DO RIO A MONTEVIDÉU 3.000 KMS DE MOTOCA
MANAUS
A CENA AQUECIDA
TROY, SECO, FEBEM E DAMASCENA NA ESTRADA COM OS LOUCOS
FABIANO FERNANDES
A ARTE DA RUA, COM TEATRO E CIRCO
TIAGO PICOMANO
OS DOMÍNIOS DO MINEIRO
www.triboskate.com.br
Ano 25 • 2016 • # 243 • R$ 12,90
Filipe Ortiz, impossible
HAIKAISS • MARCELO FORMIGA • MIKE DIAS • ANDRÉ HIENA
TRIBO SKATE 243 ABRIL 2016
ESPECIAIS 28. Gobby Tour
Na estrada com Troy, Seco, Febem e Damascena
36. Tiago Picomano Os domínios de Minas Gerais
46. Manaus
Cena aquecida
56. Rio a Montevidéu 3.000 Kms de motoca
SEÇÕES
Editorial..........................................................6 Zap ..............................................................10 Hot Stuff.......................................................72 Casa Nova ...................................................70 Tecnologia e Negócios ................................76 Playlist (Mike Dias) ......................................78 Áudio (Haikaiss) ..........................................80 Skateboarding Militant .................................82
CAPA: Depois de duas capas na Tribo Skate, 146 (dez/07) e 178 (ago/10), Filipe Ortiz faz parecer fácil lançar este impossible na cobiçada escada do Shopping Curitiba, mesmo com o local sendo vigiado 24 horas por dia. Foi lance rápido, tiro certeiro que o Pablo Vaz conseguiu fotografar, minutos antes da repressão acabar com o rolê. Foto: Pablo Vaz ÍNDICE: Zezinho Martins escolheu o forte calor de São José do Rio Preto e arredores, no interior paulista, para viver, criar a família e manobrar. E é neste último quesito que ele vem esquentando a cena regional, despertando assim o interesse de skatistas de todo o estado, que estão em busca de lugares inéditos. Foi em um desses rolês de apresentação dos picos locais que ele lançou este milimétrico fs tailslide no parapeito do refeitório de uma escola em Mirassol. Foto: Raphael Kumbrevicius
// Ăndice
Somos 8.500.000 skatistas no Brasil! // POR CESAR GYRÃO // FOTO PABLO VAZ
A
exclamação se fez necessária, pois a última pesquisa Datafolha que quantifica o número de praticantes de skate no Brasil, de 2015, demonstrou um salto de mais de 100% no número da pesquisa anterior, de 2009. Pelos cálculos da Confederação Brasileira de Skate (CBSk), somos 8.499.980 indivíduos que colocam os carrinhos pra andar com regularidade neste país tropical. Em 2009, este número era de 3.864.000 praticantes, base para tantas e tantas matérias sobre o crescimento da modalidade, pois trata-se de um levantamento feito sobre critérios e métodos científicos, com grande margem de acerto para retratar a realidade. O certo é que o skate há muito se configurou numa ótima alternativa de esporte, lazer, transporte, mercado, educação, inclusão social e tantas e tantas outras vertentes. Os sinais de crescimento são evidentes, com implicações em várias frentes da cadeia produtiva, incluindo aí políticas públicas que são criadas a partir desta cultura. Entre muitos exemplos, as prefeituras de São Paulo e do Rio de Janeiro, as maiores metrópoles do país, continuam construindo parques e praças com pistas de skate, algumas delas com programas de iniciação em escolinhas, horários especiais para veteranos e eventos regulares. A Tribo Skate retrata esta curva ascendente do esporte desde o ano de 1991, quando o país atravessava uma crise econômica como a atual. Enquanto muitos setores sofriam horrores para se manter vivos e se adequar às necessidades, o skate seguiu seu caminho se recompondo na base da união do mercado sob alguns pilares que lhe deram sustentação: 1. O skatista; 2. A mídia; 3. As marcas; 4. Os eventos; 5. As lojas; 6. As associações O mundo mudou muito nestes quase 25 anos, mas estes pilares continuam sendo a base de tudo. O skatista vive para andar de skate, viajar, correr campeonatos, criar manobras e influenciar outros a querer andar. A mídia potencializa e credibiliza essa influência, ajudando a formar as imagens dos ídolos e aqueles que naturalmente se sobressaem. As marcas investem nos skatistas que lhe completam a identidade, colocam no mercado produtos de valor agregado, abastecem as lojas, anunciam nas mídias e fazem o skate girar. Mais uma vez a mídia potencializa o trabalho das marcas, evidenciando seus feitos além de suas redes sociais. As associações (entidades esportivas em geral), promovem o esporte em eventos que movimentam a cena, criam competidores e campeões. As lojas são o elo entre as marcas e o skatista, mas muitas delas extrapolam esta função, promovendo eventos, apoiando atletas, criando pistas, apenas para citar algumas das suas ações. Enfim, se hoje a crise econômica trava alguns destes “fluxos” ou pilares, precisamos sempre lembrar que o número de 8.500.000 praticantes e o que isso representa, é uma conquista de todos e que mais uma vez temos que arregaçar as mangas e trabalhar para reconduzir o skate para o seu equilíbrio. Números e capacidade, nós temos!
// editorial
John Anderson, amador de Curitiba que vem nesta leva recente do skate brasileiro a se ficar de olho. Backside noseslide, sem espaço para muito impulso e na altura do sovaco. Primeiras saĂdas do Pablo Vaz com sua nova Hasselblad Digital.
ANO 25 • ABRIL DE 2016 • NÚMERO 243
Próxima Edição 244
Conexão Brasil x México
Diretor-Executivo e Publisher Felipe Telles Diretora de Criação Ana Notte Gerente de Conteúdo Renato Pezzotti Editor Junior Lemos Diretor de Arte Fernando Pires Editora de Arte Renata Montanhana Editor de Fotografia Ricardo Soares Produtora Carol Medeiros Conselho Editorial Cesar Gyrão e Fabio Bolota
Redação triboskate@triboskate.com.br Colaborararam nesta edição: Texto: Diogo Vaz, Eduardo Ribeiro, Guto Jimenez, Pedro de Luna, Thomas Teixeira e Vitor Sagaz. Fotos: Bernanrdo Waack, Cristina Sininho, Eleonora Bellé, Erick Bollmann, Cauê Lobato, Denis Fioranelli, Diogo Groselha, Guilherme Puff, Igor Wiemers, Leandro Moska, Pablo Vaz, Pedro Macedo, Raphael Kumbrevicius, Ricardo Soares, Rodrigo Porogo, Thomas Teixeira e Vinicius Branca.
Distribuição: DINAP Assinaturas www.assinenorte.com.br/faleconosco Telefones Belo Horizonte: 31 4063-9044 Brasília: 61 4063-9986 Curitiba: 41 4063-9509 Florianópolis: 48 4052-9714 Porto Alegre: 51 4063-9023 Rio De Janeiro: 21 4063-9346 Salvador: 71 4062-9448 São Paulo: 11 3522-1008 Endereço: R. Estela Borges Morato, 336 Limão – CEP 02722-000 – São Paulo – SP Impressão: Leograf
Alexandre Calado e Carlos Padilla Foto: André Calvão
www.triboskate.com.br A revista Tribo Skate é uma publicação mensal da Norte Marketing Esportivo
As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista.
zap //
+Homenagens a André Hiena
Skatepark POR JUNIOR LEMOS A reforma completa da pista de skate da Saúde em São Paulo foi entregue pela prefeitura no começo de março com muita emoção envolvida. Isso porque o local passa a receber o nome de um de seus mais ilustres filhos, o profissional André Hiena. Familiares, amigos e skatistas de todos os cantos da capital lotaram a pista, nesta homenagem à memória deste grande incentivador do skate brasileiro e do espaço que ele cresceu manobrando. A reforma foi realizada em duas etapas, com orientação e trabalho voluntário de alguns locais, o que tornou o espaço democrático para todos os estilos de skate. E para a lembrança ficar ainda mais viva, um extenso grafite feito pelo Rafael Shine toma conta de toda a parede da nova área, imortalizando a referência que sempre esteve com o Hiena, o seu sorriso, desenho que também é visto com frequência nas redes sociais daqueles que por ali passam e querem deixar claro toda a admiração e respeito por esse irmão e companheiro. O André Hiena Skatepark fica na rua Dom Villares, n.º 442, Vila Brasilina, embaixo do Complexo Viário Maria Maluf.
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Felipe Felix, varial heel bs lipslide
A ação Futebol Radical, que uma vez por ano acontece em Poá/SP, foi criada pela Ong Social Skate (comandada pelo Sandro Soares Testinha e a Leila Soares) para reunir os amigos do skate, da música e da arte em um ambiente diferente do que eles costumam estar, e assim chamar a atenção para as nobres atividades desenvolvidas pela entidade. E na edição deste ano rolou uma bela homenagem ao André Hiena, com a presença de familiares, amigos e ainda dando nome ao time que saiu vitorioso da disputa. "Teve o ano em que homenageamos o Chorão e esse ano, quando estávamos pensando no evento, aconteceu a parada do André. E a gente achou justa a homenagem a ele, em um momento que a gente vai estar ali, feliz, alegre, jogando bola, descompromissado do skate, dando risada, que eu acho que é aquilo que nos uniu lá no começo", explica Testinha.
