mArCello GouveA e a selva de pedra
Animus mArretAndi Marta, thaís e Jacque no rio
Jn ChArles o poder do pop
CisCo 10 Anos o priMeiro tiMe brasileiro na china
del hiero
nos 5 anos da Öus
22 Anos seM sair de ciMa
pablo Groll, flip drop ano 23 • 2013 • # 215 • r$ 9,90
www.triboskate.com.br
índice //
setembro 2013 // edição 215
especiais> 36. Folga no trampo as paulistas No rio 44. Jn charles o pop NordEstiNo 56. Áudio especial - del gaMEs, riMas E boards 60. marcello gouvea Cada vEZ Mais Na vEia 74. cisco 10 anos o priMEiro tiME brasilEiro Na CHiNa seções> Editorial ..........................................................14 Zap .......................................................................18 Casa Nova ........................................................86 Hot stuff..........................................................92 MaNobra do bEM...........................................94 skatEboardiNg MilitaNt ...........................96 Capa: Ele se tornou um especialista em drops insanos. Sob este viaduto de São paulo, foram vários ensaios para obter o resultado mais sinistro possível. Isso significa muitos dias de articulação, muita porrada nos calcanhares, muitos ralados e dores musculares. Cimento, pedras, paciência e coragem. Muito sangue frio. pablo Groll reservou este especialmente para os 22 anos da Tribo Skate. Flip bomb drop. Foto: Marcelo Mug NESTaS páGINaS: O anfiteatro do parque da Festa do Vinho, em Urussanga/ SC, é um verdadeiro “big five”. Cinco degraus gigantes que Luiz Neto fez de flip sem dificuldades. Tanto que voltou pra filmar e… quebrou feio o pé! Isso que já tinha garantido a foto e filmado em Iphone! Luiz, que sua recuperação seja mais rápida agora com este belo índice! Observação: Não veja a filmagem do tombo no Youtube, pra não ficar chocado. Foto: João Brinhosa
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EspEcial dE anivErsário
22 anos
// Ăndice
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editorial //
22 anos ViVemos nas ruas Por Cesar Gyrão // Foto DioGo Groselha
E
stamos em todos os lugares. No asfalto, nas calçadas, embaixo de viadutos, em praças públicas, nos canteiros, escadas, quebradas, avenidas, vielas, plataformas, logradouros públicos. Estamos também nas pistas, nos parques, nas rampas, nas ladeiras, montanhas, concreto, terraços, na propaganda, na política. Estamos nas pontes, nos monumentos, marquises, nas veias, pulmões, corações, cérebros, mentes, capitais, litoral, interior. É inevitável associar o ar livre com o skate. Respirar, se divertir, viver. Sessões internas, indoors, também são bem vindas, mas nada é mais instigante do que poder andar de skate onde você quiser, onde puder. Transformar o espaço urbano em nosso playground. Desde o início de nossa história, no distante setembro de 1991, a Tribo Skate procurou refletir os valores autênticos deste sonho real que é andar de skate e seguimos com orgulho a nossa missão. Ser um esporte inclusivo, manter um mercado estabilizado (bem diferente dos anos 90), compor um caldo cultural em todas as vertentes. O skate brasileiro tem grandes motivos para bater no peito e repetir: temos uma revista mensal, fruto de nossa história, fundamental para a identidade nacional. Com o carrinho, o mundo é bem melhor. Tribo Skate, sangue brasileiro, 22 anos!
Esta merece o clichê: “Guiri Reyes, da Praia do Rosa para o mundo.” Skatista, fotógrafo, filmmaker, é fruto das ruas e as persegue em todos os quadrantes possíveis. Encontrou este quadro em Belo Horizonte, e compôs uma obra prima com o Diogo Groselha. Crooked.
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Próxima edição 216 ANO 23 • SETEMBRO DE 2013 • NÚMERO 215
Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Arte: Edilson Kato Redação: Chefe de redação: Junior Lemos Marcelo Mug, Guto Jimenez
Diego Sarmento
Biano na Liga Tour SP
Editores: Cesar Gyrão, Fabio “Bolota” Britto Araujo
Fotografia: Marcelo Mug, Junior Lemos Colaboradores: Texto: Fabio Luiz (Parteum), Ramon Ribeiro, Felipe Motta aka MOTTILLA Foto: João Brinhosa, Diego Sarmento, Daniel Bristot, Camilo Neres, Fernando Gomes, Robson Sakamoto, Rhino, Daniel Souza, Vinícius Branca, Pedro Macedo, Ramon Ribeiro, Fernando Zanoni, René Junior, Pablo Vaz, Carlos Taparelli, Diogo Groselha, Kirk Dianda
JB Pátria Editora Ltda Presidente: Jaime Benutte Diretor: Iberê Benutte Administrativo/Financeiro: Gabriela S. Nascimento Circulação/Comercial: Patrícia Elize Della Torre Comercial: Daniela Ribeiro (daniela@patriaeditora.com.br) Cibele Alves (cibele@patriaeditora.com.br) Fone: 55 (11) 2365-4123 www.patriaeditora.com.br www.facebook.com/PatriaEditora Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações - Anatec
Impressão: Ipsis Gráfica e Editora Bancas: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907, Grajaú Rio de Janeiro/RJ - 20563-900
Distribuição Portugal e Argentina: Malta Internacional
Deus é grande!
teraPia intensiva de estrada
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A Revista Tribo Skate é uma publicação da JB Pátria Editora. As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista. Dúvidas ou sugestões: triboskate@patriaeditora.com.br
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Após mais de uma década trabalhando no mercado de skate em empresas como Maha, Solo, Cisco, Snoway e Posible (sócio e fundador), o profissional Rudy da Silva, playlist da nossa edição 213, inicia em Curitiba a marca ___Skateboards contando com dois skatistas amadores de peso no time: Diego de Souza e Luan André, além do próprio Rudy como pro da marca. • [01] William Damascena nem bem entrou para a Hordem Distribuidora e já coloca nas ruas seu pro model de rodas. Além disso, o profissional paulista está em terras suecas onde conquistou o patrocínio da marca Prosk8 Scandinavia (facebook.com/ Prosk8Scandinavia). Além dessas duas marcas, Damascena também recebe todo o suporte da Black Sheep, Progress e Gobby Trucks. • Local de Goiânia, Juliano Amaral agora representa sua localidade como profissional do skate, momento importante que foi definido com o lançamento de seu primeiro pro model de shape pela Capital Skateboard. É lógico que rolou aquela festa na Ambiente Skate Shop pra comemorar! • [02] E falando em skate do Centro-Oeste, LP Aladin, também pro da Capital, assina contrato com a Everlong e passa a integrar a equipe de profissionais da marca, que já conta com Kelvin Hoefler, Daniel Vieira, Danilo do Rosário e Ítalo Romano. • [03] A loja carioca Carma Skate Shop, do profissional Nilo Peçanha, também reforça sua equipe contando agora com o rolê do profissional Allan Mesquita. A loja também dá apoio ao amador local Jefferson Rodrigues. • Acontece no final de setembro em São Paulo a 2ª edição do BR Skate Film festival, com exibições de filmes de skate finalizados a partir de 2011 no Cine Olido, Centro Cultural de São Paulo, CCJ e Centro Cultural Tiradentes. Mais infos no site: brskatefilmfestival.com.br • [04] Ricardo Dexter agora conta com patrocínio da Creature Brasil, distribuída por aqui com exclusividade pela Drop Family. • [05] Durante a entrevista inédita que fizemos para esta edição com o Del, da crew Hieroglyphics, atração principal da comemoração dos 5 anos da Öus, conferimos o resultado da colaboração entre dois profissionais da marca: o modelo Genovesi 44 em azul claro e branco com imagem feita pelo Parteum estampando a palmilha. • E dentro das comemorações rolaram no IAPI (Porto Alegre) a disputa ‘Dá as trick Vidal’, com Djorge Oliveira levando a melhor e de quebra a passagem pra Barcelona. • [06] Murilo Romão, Akira Shiroma, Guega Cervone e Leonardo Low são os skatistas que representam a marca De.Part Caps. A iniciativa é encabeçada pelo skatista e fotógrafo André Calvão. Mais em departcaps.com.br • William New retorna a um de seus primeiros apoiadores fazendo parte novamente da equipe Narina. • Rodrigo Petersen “Gerdal” e seu filho mais velho, Breno, são os protagonistas do vídeo que apresenta o brasileiro como parte da família Skate Sauce, marca norteamericana de vela (parafina) de alta qualidade e acessórios. Também constam na lista de skatistas da marca os brasileiros Tiago Lemos e Felipe Gustavo. Confira no skatesauce. com • [07] Cris Mateus dá mais um passo com a Ultra Skate e abre loja física na rua Maratona, 121, Vila Mascote em SP, com atendimento personalizado, ou seja: requer agendamento prévio. Além da loja recheada com diversos produtos de primeira linha, o espaço conta também com minirrampa de skatelite e coping block. Rolam ainda escola de skate, aluguel da pista para grupos, eventos e festas, e ainda sessão na rampa com hora marcada. (011) 2638-0095 ultraskate.com.br. • [08] Marinho, old school skater que formou a banda Yo-Ho-Delic e toca no Pavilhão 9, leva o estilo lowrider/rap/underground/urban para a loja da Cavalera (Oscar Freire, 1102 em SP) com a abertura de uma barbearia bem style. • [09] A Sick Mind lança uma série de shapes e confecção estampando algumas das bandas mais tradicionals do punk rock nacional: Ratos de Porão, Garotos, Dance of Days, Drákula, Blind Pigs e Garage Fuzz. As peças acompanham cd promo com duas músicas de cada uma delas. • [10] O profissional Marcos Noveline agora está na missão de orientar a entrada no mercado da nova loja da Saúde, em São Paulo. Trata-se da MPVS, do Marcus Valente, skatista dos anos 80 que voltou à ativa por causa dos filhos. A MPVS fica na Rua Chagas Santos , 606. Entre outras funções, Marquinhos vai montar equipe. Na foto, Marcus, Noveline e Roberto Galata (vendedor e skatista da loja).
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danieL Bristot
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Humberto, 360 flip
Red Bull Skate Arcade Do virtual pra pista de skate, a disputa da Red Bull inspirada nos video games chegou à segunda edição em 2013 selecionando skatistas em 24 países. Humberto Peres deu o game over nos concorrentes nacionais, disputou a fase global contra 16 skatistas de 3 continentes diferentes e conquistou pontos suficientes para chegar até a 5ª colocação. Confira mais em redbull.com/skate
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Fernando Gomes
Junior Lemos
Matheus Kuki, nosegrind.
É o Brasa, em Criciúma De tempos em tempos, a minha terra me surpreende positivamente. Criciúma, a cidade onde nasci e conheci o skate em 1975, tem uma respeitável história em defesa do skate brasileiro. A obra mais recente ainda vai completar um aninho, mas já é considerada referência da produção de boas imagens num ambiente construído para tal, sem preferências, sem colorações políticas. “Nóis por nóis”, diz Poul Rodrigo, paulista de Santo André radicado na cidade. Em uma “carta aos skatistas do Brasil”, Poul fala sobre os objetivos da “empresa” para oferecer um bom trabalho para seus “clientes”: respeito e integridade da cultura skate. A ideia é dar suporte para que os skatistas deslocados dos grandes centros tenham uma produção digna de suas imagens, mas o QG tem atraído grandes nomes, pros e amadores, que se hospedam lá pra filmar e propagar suas ideias. Daniel Bristot, que foi Carne Nova aqui na Tribo Skate há mais de 10 anos, é outro skatista envolvido com o projeto. Ainda não conhece a Quadra da Gang? Acesse: www.qgskate.com.br (Cesar Gyrão)
O impulso do vert brasileiro
Salvador marcou a primeira de seis etapas do maior circuito de vert desde o primeiro ranking da UBS (União Brasileira de Skate), em 1988. A Copa Brasil de Skate, inserida no Circuito Banco do Brasil com todos os méritos, foi dominada na final por um inspirado Sandro Mineirinho, encaixando as 13 manobras que escolheu pra enfrentar o técnico Marcelo Bastos, além dos motivados Edgard Vovô e Rony Gomes. Há alguns anos os baianos não assistiam uma prova da CBSK(Confederação Brasileira de Skate), mas a espera foi compensada com um campeonato de alto nível. Nesta primeira etapa, 16 profissionais entraram no jogo e garantiram seus pontos para Felipe Foguinho, lien. um ranking que promete ainda muita emoção. Ao lado do Rony Gomes, Dan Cezar, Ítalo Penarrubia, Felipe Foguinho e Carlos Niglli defenderam a nova geração e se saíram muito bem. Mas destaque também para os mais antigos Mizael Simão e seu irmão Vitor, Otavio Neto e Lécio Neguinho. A próxima etapa será em Curitiba, dia 12 de outubro.
