Tribo Skate #244

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ROTA PANAM

NYJAH, SHANE E P-ROD

RODRIGO TX

MATENDO O SIGILO

IQUI E TIAGO

RUMOS ENGRENADOS

AO QUADRADO

OS LADOS DO SKATE LIVRE

MÉXICO X BRASIL CAMBIANDO SPOTS

www.triboskate.com.br

Ano 25 • 2016 • # 244 • R$ 12,90

Rodrigo TX, halfcab flip

WORLD BE FREE • APELÃO • ROGERIO FEBEM • VINICIUS CEBOLA






RAFAEL NOCE

índice //

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TRIBO SKATE 244 MAIO 2016

ESPECIAIS

30. México x Brasil Carlos Padilla em SP

36. Ao Quadrado Os quatro lados

42. Picos Inesperados Klaus Bohms no telhado

44. Tiago e Iqui

Rumos engrenados

54. Rodrigo Teixeira Mantendo o sigilo

68. Rota PanAm

Nyjah, Shane e Paul

SEÇÕES

Editorial..........................................................8 Zap ..............................................................12 Casa Nova ...................................................72 Tecnologia e Negócios ................................78 Playlist (Rogerio Febem) .............................79 Áudio (World Be Free) .................................80 Skateboarding Militant .................................82

CAPA: Pulaski é um pico lendário da Filadélfia, nos EUA, cenário que compõe o quadro perfeito para este halfcab flip sobre o bloco, feito durante as gravações do Away Days, vídeo que a adidas apresenta este mês e que nós deixamos eternizado em mais uma capa deste brasileiro sigiloso, Rodrigo Teixeira. Foto: Zander Taketomo ÍNDICE: A sessões entre amigos são sempre recheadas de boas surpresas, ainda mais quando um deles está com a câmera fotográfica pronta pro clique. O CSU de Divinópolis é um tradicional pico de skate da cidade, mas só o Brenndel Ferreira se arriscou neste corrimão, fs fifty ‘montanha-russa’. Foto: Rafael Noce


O orgulho de ser skatista é a prática da superação, seja contra ou a favor de si mesmo ou dos outros. Rodolfo Ramos e o hardflip no gap, saindo em uma das ladeiras do Morro da Cruz em Floripa

JOVANI PROCHNOV

editorial //


Bagunça

organizada // POR CESAR GYRÃO // FOTO JOVANI PROCHNOV

A

lgumas características do skate têm sido levantadas aos quatro ventos, seguindo como um mantra que vai atingindo cada vez mais pessoas em todos os lugares do planeta. Jamais poderíamos imaginar, algum tempo atrás, na possibilidade de um projeto como o “Skateistan”, numa das áreas mais conflagradas da Terra, o Afeganistão. Hoje em dia o projeto se expandiu para outros países com o mesmo objetivo: inclusão social. Os aspectos lúdicos da prática do skate estão em alta. As crianças se encantam com as mil possibilidades que têm para andar, criar, gastar suas energias. Os pais, encontram uma ferramenta para que seus filhos se cansem ao máximo e fiquem mais tranquilos em casa. Muitos melhoram seus rendimentos nos estudos. Vários programas de ensino estão conectando estes valores, como o “Bom na escola, bom no skate”, que criam oportunidades de explorar mais o universo deste esporte a partir de boas notas. Alguns dos mantras citados no início do texto são as frases repetidas por skatistas em programas de TV, em entrevistas em revistas ou sites e nas redes sociais. Uma delas, é que “no skate não há verdadeira competição, pois, via de regra, o skatista vibra e torce quando seu adversário acerta boas manobras ou linhas!” Outra delas, é a famosa “eu ando de skate por diversão.” No fundo, a competição faz parte de praticamente todos os momentos do skate, a não ser quando o objetivo é outro, como o deslocamento de um ponto A para um ponto B, o carrinho como transporte. No entanto, numa simples sessão no flat, você manda sua manobra e o seu amigo vai provocá-lo mandando uma melhor. É o lado saudável da competição, que acelera o aprendizado. Nessa grande troca proporcionada intensamente pelo skate, suas vitórias pessoais vão sendo repartidas entre seus iguais. Você incentiva e é incentivado. Você torce pelo outro e ganha um sonoro “yeah” quando faz por merecer. Todos estes dons da prática do skateboarding, aqui em sua denominação internacional, podem ser vistos sem esforço por quem anda e quem não anda de skate. Certa vez, estive com o secretário de Esportes do Governo do Ceará, que na época era um judoca atuante em sua modalidade, e ele ressaltava inúmeras qualidades que via no skate, sem precisar comparar com o judô. Concentração, equilíbrio, tenacidade, força de vontade, resiliência, elasticidade, criatividade, explosão, poder do improviso, etc. No recente DamnAm em Santos ou no Swell Old Is Cool, eventos que envolveram diferentes modalidades, categorias e gerações, os sentimentos eram muito parecidos. A vibração pelos outros, a celebração, a auto-superação de cada um, tudo isso e mais um pouco sempre em jogo. Por isso lembrei do Skateistan, um projeto que envolve crianças, adolescentes e adultos iniciado em Kabul, sobre uma cultura completamente diferente da cultura local, em que o movimento do skate, como se equilibrar numa tábua com quatro rodas, dois eixos, oito rolamentos, lixas e parafusos, produz resultados tão legais! É um grande motivo de orgulho para se bater no peito e falar: sou skatista!

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Próxima Edição 245

Fábio Castilho

ANO 25 • MAIO DE 2016 • NÚMERO 244

Diretor-Executivo e Publisher Felipe Telles Diretora de Criação Ana Notte Gerente de Conteúdo Renato Pezzotti Editor Junior Lemos Site Sidney Arakaki Diretor de Arte Fernando Pires Editora de Arte Renata Montanhana Editor de Fotografia Ricardo Soares Produtora Carol Medeiros Conselho Editorial Cesar Gyrão e Fabio Bolota Redação triboskate@triboskate.com.br Colaborararam nesta edição: Texto: Fernando Gomes, Guto Jimenez, Helinho Suzuki, Pedro de Luna e Sidney Arakaki. Fotos: Adriano Rebelo, Andre Calvão, Atiba Jefferson, Cristina de Sá, Fabio Bitão, Jovani Prochnov, Julio Tio Verde, Ligia Murakawa, Marcos Fertonani, Mike Blabac, Nilton Neves, Rafael Noce, Ramon Ribeiro, Ricardo Napoli, Ricardo Soares, Rodrigo K-b-ça, Rodrigo Porogo, Sam Muller, Sem Rubio, Skin Phillips, Thomas Teixeira e Zander Taketomo.

Distribuição: DINAP Assinaturas www.assinenorte.com.br/faleconosco Telefones Belo Horizonte: 31 4063-9044 Brasília: 61 4063-9986 Curitiba: 41 4063-9509 Florianópolis: 48 4052-9714 Porto Alegre: 51 4063-9023 Rio De Janeiro: 21 4063-9346 Salvador: 71 4062-9448 São Paulo: 11 3522-1008 Endereço: R. Estela Borges Morato, 336 Limão – CEP 02722-000 – São Paulo – SP Impressão: Leograf

Foto: Andre Calvão

www.triboskate.com.br A revista Tribo Skate é uma publicação mensal da Norte Marketing Esportivo

As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista.



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triboskate.com.br Sangue novo na DC Shoes Brasil

RICARDO SOARES

Com a profissionalização de Carlos Iqui e Tiago Lemos, dois novos skatistas amadores reforçam o time brasileiro da DC Shoes! O paranaense Felipe Munhoz e o gaúcho Talles Silva. A dupla, que completa 17 anos no mês de maio, foi revelada no vídeo Simplesmente em 2015 e o sucesso da parte em conjunto agilizou o processo de contratação. Segundo Robson Reco, chefe de equipe da DC Shoes Brasil, com a profissionalização de todo time de skatistas amadores a marca estava tentando contratar novos skatistas há alguns anos.

Tiago Lemos na lista do Pro Open da Street League

YOUTUBE.COM/TRIBOSKATEMAG Domínios de Picomano

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Araguari Skate Champ 20 anos

MIKE BLABAC

Começa em Barcelona, no dia 21 deste mês, a segunda e última qualificatória global da Street League 2016. E a lista dos 28 skatistas convidados a participar destas seletivas tem um brasileiro, Tiago Lemos. Mas para chegar à elite do skate profissional mundial será preciso estar entre os dois melhores colocados desta lista, assim como aconteceu com Carlos Ribeiro e Micky Papa na seletiva do Tampa Pro. Torcida para o Tiago não vai faltar. Manobras a gente sabe que também não!

OS NOVOS VÍDEOS NO CANAL OFICIAL DA REVISTA

Surpresa da capa para Ortiz

C3U x PAB

Nike SB Rotapanamericana em SP


UM RESUMO DO QUE NOSSO SITE REPERCUTE DE INTERESSANTE!

Eventos Damn Am Brasil Pela primeira vez na América Latina, a série de qualificatórias amadoras do Damn Am, que é organizada pelo Skate Park of Tampa, esteve no Brasil. A pista pública do Quebra Mar de Santos foi o palco para a vitória do paranaense Lucas Alves, capa de nossa edição 237 (outubro 2015).

Swell Old Is Cool

Lucas Rabelo e o noseblunt na grade, 2º lugar na disputa

Vert Battle A primeira edição do Vert Battle aconteceu mês passado em Atibaia, interior de São Paulo, e teve como campeões Rony Gomes no Pro e Cristiano Mateus no Pro Master. Pelo alto nível de skate e clima de confraternização, o evento tem tudo para se tornar um tradicional e manter a cena dos skatistas que andam em halfpipe viva.

RODRIGO K-B-ÇA

JUNIOR LEMOS

Nem mesmo o tempo ruim atrapalhou a festa de celebração da primeira década do evento nacional que reúne corações e mentes que vão ganhando os contornos do tempo com rugas, barrigas salientes, cabelos brancos e experiência. Grande parte dos que seguem andando idade adentro vem mostrando a cada edição que, na verdade, está mais afiada do que nunca.

Renatão D’Oliveira, fs grind

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zap // SÃO PAULO,

// POR RODRIGO K-B-ÇA (@RODRIGOKBCALIMA)

RODRIGO K-B-ÇA LIMA É UM CIDADÃO DO MUNDO E ATUALMENTE ESTÁ EM SÃO PAULO. É NA CORRERIA DIÁRIA DA MEGALÓPOLE QUE ELE ENXERGA FRAMES QUE SÃO FREQUENTEMENTE DIVULGADOS EM SEU INSTA, RECORTES DA CAPITAL QUE ELE CONSEGUE ABSORVER EM MEIO AO CAOS PAULISTANO.

Da esquerda pra direita, de cima pra baixo: 1. Observar; 2. Bom dia; 3. E a cidade cresce, como uma onda de concreto; 4. Marginal Tietê; 5. O trânsito paulistano te permite contemplar belas cenas. Só não contempla muito que é para quem está atrás não buzinar!; 6. Bom dia; 7. Construção; 8. Hoje é dia de skate no centro; 9. Bom dia

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@rodrigokbcalima



FOTOS: DIVULGAÇÃO/ROGERIO VITAL

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As brodagens dos anos 90 No final dos anos 80, o rap era a grande novidade no Brasil. Nesse contexto, uma nova geração formaria a terceira onda de bandas nacionais independentes, influenciada pelo ritmo, a poesia e a atitude. Compartilhando influências e afinidades, surgiriam grupos, produtores e jornalistas, formando a base para uma verdadeira cena underground no Estado do RJ. O skate, o grafite e a moda street em Niterói e São Gonçalo; a hemp family, o festival SuperDemo, o Garage e os estúdios Totem e Groove na capital; os fanzines, as lojas de discos e os pequenos selos foram os elementos químicos dessa mistura explosiva. Brodagens, do nosso colunista Pedro de Luna, mostra o início e o desenrolar desta nova cena de rap e rock no Rio, tendo como fio condutor da história o músico Gilber T. Amigo desde a adolescência do falecido rapper SpeedFreaks, ele acompanhou

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de perto todas as mudanças culturais, sociais, tecnológicas e econômicas em três gerações distintas. Da fita k7 e o sonho de gravar um CD por gravadora até a consolidação de uma imprensa musical, a criação de um circuito de shows, o movimento Hip Hop Rio e a revolução digital, bem como a ascensão e a queda de muitos que, um dia, estiveram no dito mainstream. Gilber sempre esteve lá, humildemente observando tudo bem de pertinho com a sua guitarra. Fruto de uma extensa pesquisa e 35 depoimentos exclusivos, Brodagens reúne quase 500 imagens, muitas delas raras e inéditas, do acervo pessoal de amigos e entrevistados. Lançado vinte anos depois do emblemático ano de 1996, chega de mãos dadas com o terceiro disco de Gilber T, Contradições (Tomba Records), numa sinergia que só quem é broder consegue entender.


FOTOS: DIVULGAÇÃO GUITAR DAYS

Fábio Massari, Roberto Cotrim e as bandas Killing Chainsaw e Second Come estão nos documentários sobre as bandas que cantavam em inglês nos anos 90

Documentários resgatam os anos 90 // PEDRO DE LUNA Dois novos documentários, Guitar Days e Time Will Burn, falam sobre o rock underground brasileiro na década de 90. Na opinião do diretor de Guitar Days, Caio Augusto Braga, além de gravar e lançar de forma independente, as bandas do período tinham em comum a dissonância das guitarras, vocal embutido e letras em inglês, atraindo pequenos selos independentes. “Mas uma coisa que este revival deveria promover é o resgate da produção musical dos anos 90. Se com bandas que tinham acesso à MTV e bons estúdios é complicado encontrar registros online, imagine com uma infinidade de outras bandas espalhadas pelo país, que não tiveram igual exposição?”. Ao questionar o diferencial entre os dois filmes, Caio diz que “o recorte temporal do Time Will Burn é de 1990 a 1993. Por este

aspecto, Guitar Days retrata o boom deste período inicial, o aparecimento das bandas em outros estados, a transição da cena inicial para o indie atual e as diferenças entre os 90 e os dias de hoje”. Para conseguir a verba e finalizar o seu documentário, o diretor realizou shows com bandas da época, como Killing Chainsaw, Mickey Junkies, The Cigarettes e Second Come. Em produção desde 2012 por Marko Panayotis e Otavio Sousa, Time Will Burn investe em cenas de arquivo e entrevistas com músicos e jornalistas, e será lançado em festivais como o In-Edit, em junho. O filme traz depoimentos de nomes como Fábio Massari e Gastão Moreira (MTV), Edu-K (De Falla), Cherry (Okotô) e Roberto Cotrim (Espaço Retrô). Definitivamente, o cheiro de naftalina está no ar. maio/2016

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Magrão, carving grind no pump track e…

Com Ari Bason na velô

Uma pérola no interior POR CESAR GYRÃO // FOTOS CRISTINA “SININHO” DE SÁ A Fazenda da Grama é um condomínio de alto padrão na região de Itupeva, a cerca de 80 km de São Paulo. Recentemente a Flyramp nos convidou a participar da inauguração do espaço de skate que foi construído por lá. Encontramos o primeiro pump track de cimento que se tem conhecimento no Brasil, um circuito muito divertido que será usado por moradores e convidados, ao lado de um banks docinho. Ari Bason, Masterson Magrão, Sininho, Luca (filho do Ari), Branco Gyrão e eu compúnhamos a barca. No local, os irmãos Serra, que têm casa no condomínio, mais o Gui, participaram da sessão. A inauguração deste espaço merece registro pelo carinho na obra e por amplicar o conceito do skate num ambiente que tem outras atrações, como o golfe o wakeboard, com a inauguração de um cable park no mesmo dia. Se tiver oportunidade de conhecer, recomendo.