THOMAS TEIXEIRA
JR LEMOS
Futebol Radical
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zap // ONDE O SKATE ME LEVAR // POR PABLOVAZ (@PABLOVAZ)
PABLO VAZ TEM ANDADO O MUNDO TODO COM SUA CÂMERA NÃO SÓ PELO SKATE, MAS TAMBÉM POR TODOS OS OUTROS TRABALHOS QUE VEM ENRIQUECENDO CADA VEZ MAIS SEU SELETO PORTFÓLIO. E MESMO QUANDO ESTÁ NA ESTRADA A LAZER, ELE NÃO DEIXA DE SACAR SEU MOBILE QUANDO SE DEPARA COM AQUELE MOMENTO ÚNICO QUE SÓ AS VIAGENS NOS PROPORCINAM!
Da esquerda pra direita, de cima pra baixo: 1. Airport life, 2. Another “boring” day with her, 3. Chegando em Porto Alegre, 4. China mission com esses caras; Só sucesso, 5. G’morning SP, 6. God bless, 7. Hi Rio, 8. Road road road... One of the best place to be, 9. Way to Vegas.... Anyway.
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@PabloVaz
RICARDO SOARES
zap //
HS Merch Criada em São Paulo no ano de 1997 pelo skatista profissional Cesinha Lost, que é também apaixonado por música e que participou ativamente da cena independente das décadas de 90 e 2000, a HSmerch.com é uma sub-divisão da Highlight Sounds, selo independente e empresa promotora de shows e eventos. Cesinha Lost foi um importante skatista profissional nos anos 90, capa da revista Tribo Skate nº 06 (1993) e chegou a correr campeo-
natos internacionais como o Münster Monster Mastership, tradicional mundial da Alemanha. A empresa tem como filosofia principal a confecção, venda e distribuição de produtos licenciados e 100% oficiais de bandas como Bad Religion, Foo Fighter, Pennywise, Lagwagon, Pearl Jam, etc, e agora está também aberta para a produção de produtos de marcas terceirizadas. www.hsmerch.com • (11) 3459-9018
Para brindar as boas ideias que envolvem o skate, a SP 011, do skatista profissional Masterson Magrão, apresenta a SP011 Sk8 Beer que chega em três tipos: weissibier, blond (ambas em 600ml) ale e pilsen (300ml). A novidade surgiu entre parceria com a Templum Kraft Beer e chega para marcar presença em pistas, baladas, restaurantes, galerias e tudo mais que tenha skatista e a galera que vive o lifestyle do skate. E a ideia é ter ainda um time diversificado que represente o rótulo, contando com skatistas, artistas, djs, grafiteiros, tatuadores e fotógrafos, como forma de mostrar o melhor que o skate e suas vertentes podem proporcionar. Aproveite o sabor dessa novidade, encontre o seu pico preferido pra degustá-la e boa session.
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CRISTINA SININHO SÁ
SK8 Beer
DIVULGAÇÃO
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Pablo Vaz, embaixador mundial Pelican O fotógrafo curitibano Pablo Vaz fecha parceria com a americana Pelican Products e se torna embaixador mundial da marca. Conhecido pelo seu trabalho com a fotografia de skate e cada vez mais solicitado para trabalhos publicitários e em diversos esportes, Pablo é também bastante ativo no seu trabalho de marketing. “Me sinto honrado de poder representar essa empresa que é líder mundial e tem os melhores cases para proteger meus equipamentos, seja no dia a dia como nas longas viagens. Já usava os produtos Pelican há quase dois anos e minha escolha pela marca se deu absolutamente pela confiança em que posso depositar em seus produtos e na proteção dos meus equipamentos de trabalho.”
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A Pelican Products é líder mundial na fabricação de cases rígidos mais resistentes e confiáveis do mercado para os diversos setores e atividades. Seja por músicos, profissionais e empresas da mídia, ou até mesmo exércitos pelo mundo afora, os cases da Pelican são mundialmente conhecidos e desejados por sua qualidade de construção e durabilidade para a vida toda. O programa Pelican Pro foi criado para mostrar indivíduos que vivem suas paixões e se destacam em uma variedade de atividades, escolhidos por seu senso de aventura, entusiasmo e paixões pela vida e pela marca. Geoff Rowley também é parte do projeto. Que honra, Pablo!
zap //
MARCELO FORMIGA
COMO NÃO LEMBRAR DO NOME DELE QUANDO FALAMOS EM VALE DO ANHANGABAÚ, UM PICO INCRUSTADO NO CENTRO DE SP E QUE O MUNDO TODO ASSOCIA AOS COMBOS ELE VEM ATUALIZANDO POR ALI A CADA DIA. E FOI NOS CLÁSSICOS BLOCOS DE GRANITO ROSA QUE FIZEMOS AS PERGUNTAS DE NOSSOS LEITORES AO MARCELO FORMIGA. CONFIRA! • O que siginifica o tal Tic que você usa tanto? (@fast_plant) - A Tic veio de uma parada de campeonato. É a fórmula da estratégia que eu descobri. Isso porque fazia os combos, várias manobras e nunca passava pra final. Vi que tinha alguma coisa errada, então conectei os juízes e perguntei; foi até o meu amigo Manoel Coimbra que deu essa ideia. Se você vai no campeonato que tem funbox, trave, 45 e quarter, aquela coisa tradicinal mesmo, você vai e acerta uma no caixotinho descendo, dá outra no caixote do outro lado, vai no cano, uma na 45 e termina com uma manobra cabreira, tipo varando a mesa do funbox. Foi daí que saiu o Tic 41, são quatro tics (manobras mais leves) e um boom (manobra pesada). Foi meio que uma brincadeira entre amigos: eu, o (Daniel) Crazy, (Paulo) Galera o Athos (Porto) e hoje uma galera se identifica porque na real o tic pode ser de tic também! Flagrei que as pessoas tem uma fissura por acertar a manobra, então o tic é meio que um toc também. Imagina o cara ficar 10 horas tentando uma manobra, esse cara tem tic né. E sim, também vai ser transformar em uma marca! Não vai ser uma parada ambiciosa, já tem samba-canção e camisão, que você pode adquirir no site calmaneggo.com.br, que é uma parada que estou fazendo com o Kennedy. E o Athos também está vendo se vai fazer shapes, umas paradas em Porto. Então teremos meio que divisões da Tic, pelo país afora.
zine Check it Out, conheço várias outras também dessa época e acho que tem que andar de skate mesmo, independente de qualquer padrão da sociedade, tem que andar porque gosta. O skate feminino também é parte do skate e a gente tem que valorizar isso aí! • Qual foi seu primeiro apoio? (@diogonojera) - Sei lá, não vou dizer que foi um apoio, mas tinha um cara que se chamava Ferrugem (não o Rodil). Eu morava no Belenzinho com meus pais - até encontrei ele esses dias na Blue Square - e ele me dava uns shapes e umas paradas, bem na época do Plan B. Tipo, foi ele que me apresentou esse vídeo! Foi na época que eu comecei mesmo e logo após eu comecei a viajar, ou melhor, o skate começou a me levar. • Formiga, sabemos que você é uma pessoa muito querida no Vale do Anhangabaú e tem uma chance desse lugar, que é um pico clássico no cenário do skate brasileiro e na história de São Paulo, deixar de existir. Gostaria de saber sua opinião e se
alguém se propôs a fazer algo sobre o assunto. (@passos1986) - Na real eu fiquei sabendo já faz uma cota e até achei que seria agora, no primeiro mês do ano mas não aconteceu nada. Já rolaram outros projetos, que acabaram não dando certo, agora parece que esse emplacou. Dizem que vai ser feito um mini-centro comercial e que vai ter uma parte pro skate. Eu acho uma tristeza porque o lugar é muito da hora, só acho que o poder público não anda tendo um certo cuidado com o lugar. As pessoas vem aqui pra conversar, namorar, tirar um lazer; é um lugar como qualquer outro. Mas sim, ele precisa de cuidados como limpeza e conservação! Vai ser uma tristeza se isso acontecer, mas vai ser como é nossa vida; um dia as coisas acabam. Como o Love Park, que acabou agora há pouco. Eu tô andando todo dia aqui porque estou fazendo uma parada com o Tristan, vídeo do pro model de vela que estou lançando com ele. Mas venho aqui todos os dias, mesmo que não seja pra andar! Acho que as pessoas têm que frequentar mais esse lugar, se for pra ter
//Marcelo Amador Formiga 34 anos, 26 de skate Patrocínios: Posso, Hocks e On Hardware Apoio: Colex Skateshop, Hashtag, Kronik, Tic, BS crew, PTG e NG Instagram: _4miga / Snapchat: marcelo4miga
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JR LEMOS
• Fala aí Formiga, parabéns pela sua carreira e me diga duas coisas: o que você ainda espera do skate e qual a sua opinião sobre o skate feminino brasileiro? Grande abraço, garoto. (@tio_paulo64) - Espero tudo do skate, porque ele é minha vida! Ando de skate porque eu amo, ele que me faz viver, me faz me locomover. Eu sempre viajo que estou escrevendo a página de um livro, quando estou andando de skate, quando volto uma manobra, estou filmando ou cada amizade que consigo através dele. Por isso que espero sempre tudo dele, e acho que todo mundo tem que fazer sua parte. Sobre o skate feminino, eu apoio e sempre apoiei. Antigamente tinha a Liza, que fazia o
GUILHERME PUFF
// zap
Bs grind na praรงa Roosevelt, um territรณrio democrรกtico para o lazer do paulistano
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VINICIUS BRANCA
// zap
uma mobilização contra a reforma. Porque ninguém vem andar aqui, tudo bem que é um pico muito difícil de manobrar, mas só que é um lugar bem louco, por isso acho que todo mundo precisa frequentar mais o Vale, principalmente nos finais de semana. Claro, ficarei muito triste se acontecer a reforma, mas estou aqui todo dia e espero que a galera venha andar aqui também! • Saudações Marcelo Amador, tenho um grande respeito por você, como skatista e ser humano. Mas quero saber se é verdade a história que em uma das suas viagens ao Rio de Janeiro, você passou espécies urbanas de piolho pra toda família da casa que você estava hospedado? Me contaram mas não acreditei! Você era bem pivete, já tinha um black monstruoso e já andava muito... É verdade essa história? Sou seu fã, um forte abraço. (@laidio) - Foi uma parada muito louca! Eu morava com o Mancha, da Street Town e que tem uma marca chamada X-Kaine, ele me ajudou muito durante 15 anos da minha vida. Foi uma das viagens que fiz com ele pro Rio, fiquei na casa de uma família, da MHS. Fiquei lá uma cara e nessa época tinha bastante piolho mesmo. Eu nem sei se passei pra alguém, mas acho que não! A família fazia shape e até tinha meio que apoio porque me identifiquei com todos eles, meu nome também é Marcelo e tal. Eles faziam os shapes no quintal, rolavam shows também por lá, era um lugar bem conhecido e que movimentava a cena alternativa na época. Faz muito tempo, só tenho boas lembranças. Foi muito engraçado tudo isso aí, mas é lenda que eu passei piolho pra todo mundo. Até postei uma foto no meu Instagram dessa época, dando um fs ollie bem nas antigas.