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O InStAgrAm fAz trêS AnOS nO próxImO mêS e nAdA mAIS juStO nO nOSSO AnIverSárIO dO que trAzer neStA edIçãO O que eSSe ‘gArOtInhO’ dIz SObre nOSSA hIStórIA e A dO SkAte nACIOnAl nOS últImOS 22 AnOS.
A
B
C
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F A. @gabrielskt: Coleçãozinha da Tribo Skate. B. @bruna_jonz: Presentes ganhados no campeonato. C. @henrique_lutgens: Eu de boa aqui na praça com minha revistinha esperando dar minha hora. D. @ramonhenriqe: New Tribo Skate, tá da hora. E. @ligatrucks: @lpaladin1987 autografando seu #linhavermelha da @triboskate. F. @thatyaragao: Tô estudando muito hoje, rs. Tribo de abril falando sobre o Chorão. G. @Renanmartinelli: Coleção Tribo Skate do ano de 2001.
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H. @danielskates3t: Isadorinha curtindo umas fotos da Tribo Skate.
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CamiLo neres
filipe ORtiz
No último vídeo da Blind (Damn...) o brasileiro Filipe Ortiz impressiona a todos pelo rolê constante e violento que fecha a parada com chave de ouro. Não é por acaso que ele foi promovido pela marca norteamericana a profissional no meio do ano. Conferindo as músicas que ele indica como as 20 mais tocadas recentemente em seu player, temos uma leve noção de onde vem toda a influência com a qual ele marreta os picos com seu skate. Metallica, Orion Iron Maiden, Strange World Black Sabbath, Wheels of Confusion Pantera, Hollow Pantera, Primal Concrete Sledge Pantera, Psicho Holyday Sepultura, Refuse/Resist Sepultura, Territory Born Of Osiris, Follow the Signs Asking Alexandria, Dead Asking Alexandria, Poison Asking Alexandria, Creature Bring Me The Horizon, Medusa Bring Me The Horizon, Pray For Plagues August Burns Red, Medley August Burns Red, Marianas Trench Of Mice & Men, Og Loko We Butter The Bread With Butter, Der Tag An Dem Die Welt Unterging Led Zeppelin, Achiles Last Stand Pink Floyd, Confortably Numb
Filipe Ortiz, gap to grind em Brasília.
Garotos do PESS, no momento de leitura da revista Tribo Skate.
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Filipe Ortiz (Blind Skateboards, Bones Wheels, Tensor Trucks, Globe Shoes e Arnette)
Miel Alves é um ativista no interior do Ceará que usa o skate pra ensinar cidadania para crianças e adolescentes da cidade de São Bento da Amontada. E quando recebemos a informação mostrando que a revista está inserida no contexto do projeto, como ferramenta para reforçar a importância da leitura, o material veio direto para este espaço, afinal é mais uma demonstração de que a mídia impressa tem sua importância, principalmente no interiorzão do Brasil. “O Projeto Escola do Skate Social (PESS) tem essa missão: conscientizar esses garotos de que além de estarem praticando o skate esporte agregamos uma receita básica para vida, a educação. Entendemos que se os dois estiverem ligados, esporte/educação, os frutos serão mais fortes e sólidos para enfrentarem os obstáculos da vida.” (Miel Alves, São Bento da Amontada/CE)
rhino
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Fs handplant.
Rampa do mancha
roBson sakamoto
O brasileiro Evandro Menezes, também conhecido como Mancha, realizou o sonho de todo skatista! Morando em Vista, na California, ele montou no quintal de sua casa um half pipe de madeira perfeito que serve de palco para várias sessões entre amigos, brasileiros e estrangeiros. “A melhor sensação de ter a rampa em casa é poder andar como a gente sempre gosta, diversão sem pressão!”. *Evandro Menezes ‘Mancha’, 38 anos (Triple8 helmets, Green Issue boards, Randoms hardware, Type-S, Vox Shoes, 187 Pads, Independent Trucks, Artvideophoto, Sambazon e Fly Next Level)
Mario Hermani, bean plant.
praça do Skate O vídeo documentário Praça do Skate, do Paulo China, um média-metragem de 35 minutos que conta a história da pista de skate construída em Nova Iguaçu em 1976, lançado em julho na unidade local do SESC, teve festa de exibição na própria pista com presença da Urgh, através dos skatistas Fabio Castilho e Mario Hermani, além de muita música e disputa de melhor manobra para iniciantes e amadores.
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paulO galeRa quAndO Se penSA em Street pOderOSO, um nOme vem lOgO à CAbeçA: pAulO gAlerA. ele COnSegue Ser téCnICO e preCISO, mAS tAmbém AgreSSIvO e jOgAdO. gAúChO de redentOrA, mAS CrIAdO em CAnOAS, ImpregnOu-Se de SkAte bem menInO, levAdO prA lá e prA Cá pelOS mAIS velhOS, AprOveItAndO CAdA OpOrtunIdAde COmO Se fOSSe O últImO dIA de SuA vIdA. é prA enCArAr O COrrImãO mOnStrO? é prA AndAr nO bOwl? é prA trIturAr A bOrdA? é prA jOgAr AS trICkS nA jAm SeSSIOn? Sem tempO ruIm pArA O gAlerA. um CArA SAngue bOm que COntAmInA COm Seu Street explOSIvO e tem um CurríCulO Invejável, COm CApAS de revIStAS, ótImAS pArteS de vídeO, fInAIS de CAmpeOnAtOS, tOurS e tAntA prOduçãO Style nA SuA CArreIrA COmO prOfISSIOnAl. AlgunS vãO lembrAr lá AtráS, SuA pArte nO vídeO the beSt Of dAggerS (dO jm), OutrOS vãO lembrAr AquelA SuA CApA dA trIbO SkAte (edIçãO 122, fIftãO, fOtO dO hevertOn rIbeIrO), mAS SãO tAntAS referênCIAS legAIS que ele Sempre dArá mOtIvOS pArA Ser lembrAdO, nAS melhOreS rOdAS. (Gyrão)
// PAulo CorrêA VEnturA NaSCEu Em REdENToRa/RS moRa: CaNoaS/RS 26 aNoS, 15 dE SkaTE PaTRôS: SaNTa CRuz SkaTEboaRdS, FREEday ShoES, blINCa SkaTE CREw, VERbalIzE SkaTE ShoP, PlaNTa whEElS E TIC41
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que eu, em Canoas e tinha patrocínio da Drop Dead. Não deixei ele dormir a viagem inteira só perguntando como que era e o que eu tinha que fazer, que manobras tinha que dar pra passar pra final. Estava adrenado (risos)! Foi animal, muito skate. • PG, atualmente você é um dos profissionais mais reconhecidos do país e faz grandes aparições lá fora. Não pensa em morar nos Estados Unidos e tentar um patrocínio de uma grande corporação? (Guilherme Nascimento, Joinville/SC) – Já pensei, Guilherme! Já tentei, mas na época que era para eu ter ficado um bom tempo lá, aconteceu um acidente logo nas primeiras semanas. Fui fotografar com o Heverton RibeiRibei ro, que estava comigo na trip, em uma borda despencando e acabei caindo, bati a cabeça desmaiei e tive um certo surto de amnésia; não lembrava onde estava na hora que eu acordei! Mas não passou de um susto. Talvez nessa época, se não fosse o ocorrido, poderia ter acontecido alguma coisa em relação a patrocínio e ter entrado em uma grande corporação lá de fora. Quem sabe um dia? Mas friso e valorizo as marcas nacionacio nais, marcas de skatistas, porque essa é a revolução. Abraço Gui, salve para Joinville e Rain Skate. • Paulo Galera, diante do skate apreapre sentado hoje em dia, com tricks inimagináveis há alguns anos, manobras totalmentotalmen te inovadoras, de alto nível técnico, ousadas, você acha que o skate chegou ao seu ‘limite’ ou a garotada, futuro do skate, ainda pode nos mostrar muitas coisas difedife rentes e que hoje ainda são inimagináveis? (Carlos Augusto de Lima Formaggio, Campo Limpo Paulista/SP) – No skate não existe limites, Carlos. Se hoje em dia já estamos vendo manobras absurdas, que até um tempo atrás não se via, imagina daqui uns anos, com toda informação, o que não está por vir? • Já tive a honra de fazer algumas sessões com o Paulo, na minha cidade e em Belo Horizonte. Lá vai a pergunta: Tenho 15 anos de skate e já rodei bastante aí nesse mundão, passei o verão de 2012 na Europa e quando saíamos pra sessão, tanto em Barcelona quanto em Portugal, Praga e etc, seu nome era muito bem falado na boca dos brasileiros e dos gringos também, quando o asas sunto era nível de skate no Brasa. Queria saber qual a sensação de fazer uma carreira tão promispromis sora no skate mundial, sem deixar que as dificuldificul dades do dia a dia atrapalhem a chegar no topo? Valeu Tribo Skate pela oportunidade! (Raphael Henriques da Silva, Divinópolis/MG) – Salve, Raphael! É uma sensação muito boa e danieL souza
• Antes de você ser um grande skatista, como você fazia pra poder andar e ter que trabalhar ao mesmo tempo? Pergunto pois tô vivendo este dilema e não quero parar de andar de skate! (Talison Policarpo,Taubaté/SP) – Certo, Talison! Eu sempre trabalhei desde muito cedo, para ajudar minha mãe em casa e comprar as peças para andar de skate. Mas hoje em dia, graças a Deus, consigo viver só do skate e se você tem esse sonho, por mais que existam as dificuldades, nunca pare de andar de skate. Corra atrás que as coisas acontecem! Skate sempre, Talison. Abraço! • Legal seu model de tênis da Freeday, como foi a aceitação da galera? Vendeu bem? E quantos models de shape você já lançou? (Felipe Albuquerque, Mogi das Cruzes/SP) – Obrigado Felipe, legal que você gostou. A aceitação da galera está sendo da hora, super positiva e as vendas foram legais. Modelos de shape eu já lancei dez com meu nome e é gratificante ter um pro model de deck. Foram quatro pela Dynamic, primeira marca a lançar meu pro model como profissional, seis models pela Drop Dead e atualmente estou andando pela Santa Cruz Skateboard Brasil. • Qual foi sua maior realização com o skate? Se não andasse de skate o que faria? Manda um salve pro pessoal de Canoas? Abraços. (Rafael Silva, Canoas/RS) – Salve Rafael! Minha maior realização é poder viver do skate, viver do que eu amo, do que eu gosto, do que me deixa feliz, do que satisfaz minha alma. De conhecer diversas pessoas, diversos lugares diferentes e ter feito grandes amigos nesse caminho. Essa é minha maior realização: o poder que o skate tem sobre o universo para o ser humano realizar tudo isso. Agora, se não andasse de skate, faria música. Salve pra city, Canoas (RS) na cena. • Paulo! Lembro de tê-lo conhecido durante o Cir Circuito Drop Dead Skate Park, na época que eu o or organizava junto com o Marcelo dos Santos, atual presidente da CBSk. Conte alguma história pitoresca de alguma ida para este nostálgico circuito em Curitiba? (Ed Scander, São Paulo/SP) – Esse circuito era foda! Lembro que participar dele e fazer uma final era algo mágico, algo a mais. Lembro da primeira vez que fui em 2000 e quem me levou foi o Athos Porto, que na época morava na mesma cidade
