Tribo Skate Edição 199

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BIANO BIANCHIN * DUANE PETERS * JELLO BIAFRA * O 1080 DE TOM SCHAAR

RED BULL SKATE GENERATION

O CORAÇÃO BATE FORTE NO RIO TAVARES

NA VIVÊNCIA

5 TIMES, CÂMERAS, BARRACAS, STREET, CONVIVÊNCIA

AKIRA SHIROMA

A FAVOR DO TEMPO

VANS TOUR 2012

INVASÃO EM TODOS OS TERRENOS Victor Süssekind, hurricane Ano 21 • 2012 • # 199 • R$ 8,90

www.triboskate.com.br












12 | TRIBO SKATE maio/2012


// índice MAIO 2012

ESPECIAIS> 044. RED BULL SKATE GENERATION O CORAÇÃO BATE FORTE NO RTMF

056. NA VIVÊNCIA ACAMPAMENTO E ALTA DEFINIÇÃO

070. AKIRA SHIROMA COM O TEMPO A FAVOR

094. VANS PRO TOUR INVASÃO EM TODOS OS TERRENOS

SEÇÕES> EDITORIAL.............................................................014 ZAP ..........................................................................022 CASA NOVA ..........................................................082 HOT STUFF ............................................................086 ÁUDIO - JELLO BIAFRA .....................................090 MANOBRA DO BEM ...........................................092 SKATEBOARDING MILITANT...........................098

CAPA: Ele teve sua primeira entrevista aqui na Tribo Skate, com fotos do Heverton Ribeiro. Não demorou muito pra Victor Süssekind chegar com peso novamente numa de nossas edições. Seu hurricane travado no corrimão cromado que mais parece um clipe, mereceu o destaque. Ruas de Florianópolis. Foto: Marcelo Mug ÍNDICE: Luan de Oliveira é um artista que sabe trabalhar sobre a arte de outros artistas. Sem gastar muito os traços do Mike Kershnar, seu “sampler” veio em forma de frontside noseblunt. Com aquela sutileza que lhe é peculiar, de puxar a manobra na medida certa, para voltar suave. Foto: Marcelo Mug

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editorial //

CAETANO OLIVEIRA

Instintos apurados

Carlos de Andrade, backside noseblunt.

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Recorri ao dicionário para iniciar o raciocínio: Instinto: “Impulso espontâneo independente de reflexão. Tendência, aptidão inata.” Para quem é skatista, esta palavra exprime muito mais que isso. Andar no escuro, por exemplo, é confiar plenamente na sua capacidade e as manobras vão saindo na medida em que você sente que podem sair. Dependendo de como você chegar numa parte do trajeto, na borda almejada, no ar, você “sente” o que pode fazer e faz. Se não der certo, você tende a “se virar”, usando as técnicas que aprendeu ao longo dos anos, ou improvisando do jeito que puder. Certo, você tem um cérebro e um corpo acostumado a reagir nas várias situações que podem surgir. Você tem um centro nervoso que alimenta com muitas vontades e determina o que você pode fazer, dentro da gama de habilidades que você pode dominar. Todos sabem, o principal dos instintos é o de sobrevivência. Esse, faz parte da história de qualquer ser vivo. O bicho que se sente acuado, pode correr ou lhe atacar, para se defender… É brincando com estas variáveis que evoluímos em todos os campos desta existência. Como é bonito de se ver aqueles que conseguem apurar seus intintos com a dedicação diária, ou explorando seus dons natos com inteligência e elegância. Uma característica comum ao esporte e à arte, é a quebra de barreiras e a criação do novo. Um novo jeito de ver o mundo, de andar de skate, de atingir outros parâmetros, de derrubar preconceitos… Assim você pode aplicar as suas aptidões de skatista em qualquer situação que se apresente. É isso que se vê nesta e nas próximas páginas. Aqui, um exemplo de um certo baixinho que elevou o nível do skate em sessions e campeonatos de street, mas também em mini ramps e bowlzinhos mundo afora. O nome dele, Carlos de Andrade. Um pouco mais pra frente, na cobertura do Red Bull Generation, depara-se com uma bela fatia dos skatistas que enfrentam perigos de concreto e coping block. Grandes transições, grandes manobras. Alguns deles são capítulos à parte, por construírem linhas impressionantes e manobras nas partes mais críticas do bowl, sendo representantes de quatro categorias de um número até maior de gerações: Christian Hosoi, Pedro Barros, Leo Kakinho, Felipe Foguinho, Duane Peters, Murilo Peres, por exemplo. Não pense que agir na base do instinto é apenas enfrentar grandes rampas ou transições. No detalhe do puro skate de rua de uma street plaza, o encaixe do flip combinado com a pequena inclinação, curb ou caixote, é mais que uma “caixinha de surpresas”. Criar sobre estas condições do evento Na Vivência, do Chiclé Vídeos na Cisco Skate Plaza, no Paraná, é a busca da superação no mínimo detalhe. Também neste caso vigora a tendência natural para ampliar os horizontes e criar algo novo. O arremate final para o raciocínio deste editorial tem nome e sobrenome: Akira Shiroma. O skatista amador de Cubatão, tem um skate tão espontâneo e bonito que está coberto de expectativas de privilegiados observadores. E ele parece responder com tranquilidade, andando de skate instintivamente. (Gyrão)





ANO 21 • MAIO DE 2012 • NÚMERO 199

Editores: Cesar Gyrão, Fabio “Bolota” Britto Araujo Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Direção de Arte: Edilson Kato Redação: Marcelo Durigan de Freitas Almeida “Mug”, Felipe Minozzi “Fel” e Guto Jimenez Site: Felipe Minozzi “Fel” Editor de fotografia: Shin Shikuma Staff: Caetano Oliveira e Marcelo Mug Colaboradores: Texto: Sandro Soares “Testinha”, Helinho Suzuki, Guega Cervone, Paulo Anshowinhas Fotos: Anthony Acosta, Sidney Arakaki, Fabiano Rodrigues, Marcos “Kbça” Moreira, Daniel Silva, Junior Lemos, Matt Lingo/Red Bull, Studio Evoke

JB Pátria Editora Ltda Presidente: Jaime Benutte Diretor: Iberê Benutte Administrativo/Financeiro: Gabriela S. Nascimento Circulação/Comercial: Patrícia Elize Della Torre Comercial: Daniela Ribeiro (danielaribeiro@triboskate.com.br) Fone: 55 (11) 3583 0097 www.patriaeditora.com.br Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações - Anatec

Ganhe um Globe Bantam e redescubra o prazer de andar de skate! Escreva para triboskate@triboskate.com.br e responda a pergunta em uma frase de no máximo 140 caracteres (letras). Por que eu mereço um Bantam? A frase mais estilosa vai lhe garantir a entrega do seu prêmio em casa!

Impressão: Ibep Bancas: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907, Grajaú Rio de Janeiro/RJ - 20563-900

Distribuição Portugal e Argentina: Malta Internacional

Deus é grande! São Paulo/SP - Brasil www.triboskate.com.br E-mail: triboskate@triboskate.com.br

A Revista Tribo Skate é uma publicação da JB Pátria Editora. As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista. Dúvidas ou sugestões: triboskate@patriaeditora.com.br

Promoção válida até o dia 15 de maio de 2012. Resultado pelo www.triboskate.com.br





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(03) STUDIO EVOKE

(01) A marca de Israel Zion Skateboard, que pertence a Gadi Naor, chegará em breve no Brasil. Antecipando essa chegada, os skatistas Pablo Groll e Ricardinho Pires já estão correndo pra marca que pode ser encontrada em Portugal, Inglaterra, África do Sul e Costa Rica. Essa parceria ficou ainda mais forte com a tour realizada em Israel, publicada na edição 198 da Tribo Skate, com fotos de Marcelo Mug. Boa sorte a todos! • Pablo Groll agora também tem apoio da Sumemo e Surf Trip. • (02) Alguns skatistas conseguem ser fiéis às marcas por um bom período, e vice-versa. Esse é o caso do profissional Paulo Galera, que está lançando seu modelo de tênis comemorativo pela Freeday, pra sacramentar os seus 10 anos de patrocínio. • Com patrocínio da DC Shoes no Brasil, Carlos Iqui e Thiago Lemos estão embarcando pra uma tour na Califórnia (EUA) em maio e, por lá, já vão contar também com patrocínio da marca gringa BLVD Skateboard. • A Nike SB americana tem investido forte, e agora conta com mais um nome de peso no time: Alex Olson, filho do veterano Steve Olson. • (03) Silvana Mello, que já andou muito de skate, é bem conhecida pelo trabalho de arte e tocou na banda Lava, entre outras. Ela lançou uma coleção feminina pela Element Brasil, disponível nas lojas da marca. • (04) Não foi a primeira vez sendo que, na outra ocasião, ele trouxe a sua banda. Mas agora o lendário skate punk Duane Peters veio para o Red Bull Generation, e fechou com a marca de óculos Evoke. • (05) Mudando de ares, Marco Cruz, que estava trabalhando na Globe Shoes em São Paulo, mudou-se para a ilha da magia, Florianópolis, e agora integra os trabalhos de marketing na Drop Dead Family, direcionando as marcas Drop Dead, Santa Cruz, Creature, Independent, Ricta, Mob Grip, e Krux. • (06) Lembram da Son Skateboards, de André Genovesi? Será que uma movimentação está sendo feita para retornar com ela? Aguardem! • Edgar Gonçalves está à frente da Deluxe Brasil, na distribuidora Plimax. • (07) O skatista belga Pierre Jambé, que morou no Brasil nos anos 80 e teve patrocínio da Urgh, agora mora no Peru, na cidade de Ayacucho, e está com sua empresa de construção de pistas de skate, a Doctor Skatepark (http://pierrejb.agora.eu.org/ doctorskatepark). • (08) O novo livro "Skate & Skatistas: Questões Contemporâneas" já está disponível para venda. Estoque limitado! Para comprar, basta enviar um e-mail para blogskatecultura@gmail.com • (Fabio Bolota)

