ENSINO EM FERIDAS: FORMAÇÃOPRÉ-GRADUADA EM ENFERMAGEM

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ENSINO EM FERIDAS: FORMAÇÃO PRÉ-GRADUADA EM ENFERMAGEM WOUND EDUCATION: UNDERGRADUATION TRAINING IN NURSING LA ENSEÑANZA EN HERIDAS: FORMACIÓN DE PRE-GRADO EN ENFERMERÍA Autores: Paulo Alves1, Margarida Vieira2

Resumo: As boas práticas no tratamento de feridas implicam formação de base sólida e atualização constante de conhecimentos. A avaliação clínica dos doentes com ferida depende de uma abordagem integral, isto é, da avaliação do estado geral do indivíduo e de um diagnóstico etiológico correto para a escolha da opção terapêutica adequada. Este estudo teve como objetivo investigar a formação pré-graduada sobre prevenção e tratamento de feridas dos cursos de Enfermagem em Portugal. Neste sentido, desenvolvemos um estudo de âmbito quantitativo, através de um questionário na área do ensino sobre feridas, enviado às 41 instituições autorizadas para ministrar os referidos cursos em Portugal, com uma taxa de retorno de 92,7%, 38 instituições responderam. Os resultados obtidos permitem concluir que o número de horas sobre feridas é exíguo, a lecionação é maioritariamente teórica e os conteúdos lecionados deveriam ser mais alargados. Sugerem-se alterações aos curricula dos cursos, como o aumento do número de horas letivas, maior componente prática e promoção da investigação na área. Palavras-chave: Ensino, Prevenção, Tratamento, Feridas Abstract: Best practices in wound care involve formation of solid and constant updating of knowledge. Clinical assessment of patients with wound depends on a holistic approach, assessing the general condition of the individual and of a correct etiologic diagnosis for choosing the appropriate treatment option. This study aimed to investigate

tions authorized to teach those courses in Portugal, with a return rate of 92,7%, 38 institutions responded. The results indicate that the number of hours on wounds is small, the teaching is mostly theoretical and the contents taught are scarce. Suggest themselves to changes CVs of courses, such as increasing the number of teaching hours,

AIS

more practical and promotion of research in this area. Keywords: Education, Prevention, Treatment, Wounds Resumen: Las mejores prácticas en el cuidado de heridas implican una formación sólida y actualización constante de los conocimientos. La evaluación clínica de los pacientes con herida depende de un enfoque holístico, es decir, evaluar el estado general de la persona y de un correcto diagnóstico etiológico de la elección de la opción de tratamiento adecuada. Este estudio tuvo como objetivo investigar la formación de pre-grado en la prevención y tratamiento de las heridas de la Enfermería en Portugal. En este sentido, hay sido desarrollado un estudio cuantitativo, utilizando un cuestionario en la educación en las heridas, enviado a 41 instituciones autorizadas para impartir estos cursos en Portugal, con una tasa de retorno de 92,7%, 38 instituciones respondieron. Los resultados indican que el número de horas en las heridas es escasa, la enseñanza es prácticamente teórica y los contenidos que se imparten son insuficientes. Proponer a sí mismos CV cambios de cursos, como el aumento del número de horas lectivas, más práctica y promoción de la investigación en esta área. Palabras clave: Educación, Prevención, Tratamiento, Heridas

Introdução Diariamente utentes com ferida procuram ajuda especializada dos profissionais de saúde, a formação adequada destes profissionais é central na prevenção e tratamento de feridas. A educação e a redução de custos na prevenção e tratamento de feridas são duas necessidades emergentes; boas práticas implicam profissionais de saúde bem treinados1 e otimização de recursos, traduzindo-se em ganhos na saúde. A educação relacionada com o tratamento e prevenção de feridas leva a uma melhoria de cuidados, de comunicação, contribuindo para a diminuição dos dias de internamento e, consequentemente, redução de custos2. A literatura demonstra que a educação em feridas é insuficiente e imperfeita no ensino pré-graduado3,4. São quase inexistentes em Portugal, estudos sobre o custo do tratamento das feridas 1 - Doutorando em Enfermagem – Assistente na Universidade Católica Portuguesa – Instituto Ciências da Saúde – Porto (pjalves@porto.ucp.pt) 2 - Professora Coordenadora Universidade Católica Portuguesa – Instituto Ciências da Saúde – Porto (mmvieira@porto.ucp.pt)

