Tribo Skate Edição 219

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William Damascena * Zumbis Do espaço * mapa Da míDia * leonei mart

Zion tour

De Tel-Aviv A Birigui

anDré cyWinski

A CulTurA DA exPlosão

anDerson lucas

resgATe nA CT

matriZ skate pro

A fesTA Do iAPi

boarDs embarcaDos danilo Cerezini, flip nbs Ano 23 • 2014 • # 219 • r$ 9,90

umA TriP PelA euroPA De moTor Home

beto carrero WorlD

Diversão Ao QuADrADo

www.triboskate.com.br










índice // janeiro 2014 // edição 219

especiais> 32. Matriz skate pro: A festA do IAPI 38. entrevista pro: André CywInskI 46. zion tour: Conexão tel-AvIv - BIrIguI 58. entrevista aMador: Anderson luCAs 68. d’Mala & Board: A euroPA de Motor HoMe 76. Beto carrero World: dIversão Ao quAdrAdo seções>

edItorIAl ....................................................................12 ZAP ..................................................................................16 CAsA novA ...................................................................84 Hot stuff.....................................................................90 ÁudIo: ZuMBIs do esPAço ......................................92 skAteBoArdIng MIlItAnt ......................................94 JPg + Mov .....................................................................96 Capa: No mundo do skate técnico ele é um Rei, sempre apresentando algo novo, diferente, muitas vezes até difícil de compreender. Não é à toa que Danilo Cerezini cresce se envolvendo com várias marcas legais, atraindo uma legião de seguidores ao longo dos últimos anos. Essa nova capa do profissional é um grande momento de sua carreira, quando novos pro models chegam ao mercado. Flip nose blunt slide, Ca/EUa. Foto: Fellipe Francisco ÍNDiCE: O trajeto apertado na calçada antes do viaduto foi percorrido por Bruno placca com a alça de mira de seu eixo da frente no cano verde. Sem descuidar do belo automóvel na rua, levou seu crooked ao máximo. Foto: Rafael Bassildo

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editorial //

2014 Por Cesar Gyrão // Foto Manoel Martins

B

em-vindos! Embarcamos neste ano repletos de boas expectativas com nosso objeto do desejo, o skateboard. Um ano movimentado, com Copa do Mundo de Futebol e Eleições. Mesmo que você não queira se envolver tanto com um quanto com o outro evento, tudo em sua volta vai estar contaminado. No caso da Copa, os preços mais altos das passagens aéreas, a falta de quartos nos hotéis, as prováveis manifestações, a torcida em qualquer botequim. No caso das Eleições, como sempre, a propaganda política, os debates, as prováveis manifestações (anota aí), as obras aceleradas e inaugurações eleitoreiras, etc, etc. Para o skate o ano já decola em janeiro com a primeira etapa do Mundial de Bowl no Brasil, evento que substitui o tradicional Rio Vert Jam. Novos pros são anunciados, novas marcas gringas aterrizam no país, marcas brasileiras reagem evidenciando o que fazem, novos skateparks surgem aos montes, mais escolinhas, mais prefeituras e governos abrindo os olhos para o skate, mais anunciantes de todos os tipos de produtos se utilizam da imagem do skate. Será que teremos novamente o Brasil Skate Pro (o circuito de street da CBSK)? E o Circuito Banco do Brasil (válido pelo ranking brasileiro de vert pro também CBSK?). Quantos novos vídeos serão lançados? Expectativa enorme para títulos como o Do Rio, do Pedro Macedo. O Red Bull Skate Generation já tem reserva de data. Muitos profissionais e amadores já planejaram suas viagens internacionais. As marcas que criaram seus eventos diferenciados, tours e lançamentos de produtos deverão repetir a dose. As feiras Adventure Sports Fair e URB prometem e merecem crescer. Se o balanço de 2013 foi bom para muitos, esperamos que 2014 seja mais equilibrado e melhor para todos. Principalmente para quem sempre fez pelo mercado e pelo esporte, para quem plantou e tem o verdadeiro merecimento de colher bons frutos, sucesso, grana e reconhecimento. Um ano menos egoísta para todos. Vamos olhar para o parceiro ao lado!

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Em 2013 o Evandro Martins foi capa da edição 210, de abril. Mais para o fim do ano ele teve outro belo momento de seu skate registrado, no evento Vans Downtown Showdown em Paris. Para iniciar 2014, o fotógrafo Manoel Martins Neto e ele entram com este momento particular no pico largado. Switch crooked zing pow!



ANo 23 • JANEIRo DE 2014 • NÚMERo 219

Editores: Cesar Gyrão, Fabio “Bolota” Britto Araujo Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Arte: Edilson Kato Redação: Junior Lemos Colaboradores: Texto: Alessandro Mcgregor, Fernando Gomes, Guto Jimenez, Helinho Suzuki, Leo Gussi, Marcelo Mug Fotos: Ana Paula Negrão, André Viana, Chores Rodrigues, Fellipe Francisco, Fernando Gomes, João Brinhosa, Julio Detefon, Leo Gussi, Manoel Martins, Marcelo Mug, Pedro Macedo, Rafael Bassildo, Rafael Sevilha, Renato Riani, Ricardo Kafka, Rodrigo K-b-ça, Thomas Teixeira

JB Pátria Editora Ltda Presidente: Jaime Benutte Diretor: Iberê Benutte Administrativo/Financeiro: Gabriela S. Nascimento Circulação/Comercial: Patrícia Elize Della Torre Comercial:Daniela Ribeiro (daniela@patriaeditora.com.br) Cibele Alves (cibele@patriaeditora.com.br) Fone: 55 (11) 2365-4123 www.patriaeditora.com.br www.facebook.com/PatriaEditora Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações - Anatec

Impressão: Ipsis Gráfica e Editora Bancas: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. Rua Teodoro da Silva, 907, Grajaú Rio de Janeiro/RJ - 20563-900

Distribuição Portugal e Argentina: Malta Internacional

Deus é grande! São Paulo/SP - Brasil www.triboskate.com.br E-mail: triboskate@triboskate.com.br

A Revista Tribo Skate é uma publicação da JB Pátria Editora. As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista. Dúvidas ou sugestões: triboskate@patriaeditora.com.br



O som do verão Alegria, descontração e boas energias são alguns dos vários benefícios que o violão traz, seja para a pessoa que o dedilha, seja para o ambiente no qual a música se propaga. Conectada com tudo aquilo que a juventude está de olho, a Mormaii lança série completa de violões, com tamanhos e cores variadas. São instrumentos que aliam inovação e qualidade com design original e grafismos personalizados. Perfeitos para quem curte um lifestyle livre e descomprometido! Mormaii.com.br / 0800 644 7711

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RepRodução

03 dIvulgação

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ana paula negRão

RepRodução InstagRam

Ano novo, novos patrocinadores e skatistas subindo o degrau das categorias no skate! [01] Rony Gomes começa 2014 com a novidade de representar a Santa Cruz Skateboarding Brasil. • Rodrigo Maizena também inicia o ano com novas parcerias e a expectativa lá em cima: assina contrato com a marca sueca Tip Technology, que já conta com William Damascena como profissional da marca, e também com a Qix Internacional, que também é o novo patrocinador do Damascena. Além disso, Maizena coloca no mercado sua própria marca de rodas, a FPS (feito por skatistas), já com pro models dele próprio e do parceiro de rolê Diego Korn, e também monta sua marca de shapes, a Firewalker, que estreia com o pro model do Elton Melonio. E as novidades não param por aí: para o segundo semestre Maizena promete a vinda de mais novas boas notícias! • Destaque em pauta nesta edição, André Cywinski também coloca na rua pro model de shape pela Cityline. • [02] Stanley Inacio está felizão com o recente lançamento de seu mais novo model de shape, que já está à venda pela Nineclouds. Também não seria por menos, são três estampas e quatro tamanhos para agradar a todos os estilos. Além do Stanley, a família Nineclouds conta ainda com os amadores paulistas André Godoy Delolo (Araras), Jonatas Souza (Piracicaba) e Diogo Vilela (São Paulo). facebook.com/nineclouds • Falando agora em novos pros, Samuel Jimmy, Jeferson Bill, Leonardo Spanghero, Akira Shiroma, Caique Silva e Jhony Melhado são os nomes que já foram divulgados como profissionais em 2014. Alguns outros ainda não podem ser revelados, mas a lista é extensa! • [03] Novidade no mercado! A distribuidora KRNK Concepts traz para o Brasil com exclusividade a representação da Andale Bearings, marca de rolamentos dos profissionais Paul Rodriguez e Joey Brezinski. • [04] O profissional radicado nos Estados Unidos Marcos Maciel tem pro model lançado pela Fifth Avenue Skateboards (5th Ave), marca que conta com um respeitável time formado por Steven Cales, Chad Fernandez, Bobby Izzo, Lavar McBride e Nick Savoca (amador). fifthavenueskateboards.com • [05] O tricampeão mundial Kelvin Hoefler não teve descanso durante suas breves férias no Brasil! Colocou a mão na massa e construiu a Skate Club pista coberta que fica em sua cidade natal, Guarujá, litoral paulista. A ausência de uma pista de skate no município motivou o skatista, em parceria com o amigo e vice-presidente da Associação de Skate de Guarujá (ASG), Alyson Barreto, a construir o centro de treinamento que leva seu nome. facebook. com/skateclubguaruja • [06] Gold Rail é a mais nova marca de skate do Rio de Janeiro. Especializada em shapes e bonés, sua primeira coleção traz um conjunto com nove desenhos de estilos diferentes, desenvolvidos pelos artistas urbanos Bruno Zagri e Ygor Barros. A marca é representada pela Digital Distribuidora, também responsável pela distribuição no RJ das marcas Connexion Wheels, Fat’s Wood, Zion e Zika. • A Ong Social Skate, de Sandro Testinha e Leila Vieira, foi declarada pela Câmara Municipal de Poá como de Utilidade Pública, o que facilita o processo de conseguir benefícios e vantagens concedidas às demais entidades assim reconhecidas. O projeto de lei foi aprovado por unanimidade.

RepRodução InstagRam

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Felipe, Gabriel, Marbal.



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A primeira vez na Califa PoR mais que muitos já tenham desbRavado este RoteiRo, semPRe é uma GRande motivação sentiR o entusiasmo de quem faz uma viaGem PaRa a CaLifóRnia PeLa PRimeiRa vez. faz ainda mais sentido quando a aLeGRia que estes amiGos de são beRnaRdo do CamPo e ReGião, fazem isso juntos. o ReLato de Leo Gussi é um Convite PaRa quem ainda não fez sua PRimeiRa tRiP, ou até PaRa quem está demoRando PaRa voLtaR. POr Leo Gussi // FOtOs Leo Gussi e RafaeL seviLha Ir para a sessão de skate e registrar algumas manobras já se tornou algo comum nos dias de hoje, graças ao avanço da tecnologia. Reunir um grupo de amigos cheios de ideias para produzir as melhores imagens e poder colocar isso em prática é algo que alimentava meus sonhos, pois é aquele tipo de coisa que sabia que ficaria marcado para sempre, ainda mais quando se fala em Califórnia. Formamos um grupo de seis amigos decididos a realizar algo entre nós, e achamos que o resultado dessa aventura foi tão legal que resolvemos compartilhar, para motivar você fazer o mesmo com seus amigos e vivenciar experiências semelhantes. Nosso destino inicial foi conhecer Venice Beach, um dos points mais antigos do skate. Dois dos integrantes dessa viagem já moraram em Costa Mesa por um tempo e se encarregaram de nos levar a alguns picos clássicos, promovendo um colorido para nossa trip. Venice é uma praia cheia de atrativos para turistas, onde foi construído mais recentemente o belo skatepark na areia. Nos sentimos em casa. O skate é uma parte de nós, pulsando em nosso coração, correndo por nossas veias e explodindo em nossos pés. Não ficamos muito tempo por ali, pois queríamos conhecer o mundo do skate “lá fora” e o tempo corria implacável. Estávamos ansiosos, mas passar por Venice e conhecer sobre a história do skate, ampliou nosso amor por esse estilo de vida. Um dos integrantes do grupo era o Rudi (Garofali), que nos contou um pouco sobre a cultura do carrinho naquelas bandas. Soubemos assim que em uma época de seca no estado, toda casa que possuía piscina tinha que ter a sua esvaziada, e que algumas eram skatáveis. Tivemos a oportunidade de comprovar isso na prática, pois o Rudi nos levou até uma casa com uma pool acessível. Não é época de seca lá, mas a piscina continua vazia e a proprietária da casa cobra U$ 5,00 por pessoa apenas para andar de skate, e para gravar manobras a galera paga U$ 50,00 e pode passar o dia inteiro no seu quintal. Foi animal a sensação de andar de skate em uma real pool e foi engraçada a reação da galera quando vimos numa revista gringa um anúncio do Tony Hawk na mesma casa que andamos! O clima na Califórnia estava bem quente e isso não foi nenhum desafio, pois a vontade de andar só crescia quando chegávamos nos picos. Ainda mais nos clássicos, como o ditch da 605. Passar o domingo andando de skate na Radio Korea e encontrar vários skatistas adrenando na sessão, como Josh Kalis, Trevor Colden e Torey Pudwill, não tem preço. Nos Estados Unidos as lojas têm uma grande variedade de produtos, não só nas skateshops. Você entra em uma loja que vende bebidas e encontra umas 20 variedades de energéticos, cervejas, sucos, refrigerantes e chás. No começo, fiquei meio encanado como seria para nos alimentar; imaginei que iríamos comer hambuguers todos os dias, mas graças ao estilo americano ou a imigração, lá tem comida para todas as culturas. Depois de 10 dias de viagem, quatro dos nossos voltaram para o Brasil. Nesta hora, eu e o Sevilha estávamos assustados pois diziam que sem um carro iríamos ter dificuldades, os picos eram distantes e seria muita canseira. Realmente, sempre que entrávamos no carro para ir em algum pico, era cansativo,

William Sergio, fs bluntslide transfer.

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mesmo com o sistema das freeways que lá existe. Por sorte ou merecimento, conheci o Rudá Lopes, que mora lá há muito tempo e nos contou sobre o site www.skatespotla. com. Fizemos o cadastro nesse site e tivemos acesso a 1.000 picos de skate na cidade, com fotos e direção de como chegar. Com duas bicicletas emprestadas, escolhemos alguns picos na net e saímos para a sessão. Pedalamos para caramba com os skates amarrados nas bikes e encontramos vários picos legais para manobrar. Fomos também para Huntington, onde tem um pier e uma cultura local irada. Acho que nas moradias de lá os garotos não têm uma bola de futebol como aqui no Brasil; imagino que todos têm uma prancha e um skate - faz parte da vida dos caras conviver com pranchas. Até a decoração do restaurante que paramos para comer era cheia de shapes e posters de skates autografados. A visão do pôr do sol no pier de Huntington é algo alucinante. Nesses dias que passamos a mais, encontramos com outros brasileiros que moram lá já faz um tempo, e notei uma coisa de diferente neles: acho que o fato de passarem um período de adaptação do idioma, os caras prestam muita atenção quando alguém fala, sem contar que o lifestyle deles é animal. Para você ter uma ideia, o Anjinho (Fabio Frugis) me levou para a sessão em San Diego, na casa do Mancha. Ele tem um half pipe no fundo de casa e a sessão estava pegando fogo. O Ueda voava alto, o Léo Ruiz girou vários tipos de flips, sem contar que fomos muito bem recebidos pelo dono da casa. Depois que o Anjinho fez as dele no half, nos levou para uma pista nova em Oceanside e, na boa, os gringos sabem fazer um lugar para andar de skate! A pista é pesada! Uma viagem combina com surpresa e dessa vez tivemos uma que foi surreal. O Kbssa, que é outro brasileiro que mora lá, viu nossa pegada de produzir e disse que tinha um pico irado para fotografarmos e que nos levaria no domingo. Eu e o Sevilha topamos sem pensar duas vezes. Entramos no carro e depois de umas duas horas de estrada olhei para os lados e tive a impressão que estávamos cruzando algum deserto, aí o Sevilha soltou - “e aê Kbssa, aonde você está nos levando, irmão?”; o Kbssa olhou para ele e disse “para Vegas, playboy!”. É isso mesmo: cruzamos o Deserto de Mojave, que foi onde aconteceu muita coisa da história de Velho Oeste que conhecíamos assistindo a filmes de Bang Bang. Descobri que os cassinos em Las Vegas foram criados por traficantes de álcool em uma época que o mesmo era proibido nos Estados Unidos, com exceção do estado de Nevada. Lá não é proibido jogos nem álcool e foi aí que pessoas famosas como o bandido Alcapone construíram seus cassinos para lavar o dinheiro que vinha de seus “business” escusos. Las Vegas é irada, melhor ainda se você for com grana, o que não era o nosso caso. Mesmo assim, nos divertimos muito. O skate me motivou a cruzar fronteiras. Graças a ele tenho muitos amigos, vivi bons momentos e tive sensações inesquecíveis. Ir para a Califórnia foi a realização de um sonho. Conhecer Las Vegas estava além das expectativas. Nessa trip fiz novas amizades, tive ótimas experiências e o aprendizado que trouxe de lá faço questão de passar adiante. De verdade, espero ter motivado você a viajar com seus amigos que andam de skate para qualquer lugar que tenha vontade. E acredite que pode ser melhor do que imagina. Go board!

