James BamBam * RagueB RogeRio * RogeRio TRoy * TuRBonegRo
Nilo PeçaNHa TiRa leiTe de PedRa
euli Vieira
misTuRa BRasileiRa
Pescoço Preto iNVade a fáBRica de lâmPadas
Holga
analogia é cool
Neal HeNdrix PoR TRás das lenTes
Nilo Peçanha, fs air, rio ano 22 • 2013 • # 208 • r$ 8,90
www.triboskate.com.br
10 | TRIBO SKATE fevereiro/2013
// índice fevereiro 2013 // edição 208
eSpeciaiS> 38. Neal HeNdrix
aNdaNças fotogrÁfiCas
46. euli vieira
Mistura brasilEira
52. fábrica de lâmpadaS pEsCoço prEto No rio graNdE
62. Nilo peçaNHa
a lEvEZa ao ExtrEMo
78. raNkiNgS cbSk QuaNto valEM? SeçõeS> Editorial ...................................................................12 Zap ................................................................................16 Casa Nova .................................................................84 Hot stuff...................................................................90 JpEg & Mov ................................................................92 Áudio ...........................................................................94 MaNobra do bEM....................................................96 sktbrdiNg MilitaNt...............................................98
Capa: Dá gosto de ver como Nilo peçanha trabalha as transições com estilo e leveza, literalmente tirando leite de pedra. No antigo e clássico mini half do Condomínio pontões da Barra, que há tantos anos não via uma foto publicada, ele levita este frontside air totalmente contorcido e esticado. Barra da Tijuca, Rio. Foto: René Junior ÍNDiCe: Raphael França, pouco antes dos 459 anos de São paulo, no clássico pico conhecido como pátio do Colégio. Bs heelflip. Foto: Rafael Bassildo
2013/fevereiro TRIBO SKATE | 11
editorial //
Extratos de valor // Por Cesar Gyrão
C
omo de hábito, a revista que você tem em mãos tem vários recados nos personagens envolvidos, nos artigos, nas colunas, nas fotos, linhas e entrelinhas. Não precisa ter os olhos treinados para identificar que em algumas páginas, o conteúdo é tão incrível que você se depara horas pensando nele, refletindo, discutindo com os amigos o que leu ou viu. É o efeito “encantamento”, tanto perseguido por quem faz jornalismo ou publicidade. Há quem goste de provocar estranhamento, para mexer com seus instintos, com textos ou fotos chocantes, algumas vezes desagradáveis. A Tribo Skate tem orgulho de tantas vezes ter servido de canal para grandes polêmicas, questões que empurraram a máquina do mercado para a frente. No meio de uma torrente de fluidos poéticos como as fotos do skate de Nilo Peçanha, por exemplo, um pequeno tijolinho de texto merece total atenção: a Linha Vermelha com Ragueb Rogerio. O cara consegue ser tão claro, tão simplesmente direto na jugular em suas vivências e constatações que merece ser lido mais que uma vez. Inspiração para quem é verdadeiro, lição de moral para os aproveitadores de sempre!
A verdadeira identidade do skate é construída por personagens que o respiram dia a dia. Biano Bianchin é um dos nossos maiores representantes desta laia. Fs smith no primeiro skatepark da Espanha, em uma cidade chamada Arenys de Munt. O bowl estava completamente coberto por entulho e os caras desenterraram tudo. Foto Rodrigo Kbça
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ANO 22 • FEVEREIRO DE 2013 • NÚMERO 208
Editores: Cesar Gyrão, Fabio “Bolota” Britto Araujo Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Arte: Edilson Kato Redação: Chefe de redação: Junior Lemos Marcelo Mug, Guto Jimenez Fotografia: Marcelo Mug, Junior Lemos Colaboradores: Texto: Grazi Oliveira, Eduardo Ribeiro, Camilo Neres Fotografia: Ana Paula Negrão, Allan Carvalho, Bruno Park, Camilo Neres, Daniel Belmiro, Diogo Groselha, Flávio Gomes, Grazi Oliveira, Hélio Greco, Milenka Salinas, Neal Hendrix, Otavio Neto, Pedro Macedo, Petrônio Vilela, Rafael Bassildo, Raymond Mosken, René Junior, Rodrigo Kbça, Sandro Soares
JB Pátria Editora Ltda Presidente: Jaime Benutte Diretor: Iberê Benutte Administrativo/Financeiro: Gabriela S. Nascimento Circulação/Comercial: Patrícia Elize Della Torre Comercial: Daniela Ribeiro (daniela@patriaeditora.com.br) Cibele Alves Fone: 55 (11) 2365-4123 www.patriaeditora.com.br www.facebook.com/PatriaEditora Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações - Anatec
Impressão: Prol Gráfica Bancas: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907, Grajaú Rio de Janeiro/RJ - 20563-900
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Deus é grande! São Paulo/SP - Brasil www.triboskate.com.br E-mail: triboskate@triboskate.com.br
A Revista Tribo Skate é uma publicação da JB Pátria Editora. As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista. Dúvidas ou sugestões: triboskate@patriaeditora.com.br
zap //
james bambam A Tribo SkATe conTinuA ATráS dAqueleS perSonAgenS que mArcArAm A hiSTóriA do SkATe no brASil e que, meSmo forA doS holofoTeS dA mídiA e do mercAdo, AindA cArregAm o SkATe nAS SuAS veiAS. neSTe mêS TrAzemoS um doS principAiS SkATiSTAS que já SurgirAm dA cidAde de guArulhoS, nA grAnde São pAulo. eSTAmoS fAlAndo de jAmeS WilliAmS AlveS SerrAno, ou Se você preferir, ApenAS jAmeS bAmbAm. // TexTo e foTos mArcelo mug Em que ano você parou de andar de skate profissionalmente? Foi de 2009 pra 2010. Por que você parou? Porque não estava satisfeito financeiramente e preferi andar de skate apenas por satisfação pessoal. O que você faz hoje em dia? Sou instrumentador cirúrgico e representante comercial. Qual a melhor recordação que você guarda do tempo em que estava no corre do skate? Conheci lugares incríveis com pessoas que terei amizade para o resto da vida. Como é a sua relação com o skateboard hoje em dia? Quantas vezes você anda em um mês, por exemplo? Na real estou bem afastado e, às vezes, fico meses sem pisar no skate. Você tem um Fuscão preto encanado na garagem da sua casa! Você pira nesses lances de turbinar o carro e tudo mais? Tenho paixão por carros. Gosto de velocidade e admiro carros antigos em perfeito estado de conservação, em especial de Fuscas. Guarulhos é uma cidade onde sempre surgem novos talentos no skate. Que nome você cita como a nova promessa da sua cidade? Um só fica difícil, mas vocês já devem conhecer o Marquinho, (Gustavo) Gu, Jabá e vão conhecer o Parede, o Caio, o Gabriel, o Japa. Tem um nova gang pesada na quadra da Brahma!
// James Williams alves serrano “BamBam” 33 anos, 21 de skate Guarulhos, sP
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Você teve o privilégio de acompanhar toda a trajetória do Laurence Reali no skate e na vida pessoal também, afinal vocês eram bons amigos. Qual a melhor lembrança que você guarda dele? Só tenho boas lembranças. Ele era guerreiro e tinha o dom de cativar as pessoas, estava sempre alegre e era difícil passar um minuto sem dar risadas perto dele, além de ser diferenciado andando de skate. Como você avalia a atual fase do skate? Não estou acompanhando tanto, mas fico muito feliz em ver os skatistas se tornando empresários, acho que esse é o caminho. Tenho muitas metas em minha vida e uma delas é trabalhar com skate no futuro e incentivar os moleques a fazerem um esporte saudável, ter a sensação incrível de acertar uma manobra perfeita e a satisfação de poder ajudar sua família com o dinheiro ganho com o skate. Onde você se imagina daqui uns 20 anos? Porra, nunca imaginei o que estarei fazendo daqui 20 anos, mas sempre penso o posso fazer pra melhorar nesse momento. Bom, espero estar vivo! Kkkk! Quer deixar algum recado para os leitores? Na verdade só quero agradecer a todas as pessoas que sempre me trataram bem por todos os lugares onde estive, quero agradecer e oferecer esta matéria a minha rainha Dona Maria - minha mãe, minha família, minha mulher Emila e meus verdadeiros amigos, as empresas que me patrocinaram, a toda rapaziada que está envolvida com o skate batalhando pra que o esporte seja bem visto e bem remunerado. Deus nos ajude.
// zap
O mais famoso pico de street da cidade de Guarulhos, a quadra da Brahma, ainda vĂŞ o poderoso skate de James Bambam. Switchstance crooked.
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milenka salinas
antes do nada Na década de 1980, os skatistas de Porto Alegre tinham um local de encontro: o Parque Marinha do Brasil. Nos finais de semanas, se reuniam para trocar ideias, tentar novas manobras e ocupar novos espaços. Muitas vezes, o rolê ia até a Praça da Matriz. Numa época em que a informação circulava através de fanzines e revistas, já que não existia a internet. Em 1986 Luis Flavio Trampo, reconhecido pelo trabalho que desenvolve com o graffiti nas ruas, conheceu Onairo Correa que, na época, trabalhava como roadie. O skate era muito presente no cotidiano dos dois amigos e para celebrar as mais de duas décadas de amizades e relembrar este período, Trampo e Onairo organizaram o encontro intitulado “Antes do Nada”, que remete à época em que ser skatista era adotar um estilo de vida pouco compreendido. Foram expostos shapes de modelos antigos reciclados, reaproveitados através de novos cortes feitos por Onairo. Trampo assinou as pinturas das peças e da galeria da ‘A Virgem Bar’. Também teve distribuição de fanzines da Silvana Mello, além de adesivos e cartazes, que contaram com arte gráfica de Andrio Catilio.
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Voltando suas atenções também para o street, a marca brasileira Kronik forma uma equipe de peso para representá-la nas ruas; ninguém menos que os profissionais Carlos Andrade Piolho, Wagner Ramos e Ítalo Romano, junto com os amadores de ponta Lehi Leite e Renato Souza, este último certamente encarando 2013 como transição para a categoria profissional. Lembrando que a Kronic lida com toda essa galera da forma correta, ou seja, valoriza e prestigia a todos com a atenção que o skatista brasileiro merece. E se você compra material das marcas que dão o devido valor à sua equipe, está também incentivando aqueles que realmente fazem o mercado brasileiro de skate acontecer de verdade.
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kronic Os amigos Luis Flavio Trampo e Onairo Correa comemoram 27 anos de história através de shapes, pinturas e fanzine.
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[02] Flávio Gomes
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A Bones anuncia o retorno dos originais Bones Brigade Tony Hawk e Rodney Mullen ao time. • [01] A Freedom Fog também começa 2013 com força total, acrecentando para a sua equipe os pros Sandro Dias, Denis Silva, Diego Oliveira e o amador Felipe Gustavo. Completam o time eles que já calçavam os tênis da marca: os amadores Igor Smith e Leonardo Spanghero mais o pro Leonei Mart. • A Narina retorna com força total ao mercado brasileiro, com shapes e confecção. • [02] Fábio Castilho é Official! Ele veste agora os bonés da marca no Brasil. Castilho também é visto calçando um protótipo daquele que será seu primeiro model de tênis assinado pela Red Nose. • [03] Nem bem desembarcou no Brasil com sua coleção de relógios, a Converse Watches já faz o trabalho certinho com o profissional Biano Bianchin, primeiro skatista a representar a marca por aqui. • A Sick Mind está de equipe nova, composta por: Douglas Pankrage, Rodrigo Beavis, Leandro Saguão, Vinicius Amorim, Jean Spinosa e Adnan Paniágua. • A marca catarinense PC3 vem trabalhando certinho o skate na sua área dando aquele suporte aos skatistas Alexsandro Correa, Luz na edição 207, Felipe André, Gustavo Malagoli, Pablo Reis e Thales Prates. • [04] Na mesma pegada, a Jail coloca seus produtos nas lojas, entre eles o model do profissional Wesley Cardoso, também conhecido como Gelol. • A Future Skateboards, do profissional Thiago Garcia, representa com os shapes que Henrique Crobelatti usa pra marretar os picos. • Brandon Martins, de Curitiba/PR, subiu mais um degrau na evolução do skate e agora compete como amador 1. O blog Campeonatos de Skate, leia-se Marcos Bollmann, oferece o suporte para que o skatista vá ainda mais longe. • Protagonista do quadro que literalmente deu uma nova casa pra sua família, os irmãos Luizinho e André (Lorena/SP) esperam realizar agora o sonho do patrocínio para seus skates.
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New balance numeric Sim, galera! A New Balance é a mais nova marca a entrar no mercado mundial de tênis para skate com o nome New Balance Numeric, ou apenas a abreviação NB#. Por enquanto, PJ Ladd é o único a ser anunciado como skatista da equipe, mas outros deverão ser revelados em breve. A distribuição fica a cargo da Black Box, distribuidora do mito Jamie Thomas, mas por enquanto a marca será distribuída apenas nos EUA e Canadá e a previsão é que em 2014 ocorra a expansão para outros mercados.
4ª mostra sP Samsung de fotografia Ainda no aniversário de 459 anos de São Paulo, uma exposição de fotos com mais de 500 imagens e de fotos sobre a metrópole contou com participação de dois dos grandes nomes da fotografia de skate. Fabiano Rodrigues expôs uma série de autorretratos em preto e branco, disparos via controle remoto, feitos em museus, monumentos e espaços de arquitetura relevante. E Renato Custódio revelou em monóculos imagens que fazem parte do seu dia a dia.