MARCELO MUG

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“Pai” do skate e inventor do kick-tail falece Morreu em março, aos 81 anos, Larry Stevenson, criador da famosa marca Makaha Skates, que revolucionou com a fabricação de um skate moderno e produção em série. Salva-vidas na praia de Venice, Larry observava o pessoal andando com os skates, que eram rusticamente construídos à mão, frágeis e em formato bem caseiro. "Eu queria expandir o skate porque eu sabia que tinha espaço para isso", disse Stevenson, em 2008, na revista Transworld Skateboarding. No começo dos anos 60 ele desenvolveu, na garagem de sua casa, os skates que trocariam as rodas, que eram de metal até então, por rodas de cerâmica, e aperfeiçoou os trucks. Em 1963, começou a produção em massa desses skates e concebeu o primeiro skatista profissional, Phil Edwards. No mesmo ano, patrocinou o primeiro campeonato de skate e criou a primeira equipe de demonstração de skate. Líder de mercado até então, em 1965 faturou 4 milhões de dólares com a venda de seus skates. No mesmo ano, as vendas foram tão impressionantes que a Associação Médica Americana chegou a rotular o skate como uma “nova ameaça à segurança medicinal”, e especialistas em segurança chegaram a pedir para que não se vendesse skate nas lojas, além de alertarem os pais dos perigos desse novo esporte. Com isso, os cancelamentos de encomendas foram enormes. "Em uma semana, eu estava recebendo muitas encomendas.... No dia seguinte, recebia 75.000 cancelamentos de compra, em um único dia!". Fechou a fábrica em 1966, voltou para o trabalho de salva-vidas e só retornou novamente quando conseguiu a patente do que viria a revolucionar novamente o skate, o kick-tail. Com isso, voltou a produzir skates em larga escala com o tail que é tão comum nos skates atuais. Stevenson foi homenageado em 2008 pela revista Transworld Skateboarding, pela contribuição ao desenvolvimento do skate mundial. Obrigado Stevenson, pela sua enorme contribuição…. No dia 7 de abril, uma última homenagem aconteceu na praia de Venice Beach, com a presença de vários skatistas e salva-vidas... Rest in peace, skate father! (Fabio Bolota)

CESAR GYRÃO

Thunder e Spitfire ampliam time Foi em 2010 que uma equipe de novos skatistas de São Paulo começou a marcar presença na cena, organizando eventos, criando um site e canais de rede social e atacando as pistas e picos em bloco. Batizados de Smith Grinders, a ideia era juntar skatistas mirins e fazer barulho. Com a força dos pais, os garotos se juntam para andar de skate, se divertir e representar a união. Desde abril os seis skatistas da atual formação passaram a contar com o apoio da Thunder e Spitfire, o que vai fazer muita diferença no desenvolvimento deles no skate. A DLXSP, braço da Plimax que cuida das marcas, reconheceu o carisma da equipe e apostou no “trabalho” deles. A equipe é composta por: • Álvaro Rodrigues - 10 anos • Caique Watanabe - 13 anos • Mônica Torres - 16 anos • Pedro Quintas - 09 anos • Vitor Ikeda - 06 anos • Wacson Mass - 11 anos Pedro, Álvaro, Mônica, Wacson, Vitor.

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FOTOS MATT LINGO/RED BULL CONTENT POOL

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Inédito: O primeiro 1080 de Tom Schaar Desde o incrível 540 McTwist realizado pelo skatista Mike McGill, o skate não é mais o mesmo e tenta quebrar o limite a cada dia. Por outro lado, muitos skatistas são reconhecidos por inventar manobras e, em sua grande maioria, acrescenta seu nome na história. Caballerial de Steve Caballero, elgario de Edie Elguerra, smith grind de Mike Smith, lien air do Neil Blender (Niel ao contrário!), burn twist de Bob Burnquist, e assim por diante. Mas muitas vezes essas manobras podem ser aperfeiçoadas, e simplesmente executadas com mais precisão do que a original. No caso do inimaginável 1080, ainda não se tinha notícia de quem poderia executar três voltas consecutivas no ar. Muitos acreditavam que o “cabelo de fogo” Shawn White seria o primeiro a executar, devido sua facilidade em voar alto e girar muito com sua técnica utilizada no snowboard. Eis que um garoto de apenas 12 anos executou a manobra com perfeição no mês de março, na mini-mega da pista de Woodward, na Califórnia. O até então desconhecido Tom Schaar quebrou a barreira e o limite, mostrando ao mundo a manobra tão esperada, superando os 900 de Tony Hawk e sempre executado por Sandro Dias… “Consegui completar o 1080° pela primeira vez em um skate. Estou chocado! Percebia que estava alto o suficiente e dava para saber que estava girando rápido o bastante e, aos 720°, vi a rampa de novo e ainda estava um metro acima do topo dela. Então mandei mais um 360. Estou impressionado”, revelou Tom… E agora? O que vem por aí? 1260 (três voltas e meia) ou um 1440 (quatro voltas)? Só o tempo dirá! (Fabio Bolota)

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Agent Orange e Suicidal Tendencies no Brasil O skate rock vai ser bem representado em maio. Eles já vieram diversas vezes, mas sempre inspiram as sessions. Em turnê, passando por Porto Alegre e São Paulo, a banda Agent Orange toca dia 1º de maio em SP, no Inferno Club. A banda Suicidal Tendencies faz uma apresentação especial na 8ª Virada Cultural da cidade de São Paulo (05 e 06 de maio)… Let’s skate… And rock! (Fabio Bolota)




FOTOS SHIN SHIKUMA

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Mailton dos Santos, bs lipslide.

Carlos Yellow, fs ollie.

Intervenção Tribo Skate 2

SHIN SHIKUMA

Intervenção são as ações realizadas pela revista Tribo Skate em pistas e picos de skate, sempre com skatistas profissionais que são convidados para interagir no local, com sessions, distribuições de revista e cadastramento do público local. A primeira Intervenção foi na pista do Sumaré, com os skatistas Fabio

Sleiman e Kelvin Hofller, no mês de fevereiro. No mês de março, a Intervenção rolou no CEU Butantã, e as sessions ficaram por conta de Mailton dos Santos (This Way, Red Nose Shoes, VLCS) e Carlos Yellow (Progress). A próxima será divulgada no site www.triboskate.com.br… Fique atento! (Fabio Bolota)

Os novos do Ipiranga Os skatistas que representam a nova geração do Ipiranga, bairro de São Paulo, estão no vídeo Museu All Day de Filipe Maia. Filmando despretenciosamente seus amigos na região, Filipe percebeu que tinha um bom material e decidiu editar um vídeo. Quando a loja SecretSpot ficou sabendo da iniciativa, decidiu incentivar e apostar na ideia e junto com a Paviment, uma crew local, o vídeo tomou forma. No dia 31 de março rolou a estreia do filme na loja, com uma presença forte de amigos e regada a muita cerveja. A festa rolou com a galera vibrando muito durante a exibição da fita. Mais uma vez a SecretSpot apóia iniciativas de skatistas locais ou não, para o incentivo da prática e cultura do skate. (Shin Shikuma)

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MIX DE FILTROS PARA FOTOS E REDE SOCIAL, O INSTAGRAM SE TORNOU UMA FEBRE PARA OS CONECTADOS E VICIADOS EM FOTOGRAFIA. NO MEIO DO SKATE A MANIA TAMBÉM PEGOU FORTE, E ATRAVÉS DE APARELHOS COMO O IPHONE E OUTROS COM O SISTEMA ANDROID PODEMOS ACOMPANHAR O DIA A DIA DE MUITA GENTE QUE VIVE E RESPIRA O CARRINHO TODOS OS DIAS. SELECIONAMOS ALGUNS EXEMPLOS PARA ESSE TALK SHOW ESPECIAL DO INSTAGRAM.

Esse pico em Macau é ‘‘provavelmente o mais

divertido que eu já andei #macauwithmyninjas2011

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RODRIGO TX (@rodrigotx)

Photo ‘‘byOllie. Klaus!’’ LUCAS XAPARRAL (@LucasXaparral)

Essa é para vocês ‘‘meus amigos Luan

Oliveira e Rodrigo TX #vanssouthamericatour

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GEOFF ROWLEY (@geoffrowley)

Valeu todo o empenho e ‘‘esforço para acertar uma noseblunt at ‘‘theBs@complex ’’ LUAN OLIVEIRA (@luancgk)

manobra. Ganhar uma página dupla na Thrasher não tem preço. Rafael Gomes, vulgo Vumitinho

SIDNEY ARAKAKI (@Skataholic)

bros to one of the best camping trips ever; ‘‘Cheers we definitely #letthegoodtimesroll @dr_uzie @

blammers @wigginszero @justsomedude @ bigtweest @mattcan @el_dridge @hyenaface @ gatlyngun @bengilley

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JAMIE THOMAS (@Jamiethomas)

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Waiting for ‘‘Lightning!

Obrigado Danny Way pela luz

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RODRIGO GERDAL (@rpetersen80)

I love skating ‘‘with tom penny its always a good time!!

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DAVID GONZALEZ (@davidgonzalez)

Skate é diversão! Minha primeira ‘‘Piscuila ‘‘ indo para foto de um o jogo do Lakers.’’ machucado’’ CAMILO NERES (@iphoneres)

ARTO SAARI (@artofoto)

O verdadeiro ‘‘rockslide! #rock #rail’’

Tirei os ‘‘pontos, agora é fisio e gelo!!’’

MARCELO MUG (@marcelomug)

JAY ALVES (@jay_alves)


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DUANE "MASTER OF DISASTER" PETERS