Rudi, bs smith.


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Leo Gussi, stale fish.

Jo達o Paulo, feeble.

Rafael Sevilha, boardslide.

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A baleia sumiu Na última edição, a legenda do Índice com a foto do Bruno Arruda prometia uma foto de um monumento em forma de baleia mais adiante. Acontece que o grande mamífero de concreto armado pintado de amarelo vivo sumiu. O fotógrafo Renato Riani e Bruno folhearam a revista várias vezes atrás da foto, assim como deve ter acontecido com vários outros leitores. O orla de Bertioga, no litoral de São Paulo, além de boas pistas está recheada destas esculturas. Antes mesmo do verão bombar, eles conseguiram fazer este e outros registros bem estilosos. Bruno Arruda, heelflip to fakie.

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Renato RIan

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ChoRes RodRIgues

LeONeI MArt

Manobrando pelas ruas de Sorocaba (ou de qualquer outra cidade do Planeta Terra) Leonei Mart certamente está com a pensamento em estado alfa. Basta passar os olhos na diversidade e na classe das 20 músicas que ele indica como sendo as mais tocadas em seu mp3 player. E desta vez pedimos também cinco capas de disco que ele considera naipe. Confira! Josey Wales, Love I Want Roots Manuva, Lick Up Ya Foot Spit Supreme, I’m Doing My Thing Murs, Democrossy Elusive feat. Planet Asia, Last Bar Roc Marciano, Nothin’ Lesser (MWP remix) Havoc feat. Lloyd Banks, Life We Choose Epidemic, Dope Fiendz Rapsody, Believe Me Slade Savage, War Stories

Raekwon feat. Beanie Sigal e Blue Raspberry, Have Mercy The Pharcyde, Y (Jay Dee remix) Buckshot LeFonque, Music Evolution Gallery Drive, Darkest Hour Cru, That Shit Dumhi, The Knife ft Burke The Jurke and Reef The Lost Cauze Snowgoons Savage Brothers, Smoke e Mirrors Aceyalone feat. Abstract Rude, Deep And Wide Aero-K (of the Troubadours) feat. Ego, Survival of the Sickest Killah Priest, Developing Story

Leonei Mart (Freedom Fog, Wood Light Decks e Radical Sport Wear)

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Alexandre Grecco participou em 2011. Agora como profissional convidado, nosegrind to fakie com proteção da GCM.

Mapa da Mídia

Prefeitura de são Caetano do sul libera suas ruas para as sessões POr aLessandRo mCGReGoR // FOtOs RiCaRdo KafKa Qual o sonho de todo skatista quando procura um pico de rua para andar? Acredito que para a maioria é, em primeiro lugar, que o local esteja liberado para andar, sem nenhum perigo iminente, seja esse relacionado à segurança ou à repressão das autoridades. Nos dias de hoje, os skatistas estão sempre andando com caros equipamentos de fotografia e vídeo, e por conta disso tem aumentado expressivamente o número de roubos a eles. A repressão das autoridades é principalmente nos lugares onde a prática do skate é proibida. A fórmula perfeita de poder andar em um lugar com total segurança, sem nenhuma proibição é algo quase que inatingível. Digo quase, pois pela segunda vez, a Prefeitura Municipal de São Caetano do Sul está autorizando a fotografia em sua área urbana, onde o skatista tem plenos direitos sobre os picos de rua da cidade. Na primeira edição, produzida em 2011, o Mapa da Mídia realizou um trabalho na cidade com o intuito de apresentar novos fotógrafos e skatistas para o mercado do skate, trabalho que desencadeou mais visibilidade para os envolvidos. O sucesso foi tão grande que foi feita a transição política na cidade, através da troca de partidos, mas o interesse no projeto permaneceu, e novamente seus idealizadores foram convidados a retornar à cidade e realizar uma nova edição, o Mapa da Mídia II. Em um formato atualizado, convidamos alguns participantes da edição anterior para se juntar a novos skatistas, os quais conseguiram o direito de participar em algumas triagens de Game Of S.k.a.t.e. e disputa de melhor manobra no palco, realizados na Estação Jovem de SCS. Rafael Moreira “Gordo”, Bruno Filgueiras, Alexandre Grecco, Alex Pitbull e Sandro Rafael são os integrantes que conquistaram esse direito. Juntaram-se a eles dois skatistas locais que participaram da primeira edição: Alexandre Calado e Felipe Félix. Na nova versão os skatistas buscam os melhores picos com autorização da prefeitura. Podiam escolher entre escolas, pistas ou qualquer outros lugares que fossem

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skatáveis, sempre com transporte e escolta da GCM. Você não leu errado: a escolta da GCM assegura que os skatistas possam andar e fotografar sem se preocupar com roubo aos equipamentos. Um trabalho inusitado, produzido em parceria com a Prefeitura de São Caetano do Sul, Secretaria de Segurança, Guarda Civil Municipal e COMJUV. Segundo Celito, assessor de eventos e projetos da Estação Jovem, esse evento tem como objetivo incentivar a prática do esporte, não só do skate, mas de todas as modalidades esportivas, fazendo um trabalho social tirando o jovem das ruas e do mau caminho. Pode parecer estranho, pois é algo incomum no Brasil uma cidade dar total liberdade para a prática do skate, mas não para Flávio Giampietro, coordenador municipal da juventude e também skatista nas horas vagas: “O Skate hoje é um dos esportes mais praticados no mundo, e no Brasil ele está ganhando cada vez mais força, sendo um dos países com o maior número de profissionais e amadores do esporte. E a COMJUV – Estação Jovem, é uma das maiores apoiadoras do esporte, desde 2008, quando foi inaugurada. Já tivemos em 5 anos dezenas de campeonatos, desde o amador até o profissional, oficinas de skate para crianças, jovens e adultos, skate dentro das escolas, oficinas nos bairros e nas ações da cidade, slide e donwhill em parceria com o coletivo Carvera Downhill, exposição no shape (exposição em parceria com Cityline, quando 14 shapes foram customizados por 7 artistas da cidade), exposição de shapes em formato de caixão em parceria com a SickMind. Para nós, realizar novamente o Mapa da Mídia, tem muito a ver com a proposta da cidade e todos os projetos que têm sido realizados, incentivando a prática do skate.” Assim como na primeira edição, a Tribo Skate novamente está presente nessa segunda fase mostrando um pouco do que rolou no Mapa da Mídia II, nas lentes de Ricardo Kafka, fotógrafo que começou sua atividade na primeira edição e ao longo desses dois anos tem mostrado sua evolução fotográfica através de seus trabalhos seja no skate, ou em outras áreas da arte.


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Rafael Moreira “Gordo”, crooked.

Alex Reis, heelflip varial no big three.

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zap //

diz o ditado que visto de PeRto ninGuém é noRmaL, se foRmos tRazeR esta máxima PaRa o instaGRam, diRíamos que visto de LonGe o insta Pode não PaReCeR o que é. PoR isso, na CoLuna deste mês, tRazemos aLGumas imaGens que bRinCam Com nossa mente atRavés das CoRes e foRmas. afaste a PáGina dos oLhos e deixe sua imaGinação manobRaR!

A

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F A. @flaviosamelo B. @fellipefrancisco C. @wagnerprofeta D. @igor_morozini E. @willdias F. @fabiotirado G. @coutinholeo H. @instagrau_

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RepRodução

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A série de livros infantis // POr CesaR GyRão

Fotos dIvulgação

Recentemente tivemos o prazer de divulgar aqui no Zap o livro Manual do Skatista Cidadão, do Vinicius Patrial, o Cebola, com ilustrações de Jimmy Leroy e vínculo com a banda de músicas para crianças liderada por Arnaldo Antunes, o Pequeno Cidadão. Nesta edição, trazemos também com prazer um novo título, desta vez do Rio Grande do Sul. Trata-se do Tatan, Vida de Skatista, do Frederico Manica, com ilustrações de Tora. Recebi o livro em Viamão, durante o evento da Swell, no fim do ano passado, e nesta edição posso compartilhar com vocês. Indicado para crianças entre os 7 e 13 anos, o livro faz parte de uma coleção “As aventuras radicais da turma da Florinda e Florisbela” e tem a finalidade de entreter e educar. No caso do Tatan, o personagem principal é um garoto nascido em alto-mar com necessidades especiais, pois é deficiente auditivo. No entanto, com uma grande capacidade de se comunicar através de gestos, Tatan tem uma enorme energia para experimentar várias modalidades esportivas, criar amigos e aproveitar suas viagens pelo mundo. Nada muito diferente de muito skatista profissional que percorre o planeta explorando cidades e pistas e divulgando para seu público. O livro trata da inclusão social tão evidente nos dias de hoje proporcionada pelo skate e por outros esportes de ação. Com apoio da DonnaLy Bijuterias e Acessórios, Banx Bar, Loja e Pista, Swell Skate Camp e Escolinha Swell de Skate, o Tatan já deve estar provocando muitas reações entre amigos e educadores que estão tendo acesso ao livro. A proposta de interação extrapola o livro, que sugere brincadeiras e diversões complementares com seus personagens. Livros e áudio-livros da coleção podem ser encontrados em livrarias e lojas especializadas, mas se você quiser adquirir o seu ou participar das brincadeiras, visite o site: www.florindaeflorisbela. com.br ou mande um email para tatan@florindaeflorisbela.com. br. (Pedidos deste livro para Cinco Continentes Editora LTDA 5continentes@5continentes.com.br - 51 3264 1377)

Sessão de skate na quadra e projeção na parede em Santa Cruz de Minas.

Custom skt art e o Via // POr CesaR GyRão A nova coleção da marca mineira, conta com uma homenagem a uma brincadeira antiga da Tribo Skate, quando utilizávamos um texto que vinha antigamente na borda das revistas, em fontes diminutas, com valor diferente do preço de capa para regiões distantes do país. Para uma lista de capitais como Rio Branco/AC, ou Porto Velho/RO, os malotes de revistas iam “Via Aérea” e esse custo era repassado para os leitores. Desta forma, em nossa edição número 3, passamos a adotar o nosso próprio Via, com ênfase no “nonsense”. Costumávamos ver pessoas antes de abrir a revista, virá-la para ler o Via. Nas palavras do Tito, skatista e proprietário da Custom, a marca lançou sua coleção reverenciando esta e outras lendas do skate brasileiro: “Para lançar nosso zine super especial que conta com entrevista do grande Cesinha Chaves, além da oportunidade de ter pela primeira vez o mestre Cesar Gyrão falando sobre o (VIA), colaboração de fotografia de ninguém menos que Flavio Samelo, pensamos em fazer algo novo e trabalhamos em uma projeção mapeada em Juiz de Fora/MG, cidade super importante na concepção da Coleção Back to Flow 014 que rege todas estas ações, que incluíram além do zine e da projeção, um vídeo conceito com foco no que realmente importa no skate: a diversão, a fluidez, as amizades. Com um clima nostálgico a CST apresenta uma coleção totalmente ligada ao lifestyle do skate e influenciada pelo passado e pela água? Ahn, skate e água? Haha, nada a ver tio!” 2014/janeiro TRIBO SKATE | 27


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WILLIAM DAMAsCeNA RefeRênCia PaRa sKatistas de Cotia e ReGião, damasCena também está em evidênCia em todo o bRasiL e no mundo afoRa, taLvez PeLa Constante fRequênCia na inteRnet Com seus exCeLentes vídeos de sKate, ou PeLa simPLiCidade que Lida Com as Pessoas no seu dia a dia. se as manobRas que eLe exeCuta já imPRessionavam, imaGina aGoRa que entRa em 2014 Com fôLeGo Renovado Com novos PatRoCinadoRes e um PLanejamento anuaL Com váRias ações. se voCê tem aLGuma dúvida sobRe o PouCo que foi esCRito PaRa aPResentá-Lo no Linha veRmeLha, então Leia atentamente às ResPostas abaixo.

WilliAm DAmAsCEnA AsCEnA WilliAm DAmAscenA AscenA 27 Anos, 12 De e skAte A Ate PAtrocínios: Qix internAcionAl, cionAl, Prosk8 scAnDinAviA, BlAck ck sheeP, P P, GoBBy trucks e horDem em Wheels. instAGrAm e tWitter: @DAmAscenA01 scenA01 fAceBook.com/DAmAscenA01 scenA01

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você pela consideração. Eu fiz esse vídeo primeiramente para mostrar que na época eu tinha saído dessa marca de tênis. Daí pensei: como eu poderia mostrar isso de uma forma diferente? Daí um belo dia, fazendo uma sessão na praça Dina, bem no final do rolê eu já estava cansado e tirei os tênis para ficar de boa e relaxar. Do nada levantei, subi no skate e dei uma manobra. Foi daí que veio a ideia de fazer um vídeo dife diferente, só usando meias. Foi divertido, ralou um pouco o dedinho mas agora, graças a Deus, eu não preciso andar de meias: a Qix veio para cobrir meus pés (risos)! • Vi seu vídeo de pedido de casamento. Qual seria sua reação se sua namorada tivesse falado não? (Jonas Ursolino de Lima, Guapirama/PR) – E aí, Jonas! Se ela tivesse falado não a casa ia cair pro meu lado, hahaha! Mas graças a Deus deu tudo certo, ela disse tristeSIM e estamos firmes e fortes, para triste za de uns e alegria de muitas pessoas que torcem por nós. ve• Valeu a pena ter invadido várias ve zes o aquecimento de outras baterias no Circuito Maremoto? (risos) Tinha que ficar corretirando você da pista, mas valeu. Você é corre ria! (Victor Luiz Ferreira, Barretos/SP) – Opa, Victor. Acho que você se confundiu, hein! semSe pá era o Maizena que fazia isso, porque eu sem dispre fiquei de boa esperando minha bateria na dis ciplina, hahaha. Saudades da época de colar pro interior dentro de um busão por no mínimo 6 horas, ‘infestado’ de skatistas e infernizando o motorista até chegar na cidade. • Gostaria de saber o que você mais aprendeu andando de skate. (Guilherme Freitas, Cotia/SP) – Andando de skate eu conheci um outro mundo e aprendi a ter outra visão de todas as coisas! Aprendi a expandir minha mente onde coisas que pareciam impossíveis se tornaram possíveis; aprendi a respeitar a diversidade das pessoas; aprendi a amar loucalouca mente um pedaço de madeira com lixa, oito ‘roli ‘rolimãs’, quatro pedaços de uretano e dois tecos de metal. Descobri que o mundo não é tão grande assim como todos falam; aprendi a fazer arroz soltinho; aprendi que tudo que fizer para ajudar o próximo voltará em dobro. Aprendi a editar e filmar, aprendi que sonhos se tornam realidade, aprendi que tudo que eu aprendi andando de ska skate vai ser levado por toda minha vida e que nin ninguém pode tirar isso de mim. Nos meus 14 anos andando de skate eu aprendi muita coisa e tenho certeza que vou aprender muito mais! • Você já viu algum menino andando de skate, olhou pra e ele, pensou “esse tem ta talento” e o incentivou? Se sim, como foi? (Guilherme Roberto, Itapetininga/SP) – Como eu sempre estou viajando, sempre nessas viagens tem vários meninos talentosos. Eu sempre tento ajudar com o que eu posso, não só com peças, mas também com ideias. Porque em algumas ocasiões uma palavra certa vale mais que qualqual quer coisa. JunIoR lemos

