Tribo Skate Edição 212

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Mauricio Nava

Um passo à frente

JoNathaN MeNtex

aposta da rUa

Love ct

Cidade tiradentes david severo, fs smith ano 22 • 2013 • # 212 • r$ 8,90

www.triboskate.com.br










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// índice junho 2013 // edição 212

eSpeciaiS> 38. a apoSta da Rua: JoNatHaN MENtEx 46. cidade tiRadenteS: rua pura 58. um paSSo à fRente: MauriCio Nava SeçõeS> Editorial ...............................................................12 Zap ............................................................................16 Casa Nova .............................................................70 Hot stuff...............................................................76 Áudio ..................................................................... 78 MaNobra do bEM................................................80 skatEboardiNg MilitaNt ................................82

Capa: Muito da personalidade de um homem é construído sobre o ambiente em que ele vive. para David Severo, acompanhar o irmão Diego (Korn) e seu amigo Rodrigo Maizena em algumas sessões é fundamental para seu perfil de skatista. a parte mais técnica das trick-tricks tem boa influência do Maizena, já a parte mais atirada, do irmão. Coloque no liquidificador e bata que a mistura é fina! Frontside smith com estes degraus a mais para complicar. a rapadura não é mole, é cascadura! Foto: Marcelo Mug ÍnDiCe: O módulo do buffet ia ser jogado fora, mas Ligiane Xuxa e Junior pig tomaram conta da peça pra explorar em outras praias. O obstáculo foi parar na pista das Águas espraiadas, em Sp, mas antes disso, assim que foi retirado da sua casa, foi aproveitado em uma sessão despretensiosa pelos dois irmãozinhos. Ligiane, bean plant to fakie cuidado-com-o-buraco-na-volta. Foto: Marcelo Mug

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Skate é para se andar, curtir, viajar e parar de ficar julgando, a parada é livre. Faça o que você quiser, compartilhar a boa vibe, o sentimento.

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(Mauricio Nava) 2013/junho TRIBO SKATE | 11


editorial //

Valeu Roberto! PoR Cesar Gyrão // Foto Fernando Gomes

“As revistas são o mais seletivo, segmentado, regionalizado, brilhante, íntimo, aproveitável, portável, rasgável, eficiente, dramático, inteligente, lindo, duradouro e maravilhoso veículo de comunicação que existe.”

Felipe Oliveira “Cupim” é o novo se manifestando nesta edição. Um nome para ser observado para os próximos tempos. Anote aí. Ss fs flip.

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A frase é de Roberto Civita, o criador da revista Veja, há 45 anos, falecido aos 76 anos no início de junho. O legado que deixou é muito mais que este e tantos outros títulos do Grupo Abril: é principalmente a luta pela liberdade de expressão, busca contínua de tantas gerações. Por mais que se concorde ou discorde das informações desta ou de outras revistas, não se concebe o mundo sem elas. Valores preciosos da vida em sociedade têm um forum privilegiado nas páginas destes veículos, pois as revistas movimentam princípios e ideologias, discutem transformações, promovem o debate de ideias, elucidam fatos, retratam épocas. A caminho de nosso 22º aniversário, em setembro, fazemos coro com tantas personalidades brasileiras que se manifestaram com a morte deste grande jornalista e empresário. Sim, para nossos leitores, admiradores e detratores, sabemos que nossa existência faz todo o sentido em suas vidas.



ANO 22 • JuNHO DE 2013 • NÚMERO 212

Editores: Cesar Gyrão, Fabio “Bolota” Britto Araujo Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Arte: Edilson Kato Redação: Chefe de redação: Junior Lemos Marcelo Mug, Guto Jimenez Fotografia: Marcelo Mug, Junior Lemos Colaboradores: Texto: Bruno Collyer “Funil”, Camilo Neres, Helinho Suzuki, Pirikito Sem Asa Fotografia: Aaron Smith, Camilo Neres, Cauã Csik, Flávio Gomes, Fernando Gomes, Leandro Moska, Pedro Macedo, Rafael Bassildo, René Junior, Rob Gonzales, Robson Sakamoto, Ronaldo Souza, João Brinhosa, Thomas Teixeira, Wander Willian

JB Pátria Editora Ltda Presidente: Jaime Benutte Diretor: Iberê Benutte Administrativo/Financeiro: Gabriela S. Nascimento Circulação/Comercial: Patrícia Elize Della Torre Comercial: Daniela Ribeiro (daniela@patriaeditora.com.br) Eduardo Câmara (eduardo@patriaeditora.com.br) Cibele Alves (cibele@patriaeditora.com.br) Fone: 55 (11) 2365-4123 www.patriaeditora.com.br www.facebook.com/PatriaEditora Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações - Anatec

Impressão: Gráfica Oceano Bancas: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907, Grajaú Rio de Janeiro/RJ - 20563-900

Distribuição Portugal e Argentina: Malta Internacional

Deus é grande! São Paulo/SP - Brasil www.triboskate.com.br E-mail: triboskate@triboskate.com.br

A Revista Tribo Skate é uma publicação da JB Pátria Editora. As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista. Dúvidas ou sugestões: triboskate@patriaeditora.com.br



zap //

eric balboa ElE rEprEsEntou marcas conhEcidas quE já não Estão no gamE E foi no final dE 1997 quE ElE sE tornou skatista profissional, dEpois dE sE sair bEm no circuito amador. hojE o paulistano Eric balboa mora Em campinas, durantE a sEmana faz o corrE para mantEr a família E continua pErcorrEndo o intErior paulista pra manobrar sEu skatE. rEfErência para o strEEt skatE dE uma época não tão distantE, balboa continua com o rolê afiado E mostra agora o quE ElE anda fazEndo hojE Em dia. // Por junior lEmos Aqui em Campinas, a Praça das Águas e Praça Arautos da Paz. Pista tem o Parque Ecológico e a de Indaiatuba, que são bem legais. E quando foi que você trocou a capital por Campinas? Se adaptou rapidamente? No final de 2002 eu me mudei pra Campinas porque a família da minha esposa é da cidade eu já a conhecia bem. Então não foi difícil, mas na questão de patrocínio, perdi muitos contatos, porém fui muito bem recebido por todos aqui que gostam de skate e fazem de tudo pelo esporte. Qual sua profissão hoje em dia? Pintor de autos. O que você já teve que fazer pra se manter até hoje, além de andar de skate? Muita hora extra no trampo! Casou, teve filho? Sim! Me casei com a Thais, meu braço direito e que me mantém com os pés no chão. Tenho duas filhas lindas: a Adriele de 15 anos e a Laiza de 8. Imagina que vai manter o skate embaixo do pé até quando? Ainda não vejo limites que me façam parar, vou andar de skate sempre! (risos). De onde veio o seu apelido? O apelido Balboa veio do meu primeiro patrocínio. Quando fui correr campeonato lá na ZN, o dono da marca não sabia meu sobrenome para fazer a inscrição, e como na hora eu estava andando ele colocou Balboa, que era o sobrenome de um integrante de uma banda que ele gostava. Aí não teve mais jeito, o apelido pegou! Ronaldo Souza

Quando e como você se tornou profissional? No ano de 1997 terminei o Circuito Paulista Amador entre os cinco melhores e passei pra pro em 98. Quais marcas você já representou? Quando era amador: Formula Series e Sessions. Passei pra pro pela Sessions, depois entrei na Cush, Moska, Brasil Point e Skt Company Distribuidora. Quais lembranças você guarda daquela época? É muito bom fazer uma coisa que você gosta e ter o reconhecimento e o incentivo, conhecer novos lugares, estados, andar com os caras que você via em vídeo e se superar sempre em cada rolê. Essas são as lembranças inesquecíveis! Você parou de andar algum tempo ou mantém o skate no pé desde aquela época? Não parei, tento andar sempre que posso. Qual a frequência do seu rolê de skate hoje em dia? Aos finais de semana. Na época de amador, qual você considera sua principal conquista em campeonatos? Fiquei em primeiro na pista de São Caetano, estava um nível fora do comum e era um dos principais eventos da época. Qual foi o último evento que você trampou de juiz ou foi fazer demo? Neste ano fui pra Artur Nogueira, fiquei de juiz e depois fiz a demo para uma loja de lá. E o primeiro, você se lembra? Foi no Circuito Paulista de 98. Quais os picos e pistas da região de Campinas você indicaria para uma sessão?

//// Eric MarquEs dE OlivEira 35 anos, 24 de skate apoio: action now campinas, sp

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Balboa revela que mantém a técnica de sempre ao passar o bloco de switch 360 flip usando a pequena rampa.


JunioR lemoS

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FotoS João BRinhoSa

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Caique Silva, fs smith.

Gabriel Penteado, fs ollie.

XiX Urussanga skatepark Reparem no nome. Esse XIX significa 19 anos! Isso mesmo, simplesmente o evento mais tradicional do Brasil, sempre no parque que abriga a Festa do Vinho, na pacata cidade sul catarinense, Urussanga. Desde que os organizadores da festa, encabeçados por Sandro Zanatta Trichez, da Rock City, resolveram homenagear um skatista local que tinha tudo pra estourar no cenário e que teve sua vida abreviada, a festa é denominada Taça Kauê Damiani e já está em sua oitava versão. RESULTADOS: Mirim: 1º Ian Poletto - 2º Vicenzo Damazio - 3º Gabriel Penteado / Iniciante: 1º Iago Pavan - 2º Gabriel Speck - 3º Bernardo Speck / Amador: 1º Vinicius Kakinho - 2º Fabio Junqueira - 3º Iago Magalhães / Master: 1º Afonso Muggiati - 2º Mauricio Boff - 3º Oscar Mad / Legends: 1º Fernando Gomes - 2º Marco Aurélio Jeff - 3º Jorge Zunga

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Vi Kakinho, bs tailslide.



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[01] Gabriel Fortunato é o mais novo skatista brasileiro a integrar o time

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[04] Flavio Gomes

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[06] instaGRam.com/Flaviosamelo

Flavio Gomes

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Fotos Robson sakamoto

da Monster Energy, que também conta com Ricardo Dexter entre os que fazem o rolê de street energizados pela bebida. No vertical, Vi Kakinho também é um rider Monster’s Army, como são definidos os amadores que defendem a marca. Time de peso esse, hein! • [02] O Instagram se revela a cada dia como o primeiro meio onde as novidades aparecem! A última demonstração disso foi o Insta do vert rider Rony Gomes, que mostrou o piloto dos tênis Airwalk que levarão a assinatura dele. O primeiro pro model do Rony tem previsão de ser lançado aqui no Brasil pelo site de compras kanui.com. br, que também o patrocina, em cores variadas e em canos alto e baixo. • A fornecedora de peças Hau Pai, que produz os melhores shapes (inclusive em maple canadense) e customiza as peças de acordo com a sua marca, agora está com a exigência de quantidade mínima menor para compra, favorecendo marcas que estão começando ou aquelas que já têm volume razoável, ou ainda as que precisam de giro rápido em seu estoque. • A Qix International reforça sua equipe de amadores com três novos destaques da cena nacional: Samuel Jimmy (Andradina/SP) e Dennes Ferreia (Brasília/DF) no street, e Zene Sachs (Florianópolis/SC) no vertical. • [03] Mistura perfeita entre música e o skate! Ainda mais quando essa sintonia resulta em uma colaboração inédita entre a Öus e o Del The Funky Homosapien (Hieroglyphics), intitulada DelHIERÖUS (DelHiero + ÖUS), com lançamento de quatro modelos à venda a partir dos meses de julho, agosto e outubro. • Klaus Bohms agora esmerilha eixos Independent, fazendo parte da equipe Brasil. • Durante a primeira tour de skate da Official (instagram.com/official_skate), que ficou 30 dias circulando pela República da China, ficamos sabendo que o brasileiro Rodrigo TX é um dos integrantes deste time da marca de bonés. • [04] Está bem style a série Special Guest do coldskateboard.com com o onipresente Everton Maninho. • [05] Fabio Pen, Linha Vermelha da edição 210, teve seu mais novo pro model lançado pela Anti Action. O profissional veste a camiseta da marca há 12 anos! • Stillgrun é o nome da mais nova marca brasileira de tênis para skate, criada pelos amigos Caio Borges e Thiago Duenha, patrocinando os skatistas Ytalo Farias e Paulo Brother (stillgrun.com). • [06] Sandro Dias Skate Shop é o nome da loja que o Mineirinho abriu em Bragança Paulista/SP, na rua Dr. Cândido Rodrigues, n.º 70. O espaço conta também com uma minirrampa. • [07] Página Dupla é o nome da expo de Flavio Samelo e Walter Nomura “Tinho”, que estreou no começo de junho na Galeria Logo em SP. Trata-se de uma homenagem às revistas de skate, cujas obras consistem em interações artísticas do Tinho sobre fotos do Samelo, com Frederico Antunes responsável pelo catálogo e layout da expo.

Life is a Fight: A arte de Edu Revolback No dia 25 de maio, a Disorder de Campinas, um misto de loja/galeria/espaço para show, recebeu a expo Life is a Fight: A arte de Edu Revolback e um belo pocketshow do Questions, sob a tutela da Urgh! Skates. Para quem não conhece, Edu é um artista de rua desde 98/99 e um dos pioneiros aqui no Brasa. Autodidata e influenciado pelo do it yourself punk, ele faz gravuras, zines, pinta telas com técnica em acrílico, mas é na rua, seu habitat natural, onde ele expõe toda sua atitude contestadora através dos seus stencils. Além da arte, ele está à frente do Questions, uma das bandas mais ativas e respeitadas na cena hardcore brasileira e mundial.

