ANO 02 EDIÇÃO 04 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA VENDA PROIBIDA
Você gosta de comer, mas não gosta de tomar remédios. E que tal se alguém juntasse as duas coisas em uma, e ainda colocasse no formato de guloseima? Essa é a proposta dos nutracêuticos.
Entrevista: Giles Slade
Futebol: Celso Roth, o bigode e um pendrive
Gastronomia: Um gastropub em Caxias
Turismo: Amsterdã, sua linda
Estilo: O preço da alta costura
tecnologia para a sa煤de, diagn贸sticos para a vida.
Bento Gon莽alves | Nova Prata | Veran贸polis (54) 3052 0606
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ENTREVISTA / SPOTLIGHT
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Mercados que as grandes não querem
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A nova Todeschini Kazalla
Giles Slade
MERCADO / MARKET ANATOMY
Informação e desinformação MÍDIA / MEDIA TALKING
NEGÓCIOS / BUSINESS
CAPA / FEATURED
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Você ainda compra comida no mercado?
Foto Samuel Ramos
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QUE FOME / FOOD
O primeiro gastropub da região TURISMO / GO THERE
Você pode ficar alto nos Países Baixos QG DO ESTILO / STYLE
Não é caro, você que é pobre IMIGRAÇÃO ITALIANA / SÉRIE PARTE III
Bella Polenta CULTURA / FOLK
Festival de Folclore, o retorno
Foto Janaina Silveira
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Foto Image.net
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TRENDLINE[MAG] . ANO[02]
SAÚDE / GOOD LIVING
Massagens e drenagens ajudam, mas não resolvem sozinhas IMPEDIMENTO / FÚTBOL
Juarez, o highlander dos Pampas TELEFONE VERMELHO / CRT
Batendo queixo no pago
CAROS LEITORES A ficha de que o primeiro ano de Trendline passou só foi cair na diagramação: ao revisar os rodapés, percebi que ali diz "Ano[02]". É muito legal olhar para trás e ver tudo o que passou. Ver como o nosso projeto se desenvolveu e, tal qual uma criança que ainda ontem engatinhava, já conseguimos - com alguma desenvoltura - dar os primeiros passos. Sabemos que ainda temos um longo caminho pela frente, mas também reconhecemos o quanto essa revista cresceu. Conhecemos muita gente boa ao longo desses doze meses: parceiros comerciais, leitores, admiradores e um sem fim de amigos que tanto ajudam a mantermos esse padrão editorial que vocês conheceram, o mesmo que surpreende algumas pessoas que recebem a Trendline e perguntam: «Tem certeza que essa revista é produzida no interior gaúcho?». Nossa meta, há um ano, era apresentar um produto de mídia à altura da Serra Gaúcha. Penso que conseguimos. Agora, contudo, é hora de ir além: estipular novas metas e continuar superando expectativas.
QUEM FAZ COLUNISTAS: Jarbas Gambogi e Alexandre Lattari - Mercado Financeiro Maria Cristina Frazon Telles - Fitness Marcos Beck Bohn - Crônicas Quéli Giuriatti - Estilo Janaína Silveira (Janajan.com) - Turismo Douglas Ceconello, Luís Felipe dos Santos e Iuri Müller (Impedimento.org) - Esporte Bretão André Luis Barros - Cultura DIREÇÃO GERAL: Samuel Ramos - Reg. Prof. 11.388-RS
CONSELHO ADMINISTRATIVO: Caroline Boito Maurmann
CONSELHO EDITORIAL:
Seria impossível nominar todos os agradecimentos que são devidos nesse período de Trendline, de maneira que me limito a agradecer a todos vocês por terem nos acompanhado nesse tempo, permitindo que um projeto dessa monta, realizado de maneira independente e longe de um grande centro urbano, esteja prosperando. Imaginem quando a criança crescer.
Marcos Beck Bohn
COMERCIAL: Daniel Luis Barbizan mkt@tlmag.com.br (54) 9176 1384
PROJETO GRÁFICO Diego Rigo (2tm.com.br)
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PERIODICIDADE Trimestral
Próxima edição: Dezembro 2011
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ENTREVISTA / SPOTLIGHT Por Samuel Ramos *Jornalista, editor da Trendline [mag]. samuel@tlmag.com.br
Giles Slade: «Você compra, o produto quebra» Você lembra quanto pagou pelo seu último telefone celular? E pelo seu notebook? Você lembra quanto tempo o modelo anterior durou? E o motivo pelo qual você trocou? Bem-vindo ao mundo da obsolescência planejada, um modelo de negócios amplamente utilizado por grandes empresas que se baseia no compre mais. «No meu tempo...» é um dos começos de frases mais utilizadas por pessoas que hoje atingiram mais de 50 ou 60 anos quando querem registra a mudança pelo qual passou o mundo no decorrer das últimas décadas e de como, na opinião dessas pessoas, alguns valores se perderam.
Mais do que um modelo de negócio, esse sistema de obsolescência programada, que prevê uma vida útil reduzida para uma série de produtos, se tornou a essência do estilo de vida americano durante o último século e também foi exportado para todo o mundo nas últimas décadas.
Se em alguns casos há exageros, em outros eles estão certos. Eletrodomésticos, carros, bens de consumo e, claro, sobretudo os eletrônicos ganharam número nas nossas vidas e residências, e possuem um papel incompreensível para as gerações anteriores. Nossa sede por novidades e por quantidade de tralhas eletrônicas é inimaginável para alguém que morou em uma casa que possuía um único televisor.
A descartabilidade é, hoje, indispensável para toda a sociedade de consumo. É preciso formar consumidores eternamente descontentes, sempre interessados em substituir os produtos antigos por novos. A impermanência é essencial, e essa cultura quebrou totalmente com o senso de tradição e durabilidade das gerações anteriores.
Giles Slade, escritor americano, é uma das pessoas que mantém sérias críticas quanto a esse nosso estilo de vida moderno. Veja nos próximos parágrafos o porquê: [mag] Giles, você é o autor de uma obra muito famosa nos meios acadêmicos, chamada «Made to Break: Technology and Obsolence in America» (Feito para quebrar: tecnologia e obsolescência nos Estados Unidos) - 2006 - Harvard Press. O livro, infelizmente, não possui tradução em português, então peço que defina esse conceito para os nossos leitores. Giles Slade Se você substituiu algum eletrônico nos últimos meses, as chances são grandes de que o equipamento trocado ainda pudesse funcionar. E as chances são maiores ainda de que o modelo recém trocado irá funcionar por menos tempo do que esse que foi substituído.
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[mag] Eu acho curioso que essa discussão sobre a durabilidade dos bens tenha surgido na Europa e nos Estados Unidos com muita força e aqui no Brasil o tema não tenha ganhado debates públicos, sobretudo nos meios de comunicação. Recentemente em uma viagem vi lâminas de barbear importadas, superavançadas, com cinco linhas de corte, a um preço de US$ 30 por seis cartuchos. Aqui no Brasil, a mesma marca vende aparelhos com três linhas de corte, pelos mesmos US$ 30 e eles duram, em média, cinco vezes menos. No terceiro barbear a sua cara fica igual a do Freddy Krueger. GS Lâminas de barbear são produtos de higiene pessoal que há muito tempo são considerados «descartáveis». A cultura de consumo evoluiu de uma maneira que hoje até mesmo lentes de contato são consideradas descartáveis. Esses produtos duram por uma quantidade bem específica de tempo e o pior é que essa condição é entendida pelo consumidor no momento da compra. Ele sabe que não irá durar.
Technology and Obsolence in America
FOTO ALAN BENNETT
«A história reserva um lugar de destaque para sociedades que constroem coisas que duram - para sempre, se possível. Que lugar terá uma sociedade viciada no consumo, que baseia a sua cultura no efêmero das coisas que são feitas para quebrar?» Giles Slade Quando o consumidor paga caro por um item que ele sabe que irá durar pouco, aí temos o começo do processo de consumo repetitivo, e esse é o estágio que antecede o da obsolescência programada. Eu acredito que a maior parte dos produtos que estão no mercado hoje, sobretudo os fabricados por grandes empresas, possui uma vida útil pré-determinada e ela é atribuída de acordo com pesquisas de mercado, ou seja, é deliberadamente atribuída de acordo com o que o consumidor aceitará como tempo normal de uso de determinado produto. Mas tudo começa na predisposição de uso e de compra, ou seja, com o fato do produto ser encarado como descartável. Somente depois é que entra a obsolescência planejada. Já sobre o custo dos produtos, hoje eu moro no Canadá e aqui os carros são muito mais caros do que nos Estados Unidos, mesmo com o nosso câmbio um pouco mais favorável. As explicações que nos dão aqui devem ser as mesmas que você ouve aí: impostos de importação e custo de transporte. Contudo, a verdade é que as empresas vão cobrar o valor máximo que cada mercado aceita. Se o consumidor aqui no Canadá ou aí no Brasil paga mais, os fornecedores irão explorar isso até o limite que seja possível. 14
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O preço alto é bom para a lucratividade desses negócios e é bom para o bolso do governo, que recebe mais impostos nessas vendas. [mag] Como foi que surgiu a ideia de escrever o «Made to Break»? GS Na verdade o que originou o livro foi mais um trabalho de pesquisa sociológico do que econômico. Eu andava à procura de respostas que explicassem por que as nossas relações interpessoais, aqui na América do Norte, haviam se tornado tão frias, austeras, insatisfatórias e por que andamos tão rudes entre nós em público. Minha conclusão é que começamos a estabelecer relações pessoais de acordo com as premissas econômicas, ou seja, começamos a nos tratar não como pessoas, mas como produtos, o que também significa que se nossas relações são produtos, elas também podem ser descartáveis. Parece haver uma vinculação entre a nossa atitude com os bens de consumo e a nossa atitude entre as pessoas. Isso levou a uma desvalorização do contato entre humanos.