• Você aprova essa nova TIP Technology? Acha que o futuro das indústrias de shapes pode ser baseada nessa tecnologia? O que você acha que o Brasil ainda precisa pro skate ir pra frente mesmo: skateshops de verdade ou o reconhecimento do skatista? (Andrey Bueno, Passos/MG) – Para mim, está mais do que aprovada! A TIP Technology é uma “revo “revolução” em termos de tecnologia em shapes. É necessariamente o que o skatista precisa pro seu skate ter mais pop e durabilidade. A ideia é trazer a TIP para o Brasil, para ser uma nova opção para as marcas que trabalham com shapes e, principalmente, para os skatistas. Na real, Andrey, skatista precisa de um conjunto de coisas. Além de boas skateshops para mover a cena do skate na região, o skatista precisa saber onde realmente deve comprar suas peças. • Seu estilo de skate é mais street de rua, mas você curte andar em pista também? Você gosta de filmar e tirar fotos, já teve alguma parte sua em vídeo de skate? E qual foi a que você mais curtiu fazer? (Felipe Thiago de Albuquerque, Mogi/SP) – Opa, Felipe! Com certeza eu gosto muito de andar na rua, mas também gosto de andar em pista. Na verdade eu gosto é de andar de skate, não importa o lugar; o que vale é andar e me divertir. Eu sempre gostei de filmar, já tive algumas vídeo partes e a minha primeira foi no vídeo “Classe-D, Só se for D” (2009), encabeçado pelo Douglas Arruda; depois veio o Progress Skateboards Skate Promo e no ano seguinte, em 2010, o Gian Naccarato me convidou para fazer parte do Underground Style 4, onde tive uma vídeo parte com meu grande amigo Herniógenes Microfone. No ano de 2013 saíram três vídeo partes: Cemporcento Skate; Sociedade em Pânico, feito pelo Marcio Conrrado; e o vídeo da Prosk8 Scandinavia, filmado na Europa. Agora a que eu mais curti filmar é meio difícil dizer, porque eu gosto de todas. Todas foram especiais para mim; cada uma em sua época, lugar e um aprendizado diferente. Então foram todas (risos). • Para você que ralou muito como um bom amador, qual a importância em relação aos patrocinadores? Só é possível se tornar um pro tendo bons patrocinadores? O que você pode me dizer sobre isso? (André Henrique da Silva, São Paulo/SP) – Uma boa relação com o patrocinador é uma parte essencial nesse processo de profissionalização; é uma parceria onde você tem que ouvir e ser ouvido, no sentido de melhorar a marca. Pela lógica só é possível se tornar pro com bons patrocinadores porque não faz sentido uma empresa “ruim” profissionalizar um skatista e não conseguir suprir as necessidades dele. Isso seria ruim para o mercado e principalmente para o próprio skatista. • Fala, William! Primeiramente, parabéns pelo seu skate! Você saiu do patrocinador de tênis e fez um vídeo andando de skate usando apenas meias. Queria saber por que você fez isso? (Talison Policarpo, Taubaté/SP) – Falaaaaaaaa, Talison! Antes de tudo, muito obrigado a



zap //

WILLIAM DAMAsCeNA

• Em todas as vezes que você esteve fora do país, o que mais lhe chamou atenção em relação à cena do skate por lá? E como foi fazer um rolê em Barcelona e encontrar na sessão o Brandon Biebel? (Hyago Danilo Pereira, SP/SP) – Em todos os lugares que eu passei cada um tinha seu estilo de skate diferente, assim como a cultura de cada país, e é isso que me chama a atenção. Essa é a parte boa de viajar bastante, porque eu acabo absorvendo o melhor para mim, para poder evoluir como skatista e como pessoa. Barcelona pra mim é um dos lugares mais styles de se andar. Não só pela facilidade e quantidade de picos, mas parece que lá se respira skate 24 horas; é um ar que você fica pilhado para andar até as pernas não aguentarem. Eu nunca imaginei que um dia poderia andar com o Biebel! Desde moleque curtia o rolê dele e antes de cada sessão sempre via as partes dele, para sair remando e soltando manobras. Esse dia que eu o conheci foi da forma mas style e natural possível! Estava andando no Parallel, filmando, e na sequência colaram o Biebel, Cris Roberts e Kenny Anderson. Aí compartilhamos o mesmo pico e cada um incentivando o outro para voltar as tricks. • Vi que já teve muitos patrocínios e já lançou pro model! Pra você, qual a importância quando utilizamos um produto assinado por um skatista profissional? Que valores estão agregados aos produtos que levam o nome do skatista? (Moisés, Salvador/BA) – Quando a marca é uma empresa séria e que valoriza o trabalho de um skatista o pro model é a prova material da valorização do profissional. O pro model é muito importante porque é onde o skatista coloca seu estilo, o que acredita e tudo o que aprendeu andando de skate, para que o consumidor saiba que esse produto é de qualidade e que foi testado e aprovado. E o skatista que consome esse pro model estará ajudando o mercado do skate junto com o skatista que assina o material. • Atualmente existe uma polêmica interna sobre o uso da palavra “atleta”, em oposição ao termo “skatista”, que para alguns (principalmente os mais conservadores), define melhor o perfil de quem vive e pratica o skate. Onde está a raiz dessa discussão e qual a sua visão sobre isso? (Caio de Oliveira, SP/SP) – Eu acho que a palavra atleta é muito pequena para o quanto o skate representa. Atleta, ao pé da letra, se usa pra definir um competidor! Claro que skate tem competição mas não é essa a essência. Skatista está longe de ser um

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atleta, por isso esse termo é mais falado por quem não entende e não tem noção de como é o estilo de vida de um skatista. Pelo menos os skatistas que eu conheço não ficam em uma concentração, todos sérios, numerados, de uniformes, com uma dieta controlada, dormindo exatamente oito horas por dia ou tendo que mandar 50 flips por dia seguindo uma tabela, isso não faz o mínimo sentido pra mim. Eu tenho meus compromissos como skatista e tenho que sair focado em algumas missões mas nada comparado com o termo atleta. Para mim ser um skatista é liberdade, estilo de vida, andar de skate com os amigos ou até sair remando sem compromisso, subindo umas calçadas de ollie. • Sei que o seu lema é “Se você tiver um sonho corra atrás, agarre todas as oportunidades. Não fique parado esperando acontecer, vá com fé em Deus e faça acontecer.”. Com esse pensamento, que na minha opinião está perfeitamente correto - sabendo que você é um skatista nato da rua e neste caso tem que correr atrás e se desdobrar para ficar na mídia - muitas vezes você passou por alguns “perreios”. Em algum momento você pensou em desistir da carreira profissional? (Thiago Magalhães, Jundiaí/SP) – Salve, Thiago. Valeu por ter lembrado dessa ideia! Essa frase saiu na minha primeira foto em revista. Cara, é difícil não ter um skatista que nunca passou algum perreio. Já foram alguns anos de experiência nesse sentido, desde não tendo dinheiro pro ônibus indo até a polícia botar pra correr, hahaha. Principalmente quando se está começando a sair da sua área para andar em outros lugares, “mulekão” de tudo e sem muita experiência; isso contribui muito pra se cair em um bote errado. Pra ser sincero eu já entrei em umas brisas de ter que conseguir um trabalho, quando as coisas não estavam financeiramente boas para mim e minha família. Então eu pensei: ou vai ou racha! Segui firme e forte, sempre focado andando de skate e graças a Deus está dando tudo certo. E mesmo que eu tivesse que trabalhar não deixaria de andar de skate, porque enquanto tiver forças para subir em cima de um eu sempre vou estar com ele. • Aê, William Damascena! Como faço para beijar 47 garotas no Carnaval e não pegar herpes? O que devo falar para a minha namorada quando ela descobrir que fiz isso? (Alexandre Camargo, Cotia/SP) – É simples, Alexandre: só não ir para o Carnaval e ficar com sua mina bem de boa vendo um filme! Aí você fica sem herpes e com a consciência limpíssima. Fora que se sua mina for leitora da Tribo Skate, ela vai saber dos seus planos carnavalescos. Daí, cara, eu só lamento! A casa vai cair pro seu lado, hahaha.


thomas teIxeIRa

// zap

Fs lipslide flip out, Buenos Aires, Argentina.

• Qual sua opinião em relação aos novos skatistas que só andam pelo interesse financeiro e não pelo real motivo de muitos que é o amor pelo o que se faz? (Fellipe Matheus Santos, Guarujá/SP) – Pô, Fellipe! Pra esses tipos de skatistas, que estão só por interesse, o que eu realmente penso é que quem está perdendo a parte boa do skate são eles próprios. Vão ter que fazer coisas por obrigação, ao mesmo tempo em que nós que andamos fazemos por amor. E outra; tem que ter muito amor ao skate mesmo para um dia conseguir viver dele. Não é facil. Normalmente esses que estão andando de skate só por interesse financeiro param de andar; aí você vê quem realmente está pelo dinheiro ou andando por amor. • O que você acha das atitudes dos profissionais de skate que fumam maconha e bebem na frente de todos em pistas de skate e campeonatos, que não estão nem aí com a geração nova de skatistas? (Augusto Fumaça, SP/SP) – Salve, Fumaça! Uma coisa que eu aprendi com o skate foi a respeitar e não importa se alguém fuma, bebe ou sei lá o que faça ou deixe de fazer na sua vida pessoal. Cada um é cada um, mas particularmente acho zuado esse tipo de atitude, de fumar ou beber perto de picos onde têm muita gente por perto, porque quem pode estar olhando é algum skatista que está começando junto com seus pais, que os levam para andar. Os pais que veem esse tipo de atitude já é bem provável que não deixem seu filho andar nesse local ou até chegar perto desse profissional, mesmo ele sendo o mais sangue bom possível. O pro que tem esse tipo de atitude esquece que é o espelho para muitos e, principalmente, pros que estão começando! Essa atitude pode refletir negativamente porque essa nova geração pode pensar: “se esse profissional fuma, bebe e anda muito eu também vou fazer o mesmo pra andar igual”. Se o cara tem esse tipo de atitude e se diz profissional eu acho que não é tão profissional assim. • Você já fez vários vídeos em picos gringos com manobras muito pesadas. Com tanta habilidade e fama, como continua com tanta humildade? A sua inspiração para evoluir mais e mais vem dos seus fãs ou do amor pelo seu carrinho? Por que? Obrigado e que você evolua cada vez mais e mais! (Vitor Oshiro Ichigi, Cotia/SP) – E aí, Vitão! Muito obrigado pelas palavras e consideração. Uma coisa que eu aprendi é saber chegar e sair de todos os lugares por onde passo, então não adianta saber milhões de manobras cabreiras, ter viajado todo o

planeta e ser uma pessoa zuada. Desde que comecei a andar de skate eu meio que era o patinho feio (risos). Andava duro, remava mongo e era tirado em alguns picos! Quando comecei a flagrar vídeos e revistas, via andando na minha frente alguns skatistas que apareciam nesses vídeos e revistas e pensava: “esse cara parece ser firmeza”; mas na realidade, quando o conhecia pessoalmente, o cara nem olhava na sua cara e fazia descaso. Desde então prometi a mim mesmo que não queria ser esse tipo de pessoa. E outra coisa: antes de ser um profissional eu primeiramente sou um simples skatista que bate o skate na canela igual a você e a todos os outros. Sobre minhas inspirações, uma parte vem do amor pelo skate; porque andar de skate já pede uma evolução, o prazer de sempre estar aprendendo alguma manobra nova, conhecendo pessoas e novos lugares. E a outra é nas pessoas que acreditam em mim e no meu trabalho, porque eu sinto uma necessidade de devolver algo para aqueles que serviram de inspiração para mim, que é estar servindo de inspiração para os outros. Isso que me motiva a aprender novas manobras, filmar e fazer fotos e estar sempre evoluindo. *Gostaria de agradecer à revista Tribo Skate, pela oportunidade. A minha mina, aos meus amigos e todos que mandaram suas perguntas. Eu curti responder todas, muito obrigado de coração! Agradeço a todos meus patrocinadores pela a parceria e suporte para fazer o que eu amo. Valeu Prosk8 Scandinavia, Black Sheep, Gobby Trucks, Hordem Wheels e Qix Internacional. Tamo junto! **A pergunta escolhida foi a do Guilherme Freitas, de Cotia/SP, que leva a pacoteira contendo: um kit Black Sheep, um par de eixos Gobby, um shape Prosk8 Scandinavia, um jogo de rodas Hordem e um par de tênis Qix Internacional.

Próximo enfocADo: AuGusto FumAçA envie suAs PerGuntAs PArA: triBoskAtE@ymAil.Com com o temA linHA VErmElHA – AuGusto FumAçA coloQue nome comPleto, ciDADe e estADo PArA concorrer Ao ProDuto ofereciDo Pelo ProfissionAl. 2014/janeiro TRIBO SKATE | 31


Luan, halfcab flip bs noseslide.

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matriz skate pro // evento

EfEito Matriz

12 anos de trajet贸ria // texto e fotos Junior Lemos

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Marcos Mamรก, transfer bs tail.

Leo Giacon, varial heelflip.

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matriz skate pro // evento

apel達o, oll達o.

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evento // matriz skate pro

a

data já se tornou mais do que tradição dentro do calendário skatístico nacional! É como um sagrado mandamento na Bíblia de todo street skater brasileiro: ir ao IAPI em Porto Alegre pelo menos uma vez na vida para receber as bençãos dos ‘deuses’ nacionais do skate de rua, que se reúnem por lá todo ano para as celebrações do aniversário da Matriz. E se você ainda não sabe, anota aí: a parada é sempre no começo de dezembro e imperdível para quem puder ir, porque simplesmente é o evento de skate de rua mais style do Brasil! Não digo isso porque ouvi dizer; estive lá pela primeira vez em 2013 e vi com meus próprios olhos ceguetas. Uma legião de skatistas ocupa cada milímetro do IAPI sob o sol forte do verão gaúcho na expectativa de não perder nenhum detalhe da festa. E se contarmos também os que passaram pelo IAPI durante todo o sábado (dia 7), com certeza o Matriz Skate Pro lotaria fácil as arquibancadas de um estádio de futebol. Isso sem falarmos dos números da audiência do webcasting (transmissão pela internet). // ChroniCLes 2 E nesta edição do evento um elemento a mais na estrutura montada no IAPI chamava a atenção: uma tela gigante de alta definição, que ao final do dia exibiu em primeira mão o premiado vídeo “Nike SB Chronicles vol. 2”. Só faltou a pipoca para que a galera se sentisse em uma sala de cinema, com o detalhe de poder conferir o filme com a presença de um dos skatistas que engrossam ainda mais o caldo da super-produção, Luan de Oliveira. // Gui ZoLin e CoLabs Outro vídeo que também rolou foi o documentário “Gui Zolin e Matriz Skate Shop: Desde Sempre!”, que conta a trajetória do profissional destaque de nossa edição 217. E a homenagen aos skatistas também se materializou com os eixos colab Matriz x Liga Trucks. As tendas concentraram filas imensas de skatistas de olho nos brindes e autógrafos distribuídos em cada uma delas. Zolin na da Liga; Rob Gonzalez, Cezar Gordo e Rodrigo Gerdal na da LRG. Shapes Flip do Luan, bonés Official Matriz e camisetas LRG (que acabaram em minutos na loja montada no IAPI) fechavam os produtos colabs em homenagem aos 12 anos da Matriz. Sem esquecer dos chaveiros, mouse pads e do tradicional copo ecológico, que assim como as inúmeras fotos no Instagram é o ícone máximo que não deixa nenhuma dúvida de que a pessoa esteve realmente no evento. matriZ skate Pro 2013 1º Luan de Oliveira (RS) 2º Danilo do Rosário (PR) 3º Neverton Socado (PR) Melhor Manobra Liga Trucks Rodolfo Ramos: fs ollie to ss croocked reverse rodrigo tx, nollie bluntslide.