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FotoS Flavio GomeS

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intervenção Viii A ação da revista Tribo Skate que cola em picos e pistas da cidade de São Paulo, leva um pouco da cultura que gira em torno do carrinho e aproxima skatistas profissionais da galera que é apaixonada pelo esporte, desembarcou no final de maio no bowl do Clube Alto de Pinheiros. E desta vez os skatistas profissionais Mario Marques e Masterson “Magrão” Felix foram os convidados a interagir com a garotada sócia do clube. Os caras andaram de skate, tiraram dúvidas, deram autógrafos e ainda enfatizaram a importância do uso de equipamentos de proteção, principalmente quando se está aprendendo a andar de skate. Rolaram ainda sorteio de brindes, distribuição de edições variadas e muito sorriso estampado no rosto da galera, demonstração de que foi um sábado de muita alegria compartilhada através do skate.

Pedro levou o shape.

Mario Marques, frontside grind.

Lucas o boné.

E o Antônio ganhou o long no sorteio.

Magrão, feeble.

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Caio, fs carving grind tail grab.

Equipe Intervenção Tribo Skate VIII.



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o instagram não tEm rEcurso para quE as imagEns sEjam acompanhadas dE som (o quE EntrE a gEntE sEria uma trEmEnda canElada sE acontEcEssE). mas isso não quEr dizEr quE o aplicatiVo não faça barulho! por isso a coluna talkshow dEstE mês traz alguns instas dE skatistas quE sE Encaixam pErfEitamEntE no tEma música.

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a. @rodrigotx: @therealhavoc new album is fire. B. @djkefing: #contranósninguémserá. c. @danielsouzafotos: Reservado... obrigahhh!! #mestre #jorgeben d. @willdias: ❤Éporqueeugostomuitomancha. E. @karenjonz: o mistério sobre o futuro é que faz as coisas interessantes, então ao invés de ficar esperando pelo incontrolável, preste mais atenção no agora :) F. @renatocustodio: “seria tão diferente” núbia Lafayette. ouvir essa música logo cedo nessa vitrola foi muito foda. G. @wilbordomina: into the future #ilovexv. H. @vitorsagaz: na viagem de Belém para manaus de barco, passei por essa palafita sound system.

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leandRo moSka

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ricardo Porva Tão diversificada quanto o arsenal de manobras do profissional são as músicas que estão entre as mais tocadas no player do Porva. E basta conferir a lista pra perceber que o cara bebe em uma diversificada fonte musical, que mistura clássicos brasileiros e mundiais; trilha sonora que está lado a lado com este guerreiro em suas diversas batalhas do dia a dia. Edi Rock e Seu Jorge, That’s My Way Adonai, Você Decide Arnaldo Antunes, Vem Cá Parteum, A Força da Sugestão Yann Tiersen, Déjà Loin Lynyrd Skynyrd, Comin’ Home 2Pac, Be the Realist The Whitest Boy Alive, Golden Cage Ultraje a Rigor, Rebelde Sem Causa Tommy Guerrero, Broken Blood Racionais MC’s, Carlos Marighella Pink Floyd, Lost for Words Mundo Livre S/A, Meu Esquema Mestre Ambrósio, Lembranca de Folha Seca Lenine, O Homem dos Olhos de Raio X Jethro Tull, Greensleeved Jeff Beck, You Know What I Mean Eminen, When I’m Gone Cat Stevens, If You Want to Sing Out Bob Marley, Zimbabwe Considerado flip em Uberlândia, MG.

Ricardo Oliveira Assis (Make Skateboards e Nata; apoio Converse)

a história dE um dos prêmios quE sortEamos no linha VErmElha ultrapassa os limitEs dE curitiba E chEga até a coluna mEnsal ondE nossos lEitorEs são os principais dEstaquEs.

João Pedro.

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Na edição de março, a 209, o Linha Vermelha trouxe o profissional Wagner Ramos, com perguntas das mais variadas enviadas pelos leitores. E como a Kronik cedeu um deck pra premiar a pergunta que o skatista mais curtiu, Eudemar Tonatto foi o felizardo. Até aí, tudo normal! Enviamos o prêmio para ele e recebemos um retorno nos contando a história do shape, que nós decidimos compartilhar com todos pela felicidade que gerou. Se liga na história, nas palavras do próprio Tonatto: “Desculpem a demora para retornar, mas é que eu estava esperando para doar o shape (e as revistas) para alguém que realmente precisasse. O garoto João Pedro Artachi Rodrigues perdeu o pai não faz muito tempo, o que desestabilizou a família. A mãe, que nunca trabalhou, agora está sobrevivendo como diarista. Recentemente o shape dele quebrou, pois já estava bem velho e ele não iria poder comprar outro tão cedo, já estava se conformando em ficar alguns meses sem o carrinho. Ele é amigo do meu irmão, que me ligou e perguntou se eu não tinha um shape para ele (veja só como o universo conspira a nosso favor...), aí... o resto da história vocês já sabem. As fotos estão no facebook dele (percebam o estado do tênis do menino). No mais, tudo em paz, sempre tentando ajudar. Valeu! Um abraço.” E se você também quer ver sua história aqui, compartilhe no facebook.com/triboskate!



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RoB Gonzalez

danny montoya

quando Você Visita um país difErEntE há basicamEntE duas manEiras dE intEragir com o local. ExistEm aquElEs turistas quE simplEsmEntE passam pElo lugar E aquElEs quE sE intErEssam Em conhEcEr a fundo o ambiEntE. Enquanto o primEiro tipo fica na supErfíciE, no clichê dos pontos turísticos, o sEgundo tipo dE turista procura conhEcEr, EntEndEr E intEragir com as pEssoas da tErra. nascido nos Estados unidos, mas proVEniEntE dE uma família com origEm colombiana, danny montoya já tEVE o priVilégio dE pisar Em tErras brasilEiras três VEzEs, E pEla EntrEVista abaixo Você Vai pErcEbEr quE ElE conhEcEu muito mais do quE o cristo rEdEntor E a aVEnida paulista. (maRceLo mug) Como você imaginava o Brasil antes de visitar o país? Eu já havia estado na Colômbia e na Argentina, então imaginei que seria um pouco parecido mas eu sabia que o Brasil tinha um aspecto de grande metrópole em algumas cidades, então acabei ficando bastante ansioso para vivenciar aquilo. Quando e por que você visitou o Brasil? Eu estive no Brasil em três ocasiões diferentes. A primeira vez foi em 2003 no Rio e em Recife, para filmar um projeto em que também estavam filmando o Og de Souza. A segunda visita foi mais profunda uma vez que o Rodrigo Petersen foi nosso anfitrião; pude ver de onde ele veio e fiz muitos bons amigos, além de conhecer sua família naquela viagem. Nós visitamos Curitiba e São Paulo enquanto filmávamos para o vídeo da Listen! Viajeros Locos e fazíamos uma matéria para a Skateboarder Magazine. A terceira viagem foi em 2012. Também viemos para filmar o mais recente vídeo da Boulevard, AMburger, lançado em setembro do ano passado. A viagem foi demais; nós fomos para Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Os novos picos são bons e a povo é bem receptivo. Eu amo a

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cultura do Brasil! Brasa Nation! Qual a melhor memória você guarda destas viagens ao Brasil? A melhor memória é das pessoas maravilhosas que conheci em cada uma destas viagens e das conexões que formamos, que são inspiradoras. Eu sinto que há uma ligação entre skatistas quando estamos viajando, algo que outros seres humanos não necessariamente vivenciam quando viajam. Você tem uma experiência real e aprende muito mais sobre as cidades que visita através das pessoas que cresceram ali e vivem aquilo todos os dias. Eu aprecio a paixão e o trabalho ético que os brasileiros têm pelas coisas que amam. Que impressões você tinha sobre a cena brasileira de skate? Os brasileiros são skatistas incríveis e a cena está crescendo para ser maior do que nunca. Nós temos ogulho de, através da Boulevard, poder contribuir diretamente com a indústria do Brasil e esperamos ser parte de algo grandioso. Me sinto abençoado por ter por perto Danilo Cerezini, Carlos Iqui, Tiago Lemos, Rodrigo Petersen e todas as outras pessoas que contribuem com nosso movimento. Meu muito obrigado!


Skate Seguro. Ande sempre com equipamento de segurança.

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skate magazine

o AsfAlto não sente. você sim.


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danny montoya

Qual a melhor e a pior coisa sobre o Brasil, em um aspecto geral? Esta é um questão difícil pois há muitas coisas boas. Mas acho que a paixão e o coração que as pessoas têm é uma das melhores coisas. As piores são provavelmente o trânsito e a criminalidade. Você é uma cara ‘conectado’? Como você se mantém informado sobre o que está acontecendo na cena do skate ao redor do mundo? Eu sou uma pessoa bem informada sobre o que se passa no cenário do skate mundial e a razão disto é que trabalhamos diretamente com nosso distribuidores e representantes ao redor do mundo. Eu sinto que o Brasil, dentre todos os outros países, é o que esta crescendo e evoluindo mais rapidamente. Os vídeos da Listen e da Boulevard sempre tiveram músicas brasileiras, este é o tipo de música que você curte em casa? Quem escolhe estas músicas para os vídeos? Eu geralmente gosto de usar músicas mais ecléticas para nossos vídeos. Músicas que se encaixam no tema do projeto. Eu escuto todos os estilos, no geral. Eu também sou o responsável pela escolha das músicas, mas minha influência vem das pessoas das quais estou mais próximo. Rodrigo Petersen e meu amigo Flavio Samelo tem um acervo enorme de músicas brasileiras que acabaram sendo utilizadas em nossos vídeos. Também gosto de trabalhar com os skatistas que estão envolvidos no vídeo. É realmente por acaso que você acaba encontrando e escolhendo a música perfeita. Logo que você ouve a música, você simplesmente sabe “Isto vai estar no vídeo!” Haha! O que um skatista brasileiro necessita para ser escolhido no lugar de um americano quando se trata de entrar em uma equipe de skate internacional? Eles precisam de indivíduos verdadeiramente talentosos, assim como Carlos Iqui e Tiago Lemos. Você planeja voltar ao Brasil? Espero voltar ainda este ano! Lugar favorito para andar de skate no Brasil? O centro histórico do Rio de Janeiro. Danny Montoya 35 anos, skate desde os 11 Los Angeles, CA, EUA Patrocínios: Boulevard Skate Co., Mighty Healthy Clothing, Converse Shoes, Satori Wheels, Diamond Supply Co., Bones Swiss Bearings e Independent Trucks

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Switch wallie five-O 180 out.


aaRon Smith

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lP aladin rEtornando à marrEta diária, rEcupErado dE uma lEsão no tornozElo, o skatista profissional lp aladin Encara a batEria dE pErguntas dE nossos curiosos lEitorEs Em mEio ao agitado dia a dia dE profissional do skatE à frEntE da capital skatEboard. E olhando as marcas quE o patrocinam, pErcEbE-sE quE todo EstE suportE não é por acaso: aladin rEprEsEnta a técnica quE VEm dE brasília E lEVa o nomE da capital do brasil por ondE o skatE o lEVa. confira no linha VErmElha dEstE mês um pouco mais dEssE grandE skatista quE VEm lá do planalto cEntral.

// luiz PaulO aladin (goofy) 26 anos, anda de skate desde 2000 natuRaL de BRasíLia/df patRôs: Liga tRucks, HagiL Rodas, Öus, godf, funHouse e capitaL

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te acha realmente que pareço com o Aladin do desenho. Hehehe. • Você ficou chateado por ter perdido pro Alexandre Vaz no final do Red Bull Manny no IAPI (em 2011), considerando que o Alexandre representou o Brasil na final do mundial em NY? (João Gomes, Florianópolis/SP) – Fiquei bem animado quando fiquei sabendo que o Red Bull Manny Mania ia acontecer no Brasil. É um campeonato num formato diferente, e eu curto muito andar de manual. Normalmente não me dou muito bem nos campeonatos e já fiquei feliz demais em ficar entre os quatro finalistas. E outra, acho que o Alexandre Vaz realmente mereceu ter levado e também representou em NY. • Você acha que o uso da maconha atrapalha um skatista que tem como objetivo se tornar um campeão ou é possível conciliar os dois juntos na evolução no esporte? (João Gomes, Florianópolis/SP) – Acho que tudo em excesso faz mal. • Gostaria de saber sua opinião sobre o cenário nacional do skate pelo lado comercial, que cresceu demais nos últimos anos? E se o Brasil está realmente ganhando espaço lá fora (exterior) com esta galera pesada, pois cada dia surge um melhor que o outro? Valeu! (André Luis Fogaça, Sorocaba/SP) – Esse lado comercial do skate vem crescendo muito de uns tempos pra cá. E isso é apenas o reflexo do trabalho certo de uma galera que acredita no skate daqui. O Brasil já lançou grandes nomes no cenário mundial, como Rodrigo TX, (Rodrigo) Gerdal, Adelmo (Junior), entre outros, e o trampo que esses caras fizeram foi abrindo portas para as novas gerações. • Se fosse criada uma liga de skate no Brasil, do mesmo estilo que é feita a Street League, você acha que abririam mais portas para muitos skatistas pros do país? (André Luis Fogaça, Sorocaba/SP) – Com certeza! Grande parte dos profissionais de skate no Brasil estão esquecidos e isso iria movimentar bastante a cena. • Como está sendo dividir o tempo entre skatista profissional e profissional do skate? Comandar uma marca é como você pensava? (Rodrigo Kbça Lima, São Paulo/SP) – Minha vida nunca esteve tão corrida como hoje. Às vezes penso que o dia poderia ter umas 30 horas (risos)… Tenho conciliado muito bem meu tempo, pois acordo cedo e

