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Brasília, setembro de 2015. Edição: Extra Ano: I
Análise das decisões políticas na Capital do País.
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Consultoria e Assessoria
Editado por: José Maurício dos Santos
Quebrado, Rollemberg paga caro pela nova política *Por José Maurício dos Santos Se conselho fosse bom a gente vendia. Mas é de preocupar o governador Rodrigo Rollemberg ignorar tanto a política na hora de se governar. O novo jeito de fazer política de Rollemberg já está custando caro. E, como essa ideia deve ser importada, como muitas outras que tentamos implantar, de grosso modo, no sistema político brasileiro ignorando enes variáveis, o custo dessa prática pode dobrar assim como o dólar em relação ao real. Refiro-me às “escolhas técnicas” de Rollemberg para as secretarias de Estado com o objetivo de justificar o fim do “toma lá, da cá”. É impossível se governar sem o pragmatismo no Brasil, que tem um sistema político de presidencialismo de coalizão esquizofrênico: que se confunde pontualmente com o parlamentarismo; e pela quantidade exacerbada de partidos (mais de 30) que não param de crescer. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acabou de conceder o registro do Rede de Marina Silva. Mais dois partidos estão em iminente processo de criação: Partido Novo (PN) e o Partido da Mulher Brasileira (PMB). Essa grande quantidade de partidos diminui a força dos mesmos e a sua representação nas Casas Legislativas, obrigando o chefe de governo fazer alianças com diversas legendas. No DF, não é diferente. A quantidade de partidos com representação na Câmara Legislativa vem aumentando nos últimos anos. As agendas são cada vez mais distintas e difíceis de serem atendidas pelo chefe do Executivo, causando a insatisfação da base aliada. Estudos comprovam que o conflito entre os poderes prejudica a atividade fim do Estado: as demandas da sociedade.
Política Distrital - Edição extra Ano I – Brasília, agosto de 2015 Com o capital político escasso, dentre eles, a ausência de parlamentares do PSB, tanto no âmbito local, quanto no federal, Rollemberg encontra dificuldades para conseguir apoio. E caminha cada vez mais para o isolamento. Erros de cálculo são fundamentais para o desequilíbrio do cenário político. Medidas precipitadas quando o tempo seria o melhor remédio e, decisões tardias para soluções imediatas. No primeiro semestre, a longa insistência em Hélio Doyle à frente da Casa Civil e o anúncio precoce de que o governo deveria demitir servidores concursados e cortar cargos comissionados no final do ano foi desgaste duplo. Respectivamente, político e social. No segundo semestre, a falta de diálogo foi mantida e decisões foram tomadas à revelia da base aliada como a escolha de secretários. Foram três baixas significativas nas pastas da Casa Civil (Doyle), Saúde (João Batista) e Fazenda (Leonardo Colombini). Outra na de Gestão Administrativa e Desburocratização (Paulo Vogel) que serve mais para ilustrar o desprestígio de Rollemberg pelos seus pares da política local. Para o lugar de Doyle foi indicado o consultor legislativo da Câmara dos Deputados, Sérgio Sampaio; para a Saúde, o consultor legislativo do Senado, Fábio Gondim, em detrimento do presidente do sindicato dos Médicos no DF, Dr. Gutemberg Filho, segundo suplente do PSB na coligação “Amor por Brasília”; na Fazenda, manteve o adjunto de Colombini. Colombini que é ex-secretário do governo de Antônio Anastasia (PSDB-MG), pupilo do senador Aécio Neves (PSDB-MG), e pivô do desgaste envolvendo a securitização das dívidas do DF, que gerou uma disputa entre BRB e o banco do mensalão, BMG. Colombini defendeu que as operações, em torno de R$ 2 bilhões, fossem tocadas pelo banco mineiro em detrimento do banco local que passa por dificuldades. A pressão dos distritais na Câmara derrubou a ideia de Colombini que, intrigantemente deixou a Fazenda para assumir uma vaga no conselho do BRB, além de se tornar consultor do mesmo. O movimento fez sombra à permanência do presidente Vasco Gonçalves. Mas a mobilização dos servidores em nome da permanência do funcionário de carreira à frente da instituição financeira mais uma vez pesou contra os planos de Colombini. Essa minirreforma administrativa, precipitada ou forçada, mostrou a fragilidade do governo e a dificuldade em dialogar, ou pior, em confiar na base aliada. O resultado foi o desgaste político ainda maior e, consequentemente, econômico e social por não encontrar saídas para a crise e ver a paciência da população se esgotar. Rollemberg se encontra num péssimo momento político para adotar medidas imprescindíveis a fim de tirar o DF da crise. O desespero bateu à porta do Palácio do Buriti. Nesses momentos, os erros aparecem com mais facilidade. Como diria o ex-presidente Tancredo Neves: “a política é como nuvem. Cada hora está de um jeito”. Mas, a equipe de Rollemberg parece ter ignorado a iminente criação do Rede. Isso ficou
