Tribo Skate #234

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CHCL * WANDERLEY BOLÃO * URB * FÁBIO CASTILHO * PABLO GROLL

KEVIN BESSET METAMORFOSE AMBULANTE

BRAZICAS NO PERU

VIAGENS DE DANIEL CRAZY E BIANO BIANCHIN

MOTIVADORES

OS TRAÇOS DE LIGIANE XUXA Willian Truta, ss crooked Ano 24 • 2015 • # 234 • R$ 9,90

www.triboskate.com.br

VERDI CALI TOUR SESSÕES DAS 10H00 ÀS 10H00








índice //

TRIBO SKATE 234 MAIO 2015

ESPECIAIS>

36. MOTIVADORES LIVRE TRAÇOS DE LIGIANE XUXA 40. VERDI CALI TOUR DE 10H00 ÀS 10H00 TODOS OS DIAS 50. KEVIN BESSET METAMORFOSE AMBULANTE 60. BRAZICAS NO PERU COMO DRIBLAR A SEGURANÇA SEÇÕES>

EDITORIAL.................................................. 12 ZAP .............................................................. 16 CASA NOVA................................................ 70 HOT STUFF ................................................. 76 SKATEBOARDING MILITANT ................... 78 ÁUDIO: CHCL ............................................ 80

CAPA: Com olhar treinado, ainda pode-se encontrar picos inéditos no entorno da Praça Roosevelt, em São Paulo, para se encaixar manobras imprevisíveis. Willian Truta honra as cores de Maringá encaixando seu switch crooked no verde padrão das cercas públicas de Sampa. O pouco provável rendeu-lhe uma bela surpresa, esta capa. Foto: Guilherme Puff ÍNDICE: A imponência do Monumento à Independência, no parque de mesmo nome, no bairro do Ipiranga, também em Sampa, é algo sinistro de se ver. Talhado em granito, simboliza a batalha que selou o primeiro sopro da nação brasileira, desligando-se da Coroa Portuguesa. As batalhas neste lugar continuam, pois é um reduto do skate que de tempos em tempos querem nos tomar. Para manter o acesso ao espaço, as boas regras de convivência devem prevalecer. Igor Smith, frontside crooked. Foto: Pedro Macedo

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editorial //

O amigo francês POR CESAR GYRÃO // FOTO RODRIGO K-B-ÇA

P

arece nome de filme e pode acreditar que muitas cenas passarão na cabeça de alguns poucos privilegiados que puderam conviver com Kevin B7 em suas primeiras vindas ao Brasil. Um belo dia de 2001 o Nilton Neves me ligou do nada, para perguntar se eu poderia receber em minha casa três skatistas franceses que retornavam ao país para uma segunda visita. “Gyrão, estou em Porto Alegre e os caras já estão no aeroporto. Tudo bem você recebê-los?” Kevin, Julien e Thibaud se ajeitaram na sala de casa, ficaram uns dias e fizeram rolês nervosos em nossas ruas e pistas de então. Ganharam espaço na revista, curtiram nossa comida, picos como o Ibirapuera e a Praça Roosevelt (a antiga), nossa música, pessoas, baladas, água de coco, arroz com feijão e frango, acerola e caldo de cana. Kevin pegou amor pelo país e voltou mais vezes. Tantas que acabou casando com uma brasileira e lapidou seu português com “quase nada” de sotaque, tornando-se um legítimo hospitaleiro e guia dos brasileiros que seguem todos os anos para a Europa. Vive entre a França e a Espanha, com Barcelona sempre no roteiro. Reler a edição 66, aquela com a capa especial sobre “Skate Punk” (Daniel Arnoni e a banda Gritando HC, animal!), nos faz lembrar de como o eterno intercâmbio cultural do skate faz bem para a alma. Tantos anos depois, o incrível skate do Kevin nos chega em texto, fotos e vídeo (não perca no triboskate.com.br) pelas mãos do Rodrigo K-b-ça. Em princípio, separamos as 10 páginas para a entrevista e salvamos este wall ride to fakie na árvore para o editorial. As associações são naturais: o skate de raiz que tanto defendemos na Tribo Skate, sobe a árvore com Kevin B7 e seguimos comemorando a amizade que tanto nos faz bem. Se você ainda não é da “família”, sinta-se convidado (a). Sempre cabe mais um (a).

Tantos anos depois, Kevin B7 volta com peso para a Tribo Skate. Wall ride to fakie. Não deixe de ver o vídeo no www.triboskate.com.br.

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ANO 24 • MAIO DE 2015 • NÚMERO 234

Editores: Cesar Gyrão e Fabio “Bolota” Britto Araujo Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Redação: Junior Lemos Arte: Edilson Kato Publicidade: Diretor: Marcelo Barros (marcelo@waves.com.br) Executivos de Negócios: Clientes diretos: Cezar Toledo (cezartp@gmail.com) e Sergio Monaco (sergio@waves.com.br) Agências: Carlos Alberto Victorelli (alberto.fluir@waves.com.br) Assistente comercial: Érica Ribeiro (erica@waves.com.br) Colaboradores: Texto: Emy Sato, Guto Jimenez, Helinho Suzuki, Marcos Camazano, Rodrigo K-b-ça Fotos: Carlos Taparelli, Cauã Csik, Diego Sarmento, Emy Sato, Guilherme Puff, Lauro Casachi, Léo Davi, Marcos Kbça, Octavio Scholz, Paulo Tavares, Pedro Macedo, Rodrigo K-b-ça

Tribo Skate, edição 234, maio de 2015 é uma publicação da SNV Editora, feita sob encomenda por Third Wave Editora de Revistas Ltda. – ISSN 0104-155X. Administração e Jurídico: Rua Guararapes, 1.108, Brooklin, São Paulo/SP, Cep 04561-001. Telefone: (11) 5090 3220. Email: triboskate@triboskate.com.br Editor: cesargyrao@triboskate.com.br

Impressão: Duograf Bancas: Distribuída pela Dinap Ltda. – Distribuidora Nacional de Publicações, Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, nº 1678, CEP 06045-39, Osasco/SP

Tribo Skate * Cultura Sobre Rodas www.triboskate.com.br Email: triboskate@triboskate.com.br

As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista.



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4ª URB, firme e forte // TEXTO E FOTOS JUNIOR LEMOS A URB chega a sua quarta edição se mostrando ainda mais skate! Exibição do esperado “Cenários” Freeday, apresentação do vídeo com a nova equipe Converse Cons Brasil, dos skatistas do time nacional da Official e do primeiro pro nacional da Emerica, além de disputa “Jump Around”, da festa de encerramento e da exclusividade em se ver primeiro todas aquelas novidades que estarão em breve nas skate shops brasileiras. Mesmo contando desta vez com menor frequência de marcas genuínas do mercado de skate brasileiro, os dois dias de feira foram ainda mais recheados de ações de marketing que mostram a constante valorização do skate no mercado streetwear, como os exemplos citados no início do texto, quanto com o maior número de produtos assinados por skatistas profissionais sendo lançados. Os novos tênis de Adelmo Jr (Freeday), Marcelo Formiga (Hocks), Karen Jonz (Mary Jane) e Nilton Neves (Drop Dead), os dois shapes Kronik em homenagem ao James Bambam e o collab da marca com a crew Tropicalients, sem contar com a Öus e sua parceria com a Boulevard, seus novos modelos do Marcelo Yuka, Social Skate e do Parteum, além do pro model de Filipe Ortiz. E como em todas as outras edições de URB, a Tribo Skate se fez presente recebendo em seu stand as melhores visitas da feira, distribuindo adesivos e revistas, compartilhando ideias e muita conversa boa. O carioca Fabio Tirado apresentou suas artes talhadas em shapes, a Kronik espalhou lounges e montou um bar por lá e a feira contou com ainda mais opções de comida dos famosos ‘food trucks’.

Freeday team.

// JUMP AROUND A disputa de skate desta edição foi em uma rampa com grade e contou com a presença de 25 profissionais convidados e uma outra dezena de curiosos querendo mostrar suas manobras. Danilo Cerezini, Rodrigo Leal, Samuel Jimmy, Bruno Aguero e Paulo Galera ocuparam, nesta sequência, o pódio da disputa, que somou na premiação R$ 8 mil em dinheiro.

Pablo e Noveline.

Marcos ET.

Zaine, CG e Bruno.

Marcos Kbça e Heverton.

Simas e Arakaki.

Mario Hermani.

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Sergio Santoro e Nava.

Collab Öus x Boulevard.

Danilo Cerezini, hard flip.


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Febem e Rosário.

Testinha e Gian. BS Crew & friends.

Lucas e Gerdal.

Rastas & friends.

Parteum.

Kelvin e Ana Paula.

Felipe, André e Rodrigo.

Thomas e sua capa.

Tizil e Roni.

Gê, Rod e Godoy.

Muvuca na Tribo.

Katleen e Raphael. Garotada do Youtube.

Sr. William e André. Biano e Ragueb.

Ray Mattos.

Dwayne na Official.

Formiga.