camilo neReS

• Qual momento que você gostaria de congelar e ficar pra sempre? (Éverton Sanssonovicz, Porto Alegre/RS) – Acho que momento na minha vida que eu congelaria foi a época quando eu comecei a andar de skate; andava o dia todo sem preocupação com nada, era muita diversão. Melhor fase na minha vida! • Gostaria de saber qual foi a trick que você demorou para registrar para uma video part? Como foi a história dessa sessão? Parabéns pelo seu skate! (Leandro Barsoti, Campo Limpo Paulista/SP) – Nossa, foi quando estava filmando uma linha para o (vídeo) Made in Brazil, com o Caio Boca. Acertei a linha rapidão e quando fui ver, o Boca tinha filmado errado. Daí tentei muitas vezes, muitos dias e depois desencanei. Passaram uns cinco anos e filmei essa linha no mesmo pico com o JP Romero, para o vídeo da Capital. E mesmo assim a câmera ainda deu uma comida na fita e a imagem ficou um pouco danificada. Muito azar, hehehe! A linha era um fakie flip tail e depois switch hardflip bs tail no Setor Bancário Sul. Obrigado pela consideração! • Como você se lembra de seus amigos que não se destacaram no skate? (Juliano Hensel, Cachoeirinha/RS) – Lembro bastante dos meus amigos que começaram no skate comigo, que eram meus amigos de infância. Lembro de toda molecada andando de skate na quadra; era mais de 20 moleques andando pelas quadras perto de casa. Só lembro de coisas boas… • Eu comecei a andar com 15 anos, tô com dois anos de skate: você acha que comecei um pouco tarde pra ser profissional? (Igor Sales, Brasília/DF) – Cara, acho que não. Skate não tem limites e nem regras. Continue andando firme com determinação que você pode tudo! • Qual a história do seu apelido? (Jorge Lins, Indaiatuba/SP) – Por volta de 2001, tive o meu primeiro apoio da Funhouse Skateshop (que é a loja que tenho patrocínio até hoje) e um dos vendedores que trabalhava lá apelidava todo mundo. Daí, sempre que eu passava por lá, ele falava assim: “mano você parece com alguém, quando eu lembrar eu te falo”. Um dia fui na loja e ele já lançou: “e aê Aladin”, daí o apelido ficou! Muita gen-



zap //

lP aladin vou para o escritório da Capital agilizar os corres e depois fico livre pra andar de skate. Comandar uma marca não é como eu imaginava, hahahá! Tinha uns 20 anos quando comecei com essa história da Capital. Só pensava em criar uma marca que valorizasse o skate, ter meus amigos andando junto, fazer vídeos e viver um sonho. Hoje vejo na prática que as coisas são mais complicadas; tem toda a parte burocrática, manter contato com todos do time, negociar, produzir, vender e muitas outras coisas que aparecem no dia a dia. Tô aprendendo muita coisa com a Capital. • O que o motiva a andar de skate hoje em dia? O que mais mudou da época em que você ainda era amador? (Jay Alves, Belo Horizonte/MG) – O que continua me motivando a andar de skate todos os dias ainda é a liberdade que tenho andando de skate, me divertindo com meus amigos e em busca da evolução. Pra mim, a principal mudança são as responsabilidades e o compromisso, porque é aí que a gente vê que o skate deixa de ser uma “brincadeira” pra se tornar uma profissão. • Com a expansão de marcas e do apoio da indústria nacional em geral qual ou quais os próximos passos para aumentar o reconhecimento do skate no Brasil? (Thiago Champs, Belo Horizonte/ MG) – A indústria e o mercado do skate continuam crescendo muito no Brasil e no mundo, só acho que ainda faltam respeito e comprometimento da parte de muitos empresários que estão em nosso ramo. • Como você se sente realizando todos os sonhos de um skatista: ter modelos de tênis, viver do skate, ter sua marca consolidada? (Roniery Passos, Brasília/DF) – Com certeza foi uma grande caminhada até aqui e está sendo ainda, com vários desafios diários. Porém, dizer que eu estou realizado ainda é pretensão. Acredito que ainda tenho uma longa jornada pela frente, mas com esforço e muito trabalho a realização profissional pode ser alcançada. • Como todos sabem, no Brasil não é fácil viver do skate, e você é um grande exemplo dessa realidade... Qual a dica que você deixa pra nova geração que sonha em um dia ser profissional de skate? (Samuel Jimmy, Andradina/SP) – No Brasil além de andar bem de skate, ainda tem que correr muito atrás, fazer contatos. Mas posso dizer que com foco e determinação você chega onde quer. Nunca desista dos sonhos. • Como você analisa a desvalorização feita pelos jovens, das marcas nacionais perante as gringas? (Alexandre Sonzeira, Diadema/SP) – Isso é realmente complicado porque a molecada consome muito material de marcas gringas que não colaboram para o crescimento do skate no Brasil, e as marcas nacionais que realmente fortalecem a cena

do skate ficam prejudicadas. Assim o skate no Brasil não evolui como poderia. O skate cresce a cada dia e movimenta muita grana, mas pena que boa parte dessa grana não fica aqui. • Atualmente o que ocupa mais a sua mente: ser skatista, videomaker ou empresário? (Antônio Aglae, São Paulo/SP) – Atualmente me ocupo mais andando de skate e com a Capital. Mas sempre estou com a câmera junto e acabo filmando alguma coisa, ou quando tem algum projeto que envolva vídeo na empresa daí eu pego a câmera e vou pra rua trampar. São as três coisas que eu mais gosto de fazer. • Tem vontade de participar do Battle of Berrics? (Lucas Scheffer, Rio de Janeiro/RJ) – Não. • Você, como um skatista de Brasília, se pudesse aconselhar a presidenta Dilma em como fazer do skate uma ferramenta de mudança no Brasil, o que você diria? (Felipe Caxito, Rio de Janeiro/RJ) – Dilma, sabia que investindo um pouco no skate você pode salvar vidas? Skate salva! • E aí Aladin: na sua opinião qual a importância da VX 1000 pra história do skate brasileiro e mundial? (Erick Cezario, Rio de Janeiro/RJ) – Grande parte dos melhores vídeos de skate que assisti ao longo da minha caminhada no skate foram filmados com a VX 1000. Acho que a VX 1000 é cultura no skate, a estética dela é muito foda. É um símbolo do skate mundial; pena que não existem mais muitas delas por aí. • Skate é coragem, força de vontade, é a expressão livre do corpo, quase sem limites, sem regras, sem padrões, e principalmente sem preconceitos? Ou você acha que o skate é apenas uma atividade física? (Mario Vinicius, São Bernardo do Campo/SP) – Acho que skate é uma atividade física como outra qualquer, mas também é expressão corporal, superação, cultura e um grande estilo de vida. * E a pergunta que o Aladin escolheu pra levar a pacoteira de prêmios (Öus, Liga Trucks, Hagil Wheels e Capital) é do Leandro Barsoti, de Campo Limpo Paulista/SP .

pRóximo enfocado: EManOEl EnxaquEca envie suas peRguntas paRa triBOskatE@triBOskatE.cOM.Br com o tema linHa vErMElHa – EManOEl EnxaquEca. coLoque nome compLeto, cidade e estado paRa concoRReR ao pRoduto ofeRecido peLo pRofissionaL.

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Switch bs bluntslide em Brasília.


camilo neReS

// zap

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jonathan mentex // entrevista am

O RiO de JaneiRO vive um mOmentO especial. cada um que faz O skate caRiOca, sendO nOvatO Ou nãO, peRcebe issO, pRincipalmente cOm O suRgimentO de bOas pistas na cidade e uma evOluçãO na aRquitetuRa uRbana, Onde muitOs nOvOs picOs “natuRais” têm suRgidO. Os ResultadOs Já cOmeçam a apaReceR, de fORma incOntestável, e um dOs fRutOs mais pROmissORes dessa geRaçãO é JOnathan mentex. mOleque simples, fazedOR de amigOs, muitO queRidO e admiRadO pOR tOdOs nas sessões; seJa nOs nOvOs skatepaRks, seJa nOs picOs de Rua. cOm um skate pOdeROsíssimO, leva um stReet skate RicO em técnica e manObRas de altíssimO nível dentRO dO seu cORaçãO. mORadOR de maduReiRa, apaixOnOu-se pelO caRRinhO aO veR apenas dOis gaROtOs que Já andavam de skate pela sua áRea, que, aO cOntRáRiO de antigamente, hOJe pOssui muitOs pRaticantes, Já Obviamente influenciadOs pOR ele. de educaçãO e índOle difeRenciadas, segundO ele “gRaças a Jesus, minha família e meus amigOs”, cOnheçam um pOucO sObRe esse skatista caRiOca! cOm vOcês, em um bate-papO iRadO numa tRadiciOnal padaRia de subúRbiO (Onde tOdOs O cOnhecem), a simplicidade e a RespOsta aO futuRO dO skate caRiOca: JOnathan mentex. pOR Bruno Funil // fOtOs Cauã Csik

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entrevista am // jonathan mentex

E

ssa vai ser fácil, afinal te conheço desde moleque... Vamos começar sabendo como o skateboard entrou em sua vida? Pô, eu sempre via dois caras que andavam aqui pela rua, aqui pela área... Só havia eles mesmos, quase ninguém andava de skate por aqui. Comecei a achar aquilo muito da hora; primeiro carrinho na mão e já estava eu andando pelas calçadas e logo na sequência na CUFA, onde caras como Eduardo Gringo e o Vinícius Pajé realmente me inspiraram e me incentivaram muito. Pode crer, a CUFA teve um papel importante na sua evolução. Vemos hoje alguns projetos, escolinhas e outros, propagando e desenvolvendo de forma heróica o skate em todo estado, na maioria das vezes com pouquíssimos recursos. O que você acha disso? Só ajuda! A CUFA era muito simples; você tá ligado na estrutura, mas o pouco que tinha ajudou muito, tanto na minha evolução pessoal como na de skatista. Foi um lugar que fiz amigos e me sentia muito bem em estar ali. O Gringo foi fundamental nesse aspecto. Vejo hoje projetos como o NES, que tem a sua galera representando, o Grilo fazendo seu trabalho e também vários outros rolando. Enfim, todo mundo conectado, todo mundo evoluindo com mais orientação e isso só ajuda o skate realmente. Orientação... Um dos seus diferenciais, além do alto nível técnico do seu skate, é a sua educação, sua índole e postura. De onde vieram as boas influências pra formar esse garoto bom que você se tornou? Ah, isso foi graças a minha vó, que sempre me falou de Deus; da minha família. Fui criado na igreja; meu pai também, que é parceiro. A religião teve papel importante na sua vida e também no seu skate? Com certeza! Qual sua religião? Sou evangélico, me converti. Na minha época não tinha isso, mas a sua geração se depara com um mal devastador chamado crack, fala aí! O skate é uma ferramenta excelente pra tirar essa parada da cabeça dos caras. Mas, mesmo assim, tem que ter mais que isso. É aí que entra Jesus, minha família. É triste, vejo muita gente totalmente escrava das drogas. Como é a família Mentex? Minha família é “tranquilona”; meu pai sempre vem me visitar - fechamento total comigo. E esse aparelho? Tá fazendo aniversário essa peça aí, hein! Kkkkkk! Cinco anos, já. Apelido de Mentex é obviamente ligado à dente branco e grande, com formato semelhante àquela famosa bala de hortelã. O seu veio daí? É a mesma vibe, kkkk! Eu ainda nem andava de skate, um

maluco da minha rua viu meus dentes nascendo após terem caído os de leite e me chamou de Mentex; pegou na rua, no skate e em tudo. Como é seu dia a dia? Assisto vídeos, costumo andar pela manhã no Tatu Skate Park (vizinho da pista) e à noite em Olinda. Olinda foi uma pista muito importante na minha evolução. A rapaziada guerreira do Rio tem produzido bons trabalhos em vídeo, né? Com certeza; estão aí o (Pedro) Orelha, o (Ademar) Luquinhas. Mó galera na mesma vibe; tem rolado bons trabalhos. Na rua estavámos eu e Pajé, filmando bastante e sem destino certo, mas roubaram nossa câmera. Assalto? Com arma e tudo... Falando sobre influências dentro do skate, quais são as suas? Quais caras te inspiram? Pode falar de gringo, brasileiro, amigo da rua... Ah, eu gosto do Boo Johnson (amador da Element), gosto do Luan de Oliveira, gosto do rolê de vários caras como Paul Rodriguez, Evan Smith. Pô, se eu ficar falando aqui o nome da geral vai demorar, kkkkk! Curto o rolê de mó galera. Dos amigos, as influências e inspirações são o Gringo, Pajé, (Rafael) Bolinho. São muitos amigos. E sobre campeonatos! O senhor quebrou tudo no Make it Count da Element que rolou no Tatu Skatepark... Pois é, kkkkk! Levei na minha categoria e também no overall. Acredito que o feito de ter ganhado aquele grande campeonato em São Paulo foi um divisor de águas na sua trajetória, onde a geral do Rio começou a perguntar quem era o Mentex, o tal moleque do Rio que foi direto pra final, e na final levou! Em cima dos melhores amadores do Brasil... Foi o Jump Festival! O Gringo tinha uns conhecidos na CBER e daí fomos pra lá (SP). A história foi muito style: fomos pra lá, no primeiro dia andamos muito, passei em terceiro direto pra final, sem precisar passar pela eliminatória. Daí ficamos andando na área até 1 hora da madrugada, quando percebemos que não tínhamos onde dormir. Dormimos na rua! Frio, perrengue, mas no final deu tudo certo, graças a Deus. Fiquei muito feliz, foi muita experiência. Te conheço desde pequeno, você sempre andou bem, mas alguma coisa aconteceu de uns tempos pra cá que seu nível realmente aumentou muito. O que sua mãe tá colocando no seu Nescau? Kkkkk! Acho que são muitos os fatores, são muitas coisas: a CUFA já ajudava, mas era simples, daí veio o Tatu Skatepark, a Pista do Engenhão. Mas, sem dúvida e antes disso, foi eu me enfiar em Olinda; vivia lá o dia inteiro, andava muuuuito neste pico todo dia e aí ainda aparecem estas pistas novas... São muitos fatores.

era muito simples; você tá ligado na estrutura, ‘‘masa cufa o pouco que tinha ajudou muito, tanto na minha evolução pessoal como na de skatista. ’’ 40 | TRIBO SKATE junho/2013


Hardflip no Engenh達o, bairro Engenho de Dentro.