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Moradores e convidados



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LUIZ CALADO APELÃO

SE O SKATE ENSINA UMA LIÇÃO A CADA TOMBO, APELÃO TEM APROVEITADO MUITO BEM CADA VEZ QUE VAI AO SOLO. ISSO PORQUE O SKATE QUE ELE APRESENTA TEM UMA CONSTANTE EVOLUÇÃO, SE ESPECIALIZANDO EM IMPRESSIONAR PELO ALCANCE E ALTURA (FAMOSO POP) COM QUE VOLTA AS MANOBRAS. ENSINAMENTOS QUE TAMBÉM REFLETEM EM SUA VIDA, POIS O CARA É HUMILDADE E ENERGIA POSITIVA SEMPRE.

• (Marcus Sousa) Por que Apelão? - Salve Marcus! O que aconteceu foi o seguinte: (risos) No sexto mês que tinha começado a andar de skate, viajei para Pernambuco (minha terra natal) e morei aproximadamente um ano por lá sem pisar

no skate. Quando voltei para São Paulo, fui morar numa rua que tinha meia dúzia de moleques começando a andar. E naqueles seis meses que andei, aprendi algumas manobras básicas tipo, flip, varial flip e algumas tricks no trilho de solo. Como os moleques estavam começando, piraram no que eu já sabia e começaram a me chamar de apelão. Daí, no final, o apelido pegou porque eu não gostava dele! Quase consegui me livrar dele vindo morar no Centro, mas trouxeram ele de onde eu morava e foi se alastrando. • (Eliézer Dantas) Salve Apelão! Muito embora grande parte dos skatistas brasileiros não demonstre preocupação com o cenário político atual, é inegável que a crise econômica tem afetado a indústria

do skate. No seu ponto de vista, os skatistas amadores e principalmente os profissionais poderão sofrer ainda mais com a falta de patrocínio, ou ainda uma redução nas suas remunerações? - Salve Eliézer! Lamentável mesmo. Vejo que o skate está passando por uma mudança também, está se reciclando. No meu ponto de vista tem o lado ruim e o lado bom dessa crise. Empresas que levam o skate a sério em alguma vezes reduzem funcionários mas mantém os skatistas, e empresas que não levavam o skate tão a sério. Estão percebendo que o skatista é muito importante e que se não fizerem esse investimento irão acabar afundando de vez! As marcas precisam manter o relacionamento com o público através do skatista, para se manter vivas nessa fase.

// Luiz Fernando Martins Calado “Apelão” 28 anos, 16 de skate Patrocínioss: Globe e Skate Até Morrer Apoios: loja SAM e Andale Brasil Instagram: @apelao / Snapchat: luizapelao

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FABIO BITÃO

• (Thiago Felipe De Albuquerque) A marca Skate até Morrer ajudou muito a manter seu corre no skate? Se você não tivesse o apoio deles, sua carreira no skate estaria na mesma pegada atualmente? - R: Salve Thiago! A Skate Até Morrer é praticamente uma familia pra mim, não só pelo suporte, mas também pelas ideias e conselhos que os caras me dão. Só tenho a agradecer todos esses anos e com certeza eles foram peça-chave para manter meu skate em chamas!



• (Steven Regis) Apelão! Qual a maior dificuldade de ser skatista profissional no Brasil, e ter seu model em grande destaque? - E aí, Steven! Na minha opinião, faltam mais campeonatos profissionais aqui no Brasil. Eles ajudam a fomentar ainda mais o skate com o público em geral; as vídeo partes e as revistas atingem mais a galera core, aqueles skatistas mesmo. Iria falar das pistas, mas não tenho o que reclamar porque tem surgindo algumas atualmente, principalmente próximas à região central onde moro. Sobre o pro model, acredito que seja por conta do trabalho que os caras da Skate Até Morrer fazem. Todo mundo lá é skatista; os donos são skatistas, eles curtem usar um produto bom, por isso eles sempre buscam melhorar a qualidade dos shapes. Fora o relacionamento, vários clientes dos caras são amigos e até colam na sessão juntos. • (Douglas Gonzaga) Salve Apelão. Certo Shock? Comente um pouco sobre as correrias para virar Pro? Diz aí para a galera as dificuldades depois que se vira profissional. - Salve Douglas, tudo certo mano? Você tem que ter um objetivo e uma estratégia, começando pela divulgação e uma marca que invista no seu profissionalismo; profissional não é só andar de skate bem, você tem que direcionar tudo isso. A dificuldade não existe, você só precisa fazer o que ama e se dedicar, como um trabalho normal, se você quiser ser um profissional diferenciado. • (Andre Henrique da silva) Como é trabalhar em uma marca tendo como manager o (Ricardo) Pinguim. Isso te dá mais liberdade para fazer as paradas? - Tudo certo Andre? Primeiro que é uma satisfação monstra! Comecei a andar de skate vendo e me inspirando com as paradas dele. Para uma empresa é muito bom ter um skatista, ainda mais com a bagagem dele, para direcionar as paradas; ele dissolve as ideias entre o skatista e a empresa. Sim, tenho liberdade para trocar qualquer tipo de ideia com ele. Mas, como um bom profissional, ele também curte as paradas certas. A Globe sempre contratou bons managers e, dessa vez, não foi diferente. Pinguas é monstro!

Valew todo mundo que mandou perguntas. Tamo junto, gangue!

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FABIO BITÃO

• (Richard Bruno Magalhães) Apelão, beleza? Quero te parabenizar pelo seu trabalho com o skate, te acompanho em tudo! Como é pra você andar com Xaparral, Murilo, Diego Wanks e o resto da banca? E como é viver do skate no Brasa nesses tempos de crise. Você tem algum medo de acontecer algo com o seu skate conforme esse acontecimento? Um abraço. - Beleza Richard? Valeu mano. É da hora você se inspirar vendo os vídeos e tals, mas quando você tem amigos bons, você pode se inspirar vendo várias tricks cabreiras ao vivo! E isso não tem coisa melhor, (risos) fora as tricks que você rouba deles! (mais risos). Expliquei um pouco do que penso na pergunta do Eliézer, tento enxergar e extrair coisas boas dessa crise. No meu caso, particularmente, esses dois últimos anos têm sido muito bons. Consegui fazer tudo que tinha planejado, lógico que a crise está aí mas nada como um ollão pra passar por cima dela.

O que se pensa na primeira vista é um wallie fifty, mas Apelão fez diferente: ollie to fifty, no arco-íris da Cruzeiro do Sul, zona norte de SP


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motivadores // vinicius cebola

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O Multiplataforma

A MÚSICA “SK8”, DO GRUPO PEQUENO CIDADÃO, FOI ESCRITA POR VINICIUS CEBOLA. A OBRA É DE 2013 E COMPÕE UM PACOTE COM UM LIVRO, DE AUTORIA DELE, DE NOME MANUAL DO PEQUENO SKATISTA CIDADÃO. ARQUITETO, MÚSICO, SKATISTA PRO, VINICIUS TRANSBORDA SUA VEIA ARTÍSTICA EDUCANDO SEUS FILHOS, ENSAINDO COM O VERMES DO LIMBO OU TOCANDO A OFICINA DO EXPERIMENTAL SKATE ARTE. POR CESAR GYRÃO FOTOS THOMAS TEIXEIRA E NILTON NEVES

Nilton Neves usou a técnica da longa exposição para criar este quadro no antigo “mini half” do galpão do Experimental Skate Arte na Barra Funda. Disasters de front e backside, de um lado e de outro

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motivadores // vinicius cebola

O

ponto de partida foi Londrina, no Paraná, onde Vinicius conheceu a cultura do skate e suas ramificações, a partir dos 10 anos de idade. Já gostava de desenhar e o carrinho foi um mundo novo que o apresentou a várias formas de arte: música, grafismos dos shapes, das roupas, manobras, revistas, vídeos. Trinta anos depois, formado em arquitetura pela Cesulon, projeta rampas fora do padrão (a pista da Element no Festivalma no Ibirapuera, em 2009, simulava um grande console de Pinball), dá aulas particulares de skate, mantém viva sua banda de 11 discos desde 1996, a Vermes do Limbo, educa seus dois filhos ali pela faixa dos 10 anos e mantém um rolê de skate vigoroso, seja na rua ou em pistas. Seu projeto Experimental Skate Arte é uma maneira de passar para as crianças toda sua experiência e algumas formas bem legais de se brincar com os elementos do board. No ESA (Experimental Skate Arte), você passa um pouco da história do skate, depois introduz uma série de atividades que as crianças “piram”. Recortar lixas, produzir stencils, recortar, lixar e pintar shapes, montar rampas… Quando você concebeu as oficinas estava pensando nos seus filhos? Certamente eles me motivaram bastante. Sempre gostei de mostrar a eles a verdadeira essência do skate, sua relação com a arte, arquitetura, música, reciclagem, ocupação do espaço, cidadania e também como um estilo de vida. Resolvi transmitir esta visão e vivência que tenho do skate para jovens e crianças criando o Experimental Skate Arte, que sintetiza tudo isso em uma oficina onde a mão na massa e o “do it yourself” são essenciais. De certa forma foi o jeito que achei de plantar uma semente do skate que pode germinar ou ficar congelada, mas vai estar ali. A criança entende que existem outras formas de trabalhar com skate, sendo designer de produtos e materiais, artista, arquiteto ou engenheiro de pistas, skatista amador ou profissional, e por aí vai. Acho importante que conheçam a história local e global do skate e como sua raiz é tão profunda. Esta vontade de trabalhar com jovens e crianças realmente foi graças aos meus filhos.

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O livro Manual do Pequeno Skatista Cidadão reúne um pouco dos conceitos da ESA. Quando surgiu o convite para se unir ao coletivo de criadores Pequeno Cidadão? Eu fazia a cenografia da banda na época e a Taciana já sabia do meu envolvimento no skate e na música, aí surgiu o convite de compor uma letra que falasse do carrinho. Então a música “Sk8” foi criada sob encomenda? Diria um convite, saiu no segundo disco da banda e tem até vinil. O Vermes do Limbo é um som experimental bem anticonvencional. Quando surgiu a banda e como conseguir manter por tanto tempo na ativa? Surgiu em 1996. Quando fui morar em Marília, reencontrei um velho amigo de infância, o Pacola. Ele baterista e eu baixista. Foi natural começar a tocar. Já havíamos tocado em outros projetos e a sede de rock estava só começando; estamos aí até hoje. Não é fácil manter uma banda, mas existem elementos importantes, do tipo deixar seu ego de lado e pensar juntos como num só. Sempre fizemos tudo, desde composições, capas dos discos, gravações, 100% independentes. Juntamos dinheiro de shows e vendas de discos para fazer o próximo trabalho e o próximo. Estamos produzindo um disco por ano ou mais. É neste esquema que seguimos experimentando, sendo tortos sem se preocupar se vai virar ou não, mas sempre nos preocupando com a qualidade das composições e gravações. Uma certeza eu tenho: se estivermos morando na mesma cidade e se depender de mim, vamos seguir tocando, e se não, vou tocar com quem estiver disposto a tocar. Gosto disso; me completa. Londrina foi seu berço no skate e onde cresceu com personagens pesados da cena de então, alguns que marcaram seus nomes no skate do Sul do Brasil, como Marcelo Santos, Aloísio, Murilo Toma, Isquisito e mesmo o Ed Scander, que apesar de não ser natural de lá, agitou muito a região. Quais são suas melhores lembranças do skate da cidade? Nossa, são muitas! Houve momentos mágicos em Londrina. Pistas, campeonatos, trocas de informações e cultura com gente

de fora que ia para a cidade andar, mas gosto de lembrar da época dos campeonatos do Bosque que o Ed fazia, os da UBS (União Brasileira de Skate), Casa de Sucos, No Fear e Back Bone, Gran Mausoléu, do Chevette do Xico Loco, que andava com 15 neguinhos pendurados, e nossos rolês em busca de picos para filmar para o Dirty Money, com o Alê Vianna e o Cesinha Lost. Também uma sessão de fotos para Tribo Skate número 7, de 1993, onde me esfolei todo pra voltar uma manobra. Você se tornou skatista profissional num evento histórico em Curitiba, em 1995. Foi aquele promovido pela Maha e que rolou o maior quebra-pau com os segu-


LIGIA MURAKAWA

Vermes do Limbo

ranças, no Coliseu. O que isso marcou pra sua vida? Fiquei com um puta galo na cabeça. Foi uma skatada do segurança que era um monstro; eu nem corri o champ, boicotei! Marcou a violência que pairou num ambiente de confraternização. Achei uma tremenda #*^**##$$#!

Uma das turmas do Experimental Skate Arte

Acho importante que conheçam a história local e global do skate e como sua raiz é tão profunda.