“MEU IDEAL É SER O SKATISTA MAIS ODIADO QUE JÁ EXISTIU NO SKATE…” (VIA INSTAGRAM) SHIN SHIKUMA

// POR FABIO BOLOTA

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SHIN SHIKUMA

A

história e o hall da fama no universo do skate, se tornam cada vez mais ricas, quando pessoas que contribuiram para que tudo isso que vemos acontecendo hoje em dia, são lembradas pelo que plantaram de sementes como originalidade, criatividade e inspiração. São muitos com grandes currículos, mas eles não são a maioria. Pra falar a verdade, às vezes são poucos que têm cravadas essas virtudes por livre e espontânea vontade e não criados a partir de conceitos estabelecidos e estudados minuciosamente para que virem produtos de consumo. Isso nos leva a falar de uma lenda no skate dos anos 80 que, por originalidade, criou estilo, inspirou gerações e influencia até os dias de hoje. Falar de Duane Peters é fácil e não é, ao mesmo tempo. Como descrever um cara que hoje, aos 50 anos de idade, anda de skate com um vigor que nem um garoto de 20 anos, às vezes, tem? Se fosse só isso, seria fácil, mas o cara tem uma história que sua mãe não gostaria de ouvir, mas que com certeza, você gosta de saber… Odiado por uns e amado por outros. No final dos anos 70, além de ser um dos melhores skatistas da época, Duane inventou manobras, seguiu seus instintos, mudou o estilo de uma geração e criou tendências. Se inventar manobras hoje não é fácil, imagina há mais de 30 anos? Nessa lista, encontram-se o sweeper, o layback grind, o acid drop, o fakie hang-up (disaster), o invert revert; ele ajudou também a evoluir o foot plant para o fast plant e também foi primeiro a realizar o looping completo em um tubo (full pipe) de acrílico. Mas se a contribuição para a evolução do skate já foi enorme, Duane foi mais longe, quando introduziu o estilo punk, sendo um dos precursores, se não o precursor, desse movimento-estilo-de-vida no skate que durou por quase uma década, arrebanhando milhões de skatistas pelo mundo. Isso fez dele o sinônimo vivo do “Skate-Punk” e diga-se de passagem que, nessa época, se você andava de skate, você tinha que ser punk! Suas histórias nesses 30 e poucos anos, são de um verdadeiro e original “Punk Rock Star”. Paralelamente ao skate, criou e toca em bandas consideradas até hoje, como a Exploding Fuckdolls, Gunfight, Die Hunns e a mais famosa, U.S. Bombs, que já chegou a tocar por aqui. Mas como todo rock star, sua história se mistura com problemas pesados com drogas, luta pra se reabilitar dos vícios, brigas, prisões e desapontamentos, como a morte de seu filho em um acidente de carro em 2007. Mas a indumentária e a carcaça velha que carrega dessa bagagem até hoje sobre seus ombros, as mantém firme e forte na contramão do conformismo e mesmice que rondam o mundo de hoje. Parece não ser fácil derrubar o cinquentão que anda de skate com toda sua energia, que cai e se estoura constantemente em uma session e continua andando e sangrando… Talvez a velha frase da geração punk dos anos 80, ele ainda leve dentro de sua alma… “Live fast, die young!”. Não, isso não é um filme e muito menos ficção. É apenas o rápido resumo de um skatista que cravou sua história e contribuição ao esporte, que mantém sua personalidade a todo custo. E isso foi reconhecido em 2003, quando foi homenageado com o prêmio de “Legends” no skate e em 2005, lançou a biografia “Who Cares: The Duane Peters History.”. De onde será que vem a inspiração? Essa é a pergunta que você deve fazer para o “Master Of Disaster”, da próxima vez que tiver oportunidade! Mas não se iluda, ele ainda quer ser visto como um “lobo mau” e essa frase, retirada do seu Instagram (meio poesia e meio diário), durante a temporada que esteve aqui no Brasil para o Red Bull Generation, deixa isso bem claro: “Meu ideal é ser o skatista mais odiado que já existiu no skate…” Amém!

Carving grind, piscina Classe D, em seu primeira vinda ao Brasil. O model pela Gardhenal e o show do U.S. Bombs, no Hangar 110.


MARCOS KBÇA

“Eu sou de uma época, que ninguém sabia quem você era, a menos que você aparecesse na TV ou em uma revista… Eu estava morto por 2 dias - meu manager me salvou 12 horas após apagar - não era a primeira vez - eu gritei para ela – Alguém, em seguida, me deu Speed - eu nunca tinha tomado essa droga - isso me deixa muito louco - eu disse ao Eddie que eu não conseguia dormir há vários dias - Ele disse que ia ficar bem e vamos andar de skate! - Assim como Steve Alba - Estes são os meus amigos - eu costumava ir para o Snow Ski Team Summit – Lendo meu “Who’s Hot” - eu não gosto da década de 1990 - tudo foi arruinado - eu fiquei na estrada e vi minha vida passar através de uma janela de uma van, enquanto os outros liam - eu e Chuck bêbados Eu não preciso de você gostando de mim, mas é bom ser amado - Eu pegava onda quando eu era jovem - eu saía depois dos 25, talvez uma vez a cada 3 a 5 anos, às vezes menos – vários ossos quebrados - Eu fui o número 1 no baseball - dois em futebol - eu sou bom em tudo que eu faço porque eu me levo a sério quando eu não estou fodido, eu ganho todas as lutas que eu tenho - a Internet é boa e ruim - Eu sou de um dia diferente - queremos dizer o que dizer e fazer como nós pensamos - Fique no meu caminho? Pode voltar amigo – por que você acha que me conhece? - Não tente me botar pra baixo com as palavras de internet - Eu não ligo pra quem você é - Se você tem algo a dizer, então diga na minha cara - Mas eu sou de uma época diferente - eu escrevo poesia - Eu canto músicas - Eu tenho crianças - Eu amo a minha família - Eu toco música - Eu tenho um coração de ouro - Eu amo pessoas reais - Não importa o que você faz - Eu quero que você tenha sucesso - eu estou fazendo o meu melhor para entender, mas eu sou de um dia diferente.” From Instagram

STUDIO EVOKE

Uma de suas criações, o indy air.

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biano bianchin O Cara PrODUZ COMO UM LOUCO e eSTÁ SeMPre PreSenTe nO CenÁrIO, QUe Se renOVa SeM Parar. aOS 37 De IDaDe, DeMOnSTra VIGOr Para MaIS 37, COM SKaTe PeSaDO, nO BOM SenTIDO. eXaGerOS À ParTe, BIanO BIanChIn É UM Ser QUe naSCeU Para anDar De SKaTe e eSTÁ aLOnGanDO a VIDa ÚTIL DO SKaTISTa PrOFISSIOnaL nO BraSIL. SÃO POUCOS QUe PODeM Ser ChaMaDOS De ÍCOneS DO eSPOrTe e O BIanO eSTÁ enTre eSTeS, SeM SOMBra De DÚVIDaS. (GYRÃO)

// fabiano biancHin 37 anos, 23 de sKate PatrÔs: volcom, converse, crail, evoKe, live, ogio

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MarcElo Mug

• Sou skatista de longa data, comecei em 1982 e até hoje dou meus rolês com meus amigos, quando posso. Em 1998 sofri uma fratura que me forçou a me afastar do carrinho por um bom tempo. Gostaria de saber como foi a sua recuperação após esta última lesão que sofreu e que todos, graças às facilidades que temos hoje em dia, puderam ver on-line. Fiquei preocupado na época, mas estou feliz em saber que já está na ativa novamente e bombando esse skate agressivo e overall que tanto gosto de apreciar. Muito sucesso! (Leonardo Lacerda (37 anos, 30 de sk8), natural de Salvador, radicado em São Paulo/SP) – Cara, dessa vez foi muito mais séria e assustadora a lesão, mas a recuperação é mais rápida que a do joelho, então me foquei nisso e fiz muita fisioterapia, duas vezes por semana. Quando estava em casa fazia também. A acupuntura me ajudou muito também. No mais, é ter e estar com a cabeça boa, focada e ter uma alimentação saudável. Isso ajuda muito, além da vontade de poder dar uns grindsss e acreditar em você! • E aí, Biano? Você veio para Sampa pequeno e com aquele cabelo de rato novo; me lembro bem quando entrou na Rude Boy e andou com a galera de SP. Nessa época já imaginava que um dia seria cidadão radicado na Babilônia? Outra coisa, hoje tem essa febre de bowl e piscina no Brasil e a gente fez aquele projeto, o Concretizando, o qual o Tuca editou. Como você vê essa cena em nosso país? Abraço, irmão, skate sempre, Cooolaman! (Marco Cruz, Florianópolis/SC) – Fala Coolaman, que style irmão! Quando vim pra Sampa, você foi uns dos primeiros amigos. Você já tirava onda do meu cabelo, que belezaaa, heheheheh. Andávamos direto juntos. Trip pra Europa, só alegria, heheheh, era muito style. O skate acabou me levando a morar em Sampa, mas sempre gostei de estar aqui. Hoje eu moro aqui e vocês não, que loucura! Mas o que importa é ver meus amigos felizes. Essa febre de bowl, hoje em dia, eu acho que é reflexo desses rolês e da evolução. Hoje em dia, o passado é o futuro. Foi aonde tudo começou, e alguns anos atrás, fizemos esse vídeo que foi muito style e marcante; trouxemos uma outra proposta de vídeo e de skate. Acho que esse vídeo ajudou um pouco essa febre. Acho muito legal mostrar um skate com estilo, constância, bonito de ver e uma febre mundial, né? E agora, você está morando no paraíso dos bowls, que belezaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Coola, boa sorte pra você nessa nova caminhada. Skate sempre, homies! • Nos seus produtos assinados, sempre tem um brasão, isso tem algum significado? A Reef tinha lançado um model de tênis com seu brasão, que vinha até com um CD muito legal com suas manobras e corrimãos. Logo depois você saiu e entrou na Cons.

Também tinha o model do Mineirinho pela Reef. Por que a Reef não patrocina mais skatistas? Sobre suas manobras, você era mais focado em corrimãos, depois mudou um pouco o estilo para manobras de transição e rampas, por que? Gostaria de saber se tem como me mandar algum produto do seu brasão ou marca? (Felipe Tiago, Mogi/SP) – Bom, o brasão é um logo pessoal que uso em todos os produtos que levam meu nome e minha marca registrada, que foi criado quando lançamos meu primeiro model de truck pela Crail. Agora eu uso ele em tudo; acho muito legal ter um brasão que representa meu nome, um logo próprio, com minha identidade. A Reef não está mais focada no mercado do skate, por isso acabou com a equipe; está mais focada no surf, por isso não tem mais time de skate. As minhas manobras estão sempre mudando; eu sempre tento variar, mostrando que skate é tudo, mas confesso que gosto muito de andar em transições, porque são divertidas, constantes e fluídas. Sempre andei bastante em half e mini ramp, também. Com as lesões, andar em bowl e fazer carving ajuda na recuperação, mas street é tudo e sempre vou andar. O importante é sempre se divertir! • Você tem uma casa na sua cidade, em São Leopoldo, onde tinha ideia de fazer uma rampa. Desistiu da ideia? (Carlos Alberto Schimtz, Canoas/RS) – Foi por conta da mudança de São Leopoldo para São Paulo, mas a casa está lá. Quem sabe um dia… Ainda tenho vontade de ter minha própria pista! • Fala, Biano… Você ganhou um campeonato naquele asfalto choquito do Parque do Ibirapuera, se não me engano, em 1994. Aquele foi seu primeiro título como profissional? Como era correr aqueles campeonatos mal organizados? Abraço! (Humberto Crespo, São Caetano do Sul/SP) – Cara esse foi o primeiro campeonato que ganhei como profissional. Na época a gente só queria andar e não ligava pra nada. Pra mim era tudo de bom estar ali correndo aquele campeonato, com vários caras que eu sempre admirei, meus amigos, foi animal! Nem ligava pro chão, só queria andar. Na época era o que tinha, não tinha muito recurso como hoje. Foi uma época muito boa! • A pista da Duelo, em São Leopoldo, foi muito importante em sua formação como skatista? Quem eram os caras da área que faziam o skate acontecer? O Bolão já morava no Rio Grande do Sul? Ele influenciou mesmo na sua decisão de ir pra São Paulo? (Ricardo de Almeida, São Paulo/SP) – Cara, a Duelo foi a primeira pista de skate que eu andei. Foi lá que começou tudo, há 23 anos atrás. Era uma pista muito completa e atual pra época. Foi ali que formei meu estilo overall. Meu primeiro campeonato como amador foi animal. Foi uma pista feita por skatistas locais: Jubi, JM, Buléu, Pingo e outros. Esses caras eram quem fazia a cena nessa época. Era muito legal, puro skate. Agradeço muito a eles por hoje eu andar de skate e poder andar em tudo. O Bolão já morava em São Léo. Ele me ajudou, foi meu primeiro patrocinador. Foi uma grande influência e agradeço muito a ele.