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A culturA

da explosão

Explosão. EstA é A primEirA cArActErísticA quE mE vEm à cAbEçA quAndo pEnso no skAtE do André. um cArA quE sE puxA Em todos os sEntidos, nA vElocidAdE, no Estilo, nA ExtEnsão dAs mAnobrAs. muitAs vEzEs brincA dE EsticAr sEus limitEs E pAgA o prEço, mAs Está sEmprE sE supErAndo. Além disso, ElE AindA consEguE sEr técnico, tAnto no skAtE quAnto no snowboArd, primEiro EsportE quE sE profissionAlizou. um cArA sério E dEdicAdo, quE pAssou muitAs dAs boAs cArActErísticAs do EsportE pArA A suA vidA profissionAl. EspEciAlistA Em vídEo, criou suA fAmíliA brAsil muito AntEs dA modA dAs produtorAs, fAz trAbAlhos sociAis EnvolvEndo o skAtE, é juiz intErnAcionAl dA mEgArrAmpA E dos x gAmEs, E EncArA trAbAlhos publicitários E concEituAis dA mEsmA mAnEirA quE sE jogA numA pistA dE concrEto – vAi fundo. por Cesar Gyrão // fotos eduardo Braz

V

ocê começou a andar de skate aos sete anos de idade e logo se meteu em correr eventos como iniciante. Você lembra do primeiro campeonato que participou? Como foi a experiência? Me lembro sim. Foi em 1985 e eu estava com 8 anos. A Prefeitura de Santo André promovia eventos culturais e esportivos no próprio estacionamento do Paço Municipal. Nesse primeiro campeonato, minhas pernas tremiam tanto que eu não acertei nenhuma manobra e logo depois da minha volta eu não lembrava nada do que eu tinha feito, deu branco total. Tive essa mesma experiência e talvez até pior, no primeiro evento amador que corri, o UBS de Guará em 1989 (União Brasileira de Skate, Guaratinguetá). Essas

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são as verdadeiras memórias e sensações que carregamos pro resto da vida e que nos ensinam muita coisa. Depois de fazer carreira como skatista amador, em 95 você se mudou para a Noruega pra andar de snowboard. Qual foi a cidade escolhida para viver, como você se virava pra se comunicar, quanto tempo você se dedicava à neve? Escolhi morar numa cidade chamada Trondheim, a poucas horas de carro do Cabo Norte. Um lugar peculiar e único, onde no verão o dia dura 24 horas e no inverno o sol não existe, obrigando as pessoas a viverem na escuridão noturna 24 horas por dia. Saí do Brasil sem falar nenhuma palavra em inglês e seis me-


andré cywinski // entrevista pro

Essa piscininha apertada em west los Angeles foi apresentada pelo rudi garofali. Airwalk to fakie de responsa.

ses depois eu já estava falando inglês e norueguês. Filho de mãe espanhola e pai alemão, eu sempre tive muita facilidade em aprender idiomas. Apesar do frio extremo e das enormes diferenças culturais, aprendi muita coisa naquele lugar, principalmente a realizar um sonho, que assim como a maioria dos skatistas no Brasil tem, eu também tinha, que era o de andar bem de snowboard. Como ali a neve durava 8 meses por ano, ficou mais fácil aprender. Nessa época o skate ficou encostado? Encostado sim, mas nunca abandonado. O problema é que as ruas ficavam cobertas de neve a maior parte do ano e a única pista indoor da cidade ficava em um galpão abandonado, com as janelas quebradas e a temperatura média lá dentro era de menos 5 graus, ou seja, impossível sentir o skate no pé. Fui obrigado a encostar o skate até a chegada do verão. Você voltou da Noruega em 97, já como profissional de snow. Seguiu competindo pelo mundo e em 2000 se profissinalizou também no carrinho. Como foi essa decisão? Foi em conjunto com as marcas que representava? De volta ao Brasil, de 1997 a 2000, eu tive algumas

conquistas importantes no mundo do snowboard e de certo modo havia uma imagem muito forte desse esporte atrelada ao meu nome, por isso, mas também pelo fato de existirem pessoas que adoravam criticar a vida alheia, a aceitação inicial do meu nome no mercado do skate foi complicada. Isso nunca me afetou, mas o fato é que sempre havia um ou outro cara que não admitia ver eu treinar, me dedicar e competir profissionalmente em dois esportes. Por outro lado, naquela época eu representava a Bad Boy, que era uma marca forte em boardsports e que tinha grande interesse na minha imagem atrelada a estes dois esportes. Em seguida, fechei um contrato de 3 anos com a Nokia, empresa de telecomunicações que naquela época tinha suas campanhas publicitárias totalmente voltadas para o público jovem. Não demorou muito e eu fui mostrando meu skate aos que não me conheciam. Você era um dos brasileiros mais tarimbados naquele festival da Suiça, com neve artificial no estádio do Pacaembu, neste mesmo ano de 2000. O que representou para você este evento? Nossa, aquele evento se chamou “Snow Show” e foi ao pé da letra uma amostra da neve real aos

nós AtErrizávAmos As mAnobrAs prAticAmEntE Em cimA do público formAdo por milhArEs dE pEssoAs, dE pé no grAmAdo do pAcAEmbu. vEnci AquElE cAmpEonAto com um fs rodEo 540. foi A minhA primEirA vitóriA dE snowboArd Em um EvEnto dAquElA mAgnitudE.

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brasileiros. Montaram uma estrutura gigante na arquibancada, que se parecia muito com a estrutura da Megarrampa de skate montada nos dias de hoje. Nós aterrizávamos as manobras praticamente em cima do público formado por milhares de pessoas, de pé no gramado do Pacaembu. Venci aquele campeonato com um fs rodeo 540. Foi a minha primeira vitória de snowboard em um evento daquela magnitude. Antes mesmo dos anos 2000 você já filmava e fazia coberturas de eventos como os X Games para a ESPN. Quando surgiu o vínculo com este canal e como foi a criação da Família Brasil Vídeo? Em 1998, comecei a viajar e competir forte pelo mundo. Obviamente naquela época nenhum canal de televisão brasileiro enviava suas equipes pra cobrir eventos na neve. Como na época eu já tinha uma Super 8, decidi levá-la comigo nos campeonatos e eu sempre pedia que alguém me filmasse competindo e depois eu apontava a câmera pra mim pra reportar aquilo que estava acontecendo. Essa é a chamada técnica da “videorreportagem”. Naquela época foi criada então uma parceria sólida com os Canais ESPN e que existe até hoje. Em 1999, resolvi criar minha própria companhia, a FAMÍLIA BRASIL. Você seguiu com os dois esportes, sendo que no skate você competia no vert, pistas e bowls. Entre 2003 e 2005, correu o Circuito Europeu e tivemos inclusive altas fotos publicadas na Tribo Skate. A partir daí seu foco se virou mais para o skate. Estava difícil conciliar os dois esportes? Estava sim muito difícil, e por várias razões. Primeiro porque a Família Brasil ganhava cada vez mais clientes em vários segmentos de mercado e eu não podia abandonar a empresa. Além disso, treinar e competir na neve exigia um custo muito alto e os patrocinadores já não queriam mais bancar as viagens. Foi então que coloquei todo o foco na produtora e no skate. Mesmo assim, pelo menos você continuou nos anos seguintes a participar eventualmente dos Campeonatos Brasileiros de Snowboard no Chile. Foi nesta época que passou a ser um integrante da CS Team? É verdade! Até hoje corro um ou outro evento de snowboard por pura diversão e sem nenhuma pressão. Já a parceria com o Rogério Lalau e a CS Team vem de longa data, desde o Chile em 1999. Eu o conheci quando ele veio me trazer uma foto ampliada do meu primeiro front flip em um campeonato de snowboard. Ele me deu a foto e me convidou pra fazer parte da CS Team. Em 2004 você correu algumas provas de best trick em half pipe no Circuito Nescau e sempre com boas manobras na manga. Você se identifica com este tipo de competição? Sabe Gyrão, nunca entrei em um campeonato pra perder, mas é óbvio que na vida, perdi muito mais campeonatos do que ganhei. Mas a minha mente está sempre condicionada a superar o meu limite físico e é aí que surgem as “da manga”. Não sei dizer ao certo, mas parece que nestes momentos eu esqueço do medo e das consequências do erro. Esse é o verdadeiro “Go for it.” Nesta mesma época você criou o projeto Skatescola, em Rio Grande da Serra, no skatepark público que tem o nome do Sandro Dias. O projeto continua? Qual é a sensação de passar bons conceitos do esporte para a molecada? O projeto continua ativo. Estamos agora de férias mas voltaremos junto com o ano letivo. Temos o apoio da Solvay Indupa

A minhA mEntE Está sEmprE condicionAdA A supErAr o mEu limitE físico E é Aí quE surgEm As “dA mAngA”. não sEi dizEr Ao cErto, mAs pArEcE quE nEstEs momEntos Eu EsquEço do mEdo E dAs consEquênciAs do Erro. EssE é o vErdAdEiro “go for it”. 40 | TRIBO SKATE janeiro/2014

Esse gap nos ditches californianos definitivamente não faz bem pros ossos. disposto a vencer o desafio, cywinski esqueceu o que os médicos lhe falaram e deu novo sentido à palavra ollie.


andrĂŠ cywinski // entrevista pro

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entrevista pro // andré cywinski e da Pref. de Rio Grande da Serra. Oferecemos aulas de skate, condicionamento físico e nutricional. Realizamos dois campeonatos por ano e a cada três meses temos “aulas magnas” com a presença de profissionais de skate que passam uma tarde com as crianças, contando um pouco de suas histórias, viagens, conquistas, além de ensinarem manobras aos alunos. Por lá já passaram Vanderlei Arame, Fábio Sleiman, Duzinho Braz, uma visita memorável com Márcio Tarobinha, entre muitos outros. E o que a gente mais ensina aos nossos alunos é que o skate não será uma fonte de renda e sim um estilo de vida para eles. Hoje em dia tem muito moleque por aí que não conhece nada da história do skate e acredita que vai fazer fortunas com o carrinho. Estamos criando ídolos vazios de essência enquanto os verdadeiros heróis do skate, estão esquecidos pelos cantos. Outra área que você se encaixou naturalmente foi se tornar juiz de skate e como consequência acabou sendo convidado pelo Bob para julgar a Megarrampa no Brasil, depois seguindo em etapas internacionais, inclusive os X Games. É uma responsabilidade enorme, mas também um grande prazer. Você fica tenso pra não perder um detalhe? Com certeza o prazer de julgar ao lado de lendas como Hosoi e Caballero não tem preço. Mas o fator responsabilidade é gigante, principalmente porque são eventos com transmissão ao vivo e para o mundo todo. A pressão é constante. Um erro de julgamento durante uma volta pode ser fatal e na maioria dos eventos temos cerca de 5 segundos pra julgar a volta inteira de um skatista que provavelmente é um dos dez melhores do mundo na sua modalidade e que nos bastidores tem seus contratos de patrocínio, envolvimento com mídia, mercado e produtos. Parece fácil, mas esse “game” não é tão simples assim. Com tantas viagens na bagagem, você juntou um monte de imagens e lançou o Parto Pós-Maturo, um vídeo com skate em vários terrenos diferentes, que contempla muitos brasileiros pesados. Quantos anos você conseguiu condensar neste filme? Quais você considera os seus pontos altos? A parte do Luan de Oliveira no IAPI em 2003 é muito style! Ele era um nanico que mal tinha forças pra dar ollie e já espancava as bordas. Tem também a visita do Hosoi e do Caballero à pista de São Bernardo em 2008, a parte do Bob Burnquist na Piscina Classe D. Logo no começo tem o Crail World Cup, evento inesquecível. O filme foi uma viagem nas produções de skate da Família Brasil de 2002 a 2009. Na real, tínhamos centenas de horas de imagens de skate com profissionais do Brasil inteiro, gravadas aqui e ao redor do mundo. Tiramos o “filé mignon” desse material e editamos o vídeo que foi lançado no Cine Olido em SP. O vídeo está disponível no Youtube e no Vimeo. De tanta pancada na coluna, você enfrentou um grave problema de saúde, mas se recuperou na raça. Sua hérnia de disco era congênita ou foi criada mesmo pelo tanto que você exige de seu corpo? A coluna de um ser humano ativo, sofre depreciações ao longo de sua vida e que em muitos casos causam os chamados “bicos de papagaio” ou em diagnósticos mais graves são chamados de estrusão, que é quando os discos esponjosos que protegem uma vértebra da outra foram totalmente esmagados e os ossos estão batendo uns nos outros. Isso causa uma dor terrível. Minha coluna era equivalente à de um idoso de 80 anos de idade. Foi então que em 2006, tive que passar por uma

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com cErtEzA o prAzEr dE julgAr Ao lAdo dE lEndAs como hosoi E cAbAllEro não tEm prEço. mAs o fAtor rEsponsAbilidAdE é gigAntE, principAlmEntE porquE são EvEntos com trAnsmissão Ao vivo E pArA o mundo todo. cirurgia para a colocação de uma placa e quatro pinos prendendo meus ossos na região lombar. Os médicos diziam que eu não andaria mais de skate e muito menos de snowboard. Na hora fiquei triste mas 9 meses depois estava dando flips no vertical e pulando big airs na neve. Naquele pós operatório descobri que o seu corpo é o reflexo de sua mente. Apenas acredite. O grande e ótimo skatepark de Santo André, com projeto do George Rotatóri, no Parque da Juventude, não foi o primeiro naquele lugar. Você participou da criação e da briga por manter aberto este espaço? O primeiro skatepark no Ana Brandão não teve a participação dos skatistas da cidade. A prefeitura pegou um projeto que eles já tinham engavetado e colocaram operários leigos no assunto para a execução da obra. Mais de uma década depois fizeram uma reconstrução no local e que hoje é praticamente o único espaço para a prática do esporte em uma cidade de quase 1 milhão de habitantes e que gerou e ainda gera campeões brasileiros e mundiais durante três décadas, tais como Sandro Dias, Vanderlei Arame, Karen Jones, Ítalo Penarrubia, Dan Cézar. Seria interessante ver um único prefeito de Santo André usar a esperteza e fazer história no skate, finalmente construindo uma pista digna e à altura de seus conterrâneos campeões nesse esporte. Como um skatista criado no ABC, você passou por altos e baixos momentos nos belos

skateparks da região. São Caetano do Sul, São Bernardo são a sua escola? Sem dúvida minha escola foi a região do ABC Paulista. Comecei como todos naquela época, varando rampas nas ruas. Dali pra frente foi uma Via Sacra de pistas, sempre andando na cola de caras como Denis Buiu e a equipe Varial, Duzinho Braz e Rodrigo Chileno. Vivíamos pegando o trem pra São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires (KBS), Força Local, Metodista, Lask. Mas meu quintal sempre foi a antiga pista de Santo André, destruída em 1996 para a construção da Av. José Amazonas, uma grande via de fluxo na cidade. Pistas em São Paulo, só mesmo pra correr campeonatos. Fomos muito ao QG, algumas vezes na Prestige e na ZN também. Como profissional de vídeo, você foi um dos ganhadores do concurso Student Travel Bureau Discover para fazer matérias no mundo todo, mas não levou, por ter uma produtora estabelecida. No entanto, você foi chamado para fazer uns trampos. Como foram estas viagens? As viagens duraram um ano e foram bem bacanas. Criamos roteiros de produção em vídeo, fotos e textos, todos voltados para a web e sempre abordando locais de neve, o snowboard, a gastronomia, a hospedagem, etc. Era uma espécie de videoblog com informações turísticas sobre locais pelo mundo. A facilidade que você tem para falar, o levou a ser comentarista na ESPN, além das matérias


sobe levinho, agacha e segura o tranco na volta. vai que ĂŠ tua tafarelll! wall to fakie, san pedro, cA.

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Arquivo PessoAl

entrevista pro // andré cywinski

Essa foto tem mais de 10 anos. frontside melon no super pipe de valle nevado, no chile.

os médicos diziAm quE Eu não AndAriA mAis dE skAtE E muito mEnos dE snowboArd. nA horA fiquEi tristE mAs 9 mEsEs dEpois EstAvA dAndo flips no vErticAl E pulAndo big Airs nA nEvE. nAquElE pós opErAtório dEscobri quE o sEu corpo é o rEflExo dE suA mEntE. ApEnAs AcrEditE. que traz das viagens. Desde quando você participa do canal? Além do skate e do snowboard já lhe chamaram para comentar outros esportes? Trabalho como comentarista dos Canais ESPN desde 1999 e já tive que segurar umas broncas durante alguns X Games, quando tive que comentar Freestyle Moto X, Snowmobil, Rally Car, Esqui adaptado para Especiais e Moto Trial. Todas foram boas experiências. Uma das fotos de sua entrevista é uma situação terrível de “street”. Lancei aspas aqui porque este gap no ditch californiano não é pra qualquer um. Foi necessário fazer um town-in para finalizar o ollie? Quantas tentativas foram necessárias? Cara, sabe quando você chega num pico e pensa: Nem ferrando que passo esse gap de ollie?! Então, foi bem assim. Aquele pico tem um drop em 45 graus e embora seja um drop de lado, o que dificulta a posição dos pés, a velocidade é suficiente para o ollie sobre o gap. O difícil é que a rampa construída para o ollie é muito pequena, abaixo de um palmo, o que exigia um pop muito bem executado. Além disso o buraco é bem extenso. Foram 22 tentativas, 2 joelhos esfolados e o maior gap que já passei de ollie na vida. Vale assistir o vídeo no site da Tribo para entender esse pico. Na sua opinião, esse ano de Copa do Mundo e Eleições o Brasil vai crescer nos aspectos social e econômico? O futebol nunca pagou minhas contas e aposto que nenhum jogador assiste a gente andando de skate. Acho sim que esses eventos vão movimentar e muito a economina, principalmente os prestadores de serviços, que já estão triplicando seus valores nas diárias de hotéis, passagens e cardápios dos restaurantes. Chame de utopia, mas eu gostaria que existisse uma regra em

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que a FIFA exigisse que o país sede da Copa fosse obrigado a construir um grande hospital de referência para cada cidade em que haja a construção de um estádio para sediar jogos. É pouco, mas para a população já seria muito. Para finalizar, conte como foram suas últimas sessões em piscinas naturais na Califa? Você andou em algumas mais abertas ou apenas aqueles buracos fechadinhos? Tenho que confessar uma coisa pra galera leitora da revista. Dá para contar nos dedos os brasileiros que andam de verdade nas piscinas naturais dos EUA. O Duzinho Braz é um deles. Está com um skate forte e o joelho maleável, o que é exigência básica numa piscina. Lá em West Los Angeles vive um brasileiro chamado Fábio Boca, dono da Pool Fiend, que tem como filosofia de vida encontrar e invadir casas abandonas como piscinas pra andar. Essa branca da foto é um pouco menos crítica em comparação à última que ele nos levou, a “Dirty dollar”, toda colorida, profunda, pesada e com um coping saltado e áspero. Tem cenas dela no vídeo também. Foi depois de visitar essa piscina que passei a contar nos dedos os brasileiros que andam numa verdadeira pool. // andré Cywinski 36 Anos, 29 dE skAtE nAscido Em sAnto André, sp. rAdicAdo Em são pAulo, sp pAtrô: fAmíliA brAsil E city linE Apoio: globE, ogio E cs tEAm


o tanto de vertical da pool fica destacado na esquerda. bom pra cravar um backside smith grind, n達o?