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paulo davi
Como você se tornou locutor de campeonatos de skate? No início da década de noventa os eventos de street no interior de São Paulo estavam bem ativos, pela iniciativa do Toshiriro Shibayama “Tosha”. E o mesmo acabou me convidando para trabalhar com ele nestes eventos. E a locução veio, acredito, por ter facilidade de me comunicar. Como ele, o Tosha, fazia toda parte de produção, sobrou pra mim o “BO”. E na sequência, como entramos com administração da pista de São Caetano e realizamos vários eventos, veio a necessidade de termos um locutor novamente, me candidatei e fiquei! Quais as principais características de um bom locutor de skate? Ser extrovertido, comunicabilidade, conhecimento das regras, nomenclatura das manobras e conhecimento da produção de eventos. Hoje em dia existe algum tipo de curso? Na verdade a CBSK se preocupa em habilitar todas as funções que envolvem a parte técnica dos profissionais envolvidos nas produções de eventos de skate. E a entidade ministra o curso, onde já tive oportunidade de passar para a nova geração alguns dos conhecimentos adquiridos através dos tempos. Você observa locutores de outros tipos de evento para tentar extrair algum tipo de referência? Sim, com certeza! São tantas variantes, detalhes e complexidade na função que aprendemos todos os dias. Gosto muito de observar, tanto locutores, como comentaristas. No Brasil existem grandes nomes em várias modalidades. Qual o momento mais emocionante que você já teve o prazer de narrar? Uau, esta é difícil... Muitos momentos inesquecíveis. O primeiro Mundial de Skate WCS no Brasil (Tribo Skate World Cup Contest, 1998), a primeira MegaRampa, ultimamente os eventos da Swell e RTMF no vert e o King of São Paulo na modalidade street, foram eventos realmente incríveis. É difícil esquecer as preferências pessoais na hora do trabalho? Na verdade o que rola são coisas distintas. O trabalho é feito da mesma forma, para quem
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marcelo mug
Ao longo dos últimos vinte Anos A voz de PAulo RogeRio dAvi se toRnou um clássico no cenáRio do skAte nAcionAl. É quAse imPossível citAR Algum gRAnde cAmPeonAto sem A emPolgAnte locução de PAulinho, PoR isso fomos AtRás dele PARA sAbeR segRedos dA PRofissão e o que PensA A voz mAis conhecidA do skAte bRAsileiRo.
eu tenha mais ou menos afinidade. Mas se tenho um respeito especial por alguém, se notar que posso fazer algum tipo de comentário adicional o faço com maior prazer. Qual a maior roubada que você já passou nestes tantos anos de carreira? Já passei por algumas roubadas, mas para ser sincero, sempre levei numa boa, pois aprendi que num evento você pode passar por várias situações adversas, seja este evento pequeno ou grande. Sendo assim todas acabaram sendo levadas numa boa. O skate se reinventa a cada dia, e não é uma tarefa fácil saber o nome e identificar a enxurrada de manobras que os skatistas executam atualmente. O que você faz para se atualizar e não errar o nome das manobras na hora “H”? O skate, como disse, se reinventa constantemente, as manobras às vezes são as mesmas, mas no passar dos anos elas vão mudando de nomenclatura, bem como várias outras vão surgindo. Acho que a base é tudo, pois você sabendo a nomenclatura da origem das tricks, as variações você capta com facilidade. Outro ponto é manter contato com o skate e com as pessoas
que são responsáveis pela sua evolução. Quem você considera um bom locutor de skate da nova geração? Gosto de vários, cada um com seu estilo. O Betinho (Mendes) de São Bernardo se comunica muito bem. O (Guilherme) Rocha, por andar muito bem tem uma grande facilidade na desenvoltura da nomenclatura das manobras no street. Outro que gosto muito e pela descontração é o Sandro o Testinha, tem o respeito da molecada, e isto também é muito importante. O que não pode faltar em um bom campeonato de skate? Um bom locutor! Realmente é um fator que pode mudar a qualidade do evento.
// Paulo RogéRio Davi 44 anos, 34 de skate local de nascimento: são caetano do sul onde mora atualmente: são caetano do sul locutor desde: início da década de 1990
zap //
começo de Ano, Solzão eSTrAlAndo lá em cimA, AlgunS curTindo fÉriAS e A mAioriA AcompAnhAndo o que Todo mundo AndA fAzendo ATrAvÉS dAS foToS. onde? no inSTAgrAm, É lógico! e pArA não pASSAr bATido, TrAzemoS AlgumAS indicAçõeS dA curTição que rolou no Auge do verão 2013.
isinha bem chillin, não precisa nem dizer onde!
let’s do it...
piscina skatável!!!
Ação mormaii no costão do Santinho! valeu galerinha!!!
@italopenarrubia
@guguinhadias
@alexbrandao
@marcosgabriell
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mais uma tarde... #obrigaaahhhh @skatesaude
first touch. @pedrobarrossk8
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TWiTTer, fAcebook, inSTAgrAm, emAil, SinAl de fumAçA e oS demAiS meioS de Se comunicAr com A Tribo SkATe eSTão mAiS do que nuncA Sendo moniTorAdoS, de olhoS e ouvidoS bem AberToS. enTão TirA Aquele elogio, críTicA ou SugeSTão dA mAngA e noS envie que ele pode vir pArAr Aqui! // Joia “Muito respeito para essa capa da @TriboSkate (Jorge Kuge, edição 206)”. (@customskt / via Twitter) “Revista Tribo Skate é realmente um presente que nós skatistas ganhamos no decorrer destes anos todos. Só tenho que agradecer por ela ter feito parte da minha formação!!!” (Carlos Alexandre Melo Lima / via Facebook) “Cara, essa revista é incrível. Adoro!!! Ela tem os conteúdos sobre skate e tudo mais. Super bacana. \o/” (Alice Xavier / via Facebook) “A Revista Tribo Skate faz parte da minha vida desde 1994, quando comecei a andar de skate. Hoje volto no tempo com as fotos, imagens, capas e entrevistas. Parabéns Tribo Skate, por fazer parte da minha vida e vida longa ao skate e à revista!” (Ricardo Lima / via Facebook) “Caraca, mano! Curto demais a Tribo Skate, pena que onde moro agora não tem banca e as lojinhas não têm a revista. Mas curto vocês pelo Facebook!” (Leandro Correa Maia / via Facebook)
// Pra comProvar Olá amigos da Tribo Skate. Primeiramente parabenizo vocês pela qualidade da revista e das reportagens. Envio uma foto e um link de um vídeo (http://goo.gl/2gG5k), comprovando a veracidade da foto, gostaria que publicassem. A foto e o vídeo são de Henrique (Bel), skatista e amante da revista, parceiro nosso e organizador de um campeonato que rolou aqui na cidade, ajudando a valorizar o skate na região!!! (Marcos Colosio, São Sebastião do Paraíso/MG)
// insPiração Em primeiro lugar gostaria de agradecer à Tribo Skate, que me deixa sempre muito feliz! Esse desenho é uma foto minha de quando estava começando a andar de skate. Vi esse corrimão e criei um sonho na minha cabeça: um dia descer esse corrimão de qualquer manobra. Foi indo o tempo até que consegui realizar esse sonho depois de três anos andando direto e evoluindo a cada dia que passava. O desenho veio de uma foto que virou uma tatuagem que fiz na panturrilha da perna, pra guardar como uma lembrança eterna, entende! Obrigado a todos, valeu mesmo. Abração!!! (Rafael Bittencourt Telles dos Santos, 24 anos sendo 9 de skate (Lagoa Vermelha/RS)
// crookeD Olá pessoal! Sou grande admirador da revista, ela que me deu muita inspiração e evolução, são 10 anos de skate. Resolvi mandar meu desenho pra vocês com muita humildade, representando o skate de Campinas e região. Parabéns pelo trabalho sério de 21 anos com muito respeito. (Guizão do Castelo, Campinas/SP)
resultaDo Promo thunDer eDição 207/Jan Nossa caixa de email lotou, participaram skatistas brasileiros de norte a sul do Brasil mas levou o prêmio a resposta mais interessante para a pergunta: Por que a Thunder é uma das marcas gringas de eixo mais requisitadas pelos skatistas brasileiros? E o criativo da vez foi Giordam Ferreira da Fonseca, 16 anos, de Juiz de Fora/MG, que nos mandou essa pérola: “Porque, apesar de ser um item que está próximo dos pés, um eixo Thunder nunca te deixa na mão.” Parabéns, Giordam! Você receberá o kit Thunder no conforto de sua casa.
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marcelo muG
// zap
Quanto mais insano, melhor: ollie sobre a escada e o cano, Saúde, São Paulo.
rogério Troy As manobras que ele faz não seriam tão extremas se em seus ouvidos não estivesse rolando a trilha sonora perfeita para massacrar picos com o skate. E pra esclarecer de onde ele tira tanta inspiração para manobrar nos picos mais cabulosos, Rogério Troy revela agora vinte das músicas mais tocadas em seu player.
Junior lemos
* Antônio Rogério Troy Soares da Silva (Evoke, Different, Globe, Balboa Boards e Live)
The Killers, Smile Like You Mean It Rocket From The Crypt, S.O.S. Social Distortion, When The Angels Sing Ramones, Don’t Go Nofx, Don’t Call Me White Circle Jerks, Red Tape Rancid, Moron Bros Furadera Nuclear, Maldita Guerra Danzig, Going Down to Die The Clash, London Calling
Bambix, Invisible Dead Kennedys, California Über Alles The Donnas, Keep on Loving You Johnny Cash, I Fought The Law Millencolin, Puzzle Samiam, Factory The Smiths, The Boy With The Thorn In His Side The Strokes, Last Night U.S. Bombs, That’s Life Vaux, Ride Out Bitch
mais formiga A cidade de São Paulo completou 459 anos no dia 25 de janeiro e o matinal Mais Você, da global Ana Maria Braga, colocou o skate na pauta. Marcelo Amador Vianes “Formiguinha” foi um dos personagens de uma reportagem sobre moda no skate, apresentada pelo estilista Carlos Tufvesson. Entre longboarders deslizando nas calçadas molhadas da Paulista, o street se destacou com Formiga ‘batizando’ o repórter, primeiro pulando de fs ollie um grupo de seis pessoas deitadas e depois colocando o cara pra dar um rolê. As gravações rolaram na marquise do Ibirapuera, em um sábado de verão paulistano, e também contou com a presença dos skatistas: André Hiena, Gian Naccarato, Roni Carlos, Fábio Castilho, Alexandre Grecco, Paulinho Barata, Euli Vieira, Renan Hassan, Leo Grau, entre tantos outros, além de nossa equipe, representada pelo Gyrão. 2013/fevereiro TRIBO SKATE | 29
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Carabeth e Karen.
Steve Van Doren.
Lizzie Amanto, bs disaster.
girls s2 Combi Pool: um dia na piscina foi-Se o Tempo em que o SkATe feminino erA conSiderAdo cAfÉ-com-leiTe. A provA diSSo É A compeTição girlS combi pool clASSic, reAlizAdA no mêS de jAneiro no boWl de concreTo dA vAnS em orAnge, cAlifórniA. // TexTo e foTos grAzi oliveirA O evento para a ‘new generation’ e as skatistas mais experientes confirmou a sentença que skate não tem idade, classe e nem sexo. Aproximadamente 40 competidoras vindas da Austrália, Estados Unidos e Brasil mostraram determinação e atitude sobre quatro rodinhas. As categorias foram dividas de acordo com a faixa etária entre 10 a 44 anos. Tudo parecia estar tranquilo para o time de juízes composto por Steve Caballero, Sasha Steinhorst e Christian Hosoi, com narração do MC Dave Duncan, até o momento das meninas entrarem em ação. As iniciantes surpreenderam com a velocidade dos carvings percorrendo toda a transição e o constante barulho arranhando o coping block com grinds e smiths. Vitória da californiana de Buena Park, Arianna Carmona, 14 anos, devida a seus destemidos fs ollies. A segunda divisão foi mais acentuada com manobras técnicas como feebles to fakie, inverts e o grandioso bs air da vencedora Nora Vasconcellos, 19 anos, que
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acabou de se mudar da Costa Leste para a área de San Diego e sem dúvida tem uma longa carreira no skate pela frente. Já as legends atingiram o enésimo grau com a presença de grandes nomes do skate feminino como a pioneira Cara-Beth Burnside. “É bom ver meninas lá fora que estão cobrando e aprendendo novas manobras e isso é motivador para mim”, disse Burnside. Destaque para a única representante brasileira, Karen Jonz, 28 anos, que fez bonito faturando o evento, atraindo todas as atenções com seus finger flips, varials, smiths e tailslides. Segundo Karen, a disputa foi além de suas expectativas. “Nunca vi campeonato com um nível tão alto de meninas. Foi a primeira vez que corri o campeonato nesse bowl. Fiquei lisonjeada de poder competir e ficar na frente de lendas como a Cara-Beth, que sempre foi minha skatista referência desde o início. Com certeza a presença das mais experientes serviu de incentivo para a nova geração”, comenta a campeã que não esperava sair com medalha de ouro. Como já é de costume, o Girls Combi Cool Classic foi embalado com a melhor trilha sonora para inspirar as voltas das meninas, um buffet de boas tricks e o clássico churrasco preparado por Steve Van Doren, que sempre faz questão de servir pessoalmente cada convidado. O evento abriu o calendário da World Cup Skateboarding (WCS), que segue destino ao Rio de Janeiro para o Maresia Vert Jam. Se 2013 seguir neste ritmo, o skate cor de rosa terá um ano promissor. I believe it!
