Tribo Skate Edição 223

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Max Cavalera * Fábio Castilho * andre Genovesi * Qix tv Contest

Gian naccaRato

Duas décadas de profissão

Red Bull Skate GeneRation

A cereja do bolo

luiz apelão

Flips pra todos os lados Gian Naccarato, ss crooked Ano 23 • 2014 • # 223 • R$ 9,90

www.triboskate.com.br

MiaMi no iMpRoviSo

Com Lucas Xaparral, Paulo Galera, Leo Giacon e Willian Seco










índice //

maio 2014 // edição 223

especiais> 40. Red Bull skate GeneRation Emoção com profundidadE 48. miami no impRoviso com LEo, Xapa, pG E SEco 60. luiz apelão fLip pra tudo quanto é Lado 72. Gian naccaRato 20 anoS como profiSSionaL seções>

EditoriaL .........................................................................14 Zap .......................................................................................20 caSa nova ......................................................................84 Hot Stuff ........................................................................88 Áudio: maX cavaLEra..............................................92 SkatEboardinG miLitant ......................................94 Capa: ao atingir 20 anos de profissionalismo no skate, Gian ganha sua segunda capa na Tribo Skate. além deste marco pessoal importante, contou a favor o pico pouco explorado de Barcelona e o fato de ser de switch. Ss crooked, com assinatura de sobrenome Naccarato. Foto: Leandro Moska ÍNdiCe: Filipe Ortiz tem seu skate respeitado ao máximo aqui e além fronteiras do Brasil, pois ele não arrega para picos embaçados. Switch heelflip. Foto: Bruno park

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editorial //

três lados da mesma moeda // Por Cesar Gyrão

E

stas situações marcaram o mês de abril de 2014. 1. A abertura do quadro “Um por todos, todos por um” no programa do Luciano Huck, na Rede Globo. O reconhecimento do trabalho do ativista social Sandro Testinha extrapolou as fronteiras do skate e ganhou visibilidade. Parecia ser uma questão de tempo que isso fosse acontecer, que o Social Skate ganhasse um merecido empurrão. Mas, nem sempre as coisas são assim e muitas grandes iniciativas não prosperam simplesmente porque as pessoas cansam de tentar. Ainda bem que Sandro e sua mulher Leila não desistiram e seguiram fazendo pelos outros, as crianças e jovens carentes da cidade de Poá, o que acabou contaminando muita gente ao redor, primeiro os mais chegados, agora o Brasil. Além da nova sede, rampas, skates montados e um caminhão para encorpar o trabalho da ONG, a família recebeu de volta muito do que plantou. Mas a missão não para… 2. A quarta versão do Red Bull Skate Generation foi mais “nas internas” que as anteriores. Com a limitação de espaço no “condomínio” do André Barros e seu filho Pedro, o público do evento de Floripa era mais qualificado. Isso significa que as pessoas que subiram o Morro da Cova Funda, conheciam pelo menos

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o básico do skate. Menos babação aos ídolos, mais qualidade na torcida e comemoração autêntica. Este foi o último evento no RTMF Bowl, pois a prefeitura de Florianópolis assinou compromisso de construir um novo skatepark para abrigar o campeonato a partir de 2015. A evolução continua… 3. A URB, feira de negócios do mercado do skate, street e sneakers, teve sua segunda versão na época do fechamento editorial desta edição da Tribo Skate. Movimento intenso das marcas participantes, com muitos lançamentos esperados e outros que superaram as expectativas. A identidade nacional em grande consonância com lançamentos das grifes internacionais que são distribuídas no país. Uma das constatações que mais se ouvia é o grande volume de dinheiro que está circulando em nosso mercado, numa época em que o skate conquista mais e mais espaço. A Tribo Skate participou como mídia e como marca que cuida há mais de 22 anos de refletir a ideologia e a cultura do carrinho. Social, competição ou negócio, o skate é uma moeda com muito mais lados a serem explorados. Cada um com sua contribuição, a vida vai pra frente.

Acreditar em você e nas suas paixões é o primeiro passo pra realizar alguma coisa nesta vida. André Barros se mudou de Brasília pra Floripa para ficar mais perto do mar e criou raízes. Mexeu no vespeiro, envolveu parceiros com as mesmas ideias e construiu uma plataforma concreta para ser compartilhada com os amigos: o RTMF Bowl. Fs carving grind no corner quebrado. Foto: Marcos Kbça



Ano 23 • mAio DE 2014 • nÚmEro 223

Editores: Cesar Gyrão, Fabio “Bolota” Britto Araujo

Impressão: ipsis Gráfica e Editora

Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge

Bancas: Fernando Chinaglia Distribuidora S.A. rua Teodoro da Silva, 907, Grajaú rio de Janeiro/rJ - 20563-900

Arte: Edilson Kato Redação: Junior Lemos Colaboradores: Texto: Guto Jimenez, Helinho Suzuki, Leonardo Giacon, Marcelo Mug, Walter Garrote Fotos: Alex Brandão, Bruno Park, Diego Almeida, Diego Sarmento, Fernando Arata, Guilherme Puff, Heverton Ribeiro, João Brinhosa, Leandro Moska, Leo Giacon, Lucas Xaparral, Marcelo Mug, Marcos Kbça, Pedro Macedo, Petronio Vilela, Rodrigo K-b-ça, Tuka Quinelli, Willian Seco

Pátria Editora Ltda Presidente: Jaime Benutte Diretor: iberê Benutte Administrativo/Financeiro: Gisele Freitas Circulação/Comercial: Patrícia Elize Della Torre Comercial: Cezar Toledo (cezar@patriaeditora.com.br) Cibele Alves (cibele@patriaeditora.com.br)

Distribuição Portugal e Argentina: malta internacional

Fone: 55 (11) 2365-4123 www.patriaeditora.com.br www.facebook.com/PatriaEditora

São Paulo/SP - Brasil www.triboskate.com.br E-mail: triboskate@triboskate.com.br

Empresa filiada à Associação Nacional dos Editores de Publicações - Anatec

Deus é grande!

A Revista Tribo Skate é uma publicação da Pátria Editora. As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista. Dúvidas ou sugestões: triboskate@patriaeditora.com.br





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Queremos seu vídeo Por Walter Garrote

Diego AlmeiDA

// Qix TV ConTesT 2 Um minuto e a chance de ganhar um carro, cinco mil reais para o video maker e mais cinco mil para melhor manobra, ou ainda dois mil para melhor linha e melhor edição, como? Seis skatistas já garantiram suas vagas. E você, já mandou seu vídeo? Está no ar desde janeiro desse ano a competição de vídeos que dá um carro para o skatista amador brasileiro que apresentar seu melhor em um minuto. Nas eliminatórias de fevereiro, março e abril foram mais de 60 vídeos disputando duas vagas a cada mês, para a fase final em novembro. Até lá os classificados terão que filmar um novo vídeo de um minuto, mais introdução e vinhetas, seguindo as regras que estão no site do campeonato. O Qix TV Contest 2 é a segunda edição dessa competição que reúne de forma democrática

Da primeira eliminatória, Carlos Eduardo “Dudu”, ss heelflip candidato ao best trick.

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zap // > Queremos seu vídeo

Arquivo PessoAl

Márcio Roberto, São José dos Campos, fs fifty.

Arquivo PessoAl

Arquivo PessoAl

skatistas de todo país, sem a necessidade de sair de suas cidades para participar de um campeonato que distribui uma das maiores premiações do Brasil. Nessa edição, o melhor vídeo vai levar um Chevrolet Onix novinho pra casa; o video maker ganha cinco mil reais para investir em equipamento, viagem, ou o que quiser. Além da premiação de best trick que também vai dar cinco mil reais para a manobra mais cabreira, lembrando que para os classificados da fase final do best trick, é preciso

Yuri Mesquita, bs noseblunt.

Habby, hardflip. Segunda eliminatória.

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PeDro mAceDo

> Queremos seu vídeo produzir um vídeo com making off, com erros, tentativas e finalmente o acerto da manobra. // os seis primeiros ClassifiCados Em fevereiro, os dois classificados, Carlos Eduardo Ferreira de Cuiabá/MT, também vencedor do best trick (double bs flip no gap) e Marcio Roberto, de São José dos Campos/SP. Na segunda eliminatória em março, foi a vez de Gabriel Kwiatkowski Jr., de Santa Cruz do Sul/RS, também vencedor do best trick e Yuri Gonçalves Mesquita, o “Mine”, de Pelotas/RS, em segundo lugar. Até o fechamento dessa edição estavam na briga Leonardo Habby, de Cruz Alta/RS, Humberto Peres de Rio das Ostras/RJ. Quem já garantiu sua vaga tem mais tempo para filmar o vídeo inédito da final, ou seja mais tempo para conseguir as melhores manobras e melhores edições! Outra coisa que alguns skatistas não se deram conta é que deixar para última hora para mandar seu vídeo vai tornar a concorrência enorme e a dificuldade também! Na terceira eliminatória foram apenas cinco vídeos, ou seja, as chances de conseguir a classificação eram muito maiores, pois com poucos vídeos a concorrência é muito menor! Tá esperando o que? É hora de se juntar com o seu amigo video maker e produzir seu vídeo para participar do Qix TV Contest 2 e passar o Natal de carro novo.

Humberto é de Rio das Ostras e foi bem na terceira eliminatória. 360 flip to fakie, Rio.