Tome fôlego, para ler a manobra e acompanhar sua execução: nollie fs boardslide fakie manual fakie 360 flip out
• Uma vez presenciei no Vale uma cena muito intrigante. Um pai com seu filho parou no caminho das pedras portuguesas, a pedido do garoto, e ficaram observando a genialidade da sua performance. Resolveram se aproximar e conversar, você parou de andar e de uma forma sutil conseguiu ali conquistar mais duas pessoas! Pois bem, como é sua relação com as crianças e como foi sua infância? (Fernando Juruna) - Criança é uma coisa pura e pra mim é até cabreiro falar disso porque eu amo muito todas elas. Na minha infância brinquei de jogar bolinha de gude, rodei pião; fiz todas as brincadeiras de criança. Não tive muitos brinquedos mas ía na casa de um amigo, o Willian, na época em que eu morava na Celso Garcia, e ele tinha o castelo de Grayskull, todos aqueles bonequinhos. É uma parada bem antiga e na real hoje não me sinto velho ou com 30 e poucos anos, me sinto com 13, como uma criança. E quando estou em cima do skate, me sinto mais criança ainda. Tem também essa parada da espontaneidade, e com isso consigo cativar qualquer tipo de pessoa. Então, acho
que criança é uma parada mais sincera, pura e natural. Ela olha, já vê meu cabelo, tem meu nome virtual que é 4miga e isso cria um monte de desejos na cabeça delas. • Até um tempo atrás você só andava no Brasil, na sua área, o Vale do Anhangabaú em SP. Agora está viajando mais e sempre filmando em outros países. Isso foi por ter conseguido patrocínios melhores atualmente? Pretende andar mais na gringa e fazer uma carreira por lá, ou quer ficar no Brasil mesmo? (Felipe Thiago De Albuquerque) - Isso é muito louco porque sempre finquei a bandeira do Brasil em tudo que fiz, em tudo que faço com o skate. Não tenho carreira internacional porque hoje, principalmente pelo Vale ser um lugar histórico, o meu skate se transformou em referência. É louco demais isso! Eu já fiz parte em Barcelona, fiz uma parte de iPhone quando eu fui pra LA, teve o We Are Blood, muito tempo atrás tinha saído na Transworld com foto do Atiba, em uma entrevista que falava do Brasil. Na real, o skate é uma família no planeta inteiro, tá todo mundo de olho! Quem é skate de verdade mesmo, tenho certeza que está ali acompanhando. Então o skatista hoje não precisa fazer uma carreira na América, hoje os caras podem vir andar aqui, como a gente pode ir andar lá. Sobre viajar mais atualmente, para as marcas é bom ter a gente presente nas ações de marketing, como essa viagem que fiz pra França. Como logo mais vocês vão ver o vídeo de Paris, lançamento do Pro Runner e do Híbrido, que é meu 3º pro model de tênis. • Marcelo, parabéns pela sua trajetória. Andava de skate durante vários anos em Campo Grande. Parei por uns 15 anos e voltei a andar. Recentemente quebrei a fíbula e tive que fazer uma cirurgia. Hoje estou curado, querendo voltar a andar, mas estou tendo sérios problemas com minha família, que não aceita, por eu ter 56 anos. Me dê sua opinião! (José Cláudio) - Acho que quem é skatista de verdade nunca para, mesmo com lesões ou barreiras dentro da família. Acho que você deve andar de skate sim, porque é um sentimento que está dentro do seu coração. O skate é uma coisa que rejuvenesce a pessoa! Acho que tem que explicar também pra família, direitinho. Tudo tem limite e o ser humano tem isso consigo. Eu mesmo só vou até onde eu posso, por isso eu parei de pular gap. Dou uns ollies, faço uma manobra ou outra, qualquer dia pode ser que faça, mas hoje não pulo mais gap. É uma coisa que me limita porque depois eu fico seis ou sete dias sem andar de skate, eu não vou pular três vezes e disistir. Vou tentar 30, 40, 50 vezes e vou acabar acertanto ou não. Hoje eu prefiro mais os manuais, escorregar mais a manobra na borda, fazer uns Tics e deixar a coisa correr mais suave. A gente vai dentro do nosso limite, nunca é bom dar um passo maior que a perna! abril/2016
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Double grab no footed air to fakie, no DIY da Vila Maria
A rua, o teatro A ARTE DO SKATE SE MISTURA COM O TEATRO E O CIRCO. NÃO À TOA, FABIANO FERNANDES DENOMINA SEUS VÍDEOS SOB A CONTRAÇÃO “TUDOMISTURADO”. SURF BIKE + SOFÁ + GRADES + PAREDES + ÁRVORES + BANCOS + CORRIMÃOS + TRANSIÇÕES + MUROS + DECKS USADOS + GRAMA + PNEUS. POR CESAR GYRÃO // FOTOS THOMAS TEIXEIRA
Fabiano Fernandes
A
// motivadores
lista de elementos é interminável. Da escola do freestyle clássico, mas também com uma ótima base de street e de vertical, esse skatista da Zona Norte de São Paulo é uma referência de criatividade para quem pensa na diversificação do skate. Com uma longa carreira de campeonatos de freestyle profissional, animações de festas, apresentações em feiras e exposições, Passarinho chegou a ficar uma temporada como atração do Beto Carrero World, o maior parque temático da América Latina. Sua arte merece ser apreciada. Em 2007 você participou do programa Tudo é Possível, da Eliana, na TV Record. Sua dupla foi a vencedora do quadro Dança do Skate e você ganhou uns 10 mil reais e o contrato com o Beto Carrero World. Como foi a experiência? Foi incrível. Acrescentei muito no skate com a ida ao Beto Carrero World porque, além de apresentações ao público, fazíamos interações com o teatro. As crianças ficavam fascinadas, os jovens e adolescentes não acreditavam que alguém fizesse aquilo com o skate e os adultos achavam tudo muito diferente e interessante. Skate não tem idade, todos assistiam aos espetáculos com muita expectativa e ansiedade.
