ArteFato Ano 1 nº 01
Notícias de arte contemporânea e moderna em um só lugar
ArteFato | Sumário
A riqueza da fabulosa mente criativa de William Kentridge Por Paula Simões
01 Expressionismo: a arte sentimentos 02 dos Por Beatrice Teizen
A arte e suas infinitas possibilidades Por Guilherme Della Negra
03 Da Arte Conceitual a Meireles 04 Cildo Por LaryssaMaestrelli
Brincar com as palavras Por Amanda Cylke
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A indústria poética de Júlio Plaza Por Luciana Lima
As modernas pinturas de Kurosawa Por Paula Simões
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Mob 08 Flash Por Guilherme Della Negra 2
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Lucian Freud: Pinto o que vejo, não o que você acha que devo ver 09 Por Ana Cecília Simões
o sul 10 Mapeando Por Vivian Ito Duchamp e sua arte racional Por Beatrice Teizen
11 Tem algo de diferente aqui 12 por Por Amanda Cylke
Moda e Pop Art Por Vivian Ito
13 O avesso da Bossa nova ou o carnaval porta 14 sem Por Luciana Lima
Man Ray
Por Ana Cecília Simões
15 Política com uma de Pop Art 16 pitada Por LaryssaMaestrelli |
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ArteFato | Bastidores
Nos Bastidores Veja quem são os jornalistas que ajudam a compor a nossa equipe de profissionais que busca, todos os dias, o melhor da informação e da arte para você, nosso leitor!
Vivian Ito Jornalista e Editora-Chefe, graduação na PUC-SP [RA00069737]
Amanda Cylke Jornalista, graduação na PUC-SP [RA00115836]
Luciana Lima Jornalista, graduação na PUC-SP [RA00121111]
Paula Simões Jornalista, graduação na PUC-SP [RA00032128]
Beatrice Teizen Jornalista, graduação na PUC-SP [RA00115815] Guilherme Della Negra Jornalista, graduação na PUC-SP [RA00116515] Ana Cecília Simões Jornalista, graduação na PUC-SP [RA00119588]
LaryssaMaestrelli Jornalista, graduação na PUC-SP [RA00117512]
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Almanaque de Atualidades
ArteFato | Editorial
Modernizando o contemporâneo Estudando a linha histórica artística, constantemente nos pegamos tentando separar arte contemporânea de arte moderna. Afinal, o que é contemporâneo e o que é moderno? Há realmente uma diferença tão grande assim? Por definição, contemporâneo é o que, ou aquele que é do mesmo tempo, da mesma época em que vivemos. Não poderia ser algo mais amplo. Contemporâneo é história, presente e uma nova visão. A arte contemporânea é diversificação e ramificações. É pop art, Andy Warhol, anos 70 e cubismo. É a insatisfação da arte como ela mesma, é a procura por algo além. Arte contemporânea é a inserção de outras formas de se fazer uma obra, com vídeos, muros de tijolos, objetos aleatórios e até o corpo humano. Para todos os efeitos, a mãe da arte contemporânea, é a moderna. A arte moderna se refere a uma nova abordagem da arte em um momento no qual não era mais importante que ela representasse literalmente um assunto ou objeto. Ela se transformou em liberdade, fez com que a idéia de moderno começasse a tomar forma, os artistas passaram a experimentar novas visões, através de idealizações inéditas sobre a natureza, os materiais e as funções da arte, e com freqüência caminhando em direção à abstração. E como essas transformações alteraram nossa vida hoje? Oras, não fosse ambos movimentos, nós ainda teríamos a mesma percepção artística que nossos antepassados tinham no século XV: a ideia de reprodução da realidade. Não existiriam manchas, pontos, borrões e interpretações, você veria e entenderia o que o artista quis dizer. Afinal, disse Duchamp, um dos maiores artistas dadaístas que existiu, sobre a era de reprodutibilidade técnica: “Pode alguém fazer obras que não sejam de arte?”.
EquipeArteFato
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ArteFato | William Kentridge
A riqueza da fabulosa mente criativa de William Kentridge Por Paula Simões
Rhinoceros [Rinoceronte] 2007, construção com foamcore, cola, papel, carvão, páginas de enciclopédia, páginas impressas. 37 x 65 x 30 cm. Coleção do artista, cortesia de Marian Goodman Gallery, Nova York, e Goodman Gallery, Johannesburgo Crédito: William Kentridge
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William Kentridge é um artista sul-africano nascido em 1955, em Johannesburgo. Estudou ciências políticas e estudos africanos na Universidade de Johannesburgo antes de entrar na Johannesburg Art Foundation e se voltar para as artes visuais. Durante esse período, dedicou-se ao teatro, desenvolvendo e atuando em diversas montagens. Esse interesse pelo teatro e pela ópera indica o caráter dramático e narrativo de sua produção, assim como o interesse em sintetizar o desenho, a escultura e o filme em uma única linguagem.
Em sua produção artística de desenhos, gravura, esculturas e animações, Kentridge utiliza o próprio corpo para testar e transpor o movimento em suas obras. Ele se fotografa e filma para realizar um estudo da cena que mais tarde tomará forma nos desenhos para suas animações ou esculturas. Alocado na arte contemporânea, sua produção utiliza diversas mídias e tecnologias, como filmes, projeções e cilindros espelhados que refletem suas gravuras como uma projeção. Sua atuação como artista é desenhar, desenvolver protótipos das esculturas e dirigir seus filmes, sendo a maioria de seus trabalhos são realizado braçalmente por ele mesmo, mas em seu estúdio ele conta com uma equipe de produção capaz de transformar outras partes da criação de Kentridge em realidade, como edição e trilha sonora dos filmes e as esculturas maiores.
Rubrics [Rubricas] 2012, 14 gravuras com títulos individuais: serigrafia sobre papel. 37,5 x 50,5 cm. tiragem: 10. publicado pelo Artist Proof Studio 2012. Impresso por Cloudia Hartwig com o auxílio de Zwelethu Machepha. Coleção do artista, cortesia de Marian Goodman Gallery, Nova York, e Goodman Gallery, Johannesburgo Crédito: William Kentridge
A exposição Fortuna foi uma colaboração entre o Instituto Moreira Salles, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Fundação Iberê Camargo para a realização da primeira grande mostra individual do artista no Brasil. De acordo com a curadora Lilian Tone, a mostra partiu da premissa de que fortuna é direcionar o acaso àquilo que é fortuito, definição apropriada para o método de trabalho de Kentridge, onde para ele tudo que mais tarde poderá se tornar um desenho, gravura, escultura e filme começa dentro do estúdio, justamente por isso a organização do espaço expositivo é um convite para ingressar no estúdio do artista com a mistura dos múltiplos rumos que seu processo criativo pode direcionar. Por isso que próximo das exibições de seus filmes estão os desenhos, gravuras e esculturas daqueles mesmos personagens e imagens apresentadas na tela, promovendo a sensação de estar dentro do estúdio do artista, tanto do espaço criativo físico, quanto o de sua própria mente. William Kentridge é conhecido pelo seu trabalho em carvão, seus filmes são fotografias desses desenhos que ele apaga e transforma para compor o movimento das cenas, o processo desse trabalho é obsessivo, em que ele cronometra o próprio movimento para calcular em quantos desenhos o personagem vai realizálo. Fora o próprio ritmo de trabalho desgastante entre ir até a tela, desenhar e redesenhar, voltar à câmera e filmar, por isso ele leva cerca de nove meses para finalizar o trabalho.