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[01] A marca de hardware Improve Skateboard amplia sua equipe com a entrada do profissional ribeirão-pretano Leonardo Spanghero (Freedom Fog, Thisway, New, Flag, Switch Skateshop, CERDE), agora parceiro de time do também pro Caleb Rodrigues (Campinas) e o amador Bruno Bello (Santo André). improveskate.com.br • Depois de CityZen, a Vibe Shoes lança mais um bom vídeo de skate, desta vez para marcar seus 10 anos de existência. youtube.com/ vibeshoes • [02] Alta Wheels é o nome da nova marca de rodas do ícone Lincoln Ueda. E lógico que a parada conta com brasileiros na equipe, os foguetes Pedro Barros e Rony Gomes, além de Tom Schaar (EUA) e Corbin Harris (Austrália). “A Type-S continua firme e forte! A Alta Wheels é um novo projeto que envolve poucas pessoas e tem uma maior participação dos skatistas na marca”, explica Ueda. altawheels.com • [03] Aqui no Brasil tivemos o lançamento da Control Urethane, marca de rodas que chega no apoio ao profissional de Fortaleza Suênio Campos (Maresia). • A Spitfire deu uma tacada de mestre com a contratação de Luan de Oliveira, a primeira redonda assinada pelo brasileiro é feita com a nova ‘formula four’, 99 de dureza e com 52 mm. Sucesso nas vendas! spitfirewheels.com • Luan também é um dos oito skatistas enfocados no projeto Push, série de documentários do theberrics.com que vem mostrando as origens, o que querem e como foram definidas as carreiras de uns dos mais talentosos skatistas do mundo. Thyago Ribeiro também trampa no projeto como video maker, completando a cota verde e amarela do projeto com a nossa musa Leticia Bufoni. • [04] E a brasileira foi parar até nos videogames! Leticia foi confirmada como uma das 10 personagens do jogo Tony Hawk Pro Skater 5, ao lado de nomes como Andrew Reynolds, Nyjah Huston, Chris Cole, Ishod Wair, Lizzie Armanto, Aaron Homoki, Riley Hawk e David Gonzalez, além do próprio Tony Hawk. O jogo, desenvolvido pela Activision, estará nas lojas ainda este ano para Xbox One, Xbox 360, PS3 e PS4. • A Alfa Skate lança sua primeira coleção de confeccção feminina e também de calçados. Confira e compre as novidades no site (alfaskate.com) • [05] Ainda falando sobre confecção, o hexacampeão Sandro Dias (Red Bull, Freedom Fog, Positiv, 4everskateboards, Stance e SandroDias Skateshop) fecha parceria com a gigante Riachuelo, garantido assim sua participação nas próximas duas temporadas de eventos, nacionais e internacionais. • [06] Ivan Monteiro (Monk, FP Insole, Everlong, Campeonatos de Skate, DaHora Distribuidora, Grizzly e Diamond) é o novo nome no time de estrelas da Star Point, que também patrocina o profissional de Londrina/SP, Roberto Moreira Junior, além de apoiar os riders Ricardo Tossi, Eduardo Gomes, Gustavo Pavezzi, Jhony Misawa, João Pedro Carrilho, Marcos Correa e João Fabrini. Nascido e criado em São Bernardo do Campo, Ivan tem 17 anos e vem saltando aos olhos dos gringos desde que esteve ano passado pela primeira vez nos EUA, ao representar o Brasil no Element Make It Count 2014. • [07] Carlos Andrade ‘Piolho’ (Kronik) agora faz companhia ao também profissional do street Douglas Molocope junto à Code Skateboard e os dois já seguiram em tour por cinco cidades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Eric Soares (downwhill) completa a equipe! (codeskateboard.com.br) • [08] A Official divulga a equipe que veste oficialmente os bonés aqui no Brasil, os amadores Dwayne Fagundes, Henrique Crobelatti, Vinicius dos Santos, os profissionais Diego Garcez, Fábio Castilho e Rodrigo TX, além do rapper e skatista Kamau. Vale conferir o vídeo de apresentação da equipe no fb.com/Officialbrasil. • Diego Garcez (Matriz, Official, Gold Wheels e Crystalgrip) também entra em 2015 com o reforço da Urgh entre seus patrocinadores, que também adicionou Erick Lopes ao time de amadores. • Na Converse Cons Brasil o mês também foi de divulgar sua nova equipe, os pros Biano Bianchin e Daniel Crazy, mais os amadores Renato Souza, Henrique Crobelatti, Kaue Cossa e Felipe Oliveira. [09] O paulista que põe a mão na tinta pra fazer Shit Griptape e foi entrevista de peso em nossa edição 214 (agosto de 2013), Jr. Pig (Zion, Balboa Skateshop e Gnarly Foot) é o primeiro a fechar com o segmento shoes da Live Skateboard. Seu pro model de tênis sai em breve e logo também saberemos os nomes dos amadores da equipe. (liveskateboards.com.br) • O amador de São Caetano do Sul/SP que foi capa de nossa edição 225 (de agosto de 2014) Felipe Felix (Ratus Skateshop, Gnarly Foot, Deadless e apoio Crail) é a novidade nas marcas Drop Dead Shoes e Child. • [10] O profissional de marketing Frederico Naroga emprega agora na .Dot Representação Comercial seus mais de oito anos de experiência direta com o mercado brasileiro de skate, já trazendo para seu ‘guarda-chuva’ a Cisco Skate. (fb.com/dotrepresentacao)

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RODRIGO K-B-ÇA

FÁBIO CASTILHO

Para muitos, a música faz parte da vida e não tem como separar bons momentos como sessions inesquecíveis, de um bom som. Para Fábio Castilho a vida anda no ritmo de black music e muito rap. Confira seu playlist com as faixas que ele mais tem escutado. Racionais Mc’s, Jesus Chorou Sabotage, Respeito é Pra Quem Tem Racionais Mc’s, Mal e o Bem Subsolo, Limpe seu Coração Mos Def, Travelin Man Aretha Franklin, I Say a Little Prayer A$AP Rocky, Ghetto Symphony Hieroglyphics ft. Goapele, Make your Move Freddie Gibbs, Thuggin’ French Montana, All For You French Montana, Dontchu Schoolboy Q, Banger Schoolboy Q, Studio Kendrick Lamar, Maad City RZO, Paz Interior Bone Thugs N’ Harmony, Thuggish Ruggish Bone DMN, Me Tirando Sabotage, Canão Foi Tão Bom Notorious B.I.G., Juicy Mobb Deep, Survival Of The Fittest *Fábio Castilho (Urgh, Red Nose, Crail, Moog e Official) Fs bluntslide, Barcelona.

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Nova era de pistas em Santo André // TEXTO E FOTO RODRIGO K-B-ÇA As reformas começaram em novembro de 2014, mas finalmente, no dia oito de abril passado, a população de Santo André recebeu de presente, no aniversário da cidade, o remodelado Parque Antônio Pezzolo Chácara Pignatari, mais conhecido por Parque Pignatari que, além de uma estrutura para agradar a gregos e troianos, ganhou um skatepark totalmente novo, que abriu oficialmente para os skatistas da cidade no dia nove de maio. Realizada em parceria com a Construtora Advent e a Pug Skateparks, do skatista Caio Peres, que além do próprio (Caio), sempre busca envolver skatistas em seus projetos, sejam eles parceiros, aprendizes ou especialistas em alguma área da construção de pistas. O arquiteto e skatista Vinicius Godoy, o pro Eduardo Braz, além de Gabriel Peres e Wagner Machado, acompanharam a obra e botaram a mão na massa para que tudo ficasse como deveria. A Pug Skateparks contou ainda com a participação da Concrete Flow, da Bélgica e da Doctor Skatepark, do Peru, que ficaram encarregados do acabamento da obra. O envolvimento da Pug Skateparks aconteceu quando a empresa que havia ganhado a licitação para a construção de outro skatepark na cidade divulgou o projeto, o que gerou revolta na galera local. Com orçamento pequeno e já fechado, Caio, para mostrar o que uma empresa especializada é capaz de fazer, abriu mão do seu lucro (além de investir dinheiro) para que a os skatistas do ABC e de São Paulo possam andar em uma pista de padrão internacional e com um estilo atual. Quer ir fazer seu test drive? A pista fica na Rua Utinga, 136, em Santo André (SP).

NOSSA CAPA

Ragueb Rogerio, fs rock n’ roll to disaster.

LÉO DAVI

A pista do Parque Pignatari foi a primeira. Outras serão entregues aos praticantes e fãs da modalidade por meio do Projeto Concretize - grupo formado por pessoas ligadas diretamente ao skate com o objetivo de se tornar um modelo para a construção, promoção e gestão de pistas de skate junto ao poder público. Leia mais no triboskate.com.br

Olhares imprevistos “Há muito tempo não vejo o skate como um esporte, o vejo como uma arte! Um dia fui comprar uma água ali na rua ao lado da Roosevelt e saindo do mercado dei de frente com a grade, pensei: “Aqui é um lugar pra andar e registrar alguma manobra.” Pensei comigo,“um lugar que não haverá competição”, pois sei que nem todos os moleques que estão no game iriam andar aqui. E o lugar é muito louco pra uma foto ou uma imagem! O videomaker Tristan (Zumbach) já tinha me convidado pra fazer umas imagens pro vídeo dele; daí o chamei pra registrar o switch crooked. E como estava ficando na casa do (Marcelo) Formiga, comentei sobre o spot e ele chamou o Puff pra fazer a foto. Dias antes eu tinha filmado a manobra com o Tristan, mas não curti muito a finalização dela, pelo fato de que bem na hora que acertei eu bati de frente com o canteiro da árvore. O mais interessante foi a expressão das pessoas me vendo andar de skate naquele lugar imprevisível, nada comum pra prática de skate. Uma arte imprevisível!” // WILLIAN NASCIMENTO “TRUTA” Patrocínio: Nineclouds e Quântica Apoio: Metallum Trucks

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Encontro Skate das Antigas // FOTOS RICARDO KAFKA O primeiro evento com este nome foi totalmente “for fun”, com o objetivo de resgatar a diversão sem muita pretensão, a paixão inexplicável que só quem é skatista de alma sabe o que é. Foi um trabalho cooperativo, reunindo skatistas de diversas áreas para proporcionar um belo dia na cidade de São Caetano do Sul. A discotecagem rolou através das pick ups do Will Skt apresentando sons antigos que navegavam no rap e no rock com shows de Edu Marron Band e Lay Back Band. Skatistas veteranos se dividiam entre as rampas de varar, o skate freestyle e a session no snake run do complexo da Estação Jovem. Muitos compareceram com suas famílias para curtir tudo isso e vídeos antigos de skate, conferir as exposições de shapes customizados e corporativos de Ratónes, de estrelas do rock internacional produzida por Edu Marron e os skates antigos da década de 80 do acervo do Lau. Um dia inesquecível. Ratónes e McGregor.

Expo de shapes customizados.

Demo de freestyle.

Lay Back Band.

Vagner Preto, street plant.

Edu Marron e banda.

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SKATÃO LANÇAMOS AS HASHTAGS E ESCOLHEMOS ALGUNS MOMENTOS DO QUE ANDAM FAZENDO OS BRASILEIROS PELAS LADEIRAS E PARQUES DESTE MUNDÃO.