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BIANO BIANCHIN

Plunc wallride melon zoom.

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MARCELO MUG

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COM AS LESÕES, ANDAR EM BOWL E FAZER CARVING AJUDA NA RECUPERAÇÃO, MAS STREET É TUDO E SEMPRE VOU ANDAR. O IMPORTANTE É SEMPRE SE DIVERTIR!

’’

• Biano, fico feliz em poder falar com você aqui pela Linha Vermelha. Você sempre foi uma grande inspiração para todos aqui na nossa área, pois prezamos o skate overall sobre todos os aspectos. Curtimos muito a Concrete Search que você fez com o Ragueb. O que foi mais legal nesta tour? Quando vocês vão fazer uma aqui pra Belo Horizonte? (Luiz Amaro da Silva, Belo Horizonte/MG) – Que massa saber disso fico feliz de poder levar inspiração pra vocês aí de BH, um lugar que gosto muito e sempre fui bem tratado aí pela galera. Valeu mesmo, skate overall, na veia! Então, a Concrete Search foi muito style, muito especial, porque foi tudo sem pressão, sem horários. Tínhamos só um roteiro de cidades e muita vontade de andar de skate no máximo de pistas, sem compromisso com ninguén, mas o mais louco foi poder chegar nas cidades e levar motivação para nossos amigos, em todas os picos que passamos. Foi muito style, sempre com espírito de skate diversão; isso marcou muito, ver que com pouco, a gente pode fazer muito, é só ter força de vontade. Além de que, viajar com meus amigos não tem preço! Foi uma tour totalmente independente, só de amigos skatistas na veia: Mug, Ragueb, Diego; parceria total. A próxima Concrete Search, vai finalizar aí mesmo em BH! Essa é minha vontade, se tudo der certo, ainda esse ano! Aguardem! • Além de viajar muito para a Europa e os States, você também fez algumas viagens para os outros países da América do Sul. Como foi sua vitória naquele campeonato de bowl da Converse na Argentina? Qual foi a viagem mais legal de todas, depois de tantos anos de skate? (Cristina Lagerfeld, Pelotas/RS) – Esse campeonato foi muita, muita vibe! Fiquei feliz de ter ganhado. Além de ser da Converse, que é meu patrocinador, eu quase não fui pra esse evento. Fazia tempo que eu não ganhava um campeonato e na Argentina, ainda me fez muito bem começar 2009 assim. Gosto muito desse campeonato, da vibe e de Mar del Plata. Depois disso, fui todo ano. A viagem mais marcante, pra mim, tirando Europa, que me fez evoluir muito, foi a trip de Bali. Fui sozinho em 2003 fazer uma demo na data que fazia um ano do atentado de bomba no Sari Club. Tudo isso para resgatar o turismo em Bali depois do atentado. Isso me marcou muito. Lembro que, nos primeiros dias, eu ficava meio encanado e pensando que poderia ter outro atentado a bomba. Por ser um lugar muito místico e ser uma região que não tem muito skate, era tudo diferente pra mim. Sem dúvida, essa foi a mais louca! • Gaúcho tomadão, você atualmente faz parte de marcas que promovem o skate em todos os campos. Todas elas sempre estão apresentando ações relevantes para o skate. A Volcom com tours e o Animais na Pista, a Converse com várias ações (Fix to Ride, My Square, etc), a Crail com muita história, a Live e a Evoke com produtos com a sua cara. Como você administra sua imagem com seus patrocinadores e como faz para estar sempre em evidência? (Jaques Feliciano, Rio de Janeiro/RJ) – Gaúcho tomadão, essa fazia tempo, hehehehe… Legal… Bom, sempre procurei estar do lado de marcas que tivessem a minha cara e que fizessem algo pelo skate. Quando a gente gosta, tudo fica mais fácil. Pra mim é um prazer poder viajar e estar andando de skate em lugares diferentes com meus amigos. Hoje em dia conseguimos nos organizar com datas e cronogramas de eventos, viagens, tours, então fica bem mais fácil. Todas as marcas têm uma programação e isso ajuda na administração de tudo. Estar sempre em evidência, acho que é consequência de bons trabalhos e com isso você vai dando seguimento; estar sempre produzindo coisas boas e diferentes; viajando filmando, buscando evolução. Também um bom trabalho dos meus patrocinadores com minha imagem, isso também ajuda muito. Gostar do que se faz, isso é o mais importante pra você se manter em evidência! Skate sempre! Sobre minha imagem, tento estar a par de tudo e participar de tudo que diz respeito a ela, sempre opinando, cuidando, dando ideias. Sempre falo que meu nome é meu patrimônio, então você tem que cuidar dele para ter vida longa. PRÓXIMO ENFOCADO: FABIO SLEIMAN ENVIE SUAS PERGUNTAS PARA TRIBOSKATE@TRIBOSKATE.COM.BR, COM O TEMA LINHA VERMELHA – FABIO SLEIMAN. COLOQUE NOME COMPLETO, CIDADE E ESTADO. ABRAÇO! 2012/maio TRIBO SKATE | 43


red bull skate generation // rtmf

O

CORAÇÃO NA MÃO

O HISTÓRIA DO SKATE É CONSTRUÍDA SOBRE FATOS E PERSONAGENS QUE MARCAM AS ÉPOCAS. AS GERAÇÕES SE SUCEDEM E OS NOVOS REVERENCIAM OS ANTIGOS, OS ANTIGOS TORCEM PELOS NOVOS. NO MUNDO IDEAL, ESTES VALORES DEVERIAM SER SEMPRE LEVADOS EM CONSIDERAÇÃO: O RESPEITO, A CAMARADAGEM, A VALORIZAÇÃO DAQUELES QUE SE SUPERAM E QUE ELEVAM A QUALIDADE DAS RELAÇÕES. A SEGUNDA VERSÃO DO RED BULL SKATE GENERATION REUNIU TODOS ESTES E MAIS ELEMENTOS, COM REPRESENTANTES DE QUATRO CATEGORIAS QUE ABRANGEM PELO MENOS CINCO GERAÇÕES DE SKATISTAS (ANOS 70, 80, 90, 2000, 2010). ÍDOLOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS, LADO A LADO, COM AQUELES QUE ESTÃO RENOVANDO A CENA COM TODOS OS MÉRITOS. JUNTOS E MISTURADOS, NUM CALDEIRÃO FERVENTE DE ADRENALINA E EMOÇÃO. POR CESAR GYRÃO // FOTOS MARCELO MUG

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FORMIGA XTREMETV/ CANAIS ESPN


red bull skate generation // rtmf

O artista pinta mais uma tela de valor incalculável em sua casa. Pedro Barros, melon gigante.

N

em todos os clichês do universo conseguem descrever o que se sente num evento como estes. A começar pelo ambiente, um pedaço do paraíso na terra chamado Rio Tavares. Aproximando mais a lente sobre este bairro da Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, você se depara com o bowl da família Barros, onde pai, filho e amigos andam de skate juntos e André incentiva a evolução do Pedro. Siga pela foto aérea da abertura, produzida pelo helicóptero teleguiado por um dos personagens deste evento, a lenda da Wave Park, primeiro brasileiro a girar o Mctwist, recordista de cross country de asa delta, boardrider total, Luis Roberto Formiga. É proposital a enumeração de parte deste currículo, como você verá mais para a frente. Incrustrada nesta montanha, a estrutura vai crescendo e o parque de diversões ganhando novos atrativos. Além do half pipe coberto na entrada do terreno, agora a mini ramp de Foz do Iguaçu foi montada logo acima do bowl, durante dias e noites para ser entregue antes do Generation. A

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arquibancada natural na encosta, uma construção que serviu de base para a organização, aparelhos de som e os Dj’s, tendas para alimentação (ótimas panquecas, sucos, cerveja e churrasco) e stands de marcas envolvidas… Enfim, toda uma infra pra receber bem até 1.200 pessoas, no cálculo do André Barros. No final, este limite estourou muito, por mais que as pessoas compreendessem que a intenção era manter o mínimo de conforto para os mais chegados. // LADO A LADO O circo montado, o Sol brilhando. As estrelas, de todas as grandezas, destruiam ou enfrentavam as curvas do bowl RTMF. É também proposital falar de brasileiros e estrangeiros em pé de igualdade. Por maior que sejam as reverências citadas acima, de uns pelos outros, é claro que alguns nomes estão mais fortes no imaginário das pessoas. Se o Pedro é hoje “um nome a ser batido” na arte do bowlriding, como se lê em vários sites e revistas depois de sua campanha avassaladora no circuito

mundial, ele ainda é um cara de apenas 17 anos! Ao lado dele, na bateria final, um pro legend, de primeira grandeza. Ninguém mais, ninguém menos que o Christian Hosoi! O time se completaria com Leo Kakinho, o pro master melhor colocado na categoria e também o amador Felipe Foguinho, outro filho de Guaratinguetá (assim como o Leo), que está radicado em Floripa para viver e andar de skate. Nossos melhores skatistas, ao lado dos melhores de outros países, de outras culturas, de outros cenários. Rune Glifberg (Dinamarca), Omar Hassan (EUA), Nathan Beck (Austrália) e Milton Martinez (Argentina), foram pinçados para ilustrar a lista de profissionais conhecidos de fora. Entre os brasucas, nomes como Marcelo Kosake, Sandro Dias, Otavio Neto, Allan Mesquita e Vitor Simão, da mesma pinça para ilustração. Independente das performances e classificações, todos, sem exceção, se atiraram para dar o seu melhor. Os gritos, a torcida, não se limitavam às baterias de competição. Que lindo isso! Do mesmo jeito que as voltas empolgantes de amadores como o


Isolado no cĂŠu, em contraluz. Felipe Foguinho, um de seus cavernosos judo airs.