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A primeira vit贸ria na Combi Pool a gente nunca esquece. Karen Jonz, mctwist.
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raGueb roGerio quAndo Se penSA em um SkATiSTA overAll, com cerTezA o nome de rAgueb rogerio vAi Surgir nA converSA. AlÉm de conTinuAr fAzendo hiSTóriA rAlAndo o Seu TêniS nA lixA, rAgueb ATuA noS bASTidoreS do mercAdo há mAiS de dez AnoS, SejA com A SuA mArcA gArdhenAl, SejA como TeAm mAnAger dA volcom no brASil. neSTeS 29 AnoS de muiTo SkATe nA veiA, rogerinho viu e viveu muiTAS hiSTóriAS que deSperTArAm A curioSidAde de diverSoS leiToreS, incluSive de muiTAS perSonAlidAdeS do SkATe, nomeS como jAy AdAmS, nilTon urinA, luAn de oliveirA e pedro bArroS. confirA AbAixo AS reSpoSTAS de um verdAdeiro SkATiSTA de AlmA, que defende o SkATe nA SuA eSSênciA, com excluSividAde pArA A Tribo SkATe. // TexTo e foTos mArcelo mug • Poucos sabem mas você está há vários anos no backstage de algumas marcas inclusive a sua, a Gardhenal Skates. Sempre vemos no exterior skatistas com suas grandes marcas, exemplo: o Bob com a Hurley, o Danny Way com o DC e etc. Por que no Brasil é tão difícil a aceitação das verdadeiras marcas criadas pelos skatistas? Como e quando você acha que isso pode mudar aqui no Brasil? (Carlos Henrique, São Paulo/SP) – Valeu pela pergunta Carlão, vamos lá: Primeiro acho que é pelo próprio despreparo de muitos de nós mesmos para administrar uma empresa. Muitos de nós não temos uma formação, um preparo para determinada área que se vá atuar. E talvez eles na América tambem não, mas eles têm uma infraestrutura para simplesmente andar de skate e dar o direcionamento da marca enquanto têm um profissional de cada área atuando na sua empresa. Ou seja, o trampo deles é o feeling; o que temos também é. Mas lá, por exemplo, o Koston pode ser da Nike e reverter a grana que ele recebe dela na Lakai entende? E tem também o monopólio das grandes marcas que massacram as pequenas. Essas pequenas que, na maioria das vezes, são de skatistas. Esse é o meu ponto de vista! Então acredito em uma mudança e ela tem que ser feita agora. A revolução tem que ser já. Nomes como Gian, Genovesi, Cida, Gordo, Russo, Crazy, Dandi, Hiena, Sabiá e Bruno (SAM) já montaram seu exército! Esse é o caminho e eles estão preparados e não vão evaporar no primeiro momento de crise. De Skatista para Skatista, entende? • Muito legal a sua marca, a Gardhenal Skates. Mas qual é a ideia que ela quer passar e seu real significado? Você atualmente é um empresário do skate. Se fosse apenas skatista profissional, teria como se manter no skate apenas com patrocínios? E queria saber se tem jeito de me mandar produtos e adesivos da Gardhenal? (Felipe Albuquerque, Mogi/SP) – Fala Felipe, beleza? Cara, o real significado dela é fazer a diferença. Olhar por skatistas de outras marcas que são cegas e sermos enxergados por grandes artistas que vomitam todo seu feeling, que em algumas vezes não podem fazer em seu ambiente de trabalho mas a usam para dar o seu melhor, por amor! É ser luxo no lixo, saca? Lógico que tem a pegada Punk Rock mas isso é consequência, reflexo das vidas que todos os envolvidos ragueB rogerio De anDraDe issa 35 anos, 29 de skate Patrocínios: Gardhenal skates, kates, indePendent trucks e volcom olcom são ão Paulo, sP
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escolheram! E a ideia que passamos é de transparência e verdadeiro amor pelo skate. Não mentimos e não sentimos vergonha do que somos! É coisa de skatista para skatista, já que não me sustento dela. Quem tá sabe como é e se está é por amor mes mesmo. Muitos têm alguns logos tatuados no corpo, o que nos leva mais a ser crew do que marca! Fazemos o que queremos e tem quem goste! Simples. E se fosse para me manter apenas como skatista profissional acredito que ainda viveria somente disso, mas tudo tem sua validade e é para o amanhã que se tem que estar olhando. O que passou eu já sei como é, já estive lá. Mas manter o que se foi conquistado com muito suor e ska skatada na canela, com dignidade e não queimar o filme é o caminho! Tô de boa de jogar tudo na merda (risos). Mande seu endereço por mensagem no facebook/gardhenalska facebook/gardhenalskates que vou te mandar umas paradas! • O que significa amizade genuína pra você e como você pratica a amizade em sua vida? (Nilton Neves Urina) – Nilton, meu mano! É basicamente o que temos um com o outro! É estar longe há tanto tempo mas se ajudando, sabendo o que se passa um com o outro… É dividir notícia boa e de tão genuíno saber que não existe um pingo de inveja! É dar ombro pra quando um amigo precisa. É ser para o outro o que você quer pra você! Aprender, evoluir, escutar, pensar, refletir depois de horas um as assunto que falamos da última vez; digerir a troca de informação. E acredito que a mi minha melhor forma de praticá-la é justamente manter longe de mim tudo o que não é genuíno, saca? Tipo veneno só faz mal pra quem bebe. Sei que você entendeu (risos) “Skate Eterno”! • Ragueb sei que você é um skatista de verdade e sabe sem sempre o que tá rolando no meio do skate e critica o que está erra errado sem esconder a cara. O que você acha dessas marcas que não investem nos skatistas que estão fazendo o corre todos os dias, investindo em alguns caras que não deveriam estar entre nós? Eu quero dizer não são de verdade, não passaram pelo que passamos! (Luan de Oliveira) – Salve, Ido! (risos) Primeiro obrigado pelas palavras e você tambem é um skatista de verdade, Luan. Simplicidade atropela o estrelato e assim somos o que somos sem dever nada a ninguém. Mano, é a lei da oferta e procura, e na cabeça das grandes mar mardu cas ninguém é insubstituível, penso eu! Tipo: foi bom enquanto durou, não deu certo, bola pra frente e nessa sempre vai ter alguém se prostituindo e praticamente se dando só para ter vínculo com alguma marca e dizer que tem patrocínio. Enquanto isso, quem faz o corre certinho, se preocupa com o adesivo no shape, a foto do compromis próximo anúncio, as imagens da nova parte e todos os compromismer sos profissionais, fica sem chão, desanimado se sentindo um merda… Mas ele não abandona esses projetos e faz por ele mesmo, sabe por que? Porque é de verdade e a satisfação pessoal não tem dinheiro que pague! É sentir mais a manobra do que ver se o salário caiu no dia certo, tá ligado? E os que não deveriam estar entre nós somem antes de seus 30 anos. O difícil não é passar pra pro mas sim se manter como pro e por isso sou fã de Nilton Neves, al Biano, (Marcio) Taro, (Fabio Cristiano) Chupeta, Ueda e mais alguns amigos que se mantém até hoje com dignidade vivendo não do que plantaram, mas do que são: skatistas de alma.
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raGueb roGerio
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atropela o estrelato e assim somos ‘‘simplicidade o que somos sem dever nada a ninguém. ’’ • Depois de muitos anos tendo que lidar com os team manager e o pessoal das empresas, como você se sente agora sendo um deles, tendo que coordenar equipes de peso? (Pedro Barros) – Me vejo como numa pós-graduação da minha faculdade no skate, Pedro. Aproveitando o máximo de cada aprendizado e entendendo um pouco mais como funciona o outro lado da moeda, como lidar com verba, logística e produção de ações da marca, planejamento, anúncios, tours e ao mesmo tempo me preocupando para que não falte nada para nós. Isso mesmo, para nós! Porque luto por coisas para todos, usando como base o que eu gostaria para mim como skatista e, às vezes, lutar contra orçamento não permite fazer tudo como queremos. Mas o segredo é fazer o melhor dentro do que se tem e essa é a minha meta de trabalho, é ser meio pai e psicólogo de vocês, quando precisarem. (risos) Às vezes é difícil lidar com o ego de cada um, talvez seja o mais difícil dentro de um time! Mas respeitando cada um do seu jeito fica mais fácil de saber como falar com cada um, ou o que cada um está precisando, seja de ajuda material, finaceira ou pessoal mesmo. De resto, tenho os melhores comigo e isso facilita muito! • Nos conte uma de suas melhores histórias com o skate. Quem estava com você? Onde foi? (Dave Duncan) – Hey Dagger! Engraçado você me perguntar justamente isso pois uma das minhas melhores histórias no skate foi narrada por você. Alemanha, Münster, em 2005. Já era um sonho pra mim poder correr esse campeonato já que venho de um geração que o campeão mundial era quem ganhava o Münster Monster Mastership. Então cresci vendo aqueles obstáculos e lustres ímpares, ano após ano, e quando estava ali parecia um filme na minha mente. E nessa história toda foi quando dei aquele fs noseblunt nollie flip out na volta e você começou a gritar no microfone: “Yeah, yeah, Daggers”, veio até mim depois e disse: “The best trick!” Foi inesquecível. Eu estava com o (Lucas) Xaparral, Diego Oliveira, Geninho (Amaral), Rodrigo Kbça e mais uma gang do ‘Brazillian Crazy Style’! • Minha pergunta é: O que o skateboarding significa pra você e o que ele trouxe para sua vida? (Jay Adams) – Skate é tudo na minha vida! Desde meus sete anos de idade até esses meus 35 vividos até hoje. É o som da minha liberdade. Eu não escolhi o skate, ele me escolheu, J. Boy! Então, o que ele me trouxe? Me trouxe o meu estilo de vida, meus amigos. Eu ganhei a oportunidade de conhecer muitos países, conhecer muitas pessoas, enterrar uns mitos, culturas diferentes e, principalmente, aprender a respeitar cada ser humano como ele é. Acho que essa é a melhor experiência. Me trouxe a oportunidade de trabalhar sem terno, sem mesa e sem horário! Me trouxe a oportunidade de ter tempo de ver meu filho crescer e se tornar um skatista. Me trouxe a
Fs blunt em Curitiba/PR.
honra de ter reconhecimento dos verdadeiros e ter uma pergunta sua nessa matéria me prova que fiz a lição de casa certinho!!! ‘Nervous a Breakdown 4 life’ (risos). • Quais as principais diferenças do cenário do skate da época em que você começou a andar e hoje em dia? O que melhorou e o que piorou? Abraços. (Mauro Mureta) – Putz, Mauro! Não muita coisa, hein? Mas ao mesmo tempo muita também (risos). Você mesmo disse uma coisa há pouco tempo que levarei comigo para sempre: “Antigamente você escondia o skate por preconceito e pela polícia, hoje você esconderia por vergonha”. Quiseram tanto transformá-lo em esporte e está aí o resultado. Nada vai se comparar à época do skate marginal. Mas o positivo é que, atualmente, um número maior de pessoas pode viver direta e indiretamente dele. Virou uma indústria que lucra muito mesmo e não reverte pra quem merece uma percentagem digna disso. Nós, como sempre! Nos olham com outros olhos, mas não enxergam com os olhos da realidade que vivemos. Acham que tudo é fácil, que se ganha bem e que estar numa revista é o mínimo que o cara pode fazer! Até isso hoje é mais fácil: sair numa revista. Lembro que amador na minha época ficava feliz só de ver seu nome no final da revista, nos resultados de campeonatos. Entrevista, capa, salário era surreal e se hoje isso é realidade é graças ao trabalho de pessoas como você que plantaram para eles colherem. Obrigado Mureta, por ter nascido skatista e ser meu amigo! • Ragueb! Em um mercado que destrói tudo que tem alma, apenas pela comodidade de formatar um público para vender a marca, não importando os ideais e ideias, como é fazer uma marca durante tanto tempo como a Gardhenal, que sai quase totalmente da sua cabeça e do seu bolso? (Alexandre Sesper) – É muito foda, Farofa! Assim como é pra você acreditar na sua arte. Lembra quantas bocas nos chamaram de loucos no começo de tudo? E o que fizemos: tomamos nosso frontal e seguimos em frente, acreditando no que é nosso, no que amamos e dinheiro nenhum compra amor! E hoje essas bocas pagam um pau pra nós porque eles não saíram do lugar. Quanto ao mercado falido que mata o que tem alma, é uma pena mas prefiro pagar pra trabalhar simplesmente pela satisfação de me realizar, ou seja, viver a minha verdade, meu ideal. E em relação ao meu bolso, conto com pessoas como você, Billy Argel, Luiz Gordo, Marco Ubaldo, Fernado Denti e mais um monte de artistas e fornecedores que acreditam na Gardhenal, justamente porque ela tem alma. Sem contar com o amor - o próprio que o mercado também ignora - de todos os skatistas que já passaram e os que estão na Gardhenal. Ninguém tatua um logo à toa! Obrigado Farofa, por ser o um dos primeiros a acreditar e assinar a sua primeira camiseta como Sesper pela Grdhnl. Sem palavras. GF.
