Tribo Skate #236

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CESINHA CHAVES * LUIZ GORDO * OELEFANTE * JORGE NEGRETTI

ENTREVISTA AM

ANDERSON STEVIE É DURO NA QUEDA

ENTREVISTA PRO

RONI CARLOS EM MOVIMENTO

PABLO VAZ

FOTOGRAFIA EM ALTA DEFINIÇÃO

LIVROS

COMO PUBLICAR O SEU Diego Korn, monster varial Ano 24 • 2015 • # 236 • R$ 9,90

www.triboskate.com.br








Ă­ndice //

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TRIBO SKATE 236 JULHO 2015

ESPECIAIS> 28. MOTIVADORES

PABLO VAZ RETRATA EM ALTA DEFINIÇÃO

36. SANTA CRUZ DE LA SIERRA

PABLO XUXU EXPLORA O INCERTO

44. ENTREVISTA AM ANDERSON STEVIE É DURO NA QUEDA

52. ENTREVISTA PRO

RONI CARLOS, AÇÃO E MOVIMENTO

62. CESINHA CHAVES O SKATAGENÁRIO

70. LIVROS

COMO PUBLICAR O SEU

SEÇÕES>

EDITORIAL..................................................................... 12 ZAP ................................................................................. 16 EVENTO: ADIDAS COPA SKATE ................................. 64 CASA NOVA................................................................... 66 HOT STUFF .................................................................... 73 TECNOLOGIA ................................................................ 74 PLAYLIST: JORGE NEGRETTI .................................... 76 ÁUDIO: OELEFANTE .................................................... 78 SKATEBOARDING MILITANT ...................................... 77

CAPA: Este lado da ponte de Barueri é praticamente virgem para o skate. Quem mais adequado do que Diego Korn pra desvirginar o pico mandando pra cima? Monster varial. Foto: Junior Lemos ÍNDICE: Mailton dos Santos tem sua imagem ligada a grandes corrimãos. Esta divisão de rua amarela com a entradinha de cimento é uma das maiores armadilhas para os pés, ou todo o corpo. Como num grande obstáculo, tem que segurar o tranco na volta pra nada dar errado. Feeble to fakie. Foto: Raphael Kumbrevicius

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editorial //

BASE CONSISTENTE, OLHOS NO FUTURO (COMPARTILHOU?) POR CESAR GYRÃO // FOTO NILTON NEVES

A

ndou? Manobrou? Filmou? Fotografou? Compartilhou. Acordou, chegou, foi, saiu, encontrou, viu, sentou, pensou? Compartilhou. Em chuvas de compartilhamentos, alguns têm mais substância do que outros e são estes que se tornam referências. Nem sempre o conteúdo é o que importa, o que vale mesmo é que é “louco” ou “engraçado pra caralho”. Assim anda o mundo: as imagens andam falando mais que as palavras, embora muitos concordem que boas legendas amplificam as mensagens. A escola de fazer revista da Tribo Skate sempre procurou refletir o mundo real do skatista ou simpatizante, do empresário, do lojista, do promotor de eventos, do anunciante, do admirador, do fissurado, do sangue nos olhos. Mas que mundo real é este que se multiplica em pixels e se dilui instantaneamente depois que escorreu pelos canais digitais?

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Não há como lutar contra a corrente, pois se você não for um bom nadador, vai morrer afogado, mas o planeta está precisando cada vez mais de consistência. Encontra-se consistência, sim, nos personagens que criam, que refletem, que “pensam por nós”, muitas vezes traduzindo nossos sentimentos e necessidades. O encanto de ter momentos privilegiados congelados para marcar o tempo, sempre será a nossa meta. As imagens são complementares, por isso o que carrega mais significado será dividido para mais e mais pessoas. Saber as razões por trás dos fatos, nos faz crescer e criar o espírito crítico. Ter ideias, discutir, avançar. Um texto profundo não necessariamente é longo. O poder da concisão é um dos fundamentos do bom jornalismo, falar menos e dizer mais. Resumo da história, dê um “like” nas boas fotos e no bom conteúdo desta edição, copie o que está gostando e lance uma hashtag pra mensagem chegar mais longe: #triboskate, #skatenaveia, #skateessencia

Dois amigos de longa data estiveram recentemente na Índia para filmar um especial para a TV: Rodolfo Ramos e Nilton Neves. Enquanto esperamos a divulgação do programa, esquentamos a imagem dos caras com esta fotografia do editorial. Rodolfo na ação, Nilton com a câmera fotográfica. Um ollie de responsa, com uma base consistente e os olhos sempre direcionados para o futuro.



ANO 24 • JULHO DE 2015 • NÚMERO 236

Editores: Cesar Gyrão e Fabio “Bolota” Britto Araujo Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Redação: Junior Lemos Arte: Edilson Kato Publicidade: Diretor: Marcelo Barros (marcelo@waves.com.br) Executivos de Negócios: Clientes diretos: Cezar Toledo (cezartp@gmail.com) e Sergio Monaco (sergio@waves.com.br) Agências: Carlos Alberto Victorelli (alberto.fluir@waves.com.br) Colaboradores: Texto: Eduardo Ribeiro, Guto Jimenez, João Brinhosa, Pedro de Luna Fotos: Atilla Chopa, Beto Macedo, Carlos Taparelli, Daniel Souza, Denis Cisma, Diorandi Nagao, Fernando Gomes, Felipe Mathidios, Fellipe Francisco, Guilherme Sanches, Guto Jimenez, João Brinhosa, Leandro Moska, Leonardo Rocha, Leonardo Soares, Nilton Neves, Octavio Scholz, Pablo Vaz, Paulo Tavares, Pedro Macedo, Rafael Teixeira, Raphael Kumbrevicius, Renato Custódio, Rodrigo K-b-ça, Vinícius Branca, Wander Willian

Tribo Skate, edição 236, julho de 2015 é uma publicação da SNV Editora, feita sob encomenda por Third Wave Editora de Revistas Ltda. – ISSN 0104-155X. Administração e Jurídico: Rua Guararapes, 1.108, Brooklin, São Paulo/SP, Cep 04561-001. Telefone: (11) 5090 3220. Email: triboskate@triboskate.com.br Editor: cesargyrao@triboskate.com.br

Impressão: Duograf Bancas: Distribuída pela Dinap Ltda. – Distribuidora Nacional de Publicações, Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, nº 1678, CEP 06045-39, Osasco/SP

Tribo Skate * Cultura Sobre Rodas www.triboskate.com.br Email: triboskate@triboskate.com.br

As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista.

Erramos: Deu tilt em algumas páginas da edição 235: Página 19: a manobra do Rodrigo Leal é de switch: ss flip up. Páginas 56 e 57: a sequência de Bruno Aguero entra de nollie: nollie fs to ss nosegrind reverse. Página 70: o autor das fotos do Casa Nova da Mirelle Sampaio é Maurício Pokemon.



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Alex Carolino no vídeo! Profissional pela Cisco Skate desde 2014, Alex Carolino apresentou em exibições por São Paulo (90’s Skateshop), Santo André (Ratus Skateshop), Campinas (Skatenation) e Curitiba (IloveCwbeats e Cisco Plaza), sua primeira vídeo parte pela marca. Com imagens coletadas ao longo de um ano, o vídeo confirma que Alex vem apurando ainda mais sua técnica e precisão em cima do skate. Confira no youtube.com/CiscoSkate1. Além disso, o profissional também retorna com seus vídeos no Youtube, trazendo atualizações todas terças (No Rolê com Carolino) e quintas (Carolino Ensina). Lembrando que Alex foi um dos pioneiros nesta forma de divulgação de seu skate! Confira lá no youtube.com/MrAlexcarolino.

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FOTOS IGOR WIEMERS

[01] A Posso! Skateboards dá as boas-vindas ao skatista carioca Lorran Freitas. posso.com.br • Já na Drop Dead Shoes, a novidade é a entrada do profissional Neverton Casella no time da marca de tênis, e que também passa a vestir as roupas da Child Skateboards. Socado conta ainda com o patrocínio de shapes da EDG. dropfamily.com.br e edgskateboards.com • Já na Creature Skateboards a novidade é a entrada na equipe Brasil do amador bowlrider criado na pista do Marinha, Jonny Gasparoto. • E na Santa Cruz Skateboards, o sangue novo no time Brasil leva o nome de Hericles Fagundes. • Marque na agenda os próximos eventos! A 7ª edição do Matriz Skate Pro 2015, que acontece todo final de ano no IAPI em Porto Alegre e comemora o 14º aniversário da marca, tem data marcada: dia 5 de dezembro. • Já o Rheumatic Hard Core Session, tradicional ‘skate party’ que massacra a skatepark em torno da ancestral minirrampa de Piracicaba/SP, acontece no dia 10 de outubro. • [02] A Connexion Skateboards também coloca no mercado novos modelos de rodas, em colaboração com profissionais e suas respectivas marcas e projetos. Fábio Sleiman (Till the End, 52mm), Augusto Fumaça (Menem, 54mm), Danilo do Rosário (Amount, 50mm), Wolnei dos Santos (Alterna, 57mm), Jefferson Bill (Fun Family, 51,5mm) e Allan Mesquita (Devotion, 56mm). fb.com/connexionskateboards • [03] A Cizma Skateboards também lança nova série, de shapes, para 2015 intitulada ‘Culturas da Nossa Terra’. Instagram.com/CizmaSkateboards • [04] Finalmente foram anunciadas as datas de lançamento do mais novo filme de Ty Evans para a Mountain Dew, o We Are Blood. Com participação de Tiago Lemos e imagens captadas no Brasil, o longa metragem estreia dia 15 de agosto em Los Angeles, com exibições em diversas cidades ao redor do mundo. No Brasil a exibição do filme está prevista para acontecer no dia 10 de setembro, mas as demais informações ainda não foram divulgadas. Mais infos no site: WeAreBlood.com • [05] O carioca Sergio Santoro foi o representante brasileiro na final global do Element Make it Count 2015 ao vencer a disputa Brasil que rolou no Parque Pignatari, em Santo André/SP. A final rolou no dia 8 de agosto no skate park do Nyjah Houston, na Califórnia, e o brasileiro recebeu o prêmio destaque.



zap // MultiGrab

Galpão das Artes Urbanas, Rio // TEXTO E FOTOS GUTO JIMENEZ Uma exposição diferente que teve o skate como foco ocupou o Galpão das Artes Urbanas Hélio Pellegrino na Gávea, no Rio, durante as férias de julho. A sexta edição da MultiGrab tomou conta dos muros dos arredores com grafites e a área interna do espaço com obras que utilizaram decks de skate em sua composição, como sempre acontece nas mostras do coletivo. Dessa vez, shapes de street, old school e até cruisers foram alvos de artistas como

Andrea Paula.

Ang.

Andrea Paula, Ang, Bella, Camiz, Cash, Cazé, Fabio Tirado, Fame, Guga Liuzzi, Heitor Correa, Henrique Madeira, Memi, Muda, Pedro Jardim, Raphael Torres, Sini, Smael, Tainan Cabral, Tito na Rua, Wark e Wolmin. Na noite de inauguração, rolou uma bela sessão numa minirrampa montada pela MHS que foi devidamente usada e abusada por skatistas como Raphael Indio, Maurício Nava, Júlio Feio e Marcelo Marbal, entre muitos outros, além de degustação de cervejas artesanais, discotecagem do coletivo BiveSelecta & aquela coisa toda. Confira as imagens!

Bella.

Camiz.

Cash.

Muda.

Henrique Madeira.

Fabio Tirado.

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Heitor Correa.

Pedro Jardim.

Machintal.

Cazé.

Sini.

Fame.



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NOVOS PROJETOS // POR @FELLIPEFRANCISCO SKATISTA DE BELÉM DO PARÁ, FOTÓGRAFO REVELADO PELA TRIBO SKATE E RESPONSÁVEL PELA MARCA DARKROOM APPAREL SUPPLY, FELLIPE FRANCISO FIRMOU RESIDÊNCIA NOS EUA E ULTIMAMENTE TEM SE DEDICADO A NOVOS PROJETOS, ENTRE ELES CRIAR O FILHO E SEU BICHOS EM UMA FAZENDA NO INTERIOR DA CALIFÓRNIA.

1. Lindo dia na minha vizinhança. #leonavalley. 2. Continuamos indo, agora Floresta Nacional Yosemit, CA. 3. Agora passando pela densa tempestade em Nevada. 4. Acordando dentro da área de caça da floresta. 5. Agora na cidade de Ripon, CA. Pablo Daniel, mestre do desenho! 6. Ollie lover, Ripon, CA. 7. Leica sempre legal e quieta na estrada. 8. Vamos longe. 9. Trabalhando hoje no rancho Francisco Darkroom.

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LUIZ GORDO

O que vai pela cabeça de Luiz Gordo

// POR CESAR GYRÃO Você é advogado de formação, mas trabalha com desenvolvimento de marcas há muitos anos. Quando percebeu que tinha este talento de trabalhar com produtos e marketing? Na verdade a arte sempre veio primeiro na minha vida. Desenho desde pequeno. Comecei a fazer cursos de desenhos e a desenhar pra alguns amigos que tinham bandas de rock e andavam de skate, mas na hora de escolher a faculdade, optei pelo Direito por meu pai ser formado na área e também pelas opções que o curso dava. Depois, não teve jeito: trabalhei de chapeiro a corretor de imóveis, e o único lugar que consegui evoluir foi na área de produto e marketing. Acho que o talento de trabalhar com isso foi sempre ter a facilidade de criação. Lá nos anos 90, quando a Venom entrou no skate, procurou personagens verdadeiros do meio para criar uma cara. Ari Bason, Daniel Arnoni, Masterson Magrão e outros. Depois disso, se não me engano, foi a sua época, com entrada de outros nomes, como James Bambam, Marco Cruz, Cezar Gordo, Andre Genovesi. Você pegou mesmo essa transição? Como foi a experiência? Sim, profissionalmente entrei no mercado nessa época. Não conhecia nada de produto, só sabia mesmo criar e desenhar. Já tinha feito muitos desenhos para o mercado de skate e o Alemão me chamou porque já nos conhecíamos e frequentávamos os mesmos ambientes, do skate ao lowrider e ele precisava de um cara pra pôr em prática suas ideias. Fizemos uma dupla, na época, que qualquer marca queria. Atuávamos desde criar o produto até gerenciar a equipe de skate. Hoje as marcas precisam de um departamento inteiro pra fazer o produto ou o marketing, o que fazíamos em duas pessoas. Quando o Alemão saiu, a marca cresceu, vieram mais pessoas e mais responsabilidades. Essa foi a escola do que eu faço hoje. Você trampou na Plasma também nas fases iniciais, na Zona Leste de Sampa? Antes mesmo de ter produtos a marca já fazia teasers na revista causando uma expectativa. Você estava lá nessa época? Não, a minha entrada na Plasma foi depois de uma conversa com os caras. A marca já estava bombada e era a que mais vendia tênis de skate, mas não tinha muitos números na confecção. Então, me fizeram um convite pra tocar esta parte. Já tinha muita coisa legal, mas precisavam de sangue novo, novas ideias dentro da empresa. Tinha tudo pra ser uma das maiores marcas do skate nacional: os caras tinham skatepark, uma fábrica dos sonhos, estamparia interna, coisa que nem na gringa as marcas têm. Então a Plasma aconteceu como confecção e você ajudou a desenvolver a Trauma com o irmão do Salomão, o Samuel, até partir para outra? Isso mesmo: a Plasma começou a ter uma cara de marca

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RODRIGO K-B-ÇA

ALGUNS PROFISSIONAIS DO MERCADO DO SKATE TRANSITAM EM VÁRIAS MARCAS EMPRESTANDO SEUS CONHECIMENTOS PARA O DESENVOLVIMENTO E CONSTRUÇÃO DE SUAS IMAGENS. LUIZ GORDO É UM DESTES CARAS. CHEGA DE MANSINHO, ESTUDA O CASO, ANALISA O QUE “A RUA” FALA DE SEUS PRODUTOS E SEU CONCEITO E AJUDA A CRIAR SEUS DIFERENCIAIS. COMO FIXO OU FREELANCER, É UM PROFISSIONAL PARA SER CHAMADO PARA REPAGINAR O QUE PRECISA DE MUDANÇAS, PARA DAR UM NOVO RUMO, IMPRIMIR UM NOVO RITMO. DONO DAS MARCAS TROUBLE E CHOLO SUAVE, DESDE O ANO PASSADO ELE SE JUNTOU À EQUIPE DE PRODUTOS DA TRIBO SKATE PARA AJUDAR A DAR UM DIRECIONAMENTO. COM UMA SENSIBILIDADE ARTÍSTICA APURADA E MUITA NOÇÃO DO QUE CADA NEGÓCIO REPRESENTA, TRABALHA PARA QUE O PÚBLICO SAIBA QUE A MARCA QUE ESTÁ ABRAÇANDO É AUTÊNTICA EM SEUS PROPÓSITOS.

