verdadeiro, e mesmo assim, elas apenas queimariam se o vampiro com quem elas estavam se confrontando quisesse prejudicar o humano. Ainda assim, você nunca podia deixar de ser muito cuidadoso. Cada um deles, do próprio bispo à velha Sra. Munro, pronunciaram que as casas estavam livres de espíritos. Eu não disse a nenhum deles exatamente o que eu estava fazendo quando eu vi o fantasma – a multidão não tinha queimado uma bruxa na Escócia em 106 anos, embora novamente, você nunca podia deixar de ser muito cuidadosa – mas eles quase me deram um tapinha na mão e murmuraram algo como ―os vapores‖ ou ―fantasias das jovens damas desses dias.‖ Era o suficiente para me fazer querer morder cada um deles, incluindo o bispo. Em adição à metade do clero de Edimburgo pensando que eu não era nada além de uma garota alucinada aos vinte e dois anos de idade com uma imaginação super-ativa, cada vampiro na casa estava começando a duvidar do que eu tinha visto também. Michael acreditava em mim, por que ele tinha visto, também, mas os outros estavam começando a vocalizar seu ceticismo. Algumas vezes eu quase duvidava de mim mesma, mas eu sabia que o que quer que fosse, não tinha sido inteiramente humano, e não tinha estado inteiramente morto. E o que estava ali entre os dois, e invisível, a não ser um fantasma? Maldição se eu soubesse. Marrakesh ainda estava em coma. Khalid e Hashim olhavam para mim toda vez que nós passávamos no corredor, como se eu de alguma forma fosse culpada. Drake tinha sugerido que Khalid fosse responsável pela condição dela, mas eu tinha sentido o seu poder quando ela tocou MacLeod e eu sabia que Khalid nunca tinha tocado a sua pele com a dela. Claro, depois do desastre do fantasma eu não tinha certeza quanto crédito qualquer um colocaria na minha opinião. Então me relembrou que a rainha não poderia ser acordada e estava sendo forçada a se alimentar de sangue para manter a sua força. Sangue não aproveitado diretamente de uma veia perde um monte do seu potencial, mas tendo que ela engolisse de uma xícara era o melhor que nós conseguimos fazer por ela.
Eu descobri de Devlin que a visita de Michael à Faculdade de Medicina tinha confirmado a informação de MacLeod e Aubert, que os corpos tinham sido antigos, e que eles não tinham morrido de mordida de vampiro. Na noite em que Michael estava ali, Dr. Knox estava realizando uma autópsia em um jovem homem que quase tinha causado uma desordem entre os alunos. Pareceu que ele era um mendigo conhecido como Daft Jamie, uma figura bastante pública na cidade. Michael disse que quando Jamie tinha sido reconhecido por vários alunos, Dr. Knox tinha começado a autópsia desfigurando o rosto do garoto para que seu corpo não fosse mais identificado. Houve falatório na cidade, entre os humanos, sobre os corpos que estavam sendo utilizados na sala de dissecação de Knox em meses recentes, mas nenhuma atividade criminosa podia ser provada. Drake, argumentando que as mortes eram relacionadas com vampiros, tinha destacado que um humano seria tolo se matasse alguém tão conhecido como esse mendigo e que um vampiro seria muito menos propenso a perceber que a vítima dele, ou dela, seria tão reconhecível. Devlin tinha destacado que nós nunca devíamos subestimar a estupidez que os humanos eram capazes. Quem quer que fosse o responsável, ele não era estúpido. Era como se ele tivesse percebido a probabilidade de ser pego, agora que todos nós estávamos caçando-o, e não estava atraindo atenção para si, esperando para que nós ficássemos frustrados e partíssemos. Ou talvez ele estivesse esperando para nós decidirmos que a rainha de fato era culpada, por que não tinha havido nenhum novo assassinato na cidade desde que ela tinha se tornado incapacitada. Se não tivesse sido por mim e pela minha certeza interior que alguém estava trabalhando em magia fatal contra Marrakesh, ela teria sido trancafiada no Castelo de Tara agora. Mas eu sabia que havia alguém mais ali fora. Até ele fazer seu próximo movimento, tudo o que nós podíamos fazer era esperar.
Capítulo
E
u estava ao meu caminho para meu quarto com um livro de feitiços que eu tinha comprado na cidade quando MacLeod me saudou do vão da porta do seu estúdio. — Senhorita Craven, uma palavra, por favor? — ele pediu. — Certamente, majestade —, Eu concordei, esperando fervorosamente que ele ainda não estivesse planejando me fazer mais perguntas pelas quais eu não sabia as respostas. Eu fui surpreendida ao encontrar Jacques Aubert sentado em uma das poltronas de couro que adornavam a mesa do rei. Nós trocamos comprimentos, e o rei retomou ao seu assento enquanto eu ocupei a poltrona perto de Aubert. — Jaques —, MacLeod disse. — Eu acho que talvez Senhorita Craven e seus companheiros possam ser de auxílio nessa questão. — Eu tenho certeza que nós ficaríamos felizes em ajudar —, Eu respondi, e olhei para Aubert interrogativamente. — O que você precisa? — Normalmente eu não teria que pedir —, Aubert disse —, mas vários dos meus Guardas estão com a corte no Castelo da Escuridão e outros três estão... em um outro lugar essa noite liberando seis caixas de whisky para Sua Alteza. Se eu achasse que isso poderia esperar até amanhã à noite, eu teria, com prazer, esperado.
— Qual é o problema? — Eu perguntei. — Você se lembra da noite em que nós nos conhecemos pela primeira vez? O grupo de dez vampiros sobre o qual Fritz veio me avisar? — Sim. Eu não falo Alemão, mas Justine traduziu para mim. Ela disse que você tinha um grande grupo de vampiros que tinha entrado na cidade ilegalmente. — Sim, bem, nós os jogamos para fora em seus jumentos naquela noite, mas parece que eles estão de volta agora, e eles trouxeram amigos. MacLeod bateu o seu abridor de cartas distraidamente na sua mesa. — Eles sabem que nós estamos com poucos Guardas? — Sim, e os rumores são abundantes que a rainha está, ou doente ou morta. O click-click-click do abridor de cartas ficou mais rápido. — Então eles acham que podem entrar na minha capital quando eles desejarem, sem medo de punição? Aubert engoliu forte e olhou para mim brevemente antes de responder. — Isso dá a impressão que sim, Sua Alteza. Há alguns que acreditem que o desaparecimento da rainha tem enfraquecido o seu domínio na cidade. — Então eu vou com você —, MacLeod disse. Os olhos de Aubert se ampliaram. — Mas... er, sim, claro, Sua Alteza. Era aparente pela reação de Aubert que MacLeod não saía com frequência em tais expedições. — Sua Alteza —, Eu disse —, Os Justos e eu podemos cuidar desse problema. MacLeod se levantou. Ele caminhou ao redor da mesa até que ele estivesse tão perto que eu tive que olhar para cima nos seus olhos escuros. — Alguém me relembrou recentemente que meu pessoal não me teme mais. Eu acredito que seja hora de eu remediar isso. Eu assenti severamente e esperei até MacLeod ter deixado a sala e estivesse fora do alcance da voz antes de perguntar à Aubert, — Você parece nervoso agora. Ele pode lutar? Aubert olhou abaixo para o corredor vazio. — Sim, ele luta como nada que você já tenha visto.
— Então por que o olhar? — Bem, por mais que a Sua Alteza geralmente fica fora de uma briga, ele ama uma boa luta. O problema é que ele se lança dentro dela com pouca consideração do que está ao seu redor. Ele é um antigo guerreiro, costumado a lutar em exércitos nos campos de batalhas, não escaramuçar no meio da sua própria cidade. Da última vez que eu o levei em uma incursão estava em 1700. — E? — Eu perguntei. Aubert encolheu de ombros. — Ele ateou fogo em vários vampiros e terminou queimando Edimburgo desde o Cowgate à High Street.
Eu dei um passo para trás e inquiri meu reflexo no espelho, sorrindo. Agora era hora de parecer como uma assassina, e eu certamente concordava com isso. Eu tinha maravilhosos alfaiates e sapateiros em Londres e Paris que felizmente me sobrecarregaram em troca das suas discrições e das maravilhosas roupas de homens que eles fizeram para mim. Essa noite eu vestia um colete de couro marrom ajustado sobre uma camisa creme. Nas bainhas dos punhos, em ambos os meus antebraços, sustentavam um conjunto de equilibradas adagas de lançamento. Minhas pernas estavam envoltas em flexíveis bermudões de couro marrom, e outro conjunto de adagas de lançamento estava preso nas minhas coxas, escondido na parte superior das minhas altas botas de couro. Eu suspirei e estiquei uma perna para fora. Eu amava essas botas. Elas foram modeladas conforme umas botas de montaria que Devlin tinha desde que Elizabeth era rainha. Ele as tinha refeito em 1600 quando os saltos tornaram-se moda. As minhas tinham um salto de cinco centímetros, altas o bastante para satisfazer minha vaidade, mas grossas o suficiente que eu ainda pudesse correr com elas. Eu ajustei as presilhas de ombro na bainha que escondia uma curta espada junto da minha coluna e deslizei minha claymore com o punho em formato de cesta para dentro da bainha no meu quadril. Eu amarrei meu cabelo para trás apertadamente com uma fita – não que isso iria sobreviver à luta. Justine pareceu ser capaz de sair de praticamente qualquer confronto com o cabelo perfeitamente penteado, mas meus cachos vermelhos perderam mais
prendedores e fitas do que eu podia sequer começar a contar. Eu tirei meus brincos de diamantes e colar e gentilmente os coloquei na caixa de jóias esmaltada que Michael tinha comprado para mim em Roma. Como se convocado pelos meus pensamentos ele entrou no quarto. Eu o observei no espelho enquanto o olhar dele moveu-se sobre mim, quente com luxúria. Eu sorri, agradecida que as coisas não tinham ido tão longe entre nós, para que eu ainda pudesse inspirar tal reação dele. — Cuide das suas costas essa noite —, ele disse finalmente. — Por quê? Eu quero dizer, além da razão óbvia? — MacLeod está trazendo Khalid e Hashim com ele. A ajuda sem dúvida será útil, mas eu não confio inteiramente em nenhum deles. — Quem está ficando com Marrakesh? — Drake e Bel. Eu assenti. Eu particularmente não gostei do pensamento de Khalid e Hashim nas minhas costas, mas eu gostava do pensamento deles sozinhos aqui com Marrakesh menos ainda. Eu ainda não acreditava que eles realmente estivessem envolvidos em o que quer que estivesse acontecendo aqui, mas a evidência certamente estava começando a se acumular contra eles. Como todos os outros, eu achava bastante suspeito que Marrakesh tivesse ficado totalmente louca e depois caído em um coma momentos antes que ela pudesse descobrir de fato se ou não, eles estavam envolvidos. Eu sabia que Marrakesh e MacLeod acreditavam que os gêmeos nunca iriam prejudicá-los, mas todo o episódio era apenas um pouco conveniente demais para o meu gosto. Eu vesti uma capa de cor castanho avermelhada, aparada com raposa vermelha, a qual serviu para esconder o arsenal de armas que eu carregava, e Michael e eu fomos encontrar os outros no hall de entrada.
Capítulo
P
recisou de três carruagens para levar todos nós para dentro da Old Town. O rei, Khalid, Hashim, e Aubert montaram na primeira carruagem. Devlin, Justine, Michael e eu seguimos na nossa própria carruagem, e dois dos Guardas de Aubert, Wallace e Ross, vieram atrás de nós na terceira. Nós desembarcamos no final do Cowgate perto de Grassmarket, fazendo nosso caminho a pé em direção à Ponte Sul na esperança de que nós encontraríamos o grupo de patife, ou eles nos encontrariam. O humano motorista de Aubert seguiu atrás com as carruagens a uma distância discreta. Enquanto nós descíamos a rua eu me perguntei como nosso pequeno grupo pareceria para os humanos. Olhando ao redor para Justine e os homens me cercando, eu podia apenas imaginar. Michael estava em silêncio e meditando ao meu lado, então eu reduzi meu passo até eu cair no passo perto de MacLeod. — Você está bem? — Eu o perguntei. — Claro —, ele respondeu, olhando para mim com suspeita. — Por que você pergunta? — Eu só estava me perguntando. Que essa é a quarta vez que você desloca seus ombros assim na última metade de uma quadra. Há... algo na sua camisa? Ele murmurou uma resposta. Eu dei a volta, andando para trás a fim de poder enxergá-lo no olho. — Desculpe-me, mas o que você disse?
Khalid tossiu e advertiu com seu olhar. MacLeod olhou para mim, e então esticou a mão e agarrou a minha, erguendo-a e colocando-a no seu peito. Eu tropecei e quase caí. — Isso é — — Sim —, ele assobiou antes que eu pudesse soltar a palavra armadura. — Por quê? — Eu perguntei, intrigada. — Marrakesh me fez prometer usar o peitoral, para proteger meu coração, qualquer momento que eu for a uma incursão ou qualquer lugar onde eu possa estar em perigo. Eu odeio a sangrenta coisa, mas ela... ela saberia se eu dissesse que usei e não usei. Ele era um homem importante, o Rei das Terras Ocidentais. Se alguém merecesse ter uma pequena proteção adicional, era ele. Eu sorri para ele. — Sim, bem, nós somos mulheres. Nós sempre sabemos quando vocês estão mentindo para nós. Infelizmente, você só acontece de estar com uma mulher que pode provar isso. Ele riu. — Sim, bem, não é uma privação se significa que ela não se preocupará tanto —, ele disse, fazendo uma carranca e deslocando seus ombros novamente. — Mas eu acho que isso costumava se encaixar melhor. A sangrenta coisa faz parecer que eu fui empurrado dentro de um barril de whisky. Eu gargalhei e bati no seu peito muito sólido. — Tente usar um espartilho alguma vez —, Eu disse. Antes que ele pudesse responder um suave whoosh cortou o ar acima das nossas cabeças. Todos nós nos viramos e encaramos a flecha que perfurou a porta à minha direita. — Movam-se! — Devlin gritou. Nós corremos para frente, apenas para sermos presos por outra flecha que errou Devlin por escassos centímetros. — Para dentro do beco! — alguém berrou. Michael correu na minha direção, agarrou minha mão, e todos nós deslizamos os degraus abaixo para dentro de um dos estreitos becos pela qual Edimburgo era famosa. Esse infelizmente não abriu em direção ao outro lado da quadra como
muitos deles faziam. Ele terminou em um cortiço de sete andares. No nosso outro lado as paredes de pedra do prédio eram de sete a dez andares retos sem varandas ou saliências. Eu podia subir dois, possivelmente três andares em um salto, mas não sete. Desde que nem era preciso dizer que nenhum de nós estava ansioso em invadir um cortiço humano com um grupo de vampiros patifes em nossos encalços, nós estávamos presos. A única maneira de sair era através do grupo de vampiros seguindo nosso caminho descendo o beco. Eu podia ter estendido a mão e esbofeteado Aubert. Quando ele disse que a original gangue de dez tinha retornado com amigos, ele negligenciou em mencionar exatamente quantos. Tinha que haver cinquenta vampiros descendo sobre nós. Eu não gostei da vantagem cinco-para-um como uma regra geral. Por outro lado, o beco estava tão estreito que os impediria de investir contra nós todos de uma vez, e se eles tivessem que vir para nós, alguns poucos de cada vez, nós estaríamos bem. Por outro lado não tão bom assim, ao menos que esses idiotas tivessem arcos e flechas, e eu estava apostando que eles não ficariam na linha de frente. Eu puxei a curta espada da bainha na minha coluna e a sustentei na minha mão esquerda, a claymore na minha direita. Aubert tinha se movido para ficar na frente do grupo, Wallace e Ross em cada lado dele. Khalid e Hashim estavam nas costas deles. Os gêmeos tinham manobrado o seu rei para trás deles, mas MacLeod rapidamente fez o seu caminho entre eles. Khalid se virou para dizer algo ao rei, mas MacLeod vociferou —, Eu não me vesti todo só para ficar na linha do fundo. — Devlin e Justine flanquearam a festa do rei à esquerda, Michael e eu à direita. Michael olhou para Devlin e fez alguns movimentos rápidos com sua mão. Devlin assentiu de volta. Quando você luta lado a lado por quase oitenta anos, poucas palavras são necessárias. Eles três frequentemente se moviam em uma luta como uma coreografia de dança. Era uma que eu ainda estava aprendendo. — O que foi isso? — Eu perguntei. Michael se inclinou para perto e sussurrou no meu ouvido —, Se eles nos envolverem, nós deixamos os homens do rei receber o maior impacto e nós vamos pelas laterais e derrubamos seu arqueiro. Isso é mais perigoso do que sua vantagem numérica.
— Sim, voar à morte nunca é bom —, Eu murmurei. Os bandidos pararam não mais do que seis metros na nossa frente, eu raramente tinha visto uma ralé de grupo de vampiros. Eles pareceram lixo comum de sarjeta e carregavam espadas enferrujadas, machados, e estacas. Eu até mesmo vi uma forquilha. Pareceu como se eles se armassem com qualquer coisa que eles puderam roubar das ruas. As boas notícias eram que eles aparentaram ter apenas um homem com um arco e flecha. As más notícias era que ele estava nos fundos do grupo, de pé nos degraus que conduziam abaixo para dentro do beco, dando-o um perfeito ponto de vantagem para nos atirar sobre as cabeças dos seus camaradas. O arco estava erguido e pronto da disparar, e eu me perguntei qual de nós ele estava mirando. Aubert deu um passo para frente, seus óculos sempre-presentes, empoleirado no seu nariz. Quando ele falou seu sotaque era aquele de um aristocrata Inglês, e eu me maravilhei novamente como facilmente ele deslizava de um dialeto ao outro. — Cavalheiros, vocês estão em flagrante violação das leis da imigração da Cidade de Edimburgo. Para alguns de vocês, essa não é sua primeira infração. — Ele olhou mordaz para o vampiro de peito redondo de pé na frente do grupo. As roupas do homem estavam pouco cuidadas, seu cabelo negro estava despenteado, e o bigode sujo que ele ostentava fez minha pele arrepiar. — Eu avisei você, Simon, que uma segunda violação era punível à morte. O grande vampiro considerou Aubert por um momento, depois cuspiu no chão, balançou para trás no seu calcanhar, e cruzou seus braços sobre seu peito. — Homenzinho, no caso de você não ter notado há cinquenta de nós, e apenas oito de vocês. Devlin riu e falou —, Aubert, você tem certeza que explicou as leis para ele em curtas palavras e até mesmo que ele tenha entendido? O homem nem mesmo sabe contar. Simon se endireitou a sua altura completa, seus ombros rígidos e seu punho flexionando com raiva. — Eu posso contar muito bem. Eu só não tô contando as duas prostitutas —, ele zombou. Michael se eriçou com raiva. — Você cuide de sua língua quando você se direcionar à minha cônjuge, ou eu vou arrancá-la logo.
— Talvez —, Devlin disse —, o que nós precisamos aqui sejam apresentações. Cavalheiros, nós somos Os Justos. Nós somos os defensores dos inocentes. Justine acrescentou —, Nós somos a mão da justiça. Michael puxou sua grande claymore da sua bainha. — Nós somos a espada da vingança. Eu olhei para Simon nos olhos e disse lentamente —, Nós somos o que o mal teme. Uns poucos dos bandidos se deslocaram inquietos, e eu vi um vampiro deslizar de volta em direção aos degraus e desaparecer dentro da escuridão. Os olhos de Simon mostraram confusão por um momento, mas logo aquela bravata arrogante estava de volta. Ele era novo, e ou ele tinha sido transformado por um vampiro jovem, ou o vampiro que o transformou tinha abandonado-o para aprender por contra própria. Os vampiros mais velhos contavam histórias dos Justos para manter os jovens na linha, mas Simon obviamente não ouviu sobre nós. Eu quase senti pena dele. Ah, bem. Se ele sobrevivesse, ele aprenderia. Simon encolheu de ombros. — A rainha é o único vampiro que me assusta, e o rumor é que ela esteja morta. Então me parece que a única coisa ficando no caminho de tomar essa cidade é dez de vocês. Não muito boas as vantagens, se você me perguntar. — Você fala de traição —, Aubert assobiou. — Só é traição se os filhotes tentarem tomar minha terra sem primeiro lutarem comigo em um combate mano-a-mano, e vencerem. — MacLeod disse, pisando adiante para se dirigir à Simon. — Eu sou MacLeod, Rei das Terras Ocidentais, e você está invadindo meu território. Você quer minha cidade? Venha e lute comigo por ela, se você tem culhões. Simon deslocou seu peso e considerou MacLeod. O bandido tinha a natureza perigosa de brigar nas ruas, mas MacLeod era um guerreiro e ele tinha confiança e presença autoritária de um rei. Eu não iria querer ficar contra ele. — O próprio rei, é? Você ouviu isso, Brodie? — Simon falou com um dos homens atrás dele.
Meu olhar moveu-se para a multidão, tentado descobrir quem Brodie era. Muito tarde eu ouvi o whoosh de uma flecha cortar através do ar, e o rosnado de ultraje de Khalid. MacLeod estava cercado por seus homens e nenhum deles tinha chegado à frente da flecha rápido o bastante. O rei estava no meio do nosso grupo com uma flecha incorporada no seu peito, diretamente sobre seu coração.
Capítulo
T
odos nós olhamos. Ele deveria ter se afastado. MacLeod olhou abaixo ao seu peito em choque e depois um lento, ameaçador sorriso formou em seus lábios. Eu corri para frente enquanto o rei agarrou a flecha e a arrancou. O aguçado, aroma picante de pinho encheu minhas narinas. Pareceu que toda a gangue de bandidos fosse tão jovem quanto Simon. Não apenas qualquer tipo de madeira atravessada no coração mataria um vampiro, e qualquer vampiro com qualquer idade deveria saber disso. Havia dez árvores sagradas cujas madeiras eram letais aos vampiros, e pinho não era uma delas. Se você estacasse um vampiro com qualquer madeira comum, a dor seria excruciante e daria o tempo que você precisava para tirar a cabeça do vampiro. Se ele sobrevivesse sendo estacado, a ferida não curaria rapidamente. Madeira atravessada ao coração curava lentamente, como uma ferida humana, mas apenas uma estaca feita de madeira das árvores sagradas mataria um vampiro completamente. Era pura sorte que esses bandidos não pareceram ter a experiência para saber disso ainda. A flecha que MacLeod segurou estava praticamente intacta, tendo sido parada pelo peitoral. MacLeod estendeu a flecha para mostrar que não faltava mais a haste e nem somente a ponta, e um vibrante aplauso caiu sobre nós de cima. Como um só, todos no beco olharam para cima. O que aparentou ser uma população inteira dos vampiros de Edimburgo
empoleirou-se, como gárgulas, nos telhados cercando o beco. Aqueles de nós abaixo, olhávamos acima para eles, esperando para ver se eles se moveriam para defender seu rei. Aparentou que eles estavam impressionados que MacLeod pareceu impenetrável à flecha, mesmo assim nenhum deles veio nos auxiliar. — Eles estão aqui para nos ajudar, ou nos impedir? — Eu sussurrei. MacLeod pesquisou o telhado mais uma vez, e depois se virou para mim. — Eles estão aqui para ver se ou não, ainda sou digno da minha coroa. — Mesmo assim, uma pequena ajuda seria legal —, Eu resmunguei. — Muito impressionante, Sua Alteza —, Simon zombou —, mas você ainda está em menor número e seu pessoal não tá fazendo um movimento para salvar você. É triste, sério, que todos vocês irão morrer nesse beco. Eu e meus rapazes iremos festejar essa noite, não vamos, rapazes? — Encorajados pelos gritos de aprovação e incentivos dos homens atrás dele, Simon continuou —, Sem mais regras, sem mais leis. Nós vamos drenar essa cidade até secar, não vamos m— O discurso de Simon foi interrompido quando MacLeod recuou e lançou a flecha que ele segurava, empalando a garganta do bandido. Simon apertou a flecha, em pânico, e tentou retirá-la. — Eu me cansei de ouvir você —, MacLeod disse enquanto ele sacava sua espada. — Você tem duas escolhas, bichinho: Eu irei conceder imunidade a qualquer um aqui se você deixar essa cidade agora e nunca mostrar seu rosto de novo, ou você pode morrer. Faça sua escolha. Simon trabalhou para libertar a flecha da sua garganta, e sangue derramou abaixo no seu pescoço da ferida aberta. Ele esticou sua mão, e o homem próximo a ele colocou uma espada nela. Aubert suspirou ruidosamente e todos nós olhamos para ele. Ele fez um grande espetáculo ao remover seus óculos e colocá-los cuidadosamente no bolso do seu tórax. Quando ele terminou, ele olhou para cima à Simon. Era impressionante assistir aquele algo indefinido mudar dentro dele. Jacques Aubert usava sua aparência da mesma maneira que ele usava seus muitos sotaques: para manter os vampiros com os quais ele tratava desequilibrados. Foi-se o funcionário modesto, e no seu lugar ficou um homem que tinha a aparência de um assassino. Eu me perguntei se
isso enervava os bandidos tanto quanto a mim. MacLeod assentiu. — Vamos terminar com isso. Simon ergueu sua espada e veio para MacLeod com toda a graça de um touro atacando. Até que um dos outros bandidos fizesse um movimento, nós ficaríamos para trás e deixaríamos MacLeod lutar com ele no mano-a-mano, como um desafio ao seu trono deveria ser aceito. MacLeod permitiu que Simon desse alguns bons golpes, mas era evidente para nós que o rei estava meramente brincando com ele. Eu sentia confiança suficiente nas habilidades dele para afastar o olhar da luta, mantendo meus olhos em Brodie e no arco. Michael e eu lentamente nos movemos em direção ao lado mais distante do beco, tentando parecer que nós estávamos nos afastando para dar espaço aos combatentes evoluírem. Eu olhei para o outro lado do beco para ver Justine e Devlin fazendo o mesmo. O tinido das espadas de Simon e MacLeod soou em nossos ouvidos, e quando eu estava certa que a atenção de Michael estava fixa em Brodie, eu me permiti dar uma olhada à minha esquerda para ver como a justiça estava progredindo. Simon e MacLeod estavam trancados lâmina-com-lâmina, peito-compeito. O rei estava sorrindo, todo o seu corpo zunindo com a excitação da batalha. Simon se empurrou para frente, lançando o seu peso em MacLeod, e eles dois se separaram, MacLeod tropeçando para trás. Simon ergueu sua espada e a abaixou em um arco que tinha a intenção de tirar a cabeça do rei. MacLeod bloqueou o golpe, faíscas voando das suas lâminas, e em um movimento que foi tão gracioso quanto eu já tinha visto dançado em cena na Opera de Paris, MacLeod rodopiou e trouxe sua espada para cima para cortar de modo limpo e totalmente o pescoço de Simon. Eu me encolhi e afastei o olhar enquanto sua cabeça rolou no chão e seu corpo desabou. Eu odiava matar os jovens. A magia que animava o corpo do vampiro morria quando a cabeça ou coração eram levados, deixando o corpo em qualquer que fosse o estado de decomposição normal se a pessoa não tivesse sido transformada em vampiro. Os mais velhos se transformavam agradavelmente em pó e ossos. Os mais novos eram apenas corpos em decomposição. Houve um murmúrio de aprovação dos vampiros acima enquanto MacLeod erguia sua espada em vitória.