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ArteFato | William Kentridge
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Felix in Exile (from Drawings for Projection) [Felix no exílio (da série Desenhos para projeção)]1994, filme de animação em 35 mm transferido para vídeo [cor, som], 8:43 min. Edição: Angus Gibson. Criação sonora: Wilbert Schübel. Música: Philip Miller, “Trio para cordas para Felix in Exile” [intérpretes: Peta-Ann Holdcroft, Marjan VonkStirling e Jan Pustejovsky]; Motsumi Makhene, “Go Tlapsha Didiba” [interpretado por Sibongile Khumalo]. Coleção do artista, cortesia de Marian Goodman Gallery, Nova York, e Goodman Gallery, Johannesburgo http://www.youtube.com/watch?v=vF5cngcXqSs Crédito: William Kentridge
Desenho para o filme Felix no exílio (da série Desenhos para projeção) 1994, carvão e pastel sobre papel 93 x 120 cm Coleção do artista Cortesia de Marian Goodman Gallery, Nova York, e Goodman Gallery, Joanesbugo
Outro destaque entre os trabalhos do artista é um flipbook, inédito para a exposição no Brasil, com desenhos dele mesmo em carvão nas páginas do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Neste trabalho o personagem Kentridge caminha pelas páginas do livro em passos reflexivos que fazem um paralelo com a própria narrativa da obra literária, onde Brás Cubas revive e questiona os acontecimentos vazios de sua vida. A temática desse tempo de reflexão sobre si mesmo, é recorrente em Kentridge, a exposição também possui filmagens que ele fez de si mesmo em seu processo criativo, no entanto o pensar em si do artista é mais trabalhar, moldar, transformar a sua própria obra e fazer o uso de si mesmo como modelo e experimento e não refletir paralizado e sem ação.
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ArteFato | Expressionismo
Expressionismo: a arte dos sentimentos O movimento passa em suas obras as emoçþes de seus autores Por Beatrice Teizen
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No início do século XX, na Alemanha, surgiu um movimento artístico que procurava a expressão das emoções e sentimentos do autor e não a representação da realidade, chamado Expressionismo. Seu principal motor é a angústia existencial e, no período pós-Primeira Guerra Mundial, refletia as temáticas da miséria e solidão. Era um relfexo da angústia que dominava os círculos artísticos do país. O maior objetivo do Expressionismo é potencializar o impacto emocional de seu observador, distorcendo assim, os temas. Ao contrário do Realismo, por exemplo, as emoções são representadas sem ter nenhuma relação com a realidade externa, mas sim, com a natureza interna e as impressões causadas no espectador. As obras expressionistas possuem cores fortes, em formas retorcidas e agressivamente compostas. O movimento foi desenvolvido predominantemente na Alemanha e formou importantes grupos de artistas, como Die Brücke e Der BlauerReiter. O primeiro destacou Nolde e Kirschner, dois artistas bastante comprometidos com as questões sociais e políticas da época. As obras do segundo grupo eram mais espirituais e subjetivas que as do primeiro, seus artistas pensavam que o significado de cada quadro dependia da percepção do observador. O movimento manifestou-se originalmente através de pinturas e era amplamente heterogêneo, criando assim, uma nova atitude e forma para as atividades artísticas. A arte passou a ser intuitiva e pessoal, onde a visão interior do artista predomina. Edvard Munch, Vincent Van Gogh, Paul Gauguin, Georges Rouault, Amedeo Modiglianie Marc Chagall são alguns dos artistas renomados do movimento. Much, conhecido por seu famoso quadro “O Grito”, usava a arte como uma arma para lutar contra a contra a sociedade. Os diversos momentos de dificuldade de sua vida deram significado às suas obras e transparecem toda sua fragilidade. Van Gogh também era rodeado de infortúnios. Não conseguiu constituir família e se sustentar e, ainda jovem, cedeu a uma doença mental que o fez cometer suicídio. Esses fatos o influenciaram a criar pinturas que refletiam seu turbulento universo espiritual Assim como surgiu, de certa forma, devido a Primeira Guerra Mundial, o Expressionismo foi tambémdestruído por causa dela, mas não extinguido. O movimento usa justamente os acontecimentos e as dores causadas pela guerra para retratar suas obras.
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ArteFato | Arte digital
A arte e suas infinitas possibilidades Uma vis達o sobre as novas fronteiras estabelecidas com a Arte Digital e os preconceitos que a rondam. Por Guilherme Della Negra
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Nos últimos anos a evolução da tecnologia veio a superar todas as expectativas. Cada vez mais ela se inclui em todos segmentos da vida profissional e pessoal. E, como era de se esperar, não seria diferente com a arte, porém, chegamos a uma situação um tanto complicada. Há aqueles que acreditem que arte não pode ser feita em uma tela de computador, ou com o uso de recursos tecnológicos. A arte não se trata somente da obra final, mas também de como foi feita. Todo o processo artístico que se envolve na criação da obra, acrescenta à obra. Podemos usar como exemplo, o quão vangloriados alguns artistas ficaram por pintar capelas, igrejas e quadros gigantescos, não só pela perfeição nos detalhes, como também por ser algo trabalhoso. Mas será que isso quer dizer que a arte digital é tão “preguiçosa” como todos falam, só por nos auxiliar com novas ferramentas? A arte digital é um novo jeito de fazer arte. Ela pode facilitar a superação de alguns obstáculos, mas também abre a porta para novos patamares. Já foram desenvolvidos vários acessórios para aproximar e evoluir o conceito de arte das novas tecnologias. Temos tablets que são usados como se fossem folhas de papel e são mais amigáveis a correções, ferramentas para obter todas as cores possíveis e imagináveis com o clique de um mouse, entre outros. Porém, temos a cultura de achar que só porque a arte digital não é algo definitivo (pode ser refeito), ela deve ser menosprezada. O que muitos não enxergam é que junto com a forma mais tecnológica da arte, vieram exigências e possibilidades cada vez mais complexas. Temos como exemplo a arte 3D que só pode ser criada pelo computador e é de uma grande complexidade. Para os artistas e também os apreciadores de arte digital, a realidade não é mais o bastante. Não estão atrás de verem o que poderiam ver em quadros, querem mais. O que proponho é que artistas digitais não têm mais o papel de copiar facilmente tudo aquilo que lhes foi ensinado ao longo dos anos. Estamos em tempos diferentes que nos aborda com conseqüências diferentes. O que indica que a arte digital não é uma simples evolução da arte tradicional e sim um novo segmento dela, que não pretende substituí-la. Aquilo que pode ser criado em uma escultura ou um quadro não pode ser comparado com o que pode ser criado em um tablet, ou em um modelo 3D digital. Cada um tem seu espaço e seus respectivos consumidores. Como exemplo, podemos citar artistas como Park Jong Won, Kevin Aymeric e Ian Mcquee que conseguem misturar a arte clássica com a moderna e criar efeitos que são amplificados por serem digitais, como a sobreposição de planos, a mistura de cores vibrantes em um mesmo local e o design fantasioso.
