Tribo Skate Edição 205

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André HienA * WilliAm Seco * mArio cAldAto * Pro rAd

entreviStA Lucas XaparraL II

15 PerguntAS PArA DanIeL crazy

luz eSPeciAl parque MaDureIra HiStóriAS SuburbAnAS LInha aMareLa

Lucas Xaparral, nosegrind ano 22 • 2012 • # 205 • r$ 8,90

www.triboskate.com.br












Mas o skate brasileiro cresceu ‘‘ bastante e vai crescer mais ainda nos próximos anos. Vejo uma crescente no mercado de skate nacional e isso me deixa muito feliz. (Lucas Xaparral) 12 | TRIBO SKATE novembro/2012

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// índice novembro 2012 // edição 205

eSpeciaiS> 42. 15 perguntaS para daNiEl CraZy 52. Luz eSpeciaL parquE MadurEira 64. entreviSta pro luCas Xaparral ii 78. HiStóriaS SuburbanaS liNHa aMarEla SeçõeS> Editorial .................................................... 014 Zap ................................................................. 022 Casa Nova .................................................. 084 Hot stuff.................................................... 090 Áudio ............................................................ 092 MaNobra do bEM..................................... 096 skatEboardiNg MilitaNt ..................... 098

Capa: É impressionante como Lucas Xaparral está produzindo nestes últimos tempos. O cara está cada vez melhor, mais apurado, ousado e equilibrado. Frontside nosegrind numa daquelas muretas docinhas da Califórnia (EUA). O melhor aperitivo para sua segunda entrevista na Tribo Skate como profissional. Pesado! Foto: Fellipe Francisco Índice: Estendendo sua fama de mau, no bom sentido, pelo Velho Continente, Diego Fiorese agora tem um pedaço seu em Copenhagem, Dinamarca. Frontside smith. Foto: Maria Kristine Vous

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Marcelo Mug

editorial //

E

m nosso último editorial, falamos das novas superfícies que estão revestindo alguns espaços de nossas cidades. Os guerreiros skatistas brasileiros, criados nas condições mais precárias, se fortaleciam justamente por sua capacidade de adaptação aos mais diferentes terrenos. Nesta edição, voltamos com mais imagem do que texto neste espaço, para manter a discussão e refletir o contexto. Por um lado, o Diego da foto estampada encara um gap to frontside boardslide numa construção não tão nova assim, mas sua volta não é sobre calçada de pedra portuguesa. Por outro lado, mais pra frente você vai se deparar com o primeiro ensaio fotográfico sobre a pista do Parque Madureira, no Rio, outro tipo de situação que está empurrando o nível de skate para cima, devido à excelente qualidade de seu desenho, acabamento e superfície. O prazer de acertar manobras em locais mais perfeitos é muito maior, mas aumentam também os desafios de “complicar” ainda mais o que se vai aplicar nos novos picos que estão Diego Wanks, gap to boardlslide. surgindo. (Gyrão)

Novos revestimentos ii 14 | TRIBO SKATE novembro/2012





ANo 22 • NoVEMBRo DE 2012 • NÚMERo 205

Editores: Cesar Gyrão, Fabio “Bolota” Britto Araujo

Próxima edição 206

Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Arte: Edilson Kato Redação: Chefe de redação: Junior Lemos Marcelo Mug, Guto Jimenez Fotografia: Marcelo Mug, Junior Lemos

DiDi Nagao

Colaboradores: Texto: Sandro Soares, Ramon Ribeiro, Bruno Collyer, Renata Lopes Fotografia: Fellipe Francisco, René Jr., Ramon Ribeiro, Pedro Macedo, Maria Kristine Vous, André Calvão, Diogo Groselha, Mario Caldato

JB Pátria Editora Ltda Presidente: Jaime Benutte Diretor: Iberê Benutte Administrativo/Financeiro: Gabriela S. Nascimento Circulação/Comercial: Patrícia Elize Della Torre Comercial: Daniela Ribeiro (daniela@patriaeditora.com.br) Fone: 55 (11) 2365-4123 www.patriaeditora.com.br www.facebook.com/PatriaEditora Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações - Anatec

Impressão: RR Donnelley Brasil

˜ ClaUdio seCCo, gUi barbosa, leo kakinho, Jorge kUge, JUnae lUdvig, Cris mateUs, ClaUdio higa. ˜

Urgh 30 anos a identidade do skate brasileiro

Bancas: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907, Grajaú Rio de Janeiro/RJ - 20563-900

Distribuição Portugal e Argentina: Malta Internacional

Deus é grande! São Paulo/SP - Brasil www.triboskate.com.br E-mail: triboskate@triboskate.com.br

A Revista Tribo Skate é uma publicação da JB Pátria Editora. As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista. Dúvidas ou sugestões: triboskate@patriaeditora.com.br





zap //

Poucos skatistas tiveram a coragem de se jogar nesse corrimão no bairro da barra Funda, em são Paulo. o chão ruim, o cano colado na Parede e o movimento incessante de carros são detalhes que não imPediram léo Fagunz de voltar esse embaçado gaP to Frontside liPslide. tá curioso Pra saber como Foi a luta até o acerto PerFeito da manobra? acesse www.triboskate.com.br e conFira o vídeo exclusivo. // Foto e vídeo marcelo mug

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O profissional “Real Família” Rafael Finha não mais conta com o suporte da Nike - seu contrato não foi renovado. Mas como o cara é ponta firme e representa muito no skate, certamente logo estará agregando valor a alguma outra marca de tênis. • [01] East Dogs é o nome da mais nova crew de skatistas de São Paulo. Os “cães da leste” Thomas Santos, Henrique Siqueira, Otavio Croce, Micke Velozo, Willian Puertas e Amauri Santinato misturam skate, surf, arte, música, carros antigos, festas, amigos, boas vibrações, ações sociais e transformam essa diversidade em momentos únicos de curtição com o skate. facebook.com/ EastDogs. • [02] Novos modelos de shapes Organika do brasileiro Adelmo Jr., que recentemente apresentou seu atual projeto pessoal para o skate: a R.A.S. Bearings. • [03] Outro skatista que mostrou sua mais nova estampa de shape foi Luan de Oliveira, que teve model lançado pela Flip com o escudo do seu time preferido: o Grêmio. Lembre-se que o seu “nome artístico” não tem o de no meio e sua assinatura na Flip é Luan Oliveira. • [04] A parceria entre a Mary Jane e a skatista bicampeã mundial Karen Jonz tem rendido bons frutos. Karen desenvolveu um modelo de skate shoes que será lançado na feira calçadista Zero Grau, em Gramado/RS. Sem esquecer que a skatista já assina a coleção Jonz para Mary Jane, com linha de produtos direcionados ao lifestyle do skate e estampas exclusivas criadas para sneakers. • [05] Sangue novo na equipe Öus: Pedro Biagio, skatista de Maringá/PR, de 18 anos e que surpreende pelo rolê consistente, agora coloca oficialmente os tênis Öus para ralar na lixa do skate. • Subcity é a mais nova ideia desenvolvida pelo Jefferson Candido voltada para a fabricação de skate. Todos os envolvidos diretamente na parada andam de skate o que acrescenta ainda mais qualidade ao produto, tendo em vista a bagagem de 15 anos do cara na fabricação de shapes. O time se completa com o Stanley Inacio, Akira Utida , Alex Lequinho e Gabriel Loureiro. • [06] A New Skate fechou parceria com as garotas do programa semanal Skate Paradise para vestí-las com a confecção Newgirl. Helga Simões e Andrea Ramos, que sempre representam o skate brasileiro por onde passam, representarão agora também a New Skate Brasil afora.

till the end na estrada Nada como o próprio dono da marca para apresentar seus produtos aos lojistas e consumidores finais. Ideia ainda mais positiva quando os responsáveis pela iniciativa são skatistas referência dentro do universo do skate brasileiro. É o que está acontecendo por cidades do interior paulista e mineiro com os profissionais Fábio Sleiman e Sandro Dias. Os caras colocaram literalmente o skate na estrada e estão fazendo visitas surpresas a lojas de skate nestas cidades como forma de apresentar a Till the End ao mercado. E a visita inusitada está agradando tanto aos profissionais, que apresentam seu novo trabalho e ainda colhem informações valiosas sobre o que está rolando no interior do Brasil, tanto quanto aos lojistas e skatistas locais, que podem conhecer melhor seus ídolos e também tirar aquela foto que ficará como recordação de uma surpresa bem style que a Till the End Skateboards está promovendo. A dica é que ficar atento ao facebook.com/TillTheEndSkateboards porque a loja de skate da sua cidade pode receber a visita do hexacampeão mundial vertical Sandro Dias e do destruidor de corrimãos Fábio Sleiman.

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the skateboard dream Uma distribuidora diferente, com marcas emergindo da cena underground de San Diego, na Califórnia - marcas novas e a ATM, de John Falahee, da primeira geração de fabricantes de skate, que trabalhou com Tony Alva e Mark Gonzales. E também uma marca nacional oferecendo shapes feitos nos EUA. Uma distribuidora com este perfil, precisa de uma liderança que conheça muito de skate, e também do mercado. E, por fim, tem que oferecer um atendimento tão bom quanto os seus produtos, de primeira linha. Trata-se da California Dream, de Ari Bason, à frente da Junk3 Distribution, junto aos sócios Luiz Herzberg e Alexandre Sarno. Com um showroom style na Vila Olímpia, em São Paulo, a distribuidora começa com sete marcas: ATM Click, Vagrant Skateboards, Iron Horse Skateboard Supplies, Broadcast Wheels Co, Stacks, Blacksmith Trucks e a paulistana 1968!





Marcelo Mug

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William Seco, controla o bs nosegrind em SP.

William Seco É foda quando saímos pro rolê sem música! Escutar o skate interagindo com a rua também é style, mas é sempre mais da hora quando temos aquele som como trilha sonora da sessão. Trazendo a máxima “diga-nos o que escutas que te direi quem és”, trazemos de volta para as páginas da Tribo Skate a seção Playlist. E quem mostra as 20 músicas que estão tocando com frequência no Ipod durante a sessão é o profissional de Botucatu/SP, William Domingues Seco (Snoway, Gobby Trucks e Jows).

Petite soeur, Ben L’Oncle Soul

Time of your song, Matisyahu

We jammin, Bob Marley

Como eu vou deixar você, Paulo Diniz

Every teardrop is a waterfall, Coldplay

A vaga, Rodrigo Ogi

Contratempos, Contra Fluxo

Tá pra noiz, SP Funk

No sapatinho, Criolo Doido

Azul da cor do mar, Tim Maia

Siempre peligroso, Cypress Hill

Jesus of suburbia, Green Day

Som do diamante, Jackson

Minha fé, Zeca Pagodinho

Gotta have it, Jay-Z & Kanye West

I love it, Young Jeezy

New York, Jay-Z & Alicia Keys

A vida é desafio, Racionais Mc’s

Teardrop, Massive Attack

Closing time, Semisonic

Blitz fecha com a Plimax A experiência de mais de três décadas na distribuição das melhores marcas de skate, surf e bike contou muito a favor da entrada da Blitz Distribution na Plimax. Sob coordenação do skatista profissional de longa data, Cristiano Pira, o guarda-chuva da distribuidora de Per Welinder cobre as marcas Black Label, Sk8Mafia, Hook-Ups, Fury Trucks, Momentum Wheels, Emergency, Life Extention (LE). Entre os skatistas envolvidos com estas marcas, vai do master John Lucero (fundador da Black Label), Oman Hassan, Salman Agah, Jimmy Cao, Kellen James, Javier Sarmiento, Tony Tave, Nick Trapasso, entre outros grandes nomes do skate mundial. Contatos: pira@plimax.com ou telefone (11) 3251 0633.