Próximo enfocado: Wagner ramos. envie suas PerGuntas Para triBoskate@triBoskate.com.Br com o tema linha vermelha – Wagner ramos. coloque nome comPleto, cidade e estado Para concorrer ao Produto oferecido Pelo Profissional. 2013/fevereiro TRIBO SKATE | 35
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Pra não queimar o pico // TexTo e foTos junior lemoS Uma das leis da física que não perdoa ninguém diz que “toda ação gera uma reação”. Trazendo essa verdade para o skate, o lamentável ocorrido na Praça Roosevelt (ação) resultou em uma série de fatos (reação) que de alguma forma queimou o pico, todo o esforço das gerações que fizeram o skate chegar ao patamar que tem hoje e ainda fez com que aumentasse a repressão no local e a restrição ao skate. Infelizmente são poucos os skatistas ‘em início de carreira’ que pensam nos demais e uma ação isolada de dois ou três prejudicou a todos nós de uma forma geral. Por isso decidimos trazer para a revista nossas dicas de convivência feitas para a Roosevelt, que servem também de exemplo para que o fato negativo não se repita em futuros picos que surgem aos milhares neste nosso imenso Brasil. // naDa De Palavrões A praça é um lugar público e fica bem no centro de São Paulo. Todos os tipos de pessoas se beneficiam daquela ampla área de lazer, incluindo aí uma turminha que é considerada o futuro do nosso país. Por isso temos que deixar os palavrões fora da fase de descoberta das crianças. Caiu errado? Quebrou o shape? Seja lá o que tenha acontecido, não fale ou grite qualquer palavra que você não diria na presença de sua mãe. Mesmo que de passagem, as crianças estão nos assistindo, nós temos que servir de exemplo e esperamos que ele seja positivo. // cuiDaDo com os PeDestres Dê passagem para que circulem, antes de você fazer qualquer coisa. Incluindo cadeira de rodas, pessoas com cachorro, idoso com andador, bicicletas e todo tipo de obstáculo humano que venha atrapalhar o desenvolvimento da sua manobra ou linha. Sem esquecermos de que também é preciso muita atenção para que o skate não escape e acerte alguém. Esse é um dos principais motivos apontados pelos que querem proibir o skate na praça. // recolha seu lixo É foda quando o pico fica com lixo espalhado pelos canteiros sendo que a praça é bem generosa em lixeiras. Não custa nada ir até o cesto, ou jogar tudo no lixo quando for embora. Faça do seu jeito! O que não pode é deixar restos de vasilhame, shape, cigarro, chiclete e todo tipo de sujeira jogados naquele precioso solo. Vamos preservar! // Faixa De isolamento Aquela faixa amarela e preta significa que não se pode circular por determinada área. Principalmente quando essa faixa isola a entrada principal da base da GCM, onde estacionam as viaturas. Certamente esse é o lugar menos provável para se andar de skate, incluindo aí as escadas (pequenas) em frente à base.
André Hiena defende o bom senso no uso da Roosevelt. Heelflip.
// Fique longe Dos viDros A parte superior bem abaixo da grande ‘floresta de madeira reta’, onde ficam a guarita da GCM e os boxes de vidro, é o lugar menos provável para se andar de skate na Roosevelt. Se estiver circulando por ali, muito cuidado! Caso o skate encoste em alguma daquelas peças de vidro, possivelmente a delegacia será o próximo local onde o infeliz skatista irá frequentar. Além de garantir mais um ponto a favor daqueles que não querem o skate na praça. // maDrugaDa não rola De todas as recomendações, a mais importante é a de não andar de skate na praça durante a madrugada. O barulho do skate incomoda o sono da vizinhança e este é o principal argumento dos que são contra. Portanto, vamos colaborar!
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Aspectos da nova Praça Roosevelt, coração de São Paulo.
fotografia // neal hendrix
O mundo por
Neal Hendrix Por Guto Jimenez // Fotos neal Hendrix
s
katistas-fotógrafos estão presentes na história do skate desde sempre, nomes como Glen E. Friedman, Bryce Kanights, Dave Swift e Atiba Jefferson já se tornaram referências em todo o mundo. No Brasil, caras como Daniel Bourqui, Otávio Neto, Dhani Borges e Marcelo Mug são lembrados toda vez que se toca no assunto misturando as artes de andar de skate e registrar momentos únicos com uma câmera. O profissional norteamericano Neal Hendrix é mais um skatista que tomou gosto pela arte de congelar flagrantes únicos, mas tem algumas diferenças. Primeiro, o cara é um dos tops de competições de vert e figurinha fácil nas finais dos eventos da modalidade organizados pela WCS. Com isso, as viagens por todo o mundo tornaram-se tema de suas fotos, e não só sobre aquilo que ele encontra nas rampas e pistas ao redor do planeta. A diferença dele é a sensibilidade de registros das localidades onde ele se apresenta, sempre trazendo um olhar curioso e incomum por trás de suas lentes. Não à toa, o perfil de Hendrix no Instagram é um dos mais acessados e comentados em toda a rede. Nessa entrevista exclusiva à Tribo Skate ele fala sobre suas origens, sua carreira como competidor profissional e, claro, sobre sua visão diferenciada de fotografia. Preste atenção ao que o cara diz, pois ele é um mestre nas duas artes – e sabe como poucos transmitir suas mensagens através de imagens.
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Chris Ortiz
Em agosto do ano passado Neal visitou o sítio do Sandro Dias, em Vargem. Lien air.
Neal, eu sempre te via com uma câmera nos eventos em que nos encontramos. O que te fez passar a levar a fotografia mais a sério? Na verdade, eu só comecei a tirar fotos de minhas viagens pra andar de skate como uma maneira de manter as memórias das viagens divertidas, e também como uma maneira de mostrar aos meus amigos e pra família de volta pra casa. Depois que eu comecei a tirar mais fotos, acabou se tornando mais uma paixão pra mim e eu me envolvi mais com isso. Quando eu me tornei um pro no início dos anos 90, a gente não viajava tanto pra lugares exóticos, mas depois que o skate se tornou mais popular ao redor do mundo, de repente eu me vi em eventos em lugares como China, Dubai, Brasil e África, então esses lugares realmente alimentaram a minha paixão por tirar fotos de lugares e culturas diferentes. Eu nunca tive uma paixão ou sequer um desejo de fotografar skate. Adoro olhar boas fotos de skate, mas eu sempre quis capturar lugares e pessoas. Qual foi o lugar onde você esteve que te deu a ideia de fotografar sob uma outra ótica? Eu sinto que as primeiras vezes que eu fui à China em skate trips, por volta de 2004 e 2005, foi
quando eu realmente desenvolvi um desejo de tirar fotos de lugares onde ninguém mais iria. Na China, enquanto eu andava por cidades como Shanghai e Beijing, eu via tantas coisas que nunca tinha visto em toda a minha vida, pessoas de visual incrível e muitas cores em todos os lugares. As ruas da China são tão cheias que você pode simplesmente se misturar à paisagem e tirar grandes fotos de pessoas no mercado ou trabalhando sem dificuldade. Também a primeira vez que eu fui numa favela no Rio, achei tudo aquilo muito incrível. As pessoas eram pessoas normais, goste ou não, mas como elas viviam era tão diferente de tudo o que eu já tinha visto. Era belo de uma maneira estranha e diferente. Quando você sentiu que o seu olhar de visitante poderia se desenvolver pra algo mais elaborado? Eu sempre fui levado a tirar fotos de lugares sob um ângulo diferente, e me amarrei em capturar as pessoas e a cultura dos lugares os quais eu tive sorte de conhecer. Não estava interessado em tirar aquelas fotos normais de turistas, como uma foto qualquer da Torre Eiffel ou alguma coisa que se parecesse com um cartão postal comum. Depois que eu fui melhorando gradualmente, senti
que seria muito mais legal fazer algo a mais com as minhas fotos e fazer algumas exposições, e possivelmente fazer alguns livros de fotos no futuro pra que mais pessoas possam ver as imagens de minhas viagens. Você esperava a boa repercussão de seu perfil no Instagram? O Instagram e todas as mídias sociais são uma excelente maneira de me conectar com pessoas ao redor do mundo com as quais você divide algum interesse, seja ele o skate, viagens ou fotografia. Quais são seus lugares favoritos pra andar de skate e pra fotografar? Nos últimos anos, eu sempre fiquei ansioso por minhas viagens à China e ao Brasil. Os eventos de skate no Brasil são sensacionais, diferentes de qualquer outro lugar no mundo. Eu sempre fico alguns dias a mais pra ir em missões de fotos no país. Onde falta você ir pra registrar imagens? Eu sempre quis ir à Índia e à Cuba, tomara que possa ir por lá logo. Se você pudesse escolher um lugar pra estar amanhã pra fotografar, qual seria? Algum lugar novo. Todos nós, skatistas, nascemos com um desejo de explorar coisas novas.
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Dubai
Marrocos
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neal hendrix // fotografia
Rio de Janeiro
Eti贸pia
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Rio de Janeiro
Marrocos
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neal hendrix // fotografia
Dubai
Rio de Janeiro
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Menos de uma semana pra fazer as fotos e a companhia da chuva nรฃo foram obstรกculos para Euli: shovit bem estiloso, lรก em cima, no Arpoador.
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menina // entrevista
Euli Vieira
Mistura brasileira eLa é uma mistura de minas Gerais com são PauLo e suas fotos foram feitas no rio de Janeiro. criada na zona Leste PauListana, Já manobrou seu skate Por tantas outras reGiões no brasiL, chiLe e arGentina. euLi Vieira Põe o skate na rua, Puxa o níVeL Pra cima e aJuda a comPor a identidade do skate feminino nacionaL.
Por Junior Lemos // Fotos Pedro macedo // O skate “Fazia uns cursos numa escola do lado de um pista de skate, vi uma garota manobrando e quis andar também. Trabalhava e me esforçava porque não é fácil trabalhar e andar. É difícil se manter no skate sem patrocínio, só segue em frente aquele que anda por amor. Hoje eu encaro como trabalho também.”
// elas nO skate “O skate feminino evoluiu muito, isso é bom! Está com nível, tem muitas meninas escondidas andando absurdo e que precisam ser vistas. Tenho como referência as veteranas que andavam muito de skate como Marta (Linaldi), Mônica (Messias), Patiane (Freitas), Priscila, entre outras. Hoje, além de amigas são espelhos pra mim e para outras garotas; pessoas que realmente me inspiram a andar de skate.” 2013/fevereiro TRIBO SKATE | 47
entrevista // menina
A Praça XV é o pico de rua mais tradicional do Rio e Euli deixa sua contribuição para a história local: bs noseslide.
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menina // entrevista
“
O skate feminino evoluiu muito, isso é bom! Está com nível, tem muitas meninas escondidas andando absurdo e que precisam ser vistas.
”
// Brasil “Tem que superar a barreira do preconceito nas ruas, pois acontece até hoje. Mas o skate nos dá caráter, coragem e aprendizado para seguir. Ganhamos também amigos e viagens. Não é fácil manter o nome em evidência. É como dizem: ‘Quem não é visto, não é lembrado’. Sempre procurei estar nos picos de skate, andar com a galera que curte manobrar também. E gosto mesmo de assistir um vídeo de uns caras, viu! Me inspiro bastante.” // a entrevista “Foi gratificante porque eu realmente queria a entrevista, mas achei que não seria capaz de fazer as fotos! Quando recebi a notícia da Tribo Skate, fiquei muito feliz e fui com tudo. Tenho colegas no Rio de Janeiro, fiquei na casa da minha amiga Luiza o tempo todo; sempre fico lá e na de outros colegas que também gostam de andar de skate.”
Copacabana, bairro nobre carioca, Euli finaliza sua entrevista com esse contorcido bs wallride.
// euli vieira 27 anos, 13 de skate nasceu em Berilo/mG, mora em são Paulo Patrocínio: core store 2013/fevereiro TRIBO SKATE | 51
pescoço preto // riacho grande
A fábrica de lâmpadas Como um impulso elétriCo, a ideia surgiu nas mentes pensantes da Crew pesCoço preto assim que se ligaram na possibilidade de fazer um rolê Classe em mais um piCo inusitado. e de uma reação tão veloz quanto a da luz, estavam eles levando a energia do skate para um galpão esCuro do riaCho grande, loCal que por muito tempo serviu para fabriCar lâmpadas e que agora será lembrado por produzir boas manobras. Por Junior lemos // Fotos allan Carvalho
A
Crew Pescoço Preto tem uma forte identidade com o Riacho Grande, área com bastante natureza que fica em São Bernardo do Campo. Mas não foram os raios do sol e nem o reflexo do verde na água que os moveu até o pico, mas sim a luz de possibilidade que existe por trás do cada sessão de skate. O destino era um local esquecido e o desafio era enfrentar a escuridão de um lugar que iluminou a vida de muitos. Os Pescoço Preto Xande Cavalcante, Vanderley Arame, Felipe Reato, Franz Petcov, Gustavo Paiva, Mario Marques, Paulo Neguinho, Thiago Xuxa e João Paulo encararam as incertezas e construíram diversos obstáculos com o que encontraram por lá, criando novas possibilidades, transformando em energia positiva a negatividade que habita aquelas ruínas, deixando no passado a velha lembrança estampada no que restou da antiga fábrica.
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Felipe Reato não titubeou! Se o telhado forma um spine, o flip tem que ser na medida porque ali é pequena a diferença entre o acerto e o fim da linha.
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pescoço preto // riacho grande
João Paulo encontra uma nova utilidade pro pedaço de metal que um dia foi portão: drop pra gastar as rodas na ferrugem.
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Mario Marques teve que se manter centrado para voltar esse nosegrind.
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riacho grande // pescoço preto
Certamente a última vez que usaram a mesa foi para assinar as dispensas dos funcionários e bastou Gustavo Paiva correr o bs lipslide pra decretar sua aposentadoria.