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ArteFato | Cildo Meireles
Da Arte Conceitual a Cildo Meireles AtravĂŠs da arte e criatividade podemos criar diferentes tipos de mensagens, ĂŠ isso que Cildo Meireles mostra com suas obras. Por Laryssa Maestrelli
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Na década de 60, começa o movimento artístico chamado Neoconcretismo, colocando o corpo e o público como objetos principais da obra. Cildo Meireles, nascido na década de 40, Rio de JaneiroRJ, é um artista diferente e bastante conceituado, um dos mais importantes artistas contemporâneos, se identificou com esse movimento, porém suas obras nunca apresentaram uma característica geral específica. Seus trabalhos eram relacionados à política, ciência e a percepção sensorial; Para ele não há uma definição exata do que é ou não a arte. O neoconcretismo trouxe a possibilidade de pensar além, não só apenas a arte como aspecto visual. Um de seus trabalhos principais foi Inserção em Circuitos Ideológicos, com duas abordagens - uma delas com a garrafa de refrigerante
Coca-Cola e a outra em Cédulas (Cruzeiros e Dólares). Cildo transferia para esses objetos frases críticas com caráter político, que eram censuradas na mídia, “Quem matou Herzog”, “Yankees go home!”. Criou também a escultura sonora - “ouvir o rio”. Em busca do som das principais bacias hidrográficas brasileiras para a construção sonora RIO OIR, criada a partir de jogo e articulação entre as palavras e conceitos. Juntou os diferentes áudios, para no estúdio, juntar os pedaços combinados ao perfeito som, “potencializando” nossa percepção entre o som e a imagem. Assim, surgiu um artista que consegue provocar diferentes expressões e pensamentos com suas obras direcionadas, além da beleza e criatividade, para um lado mais crítico e sério.
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ArteFato | Poesia concreta
Brincar com as Palavras Um apanhado sobre a poesia concreta, e de um de seus adeptos, para quem não sabe: Arnaldo Antunes Por: Amanda Cylke
Um misto de som, imagem, apelo visual e palavras: esta é a poesia concreta. Na década de 1950 criou-se a expressão “verbivocovisual”, que foi colocada em prática pelos poetas do grupo nomeado Noigandres: Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, José Lino Grünewald e Ronaldo Azeredo, desdobrando-se até hoje nos mais variados suportes e meios técnicos – livro, revista, jornal, cartaz, objeto, LP, CD, videotexto, holografia, vídeo, internet. O objetivo é trazer novas experiências e aflorar a sensibilidade de quem consome esta arte. É uma maneira de ultrapassar o âmbito literário da poesia. É dizer aquilo que não está escrito, mas desenhado, ritmado e, portanto nem sempre é preciso dizer muito para dizer alguma coisa.Os poetas concretos estabeleceram ligações entre a produção, a música contemporânea, as artes visuais e o design de linha-
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As coisas têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, duração, densidade, cheiro, valor, consistência, pro-fundi-dade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, destino, idade, sentido. As coisas não têm paz. As coisas – Arnaldo Antunes
um dos precursores no Brasil, e sua atuação no campo da performance, em que o próprio corpo do poeta participa do fazer poético.Em 2011, aliás, o autor participou do festival ibero-americano de poesia performática “2011 Poetas por Km²”, que aconteceu no Centro Cultural São Paulo (CCSP), e também apresentou seus experimentos na área da poesia digital, na mostra “Videopoéticas”, que teve a curadoria de ElsonFróes. gem construtivista. Reprocessaram elementos dessas artes em seus poemas e mantiveram extensa colaboração com artistas e designers, compositores e intérpretes, seja na esfera da música erudita, seja na da música popular, sem falar de outros poetas e críticos, tanto do Brasil quanto do exterior. Um dos praticantes da poesia concreta é Arnaldo Antunes. Poeta, compositor, cantor: ele gosta de fazer com que as palavras virem poemas, os poemas virem música, a música vire livro e os livros, vídeos. Tudo assim, um código, várias linguagens. O que ele gosta mesmo é de criar, independente do veículo e da forma que isso for ganhar. A jornada poética de Arnaldo começou em 1986, com a publicação do livro Ou e, composto de poemas caligráficos que exploram a dimensão visual das palavras, e logo seguiram outros, como Tudos (1990), As Coisas (1992, prêmio Jabuti de poesia), Nome (1993, trilogia composta de livro, CD e fita de vídeo), 2 ou + Corpos no Mesmo Espaço (1997), Et Eu Tu (2003, em parceria com a fotógrafa Márcia Xavier), Como é Que Chama o Nome Disso (2006) e N. D. A. (2010).
Já em 2012, Arnaldo Antunes participou da performance“Pedra”, juntamente com o artista visual FredericAmal, de Barcelona. O evento, que aconteceu simultaneamente no Brasil e na Espanha, com transmissão via internet, faz parte da programação da Anilla Cultural, promovida pelo Centro Cultural São Paulo em parceria com instituições iberoamericanas. Arnaldo Antunes busca a liberdade de elaborar uma poesia independente de qualquer coisa que não seja a sua própria vontade de escrever. Não se podeafirmar que ele siga apenas um estilo literário, mas que busque uma nova ruptura, renovando sua poesia, utilizando-se tanto da “tradição construtivista” quanto da “tradição lírica”. Música, literatura, poesia, corpo, palavras, letras, imagens. A poesia concreta está onde nem se imagina, está em tudo que se permita criar, viajar, brincar com os sentidos e apelos. É arte, é dinamismo, é isso.
Há muitas abordagens de poesia concreta no trabalho de Arnaldo Antunes, um dos autores mais inventivos da atual literatura brasileira. Mas vale a pena destacar suas intervenções na chamada “poesia digital” ou “eletrônica”, da qual é
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ArteFato | Júlio Plaza
A indústria poética de Júlio Plaza Obra no MAC-USP aborda a relação do artista espanhol com o museu paulista
Por Luciana Lima
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O artista verdadeiramente revolucionário não se enquadra em nenhuma ideologia, é com Júlio escrevendo esta frase numa lousa, com uma postura blasé, que somos recepcionados no terceiro andar da nova sede do MAC USP, que recebe o nome do artista. Júlio Plaza Gonzále foi artista, escritor, gravador e professor. Iniciou sua formação em Madri, na década de 50, onde cursou a École de Beaux-Arts (Escola de Belas Artes de Paris). Júlio desembarca no Brasil em 1967, para participar da 9ª Bienal Internacional de São Paulo, da integrando a representação espanhola. Seu destaque na Bienal de são Paulo é tanto que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil oferece uma bolsa para Júlio na Escola Superior de Desenho Industrial - ESDI, no Rio de Janeiro, onde o artista passa a estudar. Realiza em São Paulo com o editor Julio Pacello o LivroObjeto, em serigrafia com recortes, um exemplo típico da obra aberta, no final década de 1960-(68-69). De 1969 a 1973, Júlio passa a lecionar linguagem visual e artes plásticas no Departamento de Humanidades da Universidad de Puerto Rico, onde realiza esculturas nos espaços abertos do Campus, inúmeras serigrafias, e organiza o que foi provavelmente
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a primeira exposição de arte postal internacional: Creación, Creation, com a presença de cerca de 80 artistas de vários cantos do mundo Júlio radicou-se em São Paulo no ano de 1973, onde começou a atuar intensamente no meio acadêmico, se tornou professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP e da Fundação Armando Álvares Penteado - Faap. Em 1975, publica com Augusto de Campos os livros Caixa Preta e Poemóbiles. Sempre um estudioso das novas mídias e da teoria da arte, J. Plaza ainda publica livros sobre video-texto e a tradução intersemiótica, e também inúmeros artigos e textos com grande rigor, nos quais manifesta uma visão crítica a respeito dos rumos que o sistema das artes e do mercado vão tomando no passar dos anos. Podemos considerar Júlio como um artista vanguardista, que estava particularmente interessado na evolução da arte, e em novas formas de expressão.