O “Pinball” da Element, pista que você desenhou e construiu na Bienal do Ibirapuera para o Festivalma, está marcado como uma das pistas mais loucas que vimos. Qual foi a ideia? Não tinha muita opção, me destinaram uma área que era em declive, então quis aproveitar esta situação que era bem fora do comum para fazer uma pista. Quando vemos uma descida, imaginamos slides e velocidade; achei que seria uma oportunidade de mostrar minha criatimaio/2016

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THOMAS TEIXEIRA

THOMAS TEIXEIRA

Wallie to fakie, no Centro de Esportes Radicais em SP


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THOMAS TEIXEIRA

O asfalto do pump track grande do Centro de Esportes Radicais oferece muitas opçþes para criar. Bs ollie num canto batizado pelo Cebola


vinicius cebola

// motivadores

THOMAS TEIXEIRA

Suas colagens são impressionantes, pois parecem ganhar vida ao serem vistas com atenção. Você já fez algumas exposições de sua arte? Suas telas podem ser adquiridas? Obrigado pelo elogio. Sim, já expus. Já ilustrei algumas matérias de revistas com elas e continuo fazendo quando dá tempo; isso faz parte de mim. Você pode adquirir por preços camaradas ou por troca! Gosto do lance de fazer rolo, criar a própria moeda e seus valores.

vidade e coragem de encarar o desafio. Estava ouvindo o disco Tommy do The Who (história de um garoto que é mestre no Pinball) e uma pista com este desenho cabia perfeitamente no formato da área e era o que estava curtindo no momento. Brinquei com rampas em sequência para poder fazer o vai e vem do skatista como se fosse a bola do flipper e também conter a velocidade. Um time classe A de artistas pintou a pista, entrando no conceito Pinball. Você também desenhou o circuito para a Copa Niemeyer de Skate, em 2010, que foi montada no Memorial da América Latina, também em Sampa. Descontados os problemas na montagem, você curtiu fazer este trabalho? Não, meu trabalho foi prejudicado lá. O ponto legal foi ter tocado ao lado de Tommy Guerrero. No ano passado você foi convidado pra criar algo diferente numa estação experimental da moto Ducati, na Oscar Freire. Fez uma espécie de “full pipe” (sem teto!) e impactou a ação de marketing. Quais outros projetos legais você fez e para que marcas? Esta da Ducati foi inusitada, me trouxe de

MARCOS FERTONANI

Celson Vinicius Weffort Patrial 40 anos, 29 de skate, de Londrina, PR Mora em São Paulo desde 2005 Arquiteto, pro skater, músico, artista Casado com Tica Bertani Pai de Damião e Tomé

volta aos projetos de pistas e obstáculos. Tinha um espaço apertado e seguindo um conceito da marca, saiu um “pipe fake” que posteriormente virou a pista do ESA e agora está na Bowlhouse. Com a Element foram três pistas, todas na Bienal. Fiz o projeto da loja Roots, em Anápolis/GO, e a da Millys no Bom Retiro. Fiquei afastado das pistas de skate para me dedicar à cenografia e direção de arte. Fiz a cenografia para o filme “Os Inquilinos”, de Sergio Bianchi, direção de arte para uma série da MTV, “Copa do Caos”, e para outros programas da emissora, publicidade e outros jobs relacionados.

Vamos falar do Tomé e Damião, amigos de session do meu filho Branco. Os caras estão sempre fortalecendo o seu trabalho no ESA e nas sessões. É complicado ser o “professor” da oficina, sendo pai ao mesmo tempo? Ser pai é ser professor, isto é fato. Nas oficinas, tento não misturar. Quando posso, deixo-os em casa, ou quando eles não querem participar também não cobro. Mas, quando participam, encaram o ESA sendo assistentes e me ajudando de alguma forma. São meus ESAboys. E qual o futuro do ESA? O ESA tem uma meta de crescer e disseminar cada vez mais a cultura do skate para pessoas que gostam dele e leigos que querem entender melhor o seu lifestyle, alinhado à cidadania, reciclagem e arte, de forma lúdica e também técnica. Quero aproveitar para dizer que busco patrocínios para meu projeto Experimental Skate Arte que está tramitando na lei do PROAC. O número de inscrição do projeto é 20854. Tenho uma agência muito competente cuidando disso, é a Omega Mídia e os contatos são (11) 3875 0092 - renato@omegamidia.com.br ou experimentalsk8@gmail.com. O projeto será aplicado gratuitamente dentro de escolas públicas e particulares, no mesmo formato das oficinas que já desenvolvo. Vou atender 30 crianças por oficina, atingindo nesse primeiro momento 360 crianças e adolescentes, e indiretamente 1.040 pessoas. Cada aluno receberá um kit ESA com todos os materiais necessários para a aula, mais uma cartilha de como montar rampa, fazer adesivos, reciclar shape e muito mais. Para o ano que vem pretendo alcançar três vezes mais o número de pessoas e seguir acreditando que podemos melhorar este país de alguma forma. maio/2016

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Klaus, bs flip

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Picos Inesperados

SEM RUBIO

F

ilmando pro Away Days em Miami, nosso guia foi ninguém menos que Danny Renaud. Um dia fui de carona no carro dele, ao invés de ir na van, e entre muitas conversas ele me perguntou que tipo de pico eu gostava. Respondi algo do tipo: “picos inesperados, que ninguém tenha andado, estranhos, diferentes”. Na mesma hora ele se lembrou de um que sempre quis andar e não via graça em fazê-lo sozinho, então encontrou um parceiro. Escalamos com dificuldade pra alcançar esse telhado, andamos por 30 minutos e saímos do lugar com a sensação de aventura vivenciada. Foi uma sessão daquelas que faz sentir estar andando sem compromisso com um camarada num domingo à tarde, o que geralmente é difícil acontecer quando se está na missão de filmar pra um projeto tão grande. Já de volta ao carro, piramos ao ver as fotos do Sem, foi a cereja do bolo. Talvez essa manobra nem entre no vídeo, mas pra mim foi uma das sessões mais especiais filmando pro Away Days.

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méxico x brasil

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Conexão México x Brasil O SKATE É UMA FACULDADE UNIVERSAL E O BRASIL OFERECE UMA EXCELENTE GRADUAÇÃO NO QUESITO MANOBRAS DE RUA. POR ISSO COLOCAMOS ALEXANDRE CALADO PARA APRESENTAR ALGUNS PICOS AO CARLOS PADILLA, MEXICANO QUE PISOU PELA PRIMEIRA VEZ NESTE SOLO SAGRADO DO SKATE MUNDIAL. E ELE APROVEITOU MUITO BEM OS DIAS POR AQUI, SE LIGA! FOTOS ANDRÉ CALVÃO

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Alexandre Calado “Testa” 26 anos, 10 de skate São Caetano do Sul, SP Crail Trucks, Paviment Company, Lemon Collection Store, Amount e KDart Tatoo

Wallie fs fifty do Testa, em frente à Câmara Municipal

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méxico x brasil

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empre fico muito feliz quando apresento algum pico de São Paulo pra alguém que é de outra cidade e fiquei muito agradecido por ter feito isso para um cara que é de outro país. É sempre bom ver outras pessoas andarem nos picos que estamos acostumados porque eles têm outra visão, nos faz ver o mesmo lugar mas com novas possibilidades. Isso na real é que nos motiva, imaginar como eles vão manobrar em picos que andamos com frequência!” Alexandre Calado

Padilla conheceu o Parque Dom Pedro II; fs ollie

“Essa foi minha primeira vez no Brasil, então tudo parecia muito novo pra mim. O skate aí é incrível, como as pessoas costumam dizer que deve haver alguma coisa na água que vocês bebem. Tenho alguns amigos do Brasil que encontrei na Europa nos últimos anos, e todos eles também são bons no que fazem. No meu primeiro dia no Brasil o Creke Aires me levou para os mais memoráveis espaços no Centro de São Paulo, a maioria deles me lembro de ter visto em vídeos de skate como no 411VM; o Alex Carolino, Rodrigo Petersen e muito outros. Alguns picos são perfeitos e outros são semelhantes aos que costumamos andar aqui no México, então não senti muita dificuldade em manobras nestes lugares. A praça Roosevelt é incrível e a quantidade de bons skatistas ali é impressionante. Tudo foi perfeito, principalmente por conhecer pessoas como o Creke, o Testa (Alexandre Calado) e o André Calvão. Muito obrigado meus amigos, por tudo!” Carlos Padilla maio/2016

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Aquela visรฃo diferente de um pico clรกssico! Fs 50-50 no Museu do Ipiranga

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méxico x brasil

Carlos Padilla "Litos" 24 anos, 15 de skate De Aguascalientes, México Patrocínios: Nike SB, Fore Street Skateboards, 643 Supply, Arre! Bearings, Gato Negro Griptape, Clínica Médica Corps e G-Shock.

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First try, de primeira, de passagem... Assim foi o backside ollie do Felipe Oliveira pulando essa hubba com pouquíssimo espaço pra vir. E, sem nenhuma dificuldade, ainda voltou a trick outras vezes para filmar e fotografar o moment perfeito.

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ao quadrado

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Os quatro lados do skate livre QUATRO SKATISTAS DE CIDADES DIFERENTES REUNIDOS EM SALVADOR, ELEVANDO A POTÊNCIA DE SEUS SKATES, ANDANDO JUNTOS E SE DIVERTINDO EM SESSÕES DE MUITO CALOR, RISADAS E MANOBRAS. FELIPE OLIVEIRA, LUIS MOSCHIONNI, PEDRO LIMA E RAFAEL FERREIRA SÃO OS PROTAGONISTAS DO VÍDEO AO QUADRADO, QUE CHEGA A SUA TELA AINDA ESSE MÊS. POR FERNANDO GOMES


vídeo // ao quadrado

A

cidade de Salvador, com sua grande variedade de picos skatáveis, foi a escolhida para sediar as filmagens do vídeo que mostra um skate criativo e diverso, apresentado por Felipe Oliveira, Luis Moschionni, Pedro Lima e Rafael Ferreira. São eles os skatistas que formam o time da nova marca de rodas Triangular, idealizadora do vídeo. A maioria das imagens foi captada em cerca de duas semanas, nas quais os skatistas e os amigos envolvidos na produção compartilharam uma vivência superior que vai muito além das manobras. Acordando, comendo (mal), trocando ideia, dormindo (mal), lavando louça e manobrando juntos, aquele clássico lifestyle que nós skatistas amamos. Com muita amizade e boas energias envolvidas, foi natural que todas as sessões rendessem bastante, fosse na companhia escaldante do sol ou nos rolês boêmios noite adentro. O clima era sempre de uma sessão cotidiana, sem pressão e sem cobranças, skate livre com cada um manobrando do jeito que sentia vontade. Mais uma boa prova de que nem sempre são necessários orçamentos gigantes e equipamentos ultra-avançados para se produzir um vídeo de skate. Na maioria das vezes, o que faz render os melhores frutos é a junção de vontade, amizade e talento. Tudo isso se reflete também na edição do vídeo, que não é dividido por partes de cada skatista e mostra os caras andando juntos em picos já clássicos da capital baiana e outros recém-descobertos. Levando a estética como aspecto de grande importância, o vídeo também traz intervenções com os grafismos que estampam as rodas da marca e imagens monocromáticas como essas que você vê aqui na matéria, entre outras viagens.

Pedro, Luis, Rafael e Felipe. Equipe Triangular na missão!

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Pedro Lima foi apelidado de Peter Pan pela disposisão em manobrar. Ele sobe de ollie e volta de frontside boneless, nesse complicado pico que poucos se aventuraram

Montevidéu, Uruguai, Km 3.000

Da vizinha Aracaju veio Rafael Ferreira, que entra no começo da borda de rockslide, desliza toda sua extensão e arranca pra pedra portuguesa.


vĂ­deo // ao quadrado

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A praça Nossa Senhora da Luz sediou grande parte das sessões do vídeo. É um pico perfeito para deixar a criatividade fluir das formas mais diversas e Luis Moschionni não hesita em mandar esse inusitado ollie to fast plant


MIKE BLABAC

Carlos Iqui, bs nollie flip 270

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carlos iqui e tiago lemos

TIAGO LEMOS E CARLOS IQUI AGORA SÃO SKATISTAS PROFISSIONAIS. O RECONHECIMENTO VEIO ATRAVÉS DO MERCADO DE SKATE NORTEAMERICANO, A FORMA MAIS DIFÍCIL E DISPUTADA QUE EXISTE.

MIKE BLABAC

POR SIDNEY ARAKAKI

// entrevista


entrevista // carlos iqui e tiago lemos Foi uma noite especial, principalmente para Iqui e Tiago, que ainda não tinham assistido ao vídeo e estavam rodeados pelos amigos brasileiros. Na manhã seguinte fui ao hotel entrevistar os skatistas recém-profissionalizados e ver se eles tinham noção de tudo que está acontecendo ultimamente. Como foi acordar depois dessa première? Tiago Lemos: Acordei muito bem. Muito a pampa, tá ligado? Feliz! Acordei, já vi o Wilton (Souza) jogado, o Pedrinho (Biagio), o (Carlos) Iqui. A noite ontem foi muito ‘style’. Todo mundo junto, o time, muita energia boa. Acordei bem tranquilo. Já olhei pro chão, já vi o shapinho jogado ali também. Só alegria.

Iqui, ss fs bluntslide transfer

Na semana passada, no seu aniversário, fizeram a surpresa pra você e o Iqui pra mostrar os pro-models. A gente estava lá no JKwon, fomos com o (Rodrigo) Gerdal lá. Foi bem no dia do meu aniversário. O dia já tinha sido muito style, tinham rolado várias paradas. Eu tinha filmado uma manobra também, num pico que eu sempre quis filmar. E de noite a gente foi no JKwon, que o Gerdal estava tentando o switch frontside bigspin nosebluntslide fazia três dias. E bem nesse dia ele voltou. Todo mundo comemorando. E do nada, os caras já encostaram com as câmeras e ficaram parados na nossa frente, minha e do Iqui. Eu não estava entendendo. O Gerdal acertou, todo mundo comemorou, voltamos e sentamos no mesmo lugar. O Toya (Danny Montoya, sócio da BLVD) veio de trás da gente, no escuro, estava tudo escuro, e começou a colocar os shapes do nosso lado. Aí eu já vi os shapes e já nos emocionamos. Foi meu melhor aniversário. MIKE BLABAC

São raríssimos os casos de estrangeiros que chegaram totalmente jovens desconhecidos, sem falar a língua e serem abraçados pelas marcas com todo suporte e cobertura da mídia dos EUA. Iqui e Tiago conquistaram respeito, construíram uma reputação e se solidificaram no cenário internacional em 2015, quando foram uns dos skatistas principais do De la calle/Da rua, vídeo da DC Shoes. Tiago também explodiu ao ter sua exposição de destaque no “We Are Blood” e se tornou mais um fenômeno de popularidade e carisma. A passagem para a categoria profissional foi feita através de suas participações no novo víví deo da Boulevard Skateboards, o “Quinto”, que teve a première mundial em São Paulo com presença de alguns integrantes da marca.