— Seu líder me desafiou e perdeu —, MacLeod se dirigiu à multidão. — Eu digo novamente a vocês, deixem essa cidade agora e vocês podem viver. Fiquem, e vocês morrerão. Houve um momento de silêncio enquanto nós esperávamos para ver se eles correriam ou lutariam, e então Brodie falou dos fundos. — Matem todos eles e a cidade é nossa! — ele exclamou. Warden Ross tinha se movido atrás de mim. — O que você acha? Você pode transformá-los em sapos? — ele sussurrou. — Não é provável —, Eu murmurei. Eu duvidava das minhas habilidades de transformar quase cinquenta vampiros em sapos, mas eu tinha magia que nos ajudaria. Devlin não gostava que eu usasse minha magia em uma luta, entretanto, que ao menos fosse absolutamente necessária. Ele nunca disse isso, mas eu sempre senti que ele era da opinião de que era desonrado usar magia contra aqueles que não tinham nenhuma própria para convocar. Claro, ele não tinha reclamado quando ela nos salvou de sermos mortos. Eu olhei acima novamente aos vampiros revestindo o telhado. Ao usar minha magia contra os bandidos não faria nada para consolidar a posição de MacLeod como rei. Ao menos que as coisas dessem uma guinada para pior, nós teríamos que lutar essa batalha com lâminas e punhos. Eu fiquei tensa quando o vampiro que entregou a espada à Simon estendeu a mão para baixo e a pegou de onde ela estava na fresca piscina do sangue do líder. Os bandidos estavam esperando, observando para ver o que esse homem faria. Era óbvio que ele, e não Brodie, era o segundo no comando de Simon. Eu orei para que ele se importasse com seus homens, e os pegasse e partisse. Ele olhou abaixo para a espada ensanguentada por um longo momento, berrou aos seus homens, e quatro dúzias de vampiros correram para nós. Enquanto era verdade que os bandidos não podiam nos cercar em um espaço tão confinado, isso não os impediu de nos golpear como uma onda contra um penhasco. Nós fomos forçados a cair para trás em três filas por que a largura do beco era tamanha que mais de uma dupla de nós dificultava nossos movimentos. Mesmo assim, não demorou muito antes que espadas
fossem embainhadas e facas e punhos entrassem no jogo. Simplesmente não havia espaço suficiente para oscilar uma espada. Enquanto Michael tentava nos manobrar ao redor da borda do conflito, mantendo nossas costas para a parede do beco, Warden Ross agarrou meu braço. — Fique atrás de mim —, ele gritou. Eu neguei com minha cabeça. — Ele é meu cônjuge. Meu lugar é ao seu lado. Ross me considerou por não mais do que um piscar de olhos, depois assentiu. — Eu vou cuidar das suas costas assim que eu possa. Eu assenti e segui Michael enquanto nós nos empurrávamos e lutávamos para chegar à Brodie. Eu tive que guardar a claymore, mas eu ainda tinha minha espada curta. Ela estava bem ensanguentada, e minhas mãos e camisa estavam salpicadas com vermelho. Os bandidos tinham empurrado os homens do rei para a extremidade final do beco. Eles caíram pelas suas lâminas, mas eram tantos deles que eles continuavam a vir, pressionando nossos homens para trás. Até onde eu pude verificar o rei e seus homens estavam ensanguentados, mas ainda de pé. Eu podia ver o topo da cabeça de Devlin na extremidade distante do beco, simplesmente por que ele era tão mais alto do que qualquer outro ao seu redor. Ele e Justine não tinham conseguido chegar tão longe contornando a beirada da multidão quanto nós tínhamos. Eles estavam apenas a alguns metros na frente de MacLeod e seus homens. Eu olhei atrás de mim e não podia mais ver Ross completamente. Minha falta de atenção foi recompensada com uma lâmina de faca cortando transversalmente o meu braço. Eu não perdi tempo olhando para baixo. Era um corte profundo o bastante que eu já podia sentir sangue descendo do meu braço. Eu deixei cair o meu braço com a espada e dirigi a lâmina acima atravessando as costelas e dentro do coração do vampiro que tinha me cortado. Eu não tinha sequer puxado a lâmina quando outro bandido me agarrou pelo cabelo, me arrastando do vampiro que eu tinha acabado de empalar e me puxando para dentro no meio da confusão. Eu gritei de frustração enquanto minha espada deslizava da minha mão.
Dedos me arranharam de todos os lados, e antes que eu pudesse alcançar as facas que estavam embainhadas nos meus pulsos eu me encontrei sob o domínio de pelo menos três vampiros, um com seu braço ao redor do meu pescoço e os outros dois segurando cada um dos meus pulsos. Michael rugiu ofendido e puxou sua grande claymore da sua bainha. Ele atravessou a multidão como um anjo vingador, e sangue voou enquanto um vampiro após o outro caía pela sua ira. Despreocupado que agora os bandidos poderiam cercá-lo, seu único foco era me alcançar. Eu vi lâminas cortarem-no, bandidos com armas erguidas vindo para ele por trás, e então os vampiros me segurando me viraram e eu perdi a visão dele inteiramente. Ao invés disso eu olhei sobre as cabeças de uma dúzia de bandidos para ver Brodie mirando sua arma diretamente no meu coração. Ele sorriu enquanto a flecha disparava do arco. Pareceu como se eu tivesse todo o tempo do mundo para assistir ela voar na minha direção. Eu me preparei para o impacto, sabendo que iria doer mais do que qualquer outra ferida que eu já tivesse sofrido na batalha, mas o instante antes dela me atingir, Michael se lançou na minha frente. Eu me encolhi de horror com o som substancial da flecha cortando o peito dele. Ele se virou para mim, a seta perfurando o seu coração, com um olhar de surpresa no seu rosto. — Eu não estou morto —, ele disse, sua mão esticando para tocar no meu rosto, e depois eu assisti o homem que eu amava cair ao chão na minha frente. Eu gritei e dei um chute para trás no vampiro que me segurava, conectando solidamente com sua perna bem abaixo do joelho. Eu ouvi o estalo de osso tanto quanto a perna quebrava ou o joelho se deslocava. Ele afrouxou seu aperto no meu pescoço com um choro estrangulado e, para minha surpresa, os homens segurando meus pulsos me deixaram ir também. Isso foi um erro. Eu caí de joelhos e rolei Michael, mandando uma silenciosa oração de agradecimento que ele estava vivo. Ele estremeceu e alcançou a minha mão. — Mo ghraidh21 —, ele sussurrou com uma voz áspera —, arranque isso. Por favor. 21
Significa meu amor em gaélico.
Meu estômago se apertou com o pensamento, mas eu assenti. Agarrando a flecha, eu a puxei para fora do seu peito em um rápido movimento. Seu corpo se curvou de dor e depois seus olhos azuis tremularam fechados, e ele ainda estava nos meus braços. Eu arranquei sua camisa, estourando os botões até que eu pudesse ver sua pela nua. Ele estava respirando. Sangue fluía da ferida e eu pressionei minha mão sobre ela para estancar o sangramento. Os sons da luta a minha volta retrocederam até que tudo o que eu ouvisse fosse minha própria respiração desigual, e o som da minha voz dizendo repetidamente —, Você ficará bem. Você tem que ficar bem. Em seguida mãos estavam me alcançando novamente, puxando meus ombros e cabelo, tentando me arrastar de Michael. Nós estávamos cercados por nossos inimigos, muito longe para qualquer um dos nossos aliados nos alcançar a tempo. Eles iam nos matar. Eu tentei não soltar Michael enquanto os bandidos me puxavam para trás, mas meus dedos, pegajosos com sangue, escorregaram dos seus pulsos. Eu assisti sua mão cair sem vida no chão, e algo estalou dentro de mim. Raiva, fúria, sede de vingança – tudo isso alimentou aquele pontinho de magia negra que Morrighan tinha deixado dentro de mim. Eu a senti se atiçar e erguer, ganhando ímpeto até ela ameaçar me sufocar, e pela primeira vez em dez anos eu não a empurrei para baixo. Eu a libertei.
Capítulo
A
escuridão que me preenchia entrou em erupção como um vulcão. Se a luz pudesse ser negra, então era isso que derramou do meu corpo. Eu me levantei, e os vampiros que estavam me alcançando voaram para trás. A magia negra me cercou, formando um círculo protetor a minha volta e de Michael, e disparou dentro do ar acima de mim como um farol. A luta parou, e todos os olhos se viraram para mim. Eu estendi minhas mãos e minha pele brilhou como marfim polido. Eu sabia sem precisar ser dito que meus olhos de coloração como whisky tinham se transformado em negros com a magia que me preencheu. Eu me virei lentamente para Brodie, e sorri um sorriso totalmente mal. Ele colocou outra flecha no arco. Eu espalhei meus braços amplamente, dando a ele um alvo perfeito. — Dê o seu melhor tiro —, Eu gritei para ele. A flecha atingiu o círculo protetor ao meu redor, e explodiu em lascas. Duas flechas a mais seguiram, cada uma encontrando o mesmo destino. Brodie jogou o seu arco para baixo, seu rosto mosqueado com raiva, e gritou —, Matem-na! Matem-na! Os bandidos que ainda estavam de pé, vinte e cinco ou trinta ao todo, correram para mim. Eu gargalhei enquanto o cheiro de carne queimada enchia minhas narinas, e os gritos dos vampiros soaram nos meus ouvidos. Eu me virei em um círculo, assistindo-os tentar me alcançar e falhar. Minha magia era forte, a inebriante corrida por poder percorrendo o meu corpo. Pareceu como
se eu pudesse sustentar esse círculo para sempre, e nenhum insignificante da própria Deusa podia rompê-lo. Mas isso não era o que a magia queria. Ela queria sangue. Eu me virei de volta para Brodie, e o que quer que ele tenha visto no meu rosto fez seus olhos se ampliarem com pânico. Ele tentou correr, mas eu o alcancei, derramando minha magia pelas pontas dos meus dedos, imaginando aqueles dedos curvando-se ao redor do pescoço dele. Ele parou e se virou de volta para mim, seus olhos ampliados, seus dedos arranhando a mão invisível que estava apertando a sua garganta. — Seu líder desafiou o Rei das Terras Ocidentais e morreu em um combate honrável —, Eu gritei. — Foi dada a oportunidade a você de viver, e mesmo assim você escolheu ficar e cometer traição. Sua vida e as vidas de todos que você comandou estão agora confiscadas. — Misericórdia —, Brodie chorou em uma voz estrangulada. Vários dos seus seguidores caíram de joelhos na minha frente e fizeram uma apelação semelhante. Misericórdia. Era um apelo que teria me balançado se eu não estivesse cheia da magia negra que tinha estado adormecida dentro de mim por uma década. O mal não conhecia nada de misericórdia, e era a escuridão que estava no controle agora. Eu gargalhei, e alguma parte de mim que ainda era eu, se encolheu com o som. Eu olhei abaixo para o corpo inconsciente de Michael, depois de volta acima para Brodie, me certificando que ele visse a fúria nos meus olhos. Eu queria que ele soubesse que sua morte tinha um pouco a ver com traição, e tudo a ver com a flecha que ele disparou no coração do meu amado. — O rei ofereceu a você misericórdia —, Eu disse. — Eu não vou conceder a você nenhuma. Eu ergui minhas mãos e deixei a magia negra me conduzir. Eu assisti a luz negra cercar Brodie e ele se debateu e tentou fazê-la desaparecer com mãos agitadas. Ela o cercou do chão e para cima, e quando ele abriu sua boca para gritar, a escuridão derramou dentro dele. Ela o preencheu e, através da sua conexão comigo, eu podia senti-la literalmente sugando a vida dele. Magia negra, magia sombria, é abastecida por sangue e morte, e essa magia esteve
faminta por muito tempo. Eu assisti, em parte com horror, mas na maior parte com triunfo, enquanto a pele de Brodie murchava até ele parecer como um homem velho. Sua boca ainda gritando, embora nenhum som saísse dela seu corpo sacudia violentamente, arqueando para cima como se ele fosse puxado por cordas. Então ele caiu para frente, abaixo dos degraus, e quando ele aterrissou, seu corpo explodiu em poeira fina. E eu sorri com o importuno disso tudo. Por cerca de cinco segundos até mesmo um humano podia ouvir uma gota caindo naquele beco, e então estabeleceu-se o caos. Os bandidos correram para as escadas, espalhando as cinzas dos seus comparsas caídos. A magia brotou ao redor deles e impediu sua fuga, cercando-os e os encaixotando. Eu joguei minha cabeça para trás e deleitei-me com o poder que derramava para dentro de mim enquanto a escuridão sugava suas vidas, justo como ela tinha feito com a de Brodie. Eu senti mais do que uma pontada de remorso quando o poder começou a declinar. A luz negra se moveu furtivamente sobre os paralelepípedos, retornando para mim. — Cin? Eu olhei abaixo para ver Michael piscando para mim. A extensão lisa do seu peito estava sem defeitos e perfeita novamente. Inconscientemente minha mão se esticou para tocar o corte transversal no meu braço. Ele, também, tinha se curado. Foi quando eu percebi que não havia mais sangue em minhas mãos. Minha pele estava limpa como se eu tivesse acabado de sair do banho. Michael correu uma mão sobre seu coração, como se para se certificar que ele estivesse em um pedaço completo, depois se levantou aos seus pés. Ele colocou suas mãos em concha no meu rosto e olhou para dentro dos meus olhos. — M’anam —, ele disse, minha alma, e havia tanta dor e arrependimento naquelas duas palavras. Eu olhei acima para ele, confusa. Eu não entendia o olhar no seu rosto. Era como se ele estivesse com dor por mim, da maneira que você se machucaria por alguém que você amasse se eles estivessem em sofrimento. Mas eu não estava sofrendo. Eu me sentia maravilhosa, meu corpo zunindo com magia. Eu estava curada, e, mais importante, Michael estava curado. A
magia tinha nos curado como ela tinha... Eu fiquei muito imóvel, apenas meus olhos ousando se mexer para a esquerda e para a direita. Havia pilhas de poeiras e cinzas no beco, pilhas do que uma vez tinham sido pessoas. Eu fechei meus olhos, e pude ouvir Devlin e Justine sussurrando atrás de mim, o rei e seus homens também, todos se perguntando o que eles deveriam dizer ou fazer. Eu abri meus olhos e olhei para cima, assistindo os vampiros da cidade se derreterem dentro da noite. Apenas uma sombra restou no telhado, a figura de uma mulher com longo cabelo negro, usando uma capa feita de penas de corvos. Com um floreio daquela capa ela se curvou baixo para mim, e depois simplesmente desapareceu. Eu tomei um profundo fôlego, empurrando cada pedaço de magia que eu tinha, ambas negra e branca, tão para baixo quanto elas fossem. Agora que o ímpeto se foi, meu corpo começou a tremer com medo e fatiga. Eu olhei de volta para cima para os olhos de Michael, e eu pude ver a tensão no seu rosto enquanto ele me acolhia contra ele. — No que eu me tornei? — Eu sussurrei e desabei nos seus braços.
Capítulo
E
u estava vagamente consciente de Michael me recolhendo e me carregando rapidamente para cima dos degraus e para fora do beco. Ele chamou uma das nossas carruagens, gritando ordens para Fritz, o motorista, nos levar de volta para a casa da cidade. Eu deslizei para dentro e para fora da consciência na viagem ali, acordando á cada poucos minutos para me encontrar embalada nos braços de Michael, suas mãos acariciando meu cabelo enquanto ele sussurrava para mim na escuridão. Quando nós chegamos, eu o assegurei que eu conseguiria andar sob meu próprio poder, mas ele não ouviu nada disso, me balançando para fora da carruagem e me carregando para cima das escadas. Drake estava esperando na porta, e ele a abriu antes que Michael alcançasse o patamar. — O que aconteceu? — Drake perguntou. — Onde estão os outros? — Todos estão vivos —, Michael vociferou para ele enquanto ele atravessava a porta. Bel estava de pé no degrau inferior, um franzir de cenho preocupado danificando suas feições uma vez perfeitas. — O que está errado com ela? — Nada está errado com ela —, Michael disse. Eu ouvi o limite na sua voz e fiquei tensa em seus braços. Ele suspirou, e fez um esforço em soar mais razoável. — Ela está bem. Ela só precisa de descanso. Eu deitei minha cabeça na curva do seu pescoço, respirando o perfume dele. Enquanto ele me carregava para cima ao nosso quarto, eu aproveitei o momento para curtir a sensação dos seus braços ao meu redor, por que eu
sabia que a paz desse momento não duraria. Silenciosamente eu amaldiçoei Edmund Gage por me corromper com sua magia, e a própria Morrigan por não tirá-la completamente quando ela realizou a limpeza. Ela pode ter salvado nossas vidas essa noite, mas ela destruiria nosso amor? Eu a escondi de Michael pelos últimos dez anos. Não seria uma coisa normal a ser perdoada sob circunstâncias normais, e nesse momento nosso relacionamento estava longe da normalidade. Michael me depositou gentilmente na cama, e depois se virou para o decantador de whisky na penteadeira. Ele derramou para cada um de nós uma dose generosa e sentou-se na beirada da cama, encarando dentro do seu copo enquanto ele girava o escuro líquido em círculos. Eu tomei um grande sorvo, fechando meus olhos e me consolando na queimação familiar enquanto o whisky assentava dentro do meu estômago. — Você está bem? — ele perguntou. Eu suspirei. — Você provavelmente quer saber o que aconteceu lá atrás. — Se eu quisesse saber o que aconteceu, isso é o que eu teria perguntado. Tudo o que eu quero saber agora é se você está bem. Eu olhei dentro dos seus olhos, e o completo peso do que eu tinha feito veio me esmagando. Eu tinha traído sua confiança, e tudo com o que ele se preocupava era com meu bem-estar. Por uma década eu menti para ele, e aos meus amigos, sobre algo que obviamente tinha consequências mortais, e mesmo assim, minha segurança era a sua primeira preocupação. De verdade, eu não o merecia. Eu senti lágrimas encherem meus olhos. — Oh, Michael, o que eu fiz? Ao longo dos anos, eu tinha me tornado perita em suprimir a magia negra, contendo-a sempre que eu perdia meu temperamento e a sentia se agitar dentro de mim. Eu me tornei arrogante, acreditando que enquanto eu não a usasse, eu podia fingir que ela não era uma parte verdadeira de mim. Essa noite ela tinha obtido o meu melhor, e homens morreram por causa disso. O olhar tenso deixou o seu rosto e suas feições suavizaram enquanto ele me acolhia em seus braços e me deixava chorar. Eu deitei minha cabeça no seu peito e ele acariciou meu cabelo, sussurrando palavras de conforto para
mim em Gaélico. — Há algo doendo, moça? — ele perguntou. — Apenas minha consciência. Michael, eu matei aqueles homens. — Sim, você fez isso. Homens, eu gostaria de lhe relembrar, que eram traidores do seu rei e culpados de alta traição. Eu sei que deve ser difícil, mas eles eram homens mortos de qualquer maneira, Cin, e eles teriam matado a todos nós, e quem sabe quantos outros, se você não tivesse matado-os primeiro. — É isso mesmo, Michael —, Eu sussurrei. — Não foi difícil. Foi... tão fácil. Tirar a vida de alguém não deveria ser fácil assim. Eu posso fechar meus olhos e ver os rostos de cada vampiro cuja cabeça eu tirei. Eu sei que quando eu executo alguém que eu estou tirando sua vida e eu sinto o fardo disso. Essa noite, e uma década atrás com Gage e seu covil, tudo o que eu senti foi poder, a excitação da matança. Quando eu estava tirando aquelas vidas, isso não significou nada para mim, Michael e, isso deveria. Cada vida que eu tirei, sem importar quanto merecida a execução fosse, deveria significar algo. Eu sou maligna, Michael? Que eu possa fazer algo tão horrível quanto isso, e não sentir nada? — Claro que você não é, moça. Você sente a perda de cada vida que nós tiramos mais sutilmente que qualquer um de nós. O seu coração sensível é uma das coisas que eu amo em você. O mal não conhece culpa, sem remorso. Você não é má, a magia negra é. Eu só não entendo como você veio a ficar em posse de tanto dela. Eu suspirei e contei tudo a ele, começando com a primeira vez que eu percebi que Morrigan não tinha tirado toda a magia de Gage quando ela tinha feito a limpeza. Eu quase vacilei quando eu vi o olhar no seu rosto enquanto ele percebia que os fogos de artifícios dessa noite não tinham sido algum tipo de feitiço que tinha dado errado, mas o resultado da magia que eu secretamente estive carregando por uma década. Surpresa, descrença, mágoa, raiva, todos eles guerreavam um com o outro enquanto eu contava minha história. Quando eu terminei, ele não disse nada por vários minutos. Depois ele se levantou abruptamente e começou a marchar no quarto, nunca olhando diretamente para mim.
— Por que você esconderia isso de mim? No que você esteve pensando todos esses anos? Que eu amaria você menos por causa de algo sobre o qual você não tem controle? Por causa de algo que aconteceu com você enquanto você estava tentando salvar minha vida, e a vida dos nossos amigos? É esse tipo de homem que você pensa que eu sou? — Não, claro que não. Você me deixará explicar? Ele continuou marchando, mas agora ele estava correndo uma mão pelo seu cabelo. Era um gesto nervoso que ele adquiriu de Devlin ao longo dos anos. — Se você possivelmente tiver uma explicação racional para isso, eu amaria ouvir. Em uma voz tão calma quanto eu podia reunir eu disse —, Não foi por que eu duvidava do seu amor por mim que eu guardei isso de você, Michael. Eu sei que você me ama, e eu sei que isso preocuparia você. Eu não contei a você por que eu não queria que você gastasse os últimos dez anos olhando para mim da maneira que você olhou essa noite. — E como foi isso? — ele perguntou com uma ponta amarga na sua voz. — Como se você se ferisse por mim —, Eu disse suavemente. — E eu ouvi Devlin e Justine sussurrando um para o outro essa noite. Eles estão com medo de mim agora. Eu pude ouvir isso em suas vozes. Eu guardei isso de vocês três por que eu não queria que eles tivessem medo de mim, e por que eu não queria que você se preocupasse com algo pelo qual você não pode fazer nada. Foi tão errado da minha parte, ter salvo todos nós de uma década de mágoa e preocupação ao não contar a você? Ele olhou abaixo para mim e negou com sua cabeça. — Eu desejaria que nós nunca tivéssemos vindo aqui. Eu senti um momento de pânico enquanto ele cruzava o quarto para a porta. — Onde você está indo? — Eu perguntei. Ele pausou com sua mão na maçaneta. — Eu tenho que contar a Devlin e Justine sobre isso. — Eu deveria ser aquela a contar a eles. — Eu acho que seria melhor se viesse de mim agora —, ele respondeu. — Você fique aqui e descanse. — Michael? Você vai voltar?
Ele se virou. — Eu estarei aqui quando você acordar —, ele disse, mas havia tal olhar de derrota em seus olhos que eu quase não acreditei nele. Quando a porta estalou fechada eu deitei para trás e fechei meus olhos, escutando a chuva que tinha começado a cair gentilmente no telhado. Eu errei ao guardar tal segredo de Michael, mas no início eu estava com tanto medo que fossem mudar as coisas entre nós, e na hora em que o pânico diminuiu... bem não parecia ser um momento apropriado e lugar para confessar. Eu só queria seguir adiante e fingir que nada disso tinha sequer acontecido. Lá no fundo, eu sabia que eu não podia esconder a magia negra para sempre, e eu imaginei tendo essa conversa com ele uma centenas de vezes no decorrer dos anos. Assim não tinha sido como eu pensei que seria. Eu imaginei que um dia eu contaria a verdade para ele. Ele ficaria magoado e zangado. Eu choraria e imploraria pelo seu perdão, e por que ele me ama ele me concederia. E se não tivesse sido por Drake e Bel, é como provavelmente isso teria acontecido. Eu senti uma lágrima rolar pela minha bochecha e a enxuguei. Quando Michael me pegou nos braços de Drake eu tinha dito a ele que eu nunca tinha lhe dado uma razão para não confiar em mim. Agora eu tinha... e eu me perguntei se as coisas iriam, alguma vez, ser as mesmas entre nós novamente.