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A exposição Indústria Poética enfatiza a contribuição do artista por suas ideias e ações junto ao cotidiano do Museu a partir de 1973, quando fixou residência em São Paulo. O protagonismo de Júlio Plaza dentro da história do MAC USP não se dá propriamente pela quantidade de suas obras guardadas no acervo do Museu, mas, sobretudo, pelo papel que o mesmo ocupou na Instituição ao lado de Walter Zanini, diretor do MAC USP entre 63-78. Júlio organizou duas emblemáticas exposições internacionais de arte postal: Prospectiva (1974) e Poéticas |Visuais(1977) e ao lado de Zanini conduziu novos sentidos para a arte dos anos 1970 e também para as funções de um museu de arte naquele contexto. Entre as obras podemos destacar uma obra datada de 1974, sem título, que consiste em um livro, que não possui páginas, somente um buraco, onde nele são depositados inúmeros pregos. Da fotografia e do vídeo à telemática, passando pelo videotexto e a holografia, a investigação artística de Plaza questiona o trabalho da percepção e os limites dos dispositivos tecnológicos de tradução na arte. A mostra, com curadoria de Cristina Freire, fica em exibição até o dia 27 de julho de 2014, às terças das 10 às 21 horas e de quarta a domingo das 10 às 18 horas, na nova sede do MAC- USP, com entrada franca.
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ArteFato | Paula Sim천es
As modernas pinturas de Kurosawa
Por Paula Sim천es
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Antes de realizar filmes, o cineasta japonês Akira Kurosawa (1910-1998) sonhava em ser pintor. Com um exímio talento para a área, aos 18 anos suas pinturas foram admitidas na Nika Art Exhibtion. Foi apenas em 1936 que ele ingressou na indústria que o traria reconhecimento e distinção, quando aceitou uma proposta para trabalhar como assistente de direção em Tóquio. Kurosawa escreveu e dirigiu diversos filmes, entre eles Os sete samurais (1954), Ran (1985), Sonhos (1990) e o premiado Rashomon (1950), seu primeiro grande trabalho que o tornou conhecido no cenário internacional. O filme que descreve um estupro e assassinato através dos relatos de quatro testemunhas, incluindo o próprio criminoso, lhe rendeu o Oscar de melhor filme estrangeiro. O talento de Kurosawa para o desenho não foi esquecido com o rumo profissional que tomou no cinema, essa habilidade continuou sendo exercida na realização dos storyboards nas pré-produções de seus filmes. Os desenhos espelhavam a imaginação do cineasta sobre a composição das cenas e a atuação dos personagens de maneira precisa ao que tinha em mente.
Modernismo A relação do cineasta com o modernismo , que foi um movimento artístico que se espalhou para as diversar àreas do cenário cultural com o intuito de quebrar padrões e apresentar um trabalho fora das barreiras realistas, se apresenta em seus sets minimalistas através de sua preocupação em captar a emoção e a sensibilidade. Esse reflexo de sua admiração e conhecimento da arte moderna, ajudou-o a balancear as complicações de filmes falados através de imagens mais simples. Em uma de suas produções, Sonhos, essa relação com o movimento é mostrada ao retratar Van Gogh, interpretado pelo cineasta Martin Scorcese, pintor pós-impressionista pertencente ao modernismo. Como o filme foi baseado em sonhos reais que Kurosawa teve ao longo de sua vida é possível perceber que a pintura moderna sempre esteve enraizada no diretor. Em seus storyboards as pinceladas fortes, o contraste das cores e as imagens difusas são características do pós-impressionismo, como Cézanne e Toulouse-Lautrec. Em 2009, um site japonês disponibilizou mais de 20 mil arquivos digitais relacionados ao diretor (http://www.afc. ryukoku.ac.jp/Komon/kurosawa/index.html).
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ArteFato | Flash Mob
Arte em Movimento Conhece uma das mais novas formas de se expressar artisticamente por meio das pessoas? Não? Nós conhecemos. Por Guilherme Della Negra
Talvez, um dos tipos mais diferentes de arte contemporânea seja o Flash Mob que, em teoria, é a movimentação de várias pessoas para um determinado local com o intuito de realizar um ato único que foi previamente ensaiado, ou combinado e logo após o seu acontecimento, as pessoas se dispersam tão rapidamente quanto se juntaram. Porém, este movimento artístico pode ser um pouco conflitante para alguns, pois estamos acostumados com o tipo mais clássico de arte, aquele que foi feito para durar e ser apreciado por anos e mais anos. Por outro lado, a arte contemporânea trouxe esta nova visão de que nem tudo precisa ser único para ser inesquecível, contanto que a mensagem que queiram passar, seja passada. Com isso dito, podemos começar a entender o real propósito de um Flash Mob, que podem variar de um protesto, até uma simples brincadeira para movimentar a vida de pessoas desconhecidas. Como exemplos, podemos citar o protesto que foi feito na Rússia em 2003, onde várias pessoas se reuniram em volta de um caixão, de mãos dadas, para representar a morte da democracia, ou quando um grande grupo de pessoas da Bielorrússia se reuniu para ficar tomando sorvete próximo ao centro da cidade com o intuito de desafiar o governo contra a lei que tinha sido aprovada e visava a proibição de manifestações. No último caso, houve pessoas que foram presas pelo simples fato de estarem tomando sorvete. Com isso podemos ver como o movimento pode variar de um gesto mais arquitetado e simbólico à um simples ato cotidiano. O que conta é a junção de várias pessoas engajadas a cumprir um objetivo, criando uma harmonia que até os menos desconfiados perceberiam. Afinal, mesmo sendo algo simples, quem não estranharia ver todas as pessoas a sua volta tomando sorvete ao mesmo tempo? Como toda a arte, temos o núcleo voltado para a crítica social e política, como também temos o núcleo voltado para o entretenimento e a beleza da obra em si. Em sua maioria,
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os flash mobs focados em entretenimento, são os de maior destaque. Com a intenção de dar uma mexida com o cotidiano das pessoas, normalmente são realizados no meio da cidade e preferencialmente no horário de rush. Alguns são famosos e contam com a participação de vários cidadões, enquanto outros são fechados. Como exemplos podemos citar o Zombie Walk, que consiste em uma caminhada com várias pessoas vestidas de zumbi em meio a Avenida Paulista e o famoso No Pants Subway Ride, que acontece nos EUA onde um grande de grupo de pessoas que foram previamente avisadas tiram as calças no meio do metro, sem mais, nem menos. O diferente desta arte é a sua nova maneira de lidar com o espectador. É uma arte focada totalmente em como o espectador irá se sentir e refletir sobre aquilo, já que muitas pessoas só irão ouvir falar, ou não irão entender diretamente do que se trata, mas definitivamente é um novo jeito criativo de usar a arte não só para encantar, como também para movimentar pessoas.