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[01] Luan de Oliveira proteje os olhos e fica na estica usando óculos da Oakley, ele que agora é oficialmente do time! • [02] Carlos Ribeiro é parceiro de equipe de P. Rod, que finalmente revelou a marca da qual passa a usar os shapes: trata-se da Primitive Skate. A marca conta também com o amador Nick Tucker no time. • Filipe Ortiz lança vídeo parte matadora pela sua crew Tropicalients, intitulada ‘Na Braza’, e também comemora a entrada na equipe brasileira da Independent Trucks, distribuida por aqui com exclusividade pela Drop Dead. • [03] O brasileiro JP Oliveira, natural de São José dos Campos e há um tempo morando nos EUA, venceu por lá a disputa de melhor manobra chamada Brotherhood Of The Feet, realizada pela Nike SB que misturou futebol e skate. Yuri Facchini também estava na área, compondo o corpo de jurados do evento. • A Drop Shoes apresenta o pro model de tênis do profissional Rodolfo Ramos. (dropdead.com.br). • Ari Bason, skatista remanescente da geração dos anos 1980 volta a gerenciar a Plasma Footwear. Ele que já esteve à frente da marca de 2003 a 2008. • [04] O lendário Rodrigo TX entra para a marca de óculos 9Five. • De 13 de maio a 6 de junho a Agacê apresenta com exclusividade, por diversas cidades brasileiras, o Uni.Versus. Este que será lançado 14 anos depois do último vídeo feito pela marca. (fb.com/agaceskateboards). • O CEU Parelheiros em SP recebeu a construção de mais uma pista de skate com assinatura do Brasil Skate Camp (leia-se Cris Fernandes). A área de street é compacta mas oferece perfeitas condições de se desenvolver um bom rolê e já revela futuros nomes para o skate brasileiro. • [05] ‘Cadê o truck do negão?’ foi a frase que a Liga Trucks usou por um tempo para ‘esquentar’ o lançamento dos eixos assinados pelo profissional Gui da Luz. A festa de lançamento dos eixos rolou em sua cidade natal, Esteio, e contou também com a exibição de sua primeira vídeo parte. Confira no youtube.com/user/ligatrucks. • Salvador foi a cidade escolhida para a abertura da primeira loja física da Orig Skateshop (rua João Gomes, 87, no térreo do Free Shopping). A marca também reforça o time com a entrada do insano skatista de Aracaju Franklin Morales. • Kaue Cossa, destaque de nossa edição 221, recebe agora o suporte da Blaze Supply. • [06] A marca franco brasileira também lançou recentemente uma série de shapes com estampas desenhadas pelo mestre Marcelo Barnero. • Mezcla Original é a mais nova marca de vestuário, feita por skatistas brasileiros. (fb.com/mezclaorigina) • Também nova no mercado, mas vinda do Sul do país, a Stoner Skateboards vem fazendo barulho em Santa Catarina. Composta pelos skatistas Filipe Soares, Tiago Gaertner e Luiz Otávio, a marca vem com camisetas e shapes. (fb.com/stonerskateboards) • [07] O carioca do street Ademar Luquinhas e a paulistana das ladeiras Reine Oliveira são os dois reforços mais do que pesados para o completo time da Qix Skate. • Depois de assinar contrato no começo do ano, Ricardo Porva vê nas ruas seu pro model de tênis pela Freeday, novidade foi divulgada com o vídeo ‘Pés do Chão’, feito pelo Alex Kundera. • A Glassy Sunhaters, do streeteiro Mike Mo Capaldi, desembarca em terras brasileiras para a ‘Bra-zillon Miles Away Tour’, que também contará com a presença de Kenny Anderson, Brandon Biebel, David Loy e dos brasileiros Rodrigo Petersen e Danilo Cerezini.

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Diego sArmento

Andre Genovesi Ele está vivendo no avião. Sozinho ou com a família, Andre Genovesi tem passado grande parte de seu tempo embarcado entre suas casas em Los Angeles e São Paulo. Em meio aos compromissos com as marcas Son e Öus e seus rolês de skate, encontra tempo pra curtir sons que fazem sua cabeça. Entre eles, os citados neste Playlist que ele montou pra Tribo Skate. 93’ til Infinity, Souls Of Mischief I Got Cha Open, Black Moon Boo Boo Heads, Del The Funky Homosapien Corner Story, Del The Funky Homosapien [essa música nunca saiu] Don’t Sweat the Technique, Eric B & Rakim Release Yo Delf, Method Man Hell on Earth Album, Mobb Deep Peter Pan Syndrome, Sam G Shadowplay, Joy Division Brave Captain, Firehose Generator, Bad Religion Forget the Swan, Dinossaur Jr Weakness, Chuck Treece [Mc Rad] Luchini, Camp Lo Nothing Else Matters, Metallica Burning and Looting, Bob Marley Jesus Chorou, Racionais Mc’s Miss Saravejo, U2 & Luciano Pavarotti Story of my Life, Social Distortion

Flip da rampa direto pro chão.

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Andre Genovesi (33 anos, 26 anos de skate, Öus/ Son Skateboards)



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selfie a palavra selfie está em alta nas mídias sociais atualmente, contaminando hashtaGs nas leGendas de famosos e anônimos, reGulares e Goofys. seu contexto nada mais é do que a imaGem na qual a própria pessoa fotoGrafa seu rosto, seGuindo variações bastante criativas. por isso nada mais justo do que trazer na coluna deste mês alGuns skatistas praticando o mesmo no instaGram.

@alexandrecv

@allancarvalho

@anderson_tuca

@augustofumaca

@carlinhoszodi

@karenjonz

@photoflavio

@skataholic

@xushineshine

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zap // Fotos FernAnDo ArAtA

Todos pelo social O “day after” (dia seguinte) da entrega da nova sede da ONG Social Skate, a casa do Sandro Testinha na cidade de Poá, pelo programa do Luciano Huck, foi mais uma invasão em seu lar. É certo que o reconhecimento do trabalho do Testinha e sua mulher Leila, com crianças e adolescentes carentes, encheu de orgulho a todos que acompanham e participam do Social Skate nas internas do skate. O novo quadro do apresentador da Rede Globo visa justamente apoiar iniciativas que mobilizam pessoas a fazer o bem. Nada mais adequado que começar pelo nosso antigo colunista, com sua Manobra do Bem. Foi bonito de se ver. Voltando ao dia seguinte, sua casa recebeu o lançamento do livro infantil do Alessandro McGregor e o Kleber Moraes, Amigo Skate. Quem não viu o “Um por todos, todos por um” do Luciano Huck, tem a obrigação de procurar o programa no Youtube, pois é muito emocionante. Muitas pessoas e entidades contribuíram para ampliar o trabalho da família do Testinha. Agora a ONG conta com nova e incrível sede, jogos de skates e equipamentos, rampas feitas pelo Daniel Arnoni e o caminhão que vai levar mais longe a sua obra. Testinha e amigo em seu caminhão.

Leila, McGregor e o Amigo Skate.

Wacson Mass, bs lip.

direto e reto Alessandro McGregor foi brilhante ao escrever seu primeiro livro infantil, com o título Amigo Skate. O recado para a garotada é direto, pois impera a simplicidade, com ilustração impressionantemente bela do artista Kleber Moraes. Por mais que seja um livro para o público infantil, a arte é tão legal que dá gosto de folhear, admirando página por página o envolvimento do garoto Alex com o skate. Alex é uma criança com problemas de relacionamento que encontra no skate um amigo, fazendo do “brinquedo” a sua ferramenta de inserção social, influenciando no seu crescimento educacional e profissional. O livro faz parte do pacote de criação do McGregor, Pensamentos Avulsos de um Jardineiro Fiel. O Amigo Skate é um ótimo incentivo à leitura e prática do skate através de ações voluntárias que serão realizadas em 2014, entre elas em escolas de São Caetano do Sul e no Projeto Social Skate em Poá. (Gyrão)

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fábio cAsTilho sua reliGião é o skate. é querido por todos e uma referência forte do street de são paulo, principalmente quando se fatia a metrópole em reGiões e se mira para o imenso território que é a zona leste. um dos precursores do flip to board no brasil, ele ainda tem na manGa muitas manobras técnicas de impacto para aplicar em demos e jam sessions sob pressão, seja em campeonatos ou para vídeos e sessões de fotos. fábio é um cara dedicado aos amiGos e patrocinadores, tanto que seus vínculos nesta área são lonGos, como com a urGh (desde 2003 na marca) e crail (desde 2005). mas isso não é diferente com os novos parceiros, há menos tempo com ele, mas já investindo em pro models. sua assinatura está em muitos produtos, o que só corrobora sua credibilidade como profissional. a maioria das perGuntas de seu lv vem de são paulo, sua terra, sua base, mas cast tem admiradores em picos tão distantes como porto velho, de onde veio uma perGunta maneira. (GYRãO) • Então, vamos lá: O quanto sua família foi importante em todas suas decisões para se tornar a pessoa que é hoje, tanto no lado profissional quanto no lado pessoal? (Fernando Koji Dias Takada, Andradina/SP) – Salve, Fernando. Família é base de amor, fé e coragem. Então, se resume nisso e é o que temos que colocar no skate e na vida. Abraço. • Castilho, como funciona o pagamento recebido por um skatista profissional? O salário é dividido entre as marcas ou apenas uma banca? O salário apenas é suficiente pra sobreviver? Sei que você trabalhava e andava antigamente; isso atrapalhava nos corres do skate? Valeu! (Bruno de Araújo Lima, São Carlos/SP) – Salve, Bruno. Recebemos. Somos contratados e no dia certo as marcas depositam nosso salário como skatista. Antes eu tinha que trabalhar em ousobrevitros corres, pois só do skate minha vida não virava. Mas, hoje dá pra sobrevi ver apenas do skate, sim. Graças a Deus. Valeu irmão! • Como você classificaria o skate? É esporte, cultura, moda? E como você vê o mercado do skate no Brasil: é diferente do início da sua trajetória? (Rogério, Birigüi/SP) – É esporte, cultura, moda e muito mais. É atitude e estilo de vida, man! Sempre temos que manter nossas raízes. O diferente do mercado é que hoje tem muito mais picos pra andar. Abraço, mano Rogério. • E aê, Fabio? O que você acha que deveríamos fazer para a Praça de Itaquera vol voltar à ativa, já que está abandonada? Abraço! (Henrique Luiz“Pikineis”, São Paulo/SP) – Salve, meu mano Pikineis. Você sabe como é, né? Kkkk… Vamos nós mesmos colar em peso de novo e já era! Abraço. • Saaaalve, Castilho! Qual a maior dificuldade que você encontrou quando você decidiu levar o skate como profissão? E qual foi a sua maior motivação para continuar seguindo em frente sem desanimar? (Bruno Bello, Itapira/SP) – Salve, Bruno. Então, irmão, a grande dificuldade é que nós mesmos nos bloqueamos e não focamos o nosso so-nho. A motivação maior é cada vez mais viver o mundo do skate total: viagens, eventos, amizades e objetivos de vida. • O que você diria para aquele moleque que está na correria, para poder um dia se consagrar como você se consagrou um dos maiores nomes do skate brasileiro? (Bruno Bello, Itapira/SP) – Foco, determinação e muito amor ao skate, vendo sempre os outros como seu próprio reflexo. // fábio CasTilho 32 anos, 22 de skate Patrôs: Urgh!, red nose, Crail, Moog, offiCial, ray Brown são PaUlo/sP