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zion tour // interior de sp

Zion Tour Brasil

Conexão Tel Aviv – Birigui A região de Birigui, no inTeriorzão de São PAulo, reCeBeu A viSiTA dA mAiS novA mArCA A deSemBArCAr no BrASil. enTre ConverSAS em inglêS, heBrAiCo e PorTuguêS, o Time BrASileiro dA zion SkATeBoArdS ATerriSSou nAS ruAS do eSTAdo de São PAulo, PArA umA ráPidA e AvASSAlAdorA Turnê. // TexTo e foTos Marcelo Mug

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s

e você não conhece a história da Zion, eu faço um breve resumo. A marca surgiu em Israel, fundada pelo skatista profissional Gadi Naor, em 2004. Em 1995 o brasileiro Homero Telles foi morar em Tel Aviv e com o passar dos anos ele se transformou em um dos pilares do desenvolvimento do skate em terras israelenses. Aos poucos, Homero começou a fazer parte da família Zion e junto com Gadi transformou-a na principal marca de skate de Israel. Em uma visita ao Brasil no ano de 2010, Homero reencontrou seu amigo de infância Pablo Groll, e entre um papo e outro surgiu a oportunidade de Pablo visitar Homero, o que aconteceu duas vezes, uma em 2011 e outra em 2012. Nestas idas e vindas de Pablo a Tel Aviv, veio a ideia de trazer a marca para o Brasil, o que aconteceu no final de 2013 de forma efetiva. E para marcar a entrada da marca em terras brasileiras, a Zion ampliou a sua família e montou uma equipe brasileira, composta pelos profissionais Pablo Groll, Muller Rafael, Homero Telles (que acaba de voltar de mala e cuia ao Brasil) e pelo amador Jr. Pig. Timinho fraco, né? Marca estabelecida, time formado, hora de pegar a estrada. Do primeiro ao último dia Muller devorou gaps no café da manhã, almoço e jantar. Haja joelho, calcanhar e Tandrilax. Jr. Pig abriu os trabalhos da turnê antes mesmo de chegar em Birigui, em uma sessão nos famosos quarters naturais de Bauru. Homero se matou no primeiro gap que vistamos durante a tour, e mal conseguia caminhar durante boa parte dos dias. No último dia todo mundo pilhou e ele inventou forças para voltar um flip no bank de concretão. O boss Gadi mostrou suas várias facetas durante a tour, atuando de motorista oficial, videomaker e skatista. A arma de Pablo Groll foi ser paciente e encontrar o pico certo para mandar aquela bomba, que desta vez foi um ollão pulando a grade da Santa Casa de Birigui, voltando no chão mais esburacado da região. Além dos locais que nos receberam como irmãos e nos levaram em todos os picos, Renato Bodó e Fernando Vinicius, ambos da ZL de São Paulo, colaram junto com a família Zion e somaram com manobras e muitas piadas infames. Além do ataque aos picos de rua, outro destino que salivou a boca dos skatistas antes mesmo de pegarem a estrada foi a nova pista de Araçatuba. Com um banks e uma ampla área de street, ótimo projeto, muito bem construída e boa iluminação, a pista pode ser considerada facilmente uma das melhores do Brasil, e uma das mais quentes também, como todos comprovaram na pele. Skate só de manhãzinha, final da tarde ou durante a noite. Muito skate cabreiro foi visto durante toda a trip, mas o momento mais marcante foi quando todos estavam sem o carrinho debaixo do pé, durante a sessão de autógrafos na loja Tribo Skate Crew. O olhar das crianças esperando um autógrafo, um adesivo, uma revista, um minuto de conversa, foi inesquecível. Fazia muito tempo que todos que estavam na barca não presenciavam uma sessão de autógrafos tão emocionante e verdadeira. Obrigado Birigui, Araçatuba e todos os skatistas da região por cinco dias intensos de muito skateboard!

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zion tour // interior de sp

Jr. Pig tira da manga um equilibadro bs disaster na famosa parede de Bauru.

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zion tour // interior de sp

A paz de cidade do interior Ê quebrada por alguns instantes com o flip to bank do homero em Araçatuba.

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interior de sp // zion tour

Pablo se empenhou com precisão cirúrgica para voltar este ollão em frente à Santa Casa de Birigui.

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interior de sp // zion tour

Cravado bs tailslide do gadi em Araรงatuba.

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zion tour // interior de sp

muller rafael mostra que santo de casa faz milagre sim: extenso varial heelflip em Birigui.

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Thomas Teixeira

anDerson lucas

Inclusão e resgate Das ruas De chão áspero Do extremo leste Da capital paulista, anDerson lucas tirou a base e o aprenDizaDo necessários para chegar a um nível pesaDo De skate com conceito na rua. Do moDo De viDa humilDe Da ciDaDe tiraDentes, tirou a positiviDaDe e respeito que o fazem saber chegar, manobrar muito bem e sair Dos Diversos lugares onDe seu skate o tem levaDo. guerreiro Das ruas, além Da Disposição para encarar picos cabreiros e manobras técnicas, ainDa participa ativamente Da revolução chamaDa love ct inclusão e resgate, onDe usa o skate como ferramenta De transformação Da viDa De muitas crianças. muito além Das manobras pesaDas que você confere nas fotos Dessa entrevista e na víDeo parte lançaDa no site Da tribo skate, anDerson lucas usa o skate para revolucionar sua viDa e a Das pessoas ao seu reDor. por Fernando Gomes // fotos Fernando Gomes e Thomas Teixeira

V

ocê é local da zona leste paulistana. Foi lá que o skate apareceu em sua vida? O lugar de onde você veio influenciou na pessoa que você é? Me sinto privilegiado em ser local da zona leste de São Paulo, da Cidade Tiradentes. Para meu estilo de vida, acredito que aqui tem tudo que preciso. Foi onde aprendi sobre o ‘skate life’ com os mestres, há mais de 15 anos. Tenho uma relação de amizade com os meus ídolos no skate, tenho orgulho e satisfação em citar alguns nomes que foram muito importantes na minha trajetória, como Elton Melonio, Fábio Castilho, Denis Silva, Augusto Fumaça, James Bambam, Celo Martins, Jailson Siqueira, Marcelo Black, Daniel Feitosa, Glauber Marques, Mi Dantas, Everton Canuto, Marcelo Formiga, Everton Maninho e Marcelo Akasawa. Conviver com essas pessoas me faz sempre estar aprendendo muita coisa, os caras gostam de andar de skate comigo e me passam várias visões. Depois que começamos as aulas de skate na Cidade Tiradentes, essa relação de aprendizado ficou mais presente em nosso convívio. Os caras me passam uma visão do real skate lifestyle e eu repasso para as crianças no nosso projeto, o que tem me ajudado a evoluir muito no skate e também na vida. Hoje, com 26 anos, reconheço que minha personalidade foi inspirada em verdadeiros mestres do skate brasileiro e sinto muito orgulho disso. É o estilo de vida ZLei!

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Por falar nas aulas de skate, o que é a Love CT e como se deu seu envolvimento com o projeto? A Love CT ganhou visibilidade depois do vídeo que lançamos, o Love CT Revolução Periférica, de 2010. No ano de 2008, eu, Elton Melonio, Denis Silva, Celo Martins e Dan Feitosa tivemos a ideia de fazer um vídeo onde exploraríamos a arquitetura roots da Cidade Tiradentes e então nos unimos, fizemos o corre, compramos uma câmera mini-DV e uma lente que era do fotógrafo Leandro Moska. Daí para frente, tivemos dois anos de empenho diário para andar e para aprender a filmar. Foram dias difíceis, pois estávamos sem patrocínio e a fase para a crew não era muito boa, fizemos tudo no estilo original underground, fazendo valer nosso estilo de vida; andávamos em qualquer pico, com chão ruim, borda crespa, shape fofo e tênis furado. Eu sofri muito para fazer minha parte, mas aprendi muito com isso e hoje eu agradeço a Deus por tudo que passei e superei. O vídeo foi lançado e foi um sucesso, fizemos DVDs e premières na Cidade Tiradentes, muitos amigos que assistiram sentiram orgulho do que fizemos e as pistas na região começaram a lotar todos os dias, o que era uma coisa rara de acontecer. As crianças começaram a andar e o skate foi virando febre na CT. Em 2011, tivemos a ideia de dar aulas de skate para as crianças, nos informamos e ficamos sabendo que tinha um programa de incentivo cultural no estado de São Paulo, o programa


Thomas Teixeira

anderson lucas // entrevista am

360 flip bs noseslide to fakie, na ct em sp.

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Fernando Gomes

fs lipslide, salvador, bahia.

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Fernando Gomes

anderson lucas // entrevista am

flip fs tailslide to fakie, ba.

VAI. Escrevemos nosso projeto e enviamos, conseguimos ganhar o incentivo durante dois anos. Desde então o projeto só cresceu e hoje é um sucesso na comunidade, um dos maiores orgulhos culturais da CT. Temos hoje cerca de 100 crianças inscritas. Estamos usando o skate como uma ferramenta de inclusão social e levando para os alunos aulas de literatura, artes plásticas, fotografia, além de um sarau onde as crianças têm espaço para expor sua visão, ler sua poesia, falar em público e assim se tornarem mais firmes e confiantes em suas ideias. Eu defino a Love CT hoje como uma das maiores revoluções do skate nacional! Temos muitas crianças com muito talento no skate e vamos ajudá-las a continuar a saga da evolução periférica no skate brasileiro. O que você acha do skate aparecendo na grande mídia? Hoje em dia, o skate vem aparecendo bastante nas grandes mídias e eu acho legal ver skatistas de rua na televisão, dando uma ideia, apresentando um dia na vida e nosso lifestyle. Me lembro que há pouco tempo somente o vert tinha abertura na televisão, mas as coisas estão mudando e o street vem crescendo muito no Brasil, com os skatistas de rua sabendo dialogar melhor nos veículos de comunicação e a modalidade passando a ser considerada até por pessoas que não andam de skate. Hoje em dia, é natural você ver um pai incentivando o filho a andar de street skate. Recentemente fizemos

matérias com o repórter cultural Alessandro Buzo, que tem um quadro no telejornal SP TV (Globo) e isso deu uma moral muito grande para o skate da Cidade Tiradentes. As crianças se motivam e se imaginam dando entrevista, aparecendo na televisão e, percebendo essa evolução, nós do projeto Love CT estamos trabalhando as crianças intelectualmente para que elas saibam como falar, se comportar em momentos como esse. Buscamos, dessa forma, que eles se tornem verdadeiros artistas de rua, com habilidades para aparecer em programas de televisão, dialogar bem com a grande mídia e também sendo uma boa referência para futuros artistas de rua. Algumas fotos dessa entrevista foram feitas em Salvador. Como foi o período na capital baiana? O clima quente da Bahia ajudou nas sessões? A minha ida para Salvador foi uma surpresa. Estava filmando na Leste com meus amigos Marcelo Black e Alex Cardoso. Eram os últimos dias da temporada que o Alex estava passando em São Paulo, o Black tinha acabado de ser mandado embora do emprego e então resolvemos ir para a Bahia junto com o Alex. Mas como era pouco tempo, não consegui levantar a grana para ir e disse isso para os caras, aí eles me falaram: “você vai sim!”. O Black pagou minha ida e o Alex a minha volta, aceitei o convite e fui para Salvador com R$ 100 na carteira, meu skate, dois shapes reservas e minha câmera. Chegando 2014/janeiro TRIBO SKATE | 61


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Fernando Gomes

anderson lucas // entrevista am lá, fazia um calor sinistro de 36 graus às 8h da manhã e começamos a colar nos picos da cidade. O Alex Cardoso conhece muitos picos bons em Salvador! Começamos a fritar no sol diariamente e neste tempo fui conhecendo a galera local, que nos recepcionou de uma forma muito agradável. Eu realmente me sentia bem andando de skate em Salvador; acredito que o clima quente faz com que as pessoas sejam mais felizes e simples. Pouca roupa, muita alegria e assim fui fazendo amizades no decorrer dos dias, e essas amizades foram fundamentais. Muitas pessoas me ajudaram com casa, comida, necessidades básicas, amigos como Fred Muriçoca, Léo Davi, Wilson Simões, Rafael, Layse, entre outros. Comecei a conhecer a cena das pistas locais e me informei sobre as competições, pois precisava ganhar a premiação para fazer um dinheiro e ajudar quem estava me ajudando. Colei no lançamento da Orig Skateshop e ganhei o campeonato. Depois disso, os skatistas locais me viam na rua e faziam questão de vir me cumprimentar e me oferecer hospedagem; a energia da galera de Salvador é muito boa. Fiquei sabendo de outro campeonato na pista da Ribeira onde consegui ganhar também e deu pra ficar lá mais um mês. Foi neste mês que eu e o Fernando Gomes começamos a pegar firme nas sessões de rua, rendendo boas fotos. Foi aí que sugeri que elas fossem guardadas para uma entrevista na Tribo Skate e então me foquei bastante! Vendo meu esforço, um grande amigo, Wilson Simões da Orig, me deu um skate inteiro gringo e um tênis novo, me incentivando de uma forma muito foda, além de me levar junto com o Alex nos picos mais restritos de Salvador às 3h da manhã, para as sessões com o Fernando. Eu observava o que estava acontecendo ao meu redor e vendo o empenho dos caras por mim não poderia deixar por menos: não amarelei para nenhum pico, mas não foi sozinho porque tinha muita energia boa ao redor de mim. Graças às amizades que fiz em Salvador consegui bater minhas metas e só tenho a agradecer os dias vividos por lá. Pretendo voltar e agradecer pessoalmente a cada um que me ajudou, sem eles essa história não seria escrita! Qual a importância que você enxerga em ter uma entrevista publicada numa revista impressa hoje, mesmo com a grande quantidade de material virtual circulando por aí? Me sinto privilegiado em ter uma entrevista impressa na revista Tribo Skate. Para mim é um sonho de criança realizado! Acredito que para se tornar um profissional respeitado é preciso passar por revistas, internet, televisão, campeonatos, além de manobrar em outros estados, países e então se tornar um real skater que leva o esporte como trabalho. Em meio a toda essa oportunidade que temos hoje de trabalhar nosso nome, a revista é a que mais me realiza desde criança. Eu leio entrevistas, adoro folhear várias vezes a mesma edição e perceber cada detalhe impresso. Acredito que a revista jamais vai morrer, mesmo com a internet, televisão e a tecnologia evoluindo cada vez mais. As revistas chegam a lugares e pessoas aonde a tecnologia não chega. Recentemente encontrei um amigo que eu não via há anos, que estava preso em Mato Grosso do Sul e quando me viu na rua, me abraçou e me parabenizou por eu ter atingido algo que ele sempre sonhou quando andava mais de skate, que era sair nas revistas. Ele me disse que conheceu um skatista na prisão que todos os meses recebe as revistas para manter-se por dentro do skate, o cara era fanático, real skater, e esse meu amigo, folheando as revistas dele, me viu numa edição e logo pediu para o cara a revista; disse que eu era vizinho dele e que era muito importante para ele ter essa foto na

Thomas Teixeira

Thomas Teixeira

uma pessoa Do bem, com uma aura muito boa, que transmite muita energia positiva. é a maior inspiração para muitos no rolê, muitos anos no corre, vivenDo com amor e convivenDo com a Dor. verDaDeiro skate De rua! Alex CArdoso

nollie hard flip, também em salvador.