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ArteFato | Lucian Freud
Retratos da essência “Pinto o que vejo, não o que você acha que devo ver” Por: Ana Cecília Simões
Lucian Freud
Lucian Michael Freud nasceu no dia 8 de dezembro de 1922, em Berlim, e é conhecido como o neto de Sigmund Freud. Sendo filho de pais judeus, sua família decide, em 1934, fugir do antissemitismo nazista e parte para Londres. Estudou por um curto período de tempo na Central School of Art em Londres, depois na Cedric Morri’s East Anglian School of Painting and Drawing em Dedham, e também estudou na Universidade londrina de Goldsmiths no período de 1942 a 1943. Sua primeira exposição foi em 1944, na Lefevre Gallery. Lucian Freud é um dos maiores pintores figurativos contemporâneos e reconhecido como um dos mais importantes realistas do século XX. Suas obras se resumiam em retratos de pessoas de qualquer idade, profissão, estatura, porém só escolhia pessoas que o interessavam, por isso utilizava várias vezes a mesma pessoa para pintar. Olhando para suas obras vemos que sua característica principal era trazer para a tela traços fortes, expressões frias e tristes e muita nudez. Aliás, o nu que o artista trás não esconde os defeitos dos modelos, muito pelo contrario, parece que ele os realça, fazendo um retrato nada sensual das mulheres ou homens que pintava. ”Jovem num vestidoverde”
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Diferente de muitos pintores contemporâneos, ele não pinta seus retratos a partir de fotos e sim da observação, uma das características mais marcantes do pintor. Segundo alguns críticos e jornalistas, como Paulo Paste, o componente mais contemporâneo que temos do artista é a captação da solidão humana. As pinturas retratam os modelos sempre fechados em um quarto, sozinhos e com expressões fortes. É possivel captar pelo olhar o desespero, angustia e a solidão que sentem. Era um artista que demorava muito tempo para terminar suas obras, ele vivia para isso. Utilizava tinta a óleo, e entre uma pincelada e outra, limpava os pinceis, fazendo com que as cores não se misturassem, ou seja, mantendo a cor real nas telas. A exposição “Corpos e rostos” exibida no MASP trás os 60 trabalhos de Lucian Freud e também 28 fotografias dos bastidores do seu trabalho, feitas pelo seu fiel assistente, David Dawson. Apresenta dois momentos marcantes da vida do gravurista, sendo o primeiro na década de 40 (início da sua carreira) e o segundo na década de 80, quando realiza grandes obras.
”Moça com folha defigo”
Obras: No começo da exposição depara-se com as obras, “Moça com folha de figo” e “Moça na cama”. É a mesma modelo nos dois retratos, denotado por seus olhos grandes e apreensivos. A pintura “Jovem num vestido verde” trás como modelo uma de suas ex esposas. O retrato fechado sobre o rosto da modelo, mostra o método muito utilizado pelo artista, onde chegava muito perto dos detalhes e mostrava as imperfeições, angustias e personalidade. Há várias obras com traços do simbolismo, como “Jovem com rosas” que trás como modelo, Kitty Garman. Ela estaria grávida, porém não está explícito na obra, a rosa nos faz entender isso. A pintura “Jovem nua com ovo” também trás o simbolismo: o ovo representa um símbolo de fertilidade. O pintor morreu em 2011, aos 88 anos, tendo sido reconhecido como um dos grandes artistas do século XX. O diretor do grupo de galerias britânicas Tate, Nicholas Serota, reconheceu a genialidade e originalidade de Lucian declarando, “a vitalidade da nudez, a intensidade de suas naturezas mortas e a presença de seus retratos garantem a Lucian Freud um lugar único no panteão da arte do século XX tardio”. “Jovem nua com ovo”
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ArteFato | Mapeando o Sul
Festival Videobrasil: Uma conexão entre países e arte contemporânea Por Vivian Ito
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“Panorama do Sul”, não podia existir título melhor para a Mostra Competitiva do 18º Festival de Arte Contemporânea Videobrasil. Pois reflete o caminho e a proporção que o festival tem tomado, além de reafirmar seu foco no Sul geopolítico (América Latina, Caribe, África, Oriente Médio, Europa do Leste, Sul e Sudeste asiático e Oceania). Na mostra, visões e ideais políticos e culturais se transformam em expressões artísticas que essa região tem em comum. De acordo com Solange Farkas, criadora e curadora chefe do Festival, o foco do festival é a inclusão dos artistas de arte contemporânea no circuito artístico dessa região. Masesta visão nem sempre foi a missão principal do videobrasil e fica claro para todos os que visitam a segunda mostra presente no festival, intitulada “30 anos”. Uma retrospectiva das três décadas que o festival comemora este ano. A instalação é composta por 243 telas com 16 horas de projeção e propõe uma imersão nas mudanças que o evento teve ao longo de sua existência. A partir da exposição, podemos dividir esta história em quatro partes. A primeira retoma a criação do projeto em 1983, quando o principal objetivo do Festival era incorporar os vídeos à televisão. “A comercialização do vídeo estava começando e ao mesmo tempo estávamos em um momento de redemocratização no país. Então, começamos com essa perspectiva romântica de entrar na grade da televisão brasileira.” Enquanto o país passava por processo de abertura política, jovens como Fernando Meirelles, Marcelo Tás e Marcelo Machado do Olhar eletrônico e Tadeu Jungle, Pedro Vieira e Zé Celso Martinez do TV Tudo tentavam criar uma abertura na programação televisiva. “Tentávamos construir um lugar na programação da televisão, até que percebemos que podíamos ir além”, relembra Farkas. A segunda fase começa a partir desta reflexão e passa à dimensão internacional, com foco no Sul Geopolítico. Marcada por uma mudança de perspectiva, esta fase passa a ter uma maior experimentação da linguagem e utiliza o CD-ROM na concepção de trabalhos interativos. Até então, o festival ainda tinha resquícios da primeira
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ArteFato | Mapeando o Sul
fase, quando a televisão ainda era um anseio e os vídeos tinham traços documentais. Mas foi no início da terceira fase, mais especificamente, na 15º edição em 2001 que a arte visual passa a compor as instalações e dá uma nova característica ao festival. A partir desta nova proposta, o festival passou a adquirir um caráter cada vez menos documental. Em 2011, inicia-se a quarta fase que continua até os dias de hoje. Este último momento se caracteriza por utilizar suportes que vão além do vídeo. “É aí que começa a mudar a história do festival e do vídeo. Abrimos para outras perspectivas e demos novas referências para os artistas”, explica Farkas. Na Europa e nos Estados Unidos, a produção visual começou muito antes, mas não faria sentido misturar nossas produções já que a origem da história do vídeo nesses lugares era completamente diferente do Brasil. “Nesses lugares a plataforma já nasceu na arte, nós migramos para ela”, explica a curadora. Provavelmente se tivéssemos unido aquelas produções com as nossas, acabaríamos reproduzindo muito do que não é nossa história ou nossas características. Essa decisão do Festival Videobrasil, de montar uma rede de conexões de artistas do eixo sul, foi fundamental para o desenvolvimento dos nossos artistas a partir do ponto de vista da cultural do sul. De acordo com a curadora, “nossos artistas descobriram que o vídeo é como um camaleão. Nós conseguimos nos apropriar do espaço de galeria e relacionar sua arquitetura com a performance e o corpo”. Mas, isso apenas com relação à produção, porque o que Farkas planejava desde o começo era chamar a atenção do circuito de arte internacional para uma programação a qual não tinham acesso. O festival funcionou como a relação de inserção de artistas daqui com um sistema maior. Com os curadores e programadores de outras instituições culturais, porque este circuito se deslocou para o Brasil em uma época que o país ainda estava relacionado ao estereótipo de miséria. O Videobrasil não muda apenas a história do vídeo, mas também da arte contemporânea que temos hoje, onde está integrado.