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the pre-graduate training on the prevention and treatment of wounds of the Nursing in Portugal. In this sense, framework was developed for quantitative study, using a questionnaire in education on wounds, sent to 41 institu-


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para o tratamento de feridas, origina o levantar de questões acerca do curriculum deste curso, e a pertinência atribuída a esta temática. Assim, com base nesta problemática, o objetivo foi identificar e caracterizar, sobre a temática das feridas, o ensino pré-graduado nos cursos de enfermagem. Faz-se, assim, a avaliação dos diferentes currículos, procede-se à aferição do tempo que é dedicado a esta temática, o número de horas letivas teóricas e práticas, a formação base dos docentes e os temas abordados sobre feridas. Metodologia Foi efetuado um estudo exploratório – descritivo transversal, numa abordagem quantitativa. Explorar um campo ainda desconhecido do ensino pré-graduado na área do tratamento de feridas, foi o ponto de partida para esclarecer e modificar conceitos, desenvolver novas ideias e formular questões e problemas mais precisos. Pretendeu-se aprofundar várias questões relativas à população em estudo, visando conhecer as suas características. Para tal, tornou-se necessário identificar vários fatores, entre os quais as distintas unidades curriculares, as diferenças nos curricula e as estratégias pedagógicas utilizadas para a abordagem da temática das feridas. Cada faculdade/instituição tem uma filosofia e um currículo escolar diferentes, e sua relação com as instituições de saúde é também diferente, o que acarretava inúmeras variáveis para o estudo, difíceis de controlar tornando-o muito complexo. Pretendeu-se estudar uma amostra representativa da população22. A amostragem seguiu dois momentos distintos. O primeiro foi a identificação de todas as instituições de ensino superior do referido curso. Esta identificação foi feita tendo em consideração todas as instituições públicas e privadas de todo o território nacional. Num segundo momento, foram identificados os diretores de curso em questão. Assim, a população alvo foi constituída por todos os diretores de curso de enfermagem, no ano letivo 2009/2010. Foi assim constituída uma população de 41 instituições do ensino superior, onde se pretendeu caracterizar a formação pré-graduada na área das feridas, através da aplicação de um questionário com perguntas fechadas, durante o inicio e fim do ano letivo de outubro de 2009 a maio de 2010. Inicialmente foi solicitada autorização a todas as instituições onde se pretendia colher informação. De seguida, todos os coordenadores de curso e regentes das disciplinas em questão, foram convidados a participar de forma voluntária com salvaguarda da sua confidencialidade. O envio do questionário foi realizado em dois momentos distintos, a fim de garantir a receção do mesmo. Num primeiro período, o envio do questionário foi por correspondência em carta fechada, e num segundo via correio eletrónico. A correspondência em carta fechada, continha o questionário e um envelope pré-pago, com morada impressa do destinatário para a devolução do mesmo após o seu preenchimento. O envio via correio eletrónico, continha dois ficheiros, um ficheiro em formato pdf distiller®, que permitia o preenchimento informático do questionário e reencaminhamento direto via correio eletrónico do investigador e uma versão para impressão, para envio por carta ou fax. Na data da receção dos questionários preenchidos de ambas as formas, foi atribuído um código e adicionado ao grupo do curso correspondente. Dos 41 questionários enviados, foram rececionados e corretamente preenchidos 38 questionários, tendo sido obtida uma taxa de retorno de 92,7%, o que pode ser considerado muito bom.