@__jesssouza

@anamariasuzano

@bertholini_

@birinhaskt

@cacoratos

@douglasdalua

@georgiabontorin

@ricardomikima

@sammyrn68

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WANDERLEY BOLÃO SE VOCÊ FOI LEITOR REVISTAS DE SKATE NA METADE DOS ANOS 1980, CERTAMENTE VIU MUITAS FOTOS DESTE SKATISTA. WANDERLEY DUARTE, O BOLÃO ERA ASSÍDUO NAS PÁGINAS DAS PRINCIPAIS PUBLICAÇÕES DA ÉPOCA. SKATISTA ESTILOSO E MEMBRO DA FACÇÃO (HOJE SERIA CHAMADA DE CREW) MOEMAGEM, DESCOBRIDOR DE TALENTOS E JOGADOR PROFISSIONAL DE BASQUETE, BOLÃO PASSOU POR VÁRIAS SITUAÇÕES DIFÍCEIS, COMO A DEPENDÊNCIA DE DROGAS, MAS FOI GRAÇAS A SUA FÉ QUE ESTE PAULISTANO DEU A VOLTA POR CIMA. SAIBA TUDO QUE ACONTECEU E O QUE ESTÁ FAZENDO ESSE GRANDE REPRESENTANTE DO STREETSKATE PAULISTANO. // TEXTO E FOTOS RODRIGO K-B-ÇA Skatista influente nos anos 80. Moemagem. Apresente-se Wanderley Bolão. Nos anos 80 cheguei a ser um dos cinco melhores skatistas do Brasil em streetstyle. Viajei por todo o país para competir e fazer demonstrações da modalidade, sendo referência em diversas cidades devido às aparições em revistas e outros meios de comunicação. Além do skate, também joguei basquete e lutei tae-kwon-do profissionalmente. Deixando o mundo dos esportes um pouco de lado, hoje sou pastor e tenho um projeto social. E como você foi parar no Rio Grande do Sul? Você foi um dos caras que ajudou ao Biano Bianchin nos seus primeiros passos no skate, né? Uma das primeiras vezes que fui para o Sul foi em uma viagem com o pessoal da Moemagem. Fomos para Garopaba, em Santa Catarina. Lá, organizamos uma demonstração de skate junto com a Mormaii e, através do skate, conseguimos nos manter na cidade por três meses. No final do verão, uma amiga me convenceu a ir para São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, e sabia que lá encontraria dois amigos, o João e o Jubi, que já haviam se hospedado na minha casa, na Vila Olímpia, em São Paulo. Por volta de 1987 fui morar em São Leopoldo, para onde levei a minha experiência no skate, trabalhando com marcas relacionadas ao esporte. Auxiliei um empresário local a levar e divulgar diversas marcas para a cidade. Com isso, iniciei uma equipe de skate, fomentando o esporte e montei a minha própria marca e loja, a Mirraf, que sempre foi uma referência. Ajudei alguns skatistas e serem conhecidos, alguns exemplos disso são o Marcelinho, da Cia do Skate, Biano Bianchin, Caleb Rodrigues, Juliano K-lcinha, Alessandro Pingo e o fotógrafo Jerri Rossato Lima. Ver o Biano Bianchin ser o profissional que ele é hoje é um orgulho imenso para mim. Sempre o tive como um filho. O tenho como referência, um exemplo muito bem sucedido de que as pessoas podem ser ajudadas e podem chegar onde ele chegou. O que o levou a se afastar do skate e como o basquete apareceu na sua vida? Me afastei do skate em 1991, época que fechei a minha loja e voltei para São Paulo, quando vivi uma crise de depressão em virtude de ter terminado o meu namoro. Com isso, comecei a ir para o Parque do Ibirapuera correr. Acabei praticando basquete e me tornando profissional. Em 1994 fui jogar no Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte. Já em 1996 fui campeão paulista e brasileiro no adidas Street Ball. Em 2009 montei um time de basquete chamado Big Ball e fomos campeões dos Jogos da Cidade e Olimpíadas das Nações, representando a nação de Israel. Você passou por um período bem complicado da sua vida. Quer contar um pouco do que aconteceu? Em 2009 tive alguns problemas na presidência da Associação de Basquete de Rua de São Paulo e acabei voltando a morar em Belo Horizonte. Nesse retorno a Minas Gerais acabei decaindo no uso de drogas e álcool, situação essa que culminou comigo morando na Cracolândia. Nessa mesma época levei seis facadas do meu próprio irmão, ficando entre a vida e a morte. Qual o caminho encontrado para sair desta fase? Através do Facebook, meu irmão Vandermon Duarte Rodrigues, encontrou o Pastor Kid Marinho, da Igreja Bola de Neve de Campinas, que possibilitou o meu tratamento na Comunidade Terapêutica Koinonia. Fiquei lá por um ano, embora o tempo da casa fosse de nove meses. Isso me fez conhecer e vivenciar a Palavra de Deus. Hoje sou pastor da Igreja Família Unida, não só com a unção, mas com a capacitação e tenho um trabalho que é de propagar a Palavra de Deus, trabalhando com prevenção antidrogas, tendo como princípios o respeitar aos pais, estudar e escutar a Palavra de Deus. Hoje faço esse trabalho com projetos sociais como retribuição a Deus por ter salvado a minha vida.

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Como se chama a sua ONG e qual o trabalho ela está desenvolvendo? A ONG se chama Big Ball e hoje temos um trabalho antidrogas e outro chamado “Resgatando Vidas”, que ajuda pessoas sob influência das drogas e álcool, além de pessoas que buscam uma oportunidade. Como foi envolver-se de maneira mais forte com o skate novamente? Voltei a andar de skate tendo como principal objetivo ajudar as pessoas e espalhar a Palavra de Deus, mas falando na mesma linguagem dos skatistas. Quais grandes talentos apoiados pela ONG estão chegando por aí? São vários, mas um exemplo a ser destacado é o Mariano Nunes, skatista iniciante de Pelotas que, além de ser um grande campeão do skate, já foi premiado quatro vezes com o Prêmio Gonzaga de Melhores Notas na escola. Depois dessa trajetória toda, com skate, problemas pessoais, volta por cima, como você se definiria? Hoje sou um canal de oportunidade para as pessoas. // WANDERLEY DUARTE RODRIGUES “BOLÃO” Idade: 47 anos Ocupação: Pastor, idealizador do Big Ball Projeto Social e Net Work Cidade: São Paulo/SP Patrocínios: Connexxion, Hordem, Vegetal, Metallum, Aspecto, Tatan: Vida de Skatista, Tecnopremiun, Vortexs e Skatreb Troféus


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Fs smith, Santa Cruz do Sul/RS.

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Jhony, K-b-ça e Arakaki.

Branca e Felipe Marcondes.

Thodd, Matheus, Felipe e Raoni.

Rafael e Leo Xingu.

Kauê e Kaio Pedro.

Glauber, Rafael, Murilo e Guilherme.

Tristan, Vinicius e Glauber.

Mad City // TEXTO E FOTOS JUNIOR LEMOS Tristan Zumbach trouxe primeiro para o Brasil (assim como fez com o Passenger) as exibições do seu último filme, o Mad City, que esteve em pautas especiais nas nossas páginas ao longo de 2014. Contando com partes pesadas dos brasileiros Vinicius Santos, Fernando Java e Glauber Marques, além do francês Max Genin, rolaram premières na Cidade Tiradentes, Cine Olido, Praça das Águas (Campinas), em São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, nas quais rolaram também muitas sessões de skate. Confira um pouco mais destas exibições e das internacionais que estão por vir no cesarprod.com

Pedro e Ragueb.

Foguinho, Vianna, Formiga, Paulinho e Araken.

Amanda e Dexter.

Zezinho, Paulinho, Aguero e JP Romero.

Vans Propeller // TEXTO E FOTOS JUNIOR LEMOS São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro receberam no dia 29 de abril, ao mesmo tempo em que acontecia o seu lançamento no mundo todo, exibições exclusivas do tão esperado primeiro vídeo de skate da Vans, o ‘Propeller’, antes da liberação de sua venda no iTunes e Now. Apesar do exercício de atenção que é assistir filme de skate em sala de cinema (tinha um empolgado na sessão que não parava de gritar: “os tiozão, os tiozão, os tiozão”), a primeira impressão que tive é que Propeller mantém a tradicional fórmula de vídeos de skate, características do renomado diretor Greg Hunt, sem muito abuso de altos recursos tecnológicos. O filme é superlativo, as mais simples manobras de solo (flatgrounds) são feitas a milhão, descendo uma ladeira em que a morte é certa no caso de erro, assim como também são as manobras de im-

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pacto, avulsas ou em linhas insanas, que ocupam grande parte da produção. Pedro Barros crava com classe seu nome no vídeo, e até me arrisco a dizer que sua participação no vídeo engrossa o coro de muitas vozes que projetam o brasileiro ao prêmio de skatista do ano da Thrasher. Um excelente filme pra se ver diversas vezes antes da sessão. E ainda há no vans.com/propeller uma leva de cenas que não foram usadas no vídeo, tão interessantes quanto as que fazem Propeller ocupar espaço de destaque em meu desktop, resgatando a época em que os vídeos de skate tinham essa mágica (se manter por um bom tempo gravado no HD do pc). Com Propeller, seria 2015 o ano de reafirmação (e volta) dos grandes filmes de skate? Imagino ser esse o papel a ser ocupado por marcas pioneiras como a Vans. O skatista aqui agradece!



CAUÃ CSIK

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Um grau a mais Gabriel Dornelles e o fotógrafo Cauã Csik tiveram a rara oportunidade de se deparar com um tubo perdido. Em ocasiões como esta, sobra disposição e ansiedade de se tentar fazer algo novo, além de subir o mais alto possível de back ou front. Dono de uma base sólida, Gabriel primeiro garantiu um dog pisser na base e depois fez este de switch! Esticando muito e deixando sua marca, realmente lançando um grau a mais na arte de se andar em full pipes. Cachorro mijão na base trocada. Ponto para a dupla skatista + fotógrafo.