Nos últimos meses você ficou um tempo parado se recuperando de uma cirurgia na mão e não conseguiu filmar muito. Operei faz uns três, quatro meses. Eu operei, fiquei um mês de gesso. Um mês sem. Total de dois meses, não deu tempo de terminar a fisioterapia porque os ‘corres’ já estavam a milhão, já chamando. Mas agora já tô firmão, retomando o skate.

O Iqui é um maluco muito cabreiro. Pessoa e skate. Monstro do skate, anda pra caralho. Além do skate, a pessoa dele, moleque é sem palavras, sanguebom pra caralho, humilde. Ele vem de uma família muito humilde também.

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Você queria ter tempo pra ter filmado mais. Queria ter feito uma parada bem da hora mesmo. Ficou curtinha minha parte. Gostei pra caralho, mas queria ter feito uma parte bem da hora. Mais tempo. Mas, de boa, tô feliz com minha parte, com o vídeo. Felipe “Bocão”, brand manager da BLVD no Brasil, estava do nosso lado nessa hora e perguntei se a première em São Paulo já estava programada, porque ela foi anunciada bem em cima da data, menos de uma semana depois de anunciarem as profissionalizações e antes das últimas manobras serem gravadas. “A princípio seria lançado dia 6 no Berrics, sexta-feira. Então a gente teve que ace-


RICARDO NAPOLI

Tiago Lemos, nollie heel fs noseslide, como visto no vĂ­deo Quinto

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RICARDO NAPOLI

carlos iqui e tiago lemos lerar a première aqui no Brasil (pro dia 2), que é um bagulho que eu queria muito fazer, não tinha como. O Montoya sabia que a gente queria, já tinha dado o aval. Só que o vídeo não estava terminado, os caras estavam filmando até quinta-feira. O Tiago tinha operado a mão no começo do ano, voltou e teve um mês pra tentar filmar alguma coisa. Fora todos esses compromissos. Berrics, documentário da Mountain Dew. E finalizaram o vídeo domingo de noite. Mas já estava programada. E como ficou muito em cima, tem alguns conteúdos do Berrics que eles vão soltar antes do vídeo. Então eles colocaram pro dia 20.” Você e o Iqui têm uma história sendo construída juntos até agora, principalmente por causa da DC e Boulevard, os patrocinadores em comum. Eu conheci o Iqui quando comecei a pegar tênis na DC do Brasil. Eu sempre curti o rolê dele e desde ali a gente começou a andar juntos, já começou a rolar uma sintonia. AsAs sim foi o começo. Depois a gente fez várias trips juntos, pra vários lugares. Fomos pra gringa, fizemos o ‘corre’ lá. É muito style anan dar de skate com o Iqui. E é muito da hora termos passado pra Profissional juntos. Um bagulho muito louco. E agora vocês começam a seguir rumos diferentes. Você está indo pro Pro Open da Street League. Na real, eu queria que ele fosse também. Porque eu não curto muito. Mas se o Iqui eses tivesse junto ia ser da hora. Nós estaríamos lá juntos, ia ser da hora. Vou colar lá e ver qual que é, tentar representar. Mas você tá na pilha? Não tô tão na pilha. Tipo, quero ir pra ver qual vai ser e tal, ver como que funciona. Mas não tô tão na pegada. Já corri vários campeona campeonatos, ‘milianos’ atrás. Às vezes me dou bem,às vezes não. Mas vamos ver qual vai ser.

Carlos Iqui, nollie bs flip fs tailslide

Hoje você é um cara bastante querido pela galera. Tem muita gente torcendo por você. Se não te convidassem, um monte de gente ia reclamar que você deveria estar lá. Os caras querendo que eu entrasse, né? É foda esses bagulhos. Faz muito tempo que eu não corro cam campeonato, só andando de skate na rua. As ve vezes os caras ficam lá na torcida e você não passa. Queria representar, estar no bagulho.

// entrevista

Todo mundo na torcida, mas se não rolar, não rolou. Campeonato, tá ligado? O que eu gosto mesmo de é andar de skate na rua. Ano passado focou bastante em filmagens. É que surgiu. Tipo, eu estava só filmando pra uma parada e foram surgindo outros projetos pra fazer. Aí não parou. Fazendo um projeto aqui, filmando pra um projeto aqui, aí já surgiu outro, comecei a filmar pro outro. E assim foi, por isso que rolaram várias imagens, várias paradas. A vida mudou. Mudou. Tá mudando. Agora as coisas ficando a milhão, mais sério, trabalho. Tem que ter agenda. Não dá mais pra ficar suave, só andando na minha cidade. Só andando de skate. Tem que filmar, fazer o corre, viajar, sessões de autógrafos. Mil fitas. Mas, da hora, tô feliz pra caralho de estar vivendo esse momento. Cê é louco, sem palavras. Responsabilidades te colocam pressão? É uma pressãozinha, tipo de leve. Porque eu não estava acostumado. Sempre escutei muitas histórias boas dos seus amigos falando de quando você era criança, de sua simplicidade. Mas ontem, na première, rolou um carinho imenso. O Thomas Toddy (fotógrafo colaborador da Tribo Skate) falando que tem umas fotos sua. Pode crer, o Toddy, o Creke (Aires), andava com eles quando vinha pra cá. Nas primeiras vezes que vinha pra cá eu ficava na casa do Tulio Oliveira. O Tulio e o Junior Boy tinham a Classics. Éramos eu, Dudu (Carlos Ribeiro), Boy, o Tulio e Ytalo Farias de Campinas. A gente se conheceu ali. Fazia sessões em Sampa e no interior. Da hora, caras muito sangue-bom e ainda estão aí no ‘corre’. O Tulio que sempre me falou de você. O Tulio que me arrastou pra Sampa. Eu colei em Campinas pra andar e ele colou também, pra trombar o Ytalo e os moleques de lá pra andar de skate. Eu sou camarada do Ytalo faz anos, e ele me deu um salve, falando que o Tulio estava colando. Aí eu falei, vou colar também, ver se filmo alguma coisa, acho que os caras vão estar com câmera. Foi dali que conheci o Tulio, ele foi pra Jaguariúna e me chamou pra ir pra casa dele em São Paulo e filmar. Depois de um mês eu colei e fiquei lá. maio/2016

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Pra finalizar, me descreva o Iqui. O Iqui é um maluco muito cabreiro. Pessoa e skate. Monstro do skate, anda pra cara caralho. Além do skate, a pessoa dele, moleque é sem palavras, sangue-bom pra caralho, humilde. Ele vem de uma família muito humilde também. Os irmãos dele andam de skate também. Mãe dele, o pai dele são 100%. Eu sempre curti muito o rolê dele antes de conhecê-lo. Depois que eu conheci eu vi que era da hora, um mole moleque firmeza, sangue-bom. Só curto mais e mais. O Iqui é moleque bom! Acabando essa entrevista saímos pra almo almoçar e na volta sentei pra entrevistar o Iqui, que estava dormindo de manhã. Nos acomodamos no sofá do hotel e o Tiago sentou próximo dele. Comecei já entrando no mesmo assunto que estava falando com o Tiago, o fato de deles estarem vivendo um momento único juntos faz um tempo. Carlos Iqui: Esse momento é inesquecível. Cada um é de um canto. O Tiago é de um canto, eu sou de outro. E estar nesse mo momento com o Tiago, passando para profis profissional, não tem como explicar. O Tiago, a pessoa dele, é cabulosa. Não tem como se sentir bem. E fazer parte da mesma equipe da Boulevard e da DC junto com ele, não tem. A gente está sempre andando de skate juntos, a energia vai além, é inexplicável. Além do skate da pessoa, o que mais vocês têm em comum? (Tiago responde ao fundo: “Andar nos picos altos.” ) Pico ele anda em qualquer lugar. Sou meio suspeito pra falar o que a gente tem em comum. Mais amizade mesmo, estilo de skate. Se não fossem os patrocinadores, como acha que teria essa ligação? Os patrocínios ajudaram bastante. Porque eu sou do sul, ele é de São Paulo. Se a

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gente não fosse da DC juntos não teríamos feito tantas viagens juntos, ter descoberto tantas afinidades. E isso ajudou bastante. E tenho certeza que um pode ir pra outra marca, outro lugar, mas (a amizade) vai ficar pra sempre. O que aconteceu, essa história aí vai ficar pra sempre, certeza. As marcas ajudaram, com certeza. Foi só um alicerce pro futuro, pro resto da vida. Vocês têm muitos anúncios, partes de vídeos, entrevistas, sempre os dois juntos. Você acha que está na hora de cada um ter sua história individual, mesmo tendo essa ligação forte? Mas isso é o que tá acontecendo. Ele tá fazendo a história dele. Eu tô fazendo a minha. Mas a gente é amigo, é irmão. Parece que é a mesma história, mas não. Ele tem a dele e eu tenho a minha. E o dia de amanhã a gente não sabe. Pode ter planos, planejamentos pra tudo, mas só ele (Deus) sabe o que está ali escrito pra ti.

MIKE BLABAC

E hoje de tarde vocês vão fazer uma demo e fazer a première na pista do Tulio (Skate (Skatenation, em Campinas). E a pistinha é bem louca também, naipe gringa, tudo de cimento. Da hora, né, que a gente tá nos trombando ainda. Estamos no corre ainda, da hora ver ele lá fazendo o corre dele, cada um no seu corre mas esta estamos se trombando direto, andando de skate quando dá. Bem louco!

Quantos anos você está morando nos EUA? Quatro anos, indo e voltando direto. Dois anos que eu tenho meu cantinho, minha casinha, de boa. Lembro que você, Luan (Oliveira) e o Dudu (Carlos Ribeiro) viajavam na Kombi do pai do Dudu pelo interior do Rio Grande do Sul e até indo pra Curitiba, espremidos, quando crianças. Minha mãe, os pais do Dudu. Mais os amigos. E ia eu e o Dudu na parte de trás, em cima, na janelinha. Viagem inteira, umas dez, doze horas de viagem. E agora, os três estão lá fora sendo reconhecidos. Sinistro, trombar, voltar no tempo, fazer uns rolês com o Dudu. Às vezes a gente conversa, volta no tempo, só risadas. É inexplicável estar do outro lado depois de todos esses anos, andando de skate com esses moleques desde criança e estar vivendo lá com eles do outro lado. O que representa o IAPI pra você? IAPI foi a base. Eu comecei a andar de skate um ano antes de ter o IAPI. Foi quando eu comecei ir pra Porto Alegre não tinha pista de skate. E logo quando saiu o IAPI, é tudo que a gente precisava. Tudo que Porto Alegre precisava, não só pra ter o Iqui e o Luan, como vários outros moleques que estão vindo agora também. E anos e anos vão passando e mais virão. O IAPI é uma

Tiago, ss fs crooked pop out


carlos iqui e tiago lemos

// entrevista

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Tiago é esse maluco cabreiro, a energia lá em cima, alto astral sempre. Você não vai vê-lo injuriado, bravo, xingando alguém. A vibe dele sempre vai estar lá em cima. E isso aí é um bagulho nervoso na vida. Ele transmitie energia onde chega. Ele é assim, passa a energia dele de uma forma inexplicável. Ele é o cara. Meu irmão de diferentes mães. Irmão que o skate deu.

RICARDO NAPOLI

Iqui, nollie bs tailslide


carlos iqui e tiago lemos escola. Você vai na escola lá. Se não fosse o IAPI, vai saber... Será que eu estaria ainda andando? No IAPI eu só queria me divertir, não pensava em nada, só queria me divertir. Eu estudava bem do lado do IAPI. Saía da aula meio-dia, ia direto pro IAPI e pegava o cachorro-quente com a Dona Gioconda, que até hoje tem o trailer lá. Eu tinha até conta com ela. Minha mãe chegava de tarde, de depois do trabalho dela, ia me buscar, me ver e ficava lá conversando com a Tia Gioconda.

Com uns 14 anos. Depois que eu saí de casa eu vi que o meu bairro era muito pequeno.

ideia também que ia chegar e ser tudo perfeito, tudo certinho. Mas não, você vai estar andando na rua, sempre vai ter um detalhezinho, alguma coisa.

Eu lembro que você tinha uns 11 anos e me falava que seu sonho era andar no Vale. (Tiago e Iqui caem na gargalhada) Era meu sonho andar no Vale do Anhangabaú. Meu sonho era dar um crooked na borda do Vale. Eu via os vídeos Chiclé, tinha muito o Vale, sonho era andar no Vale do Anhangabaú. Lembra da primeira vez que andou no Vale? Como não vou lembrar! Cheguei no pico e não consegui fazer nada de tão difícil que era o lugar. Meu sonho era chegar lá. Mas foi engraçado. Cheguei lá, o lugar gigante, centro de São Paulo, moleque, criança.

Algum pico que ainda sonha em andar? Sonhava, né? Love Park. Fui pra Nova York, fiquei uns 15, 20 dias pra filmar pro vídeo da Boulevard, era pra gente ter ido pra Filadélfia, pra ir pro Love, fazer uns rolês lá, só que estava muita correria e decidimos ficar em Nova York mesmo. Acabamos não indo, mas fiquei muito triste porque era um sonho. Um milhão de manobras na cabeça formigando pra tentar. Mas é isso, já era o pico, infelizmente. De onde surgem as ideias desses seus combos doidos? Qual a sua inspiração? Também não sei, na real, só brizo. Fico viajando, eu gosto de aprender toda hora uma manobra nova e quando eu aprendo tento levar ela mais além. Inspirações são várias, muitos malucos cabreiros. Mas quando tô andando nem penso. Quando vejo, já penso, “nem sabia que consigo fazer isso”. Nem sei de onde surge, as vezes só surge.

MIKE BLABAC

Hoje está conseguindo ajudar sua família? Ajudo meu pai, minha mãe, não é tudo aquilo mas consigo dar um suporte. Eles me dão su suporte cabuloso também. Hoje em dia é isso. Inspiração da família. O skate salvou a família.

Quando você começou a viajar sozinho?

// entrevista

Você e o Tiago surgiram com um skate autêntico, com manobras e estilos próprios. Marca registrada. Skate todos os dias. Estar andando de skate todos os dias. O bagulho vai fluir sempre um combo novo, alguma coisa.