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• Hoje o skate evoluiu, e muito, não só nas manobras mas também dentro da sociedade. As pessoas já não o marginalizam como antes. Quais as principais características que você vê hoje, que acabaram ajudando o skate a ser bem visto por boa parte da sociedade? (Bruno Bello, Itapira/SP) – A evolução estará sempre dentro de nós. Fico feliz de saber que nosso respeito está sendo conquistado. Estão aí as principais características de aceitação. • Fábio, acompanho sua carreira há anos, e a maioria, como eu, sabe que é inspiradora e vitoriosa! Mas poucos sabem que não só no skate, como na vida, você é um vencedor e exemplo, pois com a ausência do seu pai você foi o homem da casa e o fortaleceu mais ainda. Com tanta bagagem ao longo desses anos, model de tênis, shape, trucks, rodas, viagens internacionais, eu lhe pergunto: O que falta pra realização pessoal de Fábio Castilho? (Binho Sakamoto, São José das Cruzes/SP) – Ô, chegado! Binho Sakamoto, máximo respeito e conceito como irmão. O que falta, Deus tá preparando para a melhor hora. • Primeiramente, minhas reverências a um dos mestres do skate! Fábio, o que você acha das buslojas e de marcas nacionais se unirem em bus parca de pistas em todas as nossas praças e par ques de São Paulo? Isso aumentaria o número de skatistas e seria um passo muito importante para valorização do skateboard. Muita luz, paz e evolução cada dia mais para você. (Eduardo Costa de Oliveira, São Paulo/SP) – Obrigado, Edu. Eu acredito nas lojas e muito mais nas marcas. Quando se unem, fortalecem o cenário e o fluxo de mermer aumentancadorias. Com certeza que, aumentan do os picos para andar, a evolução e o prazer de viver andando de skate será fortalecido. Muita luz e tudo de bom a todos nós. • Hoje em dia o skate vem crescendo cada vez mais no Brasil, e você, já sendo um profissional com muitos anos o que o motiva a andar e o que você tem a passar pra galera que tá começando agora? Abraço! (Carlos Eduardo, São Paulo/SP) – A vontade de andar mais e mais... Aprender manobras, fazer amizades, descobrir picos novos. E explorar nossos limites, com respeito e humildade. • Salve, mano Castilho! Gostaria de saber como você conheceu meu outro parceiro, o Marcelo Akasawa? Como eram os corres de vocês na época de amador e o que você tem a dizer sobre a Nype do Gueto? Que Deus continue abençoando seus corres pela ZLei! (Ricardinho Watanabe, Pindamonhangaba/SP) – Salve, Ricardinho. Nos conhecemos aqui pelas quadras e picos de rua da ZL, aí sempre junnos trombamos e fazemos alguns corres jun tos. Na época de amador fomos criando ideias e personalidade. Nype do Gueto é mais que



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fรกbio cAsTilho

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uma crew ou marca de skate, é uma família grande do • Da hora seus pro models de tênis Red Nose, trufundão da ZLei. Amém pra você também, irmão! cks Crail, shape Urgh e rodinhas Moog. O que você • Bom, o conheço desde pequeno. Já andamos sente quando tem um produto assinado no mercado? muito e pra mim seria uma honra ganhar os prêQueria saber se tem como me enviar como apoio, promios... Castilho, você é um dos maiores skatistas da dutos das marcas que patrocinam você? Falou. Valeu, atualidade e considerado por muitos! Qual o segreCastilho! (Felipe Thiago de Albuquerque, Mogi/SP) do de tanto sucesso? Como skatista e como pes– Obrigado, Thiago. Então, é uma realização que não soa, tanto com os amigos, como na família? Abraço. se mede e ainda mais quando se vê a aceitação e a (Gláucio Martins, Franca/SP) galera andando com seus produtos. A questão de apoio, – Ô, irmão, certeza. Quando a gente se reencontrar aí já é outro lance, irmão. Mas se pudesse, vixe, todos vou descolar algumas lembranças e colocar as ideias tinham patrocinadores bons e parceiros. Grande abraço. em dia, kkkkk. Você faz parte de tudo isso, irmão. Eu • Mesmo sendo skatista profissional você trabanão penso em sucesso, mas sim em fazer as coisas lhava diariamente em um fórum com um visual pracertas com as pessoas certas. A benção vem, basta ticamente irreconhecível; hoje sua dedicação excluaproveitar e compartilhar. siva ao skate demonstra que a antiga profissão e a • Castilho, me conta o segredo do flip backside estabilidade financeira não foram capazes de tirar tailslide? (Gláucio Martins, Franca/SP) seu foco do carrinho. Após centenas de marretas – Kkkk. Não vou nem te falar, viu? Kkkk, mas você memoráveis e conquistas como seus vários pro mosabe muito bem e no style ainda, Negão. Kkkk. Valeu dels você tem a convicção de que abrir mão de algo pelas dicas mestre, flipou, correu, segura e sorta. Kkkk. tão importante para muitos foi fundamental para • Castilho, a trick que você mais gosta de manseu sucesso? (Edilson Vasconcelos, Porto Velho/RO) dar é hard flip? Hard flip, hard flip board, hard flip fs – Com certeza, Edilson. Temos que ter estruturas e rock, hard flip tudo? (Renan Espinha, São Paulo/SP) bases firmes para poder viver e realizar sonhos e nos– Salve, Renan. Gosto de todas manobras, mas me so planos. Agora vivo o que eu amo fazer e que sempre identifico e me sinto vivo quando volto alguma trick com me dediquei que é “andar de skate e viver de skate e flip, seja hard ou simples flip. pelo skate”. • Castilho, essa frase é sua: Flipo, logo existo? • Qual a influência que a Zona Leste e as amiza(Renan Espinha, São Paulo/SP) des feitas lá exerceram na sua formação como ska– Essa frase resume a felicidade de estar vivo e antista e cidadão? (Bruno Freitas, São Paulo/SP) dando de skate. Na real, essa frase vi o nosso mano – Salve, Bruno. A humildade e a dificuldade pra genPC usando uma vez na lixa dele e me identifiquei muito te conquistar nossos espaços no cenário. Agora temos com ela! Grande, abraço, irmão. pistas, praças e bons skaters aqui da ZL. Essa forma• Como é ser valorizado por patrocinadores nação é a que sempre lutamos. Basta cada um saber o cionais, pois, muitos tendem a buscar isso lá fora? que quer pra si e valorizar o que tem. Somos cidadãos A empresa nacional “hoje” tem dado o real valor pro de bem e vamos além. atleta? Obrigado a todos! (Fábio Penso, Itanhaém/SP) • Salve, Cast! Quem foi sua inspiração no começo – Salve, xará! Então, como sempre digo, é muita de sua carreira no skate? O que a Zona Leste signisintonia entre você, seu skate e seu patrocinador... fica pra você? (Mauricio Gouveia, São Paulo/SP) Sempre pensei que devo viajar o máximo que puder – Salve, Marreta. Kkkk… Então, me inspirava nos e manobrar pelos picos, registrar o que puder e usar meus amigos aqui de perto e meu irmão, que andava aqui no Brasil. Aí as ideias foram acontecendo e está comigo no início. A Zona Leste é mais só que um lugar, é virando dessa forma. Corro com os caras e eles correm meu habitat, nosso habitat. Kkkk. É onde gosto de morar, comigo. Grande, abraço Penso. manobrar e ficar. Grande abraço e bons corres, irmão. • Castilho, eu moro em Itaquera e por diversas • Na vida, sempre lutamos para conseguir nossos vezes já vi você dividindo a session com vários maobjetivos. Qual foi a maior dificuldade que você já nos que manjam pra caramba de skate, e outros passou para conseguir um objetivo? (Lena Andrade, que nem tanto assim, mas mesmo assim mantendo Cruzília/MG) a amizade, a humildade e o respeito com cada um – Olá, Lena. Acho que a maior dificuldade são as deles (de nós)! Minha pergunta é: Como é pra você lesões que tomam nosso tempo e nos deixam com cerser um pro tão evoluído no skate, já bastante vivido tos traumas. Mas a mente estando bem, o corpo se retambém, com bastante bagagem e conhecimento cupera bem. Estou em busca de muitos objetivos ainda. mas mesmo assim não esquece as suas raízes? Abraço. Paz, família Andrade. Você se sente reconhecido nesse meio ‘streeteiro’? • Você é um streeteiro nato. Diga, por que andar Viva o skate! #zlei (Caio Felipe, São Paulo/SP) na rua é tão melhor? (Frederico Assis, Petrópolis/RJ) – Viva o skate, Caio! É isso, irmão, é uma vida sim– Salve, Fred. Sabe como é: a rua nos inspira e pra ples e verdadeira junto com os irmãos... Desde quando mim me faz sentir uma liberdade que não tem explicacomeçamos, temos que saber que não somos melhoção. Cada pico novo, novos desafios e novas experiênres e nem diferentes de ninguém e assim que é. Sem cias pra vida! deixar subir pra cabeça ou se perder na caminhada. Abraço, família. * Pergunta escolhida foi a do Binho Sakamoto.

Bs 180 to fakie nosegrind.

PróxiMo enfoCado: Wesley Gelol envie sUas PergUntas Para: TriboskaTe@ymail.Com CoM o teMa linha Vermelha – Wesley Gelol ColoqUe noMe CoMPleto, Cidade e estado Para ConCorrer ao ProdUto ofereCido Pelo Profissional. 2014/maio TRIBO SKATE | 37




Petronio Vilela

red bull skate generation

a cereja do bolo são intensos os dias do red Bull skate Generation. Por mais que se descanse entre uma ida à Praia, ao restaurante, à Pousada e os momentos chuvosos, a circulação de ideias, Pessoas, skates, equiPamentos, marcas e tantas outras variáveis toma conta de todos que se envolvem com o evento. aPenas com a ProGramação oFicial qualquer um Pode se esBaldar muito com a cultura do Board. Festa na hi adventure, churrasco na casa do eduardo, Balada de Gala no John Bull, tudo isso dePois de dias de sessions de BowlridinG levadas às últimas consequências, são aPenas alGuns dos exemPlos do que toma conta de quem vive estes dias no Bairro do rio tavares, em FloriPa.

João Brinhosa

Por Cesar Gyrão // Fotos Junior Lemos, João Brinhosa, Petronio ViLeLa e marCos KBça

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João Brinhosa

bolwriding // rbsg 2014

Miguel Zaffari “Catarina” mostrou completa intimidade com o quintal de sua casa. Da ‘vila’ que subiu o morro da Cova Funda, na propriedade da família Barros, é ele que tem a casa mais perto do bowl. Bs nosegrind, completamente fluido.

2014/maio TRIBO SKATE | 41


Junior lemos

rbsg 2104 // bolwriding

Ele liderou uma fase da competição, com seu skate arrojado e técnico. Americano de origem italiana, Alex Sorgente é silencioso e focado em fazer o maior número de manobras e fundamentos em suas linhas. Bs saran wrap.