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A televisão em 1983 “Artistas da época queriam conquistar seu lugar na televisão para mostrar a cara do povo brasileiro. Esse era um ideal político, mas utópico. Os vídeos que tínhamos na época não seriam absorvidos pela programação televisiva porque tínhamos apenas canais abertos e não públicos. A TV cultura era pública, mas era muito comprometida com o Estado. Não existia tv segmentada ou tv a cabo, que absorvem esse tipo de produção, por não possuírem parques de produção. Os outros canais não tinham o menor interesse porque estavam bem preparados para transmitir e produzir material próprio, o que não justificava a compra de outros vídeos”. Solange Farkas
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ArteFato | Duchamp
Duchamp e sua arte racional O artista fazia o observador refletir sobre a obra Por Beatrice Teizen
Arte conceitual e readymade: duas características do pintor francês Marcel Duchamp. Nascido na cidade de Blainville, em 28 de julho de 1887, frequentou a Academie Julian, em Paris e começou sua carreira criando pinturas de inspiração romantista e impressionista. Autor das obras “O rei e a rainha cercados de nus” e “Nu descendo a escada”, de 1911 e 1912, o francês é classificado como um artista do cubismo e do futurismo. Seus quadros e obras são simultaneístas que analisam o movimento e o espaço, além de se destacarem por seus títulos. A pintura “O rei e a rainha cercados de nus” sugere um rápido movimento de duas figuras humanas. Já o “Nu descendo a escada”, apresenta uma sobreposição de figuras, também de aspecto humano, em uma linha descendente, da esquerda para a direita, sugerindo assim, uma ideia de movimento contínuo. Quando criado, o quadro foi criticado pelos cubistas que não o entenderam e julgaram como irônico, dentro da proposta do movimento. Entre os anos de 1913 e 1915, o pintor elaborou o conceito “ready made”. Ele usava objetos encontrados já prontos e ascrescentava detalhes e dava nomes interessantes. Duchamp transportava elementos da vida cotidiana, que antes não eram reconhecidos como arte, para o mundo artístico. Começou como uma brincadeira, depois, o artista passou a incorporar material de uso comum em suas esculturas. Ao invés de trabalhá-los, pintá-los etc, Marcel os considerava prontos e os exibia em exposições de arte. A obra que lhe deu fama e fez seu nome repercutir ao redor do mundo, mesmo após sua morte, foi “A Fonte”. Era simplesmente um urinol, da marca R Mutt, branco e esmaltado, de fábrica. Duchamp o colocou para figurar entre diversas obras de arte em um concurso nos Estados Unidos, mas a peça acabou sendo rejeitada pelo júri, pois, para eles, não havia nenhum sinal de labor artístico na escultura. O francês, que convivia com diversas pessoas influentes no meio artístico norte-americano, tinha um modo boêmio de viver e suas obras, de certa forma, transpareciam isso. Em um momento de alucinação, criou a figura de “Madame Rrose Sélavy” e a lançou-a para a cena artística nova-iorquina. Era o próprio Duchamp, travestido de uma mulher cheia de ironias e apaixonada por trocadilhos, características essas oriundas da personalidade do pintor. Esta personagem também podia
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ser considerada como um trabalho de ready made, uma vez que era uma espécie de transfiguração artística de uma personalidade real de Marcel. Além de ser artista, Duchamp era um exímio jogador de xadrez e dedicava boa parte de seu tempo ao jogo e ao estudo dele, principalmente no ano de 1957, quando se mudou para Nova York. Influenciado pelo xadrez, dedicou-se também ao estudo da “quarta dimensão”, o que acabou ajudando-o a orientar-se em sua criatividade e trajetória artística. O pintor francês era conhecido por sua intenção de se afastar da arte comum, era contra a arte que “agradava a vista” e a favor de uma arte mais racional, na qual os aspectos intelectuais do labor artístico eram ressaltados. Retomando mais uma vez o conceito de ready made, percebe-se sua tentativa de escapar da “arte da retina”, aquela que agrada aos olhos, pois esta forma de arte confronta o público, forçando-o a pensar e refletir sobre o que está observando. Era uma forma de protesto contra a obra de arte “sacra”. Marcel Duchamp deixou um legado importante ao mundo, depois de seu falecimento em 2 de outubro de 1968. Foi proporcionado ao Dadaísmo, ao Surrealismo, ao Expressionismo abstrato e à Arte conceitual novas experimentações artísticas. Duchamp tentava relacionar sua vida às suas obras de arte. Giulio Carlo Argan, crítico e historiador de arte, soube bem exemplificar essa característica: “...Talvez a obra de Duchamp alquímica por excelência seja toda a sua vida, que serve de modelo para todas as novas vanguardas do segundo pós-guerra, do ‘New Dada’, às experiências de recuperação do corpo como expressão artística, na intenção de fazer coincidir arte e vida”.
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ArteFato | Intervenção urbana
Tem algo de diferente por aqui... Você conhece ou já viu algum processo de intervenção urbana? Por Amanda Cylke
Intervenção Urbana é uma manifestação artística, geralmente realizada em áreas centrais de grandes cidades. É uma interação com um objeto já existente (um monumento, por exemplo) ou com um espaço público, com o intuito de despertar a visão das pessoas que por ali passam. Esta tendência, marcante da arte contemporânea, é geradora de uma gama de experimentações artísticas, pesquisas e propostas conceituais baseadas em questões ligadas às linguagens artísticas, ao circuito da arte ou ao contexto social e político. No Brasil, esta forma de expresão surgiu no final de 1970, principalmente no território paulistano, com grupos como 3nós3, Viajou sem passaporte e Manga Rosa, que buscavam uma forma de expressão artística que fosse além dos museus, galerias ou qualquer forma tradicional Outros artistas pioneiros foram: Flávio de Carvalho, Hélio Oiticica, Paulo Bruscky e Cildo Meireles. A prática da intervenção urbana ganhou realmente muita força no Brasil a partir do final da década de 90. Normalmente essas intervenções ocorrem com o intuito de trazer para os cidadãos um contato real, mais próximo da arte nos meios urbanos, desmistificando a ideia de que obras de arte devem ser vistas apenas em museus, centros culturais, galerias, locais que parecem distantes para a grande massa urbana, que se utiliza a cidade.