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ishod war Preso mais uma vez, a nova e PerFeita Praça roosevelt e o machucado vira obra de arte: nada Passa em branco Para os nossos amigos instagrameiros, que recheiam o talk show deste mês.

Para tudo, para ‘‘improviso é o ‘‘tudo! tiiiiiqueee que liga! skills tiiiiquee!’’ to pay the bills!’’ daniel crazy (@daniellopesbastos)

Fernando granja (@instagranja)

Parceria ‘‘eterna. ’’

raPhael kumbrevicius (@kumbrevicius)

@chimafergu‘‘ son #vansproskatetour’’ anthony acosta (@aacostaa)

esse cara não ‘‘nova roosevelt ‘‘o spot precisa ‘‘de uma casca ‘‘consegue ficar e suas bordas de de reforma! e pode sair o que

longe de confumadeira. todo são #freeishod ano podia ser ano #skatetodosanto- de eleição! assim dia #talveznãoa- nem me importo manhã @ishod (risos).

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eric koston (@erickoston)

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jP dantas (@jpdantas)

agora? o que você skatista vai fazer para mudar isso? #tamojunto #upgrade #spots #yourself

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thiago Pingo (@thiagopingo)

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você imaginar, basta criar.

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renato souza (@renatosk8)



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União de forças // texto e FotoS marcelo mug O Pro Rad Jump Festival, evento que reuniu skate, bmx e música no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, veio com duas grandes novidades nesta edição de 2012. A primeira é no âmbito político: este foi o primeiro evento após o anúncio da parceria entre a CBSK (Confederação Brasileira de Skate) e a CBER (Confederação Brasileira de Esportes Radicais), um fato histórico, goste você ou não da parceria. A outra grande novidade nesta nona edição do Jump Festival foi a inclusão da competição de skate vertical profissional, que foi a grande atração do final de semana. A plataforma do half estava tomada de representantes de várias gerações do vert brasileiro, nomes como Digo Menezes, Rony Gomes, Pedro Barros, Sandro Dias, Edgard Vovô, Dan Cezar, Sergio Negão, Vitor e Mizael Simão, Lincoln Ueda e Ítalo Peñarrubia. Na final, Dan Cezar fez uma apresentação recheada de manobras técnicas e levou o ouro, seguido de perto por Pedro Barros e suas manobras contorcidas e estratosféricas. Pedro barros, stalefish 540.

dan cezar, stalefish.

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André hienA

• Megarrampa na manhã de domingo na TV, o nosso Pedro Barros com uma já grande carreira mundial sem sequer ter atingido a maioridade e até mesmo atores como Murilo Benício, o Tufão da novela, aparecendo em horário nobre praticando o esporte. Como você, que com certeza passou grandes dificuldades na sua carreira, enxerga o atual cenário, que ao meu ver é o mais promissor de toda a história do skate brasileiro? (Vinícius Wiest, Novo Hamburgo/RS) – O skate vem crescendo a cada ano, muitos simpatizantes passaram a olhar pra ele como um esporte, diminuindo a marginalização que sofríamos anos atrás. Com as aparições na mídia, o skate tornou algo comum a todos, tanto nos eventos como também em comerciais de diversos segmentos. Vários skatistas conquistaram espaço nas mídias, mundo afora. Mas precisamos mostrar que skate não é só competições; existem pessoas que vivem dele. O skate tem outros trabalhos por trás, como apresentações, vídeos, revistas, empresas. Acredito que o cenário do skate vai crescer ainda mais. Muitas pistas estão sendo construídas, muitos skatistas estão por trás do mercado, se estruturando. Mas nunca podemos esquecer o que outros skatistas fizeram antes, por isso acho que todas as gerações são promissoras. • Salve Hiena! Me inspiro até hoje em você, pra continuar andando de skate com a cabeça erguida, com muita alegria e sem constrangimentos. A gente sabe que você ralou muito para conquistar o espaço que tem hoje (profissional, empresário, árbitro da CBSK). O que mais você gostaria de conquistar e evoluir em ter termos de skate e na vida pessoal? E o que é que tira o André Hiena do sério no dia a dia? (Gervásio Barbosa de Araújo Júnior, Teresina/PI) – Obrigado pelas palavras. Espero sempre poder ajudar e inspirar outros skatistas, como muitos já me ajudaram. O skate vai estar sempre na minha vida! Acredito que conquistei muitas coisas no skate por sempre olhar pra frente, mas sem esquecer de viver o presente, focado no skate. Nunca estou satisfeito com minhas conquistas, busco sempre aperfeiçoar e evoluir com tudo que vivo. Pode ter certeza que sempre vou andar de skate, fazer crescer minhas empresas e poder um dia olhar pra trás e ver que tudo isso valeu a pena. Quero ver nosso país sendo respeitado, as pessoas terem orgulho dos skatistas e de tudo que envolve o skate. Sobre a segunda pergunta, sou um cara estressado e é fácil me tirar do sério. Odeio pessoas folgadas, pessoas que desrespeitam as outras. • Você já é um skatista das antigas e mesmo assim consegue manter o nível do rolê, com manobras e estilo atuais. Você acha que é possível uma pessoa se manter hoje em dia sendo apenas skatista e vivendo de patrocínios e apoios? No seu caso, você está se mantendo sendo empre// André Ervolino ribEiro iro PAtrocínios: snowAy, VegetAl Al skAtes, MetAlluM trucks rucks 38 Anos, 24 de skAte A Ate são PAulo, sP

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Marcelo Mug

skatista ProFissional, emPresário que deFende o mercado nacional com suas marcas (vegetal e metallum), árbitro da cbsk e dono de uma incalculável exPeriência voltada Para o skate, o Paulistano andré hiena mostra no linha vermelha um Pouco da essência que o acomPanha: valorizar o nosso skate aqui no brasil e Por onde For. sário com suas marcas Vegetal e Mettalum, ou vive sendo profissional de skate pela Snoway? Você tinha patrô da Crail e depois você começou a Mettalum. A Crail ajudou a montar a sua marca? (Thiago Felipe, Mogi das Cruzes/SP) – Vamos lá, por partes! Procuro andar de skate todos os dias, em diversos lugares e me alimentando bem, saindo bem pouco nas noitadas (risos). Acho que isso ajuda na evolução. Ando de skate desde 88, onde alguns skatistas viviam do skate. Com o plano Collor tudo isso mudou, o skate teve sua baixa e dificultou poder viver do skate, no co começo dos anos 90. Mas em 94 acredito que foi melhorando e alguns skatistas profissionais foram conquistando seus espa espaços e sendo valorizados. Hoje em dia muitos vivem apenas andando de skate. Eu tenho minhas marcas, mas também tenho patrocínio da Snoway, que me mantêm andando de ska skate profissionalmente; tenho cobranças pra fazer anúncios, via viajar para apresentações, levar o conhecimento pra dentro da empresa, ajudar nos projetos e tudo que envolve a marca. Estou lá há quase oito anos. Tudo ajuda pra me manter andando de skate, tanto a Snoway quanto minhas marcas. Minha vida é skate. Fui da Crail há alguns anos, criando uma amizade mui muito forte com o Serginho. Eu tinha um projeto da marca de trucks e ele também. Com nossa ami amizade, juntamos as coisas e surgiu a Metallum trucks. Serei sempre grato por tudo que já vivi na Crail, por tudo que o Serginho me ajudou e pela parceria. • É uma satisfação enviar esse email! Te Tenho 32 anos de idade e ando desde os 8. Hoje, com esse atual cenário, compensa ficar aqui e fortalecer cada vez mais seu nome e suas marcas ou ir para a Grin Gringa? Antes era o sonho de todo skatista ter grandes marcas te apoiando, viver do skate, ter diversos picos styles pra fazer uma session e ainda se divertir com os brothers. (Rodrigo Starbe, São Paulo/SP) – Obrigado Rodrigo! Acho que todos os skatistas sonhavam com o mercado americano, com a fama e onde o skate mundialmente nos levasse. As coisas não são mais assim; lá fora também é bem difícil, são inúmeros skatistas conquistando seus espaços, buscando ser reco reconhecidos. O melhor é poder viver de skate no Brasil e viajar o mundo. Andar nos diversos países e voltar pra cá. Muitos es estão fazendo isso, como muitos skatistas que viviam lá nos EUA estão voltando. Aqui acredito que tem mais respeito, menos co cobranças e mais liberdade pra se andar de skate, com marcas valorizando o skatista. Eu sempre lutei pelo skate no Brasil. • Você já deve ter vivido várias experiências em cima do skate. Quais foram os momentos bons e ruins que trou trouxeram alguma lição de vida? (Taiguara Luciano, Cuiabá/MT) – O skate me levou pra diversos lugares; conheci muitas pes pessoas através dele. O skate me fez crescer na vida, aprendi a viver a vida, respeitando e sendo respeitado. Os momentos ruins são os machucados que sofremos, a dor que passamos; mas isso cicatri cicatri-