[mag] Durante o seu trabalho de pesquisa, quais foram as evidências que você encontrou que corroboram a tese de que as indústrias constroem produtos feitos para falhar/quebrar depois de determinado tempo de uso? GS Há várias evidências que comprovam a existência dessas «falhas» programadas. A primeira delas é o fato de continuamente comprarmos novos produtos para substituir os antigos. Faça as contas e pense consigo mesmo: quantos celulares você teve nos últimos dez anos? Quantas vezes trocou seu televisor? Outro ponto que mostra como o consumidor virou refém dessa estratégia é o custo de reparo das mercadorias que apresentem problema. Em 100% dos casos, o conserto custará praticamente o preço de um novo produto. Os próprios serviços de assistência são guiados a gerar novas vendas, pois em geral há dois problemas: as peças de cada fabricante são únicas - limitando o trabalho das oficinas - e o preço do reparo é muito alto. Esses dois fatos encorajam o consumidor a comprar um novo equipamento. Outras vezes a entrega das peças é muito demorada, e o equipamento está tão presente na rotina das pessoas que o cliente simplesmente desiste de esperar e compra um novo item.
Esse sistema mostra claramente como os produtos não são feitos para não durar. Há uma regra simples que diz: quanto mais caro você pagar por um produto, mais tempo ele irá durar. Digamos, por exemplo, que você compre um automóvel da Chevrolet ou da Ford, e então ele quebra depois de dois ou três anos. Se você comprar uma Mercedes ou um BMW, é possível que ele quebre só depois de sete ou oito anos. Da mesma forma, se você comprar um relógio simples, ele funcionará por alguns anos, mas se você tiver comprado um Patek, ele provavelmente irá durar toda sua vida (se você estiver preocupado com isso, claro). E aí eu volto a falar sobre o custo e tempo da garantia. Se você adquire uma lavadora, uma secadora em uma grande loja, ou um computador na Apple ou na Dell, eles te darão dezoito meses de garantia (nota do editor: no Brasil não passará de doze, se quiser mais é preciso pagar) pelo produto. Porém, depois desse tempo, se torna muito caro para eles assumirem o risco do produto sofrer avarias, então essa garantia mais curta é outra evidência de como as coisas são feitas. Caso contrário, eles poderiam nos dar, vamos dizer, cinco anos de garantia. [mag] E com base na sua pesquisa, quais são os produtos que mais apresentam problemas para os consumidores? GS Os produtos que possuem o seu tempo de vida útil mais reduzido são, sem sombra de dúvidas, os equipamentos eletrônicos. Computadores, telefones, smartphones, câmeras digitais e etc. são feitos para durar dezoito meses. Depois disso, só com muita sorte você continuará usufruindo desses equipamentos.
FOTO DIVULGAÇÃO
Em Livermore, na Califórnia (EUA), se localiza a Centennial Bulb (centenária lâmpada de bulbo), que se encontra ligada ininterruptamente há 110 anos. A história da lâmpada integra o roteiro do documentário «Comprar, tirar, comprar» (Comprar, jogar fora, comprar), produzido pela TV3 da Catalunha.
Há outras classes de produtos que, com o passar dos anos, também adquiriram características descartáveis. É engraçado dizer isso, mas as lâmpadas e as meias de nylon (meias-calças) que nossas avós usavam duravam muito mais do que as comercializadas hoje. Com todo o avanço tecnológico é impressionante ter que admitir isso, mas é outra prova inconteste de como a característica original dos produtos é alterada para fazer com que compremos mais. A primeira lâmpada da história, criada por Thomas Edison, em 1881, durava 1.500 horas de uso. Em 1911, algumas lâmpadas vinham com um certificado de duração de 2.500 horas. Então, em 1924 um cartel entre os principais fabricantes na Europa e nos EUA negociou de forma a limitar a vida útil de uma lâmpada elétrica para 1.000 horas.
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Outro exemplo bastante utilizado pelos historiadores é a invenção da meia de nylon, na década de 40. Os engenheiros da DuPont, criadora das meias, desenvolveram um produto tão resistente que era possível rebocar um carro com uma meia elástica. Então, por uma necessidade óbvia de mercado (a DuPont não desejava vender uma meia calça que durasse um século), a vida útil das meias de nylon foi sendo reduzida e hoje qualquer arranhão inutiliza um desses produtos (nota do editor: todas essas informações constam no documentário da TV3 «Comprar, tirar, comprar», disponível no YouTube ou no Vimeo - inclusive com legendas). [mag] É possível identificar uma tendência de que a vida útil dos produtos esteja decaindo, digamos, na última década? GS Há algumas classes que estão cada vez durando menos. Brinquedos de criança, por exemplo, estão se tornando cada vez mais frágeis. E alguns consumidores já encaram isso como normal, começam a enxergar os brinquedos como descartáveis. A maior amostragem advém dos produtos chamados low end, que são geralmente os mais baratos. Veja esses aparelhos de MP3, a maior parte deles possui uma vida útil extremamente curta. O mesmo se pode dizer dos fones de ouvido que vêm com eles, raramente é possível utilizar algum desses produtos por mais de alguns meses. Outra classe que está diminuindo mais e mais a sua vida útil é a das câmeras digitais. Esses aparelhos, que hoje viraram uma espécie de brinquedo infantil, eram caríssimos no começo da década passada. Hoje, ao contrário, são extremamente baratos e mal construídos. Entendo que, por serem baratos, o consumidor não se sente lesado quando quebram fácil. E esses produtos estão durando cada vez menos. Talvez isso explique o fenômeno. [mag] Já referimos anteriormente que quando um produto quebra se torna mais barato e cômodo simplesmente comprar um novo do que efetuar o reparo. Isso levanta outra questão, que você aborda no seu livro: para onde vai todo esse lixo eletrônico e tecnológico, oriundo dos aparelhos abandonados?
GS Essa é a parte do desenvolvimento econômico em que se baseia a economia do consumo que ninguém quer conhecer.
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A resistência do nylon, que foi reduzida de maneira a permitir um produto menos durável, é um exemplos clássicos na história da obsolescência programada.
A dura realidade é que o lixo eletrônico é enviado para países em desenvolvimento, tais como China, Bangladesh, Índia, Nigéria e outros. Nesses países, os restos dos aparelhos eletrônicos são desmontados a mão por pessoas que vivem disso, contribuindo para formar imensos lixões. É claro que esse tipo de atividade é ilegal, vender lixo, que é o caso, mas as empresas recolhem esses dejetos - ou contratam companhias que façam o trabalho sujo por elas -, chamam isso de reciclagem e através dessa etiqueta «verde», obtêm liberação dos órgãos internacionais de fiscalização. Os metais mais valiosos desse entulho são removidos do lixo eletrônico através do uso de soluções ácidas, altamente tóxicas, e que muitas vezes são despejadas em rios e fontes de água.
FOTO DIVULGAÇÃO GREENPEACE
Cerca de 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico são produzidas a cada ano. Uma boa parte desse descarte é encaminhado para países em desenvolvimento. A China é um dos destinos mais comuns [foto acima]. O material plástico é queimado em altíssimas temperaturas, o que polui o ar com petroquímicos e acaba afetando a todos nós. Em suma: estão realmente prejudicando o meio ambiente com essa prática e, lamentavelmente, a opinião pública não tem ideia de como esse tipo de «reciclagem» é feita e nem do efeito nocivo que todo esse consumo excessivo causa ao nosso planeta. [mag] E existem órgãos - governamentais e não governamentais - que estejam monitorando essas ações? Há alguém ao lado do consumidor nessa história? GS Imagino que você esteja citando instituições como o Sillicon Valley Toxic Coalition. Bem, esses órgãos tentam passar leis federais nos Estados Unidos e influenciar outros países a fazerem o mesmo, porém, sinceramente, com essa situação econômica que vivemos e com o atual cenário político, é realmente impossível mudar algo nesse momento. [mag] E a postura das empresas, há casos de empresários que estejam preocupados em colocar no mercado produtos de maior durabilidade? GS Sim, existem. Fabricantes de maquinário pesado, tais como Caterpillar e AGCO, por exemplo, sabem que o seu consumidor não aceita trocar o equipamento a cada par de anos. Além deles, produtos do segmento de luxo, tais como grandes marcas de carros e relógios. Esses são produtos feitos para durar.
Uma estratégia muito interessante desses fabricantes é construir equipamentos que possam durar um número específico de anos, que sejam facilmente desmontáveis - e recicláveis. Esse é realmente o melhor caminho a seguir. [mag] E é possível fazer produtos de grande durabilidade e ainda fazer dinheiro, ter um bom lucro? GS Certamente. Não só é possível, como é a maneira mais correta e inteligente de trabalhar. Existe um ditado em inglês que diz o seguinte: compre barato, compre duas vezes (buy cheap and buy twice). E se você compra um produto caro, é natural que você espera que ele dure mais. Penso que é esse o motivo pelo qual as pessoas pagam por relógios Rolex ou por jóias de ouro e diamante. [mag] Para finalizar, você me disse, antes de iniciarmos a entrevista, que está escrevendo um novo livro. Fale mais sobre esse novo projeto. GS Estou finalizando esse livro agora mesmo, porém ele não terá o mesmo tema de «Made to break». Estou me concentrando em escrever sobre a maneira como a nossa cultura de bens materiais e a nossa relação com a tecnologia - por mais de um século - está mudando o nosso comportamento humano e permitindo que troquemos o relacionamento pessoal em favor de interações com máquinas.
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MERCADOS / MARKET ANATOMY Por Alexandre Lattari* marketsbyfactfinder.blogspot.com * Trader, especulador.