Capítulo
T
alvez fosse o frio que me acordou. Estremecendo, eu me sentei e percebi que a lareira tinha se apagado. O relógio na cornija soou suavemente e eu notei que Michael tinha ido por quase uma hora. Certamente não demoraria muito para explicar o que eu tinha feito para Devlin e Justine. Eu saí da cama, ainda usando as roupas que eu vestia mais cedo, e desci os degraus. A casa estava escura e silenciosa exceto por uma luz vindo da biblioteca. Eu podia ouvir a voz de Justine enquanto eu cruzava a sala de estar. — Você sabe que eu estou certa, Michael —, ela disse. Michael suspirou. — Eu sei. — Então por que você não sobe para ficar com ela? Houve um momento de silêncio e finalmente ele disse. — Por que eu não sei como eu posso encará-la agora. Minha respiração ficou desigual e lágrimas frescas se reuniram nos meus olhos. Tinha que chegar a isso? Eu pensei. Esse homem que uma vez me amou com a profundeza da sua alma agora não pode ficar no mesmo quarto comigo? As paredes pareceram se fechar enquanto o pânico me atingiu. Alguém tinha descartado uma capa na mesa do corredor, e eu a apanhei e corri para fora pela porta da frente. A chuva tinha parado e a calçada estava molhada e brilhante sob o cair da noite das lamparinas a gás. O amanhecer ainda demoraria uma hora mais ou
menos, e o céu estava com uma tintura negra e sem lua. Eu caminhei sem rumo, minha mente acelerada com pensamentos sombrios. Michael e eu estávamos juntos por treze anos, e antes dessa noite, nunca tinha honestamente me ocorrido que eu poderia perdê-lo um dia. O tempo passa diferentemente para os vampiros. Quando você não vê os efeitos de cada ano se passando toda vez que você olha em um espelho, quando você não tem que se preocupar sobre envelhecer ou morrer, é fácil perder o monitoramento dos anos. Com a possibilidade da eternidade se esticando na sua frente, treze anos não era nada. Nós ainda éramos como recém-casados e, algo se apertou no meu peito com a percepção que isso poderia nem sempre ser assim. Pela primeira vez eu pensei, E se eu perdê-lo? E se ele não me amar mais? Isso era mais do que eu podia suportar. Se eu ainda fosse uma humana eu teria me casado com alguém que eu gostasse e respeitasse, mas eu provavelmente não teria estado apaixonada por ele. Eu teria feito o meu dever matrimonial na cama, mas eu não imaginei que meu marido teria feito amor comigo toda noite até eu implorá-lo para parar e me deixar descansar. Ele teria sido bonito, talvez, mas eu duvidava que ele tivesse inspirado as imagens de luxúria selvagens que piscavam pela minha mente toda vez que Michael entrava no quarto. O mais excitante que minha vida poderia ter para oferecer teria sido assistir ao grande baile, ou uma aparição na corte – não a excitação de derrubar um vampiro bandido, ou a fúria da luta que seguia. Eu olhei acima para as filas de casas escurecidas enquanto eu passava. As pessoas nessas casas, suas vidas sempre pareceram ser tão mundanas para mim, tão desinteressantes, mesmo lá atrás quando tinha sido minha vida também. Eu tinha escolhido me tornar vampiro e eu nunca tinha me arrependido da decisão, mesmo diante de todas as coisas que eu verdadeiramente sentia saudade sobre ser humana. Eu sempre me senti incrivelmente sortuda ao ser presenteada com a dádiva que Michael tinha me dado quando ele me transformou. Eu assisti uma carruagem passar na rua e me perguntei pela primeira vez se aquelas pessoas com suas enfadonhas, vidas comuns não tinham conseguido uma coisa melhor. Para ter sido presenteada com tudo o que eu tive, e depois pensar que poderia um dia ser tirado de
mim... não teria sido melhor se eu não tivesse sabido, ter alegremente vivido a minha vida em sociedade, pensando que dinheiro e bom casamento combinavam e um título imponente era o melhor que o mundo tinha a oferecer. E o que viria a ser de mim se ele me deixasse? Eu nem sequer sabia mais quem eu era sem ele e os Justos, e o trabalho que nós fazíamos. Esse fato provavelmente teria me incomodado mais, mas não incomodou. Tudo o que me pareceu ser capaz de pensar era a perspectiva de apertar as vísceras, de um dia não tê-lo em meus braços e no meu coração e na minha cama. Enquanto eu olhava para a minha direita antes de atravessar a Queen Street eu captei a visão de uma mulher em pé sob uma das lamparinas a gás na esquina oposta, me observando. Seu vestido preto proclamava que ela era uma viúva, mas ela era jovem e de uma forma bastante surpreendentemente bonita. Eu me perguntei o que ela estava fazendo aqui fora no meio da noite. Era uma vizinhança rica, mas mesmo assim... Enquanto eu ganhava a calçada oposta eu congelei. Eu subitamente percebi que eu a tinha visto antes, treze anos atrás em Londres. Na noite em que eu tinha encarado Kali e Sebastian pela primeira vez como um vampiro, eu tinha visto aquela mulher de pé do outro lado da rua da casa do meu primo Thomas. Ela ficou apenas ali em pé, me observando. Eu tinha achado que era estranho na época, mas então novamente naquele momento eu tinha outras coisas sobre as quais me preocupar e, eu não tinha pensado nisso de novo. Era ela, entretanto. Eu ainda podia vê-la em minha mente, tão incrivelmente adorável. E ela não tinha envelhecido um dia em treze anos. Eu rodopiei, mas apenas como antes, a mulher se foi. A luz da lamparina caiu em uma poça vazia na calçada. Eu explorei a rua em ambas as direções, mas ela tinha desaparecido. — Maldição —, Eu murmurei e me virei. E então eu gritei. Ali estava ela, bem na minha frente. Ela tinha desaparecido da esquina oposta e se materializado atrás de mim no mesmo tempo que tinha custado a me virar. Mesmo vampiros não se moviam rápido assim. O que é você quase saiu da minha boca, mas antes que eu pudesse dizer as palavras eu notei o seu
cabelo. Estava puxado para cima na sua cabeça, acentuando suas pontiagudas maças do rosto, e caindo em lustrosas ondas cruzando seus ombros até sua cintura. De perto não era apenas preto, era o preto brilhante da asa de um corvo, brilhando com mexas, roxas e verdes. Eu tinha visto isso antes, também, em Veneza. Eu olhei acima para encontrar seus olhos negros. — Morrigan —, Eu disse. Ela inclinou sua cabeça e sem uma palavra se virou e foi embora descendo a rua, de volta em direção à casa de MacLeod. Eu olhei para ela por um momento, depois corri para alcançá-la. Morrigan, a Aparição da Grande Rainha, era a deusa da guerra, vida, e morte. Vampiros, lobisomens, coisas que caçavam à noite – todos nós éramos suas criaturas. E ela parecia ter um interesse particular em mim. Ela uma vez tinha me informado que ela tinha me criado para ser a sua mais grandiosa arma. Uma arma contra o que, eu não tinha uma pista e ela não quis dizer. Naquele momento sua capa tinha escondido suas feições de mim, mas eu a reconhecia agora. Ela tinha estado me observando desde o momento da minha transformação, se não antes. — Você deve reparar isso —, Morrigan disse. — Você ficou tão consumida com isso que você perdeu o motivo pelo qual você veio aqui em primeiro lugar. Você não vê o que está bem na sua frente. — Eu sei disso —, Eu respondi. — Marrakesh precisa da nossa ajuda, eu não tenho me esquecido. Eu só... eu não posso me concentrar em nada mais quando tudo o que ocupa minha mente é o medo de que eu perca o amor dele. — Eu não lhe contei uma vez que eu escolhi Michael a dedo para ser seu companheiro? — ela perguntou, impacientemente. — Eu não lhe contei que eu criei todos vocês com a capacidade de amar uma pessoa por séculos? Não deixe o que aconteceu com você fazer você duvidar disso. Ele é um homem, então ele irá estragar as coisas de tempos em tempos. — Ela encolheu de ombros. — Novamente, você também irá. — Ela parou de andar e se virou a para mim. Sua mão se esticou para mim, e eu olhei suas compridas, unhas pretas brilhantes com cuidado. Ela fechou sua mão em concha na minha bochecha, muito como minha mãe fazia quando eu era uma criança, e disse —, É um
dom precioso o que eu dei a você, Cin, mas o que você deseja depende de você. Olhe de uma perspectiva geral. Se você fosse empalada amanhã, alguns desses problemas importariam de fato? Arrepios passaram por mim. Morrigan era uma mensageira da morte. Ela era a Washer for the Ford22 que decidia quais guerreiros viviam, e quais morriam. — Eu serei empalada amanhã? — Eu perguntei em uma baixa voz que soou assustadora até para meus próprios ouvidos. Ela bufou. — Se você fosse, eu estaria muito confusa. Eu investi muito em você, mais do que você sabe. — É por isso que você está aqui agora? — Vamos apenas dizer que eu estou interessada em ver como as coisas se revelarão. Eu olhei para ela. — Eu não imagino que você irá me contar quem está por trás dos ataques com a rainha? Ela arqueou uma sobrancelha para mim. — Minha querida, se eu tivesse tempo para fazer seu trabalho eu não precisaria de você, agora eu precisaria? Eu lhe direi isso: Ninguém naquela casa é tão verdadeiro quanto eles se mostram para você agora. Bem, isso foi... imensamente inútil. — Eu vi você essa noite, lá em cima no telhado. — Eu afirmei. — Eu sei que você viu —, ela respondeu e continuou andando, nunca olhando para trás para ver se eu seguia ou não. — Então você viu o que aconteceu, o que eu fiz? Ela assentiu. — A limpeza que você realizou em mim em Veneza não funcionou, Morrigan, não inteiramente. Talvez se você tentasse novamente — — Não —, ela disse sucintamente. Eu pisquei. — O que você quer dizer com não? Ela fechou seus olhos e tomou um longo fôlego. — De verdade, você é a mais exaustiva de todas as minhas criaturas. Não lhe ocorreu que eu não cometi um erro ao deixar um pouco da escuridão em você? 22
Ou Bean nighe em Gaélico, é um fairy Escocês visto como um presságio da morte e um mensageiro do Mundo Inferior.
— Bem... não, realmente não ocorreu. Por que você faria isso? — Por que você é agora, potencialmente, tudo o que preciso que você seja. — Você é jovem, criança. Você não entende ainda o que você é. Eu abri minha boca para argumentar com ela, mas antes que eu conseguisse soltar a primeira palavra, ela simplesmente desapareceu, deixandome olhando fixamente para a rua vazia. Eu me afundei nos degraus de uma casa escurecida e coloquei minha cabeça em minhas mãos. Ela estava parcialmente certa. Eu não entendia o que ela queria que eu me tornasse... mas eu sabia quem eu era. Muito subitamente tudo pareceu bastante claro para mim, e eu me levantei e continuei descendo a calçada, meu passo longo e determinado. Sim, pelos deuses, eu sabia exatamente quem eu era.
Capítulo
E
u andei para dentro da casa enquanto o amanhecer rompia e subi os degraus dois de cada vez. Quando eu abri a porta do nosso quarto Michael estava marchando na frente da lareira, uma expressão fatigada no seu rosto. Ele atravessou o quarto para ficar diante de mim, procurando em mim por quaisquer sinais de lesões. — Onde por diabos você esteve? — ele exigiu. — Está amanhecendo e eu estava preocupado que você ou— Eu agarrei a frente da sua camisa e o rodopiei, batendo as suas costas na porta. — Eu sou sua —, Eu disse fervorosamente. Ele piscou abaixo para mim. — O que? — Eu sou sua —, Eu reiterei, lentamente e enfaticamente. — Você sabia que eu era uma bruxa quando você me transformou e eu não vou permitir que você me deixe agora, só por que minha magia ficou um pouco assustadora. Você prometeu me amar até que nós dois fôssemos pó e ossos e eu tenho a completa intenção de fazer você fazer jus a essa barganha. — Cin, eu não vou deixar você —, ele disse suavemente. — Eu ouvi você conversando com Justine na biblioteca. Você disse a ela que não podia sequer me encarar agora. Me desculpe por eu ter mentido para você, Michael, mas eu estava assustada e nosso amor ainda era novo. Eu fiz o
que eu pensei que fosse melhor naquela época. — Eu sei —, ele disse, olhando abaixo para mim com ternura e entendimento em seus olhos. Era uma expressão que eu não tinha visto em seu rosto por semanas. Eu soltei meu aperto na sua camisa, confusa. — Você sabe? Ele sorriu para mim. — Você obviamente não ouviu toda a conversa enquanto você estava espionando. Justine me fez perceber isso, que naquela época, você era tão nova e nós a jogamos dentro de um mundo que você não estava preparada para lidar por conta própria. Eu entendo que você estava assustada que eu – que nós – poderíamos tê-la deixado sozinha no mundo sem uma casa pela qual voltar. Isso nunca teria acontecido, Cin, e eu desejaria que você tivesse acreditado mais no meu amor por você. — Eu acreditei, Michael. Eu acredito. O que Justine disse, pode ter sido parte disso, mas não foi a única razão. Naquela noite... todos vocês me olharam como se eu estivesse além do reparo, e eu quis mais do que tudo que você acreditasse que eu era exatamente a mesma de antes de nós termos ido para Veneza. E talvez eu achasse que se eu não dissesse isso em voz alta eu poderia acreditar, também. — Eu entendo as razões pelas quais você não queria me contar, Cin, mas o fato de que você suportou essa carga sozinha todos esses anos, me machuca muito mais do que se você tivesse tentando me poupar. Eu amo você mais do que minha vida, e eu desejaria que você não tivesse escondido isso de mim. — Eu estava errada e eu estou arrependida, Michael, mais arrependida do que você entende. — Eu olhei para ele com todo o meu remorso e senti transparecendo em meus olhos. — Você possivelmente pode me perdoar? Ele pegou meu rosto em suas mãos e virou meus lábios para cima para encontrar com os dele. — Você é meu coração e minha alma. Eu acho que eu posso perdoar você por quase tudo. Se você puder me perdoar também. Eu olhei abaixo, incapaz de encontrar seus olhos. — Eu sei de coração que nada aconteceu entre você e Bel —, Eu disse —, mas seria legal ouvir você dizer isso quando você estivesse sóbrio. — Nada aconteceu —, ele me assegurou. — Eu estava sentado na taverna, bebendo e sentindo pena de mim mesmo, e ela apenas apareceu. Eu
tentei educadamente me livrar dela, mas você sabe como ela é. As garrafas de gin e whisky continuaram aparecendo na mesa e a próxima coisa que eu sei é que era perto do amanhecer e nós dois estávamos espetacularmente bêbados. — Ela tentou te seduzir? — Eu perguntei, minha imaginação correndo selvagem. — Não. De fato, ela me disse que eu estava me comportando como um asno. Eu gargalhei com isso. — Já que nós estamos confessando todos os nossos pecados essa noite, você quer me contar o que incomoda tanto você sobre Drake? Michael afastou o olhar. — Oh, inferno, Cin, eu não acho que a rainha é a única ficando louca nessa casa. — Essa é uma distinta possibilidade —, Eu respondi. — Mas não é uma resposta. Michael, eu estaria mentindo se dissesse que Drake não estivesse apelando para uma maneira cruel e perigosa, mas então a maior parte dos vampiros faz isso. Eu tive mais do meu quinhão de admiradores durante os anos, mas nenhum deles jamais provocou esse tipo de ciúmes de você, não da forma que Drake faz, e eu vim a perceber que isso de verdade não tinha nada a ver comigo, absolutamente. O que há sobre esse homem que perturba tanto você? Michael correu uma mão pelo seu cabelo e caminhou para a lareira. Eu fiquei de pé e observei a tensão em seus ombros enquanto ele encarava as chamas e reunia seus pensamentos. Depois eu silenciosamente sentei na cama e esperei por ele falar. — Todos nós estávamos em Christiania, Norway, no inverno de 1790. Karin e Drake eram amantes, mas ele não pareceu se incomodar quando ela deixou a cama dele para a minha. Eu... gostava dela —, ele disse e se virou para mim. — Eu não a amava. Você é a única mulher que eu alguma vez amei. Ela e eu... nós éramos amigos e eu achei que nós aproveitaríamos a companhia um do outro. — O que aconteceu? — Eu perguntei suavemente. Ele encolheu de ombros. — Quando Drake deixou a cidade, ela foi com ele. Ela partiu sem sequer um adeus. Eu suponho que ele podia oferecer a ela
algo que eu não podia. — E você... o que? Pensou que Drake iria entortar seu dedinho e eu iria fugir com ele? — Eu perguntei, incrédula. — Não. Talvez. Inferno, eu não sei, Cin. Eu sorri tristemente com a frustração evidente em sua voz. — Michael, olhe para mim —, Eu disse. — Eu não sei por que qualquer mulher seria tola o bastante para de bom grado deixar a sua cama, mas eu estou muito grata que ela fez por que eu não posso imaginar viver minha vida sem você. Nenhum outro homem irá, alguma vez, me fazer arder como você faz. Você é meu, e se eu sei alguma coisa sobre mim, eu sei que eu sou sua, agora e para sempre. Ele engoliu forte e depois se afastou. Não era a reação pela qual eu estava esperando.
Capítulo
E
u assisti com confusão enquanto ele caminhava ao seu baú, o qual repousava contra a parede distante, e remexia nele até ele amontoar todas as suas roupas a um lado. Ele alcançou dentro da sua bota e retirou uma adaga. A sgian dubh era a mesma lâmina que ele usou para abrir uma veia na noite em que eu bebi do seu sangue e me transformei em um vampiro. Eu ouvi o som de tecido rasgando enquanto ele cortava uma abertura na costura do forro do baú e retirava uma bolsinha de veludo, pesando-a na sua mão. Jogando a sgian dubh em cima da pilha de roupas, ele se virou e veio de volta para a cama. Ajoelhando na minha frente, ele abriu a bolsa e derramou um anel com um grande rubi na sua mão. Enquanto ele o segurava, eu me maravilhei com a sua beleza. Definida em ouro, a pedra vermelha escura era oval, grande o bastante para cobrir meu dedo até o nódulo, e cercado por pequenos diamantes. Eu tinha um amor particular por rubis, e Michael certamente conhecia meu gosto para joias. — Você sabe o que é isso? — ele perguntou. — Além de impressionante? Eu estiquei a mão para tocá-lo, mas ele puxou sua mão para trás. Soltando uma respiração exasperada, eu fechei minhas mãos no meu colo e virei minha atenção completa para ele.
— Essa é a pedra que Morrigan deu a você em Veneza. — Você a cortou e a adornou. — Messrs. Garrard em Londres teve essa honra. É feita do nosso sangue, Cin, seu e meu, e confeccionada pela deusa que nos escolheu um para o outro. Eu não posso pensar em nenhum outro símbolo melhor do nosso amor e compromisso. Eu tenho vivido por muito tempo, cento e onze anos, mas até eu encontrar você eu nunca me apaixonei. Eu queria dar tempo a você antes de eu lhe perguntar isso – por que você é muito nova e eu queria me certificar que isso é o que você de fato desejava também – mas você é a última coisa que eu penso antes de dormir e a primeira coisa que eu procuro quando eu acordo. Eu quero que seu amor me aqueça, que seu coração me inspire, que seu humor me alegre, e sua beleza me seduza pelo resto da eternidade. — Ele pegou minha mão na sua e deslizou o anel no meu dedo. — Cin Craven, você se casaria comigo? Eu olhei fixamente para baixo ao anel, incapaz de acreditar que isso estivesse acontecendo de verdade. Vampiros não se casavam como os humanos, em uma igreja com um padre, mas havia uma cerimônia de compromisso que qualquer rei ou regente podia realizar. Michael e eu éramos cônjuges – o termo que vampiros usavam para descrever casais comprometidos – desde o momento da minha transformação, mas ele nunca mencionou casamento. Durante os anos eu me convenci que isso não era importante – depois de tudo, Devlin e Justine eram abençoadamente felizes por cerca de 150 anos e eles não eram casados. Até esse momento, entretanto, eu não tinha percebido o quanto eu queria que ele me pedisse. Lágrimas caíram livremente nas minhas bochechas enquanto eu me lançava dentro dos seus braços e nós tombávamos para trás em cima do chão. — Sim! — Eu chorei. — Eu ficaria muito orgulhosa em ser sua esposa. Por um longo tempo ele me segurou como se ele não fosse me soltar. Eu chorei nos seus braços, sem vergonha, e pelo áspero som da sua respiração, eu me perguntei se ele chorou também. Por semanas pareceu que eu o perderia, mas finalmente nós estávamos nos braços um do outro novamente e tudo estava certo com o mundo. Eventualmente eu me afastei e olhei dentro dos seus olhos azuis. —
Quão logo nós podemos fazer isso? — Eu perguntei. Michael riu. — Quando nós resolvermos as coisas aqui, MacLeod pode realizar o ritual, ou se você preferir esperar até — — Não —, Eu disse, sorrindo como uma idiota —, Eu não quero esperar. Ele correu suas mãos para cima nos meus lados e depois cruzando abaixo das minhas costas e sobre meu bumbum, me puxando para baixo com ele para que meu corpo estivesse nivelado com o dele. Eu corri minha língua junto da beirada da sua orelha depois suguei o seu lóbulo para dentro da minha boca. Ele gemeu e seus dedos me apertaram mais forte. — Michael —, Eu disse enquanto traçava beijos no seu pescoço, parando para demorar na curva da sua garganta. — Como Messrs. Garrard conseguiu meu rubi se ele foi roubado vários anos atrás, junto com uma boa parte das minhas joias, do nosso quarto de hotel em Amsterdam? Suas mãos ficaram imóveis e eu sorri no seu pescoço. — Ah, bem... Eu senti meus caninos se alongarem e corri as pontas afiadas deles sobre a grande veia no seu pescoço. Ele estremeceu debaixo de mim. — Vá em frente e diga. — Eu roubei você —, ele confessou. Eu olhei acima para ele e arqueei uma sobrancelha. — Obviamente. E as pérolas da minha avó, e o bracelete de diamantes da minha mãe, e o bracelete de ouro que você comprou para mim em Madrid? Onde eles estão? — Todos eles estão em segurança guardados em um Banco na Inglaterra —, ele respondeu. Eu rolei meus olhos. — Eu vou pegar esses de volta da próxima vez que nós viajarmos por Londres. Você tem ideia como eu fiquei perturbada por têlos perdido? — Eu sei. Me desculpe —, ele disse, enquanto corria suas mãos sobre meus quadris. Seus polegares pressionaram contra a frente do meu bermudão, movendo-se lentamente da junção das minhas coxas ao último botão do meu colete de veludo. — Eu queria que seu anel fosse uma surpresa, entretanto. Valeu à pena?
Eu observei suas mãos desabotoarem meu colete com lenta precisão, e eu quase me esqueci da pergunta. Eu olhei abaixo para o enorme rubi com seus pequenos diamantes redondos brilhando ao seu redor. — Oh, sim —, eu sussurrei. Ele sentou-se, empurrando o colete dos meus ombros. Seus lábios estavam a apenas um fôlego de distância. — Sim, o que? — ele perguntou. — Sim, valeu à pena. — Eu sorri perversamente, e então corri minha língua junto do seu lábio inferior. — E sim para tudo mais o que você quiser essa noite. Faz muito tempo, você sabe. Ele caiu para trás em seus cotovelos com um olhar arteiro em seu rosto. — Sim, faz. Você sabe, eu estava pensando que desde que nós ficamos tanto tempo sem fazer amor, talvez nós devêssemos fazer isso corretamente e esperar até nós estarmos casados. Depois de tudo, eu não iria querer burlar você da nossa noite de núpcias. Eu não me incomodei em apontar que nós tínhamos dormindo juntos toda noite nos últimos treze anos. Se ele quisesse jogar esse jogo, nós jogaríamos. — Se é o que você quer —, Eu respondi, como se não importasse para mim de um jeito ou de outro. Eu tirei minha blusa sobre minha cabeça e seu olhar caiu aos meus seios nus. Meus mamilos se enrijeceram enquanto ele observava, e eu me levantei, colocando um pé calçado com a bota na sua coxa. — Você me ajudaria a tirar minhas botas? Ele agarrou meu tornozelo e olhou acima para o comprimento do meu corpo. Fome estava crua no seu rosto enquanto eu deslizava minha perna para fora da bota e depois esticava a outra perna para fora. Seus dedos brincaram sobre a parte de trás do meu joelho e depois traçaram descendo até meu calcanhar. Quando minhas botas eram uma pilha no chão, eu modestamente me virei de costas para ele. Desabotoando o meu bermudão, eu me inclinei enquanto eu lentamente deslizava o couro para baixo das minhas coxas. Eu depositei o bermudão em cima da pilha de roupas e caminhei passando por ele aos degraus de madeira ao lado da cama. Eu ouvi um estrangulado gemido atrás de mim enquanto eu subia os degraus, e depois rastejava ao outro lado da cama com a graça sinuosa de um gato.
Eu gargalhei quando ele aterrissou em cima de mim, seu corpo me pressionando no colchão. Isso certamente não tinha demorado muito. — Eu achei que você quisesse esperar? — Eu perguntei inocentemente. — Ah, moça —, ele disse contra a parte de trás do meu pescoço enquanto ele deslizava sua mão entre minhas coxas —, você está tão molhada. Que tipo de homem eu seria para deixar você em tal estado? Eu gemi quando seus dedos moveram-se lentamente para trás e para frente sobre minha carne. — Não o tipo de homem que eu me casaria. Eu arqueei minhas costas contra ele. Querendo que ele deslizasse aquele dedo para dentro de mim, mas ele continuou a me provocar, acariciando-me até que eu pensei que choraria de frustração e prazer. Os músculos no meu estômago se apertando e eu agarrei uma mão cheia de travesseiro. Michael correu sua língua subindo a minha coluna antes dele finalmente deslizar um dedo dentro de mim ao mesmo tempo em que ele gentilmente me mordeu na parte de trás do meu pescoço. Eu gritei quando ele se moveu dentro de mim. — Venha para mim —, ele sussurrou no meu ouvido, e eu estava tão quente que meu corpo explodiu. Eu arqueei minhas costas e gritei quando suas mãos ficaram imóveis, espalmadas contra mim, e tremores balançaram meu corpo. — Essa é minha garota. Quando eu estava exausta eu rolei, sorrindo, e empurrei Michael de costas. — E o que você teria para mim, moça? — ele perguntou, enquanto eu o montava. — Tudo —, Eu respondi, e lentamente fui trabalhar nos botões da sua camisa. Quando suas botas se uniram as minhas no chão eu sentei para trás sob meus calcanhares e inspecionei a beleza do seu corpo. Do inchaço do seu peito, às enxutas ondulações do seu estômago, para os poderosos músculos das suas coxas, ele era um sinônimo de fortes, linhas graciosas. Ele dobrou suas mãos atrás da sua cabeça, me vendo observá-lo, e eu lambi meus lábios com a visão dos músculos se agrupando nos seus braços e ombros. Incapaz de resistir mais tempo, eu tive que tocá-lo. Eu corri minhas mãos para cima nas suas pernas e segui com minha língua, lambendo uma linha de dentro da sua coxa direita. Eu vi os músculos
do seu estômago se apertarem enquanto eu soprava um fôlego sobre o grande peso das suas bolas. Eu o provoquei como ele tinha me provocado, mal passando meus lábios sobre elas e depois lambendo, mesmo muito suave. Ele arqueou seus quadris e eu deslizei minhas mãos por baixo delas, colocando-o na minha boca. Eu escorreguei um globo suave dentro da minha boca, rolando a minha língua por ele, e depois sugando gentilmente enquanto ele gemia de prazer. Seu eixo estava palpitando e eu o peguei, acariciando-o até que ele estivesse brilhando. Eu me movi lentamente até o seu comprimento, sua própria umidade se misturando com minha língua úmida enquanto eu circulava a cabeça do seu eixo. Uma mão se esticou e agarrou um punho do meu cabelo, e eu sabia o que ele queria. Eu suguei o comprimento dele dentro da minha boca, lentamente no início, e depois mais forte e mais rápido. Eu amava tê-lo em minha boca, e eu podia fazer isso todo o dia. Eu espalmei uma mão contra seu estômago para que eu pudesse sentir seus músculos se apertaram e palpitarem quando eu encontrasse uma carícia que ele particularmente gostasse. Com a outra mão eu corri meus dedos levemente sobre suas bolas, aproveitando a sensação do saco de veludo apertando-se quando a sua liberação estivesse perto. Com um grito, Michael arqueou seus quadris, derramando-se dentro da minha boca enquanto eu bebia dele. Ele se sentou, rugindo aquele som inumano que é impar dentre os vampiros e os grandes felinos da selva, e agarrou meus quadris. Ele me puxou acima pelo comprimento do seu corpo até que eu estivesse de joelhos com minhas pernas espalhadas amplamente de cada lado dos seus ombros. Eu olhei abaixo para dentro dos seus olhos azuis enquanto ele sorria perversamente e se deitava de costas contra os travesseiros, puxando-me para a sua boca. Eu apertei a cabeceira da cama enquanto Michael se deleitava nas minhas partes mais íntimas, lambendo e sugando até que eu estivesse palpitando em sua boca. Eu joguei minha cabeça para trás enquanto meu corpo tremia com a segunda liberação da noite. Ele não parou, entretanto, continuando até que ele me trouxe a um clímax mais uma vez. — Eu quero você dentro de mim —, Eu disse, me deslizando para baixo do seu corpo até que eu pudesse roçar meu núcleo pegajoso contra a sua ereção.
Ele agarrou meus pulsos e rolou comigo até que ele estivesse por cima. — Mas foram apenas três vezes —, ele provocou. — Certamente nós podemos fazer melhor que isso. — Nós iremos —, Eu o assegurei. — Mais tarde. Eu me sacudi até que ele estivesse mais uma vez pressionado contra mim. Eu estava frenética para senti-lo dentro de mim, e eu me movi até sentir a ponta dele no meu centro. Ele se empurrou lentamente para frente, parando com talvez apenas três centímetros do seu comprimento dentro de mim. Ele ficou ali, não se movendo, até que eu estivesse me sacudindo e estremecendo ao redor dele, querendo mais. E então ele lentamente se retirou de mim. Eu rosnei de frustração e Michael prendeu meus pulsos na cama. — Não tão rápido, mo ghraidh —, ele disse —, Eu quero que você venha para mim muitas, muitas vezes mais, primeiro. Ele pontuou cada palavra com um beijo, movendo-se dos meus lábios ao meu pescoço para os tensos, bicos rosados dos meus seios. Pela hora seguinte nós provocamos um ao outro, beijando, lambendo, sugando, mordendo, conduzindo um ao outro ao limite de prazer e além. Quando eu não achei que eu possivelmente pudesse ter a força para mais um orgasmo, ele se ajoelhava entre minhas coxas e eu o alcançava e o guiava por mim. A sensação dele finalmente se empurrando dentro de mim, lutando por cada centímetro, embora eu estivesse muito quente e molhada, era quase mais do que eu podia suportar. Quando ele me empalou ao máximo, ele pausou por um momento e a sensação dele, sem se mover, apenas me preenchendo com o calor latejante da sua espessura, quase me fez perder o controle. Eu mantive-me firme quando ele começou a se mover, golpeando para dentro e para fora em um ritmo que tinha sido aperfeiçoado ao longo dos anos, e em muitas noites de paixão. — Agora, moça —, ele disse em um sussurro desigual, enquanto seus movimentos se tornaram menos controlados. — Por favor agora. Seus dedos morderam meus quadris quando ele estocou uma última vez, enterrando-se tão longe quanto ele pode, enquanto ele se derramava dentro de mim. Eu senti o quente pulsar da sua liberação e eu me libertei, atravessando com ele o limite para dentro do brilhante, leve milagre, fora de alcance.