total, não só de tênis. A Trauma aconteceu da mesma forma: era uma marca de shape que acabou virando uma marca total. Na época saí da Plasma e da Trauma porque fui convidado para cuidar da Zoo York. Quando você criou a Trouble? Para fazer virar a sua marca você continuou prestanto serviços para outras fábricas? Criei a Trouble por ser um projeto diferente. Surgiu de uma conversa com outros amigos designers de ter algo diferente para o mercado. Hoje, você ter uma marca nova no Brasil é muito difícil. Fora a questão financeira, você tem que fazer o lojista acreditar no seu projeto, o que é duro, pois eles querem marcas que já vêm mastigadas e fáceis de se vender; não se importam muito com conceito, querem apenas dinheiro. São poucos que acreditam na sua ideia; então eu preciso continuar a fazer freela para outras


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todo o seu diferencial. Isso me interessou a desenvolver algo em parceria com a revista, que tem no seu espírito, além de um skate mais agressivo, mais dagger, aquele skate inicial californiano, hardcore. Tem a ver com o começo, o skate por diversão. Existem pessoas dentro dela que começaram o skate no Brasil: isso inspira e traz o skate for fun. O atual momento do mercado está permeado por medo de um lado e euforia de outro. O skate continua vendendo bem, apesar de que em alguns casos algumas marcas estão movimentando menos… Você acha que tá rolando um certo egoísmo de alguns players do momento? Acho que sempre existiram esses players. Sempre tivemos crises no Brasil; por isso o Brasil tem suas marcas próprias, diferentemente de outros países. A crise sempre existiu aqui, mas algumas vezes ela é bem maquiada. O problema, eu creio, são algum lojistas que não acreditam em um mercado nacional e ficam sempre pagando pau pro que é gringo. Precisamos de mais canais para o lojista enxergar isso. Seu apelido virou nome próprio, mas hoje você não é exatamente gordo. Como foi a decisão de andar mais de skate para ficar mais leve? Quantos quilos perdeu? Kkkk! Ainda sou Gordo, sim. Na verdade, uns amigos voltaram a andar de skate no Ibira, mais com o propósito de interação, fazer um network e com isso surgiram os Chante Boys. Eu já tinha começado uma dieta alimentar e o skate entrou como um exercício. Como não andava há mais de 15 anos, estava sem nada e, aí, o saudoso Bruno Brown me deu um de seus skates: um model oldschool do Steve Steadham com rodas Bones e os trucks Indy, todos comidos pelas bordas das piscinas que ele detonava. Talvez nunca fique com o peso ideal, mas você consegue melhorar sua qualidade de vida. Graças a tudo isso perdi uns 20 kg. O skate salva! luizgordo@yahoo.com

DENIS CISMA

RODRIGO K-B-ÇA

// Luiz Arnaldo Teixeira 41 anos, 30 de skate “não praticáveis” Formação: advogado São Paulo, SP Marcas próprias: Trouble e Cholo Suave

BETO MACEDO

BETO MACEDO

marcas. Isto também é legal, pois você pode expor suas ideias para diversos estilos que não caberiam na sua própria marca. A Cholo Suave tem mais a ver com o universo lowrider? A CS ainda é um projeto. Ela tem a ver com o universo lowrider, mas de uma forma muito mais além do carro. Ela se aprofunda na cultura chicana das ruas e no comportamento que existe nesse universo, como a tattoo, a presença das mulheres (o que é muito forte na cultura chicana) e talvez seja tão nichada que acontece somente online. Entre seus trampos mais marcantes estão o desenvolvimento de linhas de bonés e você já trabalhou com várias marcas tarimbadas. Quais foram as melhores experiências nesta área? Sim, trabalho hoje mais com o mercado de headwear. Existem marcas diferentes em todos os sentidos. Ao contrário do que alguns pensam, o headwear sempre me acompanhou em todas as marcas. Foi o acessório de vestuário mais importante dentro do streetwear e hoje no Brasil virou o produto principal, deixando de ser acessório. Ajudei a estruturar algumas das marcas mais importantes do mercado: a Starter e a Mitchel & Ness. Isso me trouxe um currículo muito importante para o mercado, mas antes disso já desenhava pra algumas marcas como a Flexfit, a maior empresa do mundo de bonés. Hoje faço trampos pra True Heart, Urban Zoo, MCD, algumas lojas como a Venil e a Kings, entre outras. Desde quando você tatua? O que esta arte pode servir para a criação de linhas de produtos? A tatuagem entrou há mais de 10 anos na minha vida como uma forma de arte, muito mais do que uma profissão. Hoje tatuo bastante e tenho alguma receita desse trabalho. Ela me influencia bastante em todos os sentidos. Sempre que possível, introduzo a tatuagem dentro do produto; seja algum desenho ou algum artista da área dentro das marcas que estou cuidando. Você é um apaixonado por carros e bikes estilosos. O universo lowrider é outra inspiração para seus trabalhos? Sim, pode-se dizer que é uma das minhas paixões. Esse universo sempre me inspira de alguma forma, pois carrega um DNA muito forte das ruas. Quando conversamos para você participar do desenvolvimento dos produtos Tribo Skate você logo falou que a marca já tinha uma cara. Que cara é esta? A Tribo, hoje dentro do skate, é bem ímpar. Sempre a vi com

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MARCOS CAMAZANO É BOM LEMBRAR QUE A PRIMEIRA APARIÇÃO DO MARCOS CAMAZANO NA TRIBO SKATE FOI NA MATÉRIA “O FUTURO É AGORA”, DE 1998. A PAUTA EM QUESTÃO ABORDAVA GAROTOS NA FAIXA DOS 11 A 13 ANOS E ALGUNS DELES SEGUIRAM NO SKATE ATÉ OS DIAS DE HOJE. MARQUINHOS CONSTRUIU UMA CARREIRA NO ESPORTE, TORNANDO-SE PROFISSIONAL, PARTICIPANDO DE CAMPEONATOS, TENDO ENTREVISTAS PUBLICADAS, VÍDEO PARTES, ORGANIZANDO EVENTOS, PARTICIPANDO DE DEMOS, TOURS E ESCOLINHAS. RECENTEMENTE ELE SE TORNOU PRESENÇA CONSTANTE EM NOSSAS PLATAFORMAS DE COMUNICAÇÃO EM FUNÇÃO DA VERDI CALI TOUR E OUTRAS AÇÕES QUE ESTÁ ENVOLVIDO, COMO O PROJETO QUINTAL SKATE. UM DOS MENTORES DO CIRCUITO UNIVERSITÁRIO, MARCOS SEGUE ATUANDO EM VÁRIAS FRENTES E LEVANDO SEU SKATE TÉCNICO E BONITO PARA MAIS LONGE.

// Marcos Camazano 30 anos, 19 de skate São Paulo/SP Patrô: Diet Skateboards, Verdi Skate Shop

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esquecer as suas caminhadas, suas tricks e suas histórias que influenciaram os skatistas e o mercado de uma certa época. Os novos skatistas também devem ser valorizados pois surgem com alto nível, bom físico, disposição e manobras complicadas. Mas, infelizmente, o mercado do skate nacional é difícil, então às vezes as marcas escolhem apenas a nova geração para patrocinar. A importância de lançar promodels

dos mais antigos é respeitar a história do skate nacional. Eles influenciaram gerações para andar de skate, e o skate chegou no nível de hoje graças aos que fizeram muito no passado. Se não fosse esses caras que você citou, o skate nacional não seria o que é hoje. Estes produtos fazem com que os novos praticantes saibam quem eles são e comecem a ter mais consideração pelo passado do skate nacional. OCTAVIO SCHOLZ

• Por que as marcas brasileiras só falam em valorizar o produto nacional e fazem produtos com qualidade baixa e preços que chegam a ter o valor de produtos importados com qualidade superior? (instagram.com/Jean_skt22) – As marcas que eu uso não são assim. Por exemplo, os shapes maples da Diet Skateboards são mais baratos que os de marcas gringas e têm a mesma qualidade. Se você procurar nas boas skateshops vai achar bons produtos nacionais, com bom preço e qualidade. • Por que nos campeonatos amadores de renome no Brasil os skatistas que não têm vínculo com a grande mídia andam muito e não passam pra final e já os que são famosos acertam uma trick na linha e passam pra final? Isso é muito feio pro skate! (instagram.com/johnegrazy) – Não sei falar porque acontece isso e não deveria acontecer, mas quando eu trabalho como juiz em campeonatos amadores eu dou a nota aos skatistas pelo seu rolê e não por ser famoso, ter vínculo com mídia ou ter algum patrocínio. • O que precisa ser feito pro skate ser realmente mais valorizado e incentivado dentro do nosso país? (instagram.com/ gustavobback) – O skate precisa ter mais estrutura como um todo: mais lugares para a prática, mais eventos, mais mídias especializadas, mais marcas investindo. Um mercado melhor, mais pessoas bem preparadas trabalhando no meio, são alguns dos pontos. • Infelizmente grandes marcas do skate brasileiro foram deixando seus atletas de longa caminhada para investir em atletas novos, que futuramente darão lucros para elas. Assim, automaticamente, os antigos acabam saindo do game. O que você acha sobre isso? E qual a importância de uma marca lançar ou relançar promodels de skatistas que já tem um bom tempo no skate? Exemplos: Fabio Cristiano, Marcos Mamá, Tarobinha, Alexandre Tizil, James Bambam. Abraço (instagram.com/marcelopiolho) – Eu acho que tem que valorizar os skatistas de longa data, pois não se pode



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MARCOS CAMAZANO

Respirando aquela brisa que percorre os ditchs californianos, bs noseblunt.

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OCTAVIO SCHOLZ

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• Você já é da marca Diet há muitos anos. Como é, nos dias de hoje, ter uma cumplicidade tão grande com o seu patrocinador? Quais as vantagens disso? (Vinícius Pereira Antunes) – Eu tenho a parceria com a Diet Skateboards desde que eu tinha 12 anos. É bem legal a relação, pois já nos conhecemos bem e longos relacionamentos geram confiança, harmonia, respeito e cumplicidade, como você citou. Além da Diet ser uma marca que eu admiro, as ideias, os conceitos e a visão dela são parecidas com as minhas. E as vantagens disso são que não rola stress, não rola desconfiança entre eu e a marca e sempre estamos desenvolvendo projetos juntos. • Gostaria de saber o papel das marcas de skate aqui presentes, tanto nacionais como internacionais, em relação ao incentivo no cenário local e aos skatistas. O que vem sendo feito é suficiente? (Felipe Signorelli) – Não, falta ainda mais incentivo das marcas nos cenários locais e aos skatistas. Algumas marcas apenas querem saber de vendas, não investem em nada, não apoiam skatistas e não fazem nada além de tentar vender. Cabe aos skatistas consumidores saber quais marcas investem no cenário local, têm equipe de skatistas e então serem clientes delas. • Você anda faz muito tempo, mas uma época estava meio sumido da mídia, por quê? Como você se manteve? (Felipe Thiago Tchmola) – Como skatista profissional, teve um período de 6 meses que fiquei sem andar, pois operei o cotovelo. Após isso eu trabalhei como gerente de posto de gasolina, estava cursando a faculdade e dei uma “desencanada”, pois estava nessa correria de estudo, trabalho e estava sem patrocínio. Eu sempre tive que fazer outras correrias, outros trabalhos fora do skate. Nunca consegui viver somente com a grana do skate. • O que acha sobre o povo que quer criar esses novos skates que flutuam? E qual foi a maior loucura que você já fez? (João Pedro) – Eu não tenho uma opinião formada, porque nunca vi um e nem experimentei, mas prefiro o skate normal mesmo, as rodas no chão, pegar impulso, dar ollie. Isso é o skate. Tá difícil de lembrar a maior loucura, mas minha viagem para a Califórnia em 2007, quando fiquei 6 meses por lá, foi uma loucura. No primeiro mês eu tinha onde ficar, depois tive que ir me agilizando, dormindo aqui e ali, no sofá, na garagem, andando com vários skatistas que admiro, tomando enquadros da polícia, fazendo festas, vivendo o sonho do skate. Foi bem style. • Qual seu envolvimento com o Quintal Skate e o que esse projeto significa para você? (Bruno de Freitas Silva) – Eu sou um dos fundadores e um dos coordenadores do Quintal Skate (@qquintal). Esse projeto significa muitas coisas para mim, mas, resumindo, é uma oportunidade de retribuir tudo o que o skate me deu e me ensinou passando para as crianças do projeto uma nova forma de educação através das aulas. • Como foi a tour da Verdi Skateshop pela Califa? Qual o pico que mais curtiu? Qual a importância de lojas terem essas iniciativas? (Bruno de Freitas Silva) – Foi demais. Ficamos uns 20 dias andando pela

costa californiana em vários ditchs, vários picos e pistas perfeitas. É difícil falar um pico, apenas. As sessões nos ditchs sempre são muito legais porque são no meio do nada; é muita vibe e divertido andar neles. Mas o pico que mais curti foi aquela pista DIY em Santa Cruz no meio do nada, de frente para o mar, secret spot, onde saiu minha foto do fs blunt aqui na Tribo. A importância destas iniciativas é a marca ter sua devida divulgação e gerar bom material para as mídias e para a própria marca, além de gerar conhecimento do mercado e do skate mundial para a skateshop e os participantes da tour. • Em seus muitos anos de caminhada, qual foi a maior lição transmitida pelo skate em sua vida? Muito normal vermos um apoio, um idolatrismo para atletas que disputam campeonatos mundiais de grande nome e os nossos grandes exemplos do skate nacional, aqueles que lutaram para fortalecer cada vez mais o skate no nosso país, acabam sendo desvalorizados. Por que isso acontece e quais os pontos negativos que isso pode causar? (Alexandre Lopes) – O skate traz várias lições boas para a vida, mas a maior é a perseverança. Os pontos negativos são a desvalorização dos skatistas que já fizerem muito pelo skate, que andam muito e muitas vezes param de andar e vão arrumar um trabalho qualquer para sobreviver e assim desperdiçam o talento que têm no esporte e abandonam o cenário e o mercado. • Qual a importância de um apoio familiar para aquele que quer se tornar um skatista? Até onde a família pode ajudar aquele que busca o skate como profissão? (Alexandre Lopes) – A importância é grande. Tudo o que fazemos nessa vida é bom ter o apoio familiar, mas também não pode depender desse apoio para se motivar a ser um skatista profissional. A família pode ajudar incentivando, motivando o skatista a levar o skate como profissão, porém se não tiver este apoio, não desista. E se não chegar a ser skatista profissional, ande por diversão mesmo. • Muitos dos skatistas profissionais saíram de lugares pobres e carentes, superando dificuldades antes de chegarem onde estão. Por que o skate tem esse poder de fazer pessoas desacreditadas se tornarem símbolos, ídolos e exemplos a serem seguidos? (Alexandre Lopes) – Em momentos difíceis o ser humano se supera. A dificuldade e a competição trazem a evolução, então acredito que essa seja a resposta. O skate é um esporte individual, onde você não depende de ninguém mais além do carrinho e do local para manobrar, então é uma forma de terapia, de superação de si mesmo, fuga dos problemas. Essa é a motivação e o poder que o skate tem, e pode, assim, levar essas pessoas a serem grandes símbolos.