Quando a ausência de notícias e de comentários é uma boa notícia «Por que dizer muitas coisas para algumas pessoas se posso dizer nada para todo o mundo?» Em sua aparição inesperada nos palcos ingleses, após longos anos de ausência, Jerry Seinfeld lançou a frase acima, para falar sobre o fenômeno Twitter. É uma discussão premente, entre a comunicação em excesso (overcommunication) e, bem, o não ter nada de útil para dizer. Chistes à parte, é interessante verificar como hoje tomamos como normal uma ferramenta de comunicação simplesmente inimaginável há 20 anos. Outro dia li um artigo de um analista financeiro norteamericano em que ele reconhecia a importância das redes sociais e da Internet, mas repudiava a repercussão dada a informações de baixa qualidade. Notoriamente o comportamento de manada (herding) dos participantes dos mercados tem sido potencializado por uma avalanche incessante de análises, visões e comunicados contraditórios. . Citemos, por exemplo, a celeuma que absorveu boa parte dos esforços da mídia especializada no início de maio/2011. Dados fornecidos trimestralmente pelo órgão regulador dos mercados acionários dos Estados Unidos (SEC, a Securities and Exchange Commission) revelaram que o hedge fund do lendário George Soros havia liquidado quase todas as suas posições em ativos lastreados em ouro e prata. De pronto, diante do sinal emitido pelo “homem que quebrou o Banco da Inglaterra”, analistas passaram a avaliar as perspectivas macroeconômicas dos países do G-7. Inflação ou deflação à vista?
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A matéria de capa da revista acima propositadamente não identificada -, de maio de 2009, convidava o leitor a «bombar» na bolsa de valores. Por ironia, menos de seis meses depois da publicação, o índice cairia quase 50%.
Não chegaram a conclusão alguma, principalmente porque outros grandes hedge fund managers - dentre eles John Paulson e Eric Sprott - mantinham suas fés inabaláveis nos metais preciosos. Não antes de julho último a verdade veio à tona: o Soros Fund Management liquidou suas posições porque estava encerrando suas atividades. Simples assim. Uma trajetória profissional fantástica de mais de 40 anos chegara ao final. Habitué dos informativos da área, não percebi qualquer mea culpa por parte dos mesmos analistas. A sanha dos veículos de comunicação por page views e números de audiência, que se refletem diretamente em suas receitas de publicidade, abriu uma nova perspectiva no uso da informação. Com alguma experiência é possível servir-se de estatísticas de mecanismos de busca na Internet e/ou manchetes de publicações para aprimoramento do timing de mercado. Diga-se, de passagem, que esta abordagem contrária (contrarian) não é nova. Paul Montgomery desenvolveu, por décadas, um reconhecido trabalho associando pontos de virada nos mercados acionários a capas da revista Time. Mas não se enganem. O assunto é extenso e exige certas características do traço cognitivo do investidor. O tema deste artigo não é fortuito. Da minha experiência percebo que sempre que conhecidos personagens - frequentemente associados a crises econômicas e crashes de mercados - começam a ganhar visibilidade, boa parte da queda de preços já se esgotou no curto ou médio prazo. Atualmente não conheço nenhum representante desse grupo melhor que o superstar Noriel Roubini, consultor e professor da Universidade de Nova Iorque. À medida que preços de ativos aceleram a queda, cresce o número de aparições televisivas do Prof. Roubini e de buscas pelo seu nome na Internet. Um fato alimenta o outro até o atingimento do clímax. Quando os preços subitamente se estabilizam e começam a subir ninguém se interessa mais pelas palavras proféticas do Dr. Roubini... até o próximo crash. Como disse uma vez Mark Twain, “a história não se repete, mas rima”. Acima, capa do The Economist de novembro de 2009, quando o Ibovespa marcava cerca de 65 mil pontos. Depois, a famosa capa que marcou o ápice da especulação imobiliária americana, em junho de 2005.
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PAPO DE MÍDIA / COMUNICATE Por Paulo Mattos Pinto* * Diretor de Mídia.
O Brasil que as grandes não querem Você mora no interior, tem um bom padrão de vida e gosta das grandes marcas. Mas a verdade é que elas não estão nem aí para você ou para a sua cidade. A indústria de publicidade passou os últimos 50 anos olhando para as grandes cidades. Lá estavam não apenas o maior número de pessoas, mas também as taxas de crescimento mais consistentes. Logicamente, para esses mercados também foi - e é - direcionada a maior fatia de investimentos das grandes marcas, de diferentes segmentos, seja no quesito publicidade, ações culturais ou patrocínios a eventos. Tal realidade ainda perdura nos dias de hoje e qualquer agente de mídia que contatar o marketing de grandes empresas (ou mesmo o pessoal de mídia das agências de publicidade, que cuidam das contas dessas empresas) ouvirá algumas explicações parecidas com essa: «Nosso foco é o mercado de São Paulo e Rio» ou «Direcionamos todo nosso investimento para grandes centros e no momento não temos verba». O que muitas dessas grandes empresas desconhecem é que nas pequenas e médias localidades se encontram excelentes indicadores econômicos. O Rio Grande do Sul, por exemplo, possui 10 das 50 cidades com maior renda domiciliar média (IBGE). Dessas, sete possuem menos de 200 mil habitantes. Na Serra Gaúcha estão quatro das dez, e, à exceção de Caxias do Sul, três se encaixam nesse perfil: Nova Bréscia, Carlos Barbosa e Bento Gonçalves possuem menos de 200 mil moradores. Também no quesito Produto Interno Bruto (PIB) per capita (IBGE), a listagem dos primeiros lugares é dominada por pequenas cidades. Na região da Serra, Nova Prata e Nova Bassano encabeçam a listagem, sendo o 5º e 6º lugares, respectivamente, no Estado. Para efeito de comparação, Caxias do Sul fica na 22ª posição e Porto Alegre na 23ª.
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Essa realidade se repete em outros Estados do Brasil. Estudo realizado pelo Ipea, em 2009, mostrou que as cidades de médio porte vinham crescendo praticamente o triplo dos municípios de grande porte: enquanto o crescimento do PIB de municípios com mais de 500 mil habitantes foi de 1,55% entre 2002 e 2005, o de cidades com menos de 100 mil habitantes foi de 3,22%, e o de cidades com população entre 100 mil e 500 mil foi de 4,71%. Tal realidade tem provocado alguma movimentação entre as marcas mais ligadas que, sabiamente, têm dividido seus orçamentos de marketing entre grandes, médias e pequenas cidades, evitando, assim, concentrar toda sua verba nos saturados (e mais caros) mercados das metrópoles. Essa movimentação, contudo, ainda é bastante incipiente e você não irá encontrar uma participação forte de uma grande marca em uma ação que seja realizada em cidades menores - à exceção de incentivos fiscais que se transformam em apoio à realização de feiras e mostras municipais. A verdade é que ainda perdura um grande preconceito por parte do empresariado e de alguns publicitários quanto aos mercados menores. As redes e marcas locais mais antenadas é que se beneficiam dessa ausência. Essas, que conseguem aproveitar o maior poder aquisitivo da população e a falta de um grande número de concorrentes em determinados segmentos, conseguem planejar e executar ações de excelente relação custo x benefício para colher uma maior presença comercial. Bom para eles.
Nossas estradas estão passando por um upgrade importante Apesar das críticas, cada vez mais frequentes, as estradas da Serra Gaúcha, em especial a RS 470, trechos da RS 122, RS 324, Rota do Sol (ERS-486), bem como outras, estão passando por importantes melhorias. Através do programa de capacitação das rodovias para deficientes visuais, buracos estão sendo implantados para aplicar o alfabeto Braille nas estradas, fazendo, assim, com que todos possam dirigir em segurança. Até mesmo quem não enxerga - e aqueles que enxergam poderão dirigir à noite com os faróis desligados. Só tem vantagens! Você, contribuinte, pode ficar tranquilo que o dinheiro dos seus impostos seguirá financiando a construção de mais e mais buracos. Somente assim teremos estradas seguras para todos. Para agradecer ao governo por essa importante obra, contate o Secretário de Infraestrutura do RS no Twitter: @betoalbuquerque Realização:
na foto, trecho da RS 324, entre Nova Prata e Nova Bassano | crédito sônia reginato . jornal correio livre
NEGÓCIOS / BUSINESS TRENDS Por Redação Trendline [mag] redacao@trendlinemag.com.br
Todeschini Kazalla, de cara nova Faltando menos de dois anos para o aniversário de quatro décadas da Kazalla, a loja, referência no segmento de móveis planejados sob medida, representante oficial da Todeschini, acaba de inaugurar o seu novo show room, em Veranópolis. A nova loja, completamente reformulada - em apenas duas semanas, para a loucura de todo o staff - traz um padrão visual bastante contemporâneo para o local, em linha com a apresentação que ocorre nas demais lojas da famosa marca de móveis de Bento Gonçalves. Além de ser bastante clean, com um toque quase minimalista, a decoração também convida o cliente a se aconchegar nos ambientes montados. «Queremos que as pessoas caminhem aqui dentro, sem ter medo de tropeçar em nada. E também queremos que elas possam conferir de perto o acabamento e todos os detalhes do produto que oferecemos», explica Fábio Kaczalla, diretor da empresa.
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FOTOS SAMUEL RAMOS
O projeto de reformulação já vinha sendo programado há vários meses e no ano passado, com a qualificação da Todeschini Kazalla de Veranópolis como loja referência na região em que está instalada, foi posto em execução, contando com projeto da equipe de design da Todeschini e execução da própria equipe de montagem da loja. Fábio, por sinal, enche a bola dos colaboradores, responsáveis pelos projetos que saem da loja: «Todos os nossos funcionários e funcionárias passam por cursos de qualificação periódicos. Isso começa no conhecimento que o pessoal do projeto precisa ter de decoração, design de interiores e termina na montagem, com o trabalho dos profissionais especializados», menciona. Esse respaldo da direção ao trabalho de seus colaboradores é resultado de um longo trabalho de investimento em pessoal, que faz da Todeschini Kazalla a única empresa da região que possui uma equipe própria de montagem trabalhando na execução dos projetos.