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André hienA za, só deixando as coisas boas e felizes de conquistas. Meu maior orgulho é ser skatista profissional e viver do skate! • Qual a maior importância do skate para o mundo e o que ele mostra para a população, nos dias atuais nesse cataclisma de contradições e molduras fictícias? E sobre as ideias inteligentes com pouco argumento de tornar o skate um esporte olímpico? Valeu, só por ler isso. Você é referência pra todos que andam e os que admiram o skate. Continue assim até o fim do drop! (Anderson Evangelista, Santa Fé do Sul/SP) – Em primeiro lugar obrigado pelos elogios. São milhões de skatistas conquistando o seu espaço, movendo milhões na economia e o mais importante, se divertindo deixando as pessoas assustadas. Com o skate nas Olimpíadas, teremos uma maior valorização e respeito. Mas, por outro lado, acho estranho um estilo de vida ser levado como esporte olímpico. Não temos regras, nem obrigações no skate, cada um anda como acha melhor. Para aqueles skatistas que conseguem se destacar competindo, será uma grande conquista, representar o país, ganhar uma medalha olímpica. Mas o que mais importa pra mim é o skate representar em tudo e todo lugar possível. • Salve Hiena e toda equipe Tribo Skate. Meu nome é Marcos ET, sou local do CEU Butantã, Clan para os locais. Ando de skate há 27 anos, passando pelos altos e baixos do skate, mas sempre tirando onda e me divertindo. Acompanho sua carreira desde a época de iniciante nos vários campeonatos que tinham nos anos 80 de street skate, em quadras e pistas. Depois, vi você na categoria amador, se destacando e sempre trabalhando sua carreira no skate até chegar a ser profissional. Me lembro daquela época: o skatista tinha que ter uma carreira no iniciante e amador em termos de colocação, skate no pé, fora o ok dos 16 primeiros que já eram profissionais. Enfim, não era fácil. Quem ia para a categoria era porque merecia mesmo! Hoje em dia vejo vários skatistas entrando para a categoria na tentativa de se agilizar financeiramente; até entendo. Porém, muitos não fizeram carreira no iniciante, amador e etc, como mandava na época. Aí que vem a minha pergunta: o que você acha dessa bozolândia de skatista que não tem caminhada da hora nas categorias de base e já quer entrar para a categoria profissional? Você acha que tá bagunçado; é a época que estamos ou minha visão está errada? Hahahaha! Passa sua ideia aí! E se eu estiver errado na minha visão, pode soltar a voz. (Marcos ET, local do ‘Clan’, São Paulo/SP) – Grande ET, respeito sua colocação: existem sim, muitos skatistas que acabam passando para profissional sem experiência ou sem suporte pra se manter na categoria. Hoje em dia são muitos skatistas; na minha época eram menos e todos que passavam para profissional eram avaliados, pois até quando eu passei fui questionado por alguns profissionais que estavam contra. Mas já tinha viajado pra todos os estados, ganhei vários eventos, aparições em revistas, tinha patrocínio que me dava suporte e nível pra estar ali com todos os pros. Com a CBSk foi criado um comitê de skatistas profissionais para cada categoria, que aprova ou desaprova quem está passando para profissional. Acredito que tinha que ser mais rígido; depois não dá pra voltar atrás e aí começa a desvalorização por falta de grana, falta de patrocínio e falta de oportunidades. O próprio nome já diz: profissional. E o próprio mercado dá conta de afastar quem não se enquadra.

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• Qual foi o motivo ou de onde saiu tanta inspiração pra lançar logo duas marcas no mercado brasileiro? (Evandro Oliveira, São José do Rio Preto/SP) – Inspiração é skate e as expêriencias que conquistei todos esses anos. Uma realidade que busquei pensando no mercado e uma preocupação futura, porque não sei até quando vou conseguir viver profissionalmente. Acho que também é um sonho de muitos skatistas usar a experiência, criar e produzir algo que agrade a todos, ajudando outros skatistas. Sou grato e orgulhoso em ver meus produtos circulando nos pés de vários skatistas! Agradeço a todos vocês que valorizam meus produtos. • André! Sabe-se que hiena é um animal que vive rindo, porém ele é carnívoro, sinistro e fica rangendo os dentes, assustando outros animais. Qual é a brisa que estavam tendo ao apelidar você de Hiena? Era do bom? Hahahaha! Preciso do shape hein! É sério! Abraço família! (Hebert Rodrigues, São Paulo/SP) – Meu apelido veio de um amigo chamado Ronaldo, morador da Saúde nos anos 80. Aquela época se andava na rua; existiam diversas turmas nos bairros, (crews); eu sempre ia andar próximo de casa e muitos não sabiam meu nome. Um dia o Ronaldo falou de mim e como não sabia meu nome, ele disse: “Ha! O moleque que está sempre rindo, parece uma hiena”. Todos começaram a me chamar de Hiena e o apelido pegou. Sou feliz, estou sempre sorrindo! Mas essa pergunta não foi a que mais gostei, ficou sem o shape. Kkkkkkkkk! • Quais são as cenas que passam pela sua cabeça ao ver que hoje você se tornou um grande profissional do skate? E quais as pessoas você agradece por isso? (Marcos Vinícius, Carapicuíba/SP) – As cenas que passam, foram de quando comecei: não conseguia nem descer a calçada; passei dias tentando um ollie e outras manobras. Consigo lembrar da minha evolução. Conheci muitos lugares, pessoas e fui adquirindo experiência, escutando todos os envolvidos com o skate, me informando. Sempre que pude estava presente nos eventos, apresentações, palestras, inaugurações, sessões. Minha família me fez aprender, observar, respeitar e valorizar o lado bom das coisas e nunca desistir. Não sei se meu lado crítico me fez valorizar e conquistar meu espaço no mercado; acredito que sou e serei sempre um skatista preocupado com o skate. Irei lutar por todos, fazer o possível para ver o skate valorizado e respeitado como no mundo todo. Agradeço à minha família, amigos, parentes, todos os empresários, mídias e pessoas envolvidas com o skate que fizeram algo, ajudaram de alguma forma, direta ou indiretamente. Todos os meus patrocinadores, desde que comecei, cada um teve a importância para eu estar aqui; a todos os skatistas do Brasil e do mundo afora. – “Parabéns a você Marcos Vinícius, de Carapicuiba/SP! Sua pergunta foi bem simples e direta; pra mim a melhor do meu Linha Vermelha. Tenho o enorme prazer em te presentear com meu shape Vegetal” André Hiena PróxiMo enfocAdo: pAulo piquEt enVie suAs PerguntAs PArA triboskAtE@triboskAtE.com.br, coM o teMA linhA vErmElhA – pAulo piquEt. coloque noMe coMPleto, cidAde e estAdo. MAndA Ver!


Marcelo Mug

// zap

tailslide to switch crooked bigspin out, na nova Praรงa roosevelt, em sP.

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crazy revisita // aracaju

15 Perguntas a

Daniel Crazy

// TexTo e foTos Ramon RibeiRo

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Switchstance heelflip em seu primeiro dia na cidade. De dentro pra fora do Cara de Sapo Skatepark.

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aracaju // crazy revisita 1. Em 2003 você esteve em Aracaju pela primeira vez. O que foi que o levou até a cidade naquela época? Foi a sua primeira viagem ao Nordeste? Não sei se foi realmente em 2003, acho que foi antes. Creio que 2003 tenha sido o último ano que colei em Aracaju! Foi em 2001 que comecei a colar por estas áreas. Comecei porque trampava pra Inc3, e o dono da marca, o Fábio, tinha uma relação com Aracaju por ter patrocinado o (Lúcio) Mosquito na época da Fórmula. A marca vendia legal no Nordeste; colei em Aracaju pra fazer um trampo e já tava ligado na Aracaju Family. A rapaziada era muito parecida com a crew que eu andava aqui no Sul e foram longos três anos de convivência com a gurizada daí. Criamos laços que duram até hoje, tenho muito carinho por todos de Sergipe. 2. Como foi rever os amigos de Aracaju após 10 anos?

Foi uma grande satisfação colar em Aracaju novamente por quatro dias e reencontrar alguns de tantos irmãos que fiz por estes lados; foi irado! Legal foi ver que se passaram 10 anos e os manos ainda estão ali em cima do skate. Nem foi por manobra ou por estilo e sim pela energia que carregamos em cima do skate que estamos aí ainda, encurtando laços e relembrando as fitas de 10 anos atrás!

3.

E como foi essa convivência na primeira visita? Soube que passou quase um mês por lá e até pegou uma dengue de quebra? Na real não me lembro muito bem, mas a primeira vez que colei em Aracaju acabei dormindo na rodoviária; tinha chegado no começo da madrugada e não consegui falar com ninguém. Acho que estava vindo de um campeonato na Bahia; acho que era até daqueles que rolavam nos festivais de verão. Mas no outro dia já me agilizei e fiquei na casa do (Fábio) Galinha na primeira vez; na real não me lembro. Mas nestes três anos fiquei na casa da maior galera: do Hugo, (Carlos) Papel, Julio Detefon. A parada da dengue foi o seguinte: tinha ido pra Recife,

backside flip na briza do jardim da orla de atalaia.

2012/novembro TRIBO SKATE | 45


crazy revisita // aracaju fazer um tempo, e quando voltei de lá a parada me pegou geral. Tipo, peguei dengue em Recife mas o sofrimento foi em Aracaju. A parada foi louca, do tipo perder 10 kg em uma semana. Eu estava na casa do Papel no momento; daí a coroa dele deu um help legal. Usei até o plano dele porque a tia viu que eu tava mal mesmo! Fomos para o hospital e foi detectada a dengue. Foi barra pra mim; longe de casa e dos cuidados devidos, quase morri! Hoje dou risada, mas a coisa foi feia. Agradeço a família do Papel pela força.

4. Quantas e quais cidades do Nordeste você já visitou e como eram os

campeonatos naquela época? A vibe, organização e etc? Naquela época ficava no eixo Salvador, Recife e Aracaju. Hoje conheço todo o Nordeste. Os campeonatos naquela época na região eram como em todos os lugares do Brasa, tinham o mesmo formato. Me lembro de um (circuito) nordestino em que o Detefon chorou porque não iria se dar bem! Hahahah! Mas campeonato é campeonato, nunca dependi de competição. Curto a vibe de encontrar vários amigos e no Nordeste isso é bem louco, porque o calor ajuda a rapa a tomar uma cerva e curtir um soltinho! A vibe é sempre boa e a humildade sempre predomina.

5.

Naquela época tínhamos bastante profissionais em ascensão no Nordeste, circuitos completos e vários skatistas do Sul e Sudeste vindo fazer intercâmbio com a galera daqui. Hoje não existe mais essa parada de antigamente. No seu ponto de vista, o que aconteceu e o que falta pra ter de volta essa essência? Então, faltam mais marcas com referências no Nordeste e também tá faltando novos profissionais daí. Todos vazaram do Nordeste ou se especializaram em outra coisa. Na real é a gente que faz a coisa acontecer! Tentamos mostrar isso com a Tic41 e por isso falo que o futuro está na mão dos moleques, dos novos nomes do Nordeste. Um novo ciclo tá se formando por lá, tem que acreditar, fazer acontecer e resgatar o que o pessoal da antiga deixou!

6. Acha que mais campanhas das marcas, principalmente do Sul e Sudes-

te na região, poderiam dar continuidade ao ciclo parado anteriormente? Creio que não tem muito a ver com campanhas das marcas. Hoje em dia se torna muito caro você viajar para o Nordeste. Se botar no papel, ir para a Europa dá quase na mesma. Na real, o que lembro de antigamente é que tinha mais referências no Nordeste. A região tem que mostrar mais a cara e não ficar nessa de parada gringa; é preciso dar mais valor ao que é nosso e fazer acontecer também, que nem a gente faz aqui pro lado do Sul e do Sudeste.

7.

Em relação aos novos nomes do Nordeste, o que você tem visto sobre eles? Suênio Campos, Pedro Victor, Franklin Morales, Jânio Charada, JN Charles, Felipe Cupim, Alison Rosendo... Cara, o futuro tá na mão desses moleques! O futuro tá aí, o futuro não pode ir embora entende?! O Brasil é o futuro! Tenho visto bastante coisa dessa gurizada. Tem uns que estão aqui; tem outros que já estão na cena há milianos, como o meu mano Charada e JN, que estão no corre louco pro lado de cá. O Felipe tá no time da Liga aqui em POA (Porto Alegre); o Franklin tá aqui na área andando pra caralho. É isso cara: é acreditar que a parada acontece!