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parede. Acredito no poder que a revista tem de chegar a diversos lugares e para pessoas em qualquer parte do mundo, só que de uma forma bem mais real do que as outras. O ano de 2014 começa bem pra você, com a publicação dessa entrevista e o lançamento de uma nova vídeo parte – Herói Rua Pura. Isso te dá mais ânimo pra conquistar mais coisas com o skate esse ano? Quais os planos pra 2014? Esse ano começo com o pé direito e me sentindo bastante realizado com minha entrevista, minha vídeo parte e ainda tenho muito trabalho a ser feito: pretendo ajudar a terminar a vídeo parte de meus amigos Rua Pura, ajudar o projeto social da Love CT, escrever o projeto que vai ajudar a estabilizar a ONG, trabalhar em novos horizontes da Rua Pura e continuar minha saga de filmagens, pois pretendo fazer uma nova parte com imagens internacionais. Quero conhecer países, culturas diferentes e trazer as informações para meus alunos. Quero também firmar parcerias reais com empresas para que eu possa dar continuidade no estilo de vida skateboard. E como foi a produção do material para essa vídeo parte? Sabemos

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que viajar é fundamental para um skatista produzir material, por onde você manobrou? Há dois anos comecei a filmar essa vídeo parte, com a ajuda do Love CT, dos meus amigos e da Rua Pura Skateboarding. Pude viajar para estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e outras cidades de São Paulo. Também passei uma temporada em Santiago, no Chile. Eu estava filmando, mas não tinha uma data exata de lançar o vídeo! Foi mais uma meta concluída, vou lançar no começo de 2014 a vídeo parte Herói Rua Pura, totalmente independente com pouco recurso e muito foco. Agradeço aos meus amigos e à comunidade ZLei pelo trabalho que vem sendo feito com a Rua Pura. A comunidade faz questão de passar na loja e comprar pelo menos uma camiseta porque realmente acredita que está investindo no meu corre e no de meus sócios e amigos. A maioria dos clientes são pais de alunos que fazem aula com a gente e eles sempre dizem que a forma de agradecer o que a gente vem fazendo para a comunidade é consumindo os produtos. Hoje a marca é uma espécie de moeda local! A gente faz o giro dos produtos na ZL mesmo, onde as pessoas que compram sabem que estão investindo não só


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anderson lucas // entrevista am

shovit 360 lipslide to fakie na praça de itaquera, zl de sp.

em mais um produto e sim numa revolução do skate brasileiro. Eu agradeço a todos; sem eles eu não teria viajado para estes lugares e hoje não teria essa vídeo parte que espero que todos que investiram seu dinheiro nos produtos da Rua Pura possam se sentir representados. Recentemente você fez parte do vídeo da Cesar Prod, “Nunca desista dos seus sonhos”. Como foram as filmagens desse vídeo e como se desenvolveu a relação entre vocês da Love CT e o produtor Tristan Zumbach? A experiência de trabalhar com o Tristan foi incrível! Eu sempre sonhei em ter um videomaker profissional comigo nas sessões na Cidade Tiradentes, para que todos pudessem acompanhar a evolução que alcancei no skate; dessa forma vários skatistas que andam nas periferias em picos imperfeitos se espelharam e passaram a acreditar que é possível revolucionar o skate periférico. Conheci o Tristan no Centro de SP, fizemos umas sessões na antiga Roosevelt e na Sé, e ele me disse que não estava feliz em filmar sempre nos mesmos picos do Centro, então o convidei para colar na Leste. Mostrei a ele o vídeo que tínhamos feito em 2010, o Love CT Revolução Periférica, ele curtiu muito e se empolgou pra colar nas sessões. Ele veio para a CT, elaboramos um projeto e durante dois meses acordávamos para andar como verdadeiros guerreiros das ruas, pois estávamos andando nos picos mais imperfeitos de São Paulo, com o chão mais roots e as bordas mais crespas, mas sempre focados no

eu e o nego tamo junto sempre, empenhaDos em fazer acontecer o love ct, nosso projeto com crianças. é um cara que está sempre motivanDo as pessoas que estão a sua volta e tem Disposição total pra anDar De skate em qualquer pico. elton Melonio 2014/janeiro TRIBO SKATE | 65


Fernando Gomes

objetivo. Filmar com o Tristan fica um pouco mais simples, ele tem o dom de fazer você se sentir bem nas sessões, é uma pessoa muito boa, uma luz forte. Quando estou com ele nas sessões me sinto confiante para os desafios! Pretendo ser amigo dele para sempre e continuar a saga de filmagens e momentos felizes com ele. Salve Tristan! Grande abraço, obrigado por tudo que tem feito por mim, meu irmão! O skate está num nível de evolução técnica absurdo, a cada dia surgem manobras e vídeo partes mais cabreiras. Mas, para além das manobras, o que você acha que é preciso ter para ser skatista de verdade? Hoje em dia vejo em sites, vídeos, revistas e televisão caras com o nível de skate absurdo; a cada dia a evolução me surpreende, mesmo acreditando que podemos fazer tudo e que o skate não tem limites. Muitas vezes encontrei pessoas que vi nos vídeos e haviam me inspirado e, pessoalmente, me decepcionaram pela postura arrogante e pela má energia que carregam. Muitas vezes já estive com meus amigos, alguns famosos no skate, e encontrávamos alguns desses skatistas e realmente os caras me decepcionaram por desfazer de skatistas que ainda não chegaram ao nível técnico que eles chegaram. Imagine você junto com seus amigos e os caras colavam na nossa banca e desfaziam de mim num simples cumprimento ou viravam as costas para mim, não me respeitaram como pessoa e muito menos como skatista. Passar por situações como essas, desde criança, me proporcionou uma postura e uma visão além do que eles pensavam. Por ser do gueto, era rejeitado e fui percebendo que skate não é só manobra, é estilo de vida, amizade e fui criando minha personalidade baseada no erro que esses caras cometiam, por isso sempre me preocupei em não cometer esses erros. Quando ouço falar dos ‘reais’ já me vem à mente referências de pessoas que, mesmo não estando em evidência no cenário do skate, são verdadeiros amigos e skatistas, fortalecem um ao outro. Não existe competição, a humildade sempre prevalece e isso é ser real skater! Quem anda de skate, pula gap, desce corrimão, sabe as dores que passa e sabe que não é fácil fazer o corre de ser profissional do skate, e o fato de outra pessoa não pular gap ou não descer corrimão não faz dele menos real que os profissionais. Se o cara não tem humildade para fazer amizade ou respeitar outro skatista, ele não é digno de ter um pro model e a marca que patrocina esse atleta é tão falsa quanto ele. O que você faz quando não está andando de skate? Quando não estou manobrando, estou namorando, buscando informações para meu crescimento pessoal e coletando material para ser levado aos meus alunos no projeto Love CT Inclusão e Resgate. Procuro ir a shows, peças de teatro, saraus, exposições, bibliotecas, para que eu possa cada vez mais estar preparado e capacitado a revolucionar o cenário da favela, levando às crianças acesso à cultura e lazer, todo acesso que me foi negado pelo sistema quando eu era criança. Consigo enxergar hoje que meu papel na vida não é só manobrar, fazer vídeo partes, ganhar competições, constituir família, mas sim resgatar todo um povo que estava esquecido e sendo negado pelo sistema, por empresas e até por skatistas que se dizem ser os ‘reais’. Espero que as pessoas possam compreender que não temos limites, somos seres humanos, todos iguais e o que o sistema nos nega, a gente vai buscar com foco e força de vontade. Nossa evolução intelectual está muito avançada e no que depender do nosso povo não teremos mais diferenças, seremos iguais. A revolução e a humildade correm em nossas veias. Convoco através dessa entrevista todos skatistas, músicos, atores, poetas, artistas plásticos a usarem o skate como ferramenta de inclusão social. Podemos ser o que quisermos ser e que nunca nos falte humildade, empenho, inteligência e educação!

o anDerson lucas, para mim e para muitos Da zona leste e Da nossa geração no skate, é muito mais que só um bom skatista De rua. o cara alcançou o grau máximo De consiDeração como meu irmão! é um skatista que, com certeza, ainDa terá muitas bênçãos e muitas vitórias em sua caminhaDa. Fábio CAstilho // anderson Lucas rodriGues aLmeida 26 anos, 16 De skate patrocínio: rua pura apoios: nype Do gueto, ong love ct e cesarproD.

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360 flip to fakie voltando no chão áspero, salvador.


anderson lucas // entrevista am

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d’mala & board // on the road

Boards EmBarcados Por Marcos Gabriel // Fotos bárbara Muller E otávio Marotti

// D’Mala & BoarD on The roaD Tudo começou ainda em Floripa, no final do último verão. A esta altura do ano, era hora de bolar mais uma trip rumo à Europa. Desta vez, seria uma viagem um pouco diferente das outras. Com novos tripulantes, bolamos um roteiro e começamos a estudar a melhor maneira de circular entre os países e surgiu a ideia de alugar um trailer… Os integrantes da barca foram Bárbara Muller (surfista pro), Miguel Silveira (artista plástico), Otávio Marotti (videomaker) e eu. Bem vindos ao D’Mala & Board! // 10 países, 10 Mil kM eM 2 Meses A primeira parada é em Milão, Itália. Encontrei meu irmão Mateus que mora lá, alugamos o trailer e o deixamos no style. Demos um rolê de skate pelo centro da cidade, uma session no bowl do Parque Lambro e partimos para o Marseille Sk8 Cup, um dos eventos mais tradicionais de bowl. Umas sete horas de viagem para conhecer a casa móvel e chegamos em Marselha, França. Logo no primeiro dia, encontro Leticia Bufoni e Braulio Sagaz. O nível do campeonato estava muito alto como sempre; fui passando as eliminatórias, cheguei na final e garanti a décima colocação. Leticia fez o primeiro no feminino. Logo que acabou o evento, sem perder muito tempo, pegamos estrada novamente rumo a Basel, na Suíça. No caminho uma parada em Lyon onde encontramos um bowlzinho digno de uma boa session. Dormimos num posto de auto-estrada, nos perdemos e acabamos encontrando um spot de rua muito divertido em Dijon. Chegando em Basel fui a procura de um bowl feito pelos locais, que já havia andado em 2010, mas ele tinha sido destruído e os locais haviam construído um novo skatepark, uma mistura de street com muitas transições rápidas e um bowl, o pico era alucinante! Chegamos às 10 da manhã e andamos até não aguentar mais. Saindo de Basel, uma rápida passada pela Alemanha e partimos para o Mystic Skate cup, em Praga, na República Tcheca. O campeonato de skate mais divertido que conheço: são três dias de muito skate, festa, loucura e confraternização. O melhor de tudo foi que conseguimos estacionar o trailer

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dentro do evento. Como sempre muitos brasileiros representando. Zodi, Tuca e Samelo do Pela Rua estavam por lá também. Encontrei com eles, com o Diego Fiorese e Nilo Peçanha - a session pegou fogo! O campeonato foi sinistro. De um lado a galera do street quebrando e do outro o bowl pegando fogo. Mandei boas manobras e fiquei em oitavo lugar. Na minha última manobra caí de mal jeito e desloquei meu ombro. Na última noite do Mystic rolou a primeira roubada! Miguel e Otávio ficaram na festa, eu e Bárbara fomos dormir… Então deixei a porta do trailer encostada para eles entrarem mais tarde, tomei meus anti-inflamatórios para o ombro e fui dormir. No meio da madrugada escutei uns barulhos, abri a cortina e quando me virei, tinha um desgraçado roubando nossas coisas. Ele saiu correndo e eu fui atrás dele de cueca e com o ombro zuado. Não alcancei a figura… Nos levou todo o dinheiro e uma GoPro. E assim finalizamos Praga. A próxima parada foi Amsterdã, Holanda. Tivemos que atravessar a Alemanha, então resolvemos descobrir o que tinha pra fazer na pequena cidade de Dortmund, um lugar tranquilo, bonito, com bastante arte de rua e um povo bem acolhedor. Chegando em Amsterdã foi só alegria, um lugar muito louco! Deixamos nosso trailer estacionado no centro da cidade e fomos pra rua conhecer o bairro Red Lights, as Coffee Shops e tudo o que Amsterdã oferece. Quando voltamos para o trailer, inacreditavelmente haviam arrombado a porta dele em plena tarde, no centro. Levaram a mochila do Miguel com o computador, celular, carteira e todos os documentos. Ambra, a namorada dele que recém tinha chegado em Amsterdã para nos acompanhar na trip, havia deixado as malas dela na barca e também foi roubada. Depois dessa, ficamos muito mais atentos! A trip continua e a vibe também! Encontramos uns amigos em Amsterdã que moram em The Hague; nos convidaram para conhecer a cidade, aceitamos o convite e fomos conferir! É um lugar não muito longe de Amsterdã, com praia e muitos street spots. Durante um rolê de skate pela rua, conhecemos Remmelt, um maluco tranquilo, de pés descalços e um skate. O maluco nos convidou pra tomar um café na casa dele e acabamos ficando lá durante três dias.


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Flávio Samelo otávio marotti

crailslide na extensão para o programa Pela rua.

artes: miguel silveira

Sem ter mais tempo pra curtir, tivemos que partir, agora para Antuérpia, Bélgica. Meu primo Gideon estava nos esperando lá com tudo pronto! Tinha até organizado um agito numa skate shop da cidade, com sessão de autógrafos, Miguel pintando e première do On The Road (documentário que fiz durante minhas trips de 2012). Fomos com a galera local para um skate park novo em Mechelen, pico muito divertido! Depois encontramos nosso amigo Francisco e fizemos umas tantas para registrar ainda mais a trip. Da Bélgica, tocamos para Paris, França. Chegando lá, encontramos o skate park de La Muette, que rendeu uma boa session. Um rolê de street pelo centro e já era hora de pegar a estrada novamente! Saímos de Paris perto da meia noite e pelas duas da manhã quase acontece um grave acidente! O trailer estava na auto-estrada a uns 100 km por hora quando o pneu direito traseiro estourou e perdemos o controle, atravessando as pistas e quase batendo nos carros que estavam ao nosso lado e atrás. O pior de tudo foi que não tinha acostamento e paramos uns 300 metros antes de um túnel. Tentamos sinalizar de todas as maneiras; Bárbara e Ambra ficaram com luzes e celulares na mão tentando alertar os carros. Eu peguei os skates e coloquei

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marcos Gabriel, rasgada em Ericeira, Portugal.

no meio da estrada com luzes e Miguel e Otávio na função de trocar o pneu. Mesmo com todo nosso esquema improvisado para sinalizar, não adiantou muito! Era uma auto-estrada e estávamos parados logo depois de uma curva. Caminhões vinham a 120 km por hora! Para piorar não conseguíamos trocar o pneu, pois o macaco não levantava o trailer. Um carro veio distraído a uns 130 e quando foi desviar tinha um enorme caminhão na sua esquerda, reduziu e passou por cima dos skates com as luzes e quase bateu no trailer. Depois disso chegou a polícia; os policiais fizeram a sinalização adequada e chamaram o guincho. E para essa noite se tornar ainda mais inesquecível, o trailer não subiu no guincho! Tentamos de todas as maneiras e nada; conseguimos um macaco, colocamos o estepe e o reboque foi embora. Fizemos fotos com os policiais, festejamos, demos tchau para todos e na hora de ligar o trailer não ligava! As luzes ficaram acesas durante toda a função e a bateria acabou. Então a polícia voltou e chamou outro rebocador, fizemos a ligação na bateria e após umas três horas de risco na auto-estrada, conseguimos partir novamente. Dormimos e no dia seguinte, pegamos estrada por algumas horas, a caminho da cidade vizinha para poder trocar o estepe, pois estávamos sem.


BárBara muller

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marcoS GaBriel

Bs smith sobre o death box, Basel, suiça.

Bárbara muller, lay back em san sebastian, Espanha.

O mesmo pneu estoura novamente! Dessa vez foi ainda pior - o trailer quase capotou. Otávio teve a habilidade de segurar o volante e a sorte de não sofrermos um acidente mais grave. Com muita sorte, passou um rebocador logo depois, que nos levou para sua oficina numa cidadezinha que parou no tempo em algum lugar na França. Dormimos lá e no dia seguinte, estávamos com rodas novas, 500 euros para pagar tudo e finalmente voltamos para nossa estrada. Para a alegria da Bárbara, a próxima parada seria no litoral, ou seja, surf! Como havíamos perdido um dia de viagem, resolvemos passar batido por Bordeaux. Soubemos que não tinha onda e, sem perder tempo, fomos rumo a Hossegor, pico clássico da França. Hossegor estava bombando, cidade totalmente surf! A galera já estava instigada para entrar na água e pegar onda. Posicionamos o trailer na frente da praia e quando finalmente colocamos os pés na areia, vimos o mar totalmente flat. Rendeu um banho, literalmente um banho de mar. Dormimos ali mesmo, e para não perder tempo, decidimos ir para Biarritz, outro pico bem conhecido na Europa, que poderia ter onda! Chegando lá, mais uma vez, flat! Não podemos dizer que foi azar, pois quem surfa sabe que deve ter paciência e esperar a natureza agir. Resolvemos ir atrás de um novo bowl em Saint Jean de Luz que eu já havia ouvido falar; andamos até tarde da noite e dormimos estacionados em frente ao skatepark. No dia seguinte continuamos a busca pelas ondas. No caminho encontramos alguns locais que nos guiaram até Marbella, que por incrível que pareça rendeu uma ondinha! Finalmente surfamos e tiramos proveito das poucas ondas que tinham… Mas queríamos mais, por isso decidimos partir para a Espanha, com previsão de muito surf e skate, sabíamos que seria irado! 2014/janeiro TRIBO SKATE | 71


d’mala & board // on the road Nossa primeira parada foi em Bilbao, cidade localizada no País Basco. Conhecemos a arquitetura inovadora do lugar, fomos no Museu Guggenheim e curtimos a cidade, que nos impressionou pela organização, pelas artes nas ruas e por sua beleza. Foi bom ter um toque de cultura antes de chegarmos a San Sebastián, que nos recebeu com chuva e frio, mas nada impediu a galera de entrar na água. Depois de algumas horas de surf, já estava tarde e resolvemos dormir na frente do pico para recarregarmos as energias da viagem e aproveitar a Espanha. Rolou mais um surf na manhã seguinte e partimos para um skatepark alucinante ali perto. Estacionamos o trailer em frente à pista, com um visual de camarote e skate o dia inteiro! Não queríamos desperdiçar tempo algum. Depois da sessão voltamos imediatamente para a estrada em busca de mais ondas. Já estava ficando tarde e nossa parada foi em Sopelana, pico de surf bem conhecido no país. Resolvemos dormir em frente às ondas. Acordamos para surfar e vimos que estava rolando um campeonato amador, com poucas ondas e crowd, mas ainda sobrou uma ondinha para nossa diversão. Mas o dia não parou por aí, eu ainda queria ir atrás da famosa “La Kantera”, skatepark clássico espanhol. Rolou uma sessão finalizando com uma bela chuva para partir novamente em busca de mais aventuras. Para essa próxima aventura, nada melhor que Portugal. Tínhamos basicamente quatro dias para explorar o máximo que podíamos! Fomos nos familiarizando com o país, buscando placas sinalizando Peniche. Já estava escurecendo, mas conseguimos conferir as ondas e ter a certeza de que era o lugar para passar a noite, acordar cedo e ir pra água! E foi exatamente isso que aconteceu. Com aquele frio e água gelada, mas com as melhores ondas que encontramos durante a trip na Europa. Ficamos por ali mais um dia e seguimos em frente rumo a Ericeira. Chegamos com um visual incrível, rochas, mar azul, ondas… não poderia ficar melhor! Entramos imediatamente na água e depois de uma boa sessão, ainda havia tempo para procurarmos o skatepark de Ericeira, uma pista completa com um bowl perfeito, localizado na frente da praia. Passamos o fim do dia andando e curtindo. Finalizamos a nossa passagem em Portugal passando por Lisboa. Andamos pela cidade o dia inteiro conhecendo as artes nas ruas, a cultura do povo e, é claro, o antigo skatepark na frente da ponte de Lisboa. Mais um final de tarde se foi e agora estávamos prontos para começar a grande volta para Milão, nosso ponto de partida. A viagem está chegando ao seu fim e pensamentos começam a surgir; tudo o que vivemos, o que pas-

BárBara muller

Fs air, em san sebastian, Espanha.