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Intervenção urbana nas margens do rio Tietê, em SP. A obra com 20 esculturas gigantes teve uma ação educacional com monitores para mais de 3.000 crianças durante 60 dias de exposição. Intervenção artística nos principais monumentos públicos de São Paulo com coletes salva-vidas gigantes para chamar a atenção das pessoas para o patrimônio histórico da cidade. A obra esteve em 16 pontos urbanos. Comissionado pelo Banco do Brasil Dezenas de caiaques tripulados por manequins sobre as poluídas águas do rio Pinheiros (SP) promoveram um curtocircuito visual no espaço onde eram praticadas regatas de clubes paulistanos. Comissionado pelo Shopping SP Market e Editora Abril Exposição de esculturas gigantes nas rodovias federais do país com carros destruídos dentro de garrafas infláveis para chamar a atenção dos motoristas. Comissionado pelo Ministério da Justiça Intervenção urbana realizada na avenida Paulista, em São Paulo. Bicicletas coloridas cruzaram o espaço aéreo, suspensas por cabos de aço durante 20 dias. Um sistema a motor movimentava as peças entre uma fachada e outra, chamando a atenção dos motoristas e transeuntes da avenida. Comissionadopelo SESC Paulista Grupo 3nós3 Ensacamento, São Paulo, 27 abril de 1979. Noticiado pelos jornais impressos Folha da Tarde (28 de abril de 1979), Última Hora (28 de abril de 1979) e Diário da Noite (28 de abril 1979). Conecção, São Paulo, 1981. Noticiado pela Rede de Televisão Globo e pelo jornal O Estado de São Paulo (14 de maio de 1981).
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ArteFato | Pop Art
Moda e Pop Art AlĂŠm de ganhar as ruas, obras de Warhol e Lichtenstein chegaram a estampar roupas Por Vivian Ito
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Com o fim da Segunda Guerra, a subjetividade expressionista e a divisão entre “arte elevada” e “arte vulgar” começaram a ser questionadas. Era o início da Pop Art, que tinha como o objetivo questionar a separação entre a arte e as massas e a sociedade do consumo. Ela teve um começo contido na Inglaterra dos anos 1950 com um grupo intitulado IndependentGroup, mas foi em Nova York, durante os anos 1960, que o movimento tomou forma e se tornou expressivo. Longe de ser uma arte feita pelas camadas populares ou de possuir em si elementos folclóricos, a Pop Art era uma que os artistas encontravam para analisar a sua sociedade. Para apresentar uma crítica à sociedade da época, os artistas da Pop Art se utilizavam de signos estéticos massificados pela publicidade em suas obras. Além de ironizar o consumismo, essa atitude fazia com que a arte se aproximasse da vida comum. Afinal, eram utilizados desde comerciais de TV até desenhos em quadrinhos. Ao se inspirarem em elementos que até então não eram vistos como arte, os integrantes desse movimento conseguiram chamar a atenção do público. O uso de imagens da Coca-Cola e demais produtos industrializados por Robert Rauschenberg, de anúncios publicitários e histórias em quadrinhos por Roy Lichtenstein, e de grandes ídolos do cinema e da música por Andy Warhol foram um meio de apresentar as impressões e ideias desses artistas sobre o poder da reprodução e quão efêmero é aquilo que é oferecido pela era industrial.
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ArteFato | Pop Art
Seguindo a tendência dos vestidos de papel, a Scott PaperCompany lançou, em 1966,a sua “coleção” para promover a tecnologia no papel Dura-Wave (utilizado em lençóis e roupas de proteção médicos). Assim como os modelos de Saint Laurent, as peças causaram grande furor por seguirem as tendências da época. Os modelos apresentaram a ideia de consumo rápido e barato (muito discutida na Pop Art de Warhol e Lichtenstein). E, diferente dos vestidos de papel de outros estilistas, eram totalmente descartáveis, o que fez com que eles saíssem dos supermercados dos EUA e chegassem às ruas de Londres.
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Nesse mesmo momento, a empolgação dos anos 1960 interpunha uma nova forma de aproximação entre arte e moda. A indústria de alta-costura estava perdendo seu domínio sobre a moda graças à demanda do consumidor. O advento do prêt-à-porter e da produção em massa demonstrava que as maisons já não tinham mais tanto poder. Percebendo isso, Yves Saint Laurent criou uma coleção de vestidos-túnicas em jérsei de lã com estampas baseadas na intersecção de blocos chapados de cores primárias e linhas pretas dos quadros abstratos do pintor holandês PietMondrian. As peças possuíam corte simples, sem o exagero da alta-costura e originaram a coleção look Mondrian.
Mas foi em 1966, novamente inspirado pela arte, que ele criou uma coleção baseada nos princípios do movimento da Pop Art. Roy Lichtenstein e Andy Warhol foram os artistas escolhidos para ter suas obras estampadas em vestidos do estilista. As peças em A, diferente de tudo o que Saint Laurent já havia feito, eram produzidas com tecidos compostos por 80% de celulose e 20% de algodão, o que fazia com que eles fossem praticamente descartáveis. A coleção, composta de motivos vibrantes e cartunescos, retratavam a cultura de massa e o consumismo da época. Com seu individualismo e consumismo próprios, a indústria da moda se encaixou perfeitamente nas crenças artísticas de Warhol e teve papel importante para a disseminação da Pop Art.
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ArteFato | Tropicalismo
O avesso da Bossa nova ou o carnaval sem porta Tropicalismo, o movimento revolucionário que redefiniu a música, o teatro e a arte no Brasil Por Luciana Lima
O tropicalismo, também conhecido como Tropicália, foi um movimento cultural brasileiro, que surgiu no fim da década de 60. O tropicalismo foi predominantemente musical, entretanto, atingiu outras esferas culturais como artes plásticas, cinema e poesia. Com influências das correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira (como o pop-rock e o concretismo); misturou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais. O termo Tropicália nasce como nome da obra de Hélio Oiticica (1937 - 1980) exposta na mostra Nova Objetividade Brasileira. Mais tarde, inspirado nessa obra de Oiticica, o crítico Nelson Motta em um dos seus textos denominou o movimento como Tropicalismo. O contexto da Tropicália, década de 60, é de uma era de intensa transformação cultural: Hélio Oiticica, mudava o rumo das artes . No cinema, Glauber Rocha filmava Terra em transe e Joaquim Pedro de Andrade, Macunaíma. Chico Buarque escrevia Roda Viva, em 1966, e José Celso Martinez Corrêa montava O Rei da Vela, de Oswald de Andrade. A proposta, ou a transformação requerida pelo tropicalismo, consistia em deglutir todas as tendências, informações, manifestações do pensamento e então expressar a realidade do artista brasileiro.
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ArteFato | Tropicalismo
As principais influências da Tropicália foram: o movimento antropofágico, o pop art e o concretismo. O Movimento antropofágico era uma proposta de digerir a cultura exportada pelas potências culturais (como a Europa e os Estados Unidos) e regurgitá-la após a mesma ser mesclada com a cultura popular e a identidade nacional. A grande diferença entre as duas propostas (a antropofágica e a tropicalista) é que a primeira estava interessada na digestão da cultura erudita que estava sendo exportada, enquanto os tropicalistas incorporavam todo tipo de referencial estético, seja erudito ou popular. Acrescente-se a isso uma novidade: a incorporação de uma cultura não necessariamente popular, mas pop. O movimento, neste sentido, foi bastante influenciado pela estética da pop art e reflete no Brasil algumas das discussões de artistas pop (como Andy Warhol). Ainda que tenha sido bastante influenciado por movimentos artísticos que costumam estar associados à ideia de vanguarda negativa, o Tropicalismo também manifestouse como um desdobramento do Concretismo da década de 1950 (especialmente da Poesia concreta). A preocupação dos tropicalistas em tratar a poesia das canções como elemento plástico, criando jogos linguísticos e brincadeiras com as palavras é um reflexo do Concretismo. Caetano Veloso, um dos idealizadores do movimento, sintetizou a Tropicália como o avesso da Bossa Nova, pois tudo o que movimento dos bons moços de terno haviam rejeitado, foi abraçado pelo Tropicalismo.