8. Recentemente a Liga trucks anunciou um novo amador no time. Como

você vê a entrada do amador baiano Felipe Cupim no time da marca? Moleque é dos meus; parceria total. Tem skate pra caralho; ainda tá aprendendo a forma das coisas; que só andar não é tudo, tem que saber chegar. Ele vai se dar bem porque tem coração na parada; tem vontade e isso é o que interessa!

9. Relacionado a sua ida recente a Sobral, no Ceará, a galera anda comentando que a cidade tem muito pico skatável. Soube que você pirou

A região tem que mostrar ‘‘ mais a cara e não ficar nessa

de parada gringa; é preciso dar mais valor ao que é nosso e fazer acontecer também.

’’

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com os picos de lá. Conseguiu registrar alguma trick na cidade? Ou o foco foi só o Brasileiro? Na real quando se vai pra estas paradas de campeonatinho e pá, não se fica muito focado na rua. Você fica ali naquele molho e tals; não tinha ninguém pra filmar também! Fiquei susse, mas flagrei vários picos. Pretendo voltar só pra filmar pro vídeo da Liga 2013. Na real o foco neste Brasileiro foi todo pra Tic41. Companhia que foi criada no domingo do Mundial; virou realidade rapidinho e em Sobral não foi diferente. A formação do exército ainda vai ser constituída!

10. Fala mais sobre a Tic41; soube que bombou lá no Ceará! Mano, a Tic41 foi uma pira que eu, o (Marcelo) Formiguinha, o Athos (Porto) e a galera tivemos no domingo do último Mundial. Era na parte da manhã ainda; quando vimos, estávamos dentro de um supermercado elaborando o tag da companhia. Na real toda essa parada era pra reivindicar, ou melhor, pra mostrar que ao longo destes tantos anos de skate descobrimos que é muito simples a parada, que a gente sabe fazer e que o poder está nas nossas mãos. Fizemos uma campanha com quatro latas de spray, um estilete e uma caixa de papelão; vamos tocar pra frente esta parada. Eu vou tocar aqui no Sul e o Formiguinha em SP. Não tive tempo ainda, mas logo mais vão ter novas aí. Porque a Tic não para e só quem tá formado com a Tic que bota a cara. O bagulho é Tic, porraaaaaaa! 11. Falando sobre o vídeo da Liga pra 2013, como está o andamento da sua parte? Estou no corre total desta parada; muito focado! Acordo todo dia já pensando lá na frente, em ver a parada pronta e todo o esforço reconhecido. Formamos


Da praia pro gueto, nollie backside 5-0.

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crazy revisita // aracaju

Legal foi ver que se passaram 10 anos e os manos ‘‘ ainda estão ali em cima do skate. Nem foi por manobra ou por estilo e sim pela energia que carregamos em cima do skate que estamos aí ainda...

’’

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o monumento de atalaia saúda o belo nollie hard heelflip sobre os degraus e a planta ornamental.

uma família há muitos anos atrás e pra mim este vídeo vai ser pra ficar na história, porque começamos e nunca mais vai parar. O império está sendo formado e eu quero deixar um legado para os novos que estamos criando. Nada mais justo que fazer uma videopart realmente com o coração, para que este legado inspire e se identifique daqui a 30 anos! Entende?! Quero mostrar meu sentimento de 20 anos de estrada, tanto pelo skate quanto pela Liga. Pra mim é a mesma coisa!

12. Após o seu model de shape pela Juice, como é agora ter mais um conquistado, o model de trucks pela Liga? A parada na Juice foi louca porque rolou confiança e hoje estamos juntos colhendo frutos e andando com maple. Na Liga é sonho realizado; parada que a gente lutou anos e anos e hoje tá aí, a família mais do que nunca firme e forte. Só falta o model de tênis da Converse, daê sim!

13. Em algumas perguntas atrás você comenta com grande carinho sobre a Aracaju Family. O que a Aracaju Family representa pro Nordeste, na sua percepção? Aracaju Family é o coração do Nordeste. Rapaziada da 13 sempre foi unida e isso até hoje; depois de 10 anos, vejo histórias de união e de amizade. Os guris levaram pra fora, pra longe a parada. O (Adelmo) Juninho, o (Lucio) Muka e o (Fabrizio) Breeze! Tem história a parada! E eu, de certa forma, faço parte dessa história! 14. Se amanhã você tivesse a oportunidade de voltar a uma cidade do Nordeste pra andar de skate e curtir, qual você escolheria na boa? Depois de 10 anos fiquei só quatro dias em Aracaju pra fazer a matéria e foi muito pouco. Não deu pra rever todos os camaradas, logo mais estou aí de novo, pessoal. É nóis! 15. Pra finalizar, o que você levaria do Nordeste para o Sul? Na real, trocaria o calor e a praia na porta de casa (hauahauahauahauaa!)! 2012/novembro TRIBO SKATE | 49


Gustavo Castro, 50-50 - Juquitiba, SP

www.csteam.com.br

Tiago - Snowmass, EUA

Mauricio Chileno, fs air - SBC, SP

Jo찾o, Polenta, Gustavo, Asc창nio, Lalau

Felipe - Snowmass, EUA


Luis Roberto Formiga, fs air - RTMF, SC

fotos: arquivos pessoais

Rogerio Lalau, powder - Chile

Henrique Polenta, fifty - Chile

Flávio Ascânio, slopestyle - Chile André Cywinski, wallride - Lake Tahoe, EUA

Em pé: Zecão, Abud, Rafael e esposa. Sentados: Gustavo, Ascânio e Lalau.

www.contabilsumare.com.br


Pedro Macedo rené Junior

Raphael Índio

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MaRcello Gouvêa


Pedro Macedo renĂŠ Junior

alessandRo RaMos

QuatRo pRos caRiocas apResentaM o paRQue MaduReiRa, o skatepaRk Que Revolucionou o Rio de JaneiRo.

luZ especial

eManoel enxaQueca

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luZ especial

alessandRo RaMos, FeeBle to Fakie Foto pedRo Macedo 54 | TRIBO SKATE novembro/2012


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luZ especial

Raphael Ă?ndio, Fakie ollie Foto pedRo Macedo 56 | TRIBO SKATE novembro/2012


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luZ especial

eManoel enxaQueca, Mayday Foto RenĂŠ JunioR 2012/novembro TRIBO SKATE | 59


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luZ especial

MaRcello Gouvêa, Bs Bluntslide Foto René JunioR 2012/novembro TRIBO SKATE | 61




entrevista pro // lucas xaparral

ENTREVISTA

LUCAS XAPARRAL CapaCidade de organizar os elementos neCessários para ConCretizar algo. aptidão natural na realização de uma atividade. Quando foCo e talento se ConCentram em altas doses em um ser humano, o resultado geralmente é avassalador. luCas Xaparral sempre teve um talento aCima do Comum Com o seu skateboard, e nesta entrevista ele prova Que está mais foCado do Que nunCa em destruir todos os piCos Que apareCem na sua frente.

por marCelo mug // Fotos fellipe franCisCo e marCelo mug

Q

uantas partes de vídeo você está filmando atualmente? Estou terminando a parte da Element, que é um vídeo que vai sair junto com o meu pro model. Estou filmando uma parte pro vídeo do Gema, o Made in Brasil II, e também estou começando a filmar pro vídeo da Skate até Morrer, que vai sair em 2014, pra comemorar os dez anos de S.A.M.. Como é filmar três partes ao mesmo tempo? Tá sendo puxado, mas eu gosto! Curto essa pegada. Quanto mais trampo tiver eu gosto. Eu curto viajar, estar filmando direto. É bom pra mim, me satisfaz, e é bom pro meu skate também. Ajuda a evoluir, deixar o skate no pé! Uma coisa fortalece a outra, se você tá sempre se dedicando, sempre filmando, acaba rendendo bem mais do que você imagina. Você sempre filmou desde moleque, comprou sua própria câmera, como começou essa história? Qual a importância de uma parte de vídeo pra você? Todo skatista tem esse lance de filmar, a maioria. O skatista que não tem essa pegada deveria ter, porque você tá sempre vendo vídeos, se inspirando naqueles vídeos que te ajudaram a te formar como skatista, até como pessoa mesmo. Você vê vídeo desde moleque, baixando as músicas que estão nos vídeos, tenta aprender alguma manobra que você vê no vídeo, tentando filmar igual ao cara do vídeo, editar, tudo isso faz parte do skatista. Eu tento, gosto de filmar, mas nada muito sério. Gosto de ter minha câmera, de filmar

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meus camaradas. Gosto de editar, achar uma música legal pra edição; mas sem compromisso, só na brincadeira. Em uma parte de vídeo uma manobra dura geralmente uns quatro segundos, mas muita gente não imagina como foi difícil captar aqueles poucos segundos. Qual manobra que você filmou esses tempos que foi uma verdadeira missão? Acho que todas as manobras acabam sendo uma missão, cada uma em um contexto diferente. Vou falar uma que tem a foto nessa entrevista, o switch tailslide 270. Esse pico é em um parque longe de onde eu estava, era meu último final de semana nos EUA e queria acertar muito essa manobra. Dessa vez tive a oportunidade de ir lá e tentar a manobra! No primeiro dia eu fui e dei só o switch tailslide. Comecei a tentar o 270 out, mas o guarda tesourou, pois o cano fica bem na frente da cabine da polícia. Fui outro dia e o parque estava fechado, pois tinha caído umas árvores. Demos uma volta por ele, que é imenso, tentando achar um lugar pra entrar, mas não conseguimos. Sobrou então o último dia da viagem. Daí fui, acertei a manobra e logo na sequência veio o guarda acabar com a sessão. Foi da hora; era uma manobra que queria acertar em um pico desse jeito; sempre quis andar nesse pico. Foi legal conseguir andar nesse lugar, com todas as dificuldades. Você ficou um tempo nos Estados Unidos nos últimos anos e acredito que deu pra você conhecer um pouco de como funciona a indústria de skate por lá. O que você acredita que nós estamos atrás e o que você


Fellipe Francisco

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entrevista pro // lucas xaparral

Eu curto viajar, estar filmando direto. É bom pra mim, me satisfaz e é bom pro meu skate também. Ajuda a evoluir, deixar o skate no pé!

