Tribo Skate #237

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LUAN OLIVEIRA * OSSJ GUARÁ * ALEX CAROLINO * DJ CIA

TAL PAI, TAL FILHO O SKATE NO DNA, SEM FORÇAR NADA

ART PROJECT ENCONTROS EM TODOS OS TERRENOS

MOTIVADORES SANDRO SOARES E O SOCIALSKATE

EDIÇÃO ESPECIAL SKATE AMADOR NICHOLAS DIAS

PARA O ALTO E AVANTE!

LUCAS ALVES

SEM DÓ DE SEU CORPO

AKIRA UTIDA

POR CAMINHOS ÁSPEROS Lucas Alves, hardflip to bs lip Ano 25 • 2015 • # 237 • R$ 12,90

www.triboskate.com.br

GRÁTIS PÔSTER WE ARE BLOOD








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ESPECIAL SKATE AMADOR

TRIBO SKATE 237 OUTUBRO 2015

ESPECIAIS> 30. MOTIVADORES: SANDRO SOARES NOSSO ATIVISTA SOCIAL NÚMERO UM

34. LUCAS ALVES

DOM E DETERMINAÇÃO

42. AKIRA UTIDA

POR CAMINHOS DIFÍCEIS

50. NICHOLAS DIAS

PARA O ALTO E AVANTE

58. ART OF LIFE

A VIDA QUE SALTA AOS OLHOS

63. PAIS & FILHOS

NATURAIS PARCEIROS DE SESSÃO

SEÇÕES>

EDITORIAL.................................................................................12 ZAP .............................................................................................18 CASA NOVA...............................................................................68 NEGÓCIOS E TECNOLOGIA ....................................................74 PLAYLIST ...................................................................................75 ÁUDIO: DJ CIA ..........................................................................78 SKATEBOARDING MILITANT ..................................................80

CAPA: Ele escolheu a manobra mais difícil pra mandar no corrimão mais sinistro, o da Linha Amarela, no Rio de Janeiro. Lucas Alves, um amador que já mostra por que veio para este mundo, não perde uma oportunidade, nem que tenha que submeter seu corpo aos piores maus tratos. Merecida capa, com este power hardflip bs lipslide clicado pelo monstro Pedro Orelha. Foto: Pedro Macedo ÍNDICE: Não é qualquer um que se aventura a se arriscar a andar ao lado de um precipício ao lado. Não contente em caminhar, Pedro Dezzen colocou um grau a mais no desafio do equilíbrio ao subir a estreita rampa com seu skate e mandar um nollie to fakie. Esta foto compõe o acervo do Thomas Teixeira em sua Expo na Cidade Tiradentes “Por Trás do Foco”. Foto: Thomas Teixeira

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editorial //

ESPECIAL AMADOR

A NOVA ERA DO SKATE BRASILEIRO POR CESAR GYRÃO // FOTO MICHEL ALMEIDA

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o completar 24 anos, a Tribo Skate agora faz parte da Norte Marketing Esportivo, a mesma editora das revistas O2 e VO2, do site Ativo.com.br e outros canais tão expressivos quanto estes três nomes. Trazer o skate para a mesma empresa que revolucionou o cenário das corridas de rua no Brasil, é um imenso prazer e um desafio de igual grandeza. Com essa mudança de direção, tivemos que ampliar a comemoração de nosso aniversário para novembro e realinhamos a circulação da revista nesta edição de outubro. E por falar nesta edição, o gancho é o skate amador, aquele que envolve 99% dos praticantes. Para representar a classe, trazemos alguns personagens que fazem o cenário mais interessante, cada um com suas melhores habilidades para renovar o cenário. Uma das situações que mais nos animou na composição com a Norte, foi entender o que seus criadores fizeram com o ambiente da corrida no país, ao constatar que atrás do

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pequeno pelotão de elite (os corredores profissionais que abrem as principais provas), há uma multidão de corredores, que vivem o esporte com paixão e intensidade, mas não dependem dele para viver. Se na corrida de rua eles são cerca de 6 milhões de praticantes, no skate estamos por volta da casa dos 5 milhões. Ter uma retaguarda de veículos de comunicação que orientam as modalidades esportivas e poder participar das dezenas de corridas e eventos, é uma fórmula que une as pessoas em torno do que o esporte e as atividades físicas proporcionam de melhor para nossas vidas. Em 1991, quando surgimos, a Tribo Skate foi uma das molas propulsoras do mercado, servindo como central de informações, estímulo e fomento para as iniciativas de marcas e skatistas para construir a evolução que o skate atesta hoje. Em 2015, seguimos com nossa missão de unir todos que amam o skate, sejam profissionais, amadores ou simplesmente aqueles que usam o carrinho pelo puro prazer que ele proporciona.

Allan Machado é cria do bowl de Parateí, em Guararema. O local é praticamente um bairro rural, mas a criação da pista foi o impulso para que Allan se tornasse um skatista amador atuante da cena. Fs hurricane em Mogi das Cruzes.



ANO 25 • OUTUBRO DE 2015 • NÚMERO 237

Editores: Cesar Gyrão e Fabio “Bolota” Britto Araujo Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Chefe de redação: Junior Lemos Arte: Edilson Kato Publicidade: Fabio Bolota Cezar Toledo Colaborararam nesta edição: Texto: Diogo Groselha, Fernando Gomes, Guto Jimenez, Mauro Utida, Pedro de Luna, Rodrigo K-b-ça Fotos: André Calvão, Carlos Taparelli, Diogo Groselha, Fernando Gomes, Gabriel Klein, Igor Wiemers, João Billy, João Brinhosa, Leandro Moska, Leonardo Laprano, Michel de Almeida, Oleev Torrin, Pablo Vaz, Pedro Macedo, Ricardo Soares, Thomas Teixeira

Norte Marketing Esportivo Diretor-Executivo e Publisher: Felipe Telles Gerente de Conteúdo: Rafael Spuldar Diretora de Criação: Ana Notte Diretor de Arte: Fernando Pires Editora de Arte: Renata Montanhana Editor de Fotografia: Ricardo Soares Produtora: Carol Medeiros Editora On-line: Anna Paula Lima Editor de Vídeo: Paulo Cotrim Distribuição: DINAP Assinaturas: www.assineesfera.com.br Telefone: (11) 3522-1008 Endereço: R. Estela Borges Morato, 336 – Limão – CEP 02722-000 – São Paulo – SP Impressão: Leograf

www.triboskate.com.br A revista Tribo Skate é uma publicação mensal da Norte Marketing Esportivo

As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista.





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Sidnei Magal, fs smith.

Julio Feio, channel fs ollie no bowl. Campeão master.

Dadinho Indiani destruiu entre os grand masters no banks. E brincou no bowl, nas horas vagas: bs grind.

Guará 2015 A volta no tempo não para POR CESAR GYRÃO // FOTOS JOÃO BILLY O skate é um interminável vai e vem. A metáfora se aplica principalmente ao clássico evento de Guaratinguetá, a cidade do Vale do Paraíba, em São Paulo, que desde os anos 80 fincou uma bandeira na cultura do skate, tornando-se uma das principais referências de longevidade. Este ano, mais uma barreira foi quebrada, com a primeira participação da nova categoria, a vintage, para skatistas com mais de 55 anos. Para surpresa de todos, Cesinha Chaves, nosso “skatagenário”, teve dois parceiros de bateria, o mineiro Elton Rato e o Junior Machado, o projetista do bowl e do primeiro banks de Guará, lá do início dos 80. Muitas histórias de superação e um incrível equilíbrio de forças em todas as categorias, com performances brilhantes em todas as faixas de idade. Julio Feio, Dadinho, Bigo, Kuge e Junior foram os primeiros na ordem etária e precisaram andar “de verdade” para conquistar os troféus. 16º ano de Old School Skate Jam: manter-se tanto tempo no vai e vem, de carvings, aéreos, grinds e combos de manobras não é brincadeira, mas tudo é festa em Guará. Obrigado ao Nando Tassara e Alexandre Birds pela organização e parabéns ao Guto Jimenez por merecer destaque em homenagem.