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BรกrBara muller

switch feeble, La muette, Paris.

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BรกrBara muller

Flip indy grab transfer, san sebastian, Espanha.

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BárBara muller

on the road // d’mala & board

otávio marotti

Fs nosegrind, La muette, Paris.

Flip em dijon, França.

samos, vem à tona em nossas memórias. Com certeza estamos todos satisfeitos, realizados e com boas histórias para contar. Era mesmo a hora de retornar a Milão, chegou o prazo de entrega do trailer e assim começamos o longo caminho de volta, depois de 2.250 km percorridos. De Lisboa até Milão, resolvemos fazer as paradas necessárias em lugares que pudéssemos conhecer e aproveitar mais um pouco. Com mais de 600 km percorridos, chegamos em Madri, a maior cidade da Espanha. Passamos o dia desbravando a cidade, com sua arquitetura ousada. Já cansados e com muito calor, resolvemos continuar nossa longa viagem de volta… Depois de mais 650 km, paramos para um banho de mar em Barcelona, a meca do skate de rua, localizada no nordeste da Espanha, na costa do Mediterrâneo.

Lavamos a alma; curtimos um pouco a praia, jantamos num pico bem turístico e partimos novamente! Agora sem mais paradas, percorremos 1.000 km e finalmente retornamos a Milão! Todos felizes com a viagem, felizes com que realizamos e felizes também em devolver o trailer! Foi uma ótima jornada, com muito skate, surf e conhecendo novas artes e culturas. Pessoas que encontramos no caminho, tudo que vivemos estará marcado na cabeça de cada um. Momentos de felicidade, de estresse, de aflição, de tranquilidade, enfim… Vivemos todas as emoções, passamos alguns perrengues, mas sem dúvidas todos nós podemos dizer que valeu a pena! Uma viagem que vamos guardar pra vida inteira! D’Mala & Board continua... Qual será o próximo destino? 2014/janeiro TRIBO SKATE | 75


²

diversão É o maior parque temático do Brasil, com a finalidade principal de divertir. o skate carrega a palavra diversão em seu dna. então diversão x diversão, É diversão ao quadrado. // fotos Raphael KumbRevicius

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beto carrero // ensaio

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na aba do icônico chapéu que identifica o criador do parque, marcos noveline encaixa seu fs rock’n roll.

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beto carrero // ensaio

o lago ĂŠ bonito mas cheio de jacarĂŠs e ricardo dexter arrisca a vida com o fs fifty.

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beto carrero // ensaio

não poderia ter lugar melhor que o anfiteatro do parque para o espetáculo do shigueto. apresentação de um homem só que deixou toda a plateia de pé aplaudindo: impossible fifty no hands.

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ensaio // beto carrero

Biano Bianchin passa a rĂŠgua do passeio no parque com o fs feeble no chapĂŠu, desta vez visto da perspectiva de cima.

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casa nova //

Bs flip varando a calçada na praça Alfredo Issa, centrão de SP.

Jamal // fotos Junior Lemos Ser skatista: É evoluir pessoalmente e tecnicamente a cada rolê. Quando não está andando de skate: Trabalhando e estudando. O motivo do apelido: Por parecer protagonista de um filme. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: O preconceito. Skatista profissional em quem se espelha: Rodrigo TX. Skate atual: Shape Believe, trucks Gobby, rodas Hordem, rolamentos Red Bones. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: SPTrans. Som pra ouvir na sessão: Um bom rap nacional. Parceiros de rolê de skate: Zili, Nikito, Adam,

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Daniel, Peter, Raynan, Rhauan, Bill, entre outros. Melhor viagem: RJ. Melhor pico de rua: Praça Roosevelt. Melhor pista: Antiga Espraiada. Sonha alcançar com o skate: Viagens, evolução mental e espiritual. Aquele salve: Deus, pai, mãe e irmãos, namorada, Samambaia, Formigão, Mic, Maicon, Rogerio, Hiena, Renan, Bruna, família Paneto, Rivoli, Erick, Sandro, Renata, Corneto, Claudio, Felipe Sousa, Mario, Luiz, Damascena, Macaco, Black, toda TRN-28 e a todos que sempre tão junto na missão. // Jean Silva SantoS ‘Jamal’ 20 anos, 8 dE skatE são Paulo Patrocínio: Gobby trucks

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Entre vermes e leões, passo por provações.

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protejA o AsfAlto de vocĂŞ.


casa nova //

Bs boardslide.

lucas bueno // fotos João Brinhosa Ser skatista: É a melhor coisa que poderia acontecer na minha vida, sem ele nem sei o que eu seria. Quando não está andando de skate: Assisto vídeos de skate. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: Curitiba tem uma carência enorme de pistas e, como em todo o Brasil, as ruas e calçadas não ajudam em nada para um rolê nos picos. Skatista profissional em quem se espelha: Nyjah Huston. Skate atual: Shape e lixa Wats, trucks Independent, rolamentos Red Bones e rodas Spitfire. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Red Bull.

Som para ouvir na sessão: Rap e funk. Parceiros de rolê de skate: Lucas Koaski, Henrique Igi. Melhor viagem: São Paulo. Melhor pico de rua: Praça Roosevelt. Melhor pista: Eny Caldeira (Curitiba/PR). Sonha alcançar com o skate: Poder viver dele, viajar muito, curtir muitos rolês e a vida! Aquele salve: Abraço para meus amigos; muito obrigado a todos que me apoiam, às marcas que acreditam em mim e principalmente para Horus A. Correa, por tudo mesmo! // lucaS alveS Bueno 16 anos, 5 dE skatE curitiba/Pr Wats skatE, 041 skatEshoP, camPEonatosdEskatE.com

‘‘não importa quantas vezes caia, sempre levante!’’ 86 | TRIBO SKATE janeiro/2014



casa nova //

talles silva // fotos rodrigo KBça Ser skatista: É ser humilde, não esquecendo as origens e ser responsável por suas atitudes. Quando não está andando de skate: Estou jogando um video game, assistindo vídeo de skate ou jogando uma bola (futebol). Dificuldades em ser skatista na sua cidade: Não se encontra dificuldades quando realmente se tem vontade de andar de skate. Skatista profissional em quem se espelha: Gui da Luz. Skate atual: Shape Identity, lixa Blinca, truck Liga, rodas Hagil e rolamentos Autobahn. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Samsung. Som pra ouvir na sessão: Wu Tang Clan. Parceiros do rolê: Blinca Skate, Simplesmente Crew, Praça do Coração de Maria e All Day em Esteio. Melhor viagem: Criciúma/SC. Melhor pico de rua: Benjamim. Melhor pista: Praça do Coração de Maria, em Esteio. Sonha alcançar com o skate: Profissionalismo e bastante dinheiro pra ajudar minha família. Aquele salve: Blinca Skate, gurizada do skate de Criciúma, Jordana, Simplesmente Crew, minha família e pra todos os skatistas! // talleS Silva 14 anos, 4 dE skatE EstEio/rs Patrocínio: blinca skatE, liGa trucks, FrEEday E idEntity aPoio: haGil E VEnicE all boards

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i love my family!

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Switch flip.


// shops! Elas mantêm a chama acesa O papel das skate shops não é apenas vender produtos. É oferecer um atendimento de qualidade, que satisfaça o cliente e alimente seu desejo de andar de skate, vestir-se bem, entender e viver esta cultura. Neste cenário, a informação é mais uma alavanca para o sucesso e é justamente aí que algumas lojas se sobressaem. Elas são pontos de convergência, investem no esporte e ajudam a construir a história do skate brasileiro. > Goiás - Anápolis Roots Skate Shop Rua Leopoldo de Bulhões, 166, Centro (62) 3311-2012 > Mato Grosso do sul - Campo Grande Rema Boardhouse Rua Pedro Celestino, 1387, Centro (67) 3213-2504 > Minas Gerais - Juiz de Fora Hardback Rua Jarbas de Lery Santos, 1685, loja 2349, Centro (32) 3241-3347 Hardback Rua Marechal Deodoro,

444, loja 127, Centro (32) 3216-0687

(42) 3423-3989

- Poços de Caldas Giro Livre Skateshop Rua Santa Catarina, 79 loja 02, Centro (35) 3721-3326

> rio Grande do sul - Porto Alegre Matriz (Wallig) Av Assis Brasil, 2611 - loja 248, Cristo Redentor (51) 3026-6083

> Paraná - Curitiba THC Skate Shop Pça Rui Barbosa, s/n - loja 221 (41) 9933-2865 - Guarapuava Atrito Board Shop Rua XV de Novembro, 7860, loja 1, Centro (42) 3623-6818 - Irati Skate Shop Irati Travessa Frei Jaime, 43, Centro

> santa Catarina - Joinville Grind Skate Shop Rua São Francisco, 40, Centro (47) 3026-3840 > são Paulo - Birigui Root Skate Company Rua Bahia, 1183, Jardim São Braz (18) 99712-7258

- São Paulo Da Hora Skate Shop Rua 24 de Maio, 57, loja 18, Centro (11) 2745-6013 Flow Sk8 Shop Avenida são João, 439, 1º andar, lojas 233/235 (11) 3338-1441 - Santos Evolution Skate Shop Avenida Floriano Peixoto, 44, loja 96, Gonzaga (13) 3289-1444 Mantenha você também a chama do skate brasileiro acesa, leve a Tribo Skate para sua loja! Envie-nos email triboskate@triboskate.com.br

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hot stuff // janeiro

// Mad Bull Estilo do dia a dia em um tênis que também vai pro rolê de skate facilmente. Assim é o modelo Sider da Mad Bull, feito em lona no cabedal, forro em jacquard, palmilha em EVA e solado vulcanizado. madbullshoes.com.br / fb.com/MadBullShoes

// arnette Pedida perfeita pro verão 2014, o modelo Drop Out da Arnette traz o diferencial de suas lentes em formato arredondado em uma armação grande e quadrada, traços que remetem ao estilo old-school. O portfólio da coleção possui oito cores de armação e diferentes opções de hastes, que se encaixam facilmente e podem ser trocadas a qualquer momento. br.arnette.com

// real Quatro modelos de skate montado que não são brinquedos e têm o melhor custo benefício! Falamos das mais novas opções da Real para quem procura skate de verdade, ou seja: pode-se trocar as peças individualmente depois, de acordo com o uso. Distribuídos no Brasil com exclusividade pela Plimax. (11) 3251-0633 / edgar@plimax.com

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// Sk8Mafia A nova série de pro models da marca, batizada de Go, é uma sátira de como seriam os profissionais da marca dirigindo no exame para tirar carteira de motorista. Todos os modelos já estão disponíveis na distribuidora Plimax e com certeza o do Javier Sarmiento vai ser o primeiro a acabar nas lojas! (11) 3251-0633 / pira@plimax.com

// freedoM ShoeS Leve seu skate para marretar os picos com o modelo Mind (mid) da Freedom Shoes. O tênis é feito em camurça, tem o forro de jacquard, a palmilha em EVA e solado vulcanizado. freedomshoes.com.br / fb.com/FreedomShoesTenis

// Sony A Sony traz para o Brasil a câmera que facilita compartilhar as aventuras com os amigos! A HDR-AS15 possui função Wi-Fi, que permite acesso aos arquivos por mobile ou tablet (iOS e Android), usando o aplicativo PlayMemories. O equipamento filma e tira foto, é constituído de lentes Carl Zeiss, é resistente à lama, água e gelo, pesa menos de 90 gramas (com bateria) e acompanha caixa estanque mais suporte para fixação em superfícies planas e curvas. 4003-7669 (capitais e regiões) / 0800-880-7669 (demais localidades) / store.sony.com.br

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Divulgação

áudio //

Zumbis do Espaço

eleS eStão entre nóS

Zumbis do Espaço é uma das bandas mais autênticas da música indEpEndEntE brasilEira! nascida Em mEados da década dE 90, ElEs tinham o misfits como principal influência E a intEnção dE traZEr dE volta a insanidadE ao rock, acrEscEntando filmEs dE horror dos anos 50, rockabilly, country E mEtal. pronto, Estava criada a fórmula quE populariZou a banda nos quatro cantos do país. com vocês, tor E sEus Zumbis do Espaço! // por HelinHo Suzuki

F

ala Tor! Acho que o conheci quando você tinha loja na Galeria e tocava no Screaming Godhead! Fale um pouco dos primórdios da sua carreira e como era a cena da época. Pode crer, a loja não era minha, eu só trabalhava nela, a finada “Halloween”. Foi logo quando eu me mudei pra SP, em 93, 94... Antes disso eu morava no interior, em Taubaté, no Vale do Paraíba. Não existiam muitas bandas, nem informação; estamos falando do meio dos 80. Eu lembro que o Guana Batz tinha tocado em Guaratinguetá, na pista de sk8 de um clube; tinha o Attomica em São José, mas eles eram mais velhos e inacessíveis (achávamos que eram grandes estrelas, pois tinham um disco gravado e cabelo comprido, risos). Depois apareceu o Submundo, em Pinda, que era a primeira banda do Léo do Street Bulldogs, com o Balbo, que depois tocaria no Zumbis comigo. Em Campos do Jordão tinha a banda do Zumbilly (baterista do Zumbis e do Screaming), que fazia um metal meio crossover, bastante avançado pra época. Quando tinha algum show mais underground era um evento, e todo mundo da região aparecia. Lembro que as únicas bandas de fora que apareceram por lá foram o Viper, lançando o primeiro disco e o Ação Direta, com o disco Resistirei, e mais ninguém.