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Junior lemos

Mais uma vez no time um, Christian Hosoi, bs air.

marcos KBça

Depois que saiu da competição, Felipe Caltabiano “Foguinho” tirou o equipamento de segurança e ficou brincando de desafiar a si mesmo no pelo. Fs ollie na caveira.

o

núcleo inicial de todo este movimento foi aquela casa na Rua Sotero de Farias, quando surgiu uma mini ramp de madeira na casa alugada por André Barros, onde nasceu o Pedrinho. Logo depois surgia o banks retangular de concreto na Hi, com as dicas preciosas do Léo Kakinho. Os anos foram moldando os skatistas da área, cada vez em maior número e qualidade. Aliando o estilo de vida do surf com o skate, criaram uma escola que impulsionou várias outras iniciativas e subiu o morro da Cova Funda, uma área ao lado da Pedrita, pedreira enorme cravada na Ilha de Santa Catarina. Foi para lá que André deslocou a família, depois de morar uns anos na Austrália e voltar com seu filho mais afiado na arte do skate, montando o primeiro half pipe para um garoto com seus 9 anos de idade. Do pé para o centro do morro foi um pulo, num terreno de mata preservada onde surgiu o Bowl RTMF e as casas a seu redor. Hoje, além de André e Pedro, amigos próximos estão construindo seus lares em volta do parque de diversões. Miguel Catarina, Marcos Kbça, Marquinhos Feijó e Fábio Caraguá são os privilegiados. Com tanto interesse em participar ou assistir o evento, decidiu-se que este quarto ano de Red Bull Skate Generation seria o último nesta área. O local simplesmente não comporta um grande público, mas a história segue seu curso e uma nova era se desenha no horizonte. O barulho da evolução de Pedro Barros, depois de quatro títulos mundiais seguidos e seus amigos monstros, acabou por sensibilizar o poder público em Florianópolis e a prefeitura assinou contratos para construir e reformar pistas na cidade. Uma delas, no bairro da Costeira, será habilitada para receber os próximos grandes eventos, pois será dotada de um bowl de porte e estrutura compatível para o crescimento do esporte. A fórmula já tinha dado certo: reunir gerações diferentes do skate e celebrar a vida. No fundo de tudo isso, uma competição válida como quarta etapa do circuito mundial de bowl, o Concrete Series, para a categoria profissional. Das quatro etapas, Pedro levou três, deixando escapar apenas a da Nova Zelândia, para o Alex Sorgente. No último dia, aí sim, seis times compostos com os melhores amadores, profissionais, pro masters e pro legends do RBSG teriam o papel de encher de orgulho todos os que amam o carrinho. Das baterias iniciais, vinham na seguinte ordem: Profissional: 1º Pedro Barros; 2º Murilo Peres; 3º Alex Sorgente (EUA); 4º Sandro Dias; 5º Rony Gomes; 6º Rune Glifberg (Dinamarca). 2014/maio TRIBO SKATE | 43


A cereja do bolo do Pedro Barros: o inĂŠdito backside 360 sobre a plataforma da caveira, sem respirar muito depois da final.

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Petronio Vilela

João Brinhosa

bolwriding // rbsg 2014

Depois de muitos anos longe das competições, Álvaro Porque? comparece. Fs crailslide.

Pro legend: 1º Christian Hosoi (EUA); 2º Jeff Grosso (EUA); 3º Pat Ngoho (EUA); 4º Luis Roberto Formiga; 5º Marco Aurélio Jeff; 6º Mauricio Chileno. Amador: 1º Keegan Palmer (Austrália); 2º Augusto Japinha; 3º Vi Kakinho; 4º Hericles Fagundes; 5º Fabio Junqueira; 6º Pedro Quintas. Pro master: 1º Léo Kakinho; 2º Eduardo Braz; 3º Marco Cruz; 4º Miguel Catarina; 5º Mauricio Boff; 6º Jhonny Drews. Estes foram os selecionados, mas o que se viu nos demais dias de sessions no RTMF foi simplesmente alucinante. Só pra se ter uma ideia, você não viu acima o nome do Felipe Foguinho entre os seis primeiros. Foi parada duríssima, com outras tremendas performances como as de Nilo Peçanha, Otavio Neto, Caíque Silva e Josh Borden tendo que ficar pra trás entre os pros. O fator localidade pesou forte na hora das voltas de pro masters como Léo Kakinho, Marquinho Cruz e Catarina, com a exceção de Duzinho Braz, novamente entre os melhores. Entre os legends, Luiz Roberto Formiga andou ainda melhor que o ano anterior e foi o melhor brasileiro depois dos insuperáveis Hosoi e Jeff Grosso, que este ano tiveram ao seu lado o estiloso Pat Ngoho, em sua segunda vez no Brasil depois de mais de 20 anos. Com Jeff Cocon esme2014/maio TRIBO SKATE | 45


marcos KBça

Junior lemos

rbsg 2104 // bolwriding

Petronio Vilela

Augusto Akio, fs ollie one foot.

rilhando sua fome insaciável de andar na frente de todo mundo, as baterias da geração mais antiga foram bem concorridas. Novos nomes da cena invadiram as baterias amadoras, com destaque para o incrível Hericles Fagundes e o pequeno ‘aussie’ Keegan Palmer. Pequena estatura, boas manobras e a liderança da categoria. Transmissão ao vivo pelo Redbull.com, com comentários de Geninho Amaral e Neal Hendrix, as baterias finais cumpririam seu objetivo, de encher os olhos e corações dos presentes ou dos espectadores virtuais. Na relação inversa de classificação, da equipe seis à um, cada skatista foi destilando suas melhores habilidades para garantir pelo menos duas voltas das cinco a que tinham direito com as melhores manobras de suas vidas. Foram momentos de alto grau de felicidade. Dificilmente um outro time superaria o de número um, aquele com novamente o Pedro, o Hosoi e o Kakinho na frente, com Keegan Palmer na manga. Mas, na aventura da superação de cada time, Murilo Peres não conseguiu encaixar um bendito fs smith grind quilométrico e quebrou quatro de suas cinco linhas. Era um trabalho em equipe, e outros times acabaram se superando, passando à frente na classificação final. Novamente Pedro Barros entra em cena para desequilibrar, com os mais altos airs e liptricks mais longos. Mas para fechar com chave de ouro, depois de enfiar em suas linhas um transfer impressionante sobre a caveira, ele resolveu complicar. Inventou de fazer este transfer em 360 e mesmo depois do encerramento da final, colocou pilha em todo mundo e deu um jeito de voltar a manobra que parecia impossível. A verdadeira cereja do bolo!

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João Brinhosa

Pat Ngoho, rockslide.

Um dos mentores do RTMF, Leo Kakinho tem na bagagem muitos quilômetros de skate e surf. Manobras da manga como este finger flip provam seu conhecimento enciclopédico. Depois do Generation estava de viagem marcada para o Vans Pool Party, clássico evento com os melhores masters do mundo na Califórnia. Na volta, ele estreará sua coluna na Tribo Skate, compartilhando a cultura do bowlriding com você.

Os três primeiros times. resuLtado (amador, pro master, pro, pro legend) 1º lugar - time 1 Keegan Palmer, Léo Kakinho, Pedro Barros, Christian Hosoi 2º lugar - time 3 Vi Kakinho, Marco Cruz, Alex Sorgente, Pat Ngoho 3º lugar - time 4 Hericles Fagundes, Miguel Catarina, Sandro Dias, Luiz Roberto Formiga

4º lugar - time 2 Augusto Akio, Duzinho Braz, Murilo Peres, Jeff Grosso 5º lugar - time 5 Fabio Junqueira, Maurício Boff, Rony Gomes, Marco Aurélio Jeff 6º lugar - time 6 Pedro Quintas, Jhonny Drews, Rune Glifberg, Mauricio Chileno



viagem // flórida

miami,no improviso

Na semaNa aNterior à viagem pro eveNto profissioNal mais esperado do aNo Não tíNhamos sequer Nossos passaportes com o visto em dia, mas sabíamos de uma coisa: a missão iria acoNtecer. que fosse em miami, que fosse No improviso! Por Leo Giacon // Fotos Leo, Seco, Xapa, pG

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Esquece o GPS, 茅 s贸 rodar. Estamos em Miami, alguma coisa a gente encontra. 50 | TRIBO SKATE maio/2014


a

Paulo Galera, fs nosegrind em Key Byscayne.

Lucas XaparraL

flórida // viagem

ideia começou a ser pensada 20 dias antes, quando encontrei o Xaparral e falamos sobre o tampa Pro. Depois de algum tempo de conversa, a conclusão foi de que o evento não deveria ser o principal foco da viagem. Quando conversei com o PG, ele concordou na hora! A ideia inicial era muito mais ousada e levaria bem mais tempo, mas com cinco dias antes de embarcar ainda faltava muita coisa para rever e as passagens subiam a toda hora. Foi aí que surgiu a ideia: Vamos pra Flórida há muitos anos e ficamos sempre em tampa, estaremos a apenas 6 horas de carro de uma das maiores e mais badaladas capitais metropolitanas do mundo, Miami. Vez ou outra passamos por ela, mas nunca com tempo e oportunidade para andar em seu picos e conhecê-la realmente. Então, por que não passar alguns dias explorando a cidade mais procurada do “sunshine state”? Foi aí que começou a verdadeira corrida contra o tempo! Passagens, hotéis, o campeonato, a cobertura; tudo isso para resolver em quatro dias. Logo de cara foi descartada a ideia do fotógrafo e do videomaker, ninguém teria espaço na agenda e para se organizar para uma viagem internacional em tão pouco tempo. o Xapa tinha os equipamentos, poderia funcionar, mas ainda faltava alguma coisa para uma melhor coleta de imagens, com diferentes ângulos e as melhores fotos e vídeos. Foi então que surgiu Willian seco com os equipamentos necessários para complementar a ideia e a empolgação à milhão para a primeira vez que ele visitaria a terra do tio sam. “tudo certo, posso emitir as passagens?” “Não,” disse o PG. “Acho que não vou mais, meu passaporte ficou preso na greve dos Correios.” Bom, o jeito era partir para o evento e visitar Miami, mas a matéria ficaria para o próximo ano. Passagens compradas, quando a dois dias do evento chega uma mensagem do PG no meu WhatsApp: “olha quem chegou (foto)! Vamo que vamo.” temos os equipamentos, temos a matéria e agora temos o principal: a gangue reunida! Até o final do tampa Pro, estava tudo resolvido: o carro, o hotel e o roteiro. Na segunda-feira depois do evento, pegamos a “rota 75” sentido Miami, e a única coisa que tínhamos em mãos era o contato do Danny Fuenzalida para passar as direções do spots locais. Ao invés de chegar e ir direto procurar o hotel, que seria o certo, não, a gangue foi pra Miami Beach. Ficamos lá por horas, impressionados com a variedade de coisas e pessoas que é a ocean Drive. A praia é paradisíaca; do mais jovem ao mais velho, todos estavam naquela mesma vibe de deslumbre com o lugar. Pessoas de todas as partes do mundo falando muito mais espanhol e português do que o próprio inglês. saímos de Miami Beach sentido Downtown, para dar um check nos picos da cidade. Chegando a um dos principais deles, o the triangle Gap, bem em frente ao Bayfront Park, vimos o porquê daquela agitação toda na cidade. Demos de cara com a montagem do Ultra Festival, uma enorme 2014/maio TRIBO SKATE | 51


viagem // fl贸rida

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Leo Giacon

Willian Seco, fs noseslide na South Miami Senior High School.