Além disso, o reconhecimento de Fábio à qualidade da sua equipe se apoia na própria experiência que ele possui no ramo: como é o representante da segunda geração de uma família moveleira, atividade que os Kaczalla iniciaram ainda na década de 70, já trabalhou em praticamente todas as áreas da loja: «Já trabalhei na venda, nos projetos, na montagem e até na logística. Houve uma época que eu passava o dia na loja e, no fim do expediente, lá pelas oito horas, saia todas as noites para buscar material em Bento Gonçalves. Atravessava a Serra, carregava a camionete e voltava. Chegava em casa tarde da noite, cansado, e no dia seguinte começava tudo de novo», conta. Seus pais, Fabiano Kaczalla e Cleci Rigon Kaczalla, ainda hoje sócios do negócio, acompanham de perto todo o dia a dia da empresa e relembram como tudo começou: «Tínhamos uma pequena oficina de conserto de rádios aqui nesse espaço, era o nosso trabalho no começo dos anos 70. Então, em 1973, começamos a trabalhar com a venda de móveis. A loja ficava bem aqui onde estamos hoje. Na época esse prédio era uma casa antiga, bem simples. O Fábio cresceu aqui, praticamente dormia na loja, sempre esteve muito envolvido com o negócio da família», revelam. Com o sangue moveleiro correndo nas veias, a família Kaczalla acompanhou toda a evolução do setor, que sofreu grandes modificações ao longo das últimas décadas: «Esse segmento sempre foi muito concorrido. Desde as lojas que vendiam móveis, sem personalização alguma, até a consolidação do mercado hoje, muita coisa passou. O setor está amplamente profissionalizado e os clientes já procuram as lojas e os fabricantes esperando um alto padrão de atendimento, produto e acabamento. De nossa parte temos a convicção de que a Todeschini Kazalla está muito bem consolidada e preparada para atender a esse público exigente e aos novos desafios que o mercado oferece», avalia Fábio. A Kazalla desde 2003 mantém todo o espaço de sua loja, de 240 m² de área, voltados exclusivamente para os produtos da Todeschini. Visite: Av. Oswaldo Aranha nº 1115, Centro Veranópolis Fone: (54) 3441 1215
CAPA / FEATURED Texto e fotos de Samuel Ramos* samuel@trendlinemag.com.br * Jornalista e editor da TL[mag]
Comida de laboratório
E se você fosse à farmácia para comprar gomas, balas, chocolates e sopas?
Guarde esse nome: Nutracêuticos. Apesar do termo ter sido criado em 1989, o tema é tão novo que até mesmo no Wikipedia, em português (o site enciclopédia que jogou a última pá de cal no finado mercado de vendas dos enciclopedistas andarilhos), as meras quatro linhas que definem o conceito foram adicionadas apenas esse ano. A rigor, se refere à combinação de uma coisa que adoramos (comer), com outra que detestamos (tomar remédios - exceção feita aos hipocondríacos). Bom, na verdade o tema é mais complexo do que isso. Ainda há algum ceticismo quanto às propriedades terapêuticas dessa nova classe de produtos farmacológicos- o próprio Wikipedia afirma que o termo «nutracêutica» está mais vinculado ao marketing do que à ciência, mas o fato é que produtos criados a partir desse preceito de combinar nutrição e farmacêutica já são uma realidade.
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O ponto de partida dos pesquisadores desses produtos reside na fitoquímica, campo da farmácia que estuda os componentes presentes nas frutas, verduras, legumes e cereais. Também são alvos de pesquisa ervas, folhas, raízes e espécies vegetais. Tudo para que, segundo os entendidos, se possa identificar elementos que possam trazer benefícios a saúde. Debate científico a parte, em termos de mercado, é fácil entender que a combinação de nutrição e farmacêutica se desenha como um caminho muito atraente para esse trilionário mercado global. A possibilidade de agregar à alimentação determinados princípios ativos não apenas facilita o tratamento de algumas adversidades físicas, mas também descortina um novo mundo para os laboratórios, sejam eles pequenos ou grandes.
Chocolate que promete diminuir a fome e aumentar a saciedade é um dos produtos nutracêuticos que está sendo desenvolvido na região.
BALAS, GOMAS, SOPAS, IOGURTES, CHOCOLATES E SORVETES SÃO ALGUMAS DAS FORMAS DE CONSUMO DE PRODUTOS NUTRACÊUTICOS Nutracêutico não é alimento funcional Embora os nutracêuticos não tenham nenhuma relação direta com os alimentos funcionais (que são produtos que declaram ter benefícios extras, além da nutrição básica), foi por causa desses últimos que eles surgiram. Na década de 80 o governo do Japão estabeleceu um programa para desenvolver alimentos saudáveis para a sua população. Esse financiamento fez com que surgisse, pela primeira vez, pesquisas orientadas a descoberta de alimentos funcionais, dando origem a uma série de novos produtos que, ainda hoje, muitas vezes são confundidos com suplementos. A grande diferença é que os funcionais são consumidos na forma in natura, como um alimento convencional, e não através de shakes, pós ou cápsulas. Os exemplos nessa área são muitos, e passam por peixes, grãos, legumes, frutas, verduras, cada um com funções específicas. Da década de 90 para cá, o assunto interessou a diversos pesquisadores e empresas ao redor do mundo se dedicaram a procurar novas substâncias que de alguma forma pudessem ser identificadas como benéficas à saúde. A identificação de populações que tivessem uma baixa incidência de determinas doenças foi um dos pontos de partida que levaram os cientistas a estudar a alimentação desses grupos. Um caso clássico nesse sentido foi identificado com os esquimós, cuja alimentação baseada em peixes parecia ter uma relação com a baixa incidência de problemas cardíacos. A partir de premissas como essa, estudos foram realizados para identificar substâncias presentes nos mais diversos tipos de alimentos que pudessem, de alguma maneira, trazer benefícios para quem os consumia. Daí a isolar esses princípios ativos, para, então, introduzi-los em alimentos comuns, foi tão óbvio quanto dois e dois são quatro. Nascia, então, a nutracêutica, e com ela um novo campo de possibilidades para a alimentação humana, tão amplo que tem potencial para revolucionar cardápios por todo o mundo. 26
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Graciana Neumann, que trabalha na cidade de Nova Prata, é uma das pioneiras na pesquisa e no desenvolvimento de produtos nutracêuticos na região da Serra Gaúcha.
E na prática, o que temos no cardápio? Para conhecer alguns produtos desse novo campo de pesquisas, contatamos diversas farmácias de manipulação da Serra Gaúcha. Foi assim que chegamos até a farmacêutica Graciana Neumann, que comanda uma manipulação na cidade de Nova Prata. Apesar de residir e trabalhar em um pequeno município, ela possui, hoje, no mercado, a amostra mais completa de produtos nutracêuticos da região. Graciana comenta que o tema é realmente bastante novo, e que muitos colegas da área já estão trabalhando para produzir nutracêuticos. «Em Porto Alegre e São Paulo você já encontra em diversos lugares, aqui as pessoas ainda estão conhecendo e começando a olhar para esse ramo», explica. Ela também nos explicou quais são as aplicações mais comuns para essa nova categoria de produtos: saciar a fome (auxiliando dietas); reduzir o apetite; controlar a insônia; reduzir a ansiedade (calmante natural) e, por fim, agir como estimulante. Para isso, diferentes princípios ativos - todos derivados de produtos naturais - são isolados e inseridos dentro de diferentes formas de alimento, tais como balas, gomas, sopas, iogurtes, sorvetes, dentre outros. Para operacionalizar o uso, ela nos conta que passou os últimos três anos realizando experimentos: «Passava o tempo todo tentando melhorar o paladar, o aroma, a consistência. Algumas balas derretiam, outras ficavam com um gosto horrível, enfim, tudo que se possa imaginar, aconteceu. O mais difícil de tudo, no fim, é retirar dos produtos o gosto de remédio», avalia.
Cada produto que ela comercializa hoje passou por um longo tempo de testes. Ao final, diferentes nutracêuticos, com as mais variadas indicações, foram desenvolvidos. E nos mais diversos sabores: vão desde balas de laranja, abacaxi, limão, banana, morango, dentre outros, até sopas de mandioquinha e de ervilha com bacon. Claro que o sabor não agrada a todos. Por mais que Graciana se esforce, alguns paladares, mais afeitos ao doce tradicional, irão estranhar, por exemplo, o gosto das balas e o amargor do chocolate (que é composto de 70% cacau). Contudo, se você não for nenhuma formiga, não deve ter problemas em consumir numa boa. A sopa que a Graciana nos serviu também foi uma agradável surpresa: ao contrário das instantâneas oferecidas no varejo, não é tão rala. E possui um sabor bem melhor. (P.s.: Faço a ressalva de que o fato da sopa nutracêutica ter superado o gosto daquelas «de mercado» é tarefa facilitada simplesmente pelo fato dessas últimas serem muito ruins). O valor de varejo dos nutracêuticos ainda não é aquele que a Graciana gostaria. Pelo fato deles contarem com matérias primas importadas, o investimento mensal médio em um desses produtos deve variar entre R$ 50 e R$ 100. Contudo, quem paga, acaba achando muito mais cômodo e prático se deliciar com balas, sopas e chocolates que possuam algum efeito terapêutico. «A perspectiva no setor farmacêutico é que as cápsulas saiam de uso nos próximos anos. As grandes empresas estão trabalhando em outras formas de uso, e as balas são o futuro», resume.