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Master (35 a 39 anos) 1º Julio Cesar “Feio” 2º Nicola Grilo 3º Rogério Troy 4º Marcos Noveline 5º Cristiano Schramm Grand Master (40 a 44 anos) 1º Dadinho Indiani 2º Henrique Migliani 3º Cristiano Mateus 4º Ulisses Muricy 5º Sidnei Magal Legend (45 a 49 anos) 1º James Barbosa “Bigo”

2º Jorge Zunga 3º Marco Aurélio “Jeff” 4º Ari Bason 5º Ed Scander Grand Legend (50 a 54 anos) 1º Jorge Kuge 2º Claudinei Bio 3º Evandro Luis Cardoso 4º Ataliba “Tio Liba” 5º Cesar Gyrão Vintage (55 para mais) 1º Antonio Machado Jr. 2º Cesinha Chaves 3º Elton Rato



[01] O carioca Sergio Santoro já vinha usando o material da Rvca e agora foi anunciado oficialmente como ‘advocate’ da marca no Brasil. Ele que venceu a etapa Brasil do Element Make it Count 2015 e segue a linha de um skate bastante criativo e bonito de se ver. • Depois de mostrar os skills da rua no filme We Are Blood, Vinicius dos Santos recebe as boas-vindas da Legitime Wheels, marca de rodas baseada em Curitiba. E se você não viu o vídeo que marca este início de parceria, adiante-se pois o mano Espetera fez um excelente trabalho de filmagem e edição do mesmo. (fb.com/legitimewheels) • JP Dantas também recebeu os cumprimentos de muitos por onde passou, pelo cabreiro vídeo que fez para lançar seu primeiro promodel de shapes pela Blaze Supply, com ênfase na capital paulista. Mais um vídeo que merece repeat! (fb.com/BlazeSupply) • [02] Marcos Noveline conta com novo patrocíno de shapes. O profissional paulistano agora anda com decks de maple da Emperor Skateboards. (instagram.com/emperorskateboards) • Mantendo a tradição de coroar o “melhor” amador do Brasil, a Drop Dead marca para os dias 24 e 25 de outubro a 7ª edição do Rei da Pista, que acontece na pista Drop Dead Skatepark em Curitiba, que recebe uma reforma geral. Este que é o evento mais relevante para a categoria e já coroou nomes como Yuri Facchini (2009), Percy Jr (2010, 2012 e 2014), Adriano Lachovski Jr (2011) e Thiago Lemos (2013). Acompanhe os detalhes no dropdead. com.br e confira quem será o Rei da Pista 2015! • Continuando com a Drop Family mas agora no terreno de collabs, a marca lançou recentemente uma série limitada de shapes com gráficos de colagens feitas pelo skatista e músico Alexandre Cruz, a.k.a. Sesper. • [03] Ainda falando em collabs e arte, o coletivo artístico paulista SHN estampa uma linha limitadíssima de óculos pela Arnette, marca da Luxottica Group, líder em óculos premium e de luxo. A collab tem como característica o “olhinho”, marca registrada dos murais e trabalhos do coletivo de Americana, interior de São Paulo. (luxottica.com) • O tradicionalíssimo half pipe no Parque da Juventude Città di Maróstica, no centro de São Bernardo do Campo, recebeu uma completa reforma e volta a servir para treinos dos expressivos nomes do vertical no Brasil. A rampa é o maior equipamento público do país com 19,2 metros de comprimento por 16 metros de largura e 4 metros de altura. Mais um ponto para a prefeitura de São Bernardo e sua Coordenadoria de Esportes Radicais. Enquanto isso na capital São Paulo... Nada! • [04] A Casio, fabricante japonesa de relógios e reconhecida pelos produtos de alta qualidade, traz de volta ao Brasil a linha Baby-G, sucesso entre as mulheres durante a década de 90. Repaginados, os relógios femininos contam com três embaixadoras no Brasil, Claudinha Gonçalves, Michelle Des Bouillons e a vert rider Yndiara Asp. Catarinense de Florianópolis e vizinha de Pedro Barros, Yndi tem 17 anos, conta com o apoio da Santa Cruz e é uma das grandes promessas da modalidade. Pablo Vaz, fotógrafo oficial da família G-Shock, assina as fotos que ilustram toda a campanha de relançamento da linha Baby-G. (gshockbrasil.com.br) • Aliás, como você viu em nossa edição anterior, a 236, Pablo Vaz reformulou completamente o seu site onde é possível encontrar muita coisa deste universo que ele domina muito bem! (pablovaz.com) • [05] A disputa pela coroa da grande final Street League 2015 contará com um inédito capítulo a mais, a divisão feminina! Oito garotas, entre elas duas brasileiras (Leticia e Pamela), farão as vezes da categoria preferida de todas aqui na redação, acabando com a hegemonia dos cuecas na liga mais acompanhada do planeta. (streetleague.com) • [06] A Moove Skateboards anuncia a equipe que usa os produtos da marca: os pros Augusto Fumaça e Diego Bigode, mais o amador Gabriel Ros, a menina Isabelle Menezes e o team manager Baltazar (que na verdade é o bulldog do Tom, criador da marca). Os pros têm pro models de decks! • [07] Gian Naccarato anuncia novo patrocinador! Trata-se da John Roger, que agora faz a cabeça do profisional, abastecendo seu armário com uma completa linha de bonés. (johnroger.com).

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FOTOS DIVULGAÇÃO

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#BONDEDAZAMIGAS // POR @PEDROORELHA PEDRO MACEDO É UM CARIOCA QUE COLOCA EM EVIDÊNCIA O SKATE DO SEU ESTADO, SEJA EM FOTO OU VÍDEO, COMO VISTO EM SEU PRIMEIRO GRANDE PROJETO, O DO RIO. CONVIDADO A OCUPAR A COLUNA DESTE MÊS, ELE NOS TROUXE UMA FARTA DOSE DO ATUAL SKATE FEMININO FLUMINENSE.

Da esquerda pra direita, de cima pra baixo: 1. @Miimis_, ollie, Praça Duó. 2. @Belzz_, feeble to fakie, Praça XV. 3. @Isabelaskt, blunt to fakie, Engenhão. 4. @Camiilaoliveiraa, heelflip, Ditch da Praça Seca. 5.@Biacristinars, fs noseslide, Briza Irajá. 6. @Vihskaterj, bs ollie, monumento da Bailarina. 7. @Biasodre, flip, Praça XV. 8. @Anairamdeleon, fs rock, Lagoa. 9.@Pipasouza, nollie bigspin, metrô Flamengo.

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Luan Oliveira O brilho da estrela QUANDO ESTA EDIÇÃO ESTIVER CIRCULANDO, LUAN OLIVEIRA JÁ PODERÁ SER O NOVO CAMPEÃO DA STREET LEAGUE SKATEBOARDING. SE ISSO NÃO ACONTECER, MESMO ASSIM O MUNDO INTEIRO ESTARÁ COMEMORANDO O ROLÊ DE UM DOS MAIS CARISMÁTICOS SKATISTAS DE TODOS OS TEMPOS. COM MAIS DE 570K SEGUIDORES NO INSTAGRAM, MAIS DE 719K NO FACEBOOK E UMA TORCIDA VORAZ O ACOMPANHANDO NOS EVENTOS, O GAÚCHO DE PORTO ALEGRE CONTINUA O MESMO CARA ACESSÍVEL E DE ALEGRIA CONTAGIANTE QUE ACOMPANHAMOS DESDE CRIANÇA. PARA SURFAR ESTA ONDA DA FAMA, ELE SEGUE COM A PARCERIA DE AMIGOS COMO CEZAR GORDO E O RAFINHA, SEU AGENTE, QUE O ACOMPANHA O TEMPO TODO EM SEUS COMPROMISSOS. NESTA EDIÇÃO ESPECIAL SKATE AMADOR, TRAZEMOS UM BATE-PAPO COM ESTE PROFISSIONAL QUE ESTÁ BRILHANDO COMO NUNCA E TEM MUITO AINDA PRA APRESENTAR. POR CESAR GYRÃO // FOTOS PABLO VAZ Você abriu o ano vencendo em Tampa, não foi bem em Barcelona, mas emendou duas etapas da SLS com vitórias, Los Angeles e New Jersey. Como está se sentindo para encarar a Super Crown em Chicago? Estou bem confiante e feliz de ter a oportunidade de estar na final de um dos campeonatos mais importantes do skate. Normalmente você não perdoa nas voltas de um minuto, distribuindo manobra em cima de manobra sem errar. Já sai se garantindo, mas na hora de entrar com suas melhores cartadas mantém o sangue frio por estratégia. Nessas horas, você estuda seus adversários ou é você com você mesmo? Nessas horas a única estratégia é me preocupar com o meu skate, minhas manobras e o resto vem naturalmente. Com tudo que você tem que administrar hoje em dia, a entrada do Rafinha na sua vida foi fundamental. Como está sendo caminhar com um agente ao lado? Pra mim, sinceramente, tá sendo perfeito, tanto como profissional, quanto como pessoa. Essa ideia que o Gordo teve de colocar o Rafinha para me assessorar foi mais que perfeita, pois nos damos super bem, nos divertimos e alcançamos nossos objetivos juntos. “Viver o sonho” é uma frase recorrente em suas entrevistas. Nos episódios do PUSH você mostra de onde veio e o