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paulO galeRa gratificante, saber que o meu skate é reconhecido no Brasil e fora também. Fico feliz e isso me motiva cada vez mais a andar de skate e a continuar evoluindo. Skate sempre! • Primeiro, eu sou fanzaço desse cara desde os tempos de amador. Então minha pergunta é referente ao que eu mais admiro nele! PG, de que parte da família você puxou esse carisma? (Rafael Gustavo Bernardes, Novo Hamburgo/RS) – Salve, Rafa. Acho que puxei da minha mãe. Ela é uma pessoa muito carismática, está sempre de bem com a vida, sempre batalhando com o sorriso e o carisma no rosto; vem dela esse lado. Abraço. • E aí galera! Sou grande fã desse cara; todos aqui de Ijuí curtem muito seu rolê. Pude acompanhar você em alguns campeonatos amadores aqui do Sul e vi sua evolução. Aqui na cidade você colou pra dar um rolê com o Laurence e rolaram várias num corrimão. Teve uma foto do Marcello Gouvea nesse corrimão que saiu na Tribo Skate. Minha pergunta é sobre o que você acha dos profissionais de hoje em dia, que se preocupam muito com marketing e deixam de lado o skate (o que não é o seu caso, claro)? É verdade que rolou uma treta com você na pista de Bagé, no circuito gaúcho em 2002? Valeu! (Marcos Laércio da Silva, Ijuí/RS) – Salve, Marcos. Obrigado pela recepção em Ijuí! Fui muito bem recebido por todos vocês aí e lembro muito bem dessa sessão com o Laurence (RIP), como se fosse hoje: muita vibe e muito skate. Sobre a pergunta: É o que não pode: deixar o skate de lado. O marketing é importante no ponto certo, mas o skate tem que estar sempre em primeiro lugar. Tretas e discussões às vezes acontecem, mas o importante é manter a paz de espírito e resolver da melhor forma possível! Valeu Marcos, abraço para os skaters de Ijuí. • O skate proporciona conhecermos inúmeros lugares e diferentes pessoas, o que faz termos uma visão ampla, não só no skate como na vida. Queria saber qual foi a lição de vida mais importante que o skate proporcionou nas andanças pelo mundão? Abraço a todos! (Jonas Cândido, Rio/RJ) – Salve, Jonas. O skate proporciona tudo o que você falou acima. Mas a lição mais importante que ele nos ensina é a humildade de saber chegar e sair em todo lugar, sempre respeitando todo mundo. Isso vai fazer você ser bem recebido onde estiver no mundão, com o skate no coração. Abraço! • Salve, Galera. Sempre achei seu estilo pesado, consistente e com manobras de alto nível. E ainda falando de alto nível, na Street League é legal ver um brasileiro como o Luan, disputando de igual para igual com os caras lá de fora, mostrando para o mundo que o Brasil também tem o skate colado no pé. Claro que temos outros brasileiros na gringa arrebentando também, mas gostaria de saber qual sua opinião sobre a Street League? Você acha que a SL agrega valor ao skate mundial e todos ganham de alguma forma com este projeto ou só aquele grupo de skatistas e marcas que participam é que ganham com isso? Você aprova ou não este tipo de torneio? (Gervásio Júnior, Teresina/PI) – A SL não agrega valor nenhum ao skate; eu não aprovo. • Em 2008 tive a honra de lhe ver andando ao vivo. Você participou de uma tour com a Freeday, na época para divulgar o “Freedays Moviez” e veio aqui na minha cidade. Você tem noção de quantas cidades já visitou? E qual trip mais curtiu? (Frederico Assis, Petrópolis/RJ) – A honra é minha em poder andar em outras cidades e ver pessoas como você nos reconhecendo. Noção exata eu não tenho, mas foram mais de cinco países e muitas cidades pelo Brasil todo, foram mais de 100. Eu procuro curtir, aproveitar todas as trips, mas uma das que eu mais gostei foi para o Peru em 2005 com o Ricardo Porva; foi muito skate. Abraço Frederico, skate sempre! • Yeah, Galera! Em uma de suas entrevistas você fala sobre sua infuência em andar de skate, e tal. E um dos skatistas citados por você é o Laurence Reali. Apesar dele ser uma influência pra todos skatistas, mas você era mais próximo dele, corria campeonatos juntos e tal. Como foi pra você a perda de umas das suas motivações? (Joseval Lisboa, Salvador/BA) – Nós viajávamos muito juntos, éramos da mesma equipe. Minha motivação eu não perdi, apesar dele ter partido desse plano. Sua influência, a sua humildade, o seu carisma e seu skate vão me influenciar para sempre, todos os dias da minha vida; isso nunca vai morrer. LAM #LR Rest in Peace. Abraço Joseval, muito skate sempre. * Pergunta escolhida pra levar a pacoteira Santa Cruz, Blinca, Planta e Freeday: Raphael Henriques da Silva, Divinópolis/MG.
PRóxImo ENFoCado: DAnilo CErEzini ENVIE SuaS PERguNTaS PaRa: triBoskAtE@triBoskAtE.Com.Br Com o TEma linHA VErmElHA – DAnilo CErEzini. ColoquE NomE ComPlETo, CIdadE E ESTado PaRa CoNCoRRER ao PRoduTo oFERECIdo PElo PRoFISSIoNal.
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Pancadaria super recente em Fortaleza/CE: Switchstance heelflip.
ViniCius BranCa
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FoLga do tramPo!
4 dias de – muito – skate no Rio por Junior Lemos // fotos Pedro macedo
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turismo // tribo skate Thais representa no street mas tambĂŠm encara uma parede quando precisa, ainda mais se o pico ĂŠ proibido. Wallride to fakie pra cima do chamado Monumento da Bailarina.
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Rio certamente é o principal destino de turistas no Brasil. A Cidade Maravilhosa agrada a estrangeiros e conterrâneos, e toda essa atenção se deve ao espetacular cenário abençoado por Deus e bonito por natureza. Mas aqueles que são skatistas também vão à metrópole erguida entre a serra e o mar por outras razões: os picos e a inigualável cena local de skate. E foi pra passar quatro dias nessa atmosfera tropical salpicada de história, lugares clássicos e skatáveis que as paulistanas Thais Braga, Marta Linaldi e Jacqueline Damasceno fizeram a ponte Terminal Tietê/Rodoviária Novo Rio, aproveitando a folga no trampo e nos estudos para trabalhar o skate e fortalecer as amizades. Chance mais do que preciosa de passar além do sábado e domingo longe dos compromissos, só porque o feriado da Revolução (paulista) Constitucionalista, 9 de Julho, caiu na terça-feira. Como a folga do trampo era para trabalhar o skate, as garotas aproveitaram o pouco tempo disponível para manobrar em alguns dos picos da cidade como o Estádio do Engenhão, Parque de Madureira e Praça XV. Aliás, elas não sabiam, mas rolou o Go Skate Day do Rio bem no domingo em que estavam na XV e lógico que deram o sangue na disputa de melhor manobra entre garotas: Marta ficou em primeiro e Jacque em segundo. Voltaram pra casa com várias peças novas e ainda alguns trocados no bolso! // marretanimus ou animus marretandi Se você ainda não leu ou ouvir falar essas duas palavras e não imagina a relação que elas têm com a história saiba que ‘Marretanimus’ ou ‘Animus Marretandi’ representam o sentimento do trio. A mistura do vocabulário das ruas com o termo jurídico, surgiu por acaso, sugestão da Marta para resumir a disposição e o empenho que sempre rola entre as garotas quando o assunto é skate. E o significado é bem simples: “Animus é uma palavra em latim no direito; a gente diz que é vontade dirigida para um resultado; e marretandi é o rolê marreta, quando você quer andar de skate pra desempenhar mesmo, dar o seu melhor. É mais ou menos isso, porque quando a gente se reúne temos pouco tempo pro rolê de skate, e esse pouco tempo tem que render. Daí, pegou!”, explica a criadora das palavras. Por isso é importante trazer este detalhe para o contexto da viagem já que as palavras resumem muito bem os quatro dias das garotas no Rio; skate, skate e muito skate. Tanto que praticamente não tiveram tempo de curtir a praia; o biquini não saiu do canto que ocupava na mochila e aquela canga comprada de um ambulante na Praça XV, estampada com o mosaico das calçadas de Copacabana, serviu apenas para tirar uma onda no Insta.
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Jacqueline Damasceno encara a rampa na XV pra registrar esse halfcab heelflip, num lugar difícil e pouco explorado.
turismo // tribo skate
“Animus é umA pAlAvrA em lAtim no direito; A gente diz que é vontAde dirigidA pArA um resultAdo; e mArretAndi é o rolê mArretA, quAndo você quer AndAr de skAte prA desempenhAr mesmo, dAr o seu melhor.” 2013/setembro TRIBO SKATE | 39
Já o perreio de turista, é lógico que rolou! O mais engraçado deles foi a história que mistura dormir em um suspeito hotel (para facilitar a ida até a rodoviária no dia seguinte), ter que lidar com barulhos estranhos na madrugada, água do chuveiro que não esquentava, pilha de skates atrás da porta e dormir na companhia de um canivete. E como skatista sempre dá a volta por cima com muita descontração e risada, deixo para que as personagens contem pessoalmente a história toda. // Bagagem Entre os benefícios que viajar traz para quem o faz, essa trip em particular vai ficar marcada um bom tempo na vida do trio paulista e na dos que compartilharam a estada delas por lá. Isso porque além de propagarem o ‘animusmarretandi’, elas voltaram de lá com a amizade ainda mais fortalecida e de quebra conheceram um pouco da capital fluminense e sua cena de skate. E esses quatro dias fora de SP representou também a confirmação de uma nova fase na vida da Marta, ela fechou a tour RJ com chave de ouro, confirmando durante a viagem de volta pra casa que havia passado pela severa prova da OAB, concretizando com maestria o empenho em se tornar advogada. Realmente o ‘animusmarretandi’ representa muito bem o pensamento dessas garotas!
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No primeiro momento, desconfiaram se as garotas manobrariam mesmo! Mas foi só a Marta mostrar o ‘animusmarretandi’ na prática e encaixar de primeira o bs noseslide na borda próxima do Engenhão para dissipar qualquer dúvida.
turismo // tribo skate
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jn charles // entrevista am
De onDe vem o pop? Há diversas características que identificam um skatista e entre essas variáveis está o pop, que na definição da língua portuguesa significa algo que é popular, que tem fama. Já no significado do skate quer dizer algo alto, que tem altura, manobras altas e etc. Jn cHarles é um skatista que une muito bem a parte técnica a esse tal de pop, passando a impressão de que não faz muito esforço andando de skate, tendo em vista a facilidade que ele tem ao manobrar o carrinHo. e para ilustrar melHor o que estou dizendo, vocês conferem nas próximas páginas o skatista colocando em prática seu pop nas ruas do nordeste, região a qual ele representa pelo mundo afora. //texto e fotos Ramon RibeiRo
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entrevista am // jn charles
“O skate pra mim vai ser sempre O que ele fOi e é até hOje: rua.”
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Antes apenas o solo e alguns banquinhos pras linhas, hoje mais um gap criado naturalmente pela raiz da รกrvore. Flip sobre o extenso jardim na conhecida Praรงa da Bedeu em Aracaju.