Essa noite eu tinha trabalhado com uma magia bastante poderosa para ter atraído a atenção da deusa. E naquele momento, entretanto, eu tinha certeza de uma coisa: De toda a magia que eu possuía, nenhuma delas podia ser comparada com a magia que ele e eu criamos juntos.
Capítulo
E
u acordei e encontrei Michael apoiado em um cotovelo, olhando fixamente para mim. Eu sorri de volta para ele e me estiquei, olhando no relógio. O crepúsculo foi embora há algumas horas. — Você gostaria que eu conseguisse para você um bule de chocolate? — ele perguntou. — Eu adoraria isso. Ele se inclinou e me beijou rapidamente nos lábios, depois ele quicou da cama. Enquanto eu o observava se vestir, eu quase o chamei de volta. Era uma pena cobrir aquele corpo suculento. Quando ele se foi, eu me arrastei para fora da cama, sentindo os músculos do meu corpo protestando contra qualquer tipo de movimento. Eu me encolhi para dentro do meu roupão e estava admirando o jeito como o novo anel combinava com a seda vermelha quando alguém bateu suavemente na porta. Eu atravessei o quarto e a abri, surpresa em encontrar Devlin. — Eu recolhi suas armas depois da luta —, ele disse. — Obrigada, Devlin —, Eu respondi, gesticulando para ele entrar. — Você poderia colocá-las no baú? Era uma prova do quanto Michael se preocupava comigo, por ele ter deixado sua grande claymore para trás. A espada era mais antiga do que ele, e
seu bem mais valioso. Devlin colocou nossas espadas e facas gentilmente na tampa do baú e se virou para mim. — Eu as limpei para vocês —, ele disse. — Eu aprecio isso —, Eu respondi e caminhei até ele, intencionando dálo um rápido beijo na bochecha. Ele recuou um passo antes que ele se contivesse e parasse. Eu congelei. Ele estava com medo de mim agora. Como eu deveria lidar com isso? Ele era o líder do nosso grupo, e era indispensável que eu resolvesse as coisas entre nós. Eu decidi que o melhor plano de ação seria agir como se nada tivesse mudado, para fazê-lo ver que eu ainda era eu, a mesma garota que ele conhecia e com quem compartilhou sua vida por todos esses anos. Eu coloquei minhas mãos nos meus quadris. — Oh, pelo amor de Danu, Devlin, eu não vou morder. Ele pareceu assustado e depois soltou uma gargalhada nervosa, alisando uma mão pelo seu cabelo negro enquanto ele marchava pelo quarto e se firmava contra a cornija. Ele se inclinou de costas contra ela e cruzou seus braços sobre seu amplo peito. Acenando em direção à minha mão, ele disse — , Eu vejo que o garoto finalmente cumpriu com as expectativas. Já era hora. Eu olhei abaixo para o anel e sorri. — Você sabia sobre isso? — Todos nós sabíamos. Precisou que nós três organizássemos aquele pequeno furto. Eu sorri e nós caímos em silêncio novamente. Era um pesado, desconfortável silêncio que nunca tinha ocorrido entre nós antes. Finalmente, ele disse —, É uma coisa grande e terrível que você fez na noite passada, Cin. — Eu sei —, Eu respondi suavemente. Ele assentiu. — Se é algo com o qual todos nós temos que conviver, então eu preciso entender algo, Cin. — Se eu puder explicar eu irei, Devlin —, Eu disse. — É evidente que você teve o controle sobre essa magia negra por muito tempo. O que deu errado na noite passada? Eu suspirei e neguei com minha cabeça. — Michael. Quando eu o vi deitado ali com aquela flecha saindo do seu peito, eu me descontrolei. A magia
negra se alimenta de todas as emoções sombrias. A magia de Gage parece gostar do meu gênio. Na maior parte do tempo eu não a sinto dentro de mim, mas ela aumenta quando eu fico zangada, e na noite passada eu estava muito zangada. Eu poderia ter mantido-a contida se eu tentasse, mas eu não queria tentar. Se aquela flecha tivesse sido de carvalho ou sorva, ou qualquer uma das madeiras sagradas, ele teria morrido. Eu libertei a magia de propósito. Naquele momento eu não sabia o que ela faria e eu não me importava. Agora que eu sei, eu nunca irei libertá-la novamente. — Eu pausei e olhei para ele. — Se tivesse sido Justine deitada ali aos seus pés e você tivesse o poder, você teria feito a mesma coisa. Ele assentiu. — Você provavelmente está certa. Eu não tenho esse poder, e eu não achei que você tivesse, também. Eu nunca pensei que eu veria seus olhos se transformarem em preto daquele jeito, novamente. — Eu esperava que você não visse, também, Devlin. Eu nunca quis que nenhum de vocês olhasse para mim da maneira que você fez quando você entrou nesse quarto. Eu não sou diferente do que eu era ontem, ou no dia anterior, ou no mês anterior. Isso tem sido parte de mim por muito tempo agora, e parece que, enquanto que ninguém apunhale o meu amor no coração, eu posso controlá-la. Devlin riu. — Eu não invejo Michael. Crédito no menino que se apaixonou por uma ruiva que tem poderosa magia negra atada ao seu temperamento. Eu sorri de volta para ele e a tensão entre nós amenizou. — Eu a vi noite passada —, ele comentou. — Acima no telhado. — Morrigan? — Eu perguntei. Eu tinha me perguntado se apenas eu a tinha visto. — Ela pareceu... satisfeita. — Ela está satisfeita, maldita seja. Devlin, eu não pedi por isso e se eu pudesse fazer isso ir embora, eu iria. Mas Morrigan disse que é uma arma que eu precisarei, e quem sou eu para argumentar com a deusa? Devlin franziu o cenho. — Eu sou um homem Cristão, Cin. É um ato de fé bastante difícil para eu aceitar que Morrigan realmente existe. Ela pode ser uma divindade, mas ela não é o Deus Supremo, e eu não acredito que ela seja
infalível. Ela é, contudo, a guardiã e a guia da nossa raça, e eu ouvi pelos próprios lábios dela que nós vampiros existimos para lutar alguma grande batalha. Se ela acredita que a magia negra irá ajudar todos nós a sairmos disso com vida, então eu irei confiar no julgamento dela. Mas, Cin, se isso fizer você se tornar um perigo para si ou para os outros, eu mesmo irei trancafiar você no Castelo Tara, e Morrigan e eu teremos um cômputo. — Eu aceito isso como sua responsabilidade, Devlin. Se eu alguma vez me tornar um perigo, entretanto, é melhor você convocar Morrigan antes que você tente me convencer. Depois do que eu senti na noite passada, eu não acho que exista uma bruxa viva que possa atar meus poderes. O que quer que ele fosse dizer se perdeu, quando nossa atenção foi atraída pelos gritos das vozes de homens em um dos andares inferiores, seguido pelo som de alguém subindo os degraus com pressa. Devlin, mesmo depois de tudo o que ele tinha visto na noite passada, me empurrou para trás dele e apanhou a claymore de Michael de cima do baú. A porta do quarto oscilou aberta e Justine irrompeu. — Você precisa vir rapidamente —, ela disse, olhando para mim. — O que é? — Eu perguntei. Ela abriu sua boca, depois a estalou fechada, negando com sua cabeça. — Ele está perguntando por você, e se você não vier rápido alguém irá morrer. Justine se virou e correu para fora do quarto. Devlin e eu a alcançamos nas escadas. — Quem está perguntando por mim? Michael? Eu já podia ouvir a voz de homem gritando —, Eu sou Drum Murray e eu estou lhe dizendo, colega, que eu não vou partir daqui até eu vê-la. Enquanto nós alcançávamos o primeiro andar, Justine gesticulou na direção da porta da frente. — Não Michael. Ele. Eu olhei ao outro lado do vestíbulo para um rosto que eu nunca pensei que veria novamente, e tropecei para baixo os últimos dois degraus. Apenas a mão de Devlin serpenteando para pegar meu braço, impedindo que eu caísse de rosto. Todos os olhos no vestíbulo se viraram para mim, expectantes. Eu inclinei minha cabeça a um lado e disse —, Mas que diabos você está fazendo aqui?
Capítulo
U
m sorriso de lobo foi minha resposta, a qual eu imaginei que fosse apropriado considerando que ele era um lobisomem. Khalid e Hashim, quem aparentemente estavam tentando jogá-lo porta afora, caíram em abençoado silêncio enquanto o lobisomem e eu encaramos um ao outro do outro lado da extensão de mármore do vestíbulo. Michael, que estava segurando uma bandeja de chá e usando um olhar perplexo em seu rosto, gentilmente colocou o serviço abaixo na mesa Chippendale, e caminhou para ficar ao meu lado. — Querida, quem é ele? — ele sussurrou. Eu tinha encontrado o lobisomem exatamente duas vezes. A primeira vez foi em Londres na noite em que eu tinha acordado como vampiro, na noite em que eu lutei pela primeira vez como uma dos Justos. Enquanto Michael, Devlin, e Justine estavam brigando com o patife mestre e seus seguidores eu tinha libertado um homem quem eu pensei que fosse um prisioneiro humano. Na minha juventude e inexperiência eu não tinha percebido que as correntes o prendendo eram sólidas como prata. Quando o homem tinha prontamente escapado ao saltar de uma janela a dois andares acima, eu tinha percebido meu erro. A segunda vez que eu o tinha visto foi depois de eu ter lutado com Kali e vencido. Ele tinha me seguido ao Stonehenge e, na forma de lobisomem, me
salvo do tenente de Kali, Sebastian. O débito de honra que ele me devia por resgatá-lo tinha sido pago, e eu nunca pensei que veria o homem novamente. — Ele é o lobisomem que segurou Sebastian na baía até que você chegasse —, Eu sussurrei de volta. — Eu nem sequer sei o seu nome. — Meu nome é Drummond Murray —, o lobisomem disse enquanto ele cruzava o vestíbulo. Khalid e Hashim moveram-se, para bloquear o seu caminho. — Eu preciso de uma palavra com você em privado, Srta. Craven. Eu considerei o lobisomem por um momento, depois olhei para Khalid e Hashim e assenti. Eles não pareciam satisfeitos, mas eles recuaram e o deixou passar. Eu gesticulei em direção à sala de estar. — Por favor, se sinta à vontade —, Eu disse. — Eu só precisarei de um minuto. — Eu observei Drummond atravessar a porta, e depois eu me virei para Michael. — Eu acho que seria melhor você vir comigo. Ele olhou para mim e assentiu, seguindo depois de Drummond. Justine me deu um olhar confuso, e eu encolhi de ombros enquanto eu fechava as portas da sala de estar. Drummond Murray estava de pé apoiado na lareira com uma expressão cruel no seu rosto. Ele talvez tivesse um metro e oitenta e três de altura, com um tipo de masculinidade crua e vulgar que você esperaria de um lobisomem. As abundantes mechas prateadas que corriam pelo seu longo cabelo desmentiam o fato de que ele parecia estar apenas em seus trinta. Ele tinha sido muito esguio quando eu o libertei do cativeiro, mas os anos seguintes tinham acrescentado uma impressionante quantidade de músculos à sua estrutura. Mais do que isso, ele pareceu exatamente o mesmo quando eu o vi na última vez, treze anos atrás. Os lobisomens eram praticamente imortais, como vampiros? Eu não tinha ideia. Drummond era o único lobisomem que eu já conheci. — Drummond, esse é Michael, meu cônjuge. Qualquer coisa que você tem a dizer para mim, você pode dizer na frente dele. — Eu me lembro —, Drummond disse enquanto ele estendia sua mão em saudação. — Eu tenho maldita certeza de não querer sequer cruzar espadas com você, colega. Michael sorriu para ele. Depois da tensão das últimas semanas era bom
ver aquele sorriso novamente. — O que traz você à Edimburgo? — Michael perguntou. Drummond acenou na minha direção. — Ela traz. Sua prima me enviou aqui. Eu olhei para ele, confusa. — Lorie? — De fato sua filha Raina me enviou aqui. A garota não me deixaria, até eu vir aqui avisar você. Michael se enrijeceu. — Avisá-la sobre o que? — Mary Margaret Macgregor está a caminho daqui —, ele disse severamente —, e você precisa sair da cidade. Eu desabei no sofá. — Tia Maggie está vindo para cá? — Eu perguntei sem fôlego. — Por quê? E como você sabe disso? — Eu trabalho para sua tia como seu encarregado de caça —, Drummond explicou. — Eu vivia perto de Glen Gregor quando eu era humano, e depois que você me libertou, eu não quis nada mais do que voltar para Highlands.23 Eu estreitei meus olhos para ele. — Você não parece Escocês. — Eu fui mantido prisioneiro por um vampiro Inglês, que ele apodreça no inferno, por vários séculos. Eu perdi meu dialeto há tempos atrás —, ele explicou. Eu ainda não acreditava que fosse uma coincidência o lobisomem ser empregado da minha tia, mas no momento isso era a menor das minhas preocupações. — Como Maggie sabe que eu estou aqui? — Eu perguntei com ceticismo. — Ela não sabia —, ele respondeu —, mas eu imagino que saiba por agora. Ela foi para Ravenworth porque ela disse que você sempre estava lá nessa época do ano. Nem Raina nem eu sabíamos exatamente onde Ravenworth era, então Raina lançou um feitiço de localização. Imagina nossa surpresa quando ao invés de apontar para a vizinhança de Londres, disse que você estava em Edimburgo. — A filha de Lorie lançou um feitiço de localização? Ela não pode ter mais do que dezesseis anos —, Eu disse, surpresa. Eu não tinha herdado 23
Highlands - outro nome pelo qual a Escócia é conhecida. Terras Altas.
minha magia até que eu estivesse com vinte e dois. — Por que Maggie está vindo aqui? — Michael perguntou imediatamente. Drummond olhou para mim, e da sua expressão eu não estava certa se eu queria ouvir a resposta. — Ela está vindo para bloquear seus poderes —, ele disse. — E Raina diz que nós devemos impedi-la.
Capítulo
E
u depositei o decantador de whisky e apontei o copo que eu segurava para Michael. — Eu disse a você que ela achava que eu era maligna. E isso foi mesmo antes do que aconteceu em Veneza. Ao contrário de Fiona, e Sra. Mackenzie, Tia Maggie nunca tinha entrado a um acordo pelo fato que eu era um vampiro. Depois que eu fui transformada ela relutantemente concordou em gastar algum tempo comigo todo o verão em Inverness, me ensinando como controlar minha magia. Eu tinha sido ensinada desde a infância que um dia herdaria meus poderes e seria uma bruxa de verdade. Eu não tinha sido preparada para a incrível onda de magia que tinha me preenchido na noite em que minha mãe morreu em um acidente de carruagem a caminho de casa de um baile na vizinhança. Como eu tinha explicado isso a Michael naquele momento, era como gastar sua vida lendo sobre manejo com espadas e então um dia alguém colocar uma claymore na sua mão. Na sua cabeça você entendia como funcionava, mas nunca tendo manejado uma espada, você estava obrigado a ser incapaz. Eu tinha sido mais do que incapaz. Eu tinha sido um desastre
esperando acontecer. Na ausência de minha mãe, Maggie tinha me treinado. Ela friamente tinha me ensinado o que eu precisava saber, mas a proximidade que nós compartilhamos quando eu era humana, se foi. De uma forma, eu não a culpava por estar sendo cautelosa comigo, logo que eu fui transformada, mas magoava do mesmo jeito. Eu não tinha voltado para Inverness depois de Veneza. Eu tinha aprendido a controlar meu poder, e eu não mais precisava da sua orientação. Com toda a honestidade, entretanto, a razão verdadeira por eu ter ficado afastada era que eu temia que ela desse uma olhada em mim e soubesse que a escuridão estava enterrada lá no fundo. Michael ainda estava interrogando Drummond, perguntando todas as coisas sobre as quais eu não estava bastante certa se quisesse ouvir as respostas. — Quanto tempo nós temos até que ela chegue? — Ela deve ter conseguido chegar em Ravenworth agora, e descoberto que vocês não estão lá. Eu imagino que ela descansaria por uns dois dias e depois conduziria até Londres para pegar o navio para Edimburgo. Eu acho que seria mais fácil para ela do que uma viagem por terra na carruagem. Bom, eu pensei. Eu provavelmente tinha uma semana, uma semana e meia no máximo, para sair da cidade. Eu só esperava que fosse bastante tempo. — E ela quer restringir os poderes de Cin? Por que agora? E para que? Eu sorri para ele. Depois do que eu fiz com aqueles vampiros essa noite eu não achei que eu merecia a quantidade de descrença na voz dele. — Ela disse que precisava fazer isso agora, antes que ela ficasse muito velha para viajar tais longas distâncias. Quanto ao porque, eu a tinha ouvido dizer que a magia de Cin é anormal e perigosa. Era um velho argumento que Maggie e eu tínhamos tido várias vezes. Era verdade que minha magia não era a mesma das outras bruxas na minha família. Não era uma ferramenta que eu utilizava; era parte de mim. Eu não requeri ritual, sem feitiçaria para convocar minha magia. Ela sempre estava ali, pronta para aumentar e fazer minha licitação. As mulheres Macgregor sempre precisaram de círculos sagrados, cerimônias, e da parafernália da nossa profissão para convocar e focar suas magias. Que eu nunca precisei,
preocupava minha tia. Ela sinceramente acreditava que manejando o tipo de poder que eu tinha sem o contrapeso da benção e sacrifício, iria algum dia me consumir e me destruir. Eu tendia, contudo, a acreditar que Morrigan não teria me dado tal poder se ela não confiasse que eu pudesse carregar esse fardo. — Você disse que veio aqui para impedi-la —, Eu disse. — Por quê? — Porque Raina está em posse de um diário que pertenceu a um dos seus ancestrais, a primeira bruxa Macgregor da sua linhagem, e ela acredita firmemente que há uma passagem que especificamente refere-se a você. — O que diz? — Eu perguntei, intrigada. Lorraina Macgregor, quem era chamada de Rainy pela sua família, foi a primeira bruxa da nossa linhagem, e a primogênita de cada geração era chamada pelo seu nome. Ela também era conhecida, por alguns, por ter recebido a segunda visão. Drummond puxou um pedaço de papel do seu bolso. — Eu a fiz escrever para mim. Diz. ‗Um dia virá uma bruxa vermelha, adorada pela Deusa, à nossa linhagem. Perigo a cerca, mas ela deve ser protegida por todos os custos, para que ela possa restaurar o que foi tirado de você, e ela irá salvar o mundo‘. Nisso é o que Raina e sua tia têm uma fundamental diferença de opinião. Maggie está certa de que a passagem se refere a sua bisavó Charlotte, que se casou com Lord Robert bem antes do Culloden e, por ele ser Inglês e as terras dela passarem para ele, salvou Glen Gregor do Açougueiro de Cumberland.24 Eu franzi o cenho. — Geralmente se assume que as anotações no diário de Rainy eram de fato cartas ao seu marido. Se isso é verdade, então quando ela diz que essa bruxa irá ‗restaurar o que foi tomado de você,‘ uns podem assumir que o ‗você‘ a quem ela está se referindo é o marido dela. Por tudo o que eu sei, a bisavó Charlotte não restaurou nada que foi tirado especificamente de John Macgregor, voltando à meados de 1600. E se essa profecia se refere a mim, como exatamente eu deveria restaurar algo de um homem que está morto por quase trezentos anos? — Eu não sei —, Drummond disse, entregando-me o pedaço de papel. — Eu imagino que você irá descobrir eventualmente. O que eu sei é que eles chamam você de a Bruxa Vermelha dos Justos, e que você uma vez salvou o 24
Também conhecido como o Duque de Cumberland. Que é um título de nobreza dado aos membros mais jovens da família britânica.
mundo. Raina é inflexível que você precisa ser protegida, mesmo que seja da sua própria tia, e é por isso que ela me enviou para avisá-la. Com sorte eu cheguei aqui antes de Maggie, para que você tivesse bastante tempo para embarcar em um rápido navio e estar no Continente antes que ela chegue. Michael e eu olhamos um para o outro. — É um pouco mais complicado que isso —, Eu disse. Drummond estreitou seus olhos. — O quanto complicado pode ser? Eu gargalhei asperamente com isso. Quando eu expliquei a ele por que nós estávamos aqui, ele se sentou e soltou um fôlego frustrado. — Há algo que eu possa fazer para ajudar? — ele perguntou. — De verdade, eu tenho um feitiço que possa nos ajudar, mas eu preciso de algumas coisas do mercado. Obviamente nenhum de nós pode sair no dia claro – mas você pode. Michael olhou aguçadamente para mim. Eu sabia o que ele estava pensando. Feitiçaria não era o meu forte, mas nós estávamos esgotando com as opções. Nada tinha acontecido em duas semanas, sem mais corpos, sem mais ataques. Nós precisávamos estimular que os vilões saíssem e nós precisávamos fazer isso rápido – não apenas porque a rainha estava indisposta e minha toda poderosa tia estava vindo restringir minha magia, mas também porque Michael e eu finalmente tínhamos resolvido nossos problemas e eu queria colocar tanta distância entre nós e Edimburgo quanto possível, antes que algo mais desse errado. Passou da hora de acabar com isso, e se eu conseguisse trabalhar nesse feitiço corretamente, então nós poderíamos ser capazes de estar em um navio com destino a Calais em dois dias. O lobisomem assentiu. — Se isso apressar as coisas, eu ficarei feliz em ser de auxílio. Eu prometi a Raina que eu veria você em segurança e eu acho que não precisa dizer que eu preferia não estar aqui quando sua tia chegar. Eu balancei minha cabeça, perplexa. Tia Maggie quase tinha enlouquecido quando ela descobriu que eu tinha deixado Michael me transformar em vampiro. Eu me perguntei o que ela faria se ela soubesse que ela estava abrigando um lobisomem em seu país.
Capítulo
A
porta do estúdio de MacLeod estava levemente entreaberta, e um feixe de luz derramou para dentro do corredor escuro. Eu pausei com minha mão na maçaneta quando eu ouvi soluços abafados e uma voz feminina de dentro. — Eu não entendo —, Eu ouvi Bel perguntar. — Eu não sou bonita? — Você sabe que é bonita, moça —, MacLeod disse. — Então o que há de errado comigo? Por que ele não me ama mais? — ela chorou. — Quem quer que seja ele, foi um tolo por deixar você ir embora —, MacLeod respondeu em um tipo de tom que um pai usaria com seu filho. Eu certamente não teria sido capaz de suportá-la por mais de um mês, mas homens frequentemente têm critérios diferentes quando escolhem uma companheira. Eu teria imaginado que uma mulher tão bonita quanto Bel teria uma série de corações partidos atrás dela, não de maneira contrária. Bel fungou. — Sim, ele foi. E eu era tão boa para ele —, ela disse suavemente, sua voz tomando um timbre sedutor. — Você não tem ideia do quanto boa eu posso ser. Eu limpei minha garganta e empurrei a porta. MacLeod olhou para cima de onde ele estava inclinado contra sua mesa. Ele pareceu surpreso, mas não pareceu nenhum pouco culpado. Bel, contudo, pareceu pronta para arrancar meus olhos. Ela estava de pé meros centímetros do rei com uma mão
colocada gentilmente no seu peito. — Se você nos der licença, Bel, eu preciso de uma palavra com Sua Majestade —, eu disse. Ela reuniu sua compostura e assentiu para mim friamente. Quando ela se foi eu fechei a porta e dei à MacLeod um olhar malicioso. — As coisas terminaram ruins com o seu antigo amor —, ele explicou. — Ela chora no seu ombro com frequência? Ele encolheu de ombros. — Eu acho que ela me vê como algo de uma figura paterna. Eu gargalhei. — Eu duvido muito disso. MacLeod pareceu inclinado em deixar o assunto acabar. — O que era do seu desejo em falar comigo? — ele perguntou. — Como está a rainha? — eu perguntei. — Não houve mudança —, ele respondeu melancolicamente —, e eu não sei quanto mais tempo ela pode continuar assim. — Realmente, é sobre isso que eu gostaria de falar com você. Eu vou tentar um feitiço essa noite. Se ele funcionar, deve nos permitir ver o fantasma que está fazendo isso com ela. — Que tipo de feitiço? — ele perguntou. — Se ele funcionar corretamente e, eu não estou garantindo nada, ele irá nos permitir ver o oculto. — Tal como o fantasma que você acredita que está na minha casa? — Qualquer que seja a entidade, ele deve nos permitir vê-la. — Você tem quaisquer planos para o que nós vamos fazer se nós de fato, virmos esse fantasma? — MacLeod perguntou. Eu soprei um fôlego. O livro de feitiços que eu tinha incluído vários feitiços de banimento, os quais poderiam ser úteis se eu pudesse trabalhar com eles de maneira apropriada, mas eu estava relutante ao usá-los ainda. Eu não estava certa do que aconteceria com Marrakesh se eu exorcizasse o fantasma antes dele anular o que quer que ele estivesse fazendo para mantê-la inconsciente. Eu não contei a MacLeod, mas pelo aspecto da inatividade recente do nosso vilão, eu estava sinceramente rezando que todas as bênçãos que nós cumprimos nessas duas casas ao longo das últimas semanas não
tinham dispensado o fantasma e sentenciado a rainha. Nesse ponto eu ficaria feliz em apenas ser capaz de ver com o que eu estava lidando. — Nós vamos atravessar aquela ponte quando chegar a hora —, eu respondi. — Se nós soubermos com certeza o que é, então, nós podemos descobrir uma maneira de lutar com ele. MacLeod assentiu. — Tudo bem. Há algo que eu possa fazer? — Eu estou pedindo que todos se reúnam no térreo à meia-noite. Eu devo ter terminado até lá, e nós seremos capazes de ver se o feitiço funcionou ou não. O rei assentiu. — Eu estarei lá. Eu me virei para ir e então me lembrei da outra razão por eu tê-lo procurado. — Sua Majestade, você sabe onde talvez eu possa encontrar Jacques Aubert essa noite? Eu preciso pedi-lo para ficar de olho no porto para mim. — No porto? — Sim —, eu disse com um franzir de cenho. — Minha tia está vindo para Edimburgo, e se nós não conseguirmos resolver as coisas aqui a tempo, para eu sair da cidade antes que ela chegue... bem, vamos apenas dizer que eu gostaria de tanta informação quanto possível antes que ela apareça na nossa porta. MacLeod inclinou sua cabeça para um lado. — Você está com medo dela? Eu encolhi de ombros. — Não com medo, particularmente. Ela é apenas uma daquelas pessoas que faz você se sentir uma criança desobediente, sem importar o quanto velho você seja. Ele olhou para mim ansiosamente, mas eu não elaborei. Não havia uma maneira de descrever Tia Maggie sem soar como se você fosse ou uma criança assustada ou vastamente exagerada. Desde que eu não desejava parecer como nenhuma delas para o rei, eu simplesmente deixei para lá. — Aubert geralmente começa sua ronda perto de Greyfriars e se move para leste de lá. Eu assenti.
— Obrigada —, eu disse e coloquei uma mão na manga de MacLeod. — Nós vamos descobrir e nós vamos trazê-la de volta. — Eu espero que você esteja certa, Cin, porque ela é o mundo para mim.