acredita que nós estamos bem em relação ao mercado norte-americano? O mercado americano está mais à frente, até porque o skate acontece há mais tempo lá, em comparação ao Brasil. Mas o skate brasileiro cresceu bastante e vai crescer mais ainda nos próximos anos. Vejo uma crescente no mercado de skate nacional e isso me deixa muito feliz. Skatistas com suas próprias marcas; marcas que estão crescendo e ganhando espaço no mercado, esse é o caminho! Todo skatista sonha em ter sua marca, sua equipe, seu logo; isso é muito louco. O skatista engloba tudo isso: vídeo, foto, música, marca, conceito, ação, ele pensa em tudo isso. Quando ele vê um defeito ou qualidade em uma marca, ele fala: “isso é legal” ou “isso deveria ser de outro jeito”. Esse é o barato da hora em ser skatista, você ter o conhecimento e a análise geral de tudo o que você participa; isso que é da hora. E o que você imagina que vai fazer quando seu corpo pedir aposentadoria? Eu não sei! Na verdade tenho várias ideias, projetos, mas nada concreto, não dá pra saber. Por enquanto esse não é o foco; pretendo andar bastante de skate ainda, muito mais nesses próximos cinco anos. Me puxar cada vez mais, aproveitar essa fase. É uma oportunidade, porque é difícil ter a chance de viver andando de skate, fazendo o que você gosta e eu realmente gosto muito de andar de skate, de viajar, de estar com os camaradas, de filmar, faço por prazer mesmo. O quanto mais eu conseguir prolongar essa fase vai ser melhor pra mim, pra minha vida, independente do dinheiro. Mas é claro que todo mundo tem que pagar suas contas, não dá pra viver de ilusão; então quando começar a apertar eu vou ter alguma coisa em mente. Mas hoje eu ainda tô focado no skate! Você ainda sente a mesma fissura em andar de skate comparando com a época em que você começou a andar pelo bairro do Sumaré? Graças a Deus! Se pans eu sinto até mais agora, porque gosto muito de andar de skate, de me puxar, de ter uma auto cobrança, é da hora. E hoje em dia eu tenho a oportunidade de andar de novo com os caras que me influenciaram a começar a andar; caras do meu bairro, a galera voltou a andar na praça da Ladeira da Morte. Eu tenho a oportunidade de andar com meus camaradas de milianos, que sempre andaram comigo, e também tenho a oportunidade de viajar muito pra andar, um lance mais profissional.

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sunset frontside smith, florianópolis.


Marcelo Mug

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Fellipe Francisco

entrevista pro // lucas xaparral

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Fellipe Francisco

desde os tempos de amador lucas demonstra uma habilidade fora do comum nas duas bases. switch frontside tailslide (direita) e switch varial heelflip (nesta pรกgina), ambas nos estados unidos.

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entrevista pro // lucas xaparral [Ragueb] Desde que você começou a andar de skate, a sua base no skate mudou? Por que eu acho impressionante você andar tanto de switch! Eu sempre andei com o pé direito na frente, mas tenho facilidade no switch. Teve uma fase que eu zoei o pé e tive que andar uns sete meses de switch, foi nessa época que eu mais evolui de base trocada. Eu sempre gostei de ver os vídeos do Ronnie Creager, onde ele dava uma manobra na base e dava a mesma manobra de switch. Eu achava da hora e tentava fazer igual; foi aí que eu descobri que eu tinha facilidade. Você se considera um Iphoneiro viciado? Não me considero um viciado. Curto pra caramba, mas eu já vi muitos caras bem mais viciados que eu! Hoje eu não sou tão viciado, mas acho que o Iphone é uma boa ferramenta. Você não pode viajar muito nele, se você utilizar ele de uma forma saudável é uma ferramenta muito boa. Você está 24 horas com uma câmera, filmadora, acesso à internet; você tá sabendo o que tá acontecendo no mundo inteiro, é uma forma de divulgar seu trampo, você pode usar pra várias coisas. É uma ferramenta muito boa! É zoado você deixar de conviver, de trocar uma ideia, pra ficar no Iphone; esse não é o meu caso. Mas é uma ferramenta boa que não pode faltar. Você vai ser o primeiro brasileiro a ter um pro model pela Element. Como foi todo o processo para concretizar esse sonho? Faz um bom tempo que a gente vem construindo essa ideia do pro model, mas como a Element é uma empresa internacional, mesmo sendo um model lançado no Brasil, você tem que ter um reconhecimento lá fora. O gerente de marketing da Element gringa conversou com o Mancha; falou para eu ir mais vezes pra gringa, fazer mais coisas por lá, pra depois lançar o model, mesmo já tendo feito bastante coisa aqui no Brasil. Foi legal, porque foi um tempo novo, um aprendizado diferente. Eu fui pra lá várias vezes nesses últimos tempos; filmei e fotografei bastante coisa por lá, e agilizei essa parada do model. O lançamento desse model vai ser importante pra mim, pra marca, pro mercado, porque vivo do mercado nacional de skate; eu vivo do Brasil e é legal ter esse reconhecimento internacional vivendo aqui. É uma parada

O mercado americano está mais à frente, até porque o skate acontece há mais tempo lá, em comparação ao Brasil. Mas o skate brasileiro cresceu bastante e vai crescer mais ainda nos próximos anos.

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Marcelo Mug

a mureta alta, o bank inclinado, o degrau com despenco no final, o tr芒nsito incessante de carros: nada tirou o foco de Xapa na hora de acertar esse insano ollie to bank. florian贸polis.

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Marcelo Mug

entrevista pro // lucas xaparral

frontside noseblunt nas quebradas de guarulhos, s達o paulo.

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Fellipe Francisco

em qual das três partes de vídeo será que vai sair esse gap backside crooked?

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entrevista pro // lucas xaparral

Gosto muito de ver os caras que têm vontade de andar de skate, porque ultimamente eu tô vendo vários caras que andam sem vontade, e isso não me agrada nenhum pouco.

difícil de acontecer. É diferente, se você faz nos Estado Unidos o mundo inteiro tá vendo, se você faz no Brasil é difícil você ter uma repercussão mundial. Poder ter essa oportunidade é um privilégio muito grande. Tô muito feliz mesmo, é um sonho que se realiza. A Skate Até Morrer, skateshop que virou marca e te patrocina desde moleque, é uma verdadeira família para você, existe um laço de amizade entre todos que é muito forte. Você acha que tá faltando um pouco desse lance de skatista para skatista nos dias de hoje? Até que eu vejo bastante isso no Brasil, esse lance de skatista para skatista, mas é difícil fazer essa fórmula dar certo! É difícil manter essa chama, e acaba que cada um acaba indo para um lado, uma hora ou outra. Graças a Deus na S.A.M. a gente tá conseguindo manter esse laço! O primeiro vídeo a gente demorou muito pra fazer; isso criou uma amizade muito grande entre todos. Fizemos uma turnê pela Europa esse ano; fazia muito tempo que não viajávamos todos juntos: eu, o Guguinha Dias, o Bruno Araújo, foi bem louco. Na época que a gente viajava junto todos eram moleques, crianças; hoje todos têm sua família, são casados, alguns até com filhos. É louco poder acompanhar essa mudança e ver que o skate e a amizade continuam a mesma coisa. A marca cresceu pra caramba, a gente tem um nome no mercado, a gente tá lutando cada vez mais pra isso, tem o projeto do vídeo novo pra 2014, tá bem legal. Toda marca de skate tem que ter essa essência de amizade, de família, que é o que o skateboard é pra cada um de nós. Que característica você gosta de ver em um skatista? Eu curto ver a visão do cara, a vontade do skatista! Gosto muito de ver os caras que têm vontade de andar de skate porque ultimamente eu tô vendo vários caras que andam sem vontade, e isso não me agrada nenhum pouco. É isso: gosto de ver a vontade e a visão do cara em cima do skate. Você é um skatista que se preocupa com a sua saúde, com o seu corpo, sua alimentação. Por que você acha importante ter esses cuidados? Esses últimos tempos eu estava andando em picos grandes, isso estava exigindo muito do meu corpo e eu acabava ficando muito tempo dolorido. Comecei a ficar indignado porque andava num

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switch frontside grind no bairro da liberdade, em são paulo.


Marcelo Mug

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entrevista pro // lucas xaparral

pico e ficava três, quatro, cinco dias dolorido; às vezes até uma semana sem andar de skate. Isso me deixava nervoso, bravo comigo mesmo; era chato aguentar aquela dor e eu não estava andando de skate, não rendia o quanto eu queria. Daí tive que ir atrás; tinha alguma coisa errada! Antigamente eu andava de skate e não sentia essas dores; tudo bem que não exigia tanto do meu corpo. Comecei a fazer fortalecimento muscular, me alimentar melhor, tomar suplemento alimentar, pra ajudar no skate. Eu tô fazendo isso há pouco tempo e já faz uma diferença grande. Consigo andar muito mais tempo agora e a recuperação do músculo é muito melhor. Agradecimentos: Primeiro a Deus, sempre, sem Ele a gente não é nada. Minha família, meus pais, minha esposa: pra mim família é tudo, é a base de qualquer ser humano. Aos patrocínios, que estão sempre me apoiando e me dando o suporte para que esse sonho seja realizado. Todos os meus camaradas de sempre, os caras que estão junto na sessão no dia a dia; aqueles caras que fizeram parte e não estão mais aqui, todo mundo que de uma forma ou outra incentivou, ajudou.

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// Lucas carvaLho XaparraL 24 anos, 14 de skate Patrocínios: element, Globe, circuit, skate até morrer e indePendent


Fellipe Francisco

passa a rĂŠgua e fecha a conta: switch tailslide 270 para fechar com chave de ouro.

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rio // linha amarela

Histórias skatebórdicas SuburbanaS EntrE os anos dE 1995 E 1997 saía do papEl o projEto da via ExprEssa carioca “linha amarEla”, oficialmEntE idEalizada nos anos 60. pra galEra da zn (zona nortE), quE até 1997 lEvava cErca dE uma hora pra chEgar à praia da Barra (da tijuca), com a nova rodovia passou a fazEr o mEsmo trajEto Em 20 minutos! pois é, na época o trânsito não Era tão punk como hojE. Por Bruno collyEr “funil” // Fotos pEdro macEdo

pedro henrique nem entrou pra história depois que seu back smith one foot saiu no vídeo dsal. repete agora no papel!

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linha amarela // rio

na linha amarela n達o h叩 apenas corrim達o e escada, mas isso depende da vis達o de cada um: felipe marcondes, flip into bank.

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A fama da dificuldade ‘‘ do tal corrimão atravessou

fronteiras e equipes de peso do cenário mundial trouxeram seus skatistas à ZN para desafiar o pico.

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joão lira tem apenas 12 anos e façanha de gente grande: big ollie.

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linha amarela // rio

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É maravilhoso assistir ‘‘esses acontecimentos, essa evolução e ao mesmo tempo a perpetuação do skate nesse pico.

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lucas diniz “cofrinho” conquistou mais uma para sua coleção: fs nose blunt, pesado!