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PABLO GROLL SE TEM UM SKATISTA QUE, LITERALMENTE, PÕE PARA BAIXO, NO BRASIL, ESSE É PABLO GROLL. A BUSCA INCESSANTE POR PICOS DESAFIADORES E POUCO SKATÁVEIS É UMA DAS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DESTE SKATER QUE JÁ DROPOU DE LUGARES QUE VOCÊ NEM CONSEGUIRIA IMAGINAR. COM ESTE CURRÍCULO DE STREETEIRO INSANO, PABLO TEM MUITOS ADMIRADORES E, É CLARO, AMIGOS, QUE APROVEITAM ESTE LINHA VERMELHA PARA CONHECER UM POUCO MAIS DESTE CARA QUE, ALÉM DE UM GRANDE SKATISTA, É UM PAI DEDICADO. (RODRIGO K-B-ÇA)

// PABLO GROLL 36 ANOS, 29 DE SKATE NASCEU E MORA EM SÃO PAULO PATROCÍNIOS: ZION SKATEBOARD, SHITGRIP, GNARLYFOOT APOIO: MPVS SKATESHOP, SPORTFISIO

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CARLOS TAPARELLI

• Salve Groll! E aí, quais os novos planos pra 2015 no skate com a Zion e agora com a Gnarly? E o Best Daggers que você está filmando com o JM, Ragueb e todos envolvidos. Sai este ano? (Luis Moschioni “Arroiz”, Tatuí, SP) – Salve Luis! Bom, agora para 2015, estamos lançando nossos pro models pela Zion. É uma realização muito grande, pois é meu primeiro modelo em maple e por uma marca mundial. Temos novidades programadas para o ano todo com muito skateboard! A Gnarlyfoot foi uma parada louca. Estou intermediando a marca na Terra! Fui convidado por um grupo de aliens para ajudá-los com a marca aqui. Aliens skatistas, claro! Eles estão colando direto aqui e só visam ajudar o nosso skateboard. Acredito que sejam as únicas meias feitas com tecnologia alienígena! Foi uma honra o JM ter me convidado para uma parte no Best Daggers IV! Estamos fazendo um trabalho feito totalmente com amor e insanidade pelo skate. O JM é o cara! Muito respeito por ele, que hoje é um grande amigo e irmão meu! Bahhh! Respeitei! • Há alguns anos você mandava vários drops para marcar uma época. Por que teve essa ideia e qual foi o mais difícil para fazer? (Felipe Thiago de Albuquerque, Mogi, SP) – Fala Felipe! Então cara, sempre tive uma visão: o skate é livre. Com os 50 drops quis mostrar exatamente isso! Tudo a partir do momento que você está em cima do skate é skate. Então quis fazer uma parada diferente e não vista antes, como dropar de árvores, na grama, paredes, pontos de ônibus etc. Vários momentos foram muito difíceis. O do Rodoanel foi bem arriscado, pois o chão era muito ruim. Naquele do telhado do lava-rápido, deixei uma costela nele... O da Espraiada foi difícil também, mas em todos eu consegui e me diverti. Não rolou pressão em nenhum, só diversão e adrena! • Salve Pablo, firmeza? Qual foi o país que você visitou para andar de skate que você mais admirou e que mais curtiu? E nos fale uma situação de enrascada que passou nessas viagens? (Marcelo Violin, Leme, SP) – Bom, já fui pra América, para a Califa. Tam-

bém fui para Tampa em 95, mas sem dúvidas, Israel foi o mais marcante. Já fui três vezes. meu pai nasceu lá e veio quando era pequeno para o Brasil. Conhecer o lugar onde ele nasceu e o prédio em que morou quando criança foi muito legal. Nunca imaginei que o skate me levaria ao lugar do qual ouvia histórias desde pequeno. Enrascada, acho, foi quebrar o pé no segundo dia de viagem em Israel, na primeira vez que fui. Estava sem convênio médico e tive que ser bem frio para segurar a bronca lá dez dias, para cima e para baixo, com o pé quebrado! Ainda assim, no último dia, fiz um grind numa pirâmide contra a vontade de todos, só para me satisfazer (risos). Dessa última vez em que fui para lá, em 2014, com o Homero Telles, Carlos Taparelli e o Jr. Pig, fomos durante a guerra na Faixa de Gaza e chegamos a ver mísseis no ar! Foi foda! • Pablo, vejo seus vídeos com vários drops e impactos insanos. Você tem alguma prepa preparação física antes e após essas sessões? E vai sair o “50 Drops Parte II”? (Otávio Rodrigues, Campo Limpo Paulista, SP) – Mano, desde pequeno eu tinha mania de pular altos muros, árvores etc. Acho que isso acabou refletindo no meu estilo de andar. Minha preparação para andar é um bom vídeo de skateboard antes da sessão, um alongamento - na maioria das vezes rápido (risos) - e esquentar legal antes de tentar algo de muito impacto. Ando há 29 anos, então acho que meu corpo já acostumou. Cara, tenho vontade de fazer mais 50 drops. Agora vai ser pelo mundo! Só em lugares e spots inusitados, menos escada rolante! (risos) • Você considera o skate um esporte? (Rodrigo Chagas, São Bernardo do Campo/SP) – Salve Rodrigo! Cara, considero o skate um estilo de vida; um momento onde esqueço praticamente de tudo e fico totalmente em bran branco, só com o skateboard na mente. É tipo uma cerimônia, uma válvula de escape que me traz muita paz e felicidade. Skateboard é vida! • Como venceu o medo para enfrentar aquele drop que rendeu a última capa na Tribo Skate? (Anderson Stevie, Rio de Janeiro, RJ) – Salve Stevie, moleque treinado! Mano, esse drop foi sem dúvidas um dos mais difíceis que já fiz. Tudo lá envolvia perigo: carros, altura, medo... Fui umas quatro vezes lá para acertar. Qualquer erro na hora da volta seria praticamente mortal. No dia que acertei, filmei com um celular. Tinha ido algumas vezes antes com videomakers, mas não acertei. Faltava uma semana para viajar para a gringa e não queria embarcar sem ter voltado a manobra. Foi uma sensação de vitória e satisfação própria que nunca vou esquecer. Skate é foda demais! • Você já fez alguns comerciais de TV e cinema. Como você chegou nas agências que fazem casting? Pensou



zap //

em ser ator? Quais foram os anúncios mais marcantes? (Alberto Pereira de Castro, Petrópolis, RJ) – Cara, eu fiz uma época diversos trampos desses. A convite do meu amigo Gyrão, eu fui em um teste e peguei o papel principal de skatista para uma grande empresa de roupas. Depois desse rolaram vários papéis. Mas hoje em dia não tenho paciência para esses testes! (risos) Não, nunca pensei em ser ator. Tive alguns convites de grandes agências para trabalhar com minha imagem, mas meu negócio sempre foi andar de skate e fazer insanidades com ele! Skate and Destroy! • O vídeo Nunca Esqueça, da Tribo Skate, você e o Alberto Dantas, o Xuxinha, dividiram uma parte. Quais são as melhores lembranças desta época? Vocês não andam mais juntos? (Rodrigo Passos, Porto Alegre, RS) – Style! Pra mim foi uma enorme honra ter uma parte no Nunca Esqueça! Ainda mais com meu irmão Alberto Dantas (Xuxinha). Puts, essa época foi de muitas missões de filmagens, capotes, risadas, tretas com seguranças. (risos) Só street skate mesmo! O Xuxinha até hoje é um grande amigo meu. Nos conhecemos desde os 11 anos de idade e somos irmãos. Sempre que dá fazemos um rolê juntos de skate. Xuxinha é insano e uma grande influência no meu skate. Ele e o Fabio Pen. Real brothers! • Desde sua época na Vision (ou AVB), você já mostrava algumas tatuagens nos braços. Agora você está cheio delas. Quais são as suas tattoos mais marcantes? (Betina Gevaerd, Curitiba, PR) Sempre gostei de tattoos. Fiz a minha primeira com 13 anos, na época da Prestige (pista particular de São Paulo dos anos 90). As mais marcantes com certeza, foram duas desenhadas pelos meus filhos Juan e Ryan e tatuadas pela minha grande amiga Ligiane Xuxa, que me apresentou minha linda Vivi! • E aí, Pablo? Como é ser o profissional mais sangue bom da cena? (Gabriel Almeida “Splinter”, São Paulo, SP) – Salve Splinter! (Risos) Valeu man! Cara, sempre busquei ser um cara humilde e não tratar ninguém de maneira diferente. O cara pode ser quem for no skate ou em qualquer outra situação, mas pra mim somos todos iguais. Nunca me aproximei de ninguém por interesse seja ele comercial ou por patrocínio. Apenas amo o skate e fazer missões na rua. Street skater all life! • Poucas pessoas lembram, mas você também teve uma fase em que corria campeonatos e até foi bem em alguns. Como foi sua época de amador? Você curtia participar dos eventos? (Mauro Lewa da Silveira, São Bernardo do Campo, SP) – Fala, Mauro. Mano, tive uma carreira de iniciante e amador bem recheada de campeonatos. Ganhei diversos; me classifiquei em circuitos importantes da época. Meu primeiro patrocínio consegui através de um campeonato na extinta Prestige: a Flywalk. O dono falou que se eu pegasse uma boa colocação me patrocinaria. Peguei segundo e consegui o patrô. Me lembro que entrei junto com o (Marcelo) Formiguinha, José Eduardo Anjinho e Rubens Sunab, que eram iniciantes e amadores na época. Mas, depois de um tempo, desencanei de champs e me foquei em fotos e filmagens. Amo isso cara: sair na missão para procurar novos spots. Skate life sempre! • Na foto de seu Facebook você aparece com os dois filhos pulando, uma cena bem legal, de paizão. Como é essa missão de educar dois garotos ao mesmo tempo? (Claudio Mascarenhas, Londrina, PR) – Claudio, cuido dos meus filhos desde o primeiro dia da vida deles. Eles são tudo pra mim. Já estou separado há quase sete anos e, desde então, cuido deles sozinho. São meus melhores amigos e só me trazem orgulho e felicidade. Juan e Ryan, dois moleques gente fina e guerreiros! São minha maior inspiração para tudo. Father and sons.

PRÓXIMO ENFOCADO: STANLEY IGNÁCIO ENVIE SUAS PERGUNTAS PARA: TRIBOSKATE@YMAIL.COM COM O TEMA LINHA VERMELHA – STANLEY IGNÁCIO COLOQUE NOME COMPLETO, CIDADE E ESTADO.

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CARLOS TAPARELLI

PABLO GROLL

Flip.