Lembro do Screaming Godhead abrindo para o Sick of it all em 95 e você estava usando uma camiseta com o escrito Patriotas Oi! (risos) Kkkkk, essa história é boa. Cara, acredite ou não foi uma parada muito na inocência. Como eu disse, eu cresci no interior e não existia muita informação; em toda a região devia existir uns dois punks, um careca e uns 10 metaleiros (onde eu me incluía) e a galera do sk8, e todo mundo meio que se conhecia. Esses punks e carecas, meio que você nunca sabia o que eram, pois vira e mexe se misturavam ou mudavam o visual. Não existia tretas. Todo mundo que curtia som tinha os discos do Korzus, Vírus 27, Centúrias, os SPMetal, Cólera, Dorsal Atlântica, RDP, Grinders, Garotos, etc. Pra mim e pros outros também era tudo a mesma coisa. Pra não mentir, muitos anos depois, bem mais tarde, tinha aparecido um trouxa que às vezes era careca, às vezes era punk e sempre tomava uns corres, mas não era pela ideologia, era porque o cara era pilantra e idiota mesmo (risos). Então, eu cresci alheio a todas essas tretas que rolavam aqui em SP. Logo que eu me mudei pra cá, com o Screaming Godhead fizemos alguns shows com o CJ Ramone, no Aeroanta, e o segurança contratado pra tour do CJ, ficou chegado nosso; falou que também tinha

uma banda, era um cara maneiro; acho que o nome dele era Joe, se não me engano. Daí teve o show com o SOIA, alguns meses depois. Era o auge do HC aqui em SP e toda aquela galera ditando regras de conduta, o politicamente correto, os straight edges, as feministas e toda aquela coisa, e a gente meio que alheio a tudo. Quando eu chego no show, vejo que esse cara ia fazer a segurança de novo; ele veio falar comigo e me deu a camisa da banda dele; eu peguei e vesti, pra fazer uma presa pra ele; pra mim era só uma camisa de banda. Daí tamos lá, uns caipiras, com um vocalista gordo cabeludo, tocando cover do Neil Young e com a camisa do Patriotas Oi!, e foi ótimo. Imaginando hoje, deve ter sido lindo (risos). Se eu tivesse feito isso com consciência teria sido genial; estúpido, mas genial (risos), porque todas as bandas que tocaram antes do SOIA, o Muzzarelas e o DFC principalmente, e o Garage Fuzz menos, foram vaiadas, cuspidas e xingadas idiotamente pelos trôo “wanna be” que estavam lá; mas a gente, ninguém xingou ou cuspiu. Ficaram todos atônitos (putos, odiando, mas sem reação - talvez pelo fato de que todos os seguranças eram carecas). Isso eu fui sacar só depois (risos). Hoje, acho esse episódio demais, porque embora feito na minha ignorância, foi a maior tiração de onda.

dE rEpEntE, o ramonEs ou o rdp não Eram mais lEgais pra Essa galEra! não vou diZEr quE foi o motivo, mas foi um incEntivo para sEr o contrário dE toda Essa mErda. 92 | TRIBO SKATE janeiro/2014


O Zumbis do Espaço foi formado logo em seguida? Sim, eu tava de saco cheio de bandas cantando em inglês, de toda essa besteira de trôo till death, das bandas e fanzines seguindo a cartilha confusa do politicamente correto e ter visto bandas como o DFC e o Muzzarelas, que eram melhores, mais animais e mais viscerais que qualquer coisa dessa cena, serem vaiadas, toda aquela besteira de feminismo e ativismo e humanismo raso juvenil. De repente, o Ramones ou o RDP não eram mais legais pra essa galera! Não vou dizer que foi o motivo, mas foi um incentivo para ser o contrário de toda essa merda. Queríamos trazer a parada de volta para onde o rock mais demente surgiu: insanidade, politicamente incorreto, três acordes, refrões grudentos, letras insanas, Ramones e Black Sabbath, Cramps e Motorhead, não ficar preso a um gênero ou movimento e principalmente cantando em português. O interessante que alguns desses caras, os que ainda continuam envolvidos com música e arte, tocando em bandas e frequentando shows e lojas de discos, se tornaram camaradas nossos com o passar dos anos. E como foi o começo da banda? Você já tinha tudo na cabeça, o nome, o conceito? Sim, queria soar como o Misfits original da época do Danzig. Se conseguíssemos colocar um pouco de blues, rockabilly, metal e country na mistura, ficaria ótimo, e foi o que aconteceu. Com o passar dos anos fomos dosando essas influências até que chegamos no som característico do Zumbis do Espaço, já no Abominável Mundo Monstro, de 1999. “Nós viemos em paz” é o último lançamento da banda não? A temática continua sendo a mesma dos outros discos: alienígenas, filmes de horror dos anos 50, monstros? Sim, praticamente. A única diferença é que hoje tocamos melhor e temos mais recursos para uma boa gravação. A arte da capa desse novo disco é sensacional, um belo desenho do Ed Repka! Como foi trabalhar com um cara que simplesmente fez as melhores capas das bandas de thrash metal dos anos 80? Foi demais, o Repka fez as capas de vários dos meus discos favoritos. O cara é o rei da arte do thrash metal, além de ter feito capas clássicas de bandas como Circle Jerks, Megadeth, Toxic, Misfits , Rob Zombie, Hyrax e mais uma infinidade. Eu o conheci através da sua mulher, que é brasileira e fã do Zumbis. Pra minha surpresa, eles tinham todos nossos discos e o Repka adorava nossas artes, assim como nosso tipo de som; daí ficou fácil trabalhar com ele. O Zumbis sempre teve aquela pegada mais punk rock. O que mudou com a entrada do guitarrista Machado para a banda? Você acha que com a entrada dele, trouxe mais elementos heavy metal/ thrash para a banda? Isso se encaixou bem? Na verdade não. Ele foi escolhido justamente por poder executar esse tipo de sonoridade ao vivo, já que as composições do “Destructus Maximus”, que é nosso disco de 2008, e foi gravado antes dele entrar, já seguia nessa direção. Nesse disco trabalhamos com o Heros Trench e o Marcello Pompeu do Korzus, na produção, justamente porque as músicas tendiam mais para esse lado do Metal. Mas analisando bem, em todos nossos discos sempre tivemos a influência desse tipo de música (heavy/thrash). A entrada do Machado proporcionou que pudéssemos explorar mais isso ao vivo também, e continuar seguindo nessa direção sem alienar o som clássico do Zumbis do Espaço. Provavelmente foi a melhor coisa que aconteceu em termos musicais, e realmente se encaixou muito bem. Sinto que estamos na nossa melhor fase. Você está preparando um tributo heavy metal para a sua própria banda. Queria que você falasse como surgiu essa ideia de “metalizar” as músicas do Zumbis. Não sou eu que estou preparando o tributo. Toda iniciativa partiu do Pedro Zuppo, da banda Armadilha.

Ele me procurou pedindo autorização, e é lógico que eu autorizei e fiquei honrado, e garanti que se ele produzisse eu lançaria pelo meu selo. Pois é o maior reconhecimento que uma banda pode ter: uma nova geração de bandas, todas de heavy metal e thrash, tocando e sendo influenciadas por sua música. Algumas de minhas bandas favoritas estão nesse tributo, como o Leatherfaces, o Imminent Attack, o próprio Armadilha; a Fernanda Lira do Nervosa, que na minha opinião é a melhor vocalista feminina de metal; o Amílcar Cristofaro, baterista monstro do Torture Squad, e tantos outros. Isso é fantástico, estou ansioso pra que saia logo.

com o passar dos anos fomos dosando Essas influências até quE chEgamos no som caractErístico do Zumbis do Espaço, já no abominávEl mundo monstro, dE 1999. O seu selo Thirteen Records foi um dos mais atuantes na última década, lançando grandes nomes como Street Bulldogs, Forgotten Boys, além de todos os discos do Zumbis. Como você está trabalhando hoje em dia? Atualmente, eu continuo mantendo meu catálogo e estou fazendo vários relançamentos e licenciamentos em formato de LP. O selo agora se chama Tauil, mas ainda sai o logo da 13, que é um clássico. Recentemente eu lancei em parceria com a Voice o Brasil do Ratos de Porão em vinil colorido, e também estou lançando algumas bandas novas como Leatherfaces , Imminent Attack, Armadilha, Fire Stryke. Para esse começo de ano tem o Angry, Bandanos, Blasthrash e meu filme “Metal das Ruas” que engloba essa nova cena de metal brasileiro. Gravamos seis shows, além de dezenas de entrevistas. Vão sair junto com o filme um box com três LPs ao vivo e três CDs, além de estarmos preparando mais relançamentos em vinil. Eu sei que você é um grande colecionador e amante do vinil. O que você acha de todo esse hype da volta do bolachão? Aliás foi lançado recentemente um picture disc do Zumbis, certo? Eu amo música, e para mim os LPs são a melhor forma de ouvir música. Mas também amo Cds, e te digo que são uma mídia excelente. O que eu não suporto são os mp3 e os downloads. Quanto ao hype, o lado bom é que desperta em novas gerações o amor

pela música e o hábito de tratá-la com mais respeito. O ruim é que o preço dos LPS usados subiu muito; pra mim que coleciono isso é uma merda (risos). O picture do Zumbis foi uma parada para colecionadores. É um show inédito da tour do Destructus. Só foi lançado nesse formato E sua carreira solo, como anda? A minha carreira solo tá meio parada no momento, pois é uma coisa que eu faço quando tenho vontade, ou quando componho músicas que não se encaixam no Zumbis. Temos tocado muito com o Zumbis e um disco novo para promover, então ela está em stand by, mas esses dias eu andei pegando o violão depois de muito tempo e comecei a fazer alguma coisa. Quem sabe em breve eu tenha um novo disco? Meu mais recente foi lançado em 2011 e se chama “ Volume 3 Quando se perde a Razão”. Ele saiu nas versões CD digipack e a versão em vinil importado splash creme e azul, ficou demais. Vocês lançaram no fim do ano passado mais um model de shape pela Sick Mind. Qual é a relação da banda com o skate? Cara, minha relação com o sk8 é bem próxima, apesar de eu não andar. Quando eu era moleque costumava sair com essa galera no interior. Tinha a pista no Itaguará em Guaratinguetá, onde o Guana Batz tocou, depois a do Abaeté em Taubaté , que foi projetada pelo Toco, outro cara das antigas e meio pioneiro. Era no meio dos 80, e foi através dessa galera que eu conheci bandas como o Suicidal Tendencies, Misfits, Agent Orange, Excel, Social Distorcion. Eu realmente entrei de cabeça nesse tipo de música, pois eu vinha do metal e logo apareceu o thrash e eu levei pra eles o Anthrax, Slayer, Metallica e Exodus. As fitas k7 da Thrasher, assim como as entrevistas e propagandas, foram uma referência pra mim. Sempre assistíamos aos vídeos da época para descobrir novas bandas. Fora que o visual era matador, das caveiras da Powell Peralta, Bones, DogTown, e tudo mais. Era uma época incrível e com música incrível, que me marcou e influenciou até hoje. Minha mulher também curte e costuma andar de vez em quando. Ela tem alguns daqueles sk8 de plástico, Globe, Penny e um shape Alva vintage fodaço que tá na parede de casa. Eu sempre pirei nessa onda mais 80, que foi quando eu cresci; então quando a Sick Mind procurou a gente, eu fiz questão que os shapes fossem esse modelo old school. Eles fizeram dois models do Zumbis: um old e um coffin (em formato de caixão). Outra parada, também, é que no começo do Zumbis, um dos únicos lugares que davam espaço pra gente tocar era a Posso, um bar em Caçapava que também tinha uma pista de sk8, que era do Vara, outro cara das antigas; fora a galera do ABC, da Rattus sk8 shop que tão sempre no rolê; enfim temos uma afinidade com toda essa galera e com a cultura do sk8 e fico feliz que essa molecada curta nossa música. Lembrei de mais uma coisa em comum: assim como usavam as piscinas vazias para andar de sk8, a gente também usava pra fazer shows, na casa de um camarada em Pinda que tinha uma pool abandonada. Era animal, e uma vez levamos até o Varukers pra tocar junto com a gente neste pico em Pindamonhangaba. Pra finalizar qual a expectativa de tocar com o Misfits em abril? Legal, a vida é muito surpreendente. Talvez uns 20 ou 30 anos atrás eu jamais pensaria que isso pudesse acontecer. Eu já cantei uma música com eles em 98, convidado pela banda depois do Gordo do RDP mostrar pro Jerry e pro Doyle na MTV o Zumbis tocando “Some Kinda Hate”, mas hoje eu encaro como mais um show, legal e tal. Fico mais empolgado e feliz pela galera que curte e vai no show, porque vão poder ver no mesmo palco as duas maiores e melhores bandas do mundo nesse estilo. Mas minha primeira pergunta foi: Quanto vão nos pagar? (risos) Contatos: www.facebook.com/zumbisdoespaco

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skateboarding militant // por guto jimenez*

V

Ivan ShupIkov

ocê sabe o que é “resiliência”? O termo surgiu em meio aos estudos da física, e é usado pra classificar a propriedade de alguns materiais de acumular energia quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer rupturas. Uma outra ciência pegou a palavra emprestada, a psicologia, definindo-a como a capacidade do indivíduo de lidar com problemas, superar obstáculos e resistir à pressão de situações adversas. Cá entre nós, existem poucas palavras tão capazes de resumir o que é o skate pras pessoas leigas como essa. Independente da modalidade, nossas trajetórias enquanto skatistas têm uma característica comum além da tábua de madeira, dois eixos de metal e quatro rodas de uretano. Desde sempre, aprendemos que andar de skate é cair e levantar-se pra cair de novo – e levantar-se mais uma vez... Esteja você na fase dos primeiros impulsos, ou mesmo se já tiver nível pra conseguir viver do skate, logo aprende que duas coisas não existem no nosso universo: a perfeição e o impossível. Isso é tão certo quanto a noite vir após o dia, e pode ser comprovado em qualquer vídeo de skate. Ao mesmo tempo em que ficamos boquiabertos com a habilidade demonstrada nos rolés filmados, também trincamos os dentes ao vermos os tombos espetaculares que ocorrem até que aquela determinada manobra saia da maneira desejada. Diariamente, nós perseguimos a nossa melhor performance em termos de manobras e não nos satisfazemos enquanto elas não saiam do jeito que nós queiramos, mas o processo que nos leva até esse objetivo pode ser demorado e dolorido. Pense no seu skatista favorito, seja quem for; você pode ter certeza absoluta que tombos fazem parte da rotina dele da mesma forma do que da sua. OK, talvez não na mesma proporção, mas o cara com certeza passa algumas vezes pelo processo de “tentativa e erro” até alcançar a performance desejada. Essa recusa em desistir de uma manobra acaba afetando nossas vidas de outras formas que, às vezes, não somos capazes de enxergar. As influências físicas que o skate exerce sobre nós são as mais evidentes, principalmente no que diz respeito a apurar os reflexos e a nos tornar mais resistentes à dor do que as outras pessoas. Da mesma forma, temos um conhecimento maior de nossos corpos do que a maioria, já que somos obrigados a mexer com nosso centro de gravidade de tantas formas que nossas noções de espaço e dimensão são bastante apuradas. Em termos mentais, somos mais concentrados do que a maioria e muito mais obstinados na busca de nossos objetivos. E tudo isso somente pra nos divertir sobre os carrinhos & carrões, não pra nos sentirmos melhores ou mais perfeitos do que os outros. Quem nunca ouviu a expressão “do chão, não passa” antes?! Todos nós, e é certo que às vezes até desejamos que passasse só pra não machucar, não é verdade? Bem, pois é justamente o solo onde andamos que nos faz sermos resilientes. Asfalto, concreto e metal: qualquer um deles é muito mais duro do que nossos ossos. Por isso mesmo, é sempre melhor nos mantermos o máximo de tempo possível sobre nossos skates, já que as alternativas são bem doídas. Surfistas lidam com o mar e snowboarders, com a neve. A não ser que se tome um caldo durante uma série de ondas, ou se o fundo do mar for de coral ou pedras, não há grandes riscos em se pular da prancha pra dentro d’água. Nas montanhas, não há grandes problemas em se cair na neve fofa no powder (a menos que tenha uma pedra ou um pedaço de árvore encobertos), somente nas pistas preparadas por tratores onde a neve é mais dura. Nós, não: temos que lidar com ambientes hostis aos nossos corpos desde o primeiro impulso que damos em nossas vidas. E fazemos muito mais do que isso, ao adaptarmos a arquitetura urbana aos nossos desejos de mano-

marcelo mug

Do chão, não passa!

Orivaldo Sujeira experimentando sua resiliência.

Ao mesmo tempo em que ficamos boquiabertos com a habilidade demonstrada nos rolés filmados, também trincamos os dentes ao vermos os tombos espetaculares que ocorrem até que aquela determinada manobra saia da maneira desejada. bras, ao deslizarmos por transições e ganharmos o ar, ao desafiarmos leis da física ladeiras abaixo, ao mostrarmos pleno domínio do nosso corpo e do espaço no flat. Já peguei muitas ondas e deslizei por muitas montanhas na vida, e posso te garantir que NADA se compara a andar de skate! Portanto, da próxima vez que você ouvir a expressão que dá título a essa coluna, agradeça a quem quer que tenha falado isso pra você, mesmo que tenha sido com uma conotação negativa. No final das contas, a nossa resiliência natural é uma das coisas que nos faz sermos diferentes da imensa maioria das pessoas ao nosso redor. É o nosso motivo particular de orgulho e satisfação garantida, que só quem anda de skate é capaz de entender.

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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* EspEcial do Rio skatE VídEo Capítulo 1/ versíCulo 3 João VitoR é o único dE outRo Estado quE tEm paRtE no do Rio. também não sERia poR mEnos: o minEiRo dE Juiz dE FoRa FREquEnta o Estado FluminEnsE mais do quE comE pão dE quEiJo. Fs tailslidE Em Volta REdonda! conFiRa o VídEo no tRiboskatE.com.bR Foto E VídEo pEdRo macEdo

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Base - Ref. EV 13009

Creme - Ref. EV 13008

Mantendo - Ref. EV 13006

Bola - Ref. EV 13012

Cores - Ref. EV 13007

Halftone - Ref. EV 13011

Logo - Ref. EV 13001

Sombra - Ref. EV 13005

Escrita - Ref. EV 13010

Na veia - Ref. EV 13002

Sangue - Ref. EV 13013

Chama - Ref. EV 13003


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