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entrevista am // jn charles
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ual a diferença do JN da entrevista de dois anos atrás pro JN de agora? (Ramon) Hoje tenho mais consciência e estou mais maduro. Aplico melhor minhas ideias às oportunidades que tenho. Você é uma pessoa que reflete alegria, positividade; qualquer um que está ao seu lado sente isso. Tem como explicar se isso vem de sua criação ou é algo que sempre esteve com você? (Adelmo Jr.) Passo a energia que sempre quis ter, ou ao menos tento, para que as pessoas me retribuam da mesma forma, e também pra manter sempre positiva a minha vibração. Mesmo com as dificuldades, tento não demonstrar tristeza. Você é de uma cidade em que temos três grandes skatistas profissionais que facilitaram a chegada dos brasileiros na América. Como é dar continuidade a esse ciclo de profissionalismo, já que você está muito próximo disso? (Ramon) Agradeço até hoje a todos eles por terem aberto essa porta e sei o quanto não foi fácil conseguirem isso. Sei também que não vai ser fácil para os próximos, preciso ter as mesmas forças que eles sempre tiveram pra conquistar meu espaço. Hoje em dia é cada vez mais normal todo mundo dar todas as manobras. Para onde vai o skate? O que é evolução para você? (Fabio Brandão) O skate pra mim vai ser sempre o que ele foi e é até hoje: rua. As pessoas vão passar por experiências, vão evoluir diferente umas das outras e cada uma com um tipo de personalidade e estilo de skate, e esse estilo de skate é que vai ser o diferencial, ou não. Como anda sua parte para o nosso vídeo Interferência? E como você monta em sua cabeça uma parte de vídeo? (Fabio Brandão) Minha parte está em andamento e está ficando bem legal! Eu monto uma parte na intenção de passar uma energia positiva para as pessoas que forem assisti-la e que isso as estimule a andar de skate também. Tento mostrar que existe um esforço físico e que o difícil também pode ser fácil, que qualquer um que se esforce é capaz de fazer aquela manobra. Assim como você conseguiu, muitos outros skatistas no Nordeste têm muito talento, muito desejo de viver do skate, mas não sabem por onde começar. Qual a dica que daria para um skatista da sua região ter destaque na cena brasileira? (Lúcio Mosquito) Diria que tem que unir todas as forças e vontades, mesmo tendo obstáculos difíceis pela frente. Viva o seu sonho e não ouça pessoas que querem atrapalhar a sua caminhada. Seja sempre um bom amigo e tenha bons amigos porque você vai precisar deles. E nunca esqueça suas origens, quem você é e de onde veio. Aonde e como você encontra inspiração para continuar andando de skate? (Fabrizio Santos) Pode ser engraçado, mas busco lá de trás, quando era pequeno, quando queria ter um skate e não tinha um pra poder andar. Hoje sou agradecido e feliz por poder andar de skate! Desde que te conheci muito novo, a facilidade com a qual você anda de skate é incrível. E ao longo dos anos seu skate foi se moldando muito amplo, andando de várias formas e evoluindo sempre, aliando truques da velha e nova escola; isso é raro em um skatista. A que você deve isso? (Adelmo Jr.) Eu acredito que seja porque sempre procurei me espelhar nas pessoas boas e nos bons skatistas. Admiro a nova escola pela facilidade, realmente, mas curto as grandes personalidades da velha escola que estão até hoje no skate. Quais as melhores coisas de se morar no Nordeste? (Léo Fernandes) Acho que é a mesma de cada pessoa que mora e ama sua cidade natal. Mas por eu ser nordestino, imagino que sejam as praias de águas mornas e o sol sempre fritando, verão quase todo o ano; acho que é isso!
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Fugindo um pouco do litoral (zona sul), JN manda um bs 180 fakie nosegrind na zona norte de Aracaju.
“admirO a nOva escOla pela facilidade, realmente, mas curtO as grandes persOnalidades da velha escOla que estãO até hOje nO skate.”
Como de costume, manh達 de muito sol, brisa do mar na Orla de Atalaia e o nosegrind na mesa pra deixar o pop em dia.
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entrevista am // jn charles
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Mais uma da Orla de Atalaia, desta vez no Espaço de Cultura e Apresentações onde JN tira da manga o corrido lipslide do switch crooked.
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entrevista am // jn charles
Nova ponte, nova ciclovia e consequentemente novos picos! Duas bordinhas perfeitas e virgens, JN estreia com um fs boardslide transfer.
Como a própria chamada da entrevista diz, de onde vem todo esse seu pop? Ouvi dizer que talvez fosse de sua joanete (risos). (Ramon) Isso é segredo (risos), mas eu me esforço pra poder fazer desse jeito. Sei que você é um cara que tem orgulho das raízes, assim como todos os skatistas de Aracaju que se destacaram. Mas se fosse morar em outra cidade que não fosse Aracaju, qual seria e por quê? (Kamau) Moraria fácil em São Paulo. Lá é um bom lugar pra trabalhar a mídia, me dá suporte pra seguir minha carreira de skatista. Você teve uma boa experiência na Europa, tem vontade de passar algum outro tempo na Europa ou nos EUA? (Adelmo Jr.) Pretendo, tanto na Europa como nos EUA. É importante e vai ser bom pra continuidade do meu skate. Se você tivesse que começar do zero, teria feito algo diferente? (Lúcio Mosquito) Sim, teria aproveitado mais as oportunidades que tive e trilharia meu caminho com uma nova mentalidade. Qual a contribuição que gostaria de deixar para o skate sergipano, nordestino e brasileiro, no geral? (Kamau) Todos são capazes de conseguir o que quiserem, é só persistir, tentar e trabalhar pelo certo. É levantar a cabeça quando tiver motivos que te deixam triste. É acreditar que o que você deseja hoje vai chegar algum dia. E quando esse dia chegar, passe por ele feliz porque sempre terá coisas maiores para serem conquistadas. Esteja sempre na luta!
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De Aracaju pra Salvador, apenas uma das diversas praรงas skatรกveis da capital baiana. Essa fica na Pituba, bem de frente pra praia: flip blindside.
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entrevista am // jn charles
“nunca esqueça suas Origens, quem vOcê é e de Onde veiO.”
O teatro Tobias Barreto, em Aracaju, foi o palco do controlado polejam nose manny nollie flip out.
Você passa uma boa parte do ano em São Paulo. Se você pudesse trocar algo de São Paulo por algo de Aracaju e vice-versa, o que seria? (Ramon) É difícil trocar porque curto muito os dois lugares e as pessoas que fazem parte deles. Mas eu criei em minha mente, no meu sonho, o Vale do Anhangabaú com uma praia bem em frente, com todos os amigos e familiares por perto (risos). Esse é meu sonho, seria perfeito! “Obrigado a todos aqueles que sempre me apoiaram: família, amigos e irmãos do skatebording que sempre me dão forças e motivações.”
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//José nivaldo dos santos JunioR 27 anos, 14 de skate aracaJu/se patrocínios: future, crail, freeday, seed culture, viva, ras bearing, orig skate sHop
áudio //
Del
the Funkyhomosapien IncrIvelmente, comeceI a entrevIsta com um dos meus mcs predIletos conversando sobre tecnologIa. del, assIm como eu, é vIcIado em gadgets, equIpamentos de estúdIo, vIdeogames e quadrInhos. logo que comeceI a gravar ele deu a dIca de um aplIcatIvo que me permItIrIa comprImIr e equalIzar o áudIo da entrevIsta no meu telefone, sem ter de usar um computador de mesa para fInalIzar o trabalho. alI, já soube que o jogo estava ganho. D-E-L é conosco! anDa DE skatE, rima muito E convErsa francamEntE.
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ual é a sua primeira memória do skate? Tenho a memória de ter me ralado, tentando descer uma ladeira. Me lembro que não era um desses skates modernos, era uma parada mais antiga, um desses banana decks das antigas. Tudo chacoalhando… Achei que aquela seria minha primeira e única experiência andando de skate. Eu cresci no meio de skatistas. Vi a rapaziada andando, mas eu era mais ligado à música, mesmo. Mesmo hoje, que tenho algum controle sobre como andar sem cair, eu acho que não tentaria descer uma ladeira. Isso é pra quem gosta da adrenalina. Amo essa parada, mas eu não tenho habilidade na ladeira, tá ligado? Como sua música foi parar na parte do Sal Barbier no primeiro vídeo da Plan B (The Questionable Video)? Pra te dizer a verdade, eles escolheram. Eu não os conhecia,
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por Parteum // fotos Junior Lemos mas acho que pelos próprios skatistas a rapaziada da Plan B se interessou e escolheu o som para o vídeo. Acho que depois que o vídeo saiu, eles entraram em contato, preocupados. Queriam saber se queria uma grana pelo uso do som, mas eu nem viajei nisso aí, não. Eu sabia que vídeos de skate não davam dinheiro. Como eles me pagariam se nem sabiam como cobrir os custos da produção deles, entende? Eu cresci com skatistas, com os punks, com os caras de canto da sociedade. Achei da hora eles terem interesse no meu som. Acho que a maioria dos artistas não pensaria assim. Entre uma pergunta e outra, Del disse que era muito fã de Rodney Mullen. Disse que o jeito que Mullen encarava e explicava o skate o fez voltar a andar de skate, depois dos 40. (Por essa, eu não esperava.)
Você ainda tem interesse em videogames, tem jogado? Eu estou jogando The Last Of Us no PS3, você já jogou? Ainda jogo, mas não curto muito o PS3. O filho da Mecca (Ladybug do Digable Planets), Rio, curte o PS3. Ele está tentando me converter, mas eu sou jogador de XBox. Entre o XBox One e o PS4, os dois consoles que serão lançados no fim do ano, qual você escolhe? XBox One, mano. Não curto muito o jeito Sony de fazer essas paradas de videogame. Sei lá. Eu até curto alguns jogos da Sony, mas pegaram uma pá de ideias emprestadas da Nintendo. E o que você tem jogado, então? Tenho jogado uns jogos mais curtos no iPad e no iPhone, durante as tours. Gosto muito do MiniGore2, tem uns personagens que parecem Lego e você mata uns zumbis. É louco! Jogo True Skate, também. Voltando ao skate, você tem um skatista predileto? Gosto do Rodney Mullen, acho louco ver o P-Rod andando, mas eu não sou um skatista como o Bukue (seu MC de apoio/DJ/Manager) é. Ele anda faz tempo, anda bem, faz várias manobras. Esses caras que eu falei são os que mais prestei atenção. Pergunta do André Genovesi: Como você se sente sendo parte do Hieroglyphics, o coletivo de rap mais conhecido entre skatistas? Eu nunca olhei pra isso dessa forma. Quando eu comecei a rimar, as únicas pessoas prestando atenção no que eu estava fazendo eram os caras de canto. Metaleiros, roqueiros, punks, rapaziada do reggae e skatistas. Era essa rapaziada que estava nos primeiros shows. Faz sentido estar aqui com vocês. De alguma forma, ainda somos colocados de canto por não sermos do “mainstream”. Skatistas, rappers e etc. E como você vê o skate e o rap hoje em dia? Não dá pra dizer que ainda estamos todos num gueto alternativo. Me refiro a skatistas e rappers, de uma maneira geral. Hoje em dia, tudo que parecia proibido e “sem futuro” pode se tornar rico. Antigamente, se você estivesse seguindo seus instintos, correndo atrás dos seus sonhos, colecionando quadrinhos, fazendo música, andando de skate, você era um vagabundo – não havia respeito. Agora você vai assistir a um filme e o super herói anda de skate, curte um rap. O mocinho se parece com o cara que não liga para o que é popular, então isso se torna popular. Ser do contra virou moda. Eu nem vou ao cinema, pois esses super heróis foram remodelados para o cinema. A verdade deles nos quadrinhos é contrária ao que se apresenta na tela. Está todo mundo muito doido. Quando você entra no estúdio pra gravar, o que mais importa pra você? Hoje em dia, estou bem focado em ritmo. Estou tentando nem pensar muito em melodia. Posso dizer que sou anti-melodia, pois foi assim que o rap começou. MCs rimando em cima de loops soltos de bateria. Só batida e o MC rimando. Gosto de jazz, mas estou numa viagem de colocar a batida no topo e samplear texturas, ou samplear algo melódico e distorcer tudo até parecer um barulho, uma textura que complementa a batida, é um outro caminho. Um bom exemplo é a Bomb Squad (coletivo de produtores dos discos mais famosos do Public Enemy). Eles são meus heróis. Eles pegavam uns barulhos e faziam aqueles samples se moldarem ao contexto musical, é isso que eu gosto de fazer. Transformar barulho e pequenas informações sonoras em
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áudio //
música. Com um sampler você pode tudo, e isso me foi apresentado por eles. E quanto a fazer shows e gravar em estúdio, o que você prefere? Eu prefiro o estúdio, mano. Me dizem que meus shows são bons, mas eu prefiro estar criando as paradas novas. Eu não gosto de fazer a mesma coisa muitas vezes. Eu sempre dou um jeito de apresentar algo novo nos shows, fora as faixas que a rapaziada já conhece. Eu estou usando um aparelho chamado OctaTrack, é um sampler muito versátil e eu estou sempre fazendo instrumentais novos. Pra te dizer a verdade, eu realmente estou me divertindo nessa tour. Eu sei. Meu irmão ligou pra falar dos shows no interior de SP. Rappin’ Hood tava “hype” desde o primeiro show. Seu irmão estava contente, os shows foram f*das. Eu fiquei tranquilo quando percebi que ele conhecia meu som. Ele me disse que você apresentou as paradas do Hieroglyphics pra ele, na antiga. A gente tem que se cruzar e fazer algo. Foi muito louco! Eu fiz um rolê na van do seu irmão escutando “My posse is on broadway”… Ele me tratou bem pra caramba desde que a gente se conheceu. Como rolou essa parceria com a ÖUS? Meu manager, Bukue One, rima e anda de skate. Eu acho que o fato de conhecermos alguns skatistas do Brasil que moram nos EUA ajudou. O Bukue foi essencial nessa parada, também. Não estamos nessa pela grana. Queríamos fazer um produto de qualidade e pensar o design dos tênis com a marca. Não simplesmente lançar algo e colocar nosso logo ali. Rafael nos deixou bem à vontade pra fazer a parada do jeito que acreditávamos ser melhor. Os tênis ficaram loucos. E o Hieroglyphics, como começou? Eu, A-Plus e Tajai somos amigos desde a 3ª série, já curtíamos rap. O Casual, eu conheci numa batalha de rima. Tajai o conhecia e disse que eu deveria batalhar contra ele. Tajai e A-Plus eram vizinhos do Casual e ficavam enchendo o saco pra eu batalhar. Eu era um pouco mais experiente, até hoje o Casual fala que eu fiz pouco caso dele, que eu perguntei se ele estava preparado pra rimar contra o rei… Eu nem acho que falei isso, mas foi assim que a gente se conheceu (risos). Um monte de ideias de como as coisas seriam no Hiero surgiram de papos que eu levava com ele. No colegial, chegamos a estudar na mesma sala. E o Domino? O Domino me foi apresentado pelo Dante Ross, o diretor artístico que me assinou com a Elektra. Basicamente, a rapaziada era de Oakland, alguns eram amigos de infância e outros conheci mais tarde na vida, mas estamos juntos faz tempo. Tranquilo, Del. Nos vemos em Curitiba no domingo. Para onde vocês vão? Vou pegar o meu skate e vou fazer um rolê aqui perto do hotel. Nos vemos lá no domingo, mano. Apreciei a ideia.