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longo caminho percorrido. Este é o melhor momento de sua vida? Com certeza esse é o melhor momento da minha vida. Quem me conhece e vive diariamente comigo sabe o quanto sofri na vida e o que já passei. Graças ao Rafinha e ao Gordo eu tenho a oportunidade de viver meu sonho, que é andar de skate, viajar e ser reconhecido por isso. Isso não tem preço. Depois de ganhar um skate do Nilton Neves, outro pro brasileiro que lhe deu suporte pra crescer no skate foi o Cezar Gordo, da Matriz. Hoje você é sócio dele, no Spot e nas lojas. Como é crescer profissionalmente ao lado dos amigos? É um orgulho enorme poder correr junto com o Gordo e aprender com ele. Sempre o admirei como skatista, empresário, etc e é isso o que eu quero pra mim. Ser importante não só andando de skate, mas sim ajudando o skate a crescer mais. Esta é uma edição especial com skate amador. Seria certo dizer que como amador você tinha menos pressão e podia experimentar errar mais que agora? Sim, acho que com o tempo todos vão amadurecendo e aprendendo que skate não é pra sempre. A pressão tem o lado bom e ruim, mas sinceramente, sempre levei pro lado bom. Me faz crescer como pessoa e competir comigo mesmo em algumas coisas, que acabam se concretizando.

Recentemente você teve uma bela entrevista e a capa da The Skateboard Mag, que agora faz parte do The Berrics. O que significa ter estes grandes registros impressos, em revistas internacionais e aqui nas brasileiras? Significa muito pra mim, pois quando comecei a andar de skate nunca imaginei que poderia ter a oportunidade de ter uma vídeo parte pra um site tão importante e muito menos ser capa e ter entrevistas nessas revistas respeitadas tanto aqui no Brasil quanto fora do país. Você é o skatista mais querido pelo público nos últimos anos, nas votações da SLS. Tanto que teve a oportunidade de sugerir desenhos para a etapa de New Jersey. Quais foram as ideias para a área? Ficou como queria? A ideia era colocar algo que representasse o Brasil ou até mesmo a Matriz Skateshop. Sempre levei comigo o Brasil e a loja que mais me apoiou até hoje, e sempre que vem ideia de pista ou algo relacionado eu penso nos dois. Acho que a pista ficou perfeita, do jeito que eu queria que ficasse. Para finalizar, com tanto assédio que está tendo hoje em dia, quando você se sente mais solto, mas livre? Toda vez que estou andando com os meus amigos, ou viajando com o Rafinha etc. Quando estamos em casa jogando video game e zuando.


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Halfcab bluntslide flip 270 out. Guangzhou, China.

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ALEX CAROLINO PRATICAMENTE NÃO HÁ UM DIA SEM SESSÕES DE SKATE PARA ALEX CAROLINO. SUA PRESENÇA OSTENSIVA, NO BOM SENTIDO, JÁ É UMA REFERÊNCIA EM SEU CANAL DE YOUTUBE, QUE REPERCUTE EM VÁRIOS OUTROS MEIOS. O CARA É UM DOS PROFISSIONAIS MAIS RESPEITADOS DA CENA DO STREETSKATE BRASILEIRO E TEM BOA EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL, EXPRESSA-SE TÃO BEM COM AS PALAVRAS QUANTO COM OS PÉS NO SKATE. VALE MUITO A PENA LER ATÉ O FINAL SUAS IDEIAS AQUI NO LINHA VERMELHA. ELE SABE QUANTO VALE UM BOM CONTEÚDO. APROVEITE.

// ALEX CAROLINO 30 anos, 24 de skate Curitiba, PR Patrocínios: DC Shoes, Cisco, Everlong, Skullcandy, Diamond Supply, Souljah Griptape e Tensor Trucks

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testado. Por isso, se você anda de skate, se você segue os manos, reflita sobre seu comportamento, suas atitudes e sobre o que você quer da sua vida. • Alex, como é pra você ter essa grande influência universal e manter a humildade sempre? Desde que o conheço está sempre sorrindo e buscando dar atenção, motivando a sessão. Sou seu fã, por quem você é! (Bruno Felipe “Kbelo”) – Cara, é o natural. Não posso dizer que não tenho problemas, mas tenho minhas limitações, como todo mundo. O que procuro é prestar atenção na minha mente, nas minhas emoções, e sempre passar pros outros o que eu espero também. Porque quando você é positivo, quando você passa uma energia possitiva, aquilo volta pra você. Às vezes, quando alguém cola com uma energia um pouco negativa, uma vibe assim, ao invés de você potencializá-la, você a neutraliza com sua paz e com seu bom humor. • Com sua experiência morando fora do Brasil e recebendo apoio de marcas internacionais, você acredita que o skatista brasileiro encontra nas marcas nacionais a mesma atenção e suporte que nas marcas gringas? Consegue dizer as principais diferenças entre as gringas e as nacionais? (Joas Henrique) – Acho que as marcas não têm muita diferença, meio que na maneira de conduzir os negócios ou quando estão em crise! Mas o

IGOR WIEMERS

• O que mudou na cena skate brasileiro de quando você começou pra agora? Você acredita que o skate ganhou maior visibilidade ou ainda precisa de mais esforços para crescer? (@evelinsarah) – Acho que a cena do skate brasileiro mudou muito da época que comecei pra cá. Hoje a tecnologia traz muita informação pra galera, o mercado está globalizado, as grandes marcas estão aqui, o produto está acessível, os skatistas internacionais estão vindo pro Brasil pra produzir, então a molecada está tendo mais contato. Tudo isso ajuda a cena a evoluir. Os equipamentos também estão mais acessíveis. Acho que o que precisa na cena do skate brasileiro, para dar o boom de vez, são mais profissionais qualificados, para atuar nos vários âmbitos do mercado. • O que você escolheria: Não ter reconhecimento nem patrocínios e poder andar com seus amigos ou ter reconhecimento e patrocínios e não poder andar com seus amigos? (@lferreiraa_) – Cara, prefiro o equilíbrio entre as duas coisas, sabe? Tipo, poder ter reconhecimento sim e também poder estar com meus amigos. E os amigos são algo precioso que a família do skate nos traz, porque você sempre vai estar fazendo tour, vai estar em contato com novas pessoas. Claro que nem todo mundo que você conhece ao longo do caminho vai ser seu melhor amigo, e tal. Mas é um equilíbrio. O skate é isso, uma grande família, tá ligado? • O que você acha que está sendo a influência da molecada hoje no skate? (@ junior_011tt) – Acho que a influência da molecada está sendo boa porque o acesso à informação está bem maior. Ao mesmo tempo tem informações que não são legais, maus comportamentos, que também estão aí. Vai da molecada, do que ela tem na cabeça, pra ir separando. Mas hoje, sem dúvida nenhuma, está muito boa. Tem muitos brasileiros ganhando o mundo andando de skate, bastante pessoas com história de superação e crescimento, o que é muita inspiração. Realmente as influências hoje estão boas, ao mesmo tempo em que tem muitas coisas ruins que quem tiver a cabeça mais fraca, que tiver indo no embalo, acaba caindo. O processo evolutivo de todo mundo passa por altos e baixos, você vai estar sempre sendo

que acontece é que tem muitas marcas que são grandes e elas conseguem oferecer um suporte maior. O skatista é mais valorizado, a parte de produção de conteúdo (vídeo) é muito mais profissionalizado. É dado muito mais valor para todos os profissionais envolvidos! O que eu vejo das marcas no Brasil, às vezes, é essa falta de cuidado ou de atenção com esses profissionais, que fazem o bagulho acontecer. Desde o skatista, o fotógrafo, o videomaker, o designer e o pessoal direto também, no caso das fábricas, distribuidoras e lojas; todo mundo que faz parte deste processo. Porque a gente anda de skate por amor: nascemos, crescemos e nos envolvemos com isso! No final das contas é a gente que gera conteúdo, emoção e incentiva o consumo, porque a galera vai consumir os produtos das marcas que estamos usando e mostrando. Acho que a diferença entre as gringas e as nacionais, é isso: dependendo do tamanho da marca, é a atenção e a estrutura que é dada pra todos os profissionais envolvidos e pro mercado, como um todo. • E aí Carolino, qual foi sua reação quando soube que iria participar do We Are Blood? (Rhuan Tavares) – Cara, fiquei muito feliz! Já sabia do projeto, do que estava acontecendo, como estava sendo a produção e a galera envolvida. Pô, muito style, fiquei muito feliz! Isso aí pra mim, como atleta, pessoa e profissional, só somou. Foi uma experiência muito boa, uma