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Bs bluntslide em Campos dos Goytacazes.

quero viver do ‘‘skate, ser um bom

skatista profissional, viver da parada. eu acredito nisso!

’’

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Streeteiro nato, mas você também curte as outras modalidades? Gosto muito de rolê em mini ramp, também gosto de assistir rolê em half, bowl; gosto de tudo dentro do skate. Pretendo um dia andar mais em transição, aprender a andar legal nela. Qual sua data de nascimento? Sou de 10 de janeiro de 1995. Tenho 18 anos! Fala de rango aí, o que você gosta mais de comer? Ah, o estrogonofe da minha mãe. Também tem um macarrão que o Bolinho faz. O Rafael Bolinho sabe cozinhar? É, kkkk! Ele manda benzão num macarrão lá. Estudos? Tô no ensino médio, segundo ano. Você é bom aluno? Kkkkk! Até eu começar a andar de skate, sim! Tirava 10 direto. Depois ficou mais difícil. Mas eu tô ligado na importância dos estudos. Quando não está de skate tá fazendo o quê? Aos domingos e quartas estou na igreja. Fora

isso, tô sempre ligado ao skate, com os amigos do skate. Quem são os irmãos de sessão? Pajé, Bolinho, Miúdo, Caio, Pará; geral de Olinda, mó galera! Quais os seus planos, sonhos, objetivos? Quero viver do skate, ser um bom skatista profissional, viver da parada. Eu acredito nisso! Seus apoiadores? A Efa tênis, Athos Skateshop e também gostaria de agradecer o Walter, o Gringo, o Pajé; todos os meus amigos; a Igreja Mais e o Pastor Paulo, por aí vai. E de som, o que rola? Escuto muito um ‘rapinho’, mas curto também gospel, The Cry, Gospel Gangsta e outras bandas. Pra encerrarmos esse papo: dá a letra: Acreditar sempre no sonho, nunca desistir dele; é colocar Deus na frente, lutar e acreditar. Valeu Mentex, toda sorte do mundo pra você garoto! Valeu, Funil!


jonathan mentex // entrevista am

Ollie to lipslide to switch backside nose blunt slide. Pra莽a das Barcas, Niter贸i.

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entrevista am // jonathan mentex

Feeble corrido, arrancado. Cais do Porto, Centro do Rio.

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René JuniOR

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cidade tiradentes // especial

ElEs contrariaram a ordEm natural E fazEm umas das cEnas mais vErdadEiras E ativas do skatE nacional com as próprias mãos, mEsmo com as piorEs circunstâncias possívEis. o skatE transborda nas ruas E Esgotos da cidadE tiradEntEs, um dos maiorEs guEtos do brasil. // TexTo e foTos marcElo mug

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especial // cidade tiradentes // SURGIMENTO Extremo leste da zona leste. Distante 35 quilômetros do Centro de São Paulo, ou se preferir, duas horas de ônibus do marco zero da cidade. Quinze quilômetros quadrados que abrigam a maior concentração de conjuntos habitacionais da América Latina. Criado entre o final dos anos 70 e início dos 80, o distrito da Cidade Tiradentes tem um histórico semelhante ao da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Surgiu por iniciativa governamental para abrigar populações atingidas por obras públicas. Em pouco tempo as fazendas e olarias deram lugar a gigantescos conjuntos habitacionais, as famosas COHABs, alterando drasticamente a paisagem do local e atraindo uma população de aproximadamente 280 mil pessoas que atualmente moram por lá. Com o tempo, os serviços básicos para a população surgiram, como saúde, transporte e educação, mas ainda estão bem longe do ideal. Um lugar afastado, desconhecido para muitos brasileiros, lar de trabalhadores guerreiros que vão todos os dias ao centro da maior metrópole do Brasil em busca do seu sustento. É deste mesmo lugar que surgiu um grupo de skatistas que vieram ao mundo para fazer a diferença, provando que mesmo com todas as adversidades é possível morar, viver e trabalhar dignamente em um lugar esquecido pelo poder público e afastado dos grandes centros. Essa é a LOVE CT. // LOVE CT Uma crew, um grupo de amigos, uma família. Denis Silva e Elton Melonio são os dois principais expoentes da LOVE CT, mas nomes como Marcelo Martins, Anderson Lucas e Daniel Feitosa começam a ecoar mais forte longe das fronteiras da Cidade Tiradentes. Todos são skatistas e moram em diferentes lugares da Tiradentes, e com exceção de Dan, todos os enfocados nesta matéria nasceram por lá também. “A minha ligação com a CT é muito forte, pois nasci, cresci e a maioria dos meus familiares também mora aqui, todos somos vizinhos e temos uma relação muito forte. Pelo fato de ser um bairro esquecido no quadro social em questões básicas de cidadania, as pessoas que vivem lá acabam criando um respeito muito grande uns pelos outros, e assim todos se ajudam. Dificilmente se ouve falar de brigas nas ruas ou de desrespeito, o fundamento básico do gueto é a humildade; se você vive em meio a uma comu-

Em um raro pico de chão liso, Elton Melonio gasta os eixos em um extenso backside fifty.

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A ladeira íngreme, a base trocada, o chão choquito: Anderson dá o sangue neste switch hardflip pirambeira abaixo.

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cidade tiradentes // especial

nidade precisa saber conviver com as pessoas. Todos ali são sofredores, são como panelas de pressão que a qualquer momento podem explodir. Sabendo disso o respeito e a humildade de saber chegar e sair do bairro são fundamentais no convívio: “se for arrogante terá arrogância em dobro, se for simpático terá simpatia em dobro!” diz Anderson Lucas. Os pais de Marcelo Martins são mineiros, e vieram para a Cidade Tiradentes logo no início da expansão do bairro. Ele nasceu e vive lá até hoje, e acompanha diariamente a luta dos moradores: “o que eu mais gosto aqui na CT é a garra desse povo que, mesmo com a distância dos grandes centros, vem, a cada dia, buscando a melhora em sua qualidade de vida. E mesmo com o sofrimento imposto pelo sistema, que acreditava que aqui seria apenas um bairro dormitório, nós demos a volta por cima e provamos que aqui se tem vida e que se consome cultura. E o que eu menos gosto é a falta de respeito do poder público, que nos limita e que cada vez mais tenta enfraquecer nosso trabalho social; nos nega o acesso à informação.” // CIDADE DO SKATE Se hoje você encontra alguém com um skate em todos os cantos da CT, é bom lembrar que a luta dos locais é antiga e a história foi literalmente construída com o suor dos próprios skatistas, como relembra Anderson Silva, também conhecido como Nego. “O skate em nossa comunidade sempre foi muito forte. Comecei a andar no final da década de 90, na pista do Prestes Maia, uma das mais famosas da zona leste. Quem fez a área

foram os próprios skatistas. Com ajuda política eles ganharam o material de construção e fizeram tudo com as próprias mãos, sem mestre de obra e nem engenheiro. Apenas skatistas com boas influências no skate e visão de progresso. Em 1997 foi inaugurada a primeira pista de skate da zona leste.” Elton Melonio, que acompanha o skate na CT tem mais de duas décadas, relembra: “meu começo era na época de andar em calçadas para deslizar, rampas improvisadas bem simples, não havia pista por aqui. Hoje em dia tenho 20 anos de skate e estou junto com a evolução da Cidade Tiradentes: muitos lugares pra andar, várias pistas e a nova geração vem evoluindo muito.” Celo Martins, skatista e proprietário da Rua Pura Skateshop, comenta o lado underground do começo do skate na CT e a atual febre: “meu primeiro contato com o skate foi no final dos anos 80, quando meu irmão mais velho ganhou o seu primeiro skate. Nesta época o skate vivia seu lado mais underground e se contava nos dedos quem andava de skate, então eu não podia andar. Eu pegava o skate escondido do meu irmão e usava como meio de transporte. Em 1997 iniciamos com nossas próprias mãos a construção da Pista do Maia e hoje em dia temos umas 10 pistas, a maioria danificada, mas é o que temos. E hoje, na moral, a Cidade Tiradentes é o lugar onde se tem a maior concentração de skatistas em atividade diária em São Paulo.” Os picos de rua são do puro estilo brasileiro, com algumas raras exceções de escolas de chão lisos. “Aqui na CT não temos os melhores picos como vemos nos vídeos de skate, porém temos os nossos próprios picos; bons ou ruins, são nossos! O fato de 2013/junho TRIBO SKATE | 51


especial // cidade tiradentes

Ao lado do bar, em pleno final de semana e com o funk no talo, Celo Martins despencou da laje de flip達o.

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Depois de rolar ladeira abaixo algumas tentativas antes, Daniel Feitosa teve sangue frio e botou pra baixo de backside nollie flip.

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cidade tiradentes // especial

ter um chão áspero nos motivou ainda mais a andar de skate com garra e amor pelas tricks. Aqui temos escolas com bancos perfeitos e chão liso.”, diz Anderson, que também comenta sobre o respeito que os skatistas têm na comunidade: “a gente sempre conhece alguém que trabalha na escola, posto de saúde, prédio residencial, então é liberado para andar; não tomamos multa por andar nas escolas e nem tem polícia para brecar a nossa sessão. Muito pelo contrário, a comunidade acaba nos ajudando, ainda mais quando eles percebem que é um trabalho, que estamos filmando, fotografando. As pessoas são muito cordiais, fazem de tudo para somar com a sessão. E depois que a trick é acertada ja viu né... é festa na favela! Hahaha!” // SOCIAL Não é por acaso que o skate tem um papel fundamental para a comunidade e está cada vez mais presente no dia a dia da CT. Ele é um forte aliado em um lugar recheado de problemas sociais, como ressalta Nego: “eu acredito muito no skate como uma ferramenta social. Depois que iniciamos nosso projeto resgatamos crianças das drogas, do tráfico. Tem o lance da educação também, se não estuda não anda de skate no projeto, e assim temos um resultado muito positivo. Os pais dos alunos passaram a frequentar as aulas para acompanhar o filho porque queriam saber o que estava acontecendo na rua que mudou tanto seu filho para melhor. Através dessa mudança na vida da criança ela acaba ganhando o incentivo da família para andar e isso já é uma grande vitória para nós! Não somos todos que tivemos o incentivo dentro de casa, se uma criança ama um esporte e tem total apoio da família, não falta mais nada para ela ser uma pessoa melhor”.

Para entender melhor o que fez Tristan sair da Suíça e passar dois meses filmando os locais da CT, nada melhor do que conversar com o videomaker suíço nesta pequena entrevista. Por que você saiu da Suíça para ir filmar justamente na Cidade Tiradentes? Conheci o Elton Melonio durante as filmagens do filme Passengers no Centro de São Paulo. Eu filmei uma manobra dele e ele me convidou para andar de skate na CT. Eu fui e conheci o Nego, o Denis e o resto da Crew da Rua Pura, pessoas de grande coração que andam pra caramba de skate. Aí decidi fazer uma matéria especial na Cidade Tiradentes. Qual foi a sua impressão do skate na CT? A cena do skate da CT é o futuro do Brasil. Eles andam de skate por amor e não por naipe! Vivendo a dificuldade do cotidiano deles, eles são guerreiro e merecedores. Qual skatista da CT que mais te impressionou durante as filmagens? É impossível responder essa pergunta porque eles são todos impressionantes. Você vê o Denis, ele é muito técnico; o Melonio cria manobras, é impressionante! O Dan se machucou, mas do pouco que eu o filmei, fiquei de cara! O Celo é determinação pura e pesado; o Leandro me impressionou com o double varial flip num pico nervoso; nossa tem também o Luiz Switero pesado; o Nego é cabreiro e gosta de picos sinistros! Todos são cabreiros; tem muitos outros skatistas que eu não citei, vale a pena assistir ao vídeo. Valorize as periferias! O que você achou dos picos da CT? Então! Os picos são de homem: o chão é ruim, são difíceis de andar; os gaps são grandes, mas também tem picos naipes, como uma escola coberta e o hidrante! Você acredita no poder do skate como uma ferramenta de inclusão social? Com certeza, o skate salva. A vibe do skate é da hora, para você andar precisa ter vontade em aprender e determinação. Você acaba criando uma disciplina de vida que te deixa esperto, o skate e a rua também são linguagens universais. Como foram as filmagens para o vídeo da CT? Na disciplina; a gente se trombava na loja Rua Pura, trocava umas ideias e o rolê começava. A gente andou em vários picos, sempre com uma vibe boa e a alegria de andar de skate. Os gringos vão ficar em choque com a CT? Eu tô passando uma ideia pros caras verem como é a vida lá. Não sei se eles vão entender, porque têm que viver no Brasil para entender o modo de vida dos brasileiros. Tem que viver a favela para sentir e saber como que é. Os gringos precisam ver essa alegria que esse povo tem nesse contexto. Quer deixar algum recado? Esse projeto é em memória ao meu pai, minha vó, meu avô (R.I.P.). Eu quero agradecer a Deus por tudo que estou vivendo. A Goty Orieva e Daniel Feitosa que fizeram a trilha sonora, é mais que uma colaboração: é uma experiência pro resto da vida. Obrigado a todos os envolvidos!