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e o seu impacto no orçamento da saúde. Esses custos podem ser reduzidos, garantindo que os médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde estejam devidamente treinados no diagnóstico e tratamento de feridas5,6 e muitas feridas crónicas podem ser evitadas, com o diagnóstico e tratamento apropriado evitando também o elevado sofrimento que acarretam. Aspetos como a dor, o sofrimento, a ansiedade, o isolamento social e o medo são aspetos que influenciam a qualidade de vida do doente e o processo de cicatrização das feridas7,8. Contudo os custos reais não são quantificáveis e, por isso, não são incluídos na estimativa de custo global do tratamento de feridas. A incidência de feridas tem impacto significativo na qualidade de vida dos doentes9. É exigido aos profissionais de saúde conhecimentos técnico-científicos para abordar todas as necessidades do doente com feridas. Uma formação de base atualizada e uma formação contínua devem ocupar importantes dimensões nestas profissões. É necessário planear estratégias educacionais para garantir que os profissionais obtenham o conhecimento e as habilidades adequadas para prestar os cuidados necessários ao doente com ferida10. A educação em tratamento de feridas deve refletir as constantes mudanças das necessidades clínicas. Isto desafia aqueles que fornecem educação que as suas capacidades e competências devem acompanhar e assegurar o desenvolvimento de conhecimentos adequados. Mas a falta de conhecimento e a pobre qualidade de ensino na área das feridas podem influenciar a prevalência das feridas. A maioria dos cuidados prestados aos doentes com ferida é prestada na comunidade e em serviços / internamentos de longa duração, pelos profissionais de saúde, sobretudo por equipas de enfermagem. Um estudo realizado no Reino Unido identificou que 67% dos enfermeiros não receberam formação em tratamento de feridas, após conclusão da licenciatura ou após a obtenção de título de enfermeiro(a)11. Alguns estudos referem, ainda, que existe uma falta de especialização nesta área, a que acrescem níveis mínimos de investigação, bem como pouca preocupação na gestão nos currículos médicos e de enfermagem nestas temáticas12. Mas estes estudos demonstraram que o ensino na área da saúde sobre a temática das feridas é insuficiente, inadequado e mal orientado3,4,13,14. Daí a preocupação da avaliação e melhoria do ensino nestas temáticas. Tanto para os doentes como para os profissionais, o fato de não terem acesso a uma base adequada de conhecimentos na área das feridas, tem implicações diretas sobre o tipo, nível e qualidade dos serviços prestados15. A educação em feridas oferece o conhecimento e a capacidade necessários para realizar a prevenção eficaz das feridas16. Educação pobre, falta de conhecimento e o uso inadequado destes são agentes causais primordiais para a elevada prevalência contínua das feridas17,18,19,20. É de extrema importância que todos os profissionais de saúde desenvolvam competências nesta área, com o objetivo de garantir a qualidade dos cuidados de saúde. Este estudo nasce de uma necessidade de analisar a formação recebida no ensino pré-graduado, sobre prevenção e tratamento de feridas, nos cursos de Saúde. As profissões que se relacionam diretamente com a prevenção e tratamento de feridas são os enfermeiros, médicos, farmacêuticos, técnicos de farmácia e, ainda, os podologistas. Existem no entanto outros profissionais que, indiretamente, também estão relacionados, os fisioterapeutas e nutricionistas. Neste estudo, parte do estudo nacional em todos os cursos de saúde21, será dado especial relevo aos profissionais que têm um papel mais direto na prevenção e no tratamento de feridas acima referidos os enfermeiros. A exigência de um corpo de conhecimentos próprio e definido


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QUADRO 1: Distribuição das unidades curriculares que abordam os conteúdos programáticos das feridas no CLE

Unidades curriculares

Instituições

ticas, orientação tutorial e aula de laboratório, de acordo com o Despacho n.º 10 543/2005 (2.ª série) publicado no Diário da Republica n.º91 II Série de 11 de maio (2005). QUADRO 2: Distribuição do número de unidades curriculares que aborda o tema feridas por instituição do CLE