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ALEX CAROLINO viagem muito boa, uma trip da hora. Todas as sessões foram pesadas, os moleques monstros. Parte de produção, sem comentários, também. • Você já fez parte de muitas marcas brasileiras e internacionais, assinando muitos produtos. Hoje em dia os produtos evoluíram muito e utilizam tecnologias cada vez melhores. Na sua opinião, é possível hoje utilizar um skate somente com peças nacionais? (Moisés Lúcio) – A tecnologia evolui, os processos de produção estão cada vez mais disponíveis em países como o Brasil. Muitas marcas já estão usando isso como parte de sua estratégia, fazer a sua produção interna. Várias marcas internacionais estão licenciadas no Brasil. Mas assim, skate feito todo no Brasil é possível de andar, mas não vai ser um skate de alta performance. Mas é porque não tem gente que queira investir o que é preciso pra fazer isso. Mas assim, esse é o futuro! Ele está aí, está chegando e cada vez mais vai estar disponível. A China, que é a grande fábrica do mundo, está começando a fechar as portas pra fora e se concentrar mais no mercado interno. Isso está abrindo as possibilidades pra países como o Brasil crescer nesta parte. Mas hoje um skate todo nacional não vai ter a mesma qualidade de um skate gringo top! • Como foi todo o processo de filmagem pro vídeo da Lordz; as viagens e os perrengues? (Hyago Danilo Pereira) – As viagens pra filmagem do vídeo da Lordz foram um momento único. Ali comecei a minha carreira internacional, comecei a viajar. Conheci pessoas maravilhosas, o time da Lordz, que são vários manos franceses e de outras nacionalidades, que formam uma família lá e continuam sendo até hoje. São pessoas que tenho muito carinho! A maior dificuldade que tive no primeiro momento foi a barreira da língua, de me comunicar, pra me alimentar. Mas aí como sempre me joguei, eu nunca tive vergonha de falar alguma coisa errada, de usar um gesto, desenho ou até foto pra me comunicar. Foi muito da hora, são memórias que ficam pra sempre! • Ao longo dos anos você construiu uma carreira irretocável, videoparts, entrevistas, boas colocações em campeonatos e contratos com marcas expressivas. Seu destaque não esteve restrito apenas às manobras, seu canal de vídeos, com certeza, foi um dos primeiros no cenário de skate no Brasil. Você acredita que esta ferramenta é fundamental para que seu nome permaneça em destaque para a nova e velha geração do skate? (Eliézer Dantas) – Com certeza, a presença no ambiente digital, nas redes sociais, é indispensável

para qualquer figura pública, no momento que a gente vive. Grande parte da geração mais nova, que acompanha meu trabalho, a informação chegou pra eles através desses canais. Então, gosto de gerar conteúdo e com certeza isso é muito relevante pra mim, pra minha carreira e pra manter divulgando meu skate, as marcas que me patrocinam, os produtos! • Já andei algumas vezes com você na Cisco Plaza e percebi que você sempre leva sua caixinha de som. Qual música você mais curte ouvir no rolê? E o que você faz com seus shapes usados: guarda, devolve para a Cisco ou doa para alguém? (Marcelo Henrique Massoqueto) – Gosto de ouvir desde Jay Z, Kanye West, Wu Tang, Krs One, Common, Kamau, Racionais, Síntese. Aaahhh de tudo, mano! Do rap, ao raggae, o pop, ao clássico, mano. De tudo mesmo, mas andando de skate é mais o rap mesmo! Os meus shapes usados, geralmente e dou pro molecada. Às vezes eu deixo nos picos, tipo: troquei meu shape e deixo o usado ali escondido, faço um post falando pra galera que é só pegar. É isso! • O que você acha da Street League? Já se imaginou correndo esse evento? (Saulo Souza) – Acho que é um evento revolucionário, sabe? A visão empreendedora e profissional do Rob Dyrdek, que idealizou este evento, é anos luz à frente. É o tipo do evento que ajuda a posicionar o skate de uma maneira mais profissional, de uma maneira que os pais vão ter uma referência também. Tipo, eles pensam: “meu filho quer andar de skate, mas o que é isso? É aquele monte de maloqueiro na rua ali, andando de skate, vagabundeando?” Não! É um esporte que existe profissionais, todo um mercado bilionário e que é monstro. Eles podem olhar esse evento e ver que é ali que o filho pode chegar. É nesse evento e futuramente nas Olimpíadas. Isso abre mais portas pro skate, para empresas de diferentes setores usarem a imagem do skate. Como já vem sendo feito hoje, voce vê campanhas publicitárias que têm o skate ali inserido em suas peças. É o skate ganhando cada vez mais espaço! Me imagino, sim, correndo esse evento. Preciso estar bem preparado porque é punk: bordas e corrimãos altos; não é o meu tipo de skate, necessariamente, mas a pista mudou um pouco, né? Desse ano pra cá já está mais a minha cara. Mas estou trabalhando pra isso e buscando conseguir. Se Deus quiser, em 2016 estarei lá na Street League. Vamos pra cima! * Pergunta escolhida: Eliézer Dantas, que leva o kit com materiais DC Shoes e Cisco.

Próximo enfocado: RICARDO DEXTER Envie perguntas em nossas redes sociais (Instagram, Twitter e Facebook) com a referência #LinhaVermelhaTS. E se preferir, no site há um formulário para também enviar perguntas. Participe!

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Ss bs flip, Freguesia do Ó, São Paulo/SP.


IGOR WIEMERS

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motivadores // sandro soares

SANDRO SOARES

NOSSO ATIVISTA SOCIAL NÚMERO UM NÃO ESPERE OUVIR ISSO DELE, MAS SANDRO TESTINHA É A PRINCIPAL REFERÊNCIA BRASILEIRA QUANDO SE FALA DE INCLUSÃO SOCIAL NO SKATE. JUSTAMENTE SUA CAPACIDADE DE NÃO SE CONTAMINAR PELA NOTORIEDADE CONQUISTADA O ELEVA À CATEGORIA DE UM MOTIVADOR NATO. HUMILDE, INCORRUPTÍVEL, INCANSÁVEL. NÃO FAZ MARKETING PESSOAL PARA VENDER SEU PEIXE, NÃO PRECISA DE HOLOFOTES, POR ISSO MESMO TODOS QUEREM ESTAR AO SEU LADO. POR CESAR GYRÃO // FOTOS THOMAS TEIXEIRA

E

le foi um dos ativistas agraciados pelo prêmio Trip Transformadores, de 2013, talvez a maior homenagem que alguém que faz o bem possa ter hoje no Brasil, por reunir tantas pessoas legais que nos fazem querer ser melhores a cada dia. Sua ONG Social Skate vai contagiando tantas e tantas obras e pessoas que arregaçam as mangas para mudar o mundo. No mínimo, para diminuir a distância do fosso que separa as classes sociais, quem não tem muitas oportunidades, quem pode fazer a diferença se tiver a mínima atenção, o mínimo carinho. Sandro, você foi colunista aqui na Tribo Skate durante tantos anos, quando mostrou muita gente que faz bonitos trabalhos com o skate, além de defender suas ideias e pontos de vista. O que o skate pode contribuir para melhorar o mundo? Ter sido colunista na Tribo Skate foi uma honra, pois cheguei a pegar um pouquinho da fase pré-internet que ainda era uma ferramenta restrita aos PCs e não na palma da mão como hoje, então a revista ainda era o principal meio de informação que tínhamos e recebia muito material de todo o Brasil se inspirando no projeto pa-