Próximo enfocado: ALEX CAROLINO Envie perguntas em nossas redes sociais (Instagram, Twitter e Facebook) com a referência #LinhaVermelhaTS. E se preferir, no site há um formulário para também enviar perguntas. Participe! julho/2015

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Autorretrato. Nikon D800 | 1/40s | f/4,5 | Iso 50

PABLO VAZ

FOTOGRAFIA EM ALTA DEFINIÇÃO MULTIPLICADOR. SÃO RARAS AS PESSOAS QUE DIVIDEM SEUS CONHECIMENTOS COMO O FOTÓGRAFO PARANAENSE PABLO VAZ, JORNALISTA E SKATISTA QUE APRIMOROU A ARTE DE PRODUZIR BOAS IMAGENS COMO FOCO DE SUA PROFISSÃO. SUA VOCAÇÃO PARA ESTE TIPO DE ATIVIDADE MOSTROU-SE MUITO CEDO E HOJE, 12 ANOS DEPOIS, PABLO LANÇA NESTE INÍCIO DE AGOSTO UM NOVO E COMPLETO WEBSITE PARA COMPARTILHAR SUA EXPERIÊNCIA, COM UMA GALERIA REFINADA DE TRABALHOS E INFORMAÇÕES COMPLETAS SOBRE ELE E SUA PRODUÇÃO PELO MUNDO. PARA INICIANTES E INICIADOS NA FOTOGRAFIA, CHECAR OS DADOS TÉCNICOS DE CADA UMA DE SUAS FOTOS JÁ ERA UMA CARACTERÍSTICA MARCANTE DE SEU TURBINADO BLOG. EM SUAS PALAVRAS, O WEBSITE É UMA EXTENSÃO DESTE SEU CANAL, TRANSFORMADO AGORA “EM UM PORTAL DE DIVULGAÇÃO DOS MEUS TRABALHOS, BEM COMO UM LOCAL PARA TRANSMITIR UM POUCO DO MEU CONHECIMENTO PARA NOVOS E - POR QUÊ NÃO? - VELHOS FOTÓGRAFOS.” POR CESAR GYRÃO // FOTOS PABLO VAZ

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esde os tempos do site da Maha, que você fazia praticamente sozinho, a fotografia já parecia ser seu foco. Foi este mesmo seu início? A fotografia surgiu pra mim quando havia acabado de fazer 17 anos e precisava dar literalmente um rumo na minha vida. Eu já andava de skate alguns anos e gostava de fotografia, apesar de nunca ter tocado em uma câmera. Em março de 2003, enquanto andava de skate em uma pista próxima de casa, parei pra descansar e comecei a observar tudo aquilo e decidi que iria trabalhar com fotografia de skate. Pedi uma webcam emprestada (era algo no formato de uma

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Gopro, mas sem visor ou nenhum recurso) e comecei a fotografar ali mesmo. Em junho daquele mesmo ano, após apresentar um “portfolio” com algumas fotos, entrei para a Maha, a qual foi minha primeira escola e meu primeiro contato com o universo do skate, mercadologicamente falando. Ao contrário de muitos fotógrafos da era digital, você começou com fotografia analógica e resolveu fazer a faculdade de jornalismo para desenvolver mais habilidades. O que esta escola lhe rendeu de melhor? O fato de fazer jornalismo veio exatamente da necessidade de ter algum conhecimento para suprir o trabalho na Maha, já

que estava cuidando da parte de notícias do site e, também, da parte fotográfica. Iniciar uma atividade sem ter experiência alguma é algo penoso, e toda informação é bem-vinda. A faculdade de jornalismo foi bem útil para ampliar meus horizontes acadêmicos, a perceber o quanto de responsabilidade o “mundo da mídia” lhe exige. Eu já iniciei na era digital, minhas experiências com a fotografia analógica se deram na faculdade e enquanto eu possuía uma Hasselblad, a qual foi roubada em 2009 em Porto Alegre, durante uma tour com a Cisco Skate. Desde o início você sempre usou Nikon, mas lembro que também passou pela Mavica, da Sony, que você lembrou


pablo vaz

Gabriel Medina para Mitsubishi. Nikon D800 | 1/1000s | f/4,0 | Iso 200

A própria sombra. Nikon D3s | 1/800s | f/6,3 | Iso 100 Lucas Stegmann, wakeskate, Rota Explosiva. Nikon D800 | 1/1000s | f/11 | Iso 250

// motivadores

dia destes no seu blog. Por que você escolheu esta marca? Naquele momento em que decidi que seria fotógrafo, deixei de lado tudo o que podia me distrair de atingir tal objetivo e como consequência, comecei a vender tudo o que tinha de supérfluo em casa para juntar dinheiro para comprar equipamento, mesmo nem sabendo o que eu precisaria. Hoje vejo muita gente já com um equipamento de qualidade na mão e ávido para fotografar e “ganhar dinheiro”, mas poucos sabem o quão árduo é o caminho. Naquele tempo, as Mavicas eram praticamente o auge da fotografia digital, eu sonhava em ter uma câmera daquela, com seus monitores gigantes e os disquetes. Após a webcam emprestada, consegui comprar uma saboneteira da Kodak, simplesmente horrível. Após isso a Mavica Fd97 que fiquei alguns meses e vendi para o Marcos Bollmann (Exatos 10 anos depois ele me devolveu a câmera como presente e hoje eu a tenho em espaço de destaque em casa.). Após a Mavica, usei dois modelos diferentes de Fujifilm e, depois disso, consegui comprar minha primeira DSRL, uma Nikon D70. A escolha pela Nikon foi por acaso do momento, mas, desde lá, tem sido meu sistema até hoje. Quais foram suas primeiras fotos publicadas? Foram em sites ou revistas especializadas? Quando comecei a fotografar, montei um site para cobrir os campeonatos de skate de Curitiba e região e, também, divulgar minhas fotos. Foi onde comecei a publicar minhas imagens e, logo após, já entrei na Maha e também colaborava com o site da Qix. Minha primeira foto impressa foi do Danilo do Rosário em um anúncio da própria Maha aqui na revista Tribo Skate. Você diversificou sua área de atuação na fotografia para publicidade, automobilismo, aventura, entre outros. Como foi este processo? O que aprendeu no skate ajudou? Da mesma forma que a fotografia surgiu na minha vida como uma curiosidade, a diversificação se deu da mesma maneira. Sempre que aceito um trabalho diferente, o encaro como uma escola, como uma forma de aprender algo novo e de usar todo Leticia Bufoni, Shenzhen, China. Fujifilm X10 | 1/850s | f/5,0 | Iso 100

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meu conhecimento já adquirido até então. Eu costumo pensar que eu levo a fotografia de skate para as outras áreas. Isso porque minha escola foi o skate, seja na forma de iluminar a cena, de ter um olhar mais aproximado, na forma de me relacionar com as pessoas, até mesmo na agilidade necessária que a rua cobra para produzir uma boa imagem. Ano passado produzi uma foto de lançamento de um carro da Mitsubishi em apenas 30 minutos, em uma situação totalmente adversa, com luz caindo, dirigindo modelos e clicando com controle remoto enquanto movia os flashes dentro da cena. Isso eu devo à fotografia de skate, pois nós praticamente montamos verdadeiros estúdios fotográficos em plena metrópole. Inclusive, fui convidado a fotografar para um livro da Stock Car justamente pelas características das minhas fotos com skate. Em contrapartida, também trago novos conhecimentos de outras áreas, para minha fotografia de skate, como novas formas de tratamento, um maior cuidado em relação à qualidade das imagens. Hoje eu realmente penso antes de fazer uma foto. Desde quando você começou a promover oficinas de fotografia? Qual é a frequência? Eu nunca fui em uma aula de fotografia, salvo as aulas na faculdade. Então, meu conhecimento se deu e se dá quase que exclusivamente pela internet, nas tentativas e erros e em bate papos com amigos fotógrafos. Às vezes, um fotógrafo ou outro não entregam seus conhecimentos e já me disseram não. Então, quando me veem perguntar alguma coisa, procuro ser o mais solícito possível para ajudar e isso acabou me abrindo bastante espaço nessas outras áreas, principalmente no automobilismo. Eu não tenho problema algum em falar como produzi qualquer uma de minhas fotos e quase sempre que publico uma nova foto, eu divulgo todos os dados técnicos dela e, quando possível, imagens de making of. Consequentemente, diversas vezes fui abordado para dar algum tipo de curso de fotografia de skate e essa ideia foi crescendo. Ano passado eu fiz um workshop em Curitiba em parceria com uma escola de fotografia da cidade. O resultado foi muito além do que eu imaginava, com as vagas esgotadas e alunos de todo o país. Foi uma experiência incrível e quero repetí-la o mais breve possível e estamos trabalhando para que isso aconteça. Um dos projetos mais barulhentos que você trabalhou foi o Na Rota Explovisa, com o Deco e o Lucas da MTV. Como foi este convite e quais as melhores lembranças das tours? A melhor lembrança foi ter um nariz quebrado e não me lembrar como. Conheci o Deco e o Lucas em Los Angeles em 2011 quando eles foram fazer uma matéria para a MTV com o Gerdal. Após isso, mantivemos contato e eles me convidaram para ir com eles na primeira viagem de ônibus até Ciudad del Este, em 2012. Depois em 2013 fiquei cerca de 25 dias na casa da MTV no Guarujá e, no ano passado, na Rota Explosiva (também uma viagem de ônibus).

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Cezar Gordo, nollie heelflip, Shenzen, China. Nikon D800 | 1/400s | f/9,0 | Iso 160


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// motivadores

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Carlos Ribeiro, fs crooked, Rio de Janeiro. Nikon D800 | 1/640s | f/8,0 | Iso 200 Leticia gravando para o Projeto PUSH, fs grind, Los Angeles, CA. Nikon D800 | 1/500s | f/4,0 | Iso 250

O que mais me atraiu a fazer essas viagens foi a possibilidade de fazer imagens as quais eu jamais poderia produzir em outras situações. A quantidade de fotos politicamente incorretas e improváveis que eu tenho dessas viagens, daria para produzir um belo livro, que jamais seria publicado. Criamos uma família que, mesmo longe e após anos, possuímos uma união muito forte. Go Out Make Some Memories! Nos anos 80, na época das revistas Overall, Yeah e Skatin’, alguns fotógrafos tinham apoio de marcas. Atualmente isso não é muito comum, mas você tem uma série de parcerias com marcas, sendo algumas há bastante tempo. Conta pra nós como funciona esta parte de

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seu trampo? Muito antes de eu pensar em ser fotógrafo, instintivamente o que mais me atraía nas revistas de skate eram as fotos e, os equipamentos fotográficos quando acabavam vazando nas imagens. E sempre pensei nisso, da mesma maneira que eu tinha um “foco” nos fotógrafos naquela época, hoje estou daquele outro lado e sei que tem gente que presta atenção no que faço e como faço. E essa ideia eu transporto na maneira de trabalhar, inclusive com as marcas parceiras. Em 2008, a convite do skatista Ricardo Pinguim, comecei a usar as mochilas da Ogio e as uso até hoje. De lá pra cá tive e tenho alguns bons parceiros e, cada um, com direitos e deveres. Criamos

certos “packs” de trabalho nos quais todos ganhamos de alguma maneira e inclusive conto com todo o suporte do escritório de marketing SectorOne Brand&Business para alinhar todos meus projetos à frente e por trás das câmeras. Hoje, além de algumas marcas “extra oficiais” as quais posso contar, mantenho uma grande parceria com a HB - Hot Buttered que já vem amadurecendo há alguns anos e, também, da G-Shock Brasil e Kronik Concept. Necessariamente, as melhores fotos de skate são produzidas com praticamente um equipamento de estúdio para iluminar a cena, com vários flashes, com rebatedores, acionamento por ondas de rádio, as melhores lentes?


pablo vaz

// motivadores

Filipe Ortiz, shovit heel, Curitiba, PR. Nikon D800 | 1/1000s | f/5,0 | Iso 100

Absolutamente, não! É claro que o mercado exige uma qualidade mínima na fotografia, mas câmeras e acessórios são apenas ferramentas. O que mais me questionam é qual a melhor câmera e lente para fotografar skate, quando a pergunta correta seria onde e como seria a melhor maneira de se aprender a fotografar skate. Eu invisto bastante em iluminação, pois é algo que gosto de trabalhar em minhas fotos. Já há fotógrafos que se destacam por fotografar apenas com luz natural. O que mais importa é o olhar, a experiência e o comprometimento de cada um, é o que verdadeiramente define o bom do mau fotógrafo, e não o valor e a marca do seu equipamento. Como diria Cartier-Bresson: “ Fotografar é colocar

na mesma linha de mira, cabeça, olho e coração”, citação essa que tenho tatuada no meu braço. Em nossa última edição enfocamos o Thyago Ribeiro aqui nos Motivadores. Coincidentemente, você esteve com ele captando imagens para o projeto PUSH, do The Berrics, com a Leticia Bufoni. Como foi participar desta parada? No início do ano fui para Los Angeles para ficar apenas 20 dias, já que minha namorada estava por lá estudando, mas no final acabei ficando por alguns meses. A convite da Nike, saí para fotografar a Leticia Bufoni e, em uma das sessões, estava o pessoal do The Berrics filmando o making of e acabei conhecendo-os por

ali. Eu acabara de publicar duas fotos do Luan Oliveira em uma mesma edição da TheSkateboardMag e estava em contato com eles. Com essa aproximação e com a ida da Leticia e do Luan para a China, justamente para filmar para o projeto PUSH, fui convidado pela revista para viajar com eles e para o Oriente. Essa experiência profissional tem sido muito produtiva, desde conhecer pessoas que eu sempre fui fã, até mesmo a entender um pouco mais em como funciona o mercado por lá. Você falou que ainda não tinha decidido fazer um site porque gostaria de fazer bem feito. O que o fez mudar de ideia e ampliar o seu ambiente na web? Quando toda essa onda de redes sociais julho/2015

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se iniciou. Pudemos perceber que os sites acabaram perdendo um pouco do seu valor, e todo conteúdo começou a ser produzido para e, nas redes sociais. O lado bom é que criamos uma verdadeira janela para expor nossos trabalhos, o lado ruim é que com tantas opções, todo e qualquer conteúdo acaba se diluindo muito rápido. Por muitas vezes pensei, mas sempre posterguei a ideia de criar um site próprio por ter muitas dúvidas, apesar de manter um blog há um bom tempo como uma forma de divulgar meus trabalhos e parceiros. Porém eu senti a necessidade de unificar todo esse conteúdo. De, além de ter todas as redes, também criar uma vitrine para todo meu conteúdo, de uma forma que agregue valor ao meu trabalho e ao meu nome, mas que mantenha de maneira ágil uma atualização constante e em harmonia com o Blog, Facebook, Instagram, Twitter, etc. O site vai ser também um canal para você atrair clientes para uma loja virtual, com produtos como fotos ampliadas que serão enviadas para suas casas. Como funcionará esta parte? O meu maior objetivo tem sido de levar o meu trabalho e, o skate, o mais longe possível. E essa loja virtual será mais um novo canal. O meu maior medo foi de poder atender quem quisesse alguma impressão com a maior agilidade possível, mesmo que eu esteja do outro lado do mundo. E, agora, consegui achar um sistema que eu posso automatizar todo esse processo com uma empresa de Curitiba que tem envolvimento com o skate. Ou seja, não importa em que lugar do país ou do mundo eu esteja, a pessoa interessada receberá um serviço profissional e uma impressão limitada e numerada. Também tenho pensado em uma série de imagens exclusivas que serão vendidas e parte da renda irá ajudar a projetos sociais. Com a difusão total do vídeo, alguns fotógrafos estão atuando também com filmagens e edição. Você também pretende explorar este lado? Curiosamente isso nunca me passou pela cabeça. O meu trabalho, o que me atrai, é a fotografia em si. Apesar que “estudar” vídeo acaba ajudando muito na hora de fotografar. Hoje podemos ver uma safra muito boa de videomakers no Brasil, como também de fotógrafos e, apesar desses trabalhos serem muito semelhantes, acredito que cada um tem seu espaço e não me atrevo a explorar esse outro lado.

Luan Oliveira, Brasilia. Nikon D3s | 1/320s | f/3,5 | Iso 1000

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// motivadores

Luan de Oliveira, nollie heel to fakie, Shenzen, China. Nikon D800 | 1/640s | f/8,0 | Iso 160

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viagem // bolívia

PABLO XUXU

EXPLORA O INCERTO CONHECER LUGARES NOVOS ATRAVÉS DO SKATE SEMPRE É MOTIVADOR. QUANDO PABLO ME PROPÔS FAZER UMA VIAGEM POR ALGUM LUGAR DA AMÉRICA DO SUL, JÁ LOGO DISSE, “VAMOS PARA ONDE NINGUÉM VAI, QUE SEJA ALGO INÉDITO”. ESSE FOI O PRINCIPAL INTUITO DESSA TRIP COM DESTINO A SANTA CRUZ DE LA SIERRA, NA BOLÍVIA. // TEXTO E FOTOS JOÃO BRINHOSA

C

om a ajuda do Google pudemos ver se seria ou não um tiro tão no escuro. Ficamos sabendo que a cidade é rodeada por anéis de canais de escoamento de água e esgoto, sendo alguns deles skatáveis. Porém vimos que não existia nenhum registro de pista de skate na cidade, apenas uma praça com chão liso, rodeada por uma arquibancada com bordas pra todos os gostos, onde seria nosso ponto de encontro com os skatistas

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locais, o Parque Urbano. Mesmo assim, decidimos arriscar e ver o que conseguiríamos tirar de proveito daquela cidade inexplorada até então pelas mídias. Ao chegar na Bolívia, pudemos notar uma cultura totalmente diferente da nossa, apesar de sermos vizinhos. Um país com enorme contraste social e muito para desenvolver estruturalmente. Estávamos ansiosos pelo que tínhamos pela frente: 15 dias para explorar e conhecer spots novos, sem saber se realmente eles


Vindo de baixo do meio fio, nollie shovit noseslide, no Palรกcio da Justiรงa.