E

por falar em diversão, é claro que o skate suburbano tinha que estar nessa. No cenário do Rio do final dos anos 90, o número de praticantes nem de longe lembrava a nossa atualidade. Havia pouquíssimos eventos e entre os grupos que faziam a cena local da época não morrer estava a rapaziada da ZN, skatistas originais dos bairros do Méier, Engenho de Dentro, Água Santa, Piedade, Encantado, Engenho Novo e outros, uma galera boa de skate de rua. Nosso saudoso Jorge Luiz de Souza, o Tatu, recentemente homenageado com o batismo do skatepark mais “bombado” da cidade, foi pioneiro e mentor dos primeiros atos de invasão às obras da rodovia. Passava no Méier, juntava a molecada onde me incluo, e íamos achar as brechas para o acesso à muuuuuitos metros de ladeira com aquele asfalto doce de tão liso, além de paredinhas inclinadas, palquinhos naturais e claro, as jump ramps feitas de madeira furtada de obras da CEG, uma tradição local. Das histórias relacionadas ao downhill, street e slide, foi inesquecível o dia em que entrou uma ventania absurda no meio de uma descida em conjunto (umas oito cabeças) que levou vários ao chão em alta velocidade, entre eles o então “moleque louco” Sabá, atual linha de frente do skate buziano (de Búzios). Com a abertura da via aos carros em 1997, acabou-se o downhill e o slide, mas surgiu então no acesso para a rua Dois de Fevereiro (Engenho de Dentro), aquele que até os dias de hoje é o obstáculo natural mais casca grossa da cidade: o corrimão da Linha Amarela. Naquela época, o primeiro louco a tentar descer foi o Fabiano Rato (de fifty), um dos melhores amadores dos 90. A fama da dificuldade do tal corrimão atravessou fronteiras e equipes de peso do cenário mundial trouxeram seus skatistas à ZN, como as equipes Element Internacional e World Industries, para desafiar o pico. Eis que num belo dia de semana estava em casa e recebi o telefonema pra guiar um micro-ônibus de skatistas até o pico. O ponto de encontro foi a minirrampa do Méier e chegando lá fiquei em choque ao ver quem eram os tais “skatistas”. Os caras que estavam mais bombando mundialmente na época, como Jeremy Wray, Donny Barley, Chad Fernadez, PJ Ladd (era um pirralho) e Kerry Getz, além dos brasileiros Nilton Neves e Carlos de Andrade. Enfim, foi uma sessão rápida com equipes da Transworld e 411 Video Magazine (tinha muito equipamento), mas graças ao “conhecimento da rua”, eles contaram com a proteção da “malandragem local”. Com manobras absurdas e na maioria voltadas na primeira tentativa, como detonou Nilton Neves (fifty, fs boardslide, fs boardslide reverse) e Chad Fernandez (five-o grind). Recentemente vimos o Pedro Nem executar um impressionante bs smith one foot e o pequeno João Lira também marcar seu nome na história do difícil corrimão. É maravilhoso assistir esses acontecimentos, essa evolução e ao mesmo tempo a perpetuação do skate nesse pico. Que apareçam mais moleques apavorando com altas manobras, que mais desafios sejam quebrados nesse pico, que o skate continue a nos impressionar, geração a geração. Fomos os primeiros moleques e ninguém sabe quem serão os últimos. Viva o corrimão da Linha Amarela. Só pra gente grande!

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casa nova //

// Bruno Arruda // fotos MArcelo Mug Onde nasceu: Guarulhos, SP. Onde mora atualmente: Guarulhos, SP. Primeiro skate: Meu primeiro skate troquei numa carteira de couro, nem lembro as peças! (risos) Skate atual: Shape Agacê 8,25, trucks Crail 146, rolamentos SKF, rodas Spitfire F1 54mm. Som pra ouvir na sessão: Um ótimo som para ouvir é o do próprio skate. Uma parte de vídeo de skate: Andrew Reynolds, no Stay Gold da Emerica. Três amigos pra compartilhar a sessão: Rafael Panco, Thiago Mariano e os Gêmeos! (Diego e Diogo Ramos) Kkkk! Comida: Tomate. Bebida: Água. Balada: Uma por mês. Melhor pista: Skate Plaza de São João da Boa Vista/SP. Sonho: Andar de skate até os “40 e muitos anos”. Para ler: Sinais de Esperança, Alejandro Bullón. Viagem: Barcelona, 2013. Um salve: Valeu Diego Oliveira (Cagaio), Marcelo Mug, Mario Romario, Marcos Morto, Diego Ramos de Oliveira, Diogo Ramos de Oliveira, Rafael Panco, Mauricio Gouveia, Thiago Mariano, Renato Riani, Alexandre Sobral, Sense Skate Shop, André e Vextor. // Bruno ArrudA 23 anos, 8 de skate Patrocínios: Vextor, sense skate shoP

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Frontside smith.

Dar um bom exemplo não custa nada e tem impactos positivos.

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casa nova //

// léo low // fotos AnDre cAlvão Ser skatista é: Viver skate todo dia, de alguma forma. Quando não está com o skate: Tô em casa, fazendo um h pra ir andar de novo, ou não. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: As mesmas de qualquer skatista. Vídeo: Tenho curtido muito o 5Boro “Join or Die”. Skatista que se espelha: Curto muito ver o Akira (Shiroma) andar, mas o Vinícius Pxt (o Vina), é foda! Skate atual: Shape e rodas Evolution, eixos Crail e rolamentos Skf. Marca fora do skate que gostaria de ter patrocínio: Queria ter patrô da Heineken, porque é a melhor. Som pra ouvir na sessão: Rap. Parceiros de rolê: EvoCrew. Viagem: Florianópolis, em 2011. Rua: Cada pico de rua é da hora de algum um jeito. Pista: Palmares, em Santos. Sonho: Conhecer diversos lugares pra se andar de skate. Salve: Salve geral pra EvoCrew, meu pai, minha mãe e meus amigos fora do skate. // LeonArdo de SouzA Low santos, sP 21 anos, 8 de skate Patrocínio: eVolution

‘‘

Bs Flip.

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vivão e vivendo.

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casa nova //

// rodrigo Mike // fotos Diogo groselhA Ser skatista é: Ter muita atitude e muita diversão. Quando não está com o skate: Trabalho como motorista. Por que do apelido: Quando comecei a andar de skate, devido ao meu estilo e às manobras muito loucas, um amigo viu que eu parecia com o Mike Vallely, por isso surgiu o apelido de Mike. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Falta de interesse das empresas em patrocinar o skate e a arquitetura que não permite muito a prática. Vídeo: Paul Rodriguez, no PlanB. Skatista que se espelha: Paul Rodriguez. Skate atual: Shape Aspecto, trucks Crail, rodas Moog e rolamentos Red Bones. Marca fora do skate que gostaria de ter patrocínio: Nike, porque é uma empresa grande e séria. Som pra ouvir na sessão: Rap. Parceiros de rolê: Arthur Zoi, Wanderson Sector e Tiago Picomano. Viagem: Rio de Janeiro. Rua: O banco na quadra Santa Margarida no Barreiro. As sessões com os amigos lá são sempre super divertidas. Pista: Barreiro. Sonho: Conhecer o máximo de lugares possíveis, claro com muita diversão. Salve: Pra equipe Aspecto, Ynova e pra Bia. // rodrigo euStáquio teodoro “Mike” Belo horizonte, MG 25 anos, 6 de skate Patrocínio: asPecto decks

Bs smith.

‘‘não existe limite quando se anda de skate!’’ 88 | TRIBO SKATE novembro/2012



hot stuff // novembro

// Urgh A família Concept da Urgh apresenta peças com limpeza nas formas e nos detalhamentos. Nas camisetas, a ideia é evitar cores nos silks, que são sempre trabalhados somente em branco ou preto. Os jeans e os bonés também seguem a tendência, mantendo em todas as peças da família Concept a qualidade e o conforto que a Urgh confere a seus produtos. Urgh - (11) 3226-2233 / www.urgh.com

// Live Capa de nossa última edição, Biano Bianchin lança pela Live uma série de shapes intitulada Mirror. Com duas estampas diferentes, os desenhos remetem possivelmente à dualidade de vida de uma pessoa na grande metrópole: rendido ao trabalho ou enforcado pelo sistema. Live - (11) 3227-3375 / contato@liveskateboards.com.br

// honey SkateboardS O modelo Honey Skateboards Chamaleon de 38’’ é considerado um dos decks favoritos dos riders das ladeiras porque seu conjunto proporciona manuals, popups e outras tricks mais técnicas, manobras que são “facilitadas” pelo tail de 3’’ e o formato do shape em forma de gota. Certamente o Chamaleon vai se tornar o skate preferido do seu quiver! SK8 1 - www.sk81.com.br / (11) 5565-3140

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// oakLey A Oakley lança uma coleção bem diversificada e exclusiva para o verão 2013. A estilosa camisa feita em fio tinto vem em xadrez. Já a camiseta flamê é inspirada em elementos do Jeep e a regata em ½ malha vem com estampa inspirada nas marcas de pneu na terra. Oakley - www.oakley.com / SAC: (11) 4003-8225

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áudio // mario c.

Mario Caldato Mario Caldato Junior, o Mario C, teM eM seu CurríCulo 8 disCos produzidos para os Beastie Boys. noMes-referênCias CoMo “dust Brothers” e tony loCk, fazeM parte da sua Carreira. na história, disCos para hurriCane, Money Mark, Manu Chao, BeCk, CiBo Matto, John spenCer Blues explosion, planet heMp, d2 e o nosso saudoso ChiCo sCienCe e a nação zuMBi. desCuBra Mais soBre esse Brasileiro. Por renata lopes // Fotos arquivo pessoal

V

ocê é brasileiro, mas saiu do país muito novo. Queria que você contasse um pouquinho esta história. É isso mesmo! Nasci em São Paulo, minha irmã também nasceu lá, e com dois anos de idade meus pais se mudaram para Los Angeles. Obviamente foi uma grande mudança de vida; meus pais não falavam inglês. Na verdade meu pai é italiano e minha mãe é brasileira, então foi um novo passo pra família. E fui criado aqui, no estilo deles, you know? Foi uma boa época: nos anos 60 as coisas eram mais ou menos tranquilas por aqui. Não tive conexão com o Brasil até uns dez anos, quando a gente finalmente voltou para visitar a família da minha mãe, em viagem de um mês. Ela estava com muita saudade e finalmente conseguiu um passaporte americano pra poder viajar. O único jeito era com o documento de cidadania americana. Então eles conseguiram tudo isso e foi maravilhoso visitar a família pela primeira vez. É que não temos ninguém da família aqui nos Estados Unidos, então fui criado sem família em volta. De vez em quando alguém nos visitava, umas tias da Itália e um do Brasil, também. Cresci indo a escolas americanas, estudando inglês e falando português em casa. Eu não fui alfabetizado em português, mas sei falar… É isso que ia te perguntar: Como é essa relação, pois você casou com uma brasileira, a Samantha (já foi parceira do Black Alien, tocando Cello na banda), e aí você agora tem duas filhas. Como é que fica essa sua ideia de família, de criação? Na verdade, você tá me falando que a sua relação com os Estados Unidos é muito mais pela escolha dos seus pais do que você ter uma família aí. Como é que você pensa na criação das meninas, como é o pai Mario Caldato? Hoje em dia, obviamente, eu tô bem acostumado a morar aqui, me sinto em casa, you know? Então, pra mim, tudo bem. Cresci sem muita família em volta, mas agora eu tenho a minha e a Samanta é bem mais próxima da família dela, então a gente tem essa conexão um pouco mais de família com ela, a irmã e o irmão, que vêm nos visitar. Meus irmãos também moram aqui, mas cada um tá pra um canto diferente. As pessoas, depois que saem de casa, cada uma vai pro seu lado. Cada um faz a sua vida, mas a gente tenta o melhor que pode para criar um núcleo forte em casa, com nossos amigos e a nossa família. A gente tenta fazer funcionar.