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ralelo que eu tinha dentro da Fundação Casa, que durou 10 anos. Acredito que essa fase de minha vida foi onde percebi que podíamos espalhar as sementes da Manobra do Bem (nome da coluna) por todo o Brasil e até fora dele. Já que está mais que provado que o mal se espalha rápido, cabia a mim fazer onde espalhar o bem e foi nessa que o skate contribuiu e muito para melhorar nosso mundo. Todos os dias a Social Skate atende crianças, jovens e famílias em sua sede, a sua casa no bairro de Calmon Viana, em Poá. Mas, é no sábado que rola a escolinha que se torna um evento fixo. Como são essas atividades? Pois bem, cansado de depender do poder público, políticos e politicagens para fazer a coisa acontecer, eu e a Leila (minha esposa e pedagoga formada) “empinamos” os narizes e resolvemos montar nossa própria organização, a Social Skate, com duas rampas na rua de casa, três skates para emprestar, uma fila de crianças e uma máquina digital para registrar tudo e dar nosso “grito” de independência nas redes sociais; porém sem estrutura pública nenhuma. Ou seja, sem grana nenhuma, resolvemos então trabalhar em empre-


gos formais no horário comercial, investir nossos salários na ONG e atender a galera em nossas horas vagas durante a semana e com mais tempo aos finais de semana. Sem dia de folgas, e ainda com a parte pedagógica da Leila com acompanhamento escolar, familiar, atividades culturais e musicais, além do skate. Conforme a galera foi crescendo, surgiu a necessidade do encaminhamento universitário e profissional, pois aqui não alimentamos o sonho de que qualquer um pode viver só de skate no Brasil. Desde que você, a Leila e família participaram do programa do Luciano Huck, no quadro “Um por todos, todos por um”, toda uma reforma na sua base foi feita. Além de melhorias na casa, com a participação de voluntários e doadores, a ONG recebeu materiais para desenvolver trabalhos e até um caminhão. Isso foi em março de 2014. Após um ano e meio, como tem sido para manter a estrutura? Veja bem: a televisão vende um produto aos anunciantes. Seremos eternamente gratos à produção do programa por escolher nossa história entre milhares de boas histórias para mostrar ao Brasil e conseguir que os patrocinadores investissem no quadro. Foi ótimo, ponto. Porém essa história que a comunidade correu junto conosco, etc, foi só pelos 15 minutos de fama. Depois que a TV foi embora, só ficaram os mesmos que sempre estiveram aqui. Para ter uma ideia, tem um cara aqui de Poá que tem uma influência lá na Globo que enfiou um monte de gente para participar do quadro; gente que eu nunca vi na vida e que nunca mais voltou aqui. Gente da família dele, etc. O cara chegou ao ponto de fazer testemunho em igreja dizendo ser ele o responsável pelo programa vir aqui ajudar uma pobre família, no caso a minha. Por sorte esse cara nunca mais teve coragem de pisar aqui novamente. Eu credito (dou crédito) que quem foi a primeira pessoa a dar pilha para eu escrever uma carta

ao programa, quatro anos antes, foi a Cecília Mãe, que trabalhava na Tribo Skate conosco. O resto é história para boi dormir. E, finalizando, tudo o que ganhamos estamos usando em prol do projeto. O caminhão, chegamos a usar no fim do ano passado para levar socorro às vítimas das enchentes no Litoral Norte de SP. O custo de tudo que ganhamos é alto e para manter tudo funcionando não resta outra alternativa a não ser trabalhar, trabalhar e trabalhar. Seu discurso no prêmio Trip Transformadores de 2013 foi longo e muito aplaudido. Com tanto entusiasmo e alegria por ter entrado naquela lista de pessoas que fazem o bem, você citou personagens do skate como o Chorão e o Bob Burnquist, nós da revista Tribo Skate e outros. Esse foi um dos grandes momentos de sua vida? O Trip Transformadores é um prêmio que eu sempre admirei. Um prêmio honesto onde não se paga “jabá” para receber. Tem que ser bom mesmo. Ficava fulo, a cada ano em que não era escolhido pelo trabalho com o skate na CASA. Era tipo aquele campeonato que você quer ganhar, aquele que tem todo ano e você quase ganha (risos). Eis que, em 2013, fui escolhido para ser homenageado entre 10 pessoas, que na opinião da Trip podem mudar o Brasil e o mundo. Não tinha como não fazer aquele baita discurso (depois dessa edição passaram a limitar o tempo de cada um no palco - risos), pois os editores da Trip, Paulo Lima e Carlos Sarli, eram os “pais” da Overall, a primeira revista de skate que eu vi na vida e parte da galera da Tribo Skate trabalhou lá. O Bob no palco, me entregando o prêmio e dizendo que por causa de trabalhos como o meu, ele se orgulha de ser skatista, me deixou muito louco ali. Então eu quis falar de tudo e agradecer muita gente que sempre me deu incentivo. Não podia deixar de falar no Chorão (RIP), é claro, pois ele me ajudou muito. Com certeza foi um dos grandes momentos da minha vida e, a partir

Quanto mais se lê, mais fácil é para se expressar.

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motivadores // sandro soares

O trabalho na Fundação Casa, foram dez anos que considero como minha faculdade e pós-graduação nos trabalhos sociais com skate. dali, surgiu uma cumplicidade grande com a Trip. Estamos sempre em contato. Sempre que se pensa em Sandro Testinha, logo vem à lembrança os seus 10 anos de atuação na Fundação Casa. Você passou a trabalhar lá depois de uma apresentação com a equipe Son, do Andre Genovesi. Como surgiu o convite? Foi você que se apresentou para fazer algo com a molecada? Foram dez anos que considero como minha faculdade e pós-graduação nos trabalhos sociais com skate. O primeiro dia que pisamos lá, foi sim, nessa demo. Mas não foi bem assim de sermos convidados, não: o Robson Barbosa, um agitador do skate no centro, tinha amizade com o (Marcelo) Spanto (RIP), que era meu sócio na marca TYPO Skateboard e ele tinha acesso livre na Febem (hoje CASA). Ele cantou a bola ao Spanto, que engendrou a equipe da TYPO para dentro de lá. Nós tínhamos um diferencial, pois além de andarmos de skate, tínhamos o grupo de Rap da marca, o “De Olho no Crime”. Eu dançava Break e tinha um figura, o Ronaldo Salomão, vulgo Dois Metros (RIP), que tinha mais que 2 metros de altura e roubava a cena sempre, com seu jeito “assustador e divertido”. Enfim, caímos nas graças da molecada por se identificarem conosco e acho que o Guilherme, dono da Son e pai do Andre, não curtiu muito não; mas, enfim, todos estiveram lá e somente eu continuei retornando durante 10 anos, levando o skate para o alcance de todos, ora como voluntário, ora como contratado. Cheguei a levar até uma parte da galera para assistir aos treinos da Megarrampa em SP, que foi um momento especial em 2011. Depois o governo nos cortou de lá, mas ficaram as boas histórias. Sem mais. Essa é uma pergunta batida, mas sempre é bom lembrar: de uma hora para outra, depois de 10 anos de trampo na fundação, você foi cortado. Não se abateu e usou a experiência para criar alguma coisa na sua região. Como foi isso? Esse foi o principal motivo de começarmos a ONG Social Skate. Fui limado da Febem em janeiro de 2011 e, em fevereiro, junto da Leila, começamos a ONG. Já devo estar trabalhando uns 15 anos direto sem tirar férias (risos), com a Social Skate. Pode mudar governo, papa, técnico do Corinthians que nós vamos continuar, pois somos 100% independentes. É inegável que você tem um discurso afiado que coloca o público para refletir, seja num diálogo com um amigo ou numa grande palestra. Você sempre teve essa facilidade para se expressar? Sim, sempre tive e acho que é por conta de ter começado a ler bem cedo. Lembro até hoje que li uma revista em quadrinhos dos Trapalhões, com cinco anos de idade, indo de trem para Rio Claro/ SP, antes mesmo de estar na escola. Demorou a viagem inteira de