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entrevista pro // marcello gouvea
MG na Selva de Pedra Marcello Gouvea é o raMbo brasileiro. Poderia acabar essa introdução Por aqui MesMo e neM fazer essa entrevista, Porque as iMaGens que vocês vão ver falaM Por si só. Mas se esse esPaço foi, Mais uMa vez, MerecidaMente conquistado, então, nada Mais justo do que ouvir o que essa lenda do skate brasileiro teM a dizer! e cuidado quando o raMbo aPerta o Gatilho, Porque a artilharia é Pesada. Pesadona! Por FeliPe Motta aka Mottilaa // fotos rené Jr.
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e onde vem esse estilo sangue nos olhos? Meu primeiro contato com o skate foi com 5 anos. Meu pai deu um skate de presente, no natal ou no aniversário, um pra mim e um pro meu irmão. A gente começou a descer ladeira; desde então eu nunca saí do skate. Não que eu parei, mas eu não andava de skate com tanta frequência como ando hoje em dia. Quer dizer, eu sempre tive skate dentro de casa, sendo um Bandeirantes, um RK, um Big Job; tá ligado? Eu sempre tive um pra pelo menos descer uma ladeira, no final de semana, que fosse. Daí, quando completei 13 anos, resolvi andar de skate de verdade. Meio que tentar entender o porquê do skate e daquela essência que estava dentro de mim desde criança.
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Existem boatos que você cresceu na selva, em meio de lobos e macacos, foi daí que surgiu o apelido de Rambo Brasileiro, ou somente Rambo. Confere ou é lenda urbana? Acho que é um pouco de lenda urbana, mas eu sempre gostei de ter contato com a natureza. Na verdade onde eu fui criado é um condomínio na beira de uma montanha, eu sempre brinquei de ir pra selva, subir e fazer trilha, coisa de moleque; brincar na mata de polícia e ladrão, sempre tive contato com a natureza desde criança! E de onde eu vim também é um lugar que há pouco tempo era meio que zona rural. Além disso tudo, de ser criado em lugar que sempre teve mata e montanha, eu sempre gostei de viajar só pra lugares assim também, pra procurar um pouco de paz espiritual. Essa parada do Rambo aí foi o
Motta que inventou, de ser selvagem e tal. Mas eu sempre gostei de andar de skate com sede e com vontade, isso é um jeito que é meu mesmo. Sempre fui meio... Bicho. É, meio bicho. Sempre fiz as coisas com mais brutalidade! Tem muita gente que pensa como você, mas tem receio de se expor e acabar se queimando com alguma marca ou fechar alguma porta. O fato de ter tido um monte de experiência ruim com marcas e ser um tanto quanto desacreditado com o mercado de skate brasileiro faz com que você tenha a língua afiada, um desprendimento de falar o que você acha e pronto… Na verdade, desde criança eu sempre fui muito dedicado às coisas que eu começava a fazer. E
Hardflip, Praça XV.
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entrevista pro // marcello gouvea
o skate, quando eu decidi que ia andar o resto da vida, eu falei: vou ser um grande skatista e quero ser muito correto e profissional. E com o tempo, o skate foi me mostrando que eu não precisava ser assim, tanto pelo fato do mercado ser tão amador ou pelo fato que você precisa ser um cara que você não é, na frente dos outros, pra fazer uma média ou qualquer outra coisa parecida. Eu realmente vi isso, quando eu tive patrocínio me mandando embora quando eu tive que operar o joelho. Depois eu quebrei o pé e também tive que
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operar o joelho de novo, nego me mandou embora. Naquela época, com meus 25 anos, que começou essa última jornada ruim pra mim, digamos assim, né? Essa época foi de muito transtorno mental porque tinha dedicado minha vida praquilo e ao mesmo tempo, na hora que eu precisei de todo mundo, todo mundo pulou fora; tá ligado? Ao mesmo tempo não tinha o que fazer, ficava bebendo todo dia, só vendo minha vida passar. E, tipo, desacreditado do meu próprio talento, do que estava dentro de mim. Eu achava que não tinha
mais nada disso, fiz cirurgias e nunca mais ia ser o mesmo cara que já fui. Com o tempo vi que isso era pura bobeira! Eu jurei pra mim mesmo que ia andar de skate até o último dia da minha vida, até quando desse pra andar. Sendo rico, pobre, mendigo ou sei lá o que for. Essa foi a decisão que eu tomei. Foda-se o mercado, eu vou andar de skate porque eu amo e vou andar do meu jeito. Nesse momento foi quando as coisas começaram, pode-se dizer, a abrir as portas de novo pra mim. Parece que a minha vida mudou!
Stale fish disaster, clássica pista de Campo Grande.
Como é pra você chegar aonde chegou até aqui, estar no auge de sua performance e não ter patrocínio, atualmente? É uma incógnita pra todo mundo que vê você andar e quando se fala que está sem patrocínio, não faz sentido; sacou? Hoje em dia posso dizer que tenho patrocínio. A Crail é uma marca que me ajuda desde o começo dessa época de lesões. Agradeço o Serginho e toda equipe lá dentro, porque ele foi um dos caras que quando eu estava na merda mesmo e voltan-
do a andar sem nada, me deu um suporte para o skate. O Serginho foi o primeiro cara na minha vida, do mercado, a entender meu pensamento. Me lembro que ele me disse coisas ótimas como: Marcello eu sei quem você é, reconheço todo seu trabalho já feito e por isso truck para você não vai faltar, estando no time ou não. E hoje em dia eu faço parte do time da Crail. Agradeço o Serginho e a todos da equipe Crail que me ajudaram. Você está como pro oficial da parada? Sim, agora sim! E também estou fechando com
uma marca de tênis para 2014, a tendência agora é só melhorar em relação a patrocínios, assim espero. Falando em patrocínio, e consequentemente em dinheiro, o que o skate te deu ao longo desse anos que dinheiro nenhum pode comprar? Acho que pode ser a sabedoria no meio do skate; a visão, né? Acho que o skate me deu uma visão, tanto artística como disciplinar, sei lá. O skate me fez andar de avião pela primeira vez na vida - fui para um campeonato sem o dinheiro de volta e voltei de avião, mano! Tá ligado, foi um bagulho 2013/setembro TRIBO SKATE | 63
entrevista pro // marcello gouvea muito doido isso! Então o skate conquistou várias coisas na minha vida, como também eu perdi várias coisas por ele, entendeu? Perdi oportunidade de trabalho, de relacionamentos que não deram certo por conta do skate, mas é uma coisa que eu amo e eu quero fazer pro resto da minha vida. Não se arrepende? Não me arrependo! E a palavra que você me perguntou seria a visão, do skate e do mundo. Eu acho que o skate me trouxe isso que dinheiro nenhum pode comprar: é a visão. Conta pra esse povo que está com o Google travado o que é o DSAL? DSAL é um sonho que realizei! Quando eu era moleque, lembro que via muitos vídeos de marcas, principalmente quando vi o Shorty’s Fulfill the Dream, que era do Chad Muska e os caras todos. Eu lembro que quando o vi, disse que iria fazer um vídeo de skate, bom, com meus amigos e no estilo que eu queria. Eu sempre tive filmadora, sempre cedi imagens e tal! E um dia resolvi fazer um vídeo que se chamava Dorme Sujo Acorda Limpo. Eu e o Rodrigo Torturella (Makarrão) resolvemos colocar esse nome. E, dali pra frente, foram surgindo outras coisas, porque até então o foco do vídeo era mostrar como o skate é tão sujo e ao mesmo tempo ele é tão valorizado, né? Porque o skate é uma parada que você olha de fora e fala: pô, o cara tá bombando ($$$$$). Mas aí você vai procurar a fundo, o cara não tem o que comer em casa. Mas por que? Por causa da aparência. Então o Dorme Suja Acorda Limpo é mais do que nada um protesto contra o mercado, exatamente contra o mercado do skate no Brasil. Porque pouca gente tá ganhando dinheiro e muita gente não tem o que comer. Às vezes o cara é uma talento, mas tá lá sem patrocínio, jogado, encostado, porque de repente ele não tem um plano de saúde, machucou o pé ou o joelho e não tem como se tratar atualmente, entendeu? Ele acaba ficando isolado do mercado por conta disso. E o Dorme Sujo Acorda Limpo quer dizer também que vem da rua, do mendigo mesmo! Tipo, eu me senti um mendigo quando tinha tudo e do nada não tinha
nada. Mais ainda: a gente descobriu que no Dorme Sujo Acorda Limpo tinha uma sigla que se chamava DSAL e fez todo o sentido porque quando você dorme sujo, o cara tá cheio de sal, salgado, suado do dia inteiro de skate, daí ficou uma parada de sal. Teve uma entrevista que perguntei sobre seu temperamento e você disse que tinha dado uma acalmada com o passar dos anos e agora, recentemente, você descobriu que vai ser pai. Como isso afeta sua vida e seu temperamento daqui pra frente? Pô cara, essa parada é muito delicada ainda. Já caiu a ficha, mas não totalmente! Na verdade foi uma surpresa muito boa que eu tive e acho que não tinha uma hora melhor pra acontecer isso do que agora. Estou com 30 anos, acho que está na hora de eu dar uma acalmada, focar cada vez mais em mim como pessoa e no meu trabalho, que é o skate. E agora acho que a vinda desse bebê só vai me fortalecer como pessoa, só vai me dar mais vontade pra eu procurar e ter mais garra de conseguir minha coisas, tanto no skate quanto na vida pessoal. Você, de certa forma, é uma cria da MHS, o antigo skate park do RJ, encabeçado pelo seu Mário e pelos filhos, que era um ponto de encontro do skate no Rio. O fato da MHS ter sido montada em lugares distintos da cidade acabou ajudando uma galera de diferentes zonas a se conhecerem, e muitas vezes deixaram de lado algumas richas que rolavam: Zona Sul, Zona Norte, Zona Leste, Baixada, enfim. Com o surgimento da Praça XV esse fenômeno ficou ainda mais forte no Rio. Como você vê a importância desses dois picos, MHS e XV, para o skate carioca? A MHS, peguei ela um pouco depois, né! Peguei a última, praticamente, porque a da Beija Flor eu já andava no meio do skate, mas não sabia onde era, não tinha contato algum. Mas a MHS foi uma escola pra mim. Eu já andava de skate há 10 anos, só descia a ladeira do meu condomínio, descalço, e quando eu dava um ollie, nego falava: caraca,
você dá um ollie mas eu nem sabia o que era. Não tinha contato nenhum! Ao mesmo tempo, Marbal e Marquinho moravam no meu bairro, eu nem sabia disso. E aí, quando fiquei sabendo, procurei os caras pra comprar shape porque falaram que tinham uma fábrica. Fui lá, comprei o skate e eles falaram do skate park de Nilópolis, depois acabou e começou a MHS da Taquara, no 255, na Mananciais, perto da minha casa. Nessa época, não sei o que aconteceu porque essa de Zona Sul, Zona Norte, essa richa eu cheguei no final; mas era uma coisa muito doida, não entendia; sou muito de fazer amizades. Se via um cara de skate, tinha que conhecer. Eu ficava triste! Quando via um cara de skate eu cumprimentava; até hoje eu faço isso e o cara não entende nada. E eu não entendia essa parada de Zona Sul, Zona Norte porque era um preconceito que não existia, era uma parada da cabeça dos outros. Pra mim, essa parada de richa, com a MHS com certeza foi uma união, tanto lá como na XV. Porque não tinha onde andar de skate e os caras eram obrigados a conviver. Acabou meio que todo mundo se domesticando, tanto na MHS quanto na XV. Essa parada foi acabando, acabando, acabando, tanto que o Léo Lopes me deu um abraço, tipo de irmão. Nas antigas não sei se ele faria isso, ou outro cara da Zona Sul! Rolava richa, mas graças a Deus eu não peguei isso. Se de repente os caras estavam se tratando mal, eu nem entendia o porquê. Mas eu nunca tive esse preconceito com ninguém, até porque eu gostei de andar de skate em todos os lugares possíveis. Foda-se a Zona Sul, Zona Norte, zona do que for; o negócio é andar de skate e se divertir! Você vai ficar brigando com o cara que é lá do outro lado por que? O cara está dando manobra igual a você, vai se divertir junto! Mas a MHS e a XV foram responsáveis por isso porque faltava pico no RJ. A MHS era a pista de skate boa de street, onde todo mundo tinha que conviver junto, e na XV é a mesma coisa. Nego começava a se encontrar, quando vê o cara virava seu amigo; você tá lá na casa dele tomando um cafezinho, chamando uma cerveja.