Número de unidades curriculares

Número de instituições

1 unidade curricular

8

2 unidades curriculares

20

3 unidades curriculares

5

4 unidades curriculares

4

5 unidades curriculares

1

Fundamentos de Enfermagem

23

Enfermagem saúde do adulto e do idoso

13

Enfermagem Médico-cirúrgica

10

Patologia

6

Anatomia e Fisiologia

3

Enfermagem e o adoecer

2

Ciências de Enfermagem

2

Técnicas de intervenção em Enfermagem

2

Respostas corporais à doença

1

Na Figura 1 está representada a distribuição da tipologia das aulas relativas ao CLE. Efetivamente, quase metade do tempo total das aulas são teóricas (45,8%), 23,2% são práticas em ambiente laboratorial e 20,2% são de componente teórico-prática. A orientação tutorial ocupa 6,8% do tempo e outras estratégias de ensino ocupam apenas 3,2% do tempo total. As estratégias de ensino alternativas, referidas pelas instituições foram seminários, workshops e programa de e@learning específico para o tratamento de feridas.

Saúde comunitária

1

FIGURA 1: Tipologia das aulas do curso de Enfermagem

Cuidados continuados

1

Enfermagem e corporalidade

1

Primeiros Socorros

1

Doente crítico

1

Processo saúde doença

1

Enfermagem e Especialidades

1

Farmacologia e Dietética

1

Verificou-se que no mesmo curso a temática das feridas é abordada em diferentes unidades curriculares o que totaliza 68 referências em 38 cursos. No entanto, salienta-se que comparando os curricula de unidades curriculares com o mesmo nome, de diferentes instituições, os conteúdos são distintos. De acordo com os dados, no CLE a temática das feridas é sobretudo abordada na unidade curricular “Fundamentos de Enfermagem”, que adota a mesma designação em 23 Instituições (33%). O mesmo acontece com a “Enfermagem de Saúde do Adulto e do Idoso” em 13 Instituições (19%), e em “Enfermagem Médico-cirúrgica” em 10 Instituições (14%), em Patologia em 6 Instituições (8%) e Anatomia e Fisiologia em 4 instituições (4%). As unidades curriculares de “Ciências de Enfermagem” (3%), “Enfermagem e o adoecer” (3%), “Técnicas de intervenção em Enfermagem” (3%), são abordadas em duas instituições cada, nas 9 unidades curriculares restantes, cada uma delas é abordada apenas em 1 instituição (13%). Embora não releve para estes dados, algumas unidades curriculares com nomes mais específicos, poderiam sobrepor-se a outras com diferentes denominações, se interessasse categorizá-las. No Quadro 2 encontra-se o número de unidades curriculares que aborda o tema das feridas por instituição. Constatou-se que a temática das feridas nos cursos de CLE, é lecionada maioritariamente em mais do que uma unidade curricular, apenas oito instituições abordam a temática das feridas numa única unidade curricular. Pretendemos, ainda, determinar o tipo de aulas ministradas pelos diferentes cursos, relativas a esta temática. Foram divididas as aulas em cinco tipos distintos: teórica, teórico-práticas, prá-

6,9%

3,2%

Teórica Teórico-prática

23,2%

45,8%

Laboratorial Tutorial

20,9%

Outros

06

No Quadro 3 está representada a distribuição da carga horária referente à temática de feridas, de acordo com o número de horas e tipologia de aula. Para as horas totais no curso de enfermagem, encontramos uma mediana de 20 (17,25-28,5) horas dedicadas à temática das feridas. A maioria das aulas era teórica [10 (4-15,75) horas], seguindo-se as aulas teórico-práticas [4,5 (07,75) horas] e as aulas práticas em Laboratório [3,5 (0-8) horas]. No CLE, as unidades curriculares onde a temática é abordada são todas obrigatórias, garantindo que todos os alunos têm acesso a este conhecimento. No entanto, não existe qualquer unidade curricular autónoma para estes conteúdos programático, que provavelmente, seria de esperar, dada a relevância do tema para este grupo profissional. QUADRO 3: Divisão das horas e tipologia de aulas no curso de Enfermagem

N=38

Teóricas

Teórico-práticas

Tutorial

Lab.