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ida e de volta para eu terminar, pois toda hora perguntava o significado das letras para minha mãe. Depois entendi que quanto mais se lê, mais fácil é para se expressar, falar em público, etc. Ler é o segredo. Você tem sido convidado para trabalhar direto com locução de eventos de skate e já assumiu inclusive a bronca de falar para outras modalidades. Sua escola de locução e comentarista surgiu quando? Quem foram suas referências nesta área? A primeira vez, foi na marra (risos). Foi num campeonato na Rua da Sorte, na Cidade Tiradentes. Os moleques causaram tanto que o locutor largou o mic e deixou o evento na mão, aí o saudoso Spanto falou: “vai lá e narra a final, já que você gosta tanto de falar.” Aí peguei o mic e fiz a final. Lembro que os mirins, bem pequeninos, eram o Dênis Silva e o Elton Melônio, hoje dois dos melhores streeteiros do Brasil e do mundo. A partir daí, passei a observar o mestre Paulinho Rude, o Wilson Ito, que me narrou na Prestige umas vezes, e o Kamau, que começou a narrar também. Tem muita gente boa: o Cid Sakamoto, aqui de Mogi (das Cruzes), é muito bom. Também tem o (Fernando) Juruna, o Betinho (Mendes), entre outros. Eu narrei mais de 100 etapas do Sampa Skate. Acho que é um recorde, pois nem tem mais tanto evento quanto o Sampa Skate. Depois que o (Marcio) Tanabe saiu e outra galera organiza eventos na capital, nunca mais fui chamado. Acho que eles não gostam de mim (risos). Mas, em compensação, narro todos, ou quase todos os eventos produzidos pela Goma, que são os melhores, que estão rolando sempre para grandes marcas. Esse ano, narrei um em Santo André com a adidas. Tinha uns gringos na produção e no final um deles me elogiou e agradeceu. Nem percebi nada: uma semana depois, assistindo ao Dew Tour, vi que era um dos comentaristas (não lembro o nome do cara). Fiquei feliz que o cara gostou, mesmo sem entender nada do que eu dizia. Acho que ele sentiu a energia e a galera correspondendo. Voltando ao que você ganhou do programa do Luciano Huck, teve a viagem para os Estados Unidos, com a família. Lá você foi até a casa do Bob, encontrou com o (Vinicius) Vina da Next Up Foundation, cruzou a lenda do skate brasileiro (Antonio) Thronn… Quais foram os melhores momentos desta viagem? Isso mesmo, teve essa parte que tínhamos que gravar para o quadro que foi muito louca, pois eu saí de casa com R$ 5 reais no bolso e voltei com os mesmos R$ 5. Foi tudo pago pela produção: o nosso guia, intérprete, produtor e skater Akira Matsui, nos tratou como reis. Fomos eu e a Leila e as crianças ficaram “luxando” no RJ (risos). Sim, ter estado em Venice com o Thronn foi animal, pois ele é gente nossa. Os rolês com o Bob foram legais para assistir, pois não tem como acompanhá-lo na sessão na megaramp etc. O melhor


momento foi com o Vina, na Next Up, pois é um projeto inspirado no nosso. Ele tem essa humildade de dizer isso, o que me orgulha muito e o lance que ele faz lá, é na raça, como nós aqui. As crianças são parecidas com as nossas. Foi o momento que eu e a Leila nos sentimos em casa. O Alessandro McGregor é um de seus parceiros no desenvolvimento de projetos juntos com sua ONG. As atividades com o livro Amigo Skate, de autoria dele com ilustrações do Kleber Moraes, estão entre estes projetos. Você está curtindo este resultado? O McGregor é amigo de “milianos”. Ele trouxe um ótimo projeto com o livro Amigo Skate, mas aqui da ONG, a primeira a comprar a ideia foi a Leila, que passou a fazer a leitura do livro em ações com ele. Eu entrei depois, com a clínica de skate após a leitura do livro e acabou surgindo algo inédito do tipo bate-papo com o autor, leitura do livro com a Leila e vivência do personagem andando de skate com o Sandro Testinha. Da leitura para a vida real, tudo com skate é excelente. O resultado é que quem chega achando que só vai ler o livro, acaba podendo andar de skate. A Renata Lopes sempre estimulou a família Social Skate a se ligar à REMS, a Rede do Esporte pela Mudança Social, que reúne diferentes personagens da área. Em que pé está isso? A Renata sempre acompanhou a REMS, mesmo sem fazer parte dela. Para fazer parte, não basta querer, tem que ser indicado e aprovado pelos membros da rede. Estamos lá há uns três anos e só tem ONGs e Institutos renomados. A maior parte de ex-atletas campeões mundiais e olímpicos. Nós somos o irmão pobre da rede (risos), mas eles reconhecem nossa importância e valor. Dizem que nenhum ali talvez atuaria durante 10 anos em uma Febem, como eu fiz. O lance ali é na base de troca de informações, ajuda mútua e tem até uma atuação política cobrando dos poderes públicos movimentos a favor de ações sociais e esportivas de forma efetiva e séria. A rede nos levou para Brasília para cobrarmos a manutenção da Lei de Incentivo ao Esporte Federal, que nesse ano corria o risco de ser extinta. É uma galera guerreira que faz por onde. Tudo gente boa. Hoje já tenho conseguido colocar a Renata como nossa representante em conversas com eles e acredito que ainda vamos colher muitos bons frutos, lá. Antes disso você participou da Caravana do Esporte, da jogadora de vôlei Ana Moser e seu Instituto Esporte e Educação, ligado ao canal ESPN Brasil. Foram muitas viagens? Como eram? Poxa, na verdade, devido ao meu trabalho na Febem, só pude ir em uma, que foi a estreia do skate na Caravana do Esporte em Ubatuba, litoral de SP, com um método desenvolvido pelo professor Flávio Ascânio. Como ele não pôde estar presente na ação devido a compromissos profissionais, eu entrei para a história como o primeiro a colocar o skate na Caravana do Esporte. Eram várias modalidades com vários atletas renomados participando, mas o ruim é que as ações eram voluntárias e eu, como bom pobre que sou, não consigo pagar minhas contas e pôr comida na boca dos meus filhos somente com serviço voluntário (risos). Acho que a caravana tá rolando até hoje, mas sem o skateboard. Como estão as vendas dos produtos Social Skate, que algumas marcas estão fazendo para fortalecer seu trampo? Que marcas estão envolvidas desde o início? Isso me enche de orgulho: o shape collab com a Drop Dead, que sempre foi parceira da ONG. Aliás, desde a época da Febem o shape aparece. Apareceu até em skate de ator da Globo (risos)! Tem o tênis da ÖUS, do Narciso, de Curitiba, que também é amigo desde a nossa infância. Para liberarmos a marca Social Skate para algum produto, ele tem de ser bom e a marca tem que ser parceira mesmo. Está para sair uma coleção de camisetas com a Sumemo, mas ainda não rolou, infelizmente. Temos nossas próprias camisetas, feitas à moda antiga, estampadas com tela por um amigo e as canecas de louça, que fizemos uma vez e fizeram muito sucesso. Mas não é fácil administrar tudo isso, então fazemos de tempos em tempos.

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entrevista am // lucas alves

DOM E DETERMINAÇÃO PARECE QUE O RELACIONAMENTO DE ALGUMAS PESSOAS COM O SKATE É MAIS FÁCIL. ENQUANTO, PARA A MAIORIA DAS PESSOAS, O SKATE É ALGO QUE REQUER MUITO ESFORÇO, OUTROS PARECEM TER UM DOM QUE TORNA O APRENDIZADO MUITO MAIS FÁCIL. PARA LUCAS ALVES É ASSIM. O AMADOR DE COLOMBO, REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA, CADA VEZ MAIS SE DESTACA, PRINCIPALMENTE PELA FACILIDADE PARA ACERTAR SUAS MANOBRAS. CONFIRA NESTA ENTREVISTA COMO FOI A VISITA DO SKATISTA AO RIO DE JANEIRO E ENTENDA UM POUCO PORQUE, MUITO EM BREVE, VOCÊ ESCUTARÁ FALAR NO LUCAS COM MUITO MAIS FREQUÊNCIA.

POR RODRIGO K-B-ÇA // FOTOS PEDRO MACEDO

O

Brasil é prolífico em novos talentos. De norte a sul do país surgem bons skatistas a todo o momento, porém, sempre existem aqueles que, mais que andarem bem, tem um dom, uma benção. É através dos pés desse tipo de pessoas que o skate ganha outra dimensão. Lucas Alves faz parte deste segundo grupo.