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Bairro Los Pozos.

Bs flip nos rochosos canais Del 4 Anillo.

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bolívia

existiriam (hehehe). Por sorte, tinha encontrado no Facebook o skatista pro Juan Pablo, que atualmente mora no Peru, mas ele nos passou alguns contatos de skatistas locais que podiam nos ajudar. Assim que chegamos, fomos ao famoso Parque Urbano para nos enturmar com a galera e descobrir o que a área tinha a nos proporcionar. Conhecemos o skatista brasileiro Thiago Totti que mora lá, e dois bolivianos que nos ajudaram muito: Miguel Colque “Golum” e Juan Ramos. Ficamos mais tranquilos depois de

// viagem

sermos muito bem recebidos por eles e termos melhor ideia dos picos de Santa Cruz de La Sierra. Agora podemos descansar, pois Xuxu é daqueles que gostam de render bem cedo. Primeiro dia de missão, um domingo bem cedo, pelas 9 da manhã fomos para o clássico Palácio da Justiça, que por sorte era perto do nosso hotel, com bastante bordas de diversas alturas para manuals. Antes mesmo do almoço, já estávamos com as três fotos do dia prontas.

Hardflip no Parque Urbano, um dos spots mais clássicos da cidade.

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viagem // bolívia

Já que falamos de almoço, aí vem uma das coisas mais marcantes da viagem: a culinária local se baseia em arroz, batata fritas e frango. Praticamente todos os lugares só tinha isso como opção. Por sabermos que a manipulação dos alimentos não tem os mesmos cuidados básicos de higiene que temos no Brasil, tínhamos que procurar bem os lugares onde comer e acabamos quase todos os dias almoçando ou jantando no mesmo restaurante, pois era mais limpo e seguro. Por sorte, era ao lado do Palácio da Justiça. Tentamos fazer um roteiro completo de lugares para andar para todos os dias. Num deles, esperamos o dia todo no hotel para poder andar numa rampa onde só se conseguiria andar à noite. Acabou que naquela noite não rolou de andar no pico planejado e fomos no improviso ao principal ponto turístico da cidade a “Plaza 24 de Septiembre”. Lá fizemos a foto que mais gostamos de toda viagem. O skate tem muito disso: quando as coisas saem no improviso podem sair melhor que o planejado. A foto

360 kickflip. Fomos três vezes nesse pico para conseguir andar.

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bolívia

// viagem

Bs noseblunt com a catedral da Plaza 24 de Septiembre ao fundo, principal ponto turístico da cidade. Fs ollie no sambódromo de Santa Cruz de La Sierra.

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viagem // bolívia tem seu valor a mais, pois nem os skatistas locais tinham conseguido fazer imagens nessa praça. Era um lugar que sempre tem seguranças que não permitem que se ande nas bordas e as pessoas também não são muito acostumadas com o skate, então nem sempre era fácil andar, porque elas simplesmente sentavam nos obstáculos e não saíam. Tínhamos grande expectativa em conhecer os canais, mas era tudo muito longe. No entanto, andar de táxi era muito barato e resolvemos nosso problema de transporte. A gasolina custa pouco mais que um real o litro e o táxi passou a ser nosso melhor amigo (hehehe). A gente gastava 4 reais por trajeto, e olhe lá. Num dos canais corria um pouco de esgoto, então tivemos que improvisar. Além de limpar um pouco, fizemos uma mini represa pra conseguir andar. Descobrimos também um banco para pular, coisa rara por lá, acredite, pois nenhum skatista local conhecia o lugar que Pablo pulou de frontside ollie. // QUEM É PABLO XUXU Pra quem não conhece, Pablo Xuxu é gaúcho da cidade de Pelotas, mas atualmente mora em Porto Alegre. Hoje, além de atleta é team manager da empresa que o patrocina, a Hanff. Skatista da velha escola, cria dos anos 90, geração que está acostumada a situações casca grossas. É overall, preparado para qualquer terreno e é daqueles raros, de muito pop. Esteve afastado das mídias do skate por baixos da vida. Prestes a se tornar profissional, bancou do próprio bolso o projeto desta trip, com o intuito de colher material inédito para a revista e mostrar que tem muito skate no pé.

// PABLO RIBEIRO DA SILVA 30 anos, 19 de skate Pelotas, RS Patrôs: Hanff, Dorgo Skate, Boom Pró Arte RS

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Bs nollie flip em algum canal de esgoto e água.


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ANDERSON STEVIE

DURO NA QUEDA COSTUMA-SE DIZER QUE QUANTO MAIS ALTO SE TENTA IR, MAIOR SERÁ A QUEDA, MAS PARA O SKATISTA, O DITADO GANHA OUTRO SENTIDO PORQUE NÓS TEMOS A CHANCE DE APRENDER COM O TOMBO. A AÇÃO NATURAL DE CAIR E SE LEVANTAR ACONTECE LOGO NAS PRIMEIRAS MANOBRAS E NOS ACOMPANHA A VIDA TODA, ESTÁ CONOSCO A TODO MOMENTO! E ESSA INSISTÊNCIA EM VOLTAR PERFEITAMENTE A MANOBRA, EM DEIXAR AQUELA ASSINATURA FEITA COM O SKATE NO MOBILIÁRIO PÚBLICO OU NA PISTA, NOS ENSINA TAMBÉM A ENXERGAR APRENDIZADO NOS ERROS QUE COMETEMOS NA VIDA. ANDERSON “STEVIE” DE OLIVEIRA, NATURAL DE SÃO GONÇALO E QUE TEM O APELIDO INSPIRADO NO MESTRE DE RUA NORTEAMERICANO DE SOBRENOME WILLIAMS, É UM CARA DURO NA QUEDA E CONTA EM SUA PRIMEIRA ENTREVISTA, COMO OS TOMBOS DO SKATE ESTÃO LHE LEVANDO CADA VEZ MAIS ALTO, COMPARTILHANDO COM A GENTE SUA PRIMEIRA VIAGEM INTERNACIONAL. POR JUNIOR LEMOS // FOTOS CARLOS TAPARELLI

Smith.

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anderson stevie

// entrevista am

No apetite do primeiro dia, Stevie nem saiu direito do hotel e jĂĄ escalou o banco de fs nosegrind. O tiozinho da banca que fica ao lado chamou os cops, mas nĂŁo deu nem tempo de averiguarem o que aconteceu! julho/2015

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entrevista am // anderson stevie

V

ocê tem uma história de vida muito próxima de milhares de brasileiros que vivem em regiões tidas como de vulnerabilidade, que não contam com a presença básica do Estado. De que forma conseguiu driblar este contexto social no qual você se criou? Desde pequeno eu convivi no meio do crime, no meio do tráfico. É minha realidade; eu tinha parentes ali no meio, envolvidos. Era inevitável ter contato com isso! E, na real, eu não consegui driblar, eu meio que me tornei vítima. Fui obrigado a conhecer, passar por situações, quase perder a vida, para aí, então, abrir os olhos. Quando foi esse momento? Foi quando estava preso e um amigo meu abriu uma loja e disse que quando eu saísse da cadeia, ele iria me fazer viver do skate. Se não fosse aquilo ali, talvez acho que nunca teria saído do crime, tá ligado? E quando o skate entrou na história? Na real o skate esteve comigo durante bastante tempo, mas eu não conseguia enxergar o verdadeiro lifestyle! Foi um presente do Dia das Crianças, em 12 de outubro de 2004. Mas só fui entender mesmo o que era skate quando viajei pela primeira vez, que foi há um ano atrás, quando fui pra São Paulo. Daí que comecei a viver o skate mesmo! Antes, o skate estava ali: eu brincava, me divertia e algumas pessoas até falavam que eu tinha talento; sempre mandei o laserflip facinho, e tal! Mas eu mesmo não atentava que tinha talento pro skate, pra me dedicar a ele. Nunca. Só depois dessa oportunidade que me foi dada, que eu aproveitei. E nesse um ano de maior dedicação, qual foi momento marcante, relacionado a esse novo envolvimento? O fato de nunca me dar bem nos campeonatos era uma coisa que me fazia achar que não tinha dom, isso me marcou. O momento foi ter enxergado novos horizontes dentro do skate e ver que poderia me dar bem de outras formas, tá ligado? E na minha segunda viagem pro Sul, em um campeonato, foi quando eu entendi que eu não precisava ganhar uma competição pra viver do skate. Nos conte esse momento melhor! Foi em um campeonato em Joinville. Durante o aquecimento, estava andando muito bem, mandando várias; estava da hora, mas quando chegou o ‘valendo’ eu errei todas as manobras! Assim que acabou, saí direto pro banheiro, triste e com vontade de chorar. Quando fui pra arquibancada, veio um monte de gente falar comigo dizendo que eu tinha dado um rolezão, todos me parabenizando. Apareceram muitas pessas me dando os parabéns, mas eu tinha errado tudo; só aí que fui entendendo! Uma dessas pessoas foi o Marlon Teba, que me convidou pra ir em outro evento em Floripa. Aquilo ali ficou na minha mente, eu peguei e fiz o corre. Quando cheguei lá, conheci todo mundo, foi muito da hora! E o engraçado é que tinha que voltar pro Rio depois desse campeonato, e foi justamente na segunda-feira que o (João) Brinhosa saiu pra fazer uma foto com o (Adriano) Lachowski e o Luiz Neto, e eu consegui entrar na sessão e rendeu o fs ollie fakie nosegrind, que foi Casa Nova. Então foi uma parada bem sobrenatural mesmo! Eu coloco sempre que foi Deus na minha vida, total. Você tem uma história de vida muito respeitável e aprendeu muita coisa com o skate também. Apesar de toda essa experiência, você já descobriu qual a sua função? Depois de tudo que eu passei, de tudo que eu vivi, e nas coisas pelas quais eu acredito, creio que a minha função na Terra não é só andar de skate, não é ser o melhor skatista do mundo, não é ser melhor do que ninguém. É tipo passar a mensagem de que tem um horizonte, sempre há uma esperança. Muitas vezes que eu penso em recair, ou tipo quando dá vontade de fazer alguma coisa que não seja certa, eu olho pra trás e lembro de que eu sou um exemplo. Eu, mais do que ninguém, não posso deixar a peteca cair! Então essa é minha função na terra, é continuar sendo exemplo e deixar Deus usar a minha vida pra alcançar a de outras pessoas. Um exemplo são os meus amigos que ainda estão no tráfico; eu passo lá e vejo os olhos deles brilharem, porque estão vendo que eu estou vivendo uma coisa nova. Isso é da hora! A gente vê que o Rio vem dando uma boa atenção pro skate nos últimos tempos. Como é o skate na sua área? Ultimamente o Rio de Janeiro em si está perfeito pra manobrar. Muitas pistas, bastante picos, mas onde eu moro, do outro lado da

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A volta desse halfcab heelflip foi com o shape quebrado, porque na primeira tentativa Stevie praticamente destruiu a madeira de tanta vontade de acertar a trick.


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Stevie teve bastante dificuldade em voltar este fakie flip tailslide, mas com a força dos hermanos Pablo e Daniel a comemoração veio em castelhano.

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anderson stevie

// entrevista am

O carioca foi o primeiro skatista a manobrar nesta borda de uma nova årea da Plaza Houssay: 180 fakie nosegrind. A disputa neste pico era com as crianças de patinete e, uma tentativa antes do acerto, Stevie quebrou o bebedouro e a pressão de que tenham visto o fez recalcular a rota para uma volta perfeita do bs ollie.

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anderson stevie

// entrevista am

ponte, São Gonçalo, não tem nada! A única pista que tinha aqui, a última prefeita quebrou. Foi bem onde comecei a andar de skate. Pra mim, mais do que nunca, está sendo uma nova luta travada que é conseguir andar de skate, conseguir evoluir, porque tenho que gastar o maior dinheiro de passagem pra andar de skate. Por exemplo: pra andar na XV, tenho que gastar R$ 20 por dia. Então, esta é minha maior batalha no momento, pelo fato de onde eu moro ser longe de tudo. Estou no Rio, mas estou longe de todos aqueles picos! As fotos da entrevista foram feitas na Argentina, foi sua primeira viagem internacional? Estava tudo certo pra ir de avião, de última hora não conseguimos e tivemos que ir de ônibus. Achei até que o Taparelli não queria mais ir. Acabou que ele conseguiu fechar e foi da hora. Eu entendi que Deus quer me ensinar a ter paciência, que as coisas acontecem na hora certa e que tudo tem seu tempo certo. Quando for pra viajar de avião, vai rolar; é só a gente entender o propósito de cada coisa. E como é viajar com o ‘sangue bom’ do Carlos Taparelli? Foi um dia e meio pra ir e outro dia e meio pra voltar! Trocamos altas ideias, foi bem da hora. Na real, o Taparelli dormiu a viagem inteira. A gente conversava durante uma hora e ele dormia oito (kkkk). O que foi pra você - um carioca da gema que nunca tinha saído do Rio, ter ido pra Argentina exclusivamente para andar de skate? Foi uma realização, né cara? A todo momento agradecia a Deus, tipo, por estar lá pra andar de skate e também por ver o reconhecimento da galera de lá. Fomos em um campeonato, pra fazer uns contatos, e eu consegui voltar umas tricks e recebi muito elogio da galera. Foi uma experiência muito gratificante. E não foi só pra mim isso, foi também pra minha família e pra todo mundo que me ajudou. Especialmente a Grab, que bancou não só a minha passagem, como também a do fotógrafo. Só tenho a agradecer todo mundo que me ajudou e me ajuda até hoje! E agora, quais os planos pro futuro? Receber meu filho, que vai se chamar Antwuan. Ele nasce agora na primeira semana de setembro! Depois é continuar filmando e produzindo bastante para os futuros projetos, seja no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo. Queria agradecer primeiramente a Deus, minha família, namorada, Na Paz, Taparelli, Pirikito, Beto, Thales, Kiko, Brinhosa, Ademar, Will, Felipe Freitas, Alex Monteiro, Teba, Karocha, Homero, Léo, Pablo, Daniel Marques e Tribo Skate pelo espaço.

Noseblunt com repressão, e o Taparelli teve que distrair o segurança para a última chance, que foi a derradeira!