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Grandes de olho nesse mercado Apesar desse mercado ainda ser novo e, por isso mesmo, ainda de baixo faturamento, gigantes do setor farmacêutico estão com os dois olhos em cima de novas possibilidades de negócio. «No Brasil, tudo começou em 2005. Nos últimos três anos melhorou bastante, cresceu bem. Hoje, duas grandes empresas já tomaram a dianteira e praticamente dominam a distribuição e a comercialização das matérias primas», conta Graciana. Por falar no conteúdo desses alimentos feitos em farmácia, perguntamos a ela sobre os riscos de uma dosagem excessiva. A farmacêutica nos explicou que esses produtos não utilizam substâncias que causem dependência e nem que apresentem risco de uma hiperdosagem. Segundo ela, os nutracêuticos se caracterizam pela presença de princípios ativos derivados de produtos naturais, manipulados com dosagens extremamente seguras. «Mesmo assim, é importante não deixar esses produtos ao alcance de crianças, sobretudo pela cor chamativa», acrescenta. A farmacêutica também revela que os grandes divulgadores dessa nova categoria de produtos, que servem para complementar a dieta - Graciana é categórica quando diz que eles não substituem refeições - não têm sido os farmacêuticos, mas sim os nutricionistas: «Os nutracêuticos não são medicamentos, portanto não é necessário receituário para adquirir. Mesmo assim, é sempre bom consultar um nutricionista antes. São eles que indicam o melhor complemento dentro de uma dieta específica, e muitos profissionais, com quem conversamos periodicamente, estão aprovando o uso desses produtos», resume. Graciana também espera que o desenvolvimento dos nutracêuticos desperte o interesse para novas formas de ingestão desses produtos. E conta com o apoio de chefs de cozinha: «O farmacêutico não tem formação gastronômica, por isso consegue ir até um limite em termos de formulação de sabores. A partir daí, é preciso iniciar um trabalho de pesquisa com chefs, em busca de aproximar cada vez mais o sabor desses alimentos dos que as pessoas costumam consumir. É possível, por exemplo, acrescentar um princípio que reduza o apetite em sobremesas, consomès ou em qualquer prato de preferência das pessoas. As possibilidades são muitas», conclui.
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«Muitos profissionais da área farmacêutica acreditam que o futuro da indústria passa pela eliminação das cápsulas e comprimidos, com a adoção cada vez mais frequente de balas e gomas». Graciana Neumann
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QUE FOME / FOOD IN MY BELLY Texto e fotos de Samuel Ramos samuel@trendlinemag.com.br
O pub do rei
Um lugar para beliscar, petiscar, beber, jantar e dançar. Assim é o The King Pub, de Caxias do Sul, o primeiro gastropub da região. Tá bom prá ti? Os pubs não são mais novidade. Sobretudo na Serra Gaúcha, onde a tradição das Public Houses (o nome pub é uma contração informal - apelido - desse termo) já se estende por alguns anos. Claro que na maior parte dos casos, os nossos pubs gaudérios tem muito pouco a ver com a rotina desses estabelecimentos na cidade referência do assunto: Londres. O modelo exportado de lá, também consolidado na Irlanda, chegou na Austrália e Nova Zelândia da mesma maneira: como regra geral, pub abre cedo, fecha antes da meia-noite, possui ambiente rústico e vive de servir doses cavalares de trago - em especial de cerveja. Aqui, com exceção da cerveja, as coisas são um pouco diferentes: o pessoal toma banho antes de ir a um pub (????), chega tarde e sai depois que a carruagem da Cinderela virou abóbora. Essa característica básica do serviço de bebida alcoólica faz do pub gaúcho uma espécie de boteco Reloaded, ou para ficar na linguagem local, uma releitura mais fina do bolicho, budega (com U), bareco e afins. E apesar de alguns estabelecimentos possuírem uma boa cozinha, com acompanhamentos dignos ao trago nosso de cada dia, a verdade é que as opções mais refinadas são escassas.
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Pois é justamente nesse vácuo que os ingleses tiveram a brilhante ideia de criar os gastropubs. Se desde sempre os pubs foram dedicados com afinco ao vinho (o precursor dos pubs foram as tabernae dos romanos, estalagens que atendiam aos enófilos ao longo das estradas romanas) e à cerveja, porque não dedicar a mesma atenção à cozinha? Pois foi exatamente assim que pensou o pessoal do The King, em Caxias do Sul, local que desde o começo desse ano abriga o primeiro gastropub da Serra Gaúcha. A proposta deles é se posicionar nesse nicho de mercado, se dedicando a atender não apenas as necessidades líquidas de seus clientes, mas também dispondo de uma carta gastronômica mais ampla e, que contemple, também, uma culinária mais elaborada e complexa. Dessa forma, além de uma extensa carta de cervejas, vinhos, espumantes e cocktails, há também uma diversidade de pratos que vão desde aperitivos (como o agnolini frito, da foto acima), steak & fries (bife com batatas fritas) e, claro, bacalhau, codorna, risotos e o que mais a chef Tuta inventar.
O THE KING APOSTA EM UM AMBIENTE MODERNO, DESCOLADO E CASUAL PARA ATRAIR TANTO O PÚBLICO DE HAPPY HOURS, QUANTO O PESSOAL QUE QUER UM LUGAR LEGAL PARA JANTAR E ATÉ MESMO OS BALADEIROS. TRENDLINEMAG . ANO01NO.01
Torta Holandesa, do The King: tão doce e tão boa que chega a doer os carrinhos. Gastronomia e diversão Maurício Rech, o promoter da casa, nos conta que o The King inaugurou esse ano, em fevereiro. Ele mesmo explica que a proposta do The King é tripla: 1) atrair as pessoas que saem do trabalho para que venham ao pub aproveitar a happy hour; 2) Fazer com que o vivente que veio para o happy fique para o jantar; e 3) Fazer com que, depois do jantar, se possa esticar a noite em uma balada. «Nossa casa aqui contempla e agrada a essas três situações. Você pode vir aqui beliscar e tomar uma cerveja, também pode vir para um belo jantar ou então optar por vir mais tarde e curtir uma de nossas festas. Claro que nossa ideia é fazer com que as pessoas encarem o cardápio completo de gastronomia e diversão», emenda. No quesito diversão, impossível não citar a presença do DJ Gui Oliveira. Responsável pela programação musical - que é dividida com as bandas e acústicos -, ele mostra muita sensibilidade na escolha da trilha sonora eletrônica que embala as noites do The King: o chillout, música de longe mesmo, é mesclada com deep house, nu disco e outras vertentes. Gui também é o DJ residente da pista de dança, que fica ali mesmo no pub, ao lado do restaurante.
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TURISMO / GO THERE Texto de Janaína Silveira* contato@radarchina.com * Jornalista, diretora do Radar China.
É uma viagem essa Amsterdã Fôlego, bom humor e um punhado de euros. Os três itens acima descrevem tudo o que você precisa para curtir a famosa Amsterdã. A cidade vive intensas 24 horas, que vão da pura contemplação artística ao prazer da festa pela festa. Escolha o seu barato ou aproveite de tudo. De uma forma ou de outra, você ficará com vontade de voltar. Os pequenos prédios que ladeiam os canais, em ângulos que desafiam a física, ora inclinados à direita, ora à esquerda e algumas vezes projetando-se para a frente são só o início das surpresas. Aliás, um passeio de barco pode ser ótima pedida para conhecê-los. Pode parecer tudo meio igual, mas igualmente encantador. O emaranhado de ruas estreitas e a extensão de canais com prédios que parecem se debruçar sobre eles transforma a geografia urbana quase em labirinto.
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FOTO PANO ART´S
Fácil se perder por ali, então tenha sempre em mãos o seu endereço. E decore em qual parada deve descer. O sistema de transporte público é super eficiente e vale a pena utilizá-lo. Os bondes elétricos cobrem a maior parte da região central, onde usualmente estão os turistas. Um dos truques ao chegar à cidade – ou mesmo ao planejar a visita, pois ele pode ser adquirido online – é comprar o Amsterdã City Card, um cartão inteligente que garante a entrada em museus e a utilização de todo o sistema de transporte, à exceção do trem que liga o Aeroporto Schiphol à Estação Central. Há versões para um (39 euros), dois (49 euros) ou três dias (59 euros). A primeira impressão é de que Amsterdã é uma festa. São jovens que estão por ali. Músicos pelas ruas esperando por doações em euros impõem um ritmo, quem sabe até uma ginga. A cidade tem um grupo de capoeira que vez ou outra apresenta suas evoluções nas praças. E são várias.
OS PRÉDIOS DE AMSTERDÃ NÃO ESTÃO TORTOS, FOI VOCÊ QUEM BEBEU POUCO.
FOTO JANAÍNA SILVEIRA
FOTO JANAÍNA SILVEIRA
Amsterdã não é conhecida como cidade verde apenas por causa da liberação do consumo de cannabis. O senso de ecologia da sua população faz com que as bicicletas sejam o meio de transporte mais comum. Amsterdã é verde. O Vondelpark, bem no centro, é parada obrigatória. E Amsterdã se move sobre duas rodas. A maioria dos moradores opta pela bicicleta – veículo que por lá têm itens obrigatórios, como piscaalerta e espelho retrovisor. Os ciclistas podem circular casualmente em terno e gravata ou sobre saltos agulha. Sim, quem vai ao escritório também opta pelo transporte ecológico. A cidade tem esse ar de que tudo é muito bacana, tudo pode e de que todos se respeitam. Deve ser por isso que por ali circulam livremente os usuários de maconha ou haxixe, recém deliciados com as ervas em algum dos diversos coffee shops (ou pot shops?). Onde, aliás, não é vendido álcool. O cardápio chega a ser inusitado. Você entra e escolhe o quanto quer experimentar de poder lisérgico. Se for se aventurar na religião do Bob Marley, a dica é pegar leve. O consumo livre da cannabis é motivo de orgulho local. Lojinhas vendem sementes, cogumelos que prometem alucinações e toda uma gama de apetrechos para ampliar e melhorar a experiência de fumar.