e o circo
O seu parceiro da dupla, Pirikito, não seguiu junto? Nunca mais ouvi falar nele, mas você sempre esteve na cena, correndo eventos pros de freestyle, gravando seus vídeos, fazendo demos em vários lugares. Como foi seu início no skate? Foi na Vila Maria ou no Ibirapuera? Infelizmente, não. Ele se mudou para dar sequência aos estudos. Antigamente nos víamos mais, depois ele foi morar no interior, mas tenho muito carinho e admiração por esse moleque. Meu início no skate foi em meados dos anos 80, mais precisamente no ano de 1987. Tinha 13 anos. Era muito legal. Naquela época fazíamos as rampas e íamos pras ruas dar um rolê; era tudo muito diferente dos dias de hoje. Na maior parte da minha caminhada no skate, o rolê sempre foi na Vila Maria. Nasci, cresci e moro lá até hoje. Tenho orgulho de ser da Vila Maria, faz parte da minha vida e história no skate. Você fez escola de circo? Fez teatro ou aulas de interpretação? Não, o circo, o teatro e a interpretação já março/2016
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motivadores // Fabiano Fernandes nasceram comigo. A verdadeira escola não é aquela em que você tem que estudar para aprender, mas sim aquela em que você se empenha sozinho, com força de vontade, foco, fé e determinação. Seu irmão mais velho, o Cris Fernandes, fazia animação de festas há muitos anos. Ele se firmou como um pro do street skate, mas o freestyle é mais “a cara” para apresentações em locais menores, para o entretenimento de um festival, por exemplo. Vocês unem seus trabalhos? Não. O Cris hoje é empresário no ramo do skate e eu sigo a minha caminhada dando aulas de skate em escolas para crianças e adolescentes. Trabalho com grafite e pinturas em vários segmentos e também como assistente de contrarregra no cinema. Já trabalhamos juntos, mas hoje seguimos separados. Enfim, é aquela velha história: parente, parente, negócios à parte (risos)! No final dos anos 70 para início dos 80, alguns skatistas do Ibira chegaram a fazer o “surf bike”, mas não como você, que usa esta habilidade para emendar em suas linhas de skate. Quando você percebeu que poderia unir a bike e o skate? Quando era moleque, adorava surfar de bike e também andar de skate, mas só fui ter a ideia de misturar os dois quando vi pela primeira vez um vídeo do Richie Jackson, que fazia umas paradas diferentes e comecei achar interessante. Daí surgiu não só uma ideia, mas muitas. Realmente ele foi minha inspiração em muitas de minhas manobras no skate. Seus shapes são muito sacrificados, pois você vive de fifty pogo, subindo e descendo escadas, pulando da bike direto para o tail e o eixo… Tem algum jeito de fazer um deck durar mais com tanta porrada? (Risos) Não tem como fazer durar muito tempo, pois as manobras que faço, geralmente acabam com o shape. Em algumas etapas do Circuito Brasileiro de Freestyle você foi finalista e ficou em segundo. Você curtia estes eventos? Foram quantos anos “na pegada?” No início até comparecia nestes “eventos”, mas as coisas nunca foram como deveriam ser. Infelizmente, no Brasil, o “diferente” nunca foi visto nos campeonatos como algo a chegar em primeiro lugar. Fora que sempre tinha “panelas”. Então
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março/2016
Massacre ao tail: surf bike to fifty pogo finger flip 180 out
acabei perdendo o tesão de competir, porque não achavam válido misturar o “circo” com o skate no “freestyle”. Pura ignorância aos olhos daqueles que não sabem enxergar de longe a arte, seja ela em qual segmento for. Você sempre foi um skatista “overall”, se virando bem na rua e em pistas. Você consegue separar tempo pra se dedicar a cada modalidade em separado, ou sempre tem que colocar uma pitada de freestyle e circo nos rolês? Sim, cada modalidade tem o seu valor, mas sempre acabo dando ao rolê algo diferente, porque o meu lema é sempre inovar e reinventar, e isso é ter autenticidade em tudo que faço. É a minha marca registrada no skate. No Parque da Vila Maria, perto de sua casa, onde tem uma pistinha, a galera fez mais umas rampinhas colocando a mão na massa. Uma das fotos selecionadas para a revista foi numa destas. Você também leva a sério o “Faça Você Mesmo (Do It Yourself – DIY)”? Sim, levo muito a sério, porque infelizmente não podemos depender das prefeituras e subprefeituras, então temos que por a mão na massa se quisermos dar um rolê em obstáculos diferentes. Mesmo com tanto tempo de skate, você continua andando na garagem de casa e filmando lá. Ali é seu laboratório? Às vezes sim, muitas ideias surgem na garagem. Posso até, de repente, passar por algum lugar e ver que ali pode surgir algo novo. As ideias surgem do nada. O Alex Araujo é seu principal parceiro para as filmagens? Quem mais está na batida com você? Não falo o principal, mas ele também foi fundamental para alguns de meus vídeos. Assim como ele, muitos me ajudam com filmagens. Outros amigos, desconhecidos, minha namorada e até eu mesmo, muitas vezes.
// Fabiano Cardoso Fernandes 41 anos, 28 de skate, São Paulo, SP Apoio: Grito da Rua e Voyter Voyter Facebook/Fabiano Fernandes Instagram/fabiano13fernandes
Atualmente você tem feito apresentações? Como funciona? Sim, sempre aparecem eventos que para mim são importantes e fundamentais para a divulgação do meu rolê de skate. Sigo com apresentações em escolas para alunos, pais e professores, que funcionam como motivação à prática do esporte. março/2016
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motivadores // Fabiano Fernandes
Ollie to tree finger flip varial. Como todo passarinho, Fabiano usa as รกrvores em seu caminho.
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marรงo/2016
Fabiano Fernandes
// motivadores
Outra atividade que você faz, para a sobrevivência, são serviços de pintura. Como você tem feito pra se manter evoluindo no skate? Consigo conciliar os dois facilmente, porque muitas vezes trabalho meio período. Então, quando trabalho pela manhã, sigo a evolução à noite e vice e versa. Sempre arrumo um tempo para o skate, pois não consigo ficar sem ele. Minha namorada tem até ciúmes. Vou na pizzaria e em todo lugar com ela e levo ele (risos)… Andar na grama e em rampas de barro é coisa para poucos. O Mauricio Nava é um que sempre leva seu skate para estes terrenos não convencionais. Você tem alguns vídeos atravessando quarteirões gramados e manobrando na terra batida. Quem são os skatistas que você se inspira para criar estas situações? No Brasil, infelizmente, não tenho ninguém em que eu me inspire. Comecei a ter essas ideias andando sozinho; só mais tarde comecei a ver uns vídeos que achei interessante que foram os dos skatistas Richie Jackson, Daewon Song, Jason Park, Joe Moore. Esses sim, me inspiram.
Ollie to tire ride, ou seja, um encaixe no pneu, uma rodada e o chão logo à frente. Fácil? Tenta lá!
Em quantos longas você trabalhou? É muito bom trabalhar no cinema e exige de você muita percepção, agilidade e responsabilidade. Não pode dar nada errado. Não trabalhei somente em longas, mas também em curtas. Seguem alguns deles: Ladrões de Caneco, A Garota da Moto, De Onde Eu Te Vejo, Os Homens São de Marte e é Pra Lá Que Eu Vou, Estação Liberdade, Tudo Que Aprendemos Juntos, etc. Você fez dois clipes, um com a banda Detonautas e outro com Engenheiros do Havaí. Como foram as experiências? Foram maravilhosas as experiências. Na ver-
dade, participei de três clipes musicais e dois comerciais; sempre com o skate. Saber como acontecem as coisas por trás dos bastidores é muito interessante e aprendemos muito. Muitas coisas acontecem, muita gente trabalhando empenhada, tudo é muito minuciosamente projetado e dirigido e envolve muitas pessoas. É uma experiência magnífica. Fale sobre o comercial que você fez para uma operadora de telefonia. Foi para a operadora Vivo, na Praça Roosevelt. Essa experiência também foi muito válida para o meu skate, porque foi meu primeiro comercial.
Como um cara do circo, você tem o arco de fogo, a rampa de salto e outras parafernalhas. Em que ocasições você leva isso para o público? No caso do arco de fogo, procuro sempre fazer quando não há muita gente por perto, porque é perigoso. Nesse caso, eu apresento ao público somente como divulgação em fotos e vídeos. Agora as rampas de salto, pneus e outras transições e objetos, levo ao público mais como apresentações em eventos de skate como escolas, parques, clipes e comerciais. O espanhol Kilian Martin é um skatista de freestyle que se notabilizou por fazer ótimos vídeos e torná-los virais, é um mestre em fazer isso. O que você tem feito para bombar a audiência de suas produções ou você nem se preocupa com isso? Cada um tem sua marca registrada no skate. Não gosto muito do rolê do Kilian Martin, mas não me preocupo muito com o que devo fazer para “bombar”. Apenas me preocupo em fazer do meu rolê algo em que as pessoas se surpreendam ao ver. março/2016
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tour // interior paulista
Na
estrada com Troy, Seco, Febem e Damascena DESTACADO PARA ACOMPANHAR A PRIMEIRA TOUR DA GOBBY TRUCKS, THOMAS TEIXEIRA PASSOU ALGUNS DIAS COM OS CARAS MAIS LOUCOS DO PLANETA TERRA, QUATRO PROFISSIONAIS QUE TÊM SÓ UM PROBLEMINHA NA CABEÇA: IMAGINAR QUAL SERÁ A PRÓXIMA MANOBRA! POR THOMAS TEIXEIRA
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interior paulista
// tour
William Damascena, ss fs heel flip em Sorocaba
A ideia da tour começou de forma inesperada. Quando fui ver a gente já estava no carro com os doidos na missão. Foram poucos dias e muito skate, tipo aquelas viagens que se faz quando era moleque e você sai manobrando onde se para! (William Damascena) abril/2016
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tour // interior paulista
C
omo no primeiro dia de tour a chuva chegou chegando, ficamos todos no QG da Gooby terminando de organizar os materiais. Quando vimos que no condomínio onde passaríamos a noite tinha um mini half construído há muito tempo. Fomos ver se ainda era skatável e o Febem disse para voltarmos no dia seguinte, se não estivesse chovendo. Acordamos bem cedo e, enquanto o Claudio buscava Damascena e Troy na estação de trem, fomos ver a condição da rampa. Como ela estava muito tempo abandonada, tinha bastante lodo por toda a superfície e a plataforma estava tomada pelo mato, foi quando o Febem achou um caminho menos ruim e começou a manobrar. Foram poucas tentativas e já saímos do zero, com duas fotos salvas! Encontramos com o resto da equipe, tomamos aquele café da manhã, organizamos o carro e partimos rumo a Sorocaba, para aproveitar o dia livre e render algumas fotos em picos de rua. No meio da estrada o Troy avistou um drop em um túnel de passagem de pedestres, ele ficou pilhado para andar. Em poucas tentativas, entre um pedestre e outro, o maluco conseguiu voltar um drop, mesmo com o shape quebrado em uma tentativa anterior. Chegando em Sorocaba, colamos na skateshop que faríamos uma ação no dia seguinte, para pegar o endereço do hotel e descolar um skatista local para nos mostrar os picos da city. O pessoal de lá escalou o Luan Gabriel, de 13 anos, que junto com seu pai logo nos apresentou o primeiro pico: um gap em uma praça, que também rendeu uma boa foto do garoto. Ele continuou nos mostrando alguns picos até altas horas da madruga, mesmo caindo de sono e a gente muitas vezes passando do lugar que ele queria mostrar! No dia seguinte, cumprida a visita à skateshop, fomos direito para rua, tentar render alguma coisa antes de partir pra Botucatu. Colamos em um supermercado que tinha um inédito corrimão, dava pra descer ou pular. O Troy ficou com vontade de andar, quando do nada parou um senhor que estava indo fazer compras no mercado e quis nos dar um estímulo, dizendo que pagaria uma caixa de cerveja para o primeiro que voltasse a manobra em três tentativas. O Febem por pouco não estreou o pico, mas acabou torcendo o pé. Foi quando o senhor retornou ao mercado e voltou dizendo: "Tem que ser muito homem pra ficar pulando dessa altura! E mesmo ninguém tendo acertado, deixei pagas duas caixas de cerveja pra vocês relaxarem com seus amigos". Agradecemos ao senhorzinho e ao gerente do mercado, que tinha liberado o rolê aquele dia e em sessão futura, quando voltássemos pra Sorocaba. Depois de passar um bom tempo ali, o Damascena pilhou em colar numa escola toda iluminada que o Luan tinha nos mostrado, com cantoneiras nas bordas e um gap perfeito. O Dama foi lá e voltou um perfeito ss flip, nossa despedida de Sorocaba. Seguimos sentido à cidade natal do Seco, Botucatu, pra descansar um pouco e tentar render mais algumas bem cedo, antes da tarde de autógrafos na skateshop local. Mas a chuva não permitiu e nos fez finalizar esta breve tour que entra pra história da Gobby como a primeira. Ação importante para entrosar os nomes do time, visitar os pontos de venda e conhecer um pouco mais cada um destes loucos por skate.