// ANDERSON “STEVIE” DE OLIVEIRA 23 anos, 10 de skate São Gonçalo, RJ Patrocínios: Grab, Ademafia, Bastard, Zion e Academia Golden Gym Apoio: Freeday Shoes

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LEANDRO MOSKA

entrevista pro // roni carlos

MOVIMENTO RONI CARLOS E AÇÃO RONI, ASSIM COMO EU, É MENINO CRIADO EM PERIFERIA. TEVE QUE ACHAR BONS LUGARES PRA ANDAR LONGE DO CENTRO, OU DEMORAVA BOAS HORAS PRA CHEGAR AOS PICOS ONDE TODO MUNDO ESTAVA ANDANDO. ISSO AGUÇA A CRIATIVIDADE E, DE ALGUMA FORMA, NOSSO SENSO DE REALIZAÇÃO TAMBÉM. A GENTE ACABA FICANDO MAIS CRÍTICO COM A DECISÃO DE QUAL MANOBRA ACERTAR EM CADA LUGAR. CRIA-SE UM SENSO DE ESTILO, DE OPORTUNIDADE... NA VERDADE, TODO SKATISTA TEM ISSO, MAS PUDE PERCEBER ISSO NO RONI MAIS DE PERTO. SEI QUE ELE TEM MUITO SKATE PRA MOSTRAR. ACHO DIGNO ELE TER ESSE ESPAÇO NA TRIBO SKATE. TUDO CERTINHO, RONI! (POR FABIO LUIZ “PARTEUM”) POR JUNIOR LEMOS // FOTOS ATILLA CHOPA, LEANDRO MOSKA, PAULO TAVARES, RENATO CUSTÓDIO E VINÍCIUS BRANCA // FAMÍLILA “Minha família não tem nada a ver com o skate. Meu pai e minha mãe vieram da Bahia há milianos, chegaram em Carapicuíba e eu nem era nascido. Eu vim pra Carapicuíba na barriga da minha mãe, já comecei a viajar antes mesmo de nascer! Tenho seis irmãos: duas irmãs professoras (inglês e português), dois irmãos professores (português e matemática) e mais dois que são motoboys, trabalham na rua. Toda a vida meu pai foi jardineiro. Minha mãe, toda vida tomou conta da casa e das crianças. Meus irmãos estudaram e eu fui pro lado do skate. Mas eles não têm nada a ver com o skate,

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só eu mesmo da família. Agora meu sobrinho está começando a gostar de skate.” // CARAPICUÍBA “Meus pais moravam na Bahia, era o maior corre lá. Eles tinham umas cabeças de gado; meu pai tirava leite das vacas, minha mãe fazia o requeijão e meu pai vendia na feira. Era o maior corre pra sustentar os seis filhos! Minha mãe, grávida de mim, viu que aquela vida de criar um monte de filhos no meio do mato não seria legal, daí decidiram vir pra Sampa. Eles venderam tudo lá e minha mãe conseguiu comprar um terreninho ali em Carapicuíba, e foi construin-

do aos poucos. Chegando lá, o pessoal da vizinhança, que era bem pouca, gostou da minha mãe e deu a maior força pra ela.” // SKATE “A gente foi crescendo, todo mundo se ajudando. Na real toda a vida foi a maior dificuldade; aquela época era o maior veneno! Minha mãe sempre deu um jeito, fazia cocadas pra vender, costurava roupas. Mesmo trabalhando fora, ela fazia mil corres. Aí a gente foi crescendo, indo pra escola e arrumando confusão. Quando eu tinha uns 11, 12 anos, conheci o skate. E se você for ver, é aí que começa minha vida, porque


RENATO CUSTÓDIO

Nollie fs bigspin.

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LEANDRO MOSKA

Ss fs nosegrind.

“Roni é um cara muito naipe, tanto no skate, como no seu estilo ímpar e no proceder digno. Toda sessão com ele vira uma festa... Ele representa forte o skate diversão!” Alexandre Tizil se me perguntar algo da época de escola, até lembro de uma coisa ou outra, mas se você me perguntar sobre skate, eu sei tudo, em detalhes. Ontem mesmo, trombei aqui na gringa um camarada de milianos, o (Renato) Pulguinha. Colamos em Santa Mônica, na praia. Fizemos um rolê, trocamos uma ideia, lembramos do passado e, truta, me lembro de tudo que a gente fez no passado. A gente ia nos campeonatos, andava ali na praça de Osasco.” // VIAGENS “Eu ficava só ali, em Carapicuíba, porque minha mãe não deixava eu sair; daí comecei a dar os perdidos. Comecei a ir pra Osasco, onde conheci o Pulguinha. Ia pro Centro, conheci o Gian e então comecei a ir pros

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lugares. Dali a pouco fui pra Curitiba, onde conheci o Narça (Rafael Narciso) e os caras da Latex, os caras me curtiram também. Mas antes disso eu conhecia o (Heitor) Neto e o Marcos Maciel, assim foi indo. Em cada época eu fui dando um passo, tá ligado? De Carapicuíba fui pra Osasco, de lá pro Centro e assim foi indo até que aconteceu de eu ir pra Barcelona e de estar aqui na Califórnia.” // EUA Na gringa você tem que ter bastante paciência. Você tem que colar e viver, independente do que aconteça! Da mesma forma que pode acontecer nada, pode acontecer tudo. Ou vice e versa. Aqui é a gringa, lugar das oportunidades! Na real eu precisava viajar, precisava de novos hori-

zontes. Comprei minha passagem e vim; fiquei na casa de um, na de outro. Agora estou morando em uma van com um camarada e estou curtindo pra caralho; estou fazendo vários rolês da hora. Estou indo na praia, nos picos de skate que sempre tive vontade de conhecer. O Gerdal me levou em muitos lugares que eu tinha vontade de conhecer; colei no Berrics. Vim aqui viver, vendo com meus olhos como a gringa é. Porque até então, truta, todo mundo que vem pra cá, a gente pensa que o cara tá mó boy. Eu tô vendo a gringa realmente como ela é: estou morando no carro, tá ligado? E, na real, um monte fez isso, mas isso ninguém fala. Não sei se as pessoas têm vergonha, não sei qual o motivo. Mas eu vou falar a verdade pra todo mundo que


// entrevista pro

LEANDRO MOSKA

roni carlos

ARQUIVO PESSOAL

Transfer ss bs tail.

me perguntar, porque não quero passar informação errada pra ninguém. A gringa realmente é difícil, todo mundo fala que tem trampo, mas chegando aqui tem que fazer o corre igual se faz no Brasil: sair batendo de porta em porta, procurando trabalho. Não é assim, chegar hoje e começar a trabalhar amanhã. Arrumar lugar pra ficar… é tudo um custo!” // SONHO AMERICANO “Vou te dizer uma coisa, truta: só de sobreviver aqui na gringa já é um corre, irmão! Conseguir arrumar um trampo, alugar a casa, pagar aluguel; tudo longe - é difícil pra caralho. Você mora em um bairro e trampa em outro. Ainda mais se for falar em sobreviver do skate, o que hoje em dia está um pouco mais fácil. Mas no passado, que o barato era mil graus, era muito mais louco. Vou citar o Gerdal como exemplo: esse maluco é cabreiro, mano. Cheguei no aeroporto tinha gente pra me buscar, nas duas vezes. Mas na época em que ele veio pra cá, que o Ivan (Érico) colou, não tinha isso não, truta. Os caras chegavam no LAX, no sonho de conhecer a Lookwood, andar nas mesas de pijulho/2015

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LEANDRO MOSKA

roni carlos

// entrevista pro

quenique, mas o bagulho é longe do aeroporto. Então esses caras aí das antigas, Gerdal e Ivan Érico, são os que eu vou usar como exemplo. E agora você vê o Gerdal vivendo até hoje do skate, isso é difícil, mano! Máximo respeito pra esse cara. É meu skatista favorito, ainda mais agora conhecendo a gringa como ela é.” // CONHECENDO E SENDO RECONHECIDO “Outro dia teve a feira Agenda. Trombei o Karl Watson, que me viu com a camiseta da Öus; perguntou meu nome e disse que me conhecia! Também fui na Boulevard com o Gerdal, colei no Berrics; o Gerdal conhece todo mundo. Assistimos à final do Berrics, todo mundo cola pra trocar ideia com ele. E nessas eu vou conhecendo. Tipo o Manolotapes: ele é um cara cabreiro e fiquei bastante feliz de conhecê-lo pessoalmente, porque a gente trocava ideia pelo Instagram e sei que ele entende bastante de skate. É um cara importante pra cena porque está voltando no tempo e pegando as manobras das antigas, dos caras que têm estilo, aquelas manobras limpas, e fazendo as mixtapes de vídeo na Internet. Ele não está deixando o skate verdadeiro morrer, o que vem acontecendo faz muito tempo. A verdadeira essência do skate está morrendo! Desde que o Keenan Milton morreu, é como se ele tivesse levado a essência do skate com ele. A gente não pode deixar isso acontecer! Por isso fiquei muito feliz em conhecer o Manolo.” // ÖUS “No início saiu uma colorway minha que foi o Carapicuíba Colors, um cano alto que cada cor dele representa um elemento da cidade: tijolo, cimento, caixa d’água e antena parabólica. Depois fizemos o promodel. Desenvolvi o recorte e altura, como eu queria a biqueirinha ali; o Narça me ajudando. Meu model teve bastante sucesso e cada coleção a gente veio fazendo cores novas, em cima do mesmo tênis. Hoje tem uma faixa de 35 cores diferentes lançadas! Pra mim, andar de skate pela Öus é uma parada completamente diferente de andar pra qualquer outra marca. Porque, na real, não é só uma marca que me dá suporte, é minha família. Fui o primeiro skatista a ser convidado a fazer parte dela. Ali é muito aprendizado; tudo que acontece, como que o Narça faz as paradas, como é feito tudo. Fui na fábrica quando estava desenvolvendo meu model, participei e vi o desenvolvimento de tudo, desde a sola, o cabedal. Evoluí pra caramba como pessoa desde que entrei ali. É só evolução! Não sou um atleta da Öus, pra mim skate é um estilo de vida, por isso acredito que sou um membro da família mesmo. Aconteça o que acontecer, estarei do lado dos caras. Me sinto bem, gosto de estar

“O Roni Carlos se resume em uma pessoa que ama andar de skate, ama de onde vem e essa junção faz ele ser o que é! É uma pessoa com caráter, um cara muito bom em cima e fora do skate.” Nollie heelflip to fakie.

Rodrigo Gerdal julho/2015

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PAULO TAVARES

Nollie flip noseslide nollie heel varial out.

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// entrevista pro

LEANDRO MOSKA

roni carlos

Fakie flip.

“Falar do Roni é falar de stylo, de naipe, de skills! Ele tem uma parada no skate que é difícil de se ver: qualquer manobra que ele dá, por mais simples que seja, é bonita de se ver, é bem dada. A forma como gira os flips é sempre redonda e sempre os finaliza clean. Mas o que acho mais admirável ainda é a personalidade dele, o caráter, um cara sem ideinha. Fala e faz, ou nem fala e já faz; uma pessoa que se pode confiar. Se você precisar, ele vai onde for, faz o que for preciso. Sem falar o bom humor, que isso é muito da hora. Transforma qualquer ambiente com zueira, alegria e muita risada. Tamos juntos Roni C.! Obrigado por poder dizer que sou seu amigo.” Gian Naccarato

ali. Já recebi proposta pra ser atleta de outras marcas, mas pra mim não convém. Se estou na Öus é porque a parada é da hora; lá a minha palavra e opinião são ouvidas. Tudo que acontece ali dentro, fico sabendo e sei como vai ser. Fico muito feliz com isso, de não ser apenas um atleta da parada.” // FESTIVAL CARAPICUÍBA COLORS “O evento tem um só objetivo: passar a cultura do skate pro pessoal, porque Carapicuíba é uma cidade bastante leiga a respeito disso. A ideia é essa, passar a verdadeira essência, passar a cultura. Skate, música e arte, certo? E vou te falar que teve uma repercussão bacana; bombou nas redes sociais, todo mundo marcou a hashtag, todo mundo compartilhou o vídeo no Facebook. Bombou pra caramba. Pra você ver que o skate é tão poderoso que na pior época do Brasil, que tá passando por essa crise, quando mostrei o projeto pras marcas, ninguém recusou. Todo mundo fortaleceu, mandou a premiação certinho, na data certa. Queria agradecer muito todos que fecharam comigo, porque é importante também a ajuda de vocês! Agora, quanto à prefeitura, acredito que eles nem viram ainda, mas vou mostrar; estou esperando uma oportunidade. Porque ali, na real, não estou sozinho! Tem o Gordão Chefe (DBS), tem os moleques todos. Sei que se eu bater

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VINÍCIUS BRANCA

roni carlos

// entrevista pro

o pé, eles vão fechar comigo e a gente vai correr atrás de uma pista e tudo, mas a gente sabe que isso é pouco. O DBS é um músico cabreiro de Carapicuíba e meu amigo; ele também fecha conosco, com a cultura do skate. Acredito que assim que tivermos oportunidade, a gente vai chegar no prefeito e mostrar que a cultura do skate tem poder na cidade. Atingimos uma meta da hora nas redes sociais com esse evento e não temos só ele, tem bastante páginas de revistas que eu falo de Carapicuíba, tenho tatuado no braço ‘Carapicuíba, nascido e criado’, tenho um tênis que foi feito em homenagem à minha cidade natal. Tudo isso, vou juntar e pedir o apoio do DBS pra colar ali comigo; vamos ver quem mais a gente pode chamar pra fortalecer com a gente. E se Deus quiser, vamos descolar uma pista muito louca pra Carapicuíba! Sei que está chegando a minha idade, não que eu vá parar de andar de skate. Vou ter que fazer outros corres. O skate depois vai ter que ficar só por diversão mesmo. Mas tô vendo que ali tem bastante moleque bom no skate, ali e nas cidades vizinhas como Barueri, Osasco e em todos os cantos; o skate está crescendo muito. Cada dia que passa a cultura está se fortalecendo! E se conseguirmos uma pista bem louca e deixar pra essa nova geração, aí sim vou dizer que será um sonho realizado. Uma decente, com tudo que tem um uma pista e também vários obstáculos de rua, tipo o IAPI. Agora, com essa entrevista saindo, vou chegar com mais um argumento pro prefeito. Vai ajudar pra caralho!”

ATILLA CHOPA

// ESSÊNCIA E ALEGRIA “Tô ligado que o skate mudou bastante e grande parte dele virou business. Tá ligado? Mas, pra mim, ele vai continuar sendo sempre o mesmo. É diversão, é dar risada, trombar os amigos, é se divertir e evoluir juntos. Às vezes acho que estou com a mente atrasada, continuo lá na década de 90. Vou sair pra andar de skate e continuo vendo as partes do Gino (Iannucci), as do Keenan. A minha alegria é essa mesmo, é por causa do skate. Desde pivete sempre fui um moleque feliz, qualquer coisa sempre me fez feliz. O skate é um bagulho muito louco, mas a gente passa por dificuldade também e fica triste de vez em quando, é do ser humano. Mas desse sorriso que você vê aí, pode ter certeza que uns 99% são graças ao skate. Realmente é por causa do skate que sou uma pessoa feliz!”

Fs heelflip.

// Roni Carlos Marques Rosa 33 anos, 20 de skate Carapicuíba, SP Patrocínios: Öus, Third Floor hardware e Big Dream Society julho/2015

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LEONARDO SOARES

Bs grind.

CESINHA CHAVES

O SKATAGENÁRIO

TEXTO GUTO JIMENEZ // FOTOS FELIPE MATHIDIOS, DIORANDI NAGAO, LEONARDO SOARES

U

m dos skatistas mais icônicos do Brasil completou 60 primaveras no final de julho. O pioneiro Cesinha Chaves reuniu amigos do Rio, São Paulo e do Vale do Paraíba pra celebrar essa data tão significativa num pico marcante de gerações passadas, o Itaguará Country Club de Guaratinguetá (SP), que continua sendo um celeiro de talentos do vert brasileiro. Nada mais simbólico que uma das “Mecas” do skate brazuca fosse o cenário escolhido pra uma comemoração que incluiu exposição de fotos, cervejas, bolo e, é claro, uma boa dose de skate. Só relembrando às gerações mais novas: se hoje existe uma indústria e uma mídia do skate em nosso país, muito se deve ao cara. Quando digo que ele é pioneiro, não é exagero algum. Pra começar, Cesinha anda de skate desde o final dos anos 60, quando ainda era chamado de “surfinho” pela galera de Saquarema... Vai anotando aí: - Ele foi o primeiro a fabricar “tábuas para skate” (como se dizia na época) em produção industrial através da sua Surfcraft, lá pelos idos de 1976/77. Até já havia gente cortando madeira e fazendo decks de forma caseira e artesanal, sem falar nos skates de marcas de brinquedos como Torlay e Bandeirantes. Porém, a marca do Cesinha foi a primeira especializada no ramo que era distribuída em todo o

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país e fabricada por um skatista. - As primeiras matérias de skate apareceram nas páginas da Brasil Surf, uma publicação do mesmo período, germinando e brotando a primeira revista especializada a cores de distribuição nacional, a Brasil Skate. Um dos editores era o Cesinha, que continuou a agitar a imprensa escrita do skate através das páginas da Visual Esportivo, uma publicação dos anos 80 especializada em vários esportes de ação. - Quando o cenário do skate brasileiro se resumia a poucos skatistas espalhados pelo país e talvez meia dúzia de marcas, o programa semanal de tevê Realce estreava trazendo matérias de moda, surfe, música, comportamento... e skate. Quem era o responsável? Ele mesmo, o Cesinha. Mais adiante, ele foi um dos responsáveis por programas como Vibração, Ombak, Pool Sessions, Sk8, entre outros, que ajudaram não só a informar sobre o que de mais importante acontecia no universo do carrinho, como também apresentaram vários sons alternativos a uma galera ávida por novidades musicais. - Adivinha quem foi o cara que fez o primeiro site especializado em skate no Brasil? Sim, ele mesmo, através do seu brasilskate.com que tanta informação nos trouxe lá pela metade dos anos 90. - Como se não bastasse, Cesinha também foi o responsável pela


DIORANDI NAGAO

cesinha chaves

// personagem

programação de skate do primeiro canal brasileiro especializado em esportes de ação na tevê fechada, o Woohoo. A saída dele do canal no final do ano passado causou surpresa no meio, principalmente por ter sido uma das pessoas que mais fizeram pelo skate e pelos esportes de prancha na tevê nos últimos 30 anos. Sempre ávido por novidades em sua vida, Cesinha é o tipo de pessoa que lidera e cria tendências, ao invés de trilhar pelo caminho fácil de seguir e copiar o que já está sendo feito. Atualmente, ele foca suas energias em algumas direções: a arte, através de suas “CeXa’s Insta Pics”, imagens ampliadas de pequenos detalhes do mundo do skate e da vida manipuladas com o aplicativo Instagram; o Budismo Nichiren, filosofia que adotou nos últimos anos a qual ajuda a disseminar pelo mundo via seu blog BudaNaWeb.com; e, mais recentemente, o retorno de sua antiga e pioneira fábrica de skates. Sim, é isso mesmo, a Surfcraft voltou com um model que tanto marcou a minha geração lá pelos anos 70, o “Diamond Tail” de 29” X 7” 3/4” feito de madeiras laminadas, com bevelled bottom e tail adaptado. É isso aí, Cesinha! 60 na frente que nós estamos logo atrás - no bom sentido, é claro... Um grind pra ele, que ele merece!