// zap

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motivadores // sk8 & art

Multifaces de

Ligiane Xuxa O SKATE É UM ESTILO DE VIDA E NÃO PODE SER CATEGORIZADO APENAS COMO ESPORTE. ELE ENVOLVE MUITO MAIS DO QUE A HORA DA SESSÃO E REPRESENTA UMA PEQUENA PARCELA DA EXPRESSÃO ARTÍSTICA DO SKATISTA. ELE FUNCIONA COMO UM INDICATIVO DE TRAÇOS MARCANTES DO ESTILO E DA PERSONALIDADE DA PESSOA COMO “SER CRIATIVO”, SEJA NO USO DA CIDADE OU COMO O PRÓXIMO LIMITE SERÁ SUPERADO. // TEXTO E FOTOS EMY SATO

S

katista há 13 anos e local de pistas tradicionais de São Paulo como a Espraiada e a Saúde, Ligiane Xuxa faz parte desse grupo que, mais do que usufruir do skate, o vive em todas as suas outras ramificações. Na classe dos profissionais desde 2012, a fluência já conhecida de suas manobras é logo vista em suas criações. Seus desenhos com os “olhos que tudo veem” e os traços que remetem da vida urbana a sentimentos tribais, inseridos sempre em um contexto psicodélico, são um desses indicativos da sua personalidade: “be different or die”. Em 2014, ela fez questão de ilustrar o seu próprio pro model de shape e, através de traços abstratos

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motivadores // sk8 & art

e imagens cheias de simbolismos, seguiu o mesmo processo de desenvolvimento de suas outras artes: o desenho espontâneo e livre. Sem a procura inicial de sentido, as telas que ela produz são a visão particular do mundo à sua volta, que flui pelo seu subconsciente e naturalmente se transforma em imagem, som ou qualquer outra maneira que ela possa se expressar. Das lixas, shapes, madeiras recicladas e de tudo o que tiver pela frente, Xuxa evoluiu o traçado para as peles e hoje é uma tatuadora movida por essa antiga paixão, que a acompanha desde os tempos do colégio: desenhar em braços, pernas ou qualquer parte do corpo disponível (só que agora, em definitivo). Tatuando há quase dois anos, essa é outra de suas habilidades, a qual foi criada no meio de referências da cultura e dos círculos de amigos que só a rua pode proporcionar e que, agora, retribui sendo um dos pilares para a sua independência no esporte e para a liberdade em poder andar quando e onde quiser. Também por paixão, seja pelo registro em si ou pelo tempo presente, Ligiane está sempre acompanhada de sua câmera analógica. Ela, que é originária do street, filma e fotografa muitas de suas próprias marretas nas sessões, os amigos ou apenas o seu ponto de vista peculiar sobre as coisas e lugares. Quem a viu dropar o wall ride da pista de Mauá em meados de 2009, consegue entender um pouco mais sobre essa sua atitude: despretensiosa, subiu na paredona e dropou direto para a rampinha lá embaixo. Com a câmera, a comparação cai perfeitamente através do clique que, depois de revelado, deixa de ser simples e reproduz muito mais do que apenas o momento. Para acompanhar um sopro de toda essa criação e ficar de olho no que ainda está por vir, é só segui-la nas suas redes sociais. Com uma Fanpage e um Instagram recheados de skate e arte, Xuxa sempre atualiza o conteúdo e, apenas nessa seleção online, a pergunta que fica no ar é se a sua arte reproduz o skate ou se o skate no pé é uma reprodução da sua arte? A resposta pouco importa, o que interessa mesmo é que sempre ansearemos por ver suas criações dentro ou fora das pistas.

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Sem a procura inicial de sentido, as telas que ela produz são a visão particular do mundo à sua volta.


Fs smith na Blue Square, SP/SP.

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viagem // calif贸rnia

Verdi

Cali Tour POR MARCOS CAMAZANO // FOTOS OCTAVIO SCHOLZ

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Marcos Camazano, fs blunt no secret DIY em Davenport.

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califórnia // viagem

H

á sempre muita empolgação quando quatro amigos vão fazer uma skate­ trip para a Califórnia. Reencontrar os amigos que moram em uma das mecas do skateboard, andar em skateparks e skateplazas perfeitos, spots na rua e ditches alucinantes são alguns dos motivos. Já fui al­ gumas vezes para Los Angeles e sul da Cali­ fórnia. Pedro Duarte, skatista amador de São Paulo, estava indo pela primeira vez, enquanto Octavio e Leônidas Scholz, fotógrafo e video­ maker, pela segunda. Estávamos com a in­ tenção de andar de skate, fotografar e filmar o máximo e melhor possível. Desembarcamos em Los Angeles, alugamos uma minivan e fo­ mos rumo ao norte do estado até San Frans­ cisco, parando em Santa Barbara, Santa Cruz e nos picos pelo caminho, dirigindo pela High Way 01 com uma vista privilegiada do Oceano Pacífico. Após San Francisco, fomos ao encon­ tro de Pedro Atala e Guto Lamera, integrantes da Família Verdi que residem em San Diego. Fomos muito bem recebidos e desbravamos alguns ditches, pistas e picos de rua da cida­ de. Conversando com os skatistas locais nos skateparks ou skateshops descobrimos vários outros picos para andar, rendendo sessões das 10h da manhã às 10h da noite, todos os dias! Confira as fotos da viagem dos sonhos de qualquer skatista.

Pedro Duarte, switch flip sobre o rail, San Diego.

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Netera.

Ditch Tamarack.

Galera do Brasa.

Marcos Camazano, ss bs smith grind na Courthouse, Los Angeles.

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calif贸rnia // viagem

Pedro M么naco, bs blunt slide #DitchLife, San Diego. Pedro Duarte, fs feeble grind, San Diego.

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viagem // calif贸rnia

Guto Lamera, heel flip to fakie em mais um secret spot.

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viagem // califórnia A Verdi Cali Tour rendeu também webisódios semanais que serão exibidas às segundas­feiras no canal da Verdi (youtube.com/verdiskateshop), com início no dia 01/06. Acompanhem que vai ser pesado!

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Pedro M么naco, fs one truck em Del Mar.

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entrevista pro // kevin b7

Kevin B7,

Metamorfose Ambulante EM UM PRIMEIRO MOMENTO FICA DIFÍCIL DEFINIR ONDE NASCEU KEVIN B7. QUANDO FALA, PALAVRAS EM ESPANHOL SE MISTURAM A UM PORTUGUÊS PRATICAMENTE SEM SOTAQUE. AO EXPRESSAR-SE, ATRAVÉS DO DESIGN, DESENHOS OU MÚSICA, KEVIN MOSTRA QUE SUA BAGAGEM CULTURAL É AMPLA. QUANDO ANDA DE SKATE, SUA BASE, ADQUIRIDA AO LONGO DE 30 ANOS SOBRE O CARRINHO, FAZ COM QUE ELE SE ADAPTE AOS MAIS DIVERSOS TERRENOS. E FOI ASSIM QUE, COM UMA PERSONALIDADE CATIVANTE E UM SKATE CRIATIVO E IMPREVISÍVEL QUE KEVIN B7, UM FRANCÊS DE CORAÇÃO BRASILEIRO, SE FIRMA, AOS 40 ANOS, COMO UM GRANDE NOME DE UM SKATE GLOBALIZADO, QUE SE ADAPTA A CULTURAS E HÁBITOS DIFERENTES. UMA VERDADEIRA METAMORFOSE AMBULANTE. // TEXTO, FOTOS E VÍDEO RODRIGO K-B-ÇA

Veja o vídeo destas sessões com Kevin B7 em triboskate.com.br

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entrevista pro // kevin b7

C

omo um francês aprendeu a falar tão bem o português sem nunca ter morado no Brasil? Aprendi o português brasileiro naturalmente, com minha esposa Priscila, com quem casei há 10 anos. Já viajei 10 vezes pro Brasil, antes mesmo de conhecê-la, já tinha visitado o Brasil duas vezes, convidado pelo Nilton Neves. Fiquei na casa dele, perto da pista da Saúde, na zona sul de São Paulo, quando tive a oportunidade de conhecer muitas pessoas nos anos 2000 e 2001. Sabemos que o mercado de skate na Europa é um tanto complicado, mas claro que estar no velho continente tem várias vantagens. Quais são os principais pontos positivos de andar de skate no Velho Continente? A Europa é considerada hoje como um mercado próprio no cenário do skate mundial. Não é mais a vitrine que só se via nas revistas ou nos vídeos… Hoje um cara que vem de fora do Ve-

lho Continente, quer vir pra ficar um tempo, não só chegar e manobrar. Cada um dos 28 países que a compõem são opções a mais para viajar, conhecer e andar de skate. Os meios de transporte e estradas são classe A e pode sair tudo mais em conta se você programar bem uma viagem. Sua arquitetura é um encontro do tradicional com o moderno e é propenso ao skate, sendo muito visitada e explorada pelo skatista. O skate europeu tem uma identidade própria e o mercado gringo já percebeu que as coisas mudaram... Estão vendendo menos e, de fato, a crise afastou várias marcas americanas, enquanto diversas marcas alternativas se destacaram e tomaram conta das prateleiras. Não é global, mas dá para sentir a diferença... A proposta é outra, com uma brisa de paz e tranquilidade, onde você rapidamente vai criar laços de amizade com os locais. Atualmente você mora em uma cidade pequena, com pouco mais de 1.000 habitantes. Como

O país em que se plantando tudo dá, é cheio de gente empreendedora, traz expectativa e renova a minha cabeça.

Nosegrind.

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Flip to fakie.

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Bs nosegrind.

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kevin b7 // entrevista pro

Bs tailslide shovit out.

é ser skatista em uma cidade tão pequena? Basicamente, se você morar num vilarejo francês, precisará se locomover até uma cidade maior para encontrar picos ou fazer você mesmo spots DIY e combinar uma sessão com os amigos. Depende muito da disponibilidade de cada um. Comprei uma câmera há um tempo e com a primavera nasceu o projeto PanaCosmicVision, realizei um sonho a mais, o tempo é nosso lar! Eu e a Priscila passamos três meses seguidos em Barcelona. Mantenho essa relação com a Espanha por ser um dos lugares onde o rolê acontece, além disso está há cinco horas de casa. Devo confessar que tenho uma ligação peculiar com a Espanha, porque parte da minha família do lado da minha mãe, Rosine, é de origem espanhola. Minha avó materna, Carmen, fugiu da ditadura franquista quando era menina com sua família para morar na cidade mineira de Carmaux (onde se extraía carvão). Essa cidade era uma verdadeira salada russa de imigrantes de todas as partes da Europa. Até 2010 dei aulas de skate e trabalhei cinco anos com crianças através da nossa associação, a Effigie Skateboards. Tenho um diploma do estado francês de educador de lazer, específico para skate. Em 2000 ajudei a incentivar a prática do skate na região de Toulouse com vários voluntários, pais e pessoas de todas as idades. Só parei de trabalhar dando aulas após uma distensão do adutor magno e longo. Demorei dois anos para poder voltar para as ruas. Você está marcando presença nas redes sociais. Qual a importância dessas ferramentas pra divulgar o seu trabalho? As redes sociais são uma maneira que tenho de compartilhar coisas relevantes sobre meu tra-