Tiago, ss bs heel Passei um sufoco, um tempão e não conseguia andar naquele lugar. O pico é bem louco, marcou a história. Nos EUA também tem bastante picos que parecem fáceis mas são bem diferentes. É o que mais tem. Não tem pico fácil. O pico pode ser perfeito, mas não vai ser tão perfeito. É rua, nunca vai estar tão perfeito. Sempre vai ter alguma coisa. Antes de ir pra os EUA eu sempre pensava também nessa

E pra finalizar, me descreva o Tiago, o que ele te representa. (Iqui fica em silêncio e cabisbaixo por alguns segundos) Cai até lágrima no olho só de pensar em falar dele. É difícil descrever o Tiago. Não é muito difícil na verdade. Quem já conhece já sabe. Tiago é esse maluco cabreiro, a energia lá em cima, alto astral sempre. Você não vai vê-lo injuriado, bravo, xingando alguém. A vibe dele sempre vai estar lá em cima. E isso aí é um bagulho nervoso na vida. Ele transmite energia onde chega. Ele é assim, passa a energia dele de uma forma inexplicável. Ele é o cara. Meu irmão de diferentes mães. Irmão que o skate deu. maio/2016

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entrevista // rodrigo teixeira

Uma das primeiras tours pra AmĂŠrica do Sul, Rodrigo sempre encontra um jeito de anadr diferente nos picos: fs ollie switch crooked na Argentina

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rodrigo teixeira

// entrevista

Volta pra casa NO MÊS EM QUE A ADIDAS APRESENTA SEU PRIMEIRO VÍDEO DE SKATE, AWAY DAYS, RODRIGO TEIXEIRA DESACELERA O RITMO DE VIAGENS E TROCA UMA IDEIA COM A GENTE SOBRE VOLTAR A MORAR NO PAÍS, FUTEBOL E TUDO MAIS QUE CIRCULA NO UNIVERSO DE UM DOS MAIS EXPRESSIVOS SKATISTAS DE RUA BRASILEIRO.

SKIN PHILLIPS

POR SIDNEY ARAKAKI

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entrevista // rodrigo teixeira

Você foi no jogo do Corinthians ontem? Não fui. Nem assisti direito, dormi.

começa 22h e acaba meia-noite, você vai chegar em casa 0h40.

Eu pensei que você fosse mais fanático. Eu sou. Nos últimos três anos eu não perdi um jogo. Se eu perdi, eu escutei. Ou estava vendo o resultado ali no site. Mas esse ano está tão corrido que eu não tô conseguindo acompanhar nada. No Pacaembu eu ia em todos os jogos. No Itaquerão, umas 30 vezes. Sempre que eu tô no Brasil tento ir. Mas agora o foda é a distância. Jogo de semana

Isso porque você não tem necessidade de acordar cedo. As pessoas acham que o Rodrigo só anda de skate. Mas o Rodrigo passa mais tempo trabalhando com a cabeça, internet, computador do que andando de skate, hoje em dia. Te juro! É meio que o pezinho aqui, a mãozinha ali, outra mão aqui. E não é de correrias só dos meus patrocinadores. Tenho a Official no Brasil. Te-

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nho a Matriz, agora tem a Sigilo. Quase tudo que a Matriz faz e que precisa de opinião pra agregar um conceito eu participo também. São várias demandas. E eu não durmo. Ontem eu deitei meia-noite e hoje, 7h já estava assim. Por que precisava? Porque eu já não durmo. Durmo sete horas por dia. Quando você viaja, acompanha futebol no geral até se está na Europa?


SEM RUBIO

Bs grind flip out pulando o degrau a mais na frente e enfrentando o frio na Grécia

Acompanho. Se eu estou na Europa, e dependendo do horário e se a tour estiver indo bem, aí eu vou. Tento dar um jeito de ir. Não são em todas viagens. De três tours pelo menos em uma eu vou no jogo. É uma parada que eu curto, é bem diferente do skate mas eu curto. Se for nos jogos do Corinthians então, não tem comparação. Energia única. Eu falo pra você, só indo mesmo. Você vai ver o São Paulo, Santos. Mas depois você vai no Corinthians e ver que a energia é muito única. É uma união, todo

mundo ali com a mesma vibe. Tipo, de torcer, de ganhar, de incentivar. E aquele gramado é um verde bombando. Saio do meu mundo por duas horas e entro ali no mundo do Corinthians. É muito louco. O que você acha que dá pra comparar entre skate e futebol? Eu acho que são coisas totalmente diferentes. Mas ultimamente, com a popularização do skate, tem muitos simpatizantes, tem muita

torcida por skatistas específicos. Vão até pra campeonato só pra torcer contra. Eu vejo como duas coisas bem distintas. E por mais que o skate esteja cada vez mais caminhando pro lado esporte, eu mesmo não consigo ver e falar sobre essa diferença. Pra mim, são dois mundos diferentes. O mundo dos campeonatos de skate é um mundo que eu não vivo faz tempo. O mundo que vivo, que gosto, que é o skate na rua, evolução na rua, liberdade, fazendo no meu tempo e me puxar na minha evolução maio/2016

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filmando. Porque se não estou filmando, estou brincando, me divertindo. Não estou tentando as paradas mais difíceis. Então, pra mim, o skate é bem diferente do futebol. Tem várias coisas que não gosto do futebol também. O 'teatro' é uma delas, os caras simularem falta. Isso aí é falta de honestidade, de ética. Humano, né, mano! Você vai querer ficar ganhando na malandragem até quando? É coisa de brasileiro? É mais brasileiro. Não sei se tem a ver com cultura, mas é mais com futebol brasileiro. Você foi em alguns jogos da Copa no Brasil. É muito diferente dos jogos que você está habituado a assistir. Foi. Não se compara aos jogos do Corinthians. Não tinha torcida. O povo que estava lá é o povo que não acompanha futebol. Um povo que não vai em nenhum jogo, às vezes não tem nem time, mas tem dinheiro pra comprar o ingresso. É bem diferente. É a Seleção que todo mundo ama e só assistindo. Eu achei legal, na real. Eu nunca tinha ido em nenhum jogo da Seleção. Os caras convidaram 12 atletas da NBA. O brand manager da NBA é amigo do brand manager do skate. O da NBA sabe que o do skate curte futebol, e falou que três pessoas não iriam. E era bem na época que estavam negociando o Miles Silvas, então foi perfeito pra levá-lo e se entrosar. Aí a gente foi. Jogo no Rio, jogo em Recife e depois, meu patrão é alemão, Alemanha foi pra final. Depois do 7 a 1 ele voltou e me chamou. Aí fui também na final. Louco, mas é diferente. Patrão que você fala é quem? Jascha Muller.

Outro pico clássico da Argentina, com chuva e sujeira pra todo lado! Fakie grind saindo de reverse pra dentro e dropando lá pra baixo

SKIN PHILLIPS

Ele é o que na adidas? Vamos dizer brand manager, mas nem é isso porque não tem essa posição lá. Esse ano você decidiu que está voltando para o Brasil definitivamente. Eu sempre quis voltar. Faz mais de dez anos. Só que na minha época, quando eu cheguei pra poder ter oportunidade e poder conseguir crescer lá fora, tinha que estar lá. Estar vivendo no mundo deles. Eu entendi isso, entendi a oportunidade. Eu tinha minha necessidade também, de ganhar meu dinheiro. Eu aceitei morar lá sempre querendo voltar pra cá. Isso também é um dos motivos que eu viajei muito. Porque, na verdade, eu não gosto maio/2016

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O planejamento já é todo Brasil, daqui pra frente. Já me perguntaram se vou conseguir morar no Brasil. Eu acho que sim. Passei os últimos 17 anos viajando, curto muito. Mas uma hora isso diminui, cada vez mais. E a minha vida é isso. Vou ter que estar pronto pra isso, pra não cair numa depressão da vida, que acho não ser o caso. Mas por mais que eu more no Brasil, vou continuar viajando. O mesmo ou até mais. A única coisa é que, ao invés de ir pros EUA, eu volto pra cá. Aí vou umas duas, três vezes para os EUA pra andar, pra colar nas marcas. Mas a minha base vai ser no Brasil. Ainda estou me instalando, não quer dizer que já voltei. O que vai encaixar na minha cabeça "voltei"

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ZANDER TAKEMOTO

de morar nos EUA. Não gostei da cultura, estilo de vida. O estilo de vida para andar de skate eu nunca fui fã, na verdade. E viajando pra Europa eu me sentia muito mais em casa, muito mais perto do Brasil. E faz alguns anos que eu tô me planejando, pensava que com 35 anos no máximo. Primeiro eu pensava com 30, depois com 32. Agora que eu tô com 32 meu plano era 35. E esse ano eu já queria ficar mais no Brasil. E agora com a Sigilo, mais focado e levando a sério, fazendo a Sigilo acontecer, isso fez sentido, a minha vontade, tudo que eu planejava, a idade que eu planejava e os projetos que eu tenho no Brasil, que eu preciso estar mais próximo. E ao mesmo tempo, andando pra adidas, que é uma marca alemã e tem um time bem internacional, pra eles é normal também. Porque eles têm um mercado grande no Brasil. É importante ter eu aqui, representante deles no Brasil com a adidas. E o meu patrão é bem humano, ele sabe que o skatista precisa estar feliz. Então ele me incentivou a isso. Ele já me perguntava porque eu não morava no Brasil ou na Europa. Eu falava pra ele que essa hora estava chegando. Mas é isso, vontade da vida inteira, de eu ter ido muito novo pra lá. Fui com 15 anos. Fiquei afastado da família bastante tempo. Mesmo tendo oportunidade de voltar todos os anos, a minha idade, vai ficando mais velho, os projetos que eu tenho. Tudo se encaixou agora. E esse é o primeiro, depois de 16, 17 anos que eu tenho um 'break' entre um vídeo e outro. Eu nunca tive. Eu sempre estava acabando um vídeo e já começava outro. Acabando um vídeo e começava outro. Na verdade, eu tenho um 'break', mas eu nem tenho, porque já querem fazer um outro projeto. Eu voltei, mas não tô instalado ainda.


rodrigo teixeira

// entrevista

Taiwan tem tanto pico e este que ficava perto do hotel acabou ficando por Ăşltimo. Switch bs nosegrind no controle!

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entrevista // rodrigo teixeira

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é agora, que na última vez que estive nos EUA embalei todas as minhas coisas. Eu volto, chego lá, guardo as coisas num galpão alugado e fico sem casa. Primeira vez nos EUA sem casa. Aí realmente não vou mais ter casa lá. Minha casa será realmente no Brasil. Ainda estou nesse processo de me instalar no Brasil.

Halfcab fs noseslide em Madrid, no pico descoberto pelo TX, que gosta muito da Espanha talvez por causa dos picos, do clima, da cultura ou por tudo isso junto

O que definia os lugares que você morava na Califórnia? O que definia morar em Costa Mesa é que o brasileiro é como arroz. Se você não cozinhar bem, fica tudo junto, tá ligado? Os brasileiros são bem unidos e desde o começo o (Renato) Cupim, Edsinho (Davi), foram pra Costa Mesa primeiro. Depois o Fabrízio Santos foi, o Piolho (Carlos de Andrade) foi. Eu ficava no Bob (Burnquist) que era San Diego, depois fiquei em Alhambra com o Lance (Mountain). Depois ficava com o Piolho, que era em Huntington Beach. Aí, mais uma galera começou a se mudar pra Costa Mesa. A galera se mudava pra lá porque tinha brasileiros, não porque era um lugar da hora. Costa Mesa é um lugar pacato. Eu gostava por causa dos brasileiros e porque é onde eu tinha mais calma na minha vida. Escureceu, estava dentro de casa. Morei dez anos em Costa Mesa e devo ter saído 20 vezes na vida.

SAM MULLER

Você curtia isso? Curtia pra minha saúde. Porque se estava na Europa, estava andando de skate e bagunçando. Se estava no Brasil, estava andando de skate e bagunçando. Costa Mesa é um lugar que eu conseguia me acalmar. Aí, alguns brasileiros começaram a se mudar pra Long Beach, que é mais cidade e é a última que tem praia. É cara de cidade, mais movimentado, mais mistura de raças, só que tem praia, é tranquilo. E os brasileiros começaram a ir, quando olhei pro lado estavam só os pais de família. Juninho (Adelmo), Gerdal (Rodrigo Petersen). Aí pensei o que estava fazendo lá e fui pra Long Beach. Eu nunca escolhi um lugar por achar ideal. Lugar ideal pra mim é Barcelona, São Paulo, Bangkok. Na real, nunca achei um lugar legal nos EUA. Então suas escolhas seriam Barcelona e Bangkok pelo skate e São Paulo pela ligação de ser sua cidade natal? Barcelona pelo estilo de vida, pelo skate, pela cultura, por amigos que tenho, pela facilidade

de se viver bem. Não digo ter uma condição boa, mas viver a vida. Bangkok também, porque a comida é da hora. Comida tailandesa, a cultura é legal, tem muitos picos pra andar. A cena do skate é pequena mas todo mundo unido também. Super barato. Tem as praias também, que são um paraíso. E São Paulo, porque eu nasci aqui e fui embora novo. Eu sempre tive saudades, curto o estilo de São Paulo também, do centro, nunca para, sempre tem coisa aberta. Sempre tenho parceiro pra fazer alguma. A comida. É onde me sinto em casa. Mas Barcelona tem mais vivência, você vive mais. Sua saudade de São Paulo chega a afetar alguma coisa? Afetar acho que não, mas às vezes você se estoura. "O que estou fazendo aqui, preciso voltar pro Brasil". Isso já aconteceu algumas vezes. A galera comenta que você é bastante perfeccionista. Você concorda? Concordo, porque dizem que é do virginiano. Dizem que é tudo por sistema, às vezes sou sistemático. Acho que é meio da minha personalidade, do meu signo, e acho que acabou entrando no skate também. Só que vem também da cobrança de lá. Agora nem tanto, mas oito anos atrás dava pra ver a diferença do skate no Brasil e diferença do skate norteamericano. Isso eu entendo. Por pico também. Me falaram uma vez e faz sentido. Tipo, no Vale do Anhangabaú. Lá você dá dois impulsos, tem que estar com os trucks soltos pra fazer a curva. Às vezes você já volta a manobra e tem que ajeitar os pés porque você vai descer outro degrau, tá ligado? Nos EUA você já dá dois impulsões, anda na mesa. Mais dois impulsões, pula o banco. Então, ajuda também a desenvolver o teu skate. Lá, você sai pra andar na rua, 95% da vezes você vai estar com câmera. Então você está sempre filmando, sempre tem gente filmando. Isso naturalmente te incentiva a se puxar. E no meu caso, que é o que eu mais gosto de fazer, e o que me mantém vivo, são as partes de vídeo, filmar. Como que eu posso fazer isso melhor? Cada vez mais? Pode não ser com manobras, pode não ser com obstáculos grandes, mas eu posso ser mais sólido. Posso ser mais rápido. Posso fazer as curvas, usar o truck pra fazer a curva ao invés de assim (batida). São coisas que procurei evoluir, porque o skate é minha droga. Eu preciso maio/2016