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Willian Seco, ss flip sobre o cano, na calada do noite
A gente tinha o carro e a grana pra fazer o que quisesse, foi bem style! Deu até uma vibe de fazer mais viagens como essa. (Thomas Teixeira)
RogĂŠrio Febem, smith fazendo a curva
RogĂŠrio Troy, boneless
interior paulista
// tour
A tour foi divertida, diferentes estilos de skate envolvidos mas todos com as mesmas ideias. Isso que fez a viagem acontecer, com muita positividade e união. (Willian Seco)
William Seco, fs flip
O legal é a gente viajar pelo interior, porque se você for ver o skate no Brasil está cru ainda. Foi bom trombar a galera das antigas, apresentar quem é o Troy para os que não me conhecem e descobrir picos novos. Isso daí que é o fundamental de uma tour, apresentar a verdadeira identidade do skate pros que não conhecem! (Rogerio Troy)
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tour // interior paulista
Finalizando pelo comeรงo da tour, Febem mostra que tem skate pra qualquer terreno! Bs nollie no mini-half
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Foi divertido! Não colamos em muitas cidades mas, nas que fomos, conseguimos andar bastante de skate. Os caras da equipe são muito firmeza. (Rogério Febem)
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mí do
de
nio
s
entrevista // tiago picomano
picomano
MOLDADO NO FÉRTIL AMBIENTE DE CAMPEONATOS QUE ROLAM MUNDO AFORA, TIAGO ANTUNES CORRÊA É UM MINEIRO QUE, AO CONTRÁRIO DO DITADO POPULAR, NÃO COME QUIETO! É MARRETANDO BASTANTE NA RUA QUE ELE CHAMA A ATENÇÃO PARA O ATUAL CENÁRIO DO SKATE DE BELO HORIZONTE E DE MINAS GERAIS. // POR DIOGO GROSELHA
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Bs heel
entrevista // tiago picomano
360 flip
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Como você começou a andar de skate? Foi no natal de 1999, quando ganhei um skate do meu pai de tanto encher o saco dele. Nós sempre tivemos o hábito de andar de bicicleta juntos e passávamos por um lugar que tinha uma galera andando de skate, aí fiquei pedindo até ele me dar. De onde surgiu o apelido Picomano? Andava com uma galera e tinha um cara com apelido de D2; ele tinha mania de chamar os outros de Picumã, que é um tipo de fuligem ou aquela teia de aranha que fica preta por causa das cinzas de fogão a lenha, coisa da roça. E como eu era o menor, ele me chamava de Picumãzinho. Daí uma vez eu fui pra São Paulo e a galera não entendeu direito esse apelido e pensaram que era Picomano: pico de skate e mano de mano mesmo. Aí pegou e ficou assim até hoje. Não tem nada a ver com skate e nada a ver com nada mesmo. Quais suas expectativas no skate? Eu quero simplesmente andar de skate. Porque se eu quisesse ganhar dinheiro, tinha parado há oito anos atrás. É lógico que eu tenho projetos futuros e tal, mas atualmente meu objetivo é só andar de skate. Tanto é que tudo que eu fiz a faço até hoje é pra andar. Você diz que não pretende viver de skate, mas fez alguma faculdade ou alguma outra coisa para ganhar dinheiro? Até comecei uma faculdade de administração, mas depois parei. Meu sustento hoje é o skate. Eu gosto tanto de skate que tudo ao meu redor gira em torno dele. Sempre me dei bem em campeonatos, então juntei tudo que ganhei e abri uma pequena skateshop em casa. E quando fiquei sem patrocínio de shape, comecei a minha marca, a Ynova. Mas tudo isso não foi com a finalidade de ganhar dinheiro. Foi tudo, única e exclusivamente, para poder andar de skate, porque a gente gasta muito pra andar, não é? O que você acha mais significativo: se destacar em campeonato ou fazer uma vídeo parte foda? Cara, para mim os dois têm seu papel. Se você anda de skate, as duas coisas vão se cruzar. Não tem como você ser o cara que anda bem só em campeonato ou ser o cara que só anda bem na rua. Eu admiro mais aquele que consegue se sobressair nas duas coisas. Existem skatistas que andam bem e têm um nível técnico elevado, mas que não conseguem ter a simpatia do público. O que você acha disso? O simples fato de andar de skate já te torna um skatista. Se você tem uma galera, anda bem e isso te faz feliz; isso já é importante. Agora, a partir do momento que você já tem patrocínios, que você tem uma
imagem a zelar, aí sim é importante de verdade! Você tem que tentar agradar a gregos e troianos, mas de uma forma geral a gente não consegue, sempre tem alguém que vai achar ruim. A única pessoa que não pode achar ruim é você mesmo. Eu não vou correr um campeonato para agradar alguém, eu tenho que ir lá correr porque eu quero correr. Da mesma forma que eu não tenho que ir num pico de rua e mandar uma manobra para filmar e mostrar para alguém; eu tenho que ir ali porque isto me satisfaz, para minha evolução. E agora que você conseguiu bons patrocínios, pretende continuar com a sua marca ou não? Claro! A Ynova, desde o início, foi uma maneira de não parar com o skate. É uma marca de shapes e hoje eu tenho patrocínio de outra marca de shapes, porque eu sou atleta. Represento uma empresa que é maior que a minha, só que a Ynova no futuro vai ser minha aposentadoria. Porque eu não quero sair do meio do skate, eu não quero deixá-lo para entrar em alguma outra profissão. Eu posso até fazer algum curso superior, mas vai ser para me ajudar com a marca. Tanto que a Ynova não parou porque eu quero fazer o skate evoluir. E foi a partir disso que eu comecei a patrocinar outros skatistas, o William Fernandes e o Otávio, pra fazer a parada girar. Falando novamente em eventos e campeonatos no Brasil. Qual foi a premiação mais tosca que você já faturou, nesse tempo todo que tem como competidor? Em todos estes anos participando de eventos eu poderia falar de duas situações em especial, no meio de tantas! Lembro uma vez que participei de um evento que se pagava um valor relativamente alto na inscrição, terminei em primeiro lugar e para minha surpresa só ganhei uma medalha de honra ao mérito, com um cara estampado dando uma bica em uma bola de futebol. (risos) A outra foi quando ganhei uns quatro itens femininos, que no final das contas foi até melhor que não ganhar nada porque minha mãe curtiu uma camiseta, que ela usou por alguns meses. E qual foi a premiação que pra você teve maior valor? Tem dois tipos de valores, né! Material eu poderia citar as premiações que ganhei na Europa, em 2011, no Circuito Mundial. Eram prêmios em dinheiro, passei pra final em todas as três etapas e terminei em 17º no ranking mundial da WCS. Tem também a moto que faturei na Plasma, acho que era o Circuito New, lembro até de uma matéria que saiu na Tribo Skate. No valor sentimental, citaria a vez que ganhei o best trick do Damn Am, em 2012, lá em Tehachapi, na Califórnia. Além disso, tive um reconhecimento legal da organização de Tampa e levei ainda o prêmio de brasileiro destaque.
// Tiago Antunes Corrêa 'Picomano' 28 anos, 16 de skate Belo Horizonte, MG Patrocínios: Qix, Ynova Skateshop, Woodlight, Moska e John Apoios: Blunt Skatepark, academia Nado Livre, CCAA Barreiro, Everlong e Footprint Insole Brasil
tiago picomano
// entrevista
Fs grind abril/2016
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PEDRO MACEDO
Você disse que é um atleta. Você bebe ou mantém uma rotina de atleta? A minha família é católica, por isso é mais uma questão pessoal não gostar de beber porque nunca tive essa influência dentro de casa. Eu sou um cara muito diurno, gosto de dormir à noite e acordar cedo para ir andar de skate. Pode até ser uma balada, mas me incomoda, às vezes, sair à noite porque é uma coisa que te leva a beber. Mas você não bebeu nunca então? Eu até bebo, quando estou em um churrasco e tem uma galera. Mas não tenho hábito de sair pra beber e não sou contra quem faz isso, cada um é livre para fazer o que quiser. E esse lance de ser super organizado, para sair para filmar e fotografar? Você sempre tem uma placa, uma massa plástica? Essa questão é porque meu pai é um cara bem organizado, entende! Ele bola uma ideia e executa, então eu absorvi isso dele porque andar na rua é uma parada que é diferente. Você chega no pico e tem várias coisas que podem te impedir de andar; por isso eu levo água, vassoura, uma chapa ou qualquer coisa que amenize esses problemas. Em relação a essa questão de ser atleta, eu sempre andei de skate mas nunca pensava nisso antes. Só que tem um momento em que a idade vai chegando, eu já tive lesões e por isso comecei a me preparar melhor para poder andar ainda mais tempo de skate. Eu tive a lesão no tornozelo em minha última turnê na Europa. Quando voltei pro Brasil, procurei uma nutricionista porque estava me sentindo pesado mano, é natural. Você não tem o mesmo peso de quando tinha 15 anos, né? Aí eu perdi 9 quilos, mas antes disso eu tive novamente outra lesão no tornozelo. Procurei uma academia, que até me dá um apoio, e lá eu faço preparação física, musculação e natação. Em casa eu faço um pilates, por conta mesmo. E tudo isso é só pra andar de skate, nunca pensei em ser atleta. Essa questão de atleta é meio polêmica, né? A maioria dos skatistas não gostam de ser chamados de atleta. O que você acha da possibilidade do skate fazer parte das Olimpíadas? Cara, é difícil dizer porque ainda não aconteceu. Mas pessoalmente eu acho que não afetaria em nada o lifestyle do skateboarding. O moleque que começar a andar de skate por causa das Olimpíadas, pode sim viver também o estilo de vida do skate. Porque o skate é muito amplo e livre, você pode ser o que você quiser; ser o cara que filma, o cara que compete, qualquer coisa. Acho que isso é o que diferencia o skate dos outros esportes, e esse lifestyle não tem como acabar. O skate nas Olimpíadas vai ser só mais uma ramificação. Numa visão comercial, acho que só tem a somar pois virão novos investimentos que talvez não aconteceriam. Além de uma visibilidade e uma aceitação maior pela população.