balho. Com essa dimensão você pode criar algo interativo com os outros, mostrar sua dedicação, perseverança e criatividade. Fico contente em poder contribuir com minha presença, junto com colaboradores fotógrafos e videomakers. Você segue alguma religião ou filosofia de vida? Não sigo nenhuma religião ou dogma, no entanto, vi que sou Lebre no horóscopo chinês e número nove na numerologia. Sou um eterno aprendiz, isso com toda certeza! Você faz parte de uma das equipes mais conceituadas do Brasil. Como foi que rolou essa ponte Brasil – França? Estabelecemos essa ponte Brasil – França depois de conhecer o Rafael e Bruno Narciso. Cheguei a visitar a sede da Öus em Curitiba, que ficava perto da casa de minha sogra, Dona Marlene. Desse encontro amistoso, surgiu a ideia da viagem do time pra Euro. Eu ficaria mais na missão de rodar Barcelona com a furgo, mas já no primeiro dia, do nada, fiz uma foto de um backside smithgrind em uma fonte. Acertei a manobra três vezes. Nesse dia voltei para casa todo ralado, mas percebi claramente que estava na hora de voltar a andar, que estava deixando de lado o que me fazia tão feliz na vida, algo ao qual já havia dedicado muitos anos. Desde então, quando vou para o Brasil, minha meta é mergulhar e conviver cada vez mais com a grande cultura de rua que vocês têm. Estou procurando me envolver mais com o Brasil, participar de mais projetos como o meu colorway “Tenente B7” (que foi lançado em 2014, junto com uma vídeo parte filmada na França e Espanha). O país em que se plantando tudo dá, é cheio de gente empreendedora, traz expectativa e renova a minha cabeça.

Temos todos as idades do corpo e a idade da mente. Precisamos alimentar o corpo e a mente se quisermos ir mais longe, procurar o que falta para o corpo e para a mente poder interagir juntos no rolê e na vida de um modo geral.

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entrevista pro // kevin b7 Um dos seus projetos, que já começa a dar seus primeiros passos é a Keiff! Brand Co. Apresenta esse “seu filho” para quem está no Brasil? Keiff! surgiu das habilidades manuais da Priscila, que faz crochê. Eu queria uma touca do tipo que vemos nos vídeos de skate dos anos 1990, sabe? As pessoas na minha área gostaram e começamos a confeccionar e customizar para a galera. O programa In.fluência, do Marco Savino, ilustra bem o ambiente no qual criamos. No atelier, que no futuro será uma loja, temos um espaço dedicado, com estoque de lã pura. Montar uma marca pode ser um processo demorado. Queremos ampliar nossa produção artesanal, criar outros produtos, estampar, divulgar e promover, procurar fazer colaborações com outras marcas, atender mais pedidos. Crescer nesse sentido e ver onde o vento pode nos levar.

E qual sua experiência com design? Em 1998 me formei em design de roupas e me convidaram para trabalhar na subversiva FLIC (uma gíria para policial). O logotipo lembrava um KB, pois a marca era uma subdivisão da KanaBeach. Lembro bem que o, hoje falecido, chefe da firma, morria de medo de ser processado. Essa aventura de pouca duração teve sucesso, tanto que quando saí, consegui um trabalho quase em seguida para criar a Hypnoz, que fazia rodas de skate, roupas, acessórios e cervejas! Nessa missão eu comandava a marca. Cuidei de A a Z: criar nome, logos, equipe, desenhos, vendas e eventos. Tudo isso como se eu mesmo fosse o dono da empresa. Confesso que tem de saber gerenciar seu tempo e respeito muito quem se dedica a essa profissão. Até rotulei, à mão, milhares de cervejas na fábrica! Em 2003 participei de vários projetos

Até rotulei, à mão, milhares de cervejas na fábrica! Em 2003 participei de vários projetos de design de pistas de skate na Espanha com a Spoko.

Fakie bigspin one truck to fakie.

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Bs Smith.

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de design de pistas de skate na Espanha com a Spoko. Os desenhos foram ampliados para vários municípios da Catalunha e Espanha. Criei, com apoio de um gabinete de arquitetos um conceito de skatepark com 3.000 m², com half pipe, 1.000 m² de bowls e pista de street em Cap Découverte, parque de lazer, a dois passos de onde moro. O lugar era, inicialmente aberto ao público, mas foi privatizado para uma multinacional. Sua van ficou bem famosa no Brasil. O que acontece que ela não está mais lhe levando de um canto para outro? Ficou? Acontece que ela tinha muita história pra contar. Comprei a van em 1997, quando assinei com a adidas. Serviu de transporte para todos os shows da minha banda, a Now’n’Later. Todo verão, por cinco anos, participava dos campeonatos da WCSK8 na Alemanha, Inglaterra, Dinamarca, República Tcheca, Suiça, Áustria e Bélgica. A furgo ajudou muito nos verões de 2010 a 2013 em Barcelona. Ela sempre estava cheia de skatistas brasileiros, motivadíssimos para explorar vários picos novos. Cada um participava dessas jornadas com maior alegria, compartilhando o que tinha. Não posso nomear todos, mas a galera sabe quem é e o que suamos juntos! Me separei dela há um ano, em Barcelona. Ladrões forçaram a porta e até roubaram o volante de raiva, pois não conseguiram levar o carro. Acabou que a van foi guinchada e o seguro não levou de volta pra França. Acabou ficando em uma garagem na periferia. Fiquei três meses em cima, até recuperar, pelo menos, seu valor, que serviu pra financiar passagens pro Brasil. Você fez 40 anos recentemente e segue andando como moleque. No que a idade limita seu skate? Moleque? Eu? Obrigado, encaro isso como um elogio! Para mim, o limite seria o corpo e o infinito seria a mente. Não dá para pular escadas toda hora, como antigamente. Acho que a molecada me motiva bastante até hoje. Quando dava aulas de skate nas escolas públicas, me dei conta rápido que os jovens eram o futuro e também podiam ser a revolução. Todos eles, juntos e soltos, no tempo livre deles, no intervalo das aulas, no pátio da escola, andando de skate. Não há quem segure! Temos todos as idades do corpo e a idade da mente. Precisamos alimentar o corpo e a mente se quisermos ir mais longe, procurar o que falta para o corpo e para a mente poder interagir juntos no rolê e na vida de um modo geral. Acumulamos todos, com o decorrer do tempo, ferimentos e traumatismos que definem nossa idade. Pessoalmente, procuro manter uma alimentação saudável e alongar o corpo sempre que puder pra me manter mais tempo no carrinho. Estou sempre disposto para isso. É uma meta! Tento não ir pras ruas machucado ou mal alimentado. Em relação à idade, se for contar direito, tenho só quatro anos!

// KEVIN BESSET Idade: 4.0 Tempo de skate: 3.0 Cidade onde mora: Cordes Sur Ciel (França), Barcelona (Espanha) e Curitiba (Brasil) Parceria: Öus

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Impossible.


kevin b7 // entrevista pro

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viagem // peru

Brazicas no Peru

No Se Puede! ISSO MESMO QUE VOCÊ PENSOU: PRIMEIRO AQUELE OLHAR FULMINANTE, DEPOIS O DEDO EM RISTE PARA A ESQUERDA E DIREITA, ACOMPANHADO DA FRASE - AQUI NÃO PODE ANDAR! A ESCOLA BRASILEIRA DE DRIBLAR OU CONQUISTAR SEGURANÇAS FOI POSTA À PROVA NESTA VIAGEM ALUCINANTE PARA A TERRA DOS INCAS PROTAGONIZADA POR BIANO BIANCHIN, DANIEL CRAZY E O FOTÓGRAFO DIEGO SARMENTO. // TEXTO E FOTOS DIEGO SARMENTO

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viagem // peru

Em muitos picos nas proximidades de Miraflores, era questão de tempo para a segurança local chegar e acabar com a sessão. É por isso que essa história de “no se puede” vai se repetir por toda a trip. Mas em muitos casos, como esse no corrimão de uma praça local, a conversa e insistência venceram: barley grind com a segurança na plateia.

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viagem // peru

Acima: Em San Bartolo, cidade próxima a Lima, Crazy ignora o muro de uma residência. Manobrou e ainda teve dois beagles assistindo para não perder o momento! Na página ao lado: “No se puede” num monumento oferecido aos imigrantes japoneses em terras peruanas, com uma transição perfeita. A segurança nos deu mais trabalho do que imaginávamos. Voltamos quatro vezes ao local para registrar esse belo flip to fakie.

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peru // viagem

Na página ao lado: Duas tentativas mal sucedidas, mas na terceira conseguimos andar nas famosas pirâmides dentro de um condomínio residencial em Lima. Foi necessário entender o esquema dos seguranças locais e andar no hora certa: Crazy, nollie bs bigspin. Abaixo: Logo nos primeiros dias, a vontade de andar de skate era tanta que nem mesmo o cansaço conseguia nos parar! Após um longo período de skate durante o dia, saímos na madrugada para registrar esse estiloso boneless em um monumento no distrito de Miraflores, que só foi possível fazer à noite por causa da polícia e o movimento de pessoas no local.

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viagem // peru

Chegamos em Lima, era minha segunda vez no Peru, Biano e Crazy a primeira! Por isso tinha uma vaga lembrança de como chegar em um spot, um pico famoso no qual grandes nomes do skate mundial já andaram e já publicaram suas manobras em revistas norteamericanas. Sedentos por skate entramos no carro e partimos à procura do spot, apenas com a memória fotográfica de ter estado lá há mais de dois anos. Depois de algumas voltas e vários minutos, lá estava ele! Para nossa surpresa, o pico estava com novos obstáculos DIY! Não demorou muito para Crazy explorar o pico de uma forma diferente: um flipão pulando um gap esquecido em meio às ruínas.

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casa nova //

Fs feeble.

Arthur Rockenbach // FOTOS MARCOS KBÇA Skate e roupas atuais: Truck Independent, shape Birdhouse 8.5, rolamentos Red Bones e rodas Spitfire. Calça Volcom, camiseta Thrasher e tênis Emerica. Manobra que não suporta mais ver: Backflip. Manobra que ainda pretende acertar: Frontside invert. O que o skate apresentou de mais style em sua vida: Um novo jeito de ver o mundo e um lifestyle pelo qual eu sempre procurei. Principal dificuldade em ser skatista na sua área: Locomoção de uma pista para outra.