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Com apenas seis anos de skate, Lucas reconhece que ainda tem muito caminho para percorrer e muito ainda por conhecer. Os locais mais fáceis de encontrar Lucas são, sem dúvida, as pistas da região metropolitana de Curitiba, como a Social Plaza e, é claro, uma das referências do skate no Paraná, o Drop Dead Skatepark. Conterrâneo do profissional Marcelo Go-

mes, o Marreco, Lucas acredita que sua região, apesar de continuar revelando bons skatistas, não tem uma cena tão forte atualmente. “A falta de incentivos no Brasil é muito grande, não só para o skate mas, para o esporte em geral. Os eventos na região diminuíram muito também. Acredito que eventos ajudam a trazer novos skatistas. Outro problema é a famosa falta de pistas públicas


Flip fs boardslide em um corrim達o preso apenas na parte de cima e cheio de merda em volta, na entrada do morro Azul, no Flamengo. outubro/2015

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lucas alves

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de qualidade. Uma cidade como a nossa, deveria ter muitas pistas.”, conclui Lucas. Já que o assunto eventos veio à tona e, principalmente pelo fato do Paraná ser um celeiro de grandes competidores, nunca é demais saber como Lucas se relaciona com as competições. Apesar de participar de alguns campeonatos, seu foco está nas filmagens e sessões de fotografia. Ele acha que os eventos são importantes, mas isso não quer dizer que uma boa colocação seja sua prioridade. “Além de divulgar seu skate, também rola um caixa dois (risos), mas o verdadeiro valor dos campeonatos está nos amigos, nas novas amizades e viagens”. Como todo skatista da atual geração, Lucas vê nas mídias sociais uma maneira de divulgar seu skate, porém as viagens ainda são uma ótima maneira de trabalhar. São Paulo, Porto Alegre, diversas cidades de Santa Catarina, além do Rio de Janeiro, foram alguns dos destinos. As fotos para esta entrevista, foram feitas em uma semana de sessions intensas, acompanhadas pelo fotógrafo Pedro Macedo, na Cidade Maravilhosa. Tão intensas que, depois de fazer a sequência do hardflip b/s lipslide, Lucas teve que ficar por um bom tempo de molho. “Para mim não tem tempo ruim para o rolê, para a diversão ou para o trabalho. Quero estar em cima do skate. Quando estou filmando, vou até às últimas forças para acertar a manobra. No pico da Linha Amarela, no Rio, teve momentos em que quase desisti, mas não podia sair de lá sem aquela manobra. Levei quase um mês para me recuperar dos machucados, mas valeu a pena. Não existe satisfação melhor do que você acertar a manobra!” Esse relato só reforça uma das qualidades de Lucas: a dedicação. Dedicação de quem, mesmo sem o apoio dos pais, espera chegar ao profissionalismo com o

Usando a jump do coletivo I Love XV, hard bs tail no suporte de publicidade, Praça XV

Lucas Alves é um piá que vem de um lugar simples e humilde. Ele é muito sossegado, gente boa e tem um potencial incrível no skate. O conheço desde 2012 e nesta época já dava para ver que ele evoluía rápido. Seu skate é muito técnico e agressivo e, com certeza, ele se destacará e crescerá muito no skate. É nóis, Luquinhas!

Lucas Koaski

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lucas alves

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skate. Inspirado por caras como Tiago Lemos – “O cara é o mais cabreiro. A parte dele no We Are Blood é foda!” - e Nijah Huston – “um cara pesado nas pistas e na rua” - Lucas sabe que este caminho é longo e árduo. “Minha luta é dia a dia. Uma luta para crescer e superar todas as dificuldades.” Com o talento no skate e sua determinação, é bem provável que, muito em breve, o paranaense possa realizar outro sonho: ir para os Estados Unidos andar de skate. Lucas, inclusive, já tem uma viagem internacional em seu currículo. Em setembro de 2014 ele e a equipe da Wats visitaram a capital catalã. Barcelona, uma das mecas do skate. Foram apenas 20 dias de skate, um prazo relativamente curto para ficar em Barça, mas que foram aproveitados ao máximo. “Curti cada momento. Rolê todos os dias. Parecia que o corpo queria mais e mais, mesmo cansado, não parávamos.” Algumas imagens coletadas nesta viagem poderão ser conferidas em breve, no vídeo que será lançado pela marca. Além disso, algumas imagens serão selecionadas para uma vídeo parte na qual Lucas está trabalhando faz algum tempo. Durante toda a entrevista Lucas sempre se refere ao skate como um esporte, que ele considera pouco incentivado pelos órgãos públicos e pelo próprio governo e é nesse momento que fica uma pergunta no ar. Como ele gosta de ser chamado? Como atleta ou skatista? Mesmo sabendo que uma resposta como essa pode gerar algo de polêmica, Lucas ainda acha que é muito mais skatista que atleta. Ele considera que existem muitas opiniões a esse respeito. Gente que chama o skate de esporte, esporte radical, mas no fundo, porém ele é claro: ”Prefiro ser skatista!”.

Ele é uma jovem máquina de manobras. Ele é extremamente técnico e enxerga a rua como se fosse uma skateplaza.

Pedro Macedo

Fs nosebluntslide na Catedral do Largo do Paço, Centro do Rio.

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A primeira manobra flipada no corrimão da Linha Amarela foi logo com giro complicado: hardflip bs lipslide.Tão impressionante que mereceu a capa da edição.

Com seu dom para o skate e sua determinação, Lucas Alves tem tudo seguir impressionando a todos com seu skate e, é claro, realizar muitos dos seus sonhos, entre eles a profissionalização, tanto aqui como nos Estados Unidos. O caminho para chegar nesse ponto só pode mesmo ser traçado pelo próprio Lucas que tem como única certeza mesmo é que o skate fará parte da sua vida até a velhice! // LUCAS ALVES BUENO 18 anos, 6 anos de skate Colombo/PR Patrocínio: Wats

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Assista ao vídeo no youtube.com/triboskatemag ou use este QR Code.


lucas alves

// entrevista am

Me sinto muito feliz por ter conhecido o skate. Através dele conheci muitos lugares e pessoas, e espero ir muito mais longe. Não posso deixar de agradecer a todos que participaram do meu caminho até o momento, em especial, vai o meu profundo agradecimento para Horus Correa, que me deu uma chance de ter uma vida melhor. Sem a ajuda dele nada disso teria acontecido! A todas as marcas que já me apoiaram e à Wats Skate, que é o meu atual patrocínio.

Lucas Alves

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entrevista am // akira utida

POUCAS FRASES DEFINEM TÃO BEM A VIDA DE UM SKATISTA COMO AD ASTRA PER ASPERA, UM PROVÉRBIO LATIM QUE PASSA A MENSAGEM DE QUE NÃO HÁ VITÓRIA SEM SACRIFÍCIO. AKIRA UTIDA RESGATA ESTE PROVÉRBIO PARA DAR NOME A SUA NOVA VÍDEO PARTE, QUE RETRATA DE FORMA INDEPENDENTE AS VIAGENS QUE FEZ NOS ÚLTIMOS TRÊS ANOS PELO BRASIL, CHILE, ALEMANHA, NORUEGA, ESPANHA E REPÚBLICA CHECA, TENDO A EXPERIÊNCIA DE ANDAR EM PICOS BONS E RUINS. ESTA NÃO É APENAS MAIS UMA VÍDEO PARTE, É TAMBÉM UM PROJETO QUE VALORIZA A AMIZADE E AS RAÍZES DE UM SKATISTA. POR ESTA RAZÃO, AKIRA FEZ QUESTÃO DE CONVIDAR O AMIGO DE INFÂNCIA CARLOS SCUPÊ, QUE PRODUZIU AAPA, PARA PARTICIPAR DESTA ENTREVISTA. POR MAURO UTIDA // FOTOS LEANDRO MOSKA

P

or que Ad Astra per Aspera? Akira: É um provérbio latim com vários significados para transmitir a ideia de que “não há vitória sem sacrifício”, ou “por caminhos difíceis até as estrelas”. Eu flagrei essa ideia no final do projeto, quando a gente tava procurando um nome pro vídeo. Quando me explicaram o significado, eu falei: “Esse é o nome!”. A ideia de Ad Astra per Aspera, de que não há vitória sem sacrifício, tem tudo a ver com o vídeo Carlos: A gente procurava um nome que passasse a mensagem real de como foi concluir este projeto. Quando começamos a filmar o Akira estava sem patrocínios e eu querendo sair do trampo. Foi aí que falei pra ele: “Eu vou comprar uns equipamentos

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para filmar e você vai voltar a andar de skate na pegada, porque esse vídeo vai dar um novo gás pras nossas vidas”. De uma maneira geral, filmar esta vídeo parte nos deu uma motivação a mais para trabalharmos no que a gente gosta. Quanto tempo durou para editar e filmar o vídeo? Akira: Foram três anos no total. No começo nos preocupamos apenas em captar imagens, só depois que o Carlinhos voltou da Europa é que começamos a editar. Foi ali que percebemos que tínhamos material para fazer um trabalho legal, porque além das imagens do Carlinhos, tinha outras boas com o Alastrão (Felipe de Carvalho), Gu (Gustavo Brossi) e outros camaradas. O Carlinhos estava focado na edição, experimentando no-

vos recursos, novos sons, até chegar a um resultado final que agradasse aos dois. Por quais países vocês viajaram para filmar Ad Astra per Aspera? Akira: Eu passei pelo Chile, andando e filmando em Santiago; depois fui pra Espanha por dois verões em Barcelona; passei por Praga na República Checa, Noruega e, no último verão, Alemanha, onde andei em Berlim e Frankfurt. Quando a Alemanha ganhou a Copa, comemoramos junto com os alemães (kkkk). Também viajei para a Argentina em 2011. Foi a minha primeira viagem internacional, mas ela não está no vídeo. Carlos: Sempre tive vontade de ir para Europa. Em 2013, quando o Akira e o Hendrik se jogaram para lá pela primeira vez, isso me motivou tanto que larguei o trampo,