Capítulo
E
u me sentei sozinha cercada por um círculo de velas, em uma das salas de estar, vazias. Uma tigela cheia com hortelã, verbena, açafrão, lavanda, milefólio, canela, e cravos-da-índia repousavam diante de mim. Eu peguei um ramo de absinto e acendi o topo dele na chama de uma das velas. Gotejando o galho queimando dentro da tigela, eu o segurei ali tempo o suficiente para as ervas pegarem fogo, depois o retirei, e atrai o galho para meus lábios, extinguindo a chama com um pequeno sopro de ar. O galho em combustão lenta e a tigela de ervas lentamente incendiando desprenderam um odor acre, o qual estava começando a fazer meu nariz coçar e meus olhos lacrimejar. Mesmo assim, tudo pareceu estar progredindo como o livro disse que deveria. Eu respirei fundo e fechei meus olhos. — Nós solicitamos ao que está escondido que seja exibido / Deusa, traga luz até a sombra / Limpe o véu que cega nossos olhos / Revele aquele cujo espírito se disfarça! Meu poder se ergueu enquanto eu disse as palavras do feitiço. Eu podia senti-lo rodopiando ao meu redor e estalando meus olhos abertos para ver o que eu tinha feito. Eu estava envelopada em uma nuvem dourada de magia, e eu observei fascinada enquanto ela se afastava de mim e condensava em uma firme, bola pulsante de energia que pairou sobre a tigela. Lentamente ela se afundou e derreteu dentro da tigela de ervas. E nada
aconteceu. Eu suspirei. Eu nunca deveria ter cedido à tentação e aberto meus olhos. É por isso que eu era ruim em feitiços. Tia Maggie sempre disse que trabalhar em feitiços requeria disciplina e concentração. Ela frequentemente reclamou que ela tinha filhotes de estimação que podiam ficar imóveis e focar sua atenção melhor do que eu. Eu me inclinei para perto e espiei dentro da tigela às ervas latentes. De repente houve um audível estouro e um clarão de luz de cegar, disparou da tigela. — Oh, pederasta —, Eu amaldiçoei enquanto eu me lançava para trás, caindo de bumbum. Eu apertei meus olhos fechados e não vi nada além de faíscas de luz de dentro das minhas pálpebras. — É por isso que eu odeio feitiços —, Eu murmurei. Quando eu pude ver novamente eu peguei a tigela e olhei para dentro. Estava manchada com o que pareceu ser nada mais interessante do que as cinzas das ervas queimadas. O feitiço disse que nós deveríamos aplicar as cinzas às nossas pálpebras que nós seríamos capazes de ver o mundo espírita. Não disse nada sobre a pequena explosão. Eu peguei a tigela e segui para a porta. — Vamos esperar que funcione.
***
Eu manchei as cinzas da tigela nas minhas pálpebras. Todos nós parecíamos como ghouls, com a cinza negra colorindo nossas pálpebras. Havia oito de nós nessa missão: eu, Michael, Devlin, Justine, Drake, MacLeod, e Drummond. Khalid tinha saído horas atrás para providenciar sangue para a rainha e não tinha retornado ainda. MacLeod ordenou que Hashim ficasse com a rainha até que nós retornássemos, mas eu não estava particularmente contente com a ideia. Eu iria preferir muito mais deixar Drake com ela, não apenas porque eu não o queria ao redor, mas também porque Hashim e seu
irmão eram, ambos suspeitos, na minha opinião. Contudo, como Michael afirmou, se eles á quisessem morta, eles tinham tido várias oportunidades para realizar a tarefa até agora. Nós nos dividimos em grupos de quatro para procurar pela casa em ambos os lados da residência do rei. Drake, Devlin, Bel e MacLeod ocuparam um grupo enquanto que Michael, Justine, Drummond, e eu ocupamos o outro. Eu me certifiquei que meu grupo ficasse com a casa geminada que compartilhava uma parede com a câmara do rei. Eu estava certa que nosso vilão estava ali. Eu tinha visto algo naquele quarto, e ninguém ia me convencer que eu não tinha visto. Meu coração afundou quando eu fiquei no vão da porta do quarto. O odor tóxico de enxofre e absinto ainda permanecendo no ar, mas se o feitiço estava funcionando eu não podia ver nada. Eu alcancei minha magia, como eu tinha feito antes, mas o que quer que tenha estado no quarto, não estava ali agora. Virando, eu olhei para trás de mim enquanto Michael saía do último quarto no corredor. — Nada —, ele afirmou, negando com sua cabeça. Justine e Drummond subiram os degraus, seguidos por Bel. — Eu estou dizendo a vocês que a outra casa está vazia —, ela disse, e ziguezagueou, descendo o corredor, espiando dentro dos quartos. — O que nós fazemos agora? — Justine perguntou. Eu abri minha boca para responder, mas fui interrompida quando Bel exclamou —, Oh, meu Deus! — do vão da porta de um dos quartos. Eu olhei bruscamente para Michael. — Não havia nada ali um momento atrás —, ele disse. Todos nós corremos pelo corredor, esperando ver o espírito. O que nós vimos enquanto nós nos reunimos em torno de Bel foi algo quase tão incrível. Estantes com gavetas de frentes de vidro forravam as paredes de um grande quarto e corriam para baixo em várias fileiras ao seu centro. Caixas de chapéus estavam empilhadas ordenadamente em cima das prateleiras perto de centenas de pares de sapatos requintadamente trabalhados em um arco-íris de cores. Bel, Justine e eu entramos no quarto como moscas atraídas pela luz. Nós andamos pelos corredores, arrancando gaveta após gaveta para revelar
vestidos de todas as cores e tecidos, seus estilos abrangendo séculos. — Que lugar é esse? — Eu perguntei, correndo meus dedos junto de uma fileira de espartilhos de seda dobrados ordenadamente. — Paraíso —, Bel sussurrou. Eu puxei a próxima gaveta abrindo-a, a qual estava cheia com lenços de bolsos espremidos e dobrados. Todos eles bordados com um delicado C em um canto. Poderia ser o guarda-roupa de Clarissa o vampiro assassinado? O pensamento fez o remexer pelas suas coisas de alguma maneira menos atraente e eu silenciosamente fechei a gaveta. Justine caminhou até extremidade mais distante do quarto e deu um olhar mais atento aos espartilhos do século dezesseis e anquinhas 25 do século dezoito que estavam penduradas na parede. — Algumas vezes eu sinto falta das anquinhas —, ela disse com um suspiro. Bel assentiu em acordo, e eu olhei para as duas como se elas fossem loucas. — Por quê? — Eu perguntei incrédula. — Eu não posso imaginar como era tentar atravessar portas nessas saias enormes. Justine encolheu de ombros. — Palácios frequentemente têm portas largas. — Ou você apenas se vira de lado —, Bel acrescentou. Eu estremeci. — Eu prefiro muito mais a moda da virada desse século. Há muitas coisas indecentes a serem ditas sobre Napoleão, mas Josefina 26 era uma mulher de estilo. Bel enrugou seu nariz. — Que estilo? Aqueles não eram vestidos, eles eram sobras de roupas. Você praticamente podia dobrá-los e colocá-los no bolso do casaco de um homem. — Eu sei —, Eu disse quando olhei para Michael. Ele sorriu para mim de uma maneira que ficou evidente que nós dois estávamos relembrando quanto escandalosamente engraçados aqueles vestidos foram. — A Moda definitivamente desviou para o pior desde que Josefina morreu e eu me transformei em vampiro —, eu lamentei. Bel bufou. — Os vestidos dos dias atuais não valem o tecido dos quais 25
Almofada ou armação que as mulheres usavam sob a saia, para estufá-la. Josefina de Beauharnais foi a primeira mulher de Napoleão Bonaparte, sendo, portanto, a mulher mais influente da França durante o Primeiro Império. 26
eles são feitos. Você tem visto a moda que as damas estão usando? Todas elas se parecem como camponesas sem graça. — Senhoras —, Drummond interrompeu —, Eu odeio interromper sua diversão mais obviamente o feitiço não funcionou. Cin, você tem um plano alternativo, ou esse era ele? Eu suspirei e devolvi o par de saltos de brocado de seda que pareciam fivelas de diamantes no seu lugar na prateleira. — Realmente —, eu disse —, Eu não sei se o feitiço não funcionou ou apenas pareceu não ter nada para ver no momento. Eu acho que seria sábio se Michael e eu ficássemos aqui ao longo do dia amanhã. Justine, você e Devlin podem vigiar a outra casa. Esse lugar tem mau cheiro de magia, e desde que nós não parecemos captar ninguém entrando ou saindo, talvez nós descobríssemos o que nós estamos procurando se nós apenas perseverarmos e esperarmos. — Soa bastante tedioso para mim —, Bel entrou na conversa. — Eu preferiria que você estivesse em um navio amanhã —, Drummond reclamou. Eu assenti. — Dê mais um dia. Se nós não encontrarmos nada até lá, Michael e eu vamos pegar o rei e a rainha e nos afastar para o Castelo da Escuridão. Isso deve expulsar quem quer que esteja por trás disso de uma maneira ou de outra. Quer ele vá atrás da rainha ou ele tente tomar a cidade. Drummond assentiu. — É um bom plano —, Michael disse. — Eu estava cansado de esperar por ele fazer o próximo movimento. — Sim —, Bel disse enquanto ela cutucava uma gaveta cheia de laços. — Eu estive pensando que é hora de partir da cidade também. A capital não comprovou ser tão... capacitada... quanto eu tinha esperanças que seria. Eu franzi o cenho com a sua escolha de palavras, mas Drummond atraiu minha atenção. — Por curiosidade, como vocês vampiros conseguem viajar longas distâncias de navio? Não iria alguém notar se vocês começarem a beber sangue dos passageiros ou da tripulação? — ele perguntou. — De fato, nós temos nossa própria frota de navegação que atende a nossa espécie. Eles operam sob o nome de Macmillan Parties, o Corsário. — Propriedade de um vampiro chamado Macmillan, eu suponho?
Eu franzi o cenho. — Realmente, a frota é administrada por um vampiro chamado Christian Sinclair. Eu o conheci uma vez. Ele era o capitão do navio Cruz de Sangue Falcão que nos levou de Londres para Barcelona no ano em que eu fui transformada. — Cruz de Sangue? — Drummond perguntou. — É como nós chamamos a frota de Macmillan —, eu respondi. — Porque eles usam uma bandeira negra levando uma cruz vermelha dos Templários27. — A frota é propriedade do próprio Templário —, Bel afirmou. Eu rolei meus olhos. — Isso não é nada mais do que uma lenda de séculos de idade. — Ah, mas que romântica lenda é —, Bel disse com um suspiro, virando sua atenção para Drummond. — Os rumores dizem que o rei Francês, Philip o Justo, falava dormindo e foi como uma das suas amantes descobriu que ele estava planejando capturar todos os cavaleiros Templários. A amante estava apaixonada por um dos Templários, mesmo embora o cavaleiro tivesse feito um voto de celibato e ela soubesse que ele nunca poderia ser dela. Mesmo assim, ela o advertiu da traição do rei, e no dia antes das prisões serem feitas, dezoito navios Templários zarparam de La Rochelle, para nunca serem vistos novamente. — Como eles vieram a ser navios de vampiros? — Drummond perguntou. Bel gargalhou. — A amante era um vampiro. Para evitar a retaliação do Rei Phillip pela sua traição, ela zarpou com o seu cavaleiro Templário. Eles se apaixonaram e, por que ele não podia encarar a perspectiva de morrer e deixála de lado, ela fez dele um vampiro para que eles sempre pudessem estar juntos. Diz-se que eles se estabeleceram em uma ilha no Caribe e que a
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A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão mais conhecida como Ordem dos Templários, Ordem do Templo ou Cavaleiros Templários (algumas vezes chamados de: Cavaleiros de Cristo, Cavaleiros do Templo, Pobres Cavaleiros, etc), foi uma das mais famosas Ordens Militares de Cavalaria. A organização existiu por cerca de dois séculos na Idade Média, fundada no rescaldo da Primeira Cruzada de 1096, com o propósito original de proteger os cristãos que voltaram a fazer a peregrinação a Jerusalém após a sua conquista. Os seus membros fizeram voto de pobreza e castidade para se tornarem monges. Usavam mantos brancos com uma característica cruz vermelha, e o seu símbolo passou a ser um cavalo montado por dois cavaleiros.
tripulação que arma os navios da Cruz de Sangue hoje são os descendentes humanos da tripulação dos dezoito navios originais. — A verdade —, Michael insistiu —, é que O Templário é um mito. Eu perguntei ao Devlin uma vez, desde que ele é o mais velho de nós, e ele diz que ele nunca encontrou um vampiro que alguma vez colocou os olhos nele. — Eu o conheci —, Bel disse suavemente. Todos nós viramos para ela, mas ela subitamente se tornou estranhamente calada. Ignorando nossas expressões curiosas, ela começou a peneirar uma caixa de jóias. Justine e eu olhamos uma para a outra e negamos com nossas cabeças. O Templário não era nada mais do que um mito, e Bel era uma lâmina curta com uma borda afiada. Ela acreditaria em qualquer mentira que um homem bonito dissesse a ela. Eu quase sentia pena dela. Drummond percebeu o olhar que Justine e eu trocamos e sabiamente não pediu para Bel elaborar. — Se a esquadra da Cruz de Sangue tem a reputação de pertencer ao Templário e é administrada por um vampiro chamado Sinclair... então quem diabos é Macmillan Parties? Eu franzi o cenho e olhei para Justine, quem negou com a cabeça e encolheu de ombros. — Eu não tenho ideia —, eu respondi. — Senhoras —, Michael interrompeu —, por muito que eu odeie interromper a diversão de vocês, nós devemos voltar a casa e falar com o rei. Nós estávamos deixando a casa quando Drummond disse, — Aquele não é um dos guardas do rei? — Sim, é. Oi, Khalid! — Bel gritou. Eu olhei para cima ao homem andando na nossa direção. Ele estava a uma quadra de distância, carregando uma saca sob um braço, e tinha seu chapéu recolhido na sua sobrancelha para repelir a chuva fina que tinha começado a cair. Eu sabia que era Khalid por que mesmo a essa distância eu podia ver o brinco de argola dourada na sua orelha direita. — Quem é o garoto que está com ele? — Drummond perguntou. Todos nós olhamos para Drummond, confusos e depois olhamos de volta para Khalid. — Que garoto? — Eu perguntei. Drummond gesticulou uma mão na direção de Khalid. — O jovenzinho
com quem ele está caminhando. O garoto de cabelo escuro que acabou de sair pela Rua Frederick. Eu olhei para Michael, olhos amplos. — Eu não vi ninguém com ele, você viu? — Não —, Michael disse secamente. Sem outra palavra todos nós corremos na calçada em direção à Khalid.
Capítulo
K
halid parou de repente com um olhar de choque no seu rosto, incerto do que fazer com vários vampiros e um lobisomem correndo na sua direção. Quando nós alcançamos o final da quadra nós viemos a uma parada e olhamos para Drummond por uma direção. — A rua está vazia —, ele disse. — Eu não o vejo em nenhum lugar. Eu me virei para Khalid. — Quem era ele? — Eu exigi. O tenente pareceu ingenuamente confuso. — De quem você está falando? — ele perguntou, olhando para nós como se todos nós tivéssemos enlouquecido. — São três da manhã. Eu não tenho visto ninguém na rua em várias quadras e eu acho que eu saberia muito bem se alguém estivesse caminhando bem ao meu lado! — O feitiço funcionou —, Justine disse com admiração. — Drummond viu um fantasma. — Então porque nós não o vimos? — Michael perguntou. — Porque nós estamos mortos —, ela respondeu com um aceno para o lobisomem —, e ele não está. — Poderia muito bem ser isso —, Eu relutantemente concordei, embora não parecesse justo que era meu feitiço e eu não tinha visto coisa alguma. — O fato de que nós não estamos mais dentre os vivos poderia ter interferido com um feitiço criado para permitir que humanos vejam os mortos. Eu não
tinha considerado isso. Mas o fantasma que Drummond viu era o nosso fantasma? Khalid bufou. — Edimburgo é uma cidade antiga e certamente cheia de espíritos inquietos, em quem acredita nesse tipo de coisa. Michael olhou abaixo para mim. — Você pode ver algo? Eu neguei com minha cabeça e gesticulei para a chuva que tinha começado a cair a uma marcha mais firme. — Eu poderia ter sido capaz de sentir o cheiro de enxofre e absinto se não estivesse chovendo. — Enxofre e absinto? Eu deveria ser capaz de rastrear isso —, Drummond disse. — Você gostaria de alguma ajuda? — Michael perguntou. Drummond negou com sua cabeça. — Você não será de ajuda para mim se não pode vê-lo. Michael assentiu. — Independentemente do que você encontrar, volte para casa quando você estiver terminado. Se você de fato é aquele que o feitiço funcionou, então seria útil ter você conosco. Drummond concordou e partiu descendo a Rua Frederick. Eu certamente esperava que o seu sentido de olfato canino o conduzisse ao nosso fantasma, mas com essa chuva eu tinha minhas dúvidas. Enquanto Justine caminhava na frente de nós com Khalid, eu percebi pela primeira vez que Bel não tinha nos seguido da casa. — Você acredita nele? — Michael sussurrou, acenando em direção à Khalid. — Eu não sei —, Eu suspirei. — A reação dele pareceu genuína, mas mesmo se ele fosse culpado, eu não esperaria nada menos. — Sim, eu vejo a sua evidência —, Michael disse. — É uma coisa boa ter pensado em convidar Drummond a ficar conosco —, Eu observei. — Embora eu estivesse bastante surpresa por você ter feito a oferta. — Por quê? — Porque, meu homem ciumento —, Eu disse levemente —, isso acrescenta mais um homem robustamente bonito a casa. — Há uma vasta diferença entre Drummond Murray e Drake —, Michael
disse. — Que tipo de diferença? — Eu perguntei. — Drake olha para você como se ele estivesse catalogando todas as coisas que ele gostaria de fazer com você se ele pudesse tirar a sua roupa. — E Drummond? — Eu perguntei com interesse genuíno. Michael tinha meu coração; eu raramente notava a forma com que outros homens olhavam para mim. — Ele olha para você como se vocês fossem... parentes. No início eu fui surpreendida pela sua observação, até que eu tive um momento para pensar sobre isso. — Eu imagino que isso faça sentido. Ele tem vivido em Glen Gregor com Tia Maggie e a grande maioria da minha família pelo lado de minha mãe. — O pobre homem —, Michael resmungou. Eu o empurrei. — Brutamontes —, Eu disse. Ele me puxou para dentro dos seus braços e me beijou asperamente, me fazendo derreter contra ele. — Por que nós não voltamos para o nosso quarto e eu vou mostrar a você o quanto brutamontes eu posso ser? — ele sussurrou enquanto correu sua língua junto da borda da minha orelha. Enquanto nós corríamos para dentro da residência do rei, ansiosos para subir as escadas e sair das nossas roupas molhadas, eu notei Bel e Drake em pé do lado de fora da biblioteca. Bel estava deleitando-o com os contos dos vestidos e sapatos que nós tínhamos encontrado na porta ao lado. Drake olhou para mim sobre o topo da cabeça dela, e ele certamente não pareceu estar me despindo com seus olhos. Não tinha escapado da minha percepção mais cedo, essa noite, que o seu interesse em mim tinha esfriado significativamente. Sucintamente eu me perguntei se isso era devido à minha óbvia reconciliação com Michael ou ao fato de que eu tinha ferido mais de trinta vampiros na noite passada usando magia negra. Michael e eu tínhamos alcançado o terceiro andar e eu estava felizmente considerando qual peça da sua roupa remover primeiro quando nossa atenção foi atraída por altas vozes vindo da câmara do rei. — Essa é a voz de Devlin —, Michael disse.
Nós descemos o corredor e lançamos as duplas portas abrindo-as. Minha boca caiu com o que eu vi. Rapidamente eu empurrei Michael para dentro do quarto e fechei as portas atrás de nós. — Alguém se importaria de me contar o que está acontecendo? — Eu perguntei. Marrakesh estava sentada na beirada da sua cama em uma diáfana camisola branca e MacLeod estava em pé perto dela, sem camisa, parecendo pronto para assassinar a todos nós. Devlin gesticulou na direção deles. — Justine e eu estávamos subindo para contar ao rei o que nós tínhamos descoberto quando eu ouvi uma colisão do quarto. Pensando que algo estava errado, eu entrei sem bater. Eu olhei para o serviço de chá de prata espalhado sobre o chão entre a camisa descartada de MacLeod e casaco, junto com o estado amontoado de lençóis, e imaginei o que Devlin e Justine tinham interrompido. — Marrakesh —, Eu disse. — É bom ver que você está acordada e em tal... bom humor. MacLeod pareceu um pouco envergonhado. — Sim, bem, ela nunca esteve inconsciente, não depois das primeiras horas, de qualquer maneira. Nós decidimos que seria melhor se ninguém soubesse que ela tinha acordado. Eu estava com medo que você fosse querer que ela usasse seus poderes novamente, e depois do que aconteceu na última vez, eu absolutamente proibiria. Eu não vou colocá-la naquela posição novamente. Claro, nós não pensamos que demoraria tanto assim para descobrir quem estava por trás dos ataques. — Então ninguém sabe que ela está acordada? — Michael perguntou. — Nem Khalid, Hashim, nem mesmo Drake? MacLeod negou com sua cabeça. — Ninguém além dela e de mim... e agora de vocês quatro. — Eu acho que é um pouco absurdo —, a rainha comentou —, mas ele insistiu. — Você contou a ele o que aconteceu lá fora na rua essa noite? — Eu perguntei a Devlin. Ele fez uma careta. — Nós não fomos longe assim ainda. O rei ainda
estava me repreendendo por entrar na sua câmara sem ser anunciado. Eu os ocupei com a chegada de Drummond e o incidente com Khalid e o que era muito possivelmente o nosso fantasma. — Michael e Drummond e eu vamos ficar na casa ao lado durante as horas do dia, mas eu honestamente acredito que você precise levar a rainha fora daqui amanhã à noite. — Eu não gosto de abandonar a capital —, Marrakesh protestou. — Sinto muito —, Eu disse. — Eu de fato acho que seja a melhor maneira de fazer os vilões saírem. MacLeod assentiu. — Nós vamos para o Castelo da Escuridão, mas amanhã à noite é muito cedo. Há arranjos que devem ser feitos antes que nós possamos empreender em tal longa jornada. Terá que ser na noite seguinte. — Na noite depois, então —, Eu concordei. — Michael e eu vamos acompanhar vocês para permitir a sua segurança. Eu acho que é melhor manter, o fato de que Marrakesh está acordada, em segredo enquanto nós ainda estamos em Edimburgo, contudo. O rei assentiu. A rainha não pareceu satisfeita. — Ficará tudo bem, minha querida —, MacLeod disse. — Aubert é um excelente Guarda, e Khalid e Hashim estarão aqui para cuidar de tudo o que precisa. MacLeod olhou para mim, e nós tivemos um momento de perfeito entendimento. Seus olhos escuros falaram por si só. Ele estava começando a ter dúvidas sobre seus tenentes. Marrakesh nunca iria acreditar que os gêmeos fossem prejudicá-la, mas esse era o dever de MacLeod, tanto como seu rei e como seu marido, desconfiar.
Capítulo
A
ntes do amanhecer, Michael e eu mudamos algumas das nossas coisas para a casa geminada ao lado. Nós estávamos colocando lençóis limpos na cama no quarto onde eu tinha visto o fantasma, quando Drummond bateu suavemente na porta. Ele pareceu cansado, e ele estava encharcado até a pele. — Eu consegui seguir o cheiro dele por várias quadras antes de eu perdêlo por causa da maldita chuva —, ele disse miseravelmente. — Está tudo bem —, eu o assegurei. — Por que você não descansa um pouco? Nós estaremos partindo para o Castelo da Escuridão, ao norte de Inverness, amanhã à noite. Ele assentiu. — Eu viajarei com vocês até Inverness, depois eu estarei seguindo para Glen Gregor. Eu entreguei a ele a tigela que continha as cinzas do feitiço que eu tinha convocado. — Nos chame se você precisar de algo. Ele assentiu e se retirou para um dos outros quartos.
***
Várias horas mais tarde eu me aninhei contra o peito de Michael, meu cabelo ainda úmido do banho quente que nós tínhamos compartilhado, e suspirei
contente. Ele beijou minha testa e disse —, Eu gosto muito mais disso quando nós entramos em uma cidade e o Regente salienta os vampiros maus e nós os matamos. Eu gargalhei. — Isso não é verdade. O que nós estamos esquecendo aqui, Michael? Eu não podia ver o fantasma, mas certamente não pareceu que Khalid estivesse conversando com alguém. Para mim, apenas pareceu que ele estivesse caminhando silenciosamente, descendo a rua. Tudo parece apontar diretamente para ele e para Hashim – a morte de Clarissa, o que aconteceu com a rainha bem antes dela tocar Khalid, o fantasma essa noite. Mas nós não temos provas do seu envolvimento em nada. Para ser bastante honesta com você, eu estive tão absorta com nossos problemas nessas últimas semanas, que eu prestei pouca atenção em algum deles. Você os viu fazer algo que fosse suspeito? — Nem uma coisa —, ele disse. — MacLeod tem gasto a maior parte do seu tempo com Marrakesh. Ele raramente deixa seu quarto. Khalid está cuidando dos negócios cotidianos de MacLeod e Hashim apenas se esconde, vendo-nos observá-los. Nada incomum tem acontecido, mas então de novo, nós honestamente esperávamos isso? Não têm aparecido mais cadáveres suspeitos em Surgeon Square, mas isso não significa necessariamente algo. Se alguém estava tentando incriminar a rainha com esses assassinatos, acabaria com o seu propósito ter outro humano morto enquanto ela está comatosa. — Exceto pelo fato de que ela está apenas tão acordada como você e eu —, Eu apontei. — Ah, mas nosso vilão não sabe disso. — Isso é o que eu não entendo. Se ele está em aliança com o nosso fantasma, não parece que ele deveria saber disso? Você não pode me dizer que o fantasma não sabe que ela está acordada. — Sim, mas ele está condenado do mesmo jeito —, Michael observou. — Se ele mantém os assassinatos e nós nunca descobrimos que a rainha está de fato acordada, então ele está provando a inocência dela. Se ele para as matanças, então isso aponta a culpa dela – ao menos que nós descubramos que ela não tinha estado em coma depois de tudo.
Eu fiquei em silêncio por vários momentos. — E se nós nunca descobrirmos? — eu perguntei, miseravelmente. — Quem quer que esteja por trás disso irá escorregar mais cedo ou mais tarde —, Michael me assegurou. — Se ele pensa que ele está perdendo o controle da situação pelo rei e a rainha deixarem a cidade, então talvez nós iremos forçá-lo a cometer esse erro. E na remota chance de que a rainha seja honestamente uma doida varrida e continua matando as pessoas, isso se tornaria facilmente perceptível também. É um bom plano, Cin. — Ele riu. — Mas você tem certeza que não surgiu com isso simplesmente para nos tirar da cidade antes que sua tia Maggie chegue? Eu olhei para ele. — Isso seria tão ruim? Ele soprou um fôlego. — Inferno, não.
Capítulo
M
ichael e eu passamos um dia tão glorioso fazendo amor e dormindo um no braço do outro que eu odiei partir da casa. Com ninguém mais ao redor, era fácil imaginar que nós éramos as únicas duas pessoas no mundo – exceto pelo lobisomem perambulando pelos corredores. Drummond dormiu por uma hora ou mais ou menos, depois eu o ouvi se movendo pela casa, como se tivesse de guarda, antes dele se retirar para o seu quarto novamente. O pôr do sol veio mais cedo do que eu teria gostado. Michael se vestiu rapidamente e foi falar com Drummond. Eu olhei no espelho e admirei meu novo vestido. Eu tinha escolhido esse vestido em Londres no nosso caminho para Ravenworth e não o tinha usado ainda. Ele era feito de veludo em verdeesmeralda, bem justo na cintura e amplo na saia, com mangas regatas. O corpete tinha um decote baixo suficiente que meus seios o preenchia tentadoramente. Eu deveria ter trazido meus bermudões ao invés. Eu estava com fome essa noite e eu precisava me alimentar, mas eu também era bastante vaidosa para querer que Michael me visse com o novo vestido antes de nós passarmos a próxima semana ou mais, confinados dentro de uma carruagem. Eu recolhi minhas facas de lançamento com suas bainhas nos pulsos, e a espada curta com sua bainha na coluna, relutante em amarrá-las e muito menos em arruinar a elegância do vestuário.