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SAM MULLER

Inward heelflip tambĂŠm em Madrid, na rampinha lateral perfeita, com aquela assinatura do brasileiro: voltando com as quatro


rodrigo teixeira fazer alguma coisa diferente pra mim, não com os outros. Como outro dia comentei, eu nunca tinha tentado switch frontside bluntslide reverse. Na base eu sempre dou blunt saindo de fakie, na base! Eu dei o switch blunt e fui dar o reverse, não tinha nem tentado. Eu tentei uns três e voltei. Aquilo ali me deu uma sensação de criança, tipo, de aprender de novo. Então é isso que eu preciso. Nas minhas partes de vídeo tento evoluir em tudo. E, às vezes, nem tanto com manobras difíceis. Mas sempre tentar fazer coisas que não fiz. Independente se fulano deu de olho fechado, eu nunca dei, essa é minha viagem. E por toda essa viagem, por skate ser minha droga, de precisar evoluir, eu ter esse sentimento de evolução, eu consigo ter esse sentimento evoluindo de outras formas, com velocidade, mais solidez, com combinação das manobras. Então, pode ser por isso que as pessoas achem que sou bem perfeccionista. Essa nova parte, a do Away Days, é uma fase boa sua? Acho que é uma fase boa. Você vai ficando mais velho, se você se dedica àquilo toda a sua vida, você vai evoluindo de várias for formas, como falei. Não só nas manobras. Até tua visão, como se apresentar, o que você quer que seja diferente da sua outra parte. Eu acho que é um skate bem maduro, mais forte, mais sólido, com algumas manobrinhas diferentes. Ficou bom, é difícil eu ficar feliz. Tem alguém que você cria uma expectativa pessoal pra assistir uma parte? Tem o Anthony Van Engelen. Tem do Javier (Sarmiento), que eu quero sempre ver imagens dele. JB Gillet, Tiago Lemos, Lucas Puig. Você consegue descrever a sensação de como fica feliz em ver essas partes? É foda, mas meio que egoísta. O jeito, minha sensação não é egoísta, mas ao mesmo tempo é. Que muitos deles eu me sinto, às vezes eu nem conheço direito, mas eu me sinto como parte. O cara venceu, da hora, conseguiu fazer, tá andando. Onde entra o egoísmo, porque isso me faz me sentir que também consigo. E a maioria desses caras são mais velhos que eu. Só o Tiago Lemos que não, o Lucas é um pouco mais novo. E é o que me inspira também. Eu preciso ver coisas que gosto, pra me inspirar e continuar fazendo o meu também. Então, sempre que tem partes desses caras eu compro.

// entrevista

É legal você citar o Anthony Van Engelen, que é um skate na veia igual você, mas estilo de skate não parece tanto. É diferente. Mas admiro muito, sempre admirei. Como que um skate tão diferente pode te inspirar? Talvez porque é o lado que eu tento amadurecer mais também. Eu sempre curti ele porque ele sempre anda no gás, sempre teve um pop, sempre correu os bagulhos, sempre teve um estilo bonito dando uns impulsos. Sempre foi agressivo, mas agressivo com no noção. E é um lado que tento evoluir meu skate. Não de ficar na trick-trick, nas manobrinhas. Andar mais rápido, os bagulhos mais corri corridos, conseguir andar em tudo. Qualquer obs obstáculo que você colocar, tenta pelo menos conseguir andar. E vejo o skate dele bem ma maduro assim. Tipo, até ele poderia dar as ma manobras mais técnicas, mas é o que ele curte. E eu consigo me inspirar naquilo e agregar um pouco daquilo com o que eu sei fazer. Você é um cara de hábitos bem simples. Diferente de muitos que nem têm nada, acham que estão com sucesso e gostam de ostentar com carros, roupas. Sempre tive um pezinho bem no chão. A gente vem de família humilde e do meu pai sempre ser batalhador, desde moleque, minha mãe também sendo dona de casa. Desde moleque, a gente trabalhava com meu pai, tipo 8, 10 anos de idade. E aí com uns 12 eu já trabalhava no mercado sozinho. Sempre via ali a realidade dentro de casa e que não era ruim. Mas não era favorável. E a minha família no Rio, que é bastante humilde também. Acho que isso sempre me manteve com os pés no chão. E eu sempre tive que trabalhar pra comprar minhas pecinhas, comprar umas paradas, comprar tênis, com comprar shape. Então, quando comecei a ganhar dinheiro, eu dava pro meu pai e pra minha mãe. Campeonato de Praga (1999) eu ga ganhei cinco mil dólares, cheguei e dei pro meu pai e minha mãe. Primeira comissão de tênis que eu tive da éS, peguei o cheque inteiro e dei pra minha mãe. Falei pra ela comprar a casa que queria no Rio de Janeiro. Acho que desde moleque, ter que trampar pra ter meu dinheiro e ter minhas coisas, quando eu comecei a ganhar dinheiro de verdade, eu não mudei, continuei pensando do mesmo jeito. Lógico que eu gastava, fazendo muita merda, gastava muito com balada. Hoje em dia quase não saio. Desde janeiro tô no maio/2016

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SKIN PHILLIPS

entrevista // rodrigo teixeira das coisas que eu gosto sempre manteve essa pessoa. Por mais que eu cresci, evolui, fiz um monte de merda também. Graças a Deus e as pessoas em volta de mim também eu conseguia ver me aconselhando e mostrando e conseguir também evoluir. Mas mesmo assim, eu acho que sou muito o mesmo de dez anos atrás. Carro é mais pra se locomover. Por que eu preciso de carro? Vou ser sincero; pra andar de skate. Os moleques colam na praça, entram no carro e vamos pro rolê. Mas na verdade, tô descobrindo esse ano que o busão funciona bem melhor que o carro. Eu dei vários rolês de busão. Se tem corredor, vai de boa. Já aconteceu de você estar num ônibus e algum moleque te reconhecer? Já. Não falam nada. Os moleques olham e veme cumprimentam. Esse ano umas três ve molezes. Eu me fecho um pouquinho e os mole ques também respeitam.

Rodrigo no Páteo do Colégio, a volta pra casa!

Brasil e não coloquei o pé numa balada. Nenhuma! E é o lugar que eu saía. EUA eu não saia. É mais nisso que eu gastava. E sempre que alguém passava necessidade, eu fortalecia do meu jeito. Tem uma viagem também, é que nunca fui interessado na fama. Meu interesse foi mais em saúde pra andar de skate e no reconhecimento do que estou fazendo. Esse era o meu maior interesse. E um correntão de ouro, um carrão, casona, isso aí não ia me agregar em nada. De repente, se você estiver buscando a fama sim. Porque você vai querer ter o carrão pra postar. Eu nunca postei nada da minha casa, nada pessoal. Se marcar, uma foto do meu carro do Brasil na vida, no Facebook há oito anos atrás. Por que isso? Porque sempre quis ser uma pessoa normal também. Pô, cresci no centro, na Bela Vista, tinha amigos de várias classes sociais. Então sempre quis ser mais uma pessoa normal, chegar no Brasil e poder ir a

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pé, sozinho onde quisesse. Ir numa balada, ir numa quebrada, ir num jogo. Ir independente. Acho que essa mentalidade de querer ser uma pessoa normal, de me sentir mal também. Várias vezes, hoje em dia menos, porque eu tô mais no Brasil, tento falar com todo mundo, cumprimentar todo mundo. Mas várias vezes, entrar num lugar e sentir que tem dez pessoas te olhando, isso é porque você também se coloca nessa posição de rockstar, de popstar. Só que você consegue ser quem você realmente é, que na verdade é tudo farinha do mesmo saco, você consegue quebrar mais esse clima. E foi aí que sempre tentei me manter. E eu sou meio assim, tudo que eu gosto, eu realmente gosto e sou leal àquilo. Mas se eu não concordar, porque está mudando aquele estilo, está mudando aquele grupo, está mudando o estilo da música, se eu não concordar deixo um pouco de lado. Mas esse fato de sempre ter esse gosto forte

E sobre a Sigilo? Eu lancei essa marca em agosto de 2015, é bem pequena ainda, estamos fazendo de uma forma pra eu não me perder também. Pra não colocar na mão de alguém e eu não saber o que está acontecendo. Montei um time, lancei uns produtos. São só acessórios mesmo, lixa, parafusos, ferramentas. Vão entrar alguns arti artigos a mais e umas roupas básicas, camisetas, bonés, moletom. Montamos um time, começa começamos a vender só na loja (da Sigilo na Galeria) e agora num futuro breve eu tô negociando pra ter distribuição. Tô aprendendo muitas coi coisas, desenvolver produtos. Eu que boto a mão na massa mesmo, todas as minhas ideias. Eu contrato uma pessoa, tudo freelancer tam também. Aprendendo com produção, como posi posicionar ela no mercado também, porque em breve vai expandir. E fazendo tudo muito sozi sozinho também. E tá num momento legal porque é pequeno ainda. O time é pequeno. Somos eu, (Paulo) Piquet, Vinicinhos (Santos), (Fer (Fernando) Java. A gente é bem próximo, estamos sempre pelo centro. Andamos de skate parecido. Eu sinto que tem um amor legal pela Sigilo, de coração mesmo. Até porque a marca é pequena. Tem meus amigos gringos também que acreditam em mim, acreditam no que eu faço. Tem o Javier, o Marquise (Henry), o Miles. Eles não são exatamente do time, mas eles são Propriedade de Sigilo. Tá num momento legal, de gente que acredita, o time.


NYJA PAUL E SH entrevista // nike sb

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AH, L HANE A NIKE SB TROUXE ALGUMAS DE SUAS ESTRELAS DA STREET LEAGUE PARA A AMÉRICA DO SUL PELA SEGUNDA VEZ E NÓS DESCOLAMOS UM TEMPINHO NA MOVIMENTADA AGENDA DOS CARAS. CONFIRA O QUE SIDNEY ARAKAKI CONVERSOU COM NYJAH HUSTON, PAUL RODRIGUEZ E SHANE O’NEILL, MINUTOS ANTES DA DEMO QUE ROLOU EM SP. POR SIDNEY ARAKAKI // FOTOS JUNIOR LEMOS


entrevista // nike sb

Nyjah Huston Você tem tatuada a palavra ambição no seu braço. O que significa ambição pra você? Significa que tenho paixão por alguma coisa, que eu estou sempre trabalhando pesado e tentando o melhor que posso. É andar de skate, não importa o que for. Você tem um projeto social, o Let It Flow Foundation. Essa ideia é sua? Sim, minha e de minha mãe; ela me ajuda muito. Temos uma equipe trabalhando e que voa pelo mundo ajudando a construir minas de água. É uma coisa legal e que me deixa felizão. É um sentimento animal saber que estou ajudando pessoas a beber água, acho que todos merecem beber água potável. Tentamos fazer o máximo de projetos possíveis.

Cup, X Games e Tampa Pro. Você nem estava na primeira lista da Street League. - Sim, eu ganhei o primeiro evento da Liga e fiquei felizão. Fiquei muitas vezes em segundo lugar e algumas vezes ficava chateado, mas eu acho que isso me fez mais forte, que isso se transformou numa pessoa melhor. Também, pelo fator de eu ter só 15 anos, obviamente foi bom pra mim e também acho que evolui muito nos últimos anos. Desde que tinha, 16, 17, 18 anos, cresci muito e me tornei um skatista melhor. E eu acho que ainda tenho muito pra fazer.

Aqui no Estado de São Paulo estamos tendo sérios riscos de ficar sem água potável pra beber. Na Califórnia também. O que você tem a dizer às pessoas? Use água com sabedoria. Não desperdice, porque água é importante. Tente economizar o máximo que puder. Ano passado você foi com o Tony Hawk pra África. Você que o convidou? Sim. Aquela foi a primeira vez que viajamos juntos. A primeira que o Tony fez parte e eu estava empolgado. Alguns caras da Asphalt Yatch Club foram juntos, fizemos uma viagem pra Etiópia. Foi demais! Foi legal porque fomos os primeiros a ir pra lá e ajudamos com as minas de água. Um processo muito louco, tipo, quatro horas pra conseguir fazer uma. Foi uma experiência divertida ver de perto todo o processo e ver a água saindo do solo. E todo mundo que participou ficou empolgado e as crianças ficaram felizes. A California Skateparks foi junto e construímos a primeira pista de skate oficial na Etiópia. As crianças lá tem uma grande paixão pelo skate e ainda não tinham uma rampa boa pra andar. Só uma muito ruim, chão ruim e nada pra andar. Tô muito feliz que agora eles têm onde andar de skate. Antes da Street League ser criada, você ficava sempre em segundo ou terceiro nos campeonatos. Tipo, no Maloof Money

E depois que você ganhou o seu primeiro campeonato na Street League, sua vida mudou completamente? É, mudou totalmente. A Street League fez muito por mim, no geral fez de verdade. Obrigado Rob Dyrdek e todos, por começar isso. Qual significado do seu nome, Nyjah? Deus está vindo. Paul Rodriguez Hoje é um dia importante. Eu sei que você é um grande fã do Kobe Bryant e não estará lá no jogo de despedida. É, eu sei, eu queria estar lá assistindo ao jogo. Estou feliz que ele teve uma grande carreira mas também estou triste porque não vou mais vê-lo jogar. Não sei, é um pouco triste. Mas ele é um dos maiores jogadores de todos os tempos, então ele pode sair de cabeça erguida e se sentindo feliz com toda sua contribuição para o basquete. Vocês são amigos próximos? Não somos amigos próximos. Nos encontramos algumas vezes nesses anos na Nike. Tive alguns papos rápidos com ele. Não sou super próximo dele. Mas ele participou do seu vídeo “Today is a good day”. Ele sempre demostrou amor aos skatistas, sempre foi muito legal.

Ss double 360 flip do Shane, durante a demo em SP

Como eles te convidaram pra Street League? É verdade que o Geoff Rowley decidiu sair pra te dar uma vaga? É, foi uma situação bem confusa. Eles queriam que eu entrasse mas meu pai não concordou, achou estranho e não fechou o acordo. Graças a Deus que consegui entrar lá porque foi muito bom pra mim. Eu amo a Street League! Fui em cada um dos campeonatos e andei com todos os caras. Acho que ajuda muito no progresso de todos nós estar lá. Você tem duas tentativas para acertar uma manobra.