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especial // cidade tiradentes

Denis Silva tinha que esperar a bola ir para o outro lado da quadra para mandar esse combo cabuloso: flip lipslide passando pra switch crooked voltando na base. Pow!

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Elton Melo ressalta a importância do skate no dia a dia da CT: “tem pessoas aqui que já deixaram o crime porque o skate falou mais alto na vida e mostrou o outro lado. Também pessoas que ficaram presas, saíram, e hoje em dia levam o skate como foco principal”. Daniel Feitosa, que além de andar de skate é músico, completa: “quando o skate entra na vida dos jovens eles passam a ocupar seu tempo, se livrando de atrocidades e convites que venham trazer arrependimentos futuros. O skate vem ensinando que tudo tem uma disciplina a ser seguida, o cálculo pra execução da manobra e o mais importante, o respeito pelo próximo.” // CONEXÃO SUÍÇA X TIRADENTES E foi preciso um suíço com alma brasileira desembarcar no Brasil para que a primeira grande matéria sobre o skate na Tiradentes se concretizasse. Tristan Zumbach, que já rodou o mundo filmando skate, encontrou na CT elementos que são raros hoje em dia. “Lá os skatistas são pessoas de grande coração, que andam pra caramba de skate! Eles andam por amor e não por naipe!” Tristan passou muitos dias na Cidade Tiradentes filmando os locais e vivenciou na pele o cotidiano do bairro. Além do vídeo com as manobras mais pesadas, ele preparou uma série de vídeo entrevistas e B-Sides que enfocam outros aspectos e mostram os personagens que fazem a história do skate na comunidade. Celão, um dos enfocados, comenta sobre o profissionalismo de Tristan: “Filmar com o Tristan foi uma experiência incrível, ele

nos apresentou uma forma muito profissional de filmar skate. Valorizou todos os picos que fomos, fritou embaixo do sol de 35 graus e nunca desacreditou do nosso trabalho. Muito pelo contrário; ele veio da Suíça, mesmo com o nascimento de seu filho, e ficou cerca de dois meses trabalhando todos os dias ao nosso lado! Na moral: a imprensa do skate sempre nos deixou de lado, negando oportunidades e desmerecendo nossa caminhada no skate, e o Tristan fez o que ninguém fez, olhou para nós e não para os nossos problemas! Ele trouxe toda a estrutura de cinema da Suiça e colocou aqui nas ruas da CT; nunca ninguém olhou para todos aqueles equipamentos com intuito de roubar, aqui as pessoas são amorosas e muito bem intencionadas, e foi isso que ele encontrou!” Denis Silva completa: “as filmagens com o Tristan foram muito style, com ele não tem tempo ruim, é um cara que fica com você quantas horas for para ver aquela manobra filmada. Teve casos de ele estar me filmando e eu querer desistir e ele não deixava. É um cara muito gente fina trabalhando, zuando, falando sério, acho que o skatista tem que estar em perfeita sintonia com o videomaker, e em todas as vezes que ele me filmou isso nunca faltou.” Para ver o resultado de toda essa sintonia, as manobras, os depoimentos e conhecer mais sobre a CT, os skatistas e os personagens locais, acompanhe os vídeos produzidos por Tristan no site da Tribo Skate (www.triboskate.com.br) e também no site da produtora CesarProd (www.cesarprod.com/br).

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entrevista pro // mauricio nava

ConheCi o MauriCio eM Volta redonda MesMo, eM uM dos saudosos CaMpeonatos aMadores da rio skate Mag. FilMei uMas Manobras e linhas dele e leMbro que o MesMo estaVa Vestindo uMa Calça de uMa Cor beM ChaMatiVa e uMa CaMisa ideM (algo CoMo VerMelho e/ou azul), Mas queM sou eu para opinar sobre a VestiMenta dos deMais, logo a Minha pessoa? não Me esqueço que Fiquei iMpressionado CoM as Manobras Feitas pelo naVa, todas sinistras e aCertadas eM pouCas tentatiVas. depois, CoM o teMpo, Fui indo Mais Vezes à “Cidade do aço”, realMente há Vários piCos pela região. aCabei andando CoM uMa outra galera de lá Mas seMpre Vendo a eVolução Constante dele. seM soMbra de dúVida que ele soube usar a internet, CâMeras FotográFiCas e FilMadoras para o beM. quando geral estiVer Migrando para o próxiMo booM do Ciberespaço, o naVa já estará estabeleCido. ChaMa no daMian Marley para Folhear esta entreVista. por Pirikito Sem ASA // Fotos Pedro mAcedo

O

que o fez estudar jornalismo? Gostaria de trabalhar na área com mais afinco? Pretende fazer uma pós-graduação? O que me fez estudar foi o skate mesmo, eu fiquei viciado nisso e comecei a ler as revistas milhares de vezes. Lia a resenha dos vídeos que saiam, aí quando via algum vídeo ou ia em algum campeonato, eu já ficava maquinando na minha cabeça como eu descreveria o que estava vendo; antes mesmo eu já gostava de redação, escrever. Meu estágio na época foi no Qix News; o site era bombado de notícias de música, skate e arte. Foi uma época mágica para mim, aprendi bastante com editores como o (Lucas) Pexão e (Eduardo) Bocão. Textos do Rodrigo Kbça também. As matérias eram ricas em informação, que talvez você encontrasse somente em revistas mesmo. Ia nos champs, corria, já fazia a matéria, andava e era bom que o que ganhava ajudava na passagem. Sempre levava minha maquininha digital para registrar as manobras, fazer entrevistas com a galera. Atualmente fiz algumas matérias filmando e entrevistando para a ESPN, direcionadas ao programa Skate Paradise, mas está rolando muita coisa e o foco é mais andar mesmo. No futuro quero inventar alguma coisa em termos de jornalismo e skate que ninguém pensou, de repente né? E esses seus dreads, desde quando você tem? Tem a ver com alguma religião em específico? Então, desde quando, exatamente, eu não sei, só sei que

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minha mania de ficar enrolando os cabelos é tanta que eles viraram os dreads. Eu lembro que em 2004 parei de cortar, depois foi acontecendo e virou! Sempre perguntam aonde fiz, mas fui eu mesmo que fiz e eu mesmo que ajudo a destruir um pouquinho (risadas). Mexo tanto que vai caindo, aí parece que ele não cresce. O rastafári, claro que é uma referência para mim. Como as atitudes, de respeitar as pessoas, querer estar bem com todos, sempre achar as coisas positivas em tudo. Levo isso para a minha vida. Tudo que dizem que não vai dar certo já vejo ao contrário: vejo possibilidades em tudo, na hora de manobrar e na vida! Com a religião e a alimentação acho que não tem a ver. Aliás, como carne, como balas, chicletes o tempo todo (risadas). Já teve alguma dor de cabeça pelo fato de o seu pai ser o presidente da associação de skate local? Foi ideia dele ser o presidente ou foi porque ninguém queria ser? Na real tenho dor de cabeça o tempo todo (risadas)! Brincadeira… Essa é uma dor de cabeça saudável, porque é o que eu amo. Nos procuram para tudo no skate, desde demonstração em colégio à festa de aniversário (risadas). Sem ganhar nada, é claro (e mais risadas!). E aí já fazemos a correria de arrumar gente para levar os obstáculos, som e etc. Meu pai sempre me levou nos champs, aos meus amigos, a galera em geral. Ele sempre esteve no meio do skate. Ele só oficializou a coisa quando fundamos a ASKVR e quando a organizou também. É que na real, o pessoal sempre fez a associação de boca, sem estatuto,


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pouca coisa legalizada, mas quando você se organiza, as coisas funcionam. Ele trouxe essa experiência burocrática e o jogo de cintura que ele tem do Sindicato do Engenheiros, na luta pelos trabalhadores. Quem foi o primeiro skatista profissional de Volta Redonda? Atualmente você é o único? Sente muita pressão por isso? O primeiro pro de VR, até onde eu sei, é o Manu Mezabarba Alves, também conhecido como “Palmito”. Referência nos anos 2000, foi morar em SP e viver do skate. Ele foi um dos responsáveis pela cidade ter a pista pública coberta. O cara que chegou para o prefeito e disse: “Você colocaria o Gustavo Borges para nadar numa piscina de plástico?”, quando o prefeito falou que ia fazer uma pistinha. Aí ele anunciou aquilo tudo de pista e ainda falou que ia cobrir, para delírio geral da nação do skate. Sou o único pro da área e talvez um dos poucos do estado. Às vezes sinto pressão, mas faço até mais do que posso pelo skate. Como anda a cena do skateboard em Volta Redonda? Como já foi e o que vem pela frente? Olha, sempre foi uma cena animal. Tínhamos o bacião, um bowl enorme que já foi aterrado; até o (Cesar) Gyrão falou que já andou nele; apesar de torto e alto. No final dos anos 80 tivemos ótimos skaters por aqui: Tutu, Minhoca, Chanel, Bruninho, Picolezão e Billy. Essa galera movimentou a cena, andando muito e havia os champs. Encontrei o Wilson Neguinho e ele me contou que já veio em demos por aqui; outro amigo da antiga me disse que teve o sonho de chegar no pico preferido e bater de frente com Fernandinho Batman e Rui Muleque. Tinha a loja Ponta Pé, que fazia as demos e champs, patrocinava uma galera e ajudou a fazer uma pista que ficava dentro do Aero Clube, lugar onde acertei meu primeiro flip. Depois saiu a primeira pista pública de street em frente da minha casa. Fizemos o abaixo-assinado e vieram mais 14. A cena é forte porque a prefeitura sempre deu bastante apoio. Atualmente está faltando melhorar todas as pistas, dar uma renovada; construir, quem sabe, uma plaza e um banks, para galera pegar outras bases. Tem tanta coisa sua em vídeo que podemos dizer que você é um especialista (skatista pro com mais foco em filmar)? É verdade, né? É uma coisa que gosto muito de fazer: é filmar as vídeo partes além dos vídeos rápidos de internet. É um vício. Na real - essa é minha motivação! Todo dia pensar ou colar em algum pico, tentar filmar alguma manobra diferente e nunca parar, porque sempre tem como melhorar o que já foi feito. Ou inventar alguma parada que ninguém nunca pensou. Já fiz umas oito partes em vídeos e o reconhecimento da galera é muito style; a molecada vê e já chega falando que curtiu. Eles sabem a primeira e última manobra das partes (risadas)! Isso dá um gás, além da vontade própria. Pro models ou produtos assinados, quantos você tem atualmente? Quantos já foram lançados e o que podemos esperar em breve? Então, quando passei para pro já lancei o tênis assinado na Qix. Foi uma coisa de louco na real, porque já passei e foi um salto enorme de amador para profissional, com model. Eu estava aéreo no momento, não tinha acreditado, passou um filme na cabeça. Lembro que estávamos eu, o Kelvin (Hoefler) e o (Eduardo) Bocão na reunião; o Kelvin tinha entrado para falar com o Ramon (Müller) e já saiu pro, felizão com model.

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Skate é para se andar, curtir, viajar e parar de ficar julgando, a parada é livre. Faça o que você quiser, compartilhar a boa vibe, o sentimento.

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Mais um daqueles picos que parecem fáceis, mas na real a rampa não joga muito e a vinda é feita em uma curva. Nada que impeça Nava de mandar o heelflip que estará no vídeo ‘Do Rio’.


mauricio nava // entrevista pro

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entrevista pro // mauricio nava Logo depois entrei e ele já veio falar que queria fazer meu model também. Depois o (Vitor) Sagaz já me enviou a roda pronta e cheia de balas desenhadas e com meu nome, aí eu pirei porque ele diz que sou o Pirulito, porque como muitas porcarias (risadas). Lancei o model de shape pela Skatismo, que foi outro sonho realizado; a madeira tem um sentimento a mais, né? E o Skatismo era um vídeo que tive parte, teve um significado especial na minha carreira, virou marca e loja virtual. E agora o skate vai ficar complete: vai sair o meu model de truck pela V8 trucks e do jeito que eu gosto, baixo e mais estreito. Um amigo designer, o Guilherme Kowloswki, espancou na arte, curti demais. Em breve rola uma camisa pela Viva também. Agora já aproveito a deixa para pedir um outro model de tênis (risadas). Umas semanas atrás estava com o Allan Mesquita e o mesmo me comentou mais ou menos assim “vagabundo pode falar o que for mas a Qix é a melhor marca para se trabalhar!”. Alguém já veio lhe falar alguma coisa por andar para a marca? E o que tem a dizer para esse tipo de pessoa? Cara, como disse, os caras podem vir e falar um monte de coisas de um monte de marcas e pessoas, aí vai de cada um absorver as coisas negativas. Quando você para de prestar atenção nisso, você se diverte e produz mais! Skate é para se andar, curtir, viajar e parar de ficar julgando, a parada é livre. Faça o que você quiser, compartilhar a boa vibe, o sentimento. Tenho orgulho de fazer parte da Qix, a marca que me deu mais apoio e condição para eu poder realizar as minhas paradas; ela tem história no skate brasileiro, esse ano irá fazer 20 anos, já patrocinou grandes nomes do cenário e continua. Muitos champs amadores, pros e mundiais. Concurso de vídeos. O Qix TV é um projeto de sucesso; onde eu vou, sou reconhecido por isso também, as crianças vêm me agradecer e falar que aprenderam ollie, no comply, shovit e outras porque viram o Qix Start, onde ensino as manobras. O site divulga vídeos rápidos que mostram os eventos, novos talentos, a equipe e de tudo um pouco. Hoje em dia você consegue viver bem só do skate ou tem que trabalhar por fora, com ou sem ele, para pagar as contas? Consigo viver bem do skate, hoje. Eu acho que sempre podemos evoluir, arrumar mais patrôs fortes e que acreditem nesse retorno. Principalmente por tudo o que eu faço e a energia que é depositada no skate. Também faço alguns vídeos para melhorar a história. Overall, quem é que colocou você na loja e há quantos anos rola esta parceria? A Overall foi meu primeiro apoio e patrô, desde mirim até hoje. São 12 anos no time, uma loja que tem história na cidade. Apoiava skatistas, músicos e artistas. O Billy me chamou para a loja, depois que ganhei os quatro primeiros champs que corri. Na época era um sonho fazer parte da equipe, eles me levavam nas demos pelos bairros e escolas, eu colava em todas. Depois eles lançaram o “Overall Video Style”, onde tive minha primeira parte em vídeo com 14 anos. Não sabia como era fazer isso, mas em um mês filmei ela; tem no Youtube, quem quiser, veja lá. Hoje a dona da loja é a Adeline Silvar e ela dá uma força para todos. No ano passado eu e o Pedro Dylon lançamos o DVD Overall Essência, com a equipe atual, novos talentos da loja e uma parte minha meio retrô mas com umas tricks atuais. De quem é que foi a ideia de se fantasiar de Capitão Jack Sparrow para o Sem Parar n.º 9? Caiu como uma luva! O lance do Jack Sparrow já é uma coisa antiga, na real. A minha namorada, a Nayara Lacerda, falava que eu era ele, e tinha um menino no meu bairro que falava que eu parecia o Jack também. Aí, quando rolou o vídeo de fantasia, liguei para o (Pedro Macedo) Orelha e falei que tinha alugado a fantasia de pirata e tinha virado o Nava Sparrow (risadas). Manu Alves, Marcio Vingador, Alder Picolé, dentre outros, são como pilares do skateboard da sua cidade, confirma? Explique para quem não os conhece a importância que estes tiveram/têm para a cena local?