— Esse é novo —, Michael disse. Eu me virei para vê-lo descansando no vão da porta com um olhar excitado e predatório em seus olhos azuis. A luz das velas lançou sombras escuras sob suas fortes maçãs do rosto, e sua beleza fez minha respiração ficar presa. Eu caminhei até ele sedutoramente, aproveitando a maneira com que a saia de veludo oscilava enquanto eu me movia. — Você gosta dele? — Eu perguntei. Ele correu a parte de trás dos seus dedos sobre o inchaço dos meus seios. — Eu gosto —, ele respondeu roucamente. — E eu vou gostar de tirar de você mais tarde, mo ghraidh. Eu sorri. — Eu vou gostar de deixar você tirar, mas agora eu estou com fome. Ele me ofereceu seu braço. — Deixe-me dar à Drummond a chave da casa e nós sairemos. — Oh, maldição —, eu exclamei. — Eu esqueci minha capa quando nós mudamos nossas coisas na noite passada. Você vá ver Drummond enquanto eu corro até a porta ao lado e a pego. Eu voltarei. Enquanto eu abria a porta da residência do rei, o som do rico soprano de Justine encheu o vestíbulo do corredor que conduzia à cozinha. Eu reconheci o som do papel de Malwina em Der Vampyr de Marschner28, a qual nós tínhamos visto em Lípsia mais cedo esse ano. Eu fiquei ali um minuto, escutando com prazer a ária, depois corri para o andar de cima para recuperar minha capa. Drake estava esperando no vestíbulo quando eu retornei. Ele sorriu para mim, e não foi um sorrido gentil. — Srta. Craven, eu posso ter uma palavra com você? Eu cerrei meus dentes em frustração. Eu não tinha tempo ou a inclinação para entrar em uma conversa com ele nesse momento em particular. — O que é, Drake? — Eu perguntei, minha voz soando mais impaciente e petulante do que eu tinha a intenção. — Minha nossa —, ele disse em um tom sem cerimônia que chiou até 28
Der Vampyr (título original em alemão, em espanhol, The Vampire) é uma ópera romântica em dois acos de Heinrich Marschner e libreto em alemão por Wilhelm August Wohlbruck, é baseada na novela The Vampire (1819) por John Polidori. Ela se apresentou pela primeira vez a 29 de março de 1828 em Lípsia (cidade Alemã).
meu último nervo. — Gênio, gênio. O que você vai fazer? Me transformar em cinzas com sua magia negra? Eu estreitei meus olhos, esperando ver para onde esse tópico conduziria. — Há rumores —, ele disse —, que você matou uma dúzia de humanos em Veneza pelo uso da magia negra. Nós estávamos inclinados em desacreditar nesses rumores por causa do seu status com o Justos. Eu me pergunto o que o Alto Rei diria se eu dissesse a ele que agora há uma prova inegável? — Ninguém me viu matar um humano. Ele encolheu de ombros. — Talvez não, mas certamente não muito longe de se estender do que eles dizem que você fez então àquela inteira população e do que os vampiros de Edimburgo viram você fazer com aquele grupo de bandidos. Eu olhei para ele, mas não disse nada. O que eu poderia dizer? Ele estava certo. — O que? Não está correndo em declarar sua inocência? — Eu certamente não devo uma explicação a você e eu não tenho nada a dizer sobre a questão, não obstante. Ele espreitou na minha direção com uma zangada, predatória, graça. — Eu sou o representante do Alto Rei e você irá falar disso se eu desejar. Eu olhei acima no seu rosto, apenas centímetros de distância do meu. — Eu respondo a um poder mais alto do que você e do Alto Rei, Drake. — Não há ninguém com mais autoridade dentro da nossa espécie que o Alto Rei e ele acautela meu conselho. Faria muito bem você se lembrar disso, bruxa. — É mesmo? Porque a própria deusa Morrigan, me absolveu de qualquer culpa relativa àquele incidente e me disse que se o Alto Rei tivesse problemas com isso, que ele deveria falar com ela. — Drake estalou sua cabeça para trás com surpresa. Eu neguei com minha cabeça. — O que você acha que ia acontecer aqui, Drake? Que você ameaçaria contar ao Alto Rei o que eu fiz com aquele bando de traidores e eu cairia de joelhos e ofereceria a você qualquer coisa em retorno pelo seu silêncio? — Eu gargalhei para ele. — Isso é tão... triste.
Algumas vezes eu não sabia como sair quando eu tinha a vantagem. Drake rosnou e sua mão disparou, forçando-me a tropeçar para trás para evitar seu domínio. Antes que eu pudesse sequer pensar em convocar minha magia, outra mão veio de algum lugar atrás de mim, se fechando no pulso de Drake até que eu ouvi ossos estalarem. — Eu deveria ter feito isso há muito tempo —, Michael disse enquanto ele pisava na minha frente e socava Drake diretamente no nariz. — Se você alguma vez, colocar uma mão na minha mulher novamente, Drake, eu vou matar você. Drake saltou para ele e eles dois lutaram, se derrubando sobre a mesa Chippendale. Um vaso muito caro despedaçou contra o piso de mármore, e um pesado castiçal de bronze rolou ao outro lado do vestíbulo. Eu recuei, movendo para ficar contra a parede perto da porta da frente para dar a eles espaço. Era difícil não impedir isso, mas era uma briga que tinha demorado anos para acontecer e nenhum deles iria me agradecer se eu interferisse. Eu estremeci enquanto Drake atingiu um forte golpe nas costelas de Michael, mas Michael revidou com um sólido soco na mandíbula de Drake que estalou a cabeça do Sentinela para trás. Enquanto ele estava atordoado, Michael deu uma rasteira nele e Drake aterrissou no chão com uma maldição violenta, sangrando no seu nariz e com um corte no seu lábio. — Você já teve o suficiente? — Michael perguntou. Espancado como ele estava, Drake se levantou com um rápido, gracioso movimento e eles dois se prepararam para lutar mais uma vez. Eu estava tão absorta no confronto que eu gritei de surpresa quando a porta da frente voou aberta e Devlin marchou para dentro do corredor. Ele deu uma olhada nos homens ensanguentados no vestíbulo e berrou —, Parem isso nesse instante, vocês dois! A cabeça de Michael se virou com o comando em expansão e Drake usou esse momento de desatenção e correu para ele. Ele se jogou em Michael e o ímpeto lançou os dois passando por Devlin e por mim e descendo as escadas da frente da casa. Eu estremeci enquanto os observava tropeçarem nos degraus de pedra. Eu estava tão preocupada com Michael e com a provável extensão das suas injúrias que no início eu não vi a mulher de pé na calçada na
frente da casa. Drake e Michael tiveram uma rápida percepção dela, contudo, enquanto ela batia neles dois bruscamente com a pesada bola prateada que cobria a sua bengala. — Isso é o que eu estava vindo contar a você —, Devlin sussurrou no meu ouvido. Drake e Michael lutaram para ficar sob seus pés, como dois estudantes errantes. Eu olhei abaixo nos olhos da mulher e inconscientemente suspirei. Essa noite estava indo de mal à pior. — Se esses dois rufiões terminaram —, a mulher disse em um contralto gelado que eu me lembrava tão bem —, talvez você fosse boa o suficiente para me convidar para entrar e sair do frio. — Michael —, Eu disse cansada —, você poderia escoltar Tia Maggie para dentro?
Capítulo
M
ary Margaret Macgregor mal tinha um metro e cinquenta de altura, mas cada centímetro radiava sua absoluta crença em seu próprio poder e autoridade. Ela se transportava como uma rainha e no seu mundo, em Glen Gregor, ela era tratada como uma. Isso não tinha mudado. De fato, o tempo tinha mudado muito pouco sobre minha tia. Seu vestido era preto, fechado até o pescoço, e de mangas compridas, como sempre foi. Eu não a tinha visto em outra cor desde que Tio Richard tinha morrido há vinte anos atrás. A alta, bengala com ponta de prata era nova, embora ela manejasse mais como um cetro do que uma bengala. Seu cabelo, o qual tinha sido um adorável vermelho cobre quando eu era nova, era agora um sólido branco e puxado para trás em um simples, mas estiloso coque. As feições de Maggie eram fortes e quadradas, mesmo assim de alguma forma conseguiam ser delicadas e femininas ao mesmo tempo, e as linhas do seu rosto era tão finas que ela parecia uns bons dez anos mais nova do que eu sabia que ela era. Eu me perguntei brevemente, se seria como minha mãe iria parecer agora, se ela estivesse viva. Os bonitos olhos azuis como uma centaurea29 de Tia Maggie nunca deixavam nada de lado, e essa noite eles rapidamente dispararam sobre o espaço cheio de vampiros que tinham se reunido durante a rixa de Michael e Drake. Com a exceção de Marrakesh e Drummond, todos na residência 29
Uma flor de cor azul-violáceo conhecida no Brasil como escovinha ou marianinha.
estavam rodando em círculos no vestíbulo. — Onde estão seus modos, criança? — Tia Maggie repreendeu. — Eu sei que minha irmã criou você para ser uma melhor anfitriã do que negligenciar ao fazer as apresentações. — Claro, Tia Maggie —, Eu disse, correndo para frente. Para meu assombro, oito vampiros, incluindo o Rei das Terras Ocidentais, estavam enfileirados como súditos esperando para saudar o monarca. Eu neguei com minha cabeça ao quadro surreal e peguei o braço de Tia Maggie, conduzindo-a primeiro à MacLeod, como o protocolo ditava. — Eu apresento Sua Majestade, MacLeod, Rei das Terras Ocidentais. Sua Majestade, minha tia, Mary Margaret Macgregor. MacLeod reivindicou sua mão e se inclinou enquanto minha tia fazia uma pequena reverência. Eu não estava certa se nas profundezas, o gesto era em respeito aos mais velhos ou ao fato de que MacLeod não era nada mais do que outro vampiro. Qualquer que fosse o caso, ele não pareceu notar e estava muito cavaleiro em direção a ela. — Sra. Macgregor, bem vinda a minha casa. Eu acredito que sua jornada tenha sido calma? — ele perguntou. Ela suspirou. — Tão calma quanto essas coisas são na minha idade. Relembrada pelo motivo que ela estava aqui em primeiro lugar, eu disse um pouco bruscamente. — Você fez em um tempo excelente. Nós não esperávamos você por vários dias. Maggie cortou seus olhos para mim e respondeu em um tom padrão que tinha a intenção de me colocar no meu lugar —, Sério, querida, você não deveria se fazer de morta sobre os acontecimentos atuais. Há uma adorável invenção nova chamada de navio a vapor que conseguiu me levar daqui para Londres em dois dias. Eu assenti, cerrando meus dentes com a forma pela qual ela me fez recordar que eu era menos do que humana e depois me fez sentir estúpida, tudo em duas frases sucintas. MacLeod se intrometeu —, Seria meu prazer oferecer-lhe hospitalidade na minha casa enquanto você está em Edimburgo, Sra. Macgregor.
— Você é tão gentil, Sua Majestade, mas eu não desejo me intrometer. Eu peguei um quarto no Hotel Star na Rua Princes. Eu apresentei Khalid, Hashim, e Bel a seguir. Khalid e Hashim foram amáveis, mas reservados, considerando minha tia com curiosidade silenciosa. Para Bel ela disse —, Você é muito bonita, minha cara. Certamente esse é um rosto que iria colocar uma centena de navios para zarpar. — Bel se empalideceu e deu um passo para trás, e eu me perguntei o que havia sobre o comentário de Maggie que a tinha deixado nervosa. Aparentemente minha tia não percebeu o estranho comportamento de Bel porque ela se moveu para o próximo vampiro com sequer um olhar de esguelha. — Devlin, meu menino —, ela disse. — Você sempre paira acima lá no telhado? Devlin inclinou-se para baixo da sua grande altura e galantemente beijou a mão de Maggie. Por alguma razão Devlin e Michael eram os únicos que eram isentos das suas farpas bem colocadas. — Mademoiselle. — Ela se dirigiu à Justine. — Você está parecendo adorável como sempre. Uma garota tão bonita, não é de se impressionar que você tenha virado do avesso as cabeças dos reis. Justine colou um sorriso em seu rosto, tentando o seu melhor em ignorar o fato de que minha tia tinha basicamente chamado-a de prostituta. Justine não tinha vergonha do seu passado, mas Maggie tinha uma forma de atingir você onde você era mais vulnerável. Ela fazia questão de relembrar você das suas falhas e deficiências, mas ela fazia tudo isso com palavras bonitas e elogios graciosos para que você não pudesse de fato discordar de nada que ela dissesse. Maggie caminhou para ficar na frente de Michael, batendo sua bengala com ponta de prata bruscamente no chão, errando por pouco o dedão da bota dele. — Bem, jovenzinho, eu vejo que finalmente você pretendeu fazer a coisa certa com minha sobrinha. Michael sorriu. — Você notou aquilo, não notou? Maggie olhou para meu anel. — Não se pode evitar. É uma coisa muito berrante.
— Ah, Tia Maggie, nada é muito grande para sua sobrinha. Eu tinha que me certificar que eu escolhesse uma gema que fizesse jus com a beleza das mulheres Macgregor, não tinha? Ele pegou a mão dela e se inclinou, beijando os nódulos e trazendo um sorriso no seu rosto. — Demônio eloquente. Eu não sei por que ela suporta você. — Claro que você sabe —, ele disse com uma piscadela. Maggie bufou e envolveu seus dedos em torno do pulso dele enquanto ele tentava remover sua mão da dela. Ela olhou para a pele ferida nos nódulos dele e depois olhou para Drake, pegando-o no ato de esfregar um lenço de mão manchado com sangue do seu nariz. — Combate com socos na casa —, ela repreendeu. — Na minha época nós defendíamos a honra da dama com pistolas ao amanhecer. Michael encolheu de ombros. — Mas isso é muito mais divertido do que apenas atirar nele. Drake fez uma carranca para Michael, e Maggie riu. — Você é um bonito maroto —, ela disse para Drake. — Mas você pode muito bem desistir da perseguição, caro menino. Você nunca ficará entre esses dois. Drake rigidamente inclinou sua cabeça, e eu achei que ele estivesse grato que a atenção de Maggie se virou rapidamente dele para mim. — Tia Maggie, você gostaria de me acompanhar até a sala de estar? — Eu perguntei. — Eu terei um serviço de chá sendo trazido. — Isso não será necessário —, Maggie disse enquanto ela passava por mim como uma ameaçadora nuvem sombria. Relutantemente eu segui. — Bem, sobrinha, você não parece surpresa em me ver —, Maggie observou enquanto ela removia a bolsa de linhas e agulhas de tricô de Justine de uma das poltronas estofadas de veludo de MacLeod e se sentava. Eu amaldiçoei internamente. Drummond não iria me agradecer por ela saber disso. — Justo como eu pensava —, ela afirmou. — Lobos serão instintos na Inglaterra mais uma vez, quando eu colocar minhas mãos naquele garoto. — Você sabe que Drummond é um lobisomem? — Eu perguntei
incrédula. — Claro que eu sei. Nem meus sentidos ou minha visão se entorpeceram com minha idade. Você, contudo —, ela disse, olhando diretamente para meu cabelo —, parece ter se esquecido do primeiro feitiço que já aprendeu. Auto-consciente uma mão estendeu-se para tocar meu cabelo. Maggie me observou atentamente, como se ela esperasse que eu usasse glamour para transformá-lo de escarlate para acobreado apenas para agradá-la. Eu arranquei meus dedos dos cachos que eu estive tocando e cruzei meus braços sobre meu peito, arqueando uma sobrancelha ao seu desafio. — Oh, eu me lembro perfeitamente bem —, eu disse. Maggie olhou fixamente para mim, confiante que seu olhar austero iria me inclinar à sua vontade. Quando eu era mais nova aquele olhar frio de desaprovação sempre funcionou, mas eu tinha encarado criaturas mais assustadoras do que Maggie Macgregor desde quando eu me tornei um vampiro. Ao menos foi o que eu disse para mim mesma enquanto eu tentava não me contorcer sob seu olhar penetrante. — Eu imagino que Drummond disse a você porque eu estou aqui —, Maggie finalmente disse. Eu fui de alguma forma surpreendida por ela ter trazido o assunto de uma forma tão direta. Então, novamente, Maggie nunca foi aquela de entrelinhas. Como eu, ela frequentemente era franca e direta até demais. Eu assenti. — Ele disse. — E? — ela perguntou. Eu tive bastante tempo para pensar sobre sua eminente visita e o que eu faria se eu não conseguisse sair da cidade antes dela chegar. Eu enquadrei meus ombros e disse —, E, nada. Se me conhecer por toda a minha vida não convence você de que eu não sou má, Tia Maggie, nada que eu disser agora irá fazer. — Você é um morto-vivo, sobrinha, e nada sobre você e sua magia é natural. Você irá destruir a si mesma um dia, e levar pessoas inocentes com você. Eu não posso permitir isso, não se eu puder impedir. — Primeiro, eu sou um vampiro, não um morto-vivo. Eu vi mortos-vivos e há uma vasta diferença, acredite em mim. Segundo, quem é você para dizer
que minha magia não é natural? É tão natural para mim quanto a sua é para você. Nada sobre ela é má. — Bem, exceto pelo poder negro dentro de mim que pode sugar a vida de um humano ou um vampiro, eu pensei, mas isso dificilmente seria de ajuda se eu expusesse. — Não é que eu ache que você seja má, necessariamente, querida— — Sim, você acha —, Eu vociferei, a interrompendo. — Você só vê o vampiro, você não vê que por dentro eu sou a mesma garota que eu era antes, a mesma garota que tem amado você e idolatrado você toda a sua vida. — Eu neguei com minha cabeça. — Minha mãe, sua irmã, estaria envergonhada de você. O rosto de Maggie ficou tão vermelho que eu pensei que sua cabeça fosse explodir. — Sua mãe estaria horrorizada com o que você se tornou. — Você está errada, Tia Maggie. Ela estaria contente por eu ter usado meu poder para proteger os inocentes e que eu não estou morta e enterrada ao lado dela. Se você pensa algo diferentemente disso, então você não a conhecia tão bem. — Eu neguei com minha cabeça, triste além das palavras por nós termos chegado a isso. Uma parte de mim esperava que Drummond estivesse errado sobre a chegada de Maggie e suas intenções. Eu estava decepcionada e mais do que um pouco zangada que ela tinha vindo aqui para esse propósito. — Eu estou cansada de argumentar sobre isso. Eu conheço você, e eu sei que uma vez que você se decide sobre algo, nada irá fazer você sair do seu curso. Faça o que você sente que você precisa fazer, Maggie. Seus olhos se estreitaram enquanto ela me considerava. — Só isso? Eu assenti. — Só isso. — Por quê? — ela perguntou, sua voz atada com suspeita. — Porque eu não acho que você pode fazer. — Provavelmente não era a coisa mais esperta que eu disse, mas era verdade. Maggie inclinou-se para frente. — Você duvida do meu poder? — ela perguntou, sua voz baixa e zangada. — Não —, Eu respondi. — Eu tenho certeza que você é completamente capaz de trabalhar no pouco de maldade que lhe agrada. Eu não acho que você possa fazer isso porque eu não acho que a deusa Morrigan irá permitir. Ela se inclinou de costas e gargalhou. — Minha querida, você acha que
você vale muita autoridade nesse mundo. — E você nunca achou que eu valesse suficiente, mas Morrigan acha. E eu sou sua criação e eu duvido que ela irá permitir que você tire meu poder tão facilmente quanto imagina. Maggie parou de gargalhar e olhou para mim. — Sobre o que você está balbuciando? — Eu estou lhe contando, Maggie, que eu a vi, falei com ela. Nós subimos a Rua Hanover juntas na outra noite. Ela é a deusa patrona dos vampiros. Nós somos todos dela e eu, em particular, sou sua criação. — Você está demente —, Maggie sussurrou. — Nenhum pouco. Se você não acredita em mim, pergunte para Michael ou Devlin ou Justine. Eu tenho certeza que até mesmo Drake a viu. Eu alcancei a bolsa de agulhas de tricô de Justine e ignorei o fato de que minha tia recuou na sua cadeira, como se ela estivesse com medo que eu fosse atacá-la. Eu retirei um par de tesouras entre as bolas de linhas e da carreira de tricô inacabada de Justine. Puxando meu cabelo para cima, eu cortei uma longa mecha vermelha da parte embaixo onde não seria perceptível. Eu tinha lido sobre feitiços de incapacitação antes. Eu sabia que Tia Maggie iria precisar de algo meu, preferencialmente sangue ou uma mecha de cabelo, para trabalhar no feitiço. Essa foi provavelmente a única razão pela qual ela apareceu na porta da frente em primeiro lugar. Largando o cabelo no colo da minha tia, eu disse —, Se você teme e tem ressentimento que eu vá tão longe a ponto de você ficar contra uma deusa para atar meus poderes, então que assim seja. Eu me virei nos meus calcanhares e espreitei para fora da porta. Michael estava andando lentamente no vestíbulo, e sua audição de vampiro tinha captado cada palavra que Maggie e eu tínhamos dito. — Você acha que isso foi sábio? — ele perguntou. — Eu não sei se isso foi sábio ou não —, Eu respondi, apanhando minha capa e armas de onde eu as tinha largado mais cedo —, mas eu recentemente afirmei para Devlin que eu não achava que alguma bruxa fosse forte o bastante para atar meus poderes. Eu imagino agora que nós veremos. — Eu amarrei minhas lâminas e olhei para Michael. — Você se certifica que ela
chegue ao seu hotel em segurança? Ele assentiu. — Onde você está indo? — Para fora —, eu respondi tensamente —, antes que eu me esqueça que não sou má, e a coma.