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O movimento tropicalista não possuía como objetivo principal utilizar a música como arma de combate político à ditadura militar que vigorava no Brasil. Por este motivo, foi muito criticado por aqueles que defendiam as músicas de protesto. Os tropicalistas acreditavam que a inovação estética musical já era uma forma revolucionária. Outra crítica que os tropicalistas receberam foi o uso de guitarras elétricas em suas músicas. Muitos músicos tradicionais e nacionalistas acreditavam que esta era uma forte influência da cultura pop-rock americana e que prejudicava a música brasileira, denotando uma influência estrangeira não positiva; houve até uma marcha contra as guitarras elétricas, dado a importância que a questão ganhou na época. Na música, os maiores nomes do Tropicalismo foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Os Mutantes e Tom Zé. Nas artes plásticas o destaque fica para a figura de Hélio Oiticica, no cinema o movimento sofreu influências e influenciou o Cinema novo de Gláuber Rocha no teatro, sobretudo nas peças anárquicas de José Celso Martinez Corrêa. Um dos maiores exemplos do movimento tropicalista foi uma das canções de Caetano Veloso, denominada exatamente de “Tropicália”, onde, numa mistura de guitarra, pandeiro e chocalho, Caê canta que “O movimento não tem porta, a entrada é uma rua antiga e ironiza letras da bossa nova. O tropicalismo foi muito importante no sentido em que serviu para modernizar a música brasileira, incorporando e desenvolvendo novos padrões estéticos. Foi um movimento cultural revolucionário, embora muito criticado no período e influenciou as gerações musicais brasileiras e estrangeiras nas décadas seguintes.
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ArteFato | Fotografia e arte
A foto arte de Man Ray “A linguagem de Man Ray extrapola a fotografia trazendo o surrealismo e dadaísmo por meio da lente de sua câmera” Por Ana Cecília Simões
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Emmanuel Radnitzky, mais conhecido como, Man Ray, nasceu no dia 27 de agosto de 1890. Foi um artista norte americano que trouxe grandes contribuições nos movimentos modernistas Dadaísmo e Surrealismo. Desde cedo mostrava habilidades, interesses artísticos e procurava frequentar museus locais e estudar sobre os “mestres” da arte. Contra a vontade dos pais, decidiu seguir a carreira de pintor.No início, suas pinturas traziam fortes traços do século 19. Após um tempo se dedicando à pintura, resolve se matricular, em1912, na Ferrer School, onde obteve um grande crescimento artístico. Tendo inspirações nas exposições contemporâneas na Europa, suas primeiras pinturas traziam influências cubistas, porém após conhecer Marcel Duchampo pintor começa a trazer movimento em suas pinturas. Em 1915, tem sua primeira exposição de pinturas e desenhos. Entretanto, abandona a pintura após se envolver completamente com o Dadaísmo, um movimento que em sua essência necessitava de um “conflito para existir”. O Dadaísmo nasceu em Zurique no ano de 1916 e trouxe uma nova maneira de fazer arte. Os objetos do cotidiano eram vistos de outra perspectiva pelos artistas. Caracterizase pelo uso de instrumentos como, poesias, fotografias e musica na formação das obras de artes plásticas. É nesse contexto que Man Ray começa a se concentrar na fotografia, onde produzia imagens que tivessem o mesmo poder da tinta. Começou a desenvolver e criar objetos e novas maneiras de fazer as imagens. Duchamp procurou Ray em 1920 para que ele fotografasse Rrose (o pseudônimo que Duchamp usava), que mais tarde serviria como base para a antiobra de arte duchampiana, “BelleHaleine”. Man Ray tira uma fotografia da obra e mais tarde serviria para estampar na capa da revista dos dois artistas, “Nova York Dada”. Em 1921, muda-se para Paris onde se dedicou por completo à fotografia. Sempre tentando novos experimentos em seu ateliê, acabou desenvolvendo uma técnica que ficou conhecida como “raiografia”,que era uma forma de fotograma. Descreveu essas imagens como “parecidas com raios X”. Andre Breton se encantou pelas imagens fantasmagóricas de Man Ray e as declarou como obras de arte surrealistas. Em 1929, cria a obra “O primado da matéria sobre o pensamento”, caracterizada novamente como surrealista, uma vez que trás preocupações do movimento, que eram: sexo, sonhos e aspectos perturbadores. Viveu 20 anos em Paris, período quando fotografou grandes nomes do mundo da arte, como: James Joyce, Gertrude Stein, Jean Cocteau, Bridget Bate Tichenor e AntoninArtaud. Morreu em Paris no dia 18 de novembro de 1976, a causa teria sido uma infecção pulmonar.
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ArteFato | Política e pop art
Política com uma pitada de Pop Art Formas diferentes e “divertidas” de analisar e criticar a política mundial e inovar a criatividade da contemporaneidade. Por Laryssa Maestrelli
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‘Dois momentos’ - é assim que Gilberto Salvador nomeia e refere-se a sua exposição, revelando dois momentos vividos por ele. O primeiro, a década de 60 - marcada pela reação ao golpe militar de 64, e o segundo sobre as formas que predomina na sua poética atual. Ao todo foram 24 obras entre pinturas, esculturas e instalações produzidas de 1960 até os dias atuais, influenciado também pela Pop Art. Sua exposição ‘Dois Momentos’ tem a primeira parte composta por obras bi e tridimensionais, trabalhadas em aço, gravuras e pinturas sobre recortes de madeira, com destaque para dois trabalhos que pertencem ao acervo da Pinacoteca: Robótica, exposta pela primeira vez na 10ª Bienal de Arte de São Paulo – 1969, e Rodante, todos de 1969. A segunda parte possui 15 peças em fibra de vidro e uma de bronze cromado, além de obras produzidas pelo artista nos últimos cinco anos. O ambiente Contemporâneo faz uma releitura da obra Olympia, 1863, de Édouard Manet. Três grandes instalações completam a mostra. Espuma, escultura em fibra de vidro, madeira, aço e resina, com cerca de 5 metros de altura, que se projeta da Pinacoteca - Um dos destaques. Gilberto Salvador é um artista que, em suas exposições, sempre surpreende o público. “A exposição permite que o público faça uma reflexão da produção artística com a visão poética do discurso desde a década de 1960 até hoje. O livro dá a noção exata e mais abrangente deste percurso”, complementa Gilberto Salvador. Na abertura da exposição foi lançado o livro “Mergulho”, contando sua trajetória, junção de seus trabalhos e de seu livro - assim possibilitando uma leitura contemporânea de toda a sua obra. Gilberto Salvador, nascido em 1946 - São Paulo. Formou-se em arquitetura pela FAU-USP em 1969, onde mais tarde atou como professor. Paralelamente aos estudos universitários, dedicou-se à pintura e ao desenho. Sua primeira exposição individual aconteceu em 1965, participou de várias edições da Bienal internacional de São Paulo. Suas principais características destacam-se pela oposição entre o gestual e o traço rígido, entre as formas orgânicas e inorgânicas, entre o movimento e o estático – Nelas formas vivas, homens, flores e animais dialogam com figuras geométricas. Uma de suas obras mais conhecidas é a Olympia V. (Madeira, fibra de vidro, resina goffrato, acrílico e bolas de ping-pong). Outra obra é ‘Um, Dois, Três’.
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