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Pico perto do Engenhão, tranquilidade no rolê e não demorou muito pra Nava e sua sombra riscarem o wallride.

o rastafári, claro que é uma ‘‘referência para mim. Como as atitudes, de respeitar as pessoas, querer estar bem com todos, sempre achar as coisas positivas em tudo.

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Quando a dupla pensou na trick a ser registrada no tradicional ponto da boemia carioca, Pedro desafiou Nava a dropar dos Arcos da Lapa. Desafio lançado, drop concluído!

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Com certeza, esses são grandes amigos, e outros lá em cima que citei. Aprendi muita coisa também com André Myshilin, Diego Aerosol - estes são os caras que me ensinaram os no complys (risadas). Léo Baiano, Rodrigo Makarrão, Gedson Geda, Cristiano Cri, Tapuru, Linha Direta, Alexandre Bugão e o Leonardo Shimoda. Esses caras fazem parte de uma geração que influenciou muita gente no sul do estado e no Rio de Janeiro também, sempre foram muitos considerados. Sou fruto dessa geração, que plantou muitas coisas boas para nós colhermos. Viagens, qual foi a melhor que você já fez e para aonde tem pretensão de ir? Cara acho que a melhor viagem é difícil dizer, mas a primeira para a Argentina foi importante. Estava na casa do Daniel Marques, encontramos o (Marcelo) Mug na pista e ele falou que ia, depois ligou umas três vezes para perguntar se íamos e com isso pensamos: “é para a gente ir!”. Foi marcante, fomos de busão. Muitos picos, vídeos, manobras novas e fotos. Era tudo novo, língua nova, éramos uns 10 em um albergue. A galera era punk, foi bizarro. Saíamos nas ruas remando e zoando geral, ninguém entendia nada, né? A Roots Trip também foi demais: de Belém do Pará a SP de carro; muitos lugares, experiências, roubadas e aprendizado com os pros (Vitor) Sagaz, Wagner Ramos e Fellipe Francisco. Quando esta entrevista sair devo estar na Europa. E o Manny Mania, ainda quer participar do evento? Dá para ganhar do Joey Brezinski? Cara, o ano passado eu tentei ir, pedi para o Adelmo Jr. conversar com Joey Brezinski; eles acabaram se encontrando uns dois dias depois; mandei um vídeo e tudo, mas ele disse que tinha muita gente e que era para tentar com a Red Bull do Brasil. Já havia tentado no Brasil e disseram que era com os gringos. Acho que o negócio é colar em New York e ver se rola; se não rolar, pelo menos a cidade já valeu a pena. Está meio difícil ganhar do Joey, ainda mais se ele fizer umas tricks dessas que saíram no vídeo da Clichè novo (o Bon Voyage); mas estamos aí pra tentar. Se ele vacilar, né, perdeu (risadas). Quantos bairros e pistas têm na sua cidade mesmo? Reza a lenda que é uma por bairro. Quantos bairros eu não sei, mas está longe de ser uma por bairro. São 14 pistas na cidade, mas tudo igual! Tem que ter plaza, coisas novas por lá. O Galpão do Skate fez 10 anos não faz muito tempo. Qual foi o evento mais foda que já rolou nele? É a primeira pista pública coberta do país ou não? Resuma um antes e depois da construção do dito cujo. Isso aí: 10 anos da pista e não pude ir na festa de aniversário que fizeram lá! Passei mal, muito mal, perdi essa festa; meu pai chegou umas três da manhã em casa, e eu morrendo de febre. Essa pergunta é sacanagem hein, Pirikito (risadas)! Acho que o evento mais foda e bombado foi a inauguração; marcante, lotadíssimo. (Marcio) Tarobinha, (Adriano) Caldas, (Flavio) Coletta manobrando para todos os lados. Teve o champ da Copa Rio, na época, que foi louco. O Overall Skate Rock destes tempos atrás, que entrei no bate cabeça, curti muito e depois os caras, loucões, droparam do wallride com um sofá velho que colocaram na pista! A geral bolou! A pista é um marco no skateboard brasileiro, uma das poucas cobertas do país. Revelou e revela muitos talentos; pode estar chovendo que a gente sempre vai andar lá. Vem gente do Rio de Janeiro e até do interior de SP para andar lá, quando chove muito. E o Pedro Neném é o futuro mesmo? Quais outras promessas Volta Redonda tem na manga? Neném tá foda, o neguinho tá enjoado. Ele só acerta manobra difícil e com estilo. Vai sair uma parte dele no vídeo “Do Rio”, do Orelha. Anota aí as promessas: Pedro Dylon, Cadu Azevedo, Rui Rezende, Willian Todynho e Renan Sales. Terão que ter foco pra seguir evoluindo e serem reconhecidos. Campeonatos universitários, sente falta? Senti falta do Universitário no ano passado, e esse ano não foi divulgado nada. Espero que tenha. Venci duas edições na categoria pro; é uma oportunidade diferente para mostrar o skate e para valorizar os skatistas que procuraram uma graduação, coisa muito importante para as suas vidas. Quais redes sociais mais usa e de quais sente saudades? E aonde podemos ler o que pensa? Uso muito o Facebook; tenho a página pessoal que podem seguir, tem a fan page também. Posto no Instagram, Twitter,

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mauricio nava // entrevista pro

A Escadaria Selar贸n 茅 patrim么nio tombado pela cidade do Rio de Janeiro, fica sempre cheia de turistas e havia policiamento no dia. Mas Mauricio deixou toda essa press茫o de lado e inseriu, com esse fs tailslide, o skate no colorido mosaico criado pelo artista que se assemelhava ao Cheech, parceiro do Chong.

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às vezes, e YouTube também. Muito do meu skate foi divulgado aí; faço parte dessa época dos skatistas internautas. Mas nem por isso as coisas deixaram de ser difíceis. Aí vão os endereços: Mauricio Nava no Facebook; Twitter e Instagram: @mauricionavaskt e canal do Youtube mauricionavaskt. E sinto falta do Fotolog e do MSN e suas frases encurtadas. Ainda anda na Praça São João? Sempre ando por lá, é uma praça que tem tudo: escada, borda, manual, gap e rampas. O playground dá para inventar umas manobras. Parece que a praça vai virar um campo de futebol. Vai ser uma pena, se a destruírem é uma parte de mim que se vai também. Muitas sessões com a galera, manobras aprendidas, fotos e filmagens! Vai fazer mais falta do que se destruíssem alguma pista por aí, juro! Vamos fazer uma manifestação/champ e ver se sensibilizamos as autoridades. E o “era disso” começou a ser usado quando e por que? O “era disso” comecei a falar mais quando colava direto com a galera do ABC Paulista; a galera é muita vibe por lá, muita essência e aí uns amigos falavam que quando víamos alguma coisa interessante, alguma manobra criativa, falávamos: “Era disso que eu estava falando...”. Aí a galera até escrevia na lixa, ainda tem um pessoal que fala isso lá, mas eu continuei usando, virou uma mania minha. Quais são os prós e contras de uma escolinha de skate? Antes não era tão a favor de uma escolinha de skate, pensava: “como vão ensinar a verdadeira vibe de se andar de skate?” Depois que comecei a escolinha, vi que tinha jeito de ensinar a essência do skate, colando a aulinha como se fosse numa sessão, botando uma pilha, levando os vídeos, as re-

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vistas, igual como se fosse com um amigo. Queriam sempre que fizéssemos uns planos de aulas, mas isso nunca deu certo. Só se fosse para constar mesmo, cada um está em um nível. A técnica do skate se passa assim: como remar, como bater e arrastar os pés. O resto é fazer o moleque acreditar no que ele é capaz. É o trampo que você fica bem mais em contato com o andar de skateboard; se você tem uma loja, você fala e vê sobre o skate o dia todo, mas acaba não andando tanto. Eu aprendi muitas manobras também com a molecada, dando aula e andando junto. Uma vez um aluno me ensinou o flamingo, foi maneiraço isso (risadas). Rolaram quantas capas de revistas, entrevistas, fotos, anúncios, etc. (até capa de caderno você tem)? Guarda tudo, tipo um portfólio? Já rolou muita coisa sim. Matéria de criatividade aqui na Tribo Skate; o meu primeiro anúncio foi da I-Path. Tenho um portfólio virtual, que tem tudo o que eu fiz. Antes tinha uma pasta mesmo, tem muitas fotos de sites, jornais. Guardo tudo, acho muito importante. É jornalismo, é parte de uma história que estou vivendo, vou ver no futuro e relembrar. Já saí na capa do caderno da Pense Skate, que é o maior site do Rio de Janeiro, foto do (Júlio) Tio Verde na praça São João, no Playground. Capa, rolou na Worked, revista virtual canadense, foto do Dhani Borges, foi uma sensação suprema também. Já pensou em sair de Volta Redonda e ir morar em outra cidade/país? Se não, por que? Então, esse ano estou muito no Rio de Janeiro, praticamente metade do tempo. Está sendo bom andar por aqui, muitas plazas novas, muita gente andando! Isso só me motiva. Essa entrevista é fruto disso, toda semana estou fazendo demonstração e uns best tricks nas pistas do RJ, junto com a Qix, e


mauricio nava // entrevista pro

Os dreads devem ter protegido os pensamentos do Nava, porque neste dia fazia uns 42 graus no Rio e o manual do Engenh達o ficou bem mais complicado. Mas a especialidade da casa veio com um arremate classudo: manual varial heel manual.

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mauricio nava // entrevista pro também levo uns trucks da V8. Está sendo bem corrido, dupla jornada. Já fiz muito por VR, o Rio é a capital e precisa desse movimento e devem sair muitos picos novos por aqui. Mesmo assim, não tem como abandonar a cidade natal, que é privilegiada de lugares para se andar na rua. Para se ter um pro model na Viva, tem que ter dread ou rola sem? Não necessariamente! Em breve espero que o JN Charles venha a virar pro e vocês vão ver (risadas). A marca tem uma identidade rasta, mas não é só isso: valoriza o skate criativo, a liberdade. Lançou vídeo; é a primeira marca de rodas do Brasil que lançou um vídeo completo mesmo; fizemos tours, também. Esse ano sai o “Obrigado Cabra”, que faz parte da Trilogia depois do Gracias Hermanos. Você pratica algum outro esporte, tem algum hobby? Faz uma preparação antes/durante/depois de andar? Alimentação diferenciada, ou vai que vai? Hoje em dia não consigo praticar outro esporte, já tentei fazer academia e tudo, mas não dá para mim. Estou tentando melhorar minha alimentação, comendo mais frutas e numa frequência de horários maior, pois quando começamos a andar não paramos mais. Hobby é viajar com a minha namorada, a ideia é sempre conhecer lugares e a gastronomia local. Não dá para viver sem no comply e/ou manual/wheelie? No comply e manual são vida, é puro carisma (risadas)! Não vivo sem. Quem são os fotógrafos e videomakers com quem gosta de trabalhar? Eu gosto de colar com qualquer fotógrafo e videomaker que cola na session, na mais alta vibração, sem cobrança. Não adianta o cara chegar lá e achar que é só um trampo comum. Skate é sair para dar uma curtida, ver gente na rua. Interagir com todos. Gosto de colar com o Orelha por isso. Se não rolar foto, vai rolar sessão, solinho, alguma pista depois! Sempre filmei com Makarrão, Rafael também. Saio com Leonardo Avelino “Coxinha”, que está evoluindo muito. E esse eixo duro para baralho, ninguém nunca caiu ao subir no seu skate? Quem você já conheceu que anda desse jeito? Opa, se já! Caíram sim, pedem emprestado e devolvem rapidinho. Mas aos poucos estou amolecendo eles, para fazer melhor as curvas! O Charles Cipriano de VR anda com eixo durão, ele curte uns manuals. Diego Oliveira e Rogerio Troy também. Era disso!

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já fiz umas oito partes em vídeos e o reconhecimento da galera é muito style; a molecada vê e já chega falando que curtiu. eles sabem a primeira e última manobra das partes (risadas)!