“Primeiro ande de skate Para si mesmo, dePois você Pense em andar de skate Para os outros!”
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Fs lipslide, Volta Redonda.
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entrevista pro // marcello gouvea Estão surgindo cada vez mais novos picos e skateparks no Rio, muitas vezes conquistados com o esforço e união de galeras como a da XV, da Duó, da Lagoa (HZC) e de arquitetos que são amigos e skatistas também, como o Sylvio (Azevedo), o Bruno (Pires) e o Pharrá (Buarque), por exemplo. Como você vê essa nova fase do skate carioca? O nome disso é evolução, né cara? Até que enfim o skate está entrando num caminho bom nesse sentido de construções de pistas. E no mercado, pô ótimo também; só o dinheiro que não está aprecendo como deve ser, mas beleza! Essa coisa de nossos amigos que estão andando conosco e são arquitetos, deles terem o poder de fazer uma pista de skate, isso é animal, não existia! Você ouvia que ia ter uma pista não sei aonde, você esperava uma pista por meses e anos, quando chegava lá, puta que pariu! Os caras jogaram concreto fora nessa merda, fodeu! E ainda ficava andando lá todo dia, por que? Porque só tinha aquela pra andar. Acho isso importantíssimo; essa parada da galera se unir e fazer as coisas, como na XV, na Duó, na quadra da Lagoa; isso é animal. Acho que a união faz a força é não é por acaso que o Rio é um exemplo disso pra muitas pessoas, inclusive pra quem vê de fora, porque nego fala na moral, o Rio não tem marcas, mas a vibe de lá não encontro em nenhum lugar. Os caras dão várias manobras, fazem aquilo porque querem andar de skate, não é pra aparecerem no vídeo, na revista ou ser famoso; eles querem andar de skate. Mesmo hoje em dia, muita gente acha que é difícil morar no Rio e viver de skate. Você já morou no Canadá e por alguns anos teve uma casa de pedra, no meio do mato, aqui no Rio. Como foram essas duas experiências? No Canadá foi uma experiência legal pra caramba, na época. Realmente eu não me adaptei com o clima, eu sou do Rio de Janeiro, né? Lá é totalmente o oposto. O verão de lá é o inverno daqui. Lá chove mais da metade do ano e eu não sou um cara de ficar dentro de casa, agarrado e tal. Pra mim, foi uma experiência muito boa, andar com caras e em picos que via em vídeos, isso foi legal pra caramba! Mas eu realmente não consegui morar lá por falta de adaptação cultural. Aqui no Rio, quando morei na casa de pedra, acho que foi um dos momentos mais felizes da minha vida. A casa era bem humilde, no meio da mata. Lembro que, quando fomos eu e minha irmã olhar a casa, curtimos na hora. E lá eu levava todo mundo, a gente fazia churrasco direto, queria ir na cachoeira. Tipo assim, tinha várias opções o dia inteiro, de fazer alguma coisa sem sair daquele lugar. Ou subia a cachoeira, ou fazia um churrasco, escutava vitrola. A experiência que tive lá foi uma coisa muito boa, de acordar com a natureza dentro da sua casa. Mesmo passando por períodos muitas vezes difíceis ao longo da carreira, uma coisa que eu e muita gente sempre comentamos é que você anda com a mesma gana e se taca em picos bizarros, independente de estar patrocinado ou não. Não é raro alguém chegar pra andar em algum lugar em que você esteja e depois contar, boquiaberto, alguma façanha que você tenha feito. E, muitas vezes, sem ninguém pra te filmar nem fotografar! Em situações como essa, o que tanto te inspira a continuar sua saga no skate? O que me faz continuar andando de skate, na saga mesmo, é a essência! A mesma que faz a gente estar aqui, como amigos, chegar ali e trocar
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“acho que essência é isso: você tem que fazer e andar de skate Porque você gosta e quer fazer aquilo, não fazer aquilo Porque você se sente obrigado.”
Bs bluntslide transfer, Volta Redonda.
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entrevista pro // marcello gouvea
ideia com outra pessoa. Você vai dá uma manobra e o cara chega, troca ideia dizendo que flagou e curtiu a parada, lembra que faz um tempão que não dava a manobra. E, ao mesmo tempo, é uma coisa recíproca: ele faz lá, você faz aqui. Quando você vê tá todo mundo se abraçando por uma manobra! Nego que está de fora não entende, acha que a gente é maluco. Muitas vezes, tem certas pessoas que passam na sua vida e que ajudam muito, sem saber. Eu lembro que o Igby, Cristian Caceres, lá do Chile, veio pro Rio quando morava na casa de pedra. Ele ficou três meses lá em casa, veio com o intuito de filmar, tirar foto e tal. A gente só saiu pra filmar umas duas ou três vezes, quando ele foi tentar um laser flip lá na big four. O resto, era só skate o dia inteiro; na Praça do Ó, em outros lugares. Era todo dia, sem filmar e mandando vários bagulhos cabreiros; nem eu nem ele não entendíamos o porquê. Daí ele disse: isso que é o mais foda, o bagulho tá tudo aqui na mente! Tá registrado na cabeça. Então, acho que
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não existe nada melhor do que aquilo que está na sua mente! Se você sabe que não vai se machucar ou que você pode e que tá com vontade, não sei explicar, só sei que quando dá vontade de acertar uma manobra eu faço mesmo, sem saber se tem filmadora ou não tem. Acho que o instinto do skate é assim! Quando eu comecei a andar de skate, saía com 15 moleques, parava em um lugar, ficava fazendo street, pulava escada, fazia não sei o quê. Quando você vê já estava em outro pico, na mesma pegada. Acho que é por isso que sou assim: na minha época, quando começamos a andar, não tinha tanta acessibilidade de câmeras quanto tem hoje. A gente fazia muito porque gostava e acho que essência é isso: você tem que fazer e andar de skate porque você gosta e quer fazer aquilo, não fazer aquilo porque você se sente obrigado. Pra você fazer um bagulho que é obrigado, você tem que estar ganhando muito dinheiro. E acho que essa falta de dinheiro me fez aprender o quanto eu não deveria andar de skate
por dinheiro, me sentindo prostituído. Skate você tem que fazer porque você quer, porque você ama! Tá com vontade de dar um nosepick na mureta, vai lá e acerta. Se tiver que filmar, volta lá e faz. Essa entrevista mesmo, tem várias coisas que eu fiz só fotografada e depois tive que voltar e filmar, como teve o vice versa. Skate é muito doido! O blunt da entrevista, em Volta Redonda, fui seis vezes no pico! Só acertei em um dia que estava sem luz e escuro, mas eu vou usar a imagem; que se foda. Entendeu? O skate é muito relativo, em tudo. É muito difícil explicar a essência do skate pra quem não anda. Quem anda sabe muito bem o que é. Hoje estou machucado, só de dar umas remadas aqui, já estou feliz. Vou voltar com sorriso pra casa! Acho que, além da falta de patrocínio e de ter ficado parado quase dois anos por cirugias atrás de cirurgias, e tendo que me adaptar com o corpo meio que remendado, acabei aprendendo a andar de skate com amor. Você volta atrás! Quando estava andando de skate com o Igby, foi
360 flip into bank, Piracicaba.
quando realmente eu voltei à minha essência de adolescente, andando de skate sem ganhar nada, independente se ia fazer coisa cabulosa ou não! Como é se matar pulando gaps e descendo corrimãos monstruosos e não ter plano de saúde do patrocinador? Acho que assim: o skate já está muito burocrático, já tem um certo tempo! A CBSk é uma coisa que funciona legal no Brasil, mas acho que poderia ter uma cláusula da confederação pra não deixar um patrocinador fechar um contrato com skatista profissional sem um plano de saúde. Porque o plano é nada mais do que um seguro pro próprio skatista da marca se recuperar o mais rápido possível a estar trabalhando, é uma questão de trabalho. Tipo, se o cara vai trabalhar e sabe que pode se machucar ele tem que ter um resguardo onde ele possa se garantir. Se o cara quebra o pé, vai na porra da UPA espera três horas pra ser atendido. E é um cara que precisa daquela parada, o corpo dele é uma máquina. Ele que faz
a marca acontecer, cria a identidade. O moleque se identifica com a marca não só pelo logo mas também pelo skatista. Tanto que você vê marca ou loja que não patrocina skatista já ficar pichada de cara no meio do skate! O skate já é uma parada de skatista, se o cara não for, nem chega! Também já acho que isso é muito, mas assim: o cara quer ganhar dinheiro com o skate, ele tem que fazer o skate movimentar, de que forma? Mano, pega e ajuda de verdade um skatista, ou outro; dessa forma vai crescendo, tanto ele quanto os caras. E assim o skate cresce junto! Só que os caras só pensam no cifrão no bolso deles, na comissão, no lucro, mas quem vai dar lucro é o cara que está fazendo ali, andando de skate. O mínimo de investimento é ter um plano de saúde. Um salário e um plano de saúde, porque o cara vai se machucar, ninguém é de ferro. Mesmo o ferro quebra! Essa porra aqui não é de ferro, a máquina tá aqui andando, toda fodida; é um carro
velho. Mas tem que consertar, trocar peça. Imagina um ser humano, que trabalha com aquilo. O mínimo é ter uma cláusula, de repente pela CBSk, que obrigasse todos a pagarem pelo menos um plano de saúde ao skatista. Me lembro que a gente operou o joelho com o mesmo ortopedista, o Dr. Diogo Cals! Até hoje você já passou por quantas cirurgias e quantas fraturas você já teve? O Diogo já não aguenta mais ver sua cara, né? Na real, nem tenho ido lá. Mó tempão que não vou lá, dar um salve, um alô! O Diogo foi um cara muito maneiro. Me operou tanto pelo governo quanto pelo plano de saúde. Lembro que quando ele te operou foi no meio das duas minhas de joelho. Foi a maior coincidência, me perguntou se te conhecia! Ele me ajuda até hoje, quando preciso fazer algum exame, eu tô sem plano (de saúde). Sempre me ajuda de alguma forma, tanto ele (Eduardo Altoé) quanto o Duda, que mora em Brasília e era da SkateBros; também me ajudou 2013/setembro TRIBO SKATE | 69
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marcello gouvea // entrevista pro
“eu acho que o diferencial do rio é o astral das Pessoas daqui, que andam de skate de verdade, Por amor, sem querer nada em troca!”