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Falando ainda um pouquinho desta relação com o Brasil, o fato de você ter essa raiz com o país, te fez crescer curioso pela música daqui? Como surgiram estas paixões? Seus pais, pesquisas, amigos? Como foi isso? A família com certeza plantou a música em mim, quando eu era pequeno, escutando música brasileira em casa. Eles trouxeram alguns discos do Brasil, e também compramos alguns do Sergio Mendes aqui, que era a grande moda de 66; Brazil 66, alguma coisa assim, que foi um disco de sucesso e também o (Tom) Jobim, que obviamente sempre tocava no rádio, como Garota de Ipanema. Todas estas coisas aqui eram bombadas. No rádio a gente ouvia, quando era mais jovem. Então, sempre tinha isso no ar. E em casa a gente ouvia os discos. E o meu pai, ao invés de comprar uma televisão, decidiu comprar um órgão. Então, tinha esse órgão em casa e eu ia lá e brincava. Acho que realmente essa foi a primeira sementinha de eu brincar com música, de fazer barulho, de gostar de alguma coisa musical. Ele não tocava, mas fingia que tocava e ficava feliz só brincando. E eu ganhei umas aulas. Depois, com uns 8 ou 10 anos, ele comprou um piano e eu comecei a estudar o instrumento; o que foi um pouco mais intenso. Estudei música clássica com uma professora bem rígida, mas foi importante para entender a música um pouco mais. Você acha que o piano é um dos instrumentos mais importantes, pra se ter um entendimento mais amplo da música? Acho que é uma boa ferramenta. Algumas pessoas acham a guitarra, outros o piano, mas os dois são fabulosos. Qualquer instrumento, na verdade, mas o piano é meio na cara; é só mudar o dedinho de lugar que você acha a nota. Eu nunca tive muita paciência, mas depois achei a importância de saber estas coisas. O que é muito bom! Queria falar um pouco agora do Jorge Ben. Quem é esse cara pra você, quais são as obras que você mais curte dele? Eu lembro que você fez uma coletânea dele. Não foi isso? É, foi através de uns amigos que tinham uma loja extra large nos anos 90, a qual um dos caras dos Beastie Boys era sócio. Era uma loja style, do momento, que tava vendendo roupa legal; tinha os caras do skate, esta turma que tava curtindo muito e os caras tavam muito ligados à música e o dono pediu que eu fizesse a coletânea. Eu sempre tocava nas festas que tinha na loja. Eu


página ao lado: Mario C. – quase 9 mil discos organizados por gêneros (em ordem alfabética). acima: Com Chico science e nação zumbi.

era o Dj e sempre tocava Jorge Ben, essas coisas assim, música latina e os americanos só groove… E ele falou “a gente quer fazer um promotional cd pra dar pros clientes da loja”. Fizemos três diferentes: um do Jorge Ben, um de música latina e um de música eletrônica dos anos 60. Foi um sucesso, acabaram rapidinho. Acho que fiz umas mil cópias. E um dos caras que pegou o cd era o Will.I.Am, que ouviu Jorge Ben e pirou. Ele tava começando a fazer o Black Eyed Peas. O primeiro disco ele sampleou umas três ou quatro músicas do Jorge Ben pra usar. Um dia me encontrei com ele e agradeceu: “pô, aquele cd que você fez começou a nossa carreira lá; aquele disco ajudou, foi uma grande motivação pra fazer música.” Eu adoro Jorge Ben, ainda bem que você também curte, respondi. Obviamente, a música que eu primeiro ouvi foi “Mais que nada”, mas a versão do Sergio Mendes, que tava bombando por aqui. Tocava no rádio, era hit total. E, com as duas meninas cantando. Só bem depois que conheci o “original”. Fui ao Brasil e comprei os discos do Jorge Ben. Obviamente comprei tudo que achava dele. Tenho todos os discos em vinil, virei fanático. Depois eu fazia essas fitinhas e dava para os caras do Beastie Boys. E obviamente o cara da loja queria fazer. Fizemos o cd e depois só cresceu o amor à música dele. Você já teve oportunidade de trabalhar com ele? Não! Jantei com ele duas vezes, com o nosso amigo Armando Pittigliani, que produziu os primeiros discos dele. Ele arrumou da gente se encontrar para falar e ver uma possibilidade de trabalho. A gente fez uma proposta pra ele fazer o disco, mas acho que naquele momento ele não estava pronto para fazer. A música brasileira ocupa boa parte da sua discografia. Como você construiu essa relação com os artistas? Começou quando fiz a primeira viagem com os Beastie Boys para o Brasil. Eles finalmente tiveram uma oportunidade de tocar aí, no Rio e em São Paulo. Na verdade foi a primeira vez que voltei desde que eu fui aquela vez com 10 anos. Então foram 20, 25 anos depois que eu voltei para o Brasil que realmente vi a conexão que estava faltando na minha vida. Tenho vários amigos brasileiros que moram em Los Angeles e falaram: “Pô, vai lá!”. E o meu

amigo Roberto, o Betinho, conhecia o Zé (Zegon) e o Bid (produtor musical) e toda essa galera. O Eduardo Bidlovski morava aqui e eu conhecia o irmão dele. E quando eu fui pra lá, tinha esses amigos em comum. A gente fez um show no Rio e o Planet abriu e o Zé… Alguém mandou um recado que o Zé e o Marcelo queriam falar comigo sobre música e um disco. Daí a gente se encontrou, finalmente: “Você é o cara… você é o cara.” E depois o Marcelo me convidou para produzir o próximo disco deles, o segundo. Pensei na ideia e falei: “Porra, lógico.” Uma oportunidade legal para ficar um mês no Rio e trabalhar num projeto brasileiro. Então, realmente, aquilo foi uma grande oportunidade, que mudou tudo. Eu voltei, fiquei um mês. Fui visitar minhas tias em São Paulo. Fiquei um tempinho no Brasil para conhecê-lo um pouco. Eu comecei a gostar e curtir tudo no país que não conhecia muito bem. Fizemos o disco em um mês e foi ótimo trabalhar com o Planet. Viajei um pouco com os caras. O Marcelo adora Los Angeles. Ele veio aqui para acabar o disco, para mixar. Então nós fizemos esse esquema de gravar lá e acabar o disco aqui. É o que nós fazemos sempre nos projetos dele. Depois eu estava em São Paulo e o Bid estava produzindo o disco do Chico Science e eu fui visitá-lo no estúdio, no dia que ele estava fazendo “Maracatu Atômico”. Eu entrei lá ouvindo esse som, falei: “Caraca, o que que é isso?!” E ele estava lá com o Chico e os outros técnicos. A banda não estava completa, mas eu fiquei impressionado. O som, nossa! Nós ficamos amigos naquele momento. Eles me convidaram para mixar uma faixa. Realmente o Marcelo e o Zé que deram essa oportunidade. Foi por aí que abriram as portas de volta para o Brasil. Era o momento que estava mais tranquilo. Eu estava mais livre com os Beastie Boys. Quando trabalhava com os Beastie Boys era muito intenso. Eu trabalhei uns três ou quatro anos só com eles e com ninguém mais. Há influência do skate na banda. Você andava de skate? Andava, é lógico! Eu tive a sorte de ter o meu pai que comprou um GoKart e uma minibike, uma moto. Eu tinha um skateboard também; mas minha primeira opção era ir com o kart, a minibike e a bicicleta. Depois peguei um

Com Marcelo d2.

Beastie Boys no studio.

Beastie Boys em gravação de vídeo.

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áudio // mario c.

Com o Beastie Boys em 2006, no rio.

Com samantha e as meninas. adam yauch “MCa”no studio G-son em los angeles, Ca.

Max perlich, ator de “drugstore Cowboy” no studio G-son em los angeles, Ca.

skate, porque meus amigos tinham os deles. A gente fazia e montava skate na escola. Tinha aula de madeira, todo mundo colocava as madeiras os desenhos e customizava suas peças. Na escola? No Brasil isso é raro. Quando fizemos a primeira tour do Integração Skate nas cidades, a primeira reclamação foi: “Não pode levar o skate para a escola.” Conta como era isso? Começou quando tinha mais ou menos uns 13 anos, quando muitos dos meus amigos levavam skate para a escola. Quando chegava no Junior High School tínhamos o locker (armário), onde você guarda seus livros. Os caras botavam dentro do locker, mas tinha aula de marcenaria, de fazer as coisas, de projetos. A gente escolhia o tipo de madeira, colava e montava o skate. Era o projeto do ano. Depois a gente ia pra praia, pegava o calçadão e ia embora… E como os Beastie Boys entram nessa história? Como foi a construção de tudo e qual a sua participação? Eu conheci os caras só depois do primeiro disco. “License to Ill”* estourou, eles ficaram meio assustados e quiseram sair de cena. Eles tiveram problemas com o selo; o manager (empresário) não queria dar o dinheiro das cópias; então os caras saíram para encontrar outro selo, outro produtor, outros caras para trabalhar. Eu trabalhava com o meu amigo que estava muito a fim de produzir os caras e a gente mandou umas músicas pra eles. Os caras piraram e queriam conhecer quem estava fazendo essas músicas. E foram o “Dust Brothers” e outro cara, o Matt Dike, que tinha um selo, o Delicious Vinyl, onde fizemos o Tony Lock e Young MCs, que tinha acabado de estourar. Então eles puderam ver qual era para o próximo disco. E eles adoraram! Começamos a gravar o “Paul’s Boutique”, ficamos amigos e foi por aí… Obviamente o Paul’s Boutique marcou os caras. Eles queriam sair desse circo que estava um pouquinho demais. O disco vendeu 4, 5 milhões, um absurdo para a banda. Foi o primeiro disco de Hip Hop deles, o que abriu a porta. No segundo, eles queriam mudar e quando saiu, o selo trocou de presidente duas semanas antes. Não tinha ninguém olhando para o disco. Ficou lá parado, mas todo mundo sabia que era bom. Resolveram não fazer turnê, porque finalmente estavam recebendo o dinheiro do primeiro. Mudaram de Nova York para Los Angeles. Outra vibe; namoradas. Fugiram da confusão que estava em NY. E falamos: “Vamos fazer o próximo disco? Ao invés de gastar todo esse dinheiro no estúdio, vamos alugar uma casa”. Eu tinha metade do equipamento. Só precisava da mesa e a máquina para gravar. Investiram nisso! Compraram a mesa e a máquina; barato se comparado com a conta de um estúdio. Montamos o nosso estúdio próprio, o “G Son”, e começamos a fazer o disco “Check Your Head”, em 1992 e