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Cair da cama às 4 da matina pra pegar o Rio acordando mostra a dedicação da dupla! A primeira foto do Pedro publicada em revista especializada foi com o Nava e agora o profissional também é o responsável pela foto mais maneira que o fotógrafo já fez; pole jam one foot no estilo cartão-postal, pra finalizar muito bem a entrevista.

// mAuricio NAvA 26 anos, skate desde 1998 Volta redonda/rj patrôs: qix international, skatisMo, ViVa rodas, V8 truCks, oVerall skateshop e Chillax inglês 2013/junho TRIBO SKATE | 69


casa nova //

Akira Utida // Fotos Leandro Moska Ser skatista: É ser batalhador. Quando não está andando de skate: Estou descansando. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: A falta de investimento no skate local. Skatista profissional em quem se espelha: Rafael Gomes. Skate atual: Shape SubCity 8.0, trucks Sativa 139, lixa gringa Your Face, rodas Bones STF 52 e rolamentos Red Bones. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Apple. Som pra ouvir na sessão: Auditorium do Mos Def. Parceiros de rolê de skate: Só os verdadeiros, sem os ‘atrasa lado’. Melhor viagem: Todas são da hora. Melhor pico de rua: Quarter da Castelo Branco. Melhor pista: C-Vida. Sonha alcançar com o skate: Minha marca focada no skate. Aquele salve: Toda minha família, C-Vida, Prekario Crew, SubCity Crew, Save Family, Bruno Araujo, SAM, Blend SkateShop e MDG. // AkirA UtidA 20 Anos, 14 de skAte CAmpo Limpo pAUListA/sp pAtrô: sUbCity, sAtivA trUCks, bLend skAteshop, sAve skAteboArd

Fs bluntslide correndo toda a borda.

‘‘Fodam-se os falsos. skate ou morte.’’ 70 | TRIBO SKATE junho/2013



casa nova //

André Corrêa // Fotos CaMiLo neres Ser skatista: É ser livre, olhar o mundo de outra maneira e ter um momento para esquecer de todos os problemas. Quando não está andando de skate: Estou estudando ou com a família e amigos. Maior dificuldade em ser skatista na sua cidade: Falta de espaços públicos de qualidade para se andar de skate, que possam ajudar na evolução do skate curitibano. Skatista profissional em quem se espelha: Tem vários, entre eles Luan de Oliveira, Felipe Gustavo e Rodrigo TX. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Sony. Skate Atual: Shape Posible, lixa e parafusos Legitime, trucks Independent Koston 139mm, rolamentos Red Bones e rodas Legitime 52mm. Som para ouvir na sessão: ASAP Rocky, Rick Ross e Notorious B.I.G. Parceiros de rolê de skate: Galera do Ambiental e do Uberaba, Matheus Filipe, Lucas Ramos, Lucas Pereira entre outros. Melhor viagem: Para Salvador/BA, em 2009. Melhor pico de rua: O ‘terminalzinho’ (Curitiba); perfeito para fazer linhas. Melhor Pista: Jardim Ambiental. Foi a primeira pista que andei de skate, cresci e aprendi a andar. Sonha alcançar com o skate: Ser um skatista bem sucedido, produzir bastante, filmar, tirar fotos e poder mostrar o meu skate para o mundo todo, mas tudo no seu tempo. Aquele salve: Agradecer primeiramente a Deus, minha família, que sempre me apoiou e me incentivou; Lucas Pacífico, que está me ajudando e está abrindo portas para eu evoluir e mostrar o meu skate; e revista Tribo Skate pela oportunidade. // André CorrêA 16 Anos, 4 de skAte CUritibA/pr Apoio: Legitime WheeLs

Hard flip.

‘‘o importante não é vencer todos os dias, mas lutar sempre.’’ 72 | TRIBO SKATE junho/2013



rafael/New

Thomas Teixeira

casa nova //

Wacson mass Ser skatista: É ter liberdade. Quando não está andando de skate: Estou com os amigos ou na escola. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: Falta de apoio. Skatista profissional em quem se espelha: Chris Haslam. Skate atual: Shape Wood Light, eixos Thunder, rodas Spitfire e rolamentos Red Bones. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: No momento nenhuma. Som pra ouvir na sessão: Rock, como Ramones. Parceiros de rolê de skate: Alemão, Vitinho, Patrick, Caio Cesar, Lucas, Francisco, Wilsinho, Madruga, Gabriel Emiliano e Fortunato. Melhor viagem: Rio de Janeiro. Melhor pico de rua: Praça de Itaquera. Melhor pista: Mogi das Cruzes. Sonha alcançar com o skate: Viver dele. Aquele salve: Para todos que acreditam em mim; muito skateboard. // WACson MAss 13 Anos, 7 de skAte de são pAULo/sp, morA em ArUjá/sp pAtroCínio: red nose, Wood Light e neW

Ollie one foot.

‘‘skate and destroy.’’ 74 | TRIBO SKATE junho/2013



hot stuff // junho

// Vegetal Skate Linha completa para lojistas, a Vegetal conta com parafusos de base, lixa, rolamentos, passando pelos shapes pro model e colaborações (Skate Camp, MetalluM e Booerage), as camisetas com estampas variadas (Vegetal e Hordem) e os gorros da Vegetal. Pedida certa pro frio que está fazendo! Hordem Distribuidora – (11) 9 9182 3189 / andrehiena@hotmail.com

// X Games Watches Com caixa de policarbonato e pulseira de poliuretano, o modelo oficial dos X Games 2013 é anadigi (horas na forma analógica e digital), tem cronógrafo, iluminação, alarme, timer, dual time, função de calendário e é resistente à água em até 100 metros. O relógio possui alta durabilidade e é opção ideal para os amantes de esportes radicais que querem carregar o espírito aventureiro em todos os momentos do dia. X Games Watches - (11) 3049 7777 / orientnet.com.br/xgames

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// Booerage A marca dos profissionais Marcelo Alves, Marcos Hiroshi e Humberto Beto, que no final de 2012 lançou seu primeiro vídeo independente - o Boo Prato (YouTube/Vimeo), coloca nas ruas de todo Brasil os shapes pro models do Hiroshi e do Alves, também distribuídos pela Hordem Distribuidora. Booerage – (11) 9 5339 5695 / booerage@gmail.com / facebook.com/booerage

// Black Sheep Bonés variados e o novo modelo de rodas para street são alguns dos lançamentos que a Black Sheep preparou para o mês, com destaque para as rodinhas mais duras (101a) e em diversos tamanhos (50, 51, 52 e 54 mm). Black Sheep - (11) 5071 8850 / blacksheep.com.br


// Real Skate e música são forças positivas pra gerar mudanças! Pensando nisso a Real lança, dentro do projeto Actions REALized, quatro shapes em parceria com a banda Green Day onde parte do valor arrecadado com a venda das peças será revertida para um hospital especializado em crianças de Oakland (EUA). (11) 3251 0633 / edgar@plimax.com

//Curva de Hill Com fabricação própria de sua linha de proteção, a Curva de Hill despacha para todo o Brasil pedidos de seu produtos para skate de ladeira: luva para slide, joelheira básica, pata de vaca e também o pro model do Sergio Yuppie, esses dois últimos contando com acabamento em couro e casquilho de alta resistência. Curva de Hill - (48) 3334 3144 / curvadehill.com

// Anti Hero Pegando onda na mania 4:20, a Anti Hero estiliza seu logo tradicional com o tema para uma série intitulada ‘eaglelize it’ e a Plimax já conta com os modelos em seu estoque! (11) 3251 0633 / edgar@plimax.com

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áudio //

Bayside Kings O BSK é uma Banda tOtalmente ativa. GOStamOS de hardcOre, de fazer O SOm, de SermOS participativOS. O papel de uma Banda dentrO dO hc nãO é apenaS tOcar - tem mil cOiSaS a fazer.” dentre eSSaS mil cOiSaS a fazer, miltOn aGuiar, O vOcaliSta maiS cOrreria da nOva GeraçãO, fala SOBre a hiStória da Banda, primeirO lançamentO em vinil e OS planOS para ultrapaSSar O céu! Por helinhO SuzuKi // Foto Wander Willian

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uando eu o conheci em 2009, sua outra banda havia acabado e você tinha desencanado de tocar. O que levou você a um ano depois montar o Bayside Kings? Essa foi uma passagem estranha da minha vida. Como um renascimento, cortei tudo aquilo e aqueles que me atrasavam, falsas amizades, sanguessugas e resolvi transformar toda raiva negativa em positiva, rever conceitos e me encontrar. Resolvi “voltar às origens” e encontrei pessoas certas nessa caminhada, que foram e ainda são vitais e isso me faz sentir vivo. Isso não tem preço. Como você resume esses três primeiros anos da banda? São os três anos mais loucos de nossas vidas. Começamos a banda exatamente em 29/07/10, sem pretensão nenhuma de nada, apenas de tocar hardcore, misturando o clássico com a nova escola, tocar covers de quem gostamos; mas foi algo tão forte, principalmente quando criamos nosso primeiro som “Still Strong”, que sentimos que deveríamos fazer mais; botar a cara de verdade. Assim nos preparamos e gravamos no fim de 2010 o nosso ep “The Way Back Home”, que só foi lançado em abril de 2012; uma grande distância de tempo, mas isso tem uma explicação. Após nos darmos valor e compreendermos o que é o BSK, vimos que dá pra ter o espírito “underground” e fazer bem feito, tirar aquela associação de underground com mal feito. A gente gravou mil demos de dois sons e saí de Santos colando onde acontecem as coisas: nos shows e não na internet. Fui conhecer as pessoas, bandas, me envolver, conhecer outras cenas e assim foram acontecendo as coisas. Fazer pela cena local, movimentar-se, usar as ferramentas a favor, ter uma mensagem crítica interna e externa, se questionar, ser eu mesmo, são coisas que nós aprendemos com o hardcore e desenvolvemos com o BSK. Divulgamos forte a banda através da demo, da internet, de show em show, boca a boca, nos merchs, e recebemos o convite de alguns selos para fazer um lançamento. Então

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resolvemos fazer isso em coletivo, uma oportunidade diferenciada pra lançar o “The Way Back Home”, em 2012 pelos selos: Hearts Bleed Blue, Strue Spiritx, Balboa Discos, Xultra Lifex, Still Burning e One Voice. Com isso, distribuimos pelo Brasil todo e também na Argentina e Japão. Foram mais de 150 shows até agora em cinco estados e diversas cidades, muitos amigos feitos, muitas bandas amigas, e estamos em fase de transição para mais um passo importante, que é o nosso próximo disco, Warship, lançamento exclusivo da Hearts Bleed Blue, em formato de vinil 7 polegadas. O tempo passa rápido, como agora, e nossa máquina gira rápido, não ficamos e não ficaremos parados, acreditamos e seguimos fortes. Algumas das principais bandas do underground nacional vieram de Santos, como Psychic Possessor, Garage Fuzz, Sociedade Armada, White Frogs entre muitas outras. Vocês têm alguma influência direta ou indireta deles? Indiretamente temos, pois foi a geração que praticamente começou o hardcore em Santos. Temos o maior respeito pelo legado construído, assim como outras bandas que foram referências como o 100 Ilusões, que ainda está em atividade, e o Live By The Fist, que voltou aos palcos há pouco tempo. Santos sempre teve uma cena forte, principalmente nos anos 90 e começo de 2000 e de uns anos pra cá perdeu a força. Como vocês fazem para manter o espírito hardcore em meio ao funk e rap que assolam a cidade? Acreditamos que o hardcore, desde o início na Baixada até hoje, sempre existiu e foi operante, a diferença é nível de comprometimento das pessoas envolvidas. O rap e o funk não são problemas para nós, tanto que temos amigos no meio rap, já tocamos com grupos do gênero e gostamos de rap. Santos realmente passou por uma queda drástica de 2001 até 2009; as bandas tinham acabado, as pessoas tiveram outras prioridades na vida e se afastaram por naturalidade ou outros motivos. Houve uma mudança, que me lembra até uma letra do Colligere: “Os