pra caramba na primeira cirurgia, que não tinha espaço no HTO. E agilizou a fazer a cirurgia mais rápido; estava esperando já um ano com o joelho solto. Essa coisa de cirurgia eu penso… Vou falar uma parada que você me perguntou lá atrás, sobre quando despertou a essência. Não sei nem porque vou falar disso! Me lembro de um fato, quando eu quebrei o pé: Dei um flip roll in, entrando na rampa, entrei com muita vontade. Deixei o pé com muita vontade e falei: voltei. Só que o pé escapou do tail e quebrou, na hora que eu vi a sola do pé ao contrário a primeira frase que veio na minha cabeça foi: eu nunca vou parar de andar de skate. Lembro disso até hoje, porque tava com plano de saúde em cima, então eu falei. Não sei porque eu pensei isso, mas acho que lesões e fraturas, vão acontecer sempre e que venham. Só que eu quero ter o plano de saúde ali, só pra me garantir! Todo mundo que anda de skate e está na correria de patrocínio tá careca de saber que é mais que necessário viajar, tanto pra fazer contato, trocar experiências quanto pra fazer imagens. Mas o que tem de diferente pra você em andar no Rio? No Rio de Janeiro, fora os picos que são muitos e estão nascendo cada vez mais, e cada vez mais estão fazendo o Rio ficar famoso, pro skate, o que não era tão assim antigamente, acho que andar de skate aqui, não sei se é porque eu sou daqui, mas muita gente que vê de fora fala, acho que é o astral. O astral de andar de skate no Rio não tem lugar igual. Já fui pra vários lugares que me senti ótimo também, como vários que não me senti muito bem, mas isso aí faz parte. Só que eu acho que o diferencial do Rio é o astral das pessoas daqui, que andam de skate de verdade, por amor, sem querer nada em troca! Agora finge que isso é um encarte de disco de rap, agradece e manda recado pra quem você quiser! Na verdade queria agradecer todo mundo que está me ajudando; tanto o Felipe, que está gravando, o outro Felipe, que está me entrevistando. O René, que deu a maior força nas fotos, à Tribo Skate, por esse espaço! Seu Mário e família, Vitinho, família Atlethics em peso, família No Name em peso, DSAL, família XV. Pô, irmão! Duó, geral. Skate, acho que tem que agradecer a todo mundo que faz um pouco. Cada moleque que dá uma manobra na sua frente e faz você pensar o skate de outra forma, por mais que ele esteja começando, às vezes ele dá uma manobra que você nunca pensou tentar. Agradeço a esses moleques também. A todos os mendigos que já trocaram altas ideias comigo, sempre dou muito ouvido pra mendigo; não sei porquê mas desde criança eu sou assim! Agradeço a tudo de mais sagrado nesse mundo: minha família, minha mulher e sua família, todos meus amigos que estão torcendo por mim e me ajudaram de alguma forma, porque tem vários! Meus pais, sem eles eu não teria sido o mesmo; eles me deram um grande suporte desde o começo. Agradeço a vida por estar aqui ainda, ela é passageira e a gente nunca sabe quando se vai. O Marcello quer fazer um complemento! Ensimanentos do Rambo: “Primeiro ande de skate para si mesmo, depois você pensa em andar de skate para os outros!”
Stale fish into bank, Teleporto, Centro do Rio.
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entrevista pro // marcello gouvea
“skate você tem que fazer Porque você quer, Porque você ama! tá com vontade de dar um nosePick na mureta, vai lá e acerta. se tiver que filmar, volta lá e faz.”
// Marcello Gouvea 30 anos, 25 de skate rio de janeiro Patrô: crail trucks Ollie into bank, Ilha do Governador.
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Choque Cultural não dói
Para comemorar sua Primeira década fazendo madeira, deck, shaPe, como quiser, a cisco foi a Primeira marca brasileira a fazer uma tour com sua equiPe na china. Gui da luz, everton tutu e daniel mordzin encararam a viaGem de Peito aberto, aPoiados Pelo team manaGer anGelo esteves, com Pablo vaz nas fotos e leo coutinho nas filmaGens. é certo que outros PersonaGens, brasileiros e estranGeiros colaram na banca aqueles dias, mas estes seis tiveram que ser virar com a diferença da línGua, da alimentação, estas necessidades básicas. mas, estes dias renderam muitas boas histórias e imaGens, Parte delas comPartilhadas aqui nos 22,7 x 28 cm em PaPel couché da tribo skate. um reGistro de Gala, Para um feito inédito. Por Cesar Gyrão // fotos Pablo Vaz
everton tutu, fs bluntslide. shenzhen.
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china tour // cisco 10 anos
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Gui da luz, switch nose wheelie fakie 360 fliP out. shenzhen.
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china tour // cisco 10 anos
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antes do cisco team, alGuns brasileiros Passaram neste País GiGante, Para correr camPeonatos ou mesmo exPlorar ruas de suas modernas cidades, sem rePressão. no entanto, o selo de Primeira tour de uma marca autenticamente nacional na china, isso ninGuém tira dela. bandeira cravada na história. uma iniciativa muito skate Para marcar o aniversário de 10 anos. Gui, tutu e mordzin sentiram o choque cultural, mas PerGunte a eles se doeu?
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china tour // cisco 10 anos
daniel mordzin, nollie bs fliP. beijinG.
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anGelo esteves, bs Grind. beijinG.
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china tour // cisco 10 anos
everton tutu, nollie shovit nose wheelie. GuanGzhou.
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shops! // Elas mantêm a chama acesa O papel das skate shops não é apenas vender produtos. É oferecer um atendimento de qualidade, que satisfaça o cliente e alimente seu desejo de andar de skate, vestir-se bem, entender e viver esta cultura. Neste cenário, a informação é mais uma alavanca para o sucesso e é justamente aí que algumas lojas se sobressaem. Elas são pontos de convergência, investem no esporte e ajudam a construir a história do skate brasileiro. > AmAzonAs - Manaus Sagaz Skate Shop Rua Ferreira Pena, 120, Centro (92) 3233-2588 > BAhiA - Salvador Zeroseteum Skate Shop Avenida Jorge Amado, 208, loja 5, Arabela Center, Boca Rio (71) 4101-7883 > Distrito FeDerAl - Brasília Freestyle Skate Shop SDS Bloco “E”, loja 8, Conic Asa Sul (61) 3322-9990 > GoiÁs - Anápolis Roots Skate Shop Rua Leopoldo de Bulhões, 166 (62) 9373-8559
> PArAnÁ - Curitiba Drop Dead Travessa da Lapa, 231, Centro THC Skate Shop Pça Rui Barbosa, s/n - loja 227 (41) 9933-2865 - Guarapuava Atrito Board Shop Rua XV de Novembro, 7860, loja1, Centro (42) 3623-6818 - Irati Skate Shop Irati Travessa Frei Jaime, 43, Centro (42) 3423-3989 > rio De JAneiro - Nilópolis Atos Skate Shop Rua Comendador Rodrigues Alves, nº 855 , Olinda
- Florianópolis Curva de Hill Rua Laurindo Januário da Silveira, 5555 Pousada Hi Adventure Rua Sotero José de Farias, 610, Rio Tavares
- Limeira Delfa Skate Shop Largo da Boa Morte, 34, Centro (19) 3704-4852
- Joinville Grind Skate Shop Rua São Francisco, 40, Centro (47) 3026-3840
- Mogi Guaçu Alta Tensão Skate Shop Rua Sargento Oswaldo Aviador Fernandes, 36, Centro (19) 3019-6950
- Tubarão Tênis e Cia Av. Marcolino Martins Cabral, 1301 - sala 01, Centro (48) 3626-9985 > são PAulo - Artur Nogueira Tateno Skate Shop Rua Ademar de Barros, 839, Centro (19) 8178-0172
- Paraty UnderHouse Avenida Roberto Silveira, 110, loja 3
- Barra Bonita Office Street Rua Prudente de Morais, 852, Centro (14) 3641-0511
- Rio de Janeiro Carma Skate Shop Rua Marques de Abrantes, 64, loja 4, Flamengo
- Bauru Arsenal Skate Shop Rua Virgilio Malta, 8014, Centro (14) 3227-9633
2012 Skate House Est. Água Grande, 399/ loja 20 Shop. Moda Ideal, Irajá (21) 9115-3242
- Bragança Paulista Sandro Dias Skate Shop Rua Dr. Candido Rodrigues, 70, Centro (11) 4033-3367
- Passos Cave Skate Shop Rua Dep. Lourenço de Andrade, 09, Centro (35) 3521-0909
> rio GrAnDe Do sul - Porto Alegre Matriz (Total) Av. Cristovão Colombo, 545/1072,1073, Floresta (51) 3018-7072
- Campinas CT Culture Avenida Abolição, 161, PontePreta (19) 3579-1012
- Poços de Caldas Giro Livre Skateshop Rua Santa Catarina, 79 - loja 02, Centro (35) 3721-3326
Matriz (Walling) Av Assis Brasil, 2611 - loja 248, Cristo Redentor (51) 3026-6083
> minAs GerAis - Belo Horizonte Paranoids Skate Shop Av. dos Andradas, 367 - loja 268C (31) 4103-4648 - Contagem Skateboard House Shop Rua Tiradentes, 2136, Bairro Industrial (31) 3361-4029 - Juiz de Fora Tribo do Skate R: Marechal Deodoro, 450 - loja 35 (32) 3211-5146
> mAto Grosso Do sul - Campo Grande Rema Boardhouse Rua Pedro Celestino, 1387, Centro (67) 3213-2504
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> sAntA CAtArinA - Criciúma Backdoor Skate Surf Rua Henrique Lage, 210, Centro (48) 3437-7988
331, loja 122, piso 1, Shop. Pátio Guarulhos, Jardim Valéria (11) 2456-4924
- Campo Limpo Paulista C-Vida Skate Shop Rua Nossa Senhora do Rosário, 176, Centro (11) 4039-1412 - Franca Oka Bambu Rua Tiradentes, 1577, Centro (16) 3026-8128 - Guarulhos Christ Board Shop Av. Rosa Molina Pannocchia,
- Ribeirão Preto Switch Skate Shop Rua Marcondes Salgado, 580, Centro (16) 3235-6867 - Santos Evolution Skate Shop Avenida Floriano Peixoto, 44, loja 69, Gonzaga (13) 3289-1444 - São José dos Campos Surf Track Av. José Munia, loja 195 - Piso 1, Jardim Redentor (17) 3355-0313 - São Paulo Bless Skateshop Rua Turiassu, 603 DaHora Skate Shop Rua 24 de Maio, 57, loja 18, Centro (11) 2745-6013 Red Beach Avenida Júlio Buono, 2070, Vila Medeiros Toobsland Rua Cerro Corá, 631, Alto de Pinheiros - Santo André Ratus Skate Shop Rua Dona Elisa Flaquer, 286, Centro (11) 4990-5163 Mantenha você também a chama do skate brasileiro acesa, leve a Tribo Skate para sua loja! Envie-nos email triboskate@triboskate.com.br
casa nova //
Michel Alves // Fotos Carlos Taparelli Quando não está andando de skate: Fico em casa, comendo e mexendo no Face e assistindo vídeos de skate. Melhor comida: Arroz, feijão, batata frita, frango e strogonof. Para relaxar: Uma música do Rick Ross. Manobra preferida: Smith de back. Manobra que quer aprender: Nollie crooked saindo de nollie heel. Parceiros de sessão: Ras, Alemão, Rocha, Finha, Kauê, Kaio, Túlio, Léo, Maycon, Paulo Henrique, Cipola, Moises. Melhor pico de rua: Praça Roosevelt. Melhor pista: AE Pântano. Um skatista: Luan de Oliveira. Um som pra sessão: Rick Ross. Um sonho: Ser skatista profissional, dar a volta ao mundo com o skate e ajudar minha família. Um salve: Valeu aí rapaziada da Espraiada por te me ajudado até aqui. Satisfação! Obrigado meu Deus e muito skate pra nós. // Michel Brito Alves 14 Anos, 5 e Meio de skAte são PAulo, sP
força ‘‘deAvontade
vence todas as dificuldades, tanto na vida como no skate.