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pescoço preto // riacho grande
Vanderley Arame conhece muito bem como sustentar o grind em cano redondo, assim como tambĂŠm sabe calcular o risco de nĂŁo perder a manobra (e a vida).
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O Maloka Xande Cavalcante tambĂŠm lida com o imprevisto passando de flip na paralela, onde ĂŠ mĂnima a possibilidade de manobrar o skate.
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Paulo Ricardo faz dos escombros uma rampa improvisada, mas o nollie shovit foi calculado pra sair na medida certa.
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riacho grande // pescoço preto
Thiago Xuxa aumenta ainda mais o valor que móveis rústicos têm no mercado: blunt cravado.
Se até no meio das rochas a natureza está presente, Franz Petcov ‘planta’ o skate nas ruínas da fábrica e colhe esse kiwi rock’n’roll, pra fechar a sessão.
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entrevista pro // nilo peçanha
Nilo Peçanha
Tira leite de pedra Por Cesar Gyrão // Fotos rené Jr.
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entrevista pro // nilo peçanha a esCola de skate de transição no rio de Janeiro é reConheCida por sua imensa Criatividade no quesito triCk-triCk e por seus skatistas estilosos. nos anos 90, nomes Como allan mesquita, alessandro ramos, Júlio vasConCelos e tantos outros, emendavam uma CompliCada em Cima da outra, faziam Combos Com três em uma, quatro em uma, tanto quanto as minirrampas de então proporCionavam. desde o final dos anos 70, e todos os anos 80, o skate de Curvas tinha lá também seus íCones do estilo Criados em pistas Como Campo Grande ou barramares, que influenCiaram as Gerações dos anos 90 e 2000, alGuns até hoJe na ativa. de JorGe luiz tatu a luiz “Come rato” de Jesus; de Cesinha Chaves a bruninho passos; de marCelo neiva a renato nanas; de miltinho Gasbarro a pedro slivak. tantos aGressivos skatistas que se Criaram em bowls Como o do rio sul e o arpoador. o mais reCente exemplo desta raça que defende as Cores do skate de ConCreto do rio, atende pelo nome de nilo mieres peçanha, parte de uma estirpe de skatistas que andam leve e bonito, que tiram leite de pedra e esquentam as sessões em que partiCipam.
V
ocê começou 2013 estreando o reformado bowl do RTMF, em Floripa. Como ele ficou depois desta repaginada? Você tem aproveitado também a Hi Adventure? O bowl do RTMF já era bom, mas algumas partes deixavam a desejar dificultando algumas linhas. Agora ele está todo perfeito e com o melhor coping que já andei na vida! Nas duas semanas que estive em Floripa eu fiz três sessões na pousada e a pista também está muito boa, mas como o bowl do Pedro tinha acabado de ficar pronto não consegui sair de lá! (risos) Logo no início de fevereiro você estará encarando a primeira etapa do ranking WCS (World Cup Skateboarding) no Maresia Vert Jam, vestindo a camiseta da marca na sua terra. O que pretende lançar no half pipe? Está embalado com o novo patrocínio? É muito bom estar com uma marca como a Maresia, que está investindo no skate! Estou feliz e muito motivado com o novo patrocínio e com certeza vou dar um gás para andar bem no vert! O Rio precisa de um bom half pipe há muitos anos. O fato de não termos um, atrapalha bastante, mas vou lá dar as minhas manobras sem muita pressão. Eu gosto do concreto, não tem jeito! É um início de ano intenso, pois você está entre os poucos brasileiros que vão abrir o circuito mundial de concreto na Austrália e Nova Zelândia. Por ter morado em Sidney, você tem ideia do que lançar de novo nas suas linhas? Vai mesmo começar o ano marcando presença em todas as etapas possíveis? A primeira etapa será em Newcastle, uma cidade próxima de Sydney onde, inclusive, eu e Otavio Neto fizemos uma demo para inaugurar o skatepark onde acontece o evento! Essas semanas que passei aqui no RTMF deram um gás que eu estava precisando; acho que vou chegar no rip lá na Austrália e com certeza vou andar à vontade, pois já competi duas vezes as etapas de lá! Ano passado você finalmente inaugurou a sua loja, a Carma Skate Shop. Essa não é sua primeira experiência no mercado, pois você tinha a importadora com seu pai. Como foi essa evolução nos negócios? A importadora infelizmente não deu certo. Os impostos aqui no nosso país são abusivos e isso desanimou o meu pai, que estava investindo no negócio. Quando percebi que no Rio de Janeiro não existia nenhuma loja onde o dono era skatista e amigo da galera, eu resolvi abrir a minha! A loja foi idealizada por mim e pelos meus amigos Leandro Chami e Dalmo Roger, sem falar em vários amigos que ajudaram na obra, como o Waguinho, que é nosso
vendedor e ajudou a gente na reforma; Dig também ajudou; até a Alice, minha namorada, pintou parede (risos) e a galera da Rio Ramp (Design) que fez o nosso projeto! A loja tem sido uma boa escola para entender o mercado, estando do outro lado do jogo. É importante termos skatistas abrindo negócios como marcas, lojas e trabalhando nas grandes empresas. Sou muito grato à toda a ajuda que minha mãe me deu e tem me dado no projeto da loja; sem ela não teria conseguido fazer isso acontecer! Quando estou viajando, ela que segura as pontas lá para mim! Você falou em entrevista para o (Luis Roberto) Formiga, em seu programa Frontside, que um dos melhores eventos do ano passado foi o Red Bull Generation, no RTMF. Ele próprio é uma das lendas do skate brasileiro que foi finalista no ano passado. Quem são os skatistas da antiga que você convive e que o inspiram a andar? Come Rato e Pedro Tibau são dois amigos que ando sempre e sempre aprendo alguma coisa vendo eles andarem! Durante toda minha carreira, duas influências fortes foram Allan Mesquita e Bruno Passos! Você trancou faculdade de Educação Física há quanto tempo? Já decidiu voltar ou pensa em algum outro curso pelos rumos que sua vida tomou? Já estou afastado da faculdade há muito tempo. Hoje em dia estou pensando em fazer algum curso relacionado à Administração de Empresas para me ajudar na loja! Talvez você seja um dos skatistas brasileiros que mais viajou nos últimos tempos partindo do Brasil, atrás do Pedro Barros, mas passando à frente mesmo do Otavio Neto. Quais foram os países e as melhores sessões que você fez até agora? Austrália e Nova Zelândia são países alucinantes! Gosto muito de ir para lá! As melhores sessões, com certeza, foram umas que fiz com o skatista Dave Ruel nas piscinas da Califórnia. Ele conhece todas “backyard pools” ali da região de Costa Mesa e me levou em várias! Foi uma sensação muito boa andar nas piscinas! O (João) Pirikito Sem Asa evidenciou em sua entrevista para a Vista, o seu lado ambidestro: de andar tão bem de switch quanto na base. Conta pra nós como você passou a andar como goofy no vertical e regular no street? Quando comecei a andar eu andava goofy nas minirrampas, mas assim que comecei a tentar os primeiros flips achei mais fácil de switch e assim fui desenvolvendo o meu skate como regular nas ruas! Hoje em dia me sinto confortável andando regular quando ando na rua e goofy no vertical! É muito louco mas foi como eu aprendi!
“A loja tem sido uma boa escola para entender o mercado, estando do outro lado do jogo. É importante termos skatistas abrindo negócios como marcas, lojas e trabalhando nas grandes empresas.”
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Stale fish é a manobra mais adequada pra aplicar sobre o tubarão do bowlzinho customizado pelos locais da Praça do O, na Barra da Tijuca. Isso, porque a manobra criada por Tony Hawk quer dizer alguma coisa como “peixe velho”, servido na bandeja!
2013/fevereiro TRIBO SKATE | 65
entrevista pro // nilo peçanha
“Já dei uma brincada na Mega em Woodward, mas não é a minha praia.”
Muitos centímetros de vertical projetam um frontside ollie respeitável! Simplicidade no complexo de bowls do Parque de Madureira.
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Quem conhece o Nilo jรก destravou a confusรฃo cerebral gerada por ser regular foot no street e goofy foot no vertical. Ollie monstro.
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nilo peçanha // entrevista pro
Street skate na Praça do O rende aquele carteado típico das bordinhas, quando você pode complicar na técnica e abrir aquele sorrisão depois de voltar o combo de manobras. Nollie frontside crooked to fakie.
2013/fevereiro TRIBO SKATE | 69
Há muito tempo que o half pipe do Sambódromo do Rio está entregue às traças. O local nunca viu antes um verdadeiro e cravado frontside blunt da autêntica escola carioca de transições.
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nilo peçanha // entrevista pro Você morou uns meses em São Paulo para estar mais focado no skate. Quando foi isso e onde você andava? Quando morei em São Paulo, meu pai estava morando lá e foi quando começamos o lance da importadora! Eu tinha acabado de voltar da Austrália e todas as pistas do Rio estavam abandonadas, então achei que seria melhor estar em São Paulo, começando um novo negócio e andando em algumas pistas diferentes! Eu andava muito com o Murilinho (Peres) na pista do Sumaré e às vezes na Avenida Paulista e no (Mauro) Mureta! Quando a pista do Rony (Gomes) ficou pronta eu já estava voltando a morar no Rio, então andei lá só duas vezes! Desde a criação do skatepark de Madureira, o Rio ficou bem mais interessante em termos de pistas, mas você ainda continua sendo local do Rio Sul. Este bowl justifica mesmo a fama que tem, mesmo depois de tantos anos? O Rio Sul foi onde tudo começou para mim, por isso andar lá tem um gosto especial! A pista, mesmo estando largada, ainda tem uma transição perfeita! Eu participei de algumas reformas que fizemos lá! Pierre, Cesinha Augusto, Marinho, (Pedro) Tibau, Come Rato e (Jorge) Zunga são alguns dos nomes que sempre estão andando lá e fazendo com que a pista continue skatável! O shopping Rio Sul junto com a Prefeitura do Rio de Janeiro prometeram uma reforma para esse ano e estamos esperando ansiosamente. Tomara que aconteça mesmo! Você disse que sente falta de coping block nos bowls do Rio, porque a única parte que tem é um dos gomos do bowlzão de Madureira. Você sente falta é do barulho ou da dificuldade de encaixar as manobras de borda? (risos) Coping block é muito mais legal de andar! Quase todos campeonatos acontecem em pista com coping block hoje em dia! Seu “nome de guerra” – Nilo Peçanha - é o mesmo que o de um ex-presidente do Brasil. Ainda existe alguém que lhe pergunte se você sabe quem foi este cara? Você sabia que ele foi um dos defensores dos direitos dos índios? Sempre que me apresento perguntam se eu sou da família do cara (risos)! Ele era da minha família sim, foi vice-presidente e assumiu a presidência por poucos meses! Sabia também sobre os índios (risos)! Qual o segredo para fluir bem em qualquer pista? Primeiro observar, depois sentir, depois se atirar? O segredo é andar de skate todo dia em todo tipo de lugar! Um de seus parceiros de viagens mais constantes é o Marcos Gabriel, que será o próximo entrevistado aqui na Tribo Skate. Como é viajar com ele? A mais recente foi a de New York? Como foi esta trip? Marcos é uma figura única! Tem sido bom viajar com ele! Ele tá sempre pilhado para andar em qualquer lugar! A última viagem para NYC foi legal. Andamos muito lá e depois fomos para a Califórnia! Foi a primeira vez dele nos EUA e foi legal levá-lo em alguns picos que eu já tinha ido! Fomos também para Woodward onde passamos dois dias inteiros andando sem parar! Overdose de skate! Parece que você faz tudo para não perder uma oportunidade de estar onde o bowlriding esteja acontecendo. No ano passado você estava na inauguração do Colombowl, do Vitor Simão, na área de Curitiba. O que achou do pico? Acertaram a mão? Achei o Colombowl animal! Os caras mandaram bem! Como você intercala as sessões de street com as de pista? Quais são seus picos de rua prediletos? Com quem gosta de andar? Tenho andado muito de bowl, mas ultimamente tenho voltado a andar mais na rua! Quando ando na rua, normalmente vou
na Praça XV ou em algum pico de rua fazer uma foto! Gosto de andar com todos meus amigos! Você já tinha sido enfocado no programa Pela Rua, do canal Off, em outras andanças, no Brasil e nos EUA e está na estreia da terceira temporada. Como é gravar com os caras? (Carlinhos) Zodi, (Anderson) Tuca e (Flavio) Samelo? É muito bom gravar com eles. É bem relax e divertido! Sempre flui! Algum plano de parte de vídeo em mente? Quais foram seus melhores momentos nesta área? Eu fiz uma parte pequena para a Maresia nessa minha ida a Floripa e estou terminando uma parte para a Carma Skate Shop também! Tem um vídeo chamado Prisma, feito pelo (Marcelo) Arteiro e o Jesus; já tenho uma parte fechada com eles e estou só esperando eles lançarem isso. Quero filmar bastante esse ano, principalmente na rua; acho que tenho muita coisa legal para mostrar no street. Voltando aos programas de TV, você participou da inauguração da minirrampa da casa da Helga do Skate Paradise. Como foi aquela sessão? Lembrou suas bases da mini da Urca? Foi irada a sessão, a casa estava cheia. Quando ando de mini ramp, principalmente se estiver o maior crowd na plataforma, lembro da Urquinha. Você transita em vários ambientes da militância do skate do estado do Rio de Janeiro e é respeitado por todos. Galera da Pense Skate (Rennê Nunes, Júlio Tio Verde, etc), o Bruno Funil e seu NES, o André Viana da Faserj, a galera mais da antiga, como o Jorge Zunga, o Pedro Tibau, o Cesinha Augusto, o Cesinha Chaves, a galera da Praça XV, Praça do O, o Grilo em Niterói, a nova geração toda… Você vê o skate do Rio mais unido ultimamente? Não sei dizer se está unido, mas acho que tem mais gente se movimentando e fazendo a coisa acontecer. Com tanta base de vertical, por que ainda não encarou a Megarrampa? Não rolou ainda de visitar a casa do Bob (Burnquist) na Califa? Está nos seus planos? Não ando muito em vertical; ando em todo tipo de transição mas não no vertical propriamente dito. Já dei uma brincada na Mega em Woodward, mas não é a minha praia. Já visitei a casa do Bob uma vez e pretendo voltar lá, mas não para andar na Mega. Um de seus mentores é o Allan Mesquita e você faz parte da Devotion, a marca dele. Como é participar de um conceito tão ligado ao skate de raiz? Conheço o Allan há muito tempo e quando era criança acompanhei de perto toda evolução dele. A Devotion é como uma família, ou uma crew como falam! Acho que o ano de 2013 vai ser muito bom para a marca, estamos com alguns projetos em andamento! Você participou destas intervenções que transformaram alguns dos picos do Rio, como a Praça do O, na Barra da Tijuca? Participei da reforma do Rio Sul e de alguma forma estou sempre ligado à Praça do O. Passamos muito tempo reclamando que não tínhamos nada no Rio e de uma hora para outra começamos a fazer acontecer e agora estamos colhendo os frutos!