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Mas nem só de cannabis vivem as lojinhas de souvenires: um produto que carrega o orgulho holandês são os famosos tamancos em madeira, bem como moinhos de vento, tulipas, holandesinhas em porcelana e, como não poderia deixar de ser, um que outro mimo que reverencie a erva e seus derivados. À noite, o Red Light District, ou o bairro da Luz Vermelha, fervilha. Os imensos janelões dos prédios típicos, aqueles mesmos que se debruçam sobre os canais, são vitrines para prostitutas que atuam legalmente na cidade. E há muita gente disposta a conhecer o trabalho de perto. Um programa de 15 minutos sai por 50 euros. Se você quer apenas matar a curiosidade, nem tente registros fotográficos: o clique pode provocar confusão e uma noite na cadeia pode ser a consequência. À luz do dia, o Rijksmuseum é um dos endereços preferidos. A coleção abriga obras do holandês Rembrandt (1606-1669), um dos maiores nomes da pintura ocidental. A poucos metros dali, um museu dedicado a outro conterrâneo de peso, Vincent Van Gogh (1853-1890), mestre do pós-impressionismo.
Os museus da cidade são parada obrigatória. O mesmo vale para os parques. Reserve pelo menos cinco horas para visitar os dois museus, nem pense em destinar um tempo menor do que esse. Se houver fôlego para mais história, inclua a Casa de Anne Frank no seu roteiro. A adolescente alemã de origem judaica que morreu aos 15 anos em um campo de concentração escreveu um diário, cuja publicação póstuma, em 1947, se transformou em um dos livros mais importantes do século 20. Ela e a família viveram escondidos em Amsterdã por quase uma década (1934-1942). Para relaxar, existe o Heineken Experience, uma micro viagem pela cervejaria mais famosa da Holanda. Depois, feche o dia com um prato de queijo Gouda, preferência nacional. Aliás, toque gastronômico: há casas especializadas em carne argentina a cada esquina. E a sorveteria norte-americana Ben & Jerry's garante a sobremesa perfeita para quem quiser adoçar a vida ou, simplesmente, dar um jeito na larica. FOTO ELVIS SANTANA
FOTO KARSTEN QUALMANN
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Obra de arte... Para vestir.
A moda que aparentemente “custa caro” tem uma razão de ser. E a tal alta costura vai muito além de assustar por suas cifras e encantar por sua beleza. Ela perpetua o fazer manual, a verdadeira artesania das roupas através das gerações.
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QG DO ESTILO / STYLE Por QuĂŠli Giuriatti* twitter.com/quelig *Jornalista e Professora de Moda
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Muitas vezes, ao lermos uma revista de moda bacana, nos deparamos com editoriais recheados de roupas lindas e caríssimas. Coisa que extrapola fácil os três dígitos. E nos perguntamos: quem compra uma peça de R$ 10 mil ou mais? Para tudo nessa vida há uma explicação e vou arriscar-me aqui dizendo: a alta costura tem valores astronômicos sim, mas que, muitas vezes, nem cobrem o custo de produção. Em outras palavras: um vestido de R$ 30 mil vale quanto pesa - dependendo do trabalho de confecção até saiu barato. Antes de virar a página e desistir da matéria, deixe-me explicar o porquê e, para tanto, vou precisar dar uma voltinha no tempo.
Criou, numa só tacada, a moda como a conhecemos hoje – no formato de criador/estilista + criação/coleção + consumidoras – e os desfiles/shows fechados de apresentação das roupas para a clientela. Esperto como ele só, Worth também fundou a Chambre Syndicale de La Haute Couture, ou seja, a câmara da alta costura, e delimitou por meio de várias regras quem poderia entrar e permanecer neste nicho. Essa instituição existe até hoje e, entre seus dogmas, estão: - Nenhuma peça pode ser costurada em máquina, apenas à mão, o que garante que o avesso é perfeitíssimo, contudo, gasta dezenas de horas de trabalho; - Conforme o nível de detalhamento, um único vestido pode ser trabalhado por 300, 400 horas só em aplicações de canutilhos (de cristal), por exemplo; - Só podem ser feitas duas cópias de um único modelo apresentado no desfile, ou seja, se o desfile teve 25 vestidos, haverá, no máximo, 50 vestidos (ou menos) neste mundo;
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FOTO IMAGE.NET
Na virada do século XIX para o XX, um inglês chamado Charles Frederick Worth mudou-se para a capital mundial da moda, Paris, na França, e causou uma revolução.
- Se uma consumidora norte-americana comprou um tailleur verde menta da haute couture Chanel, a outra interessada e possível compradora não poderá ser das Américas! Essa mulher poderá ser da Europa, Ásia, África ou Oceania. Assim, garante-se que as clientes tenham exclusividade total; - Um busto de modelagem é esculpido em madeira conforme as medidas da cliente (o que custa muitíssimo caro) e a compradora em si deve realizar duas provas, no mínimo, da peça encomendada. A primeira prova é numa réplica em algodão (que é descartada) e a segunda já no tecido escolhido. Muitas recebem as equipes das marcas nas suas mansões, em qualquer lugar do mundo, no maior conforto;
FOTO DIVULGAÇÃO CHRISTIAN DIOR HAUTE COUTURE SPRING/SUMMER 2011
- A marca deve manter um ateliê com um número mínimo de costureiras full time e a maison deve ficar localizada em uma determinada região/bairro de Paris. E agora, o ponto fundamental: alta costura é apenas a francesa. Os políticos, ainda mais espertos que os estilistas, registraram a exclusividade do termo haute couture para a França. Então, seja na Itália, no Japão ou no Brasil, pode-se realizar peças de “alta costura” incrivelmente rebuscadas ou extravagantes, porém não pode-se denominá-las assim. A proteção legal é a mesma que o Brasil tem sobre a cachaça. Ou seja, existem centenas de fermentações da cana-de-açúcar no mundo inteiro, entretanto, cachaça só se for feita em território tupiniquim. A semana de alta costura francesa ocorre semestralmente. São poucas marcas e, a cada temporada, algumas grifes “caem” por não conseguir sustentar esse modo de criar tão especializado, artesanal e raro. O processo todo de criação é dispendioso e a mão de obra, superespecializada, onera, pois cobra bem pelo seu savoir faire. Para você ter noção, existe Mestrado em Bordado na França. No Brasil, tivemos apenas duas damas da sociedade clientes de verdade de haute couture: Carmen Mayrink Veiga e Bethy Lagardère. Se você nunca ouviu falar nelas, entre no mágico Google e conheça essas sábias senhoras. São atemporais no quesito elegância.
Agora, como é que todo esse sistema persevera se, lá no início da matéria, ousei dizer que mal se paga? A Haute Couture é responsável por gerar imensos volumes de mídia espontânea para as marcas. Um desfile em Paris repercute na TV, revistas, jornais e sites que, entre aspas, “bancam” toda essa função. E vou além: você pode não ter grana para comprar uma roupa com a etiqueta Yves Saint Laurent, porém, com certeza, um batonzinho ou um perfuminho você tem, certo? E por que você comprou um batom que custa uma fortuninha e um perfume que cada aplicação sai por R$ 10? É, minha amiga, algo, algum dia, chamou sua atenção e a conduziu a um sonho mítico, em um baile de máscaras, no qual você estava esvoaçante e linda num longo incrível Christian Dior... Mas ainda resta uma dúvida: no Brasil, temos alta costura? Sim, com certeza. E as revistas – aquelas do início dessa conversa – valorizam e muito nossos grandes criadores nacionais, aproveitando peças desfiladas em seus editoriais de moda. Porém, não temos direito de usar o nome. André Lima, Lino Villaventura, Samuel Cirnansck, Alexandre Herchcovitch, Reinaldo Lourenço, Gloria Coelho, e tantos outros nomes de nossa cena fashion fazem vestidos por encomenda, no tamanho da modelo, e com exclusividade. O valor é que é para bolsos profundos. Se o seu é curto, paciência. E ponto final.
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ESPECIAL / A IMIGRAÇÃO, PARTE
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Por Ângela Pomatti * angelapomatti@yahoo.com.br *Mestre em História das Sociedades Ibero-Americanas - PUC-RS.
Nannetto, polenta così O termo folclore provém da expressão folk-lore, de raiz saxônica, que significa: folk povo e lore saber. Nessa, que é terceira parte do Especial sobre Imigração Italiana, a historiadora Ângela Pomatti fala mais sobre o folclore que chegou ao Brasil através dos imigrantes que chegaram às colônias. O Rio Grande do Sul tem um folclore rico, que mistura as tradições dos primeiros gaúchos e os costumes dos povos que aqui se instalaram ao longo da sua história, principalmente dos negros, alemães e italianos. No caso da Serra Gaúcha, podemos afirmar tranquilamente que a colonização italiana marcou fortemente esse local. Quando os imigrantes aqui se instalaram, trouxeram consigo as tradições folclóricas da Itália do final do século XIX e início do XX, que aqui se fundiram com as já existentes, transformando-se em uma espécie única de folclore, que muito pouco se parece com as tradições existentes no seu país de origem nos dias atuais. De influência italiana notamos: as festas de igreja, capelinhas, histórias e contos e as cantigas italianas - principalmente aquelas que contam a saga da imigração -, crendices, superstições, benzimentos, artesanato, comidas típicas, entre outros. Os imigrantes, quando aqui chegavam, organizavamse para que as primeiras construções levantadas na comunidade fossem a igreja e o salão de festas. Mais do que representar toda a religiosidade desse povo, essas duas construções representavam o encontro e a vida social destes imigrantes. Ali eles festejavam, praticavam esportes, cantavam, e, claro, se divertiam. Geralmente relacionadas às festas realizadas em homenagens a santos padroeiros e da devoção da comunidade, estas manifestações folclóricas ainda são mantidas em quase todas as cidades de colonização italiana. Outra manifestação mantida são as histórias e mitos sobre os primeiros imigrantes e contados por eles.