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red bull skate generation // rtmf Vi Kakinho e Murilo Peres, para usar apenas dois exemplos ainda não citados, sacudiam as emoções dos presentes; as sessions dos pro masters pegavam fogo, com nomes como Mauro Mureta, Franco, Duzinho, Cris Mateus, além do já citado Leo. Pausa para entrada da geração mais antiga no bowl: barulho, respeito, lágrimas e sorrisos. Hora de alguns dos mais venerados skatistas de todos os tempos andar com alguns dos profissionais remanescentes dos anos 70 e 80 do Brasil. Por um lado, Hosoi, com sua postura ereta, mestre do estilo, por outro, o mais legítimo representante do skate punk, Duane Peters, 50 anos no esqueleto todo tatuado. O Christian foi um dos primeiros skate stars dos anos 80 a divulgar o Brasil, depois que Tony Alva e Dave Duncan lhe falaram que a terra era boa. Este foi o primeiro evento que Hosoi correu no país, num formato que ele nunca havia disputado, com a formação de times de quatro gerações. Costurou o bowl com aquelas linhas clássicas de encher os olhos e agradeceu por estar ali. O skate limítrofe de Duane Peters e todo seu natural “mise en scène”, foram um capítulo à parte da festa. Foi completamente ovacionado, com seus fs rock’n’rolls nas unhas, seus indy airs, seus roll ins doidos e slides inesperados. Tudo isso com algum sangue derramado, o que é peculiar ao personagem. Entre os cinco melhores pro legends, Jeff Grosso retornava para seu segundo Generation; Marco Aurélio Jeff afirmava sua convicção e o Formiga preenchia um espaço que era seu de direito. O nosso polêmico Jeff Cocon, tantas vezes campeão master nos eventos de Guará, Swell e outros, não andou na véspera do evento. Eu disse: “não andou!” Pra quem conhece o cara, fica difícil imaginar uma situação como estas. Jeff Cocon é um daqueles que não param de andar um minuto. No RTMF, ele simplesmente se preservou para a competição pra valer, descansando na véspera. Isso, logicamente, depois de ter chegado em Floripa mais cedo e andado direto com o Jorge Zunga. Agora, a prometida justificação de porquê citar o Formiga, no início deste texto: Aos 48 anos, Luis Roberto voltou a andar de skate com regularidade, depois de um longo afastamento, onde se dedicou a explorar todos os outros tipos de esportes de prancha. Sua volta se deve ao surgimento deste reduto que se tornou a casa dos Barros. Para ele, o envolvimento desta família com o skate é tão envolvente, que ele percebeu que tinha Pipeline ao lado de sua casa. Como morador de Floripa, ter uma onda como este famoso pico do Havaí ao lado de casa, acaba praticamente lhe “obrigado” a surfar sempre que puder. Um dos primeiros ídolos do skate brasileiro estava lá novamente, numa final em Floripa. Eu lembro muito bem de sua vitória na categoria junior do Brasileiro do Clube Doze de Agosto, em Jurerê, 1978, vestindo a camiseta da Wave Park. Assim como o ano seguinte… Ter todas estas lembranças e mais uma infinidade delas nas cabeças de todos que estiveram no evento, ou o acompanharam ao vivo pela internet, é o grande mérito deste grande encontro do skate mundial. É como estar “com o coração na mão”, prestes a explodir.

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// MAIS DESTAQUES • A boa premiação do Red Bull Skate Generation foi mais uma prova de valorização do skate profissional no Brasil. O evento foi dividido em duas partes: uma válida para o circuito mundial (WCS) e outra para os times, com os cinco melhores de cada categoria. Com exceção dos amadores, os pros classificados até o 15º lugar tiveram direito à premiação em dinheiro; os pro masters e pro legends que avançaram pra final, também receberam bons valores. • A festa da Drop Dead na pousada Hi Adventure foi muito concorrida. Uma prova de best trick no bowl vermelho, agitou ao máximo os pros presentes. Rodolfo “Gugu” Ramos desencavou um transfer do bowl maior para o menor do fundo de sua gaveta de barbaridades e rendeu alguns reais para seu bolso. • Entre algumas das expectativas de bons rolês entre os pros, um nome merece destaque: Nilo Peçanha. O novo pro do Rio de Janeiro, foi o melhor colocado entre alguns mais experientes na categoria. Linhas suaves e estilosas. • Franco Bertagnoli recuperou muito o vigor de outros tempos, quando venceu uma das etapas do Alternativa Rock Skate de half pipe no Nordeste. No RTMF, ele fez voltas muito completas, superando as expectativas entre os pro masters. Ver o Fabio Frugis “Anjinho” correndo novamente no Brasil, depois de tantos anos de Estados Unidos, foi outro privilégio. • Ele me falou que os últimos eventos de bowl que correu foram os dos anos 80 em Guaratinguetá. Pode ser, porque Sérgio Negão se afirmou como profissional em tantas competições de half pipe ao longo dos anos. Agora aos 49, emparelhou com alguns dos velhos skatistas que aparecem nos eventos old school, como o Zunga, o James Bigo, o Jorge Kuge e o Pedro Tibau. • Felipe Caltabiano tem a mesma idade que o Pedrinho: 17 anos. Computados os resultados gerais da bateria final, entre os times, ele teve a segunda melhor performance entre todos. Pedro, indiscutivelmente 10 pontos à frente de todos. Felipe Foguinho, amador, em segundo, sem direito a levar premiação em dinheiro. Mas, pouco estava ligando para isso. • O segundo amador melhor colocado foi o americano Alex Sorgente. Garoto calado, parece ter aparecido apenas na hora de competir. Skate bonito, com manobras esticadas e bons aerials, mas não chamou tanto a atenção quanto o local Vi Kakinho e os paulistas Murilo Peres e Raul Roger. Técnica e expressão são coisas diferentes e os brasileiros emocionaram muito mais. • A categoria mais numerosa do Generation, reuniu 32 competidores. Entre estes amadores, alguns personagens são bem old school, como o Fernando Gomes, com 38 anos e o Rafael Nascimento, com 34.


Os transfers na caveira marcavam as linhas mais completas, como este stale fish de Murilo Peres.

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Aos 38 anos, Omar Hassan poderia optar por correr entre os pro masters, mas preferiu estar entre os pros. Com vรกrias cartas na manga, esse fs air na caveira foi muito bonito de se ver.

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rtmf // red bull skate generation

Esse parece que vai fazendo o que vier na cabeça, de acordo com o que vier pela frente. Duane Peters, fs rock’n’roll.

O mestre do estilo, Christian Hosoi, reservou belos laybacks para finalizar suas voltas.

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MARCOS KBÇA

red bull skate generation // rtmf

Leo Kakinho reinventou o skate no Rio Tavares. No footed.

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RESULTADO POR EQUIPES: 1º LUGAR Pedro Barros - R$ 7.500 Leo Kakinho - R$ 3.000 Christian Hosoi - R$ 2.500 Felipe Caltabiano 2º LUGAR Sandro Dias - R$ 6.000 Franco Bertagnoli - R$ 2.500 Jeff Grosso - R$ 2.000 Raul Roger Barracho 3º LUGAR Nathan Beck - R$ 5.500 Mauro Mureta - R$ 2.200

Duane Peters - R$ 1.800 Alex Sorgente 4º LUGAR Omar Hassan - R$ 4.000 Eduardo Braz - R$ 2.000 Marco Aurélio - R$ 1.500 Murilo Peres 5º LUGAR Marcelo Kosake R$ 3.200 Cristiano Mateus R$ 1.800 Luis Roberto Formiga R$ 1.500 Vinicius Barbosa


MARCOS KBÇA

O paranaense Franco Bertagnoli, reviveu seus bons tempos. Stale fish.

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NA VIVÊNCIA DEZ SKATISTAS REPRESENTANDO CINCO MARCAS, EM UM CAMPEONATO SEM CARA DE COMPETIÇÃO. A REGRA ERA NÃO TER REGRA; NÃO EXISTIRAM ADVERSÁRIOS, EM NENHUM MOMENTO SE FALOU EM HORÁRIO OU CRONOGRAMA. SABOREIE AS PRÓXIMAS PÁGINAS E ENTENDA O “NA VIVÊNCIA”, A ÚNICA “COMPETIÇÃO” QUE MISTURA BARRACA DE ACAMPAR, IMAGENS EM ALTA DEFINIÇÃO E MUITO SKATEBOARD. // TEXTO E FOTOS MARCELO MUG

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// na vivência

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na vivĂŞncia //

Gui da Luz, 360 shovit fs noseblunt reverse.

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Douglas Molocope, nollie bs noseblunt.

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Marcelo Marreco, transfer fs crooked reverse.

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// na vivĂŞncia

Gabriel Gomes, switch nosegrind reverse.

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na vivĂŞncia //

Everton Tutu, halfcab noseslide bigspin.

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Daniel Mordzin, switch backside lipslide subindo.

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na vivĂŞncia //

Ultrashock, fs grind to tailslide shovit out.

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C

olchão de ar, tripé, shapes, barraca, notebook, vela, repelente, televisão. Talvez alguns itens soem estranhos para a bagagem de uma skate trip mas, se você vai participar do “Na Vivência”, todos eles fazem muito sentido. Afinal, a ideia central é passar três dias acampado em uma skate plaza ao lado de skatistas e videomakers. A única missão dos acampantes é produzir uma parte de vídeo de até cinco minutos. Para essa primeira edição foram convidadas cinco marcas/equipes, cada uma composta por dois skatistas e um videomaker. Gian Naccarato, Patrick Vidal e JP Romero representaram a Öus; Daniel Mordzin, Everton Tutu e José Higuchi vestiram a camisa da Cisco; a Liga Trucks foi honrada pelo trio Gui da Luz, Douglas Molocope e Léo Coutinho. Marcelo Marreco, Gabriel Gomes e Rudy Silva formaram o exército da Posible, e a Ultrashock veio com os skatistas Willian Nutrix e Lucas Parafina, além do videomaker Bento Junior. Não espere os métodos doidos de pontuação do Street League nem a cobertura ao vivo pela TV no domingo de manhã. O Na Vivência surgiu para resgatar o skate na sua essência, livre, sem pressão, ao lado dos seus amigos. // A IDEIA Por que confinar um bando de skatistas em um sítio para andar de skate e filmar? A resposta é simples e vem direto da mente de Duda Santos, o

criador do Chiclé Vídeos, grande idealizador do Na Vivência: “É uma forma de valorizar os vídeos, as fotos, o registro da história, sem cobrança ou competição de fato. A equipe campeã surgirá naturalmente; ninguém vai se sentir pressionado na hora de dar um grind por estar pensando na premiação.” // A PLAZA “Um lugar isolado, perfeito para andar de skate, com um belo visual, seguro para acampar”. Se existe um pico que atenda todas as exigências pensadas por Duda Santos, esse lugar é a skate plaza da Cisco. Construída há pouco mais de um ano no terreno anexo à fábrica da marca, a plaza fica cercada de árvores, é contemplada com um senhor pôr do sol, localiza-se em uma região tranquila e é o paraíso dos skatistas que gostam do bom e velho street skate. // CONVIVÊNCIA Acampar implica em interagir, e muito, com as outras pessoas. Se todos ficassem hospedados em um quarto de hotel jamais vivenciariam experiências como as vividas nos três dias de barraca e colchão de ar. Em um canto, videomakers conversam sobre a mais nova fisheye lançada; do outro lado, Marcelo Marreco e Gui da Luz não desgrudam os olhos da novela das oito, enquanto, dois metros ao lado, Everton Tutu tenta pela centésima vez um de seus combos complicadíssimos. Eis

que finalmente a mocinha beija o vilão na TV, Tutu acerta o combo ao vivo e todos vivem felizes para sempre. Vivência pura. // SKATE, SKATE E MAIS SKATE Dormir é para os fracos. Quem queria repousar cedo tinha que ser surdo, ter sono profundo ou estar muito esgotado, pois o barulho do tail estralando no chão da Plaza se prolongou madrugada adentro todas as noites. Foi skate de dia, de tarde, de noite, de madrugada. Que tal um switch feeble shovit subindo a trave como aperitivo no café da manhã? Ou você prefere uivos de alegria para comemorar a linha acertada às três e meia da manhã? // COMPETIÇÃO Mas se tudo é tão livre, sem regras, porque insistir no rótulo competição? Bem, em um único ponto existiu de fato uma competição, que foi a escolha da melhor parte de vídeo. Alguns profissionais da mídia que acompanharam o Na Vivência, mas que não tinham nenhuma ligação direta com as equipes, julgaram uma série de itens para cada um dos cinco vídeos, como dificuldade de manobras, criatividade, edição e trilha sonora. No final, o vídeo produzido pelo trio da Liga Trucks levou o troféu de melhor parte, e passagens para Buenos Aires como premiação, justamente para continuar fazendo o que fizeram nesses dias: conviver e andar/filmar skate. A Vivência não para.