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Política Distrital - Edição extra Ano I – Brasília, agosto de 2015 claro após o anúncio das medidas amargas pelo GDF na última semana, que penaliza principalmente o contribuinte. Aumentos de IPTU e conta de luz; passagens de ônibus e metrô; reajustes nos restaurantes comunitários e nas entradas do zoológico foram duramente criticados por ambos os lados. Após o desgaste, resolveu procurar os aliados e até a oposição para se explicar. Pressionado, o governo tinha que dar uma resposta imediata. O exemplo de austeridade. Porém, de forma impensada, a reforma administrativa (extinção e fusão de secretarias e cargos) foi anunciada. Resultado: Brasília vai parar! Os servidores do DF convocaram uma greve geral. O Rede tem potencial para se tornar o maior partido da CLDF com até cinco parlamentares do PT, PDT e PEN. A três meses de fechar o ano, a cobrança por uma atitude era grande. Mas para quem esperou nove meses para anunciar, mal anunciado, o óbvio, mais um é um período razoável, haja vista que esse é o prazo para as filiações do Rede. Juridicamente, o governador também poderia ter estudado a ideia de aproveitar uma brecha na justiça eleitoral. Caso tivesse indicado Joe Valle (perto de deixar o PDT rumo ao Rede) para alguma secretaria, o primeiro suplente, Roosvelt (PSB), assumiria uma cadeira na Casa. Rollemberg fortaleceria a sua base e atenderia o Rede por ceder mais espaço no governo. No entanto, com a ida de um parlamentar já filiado ao Rede para uma secretaria, pode dar o direito de o partido de origem do candidato requerer a vacância, já que o novo partido não disputou a última eleição e, por isso, não tem suplente e nem coligação para sucedê-lo. Agora, caso indique, para alguma secretaria, um dos nomes do PT que vai para o Rede, Rollemberg corre o risco de fortalecer a oposição, dando ao PT o direito de reivindicar a vaga. Esse jogo de xadrez é que torna a política apaixonante. Às vezes você tem que entregar uma peça agora para mais à frente ganhar duas, ou até o jogo. Mas, a antipatia de Rollemberg pelo pragmatismo ou pelo desgastado sistema político brasileiro o afasta de um caminho mais tranquilo até 2018. Rollemberg quer mudar o jogo sem ter capital para isso. É como enxugar gelo ou dar murro em ponta de faca. Não é hora de mudar a regra do jogo, mas sim de jogá-lo da melhor forma. Como manda o manual. O primeiro teste é a Secretaria de Relações Institucionais. Caso insista em trocar Marcos Dantas pelo superintendente do Sebrae, Valdir Oliveira Filho, perderá uma oportunidade única de reunificar a base aliada, que quer um nome próximo à frente das negociações com o Buriti. O mais sensato para o governador é esperar as negociações em torno da filiação partidária do Rede para anunciar os novos nomes de forma mais pensada, com o cenário político reorganizado.
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Política Distrital - Edição extra Ano I – Brasília, agosto de 2015 Mudanças substanciais serão empregadas no pacote de maldades do Executivo enviado à Câmara. E o Rede, que hoje já é uma realidade, não deve ficar de fora do debate. Tampouco os demais segmentos. Mais do que dialogar, é preciso ouvir. A política é, resguardadas as devidas proporções, igual ao futebol. Técnicos são fundamentais para a organização do time, mas, os jogadores são imprescindíveis para se chegar às vitórias. Apesar da simpatia de Rollemberg por gestores, há cargos no governo que precisam ser tocados pelos players do processo decisório. Aqueles que articulam e representam, de fato. Isso não é antiético. É política. *José Maurício dos Santos é bacharel em Comunicação Social; especialista em Marketing Político; consultor político pela Associação Brasileira de Consultores Políticos (Abcop); e graduando em Ciência Política
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