Outro

Horas totais

Mediana

10

4,5

0

3,5

0

20

Percentil 25

4

0

0

0

0

17,75

Percentil 75

15,75

7,75

0

8

0,75

28,5

O estudo revelou que no CLE o total de docentes associado ao ensino de feridas é de 55 nas 38 instituições. Estes docentes são maioritariamente enfermeiros, sendo no total 48, que corresponde a 87,2% dos docentes. No entanto, também estão associadas a estas atividades letivas 7 Médicos (12,8%). Verificamos que os conteúdos abordados em cada uma das instituições são muito distintos, pelo que se procedeu à análise do conteúdo em 4 categorias com crescente complexidade.

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Resultados O Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE) em Portugal é ministrado por 41 instituições de ensino superior, já referidas anteriormente, sendo que responderam ao questionário 38. Os conteúdos relativos à prevenção e tratamento de feridas são ministrados no CLE em unidades curriculares não autónomas. Foi do interesse da investigação identificar em que unidades curriculares se integravam estes conteúdos, tendo-se identificado 17 unidades curriculares distintas (Quadro 1).


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No que diz respeito à 1.ª Categoria demonstrada na Figura 2, no CLE a temática História do tratamento das Feridas, e abordada em 53% das instituições (n=20). Já o tema tipos de cicatrização, é abordado por todas as instituições (n=38). As temáticas fisiologia da cicatrização das feridas agudas e alterações da cicatrização não são abordadas apenas por 2 instituições, sendo lecionada em 95% das instituições. O último desta série, a nutrição no doente com feridas, é apenas lecionada em 33 cursos (87%).

FIGURA 4: Distribuição dos temas abordados – 3.ª Categoria - CLE 100% 90% 80% 70% 60%

Não

50%

Sim

40%

FIGURA 2: Distribuição dos temas abordados – 1.ª Categoria - CLE

30%

100%

20% 10%

80%

N

60%

Desbridamento

Limpeza das feridas

38/38

Uso de antisséticos nas feridas 35/38

38/38

Materiais para tratamento local 38/38

Não Sim

40%

FIGURA 5: Distribuição dos temas abordados – 4.ª Categoria - CLE 100% 90%

20%

80%

0%

60%

70%

N

História do tratamento de feridas

Tipos de cicatrização

20/38

38/38

Fisiopatologia Alterações da da cicatrização cicatrização das feridas crónicas 36/38 36/36

Nutrição no doente com feridas

Não

50%

Sim

40%

33/38

30%

FIGURA 3: Distribuição dos temas abordados – 2.ª Categoria - CLE 100% 90% 80% 70% 60% Não

50%

Sim

40% 30% 20% 10% 0%

N

A dor nas feridas

Fisiopatologia das feridas crónicas

Feridas infectadas

Tratamento geral das feridas

Tratamento local das feridas

28/38

36/38

37/38

37/38

36/38

A 3.ª Categoria, na Figura 4, com a maior componente prática, os temas desbridamento, limpeza das feridas e material de penso são abordados em todas as instituições do CLE. O uso de antisséticos como temática emergente é abordado em 35 instituições (97%). A 4.ª e última Categoria, representada na Figura 5, estão descritas as distribuições das temáticas referentes às queimaduras. O primeiro conteúdo Pele foi lecionado em 34 instituições (89%). Nas temáticas etiologia e fisiopatologia, os resultados foram iguais, 31 instituições (66%). Quanto aos critérios de internamento verificou-se que não são abordados por 13 instituições. O conteúdo temático classificação das queimaduras foi abordado em 35 instituições (92%). O tratamento das queimaduras e tra-

20% 10% 0%

N

Queimaduras: A Pele - estrutura e funções

Etiologia

34/38

31/38

Fisiopato- Critérios logia de internamento

31/38

25/36

Classifi- Tratamento Tratamento cação das do doente das queiqueima- queimado maduras duras do doente 35/38