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o “III Communication”, em 1994. O estúdio tinha um chão de madeira para jogar basquete, um palco já montado e um lugar paras as rampas de skate. (*)1986 - Foi o primeiro álbum; como primeiro álbum de um artista, de venda mais rápida da Columbia Records até então e vendeu mais de cinco milhões de cópias. O primeiro single do álbum, “(You Gotta) Fight For Your Right (To Party!),” ficou em 7º na Billboard Hot 100. Foi aí que surgiu o Grand Royal (Selo dos Beastie Boys)? Exatamente. E o skate? Os caras não pegavam muito os skates. O que andava era o MCA. Ele era o cara mais na atividade: “Vamos andar de skate, vamos pegar onda…” Ele ficou tão animado que quis montar as rampas no estúdio. E todo mundo falou “tudo bem, vai lá!” Eu ia te perguntar sobre ele… Como foi a morte dele pra vocês? Obviamente, foi uma grande perda! Depois que uma coisa dessa acontece, a gente pensa em todos os momentos, nos detalhes, nas coisas maneiras. Ele era uma cara muito profundo. E também muito poderoso porque tinha muita vontade; era como inspiração para os outros. Ele tinha uma ideia e ia embora até onde pudesse. Ele puxava todos os limites! Intenso? Era intenso! Era uma coisa que a gente sempre via. Tudo que ele fazia, ele não podia fazer de leve. Então, teve momentos que foram difíceis e obviamente ele puxava o limite das coisas, o melhor que se podia fazer. Então, esse lado é muito bom. Quando ele montou as rampas no estúdio, criou um movimento ali? Sim, sim… Ele tinha um amigo, o Tony Converse, que tinha uma rampa. Chamou o cara e montaram lá no estúdio mesmo. E ele era amigo do Christian Hosoi e vários outros. Nosso amigo, também, Max Perlich, um maluquinho, amigo e ator que chegava sempre como uma turma, andando de skate. Mais sobre Mario C: www.marioc.com

// “Mario C” - Mario Caldato Junior Nasceu em: 1961, são Paulo/sP ResidêNcia: los aNgeles, ca, eua PRofissão: PRodutoR musical



manobra do bem // por sandro soares "testinha"*

Eu te inspiro, tu me inspiras, eles olham e nós fazemos

O

// Projeto escola “Há três anos, onde tudo começou na pacata cidade de Amontada, no Ceará, alguns jovens viram a necessidade de repassar, de alguma forma, suas poucas experiências em cima do skate para vários garotos que passavam o dia inteiro observando o rolê de skate, entretanto sem nenhuma condição de poderem comprar o seu. Mas a vontade deles era muito maior; podíamos ver nos olhos deles! E foi com a ajuda do secretário Ferruccio Feitosa, que nos doou alguns skates, que o pontapé inicial foi dado. Logo na primeira semana foram inscritos quase 60 alunos na escolinha e nós tivemos muitas dificuldades no início, pois os skates doados eram de bilhas e sem lixas. Rolou muita dor de cabeça, mas isso nunca foi obstáculo para nós! O skate estava nos ensinando que poderíamos cair mas nunca ficar prostrados e sim levantar, nunca perder o foco. No começo era apenas nos divertir e estarmos juntos, daí começaram a vir os primeiros frutos, alguns contatos e algumas informações falando sobre nossa ação começaram a sair em alguns sites. Então saiu a primeira matéria na revista Tribo Skate, na coluna Manobra do Bem de nossa grande influência e referência Sandro Testinha, para o qual devemos muito pelos frutos colhidos por aqui. E também pela parceria, incentivo e espaços dentro de seus trabalhos. Hoje o projeto atende quase 100 crianças na pista pública da cidade durante a semana, de terça a sexta, e desenvolvemos também algumas ações em outras cidades, como em Fortaleza. Na capital, o nosso projeto tem uma grande parcela de trabalhos desenvolvidos nas comunidades de áreas de risco, possível graças à parceria com o ministério Correria para Cristo, ministrado pelos líderes Alisson e Rodolfo, resgatando alguns valores perdidos por causa da marginalidade e falta de oportunidades. O projeto hoje é uma referência nacional por trabalharmos com o lado social, inclusive já colhendo vários frutos, como a equipe PESS e os garotos que hoje estão se destacando no cenário do skate nordestino, mostrando a nova cara do esporte, sem precisarem falar palavrões, usar drogas nem bebidas,

* Sandro Soares “Testinha”, agora com 34 anos de idade e 20 junto do skate.

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Arquivo pessoAl

lá leitores da nossa Tribo Skate! Assim como os rolamentos e as rodas do skate não param de girar, nossas vidas e missões também não param. Por vezes ficamos desanimados ou até mesmo desmotivados devido a fatores internos e externos que ocorrem ao nosso redor. Porém, nada como um dia após o outro para repormos as energias e continuarmos nossas lutas por nossos objetivos. E no caso dos guerreiros e lutadores que realizam ações sociais com skate no nosso Brasil, muitas vezes não podemos sofrer essas influências que jogam qualquer um para baixo, pois na dependência de nós encontram-se dezenas e até mesmo centenas de crianças e jovens, sempre de ouvidos e olhos atentos para seguir nosas lições e exemplos. Assim como na última edição, onde tive o orgulho de falar novamente de uma ação social que tivemos o privilégio de reportar pela primeira vez em nossa coluna, nessa trago de volta conosco o projeto social com skate lá de Amontada, no Ceará. O responsável pelo projeto sempre acompanhou minhas ações através das redes sociais e ao invés de só observar ele resolveu fazer um trabalho em sua comunidade e hoje, após três anos de luta e com certeza com situações que poderiam lhe desanimar, eis que recebo notícias de que o projeto vai bem e não para de crescer. Com a palavra o próprio responsável: Miel Alves.

A multiplicação do Miel em Amontada.

mas sim com o foco de serem campeões na vida, valorizando o trabalho em equipe. Agradecimentos: Primeiramente a Deus, por nos proporcionar mais essa oportunidade nessa coluna e que até aqui tem nos ajudado muito; à Qix International, pelos dois anos de parceria e confiança, à Freeboard, pelo suporte dado; Drop Family; Skate Até Morrer (Bruno); Crail (Pedro Berengani) e Kriston, por acreditarem no nosso trabalho, a alguns amigos que sempre estão do nosso lado: Ronaldo e Jhonata Stives (Blessed); Difusor (Zeca e Thyago); Marcos Bollman (Campeonatos de Skate); Hiroshi; Team PESS (Dauel, Japinha, Israel, Robson) e Suênio Campos. Desculpa se faltou alguém. Jesus Saves! E parabéns Testinha, pelo belíssimo trabalho que nos inspira! Deus abençoe mais e mais.”

APOIO CULTURAL



skateboarding militant // por guto jimenez*

O maior inimigo do skatista

H

á algum tempo, uma marca de skate norte-americana lançou um model que dizia simplesmente “Fuck Longboards”, algo que eu nem preciso traduzir. Sinceramente, não consegui achar a menor graça, muito pelo contrário. Logo fiquei pensando o que teria motivado aquele pessoal a perder seu tempo bolando, produzindo e vendendo aquele lixo. O pior não foi nem isso, e nem o fato das distribuidoras e lojas terem aceitado comercializar, mas sim algo bizarro: teve gente que achou muita graça num produto que representa algo completamente fora de propósito nos dias de hoje, que é o ódio no meio do skate. Como se já não bastassem os policiais e seguranças nos expulsando das ruas, os vizinhos pentelhos reclamando do barulho de nossas pistas, os carros e ônibus nos imprensando nas ladeiras. Mesmo sendo um estilo de vida cada vez mais aceito pela sociedade, ser skatista é estar acostumado a não ser compreendido de alguma forma por quem nunca pisou numa tábua com dois eixos de metal e quatro rodas de uretano. A minha geração começou a andar de skate numa época em que, nas regiões urbanas, “todo mundo” andava de skate. Até os dias de hoje, difícil é o cara ou a mulher da mesma faixa etária que não diga que “eu também andei de skate quando era adolescente”. Naquela época, não importava se você era um garoto, uma menina, um homem ou uma mulher, nem se você estava andando num skate comprado numa loja de departamentos ou se era o último modelo importado – o que valia era andar de skate, simplesmente. Os anos 80 foram o auge do estilo skate punk de ser, e muita gente não se identificava com isso. Ouviam outros sons que não fossem tão agressivos, vestiam outro estilo de roupa e andavam noutras modalidades. Foi daí que surgiram as chamadas “facções”, um nome cujo significado dá a ideia de segregar, dividir e separar por grupos diferentes. Ainda assim, a gente convivia numa boa e se respeitava – menos na hora do snake na pista, claro... A partir dos anos 90, a dominação do street como modalidade mais popular também trouxe as suas facções. Eram os técnicos (que mandavam manobras mirabolantes, mas andavam a 5 km/h) opostos aos “casca-grossa”, gente que andava muito rápido e não tinha medo do tamanho de nenhum obstáculo que pintasse. Tinha os “corrimãozeiros” que não podiam ver um cano de metal, os “ollieosos” que varavam qualquer altura ou distância de ollie e ainda aqueles especialistas em flat. Atualmente, ainda há rivalidades sadias. São verticaleiros garantindo que nenhum obstáculo se compara a uma manobra na transição, ao mesmo tempo em que incorporam cada vez mais elementos de street em suas manobras. Alguns streeteiros implicam com skatistas de ladeira, por não verem muita graça em mandar slides dos mais variados tipos. Diversos freestylers ainda reclamam de não verem a sua modalidade reconhecida como a que lançou as bases do street moderno... Talvez as ladeiras sejam os locais onde se respeite a opção de outra pessoa, seja pelo slide, pelo speed ou pelo slalom. Agora, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Quando uma marca de skate assume uma posição de “inimiga” a um grupo de skatistas, é porque algo está muito errado. É óbvio que o fato de streeteiros e longboarders dividirem as mesmas ruas têm influência, mas não foi isso que motivou o produto medíocre. Tem tudo a ver com dinheiro, já que a fatia de mercado

de longs e similares cresce cada vez mais, em oposição à queda de vendas das marcas voltadas exclusivamente pra street. É só ver quantas delas estão produzindo longs e cruisers, e constatar aquele antigo axioma de Confúcio sendo colocado em prática: “se o inimigo é poderoso, una-se a ele”. Esses são espertos, e souberam se adaptar à nova realidade – ao contrário dos medíocres que criaram, acharam graça ou compraram aquela babaquice. Já temos gente demais que não entende o que é andar de skate, não aceita o estilo em geral libertário do skatista e que faz o possível pra atrasar o nosso lado. A última coisa que precisamos é termos “gente como a gente”, ou seja, que esteja envolvida no cenário, a tomar essa mesma atitude ridícula. Lugar de palhaço é no circo, como já se diz por aí há muitos anos. Tudo é skate, todos somos skatistas e isso é o que importa. Divirta-se dando o seu rolê do jeito que for, onde for e sobre o skate que for. O que vale é a diversão que você tem, algo que só quem anda de skate sabe o que é.

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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