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Nollie heelflip em algum lugar de SP.
casa nova //
nicholas // Fotos Diogo groselha Ser skatista: É, quando não está andando de skate, está jogando, vendo vídeo ou falando de skate. Skatista profissional brasileiro em quem se espelha: Luan de Oliveira. Skate atual: Shape Fire Skateboard, trucks Silver M-Class Paul Rodriguez, rodas Bones, rolamentos Red Bones, parafusos de base Shake Junt. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Apple. Som pra ouvir na sessão: Funk. Parceiros de rolê de skate: Heitor Gomes, Matheus Pinheiro, Tukuka, família Jairnevey, Thiago Pessanha, João Vitor e Marco Antônio. Melhor viagem: São Paulo. Melhor pico de rua: Praça 7. Melhor pista: Madureira, Rio, Tatu Skatepark. Sonha alcançar com o skate: Constituir uma família e poder viajar pelo mundo. Aquele salve: Pros moleques do Vitu, pra toda Zona Norte, So High Skate Shop e à Fire Skateboard. // NicholAs loureNço DiAs reis 20 Anos, 6 de skAte Juiz de ForA/MG PAtrocínio: so HiGH skAte sHoP e Fire skAteboArd
obrigado meu ‘‘deus por me guiar, só em ti tenho forças pra lutar!
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Flip.
hot stuff // setembro
// Converse WatChes
A inspiração do modelo High Score segue a linha dos videogames dos anos 80. Sua pulseira é feita de silicone, o que oferece mais conforto e flexibilidade em relação à borracha ou poliuretano. (11) 3218- 0719 / conversewatches.com.br
// MorMaii
Objeto de desejo entre a galera, os headphones invadiram as ruas e o modelo Bombastic da Mormaii ganhou um upgrade e ficou ainda mais style. O cabo vermelho, que combina com as espumas dos fones e haste, pode ser retirado e guardado. Além disso, as conexões são banhadas a ouro, para melhor qualidade de som. 0800-644 7711 / mormaii.com.br
// X-traX
O modelo SD20 FULL HD, lançado pela marca de câmeras que chega ao Brasil com opções inéditas, vem completa para uso: visor de LCD, caixa estanque, controle remoto, entre outros acessórios que vão facilitar a vida de quem quer filmar e tirar foto do rolê, ou seja: todo mundo. (011) 3014-0056 / contato@xtrax.com.br
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// siMple
Os shapes pro model Danilo Diehl e o Hashtag são alguns dos novos lançamentos da Simple, madeiras que os skatistas do time Pedro Dezze, Robson Amorim, João Rodrigues e Igor Calixto estão ralando neste momento. (62) 3280-6856 / simpleskate.com.br
// Four Wheels
Desenvolvida para o skatista que procura qualidade e preço justo, a Four Wheels chega às ruas do Brasil com dois pro models de terrenos distintos: street com Diego Oliveira, e longboard com Thiago Bomba, além dos demais modelos, que saem com duas durezas e cores variadas. (11) 3739-2271 / legendssk8.com
2013/setembro TRIBO SKATE | 93
Arquivo TX Filmes
manobra do bem // por sandro soares “testinha”*
Um dos enfocados no Pé na Porta, Digo Menezes, foi capa de nossa edição número 3.
Amigos dos 90
E
m 1991 surgia a nossa revista Tribo Skate, em meio ao turbilhão econômico enfrentado no Brasil pelo ‘esquisito’ plano econômico lançado pela equipe do então presidente da República Fernando Collor de Melo, liderado pela ministra da economia Zélia Cardoso de Melo. Ao confiscar a poupança de parte da população brasileira, incluindo aí os empresários do skate brasileiro e uma geração de skatistas, o governo puxou o freio de mão do progresso e evolução do mercado que estava prestes a explodir. Porém, se o lado comercial teve o freio puxado, a paixão pelo skate não se abalou com os desastres econômicos do nosso país e quem seguiu em cima do skate, o fez por amor a tudo o que dizemos e mostramos nas páginas da Tribo Skate mensalmente. Os amantes do skate naquele período foram assumindo postos que ficaram vagos em meio àquela loucura. Se não havia marcas, quem estivesse com o skate criava uma; se não havia eventos, skatistas se uniam e criavam eventos; se não havia muitas pistas, os skatistas criavam obstáculos e colocavam na rua além de, posteriormente, utilizarem ainda mais os obstáculos naturais skatáveis, principalmente nas regiões centrais das capitais e cidades de todo o Brasil. Consequentemente essas novas marcas precisavam anunciar, os eventos precisavam ter uma cobertura (naqueles anos era quase impossível um veículo não especializado querer mostrar o que sobrou do skate) e, principalmente, as manobras daquela ativa geração precisavam ser registradas para a posteridade e se fazia necessária a criação de uma revista especializada de skate. A reunião de um time com experiência em publicações extintas sobre skate fez surgir a Tribo Skate que, desde então, levantou a bandeira de manter a chama do skate brasileiro sempre acesa. Assim foi e assim está sendo: todos os meses, a paixão unida à vontade e necessidade de registrar e documentar tudo referente ao universo do skateboard, é trazida nessas páginas.
* Sandro Soares “Testinha” é o cabeça da ONG Manobra do Bem, em Poá, SP.
94 | TRIBO SKATE setembro/2013
Para sacramentar esse período heróico do skate brasileiro, está sendo apresentado no Canal Off (tv por assinatura) a série “Pé na Porta”, reportando fatos, momentos, histórias e, claro, muitos registros desse período pré internet, com várias imagens ainda em VHS, portanto raro de se encontrar na rede, com depoimentos de skatistas que já passaram pelas páginas da Tribo Skate, seja como editores, colunistas, colaboradores, anunciantes e, mais uma vez, com o principal motor disso tudo: as sessões de skate. Um registro digno e fiel da geração que revolucionou o skate, como diz a chamada do programa, e indo além de nossos já mundialmente conhecidos campeões mundiais de skate, que incluem grandes personagens do skate, eventos e figuras peculiares de nosso estilo de vida. Assistindo a um dos episódios, concordei de cara com o depoimento do skatista, músico e artista plástico Alexandre Cruz “Sesper”, ou Farofa, da banda Garage Fuzz, que disse que costumamos a falar dessa época com certo saudosismo, mas que se formos ver bem mesmo era tudo uma grande roubada, o desafio de fazer toda a cena do skate acontecer. Com certeza, essa declaração me faz sentir mais orgulho e sensação de heroísmo por parte de todos que, de alguma forma, ajudaram o skate a se manter firme no Brasil. Citar nomes aqui com certeza seria injusto pois poderia me esquecer de alguém, portanto assista à série na tv, ou tenha acesso a alguém que tenha o acervo de Tribo Skate em casa; veja quem já estava por lá fazendo o skate acontecer e se tiver vontade e achar válido, reconheça a importante colaboração dada por cada um que já ilustrou as páginas dessa revista. Quando ver alguma foto de algum skatista profissional ainda na ativa, que contém geralmente na legenda alguma referência ao seu tempo de skate, subentenda que esse skatista que manobra com satisfação e amor até hoje fez parte de um período do skate no Brasil que nos possibilita usufruir de qualquer coisa legal que o skate nos oferece até hoje. Parabéns Tribo Skate e toda essa geração!
APOIO CULTURAL
skateboarding militant // por guto jimenez*
Uma certa tarde em 1988 Marcelo Mug
G
uto, você é um cara divertido e não é muito imbecil... Eu vou aquecer e correr na próxima bateria, então – segura a locução por uma meia hora até eu voltar aqui pra cima de novo, ok? A frase acima foi dita pelo Marcio Tanabe, que organizou um campeonato na Ladeira da Morte em plena era de proibição do skate na cidade de São Paulo. O evento estava pegando fogo, ele era o responsável pela locução e também iria participar da disputa; eu até achei graça do “não é muito imbecil” ao se referir à minha pessoa, e não tive tempo nem de pensar muito ou de ficar nervoso. Detalhe: a tal “meia hora” dele acabou sendo mais de uma hora, algo normal pra quem também estava por trás de tudo que tinha a ver com a disputa. Foi dessa forma que começou a minha carreira de locutor de eventos de skate, em primeiro lugar, e de outros esportes de ação por consequência. No ano seguinte, eu e o Luiz Calado dividimos as tarefas de locutores e comentaristas pra TV Cultura do circuito brasileiro pela extinta UBS, tarefa que assumi sozinho a partir do ano seguinte. Em alguns eventos menos estruturados na era das vacas magras (de 90 a 93), acumulava a função de locutor com a de juiz e, às vezes, até mesmo como anotador das notas - sem falar nos textos e fotos que produzia aqui pra Tribo Skate... Muita água se passou debaixo da ponte. Hoje em dia, 25 anos depois, já participei como locutor em mais de 200 eventos. Posso dizer que já vi e passei por inúmeras experiências, todas elas válidas mesmo sendo negativas na época; de um campeonato à beira da praia que teve de ser encerrado precocemente (evacuando as 3.000 pessoas das arquibancadas lotadas) por conta da virada de tempo, a outro num ginásio municipal que terminou com porradaria entre skatistas e seguranças... Num outro evento ao ar livre, uma queda de energia fez com que o sistema de som não funcionasse e o campeonato só não acabou graças a um megafone arrumado sabe-se lá onde. Entre muitas histórias curiosas e outras nem tanto assim, tive a honra e o privilégio de ver inúmeras gerações de skatistas de vários países desfilarem seus melhores repertórios bem à minha frente, em todas as modalidades que você possa imaginar. Até onde eu saiba, sou o único brasileiro que já fez etapas internacionais em nosso país dos circuitos de todas as entidades mundiais de skate que existem por aí: WCS (street e vert), IGSA (speed), ISSA (slalom em Interlagos), IFSA (dois mundiais de freestyle). Ainda estão faltando as recém-criadas IDF (mais uma de speed) e a ILDSA (de provas no estilo “push race”), mas eu ainda chego
lá! Meu amigo Dave Duncan, locutor oficial da WCS, já me falou que eu talvez seja o único no planeta que reúna essas características, um fato que logicamente me traz orgulho mas que não faz a menor diferença na hora do “vamos ver”. Os eventos de skate me levaram a outras experiências curiosas, como fazer a locução de um evento de snowboard no Chile sem estar programado pra tal (!), algumas provas do circuito de wakeboard (!!) e até mesmo uma prova de arrancada no Autódromo de Jacarepaguá (!!!). Também me levaram a produzir e apresentar programas em emissoras de rádio, uma outra paixão profissional que vem desde antes da carreira de locutor a qual estou prestes a retomar, só que via webradio. Mas isso é uma outra história... Há alguns anos, abri mão de fazer eventos formatados pra serem exibidos por emissoras de tevê. Só quem está por trás da locução de um evento desses pode dizer como a experiência pode ser estressante, sem falar na politicagem às vezes nojenta que rola nos bastidores. Muitas vezes, o cachê sempre muito atraente ficava barato diante de tanta palhaçada que tinha de presenciar e com a qual precisava me calar, algo que não era nem um pouco prazeroso. Atualmente, faço os eventos que quero e dou preferência àqueles que trazem algo mais ao cenário do que simplesmente bons índices de audiência às emissoras de tevê. Acima de tudo, faço os eventos nos quais eu tenha a certeza de que irei me divertir – essa sim, a condição inegociável em qualquer coisa relacionada ao skate. Toda essa história só foi possível graças ao pedido de um amigo numa certa tarde em 1988... Moral da história? Siga seus instintos – e, principalmente, divirta-se sempre que for possível!
APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.
96 | TRIBO SKATE setembro/2013
Ficou pra próxima
Jamie mosberg
Anunciamos que o Bob estaria nesta edição com suas novas superações, mas no decorrer da produção, decidimos adiar para a próxima. Skatistas profissionais são exigentes com o resultado de seu trabalho e a Tribo Skate se identifica totalmente com isto. Aguarde apenas mais uma edição e mergulhe com mais qualidade na terra dos sonhos, a Dreamland, de Bob Burnquist.
AMERICAN SKATEBOARDS
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