33/38

33/38

tamento do doente queimado, ambos os temas foram abordados em 33 instituições (87%). Foi do interesse do investigador, após a descrição das unidade curriculares, partir para uma análise aos conteúdos abordados no contexto da prevenção e tratamento de feridas. Da totalidade da amostra foi possível identificar que os conteúdos abordados por cada uma delas é muito distinto, alguns responderam de forma mais específica ainda, referindo que dentro da etiologia das feridas, nomeadamente das feridas crónicas, abordavam feridas específicas como úlceras de pressão (UP), úlceras de perna (Uperna) e pé diabético (PD). Quanto à distribuição acerca do número de temáticas em relação ao número de horas totais, podemos observar a Figura 6, onde se verifica a disposição das temáticas abordadas em relação ao número de horas totais efetivas dedicada ao ensino das feridas. Os resultados demonstraram que são dados diferentes níveis de importância as temáticas, verificou-se que apenas existe uma única temática abordada por todos os cursos, a limpeza das feridas. As temáticas mais abordadas em todos as instituições foram os tipos de cicatrização, tratamento geral e local e os materiais para tratamento de feridas, onde mais de 90% das instituições os abordam. Os dois conteúdos temáticos menos abordados, inferior aos 50%, são a História do tratamento de feridas e os critérios de internamento no doente queimado. Todas as outras temáticas são abordadas por mais de 65% das instituições. Outras correlações foram estabelecidas sem resultados estatisticamente significativos.

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Na Figura 3 está representada a distribuição da lecionação das temáticas na 2.ª Categoria, a dor no doente com feridas é lecionado em apenas 28 instituições (74%). Quanto à fisiologia das feridas crónicas e o tratamento local das feridas é lecionada em 95% das instituições. O tema feridas infetadas e o tratamento geral das feridas são abordados por 97% das instituições. O só não é abordado em duas instituições (95%).


ENSINO EM FERIDAS: FORMAÇÃO PRÉ-GRADUADA EM ENFERMAGEM FIGURA 6: Distribuição do número total de temas abordados em relação ao número de horas totais 25

Número de temas abordados

20

15

r=0,668; p<0.001

10

5

para estes peritos e são os enfermeiros generalistas, os profissionais que mais se debatem com estes problemas. Fazer o diagnóstico diferencial correto e atempado, é a base para o sucesso de qualquer intervenção, e as Universidades devem preparar na formação pré-graduada estes profissionais a fim de darem resposta a esta necessidade. Subestimar o ensino pré-graduado é banalizar as competências dos futuros enfermeiros, pela qual devemos investir na formação base de qualidade. Apesar do impacto negativo que têm as feridas para os doentes, familiares, cuidadores e para a sociedade, é lamentável que seja dado pouco relevo a este problema. Hoje é preconizado que os profissionais de saúde tenham conhecimento técnico-científico suficiente capaz de prestar cuidados de saúde de excelência, no entanto, são vários os estudos demonstraram que o ensino é insuficiente3,4,13,14.

0 20

40

60

Horas totais

Discussão Constatou-se uma grande diferença entre os curricula escolares. Pese embora todas as instituições abordem este tema, a seleção das horas dedicadas e a integração em unidades curriculares é distinta. Para as horas totais no curso de enfermagem, encontramos uma mediana de 20 (17,25-28,5) horas dedicadas à temática das feridas, tendo em atenção que numa das instituições de ensino do Curso de Enfermagem se verificou um período de tempo elevado destinado a abordar este tema, 68 horas num total de 4 anos, no entanto, em outra o total terão sido 6 horas, o que demonstra uma total heterogeneidade. O tempo elevado que enfermagem dedica no seu ensino, quando comparado com outros cursos da área da saúde21, esta relacionado com o papel do enfermeiro neste contexto, já que o tratamento de feridas está intimamente ligado aos cuidados de enfermagem. As intervenções associadas à prevenção e ao tratamento de feridas são uma das competências dos enfermeiros que desempenham um papel imprescindível neste contexto. É contudo insuficiente o tempo que alguns cursos de enfermagem disponibilizam nos curricula para a educação em feridas, com uma mediana de 20 (17,25-28,5) horas, o que talvez justifique a acentuada procura de formação contínua na área. Desta discussão, nascem algumas sugestões de mudança, em nome da evolução do conhecimento. Sugerimos algumas alterações aos curricula dos cursos em questão, não particularizando, mas certamente que nestes cursos alguns dos futuros profissionais terão um contacto próximo com utentes e com este problema do que outros, e isso foi tido em consideração. O número de horas lecionado, específico para as feridas é insuficiente. Dedicar um número superior de horas curriculares a este tema, pelos resultados verificamos que quantas mais horas forem destinadas ao ensino de feridas, maior será o número de temas abordados. Sugerimos ainda que se altere a metodologia de ensino utilizada nas sessões letivas, aumentando o número de aulas práticas face às existentes. Adoção de estratégias inovadoras e motivadoras para os alunos, como software de ensino sobre esta temática, seminários com peritos da área, utilizar simuladores sintéticos e investigação associados. Face ao crescendo científico desta área, seria importante que os docentes se atualizassem ao nível do “estado da arte”, pois só assim poderão contribuir para aquisição de conhecimento dos graduados. Existe a consciência em alguns países que as feridas são da responsabilidade de um especialista, em Portugal esta especialidade não existe, contudo quem faz o encaminhamento