Você está na Nike SB desde o 1º dia? Foi do primeiro time? Não desde o 1º dia, mas desde bem cedo. Fui um dos primeiros, desde 2004. Mas acho que começou em 2002, 2001, talvez. Não tenho certeza. Antes da Nike SB você era da éS footwear. A éS footwear era o time de elite. É, era demais. Bons tempos. E agora, a Nike SB é a elite? Hey, eu tenho sorte! Muita sorte de estar com todos esses skatistas, sou abençoado. Você tem poder para escolher os skatistas que entram no time? Na Nike? Não mesmo. Se eles fossem per-


Qual sua história para ser convidado pra integrar o time da Nike? Em 2003 ou 2004 eu recebi uma ligação de um amigo. Um cara da Nike foi na loja que meu amigo trabalhava e me convidou pra uma conversa. Nos falamos e me levaram para Portland, onde fica o quartel general da Nike. Conheci todas as pessoas lá. Eles me explicaram todas as ideias, tudo que queriam fazer. Eu falei, tipo concordo, claro. E aqui estamos, 12 anos depois. Você acha que a City Stars era tipo um dream team na época? Sim, na época, em 2001-2002, foi um tempo incrível com skatistas incríveis, tá ligado? Éramos todos jovens garotos, o Terror Squad, como chamávamos. Era eu, Mickey Taylor, Justin Case, Devine Calloway, Spanky, um monte de gente no time, mas claro, Kareem, Lee Smith, Cayne Gale, Ryan Denmam, Roger. Foi um tempo demais. Sinto saudades.

diferentes e muitas cidades diferentes. Nisso é parecido, é bem similar ao Brasil. Por que é um país grande? É bem espalhado, com um monte de pequenas cidades, com bastante skate, como Porto Alegre, Brasília e São Paulo; de todo jeito, é igual, similar. Quem são suas influências de skate na Austrália, são dos EUA ou de lá mesmo? Um monte de pros australianos e um monte de pros norte-americanos. Crescer vendo o Dustin Dollin e pessoas assim indo pros EUA fazer as coisas acontecer sempre foi super inspirador. Só que no geral, eu não considero os pros por países. Skatistas profissionais e skatistas no geral me inspiram.

P-Rod, ss flip no Rio e a ponte Rio-Niterói ao fundo JULIO TIO VERDE

guntar, tinha que ser para todos skatistas da Nike, e isso demoraria pra sempre. Então, não escolhemos ninguém.

Você é amigo do Roger Mancha? Claro, conheço o Roger faz muito, muito tempo mesmo. Desde 2000. A maioria das vezes que venho pra cá eu o vejo, dou um alô. Parece que ele está bem, estou feliz por ele. Passei bons momentos com o Roger. Você já veio para o Brasil várias vezes. Se lembra de todas cidades? Tipo São Paulo, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu, para os X Games. Já esteve em Brasília? Não, só nessas três. Mas em São Paulo e Rio foram várias vezes. São cidades bem diferentes uma das outras? Vibe diferentes. Quando você está em casa e perguntam sobre o Brasil, como você descreve? Bonito e de comida maravilhosa. Shane o’Neill Como é o skate na Austrália, comparado ao Brasil? É muito similar ao Brasil. Muitos cruzeiros

Você viaja bastante pelo mundo para andar de skate e fazer demos. Onde você acha que tem mais público? É difícil de dizer. Nos EUA os garotos têm maior frequência em nos ver em demos do que no Brasil. As demos na América do Sul têm um monte de gente, porque nos EUA as pessoas podem nos ver um pouco mais. Então, acho que é por aqui mesmo. É louco, a molecada fica empolgada, é legal.

O skate na Austrália é popular como aqui? É difícil dizer, porque não tem como comparar já que aqui tem muito mais gente. Não sei comparar, mas tem muita gente na Austrália também. Você está tão popular na Austrália quanto o Luan no Brasil? Você consegue andar tranquilo, sozinho na sua cidade? Sim, a molecada sempre aparece. Mas depende se eu posto algo ou alguém fizer alguma foto. Geralmente vou pra casa em Melbourne e ando de skate com meus amigos, é bem tranquilo. Australianos são bem tranquilos. É legal, nada muito louco. Eu curto os dois lados, a maioria dos moleques são tranquilos, mas têm os selvagens. Depende da situação! Se tornar pro não é todo o sonho do sonho? É poder andar de skate o tempo todo, curtir, viajar, poder fazer isso desde os 14 anos. Desde que eu era um skatista amador, todas as coisas vão bem e as coisas estão funcionando desde lá. Isso é o sonho se transformando em vida, muito anos no skate. Muita sorte. Agora você planeja viver pra sempre nos EUA ou quer voltar pra Austrália no futuro? Minha filha mora nos EUA. Então provavelmente eu vou morar em Los Angeles mas não posso dizer que vou morar lá pra sempre. Eu amo morar na Austrália mas agora estou viajando muito. Tenho uma pista e muitas outras coisas em Los Angeles e, por agora, estarei lá. Mas vou pra Austrália o máximo que posso. Ou levo meus amigos para os EUA. Quais os planos pra agora? No momento, só andar de skate e evoluir. Fazer coisas que agora são possíveis. Andar de skate bastante com meus amigos. Tentando criar mais oportunidades para as pessoas em minha volta, meus amigos. Isso está acontecendo nesse momento. Além disso, ter mais tempo pra jogar videogames. Está desenhando algum modelo de tênis? Isso aí é com a Nike. Eu estou esperando, vamos ver. Isso seria um sonho realizado. maio/2016

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casa nova //

Jeancarlo Façanha // FOTOS RAMON RIBEIRO Skate e roupas atuais: Shape Vegetal, trucks Metallum, rolamentos Kalomi e rodas Ricta. Camiseta tie dye, calça de sarja Vans e tênis adidas. Manobra que ainda pretende acertar: Nollie heelflip nosegrind nollie flip out. Principal rede social que usa ultimamente: Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Desunião e Desorganização, esses prefixos atrasam o skate. Skatista profissional em quem se espelha: JN Charles. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Latam linhas aéreas. Atual melhor equipe de skate brasileira: Plural. Amador que gostaria de ver pro: Nilton Diego Muriçoca, aqui de Fortaleza. Jeancarlo Façanha 28 anos, 18 de skate Fortaleza, CE

A verdadeira liberdade é adquirida através do conhecimento e pela compreensão racional de nossa existência como seres humanos, onde os reais valores sempre prevalecerão

Fs ollie fakie nosegrind

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// casa nova

Lucas Antonio “Kuka” // FOTOS JUNIOR LEMOS Skate e roupas atuais: Shape Hull, eixos Thunder, rodas Enjoy e rolamentos Red Bones. Roupas Tupode e tênis Freedom Fog. Manobra que ainda pretende acertar: Ollie (bs ou fs) 360. Principal rede social que usa ultimamente: Instagram, @ luucaskuka. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Falta de um pico iluminado e seguro pra andar à noite. Skatista profissional em quem se espelha: Ishod Wair. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Gatorade. Atual melhor equipe de skate brasileira: Sigilo. Amador que gostaria de ver pro: Marcos (Augusto) Morto.

O que você focaliza se expande

Bs flip

Lucas Antonio “Kuka” 25 anos, 11 de skate Guarulhos, SP 11 anos de skate Patrocínios: Tupode, Hull, Capivara’s skateshop e HDS crew

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casa nova //

Jean Lucca Joner Silveira // FOTOS ADRIANO REBELO Skate atual: Shape Yerbah, rodas Spitfire, rolamentos e trucks Independent. Manobra que não suporta mais ver: Back flip. Manobra que ainda pretende acertar: Fs invert. Principal rede social que usa ultimamente: Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Muitos oportunistas que só querem sugar e lucrar com o skate. Skatista profissional em quem se espelha: Tony Trujillo. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Heineken. Atual melhor equipe de skate brasileira: Gnarlyfoot. Amador que gostaria de ver pro: William Dietz Pires. // Jean Lucca Joner Silveira 18 anos, 9 de skate Porto Alegre, RS Apoio: The Box Skate Shop e Yerbah Decks

Skate rock don’t let me sleep

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Fs wallride lay back air


// casa nova

Matheus Almeida // FOTOS RODRIGO POROGO Skate e roupas atuais: Shape Vertical, rodas Sinah, rolamentos Bones e eixos Crail. Boné e camiseta Sinah, tênis Vibe. Manobra que ainda pretende acertar: Flip. Principal rede social que usa ultimamente: Instagram (@matheuzaorj). Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Não sei não! Skatista profissional em quem se espelha: O meu papai, Wallace Belo. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Balas Fini. Atual melhor equipe de skate brasileira: Não sei. Ah, é Sinah, ué! // Matheus Almeida 6 anos, 4 de skate Rio de Janeiro, RJ Patrocínio: Sinah Skateboard

Adoro andar de skate.

Pop shovit

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negócios e tecnologia //

Eco skate, instagram e família RECICLANDO E PLANTANDO, EMPRESA DE CALÇADOS MIRA SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DE VIDA. FALANDO NELA, CHEGAMOS A TRÊS GERAÇÕES DE VIDAS SOBRE RODAS. AVÔS, NETOS E NETAS ESTÃO JUNTOS NO ROLÉ. COMO MOSTRAM AS FOTOS NO INSTAGRAM, A REDE SOCIAL DE SUCESSO ENTRE ATLETAS, MARCAS E FÃS DE SK8. // POR PEDRO DE LUNA

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Etnies comemora cinco anos do projeto “Compre um calçado, Plante uma árvore”, iniciado em 2011 com o plantio de uma árvore na Costa Rica para cada par de tênis Jameson 2 Eco vendido. Neste modelo, a sola é feita com pneus de bicicleta e luvas de borracha reciclados, e o cadarço com garrafas PET também reutilizadas. A campanha está se expandindo para o Brasil e a África, plantando árvores na floresta tropical. A marca Etnies faz parte da Sole Technology, do skatista francês Pierre-Andre Senizergues, que inclui as marcas Emerica, ÉS e ThirtyTwo. Pierre criou também o primeiro instituto para investigação biomecânica do mundo dedicado ao skate. O objetivo da empresa de esportes de ação é ser 100% livre de dióxido de carbono até 2020. Há, inclusive, um departamento dedicado à gestão e ao desenvolvimento de iniciativas verdes, da operações de negócios até a própria cadeia de abastecimento. No edifício sede, os 50 painéis solares instalados no telhado fornecem mais de 250.000 kWh de eletricidade por ano, eliminando 115 toneladas de CO2 por ano. O consumo de água também foi reduzido em 35%. Segundo a companhia, 80% de todos os calçados são feitos usando colas à base de água, em vez de petróleo. A tinta usada no silk de 100% das camisas infantis e 50% de adultos também usa este produto, em vez de plastisol, que contém ftalatos, uma toxina conhecida dentro

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de PVC. A, e os funcionários podem andar à vontade no maior skatepark ao ar livre da Califórnia, bem ao lado do escritório. Uma prova de que é possível concilar respeito, sustentabilidade e qualidade de vida. Terceira geração Depois que o ator Mark Rufallo, protagonista do filme Spotlight, foi fotografado andando de skate com a sua filha em NY, mais fotos e vídeos de pais e filhos skatistas surgiram nas redes sociais. Já existem até avôs e netos andando lado a lado de carrinho. Quantos meninos de ontem são hoje atletas reconhecidos e/ou trabalham na indústria do skate? E quantas meninas começaram a andar inspiradas pelas pioneiras? Olhar para trás é sempre um bom norte para pensar adiante. Skategram Cada vez mais e mais skatistas, marcas e patrocinadores utilizam o Instagram, postando fotos e pequenos clipes. No dia 22/04/2016, @ tonyhawk tinha 2,3 milhões de seguidores, Nyjah Houston (@nyjah), 1,6 milhão e Paul Rodriguez (@prod84) 1,3 milhão. Entre os brasileiros, Leticia Bufoni (@leticiabufoni) com 953 mil, Luan Oliveira (@luanomatriz) com 830 mil e @bobburnquist com 406 mil eram os mais seguidos até o momento. O importante é ser relevante, ter um material audiovisual de qualidade, boa presença digital e interação com os fãs.

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DIVULGAÇÃO

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1. Pierre-Andre Senizergues, CEO da Sole Technology, plantou árvores na Costa Rica. 2. PierreAndre e as crianças no Etnies Skatepark, no Lake Forest (EUA). 3. Logomarca do projeto “Compre um calçado, Plante uma árvore”. 4. O ator Mark Rufallo andando de skate com a filha. 5. Print do Instagram da Leticia Bufoni, skatista brasileira mais seguida no Instagram.


RAPHAEL KUMBREVICIUS

áudio // playlist

Mesmo com pouco espaço, ollie colado

O ROGERIO FEBEM É SEMPRE LEMBRADO PELO POP FORA DO NORMAL QUE ESTÁ EM SUAS MANOBRAS E NÓS SUSPEITAMOS QUE A MÚSICA TEM ALGUMA INFLUÊNCIA NISSO. FLAGRA ENTÃO QUAIS SÃO AS 10 MAIS QUE ELE CONSIDERA PRO ROLÊ DE SKATE! Originais do Samba, Tenha Fé, Amanhã Um Lindo Dia Vai Nascer Marcos Valle, Samba Fatal Quinto Andar & Kamau, Vive Pra Servir, Serve Pra Viver Siba e a Fuloresta, Toda Vez Que Eu Dou um Passo o Mundo Sai do Lugar Bob Marley, Forever Loving Jah Subsolo, Destruir Mama Quilla, Não Duvide Chico Science e Nação Zumbi, Manguetown Inquérito e Arnaldo Antunes, Versos Vegetarianos RZO, Folha Voa

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Escuta som andando de skate? Sim Não Quando escuta música? ME ARRUMANDO E INDO PRA SESSÃO Usa algum aparelho especial para isso? EM CASA NO NOTEBOOK ACER E TAMBÉM NA VITROLA, PORQUE OUÇO MUITO VINIL, E NA RUA NO CELULAR MOTOROLA G2 Rogerio Lopes Febem (John Roger Caps, Land Feet Shoes, Amount, Gobby Trucks, Oh Cake Skateboard.co, Worship Skateshop e Lionroots)


ATIBA JEFFERSON

áudio // hardcore

World Be Free JÁ IMAGINOU UMA BRIGA DE RUA ENTRA AS BANDAS DE DC E NY? POIS BEM, O RESULTADO DISSO É O WORLD BE FREE, NOVA BANDA, DE VELHOS CONHECIDOS DAS CENAS DA CALIFÓRNIA E NOVA IORQUE, QUE TRAZ PARA OS PALCOS O ESPÍRITO DO HARDCORE POSITIVO E UM SOM QUE REMETE AOS HERÓIS DOS ANOS 80 COMO DAG NASTY, WARZONE, GORILLA BISCUITS E YOUTH OF TODAY. CONVERSAMOS COM O GUITARRISTA ANDREW KLINE, TAMBÉM MEMBRO DO LENDÁRIO STRIFE E ELE CONTA TUDO O QUE ROLOU COM O WBF ATÉ AGORA. POR HELINHO SUZUKI

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uem teve a ideia de montar a banda? Conte pra gente uma breve história. O Scott (Vogel, vocalista do Terror) tinha falado sobre começar uma banda mais melódica e mais positiva. Ele chamou seu amigo Joe, que tinha tocado no Envy e também com ele no Despair. Eu ouvi algumas das músicas que Joe escreveu e comecei a escrever umas coisas em casa. Entramos em contato com Sammy (Siegler, que toca bateria também em bandas como Judge, Youth of Today, CIV e Rival School), que na época vivia em Los Angeles por alguns anos. Sammy foi realmente quem deixou claro que se fossemos montar uma banda, que ela não fosse apenas um projeto. Ele queria que todos nós colocássemos nossos corações para fazer o melhor disco que poderíamos.