Capítulo
M
ichael tinha a intenção de alugar uma carruagem para nos levar para dentro da cidade, e eu percebi, depois de ter saído intempestivamente da casa, que eu não tinha nenhum dinheiro comigo. Então eu caminhei. No momento eu desejei que pudesse andar direto para fora de Edimburgo e da Escócia juntos. Eu não mais me importava nenhum pouco, com o que aconteceria com Marrakesh e Tia Maggie. Eu parei e respirei fundo. Isso não era verdade; eu me importava. Havia vezes, como agora, quando o que nós, Os Justos, fazíamos me sobrecarregava, e eu desesperadamente precisava de férias, mas eu verdadeiramente adorava a vida que eu tinha feito por si só. Eu fazia uma diferença no mundo, e havia grande satisfação nisso. Eu não podia imaginar em viver como muitos vampiros viviam, com a eternidade estendida diante de mim e sem um grande propósito para ocupar meu tempo além da busca do prazer. O que eu fazia como um membro dos Justos era valioso. Eu servia ao grande deus e eu teria feito isso de um jeito ou de outro... mas nesse momento eu desejava que o grande deus fosse pro inferno e me deixasse em paz. Como sempre, isso não era possível. Eu estava passando pelos Greyfriars quando eu ouvi baixas vozes, vindo do outro lado da parede do cemitério. O portão ocidental estava bem na frente e eu parei nele, espiando através das longas sombras que se lançavam pelas lápides, e para dentro da escuridão mais longe. Os Ressurreicionistas
estavam trabalhando essa noite. Eles eram uns dois descarados e bastardos, eu daria isso a eles; mal eram nove horas. Eles estavam muito dentro do cemitério para que os humanos os vissem do portão, mas os assaltantes de túmulos não podiam se esconder dos sentidos aguçados dos vampiros. Eu podia vê-los e ouvi-los muito bem. O problema era, que eu não podia tocá-los. Oh, certamente eu não iria matá-los, mas, mesmo ofender um humano em solo consagrado estava pedindo por mais azar do que eu podia evitar agora. Eu teria que esperar até que eles deixassem o cemitério, mas seria recompensador. Se alguém, alguma vez, mereceu ser mordido, era alguém que escavava um túmulo, roubava o corpo, e depois vendia o cadáver para alguém como Dr. Knox. Eu marchei para o portão, e isso fez meu estômago remexer para saber que eu não podia fazer nada mais do que observar e esperar enquanto esses corruptos corrompiam o túmulo. Um movimento nas sombras captou minha atenção, justo a esquerda de onde os ladrões cometiam seu macabro trabalho. Eu sorri quando eu percebi o que era. Eu empurrei o portão escancaradamente e recuei para dentro das sombras na parede. Um baixo rosnado zumbiu pela noite, seguido por vários sons satisfatórios de gritos dos homens. Os Ressurreicionistas literalmente tombaram sobre si, tentando sair do cemitério e para longe do lobo selvagem que seguia insistentemente seus calços todo o caminho até o portão ocidental. Eu deixei o primeiro homem passar correndo por mim, mas alcancei e apanhei o segundo homem pelo seu colarinho. Seus pés voaram de debaixo dele enquanto eu o arrastava para trás e ele caía de joelhos na minha frente, gritando como um colegial. Eu estendi a mão e virei seu rosto para o meu. — Senhora —, ele pleiteou quando ele finalmente parou de gritar e prendeu sua respiração —, saia daqui. Há um lobo ali atrás! Eu sorri, sentindo meu canino se alongar e afiar na minha boca. — Eu sei —, Eu disse. — Agora olhe para mim. Ele olhou acima para dentro dos meus olhos, confuso, e eu soube o segundo em que eu o tinha enfeitiçado. Eu podia sentir como um suave clique na minha cabeça. Ele era meu agora e eu podia fazer o que eu desejasse com ele. Eu o puxei aos seus pés e puxei sua cabeça para trás em um ângulo
confortável. Normalmente eu era mais gentil do que isso, mas o homem ofendia meu senso de decência. Eu era um vampiro e eu respeitava a santidade do solo sagrado. Era muito a se pedir para humanos, também? Eu afundei meus dentes na suave pele do seu pescoço e gemi de prazer enquanto seu sangue inundava quente e doce a minha boca, abastecendo qualquer magia que me fazia vampiro. Eu bebi dele, não percebendo até aquele momento o quanto faminta eu estava. Seu sangue me encheu, convocando suavemente a escuridão dentro de mim. A magia negra gostava de sangue, mas eu firmemente a empurrei para baixo, como eu sempre fazia quando eu me alimentava. Os joelhos do homem cederam sob ele e eu me afastei do seu pescoço, percebendo que eu tinha tomado mais do que eu deveria. — Olhe para mim —, Eu disse. Seus olhos viraram para os meus atordoados e sem foco como aqueles de um bêbado. — Quando você acordar você irá direto para casa. Você não irá se lembrar de nada após você passar por esses portões. — Ele assentiu e eu me movi para encará-lo mais perto. — Mas agora isso, da próxima vez que você entrar no adro é melhor eles estarem carregando você dentro de um caixão, ou eu irei atrás de você. Eu fechei meus olhos e exalei suavemente, rompendo com a magia de vampiro que o tinha enfeitiçado. Seus olhos tremularam fechados, e ele mergulhou-se no que parecia ser uma bebedeira contra a parede do cemitério. A ferida no seu pescoço iria sarar antes que ele acordasse, e ele não iria se lembrar de nada exceto um lobo em um cemitério e uma aversão distinta de continuar sua carreira como um ladrão de cova. Algo se enfiou na minha saia e eu me virei, espiando o grande lobo pretoe-cinza empurrando gentilmente o meu vestido. — Oh, pelo amor de Danu —, Eu murmurei, espantando o nariz do lobo. — Tire seus dentes do meu vestido novo, Drummond. — O lobo deu vários passos para trás e sentou-se, sua língua pendurada para fora e o que pareceu ser um sorriso no seu rosto. Eu suspirei. — Drummond, já que você está aqui, eu preciso falar com você. O lobo se levantou e seu corpo pareceu estremecer, sacudindo até que fosse difícil discernir o que eu estava olhando. Um momento mais tarde
Drummond estava diante de mim, nu como o dia em que ele nasceu. Eu estalei meus olhos para o céu. — O odeio quando você faz isso —, eu disse. — Você iria preferir falar comigo com o casaco de pele? — Não —, Eu disse, tirando minha capa e balançando-a na sua direção. — O que você está fazendo aqui, de qualquer forma? — Eu perguntei. Eu ouvi o deslizar de tecido sobre a pele, e quando eu me virei de volta, Drummond estava decentemente coberto. Ele pareceu ridículo de pé ali aninhado na minha capa com seus pés descalços e pernas saindo por debaixo dela, mas era uma grande melhoria em ter que conversar com ele enquanto tentava impedir o meu olhar de vagar pelo sul. — Eu posso ter uma pista de quem o seu assassino seja —, ele disse. — Quem? Como você— Drummond negou com sua cabeça e me interrompeu. — Eu não quero lhe colocar esperanças. O que eu ouvi foram sons bastante improváveis, mas eu vou checar e informar. — Eu aprecio isso —, Eu disse. — O que era que você queria falar comigo? — ele disse. — Tia Maggie está na cidade —, Eu respondi severamente. — Você a viu? — Certamente que sim —, Eu disse. — E eu devo a você uma desculpa. Eu temo não ter sido uma boa atriz. Ela percebeu rapidamente que eu não estava surpresa com a sua chegada e ela soube que você veio até aqui para me avisar. Se você tiver sorte você irá apenas terminar com sua cabeça empalhada e montada na parede dela. Eu sinto muito, Drummond, especialmente depois de tudo o que você fez para nos ajudar. — Ah, não se preocupe —, ele disse. — Eu sabia que nunca me safaria disso. Alguém em Glen Gregor teria deixado escapar que eu desapareci quase depois dela ter partido. Mesmo se você se saísse bem com a sua fuga, ela teria descoberto isso. Eu estava com esperanças que todos nós tivéssemos ido embora, na hora em que ela chegasse aqui, entretanto, e ela teria toda a viagem para casa para acalmar seu temperamento. — Mais um dia e nós teríamos conseguido —, Eu disse. — Eu não
deveria estar surpresa. Nada mais saiu da maneira que eu quis, por semanas agora, então por que isso deveria? Você sabe do que eu preciso agora? — Vampiros —, Drummond respondeu. — Não, eu estou farta dos vampiros daqui. O que eu preciso é que Maggie vá para casa, para nós descobrirmos quem está atormentando a rainha e vê-lo sendo castigado, e para Michael e eu nos casarmos, e termos uma amável e longa lua-de-mel sem nenhum— — Vampiros —, ele disse novamente. — Exatamente! Drummond olhou sobre meu ombro e depois olhou de volta para mim e rolou seus olhos. — Não, sua lêndea, há vampiros atrás de você. Eu rodopiei, puxando a curta espada da sua bainha junto da minha coluna enquanto eu girava. Quando eu percebi que era apenas Aubert e Warden Ross eu exalei de alívio e guardei as armas. Virando de volta para ele, eu encontrei minha capa em uma pilha no chão e Drummond se foi. Para onde diabos ele tinha se ausentado agora? Exasperada, eu apanhei minha capa, a qual agora cheirava fracamente como cachorro, e me virei de volta para cumprimentar Aubert e Ross. — Eu vi o rei pouco antes do amanhecer —, Aubert disse. — Ele mencionou que você desejava falar comigo, mas você e seu cônjuge já tinham se retirado pelo dia. — Oh. Bem, eu desejava, mas a questão se resolveu sozinha essa noite. — Ele olhou para mim interrogativamente. — Minha tia estava para chegar à Edimburgo pela semana e eu estava com esperanças que você pudesse ter alguém olhando o porto para mim. Ela estava adiantada, entretanto, e chegou essa noite. Aubert negou com sua cabeça. — Os acontecimentos no porto parecem ser de grande importância para todos esses dias. Eu franzi o cenho. — O que você quer dizer? — Bel me pediu para notificá-la quando a Cruz de Sangue chegar a aportar. — Ela está deixando a cidade? — Eu perguntei. Ela tinha mencionado isso, mas eu não estava certa se eu queria alguém naquela casa partindo até que
nós estivéssemos resolvido completamente a situação aqui, mesmo se fosse apenas Bel. — Eu acho que não —, Aubert respondeu. — Ela pediu isso para mim logo quando que ela chegou à cidade. Sempre que uma frota de navios atraca, eu digo a ela. — Por que ela quer saber? Aubert encolheu de ombros. — Tudo o que ela me pergunta é o nome do navio. Eu assumo que alguém provavelmente está procurando por ela e ela não quer ser encontrada. — Isso é tão... estranho. — Todos nós temos nossos segredos, não temos? — Eu imagino que sim —, Eu murmurei, me perguntando se isso tinha algo a ver com o seu amor antigo. — Ela estava fora quando eu chamei na residência do rei quase agora. Se você a vir, você se importaria de dizer a ela que o Falcon aportou em Leith essa tarde? Eu assenti. — Eu irei. — Você está tendo alguma sorte pegando seu fantasma? — Warden Ross perguntou. — Não muito —, Eu respondi. — Ah, bem, você não é a única com queixas —, Ross disse. — Toda a cidade está numerosa com eles frequentemente. — Queixas ou fantasmas? — Eu perguntei petulantemente. — Ambos. É uma cidade velha e nós temos lugares que são conhecidos por serem assombrados, mas os malditos fantasmas parecem estar saindo da carpintaria recentemente. Um tremor subiu na minha coluna enquanto um pensamento nebuloso começou a se formar na minha cabeça. — Quanto recentemente? — Eu perguntei lentamente. Ross e Aubert olharam para mim, confusos pelo meu tom. — Eu não sei —, Aubert respondeu. — Os seis meses passados, mais ou menos. Oh, pederasta. — Desde quando a rainha ficou sob suspeita por matar
aquelas pessoas? Ele pensou sobre isso um momento e eu segurei minha respiração, silenciosamente orando para que eu estivesse errada. — De fato, sim —, ele disse. — Talvez um pouco mais de tempo. Eu exalei e inclinei de costas contra o portão de ferro do cemitério, arrasada, minha mente rodopiando. Peças e pedaços do que tinha estado acontecendo desde que nós chegamos à Edimburgo voaram pela minha cabeça. A maneira com que a casa cheirou a magia negra e uma erva usada em convocação dos mortos. A maneira com que a rainha tinha sido levada para cima no telhado contra sua vontade. Eu era uma idiota. Eu deveria ter percebido que nenhum mero fantasma poderia controlar um vampiro com a idade e poder da rainha. Eu apertei minha cabeça, pensando. A entidade na casa geminada na porta ao lado, tinha parecido vivo e morto para mim, mas não era um fantasma. Era algo muito mais perigoso do que isso. — Oh, pederasta —, Eu resmunguei. Aubert estendeu a mão para mim. — Você está bem? Eu pensei no fato de que Clarrisa tinha visto a rainha entregando o corpo no Surgeon Square, mesmo embora MacLeod tivesse jurado que ela estava com ele toda a noite. Isso me fez lembrar algo que Khalid tinha dito depois de nós encontrarmos as cinzas de Clarrisa. Se ela tentasse acobertar o que ela acreditava que fosse verdade, então ela temia que a Bruxa Vermelha dos Justos soubesse que ela era uma mentirosa. Não a verdade, mas o que ela acreditava que fosse a verdade. Eu achei que isso foi uma estranha utilização de palavras naquele momento, mas agora tudo se encaixava. Eu finalmente sabia como Khalid estava orquestrando toda essa coisa. Precisou da menção casual de Ross sobre o aumento de fenômenos fantasmagóricos para finalmente me fazer ver o que deveria ter sido óbvio todo o tempo. Eu agarrei Aubert pela lapela do seu terno. — Eu sei o que está acontecendo com Marrakesh. O lobisomem que estava aqui quando vocês chegaram, vocês dois podem encontrá-lo para mim? Seus olhos ampliaram. — Eu – eu acho que sim. — Localize-o, Aubert, e diga a ele que eu preciso dele na residência do rei
agora. Diga a ele que é questão de vida ou morte. Eu comecei a partir, mas Aubert agarrou meu braço. — Se há problema, nós devemos estar ao lado do nosso rei. — Não! — Eu disse com força, depois dei um longo fôlego e tentei novamente em um tom de voz mais razoável. — Você será uma responsabilidade. A última coisa que eu preciso é de mais vampiros. Ross negou com sua cabeça. — Por quê? — Porque —, Eu disse com medo na minha voz —, ele é um necromante.
Capítulo
E
u bati a porta da frente enquanto eu corria para dentro da casa. O som dela repercutiu pelo vestíbulo de mármore e me fez parar e dar uma apaziguada na respiração. Eu não queria alertar Khalid ou Hashim ao fato de que eu sabia de tudo, ao menos não até Drummond chegar aqui. Bel veio flutuando as escadas abaixo em um vestido de cor lavanda com cintura alta, um estilo popular por esse século. Era um vestido deslumbrante. As mangas regatas estavam fora do ombro e um firme laço de renda prata se erguia da borda das suas mangas, envolvendo-se ao redor das costas do corpete para que parecesse como se ela estivesse emoldurada em um arco de flocos de neve prateados. Seu cabelo negro estava puxado alto na sua cabeça em ardilosos cachos e seus olhos lavandas consideraram-me com curiosidade. — Onde estão todos? — Eu perguntei. — Eles estão ocupados e eu estou sozinha —, ela disse com uma expressão amuada. — Todos seus amigos saíram e MacLeod está sendo tedioso. Ele está trancado no quarto dele com a rainha, embora que possível diversão isso pode ser, eu não tenho ideia. Khalid e Hashim estão lá em cima no estúdio do rei e eu não tenho ideia para onde Drake saiu. Eu caminhei até ela e olhei dentro dos dois quartos de visita à direita da escada. Eles estavam ambos vazios. — Bel —, Eu disse —, você precisa sair da casa essa noite. — Você quer ir a um baile? — ela perguntou, esperançosamente. — Não, eu preciso que você encontre algum outro lugar para ficar essa
noite. Vá para um hotel. Ela sacudiu sua cabeça para trás, ofendida. — Eu não irei. Eu moro aqui. Você não pode apenas me ordenar que eu saia. — Confie em mim —, eu disse, cruzando o vestíbulo para checar a biblioteca, notando que alguém tinha limpado a bagunça deixada para trás da rixa de Michael e Drake. — Você não quer estar aqui essa noite. A biblioteca estava vazia também. — Onde está Drake? — Eu perguntei. Se Michael, Devlin, e Justine estavam fora, então Drake, por mais que eu não gostasse das perspectivas, era a pessoa com quem eu precisava falar. Ele podia lidar com o rei e a rainha. Eles não estariam contentes que Khalid, e sem dúvida Hashim também, tinha traído-os, e as notícias provavelmente seriam entregues melhor pelo Sentinela do Alto Rei do que por mim. — Eu disse a você, eu não sei onde ele está —, Bel disse, agarrando meu braço. — O que está acontecendo? — Nada com o qual você precise se preocupar —, Eu disse, extraindome do seu aperto. — Apenas aceite meu conselho e encontre outro lugar para ficar essa noite. A última coisa que eu precisava era Bel ficando no caminho do que ia acontecer aqui em breve. — Eu não vou a nenhum lugar até você me contar o que está acontecendo. Ninguém nunca me conta nada. Todos acham que eu sou obscena. Eu franzi o cenho com isso. — Todos acham que você é o que? Ela rolou seus olhos. — Você sabe... estúpida. — Você quis dizer obtusa? Ela sorriu. — Sim, isso. E eu não sou, você sabe, e se você não me contar o que está acontecendo em seguida, não apenas eu não vou partir, eu vou apenas seguir você por aí até eu descobrir por si só. O qual, conhecendo minha sorte, seria cerca da metade do caminho da luta que eu estava certa que era eminente. Contra meu melhor julgamento eu disse —, Eu descobri exatamente o que está acontecendo aqui, como tem sido
realizado, e quem é o fantasma – que não é um fantasma de verdade – é. Isso termina essa noite e você não quer estar aqui quando isso acontecer. Seus olhos se ampliaram e seu rosto, pela primeira vez, ganhou uma expressão séria e pensativa. Eu assenti. — Vá para um hotel essa noite, Bel —, Eu disse, e me virei para ir ao andar de cima. Talvez Drake estivesse no seu quarto. — Bem —, ela disse secamente. — A verdade é despropositada. Eu me virei para perguntar o que ela quis dizer com isso. A última coisa que eu vi foi um pesado guarda-chuva de bronze ser golpeado na minha cabeça.
Capítulo
O
cheiro de Michael encheu minhas narinas. Eu gemi, virando minha cabeça para que meu rosto pressionasse contra o tecido da sua camisa. — Ela está acordando —, Justine sussurrou. Minha cabeça se ergueu com o som da sua voz e eu olhei ao redor, confusa. Eu estava na cela de contenção de MacLeod no porão da casa junto com Michael, Devlin, Justine, MacLeod, Khalid, e Hashim. Eles estavam reunidos ao meu redor, seus rostos uma mistura de raiva, medo, e frustração. — Quanto tempo eu estive inconsciente? — Eu perguntei. — Umas duas horas —, Michael disse. — Tanto tempo? — Precisava de uma incrível força para deixar um vampiro inconsciente. Eu não teria pensado que Bel tinha isso nela. Aparentemente eu a julguei mal de muitas formas. Todos nós julgamos. — Você teria acordado antes, mas nós mantivemos você dormindo —, Eu ouvi Bel dizer. Michael me ajudou a me levantar, e eu me virei em direção ao som da voz de Bel. Bel estava no centro do lugar... e ela tinha uma longa adaga com uma perversa lâmina curva pressionada na garganta da minha tia. Eu olhei dentro dos olhos de Maggie. Ela não pareceu assustada; ela pareceu zangada. Um homem jovem, de talvez dezoito ou dezenove, estava atrás delas. — Bel, deixe Maggie ir — eu exigi.
— Oh, eu acho que não —, ela respondeu. — Eu sou aquela segurando a faca e você é aquela na cela. Eu dou as ordens agora. Nós estamos partindo de Edimbrugo na maré matinal, e se você tentar nos seguir eu matarei a humana. — Sua voz sustentava um forte, tom de comando, e todo o seu rosto tinha um novo olhar frio nele. Foi-se a expressão vaga que ela dominou tão bem ao passar dos últimos meses. Seus olhos agora brilhando com inteligência calculada. Ela era uma atriz incrível, mas eu fui uma tola por não ter visto através disso. A encenação da mulher indefesa era uma que eu usava muitas vezes para minha vantagem, embora eu fosse uma amadora comparada a ela. — Arrombe a porta —, Eu ordenei. Michael olhou para mim timidamente. — Nós não podemos. — Por que não? Eu não acredito que essa cela seja bastante forte para manter oito vampiros! — Porque eu ordenei que eles não tentassem fugir —, o garoto disse. Eu virei minha atenção para ele. — Necromante —, Eu cuspi. Ele assentiu. Ele era jovem, alto, e muito magro, como se ele não estivesse acostumado com refeições cotidianas. Seu cabelo preto estava desgrenhado e despenteado, caindo nos seus brilhantes olhos azuis. Seu nariz e lábios eram de uma aparência quase feminina, mas seu rosto estava salvo de ser delicado pela mandíbula quadrada e fortes maças do rosto. Ele era um garoto bonito que seria um homem bonito em outros vinte anos. Ele deve ter sido o jovem homem que Drummond tinha visto na rua, andando com Khalid. O fato de que nós vampiros não tínhamos sido capazes de vê-lo não tinha nada a ver com as complexidades do meu feitiço. O garoto tinha poderes sobre os mortos e ele não queria que nós o víssemos. Ele não podia controlar o que Drummond via, entretanto. Eu me perguntei brevemente se o necromante sabia que Drummond estava conosco e tinha, de propósito, permitido ser observado andando ao lado de Khalid na tentativa de lançar suspeita em direção ao tenente. Pelos deuses, a quantidade de poder que precisava para concluir tudo o que ele fez, era incrível, especialmente para um tão novo. Mas eu tinha poder por conta própria. Eu convoquei minha magia, senti-a erguendo dentro de mim. O necromante inclinou sua cabeça para um lado, como se ele a sentisse. Meu
poder se inchou como um pote pronto para transbordar. Eu suspendi minha mão em direção ao garoto... e nada aconteceu. O necromante sorriu. — Eu sou mais forte do que você. Não, eu pensei, ele não era. Eu tinha trabalhado com magia na sua companhia antes. Na casa geminada ele tinha sido poderoso o bastante para camuflar sua aparência, mas eu ainda fui capaz de convocar minha magia. Terror frio me apanhou, e eu me virei para Maggie. — O que você fez? — Eu sussurrei. Ela virou seus olhos azuis para mim. Eu nunca tinha visto nada além de confiança naqueles olhos, mas agora eles sustentavam arrependimento e, pela primeira vez desde que eu tinha acordado, medo. — Eu sinto muito —, ela disse com um sussurro estrangulado. — Eu trabalhei no feitiço de incapacitação e agora todos nós vamos morrer. Eu sinto muito. Eu não podia pensar sobre as implicações disso nesse momento. Com minha magia acabada a única esperança que nós tínhamos era mantê-los aqui até que Drummond chegasse. Eu virei minha atenção de volta para Bel. — Se nós fizermos como você pede e permitirmos que você deixe a cidade, o que será da minha tia? — Eu darei a você minha palavra que eu a irei libertar em Londres, ilesa —, Bel respondeu. Houve movimento nos degraus que conduziam à cela. Bel não tinha ouvido porque ela não estava esperando, mas eu estava. — Por que você faria isso? — Eu perguntei a ela, tentando manter sua atenção em mim. — O que você está pretendendo ganhar? — Sim, espero ouvir isso também —, disse uma voz masculina do vão da porta. Todos nós viramos, mas não foi Drum Murray que entrou no lugar. Era Christian Sinclair, capitão do Falcon e, de acordo com aqueles que achavam que O Templário era um mito e não um homem, o dono de toda a frota Cruz de Sangue. Ele não era alto, mas havia uma qualidade perigosa sobre ele. De fato, eu ouvi contos de mais do que um vampiro rebelde que ele os jogou da lateral do seu navio e os deixou ao acaso. Naquela vez que eu o conheci ele tinha sido
bastante encantador, mas ele não era um homem com o qual eu gostaria de cruzar. Ele estava vestido como você imaginaria que um pirata se vestisse, em bermudões pretos enfiados dentro de altas botas de couro, uma camisa creme, e um fraque vermelho com amplos punhos dobrados para trás e uma infinidade de tranças douradas. Havia uma espada e ao menos uma grande faca amarrada à sua cintura e ele carregava um chapéu de pirata enfeitado com uma grande pena carmesim de avestruz. Seu cabelo castanho estava na altura do ombro, espesso e reto, e ele usava brincos de argolas douradas em cada orelha. No momento seus calorosos olhos castanhos piscavam com irritação. Sua presença pareceu abalar Bel porque ela soltou a mão que segurava a faca enquanto ela silenciosamente observava-o. Maggie apanhou a oportunidade para tentar fugir, mas Bel travou no seu braço novamente, apertando, até minha tia parar de lutar. E todo o tempo Bel nunca tirou seus olhos de Sinclair. Havia saudade, descrença, e medo no seu rosto. Eu me perguntei agora se tudo isso poderia ter sido evitado se eu tivesse me lembrado mais cedo de contá-la que o Falcon estava no porto. — Capitão Sinclair, pare de se mover —, o necromante ordenou. — Tristan Mahone —, ele disse. — Seu pai está procurando por você. O rosto do garoto empalideceu com a afirmação de Sinclair. Não foi difícil imaginar que Bel provavelmente ofereceu a Tristan um jeito de sair de uma situação ruim se ele a ajudasse. MacLeod se empurrou para frente, vindo a ficar ao meu lado na frente da cela. — Sinclair, o que você está fazendo aqui? — ele perguntou. Os olhos do capitão travaram, nos de Bel. — Eu vim pela minha esposa —, ele disse. MacLeod olhou de Sinclair para Bel. — Filho da puta —, ele cuspiu, inclinando-se adiante e descansando sua testa pesadamente contra as densas barras de ferro. — O que? — eu perguntei. O rei respirou fundo e negou com sua cabeça. — A leal Belinda, ou Bel como ela tem se chamado, é a esposa de Sinclair. Senhoras e senhores, conheçam Belladonna, a Mortífera Flor do Caribe.
Capítulo
T
odos nós a encaramos, tendo dificuldade em reconhecer a mulher que nós viemos a conhecer com alguém que merecia tal codinome. — Ela quase trouxe as Fúrias para si, voltando ao final dos anos 1600 —, MacLeod disse. — O Alto Rei ordenou que elas investigassem alegações de que ela estivesse seduzindo homens em bordéis os quais ela era dona no Porto Royal, Jamaica, e matando-os. — Eu não imagino que ela fosse inocente? — Eu perguntei. MacLeod gargalhou. — Eu duvido disso. Mas houve um terremoto e dois-terços de Porto Royal junto com qualquer evidência contra ela, afundou dentro do mar antes que as Fúrias sequer deixassem o Continente. Bel sorriu. — Sim, isso foi um grande golpe de sorte —, ela disse. — Sinclair aprisionou-a na sua ilha depois disso, e o Alto Rei deixou a questão quieta —, MacLeod explicou. — Ela não deveria sair dali, Sinclair. O capitão sorriu pesarosamente. — Sim, bem, ela tinha outras ideias. — Porque vir aqui? — Eu perguntei. — Porque você iria com tudo isso para destituir a rainha? — Além do desejo de paralisá-la, eu verdadeiramente me perguntei a sua motivação. Sinclair era um homem bonito, e ele evidentemente se importava com ela ou ele não teria viajado todo esse caminho para encontrá-la. Quase como se ela pudesse ouvir meus pensamentos, Bel gemeu de frustração e empurrou Maggie em direção a Tristan. Maggie olhou para mim,
como se perguntando se ela deveria lutar com ela, mas eu neguei com minha cabeça e ela ficou imóvel. Com Bel na posse da sua lâmina e sem a ajuda eminente de nenhum de nós, eu não queria que Maggie fizesse nada para atrair atenção. — Você —, ela disse enquanto ela espreitava para o outro lado do lugar, balançando aquela perversa afiada adaga na minha direção. — Como você pode possivelmente entender o motivo pelo qual eu tive que fazer o que eu fiz? Você é tão nova, tão apaixonada. Talvez eu devesse matar você agora para poupá-la do problema. Michael veio a ficar atrás de mim, colocando suas mãos nos meus ombros. Bel gargalhou, e não foi um som bonito. — Ele irá partir o seu coração, você sabe. Ele irá lhe fortalecer e depois pedaço por pedaço ele irá despedaçar. — Não —, eu sussurrei. — Ele não irá. Ela negou com sua cabeça. — Eu vejo a maneira pela qual você olha para ele. Eu olhava para Christian dessa maneira, também, quando eu era nova e tola. Vocês estão apaixonados agora, mas isso não irá durar. Nunca dura. Um dia você irá notar que os olhos dele não se iluminam mais toda vez que você entra no quarto. E depois ele irá parar de dizer a você que você é linda. As vezes em que ele disser a você que ele lhe ama irão diminuir e se tornar mais espaçadas, até que ele nunca mais dirá isso. — Ela olhou de volta para Sinclair, mas ele simplesmente ficou ali, não fazendo nenhum esforço para agradá-la. Sorrindo amargamente, Bel virou sua atenção de volta para nós. — Você irá sentir falta das noites quando vocês costumavam deitarem-se juntos e conversarem sobre o futuro, ou sobre nada em especial. Você irá senti-lo escorregando para longe de você como água entre seus dedos e não haverá nada, nada, que você possa fazer para impedir isso. Antes de você perceber, sexo é tudo o que restou entre vocês e mesmo isso deixará você fria após a excitação, se perguntando se você foi um pouquinho melhor, se ele amaria você novamente? Você gastará dias, anos, tentando descobrir como e onde você perdeu o amor dele, e desejando com cada fibra do seu ser que você pudesse recuperá-lo. Isso despedaça qualquer mulher, perguntando-se o que ela fez de errado.
Finalmente Sinclair falou, e sua voz estava dura e zangada. — Se nossa forma de fazer amor deixa você tão fria, Bel, por que é que você gasta todo o seu tempo tentando me colocar na cama? Ela se virou para ele e disse em uma voz lisa, sem emoções. — Porque a única vez que eu sinto que você se importa comigo é quando eu estou nua. Sinclair afastou o olhar, e eu me perguntei quanto do que ela estava falando era verdade. Eu olhei dentro dos seus olhos, vi a dor ali, e eu genuinamente senti pena dela. Ela era a personificação de tudo o que eu temia sobre o futuro. Era assim que eu terminaria, também, se eu alguma vez perdesse o amor de Michael? Como se ele sentisse os efeitos que as palavras de Bel tivessem sobre mim, Michael pegou minha mão e seus dedos brincaram com o rubi do anel de noivado, o pequeno gesto me relembrou do seu amor. Não, eu pensei, ele e eu nunca iríamos por esse caminho. Nós não permitiríamos que isso acontecesse conosco. — Então qual foi o seu propósito em vir aqui, Bel? Ter a rainha colocada de lado para que você pudesse tomar o lugar dela? — Eu perguntei. — Porque não? — ela respondeu, indignada. — Pelo amor de Deus, mulher —, Sinclair cuspiu. — Ele é apaixonado por Marrakesh por quase seiscentos anos. Você achou que ele apenas se esqueceria dela e se apaixonaria por você? — Ele é um homem —, ela disse francamente. — Dê tempo suficiente que ele sentirá a necessidade de uma mulher novamente – e eu posso ser muito persuasiva. E quanto ao seu amor... — Ela pausou e olhou de volta sobre seu ombro para ele. As extremidades dos seus lábios tremeram enquanto ela disse —, Eu sempre irei amar você e apenas você, Christian. Eu não precisava que MacLeod me amasse. Eu só precisava de um lugar no mundo. — Seu lugar é comigo —, Sinclair vociferou. Ela rodopiou para ficar na frente dele, subitamente zangada. — Onde? Trancada à distância nas Ilhas Rose enquanto você navega por meses cada vez, deixando-me sozinha enquanto suas prostitutas de sangue compartilham da sua cabine?