Conclusão As feridas têm impacto significativo na qualidade de vida dos doentes, bem como nas suas famílias e na sociedade em geral, causando sofrimento e gastos enormes ao erário público. Os profissionais de saúde devem ser educados para intervir positivamente no processo de prevenção e tratamento de feridas. Para esse efeito, tem que ter competências e habilidades, para avaliar o doente e gerir os recursos humanos e materiais necessários, logo, a importância de um ensino teórico e prático de qualidade. Temos a convicção que, ao discutir sobre as práticas educativas em questão, estaremos a contribuir para a melhoria dos cuidados de saúde. A formação de todos os profissionais de saúde assenta numa formação universitária, onde se reconhece a estes profissionais a competência técnico-científica necessária para prestar estes cuidados, e neste caso em concreto poder colaborar no processo de prevenção ou tratamento de feridas. Como principal conclusão desta investigação, emerge a necessidade efetiva de identificar estratégias para melhorar o ensino em feridas, pois dela decorre a necessidade de se continuar a investigação nesta área e aprofundar os conhecimentos específicos com novos estudos. Sobre o ensino em feridas, o número de estudos e publicações é ainda ínfimo, e em Portugal é o primeiro que se conheça publicação. Este estudo aponta para a necessidade de aprofundar as razões da inclusão de diferentes conteúdos, subsequentes técnicas de ensino e duração. O que poderá ser feito por métodos de investigação prospetivos ou de consenso para a sua implementação. Mas este é apenas mais um ponto de partida para posteriores investigações. Esperam os investigadores que este estudo sirva de base para futuras alterações nos curricula, aumentando o foco de atenção nas temáticas relacionadas com a prevenção e tratamento de feridas. Referências bibliográficas 1. Teot, L. (2006). The role of education in wound healing. Lower extremity wounds , 9 2. Ennis, W., & Meneses, P. (1996). Strategic planning for the wound clinic in a managed care environment . Ostomy and wound management , 54-60 3. Gould, D. (1992). Teaching students about pressure sores. Nursing Standard , 28-31 4. Caliri, M. H., Miyazaki, M., & Pieper, B. (2003). Knowledge of pressure ulcers by undergraduate nursing students in Brazil. Ostomy wound Manage , 54-63 5. Posnett, J., & Franks, P. (2007). The costs of skin breakdown and ulceration in the UK. In S. &. foundation, Skin Breakdown - The silent epidemic (pp. 6-12). Smith & Nephew foundation 6. Gaspar, P., Costa, R., Costa, J., Fierro, J., & Rodrigues, J. (2010). Impacto da formação profissional cpntínua nos custos do tratamento das feridas crónicas. Referência , 53-62 7. Franks, P., Bosanquet, N., & Brown, D. (1999). Perceived health in a randomized trial of treatment for chronic venous ulceration. European Journal of Vascular Endovascular Surgery , 155-159

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0


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