festa que marcava o final do spring Break, um dos feriados mais esperados pelos norte-americanos, sendo a estrutura montada bem em cima do pico que mais queríamos andar. Por isso a agitação na cidade: pessoas do mundo todo queriam estar em Miami no feriado. Foi aí que nos demos conta: spring Break? Já eram as vagas nos hotéis de toda a cidade. Ainda faltava um dia para devolver o carro alugado mas nele mal cabiam as malas e os skates, quiçá os skaters. Depois de muito rodar e perseguirmos os hotéis indicados pelo santo GPs do Xapa, que foi aparecer na nossa viagem só depois do campeonato, finalmente conseguimos um hotel próximo ao Centro. o porém era que só tinha uma diária, depois não haveria mais quartos vagos. No outro dia acordamos preparados para ir dormir na rua quando, achando que íamos devolver o carro para pegar um pior ou similar, surgiu “a nave” com um porta-malas bem maior e muito mais estilo. Foi aí que as coisas começaram a melhorar, mas ainda tinha a história de não ter onde dormir, quando veio a ideia: “Esquece o GPs, é só rodar. Estamos em Miami, alguma coisa a gente encontra.” Depois de rodar muito pouco chegamos a um lugar com vagas e perto do Centro. Imagine aquele hotel igual ao de filmes de terror que você morria de medo quando criança? Isso, exatamente esse: o quarto era bom, mas desde a recepção até o pessoal da limpeza, tudo parecia fazer parte de um filme de terror. Motel padrão beira de estrada, do tipo “rota 66”, só que no coração de Miami. Dos melhores carros àqueles caindo aos pedaços, de tudo se via naquele motel! sem contar a recepcionista ligando todos os dias, religiosamente às 10h30 da manhã, sempre com uma desculpa nova para nos mandar embora. Perfeito, economia para a bateria dos celulares, não precisamos mais de despertadores. tudo resolvido para os nove dias que restavam de estada, é hora de sair pra rua. o primeiro spot parecia um sonho: um enorme estádio abandonado e com muitas possibilidades, que servira para shows aquáticos em frente para um canal em Kay Biscayne, uma das inúmeras praias paradisíacas de Miami. Logo no início do sonho veio a lembrança de estar nos EUA, uma viatura policial parou bem distante do pico e lá se foi o primeiro “kickout”. Nada sério, voltando para o carro chega uma mensagem do Danny, que além de guia dos brasileiros também estaria de guia de mais duas equipes em tour depois do tampa Pro. Ele já nos passou logo a direção de um pico que só se veria em Miami, de frente para um mar transparente e escondido entre duas pontes que ligavam Kay Biscayne a Downtown, foi então que sentimos a primeira sensação de explorar os verdadeiros picos da cidade. Já no segundo dia em Miami não se aguentava mais a comida norte-americana, afinal de contas passamos quase 10 dias longe do bom e velho arroz, feijão, bife e ovo. Foi então que o o 2014/maio TRIBO SKATE | 53


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Maldito seja o Ultra Festival, que abarrotava as ruas de pessoas querendo ver a sess茫o de skate e atrapalhando os picos.

Lucas XaparraL

fl贸rida // viagem

Leo Giacon, nollie flip no Miami Dade College.

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WiLLian seco

viagem // flórida

Lucas Xaparral, fs noseblunt em Key Biscayne.

GPs indicou um Chipotle nos arredores do hotel, o mais próximo que chegamos da comida brasileira, mas ainda assim estava muito distante do tempero “brasa”. Acabou se tornado primordial na rota diária da gangue! sem contar a indispensável parada para o cafezinho, seja de manhã, pós almoço, pré sessão e antes de dormir. Haja cafezinho pra manter as energias dos skaters. Lá pelos últimos dias, quando o Chipotle já não descia mais, eu e Xapa lembramos de um restaurante estritamente brasileiro que passamos em 2006, logo depois de um tampa AM que participamos, o “Camila’s”. recomendado! Depois de muito sofrer com a culinária peculiar dos EUA, era hora daquela picanha (mal passada) no alho, com direito a feijão preto, purê de batatas e até mandioca frita, e todos falando português. Estávamos o mais próximo possível de casa, pelo menos por um momento. Chegando próximo ao final da trip, o fim de semana tinha que ser aproveitado, afinal de contas os melhores picos ficavam em Downtown. É como em qualquer centro de cidade grande: não para durante a semana. Chegando para a primeira sessão, veio à tona a péssima notícia, a grande festa que estava sendo montada, agora acontecia. Maldito seja o Ultra Festival, que abarrotava as ruas de pessoas querendo ver a sessão de skate e atrapalhando os picos. Anoiteceu logo depois do meu nollie flip no Miami Dade College Wolfson Campus, e já que o festival estava ali a uma quadra, importunando as sessões, por que não dar um check e aproveitar pra ver o porto e visitar uns pontos turísticos? Péssima ideia! Enquanto seco e o Xapa faziam fotos em

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um lado do porto, um policial cheio de preconceito chegou em mim e no PG (estávamos do outro lado do porto próximos à entrada do festival) dizendo que não deveríamos estar lá, foi quando eu disse: “isso é uma área pública, e esse é um país livre, estou certo?” Foi quando o policial respondeu: “isso é sim uma área pública mas, para vocês, hoje esse não é um país livre. ou vocês saem ou serão presos.” Mesmo sem motivo algum, era melhor sair de lá. E depois do cafezinho e de um quase desmaio por esquecer de comer pós-sessão, chega a mensagem do Xapa dizendo que estava no hotel há muito tempo esperando pelos “enquadrados”. No último dia de sessão, depois de 10 dias em contato com o Danny só por telefone, a gangue brasileira tinha que fazer uma sessão com seu guia pessoalmente. Ele passou as direções de um pico que vinha construindo para um evento, durante toda a semana da trip. Por isso a falta de tempo para andar junto com os brasileiros. Chegando no spot, um gueto embaixo de uma ponte muito próximo ao centro, mas longe de tudo que poderia atrapalhar. Chão liso em uma área muito grande, com skaters andando tranquilamente, sem stress e com espaço para todos, ideal para finalizar a sessão no fim de tarde com os novos amigos feitos na costa leste caribe-americana. Depois disso a gangue teria os últimos momentos para descanso, aproveitando o primeiro lugar que visitamos em Miami: a paradisíaca south Beach. Nada melhor que finalizar jantando em um restaurante em pleno calçadão da Lincoln road, em Miami Beach, e tomar o último cafezinho no fim de noite em frente à praia. se tudo der certo, nos vemos ano que vem “sunshine state”!





entrevista pro // luiz apelão

flipando com

apelão

Não é à toa que a maioria das maNobras desta eNtreVista são flipadas, afiNal apelão tem o flip mais foda do brasil e poNto fiNal. Não sou eu que estou dizeNdo isso, basta obserVar o skate girar embaixo dos pés do perNambucaNo radicado em são paulo para perceber uma mistura precisa de pop, estilo e base. Nesta eNtreVista, além de passar a receita para flipar com estilo, ele faz declarações de amor à mãe e reflete sobre sua receNte e iNjusta prisão. // TEXTO E FOTOS MArCelO Mug

V

ocê lembra da primeira vez que acertou um flip? Quem não lembra! Cheguei em casa e fui contar pra minha veia. Ela não entendeu nada, só falou que era pra eu aproveitar o último shape que ela ia me dar! Qual o segredo pra dar um flipão? Filmes do Bruce Lee uma vez por semana! Onde você nasceu e como veio parar em Sampa? Nasci em Jurema, no Pernambuco, e vim para São Paulo com dois anos de idade. Sabe aqueles filmes que retratam a vida de uma família nordestina que sai da terrinha para ganhar a vida em São Paulo? Foi tipo isso. Só eu e minha mãe. A Skate Até Morrer é muito mais que uma marca, é uma verdadeira família. Como você conheceu os caras e como é fazer parte de um time onde todos são amigos mesmo? A SAM é uma verdadeira família, considero muito os caras! Conheci o Bruno Araujo e o Lucas Xaparral no Parque de Juventude, em sessões noturnas, quando os caras saíam do trampo e iam para lá andar. Depois a gente começou a se trombar em campeonatos amadores, e aí fomos desenvolvendo mais a amizade. Conheci o Guguinha (Dias), o Loló, o (Augusto) Sujeira, a crew toda na sequência, através dos caras. Só risadas e zoeiras, tornando as sessões mais divertidas, um ajudando o outro, querendo o bem, incentivando. Assim que tem que ser em todas as famílias do skateboard, e não pode acabar!

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Você tem trabalhado bastante ultimamente atrás das lentes. De onde veio essa veia de videomaker e você enxerga isso como uma segunda profissão ou como algo que você possa fazer no futuro? Tudo começou com o primeiro vídeo da Skate Até Morrer “O Verdadeiro Skate Nunca Morre”. Estávamos sempre um filmando o outro, depois de muito tempo o vídeo saiu e a gente acabou pegando uma base de maker. Não encaro como uma profissão no momento, mas vejo que tenho gosto pelas câmeras, gosto de tirar fotos e filmar, tenho até atacado como fotógrafo de moda em produções com minha namorada, que é estilista (risos)! Você gosta de apelar? Só no game. Descreva uma sessão de skate perfeita? Todos meus amigos em Burnside pela primeira vez dando ollies pra cima e pra baixo, com cervejas e churrascos! Você foi preso injustamente no ano passado durante os protestos. Como foi essa experiência e qual lição você tirou de tudo isso? Sempre que lembro fico triste, não vou falar que foi uma boa experiência, mas tento absorver algo de bom nisso, dando mais valor para algumas coisas. A justiça desse país é falha e temos policiais despreparados prendendo e matando gente


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luiz apel達o // entrevista pro

Bs tailslide flip.

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luiz apel達o // entrevista pro

Flip達o.

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Fs tailslide flip.

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luiz apel達o // entrevista pro

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Fs rockslide subindo.