“Hoje em dia me sinto confortável andando regular quando ando na rua e goofy no vertical! É muito louco mas foi como eu aprendi!”
// Nilo Mieres PeçaNha 25 anos, 14 de skate Patrôs: Maresia e CarMa skateboard shoP aPoio: bar 399, devotion, aCe truCks e Globe rio de Janeiro/rJ
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“O Rio Sul foi onde tudo começou para mim, por isso andar lá tem um gosto especial!”
Pode ser que por esta foto a recém demolida mini do Maracanã finalmente tenha feito sentido. A rampa sinistra, cheia de rachaduras também estava abandonada. Para mandar um half caballerial destas proporções, Nilo voltou de fakie do canyon irregular segurando no esqueleto as imperfeições do pico.
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nilo peรงanha // entrevista pro
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fotografia // lomo
Jr. Pig, hurricane, S達o Paulo, 2012.
HOLGA. Foi com ela. // TexTo e foTos Marcelo Mug
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Duane Peters, Florianópolis, 2012.
VX1000.
Filipe Ortiz, Curitiba, 2011.
Vinicius Amorim, São Bernardo do Campo, 2010.
A
repetição cansa, a mesmice satura. Por que sair para fotografar sempre com os mesmos pensamentos, com a mesma visão de ontem, com as mesmas máquinas, lentes e flashs? Para mudar não é preciso comprar uma lente cara ou um flash potente. Basta quebrar o ciclo vicioso que a rotina cria e enxergar novas abordagens, mesmo que seja sobre aquele velho tema. Por isso que há mais de três anos uma máquina de plástico virou item obrigatório na minha mochila de fotografia. A Holga 120 é uma câmera barata, sua lente é de baixa qualidade e ela pode ser confundida facilmente com um brinquedo de criança. Seu foco não é o mais preciso, sua lente é fixa, ela tem apenas duas opções de regulagem de luz e utiliza o raro filme de 120 milímetros. Comparando com uma câmera digital, podemos dizer que a Holga tem uma série de limitações. Mas eu prefiro dizer que ela é uma câmera única. E foi preciso essa câmera de plástico para me desviar da mesmice. É com ela que eu repenso meu olhar sobre o skate, que eu sou mais criterioso na hora de apertar o disparador, que eu sinto o frio na barriga na hora de pegar as fotos reveladas. É com ela que eu lembro de subverter regras de foco, luz e enquadramento, regras que muitas vezes eu mesmo criei e implantei na minha cabeça. Foi preciso uma Holga para perceber que a mesmice e regras não estão acopladas na máquina digital que eu uso todos os dias, nem em nenhum outro item da minha mochila de fotografia. Foi com ela que eu percebi que a mesmice está na minha mente, e que eu posso fazer tudo isso que eu faço com ela, sem ela. 2013/fevereiro TRIBO SKATE | 75
fotografia // lomo
Paulo Galera, S達o Leopoldo, 2012.
Otavio Neto, Quito, Equador, 2012.
Rene Shigueto e Marco Cruz, Rodovia Fern達o Dias, 2010.
Renato Souza, Curitiba, 2011.
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Skatista local, Carcelen, Equador, 2012.
Músico, Jerusalém, Israel, 2011.
Pablo Groll, Tel Aviv, Israel, 2011.
Guilherme Trakinas, crooked, Santo André, 2010.
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Bruno Park
cbsk // profissional
Rankings:
Rene Shigueto, mais um título de campeão brasileiro de freestyle, após vencer duas etapas e ficar em segundo em outra. Primo slide nollie inward heelflip.
pra que servem? // Por Cesar Gyrão
H
oje em dia poucos se lembram dos atuais rankings nacionais, de quem foram os campeões, os top ten. Alguns vão lembrar destas grandes conquistas apenas na hora de negociar com patrocinadores, principalmente quando forem de fora do mercado do skate. Poucos são aqueles que vão pleitear as desejadas bolsas-atleta oferecidas pelo Ministério do Esporte. Não é pouca coisa. Para se garantir um título de campeão brasileiro profissional, foco desta matéria, via de regra é necessário muito comprometimento com a modalidade que se pratica. Com o objetivo de colocar novamente a discussão na roda, não há como ignorar a veia competitiva dos brasileiros. Sempre fomos guerreiros de campeonatos, por isso tantos títulos mundiais que nos enchem de orgulho. São ótimos argumentos para aumentarmos nossa autoestima, para vendermos projetos, para conquistarmos respeito em ambientes que ainda teimam em não nos enxergar. Será que ainda existe isso? Sim, existe. Por mais que o skate seja cada vez
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mais inserido na sociedade, ainda há uma grande tendência de olharmos apenas para os campeões internacionais, nem sempre valorizando nossas pratas da casa como deveríamos. Entre as grandes características que deram musculatura ao skate brasileiro, havia a formação de ídolos internos, aqueles caras que não precisavam cruzar as fronteiras para mostrar valor. No entanto, depois de tantos anos de globalização, com a enorme facilidade que se tem pra viajar e, algumas vezes a carência de eventos em algumas modalidades, os brasileiros aprenderam a correr o mundo, a competir e vencer lá fora. No entanto, precisamos voltar os olhos mais para os nossos circuitos nacionais, compilados pela Confederação Brasileira de Skate, a CBSk. Por mais que algumas modalidades tenham se resolvido com apenas uma etapa, o caso do downhill slide, o esforço e o mérito de cada campeão brasileiro precisam ser muito reconhecidos e respeitados. O circuito brasileiro de speed, por exemplo, contou com quatro etapas (Mega Space, Belo Horizonte/
ana Paula negr達o
Kelvin Hoefler fez quest達o de competir as etapas do Circuito Brasileiro CBSk de Street para garantir seu primeiro t鱈tulo de campe達o de street. Isso depois de vencer duas vezes o ranking mundial WCS (World Cup Skateboarding). Fs bluntslide.
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Daniel Belmiro
Karen Jonz, referência no half pipe e banks. Bs air, aqui, no bowl.
Dalua, o homem do speed: seis vezes no Brasil, uma no mundo.
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Petrônio Vilela
grazi oliVeira
cbsk // profissional
Sandro Dias, o hexacampeão mundial de vert vence novamente o CBSk. Bs air, Pig Pool.
Hélio greco
MG; Skate na Velocidade III, Santana de Parnaíba/SP; Brasileiro Downhill Speed - Bento Gonçalves/RS; Mad Rats São João do Deserto, Lomba Grande/RS) e é considerado um dos melhores circuitos regionais do mundo. Segundo Otávio da Silva Munhoz, do Conselho Nacional de Skate Velocidade, “a nossa cena aqui no Brasil é invejável mundialmente, pois lá fora só há categorias open e não são consideradas profissionais.” Não é à toa que o atual campeão mundial de speed, o Douglas Dalua, é novamente campeão brasileiro, acumulando seis títulos. Não é diferente com as outras categorias e a conquista do título de campeão brasileiro deveria ser muito mais valorizada, porque esta é a base, a estrutura que pode fazer a diferença. No vertical, com duas etapas em 2012, Sandro Dias é declarado mais uma vez campeão brasileiro (além de seus seis títulos mundiais). No street skate, o bicampeão mundial Kelvin Hoefler agora tem seu primeiro título de campeão profissional do país. A categoria profissional feminina está crescendo e começa a criar corpo para ter eventos mais competitivos. As poucas profissionais de agora servem de baliza para as tantas meninas que estão crescendo no esporte no país. Quando encaram as provas internacionais, nossas representantes sempre mostram serviço. Para ficar registrado no papel e que todos possam levar adiante o conceito do valor de nossos rankings, seguem os top ten de todas as modalidades que tiveram seus circuitos ou campeonatos nacionais (algumas modalidades tiveram menos competidores).
// Street 1º Kelvin Hoefler 2º Lucas Carvalho “Xaparral” 3º Danilo do Rosário 4º Rodil de Araujo Junior 5º Diego Oliveira 6º Mailton dos Santos 7º Rodolfo Ramos “Gugu” 8º Diego Fiorese 9º Carlos de Andrade 10º Paulo Ventura “Galera”
// Vertical 1º Sandro Dias 2º Rony Gomes 3º Dan Cezar 4º Edgard Vovô 5º Ítalo Penarrubia 6º Mizael Simão 7º Sergio Negão 8º Cris Mateus 9º Marcelo Kosake 10º Lécio Batista
// FreeStyle 1º Rene Shigueto 2º Marcos Toshiro 3º Diego Marques 4º Isnard Rocha 5º Alexandre Brownzinho 6º Lucio Flavio 7º Per Canguru 8º Lucas Fraga
// Downhill SliDe 1º José Carlos Birinha 2º André Magriça 3º Jailson Will 4º Ricardo Mikima 5º Rodrigo Didi 6º Luciano PT 7º Cristiano Indinho 8º Rafael Sabella 9º Reine Oliveira 10º Laura Alli
// SpeeD 1º Douglas Silva 2º Silon Garcia 3º Juliano Cassemiro 4º Alysson Garcia 5º Ricardo Reis 6º Arthur Bafile Pacifici 7º Lucas Bontorin Bette 8º Rafael Sabella 9º Otávio Augusto da Silva Munhoz 10º Renato Reche
// Slalom 1º Thiago Gardenal 2º Fabio Dery 3º Caco Ratos 4º Rogério Sammy 5º Ricardo Mikima 6º Bruno Brown 7º Marquinhos Ubaldo
// BankS Feminino 1º Karen Jonz 2º Renata Paschini 3º Ligiane Xuxa
// Vertical Feminino 1º Karen Jonz 2º Renata Paschini
No slalom profissional, o nome da cabeça é Thiago Gardenal. Ao fundo, Dery.
Hélio greco
José Carlos Birinha conquista o cinturão do downhill slide.
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divulGação
zap //
otavio Neto de hocks nos pés
Ultra noel Cristiano Mateus Camilo da Silva, ou simplesmente o Cris da Ultra Skate, tira todo final de ano aquela velha fantasia de senhor Noel da gaveta e sai por aí distribuindo presentes de Natal para os skatistas. E em 2012 o Ultra Noel recebeu ainda mais apoio das marcas e também da revista Tribo Skate, o que resultou em um volume maior de brindes e com isso a festa antecipada de final de ano foi ainda maior para garotos e jovens que tiveram a sorte de encontrar o Ultra Noel por pistas e picos de skate. Aguardem porque logo menos o natal de 2013 vem aí!
Apoio:
Fotos Flávio Gomes
Começo de ano e o mercado nacional de skate está em renovação de suas equipes, com várias contratações sendo anunciadas regularmente. A última boa notícia é o baita reforço para a equipe da Hocks Footwear: Otavio Neto, verticaleiro que também manobra câmeras fotográfias e ainda escreve e exerce a função de repórter em seu blog e em programas da ESPN/Brasil, agora coloca pra ralar nas sessões e rolês os pares de tênis da marca. A notícia sinaliza dois pontos positivos: a valorização de nossos skatistas e também das marcas que são genuinamente brasileiras, nas palavras do próprio Otavio, “Tô muito feliz em fazer parte desta equipe e de usar um produto nacional de ótima qualidade e bom gosto”, finaliza ele.
casa nova //
Fs flip.
André Cocão // fotos junior lemos Ser skatista é: Subir no carrinho, fazer uma sessão com amigos e se divertir. Quando não está andando de skate: Fico em casa, assistindo vídeos e mexendo no pc. Porquê do apelido: Desde pequeno já era magrelinho com a cabeça grande. Maior dificuldade em ser skatista na sua cidade: Não ter apoio da cidade, nem da sociedade. Skatista profissional que se espelha: Alex Carolino. Skate atual: Shape Vegetal, trucks Independent, rodas Moog e rolamentos Abec-1. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: GoPro.