LEONARDO SOARES

surfcraftskates.com e about.me/cesinha_chaves

FELIPE MATHIDIOS

FELIPE MATHIDIOS

De cima para baixo, sentido horário: Bons amigos compareceram no Itaguará. Didi Nagao também estava de aniversário, 52 anos. Fs smith no banks que tanto Cesinha andou, desde os anos 80. As famosas CeXa’s Insta Pics. Mosaico de fotos. Primeira tiragem da reedição da Sufrcraft.

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evento // adidas skate copa

SKATE COPA

FESTA DE GALA

// FOTOS JUNIOR LEMOS

I

deia original, pelo menos em terras brasileiras, um evento reunindo equipes de skateshops. Além da festa de gala que reuniu skatistas pros e ams de várias partes do país, o resultado não poderia ser melhor, com a vitória da Ratus Skateshop, uma das mais “core” do Brasil, sediada justamente na cidade de Santo André, onde o evento foi realizado.

Guguinha Dias (SAM), ollie invertendo o sentido natural do obstáculo.

Resultado: 1º Ratus // 2º Matriz // 3º Sense // 4º C4

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Vinícius Amorim (Ratus), fs noseblunt cravado no palco superlativo.


Lucas Rabelo (Matriz), nollie 270 bs lipslide to fakie.

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casa nova //

Switch crooked em Caxias.

Adauto // FOTOS DANIEL SOUZA Skate e roupas atuais: Shape Stereo, rodas Hagil, rolamentos Red Bones e eixos Crail. Toca Síntese, camiseta Hip Mads, calça de moleton Síntese e tênis AXS. Manobra que não suporta mais ver: Anti smith. Manobra que ainda pretende acertar: Nollie bs flip to ss fs crooked. O que o skate te apresentou de mais style em sua vida: Todas as amizades que tenho. Principal dificuldade em ser skatista na sua área: É a falta de incentivo, geral.

Um skatista profissional em quem se espelha: Rodrigo Cesário Gerdal. Uma marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Ia ser legal Tam, pra viajar mais. Atual melhor equipe de skate brasileira: Öus. Amador que você gostaria de ver pro: Gutiele Rodrigues. // Adauto Francisco Santos de Oliveira 28 anos, 15 de skate Caxias do Sul, RS Patrocínios: Hip Mads e AXS Skateboarding Apoio: Síntese 07

Um pé no skate, outro na estrada.

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// casa nova

Flor Rosso // FOTOS PEDRO MACEDO Skate e roupas atuais: Shape Blaze, rodas Spitfire, rolamentos Everlong, trucks Stronger, camiseta Skate Religion e tênis Nike. Manobra que não suporta mais ver: Toda manobra é manobra. Manobra que ainda pretende acertar: Bs feeble. O que o skate apresentou de mais style em sua vida: A oportunidade de viajar e conhecer pessoas novas. Principal dificuldade em ser skatista na sua área: Falta de uma pista boa e falta de patrocínios. Um skatista profissional em quem se espelha: Marisa Dal Santo. Uma marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Posca. Atual melhor equipe de skate brasileira: Everlong. Amador que você gostaria de ver pro: Nathan Vianna.

Ollie na escada da Petrobras, Vitória/ES.

// Florencia Azul Rosso 17 anos, 4 de skate Nasceu em Buenos Aires, mora em Vilha Velha, Espírito Santo Apoio: Skate Religion

Nunca desista de seus sonhos.

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casa nova //

Fs boneless em Salvador, Bahia.

Luis Arroiz // FOTOS FERNANDO GOMES Skate e roupas atuais: Shape Lombra Boards, trucks Liga, rodas Hagil e rolamentos Red Bones. Boné ‘handmade’ LookDatShit, camiseta de alguma banda de hardcore, calça do bazar, meias BlackMediaSkate e tênis Converse. Manobra que não suporta mais ver: Nollie crooked. Manobra que ainda pretende acertar: No comply em alguma escada. O que o skate apresentou de mais style em sua vida: Amizades, viagens e boas músicas. Principal dificuldade em ser skatista na sua área: Muitas vezes somos nós

mesmos que reclamamos muito e pouco fazemos acontecer. Um skatista profissional em quem se espelha: Klaus Bohms. Uma marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Pipa Viagens. Atual melhor equipe de skate brasileira: Vibe Shoes. Amador que você gostaria de ver pro: Felipe Oliveira. // Luis Moschioni 20 anos, 15 de skate Tatuí, SP Patrocínios: Street Wash Store e LookDatShit Apoio: Lombra Boards

Se tiver de lembrar as pessoas sobre o que você é, você não é.

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UM BRASIL DE BOAS HISTÓRIAS

ESTÁ CADA VEZ MAIS FÁCIL PUBLICAR UM LIVRO NO BRASIL. MAS AINDA EXISTEM MUITAS HISTÓRIAS A SEREM ESCRITAS. HISTÓRIAS DE VIDA, DE CARREIRA, DE UM DIA BACANA. CONTADAS EM PALAVRAS, FOTOS, DESENHOS OU TUDO JUNTO E MISTURADO. MARCANDO ESTA NOVA FASE DA TRIBO SKATE, MOSTRAMOS AQUI AS POSSIBILIDADES PARA INSPIRAR E TRANSPIRAR, NA TELINHA OU NO PAPEL. E ESTAMOS TORCENDO PARA RECEBER EM BREVE UM LIVRO ESCRITO POR VOCÊ. // POR PEDRO DE LUNA

DIVULGAÇÃO

A escritora e editora Laura Bacellar incentiva a autopublicação.

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FOTOS DIVULGAÇÃO

N

ovas feiras literárias, Bienal do Livro em setembro e liberação de biografias sem autorização prévia. Os incentivos para alguém se arriscar como escritor são muitos. Mas independente da motivação, comercial ou satisfação pessoal, é fato que está mais fácil publicar um livro. Seja ele impresso ou digital. Com a possibilidade de fazer pequenas tiragens, não há nem mesmo o risco de ficar com pilhas de livros ocupando espaço em casa. Dependendo do objetivo, ainda é recomendável contratar um profissional para ajudar na edição, revisão e na diagramação, inclusive da capa. Isso sem falar na divulgação e distribuição, que demandam tempo e dinheiro. Afinal, para se fazer conhecido, é importante ter boas fotos do autor, assessoria de imprensa, folder e disposição para colocar em consignação em sites e livrarias, enviar pelo correio e realizar eventos de lançamento. E falo isso com a experiência de quem passou pela experiência de publicar por conta própria. Trabalhando em editoras desde 1983 e autora de Escreva seu livro − Guia Prático de edição e publicação (Editora Mercuryo), Laura Bacellar diz que “as obras autopublicadas estão aumentando muito em quantidade e

Felipe Gasnier.

Marcelo Viegas.

// IDEAL LIVROS A Ideal Shop surgiu em 2003 como uma loja virtual, até hoje referência no segmento. Também havia uma gravadora com o mesmo nome, mas com o boom de mp3 gratuitos, ela não resistiu. Em 2005, Felipe Gasnier resolveu investir numa editora, a Edições Ideal, onde atua como diretor de marketing. “Estamos nadando duas vezes contra a maré. Trabalhamos com rock no país do samba e ainda lançamos livros no país que prefere assistir TV”. Em 2013, ele convidou o skatista Marcelo Viegas para ser editor e, pelo visto, acertou a mão. Entre os 30 títulos já lançados, os mais vendidos são a cronografia da Pitty, Rock Para Pequenos 1, Tocando a distância: Ian Curtis & Joy Division e Dave Grohl: Nada a Perder. Viegas diz que as áreas de atuação são rock e cultura pop, mas acredita que existem muitas histórias nas gavetas. “Ou mesmo que sobrevivem apenas graças à tradição oral e ainda não foram registradas no papel. Já disse isso uma vez e repito aqui: gosto de ser seduzido por um livro”. Felipe reforça o interesse em lançar mais livros nacionais do que estrangeiros. “Já fiz inúmeros convites, vivo sondando possíveis autores e entendo que é algo muito trabalhoso, sempre vem aquele papo de falta de tempo. Temos o selo Impulso (www.edicoesideal.com/impulso) que criamos justamente para novos autores”. Quem quiser mandar material, basta escrever para editora@edicoesideal.com Além da qualidade, Felipe destaca a boa distribuição e a sinergia de produtos. “Criamos eventos bem diferentes e combos exclusivos direcionados para os fãs. Tudo é feito como gostaríamos que fizessem com nossas bandas favoritas”. Viegas completa: “Outro diferencial é o know-how dos profissionais que vão trabalhar no livro, com certa vivência na área musical”. O editor anuncia aos leitores da Tribo Skate os próximos lançamentos. “Vem uma autobiografia do Sonny Barger, o lendário membro fundador do Hell’s Angels Motorcycle Club, e mais um livro da Coleção Mondo Massari, o selo do Fabio Massari. Será uma antologia com 15 entrevistas do lendário zine Search & Destroy e da RE/Search Publications. E tem a autobiografia do Steven Adler, baterista original do Guns N’ Roses; e Dance of Days: duas décadas de punk na capital dos EUA, que eu assinei a tradução ao lado de minha esposa”. Mas é o Felipe quem coloca o ponto final na entrevista. “É muito mais satisfatório vender um livro do que qualquer outro item. Precisamos criar esse hábito da leitura no Brasil. Seria a maior arma contra os maus governantes”. Assinamos embaixo.


livros

GUILHERME SANCHEZ

menos em importância, mas pelo visto vieram para ficar”. Ela cita o caso de Eduardo Spohr, que autopublicou A Batalha do Apocalipse e vendeu 4.000 exemplares. Tal sucesso chamou a atenção da editora Record, que lançou no mercado e vendeu mais de 450 mil exemplares. Outro independente, Henry Bugalho, viveu por alguns anos da venda de Nova York para mãos de vaca. “Ele fez tanto sucesso que foi plagiado por ninguém menos que uma enorme agência de viagens, a quem está processando. Diz ele que vendeu mais de 7.000 exemplares de seu guia”. Laura diz que o primeiro passo é ser relevante, mexer com as emoções ou as ideias do leitor. “Sem isso não há marketing que funcione. O marketing promove a obra que tem alguma chance de agradar”. O segundo passo é estabelecer contato com o público, diretamente ou através da internet. “Era um trabalho antes feito pelas editoras, agora se espera do autor”. E por fim, “autores precisam tentar ver o mundo do ponto de vista de seus leitores e imaginar o que seria interessante para eles”, explica a editora do site escrevaseulivro.com.br, onde publica dicas preciosas. O fotógrafo Fábio Bitão lançou 500 cópias do seu livro 365Graus de forma independente em 2008. Mas o processo começou dois anos antes, entre os cliques, seleção, diagramação e impressão. “Nas minhas publicações eu tenho total controle desde o conteúdo até a divulgação”, diz o skatista, adiantando para a Tribo Skate que um novo livro vem aí, chamado 92atéoinfinito. “É o mesmo nome da exposição fotográfica que rolou em 2012 na Matilha Cultural, compilando os meus primeiros 20 anos fotografando skate, de 1992 a 2012. Mais uma produção independente. Enquanto isso, eu continuo publicando alguns zines e projetos autorais como a série limitada Cidade de Concreto, em parceria com a Editora Outprint”. É bem verdade que a autopublicação permite maior controle da sua obra e de receber muito mais que os 10% pagos pelas editoras comerciais. Porém, pode ser uma boa opção procurar um agente literário, que além de intermediar os interesses do autor, cuida de todas as burocracias e oferece uma espécie de consultoria criati-

Manu Maltez, lien to tail no Parque Zilda Natel. Retorno premiado.

// cultura

O fotógrafo Fabio Bitão lançou 500 cópias do seu livro por conta própria.

va. Alessandra Pires é uma delas. Com experiência de anos em editoras, ela foi a primeira a agenciar também ilustradores no Brasil, inclusive quadrinistas. “A agência recebe 20% no caso de escritores e de 10% a 20% no caso dos ilustradores, existem variáveis”. Um dos serviços oferecidos é o de leitura crítica. “É a opinião de um profissional que aponta as falhas que possam comprometer a obra, além de dar sugestões, como fazem os pareceristas nas editoras quando recebem os originais dos autores”. Importante: ela trabalha apenas com literatura infanto-juvenil (www.oagenteliterario.com.br). A Amazon possui uma ferramenta gratuita chamada Kindle Direct Publishing (KDP) que transforma documentos de texto em eBooks para serem comercializados para seus milhões de clientes pelo mundo, a partir de R$ 1,99. “Os autores têm controle dos preços de suas

// DESEQUILIBRISTAS,

de MANU MALTEZ (Editora Peirópolis)

O skatista, músico e artista visual Manu Maltez é o autor de Desequilibristas (Editora Peirópolis), premiado como o melhor livro de 2015 segundo a Fundação Nacional do Livro Infanto Juvenil. “Ele surgiu do arrebatamento que tive quando voltei a andar de skate, em 2009, quando fizeram a pista da Sumaré, ao lado da minha casa. Me lembro da sensação indescritível de voltar a ouvir o barulho de um truck raspando no concreto, o estalo do shape, as rodas trepidando, essa música concreta tão própria do skate. Voltar a andar foi uma espécie de anti-depressivo”. Como se tivesse feito as pazes com algo que tinha sido interrompido, Manu começou então a estabelecer diversos paralelos entre o skate e seu trabalho como artista. “Essa coisa de estar sempre lidando com o risco, com a queda. Dessa relação entre dor e prazer. Acho legal também essa coisa de aproximar o skate de coisas que normalmente ele não está associado, como o universo da gravura em metal, da poesia e da literatura. Tive a ideia do livro nesse momento”. Com diagramação solta, repleta de desenhos e gravuras, Desequilibristas é um texto para ser lido em voz alta, declamado sobre um skate pela cidade, e saiu também em versão digital, com trilha sonora e animações. “São dois formatos muito diferentes e um não tem que necessariamente substituir o outro, podem pelo contrário, conviver”. Bem recebido por todos, skatistas ou não, o livro carrega a paixão pelo carrinho. “Acho bonito esse equilíbrio baseado no desequilíbrio, no fio da navalha. Essa fragilidade ao mesmo tempo agressiva, corajosa. Como está no livro: Esse transeunte em surto. Por um deleite vacilante. Por um segundo de anarquia. Por nada de mais. Só um zas-trás. De liberdade. Diante das câmeras de segurança da Cidade”. Por fim, Manu manda um abraço a todos os desequilibristas do mundo: “Continuem mantendo acesa a chama, esse espírito anárquico. Sem isso, o skate já era. Vira apenas um esporte, um brinquedo, sei lá, morre”.