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Um dos mitos mais presentes entre os descendentes de imigrantes italianos são as histórias do Nanetto Pipetta. Escritas pelo frei Aquiles Bernardi, em dialeto italiano, e publicada inicialmente em forma de folhetim pelo jornal Stafetta Riograndense, de Caxias do Sul, entre os anos de 1924 e 1925, as histórias de Nannetto Pipetta descreviam como era a vida dos primeiros imigrantes italianos no Brasil. A saga de Nanetto Pipetta representava a busca utópica da cucagna em terras distantes. Nascido em Veneza, em noite de lua minguante, e por isso fadado ao azar durante toda a vida, este personagem demonstrava as dificuldades dos italianos recém-chegados, bem como o sonho de melhorar de vida, sempre vendo-se envolvido em contratempos e acidentes, que fazem com que os contos assumam uma veia cômica.
Dentre muitas manifestações folclóricas trazidas pelos imigrantes italianos está a Capelinha, que ainda hoje costuma circular entre os lares de diversas localidades da região.
FOTO DIVULGAÇÃO
Os contos de Nanetto Pipetta chegaram a ser publicados em um livro: Vita e Stòria de Nanetto Pipetta – Nassuo in Itália e vegnudo in Mèrica par catare la cucagna (1937). Porém, com o início da Segunda Guerra Mundial, o livro foi proibido, de acordo com a política governamental de reprimir os estrangeirismos. A partir de 1956, após o fim das proibições, a obra foi reeditada várias vezes. Apesar de surgirem como publicações, não se encaixando na definição de folclore que prega a transmissão oral, as histórias de Nanetto Pipetta transformaram-se em mito e foram passadas oralmente pelos imigrantes aos filhos e netos, tornando-se contos de aceitação coletiva. Hoje a figura de Nanetto Pipetta é considerada um símbolo da cultura italiana no Rio Grande do Sul.
Ainda podemos citar outras manifestações folclóricas muito conhecidas, como o artesanato em palha de milho e trigo, utilizado na confecção de bolsas e chapéus; a alimentação típica; as crenças populares, como benzimentos e superstições, os costumes como o filó e os jogos de carta, entre outros inúmeros exemplos. FOTO GILMAR GOMES
Merica, Merica Outra manifestação folclórica muito presente no Rio Grande do Sul é a presença de cantigas italianas que remetem à chegada dos imigrantes e/ou aos primeiros anos desta colonização no Brasil. Uma das canções mais conhecidas chama-se Merica, Merica. Ela tornou-se uma espécie de hino dos imigrantes italianos no Rio Grande do Sul, pois descreve a saga da chegada dos primeiros imigrantes ao estado.
Ininteligível para leigos, o jogo de mora é um dos mais divertidos - e barulhentos - da tradição folclórica dos imigrantes que chegaram à Serra Gaúcha.
Dalla Italia noi siamo partiti Siamo partiti col nostro onore Trentasei giorni di macchina e vapore, e nella Merica noi siamo arriva'. A Bela Polenta também é uma das cantigas mais conhecidas e descreve a fabricação da polenta, alimento muito tradicional na serra gaúcha - que não é lá muito conhecida na Itália -, desde o seu plantio, preparo, até ser servida. Essas canções são amplamente conhecidas e cantadas em praticamente todas as festas que homenageiam a cultura italiana. Quando si pianta la bela polenta, la bela polenta si pianta così, si pianta così, si pianta così. Bela polenta così. Cia cia pum, cia cia pum. Cia cia pum, cia cia pum.
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«Nanetto, piampianelo, el se tirava vanti verso le tere alte. Co la speransa de catar calche ànima viva.» Trecho da história de Nanetto Pipetta. Além dos livros e da transmissão oral das histórias, os contos do imigrante também integram o folclore da região através de interpretações cênicas, tais como o Teatro de Bonecos de Nazareno (Caxias do Sul).
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FOLCLORE É CULTURA / FOLK Por Marcelo Pandolfo Nedeff* * Coordenador Geral e Diretor Artístico do Festival Internacional de Folclore de Nova Prata
A cidade voltou a dançar Nova Prata tem ritmo e esse ano voltou a dançar. É dessa forma que eu encaro o retorno do Festival Internacional de Folclore.
Ritmo que tomou um compasso de espera, pois tivemos que aguardar quatro longos anos para entender melhor a nossa população, seus desejos e seus sonhos e encarar o amadurecimento do projeto.
O festival, em sua nova formatação, agora se encaixa em nosso calendário permanente de eventos, merecendo ser repensado quanto a uma festa “oficial” do nosso município. Não precisamos ter as mesmas feiras que outras cidades possuem, pois já fomos considerados o melhor Festival da América Latina pelo IOV – International Organization of Folk Art – entidade que mantém relações institucionais com a UNESCO.
O Festival de Folclore é de extrema importância para o município, pois é vitrine tanto para os talentos da casa quanto para artistas internacionais, que durante os dias de festa apresentam suas mais variadas expressões culturais, através da dança, da música e das artes em geral.
O sucesso da verdadeira festa que é o Festival de Folclore se deve também à pluralidade de nosso povo, constituído não somente por descendentes italianos, como ocorre na maioria das cidades vizinhas, mas também por outras tantas etnias: africanos, poloneses, alemães, dentre outros povos.
Esta declaração de amor ao público, seja no palco, nas escolas, nas feiras, nas praças e nas ruas, fez com que a energia fosse restabelecida: no começo de agosto nossa cidade estava colorida, saudável e feliz. Durante uma semana Nova Prata não apenas esteve na moda, mas também foi a própria moda.
Atribuo a esse fato a nossa identificação com estes artistas que a cada edição do Festival nos encantam e entendo que nos reconhecemos através de suas manifestações.
Devemos comemorar, pois esse ano o Festival Internacional de Folclore de Nova Prata voltou a ocorrer, mostrando que esse povo tem ritmo.
Não acho que tenhamos perdido o título de “Cidade Cultura”, penso que ele talvez estivesse apenas adormecido, pois vimos durante esses dias de Festival quantos artistas temos, e o belíssimo trabalho que cada grupo apresentou. Acredito, sim, na palavra “reinvenção”.
Tenho certeza de que o Festival Internacional de Folclore veio para ficar, conquistou sim o seu lugar no coração de todos os pratenses e da população da região da Serra, pois ao vermos os sorrisos e os olhos de cada um dos espectadores, brilhando nas noites gélidas de espetáculo, não tenho dúvidas: Nova Prata tem ritmo, portanto, precisava voltar a dançar.
FOTOS SAMUEL RAMOS E EDIANE BUSSOLOTTO
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EM FORMA / GOOD LIVING Por Maria Cristina Frazon Telles* mcritell@pressa.com.br * Personal Trainer, Pós Grad. em Fisiologia do Exercício – UGF/RJ
A magia estética ajuda, mas não substitui. Com tantos tratamentos e promessas de resultados de maneira rápida, parece que é possível ter aquele corpo perfeito sem fazer sacrifícios na academia. Será? Para quem pretende exibir uma silhueta curvilínea na próxima temporada de calor, o mercado está bombando com inúmeros tratamentos de fora pra dentro - e vice-versa. São tantos que é até complicado escolher por quais deles iremos optar. E mais difícil ainda é descolar toda a grana que se precisa para ficar bem, investimento que sempre é encarado como uma necessidade estética e de autoestima. Que atire a primeira pedra a mulher que nunca experimentou ao menos uma drenagem linfática para melhorar a aparência. Até mesmo os homens, quem diria, também estão investindo no cuidado com seu corpo - ao que somos muito gratas, é claro! Massagens, cremes, máquinas que vibram, aparelhos de beleza que agem através de radiofrequência reduzem medidas, melhoram a celulite, o tônus muscular, tudo de forma rápida e prática. Agora, se você é daquelas que experimentam todas as novidades, a hora da vez é um tênis específico para corrida e outro para musculação. A ideia é que a tecnologia do solado ajude a emagrecer e dar tônus muscular aos glúteos, coxas e panturrilhas. Mas fiquemos atentos, tudo isso acontece de maneira localizada. E o restante do corpitcho, como fica?
Já pensou, passar horas por mês fazendo procedimentos maravilhosos nas coxas, abdômen e nos famosos glúteos mas aí na hora de dar tchau o esquecido braço ficou balançando?! Você pensou que escaparia da boa e velha malhação em uma academia? Na na na, ledo engano. Para ter um visual proporcionalmente trabalhado e saúde em dia, é preciso complementar os tratamentos que a tecnologia nos oferece com um bom treinamento com pesos e uma dose de aeróbicos. Também não é possível se esquecer da reeducação alimentar. Mesmo que você encare uma das muitas alternativas cirúrgicas (lipoescultura e afins), a verdade é que a duradoura transformação do corpo, no longo prazo, resulta do cuidado com duas áreas: alimentação e exercícios. Sem esse cuidado duplo com o corpo nenhum procedimento extra será suficiente para garantir o corpo “invejável” desta ou daquela pessoa. Tecnologia à parte, os BONS e VELHOS exercícios são a garantia para conseguir BONS e DURADOUROS RESULTADOS. Ainda dá tempo, estamos na contagem regressiva para o verão. Se você realmente deseja um corpo que sempre pediu a Deus, tenha certeza que com o passar do tempo todo o esforço e suor serão muito bem recompensados. Comece já a batalhar pelo corpo que merece exibir quando o calor chegar.