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luiz apelão // entrevista pro

só por desconfiança. Não posso mais ajudar nos protestos porque se me prenderem de novo vai ser mais difícil de sair. Mas não pode desanimar, mesmo com saúde precária, ruas remendadas e esburacadas e o dobro de imposto! Até quando vamos aguentar? Tem que rir pra não chorar. Você é uma das pessoas mais tranquilas que eu conheço. Tem alguma coisa que te deixa puto da vida e faz você perder a linha? Hehehe. É verdade, sou tranquilão. Acho que é herança da minha mãe, ela é muito tranquila, não esquenta a cabeça com nada, eu a amo! Onde e como você se imagina daqui a dez anos? Tenho vontade de morar em algum outro país, como Chile, Estados Unidos, algum país da Europa, conhecer mais a cultura e não só passar numa tour de skate igual já passei por esses, e sim viver bem o dia a dia e o corre do lugar. Quer deixar um salve? Lóóógico (risos)! Quero agradecer a Deus primeiramente; minha namorada Iara (te amo, linda); minha mãe; Bruno Araujo e toda a família Skate Até Morrer. Ao (Ricardo) Pinguim e toda a rapa da Dwindle Brasil e Bigbrands; valeu Mug, todos meus amigos de sessão: Murilo, Didi, Guga, Xapa, Okamoto, Bork, Igor, Sakay, Boy; aos caras do Parque da Juventude e vários outros da sessão. Valeu todo mundo da Tribo Skate! Abraço e bom rolê para todos! 2014/maio TRIBO SKATE | 69


// luiz FernAnDO CAlADO “ApelãO” Patrocínios: Skate Até Morrer, Ogio e Tensor Trucks

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luiz apel達o // entrevista pro

Fifty flip.

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gian naccarato // 20 anos pro

giancarlo naccarato

duas décadas como pro É comum ver no skate comemorações quando marcas alcançam determinada idade e o que deveria realmente ser celebrado muitas vezes passa batido. não desta vez! exemplo da longevidade que o carrinho vem proporcionando aos que se dedicam a ele e símbolo da crescente valorização dos pro models no brasil, giancarlo naccarato tem motivos de sobra pra comemorar. chegando ao profissionalismo em 1994 com apenas 14 anos, gian prepara para 2014 documentário e diversas ações para marcar esta conquista tão importante, afinal com 35 anos de idade ele chega aos 20 se mantendo como skatista profissional, firme e forte no mais alto nível do skate brasileiro. Por Junior Lemos // Fotos GuiLherme Puff, heverton ribeiro, rodriGo K-b-ça e aLex brandão

Ss bs boardslide em Guapiaçu/SP.

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Guilherme Puff

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Guilherme Puff

20 anos pro // gian naccarato

// 1994 Época do walkman e dos rolês instigados no half, de Prestige e Vale do Anhangabaú, dos pensamentos que iniciaram a Bs Crew e a son, transição, switch e skate na rua, do vídeo em VHs, que na maioria das vezes era cópia da cópia. As fitas de skate eram algumas das principais referências para ele: Colin Mckay, Danny Way, ronnie Bertino, Mike Carroll, tom Penny, Henry sanchez, Pat Duffy, rick Howard, Daewon song. “eram vários os profissionais em quem me espelhava na época, tinha também meus amigos. tinha o Bob, Digo, Geninho, Kako, e do vídeo da Plan B eram quase todos”. Gian se destacava nos rolês de rua e também era empenhado nos campeonatos. tanto que a boa campanha em 93 o levou a ser campeão do ranking amador da época, carimbando sua incontestável subida de categoria. “Já no meu primeiro campeonato como profissional vi que a parada era diferente, foi emocionante competir com vários nomes que eu conhecia. Acabei indo pra final e ficando em décimo”. e foi também na estreia como profissional que Gian cruzou as fronteiras do Brasil. sua primeira viagem internacional foi logo pra participar da turnê europeia em 1994. “Foi muito style, uma experiência que somou na minha carreira. Ver os picos do primeiro mundo, participar dos campeonatos de lá, ver alguns gringos que admirava; foi muito style”. seu primeiro pro model também veio no primeiro ano, assinando shape pela Alva.

Gian tem agilidade e precisão na medida certa para voltar este bs tailslide sem deixar o skate cair na arapuca deste sinistro e efêmero pico do Centro de SP.

// 2014 tempo de informação ultra-rápida via internet, onde nos mantemos por dentro de tudo, desde o que assistimos ao que ouvimos. Época dos rolês certeiros na Praça roosevelt, do street com o Gui pela Faria Lima, dos drops de Megarrampa e da consolidação dos projetos com a son, Urgh, Öus, Metallum, dos vários vídeos lançados e muitos carimbos no passaporte. Mas não foi fácil se manter skatista profissional por duas décadas. Gian teve que manobrar pelos altos e baixos da economia brasileira, passar pelas idas e vindas do mercado nacional e por desafios pessoais dos mais diversos. Mas a recompensa veio de tamanho de todas essas superações, tendo como base uma família unida em torno do skate. “É a coisa mais maravilhosa 2014/maio TRIBO SKATE | 75


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RodRigo K-b-ça

20 anos pro // gian naccarato

Aplicar manobras complicadas em Barcelona ĂŠ comum pro Gian: Switch nosegrind shovit to noseslide.

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gian naccarato // 20 anos pro

Mais uma do cobiรงado pico no Centro de SP, desta vez um respeitรกvel fs ollie to nose truck to fakie.

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Guilherme Puff

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gian naccarato // 20 anos pro

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heverton ribeiro

do mundo ver meu filho andando de skate e aprendendo junto comigo. o Guilherme é uma dádiva na minha vida!”. Gian também pode dizer que é ‘pai’ dos mais diversos pro models lançados neste período. “tênis, shape, roda, boné, camiseta, mochila, logo mais saem os trucks, considero todos eles especiais.” e quando falamos sobre novos nomes do skate brasileiro, Gian adianta que curte poder acompanhar de perto essa galera, principalmente os que fazem parte de equipes nas quais ele está inserido. “Fico de cara ao ver, por exemplo, o Ítalo (Penarrubia) no half ou o Pedro Biagio no street. Nossa relação é de igual pra igual, é muito aprendizado”. ele também continua na pegada dos eventos profissionais, sempre com aquela mesma vontade de vencer. Ano passado foi destaque do Drop Dead Pro 2013 e sempre volta de eventos de best trick com alguma grana no bolso, seja de street ou em transição. Quer saber como Gian fez para chegar até aqui? A fórmula que ele acredita ter seguido é simples mas muito trabalhosa pra ser aplicada pela atual geração vidrada em internet e afobada em conseguir resultados sem esforço. “Vestir a peita de seu patrocinador, ter respeito, evoluir e fazer por merecer”. // Documentário Nestes 20 anos como skatista profissional Gian foi responsável por registrar em vídeo várias épocas do skate brasileiro e de quebra também lançou filmes que se tornaram referências para muitos de nós, como os Bs Crew, o Underground style. e essa rica biblioteca de imagens que o Gian preserva até hoje também terá muito valor para o documentário que está sendo feito pelo Plinio Higuti, com lançamento previsto para o primeiro semestre. o filme está em fase de finalização e a ideia de destacar este importante momento vem sendo pensada há pelo menos dois anos. surgiu quando Gian alcançara a maioridade no meio do skate, ao completar 18 anos de profissional. “A ideia do documentário surgiu do nada e foi tomando forma. em 2012 já estava filmando e resgatando imagens. Ainda nesse semestre estará na mão”. estamos no aguardo, Gian!

Em um rolê nas clássicas escolas americanas Gian aplica um equilibrado bs 180 fakie nosegrind.

// GiancarLo naccarato 35 ANos, 25 De sKAte 20 CoMo ProFissioNAL PAtroCÍNios: UrGH, ÖUs, soN sKAteBoArDs, MetALLUM trUCKs e NUFF sKAtesHoP APoios: GLAssy sUN HAters, rAs BeAriNGs 2014/maio TRIBO SKATE | 81


alex brandão

gian naccarato // 20 anos pro

Halfcab noseslide também em Barça, pra fechar com muita classe!

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˜ N i lt o N N e v e s ˜

respeito Ă cultura

do skate

Foto Nicolle saylor

brasileiro

produtostriboskate@gmail.com

www.triboskate.com.br facebook.com/triboskate twitter.com/triboskate instagram.com/triboskate


casa nova //

Frontside smith.

Fernando Vinicius // Fotos Marcelo Mug Ser skatista é: Exemplo de superação, é ter amor pela arte e ter um lifestyle diferenciado. Quando não está andando de skate: Gosto de comer bastante, descansar bem, ouvir música, ler um bom livro, mas quase sempre estou meditando skate, lendo revistas, vendo sites de skate, vídeos. Procuro sempre estar atualizado no que acontece. Maior dificuldade de ser skatista na sua cidade: É não ter lugares bons e próprios para a prática do skate, principalmente um lugar onde se concentra um nível alto de pessoas que praticam o skate aqui na área! Skatista profissional que se espelha: Denis Silva. Skate atual: Trucks Independent 139, rolamentos Red Bones, rodas e shape Zion. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Mercedes-Benz. Som pra ouvir na sessão: Mobb Deep, Pete Rock, Aretha Franklin, Tame Impala, Sabotage. Parceiros de rolê: Elton Melonio, Denis Silva, Anderson Lucas, Marcelo Martins e Luiz Henrique Japinha.

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Melhor viagem: Rio de Janeiro. Viagem dos sonhos: Conhecer a China! Melhor pico de rua: Praça Love C.T.. Melhor pista: Pista do Parque Ana Brandão em Santo André. Sonha alcançar com o skate: Me tornar profissional, conseguir me manter financeiramente dele, poder ajudar a minha família, meus amigos e ter a satisfação de poder conhecer lugares, culturas e picos novos, sempre pelo skate. E ser feliz! Aquele salve: Todos aqueles que são de verdade, de coração e alma. Zona Leste inteira, a nossa crew Love C.T. Rua Pura, aos meninos bons que fazem o skate acontecer na área, principalmente o pessoal do projeto inclusão e resgate Love C.T., aqui da minha quebrada, que oferecem a maior força para as crianças carentes da vila. E que Deus abençoe todos nós, sempre! // Fernando Vinicius 18 aNos, 6 de skate Cidade tiradeNtes, são Paulo, sP

Nunca desista de ‘‘seus sonhos. ’’



casa nova //

Nollie varial heel.

roberto souza // Fotos João Brinhosa Ser skatista: É meu estilo de vida. Quando não está andando de skate: Estou no escritório da Alfa Skate. Dificuldade em ser skatista na sua cidade: Não ter lugares adequados para a prática do esporte. Skatista profissional em quem se espelha: Silas Ribeiro. Skate atual: Alfa deck 7.8, Alfa grip, Alfa wheels 51mm, trucks Venture 139 e rolamentos Red Bones. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Apple. Som pra ouvir na sessão: Pregador LUO. Parceiros de rolê de skate: Alfa team e Anjéla

crew. Melhor viagem: Buenos Aires. Melhor pico de rua: Praça Roosevelt. Melhor pista: Iapi. Sonha alcançar com o skate: Me profissionalizar e viver o skate. Aquele salve: Jesus Cristo que me dá forças, à famíla pelo apoio, à Alfa Skate pelo suporte, aos amigos que me influenciam e à revista pelo espaço. // roberto souza 27 aNos, 14 de skate tubarão/sC PatroCíNio: alFa skateboards