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Kindle Voyage: gadget para leitura de eBooks. Natalia Montuori, da Amazon.

no Brasil. Autores com um mínimo de bom senso e que não se dirijam a públicos extremamente tecnológicos fazem bem em plantar sua obra no mundo físico”, sentencia Laura Bacellar. Para quem desejar as duas opções vale conferir também a plataforma Publique−se!, da Saraiva.com, e uma da Apple. No fim das contas, o importante mesmo é ampliar o volume e a qualidade no Brasil, sobretudo de biografias de skatistas ou de livros sobre o universo skate, uma pista ainda livre e sem crowd.

// TRIBO SKATE RECOMENDA Kid Vinil, um herói do Brasil (Edições Ideal, 2015), de Ricardo Gozzi e Duca Belintani − músico, jornalista e radialista, o vocalista da falecida banda Magazine recebe uma homenagem a altura no seu aniversário de 60 anos. Destaque para as boas histórias contadas pelo próprio biografado. Dance of Days: duas décadas de punk na capital dos EUA (Edições Ideal, 2015), de Mark Andersen e Mark Jenkins − Como e por que Washington DC foi a cena punk mais politizada dos EUA entre os anos 80 e 90? É o que conta esse livro, trazendo também a trajetória de bandas como Bad Brains, Minor Threat e Fugazi, o nascimento do straight edge, o movimento Riot Grrrl e o emo. Boa aquisição para a sua prateleira. Dead Kennedys (Edições Ideal, 2014) de Alex Ogg − Como se formou a banda, o cenário da época, a primeira candidatura de Jello Biafra à prefeitura, o nascimento da gravadora Alternative Tentacles e os bastidores do primeiro álbum, Fresh Fruit for Rotting Vegetables. Imperdível para os fãs do DK, com muitas fotos, ilustrações, cartazes de shows e colagens bacanas. Amigo Skate (Pixel Art Books) de Alessandro McGregor -

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O livro Amigo Skate conta as descobertas de Alex, e todo o seu desenvolvimento, após ganhar um novo parceiro, o skate. Escrito e editado pelo skatista e editor de conteúdo Alessandro McGregor e ilustrado pelo artista e também skatista Kleber Moraes, a publicação acaba de ganhar uma versão traduzida para o polonês. O livro é uma publicação totalmente independente e faz parte da Editora Pixel Art Books. O projeto tem como objetivo incentivar a leitura e a prática do skate para crianças. No último ano, o Amigo Skate fortaleceu as parcerias e hoje é oficialmente um projeto da ONG Social Skate. Marcatti − Tinta, Suor e Suco Gástrico (Editora Marsupial, 2014), de Pedro de Luna − Biografia do quadrinista underground que até hoje imprime os seus livros por conta própria. Com um estilo próprio e temas como a escatologia, Marcatti é bastante conhecido por ter desenhado quatro capas e uma revista em quadrinhos para os Ratos de Porão. Todo Bob Cuspe (Companhia das Letras, 2015), de Angeli − Coletânea com as tiras do personagem punk criado nos anos 80. São mais de 200 páginas, todo em preto e branco e formato grande. Imperdível para os fãs de uma boa cuspida.

JEFFREY GROUP

obras e de todo o processo, incluindo a descrição da obra, escolha de categoria e de palavras chaves. Há também uma ferramenta chamada Criador de Capas, que oferece modelos com base em imagens que podem ser enviadas pelo autor. Outra opção é usar imagens disponíveis no próprio site”, explica Natalia Montuori, gerente de autopublicação da Amazon.com.br. A remuneração também varia de 35% no KDP normal a 70% no programa de exclusividade KDP Select − desde que o preço de venda seja entre R$ 5,99 e R$ 24,99 e o autor se comprometa a não vender em outras lojas de livros digitais além da Amazon. “Leitores podem ler os livros através do dispositivo Kindle, aplicativos gratuitos do Kindle para smartphone, computador e tablet, e até no navegador usando o Kindle Cloud Reader (http://ler.amazon. com.br). Com isso os autores independentes conseguem alcançar muitos leitores. No Brasil, por exemplo, em média, 30 dos 100 livros mais vendidos a cada semana em 2014 na Amazon.com.br foram da plataforma KDP”, comemora Natalia. “Quem decide o melhor formato para ler seus livros é o leitor. O KDP e o livro digital funcionam como uma ferramenta de democratização”. Para a executiva, o KDP e a autopublicação complementam o mercado tradicional, mas o fundamental é o conteúdo. “Um livro bem feito tem uma narrativa fluente, com um texto bem construído e personagens interessantes, no caso de livros de ficção. Para autores que escrevem livros de não ficção, também é importante lembrar que o conteúdo deve ter uma boa estrutura, que possibilita uma navegação fácil do leitor”. Mesmo com a popularização da tecnologia, os impressos ainda lideram em vendas. Um estudo realizado pela consultoria Deloitte projeta que 80% das vendas de livros em 2015 serão de cópias físicas. Pesquisa recente da Nielsen indica que a maioria dos adolescentes entre 13 e 17 anos preferem os livros de papel. “Se não me engano, os livros digitais representam apenas 3% das vendas

DIVULGAÇÃO AMAZON

cultura // livros


julho

// Relógios X Games Mais um lançamento da Orient, os novos modelos reforçam a linha X Games com relógios feitos em caixa de policarbonato e mostradores em LCD. (11) 3049-7777, www.orientnet.com.br/xgames

// Sinah Wheels A marca carioca Sinah Skateboard vem com nova linha de rodas, lançando os promodels de Marcello Gouvea, Ionir Mera e Wallace Belo. (21) 98046-6688, sinahrodas@bol.com.br

// hot stuff

// DC Shoes A DC Shoes, em parceria com o skatista Chris Cole, apresenta o novo modelo da marca, o Cole Lite 3. O tênis possui a mesma durabilidade e leveza dos seus antecessores, mas agora aparece com muito mais tecnologia, inovação, melhor desempenho e qualidade. (11) 3366-9280 , dcshoes.com

// Gnarly Foot A tecnologia alien das meias Gnarly Footy recebem agora uma nova coleção, com modelos dos profissionais Jr. Pig e Samuel Jimmy, mais um modelo com assinatura da marca. instagram.com/gnarlyfoot, gnarlyfoot@gmail.com

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tecnologia // achados & achados

PICOS, EXPERIÊNCIAS DIGITAIS E OUTRAS BANDAS NA COLUNA DE ÁUDIO E TECNOLOGIA DESTE MÊS, DICAS QUENTÍSSIMAS PARA QUEM ANDA DE SKATE, PARA QUEM NÃO ANDA E PARA QUEM TOCA. E, COMO SEMPRE, MAIS UM CASO DE CROSS− BRANDING, DESTA VEZ COM TRÊS ÍCONES DA MÚSICA COM ATITUDE PRA LÁ DE ROCK AND ROLL. // POR PEDRO DE LUNA

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magine a cena. Você está em algum lugar no Brasil, mas não sabe onde encontrar os melhores picos para o seu carrinho. A solução é o Skate Square, uma rede social que indica os lugares a partir da sua geolocalização, ou seja, quais os melhores locais próximos ao lugar onde você está naquele exato momento. Inclusive com a possibilidade de filtrar por modalidade (street, vert e downhill) ou selecionar todas, inclusive skateparks. A ideia é que os próprios usuários alimentem a rede, tanto cadastrando novos picos quanto dando as suas notas e fazendo observações. Nesta espécie de “Google Maps do Skate”, os comerciantes também podem incluir as suas lojas. Basta fazerem o cadastro ou login através do Facebook. E o melhor de tudo: tanto o site quanto o aplicativo para smartphones são gratuitos. Baixe já: skatesquare.net. Outra boa notícia. A gravadora Coqueiro Verde lançou o selo Pipoca, em parceria com a plataforma de financiamento coletivo Kickante, exclusivamente para encontrar e lançar novos artistas. Os selecionados terão uma campanha para a pré-venda do EP e, se atingirem a meta de arrecadação, gravam o álbum completo. As bandas e cantores interessados devem encaminhar o seu material através do canal crowdfunding.kickante.com.br/pipoca Léo Esteves, CEO da gravadora, diz que “o artista ainda precisa de alguém para auxiliá-lo neste cenário hostil que é o mercado fonográfico de hoje. Queremos dar este suporte e nosso principal investimento é acreditar na proposta”. Ele garante que o contrato será apenas para o projeto, sem incluir o agenciamento de carreira. Após o contrato assinado, as faixas do álbum serão oferecidas com exclusividade durante duas semanas pelo Spotify Brasil. “Cada banda selecionada terá um perfil verificado que permitirá a criação de playlists personalizáveis para compartilhar com seus seguidores. Para o lançamento do EP daremos destaque editorial”, explica Roberta Pate, Gerente de Relações com artistas e gravadoras. “Fica a critério da banda se quer que seu conteúdo seja monetizado através de streams do Spotify ou se prefere usar outras plataformas que não remuneram o artista e autor”. Mais uma dica quente: Até 26 de agosto estão abertas as inscrições para o Red Bull Basement, um programa de residência, produção e pesquisa para projetos experimentais de tecnologia. Que tal pensar um envolvendo skate? Todas as infos estão em redbullbasement.com.br A Red Bull também está com inscrições abertas para o projeto Amaphiko, uma plataforma de um ano e meio que inspira e impulsiona projetos de jovens ligados à cultura, tecnologia e esportes. A academia para inovadores sociais tem inscrições abertas até 28 de agosto: amaphiko.redbull.com/academy Para fechar, uma rápida sobre cruzamento de marcas. Em parceria com a cantora Rita Lee, a Chilli Beans lançou a coleção Rock Fellas, com óculos e relógios licenciados Amy Winehouse e Ramones. Músico e criador da marca, Caito Maia comemora. “Conseguimos trazer muita referência do universo musical para as peças como o couro e o jeans. Além de um relógio com o dial imitando um vinil”. Os produtos custam a partir de R$ 268.

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1. Skate Square. 2. Leo Esteves, CEO da Coqueiro Verde. 3. Roberta Pate, gerente do Spotify. 4. A linha Rock Fellas, da Chilli Beans, homenageia Amy Winehouse, Rita Lee e Ramones.


˜ AKIRA SHIROMA ˜

FOTO: JR LEMOS

RESPEITO À CULTURA

DO SKATE

BRASILEIRO

produtostriboskate@gmail.com

www.triboskate.com.br facebook.com/triboskate twitter.com/triboskate instagram.com/triboskate


LEONARDO ROCHA

áudio // playlist

Bs wall ride no Museu Nacional, Brasília.

EM SUA ENTREVISTA NA EDIÇÃO 80, DE MAIO DE 2002, JORGE NEGRETTI TEM COMO ABERTURA UMA FOTO TOCANDO BATERIA. ATÉ HOJE O CARA ESTUDA O INSTRUMENTO, SEMPRE APRIMORANDO A TÉCNICA, EMBORA NO MOMENTO NÃO ESTEJA TOCANDO EM UMA BANDA. SUAS OUTRAS INCURSÕES NO UNIVERSO MUSICAL SÃO MUITO NO CARRO EM SEUS TRAJETOS PARA ANDAR DE SKATE, POIS O CARA TÁ SEMPRE NA ESTRADA. PEDIMOS QUE ELE PESCASSE EM SEUS ARQUIVOS 10 MÚSICAS QUE OUVIRIA NO TRAJETO ENTRE DIVINÓPOLIS E SÃO PAULO. Pearl Jam, Daughter Infectious Grooves, Groove Family Cyco Joubert Geraldo/Segunda Vinda, Sem Meia Verdade

Escuta som andando de skate? Sim Não

A Tropa, Meu Nome É Dias de Truta, 20 e Poucos Anos Rick Ross/B.M.F. ft Hustlin Rick Ross/B.M.F. ft Styles P Lil Wayne, John ft Rick Ross Lil Wayne, 6 Foot 7 Foot ft Cory Gunz Lil Wayne, Go DJ

Onde você mais ouve música? NO CARRO. Qual marca? RENAULT LOGAN, SOM PRÓPRIO DO CARRO

*Jorge Rodrigues Zacarias “Negretti”, 35 anos, 25 de skate (Traxart, John, Hookah Thug)

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por guto jimenez*

// skateboarding militant

D

IVAN SHUPIKOV

esde os primórdios do skate em nosso país, os campeonatos vêm exercendo uma influência marcante e decisiva em nosso cenário. A partir dos primeiros realizados em meados dos anos 70 até os dias atuais, os eventos sempre tiveram uma função paralela à de provar quem teve o melhor desempenho no dia, a de criar ídolos. Skatistas de várias gerações cresceram acompanhando as performances dos melhores em ação, primeiro através das revistas pioneiras, depois via programas de tevê e vídeos e, mais adiante, via internet. A mídia sempre procurou atualizar sobre o que de mais relevante acontece na cena do skate em nosso país. Como sempre, os meios de comunicação refletem o que acontece no mundo ao seu redor – em nosso caso, no universo de rodas de uretano, eixos de metal e tábuas de madeira. Nenhuma publicação especializada tem o poder de influenciar o cenário com aquilo que retrata, com exceção da própria Tribo Skate; surgida num período de trevas de mercado, praticantes e eventos, o lançamento da revista foi fundamental para o desenvolvimento do skate brasileiro como é hoje em dia, o segundo maior cenário e o segundo maior mercado do planeta. Já fiz algumas viagens pelo mundo cobrindo cenários e eventos dos mais diferentes formatos e tamanhos, e posso afirmar uma coisa com certeza absoluta: nenhum país do mundo leva os campeonatos de skate tão a sério quanto no Brasil. Se não fosse assim, não teríamos conquistado mais de 40 títulos mundiais em 20 anos, em todas as modalidades de skate que você possa imaginar. Somos tão marcantes que criaram até uma denominação específica pra nossa atitude durante as disputas, o tal “Brazilian Crazy Style”, que significa mais ou menos algo como “estilo nas sessões e seriedade nas competições”. Se por um lado todo esse comprometimento com os campeonatos nos trouxe uma boa reputação a nível global, por outro trouxe uma consequência bastante incômoda: muitos levam as competições a sério demais. Até parece que o objetivo principal da enorme legião de mais de cinco milhões de skatistas do Brasil é o de competir e ganhar campeonatos... A questão é que a imensa maioria não pensa assim, já que cerca de 3.000 de nós recebem algum tipo de apoio, suporte ou patrocínio pra andar de skate, isso em todas as modalidades e categorias. Faça as contas: isso dá um percentual de 0,06% do total. Convenhamos, trata-se de uma elite e isso não está errado, já que é o justo reconhecimento a quem se destaca de alguma forma sobre o skate. Toda essa seriedade excessiva e esse percentual mínimo de agraciados nos trazem uma questão: o mais importante é mesmo competir? Nosso mercado não aprendeu até hoje a valorizar e dignificar os chamados “soul skaters”, skatistas que detonam em qualquer tipo de terreno, mas que não entram em competições por não gostarem ou por não sentirem necessidade. Nesse ponto, ainda temos muito que aprender com os norte-americanos... Não podemos jamais perder o foco daquilo que realmente interessa: a diversão. Ainda bem que a imensa maioria não liga muito ou quase nada pras competições, estando mais interessados na satisfação pessoal em primeiro lugar. Seja aprendendo novas manobras ou sendo capaz de manter o desempenho por muito tempo, seja simplesmente sentindo o vento no rosto. Divertir-se precisa ser a maior força-motriz na vida de um skatista. É claro que temos de aplaudir os ídolos, principalmente quan-

RAFAEL TEIXEIRA

O mais importante mesmo é competir?!