Skatista profissional em quem se espelha: Grant Taylor. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Sony, pelas Vxs que produzem os melhores vídeos de skate. Atual melhor equipe de skate brasileira: Curto todas, mas me identifico mais com a equipe dos Daggers. Amador que gostaria de ver pro: Jean Lucca Joner. Agradecimentos: Para a minha mãe, meu pai e meu padrasto, pro JM e toda a crew e aos meus amigos. // Arthur Leal Rockenbach 15 anos, 4 de skate De Porto Alegre, RS, mora em Florianópolis, SC

Lealdade, gratidão e muito grindonnn!

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FOTO: DIEGO SARMENTO

˜ BIANO BIANCHIN ˜

RESPEITO À CULTURA

DO SKATE

BRASILEIRO

produtostriboskate@gmail.com

VEJA A LISTA DE ONDE ENCONTRAR OS PRODUTOS TRIBO SKATE NA PÁGINA 73.

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casa nova //

Gustavo Ramos // FOTO LAURO CASACHI Skate e roupas atuais: Shape Foton, trucks Metallum, rodas Element, rolamentos Red Bones, Camiseta, calça e boné Foton, tênis Vibe. Manobra que não suporta mais ver: Kick flip. Manobra que ainda pretende acertar: Ss flip tail de back. O que o skate apresentou de mais style em sua vida: As vivências e viagens. O skate me ensinou a sempre persistir, mesmo se estiver errando, uma hora dá certo.

Principal dificuldade em ser skatista na sua área: Poucos skatistas e poucos lugares pra se andar de skate. Um skatista profissional em quem se espelha: Alexandre Tizil. Uma marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Red Bull. Atual melhor equipe de skate brasileira: Foton. Amador que você gostaria de ver pro: Wilton Souza. // Gustavo Antonio Ramos Alcantara 17 anos, 7 de skate De Mirassol, SP Patrocínios: Renegades Company, Sk8family

Aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças.Voam alto como águias. Correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam. (Isaías 40:31)

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JR LEMOS

Pop shuvit.


// shops! Elas mantêm a chama acesa O papel das skate shops não é apenas vender produtos. É oferecer um atendimento de qualidade, que satisfaça o cliente e alimente seu desejo de andar de skate, vestir-se bem, entender e viver esta cultura. Neste cenário, a informação é mais uma alavanca para o sucesso e é justamente aí que algumas lojas se sobressaem. Elas são pontos de convergência, investem no esporte e ajudam a construir a história do skate brasileiro. > MATO GROSSO DO SUL - Campo Grande Rema Boardhouse Rua Pedro Celestino, 1387, Centro (67) 3213-2504

> RIO GRANDE DO SUL - Porto Alegre Matriz (Total) Av. Cristovão Colombo, 545/1072,1073, Floresta (51) 3018-7072

> PARANÁ - Curitiba THC Skate Shop Pça Rui Barbosa, s/n - loja 196 (41) 9933-2865

Matriz (Wallig) Av Assis Brasil, 2611 - loja 248, Cristo Redentor (51) 3026-6083

- Guarapuava Atrito Board Shop Rua XV de Novembro, 7860, loja 1, Centro (42) 3623-6818 - Paranaguá XFactor Skt Rua Marechal Deodoro, 55, Centro (41) 3422-6044

> SANTA CATARINA - Joinville Grind Skate Shop Rua São Francisco, 40, Centro (47) 3026-3840 > SÃO PAULO - Ferraz de Vasconcelos Vinte Nove Skate Shop Rua Tio Patinhas, 59, Parque Dourado (11) 95861-0489

- Mogi Guaçu Alta Tensão Skate Punk Av. Nove de Abril, 168, Centro (19) 3019-6950 - Pompeia Exalt Skate Shop Rua Senador Rodolfo Miranda, 225, Centro (14) 9 8115-2318 / 9 8164-5397 - São Paulo All Store Boards Sports Av. do Cursino, 1.722, Saúde (11) 5058-1540 Almeida Sports Alameda dos Jurupis, 1348, Indianápolis (11) 4562-4430 RadicalDrop Skate Shop & Mini Ramp Rua Silva Bueno, 2496, Ipiranga (11) 2272 2359

MPVS SKATE SHOP Rua General Chagas Santos, 606 Saúde - São Paulo/SP Tel: 55 (11) 2532-1553 www.mpvsskateshop.com.br

- Sorocaba Xtreet Skateshop Rua Alfredo dos Santos, 166, Vila Carol (15) 3226-3011 / 99151-2511

Mantenha você também a chama do skate brasileiro acesa, leve a revista Tribo Skate para a sua loja!

VOCÊ ENCONTRA OS PRODUTOS TRIBO SKATE NAS SEGUINTES LOJAS: B.O.C.A. (Circo Voador): Rua dos Arcos, S/N, Lapa - Rio de Janeiro/RJ - (21) 99902-0335 Blackout: Av. Automóvel Clube, 21, qdG sl B, Parque Equitativa - Duque de Caxias/RJ - (21) 3671-7864 C4 Skate Shop: Rua Francisco Otaviano, 67 LJ 50, Galeria River, Arpoador - Rio de Janeiro/RJ - (21) 3081-2644 Dropp Surf: Rua Afonso Vergueiro, 1583, Centro - Sorocaba/SP - (15) 3033.0063 Fomo Vertical Distribuidora: Rua Fernão de Magalhães, 41, qd G lt 2 - Campo Grande, Rio de Janeiro/RJ - (21) 3426-5912 Gigante Street Shop: Rua Chaves Faria, 20, Centro - Teresópolis/RJ - (21) 3097-4948 Grab Oficial: Rua Nair de Andrade, 45 LJ 7, Alcântara - São Gonçalo/RJ - (21) 4124-6554 Grind Skate Shop: Rua São Francisco, 40 - Joinville/SC - (47) 3026-3840 Hi Adventure: Rua Sotero de Faria, 610, Rio Tavares - Floripa/SC - (48) 3338-1030 Matriz Skate Shop: Online - matrizskateshop.com.br Shopping Total - Av. Cristóvão Colombo, 454 - Porto Alegre/RS - (51) 3018-7072 Shopping Wallig Bourbon - Av. Assis Brasil, 2611, LJ 248 - Porto Alegre/RS - (51) 3026-6083 Puro Skate Shop: Rua Lemos Cunha, 540, Icaraí - Niterói/RJ - (21) 3619-8018 Roots Skate Shop: Rua Leopoldo de Bulhões, 166, Centro - Anápolis/GO - (62) 3311-2012 Sagaz Skate Shop: Rua Ferreira Pena, 120, Centro - Manaus/AM - (92) 3233-2588 Switch Skate Shop: Rua Comandante Marcondes Salgado, 619 - Centro - Ribeirão Preto/SP - (16) 3235-6867 Faça parte desta lista: produtostriboskate@gmail.com

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casa nova //

Heelflip varial.

Ian Ramos // FOTOS PEDRO MACEDO Skate e roupas atuais: Rodas Grind, shape Agacê maple, lixa Jessup, rolamentos Everlong, eixos Venture. Tênis Converse, boné DGK, camiseta Grind e calça sem marca. Manobra que não suporta mais ver: Não cheguei nessa fase ainda. Manobra que ainda pretende acertar: Nollie flip nose. O que o skate apresentou de mais style: Os lugares que tenho conhecido e as novas amizades que tenho feito.

Skate até morrer.

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Principal dificuldade em ser skatista na sua área: Não sinto dificuldades na minha cidade, mas ajudaria um incentivo maior das empresas de skate. Skatista profissional em quem se espelha: Luan de Oliveira. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Burger King. Amador que gostaria de ver pro: Humberto Peres. // Ian Gonçalves Ramos 14 anos, 4 de skate De Itaperuna, RJ, mora em Cabo Frio, RJ Patrocínios: Grind e Casa do Skate.



hot stuff //

// Jonh Roger A John Roger traz em sua linha de produtos moletons, camisetas, bonés e acessórios para quem gosta de se vestir bem. Sua fábrica está localizada em Apucarana, no Paraná, e seus produtos podem ser adquiridos através da sua loja virtual ou na rede de lojas especializadas. Destaque especial para o boné assinado pelo profissional Rogério Febem! (43) 3425 1330 / loja.johnroger.com.br

// Oakley Com a combinação de dois materiais (alumínio e o exclusivo O Matte), que proporciona conforto, resistência e flexibilidade, e com lentes Iridium Polarized, que reduzem o brilho e apuram a transmissão de luz, a coleção X Metal estabelece uma nova referência em termos de inovação na Oakley. (11) 5189 4597 / oakley.com

76 | TRIBO SKATE maio/2015

// X Games Apostando nas cores fortes para o verão 2015, a coleção X Games, representada no Brasil pela Orient Relógios, apresenta cinco novas cores para deixar o modelo mais moderno durante a prática esportiva, ou para o uso no dia-a-dia, são elas: azul, vermelho, amarelo e os clássicos branco e preto. (11) 3049 7777 / orientnet.com.br/xgames



IVAN SHUPIKOV

skateboarding militant // por guto jimenez*

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* Guto Jimenez estรก no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.


PEDRO MACEDO

complemento

// coluna

Faça você mesmo o seu pico – e divirta-se mais!