Som pra ouvir na sessão: Bob Marley, Jedi Mind Tricks e Bezerra da Silva. Parceiros de rolê: Nilmar Mendonça, Thales Fernandes, Rafael Soares e muitos outros. Melhor viagem: Praça das Águas, Campinas/SP. Melhor pico de rua: Gap do Educandário da minha cidade. Melhor pista: Barrinha, Passos/MG. Sonha alcançar com o skate: Diversão e o profissionalismo. Aquele salve: Cabeção, Eleandro Nascimento, Skate Escola, Jonathan Lucas, S.O.S. Crew, Wagner Souza e toda rapa LFS que tá com nóis. // André Luiz rodrigues 21 Anos, 10 de skAte PAssos/MG APoio: LFs Crew
nas grandes batalhas da vida, o primeiro ‘‘passo para a vitória é o desejo de vencer. ’’ 84 | TRIBO SKATE fevereiro/2013
casa nova //
Shovit nose manual bigspin out.
André willian // Por Camilo Neres Ser skatista é: Ser livre, fazer um rolê com os amigos e expressar o prazer de andar de skate através das manobras. Quando não está andando de skate: Estudando ou tocando guitarra. Maior dificuldade de ser skatista em Brasília: Pouca pista de qualidade, faltam mais eventos e mais marcas fortalecendo o skate. Vídeos favoritos: Capital Skateboard Ame-o ou Deixe-o e o Pretty Sweet. Skatistas em que se espelha: Luis Paulo (Aladin), Luan de Oliveira, Juliano Amaral, Felipe Gustavo (Bochecha), Carlos Ribeiro (Dudu), Austyn Gillette e vários outros. Skate atual: Shape Capital, rodas Moska 53mm, trucks 139, rolamentos Red Bones e lixa Jessup. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: O tempo dirá. Som para ouvir na sessão: Rap gringo e nacional, rock e indie rock.
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Melhor viagem: A que fiz recentemente com meu pai para o Iapi em Porto Alegre. Melhor pico de rua: Setor Bancário Sul. Melhor pista: Núcleo Bandeirante no DF e a Skate Plaza de Guapiaçu/SP. Sonha alcançar com o skate: Me profissionalizar e poder viver do skate. Fazer as coisas que qualquer pessoa sonha e busca realizar com seu trabalho. Andar de skate pra sempre. Aquele salve: Para meu maior amigo, companheiro e apoiador, meu pai “Seu Willian”, pois sem ele eu não estaria fazendo o que gosto. Pra minha família, que está sempre ao meu lado. Aos meus apoiadores, que são fundamentais para minha evolução, e toda galera que conheço, pois são muitos amigos que tenho, graças a Deus. // André WiLLiAn rAmos ArAújo BrAsíLiA/dF 16 Anos, 6 de skAte PAtroCínios: Funhouse, Go/dF, odonto eMery, ACAdeMiA ACquA MedLey, CAPitAL, MoskA e Converse
‘‘
nunca pense em desistir, o mundo quer te ver sorrir.
’’
casa nova //
rafael Panco // fotos marcelo mug Onde nasceu: Guarulhos/SP. Onde mora atualmente: Guarulhos. Primeiro skate: Do meu irmão, não lembro as peças e nem ele! (risos) Skate atual: Rodas Spitfire, rolamentos Bones, shape Agacê e truck Crail. Som pra ouvir na sessão: Rock and roll! Uma parte de vídeo de skate: Chad Tim Tim, no Time to Shine da Transworld. Três amigos de sessão: Bruno Arruda, Thiago Japa e Denis Callegari. Comida: Da minha mãe e da minhas irmãs. Bebida: Água. Balada: Parei, por enquanto! (risos) Melhor pista: Brahma Skatepark, em Guarulhos/SP. Sonho: Viver bem com o que tenho, sempre! Para ler: A Estrada da Noite, de Joe Hill. Viagem: Para São João da Boa Vista/SP. Um salve: Pra toda minha família e amigos que me ajudaram e que, de alguma forma, continuam me incentivando a melhorar como pessoa e skatista! // rAfAeL rodrigues 19 Anos, 8 de skAte GuAruLhos seM PAtrô
Switch heelflip.
‘‘nascido para perder, vivendo para vencer.’’ 88 | TRIBO SKATE fevereiro/2013
˜ Próxima edição 209 ˜
Viajante incondicional
Marcos Gabriel Stapelbäddsparken Skatepark, Malmö - Suécia. Foto: Otavio Marotti
hot stuff // fevereiro
// real Decks pro-models construídos no sistema ‘Low Pro Construction’ e também os especiais ‘Hidden Graphic’. Essas são as opções de shapes da Real para quem quer começar o ano com o skate afiado! A série Low Pro Cons. consiste em um produto mais leve, resistente e ideal praqueles que levam o skate de rua a sério. A série Hidden Graphic revela uma estampa oculta ao se projetar o silck em direção à luz do sol. Plimax - (11) 3251-0633 - edgar@plimax.com
// Mary Jane A bicampeã mundial Karen Jonz uniu seu talento à marca Mary Jane. E o primeiro fruto dessa parceria é o modelo Flip, que já pode ser conferido nas lojas. O tênis, especialmente voltado para a prática do skate, foi desenvolvido e testado pela skatista. Mary Jane - (51) 3564-8000 / maryjane.com.br
// Skate até Morrer Bruno Araujo assina o modelo de shape composto de sete lâminas de maple canadense legítimo, fabricado no México onde são prensados as melhores marcas de decks do mundo. O silk também e diferente pois é feito direto na madeira, além do verniz especial que desliza mais fácil nas bordas e canos. Skate Até Morrer – (11) 3224-8872 / skateatemorrer.com.br
90 | TRIBO SKATE fevereiro/2013
fevereiro
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// narina Fundada em 1986, a Narina é uma referência no skate brasileiro e está de volta às suas raízes. E já começa com força total lançando uma linha completa de shapes para os rolês diários de street. Narina - (11) 99978-3159 / facebook.com/narinaskate
// Zoo york WatcheS Traduzindo com originalidade o estilo de vida do skatista, a Zoo York traz em seus modelos de relógios toda a diversidade que gira em torno do universo urbano. No Brasil a coleção Zoo York Watches ocupa as melhores vitrines, garanta o seu! Plimax – edgar@plimax.com.br / (11) 3251-0633 ramal 114
// raMp in Box Empresa especializada na fabricação de minirrampas e obstáculos para skate sob medida para seu quarto, quintal, sítio, casa na praia e onde quiser! O modelo Playground conta com roll’in e uma extensão de frente, o que garante boas sessões com os amigos. Ramp in Box - (12) 8806-7577 / rampinbox.blogspot.com
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A escAdAriA de nove degrAus impõe respeito e AindA não hAviA presenciAdo um 360 flip em suA históriA, de vários moments e filmAgens. João vitor gAlvão sAiu de Juiz de forA/mg pArA deixAr A suA mArcA nestA escAdA que ficA nA prAçA do fórum em contAgem/mg. depois de suAr A cAmisetA A recompensA veio em dobro, Além é clAro dA sAtisfAção de missão cumpridA: foto impressA nA revistA e vídeo do Acerto no site triboskAte.com.br // TexTo, foTo e filmagem diogo groselhA
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áudio // turbonegro
A volta da banda punk mais selvagem da Noruega Por Eduardo ribEiro // foto raymond moskEn
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Turbonegro está certamente entre as mais destacadas bandas de rock egressas do cenário underground no Velho Continente. Fundado em 1988, na cidade de Oslo, capital da Noruega, o grupo estreou com o bem cotado álbum Apocalypse Dudes, arrebatando uma legião de aficionados reunidos em numerosos clãs uniformizados que chegam aos shows e se apresentam como Turbojugend. Os caras do Turbonegro são cheios de bordões, letras escrachadas e frases de efeito: seu estilo musical, por exemplo, uma espécie de mistura entre o glam e o punk, é promovido por eles como “death punk”. E, como autênticos egressos da contracultura em seu país de origem, investem também no visual, criando looks que brincam com elementos buscados nas maquiagens de Alice Cooper, nos filmes de terror, na moda predominantemente jeans, na estética dos estereótipos masculinos de modo geral e em referências vindas de Laranja Mecânica e New York Dolls. É curioso pensar, até, que o quinteto e sua trupe uniformizada poderia facilmente passar por uma daquelas gangues vistas no filme Warriors, clássico dos anos 1980. Formado atualmente por Tony Sylvester aka Duke of Nothing (vocal), Euroboy (guitarra solo), Rune Rebellion (guitarra base), Happy-Tom (baixo) e Tommy Manboy (bateria), o combo acaba de lançar seu nono álbum, sugestivamente nomeado Sexual Harrassment (Volcom/Universal). O disco é um tapa na cara dos detratores, que, após a saída do cultuado vocalista Hank Von Helvete, em 2007, durante todo esse hiato torciam o nariz para a ideia de um retorno do Turbonegro com outra voz no microfone. Quem, afinal, estaria à altura da cativante e contagiante presença de palco de Von Helvet? Não à toa, já que foi com o seu gogó que eles gravaram alguns dos maiores sucessos, reunidos no explosivo Party Animals (2005): “City of Satan”, “All My Friends Are Dead”, “Wasted Again” e “Final Warning”. Mas Sexual Harassment traz à tona uma energia que os rapazes parecem ter acumulado ao longo desses últimos cinco anos. Tony, o novo vocalista, um inglês fã de longa data do Turbonegro,
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que inclusive foi presidente do fã clube em Londres, assumiu o posto com autenticidade e segurança. As dez faixas, gravadas no Electric Lady Studios em Nova York – sim, aquele do Jimi Hendrix, mantêm as raízes do hardcore e absorvem sonoridades vindas de bandas como Stooges, Motley Crue, Judas Priest e Rolling Stones em sua fase dirty. O resultado são 32 minutos de pura energia, guitarras ferozes e muita zoação. Recentemente, o Turbonegro lançou seu segundo single desde o retorno à ativa, “I Got a Knife”. A faixa ganhou um videoclipe para lá de bem produzido e editado, repleto da lascívia pela qual o grupo ficou reconhecido. Aproveitamos a deixa para falar com o simpático guitarrista Euroboy, um dos fundadores da banda, que encontrou tempo entre um show e outro para a entrevista a seguir. Na conversa, ele revelou o motivo da saída do antigo vocalista e contou detalhes da gravação do novo álbum. Depois dos últimos shows com o ex-vocalista, vocês já tinham em mente essa proposta de encontrar novos membros para a banda, remodelar o som? Se a ideia era que a banda se encerrasse ali, qual foi a ocasião ou conversa que fez com que vocês se sentissem empolgados ao ponto de recomeçar? Euroboy: Já nos últimos anos da última década, nós pressentíamos o fim da banda. Quando começamos, dez anos antes, as ambições eram altas; tínhamos fãs em todos os lugares, o punk, influenciado pelo hard rock, havia se tornado mainstream, e alguns dos grupos com os quais cruzamos caminhos nos anos 1990, como Queens of the Stone Age e The Hives, de repente estavam no topo das paradas da MTV. No nosso inconsciente ficava aquele pensamento de que “isso pode acontecer conosco também”. Hank Vol Helvete, o vocalista na época, vinha de uma fase de recuperação de recaídas nas drogas desde a adolescência, e isso de muitas formas estava atrapalhando nossa escalada para que nos tornássemos uma banda profissional. Até que as coisas chegaram ao limite e ele desencanou, colocando um fim em tudo em 1998. Então nós voltamos e, dez anos depois, ele obviamente ficou muito mal de novo, daí
tivemos a clara percepção de que estávamos perdendo tempo. Quando ele finalmente ficou limpo, era muito por conta de sua adesão à Igreja da Cientologia e seus poderes. Foi uma alegria para todos saber que ele finalmente tinha superado aquilo e estava tocando a vida normalmente, mas é até meio óbvio dizer que tudo isso estragou a química entre nós de modo sintomático. Fizemos o último show juntos num festival em Budapeste, em 2009. Aquela foi a última vez em que Happy-Tom e Hank, por muitos considerados os dois líderes da banda, falaram um com o outro. Nunca pensamos em procurar um novo vocalista. O que vocês aprontaram nesse meio tempo? Tivemos uma banda com Nick Oliveri no baixo e vocais, chamada The Germans. Até gravamos metade de um disco! No verão passado acabamos fazendo uma jam num evento que rolou no nosso fã clube em Hamburgo, na Alemanha, o Turbojugend Welttage. Era só uma brincadeira entre ex-membros do Turbonegro e amigos, então havia umas mini-celebridades da cena cantando duas músicas cada, tipo o Ebbot do Soundtrack of our Lives, o Damian do Fucked Up!, e nosso velho camarada Tony Sylvester era apenas um dos convidados. Ele então chegou na dele e impressionou todos vocês? Acabou que o cara mandou muito bem. Ele estava tão entusiasmado e conhecia tão bem o estilo, que soou bom demais! Daí fizemos um show só com ele. Pra gente, tipo uma festinha Vip. A reação do público foi sensacional. Percebemos, então, que nunca tínhamos sido realmente uma grande banda... até aquele momento! Esse lance tem a ver com o novo baterista também. Tommy fazia parte dos The Germans, e ele tem esse ótimo swing e força que às vezes fazem toda a diferença nas bandas de rock. Um cara muito legal, também, então a química foi melhor do que nunca. A gente pensou: “Caramba! Estamos nos divertindo novamente, vamos gravar um álbum!”. Legal que o Tony tenha se dado bem com vocês no vocal, e que o resultado tenha saído tão bem acabado. Fãs de rock sempre ficam preocupados quando uma banda perde seu vocalista original, tipo o Sepultura, que decepcionou um monte de gente quando o Max saiu. Eu vi o show do Hellfest e posso dizer que o cara nasceu para a coisa... Musicalmente falando, Tony tem um ótimo gosto e conhecimento. O fato de ter sido presidente do fã clube do Turbonegro em Londres mostra o quanto ele sempre foi apaixonado pelo som e o quanto ele respeita o passado da banda. Tony fez parte de algumas bandas de hardcore, mas há certas nuances de seu vocal que evidenciam as múltiplas influências de sua coleção de discos e uma relação de longa data com a cultura do rock. Como colocamos no press-release, ele é o Lemmy viajando de primeira classe. Hank tinha aquela coisa de glamur vaudeville em sua performance, mas foi algo que acabou sumindo com o tempo, por causa das mudanças ocorridas em sua saúde e personalidade. Ficou uma coisa tipo o David Lee Roth no leito da morte. Já o Tony trouxe o perigo de volta, a atitude e a urgência que as pessoas geralmente associam com o punk rock. Essa reciclagem tem sido aplaudida por fãs e críticos, que parecem preferir o lado punk rock da banda do que as tendências glitter rock. E qual é a história com o novo baterista, o Tommy? O Tommy foi nosso roadie nas antigas. Ele é o meu baterista favorito da cena de Oslo há muito tempo, e eu sempre quis tocar com ele. Fizemos até uns tributos ao Joey e Dee Dee Ramone. Algumas pessoas não sacam a importância dos bateristas nos grupos, especialmente na hora de compor; a natureza das músicas está praticamente em suas mãos. Como tem sido a turnê para promover o novo álbum, Sexual Harassment, a reação do público, essas coisas? Poxa, tem sido muito legal. Estamos esgotando ingressos, fazendo duas voltas para bis direto, e, claro, ajudando as pessoas a se autodestruírem em uma névoa de barulho, licor e batom masculino. Nessa nova formação, como ficou o papel de cada um no processo criativo? Vocês tiveram que ensaiar muito para