Renato Riguetti.

do tiverem conquistado algumas façanhas. No mesmo dia, o skate brazuca mostrou a sua força em dois cenários completamente distintos. Em Los Angeles, Luan de Oliveira ganhou a etapa mais prestigiada da Street League, o circuito de maior audiência do skate mundial. Já na Noruega, o mineiro Thiago Gomes Lessa (o “Cuei”) ganhou a etapa do circuito mundial de dowhill speed em Lillehammer, considerado um dos traçados mais técnicos de todo o mundo. Seja com técnica e manobras em um caso, ou com velocidade e técnica no outro, provaram o quanto os brazucas têm a oferecer ao planeta skate. Palmas pra eles que eles merecem! Nesse mesmo dia, uma ação entre amigos na ZN do Rio acabou se transformando num dos eventos de skate mais divertidos que tive a oportunidade de assistir: o “Concurso Mundial de Deslizamento de Meio-Fio - Modinha 2015”. A brincadeira começava pelo nome, já que cerca de duas dúzias de skatistas cariocas se inscreveram – portanto, de “mundial” só tinha mesmo o título. Pouco mais de 10 metros de meio-fio ligeiramente inclinado foram pintados e preparados pra disputa, na qual os competidores faziam as suas manobras e eram julgados pelos aplausos do público composto de amigos, namoradas, esposas e por quem passasse no local na hora. Mais importante que a vitória de Wilson Domingues – eleito o Modinha Of The Year / MOTY 2015 – foi a forma de protesto bem humorado realizada pelos “organizadores” Wolmin “Dahgrota” e Eduardo “Dinheiro É Papel”: um evento de skate feito para criticar a seriedade que o próprio skate é visto nos dias atuais, resultado da importância excessiva dada às competições. Portanto, a conclusão que se chega é uma só: o mais importante não é competir, e sim se divertir. Ande de skate pra você acima de qualquer outra coisa, pois só você sabe o quanto te faz bem. Todo o resto é consequência e, se não surgir mais nada, você já estará desfrutando de uma das melhores coisas da vida, portanto aproveite!

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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WANDER WILLIAN

áudio // hc

oelefante: BRUTO, SUJO E PESADO INTEGRANTES DO DEAD FISH EM SUA FASE CLÁSSICA, MÚSICOS RETOMAM PARCERIA CRIATIVA NUM PROJETO QUE CONDENSA INFLUÊNCIAS TÃO DIVERSAS COMO BLACK FLAG E HELMET. O PRIMEIRO ÁLBUM VEM AÍ! POR EDUARDO RIBEIRO

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elefante, cujo nome é escrito assim mesmo, tudo junto e em caixa baixa, é um trio formado pelos mesmos músicos que nas antigas constituíram o motor criativo do Dead Fish. Atualmente, só o vocalista Rodrigo Lima continua no DF. Já os irmãos Marcelo (guitarra/bateria) e Gustavo Buteri (baixo) deixaram o grupo em sua fase de ascensão. O Gustavo fundou o Dead Fish junto com o Rodrigo e os demais ex-integrantes em 1991, e ficou na formação até 1996, quando a banda entrou em hiato. O Marcelo voltou com a banda em 1997 e, entre idas e vindas, integrou o conjunto até 2003. Já faz um tempo que os três camaradas vêm arquitetando algum projeto musical pautado por uma estética mais experimental, pesada e aberta do que aquilo que fizeram juntos no Dead Fish. Antes d’oelefante tomar forma, rascunhou-se até umas investidas entre o dub e o industrial, que não vingaram, mas que datam de 2006. Há pouco mais de um ano, em março de 2014, eles finalmente lançaram um EP de estreia do projeto, contendo as faixas “Adaptado”, “Picolé” e “Ode ao Ódio”. O resultado é uma sonoridade massuda e melodiosa, desencavando referências que vão do pós-hardcore ao stoner metal. Pense numa mistura bem acabada de Black Flag, Bad Brains, Quicksand, Snapcase, Queens Of The Stone Age e Helmet. É mais ou menos essa a vibe. Como o Marcelo e o Gustavo moram em Vitória (ES) e o Rodrigo, em São Paulo, capital, o processo de composição e produção das faixas segue um esquema meio quebra-cabeças. Bases, ritmos e vocais daquilo que pode virar música são trocados por arquivos, via internet. E, assim, o repertório vai sendo lapidado. No momento, eles estão trabalhando nos rascunhos que darão forma ao primeiro álbum da banda. A ideia é finalizar pelo menos dez sons antes de fechar o projeto. Nessa onda, troquei uma ideia com os caras para saber mais detalhes acerca da proposta e o futuro dessa empreitada. Chega mais: Um ano depois do lançamento do EP de estreia do oelefante, a minha pergunta é: o que vocês vêm fazendo de lá pra cá? Marcelo Buteri: Então, depois que lançamos o EP, caímos em cima da divulgação na internet, tentando fazer com que o máximo de pessoas conhecesse o nosso som. Show ainda não rolou por conta da agenda de geral da banda. Ainda não estamos totalmente estruturados e o Dead Fish andava até há pouco em processo de composição e gravação do novo disco. Mas muita gente conheceu a banda e gostou. Isso já foi bastante proveitoso, ver uma galera curtindo de verdade o som. Rodrigo Lima: As pessoas envolvidas estão vivendo suas vidas cotidianas, e fechar uma agenda de trampo da banda é bastante complicado.

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O Gustavo acabou de ser pai e tem um bar novo pra administrar, além do seu trabalho regular. Eu estou no meio da turnê do Vitória, do Dead Fish, e ela está dando muito certo, estamos praticamente todos os fins de semana na estrada. Eu tenho recebido os arquivos em casa e trabalhado algumas letras, mas precisamos nos encontrar pra fechar pelo menos uma dezena de sons. Enfim, acho que a velocidade desse processo pode aumentar de dezembro desse ano pra frente, mas não é uma garantia. oelefante atualmente toma o tempo de vocês na mesma proporção que o Dead Fish tomava? Ou, ainda toma, no caso do Rodrigo? Rola um processo diferente, mais laborioso? Rodrigo: Definitivamente não é esse o objetivo. Entrei nesse projeto pra estar com os velhos amigos, de volta ao Espírito Santo e produzindo no tempo deles. O mais legal de se fazer parte de uma banda é estar com os amigos e produzir. Tem sido divertido trabalhar de novo com os caras. São meus amigos de infância. Foi como retomar um contato íntimo que estava perdido em algum lugar entre 2002 e 2013. É muito bom ver o quanto a gente mudou, mas ainda temos aquela coisa de olhar pro outro e saber o que queremos musicalmente. Isso é uma coisa muito rara dentro de uma banda nos tempos de hoje. Marcelo: O oelefante é bem tranquilo. Não tem como colocar a banda num ritmo acelerado. Primeiro, porque o Rodrigo mora em São Paulo e eu e meu irmão moramos em Vitória. Segundo, que ainda não temos um guitarrista (ou um baterista, caso eu resolva tocar guitarra), então é bem na onda, com um objetivo mais elaborado, fazendo as músicas em casa, mandando um para o outro por e-mail, compondo para podermos fazer um disco com pelo menos dez músicas e, aí sim, ter uma banda completa, fazer alguns shows e divulgar mais a banda. Mas o objetivo desde o começo sempre foi mais lento. Já sabíamos disso por conta de todos os nossos outros afazeres. As músicas nas quais vocês vêm trabalhando desde o EP de estreia seguem a mesma linha ou estão ficando diferentes? Marcelo: As novas composições estão saindo mais pesadas. Na real, bem mais pesadas e mais lentas. Estamos tentando novas afinações. Tudo o que estou compondo anda saindo mais pesado e arrastado, mais denso e tenso. Mas acho que só poderemos ter uma visão real da estética quando fecharmos as dez músicas pra valer. Por agora só temos alguns esqueletos, alguns rascunhos e poucas músicas prontas mesmo. Rodrigo: É nossa intenção algo mais lento e denso. Letras mais obscuras e um clima mais pesado mesmo. As coisas que tenho recebido em casa têm me surpreendido positivamente nesse sentido. Tem sido até


hc

complicado me acostumar a cantar um pouco mais lentamente e com notas mais graves. Está sendo uma baita nova experiência. Bruto, sujo e pesado. Assim pode ser descrito o som da banda? Ou preferem enfatizar que oelefante conta com influências mais refinadas, tipo coisas do pós-hardcore e do stoner? Marcelo: Talvez exista um pouco de sujeira proposital [risos]. Bruto, sim. Fazer a banda ser bruta sempre foi a intenção, até mesmo para evitar comparações com qualquer outra banda na qual tocamos e da qual já fizemos parte. As influências são essas mesmo, de bandas da fase pós-hardcore. Tem um pouco de stoner também, mas falando por mim, eu tiro mais influências de bandas da década de 90. “Adaptado”, por exemplo, vem de quando eu estava ouvindo muito o My War, do Black Flag, e conversando com o Rodrigo. Quando ele escreveu a letra de “Adaptado”, coincidentemente também estava ouvindo o My War. Então, sei que não tem nada a ver, mas quando compus os primeiros acordes, foi depois de ter escutado bastante a esse disco. Muita gente compara essa música com o Queens Of The Stone Age, por exemplo, o que eu acho do caralho também. Ouço muito dub, música instrumental. Adoro o Dub Trio, uma banda de Nova York que mistura dub com rock bem pesado, e tenho escutado muito o Macaco Bong, que é uma puta banda daqui do Brasil que faz um som instrumental incrível. Queria essa banda com o oelefante. Gustavo Buteri: Meu irmão já disse tudo. Quanto a comparar nosso som ao QOTSA, acho uma boa, sou muito fã dos caras! Rodrigo: Concordo com o Marcelo, o caminho é ficar mais feio, sim, mas, acho que não nessas músicas que temos. É engraçado como o My War, do Black Flag, entrou nessa. Sou um grande fã desse álbum. E esses dias vi o documentário NOLA, os caras de New Orleans e suas bandas. Eles citam muito o My War do Black Flag no documentário e eu nunca imaginei que bandas como aquelas de New Orleans tivessem esse tipo de influência, foi realmente surpreendente, apesar de que, agora, ficou bem nítido. A minha intenção como vocalista nesse projeto é usar mais notas baixas e letras mais subjetivas, algo entre um Danzig bem mal cantado [risos] e Killing Joke, talvez isso... Não tenho referências de stoner, mas já ouvi algumas coisas que podem ter influenciado de alguma forma, vai saber. Como tem rolado os ensaios e o processo de composição/gravação das músicas novas d’oelefante? Vocês têm feito tudo na independência, gravando em casa, no laptop? Marcelo: Então, vou te contar um segredo... nós nunca ensaiamos [risos]. O processo de composição normalmente é feito aqui na minha casa. Gravo algo no computador, monto as trilhas, e mando pros caras por e-mail. Aí meu irmão escreve uma letra, Rodrigo escreve outras, e quando rola, ele consegue encaixar um vocal e aí a gente vai montando. Acredito que se já tivéssemos um guitarrista ou um batera que se adequasse à banda, sairia mais fácil, pois poderíamos ensaiar aqui em Vitória nós três, gravar algo com ideias melhores e mandar para o Rodrigo encaixar melodia e letra em São Paulo. Eu acho que, hoje em dia, é possível tirar um bom resultado em um home studio tanto quanto em um estúdio profissional, se você tiver o conhecimento e, principalmente, o sangue para a coisa. Já vi muito disco de banda grande em estúdio profissional sair uma porcaria na mão de produtor que não tem realmente as manhas, e já vi banda que está começando produzir seu próprio trabalho em casa, e tirando um puta som, tudo na raça. Acho válidos os dois lados, contanto que exista o comprometimento e o conhecimento para o trampo. Rodrigo: Eu só gostaria de fazer alguns ensaios e fechar um set [risos]. O resto eu deixo na mão dos caras. Para mim tanto faz um estúdio ou o quarto da casa do Marcelo ou do Gustavo. E sobre shows, turnês, essas coisas? Algum plano de agenda pela frente que já possam adiantar para os leitores? Marcelo: Shows, assim que tivermos o disco com as dez músicas e a banda estruturada, com certeza vai rolar. Turnê, sem chances. Existe muita coisa que ocupa demais todos nós, e turnê realmente seria uma parada fora de cogitação. Rodrigo: O que mais quero agora é fazer algo ao vivo do oelefante, estou muito curioso pra ver como ficará ao vivo. Estrada, nem pensar, no máximo lançar o álbum em algumas cidades e é isso. Só de pensar em tour já fico gelado de medo. Qual é a mensagem nas letras da banda? Gustavo: Bom, a letra que escrevi, “Ode ao Ódio”, fala sobre tantos sentimentos ruins praticados por nós, seres humanos, em uma só vida. É quase um pedido de socorro para que sejamos menos escrotos. Rodrigo: “Adaptado” é sobre estar voluntariamente preso a um sistema

// áudio

humano e ocidental de trabalho e de vida e o vazio que todo mundo sente vivendo dessa forma. Às vezes eu escuto o Dead Fish das antigas e penso que ali tem um espírito de urgência muito juvenil. Já oelefante, sugere uma sonoridade mais madura, mesmo. Isso foi arquitetado por vocês na hora de montar a banda? Como veem essa polaridade? Rodrigo: A intenção é fazermos algo sinceramente diferente do que já tínhamos feito durante nossa adolescência e começo da vida adulta. Lembro do Marcelo me desafiando a ser menos óbvio com os sons que ele mandava. É um baita exercício de evoluir e de preservar uma conexão musical ao mesmo tempo. Marcelo: Acho que pelo fato de já estarmos mais velhos, de termos crescido juntos e, principalmente, de definir com antecedência o tipo de som que queríamos para a banda, o processo foi bastante natural mesmo. Para você ter uma ideia, oelefante começou mesmo em 2006, comigo e o Rodrigo tentando fazer algo puxado para um eletrônico Nine Inch Nails, Ministry, Filter. Fizemos até algumas músicas, mas não conseguimos colocar para frente. Mesmo assim, ainda tenho essas músicas gravadas (no caso, gravamos no meu computador, na minha casa) e guardadas. A necessidade sempre foi de fazer algo diferente do que já tínhamos feito no passado, até mesmo com o intuito de experimentar. Já que estamos numa revista de skate, qual a relação de vocês com a cultura do skate, ontem e hoje? E da prática do skate com o hardcore e o metal? Marcelo: Nossa, a relação é total. Se não fosse o skate acredito que todos nós aqui não estaríamos em uma banda, sempre tocando desde muito novos. O Dead Fish foi criado a partir de um grupo de skatistas. Amamos o esporte. Eu não ando de skate tem bastante tempo. Quando ando, saio com o meu longboard, dando rolê no calçadão mesmo, aqui na praia, ouvindo um som, bem relax. O meu esporte, desde os 18 anos, é o jiu-jitsu, que eu amo de paixão. E o skate, com toda certeza, anda lado a lado com o punk, o hardcore e o metal. Assim como o surf também, na maioria das vezes. Rodrigo: Existe um parentesco tenso ali no meio, né? O skate não é como o hardcore, é mais aberto, e foi ali que eu ouvi quase todos os estilos de música que me acompanham até hoje, de metal a EBM. Trazemos esse ecletismo do skate-punk dos anos 80 e 90. Eu ainda dou umas voltas, quero voltar mais forte esse ano, mas nunca parei. Em São Paulo, já morei em lugares onde o skate estava na porta de casa, então pra mim é algo como comer e ler. Gustavo: Adoro skate, já andei bastante. Nossa formação musical originou-se em torno das sessions de skate, e eu levo isso pra minha vida. Sempre que possível tento fazer alguma analogia do skate com as minhas bandas. Infelizmente, hoje não ando mais como há 20 anos, mas ainda tenho meu longboard, para sempre que bater aquela vontade. O Espírito Santo é conhecido no cenário nacional pelo seu hardcore tosco moleque. oelefante chegou para quebrar com este paradigma? Marcelo: [risos] Cara, nem sei o que te responder. Isso é novidade para mim, esse rótulo “hardcore tosco moleque” [risos]. Cara, não... oelefante veio para fazer algo bacana de tocar, algo que a gente curta estar fazendo e que as pessoas curtam ouvir. Gustavo: Pois, é. Sem preocupação com paradigmas. Acho que oelefante resulta da bagagem musical de três caras distintos, amigos e cheios de particularidades, que quando sentam pra fazer música e escrever letra, dá nisso aí! Rodrigo: Eu acredito que esse rótulo seja legal até certo ponto, mas tem muita banda fazendo coisas menos toscas e molecas por lá. A minha intenção é estar perto dos caras com quem cresci junto e fazer algo que possamos ficar satisfeitos. Até agora é só isso. Tem alguma produtora ou gravadora com quem a banda fez ou fará parceria para projetos futuros? Ou a ideia é apostar na independência, crowdfunding, essas paradas? Marcelo: Não, cara. Não tem. Eu até tenho algumas, umas duas, na real, na cabeça, para as quais gostaria de oferecer a banda assim que o disco ficar pronto. Mas por enquanto é na independência mesmo. Gustavo: É isso aí. Por enquanto é na independência. A gente curte muito essa parada de do it yourself, mas sem nunca deixar de ouvir propostas, caso pintem. Rodrigo: Vamos seguir produzindo, quero pensar em gravadoras e propostas quando tivermos algo bom e resolvido na mão. oelefanteoficial.com

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