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na vivĂŞncia //

Patrick Vidal, fakie flip bigspin manual reverse.

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Gina Naccarato, bs ollie switch grind.

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entrevista am // akira shiroma

AKIRA SHIROMA

A FAVOR DO TEMPO

COMO TUDO EM NOSSAS VIDAS, CADA PESSOA TERÁ UMA HISTÓRIA E A ESCREVERÁ DE FORMA ÚNICA. O AKIRA ESTÁ VIVENDO UMA DAS HISTÓRIAS MAIS FANTÁSTICAS QUE JÁ PRESENCIEI NO SKATE. RAPAZ DE ORIGEM HUMILDE, COM UMA EDUCAÇÃO EXEMPLAR, APRENDEU DESDE NOVO A LIDAR COM PROBLEMAS FAMILIARES E BUSCAR NO SKATE SEU REFÚGIO, SUA DIVERSÃO. MORADOR DA PEQUENA CUBATÃO, LITORAL DE SÃO PAULO, APRENDEU A ANDAR DE SKATE, ANTES DE APRENDER MANOBRAS, DROPOU ANTES DE FLIPAR. ABANDONOU A ESCOLA, NÃO DEU VALOR PARA BENS MATERIAIS E SIMPLESMENTE DEIXOU O TEMPO FAZER O SEU TRABALHO - MESMO QUANDO NINGUÉM ACREDITAVA NELE, ELE ACREDITOU NO SEU AMOR, SUA PAIXÃO. O RECONHECIMENTO VEIO NA HORA CERTA. ELE JÁ SABIA O QUE VINHA PELO CAMINHO, AGARROU AS OPORTUNIDADES, ANDOU E ANDA MUITO DE SKATE, TODOS OS DIAS. CARISMÁTICO, COM UMA PERSONALIDADE ÚNICA, ESTILO PRÓPRIO E UMA ENERGIA INFINITA, É COM CERTEZA UMA DAS PESSOAS MAIS TALENTOSAS QUE JÁ PISOU EM CIMA DE UM SKATE. NO AUGE DE SEUS 21 ANOS DE IDADE, AKIRA ESTÁ NO COMEÇO DE SUA HISTÓRIA E, COM CERTEZA, O MELHOR AINDA ESTÁ POR VIR. QUEM VIVER VERÁ. POR GUEGA CERVONE // FOTOS FABIANO RODRIGUES

Q

ual foi a primeira vez que você pisou em um skate e o que sentiu? Primeira vez... A primeira vez, eu não lembro quantos anos eu tinha, mas pra mim foi como um brinquedo novo, uma nova diversão. Mas não imaginava que continuaria andando até hoje, que me tornaria um skatista mesmo. Um grande amigo nosso, Ragueb, diz: “Ver o Akira andando é ver um skatista que já viveu nesta terra em outros tempos, reencarnou para fazer ainda mais bem feito do que fazia.” O que pensa sobre isso? (Silêncio) Não sei nem como responder isso,

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nem se eu reencarnei. Não sei nem como dizer isso. Há pouco menos de seis meses, saiu sua primeira parte em vídeo, no Beats. Qual foi a melhor e a pior coisa de filmar essa parte? Pior: É que nunca dá certo filmar uma parte no Brasil; no momento que você planeja filmar, não tem alguém para filmar, ou porque simplesmente não casava o horário com o videomaker. Queria ter filmado muito mais coisas, porque confiava no Cotinz e sabia que o que ele fizesse ficaria animal. Não fiquei satisfeito com minha parte, com a sensação de dever cumprido. Fiquei bravo com o Cotinz e deixei de lado a amizade dele. Hoje em dia

estamos tranquilos, consigo entender o lado dele. Melhor: Foi ver o vídeo pronto. Fiquei muito feliz em ver as partes dos meus amigos e saber tudo o que eles passaram pra fazer cada uma delas. O que te prende em Cubatão? Minha família, meu passado, meus amigos, o bowl. Não estou longe de São Paulo, fico à uma hora da capital; sempre que preciso e tenho minhas responsabilidades, vou para São Paulo e faço. Também estou sempre viajando, então acabo não ficando muito em Cubatão. O que te pira? Te faz sentir vontade de andar e destruir?


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entrevista am // akira shiroma

‘‘

NÃO SOU MUITO FÃ DE COMPUTADOR, SEMPRE PREFERI ESTAR NA RUA, ANDANDO DE SKATE.

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’’

Frontside bonelles, São Paulo.


Wallride backside air, Santos.

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entrevista am // akira shiroma

Lien air, Curitiba.

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‘‘

VER O AKIRA ANDANDO É VER UM SKATISTA QUE JÁ VIVEU NESTA TERRA EM OUTROS TEMPOS, REENCARNOU PARA FAZER AINDA MAIS BEM FEITO DO QUE FAZIA.

’’

(RAGUEB ROGÉRIO)

360 flip, Florianópolis.

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entrevista am // akira shiroma

‘‘

A ÚNICA CERTEZA QUE EU TENHO É QUE VOU ESTAR ANDANDO DE SKATE; ESPERO QUE PROFISSIONALMENTE, QUE EU CONHEÇA MUITAS PESSOAS E LUGARES.

’’

Simplesmente o ato de andar de skate; sair andando de skate por qualquer lugar, a qualquer hora, ver uns vídeos de uns caras antigos, destruindo há muitos anos atrás. Passei por muita coisa e cada vez fico mais empolgado para andar de skate. Fale sobre sua paixão por MPB. Particularmente, hoje em dia, não vejo músicas nacionais de qualidade, só ouço o pessoal ouvindo funk. A MPB retrata o que os cantores viviam no passado, falavam de amores e natureza, há mais de 50, 60, 70 anos atrás. Isso agrada muito mais meus ouvidos; como ouvir um jazz, também. Qual é o seu problema com as redes sociais? (Risos) Não sou muito fã de computador, sempre preferi estar na rua, andando de skate. Uso computador mais para assistir vídeos, ver notícias, emails... Até tenho rede social, eu uso o Instagram (risos). Como você imagina sua vida daqui há 5 anos? A única certeza que eu tenho é que vou estar andando de skate; espero que profissionalmente, que eu conheça muitas pessoas e lugares. Essa é a vida que escolhi pra mim. Qual a diferença de você, que começou a andar de skate há 11 anos, para os moleques que começaram a andar hoje em dia? Na minha época não me importava com material, com roupa, com filmagem, com foto, gostava simplesmente de andar de skate, de sair de manhã e voltar só à noite. Hoje em dia, o cara começa a andar e está preocupado com a imagem dele; quer mostrar que é skatista. Hoje em dia é bonito andar de skate, não tem preconceito como antes. Agora é seu espaço, xinga, agradece, reclama, fala o que vier na cabeça... Xingar não, né?! Xingar só a polícia (risos). Não sou um cara bom para ser entrevistado. Sempre somem meus pensamentos... Valeu a todos! Quem é de verdade, sinta-se agradecido. Vocês sabem quem são.

// AKIRA SHIROMA 21 ANOS, 11 DE SKATE PATROCÍNIO: VOLCOM, ADIDAS, CRAIL, AGACÊ, EVOLUTION CUBATÃO, SP

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Frontside feeble, Santos.


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entrevista am // akira shiroma

‘‘

HOJE EM DIA É BONITO ANDAR DE SKATE, NÃO TEM PRECONCEITO COMO ANTES.

Backside tailslide, Curitiba.

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’’


Impossible into bank, Curitiba.

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casanova //

Varial heelflip.

PATRICK BEE

// FOTOS CAETANO OLIVEIRA

Por que o skate? Pelo estilo de vida, me identifiquei... Bee é de abelha? Como surgiu o apelido? Não, é desde criança. Nem tem um porque (risos). Como é viver em Itajaí? Aqui é da hora; praia e centro por perto, mas a cena da cultura de rua é carente. Fica todo mundo “abitolando” indo pra praia e pra balada. O que achou da entrevista do Jean Duarte? Gostei pra porra, uns picos embaçados e diferentes dos de sempre. Aquele wallie, então, foi muito embaçado! Além do skate, o que você mais gosta de fazer? Huuum... Basquete e rolêzinho com meu irmão. Qual é a principal característica do seu skate? Procuro andar em todos os terrenos. Qual o seu principal objetivo no skate? Evoluir num todo! // PATRICK TRINDADE A.K.A. BEE 21 ANOS, 7 DE SKATE PATROCÍNIOS: SANGBON SKATESHOP ITAJAÍ, SC

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“Fecha o Facebook!”





hot stuff // maio

// GLOBE – BANTAM Com a famosa frase “Skateboarding is Fun” como slogan, a linha Bantam de cruiserboards da Globe é um convite ao lazer. Com 14 combinação de cores, qualquer pessoa neste mundo (seja skatista ou não) tem vontade de ter um brinquedo destes para sentir o vento na cara. As rodas macias de poliuretano, os trucks atuais com garantia e o deck de plástico, permitem uma performance muito superior às versões originais dos anos 60 e 70. Globe – (11) 3525 0544 www.globe.com.br