A

Mauricio Nava, bs wallride no Znakeside.

filosofia do “faça você mesmo” sempre andou de mãos dadas com o skate desde o início dos tempos; se não fosse pela improvisação, a ideia de se serrar um pé de patins ao meio e pregar os dois eixos numa tábua jamais teria sido colocada em prática. Não teríamos o nosso modo de viver e nem conheceríamos o meio de transporte mais divertido que existe, imagine você... A busca pelo novo, pelo inusitado e pelo surpreendente sempre fez parte do ethos dos skatistas, estando presente desde a procura incessante por picos até o desenvolvimento constante dos materiais e equipamentos. Ultimamente, um antigo recurso voltou a ser colocado em prática: a construção e/ou reformas de picos de skate pelos próprios skatistas. Mesmo com toda a relativa facilidade de construção de pistas que temos atualmente, com várias firmas especializadas criando ou reformando pistas dos mais variados formatos em todo o país, não existe um único entre nós que já não tenha tido uma ideia diferente pra pista ou pico que mais frequenta. Porém, são poucos os que partem pra ação e botam as mãos na massa pra ampliar, reformar ou mesmo fazer algo completamente novo do nada. Moro numa cidade com uma tradição histórica de picos feitos pela galera; no Rio, eles vêm fazendo parte do cenário desde os tempos da legendária Rampa da Pedra (na Urca), no final dos anos 70. Já perdi a conta dos lugares que andei que foram construídos por skatistas nos lugares mais improváveis que você possa imaginar: de quarter pipe num chafariz seco no jardim do prédio dos irmãos Wilson (no Flamengo) a um mini skatepark construído numa garagem de prédio – a incomparável Garagem do Bartolo. Não dá pra esquecer das minis da Urca, do GIMK e da Tijuca, dos “mini-halfs” de Botafogo, Jardim Botânico e Piedade – todos, sem exceção, no meio de suas respectivas ruas e feitos com legítima madeira “pega emprestada” de canteiros de obras da cidade -, bem como os banks feitos com as próprias mãos em jardins de condomínios, para horror dos moradores mais idosos. Nos últimos anos, essa tradição carioca de dar uma guaribada nos picos acabou gerando frutos bem saborosos pra comunidade skatística do local, e os exemplos mais conhecidos e divulgados são os da Quadrinha da Lagoa e da Praça Do Ó, na Barra. No caso da Quadrinha, o espaço ocupado foi o de uma quadra de tênis na beira da Lagoa Rodrigo de Freitas que foi ficando áspera e desnivelada com o tempo e foi abandonada pelos tenistas. Os skatistas, sempre atentos a possíveis novos locais, foram colocando uma rampa de saltos aqui, um trilho ali e um quarter mais adiante, aumentando a quantidade de obstáculos de madeira que fizeram o local encher muito mais do que o banks construído ao lado. O mesmo caso aconteceu na “Duó”, onde um anfiteatro ao ar livre ao lado de um banks foi sendo invadido por intervenções de madeira e concreto executadas pelos próprios skatistas, tornando-o muito mais atraente do que a própria pista em si. Após duas longas batalhas, uma marca de tênis bancou as reformas dos banks e das áreas de street, que ganharam obstáculos de concreto e status de pistas de skate, duas das mais frequentadas da cidade. Ambos os casos ilustram até onde a modificações feitas pelos skatistas podem chegar, mas há casos mais atuais e muito mais interessantes acontecendo na cidade. No atual cenário do skate brasileiro, nenhum pico se compara ao ZNakeside, uma área de street cheia de transições construída pela própria galera ao lado do Snake do Maracanã. A coisa toda começou com transições feitas nas bases das pilastras da passarela que passa sobre a pista, e daí em diante foi tomando uma proporção gigantesca. Na sequência vieram caixotes, pole jams, um barril de chope servindo de base pra uma spine, muitas transições, transfers dos mais variados e o que mais a imaginação da galera possa criar. Sessões e churrascos feitos pela galera são bem comuns, que até já serviu de cenário pro lançamento do cd da banda Acid Drop. E eles não param: parte dessa galera botou a mão na massa numa área encontrada embaixo de uma ponte à beira de um canal, parindo uma pista sinistra e suicida que foi batizada de Manguetown... Aguarde mais novidades. A mensagem que fica é uma só: falar é tão fácil que qualquer criança de 2 anos consegue fazer, mas são poucos os que resolvem fazer alguma coisa. Se você não tem um local pra andar de skate, ou se tem um mas não está satisfeito, não vacile nem fique reclamando. Corra atrás, construa o seu pico e divirta-se como nunca!

APOIO CULTURAL

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CHCL

Mão na massa O CHCL É UMA DAS BANDAS DO INTERIOR DE SÃO PAULO QUE MAIS VÊM SE DESTACANDO, PRODUZINDO SEUS DISCOS, ARTES, SHOWS E TURNÊS, CARREGANDO CONSIGO O ESPÍRITO DO DIY (O FAMOSO “FAÇA VOCÊ MESMO”) EM SUA BAGAGEM. SE VOCÊ É FÃ DE BANDAS COMO HOT WATER MUSIC E DE TÍTULOS DO SELO NO IDEA, TRATE DE PROCURAR SUAS MÚSICAS APÓS LER A ENTREVISTA. POR HELINHO SUZUKI

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// áudio Ser banda de internet não vira - tem que tocar!

P

ara começar, conte um pouco sobre a história do CHCL. O CHCL começou como Chacal, em 2012. Era um trio, composto por Gustavo, o Diego Esteves e o Ricardo. Com essa formação lançamos dois EPs. Ao final de 2013 o Diego Xavier entrou com mais uma voz e guitarra e lançamos mais um EP e, em janeiro, o Eder Penha assumiu as baquetas. Então compomos e gravamos o primeiro full intitulado Espora. E o resto é isso que tá rolando, como se tivéssemos começado do zero, correndo atrás. O CHCL leva à risca os princípios do DIY. Montaram o Estúdio Wasabi, onde gravam os discos, estão à frente do Bigorna Discos, selo que lança os trampos, além do Gustavo fazer toda identidade visual da banda. A iniciativa disso tudo surgiu da própria banda, de não esperar e sim fazer acontecer? Na realidade o Estúdio Wasabi existe desde 2010; o Diego Xavier montou seu home studio que hoje se tornou um ponto bem estruturado, profissional. Montamos a Bigorna com o intuito de lançar, não só nossos discos, mas também bandas de amigos e pessoas que fazem alguma coisa para nossa cena local. Com o passar do tempo lançamos bandas que admiramos e confiamos. Quem cuida das artes em sua maioria é o Estúdio Miopia, que é do Gustavo e o Descalço, que é o Diego Esteves. O Eder cuida dos planejamentos, ajuda a gente a administrar. Todos já tivemos bandas anteriores; já sabíamos que pra coisa acontecer a gente tinha que se agilizar e ter atitude. Cada um soma com seu trabalho; sabemos que hoje em dia não basta só ensaiar e tocar... Temos que trabalhar mesmo, viver a banda. Uma coisa bem bacana que vale destacar são os lançamentos de K7 pelo Bigorna Discos. K7 é a nova onda, como foi o vinyl há um tempo atrás e muitas pessoas que colam hoje nos shows muitas vezes não tiveram o hábito de colecionar fitas demo, por exemplo. Como tem sido a aceitação e como vocês fazem para lançar essas fitas? Pois hoje é quase impossível encontrar o material aqui no Brasil. A aceitação tem sido muito boa, perfect! Fazemos tudo aqui no Wasabi, o QG da banda e do selo. Produzimos, gravamos, ouvimos, testamos todas nós mesmos. Em sua maioria, usamos fitas de reprocesso junto de alguns lotes virgens que tínhamos... E sai bem. A galera apoia. É uma forma de ter algo diferente da banda. Muita gente nem tem como ouvir a fita, mas compra pra ajudar. Como está a cena no Vale da Paraíba? Sempre vejo vocês contribuindo bastante para as coisas rolarem por aí... Tá melhorando. Como sempre a cena aqui sofre altos e baixos, mas tem muitos artistas surgindo, gente se movimentando, seja fazendo shows, som, artes visuais, rangos alternativos e etc. O fato de vocês morarem fora da capital atrapalha de algum modo? Sim, é muito difícil pra uma banda do interior entrar e se manter no circuito das grandes capitais. À distância, emprego e compromissos de uma maneira em geral nos impossibilitam de nos locomovermos do jeito que queríamos. Mas a gente dá um jeito. Planeja tudo antes, procura sempre organizar pequenas

turnês, vai se virando... Ser banda de internet não vira - tem que tocar! Falando um pouco sobre o âmbito político brasileiro, onde estamos novamente divididos entre “direita” e “esquerda”, qual a posição da banda quanto ao assunto e como vocês acham que a cena hardcore/punk está absorvendo tudo isso? Não vemos problemas em um marxista ter um iPod por exemplo; o que não aceitamos é um sistema tirar o direito assistido a isso em forma de Opressão de Classes, Manipulação, Segregação, Preconceitos, Fome, Religião... Isso não constrói, apenas divide. Nós fazemos música e buscamos uma forma de difundir isso horizontalmente com base no Faça Você Mesmo; justo com nossos pensamentos e ideais. Queremos assimilar e não acumular e sim, somos de esquerda e pensamos que bandas direitistas, ou melhor, indivíduos burgueses ou coxinhas de direita existem em todas as esferas sociais e culturais. Pessoas enlatadas que sempre vamos esbarrar por aí, mas temos que dar combate e ponto. Vocês pegaram o carro e caíram na estrada para divulgar o “Espora”. Quais os fatos interessantes que vocês podem contar dessa gira? A gente tem um zine sobre isso, contando tudo sobre o lançamento, show por show. Rolou acidente de carro em BH; nem tocamos, nos fodemos pra caralho. Rolou de dormir em casa de amigos, tocar no domingo e pegar nove horas de estrada pra trabalhar na segunda-feira às 08h00; bateria do carro acabar no meio do nada. Pra gente é sempre positivo. Foram shows memoráveis, noitadas, festas loucas. Podemos citar um fato interessante em especial, que foi quando tocamos quatro dias seguidos, e o último foi na segunda-feira em Sorocaba. Nos surpreendemos com o movimento; tinha muita gente, era uma das últimas noites da festa Carne de Segunda, casa lotada e a rua lotadaça! Boas pessoas, rolê verdadeiro! As letras do CHCL são bem pessoais. O que vocês costumam abordar e quais as inspirações para escrevê-las? Basicamente escrevemos tudo juntos, em especial sobre nosso cotidiano truculento e nossas opiniões sociais, sobre amigos, sobre família e sobre politicagem em geral. O Espora é mais um esporro! Muito recado pra amigo ali, mas tem muita gente que encontra outros sentidos pras letras, o que até nos surpreende. É meio isso... É pessoal, mas é pra livre interpretação e nós quatro nos identificamos muito com todas as letras. O que o CHCL está tramando para o futuro? Este ano temos dois splits gravados pra lançar, um clipe pra esse semestre e queremos outro pro segundo, um “dvdzinho” com todo material de vídeo que temos, nosso show no SESC em SJC (São José dos Campos) e o tão aguardado lançamento oficial do Espora pela Spider Merch e Bigorna Discos. O CD vai contar com quatro faixas bônus pra degustação, nova arte, com todo o carinho merecido. E como sempre, muito merch, muito pôster. A gente não tem medo de produzir não. Não duvidaria até o final do ano já estarmos começando a compor o próximo disco... (risos)*. https://chcl.bandcamp.com/

O Espora é mais um esporro! Muito recado pra amigo ali, mas tem muita gente que encontra outros sentidos pras letras, o que até nos surpreende. 2015/maio TRIBO SKATE | 81





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