Bs heel bs tail
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tiago picomano
// entrevista
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entrevista // tiago picomano
E atualmente, você vive de quê? Atualmente eu vivo de skate! Eu nunca tinha tirado Carteira de Trabalho, fiz a minha primeira para receber de meu atual patrocinador. Mas eu também nunca fiquei à toa, tá ligado! Eu sempre trabalhei em casa com meu pai, que é autônomo. Já trabalhei em serralheria, em supermercado, ferro velho, feira, já trabalhei de pedreiro. Eu nunca fui um cara ocioso, sempre tive o que fazer, só que eu nunca trabalhei pros outros, sempre foi por conta própria e com meu pai.Viajei o mundo e isso o que me proporcionou foi o skate! Quando eu não tinha dinheiro, ia em um campeonato, ganhava e vendia a premiação, e com esse dinheiro fui viajando e sempre andando de skate. O que você seria se não andasse de skate? Se algum dia eu tive vontade de fazer alguma outra coisa eu esqueci porque não me imagino fazendo outra coisa. É tão forte o viver do skate, que eu já quebrei a fíbula, torci o pé, quebrei o dedo, já tive um monte de lesões sem receber nada em troca. O plano de saúde eu pago do meu bolso, depois que tive que fazer uma cirurgia no menisco, há uns seis anos. Eu comecei a pagar porque a parada machuca e eu quero andar mais de skate. O propósito da minha vida é andar de skate. Nunca deixarei de fazer isso porque eu acho que com 80 anos dá para dar umas remadas e sentir o vento no rosto, isso aí já vai me fazer feliz para caramba. Eu já tenho esse planos, de que algum dia eu vou deixar de evoluir mas não quero sair do meio do skate. O que acha das mídias de skate no Brasil? Hoje a gente tem uma massificação de comunicação, tá ligado? A comunicação está muito ao vivo, o cara posta um vídeo no Instagram lá do outro lado do mundo e você vê agora. Tipo o Tampa Pro, que foi transmitido ao vivo numa ótima qualidade. Quando eu comecei a andar de skate se vivia de especulação. Mandava uma manobra que ela seria divulgada depois de 2 meses, mas as pessoas já sabiam que você tinha mandado a manobra e iam especulando e comentando com outras pessoas. Hoje você tem que dar a manobra, filmar e já postar para dar outra manobra amanhã. Por isso que a galera fica com medo da revista acabar por causa da internet, mas eu acho que não. A revista continua tendo seu charme, porque uma foto impressa tem um respeito muito maior do que um simples post na internet. Acho que uma coisa não apaga a outra, as coisas correm juntas. E pra finalizar com uma clássica, quais são seus projetos para o futuro? Então, estou fazendo de tudo pensando em passar para profissional em 2017. Já tenho bastante imagens para fazer uma vídeo parte, mas não sei ainda se lanço esse ano ou só no ano que vem. Pretendo viajar pelo Brasil, não pretendo ir pra fora. E continuar andando de skate, além de ajudar a galera que anda comigo todo dia na sessão, poder fazer com que a gente seja enxergado e que eu consiga andar ainda mais tempo de skate.
Fs bluntslide
Não tem como você ser o cara que anda bem só em campeonato ou ser o cara que só anda bem na rua. Eu admiro mais aquele que consegue se sobressair nas duas coisas.
Hardheel abril/2016
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viagem // manaus
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Cena Aquecida MANAUS É UMA CIDADE DE 2,5 MILHÕES DE HABITANTES. E O SKATE EXISTE POR AQUI DESDE O FINAL DA DÉCADA DE 70, CONFORME PESQUISA REALIZADA PELO PROFESSOR E SKATISTA NEY METAL, AUTOR DO LIVRO “SKATE É ARTE. A BRINCADEIRA FAZ PARTE”, QUE CONTA UM POUCO DA HISTÓRIA DO SKATE AMAZONENSE. POR VITOR SAGAZ // FOTOS LEANDRO MOSKA
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viagem // manaus
Bruno AraĂşjo, fs lipslide
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A
cena local cresce junto com a cidade, muitas lojas vendem skate e várias marcas surgem dentro do nosso mercado. Apesar de a cidade ficar fora do eixo Sul e Sudeste, já recebemos a visita de vários skatistas em campeonatos profissionais realizados na cidade (três no total). Uma prova de vertical, onde foi construído o primeiro half pipe de madeira certificada, e duas etapas de street no Skatepark Ponta Negra agitaram os skatistas manauaras com a vinda de pros de todo Brasil. Mas, a região já recebeu também a visita de muitos gringos, invadindo nossas bandas para aproveitar a arquitetura da nossa cidade. Produzido pelo fotógrafo e skatista Erick Damon, temos um zine chamado ‘Periféricos’, que fomenta e conta a história dos skatistas locais. Focado na cena local e em mostrar a nova geração, Adonis Perfeito também é skatista profissional e produtor de vídeo, responsável pelo lançamento do vídeo “Costume”. Uma das ações mais bacanas é realizada pela ITB, uma igreja que cedeu sua quadra e fez um skatepark coberto (que salva muito na época da chuva). Nela, o pastor Wendell está sempre disposto a transmitir uma palavra de conforto e incentivar os talentos. Pra completar, rola um plano de uma nova pista projetada na Zona Leste, desenvolvida pelos locais Alex Borja e Jones Nelson, por intermédio do Ulysses Athaide, o skatista que está na linha de frente com a prefeitura municipal. A cena do skate manauara tem raízes fortes como uma árvore na beira do rio, um nível de skate alto e em constante evolução. Gente comprometida que respira e ama o skateboard. Aproveito para deixar o convite. Você que quer fazer uma trip de skate, vá a Manaus. Diversão e alegria pautarão sua viagem e você contará ainda com a receptividade dos locais.
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viagem
// manaus
MaurĂcio Nava, flip bean plant avançado, no calor de amolecer a moleira
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Vitor Sagaz, drop
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// manaus
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Nava, rocket air
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viagem
// manaus
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montevidéu // viagem
Do Rio a Montevidéu
AMIGOS, MOTOCICLETAS, MOCHILAS, SKATES E MILHARES DE QUILÔMETROS. ESTA FOI A AVENTURA VIVIDA POR PEDRO MACEDO, LEONARDO SPANGHERO E DANILO DENNIS QUE VOCÊ DESFRUTA A PARTIR DE AGORA. POR DIOGO VAZ // FOTOS PEDRO MACEDO
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U
ma câmera na mão e uma ideia na cabeça, essa máxima muitas vezes não é suficiente para quem busca ir além de uma simples produção audiovisual e quer realmente viver uma experiência transformadora, antes de se preocupar em registrá-la. Muito antes de se contar uma história através de vídeos e fotos é preciso saber se todo o contexto, se o conteúdo é relevante para o espectador. O que os amigos Pedro Macedo, Leonardo Spanghero e Danilo Dennis fizeram foi exatamente isso. Decidiram que não deveriam esperar mais nem um dia para realizar aquela viagem dos sonhos pela América do Sul, guardada no imaginário de cada um deles. Com tempo livre e grana guardada, era chegada a hora de trilhar novos horizontes e atender o chamado da estrada e desbravar picos, conhecer novos lugares e pessoas: Do Rio a Montevidéu. Essa intensa jornada proporcionou histórias incríveis que esse grupo de amigos e eles jamais esquecerão o que compartilharam, da estrada e de toda riqueza cultural que conquistaram. Essa matéria foi feita no intuito de te inspirar a realizar sonhos como os dessa galera, porque afinal de contas, como diria John Lennon: “A vida é aquilo que acontece enquanto você faz planos!”.