‘‘eu sou um jovem com propósito.’’ 86 | TRIBO SKATE maio/2014



hot stuff // maio

// New era A New Era lança uma coleção exclusiva de bonés chamada “Brasilidades”. Foram convidados, através de curadoria da Homegrown, galeria de arte e loja de acessórios do Rio de Janeiro, os artistas cariocas Mack, Ment e Mottilaa para desenvolverem uma coleção limitada de bonés em homenagem aos símbolos e cores que representam o Brasil. neweracap.com.br / (11) 3312-2333 / sac@marc4.com.br

// MareSia A Maresia usou o universo do cinema como inspiração para sua temporada outono/inverno. A coleção 7th art, se destaca pelas estampas exclusivas que vão desde rolos de filme até caricaturas de grandes ícones da telona. (85) 4012-6000 / maresia.com.br

88 | TRIBO SKATE maio/2014

// DC ShoeS A DC Shoes apresenta mais um tênis projetado para manobrar o skate. O DC Cole Lite 2 é o novo modelo do ícone do street, Chris Cole. Feito especialmente para a prática do esporte, o calçado conta com alta tecnologia proporcionando durabilidade e conforto. (11) 3366-9280 / dcshoes.com



hot stuff // maio

// DarkrooM apparel Supply 88 A Darkroom apresenta sua linha de estreia com bonés, chapéus e camisetas, seguindo a estética daqueles que trampam com a difícil profissão de fotografar e filmar skatistas. A marca é encabeçada pelo brasileiro radicado nos EUA, Fellipe Francisco. darkroomapparel.com

// Toy MaChiNe O frio começa a mostrar que virá com força este ano e nada mais estiloso do que encarar essa gelada com os pés aquecidos com meias da Toy Machine. (11) 3251-0633 / pira@plimax.com

90 | TRIBO SKATE maio/2014

// BliNCa A Blinca apresenta sua série de camisetas inspiradas em picos brasileiros, conhecidos e frequentados por diversos skatistas. As estampas contam com parceria de fotógrafos valorizando também a arte de fotografar. (48) 3443-9408 / facebook.com/blinca.skatecrew.9



áudio //

conexão com

max cavalera A primeirA vez que eu vi O SepulturA nA tribO SkAte fOi em 93. O turcO lOcO fOi pArA phOenix e entreviStOu OS cArAS, que eStAvAm preSteS A lAnçAr O chAOS A.D, e pArA mim, que eStAvA nO Auge DA ADOleScênciA, nuncA imAginAvA entreviStAr Ou muitO menOS cOnhecer O mAx. cá eStOu eu, 20 AnOS DepOiS, cOm meuS 30 e pOucOS AnOS, entreviStAnDO um cArA que Sempre me inSpirOu tAntO cOm SuAS bAnDAS, quAntO peSSOAlmente! DiretO De SuA cASA, nO DeSertO DO ArizOnA, A gente trOcOu umA iDeiA pOr telefOne, e O reSultADO é eSSA entreviStA excluSivA A Seguir! cOm vOcêS mAx pOSSeSSeD! // POR HEliNHO Suzuki

O

Cavalera Conspiracy lançará o novo álbum em outubro pelo selo austríaco Napalm Records. Como rolou todo o processo de produção? Foi o mesmo esquema das outras vezes? Você fez as bases, mandou para o seu irmão e depois se encontraram para fazer o disco? Dessa vez a gente fez diferente. Acabou que eu fiz os riffs e deixei meio de surpresa pro Iggor, pra ele chegar aqui e se surpreender, e deixar uma coisa mais vibrante, não tão programada. O esquema que a gente fez foi gravar aqui mesmo em Phoenix; eu achei um estúdio que eu fiz uns lances da ESPN pra Copa, uma música de dois minutos, que eu gravei com meu filho Zyon na bateria e é um lugar bem legal. É a casa de um amigo e o engenheiro foi o John Gray, o mesmo do Dark Ages e do Prophecy do Soulfly. Ele trabalhou com o Ministry também. Daí veio o Mark Rizzo e o Iggor, fizemos tudo aqui e depois mandei tudo pro Nate do Converge, que colocou o baixo em cima, porque ele mora em Boston e não pode vir pra cá gravar. Ficou super legal e ele ainda cantou uma música. O cd tá animal, porrada, rápido; com certeza é o disco mais animal que o Cavalera já fez. Este é o terceiro disco do CC com baixista diferente. Dessa vez vocês resolveram chamar o Nate do Converge para gravar o instrumento. De quem partiu a ideia de chamá-lo? Ah, eu gosto de Converge pra caralho, acho mó legal o som dos caras. Eles fazem um metal/hardcore e foi uma ideia que eu tive e passei pro Iggor; pensei que seria legal chamar o Nate pra fazer os baixos do disco. Como eu e meu irmão somos fãs da banda, achei que ele seria o cara perfeito pra esse disco, que tá mais porrada, mais hardcore. Ele botou um baixo distorcido que ficou do caralho. Ele vai participar da próxima tour? Eu não sei cara, te m que ver se ele vai estar ocupado com o Converge, né? Senão a gente vai arrumar um outro baixista pra fazer a turnê. O Cavalera sempre teve uma proposta mais punk/hardcore do que o Soulfly. O que podemos esperar quanto a influências desse novo disco? Tem bastante coisa que eu tô ouvindo, tipo Nails, All Pigs Must Die, Pig Destroyer. Eu adoro essas bandas, barulheira, desgraceira mesmo. Falando um pouco sobre hardcore, sempre foi claro seu envolvimento e de seu irmão com o hardcore, o punk. Como era nos anos 80? A cena metal de Belo Horizonte explodindo e vocês dois moleques que curtiam além de metal, hardcore também. A gente sempre gostou, principalmente eu e o Iggor. Desde a época que eu comecei a escutar um metal mais agressivo que era Venom e Hellhammer, eu já ouvia hardcore também. Eu tinha uma fita que era de um lado Discharge e Hellhammer do outro lado e eu ouvia direto. Então pra mim

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Max, dias atuais.

não tinha essa barreira de cabelo comprido e moicano, tipo essa divisão que muita gente tinha. O som pra mim era o principal, e o som das duas bandas era animal, tanto do Hellhammer quanto do Discharge. Depois a gente começou a escutar coisa americana, Dead Kennedys, Black Flag, Bad Brains e o hardcore de Nova York, Cro-Mags, Sick of it All, Agnostic Front e acabou que convidei o Roger do Agnostic para cantar no último do Cavalera. O Jello do DK já fez muita coisa com a gente também. Fez Biotech is Godzilla (música do Sepultura) e a gente sempre faz uma jam session com ele quando toca em São Francisco. Eu acho legal esse lance de eu e o Iggor termos nos conectado com o hardcore, porque o hardcore também respeita a gente. Principalmente na época do Sepultura, a gente era bem respeitado. Tinha nego que não curtia muito metal, mas quando se falava de Sepultura, o pessoal sempre dava uma moral. Você tem boas lembranças daquela tour “New Titans On The Block” com o Sick of it All e Napalm Death? Tem alguma história legal que você se lembra? Teve uns shows que foram bem tretas mesmo! Lembro em Buffalo, em


Divulgação

Legendária Bc Rich em sua casa em SP; Iggor, Vânia e Max em 1987; Aniversário surpresa de 21 anos em 1990; Max e sua primeira Bc Rich em 1988.

Boston, tinha uns punks e uns carecas, daí misturavam-se com os metaleiros e só saía porradaria. Essa tour foi super legal; os caras do Sick of it All são muito gente boa, são amigos da gente até hoje. O Soulfly tocou com eles ano passado em um festival da Europa; foi muito bom ver o show deles e depois eles vieram falar com a gente. Também tocamos com o Cro-Mags e foi super legal. Sua autobiografia foi lançada ano passado por aqui e teve uma boa repercussão. Eu li e achei bem completa, mas vi em algumas entrevistas que você esqueceu um detalhe ou outro, tem algum ponto importante que você queira colocar na próxima edição por exemplo? Eu acabei esquecendo de comentar sobre a turnê com o Ramones. Foi uma turnê super importante pro Sepultura e pro Ramones no Brasil. Foram shows super legais; não sei porque eu viajei e acabei esquecendo de colocar no livro. Mas o resto tá lá, cara. Ficou bem completo, gostei bastante do resultado, fiquei feliz de finalmente fazer um livro. Tô super feliz também que saiu no Brasa antes do resto do mundo. Aqui no Estados Unidos nem saiu ainda, vai sair só agora em maio. O Brasil teve a chance de ler primeiro, conhecer minha história em primeira mão. Teve bastante gente legal envolvida, o David Grohl fazendo a introdução, o Corey Taylor (Slipknot), Tom Araya (Slayer), Sharon Osbourne (esposa do Ozzy), David Vincent (Morbid Angel), teve uma galera legal que participou do livro... No fim dos anos 80, quando vocês se mudaram para São Paulo, o Sepultura tinha bastante envolvimento com o skate; o Thronn era um grande amigo de vocês, o iggor sempre tava com o skate na mão pra cima e pra baixo. Como rolou toda essa parceria, digamos assim? O skate era mais o lance do Iggor mesmo. Eu nunca andei de skate cara, pra mim não deu certo, não tenho a manha. Mas o Iggor era bom. A gente botou o skate no clip da Inner Self (música do Sepultura), com o Thronn pulando a galera. Eu encontro ele até hoje. Quando a gente toca em Los Angeles, ele sempre cola nos shows. A gente encontrou com o Tony Hawk na Austrália também, no Soundwave Festival. Ele estava fazendo uma demo e ficou do lado do camarim do Cavalera. O Iggor é amigo dele, a gente levou uns CDs do CC de presente pra ele. O cara é mó gente boa. Eu acho legal esse envolvimento dos esportes radicais com o metal, o hardcore, tem a ver pra caramba. O skate, principalmente, que é uma coisa que nasceu na rua. Era legal que a gente usava as roupas da Vision nos anos 80/90, ia em alguns campeonatos de skate e rolava um metal nos P.A.s, o Thronn fazendo umas manobras, sempre foi um lance muito legal! Como foi gravar um disco com o zyon? Chegou um momento que você viu que ele tinha capacidade de segurar a bronca e fez o convite? Ou partiu dele a iniciativa? Ele que me intimou para tocar. Eu tava pensando em alguns bateristas, porque o Dave tinha saído do Soulfly, daí o Zyon me achou e falou: “Eu toco, eu seguro a batera”. Então eu dei uma chance pro moleque. Seria um lance legal, gravar com meu filho. A batida do coração dele abre o “Chaos A.D”, há 20 anos e agora ele tá com 21... Aí a gente foi ensaiar; fui no quarto dele pra ver como é que tava, comecei a fazer riffs atrás de riffs e ele tocando bateria; eu vi que tava saindo super legal e tive confiança que ele ia segurar a barra. Com um produtor igual ao Terry Date, que fez a produção do disco, eu fiquei super tranquilo, porque ele é muito profissional e eu tinha certeza que ia ficar do caralho. O clima do estúdio foi bem legal e eu me comuniquei com ele mais como músico do que pai. Era um lance mais de igual para igual, como eu falo com o Mark, com o Tony. Falei com o Zyon da mesma maneira, tentando dar força e energia pra ele tocar da melhor maneira no estúdio. A batida dele ficou forte e eu gostei do trabalho que ele fez no Savages. O