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IMPEDIMENTO / FUERADEJUEGO por Douglas Ceconello* www.impedimento.org * Jornalista e editor do Impedimento
Fica, sai, chega, volta Celso Roth
FOTO JEFFERSON BERNARDES / VIPCOMM
No futuro breve, todos os técnicos de futebol serão substituídos por um APLICATIVO. Não tem jeito. É uma evolução natural da tecnologia e do futebol: acrescentar todo o conhecimento tático já adquirido em um PENDRIVE e conectá-lo para dar palestra aos jogadores antes dos embates futebolísticos. Quando esta revolução finalmente acontecer, não vai adiantar chorar e socar paredes. Será um passo irreversível da modernidade, como todos estes que vem se sucedendo recentemente. No entanto, teremos muito a lamentar, sobretudo a ausência do já mitológico Celso Roth. Nascido em Caxias do Sul, Celso Roth (Sexy Hot para os íntimos) está perdendo dinheiro, justamente por ser único e inconfundível. Se abrisse uma agência – “Bigode Empreendimentos Futebolísticos” é uma sugestão de nome – poderia atender Grêmio e Inter ao mesmo tempo, colocando sósias à beira do gramado. Nos últimos anos, desde Cláudio Duarte, nenhum outro técnico tem socorrido a dupla Gre-Nal com tanta frequência.
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Nas últimas décadas, Celso Roth adquiriu aquele carimbo de “técnico que ajeita a casa”, independentemente se esta característica será usada para livrar um time do rebaixamento ou para conduzir ao flamante título da Libertadores, como ocorreu em 2010 com o Inter. Dificilmente nosso eterno sargento é chamado para iniciar um trabalho de fôlego, liderando um time de janeiro a dezembro, com a possibilidade de consolidar uma trajetória sem sobressaltos ou constantes ameaças de demissão. É bem verdade que Sexy Hot também colabora para este estado de ebulição infinita em suas aventuras. Como não é de arreganhar os dentes para qualquer ANEDOTA, tende a ser rotulado de ranzinza pela opinião pública, o que sempre deixa sua rotina repleta de sensações extremas. Também se destacou por não ser exatamente um ás da psicologia no trato com os craques, colocando Ronaldinho na reserva de ITAQUI no Grêmio, em 1999, e chamando o colorado Chiquinho de “xodó da torcida” ao mandá-lo resolver um jogo aos 40 minutos do segundo tempo. Se não merece ser caricaturado com chifres e tridente, também não é santo, este Roth.
Em sua epopeia rothiana, o treinador já passou três vezes pelo Inter e outras quatro pelo Grêmio (contando esta atual). Seus grandes títulos foram vencidos em sua HOSPEDAGEM no Olímpico ou no Beira-Rio. Comandando Fabiano Cachaça, ganhou a primeira taça de expressão, com o Gauchão de 1997. Depois, com o Grêmio, faturou o Estadual de 1999 e a Copa Sul daquele mesmo ano. Também logrou um triunfo de respeito ao faturar a Copa Nordeste com o Sport em 2000. Desde então, até levantar a Libertadores com o Inter ano passado, viveu um retumbante CELIBATO de troféus, um dos maiores desde sua primeira conquista, a copa DALTRO MENEZES, em 1996, com o Caxias. Pode não ser um retrospecto totalmente glamoroso, mas certamente não é pela ausência de taças que Celso Roth é tão carinhosamente odiado por colorados e gremistas. A grande celeuma que a presença de Celso Roth desencadeia onde quer que sua carteira de trabalho seja assinada não se refere à disposição em trabalhar. Muito pelo contrário, já que testemunhas confiáveis podem comprovar que o homem é praticamente um PEÃO insaciável, que tenta ajeitar o time a marretadas faça chuva ou faça sol. O problema é que, devido à sua inquestionável autoestima, este caudilho da casamata sempre encontra uma forma de bater de frente com a opinião do UNIVERSO e, num jogo decisivo, sacar um atacante para colocar um volante, preferir o craque indiscutível pelo centromédio contratado da segunda divisão do ACRE. Quando a casa está desabando e parece prudente que todos juntem seus pertences e desçam pela escada de incêndio, ele semicerra os olhos e prega: “Cautela”. Dessa forma, é importante ressaltar que há dois aspectos de fundamental importância para que Celso Roth finalmente ingresse no PANTEÃO dos treinadores inquestionáveis. A primeira, e sem dúvida a mais urgente, é retomar em seu ESPECTRO o uso daquele inolvidável bigode, cuja ausência provocou a derrocada de sua autoridade moral à beira do campo.
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Em priscas eras, não havia jogador e juiz que não murchasse a crista ao se deparar com aquele glorioso e eriçado chumaço de pêlos. A segunda mudança, mais sutil, é perceber que, por mais injusto que pareça, o planeta infelizmente não segue uma rotação rothiana. As galáxias não orbitam ao redor daquela nuvem de resmungos e genialidades táticas. Quando Celso Roth, qual um cachorro atento, levantar a orelha para ouvir ao menos uma ínfima parcela do que nós, simples mortais, estamos dizendo, sem dúvida começará a pavimentar com tijolos dourados seu caminho para o hall da fama do futebol. Porque, bem, ele é muito mais charmoso que um pendrive.
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TELEFONE VERMELHO / CRT Por Marcos Beck Bohn* * Jornalista, com Mestrado em Comunicação Transnacional e Mídia Global pelo Goldsmiths College, em Londres.
Cama na varanda De fato, a Escócia é o Rio Grande do Sul do Reino Unido. Durante muitos anos, ouvia a famosa música do Raul Seixas (composta, como muitas outras, em parceria com o Paulo Coelho) e me identificava bastante com um verso escondido lá no meio da canção. É mais ou menos assim: “Quando todos praguejavam contra o frio, eu fiz a cama na varanda”. Não é que tenha nascido dez mil anos atrás, mas sempre achei que fosse um homem do frio. Até passar o último inverno no Rio Grande do Sul. Era ainda outono. Camarada de longa data chama para ver um jogo qualquer na televisão. Ali pelo meio da partida, ele estranha: “Tá com frio, meu?”. Estou encolhido no canto do sofá, abraçado a mim mesmo, tentando disfarçar a vontade de ir embora antes do fim. Quando qualquer um dos presentes falava, o ar era cortado por aquela fumacinha que sai da boca nos dias gelados. Isso, dentro do apartamento, que fica na parte alta de Porto Alegre. No livro «Educação de um Bandido», autobiografia do Edward Bunker, que vem a ser o Mr. Blue do filme Cães de Aluguel, ele conta da própria surpresa quando compra a primeira ceroula. Está em viagem – ou em fuga – para o nordeste dos Estados Unidos, subindo a Rota 66. Quando alcança Oklahoma, descobre que o carro tem diversas fendas que ele ainda não havia notado. O aquecedor não dá conta de amainar o gélido vento que entra. E o Bunker, que nunca tinha saído de Los Angeles, percebe que não tem roupa para o frio. Antes de assaltar o banco de uma cidadezinha qualquer (ele não esperava até ficar completamente sem dinheiro), vai até uma loja para comprar casacos e blusões. A atendente, então, sugere a ceroula. Talvez porque tenha contado que estava vestindo duas calças. “Sempre achei que só homens velhos usassem cuecão”, arremata o Bunker. E sai, aquecido para continuar a sua jornada de alguns crimes, muita literatura e temporadas na prisão. Se ele, numa improvável hipótese, tivesse conhecido algum gaúcho gauderiando pelos pagos do Tio Sam, provavelmente já saberia que a verdade é bem outra. 50
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O cuecão, meu amigo, é a salvação da lavoura. Comprei dois antes de me mudar para Londres. Quando voltei, achei por bem trazê-los na bagagem. O nosso inverno ainda não estava na metade, e ambos já tinham sido muitíssimo mais usados – aqui – do que o foram na Inglaterra. Mesmo assim, naquela noite do convescote esportivo, no apartamento na parte alta de Porto Alegre, o cuecão ajudou, mas não resolveu. Diz o anfitrião, sem saber da ceroula: “Mas o que aconteceu contigo, tchê?”. Diante da pergunta, desacostumado com o frio, lembrei-me de uma teoria que circula em algumas rodas de conversa “underground”. Fala sobre a função social do bairrismo. Lugares em que os habitantes encontram formas de valorizar coisas que, na verdade, são desagradáveis, ou até bastante desagradáveis. Em texto publicado aqui no ano passado, escrevi que a Escócia é o Rio Grande do Sul do Reino Unido. Lá, segundo os próprios escoceses, é o único lugar do mundo onde se tem as quatro estações do ano no mesmo dia. Felizmente, não é só por essa característica que nos parecemos com eles. Passei menos de uma semana por aquelas bandas. Tempo suficiente, no entanto, para poder dizer: é verdade. Faz sol, chove, faz frio, o céu abre, esquenta de novo... Tudo em poucas horas. Com todo o respeito, e sinceramente apreciando a Escócia, pergunto-me: isso lá é coisa para se orgulhar? A propósito, o nosso frio não é o problema. Gosto do frio e de tudo que representa. Mas lamento por aquilo que ele não nos trouxe. A estrutura do Rio Grande do Sul não condiz com o frio que faz no estado. Cama na varanda, meu guasca, nem vestindo duas ceroulas, nem que tivesse nascido há dez mil anos. Pior para quem a única opção é dormir ao relento. Sem poesia, sem lirismo meia-boca, sem qualquer pueril identificação com uma canção. Talvez sem um próximo inverno, de tanto frio. Agora... Agora é primavera, a gente nem lembra mais.
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