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montevidéu // viagem
Registro, SP, Km 700 Pedro Orelha, bs disaster com toda a turma no quadro
“QUANDO COMENTAVA QUE FARIA UMA VIAGEM ATÉ O URUGUAI COM A INTRUDER, A PERGUNTA ERA SEMPRE A MESMA! VAI COM ESSA MOTO AÍ? HAHAHA” (DENIS, KM 0)
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Litoral Norte de SP, Km 550
Rio, Km 0
Ubatuba, SP, Km 320
Cajati, SP, Km 800
Curitiba, PR, Km 1.000
Cajati, SP, Km 800 Paraty, RJ, Km 270
CamboriĂş, SC, Km 1.270
CriciĂşma, SC, Km 1.510 Leo Spanghero, bs crooked debaixo de chuva
Maldonado, Uruguai, Km 2.850 Dennis, drop na rodovia
viagem
// montevidéu
Curitiba, PR, Km 1.000 Dennis, flip drop no velódromo
“ACHAMOS UM PICO MUITO STYLE NO MEIO DA ESTRADA, ANTES DE CHEGAR EM MONTEVIDÉU. O DENNIS DEU UM DROP MUITO FODA; EU E O PEDRO FICAMOS DE CARA PORQUE VIAJAR DE MOTO E SE JOGAR DESSA FORMA COM SKATE É TER MUITA ATITUDE” (LEO, KM 2.850)
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MontevidÊu, Uruguai, Km 3.000 Pedro Macedo na frente das câmeras, bs tailslide
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viagem
// montevidĂŠu
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Punta del Diablo, Km 2.670
MontevidĂŠu, Km 3.000
Joinville, SC, Km 1.150 Mostardas, RS, Km 2.200
Fronteira, Km 2.550
Floripa, SC, Km 1.330
Reserva do Taim, RS, Km 2.400
viagem
// montevidéu
Montevidéu, Uruguai, Km 3.000
“ESTÁVAMOS FOCADOS EM CHEGAR EM FLORIPA MAS NÃO ADIANTOU MUITO! QUERÍAMOS PARAR EM TODO LUGAR PRA CONHECER, JOINVILLE NÃO FOI NEM UM POUCO DIFERENTE. SÓ A ENTRADA DA CIDADE JÁ INSTIGAVA.” (PEDRO, KM 1.150)
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casa nova //
Bs grind
Felipe Nunes // FOTOS IGOR WIEMERS Skate e roupas atuais: shape, rodas, bonés e camiseta Original Skateboards, eixos Silver e rolamentos Red Bones. Manobra que não suporta mais ver: bs 50-50. Manobra que ainda pretende acertar: 360 flip boardslide. Principal rede social que usa ultimamente: Facebook e Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Os cachorros e ruas sem pavimentação. Skatista profissional em quem se espelha: Og de Souza. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Monster Energy. Atual melhor equipe de skate brasileira: Matriz. Amador que gostaria de ver pro: Tiago Lemos. // Felipe Nunes 16 anos, 4 de skate Curitiba, PR Patrocínios: Original Skateboards
Nunca desista de seus sonhos. 68 |
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// casa nova
Hugo Blender // FOTOS DIOGO GROSELHA Skate e roupas atuais: shape Nanuk 8.0, eixos Liga Trucks 139, rodas Nanuk 52mm e rolamentos Sphera. Camiseta e calça preta, tênis Adidas. Manobra que não suporta mais ver: fs tailslide. Manobra que ainda pretende acertar: bigspin bs tailslide. Principal rede social que usa ultimamente: Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Falta de visibilidade. Skatista profissional em quem se espelha: Rafael Gomes. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Uni Posca. Amador que gostaria de ver pro: Thiago Lima. Atual melhor equipe de skate brasileira: Converse Cons. // Hugo Blender Almeida Santos, ‘Hugão’ 19 anos, 15 de skate Belo Horizonte, MG Patrocínios: Nanuk Skateboard e G7 Skateboard
Acreditar que é possível, até que seja possível.
Wallie nollie out
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casa nova //
Matheus ‘Cenoura’ // FOTOS RAPHAEL KUMBREVICIUS Skate e roupas atuais: rodas Bones, trucks Independent 149mm, rolamentos Red Bones, calça e camiseta lisa. Uma manobra que não suporta mais ver: No comply. Uma manobra que ainda pretende acertar: 360 flip crooked. Principal rede social que usa ultimamente: Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: falta de lugares de qualidade pra se andar de skate e marcas verdadeiras que realmente deem suporte para o skatista. Um skatista profissional em quem se espelha: Danilo do Rosário. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Gatorade. Amador que gostaria de ver pro: Tiago Lemos. Atual melhor equipe de skate brasileira: Future. // Matheus Weigand ‘Cenoura’ 17 anos, 4 de skate São Paulo, SP Patrocínios: Original Skateboards
Siga seus sonhos. Ollie sobre o cano da Roosevelt
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hot stuff //
RICARDO SOARES
HsMerch Com diferencial de produzir camisetas e acessórios das principais bandas mundiais da cena hardcore e rock’n’rol, todos produtos licenciados, a HSMerch é encabeçada pelo skatista profissional dos anos 90, Cesinha Lost. Bandas como Millencolin, Pearl Jam, Pennywise e etc são algumas das que constam no catálogo da marca. hsmerch.com (11) 3459-9018
Vans O Sk8-Hi é o primeiro tênis de cano alto na história da Vans e foi uma importante ferramenta no desenvolvimento do skate vertical e do poolriding. É com ele que a marca inicia uma nova revolução, fincando os dois pés no emergente skate vertical. O Sk8-Hi, em suas versões tradicionais e em edições especiais, está disponível em lojas autorizadas da Vans ao redor do Brasil. vans.com.br
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RICARDO SOARES
DIVULGAÇÃO
G-Shock É nas metrópoles que a G-Shock foi buscar inspiração para as duas novas linhas que estão sendo lançadas no Brasil: GA-110NM (inspirada no metal e no ferro dos grandes centros) e GA-110SL (padronagem que lembra as rachaduras do asfalto das ruas e o concreto das construções). Os relógios de ambas as linhas têm caixa grande e resistência magnética, a choques e a água até 200 metros, vêm com luz de LED, horário mundial de 48 cidades, quatro alarmes diários e um soneca, cronômetro, temporizador e calendário automático até o ano de 2099. G-Factory: (11) 2887-1997 / (11) 2832-3737 newlooktime.com.br
JR LEMOS
áudio // playlist
Mike Dias, fs flip em Itaí,SP.
O APELIDO DELE É MICROFONE, MAS É MANOBRANDO QUE ELE FAZ BASTANTE BARULHO! MIKE DIAS GOSTA DO SOM DO SKATE QUANDO ESTÁ NO ROLÊ E NAS DEMAIS HORAS DE SEU DIA A MÚSICA TOMA CONTA, DO AMBIENTE E DA SUA MENTE. Apocalipse 16, Salmos 23 e 91 Raiz Coral, Jesus Meu Guia É Ao Cubo, 1980 Wu Tang, C.R.E.A.M Redman, Tonight’s da Night Prodigy, Keep it Thoro B.I.G, Kick in the Door B.I.G, Warning NAS, I Can NAS, The World is Yours
Escuta som andando de skate? Sim Não Quando escuta música? QUANDO ESTOU DIRIGINDO, NO ROLÊ COM OS CAMARADAS E ARRUMANDO A CASA, PRA DAR AQUELA ANIMADA! Usa algum aparelho especial para isso? OUÇO NO SOM DO CARRO, NO IPHONE OU NO IPAD, E NA TELEVISÃO.
Mike Dias (4M skateboards, Tip Technology, Black Sheep, CB Skateshop e ARQA griptape)
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áudio // rap
Haikaiss
um novo rap para os novos tempos AUTOPROCLAMADOS EXPOENTES DA NEW GOLDEN ERA DO RAP TUPI, UM DOS GRUPOS MAIS PRODUTIVOS DA ATUALIDADE FAZ BALANÇO DA CARREIRA E MANDA UM PAPO SOBRE SKATE E O PRÓXIMO ÁLBUM. POR EDUARDO RIBEIRO // FOTO DENIS FIORANELLI
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rap
E
lá se vão dez anos desde que o Haikaiss chegou na área com a curiosa proposta de apresentar o que chamam de “New Golden Era”. O primeiro trampo, Incógnito Orchestra, apareceu no final de 2010. Entre aquelas músicas e o repertório do álbum mais recente, o duplo Fotografia de Um Instante, lançando no ano passado, o quarteto formado por três MCs – SPVic, Spinardi, Pedro Qualy – e um DJ – Sleep – vem apostando numa incessante produção musical. Com isso, firmou-se como um dos maiores destaques da nova escola do rap nacional. Porém, as mais de 70 músicas compostas nesse período, distribuídas em dois álbuns, dois EPs e uma pá de singles, não teriam alcançado a mesma repercussão sem a inventiva qualidade das batidas e a feroz poética dos versos que dão vida às letras. Estrofes capazes de representar o espírito da nova geração do hip hop. Durante a entrevista, regada a boas geladas numa cervejaria de Moema, em SP, os integrantes não mostraram arrependimento em soltar tanto material num período relativamente curto, para a digestão do público. Apenas sentem muito que nem todas as 35 faixas da última obra tenham sido devidamente apreciadas pelos ouvintes. Isso, contudo, não faz com que eles metam o pé no breque. Influenciado por nomes como A Tribe, Slum Village, Jaylib, Mos Def, Common, Beastie Boys, The Pharcyde e Talib Kweli, o Haikaiss é uma banca criativa em constante ebulição. Tanto, que neste exato momento os caras seguem cumprindo uma rotina diária e disciplinada de encontros em seu próprio estúdio, na Zona Norte da capital paulista. Dessas sessões, em breve sairá mais um play. E eles garantem: vai ser estouro!