velhos lugares têm novas pessoas, quanto tempo irão durar?” A geração atual, na verdade, são os “moleques” que colavam nos shows desde 2000. Atualmente, nossa geração teve um começo de união forte e trabalhamos assim até hoje: nos apoiamos, nos divulgamos, vamos aos shows uns dos outros e isso acabou inspirando outras bandas, novas e antigas, a voltar e pessoas a envolver-se nos dias atuais. Destaco algumas bandas que na minha opinião são responsáveis pela boa fama de Santos no cenário atual: Bayside Kings, Blackjawn, Surra, Analisando Sara, Same Flann Choice, Zerão e outras que estão começando e botando a cara de verdade; sem contar as pessoas que mesmo não tendo uma banda, são vitais para a sobrevivência da cena local. E sobre a cena hardcore nacional? Você acha que está rolando um intercâmbio legal entre as cidades, novas bandas nascendo, molecada fazendo zine? O que você destaca? A cena nacional está numa boa fase, estamos exportando bandas, voltamos a ser rota de bandas gringas. Destaco o Confronto, Paura, Questions, Still Strong que fizeram ótimos rolês no Velho Continente, não devendo nada às bandas de “grande nome”. Esse ano é a vez do Clearview. Ficamos felizes por todos esses amigos que realizaram este feito, isso com certeza nos dá a esperança de nos superamos para fazer o mesmo. Dentro do Brasil, está mais fácil se locomover; o nível de envolvimento, selos novos, zines aumentou bastante e o uso da internet pra comunicação tem uma resposta muito rápida. Destaco a cena do interior de São Paulo, a qual tem uma grande força, em questão de organização e pessoas que comparecem nos shows. Apesar do pouco tempo de banda, a correria de vocês é incansável. Fazia tempo que eu não via uma banda tão pilhada assim. Você é o cara que faz todo o corre, isso não te sobrecarrega? O BSK é uma banda totalmente ativa. Gostamos de hardcore, de fazer o som, de sermos participativos. O papel de uma banda dentro do HC não é apenas tocar - tem mil coisas a fazer, então todos nós da banda temos papeis pré-determinados. Às vezes isso sobrecarrega pelo fato da quantidade de tarefas a serem feitas, mas com jeito conseguimos fazer tudo. Quais ferramentas na sua opinião são essenciais pra divulgar a banda? Internet é o meio mais ativo e no qual o feedback é rápido, mas o boca a boca é uma ferramenta importante, torna a banda mais “real”. Importante saber usar os meios para não saturar a banda. Todo mundo sabe que não rola de viver de música no Brasil. O que cada um de vocês faz no “mundo real”? Você ainda trampa no banco? (risos) Sim, ainda trabalho no banco. Temos a consciência de que viver de música é uma utopia. Dentro da banda ainda temos um arquiteto, um eletricista, um vendedor e um operador de comércio exterior. Tem que ter muita força de vontade para ainda conseguir levar o BSK. Sei que você é straight edge, qual a relação da banda com isso? Muita gente acha que somos uma banda totalmente straight edge. Na verdade, somos apenas dois dos cinco. E o grande segredo é respeito mútuo, ser sxe não nos faz melhores ou piores do que ninguém, não nos faz ter a verdade universal, mas é algo que nos faz bem, nos deixa no controle de nossas ações, e respeitamos e conseguimos conviver com nossos amigos que não são. Vocês estão prestes a lançar seu primeiro registro em vinil, você pode dar mais detalhes da bolacha? O Warship, é nosso próximo passo que possui uma certa ousadia. Ideia do nosso amigo Antonio do selo Hearts Bleed Blue de São Paulo, o qual nos fez um convite para um lançamento exclusivo nesse formato. O vinil terá seis faixas inéditas gravadas no estúdio O Beco aqui em Santos, no começo de 2013. Serão 500 cópias. A arte foi feita pela Evil Deal, a qual nos apoia na nossa parte gráfica. A arte é em 3D, e junto com o vinil virá um óculos para a galera curtir o efeito. Foi prensado na Pirate Press, uma empresa americana especializada em vinil, lançamento previsto até o fim de julho desse ano. O que vem pela frente para o Bayside Kings? O céu é o limite? (risos) Vamos tentar ultrapassar o céu (risos)! Estamos numa fase de recomeço, afinal o primeiro cd “The Way Back Home” esgotaram-se as cópias. Fizemos centenas de shows em cima dele, agora vamos nos desafiar, um novo começo, uma nova temática. O “Warship” tem uma temática diferente: além do som que contém mais peso e velocidade, é muito difícil recomeçar e se ultrapassar, mas temos fé que teremos êxito nesse desafio. Ao mesmo tempo estamos escrevendo nosso primeiro full album, o qual entraremos em estúdio em agosto, sem lançamento previsto. E estamos estudando uma possível tour na Europa para 2014. Caso você ainda não tenha ouvido falar de Bayside Kings, este ano você ouvirá e muito. Obrigado a todos os amigos pelo suporte e o espaço dado pela revista. Tamos juntos.


manobra do bem // por sandro soares “testinha”*

Bons caminhos que se cruzam

O

lá amigo! Ao longo de nossa militância no universo do skate como ferramenta de inclusão social, tivemos a honra de influenciar pessoas a iniciar ações em benefício não só das crianças, mas também de um bairro todo, uma comunidade e até mesmo de pistas de skate que hoje em dia são feitas em muitos municípios do Brasil. Porém, logo são esquecidas pelo poder público e, infelizmente, em muitos casos acabam se tornando pontos de encontro de usuários de drogas, vândalos, pichadores e outros vacilões que mancham a imagem do nosso skateboard e influenciam negativamente nossas crianças. Mesmo que ainda aconteça muito esse tipo de coisa, fico feliz de trazer novamente a conhecimento de todos mais uma iniciativa inspirada em nosso trabalho e espero que venham muitas mais pela frente: Na pequena cidade de Itaquaquecetuba, no estado de São Paulo, reside o skatista amador Tiago Cristian, que eu tive a oportunidade de ver crescendo andando de skate na pista pública de Poá, pois em sua infância o skatepark público de seu município ainda não havia sido construído. Passados alguns anos, o caminho do Tiago cruzou com o de Marcelo Nunes, um cara que nunca andou de skate, mas passou a admirar nosso estilo de vida através de sua filha Giovana. Surgiu daí uma amizade que resultou em um belo trabalho social de cunho religioso com o skate. Segue abaixo um depoimento de ambos sobre o projeto e como encontrar pessoas boas em nossas vidas pode mudar muitas coisas:

// MarCelo nunes “Tudo iniciou quando comecei a frequentar a pista de skate de Itaquá apoiando e incentivando minha filha Giovana. Logo caí nas graças do esporte. Lá conheci o Tiago e nossa amizade rapidamente cresceu. Nossas ideias bateram logo. Ele já tinha a intenção de dar aulas de skate e fazer um trabalho social através do mesmo, mas disse que precisava de ajuda. Então, observando um tempo os frequentadores, principalmente as crianças, entendemos que eles precisavam de algum tipo de ajuda e orientação. Então fui buscar conhecimento do esporte e, pesquisando na internet, achei o trabalho do Social Skate, no qual nos inspiramos. Então começamos a realizar nossas ações no primeiro sábado de março de 2013, logo após uma pequena reforma na pista, quando desembolsamos dinheiro da nossa própria carteira, pois conseguimos pouca ajuda. Fizemos um café da manhã, mais uma vez com nosso próprio dinheiro e para nossa surpresa, logo no primeiro dia de aula tivemos umas 30 crianças. Hoje, depois de quatro meses, as coisas mudaram. O número de crianças aumentou; atendemos a umas 50 delas por sábado e temos de vez em quando um apoio. Conseguimos ajudar na medida do possível os mais carentes. Conseguimos montar meia dúzia de skates com peças usadas que foram doadas, pois muitas crianças carentes não têm condições de comprar um skate. Conseguimos alguns calçados, roupas. Apesar das dificuldades, sentimos muito prazer no que fazemos. Nada paga a sensação de ajudar alguém, o sorriso de uma criança ou um elogio. Nossa grande dificuldade é de encontrar apoio tanto do governo quanto de instituições particulares. Sinto que só querem apoiar depois que o negócio dá certo. Temos a pretensão de ir além, estendendo o projeto e aumentando a ajuda e o número de alunos. Com mais apoio tenho certeza que conseguiremos. Hoje atendemos na pista de skate municipal de Itaquaquecetuba, aos sábados, das 10h00 às 12h00. A única exigência, na hora, é uma inscrição com duas fotos e uma autorização dos pais para os menores.”

fotos Arquivo PessoAl tiAgo CristiAn

// Tiago CrisTian “Tenho 25 anos, sou skatista de Itaquaquecetuba, ando de skate desde os 13. Eu comecei a andar com os amigos; aprendemos tudo na raça mesmo. Não tínhamos incentivo dos caras mais velhos e sempre andei de skate em Poá, porque na minha cidade não tínhamos uma pista. Em 2009 foi inaugurado o skatepark de Itaquá. Em 2010 eu comecei a ir para a igreja e em 2011 ficava na pista de skate ajudando a molecada como instrutor. Com o passar do tempo comecei a falar do amor de Deus para eles, do que Ele tinha feito na minha vida. Com isso surgiu o desejo de montar uma escolinha de skate, mas não obtive sucesso porque não tinha apoio tanto dos amigos como da prefeitura, mas mesmo assim nunca desisti. Fui levando, na medida do possível. Em 2013 conheci o Marcelo Nunes. A filha dele, Giovana, começou a andar de skate o que o fez pegar um amor pelo carrinho e um carinho enorme pelas crianças da pista. Fizemos uma reforma básica na área com nos-

sos próprios recursos e logo após começamos as aulas. No entanto, o meu maior desejo era uma escolinha de skate voltada à fé em Deus. Passados alguns dias aparece o Marcos, juntando o útil com o agradável e iniciamos um outro projeto que é o Modul (Movimento Deus Usa Os Loucos), uma forma de levar a palavra de Deus para a molecada do esporte. Graças a Deus já estamos colhendo os frutos, tanto da escolinha como do Modul, que é no período da noite, de quintas e sextas.”

O bolo tá aumentando na pista pública de Itaquaquecetuba.

* Sandro Soares “Testinha” é o cabeça da ONG Manobra do Bem, em Poá, SP.

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APOIO CULTURAL



skateboarding militant // por guto jimenez*

N

ão é novidade pra ninguém que, quando a Tribo Skate começou a ser publicada, o cenário de skate no Brasil resumia-se a poucos praticantes, raros eventos e uma perspectiva bem negativa em termos de mercado. Tanto assim que o próprio nome da revista tinha a ver com aquilo que nós, skatistas, sentíamos no convívio com outras pessoas: éramos um grupo diferenciado, sob todos os aspectos que se possa imaginar. O conceito de sermos membros de uma das “tribos urbanas” fazia total sentido pra quem andava de skate naquela época, e serviu de raiz pra tudo isso que se vê por aí nos dias de hoje. Mas o que é exatamente esse “tudo isso” que estamos presenciando? Em primeiro lugar, é óbvio que o crescimento do skate em nosso país e no mundo tomou uma dimensão que não era percebida por ninguém em seu juízo perfeito, e somente nos nossos melhores sonhos é que poderíamos imaginar a popularidade que o ato de andar de skate atingiria. Temos de tudo um pouco (ou muito): equipamentos à vontade disponíveis a todas as modalidades, eventos em sequência espalhados por todo o planeta, um mercado que movimenta alguns bilhões de dólares a nível global, premiações fantásticas nas principais disputas... Realmente, nunca o skate esteve tão “bem na fita”, como se diz por aí. A própria sociedade de um modo geral passou a aceitar mais o skate e os skatistas, seja por conta da influência da mídia não especializada ou pela maior popularidade do carrinho em si. Não somos mais os “maloqueiros” de algumas décadas atrás, nem os “desordeiros” mal vistos por pais, colegas de trabalho, professores ou pela polícia – se bem que, no último caso, ainda resiste o preconceito enraizado contra aqueles que podem fazer o que querem em lugares improváveis. Se antes o ato de dar um rolé era visto como “coisa de criança” ou “distração de adolescente”, hoje em dia é possível ver homens e mulheres de várias idades aproveitando tudo aquilo que o skate traz de melhor. Portanto, é inegável que houve uma enorme evolução nos mais variados aspectos que se possa imaginar. Há muito que deixamos de ser apenas mais uma das “tribos urbanas” e passamos a ser uma verdadeira comunidade global. No Brasil, somos pouco mais de 4 milhões de skatistas, ou seja, 5% dos lares brasileiros têm um skatista na família. Já nos EUA, a pesquisa mais recente da Board-Trac apontava pra um total entre 12 e 15 milhões de praticantes, num percentual entre 6 e 7% de lares norte-americanos que têm um skatista vivendo entre as mesmas quatro paredes que abrigam o restante das famílias. Como em tudo na vida, há um lado bom e outro ruim. Já vimos que o lado bom trouxe mais praticantes, mais e melhores mídias, um mercado mais fortalecido, eventos em profusão... Sendo assim, o que poderia estar errado nesse mundo de uretano? Sendo curto e grosso: o skate está perdendo a sua alma, o seu ethos. As marcas se uniram em conglomerados cada vez maiores, com orçamentos gigantescos de marketing e muito pouco direcionado ao que realmente importa, que é o desenvolvimento de produtos e tecnologia. Quando os produtos direcionados à modalidade mais popular entre todas são incapazes de mostrar alguma inovação relevante nos últimos 20 anos, é porque algo está errado demais. A impressão que dá é que descobriram a fórmula de transfor-

Junior Lemos

Uma comunidade global

“O que nos salva é que existe uma leva de gente que sobe num skate apenas pra se divertir.” Rui Muleque, com certeza, está entre estes. Fs smith no Z-Banks.

mar qualquer coisa em ouro, e que não se ousa mais investir em novidades simplesmente porque “não se mexe em time que está ganhando”. Mas que time é esse, cara pálida? Separar o skate entre dois pólos, tendo de um lado algumas empresas e pouquíssimos skatistas ganhando muito dinheiro, e todo o resto da comunidade do outro lado, é de uma limitação atroz e não demonstra ter nenhum espírito de equipe, ou “time”. Muitos dos skatistas também parecem ter perdido ou simplesmente não conhecerem o espírito da coisa. Quando leio uma entrevista de um influente pro na qual ele diz que “não saio de casa só pra dar um rolé, pra mim a sessão não existe sem um fotógrafo e um videomaker por perto”, vejo que algo está muito errado. Quando vou a um evento e percebo que o público precisa ser motivado pela locução pra vibrar com aquilo que está testemunhando, sinto que as coisas estão realmente estranhas. Quando vou a um skate park e não vejo vibração alguma quando alguém acerta uma manobra perseguida por um skatista, percebo que o skate parece ter perdido o rumo de vez. O que nos salva é que existe uma leva de gente que sobe num skate apenas pra se divertir, pra sentir o vento no rosto, dar impulsos e fazer manobras pra se satisfazer, não aos outros. Gente que não está nem aí pras convenções, modinhas e tendências que muitos dos skatistas se ligam como se fosse a “verdade absoluta”. Gente que simplesmente se diverte andando de skate: essa sempre foi e sempre será a essência disso tudo, e a coisa mais importante de todas.

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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