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Arthur (Smilios, baixista do Gorilla Biscuits) era a última peça do quebra-cabeça e ele veio logo quando começamos a gravar “The Anti-Circle”. Seu jeito de tocar levou a banda para outro nível e acrescentou parte extra de melodia e autenticidade de que precisávamos. Acho que todo mundo estava muito animado para começar uma nova banda e construir algo a partir do zero. Como você se sentiu em montar uma banda depois de tantos anos tocando com o Strife? O WBF será um projeto paralelo? O World Be Free definitivamente não é um projeto paralelo. Realmente queríamos estabelecer o fato de que é uma banda de verdade e eu acho que tinha muito a ver com a gente lançar um LP imediatamente. Já toquei em várias bandas, além de Strife, e realmente gosto de co-


hardcore

meçar algo novo, com um novo som e novo estilo, sem quaisquer ‘vícios’ de tocar em uma banda já estabelecida. Eu acho que há um nível elevado de entusiamo em tocar em uma nova banda e é divertido ver as pessoas reagir tão positivamente para com o disco. Combine a isso o fato de que estou ao lado de pessoas que tocaram em alguns dos meus álbuns de hardcore favoritos, em algumas de minhas bandas favoritas, e você tem algo muito mágico aí. Estou realmente animado sobre o World Be Free, mal posso esperar para ver o que acontecerá em seguida. O nome World Be Free é inspirado no jogador de basquete do Golden State Warriors, de mesmo nome? O nome da banda veio após o ex-jogador da NBA Lloyd Bernard Free, que mudou seu nome legalmente para World B. Free. O Sammy é um grande fã de basquete e trouxe o nome em um dia de ensaio e nós realmente gostamos. O nome World Be Free em si é um nome muito legal para uma banda de hardcore, mas o duplo significado o torna um pouco diferente e eu gosto disso. World Be Free é um nome muito positivo, com uma vibração positiva e que realmente se encaixam bem com o que estamos fazendo. Lloyd Free é lembrado pela frase: “Eu vou dizer o que eu vou fazer, então eu vou lá e faço”, e eu vejo que isso tem sido uma espécie de nossa missão. Até agora a banda tem feito tudo o que se propôs a fazer e eu sinto que estamos realmente ganhando força. Quais são as principais influências de vocês? Posso dizer que o WBF é o espírito do Youth Crew revisitado por velhos apaixonados pelo hardcore? Eu acho que nossa música soa como uma briga de rua entre NY e Washington DC. É como se Warzone e Gorilla Biscuits lutassem com Minor Threat e Dag Nasty. Temos alguns elementos de todas as bandas favoritas que nós crescemos ouvindo, só que mantendo a nossa própria identidade. Nós trabalhamos muito duro para garantir que a gravação soasse autêntica e que tivesse o poder de uma gravação moderna.

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A música “All These Colors” tem uma mensagem anti-racista. Infelizmente hoje em dia ainda temos muitos racistas na cena hardcore. Qual sua opinião sobre bandas que pregam o ódio e o racismo, por exemplo? É triste que em 2016 ainda temos de escrever uma canção como “All These Colors”. Somos todos iguais e a cor de sua pele, seu sexo, religião ou preferência sexual não te fazem ser melhor ou pior do que qualquer outra pessoa. É hora de abraçar essas diferenças e aceitar as pessoas pelo que elas são por dentro. Eu posso falar por todos na banda quando digo que o racismo, o sexismo e a homofobia nunca foram e nunca serão tolerados pela cena hardcore da qual fazemos parte.

ríamos Walter envolvido com o disco e sentimos que no fim da “I’m Done” seria um lugar perfeito para um vocalista convidado. Tínhamos terminado todos os vocais e calhou do Walter estar na cidade para alguns shows com Dead Heavens. Reservamos algum tempo de estúdio e ele gravou seus vocais em menos de uma hora! Ficamos todos muito animados por sermos capazes de fazer isso acontecer. Minhas músicas favoritas são, provavelmente, “World Be Free”, “Shake The Ghost” e “Empty Things”, embora realmente goste de todas do álbum. “Empty Things” tem uma vibe Gorilla Biscuits muito boa, especialmente no refrão, e eu realmente adoro as linhas de baixo do Arthur nessa música.

Você pode nos contar os detalhes do álbum “Anti-Circle”? Como foram as gravações, arte e participações especiais? Trabalhamos nas músicas durante quase um ano, antes de entrar em estúdio. Realmente nos esforçamos para manter a banda em segredo, pois não queríamos que ninguém tivesse quaisquer noções preconcebidas sobre como o World Be Free poderia soar, baseadas nas nossas outras bandas. Gravamos as músicas no Hurley Studios, em Costa Mesa, no início de fevereiro de 2015, com Davey Warsop atrás da mesa de som. Estávamos realmente ensaiados e preparados, gravamos 16 músicas em apenas dois curtos dias. Um mês depois, Scott gravou seus vocais com Nick Jett em seu estúdio, em Granada Hills. Nós gravamos a maior parte do álbum ao vivo, só parando quando era absolutamente necessário para corrigir erros. Realmente queríamos capturar a energia de uma banda ao vivo e algo que soasse autêntica e real, definitivamente acho que conseguimos isso. Depois disso, trabalhamos os conceitos para a arte da capa. Queríamos algo divertido e brincalhão, que lembrasse algo do Murphys Law, School House Rock e Gorilla Biscuits. Nosso amigo Linas Garsys desenhou todos os personagens e ele fez um ótimo trabalho tornando o nosso conceito em realidade. Walter Schreifels (Quicksand/GB/ETC) faz uma participação na canção “I’m Done.” Que-

O “Anti-Circle” é o seu primeiro disco lançado pela Revelation Records, certo? Qual foi o sentimento de pegar o disco nas suas mãos e ver o selo com a estrela? Sim, este é o meu primeiro disco pela Revelation Records. Rev # 1 e 22 são, basicamente intocáveis, começando com o Warzone 7” e terminando com o Burn 7”. Rev # 23 foi o Ray e Porcell 7”, e que marcou o início de uma nova era da gravadora, com muito mais experimentação e desvio do hardcore classic. Há um monte de grandes discos que foram lançados em seguida, também. Sentimos que a Revelation Records era o selo perfeito para lançar “The Anti-Circle”. Esse registro preenche a lacuna entre o velho e o novo, isso realmente fez sentido com o Sammy e Arthur na banda. Atualmente a Revelation Records está voltando às raízes com bandas como Rival Mob, Down to Nothing, Violent Reaction, Give, Forced Order, entre outras, e ficamos orgulhoso de fazermos parte disso! Qual o seu disco predileto da Revelation? Por que? Há tantos discos clássicos lançados pela Revelation mas se tivesse que escolher um, seria Gorilla Biscuits “Start Today”. Este disco é a mistura perfeita de melodia e agressividade, é um registro perfeito do início ao fim. Vocês fizeram a primeira tour há alguns meses. Como foi? Fizemos alguns shows em fevereiro, algumas datas na Costa Oeste com o Give e depois tocamos na costa leste com o Judge. Estes shows foram ótimos. Foi divertido tocar todas essas músicas pela primeira vez e ver como as pessoas reagiram, dançaram e cantaram juntas! Mal podemos esperar para começar a tocar mais. O que podemos esperar para o resto de 2016? Temos algumas coisas marcadas. Vamos tocar no Sound & Fury Festival na Califórnia, em junho, com American Nightmare, Down To Nothing e muitos mais. Em agosto vamos para Filadélfia para o Tis Is Hardcore. Vamos tocar com Youth Of Today, Floorpunch e muito mais! Esperamos ter mais shows agendados até o final do ano e esperamos ir para Europa, Japão e América do Sul, em algum momento em breve também! worldbefreehc.com

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skateboarding militant // por guto jimenez*

Todo poder às skateshops

IVAN SHUPIKOV

THOMAS TEIXEIRA

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m mais de 40 anos de skate, já vi todos os tipos de tendências que você possa imaginar. Dos flexíveis skates de fibra de vidro aos decks feitos de fibra de carbono, das detestáveis caixas de bilhas a rolamentos com espaçadores integrados, de rodas de material plástico aos mais variados formatos e durezas de uretano, dos eixos de duas polegadas de largura aos eixos de precisão... Sem falar no jeito dos skatistas se vestirem, que ia de adaptações do surf wear dos anos 70, passando pela fase punk-new wave dos anos 80, pelas calças largas (e rodas minúsculas) dos anos 90 até as calças apertadas da atualidade. Já vi os tempos primordiais do skate de ladeira, do auge de bowls e banks de concreto, da dominação do street, da valorização dos veteranos, do surgimento dos skateparks modernos, da ressurreição dos longboards, do ressurgimento do slalom e do freestyle. Algumas dessas tendências e modas sumiram pra sempre, outras delas retornam ao cenário de tempos em tempos. Praticamente uma única coisa não mudou nesse tempo todo: as skateshops sempre estiveram lá. Tudo bem que, no início, eram as surfshops que vendiam equipamentos de skate e que as mesmas eram muito escassas em todo o Brasil, mas elas estavam disponíveis de uma forma ou de outra. A partir do momento em que as skateshops começaram a pipocar pelo país, novos paradigmas de negócios e de relacionamento passaram a fazer parte de nosso cenário. De um lado, skatistas ávidos a comprar os produtos mais atuais que eram lançados no mercado; do outro, lojistas que procuravam manter-se atualizados com as necessidades e desejos de seus consumidores. Aliado a essa prática comercial estava também o caráter social das lojas, nas quais os skatistas frequentavam não só pra consumir como também (e principalmente) pra se informarem e trocarem ideias. Uma boa loja não era apenas aquela que tinha os produtos mais atuais, mas sim um ponto de encontro no qual era possível assistir a vídeos, saber de novos picos, combinar sessões e missões de busca por picos. Se você tivesse de viajar a uma cidade na qual você não conhecia nada, bastava ir a uma skateshop da cidade ou região; ali você iria saber dos picos onde rolavam as sessões locais, quem eram os caras mais ligados na cena e trocar experiências em relação a sua própria cidade natal. No final, acabava-se até comprando alguma coisa, como forma de agradecer e dar moral a quem te incluiu naquele cenário de alguma forma. Sendo assim, as lojas de skate passaram a fazer parte da própria cultura do skate. Se tivessem skatistas trabalhando nelas, melhor ainda: a legitimidade do negócio estava garantida, tanto do aspecto comercial (oferta dos melhores e mais atuais produtos) quanto pelo lado social da coisa, já que o cliente seria atendido por alguém que fazia parte da cena de alguma forma. Esse fator em si é tão importante que permanece como uma espécie de “selo de qualidade” até os dias de hoje. Porém, é justamente na atualidade que se encontram alguns dos maiores adversários que o modelo tradicional de skateshops está enfrentando. De repente, a internet ampliou a oferta de produtos a níveis nunca antes imaginados, com a entrada de cena das grandes redes de lojas de artigos esportivos e de lojas exclusivamente online. Com as redes sociais, ficou muito mais fácil de informar-se a respeito dos picos e das sessões, além de poder acompanhar os vídeos e fotos postados diariamente e se atualizar com o que ocorre na cena.

Comprar em skateshops é uma forma de manter viva a nossa própria cultura

Estariam então as lojas de skate fadadas a desaparecer? Isso vai depender muito mais delas do que dos clientes. Se existe uma oferta maior de produtos pela internet, as lojas precisam focar tanto nas marcas que vendem melhor quanto naquelas que apresentam algum tipo de inovação ao mercado. Se as informações são passadas em tempo real nas redes sociais, então é preciso marcar o seu território, apoiando skatistas e eventos locais e fomentar o cenário através de ações que as mantenham em evidência na cena. Apoiar ações sociais e difundir o skate em locais onde ainda não tem uma forte presença também conta pontos valiosos, uma vez que se ampliaria a visibilidade da própria loja em si - além de aumentar o número de consumidores em potencial, é claro. As lojas que se engajarem a determinadas marcas têm muito mais chances de se manter saudáveis e abertas por um longo tempo, desde que naturalmente ajudem a essas marcas a solidificar as suas reputações. Por que isso é importante? Porque as marcas podem resolver fazer parcerias com outras marcas e oferecer os seus produtos online a preços mais competitivos. Por exemplo, um fabricante de decks pode muito bem se aliar a outro de trucks e a um terceiro de rodas e oferecerem skates montados a um valor bem atraente; isso já está acontecendo há algum tempo e pode ser um processo inevitável e irreversível pra sobrevivência das próprias marcas em si. O lojista que não enxergar isso está dando um tiro nos próprios pés, já passou da hora de ser aquele pior cego que não quer ver. O que os skatistas podem fazer? Primeiro: jamais comprar em lojas de artigos esportivos, pois elas nunca dão retorno nenhum ao cenário. Segundo, procurar se informar se as lojas online pertencem a gente ligada ao skate ou a algum grupo de investidores sem envolvimento algum além do lucro. Comprar em skateshops é uma forma de manter viva a nossa própria cultura e de evitar que cada vez mais paraquedistas pousem no cenário sem dar nada em troca. Portanto, gaste bem o seu dinheiro e dê suporte a quem sempre esteve presente na cena: todo poder às skateshops!

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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