Como acham que o Haikaiss evoluiu ou se transformou esteticamente? Ainda defendem as mesmas ideias e tipo de som? Spinardi: Quando começamos o Haikaiss, em 2006, o grupo tinha outro formato. Éramos eu, o Vic e o Ursso. Por sinal, ele está até lançando um disco solo. Mudou praticamente tudo. Nós não tínhamos um DJ, fazíamos pouquíssimos shows e gravávamos num home studio, que era do Vic. Num quarto, com o pé na cama. Aí, em 2008, saiu o Ursso, logo na sequência entrou o Qualy e em 2011 entrou o Sleep. Então, esteticamente virou outra coisa. Pedro Qualy: E até a pegada mudou, porque a gente fala daquilo que vive. E antes nós não vivíamos isso, esses esquemas de shows, de viagens. Depois de um tempo, começamos a viajar e a trabalhar com a nossa música e isso passou a fazer parte das letras. Cada dia é uma novidade, cada dia é uma rima. A vida vai virando música.
SPVic, Spinardi, DJ Sleep e Pedro Qualy
Então a filosofia haikai virou só um nome? SPVic: De forma alguma. Nós ainda acreditamos na ideia por trás do nome haikai, que significa basicamente que com o mínimo você pode ter o suficiente. Isso a gente tem sempre, é uma coisa que levamos pra todos os momentos da vida. Tudo que a gente faz sempre terá essa filosofia. Só que não mais com aquela obrigação de ter que escrever ou compor sobre essa temática. Se fosse pra assumir a filosofia haikai ao pé da letra, teríamos que fazer até um estudo de sílabas, porque o haikai tem toda uma fórmula. O Haikaiss é promovido com o termo “New Golden Era”. Onde começa a nova era do rap nacional, na opinião de vocês? Pedro Qualy: Acho mais fácil falar de como esse tipo de rap chegou pra gente. Foi inclusive por meio da cultura skate que começamos a escutar esse tipo de som. A partir do Elo da Corrente e do Contra Fluxo. Esse era o som que rolava no meio do skate. Só que naquela época era difícil você descobrir que artista que era. Você escutava de relance e nem sabia quem cantava. Mas aí veio o primeiro nome que mudou tudo, o Emicida. Spinardi: Logo depois do Emicida apareceu também a Cone Crew, com uma onda muito forte do rap. Acredito que esses dois artistas foram os que realmente marcaram o começo da nova fase do rap. Ouvi dizer que já estão no rascunho de um novo álbum. Como andam os trabalhos? Teremos músicas inéditas pra 2016? Spinardi: Na verdade é melhor não prometer nada... Seria equivocado demais da nossa parte dizer que vai sair esse ano. A gente quer trabalhar nele esse ano. Mas isso não significa que vamos conseguir finalizar. Nós já cometemos o erro, por duas vezes, de falar que
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o disco sairia, e no fim das contas acabou atrasando porque cada um de nós tem um ritmo. Mas o que podemos adiantar é que já estamos trabalhando nele. É um disco que pretendemos lançar com aproximadamente umas 13 músicas, explorando novos caminhos, no caso o trap. Passado um tempo desde o seu lançamento, como avaliam os erros e acertos de Fotografia de Um Instante? Pedro Qualy: Este foi o disco onde nós encontramos a nossa identidade. Antes dele, nós queríamos ser tudo ao mesmo tempo. E ali nós conseguimos identificar o que cada um sabe fazer de melhor e isso trouxe o auge da escrita pro Haikaiss. Spinardi: Agora, mensurando erros e acertos, o Qualy mencionou o ponto em que acertamos, pois até aqui esse é o disco mais importante do Haikaiss. Já falando de erros, acho que atrapalhou o fato de termos lançado muitas músicas. O álbum tem muitas músicas boas que não foram apreciadas da maneira que deveriam. É essa a parada, o mau aproveitamento de músicas muito boas, tipo “De Onde Estou”, que é top, a “Insônia”, “Engano do Beijo”... São faixas que se fossem melhor trabalhadas, poderiam ter repercutido muito mais. Então, esse tipo de coisa nós não faríamos novamente. Que paradas fora da música ajudam a formar o espírito do grupo? DJ Sleep: A cultura do skate, definitivamente. E eu vou falar uma parada que você vai pensar que é pra fazer média, mas não é, não. É real: a primeira revista de skate que eu li na vida foi a Tribo Skate. Foi em 1997, no mesmo ano em que eu comecei a andar de skate. Como eu ando, e o Qualy também, nós sempre fomos influenciados pela cultura do skate. Desde o início da minha carreira como DJ, o universo do skate sempre teve influência. Acho que pros outros caras também. A gente conheceu o rap por meio do skate. Foi uma das primeiras cenas fortes que eu vi englobando música, esporte, moda, estilo de vida, comunicação, atitude. E tudo isso começou na revista Tribo Skate. Todo mundo da banda curte a parada do skate. O Luan Oliveira, por exemplo, é muito amigo nosso. O Spi esteve lá no Street League com ele ano passado até, acompanhando. Spinardi: Inclusive eu gostaria de mandar um salve pros amigos skatistas. Cerezini, Gerdau, o Luan, que é irmão, JP Dantas. Queria dizer que eles são muito importantes pra nós. Eles nos inspiram demais. DJ Sleep: E tem o MC mais famoso entre os skatistas, que é o Kamau. Ele foi o cara que ensinou que o rap e o skate são a mesma cultura. O Parteum também. Vale também mandar um salve pra Pamela Rosa, skatista da minha cidade, que ganhou aí os X-Games em Oslo. Parabéns! Só não curti a pegada da matéria da ESPN que fizeram com ela, ficou muito raso. Retratam tudo com aquela mesma linguagem do futebol.
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skateboarding militant // por guto jimenez*
Mais sessões e menos “treinos”
IVAN SHUPIKOV
THOMAS TEIXEIRA
U
ltimamente, tenho visto muitos skatistas usarem o termo “treinar” pra definir suas performances numa sessão de skate. Virou uma moda ou uma praga, sei lá: basta publicarem imagens ou vídeos de rolés de skate que o famigerado termo “treino” apareça a torto e a direito. O pior é que esse hábito se disseminou por skatistas de todas as modalidades, sem distinção de categorias ou faixas etárias. Acho que estão confundindo um pouco as coisas. O dicionário Aurélio define “treinar” como “ensinar ou aprender determinada ação ou prática” e “preparar ou preparar-se para uma prova, uma competição ou uma atividade”. Convenhamos, as descrições são bem diferentes daquilo que entendemos como uma sessão de skate, não é mesmo? Até porque a noção de “treinar” vai muito além de simplesmente andar de skate, levando em consideração outros fatores como uma alimentação balanceada, a realização de outras atividades físicas além do skate (como algum esporte aeróbico ou musculação) e todo um condicionamento físico e mental voltado apenas pras competições. Portanto, dá pra ver que ambas as noções são bem diferentes entre si. Não é muito difícil entender os motivos que levam alguns skatistas a dizerem que estão “treinando” quando estão dando um role; talvez a maior influência seja a principal característica do próprio cenário brasileiro, que é essencialmente voltado pras competições. Esse fato com certeza causa alguma confusão nas cabeças de algumas pessoas, até mesmo aquelas que não ligam pra competir – mas que, mesmo assim, seguem a tendência de dar um nome esdrúxulo ao ato de andar de skate. Acima de tudo, a gente compete contra nós mesmos, executando as suas manobras e procurando aprender outras novas ou buscando variações sobre aquelas que dominamos. Quer um bom exemplo?! Dae-won Song, na qual declarou numa entrevista que fiz há alguns anos (e que foi publicada aqui na TRIBO) que, a cada sessão, fica procurando novas maneiras de executar as suas manobras. Essa é a maior diversão do cara: ele brinca de competir consigo mesmo, e depois publica aqueles vídeos que nos deixam a todos de queixos caídos... Sorte a nossa! Veja bem, não estou dizendo que existe algo errado em se treinar pra se destacar em competições, nada disso. Se algum(a) skatista quer levar os campeonatos a sério, tem mesmo que se dedi-
A essência do skate é se divertir, sempre foi e sempre será
car a montar uma sequência de manobras eficientes e bem executadas, ou aperfeiçoar as técnicas de dropar uma ladeira ou ainda procurar contornar o máximo de cones na velô com o mínimo de erros. Se, além do skate, quiser incluir algum cuidado alimentar e outra atividade física pra auxiliar na melhora do desempenho, isso só vai ajudar. Na verdade, quem compete a sério no downhill speed precisa mesmo de estar com o skate muito bem afiado e com o corpo muito bem condicionado pra conseguir ter bons resultados nas competições. Normalmente, as rotinas dos melhores consistem em um esquema que prevê dia de ladeira seguido de um dia de preparação física, acompanhados de uma boa alimentação e do máximo de repouso que conseguirem. Tem que ser atleta mesmo não só pra descer um pico o mais rápido que conseguir junto com outros competidores, mas também pra aguentar bem as consequências que as quedas podem trazer. Por mais que haja equipamentos de proteção como macacões de couro, capacetes fechados e luvas próprias, um capote vai machucar muito mais quem estiver menos preparado. Nesse caso, estar mais forte pode fazer a diferença entre ter de ir a um hospital ou não. Porém, como em tudo na vida, existe sempre o outro lado. A imensa maioria de nós, skatistas, quer mais é se divertir andando de skate e não está nem aí pra competir. Fazer uma sessão com os amigos e ter um desempenho igual ou superior ao da sessão anterior é uma das coisas mais positivas no skate. Pra que então confundir uma sessão com um treinamento, que exige muito mais comprometimento e seriedade de quem o pratica? Portanto, não cabe dizer que você está “treinando” quando está se divertindo. A essência do skate é se divertir, sempre foi e sempre será. Deixe os treinos pra quem leva as competições a sério, pois esses e essas têm os seus próprios objetivos e até conseguem se divertir dessa forma, mas não é pra todo mundo. Curtir as suas sessões ao máximo, isso é o que vale!
APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.
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