legal que a gente compôs o disco em casa, igual eu fazia nos primórdios com meu irmão. Era uma coisa que não fazia há tempo. A gente tocou o dia todo durante dois meses sem parar, ficou afinadíssimo e chegou no estúdio e ele já sabia o disco de cor. Como começou o projeto killer be killed? Foi uma ideia sua ou do Greg? Eu ouvi falar que vocês já tinham umas 15 demos gravadas, certo? A ideia foi do Greg. Eu nem tava procurando outro projeto, já estava bastante ocupado com o Soulfly, o Cavalera... O Greg foi bastante insistente e me convenceu que seria legal fazer um lance diferente. Começou comigo e com ele fazendo umas demos, depois veio o Dave, do Mars Volta, que toca pra caralho na bateria e o Troy do Mastodon. Acabou virando um super grupo, animal mesmo. Na hora que o Troy entrou, a gente fez um ensaio com ele em Los Angeles, eu vi que o negócio ia arrebentar mesmo. Depois a gente foi gravar na Califórnia com o Josh Wilbur, produtor do Lamb of God, com três caras cantando em cada música, ficou muito animal. Eu acho que é uma das coisas mais legais que eu fiz até hoje, vai ser uma coisas das mais diferentes, vai surpreender bastante gente, porque é bem diferente do Soulfly, bem diferente do Cavalera. Vamos tentar fazer alguns shows, o Troy quer tocar, ele pirou no disco. Agora ele tá em estúdio fazendo o Mastodon novo, eu tô sempre em contato com ele e a gente fala, “vamo fazer uma turnê, pelo menos ou alguns shows pra registrar esse lance.” Vamos ver no futuro, talvez role um outro disco, mas isso já tá legal pra caralho. Achei o nome bem legal também, Killer be Killed, que foi uma ideia do Troy. A ideia inicial era Kill or be Killed, mas aí alguém no estúdio comentou, “devia ser Killer be Killed” - Matador é Matado, então a gente achou bem legal e resolvemos ficar com esse nome. Tem previsão pra alguma tour no Brasil? Tem uma turnê programada pro Brasil em outubro, na mesma época do lançamento do disco. Vai ser legal que vai dar pra tocar bastante música nova do disco novo. Vai ser uma turnê por todo Brasil, com shows em Brasília, BH, Rio, Fortaleza, Manaus, São Paulo; uma turnê completona, vai ser do caralho! É isso aí, o lance é ficar bem ativo mesmo, fazendo um monte de coisa, é do jeito que eu gosto! * Agradecimento especial para Gloria Cavalera que fez essa entrevista rolar e a Tuka Quinelli por ceder essas belas fotos do seu acervo.

Gloria, Zyon e Max, 1994.

2014/maio TRIBO SKATE | 93


skateboarding militant // por guto jimenez* arquIvo peSSoal

Organizar e progredir

E

Ivan ShupIkov

Eleição da ABS (Associação Brasileira de Skate), 1986. arquIvo SkatIn’

m minha coluna anterior, dei uma rápida recapitulada na história das entidades que organizam circuitos mundiais nas mais variadas modalidades. No Brasil, essa mesma história faz 30 anos em 2014, história essa que teve um início improvável e momentos de incerteza ao longo dos tempos, mas que contribuiu de forma decisiva pra que tenhamos feito mais de 25 campeões mundiais em diversas modalidades em menos de 20 anos. Afinal de contas, nosso cenário é bastante focado em competições e seus resultados, e não é à toa que os brasileiros são considerados como alguns dos competidores mais duros de serem batidos em quaisquer áreas de competição ao redor do mundo. A coisa toda começou lá atrás, mais precisamente em 1984. Naquela época, vivíamos a “idade das trevas do skate”: poucos praticantes, quase nenhum campeonato sendo organizado e a mídia consistia em poucas páginas bimestrais na revista Visual Esportivo, uma publicação voltada aos esportes de ação que tinha o surfe como carro-chefe. Naqueles tempos, o único evento garantido no ano era o campeonato brasileiro realizado no Itaguará Country Clube, que colocaram a simpática cidade de Guaratinguetá no mapa-múndi do skate. Com uma estrutura invejável pra época, incluindo sonorização, palanque e premiação, o evento tornou-se o ideal a ser copiado e todos os participantes sonhavam em poder realizar algo nas mesmas proporções; isso acabou gerando uma situação bem paradoxal: não tínhamos nada e sonhávamos com tudo – e, ao mesmo tempo, ninguém se dispunha a organizar um evento e um circuito nacionais. As justificativas eram sempre as mesmas: “falta de estrutura”, “não tem dinheiro”, “ninguém vai patrocinar”, “isso é coisa de maluco”. Cansados desse panorama, um grupo de skatistas resolveu colocar as mãos na massa e realizar campeonatos em que o foco fosse apenas um: o skate. Tirando a premiação que fosse conseguida, tudo mais na estrutura seria acessório: palanque, som e até mesmo o patrocínio do evento. Os “malucos” foram Cesinha Chaves, Alexandre Calmon, nosso editor Cesar Gyrão e esse que vos tecla, e adotamos um nome que não deixava dúvidas quanto às nossas intenções: S.U.A.T. – Skatistas Unidos Anarquia Total. O primeiro campeonato foi no banks de Búzios, que teve disputas de “open”, “junior” e “banked slalom”, além de freestyle na quadra de esportes que havia ao lado da pista. O segundo evento foi bem curioso: todos nos deslocamos até Floripa via busão e, ao chegarmos lá, vimos um monte de compensados e caibros onde deveria haver um halfpipe... Bem, a rampa foi construída em pouco mais de 24 horas, e as disputas foram marcadas pela boa vontade de todos em relação às dificuldades. Um terceiro campeonato foi marcado pra pista antiga de São Bernardo do Campo, mas a chuva matou o evento antes mesmo do início da disputa. Com base nesses três eventos, fizemos o primeiro ranking brasileiro que se tem notícia – e abrimos uma porta por onde muita gente boa passou e colaborou. Em 1988, surgiu a U.S.E. (União de Skatistas e Empresários) e mais três eventos foram realizados em SP e arredores. No final do mesmo ano, foi fundada a U.B.S. (União Brasileira de Skate), que organizou eventos por mais de 10 anos – sendo que os dois primeiros circuitos (1989 e 1990) tiveram as finais transmitidas pela TV Cultura. Foi essa mesma galera que fez as duas primeiras etapas de circuitos mundiais da WCS em nosso país, em 1998 e 1999 – etapas que atraíram mais de 40 competidores tops do mundo inteiro. No final do século passado, foi fundada a ABRADS (Associação Brasileira de Downhill Skate) com o intuito de organizar eventos em ladeiras, e que foi a responsável pela primeira etapa classificatória pro circuito mundial de speed em nosso país, o Red Bull Downhill Monster, e também pela primeira etapa internacional disputada no Brasil, o DownRio na mítica Estrada do Corcovado.

Eleição na UBS, na sede de Pinheiros, em São Paulo. 1989.

Com a mudança de século, uma nova mentalidade começou a ser adotada na organização de campeonatos, e foi nesse contexto que surgiu a CBSk (Confederação Brasileira de Skate) em 2001. Infelizmente, egos inflados demais e atitudes com ética de menos da primeira diretoria eleita quase fizeram a entidade afundar, algo que foi consertado com a eleição realizada três anos depois. Com muito esforço, dedicação e ouvindo a todos os skatistas, a entidade faz o melhor trabalho possível pra realizar eventos múltiplos em quase todo o país, algo inédito até então. Nos últimos anos, iniciativas de skatistas vêm ajudando a confederação a regulamentar rankings de todas as modalidades; dentre essas, destaco o C.N.S.V (Conselho Nacional de Skate de Velocidade), que regula e organiza eventos e rankings de speed; a Liga de Freestyle, que faz o mesmo com campeonatos da modalidade; e, mais recentemente, a Liga Slide, que surgiu pra alavancar a mais brasileira de todas as modalidades. O que dá pra aprender dessa história toda? Basicamente, a lição se resume numa frase: é preciso se organizar pra poder progredir. Se você acha que o seu cenário local poderia ser melhor, não espere por ninguém; basta juntar um grupo de amigos, fundar uma associação e batalhar pelo que você acha melhor. Dá trabalho? Sim, muita coisa. Dá dinheiro? Não, quase nenhum. A principal recompensa não é financeira, mas sim ver que o seu cenário cresce por causa de seu trabalho, de sua iniciativa e de seus esforços. Se você acha que está ruim, não reclame: mãos à obra!

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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shops! // Elas mantêm a chama acesa O papel das skate shops não é apenas vender produtos. É oferecer um atendimento de qualidade, que satisfaça o cliente e alimente seu desejo de andar de skate, vestir-se bem, entender e viver esta cultura. Neste cenário, a informação é mais uma alavanca para o sucesso e é justamente aí que algumas lojas se sobressaem. Elas são pontos de convergência, investem no esporte e ajudam a construir a história do skate brasileiro. > Mato Grosso do sul - Campo Grande Rema Boardhouse Rua Pedro Celestino, 1387, Centro (67) 3213-2504

> rIo de janeIro - Armação dos Búzios Geribá Skate Shop Rua Maria Rodrigues Letina, 8, Geribá (22) 9 9843-1020 / 9 9796-6764

> santa CatarIna - Joinville Grind Skate Shop Rua São Francisco, 40, Centro (47) 3026-3840

> Paraná - Curitiba THC Skate Shop Pça Rui Barbosa, s/n - loja 196 (41) 9933-2865

> rIo Grande do sul - Porto Alegre Matriz (Total) Av. Cristovão Colombo, 545/1072,1073, Floresta (51) 3018-7072

> são Paulo - Pompeia Exalt Skate Shop Rua Senador Rodolfo Miranda, 225, Centro (14) 9 8115-2318 / 9 8164-5397

Matriz (Wallig) Av Assis Brasil, 2611 - loja 248, Cristo Redentor (51) 3026-6083

- São Vicente A Toca Skate Plaza Rua Alves do Bugre, 711, Pq. São Vicente (13) 3379-5366

- Guarapuava Atrito Board Shop Rua XV de Novembro, 7860, loja 1, Centro (42) 3623-6818

Mantenha você também a chama do skate brasileiro acesa, leve a Tribo Skate para sua loja! Envie-nos email: triboskate@ymail.com

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