deixar o repertório redondinho antes de entrar em estúdio? O nosso tipo de som não segue um processo tradicional de composição, como algo que você poderia tocar num violão ou num piano. São basicamente riffs. Até agora, Happy-Tom e eu somos as forças criativas da banda. Mas a performance de cada integrante acaba somando alguma coisa no resultado final das gravações. É mais um recorte de frases, sons, jeito de tocar, textura e produção. Assim que pinta um título legal de música, a gente se junta em volta do laptop, ficamos chapados, e basicamente escrevemos as letras na hora, dando risada. Mesmo no ambiente mais careta do estúdio vocês foram capazes de traduzir e captar a energia do Turbonegro ao vivo. Nesse sentido, qual a importância da contribuição do produtor Matt Sweeney no disco? Ele montou um set bacana no mesmo estúdio, em Nova York, que o Jimi Hendrix montou nos anos 60, o Electric Lady Studio. Matt trouxe um engenheiro de som doidão, que também era escandinavo, e seus amigos da cena de Nova York ficavam entrando e saindo do estúdio a noite toda, às vezes contribuindo com alguma coisa para o álbum. Era uma atmosfera de luxúria, mas ao mesmo tempo uma vibe muito alegre, e eu acho que esse é o estilo de Matt. O Nate, do Converge, cantou em uma das noites, aí de repente apareceu o Benmont Tench do Tom Petty and The Heartbreakers na outra noite, e esse tipo de coisa que acontecia somou bastante ao lado musical. Ele é o mestre das boas vibrações, nos deixava calmos para nos soltarmos. Ao contrário do Bob Rock, que trabalhou bastante para lapidar nossa música ao ponto de ser veiculada nas rádios e no mainstream, ele gosta de usar óculos escuros em ambientes fechados e nos mostrou um monte de vídeos legais no Youtube entre os takes. Mas a sua maior contribuição foi tirar o melhor de Tony como cantor. Depois de tanto tempo na estrada, como é olhar para trás e perceber a evolução toda que se deu no meio musical, em termos tecnológicos? Acho que a maior mudança que rolou na música desde que começamos foi mesmo no aspecto tecnológico, com a reprodução em streaming, a internet e os smart phones. Outra coisa é o fato de que bandas das antigas com boa reputação, hoje, estão mais valorizadas e podendo realizar grandes shows, pois antes tudo era tomado por festivais. Também ficou mais fácil produzir um disco e distribuí-lo hoje em dia, então muita coisa melhorou. Para muitas bandas, como a nossa, agora é possível pagar as contas com dinheiro de shows e sobreviver assim. O ponto negativo talvez seja que bandas apaixonantes não surgem mais com a mesma frequência do que há 15 anos – um pouco da mágica se perdeu. Aquela relação íntima que tínhamos com o disco físico ou a exclusividade de ter visto um espetáculo ou um show histórico num clube, faz parte do passado. Não me importo, sou feliz por ter crescido nos anos 1980-90, quando essas coisas reuniam algum significado. Você sabe que no underground brasileiro vocês são bastante admirados? Tanto, que conheci o Turbonegro de escutar os DJs dos clubinhos de rock de São Paulo tocando músicas do Party Animals e Apocalypse Dudes... Pois é! Eu sei sim, adoraríamos visitar o Brasil! Meu melhor amigo de infância é brasileiro, mudou-se para a Noruega quando tinha seis anos, então sempre tive uma relação com o país. Acho que, tirando o Happy-Tom, que também é surfista, nenhum de nós ainda teve a oportunidade de conhecer o Brasil. Quem sabe em breve! 2013/fevereiro TRIBO SKATE | 95
manobra do bem // por sandro soares “testinha”*
A grande audácia dos pequenos
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* Sandro Soares “Testinha” é o cabeça da ONG Manobra do Bem, em Poá, SP.
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te, para que continuem estudando sem ter que pensar em abandonar os estudos para trabalhar e sustentar o “vício” de andar de skate, que todos sabemos que não é tão barato! Quem acompanha as notícias do projeto aqui em nossa coluna, ou mesmo pelas redes sociais, sabe das dificuldades e obstáculos que superamos todos os dias para manter as coisas funcionando; também podem perceber a alegria e esperança com que enfrentamos essas lutas, o que pode ser traduzido como uma audácia. Voltado a misturar o poder público com o skate aqui em Poá, ao longo do tempo de trabalho social em nossa região digo a vocês que particularmente não tenho pressa de que saia a nova pista de skate, acredito que virá tudo no seu tempo! Digo isso depois de ter lido uma carta entregue por uma de nossas participantes do projeto, onde ela narra a situação em que vive com sua família (além dela, dois irmãos seus também frequentam nossas ações). Seria muita audácia de minha parte querer logo um skatepark dos sonhos em Poá, sabendo que crianças de nossas ações ainda não têm um lar digno, com água encanada e nem chuveiro elétrico. Ela também nos disse em carta que graças ao projeto ganhou tênis legais e que graças a Deus apareceu esse projeto para ela e seus irmãos frequentarem. Temos que continuar sim pleiteando lugares bons para andarmos de skate e sabemos que temos força para isso! A exemplo da mobilização feita pela internet recentemente no caso do GCM, que agrediu covardemente skatistas no Centro de São Paulo, o assunto fez um barulho tremendo e providências foram tomadas. Imaginem se nos mobilizarmos para outras causas sociais! Acredito que teríamos êxitos em algumas delas, com certeza! Podemos achar que somos pequenos para resolvermos problemas seculares de nosso país, podemos até ser pequenos mesmo, mas como diz o brasão da pequena Poá: “Com audácia os pequenos vencem!”
Fotos Arquivo pessoAl
lá, caro leitor da nossa Tribo Skate! Com o título escolhido para esse mês pode-se entender que falarei dos pequenos “grandes” talentos que não param de surgir em nosso mundo do skateboard, crianças que impressionam cada vez mais cedo pelo nível absurdo de skate que apresentam nas sessões, vídeos e em campeonatos mundo afora. Todos eles dignos de muitos aplausos e de toda a nossa admiração, com certeza! Porém, a audácia dos pequenos da qual irei lhes falar é outra: Vem do Latim, “Audatia Parvuli Vincunt”, traduzindo para nosso português: Com audácia os pequenos vencem! Essa é a frase que está escrita no brasão do município de Poá, no Estado de São Paulo. Para quem ainda não sabe, é nessa cidade que funciona a ONG Social Skate e é onde acontecem as atividades do Projeto Manobra do Bem, que coordeno junto da pedagoga Leila Vieira. Trata-se de um município bem pequeno, com uma população de 106.013 habitantes, distribuídos em uma área de 17 km quadrados, maior apenas que os municípios de Águas de São Pedro e São Caetano do Sul, entre todas do estado de São Paulo. Em nosso município temos um skatepark público desde o ano de 2000 e é claro que ele se encontra desatualizado, com obstáculos ultrapassados e precisando de algumas reformas. Ano após ano estamos nos aproximando do poder público, pleiteando uma nova pista, mais atual e melhor localizada e surgiu ano passado essa possibilidade. Resta a nós acompanhar tudo de perto para que saia a contento para todos, porém, enquanto isso não acontece, vamos nos divertindo e mantendo o que temos. Nessa mesma pista pública acontecem encontros de várias gerações de skaters poaenses, todas as quintas à noite e em algumas ocasiões com uma caixa de som rolando uma excelente trilha sonora, comandada gentilmente por um dos locais do pico. E digo a vocês que a galera não economiza nas manobras, não! Vejo lá muitas manobras atuais e criativas, afinal a pista está “roots” e tem que ter a base para acertar coisas difíceis nos obstáculos. Porém, a galera manda ver e o resultado é sempre um sorriso no rosto e aquela salva de palmas que não tem preço. Já o Social Skate Manobra do Bem conquistou respeito de praticamente todo o Brasil pois, além de incentivar o skate como estilo de vida, procura cuidar da vida escolar e muitas vezes familiar de suas quase cinquenta crianças atendidas semanalmente. Fazemos das “tripas coração” para conseguir meios para que as crianças tenham todo o necessário para continuar andando de skate e, principalmen-
A Lenda Mike Vallely teve a audácia de colar em Poá em 2008 e andar com os locais.
Social Skate, matando a fome de skate da criançada.
APOIO CULTURAL
skateboarding militant // por guto jimenez*
Nem escotismo e nem NBA
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ada vez mais, o skate-espetáculo toma conta da mídia de um modo geral, seja ela especializada ou não. Eventos como o da Megarrampa e o circuito da Street League têm espaço garantido não só em sites e revistas, mas principalmente nas transmissões televisivas. Aí você se pergunta, isso é bom ou ruim? Os lados positivos são ampla e fartamente divulgados, às vezes até como se fossem o bastante. Mais gente vendo espetáculos de skate na tevê quer dizer mais promoção aos competidores e seus patrocinadores, e isso “faz a máquina girar”, pra usar um termo de mercado. Os telespectadores leigos curtem o show de coragem, perícia e habilidade em si, enquanto que os que entendem do assunto enxergam as transmissões com um olhar mais técnico. Além disso, a elite de skatistas que faz parte desses espetáculos tem a possibilidade de ganhar quantias bastante generosas em premiações, royalties de produtos e patrocínios. As corporações que patrocinam esses eventos, bem como as suas transmissões pela tevê, investem forte na solidificação desses ídolos, chegando a utilizar alguns deles em suas peças de propaganda. Enfim, a coisa parece ser ótima pra todos os envolvidos. Porém, não se iluda: não existe essa de “ser bom pra todo mundo”. Eventos cujos obstáculos são sempre os mesmos, por mais impressionantes que possam ser, são de uma esterilidade sem tamanho. A gente vive andando de skate nos mais variados picos possíveis, enfrentando toda espécie de perrengues pra nos tornarmos afiados em nossas modalidades preferidas - tudo isso pra ver streeteiros se jogando naqueles mesmos obstáculos de sempre?! A única diferença parece ser apenas o ginásio onde são realizados esses campeonatos de elite... Eis aí outro problema, essa elitização do skate. Veja quantos fazem parte das competições que mencionei lá em cima e compare com o provável número de skatistas que existem ao redor do mundo, algo em torno de 50 milhões de acordo com estimativa da Board-Trac; você verá que o percentual é mínimo, chegando perto do impossível ao cara ou à menina comuns. Não dá pra aceitar isso na boa logo com o skate, que vem justamente se tornando cada vez mais democrático e vê homens e mulheres descobrindo o prazer de se divertir sobre uma tábua, dois eixos de metal e quatro rodas de poliuretano. No entanto, nada pode ser mais irritante que o bom-mocismo praticante por 9 entre 10 dos envolvidos nessas disputas de elite. Não se usa mais uma camiseta de banda preferida, pois a marca do patrocinador master precisa aparecer de qualquer maneira. Não se fazem mais declarações contundentes, apenas dizem aquilo que a mídia quer ouvir. Se tirarem as roupas dos caras e colocarem uniformes de escoteiros, é quase certo que bem pouca gente vai saber notar a diferença. Só que tem uma coisa: skate não é escotismo. O ethos do skatista é justamente o contrário disso que anda fazendo sucesso por aí: ser alguém capaz de fazer o impensável num lugar improvável e num momento imprevisível. Tiraram aquilo que temos de melhor: a capacidade de surpreender, sempre que for possível. Da mesma forma, não adianta quererem tornar o skate um espetáculo esportivo tipo uma NBA. Sempre haverá gente que não liga a mínima pros ídolos do momento ou pros tênis que eles usam - gente que só se liga mesmo em andar de skate e se divertir. Enquanto tivermos pessoas assim, de ambos os sexos e de várias idades, descobrindo ou apreciando dar um rolê sem compromisso, o skate estará com sua alma a salvo.
APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.
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