// CAPITAL - DECKS A Capital Skateboard, marca criada em Brasília – DF, aposta há algum tempo no skate basudo de Jay Alves, de Minas Gerais. Prova disso são os shapes que levam o nome do cara, disponíveis em dois modelos. Os dois trazem referências mineiras, tanto no design quanto nas cores. Além disso, pode confiar no pop, pois a qualidade dos produtos é uma das principais preocupações da Capital. Capital – (61) 3547 9876 www.capitalskateboard.com.br

// THRASHER - CAMISETAS Thrasher é sinônimo de skate de verdade, e não é de hoje. A revista de skate mais agressiva do mundo investe pesado em produtos com sua marca, e essas três camisetas são alguns dos melhores exemplos disso. Seja com o clássico e famoso logo pegando fogo, com o pentagrama com rodas ou com a estampa do Skate Rock, você vai ser reconhecido como skatista por qualquer um que cruzar com você na rua. Thrasher – (11) 8528 3230 www.thrashermagazine.com

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// SUMEMO - CAMISETAS A Sumemo é uma das marcas que melhor representa o estilo de vida urbano. Com atitude e estampas marcantes, a marca continua espalhando a voz das ruas nessas três camisetas. Uma delas leva no peito o mais selvagem dos Z-Boys, Jay Adams, que, com certeza, representa com fidelidade os ideais e atitudes da Sumemo. Sumemo - (11) 2365 0019 www.sumemo.com.br

// DC SHOES – MODEL CHRIS COLE Este model assinado por Chris Cole foi criado com o pensamento no skatista profissional norte-americano. Com suede na parte de fora para máxima durabilidade, mas também uma bela aparência. Cole é conhecido por aniquilar sessions de street e campeonatos, com as manobras mais cascas e dedicou a mesma atenção ao desenvolver seu novo model. DC Shoes – (11) 3366 9280 www.dcshoes.com

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áudio // jello biafra

JELLO BIAFRA

& THE GUANTANAMO SCHOOL OF MEDICINE NO MÊS DE MARÇO TIVEMOS MAIS UMA OPORTUNIDADE DE VER ERIC REED BOUCHER, MAIS CONHECIDO POR JELLO BIAFRA, EM AÇÃO. ELE JÁ HAVIA PASSADO PELO BRASIL EM 2010 E NO LONGÍNQUO ANO DE 1991, PARA PROMOVER O ENTÃO LANÇAMENTO DO LIVRO BARULHO, DE ANDRÉ BARCINSKI. FORAM DOIS SHOWS HISTÓRICOS AO LADO DO SEPULTURA E RATOS DE PORÃO, UM EM SÃO PAULO, NO EXTINTO AEROANTA, E OUTRO NO CIRCO VOADOR, NO RIO DE JANEIRO. DIZ A LENDA QUE NESSE SHOW DO RIO ROLOU A FAMOSA HISTÓRIA DO BANHO DE JACUZZI DE JELLO E RENATO RUSSO (LEGIÃO URBANA), QUE HOSPEDOU O AMERICANO. MAS ISSO JÁ É UMA OUTRA HISTÓRIA... POR HELINHO SUZUKI // FOTOS DANIEL SILVA

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V

BECO 203/SP - 24/03

oltando a 2012! Jello ainda é uma figura emblemática, ultrapassa a barreira da música, é conhecido pelas suas críticas ácidas à sociedade americana e já tentou emplacar uma candidatura para a presidência, pelo Partido Verde. Desde 2008, quando formou o Jello Biafra & The Guantanamo School of Medicine, ao lado de Billy Gould (baixista do Faith No More), Ralph Spight, Jon Weiss e Kino Ball, ele vem fazendo tours ao redor do mundo. Já passava das 20 horas e a fila ainda dobrava a esquina da rua Augusta sob uma chuva intensa, quando o Agrotóxico subiu ao palco para aquecer a plateia. Infelizmente, não pude conferir a apresentação, mas todos que estavam lá elogiaram muito o show dessa veterana banda paulistana. Entre a troca de palco, pudemos conferir uma das melhores discotecagens de hardcore já ouvidas. Thiago Deejay estava inspirado, tocou de Rezillos à Cólera, de Ratos de Porão à Accused, e jogou o último pedaço de lenha na fogueira. Bastaram apenas alguns acordes para o caos ser instaurado! Punks, headbangers, straight edges, indies e afins se espremiam na frente do palco, davam moshes, com um só objetivo: ver a lenda viva do punk mundial. Apesar de uns quilos a mais e a calvície, Jello está em plena forma aos 53 anos, com uma voz perfeita, sem desafinar um só minuto e sempre fazendo suas famosas mímicas. A sensação era de estar em um show em 1984 do


jello biafra

// áudio

Dead Kennedys! Entre uma música e outra, ele consegue perfeitamente misturar a política com o sarcasmo, não caindo naqueles discursos chatos que fazem qualquer plateia dormir. O set foi baseado nos dois álbuns da banda, The Audacity of Hype, e o EP mais recente, Enhaced Methods of Questioning, incluindo músicas como "New Feudalism", "John Dillinger", "Dotcom Monte Carlo" e "Barack Star O' Bummer", uma homenagem ao presidente americano "rockstar e chato". Mas o melhor estava por vir; era o que todos realmente estavam esperando: as músicas do Dead Kennedys. Logo no começo do set já mandaram "California Ubber Alles", que não deixou nem aqueles fãs que se dizem "velhos" parados. Depois vieram "Too Drunk to Fuck", "Nazi Punks Fuck Off", que, segundo Jello, em 2010 foi pedida por todos mas eles não sabiam tocar. Dessa vez eles tinham ensaiado... Foi então que o Beco veio abaixo! Êxtase total! Mas a surpresa do set foi quando o baixista, um senhor de cabelos grisalhos compridos e descalço, começou a tocar a introdução de "Forkboy". Ninguém imaginava que eles tocariam essa música do LARD, um dos milhares de projetos de Jello Biafra, executada com imensa perfeição. Para fechar o set ainda teve "Holiday in Cambodia" e "Bleed for me". O que se viu ali foi uma verdadeira aula de punk/ hardcore, onde o público se respeitou do começo ao fim e pudemos presenciar um dos melhores frontmans do estilo e, porque não, do rock? Esse é um tipo de show que você, amante da música, tem que ver pelo menos uma vez na vida!

UM ICONOCLASTA IMPREVISÍVEL E PROVOCADOR // POR PAULO ANSHOWINHAS A primeira vez que eu ouvi falar em Dead Kennedys foi no início da década de 80, na revista Action Now, quando eu trabalhava na Wop Bop Discos, com o Pardal e o Kid Vinil, e andava de skate no Ibirapuera com o Bolota, Kuge, Thronn, Folha, Folhinha, Edu Britto, Tijolo, Danilo, Salada, Anjinho, Daniel Kim e outros Ibira Boys. Califórnia Ubber Alles e Kill the Poor eram a trilha sonora contagiante dos campeonatos de skate e das casas noturnas da época, como Anny 44, Napalm, Rose Bombom e Aeroanta. Em 1984, mandei cartas para a Alternative Tentacles Divine Light Mission, para saber se havia a esperança do DK vir para o Brasil. E nesse momento veio a surpresa de receber em casa cartas em papel timbrado

manuscritas e assinadas pelo próprio Jello Biafra! Além das cartas, Jello me enviava também adesivos, patches, buttons e fotos Promocionais. Uma dessas fotos foi publicada originalmente na revista Yeah! Skate, de 1986, uma das primeiras revistas do Brasil que falavam sobre skate e punk rock, e era feita em papel jornal colorido. Nesse período, ostentar um button, uma camiseta e até um adesivo do DK era um sinal de status, de poder, de emblema tribal. Para mim, Biafra sempre foi uma figura icônica. Um ídolo do hardcore, em uma época onde contestação tinha fundamento, além de ser um artista provocador que produzia seus próprios encartes nos discos – espetaculares e anarquistas. Jello voltou ao Brasil agora em 2012 com sua Guantanamo School of Medicine, e a galera compareceu em massa para reverenciar o grande mestre da polêmica e contracultura urbana. * Agradecimentos: Highlight Sounds e Hangar 110. 2012/maio TRIBO SKATE | 91


manobra do bem // por sandro soares "testinha"*

Quando o menos é mais

* Sandro Soares “Testinha”, agora com 34 anos de idade e 20 junto do skate.

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JUNIOR LEMOS

O

lá, nobre leitor da nossa Tribo Skate. Trago para você este mês uma reflexão que venho fazendo há algum tempo, sobre a importância de tentar entender alguns pontos de vista mais com a razão do que com a emoção, apesar de eu achar o skate um dos estilos de vida mais emocionantes que já conheci. Acredito que seja por isso que, há 20 anos, eu seja apaixonado por tudo que se refere a ele. Entendo perfeitamente que, para a geração que anda de skate há uns 12 anos, no máximo, eu dizer que vivo o skate há 20 anos não significa nada, pois nunca fui skatista de “ponta”, nunca tive parte de vídeo, não estou presente nas sessões, nos picos populares e nem tentando dar as manobras do momento. Isso para mim é tranquilo, pois neste momento da minha vida não me importa mais ser respeitado pelo que ando de skate, e sim pelo homem que me tornei ao longo dos meus 35 anos de idade. Na época em que eu vivia mais pela emoção dentro do universo do skate, achava frescura ver pais de skatistas acompanhando seus filhos em campeonatos e sessions de skate, e costumava me referir a eles como “skatistas filhinhos de papai”. Com o passar dos anos, entendi a importância dos pais acompanharem seus filhos nessas “aventuras”, desde que não fizessem pressão por resultados ou rendimento de manobras dos filhos, mas se divertissem vendo seus filhos andar de skate, ou até mesmo passar a andar de skate por causa deles. Algum tempo depois, estudando a história do skate, vi que alguns pais de skatistas, de vários lugares do mundo, não só acompanhavam seus filhos como passaram a colaborar na organização da cena do skate nos locais onde os herdeiros o praticavam. Um dos exemplos mais famosos é o Sr. Frank Hawk, pai da lenda Tony Hawk, que presidiu a entidade máxima do skate americano durante anos e criou o circuito mundial de skate no formato que já dura décadas. Uma excelente contribuição até os dias de hoje. Muito tempo depois, o pai de outro fenômeno do skate mundial, o Sr. André Barros, passou a acompanhar seu filho, o skatista profissional Pedro Barros, por diversos eventos de skate pelo mundo, sempre observando as qualidades e defeitos de cada evento e hoje, pelo segundo ano, promoveu um evento que, com certeza, entrou para a história do skate brasileiro: o Red Bull Generation (ver matéria nessa edição). O exemplo do André Barros é muito valioso para os críticos de eventos e, principalmente, para essa nova geração que aponta as críticas (com toda razão) dos eventos que vão participar ou assistir, mostrando para todos que melhor do que somente criticar, algumas vezes até ofendendo pessoas que não respondem pela organização de eventos (juízes, mesários, locutores, segurança e etc.) é agir com a razão, se unir e tentar fazer algo melhor do que foi apresentado. Outro bom motivo para deixar de agir com a emoção é tentar abolir o velho discurso que eu mesmo utilizei muito no início dos anos 90 onde dizíamos assim: “Nóis é favela, nóis dorme na rua e come pão com mortadela.” Como eu disse, já fiz muito do que essa frase quer dizer, mais do que a meninada de hoje faz pois, hoje em dia, muitos eventos ainda lhes oferecem água, frutas e até um lanche. Presenciei, recentemente, algumas das situações descritas aqui em um evento no interior de São Paulo, promovido por pais de dois talentosos skatistas, que assumiram todas as responsabilidades que um evento em pista pública requer: conseguiram o apoio da prefeitura local, contrataram uma equipe de trabalho com certa experiência e trouxeram o evento para a cidade deles. Porém, como tudo pode acontecer, o evento foi interrompido por uma garoa que vinha e ia embora com certa frequência. Os idealizadores do evento resolveram decretar como resultado final o resultado das eliminatórias. Ao iniciar a premiação, o tempo abriu e parecia que não iria mais chover, porém a decisão de encerrar o evento ali já havia sido tomada e não foi possível voltar atrás! Dou toda razão às pessoas que gostariam que o evento continuasse, pois no skate a diversão não tem hora para acabar. Mas em um evento com equipamentos alugados e horários a serem cumpridos não é possível trabalhar sem limite de horário para o término. As críticas vieram pelas redes sociais; algumas com fundamento, outras não. Tenho certeza que, para os organizadores, as lições serão bem-vindas. Como, por exemplo, tentar um lugar coberto. Ou, quem sabe, a promessa de um funcionário da prefeitura local de que em breve será coberta a pista; aí todos poderão entender que graças àquele evento, que para alguns foi “meia boca” porque parou com a garoa, a pista pública ganhou uma cobertura que irá os proteger não só da chuva, como também do sol forte.