Prostituta de sangue era um termo depreciativo para um humano, homem ou mulher, que regularmente alimentava o mesmo vampiro. Eu não podia imaginar a vaidade de Bel permitindo que Sinclair mantivesse uma. — Bem, eu tenho que comer, não tenho? — ele gritou. Eu olhei ao redor e todos os homens no lugar estavam olhando para Sinclair como se ele fosse o mais tolo vivo. Bel gritou e voou nele, enterrando a faca no seu peito. Ele olhou abaixo em choque e ela recuou, sua mão voando para sua boca como se ela não pudesse acreditar no que ela tinha acabado de fazer. — Você me apunhalou, sua megera sanguinária! — ele berrou. Seus olhos se estreitaram e ela esticou a mão e puxou a lâmina curva do peito dele, retorcendo-a um pouco enquanto ela retirava. — Se eu tivesse uma estaca, eu a conduziria pelo seu coração negro, seu pomposo asno —, Bel respondeu. Enquanto eles dois argumentavam eu tentei mais uma vez convocar minha magia. Eu até mesmo alcancei dentro da escuridão e tentei atrair o poder da magia negra, mas ainda assim nada aconteceu quando eu tentei libertá-la. Eu resmunguei em frustração e dor enquanto a magia lutava para se empurrar através da minha pele e falhou. Eu me virei para Maggie. — Se o feitiço de incapacitação funcionou, por que eu ainda sou capaz de sentir minha magia? — Eu gritei para ela. Ela arrastou seu olhar dos vampiros guerreando e se focou em mim. — Eu — eu não sei —, ela respondeu. Eu olhei para Tristan, que também estava absorto na desavença de Bel. Eu estava certa que o feitiço de Maggie era responsável, mas de fato, isso parecia menos como uma incapacitação e mais como algo interferindo no meu poder. Eu me perguntei se ele aprendeu como obstruir minha magia desde a última vez que nós nos encontramos. Ele era de verdade poderoso assim? — Eu rompi votos que eu fiz com Deus por você! — Sinclair estava gritando. — E você se ressentiu comigo desde então —, Bel gemeu. — Deixe-me relembrá-lo que eu nunca pedi para você rompê-los. Eu não
transformei você sem seu consentimento. Você veio até mim por sua própria e livre vontade! Bel saiu correndo para o outro lado do lugar e agarrou o pulso de Maggie, puxando-a para frente. — Nós estamos partindo —, ela disse, gesticulando a faca ensanguentada na direção da minha tia. — E se você tentar nos seguir, eu a matarei. Um baixo, inumano rosnado encheu o lugar e eu quase gritei de alegria enquanto Drummond descia tempestuosamente as escadas. Seus olhos estavam presos em Bel, e eu não queria estar no lugar dela por nada no mundo. Quando eu vi Drummond pela primeira vez naquele armazém em Londres eu não sabia o que ele era. Olhando para ele agora, eu não sabia como eu não entendi isso. Mesmo em forma humana ele parecia cada centímetro do lobo protegendo seu bando. — Tristan, impeça-o —, Bel exigiu. Tristan gritou para Drummond parar, mas o lobisomem continuou se movendo. Drummond sorriu um sorriso feroz, e seus dentes pareceram mais brancos e mais afiados do que os humanos deveriam. — Eu não sou um vampiro, garoto —, ele rosnou. — Você não tem poder sobre mim. Bel soltou o pulso de Maggie e recuou, erguendo a faca em posição de defesa. Talvez ela achasse que se ela soltasse Maggie, ele retrocederia. Foi um grande erro. Maggie correu na minha direção e Drummond se lançou para frente, seu corpo sacudindo enquanto ele corria até o homem se for e o lobo se mover para a matança.
Capítulo
E
estabeleceu-se um caos total, enquanto Drummond atacava Bel e eles dois foram voando em um borrão de berros e rosnados e de pelagem e seda lavanda. Sinclair estava gritando por sua esposa, e todos os vampiros na cela estavam se empurrando por uma posição melhor para assistir a rixa. Tristan tinha caído de lado, evidentemente esperando ajudar sua benfeitora, mas incerto do que fazer. Minha magia aumentou novamente, como se estivesse ansiosa por sair e juntar-se a briga. Eu soltei um gemido de dor e me virei para Maggie. — Pegue minha mão — eu clamei a ela. — Eu não acho que seja o seu feitiço, eu acho que é a necromancia dele que não deixa minha magia ser trabalhada por um corpo morto. Eu lancei minha cabeça para trás enquanto minha magia se empurrava para se libertar e uma gargalhada estrangulada escapou da minha garganta. Mesmo para mim soou assustadora, atada com dor e frustração. Maggie olhou fixamente para minha mão estendida e negou com sua cabeça. — Bel! — Tristan chorou e depois se virou para Sinclair. — Capitão, mate aquele lobo! Meu olhar oscilou para Sinclair enquanto ele puxava sua espada. Os olhos de Maggie alargaram-se e, incapaz de fazer algo para salvar a vida de Drummond, ela impulsionou sua mão através das barras e apertou a minha. No momento em que ela me tocou, meu poder correu para fora, através dela.
Seus olhos ampliaram-se e ela ficou paralisada enquanto a magia que tinha estado aumentando por tanto tempo dentro de mim, finalmente explodiu livre. Um ataque de poder surgiu através do piso como uma explosão trovejante. A porta da cela foi explodida completamente de suas dobradiças e todos do outro lado, exceto Maggie, foram surpreendidos pelo seu despertar. Bel e Drummond foram lançados para a parede distante, o impacto atordoando-os o bastante para parar a briga. A cabeça de Tristan fez um doentio baque enquanto colidia com a parede de pedra. Ele ficou deitado ali, inconsciente mais vivo, enquanto eu atravessava o enorme buraco que tinha sido uma vez a porta da cela. Bel lutou para se sentar, mas o lobo tinha se recuperado primeiro, seu focinho ensanguentado pairando meros centímetros acima da garganta dela. — Drummond —, Eu disse suavemente. — É o bastante. Ela está contida. O lobo olhou para mim, depois se virou de volta para Bel, estalando suas mandíbulas no rosto dela, depois caindo para trás para se sentar e observar. Algum lugar à minha direita Capitão Sinclair estava se erguendo do chão. Assim que ele recobrou sua posição ele correu para frente para cuidar de Bel, mas eu ignorei os dois. Ao invés, eu cruzei o lugar para ficar acima do corpo de Tristan. Eu não precisava procurar por pulsação. Eu podia ouvir seu batimento cardíaco de onde eu estava. Encarando o garoto, eu me perguntei o que nós íamos fazer com ele. Hashim pisou adiante, puxando a cimitarra da sua bainha. — O que você está fazendo? — Maggie exigiu. Ele olhou abaixo para Tristan e depois de volta para mim, como se eu fosse ficar ao seu lado nessa questão simplesmente porque eu era um vampiro. — Não se pode permitir que ele viva —, Hashim disse. — Ele é um perigo para todos nós. Maggie se virou para mim. — Faça algo! — ela exclamou. Eu não sabia o que dizer. Certamente eu não permitiria que Hashim matasse o garoto, mas ele tinha um motivo. Qualquer que fosse a solução que eu poderia encontrar, foi prevenida enquanto o som de madeira arranhando contra pedra atraiu nossa atenção.
Uma das prateleiras de vinho balançou para frente, e todos nós fomos surpreendidos (alguns de nós mais do que outros) quando a rainha emergiu da passagem atrás dela. MacLeod sorriu e foi para ela. — Meu amor —, ele disse, beijando-a na bochecha. — Quanto tempo você esteve ali? Ela sorriu para ele. — Desde que eles sequestraram você do nosso quarto. Eu estava esperando por uma oportunidade para ajudar, mas todos vocês lidaram com tudo muito bem. Hashim, afaste a espada. Nós não vamos matar um pobre garoto humano apenas porque ele foi tolo o bastante para cair no plano da maluca Belladonna. Tristan gemeu da sua posição de bruços no chão. — Matem-me —, ele grasnou. — Preferiria muito mais morrer... do que voltar para lá. Sinclair veio para frente com seu braço ao redor de Bel. Ela estava ensanguentada e seu adorável vestido e pele perfeita estavam arruinados, mas ela viveria. Drummond, ainda na forma de lobo, trotou junto dos calcanhares dela, esperando por ela dar uma razão a ele para afundar aqueles dentes afiados na sua carne novamente. — Seu pai —, Sinclair se voluntariou —, é o Reverendo Mahone da ilha da Jamaica. Naturalmente, ele acha que seu filho mais novo é um instrumento do Satã. Ele o está mantendo trancafiado por toda a sua vida. Eu não estou dando desculpas pelo que o garoto fez aqui, mas se vocês vivessem a vida que ele vive, vocês teriam aceitado quaisquer meios para escapar do que era oferecido a ele. — Seja como for, Sinclair —, MacLeod disse —, Eu não posso permitir que ele fique nas minhas terras, especialmente depois que eu vi em primeira mão o estrago que ele pode causar se ele desejar. — E se ele não estiver nas suas terras? — Tia Maggie perguntou. — E se ele estiver nas minhas? MacLeod olhou para ela e inclinou sua cabeça de lado. — Eu estou ouvindo. — E se eu levá-lo de volta para Glen Gregor comigo e lhe prometer que ele não colocará um pé fora das minhas terras novamente? MacLeod considerou-a por um momento, depois se dirigiu ao garoto. —
O que você diz disso, rapaz? Tristan olhou acima para Tia Maggie como se ela fosse a sua salvadora. — Sim —, ele sussurrou. — Tudo bem —, Hashim rosnou —, mas eu vou matá-la? Ele se virou para Bel, e Sinclair pisou na frente dela, retirando sua própria espada. — Sobre meu cadáver —, o capitão ameaçou. — Isso pode ser arranjado, também —, Hashim assegurou a ele. Khalid se moveu para ficar com seu irmão. — Não, apenas ela cometeu traição contra nossa rainha —, ele disse —, ela matou cerca de uma dúzia de humanos e a vampira Clarissa no processo. — Eu não matei ninguém —, Bel protestou. Drake interveio. — Alguém matou todas aquelas pessoas e fez parecer para nós como se a rainha tivesse feito. Se não foi o garoto, então tem que ser você. — Não fomos nós, foram os humanos —, Bel disse. — Nenhum de nós sabia disso, mas Tristan e eu estávamos na cidade bem antes de eu me apresentar na porta do rei. Nós estávamos ficando na White Hart Inn quando eu permiti que um homem me seduzisse a sua hospedagem. Eu achei que eu teria uma rápida prova do seu sangue e ficaria livre, mas o bastardo tentou me matar! Isso não funcionou, claro, mas quando eu percebi o esquema que ele e seu amigo tinham em mente eu pensei que eu pudesse usá-lo para minha vantagem. — Você honestamente espera que nós acreditemos em tal disparate? — Devlin zombou. Ao meu lado Drummond choramingou e, enquanto eu me virava para olhar abaixo para ele, seu corpo de lobo mudou. Em um piscar de um olho ele era humano novamente. Maggie e eu éramos as únicas que desviamos nossos olhos e coramos com a sua nudez. — Por mais que eu odeie admitir —, Drummond acrescentou —, ela está dizendo a verdade. Os nomes dos culpados são William Burke e William Hare, e eu tenho seus endereços escritos em um fragmento de papel no bolso do meu casaco —, ele disse, gesticulando para a pilha de roupas que tinha
parecido derreter para fora dele mais cedo quando ele trocou de forma. — Como você conseguiu tais informações? — Eu perguntei incrédula. — Como você disse, eu posso ir a lugares que você não pode. Eu também nunca fiz um juramento para proteger humanos —, ele respondeu com um sorriso feroz. Eu decidi que talvez eu não quisesse saber as particularidades. — Ela ainda matou Clarissa —, Khalid argumentou. — Eu não matei. Ele matou —, Bel disse, apontando para Tristan. Todos nós olhamos abaixo para o garoto. — Realmente, eu não matei —, ele respondeu com um olhar tímido na sua direção. — Ela está trancada no porão da casa ao lado. Bel estreitou seus olhos, claramente irritada que ele tivesse ido contra suas ordens, mas ela sabiamente manteve sua boca fechada. — Eu mesmo fiz a busca no piso térreo daquela casa —, Devlin disse com certeza. — Eu não vi a porta do porão. — Eu não queria que você visse —, Tristan disse. — É onde eu me escondia sempre que vocês entravam na casa. MacLeod assentiu. — Há um porão. O desenho das outras duas casas é exatamente o mesmo dessa. — Ainda há a questão da traição —, Hashim nos relembrou. — Deixe-a ir —, Marrakesh disse suavemente. — Minha rainha, você não pode estar falando a sério isso —, Hashim exigiu. Argumentos eclodiram por todo o lugar. MacLeod, eu percebi, estava em silêncio sobre a questão. Talvez ele conhecesse sua esposa melhor do que os seus tenentes conheciam. A disputa continuou por vários minutos antes que Marrakesh colocasse um fim no problema. — Seus crimes foram contra mim, e sou eu quem decidirá a sua punição —, ela declarou. — Eu rogo sua misericórdia porque ela é o que nós mulheres tememos nos tornar. — Ela se virou e olhou tristemente sobre seu ombro para Bel. — Uma mulher que ama um homem que não está mais apaixonado por ela. Leve-a de volta para a Ilha Rose, Sinclair, e mantenha-a ali dessa vez —, Marrakesh disse asperamente. — Anote-me bem, Belladonna, se você
alguma vez colocar os pés nas minhas terras novamente, eu mesma irei matar você. — De acordo —, Sinclair disse prontamente. — E você tem ambas as nossas sinceras desculpas pelos problemas que ela causou, não tem, querida? Ele apertou seu braço até Bel murmurar uma desculpa. Sinclair deve ter decidido que esse era o melhor resultado que ele poderia esperar porque ele avançou em direção à porta, puxando Bel junto com ele. Ela parou na minha frente, e ele pausou e virou para trás. Ela sorriu tristemente. — Apesar de tudo, eu gosto bastante de você, Cin. Você me lembra um pouco de mim mesma quando eu era jovem e o mundo era novo e cheio de promessas. Aproveite enquanto durar porque um dia você irá recordar esses anos, e saberá que faria tudo para tê-los de volta. Eles serão as memórias que manterá você aquecida à noite quando ele se esfriar. Não tema nada... haverá bastante tempo para temer mais tarde. Sinclair a puxou pelo seu braço e ela o seguiu, um olhar de silencioso desespero no seu rosto. Eu estendi a mão e peguei a de Michael, silenciosamente orando para que eu nunca tivesse que recordar esses dias e senti a picada da verdade nas suas palavras.
Capítulo
M
ichael e eu fomos casados na noite seguinte na Câmara de Presença do Rei das Terras Ocidentais. Justine e Devlin estavam conosco enquanto nós prometíamos amar e confiar um no outro pela eternidade. Não foi o casamento na igreja que eu achei que teria quando eu era humana, mas a cerimônia de vínculo era mais bonita do que algo que eu alguma vez sonhei em fantasias de colegiais. Justine tinha me presenteado com um vestido deslumbrante para a ocasião, uma cópia do vestido de casamento tardio da Princesa Charlotte. Por anos ela o manteve enfiado no fundo de um dos seus muitos baús, esperando por esse momento. Foi confeccionado de tule dourado e renda de Bruxelas sobre uma saia de tecido creme e tinha a mais longa cauda que uma mulher pudesse razoavelmente suportar. Era perfeito. Tia Maggie participou da cerimônia, embora Drummond permanecesse para trás no seu hotel, mantendo um olho em Tristan. Maggie não se desculpou pela tentativa de atar meus poderes, e eu não pedi isso a ela. Nós parecíamos ter chegado a um pacto não falado, ela e eu, e eu estava contente com isso. Na recepção eu sorvia champanhe e observei Maggie falar com Marrakesh. Quando a rainha pegou a mão de Maggie e a acariciou, eu notei que Marrakesh não estava usando suas luvas. Ela olhou sobre a cabeça de Maggie e seus olhos encontraram os meus. Talvez ela me contasse mais tarde o que ela tinha visto no coração da minha tia, talvez ela não contasse. Eu
estava muito certa de que eu já sabia. Toda Edimburgo estava movimentada com o falatório das prisões de Burke e Hare. Depois de Bel e Sinclair terem partido na noite anterior, MacLeod e Marrakesh tinham feito um passeio até a cidade, viajando em uma carruagem aberta para que os vampiros de Edimburgo pudessem ver sua rainha e saber que ela era, mais uma vez, uma força a ser considerada. Marrakesh tinha se arrastado para a hospedaria de Hare e o tinha convencido e à sua esposa sobre o fato de que se os humanos não os pegassem, ela faria com que seus nomes jamais fossem murmurados no ar da noite nas suas terras novamente. Ela disse então o que ela sabia dos crimes a um policial que estava envolvido com uma das suas damas da corte. Ambos os homens e suas esposas foram presos, e Jacques Aubert informou à rainha que o corpo da última vítima tinha sido descoberto na sala de aula de Dr. Knox. O bom doutor teria sorte se a máfia não o linchasse junto com os homens. Falando de linchamento, eu pensei enquanto Drake cruzava o caminho ao outro lado da câmara para mim. — Eu acredito que eu devo a você uma desculpa —, ele disse, de alguma forma desconfortável. — Você acha? Ele deslocou seu peso e rodopiou o champanhe ao redor da sua taça. Era difícil para um antigo rei se desculpar á um de nós, humildes peões, mas eu certamente não ia facilitar para ele. — Bel me fez perceber algo na noite passada —, ele disse finalmente. — E o que seria isso? — eu perguntei. — Que eu estava perseguindo você porque eu estava invejoso do que você e Michael têm. Elspeth e eu... nós estávamos apaixonados assim. Eu nunca irei me desculpar pela sua morte, e sentia rancor em ver você e Michael com a felicidade que uma vez eu tive, e perdi. — Então você achou que me seduziria e tiraria essa felicidade de nós? Drake sorriu. — Não foi um pensamento consciente – eu não sou um grande bastardo assim – mas sim, em algum nível talvez isso seja verdade. Por qualquer razão, eu sinto muito. — Desculpas aceitas —, Eu disse, sentindo que eu podia me permitir ser
magnânima no meu próprio casamento. — Eu acho que talvez viver perto assim de um poderoso necromante fez todos nós um pouco loucos. — Eu espero que isso seja verdade —, Drake disse, esfregando a ponte do seu nariz. — Eu me desculparia com Michael, também, mas eu acredito que vai precisar de um tempo antes que eu me coloque dentro de uma notável distância do seu gancho de direita novamente. Eu gargalhei. — Eu vou transmitir seus sentimentos —, Eu o assegurei. — Ah, eu acredito que nossa rainha esteja saudando você —, Drake disse. Eu assenti para Marrakesh e depois me virei solenemente de volta para Drake. — O que você tem a intenção de dizer ao Alto Rei sobre mim? — eu perguntei. — Que você é uma mulher muito perigosa —, ele disse honestamente. — E que nós somos sortudos que você está do nosso lado. — Eu felizmente iria ao Castelo Tara fazer minha reverência e assinar no Livro das Almas. — Eu o assegurei. Drake me considerou silenciosamente por um momento, como se incerto de como delicadamente frasear sua resposta. Ficou bastante óbvio pelo olhar no seu rosto que ele estava pensando sobre o que eu fiz no beco. Talvez ele até mesmo estivesse se perguntando se eu poderia fazer uma eficiente oferta pelo trono do Alto Rei, se eu escolhesse fazer algo assim. Finalmente, ele disse —, Eu acredito que seja o melhor manter você a uma segura distância, Cin. Ao menos por agora. Eu assenti extremamente desconfortável com o fato de que o Alto Rei pudesse acreditar que eu era um perigo para ele. Havia pouco que eu pudesse fazer para remediar a situação, contudo, então eu pedi licença e fiz meu caminho para o lado de Marrakesh. — Então? — Eu perguntei, acenando ao outro lado da sala para onde minha idosa tia estava flertando, descaradamente com Jacques Aubert e meu novo marido. — Eu estava esperando agradecer a você por toda a sua ajuda e ser capaz de remendar as coisas entre você e sua tia —, Marrakesh disse. — Tão ruim?
A rainha encolheu de ombros. — Ela tem medo do seu poder, mas eu acho que você já sabe disso. Eu assenti. — Ela é uma mulher complexa, sua tia. Ela nutre uma grande quantia de ciúmes. Eu franzi o cenho. — Sobre o que? — O fato de que sua mãe, como a mais velha deveria ter sido a Bruxa Macgregor, mas ao invés disso, ela se casou com seu pai e se mudou para a Inglaterra. — Mas Tia Maggie ama ser a Bruxa Macgregor —, eu argumentei. — Isso também é verdade. Eu acho que você de todas as pessoas, porém, sabe como é se perguntar como a sua vida teria sido se as coisas tivessem acabado como elas deveriam, ao invés de como elas foram. — Eu sei. Eu não teria mudado nada, mas o pensamento nos aterroriza de tempos em tempos. — Sua tia se sente basicamente da mesma forma. Ela também tem ciúmes de você, da sua magia, mesmo embora isso a assuste. Ela se pergunta como seria dominar tanto poder, e há uma parte dela que se recente do fato que você foi escolhida para dominar isso. — Porque eu sou um vampiro —, Eu afirmei. — Porque você era tão nova quando isso foi dado a você, e ela não acha que você teve que sacrificar nada por tal enorme dom. — Eu sacrifiquei minha vida —, eu protestei. — Eu sacrifiquei tudo que eu conhecia, para salvar aqueles que eu amava. — Ela vê apenas que você é jovem e bonita e poderosa, e você ainda será dessa forma quando ela estiver muito tempo na sua cova. — Como eu a faço entender? — Eu perguntei. — Você não faz —, a rainha disse. — Cin, por tudo o que eu contei a você, sua tia lhe ama. Uma coisa você irá aprender quando sua vida for tão longa quanto a nossa é que as pessoas raramente mudam. Se você vai ter alguém na sua vida, por tanto tempo quanto você puder tê-los, você pode apenas amá-los pelo que eles são. Aceite as qualidades e os defeitos e os ame por tudo isso. Se você espera que as pessoas sejam o que você quer que elas
sejam, e não quem de fato elas são, então você ficará desapontada repetidas vezes. Maggie é sua tia e os problemas dela são dela. Eles não foram causados por você, e eles não são seus para consertar. Aproveite o tempo em que vocês têm juntas e não se preocupe sobre as coisas que você não pode mudar. Por vários momentos eu olhei fixamente para o outro lado da sala para minha tia, pensando sobre o que Marrakesh tinha dito. Não era a resposta pela qual eu esperava, mas todos nós tínhamos passado por essa provação, ilesos – até mesmo Clarissa, que tinha sobrevivido às últimas semanas com sangue de açougue, iria em breve recobrar sua saúde – e eu não iria estragar a alegria dessa noite desejando por coisas que nunca seriam. Eu olhei de volta para a rainha. — Eu estou feliz de ter lhe conhecido —, Eu disse a ela. Ela sorriu. — Eu estou feliz de ter conhecido você, também. Eu quero lhe agradecer por ter acreditado na minha inocência. Se não tivesse sido por você, eu provavelmente estaria trancada no Castelo Tara e Bel estaria bem ao seu caminho para sentar no meu trono. Eu estremeci com o pensamento, muito contente que o Falcon tinha deixado o porto na maré da manhã. Eu não invejava Christian Sinclair na sua viagem para casa. — Se você me der licença —, Eu disse —, Eu preciso ir falar com minha tia. Eu quase tinha conseguido cruzar a sala para Maggie quando eu fui interceptada por Khalid e Hashim. Eu sorri para eles desconfortável, sentindo muita culpada que eu estivesse tão certa de que Khalid fosse responsável pelos ataques à rainha. — Nós queríamos agradecer a você por tudo que você fez por nossa rainha —, Khalid disse. — Não há necessidade —, eu respondi. — Eu acredito que eu devo a você uma desculpa por suspeitar da sua traição. Khalid negou com sua cabeça. — Você estava apenas protegendo Marrakesh, e nós respeitamos isso. Eu teria culpado você se você não tivesse suspeitado de nós. Assim que foi educado eu pedi licença aos gêmeos e fiz meu caminho
para o lado de Maggie. — Eu estou contente que você veio, Tia Maggie —, eu disse. — Eu perderia o casamento da minha sobrinha? — ela perguntou tendo colocado bastante brilho nas suas bochechas. — Um pouco estranho, se você me perguntar, mas se essa é a maneira pela qual seu pessoal faz as coisas... eu estou apenas feliz de ver você estabelecida. Minha vida era a coisa mais distante de ―estabelecida‖ possível, mas eu a agradeci mesmo assim. Maggie colocou sua mão na minha. — Eu quero que você saiba que eu não irei fazer mais tentativas de atar seus poderes. Eu inclinei minha cabeça ao lado. — Porque a súbita mudança no coração? — Eu perguntei. — Eu não tive uma mudança no coração —, ela disse, nivelando aquele olhar de ferro em mim. — Há escuridão na sua magia, sobrinha, não pense que eu não senti isso na noite passada. Eu ainda digo que seus poderes não são naturais, mas então, as coisas contra as quais você luta não são naturais, também. Eu acho que você precisa da sua magia apenas que seja para você fazer as coisas que você faz. Isso, eu soube, era o máximo que eu teria dela. Eu a abracei e, ela se enrijeceu em meus braços por um momento, antes de relaxar e me acariciar nas costas. — Obrigada, Tia Maggie —, eu disse. Alguém tinha movido o piano para a Câmara de Presença, e Aubert finalmente foi coagido a tocar para nós. Justine foi atraída ao instrumento como uma mosca à luz e logo sua voz soou em acompanhamento a música de Aubert. Michael veio atrás de mim e beijou a parte de trás do meu pescoço. — Oh, eu quase esqueci —, Maggie disse enquanto ela abria sua bolsinha. — Drummond me pediu para dar isso a você. Ele disse que você saberia o que significa. Michael contemplou enquanto eu desdobrava o pedaço de papel. Havia duas frases escritas nele:
Macmillian Parties, Corsário Saint Claire, vampiro templário — Oh, meu Deus —, Michael sussurrou. — O que isso quer dizer? — Eu perguntei. Macmillan Parties, Corsário, era o nome oficial da frota Cruz de Sangue, mas eu não entendi o que isso tinha a ver com a segunda frase. — É um anagrama —, Michael disse. — Você sabe que Sinclair é a bastardia do original Francês Saint Claire, certo? Bem, se você reagrupar todas as letras em Macmillan Parties, Corsário, o que você resulta é Saint Claire, vampiro templário. Eu me engasguei com meu champanhe. — Você está dizendo que Cristian Sinclair é realmente o próprio Templário? Michael sorriu. — Isso é o que eu estou dizendo. Eu neguei com minha cabeça, relembrando o quanto eu senti pena de Bel quando eu tinha pensado que ela tinha acreditado em um malandro fingindo ser O Templário. Todo esse tempo ela esteve casada com ele! Vir a pensar nisso, que o homem era um antigo monge certamente explicou muito. Ainda assim, você acharia que um monge aprenderia uma coisa ou duas sobre mulheres em quinhentos anos, agora, não acharia? Aubert começou a tocar uma valsa e Michael sorriu para mim. Mesmo agora, mais do que dez anos depois da sua estreia em Londres, a valsa ainda era considerada vulgar para muitas pessoas. — Minha linda esposa, eu posso ter essa dança? — Porque, certamente, marido —, Eu respondi e prendi a cauda do meu vestido sobre um braço antes dele me arrastar para a valsa. — Você acha que nós escandalizaremos minha tia e todos os vampiros mais velhos com tal dança? — Oh, eu espero que sim —, Michael murmurou, puxando-me mais perto. — Para onde você quer ir à sua viagem de núpcias, mo ghraidh? — Você me levaria para casa em Ravenworth? — Eu perguntei. — Eu quero dormir com você na nossa própria cama. — Ah, um dos meus lugares favoritos no mundo — a cama onde nós
fizemos amor pela primeira vez — ele disse, sorrindo para mim com um sorriso libertino. — Como eu poderia recusar tal oferta? — Eu prometo que será muito melhor do que a primeira vez —, eu disse — você não terá que me matar depois de tudo. O rosto de Michael ficou sério e ele sussurrou no meu ouvido enquanto ele me rodopiava na sala. — Você sabe, eu posso não ser nada mais do que um vampiro velho e rabugento, mas eu ouvi sobre uma nova invenção chamada de navio a vapor que pode nos levar por todo o caminho à Londres em apenas dois dias! Eu gargalhei e deitei minha cabeça no seu ombro. — Isso parece adorável — eu suspirei.
Continua em Bound By Cin.