Sandro e o garoto presenteado com seu skate.

Para encerrar essa reflexão, durante esse evento me lembrei da história de um dos ídolos dessa nova geração do skate, um garotinho lá de Porto Alegre que, quando criança, vivia pedindo o skate da galera emprestado até que, um dia, o nobre Nilton Neves o presenteou com um bom skate e o garotinho não parou mais de andar. Hoje é mundialmente conhecido e respeitado por seu nome: Luan de Oliveira! Eu me lembrei dele por causa de um menininho de chinelo que chegou a mim e pediu para dar uma volta. Andou, voltou, enquanto eu fiquei narrando o evento; toda hora ele saía com o skate, sumia um pouco e aparecia de novo. De tardezinha ele deu mais uma sumidinha; quando eu e outros amigos pensamos que ele tinha vazado com o meu skate, ele apareceu e disse: “Tio, toma seu skate. Um dia vou ter um, mas acho que minha mãe não vai poder comprar.” Na hora da premiação chamei o menino no palco e dei meu skate para ele. Me senti bem fazendo isso, pois pude proporcionar o surgimento de mais um skatista brasileiro, assim como o Nilton fez com o Luan. Com certeza, essa minha atitude não foi o fato mais lembrado do evento e não tem problema. Afinal, como eu disse lá em cima, às vezes o menos é mais.

APOIO CULTURAL



Esta foi a primeira vez do TNT no Brasa, para conhecer o nosso asfalto e concreto e mostrar o que sabe fazer. Tony Trujillo, rock’n’roll em São Paulo.

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// vans tour 2012

VANS PRO SKATE TEAM TOUR

O ATAQUE DA DIVERSIDADE ESTA VERSÃO DA VANS TOUR FOI COMPOSTA POR DUAS PERNAS: UMA DE STREET E OUTRA DE VERTICAL. POR MAIS QUE AS MODALIDADES SE INTEGREM EM MUITOS MOMENTOS EM PISTAS DE CONCRETO OU NO TUBO DE PARAIBUNA, UM BLOCO DE SKATISTAS DO TIME INTERNACIONAL VEIO PARA (TENTAR) EXPLORAR AS RUAS E OUTRO JÁ COM O FOCO PRINCIPAL NO EVENTO DE BOWL DO RTMF, EM FLORIPA.

A primeira barca foi composta por Geoff Rowley, Tony Trujillo, Johnny Layton, Daniel Lutheran, Chris Pfanner, Chima Ferguson e Danilo do Rosário. Aportaram no Rio de Janeiro, para os primeiros rolês e uma sessão de autógrafos na Boards Co. Além de fazer uma senhora presença com seus licenciados ao redor do mundo e a aproximação dos skatistas com seus fãs, uma tour como esta também serve para a captação de imagens em diferentes locações para os vídeos da marca e revistas envolvidas. No entanto é tudo muito corrido e nem sempre se tem tempo suficiente para sessions mais longas, em vários picos clássicos ou novos. Os caras têm que se virar com o que podem e foi assim que fizeram. Em São Paulo, foram apresentados a alguns picos de rua pelo Marcelo Mug e o team manager da Vans no Brasil, o Daniel Kim. Com tanto skatista sangue nos olhos, como estes, a session rendeu o que podia render. A prioridade ficou para o fotógrafo Anthony Acosta, além dos videomakers pesados que fizeram parte da trip. Talvez a sessão que tenha mais rendido foi a da casa da Helga, do Skate Paradise. Embora o tempo estivesse ruim, os caras secaram a mini ramp e andaram bastante. Foi uma parada bem nas internas, com churrasco, num dia que se alongou bastante. Neste mesmo dia, chegou a segunda barca, com os vert riders Chistian Hosoi, Jeff Grosso e Omar Hassan. Direto para os autógrafos na Bless Skateshop e depois, sem espaço pra descanso, uma demo no skatepark público de São Bernardo do Campo. A trupe inteira esticou para a Matilha Cultural, para celebrar mais uma vez os 20 anos do model Half Cab, ao som

do Sesper e Guizado, expo de fotos do Heverton Ribeiro e um coquetel. No dia seguinte, a primeira barca voltou aos EUA e a segunda embarcou pra Floripa. Por mais rápida que seja uma tour como esta, em que nem sempre os skatistas conseguem andar como gostariam, uma coisa é certa: o Vans Team é um verdadeiro culto à diversidade do skate. Some-se tudo que cada um destes caras andou em todos os terrenos possíveis nas suas, digamos, carreiras, e se terá um belo mosaico do skate contemporâneo. É ou não é? MARCELO MUG

POR CESAR GYRÃO // FOTOS ANTHONY ACOSTA

TNT, pushing em SP.

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MARCELO MUG

vans tour 2012 //

Segunda vez no Brasil, Johnny Layton curtiu a Zambo Ramp. Lien to tail.

Chris Pafner, bs rockslide.

MARCELO MUG

Cercado por câmeras, Daniel Lutheran experimentou o raimbow de São Bernardo. Frontside blunt.

Rowley, Praça da Sé.

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Kim apresentou o pipe de Paraibuna.


Descontração na mini é mato! Chima Ferguson, benihana.

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skateboarding militant // por guto jimenez*

Por que skate? MARCELO MUG

P

or que andar de skate?! Venho ouvido essa pergunta há quase tanto tempo quanto eu ando sobre um carrinho com dois eixos e quatro rodas de uretano. Cada um tem seus próprios motivos, mas a razão é que muda. Às vezes, pode-se andar de skate porque é algo que “todo mundo está fazendo”. Muitas gerações surgiram dessa forma, um amigo que ganha uma skate e empresta pra outro amigo, que fica fissurado e também acaba arrumando o seu próprio carrinho. É muito legal dar um rolê com os (as) camaradas, um puxando pelo outro sem inveja nem olho gordo, só pelo prazer de estar juntos. Outras vezes, viu-se o skate na tevê e resolveu-se experimentar. Pode ter sido através de um ídolo do skate, de um programa, um evento ou até mesmo de um comercial; alguma imagem animou e inspirou aquela pessoa diante da tela fria a fazer algo de diferente. E aí, a gente sabe o resultado: quando bate o vento no rosto e a sensação de controle sobre o skate, ferrou – mais uma pessoa está cooptada pra vida toda. Noutras ocasiões, a pessoa leva jeito pra coisa e resolve ser skatista profissional. Vai ter que ralar muito e quase suar sangue, já que a quantidade de skatistas que leva algum produto de marca ou loja é de perto de 0,01% do total de praticantes. Como em todo esporte profissional, é pra poucos (as) eleitos (as) e é o objetivo mais difícil de ser alcançado por qualquer pessoa. Seja da maneira que for, não existe motivo certo ou errado pra se andar de skate. As razões sim, essas precisam estar sempre bem definidas na cabeça de quem anda, pra que jamais se perca o foco. E você sabe, quando se perde o foco, é o corpo que acaba pagando o preço... Ué, mas não é a mesma coisa?! Nada disso, são conceitos bem diferentes entre si. Nós vimos acima os motivos que nos levam a andar de skate, que são variados e tem uma característica individual. E depois, por que não conseguimos mais parar? É aí que a coisa muda de figura. Se você anda pra ter fama, ser pro e estar na mídia, boa sorte. Além de fazer parte da elite que recebe material de graça e/ou ganha dinheiro pra andar de skate, outras responsabilidades te aguardam: compromissos com patrocinadores, viagens (nem sempre a lugares desejados), competições (fundamentais no cenário de nosso país)... levar uma vida de esportista, enfim. E saber que, ano após ano, a sua performance precisa se manter no topo já que a concorrência só aumenta em todas as modalidades. Por um lado, nada paga o preço de se ganhar a vida fazendo o que se gosta. Por outro lado, os perrengues que tornam essa possibilidade não tão divertida assim, como em qualquer emprego, aliás. Esse lado é dedicado exclusivamente aos que têm o skate como profissão. Já quem anda desencanado das responsabilidades e compromissos de

Akira Shiroma.

um (a) skatista pro, pode perfeitamente aproveitar ao máximo tudo aquilo que o skate proporciona de melhor. Dar um rolê com a galera, interagir com ruas, pistas, ladeiras, obstáculos e o que mais pintar pela frente, evoluir ou andar na firmeza. Estar entregue pura e exclusivamente à diversão, enfim. Seja qual for os seus motivos e as suas razões, procure manter em mente aquela sensação que você teve pela primeira vez que conseguiu controlar um skate em sua vida. Lembre-se do momento de prazer inigualável e inesgotável, na satisfação pra sua alma, na realização pro seu ser. Pela primeira vez, você se divertiu sobre um skate, e fez exatamente aquilo que se espera dele. Todos os dias, a toda hora: sempre ande de skate pra se divertir.

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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