Halfcab transfer fs crooked to fakie, na rambla Brasil em Barcelona. outubro/2015

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juntei uma grana e embarquei junto com o (Leandro) Moska no verão seguinte. Além de Barcelona, que é um lugar magnífico, ficamos em Berlim e Frankfurt. Akira, de todos estes lugares que você viajou qual foi o que você mais curtiu? Gostei bastante de Berlim, mas Barcelona é onde as coisas acontecem. Além disso, a cidade é mais alegre, mais colorida, é bem diferente das outras. Nas imagens do vídeo eu percebo essa diferença de cores comparada com outras cidades da Europa, como Berlim, que tem o cenário mais cinza, obscuro. Qual foi a maior inspiração para produzir esse vídeo? Carlos: A partir do momento em que decidimos mostrar a nossa visão do skate, a inspiração e motivação foram surgindo. As sintonias das ideias entre eu e o Akira nos motivaram a fazer um trabalho novo e sair daquela ideia básica de vídeo parte para ser lançada na internet. Ad Astra Per Aspera é como a gente enxerga o skate e valoriza a amizade. O Akira cresceu junto comigo e acho que isso, de alguma forma, fez com que a produção do vídeo acontecesse naturalmente. Por fim, saímos de Campo Limpo Paulista e acabamos mostrando o interior de São Paulo atravessando o continente, andando em todos os lugares, bons e ruins. Akira: A coletividade e a sintonia que tenho com o Carlinhos fez com que a gente buscasse um lado natural dos vídeos de skate, não apenas manobras com slow. Focamos em passar uma identidade pro vídeo, porque o skate não é só manobra, mas também atitude. AAPA é o resultado do nosso esforço, do nosso suado dinheiro e atitude para mostrar nossa visão do skate de forma independente. Carlos, teve algum vídeo em especial que influenciou este trabalho e o que acha dos vídeos nacionais? O Cityzen da Vibe Shoes, o Stay Gold da Emerica, além dos da Habitat e os da Transworld são produções que influenciaram

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tanto a mim quanto ao Akira. Gostei bastante dos últimos trabalhos nacionais, porque apresentam outra visão do skate que estávamos acostumados a ver, um lado mais livre, libertando a criatividade artística e criando um novo conceito do skate nacional. Outro detalhe que chamou a atenção neste projeto, foi o cuidado com o qual vocês tiveram na divulgação. Por que a escolha da revista Tribo Skate para lançar o vídeo? Akira: Encontramos na Tribo uma identificação para lançar o vídeo; várias fotos minhas publicadas na revista estão no vídeo, como o registro feito pelo Moska nas viagens para o Chile (março/2013) e a última pela Europa (janeiro/2015), e também a foto que ilustrou a minha seção Casa Nova (junho/2013). Apesar de ser um trabalho independente, essa parceria só veio a agregar valores. Vocês também fizeram algumas cópias em DVD, o que é raro hoje em dia. Akira: Conseguimos fazer algumas cópias com o apoio da loja C-Vida, Save Skateboard e da agência Loro Comunicação. Nossa intenção foi resgatar aquela ideia das antigas, do contato pessoal, que está sendo esquecida com a internet e tornando trabalhos descartáveis. Conseguimos fazer apenas 100 cópias e estamos entregando de mão em mão para quem nos inspirou a fazer o vídeo. A gente quer ser lembrado daqui a 20 anos pela pessoa que tiver a cópia, achá-la no meio da bagunça das coisas antigas, e se lembrar de tudo isso aqui (risos). Qual foi o momento que você mais curtiu neste trabalho? Akira: Cada dia andando de skate e conhecendo lugares diferentes é um aprendizado único para a vida, mas a première que fizemos na pista do C-Vida, foi um dos melhores momentos, assistir o resultado junto com os camaradas foi histórico. Agregamos a première uma best trick, shows e exposição de arte e quando anoiteceu passamos

A ideia de Ad Astra per Aspera, de que não há vitória sem sacrifício, tem tudo a ver com o vídeo. Akira

Akira e Moska.


akira utida

// entrevista am

Bs crooked em Santiago, Chile.

Bs bigspin to bs tail reverse em Frankfurt, Alemanha.

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LEONARDO LAPRANO.

Ad Astra per Aspera é como a gente enxerga o skate e também valoriza a amizade. Carlos Scupê

o vídeo por meio de um projetor. O som só parou depois que a polícia chegou para fechar a pista (risos). Apesar de ser uma produção independente, o vídeo fecha com o logo da C-Vida, por quê? Akira: O Moska corre junto comigo desde que eu comecei a andar de skate. Quando eu tinha 7 anos, ele já tinha um apoio da loja de skate que meus irmãos tinham na cidade. Foi o primeiro patrocínio dele, e é engraçado porque hoje a loja dele me patrocina. Foi a maneira que encontramos para retribuir a força que ele nos dá há anos. Considero muito o Moska! Mesmo que ele não tenha se profissionalizado, ele continua fortalecendo o skate com a loja ou com a fotografia. Apesar disso, o vídeo continua sendo independente. C-Vida não é só a loja. C-Vida é um movimento da nossa cidade, é o nome da nossa crew, é nossa família. Carlos: No começo achamos que o logo iria descaracterizar a produção independente, porém o Moska teve total participação neste trabalho, sempre junto nas sessões com as ideias certas. Nada mais justo do que incluir o logo para divulgar a marca, a loja e também a cidade. Akira, o que Ad Astra per Aspera significa pra você? Minhas raízes! Cultive e valorize os verdadeiros. Se você não valorizar quem te conhece desde criança você vai valorizar quem, uma pessoa lá do outro lado do mundo, só porque ele é “naipe” ou porque está no

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Bs wallride em Campo Limpo Paulista.


akira utida

“game”? Desde o começo, a ideia de Ad Astra per Aspera foi valorizar e dar oportunidade para quem corre junto. É o que rolou com o João Churchill, que criou a identidade visual do vídeo. A gente curte os desenhos dele e se identifica nas suas ideias desde a época de escola. O Hendrik, Hudson da Paz (Cebolinha), Gabriel Loureiro (Rato Branco) e o Felipe de Carvalho (Alastrão) são os meus manos que tenho muita sintonia e que me inspiram nas atitudes e no skate, por isso os incluímos. A ideia é crescer junto: a loja começou agora, o João começou agora, o Carlos começou agora, eu comecei agora, então vamos agregar valores e crescer juntos. Tem também as fotos da matéria que são do Le-

andro Moska; os colaboradores de imagens que são camaradas, e a colaboração do meu irmão Mauro Utida, com a entrevista. AAPA foi um trabalho em conjunto, não é só meu. Qual o plano agora? Akira: Estou fechando outra parte um pouco menor no vídeo Be More Human, da Save Skateboards. Também recebi um convite inesperado do Marcello Gouvea (DSAL) para fazer parte no VTV (Vai Trabalhar Vagabundo). Pretendo voltar para a Europa e mais pra frente ir pro Japão visitar meu irmão Lucas, que mora com meu pai e que não vejo há 10 anos, andar com os Mundrungos, que é uma crew de brasileiros cabulosa que faz uma cena forte do skate

Bs fifty em Jundiaí.

// entrevista am

por lá. Então vamos continuar remando por esses caminhos difíceis até quando as pernas não aguentarem mais (risos). Ser skatista é andar por caminhos difíceis até as estrelas? Akira: É uma dificuldade diária; tem que ter muito amor envolvido para continuar nessa caminhada. Este trabalho que a gente conseguiu fazer não quer dizer que a gente alcançou as estrelas, continuamos por caminhos difíceis, bastante ainda, mas chegamos perto das estrelas pela satisfação própria do resultado final. Agradecimentos: A Deus, a nossa família e a todos os verdadeiros que estão no dia a dia. Obrigado!

Se você não valorizar quem te conhece desde criança você vai valorizar quem? Uma pessoa lá do outro lado do mundo só porque ela é ‘naipe’ ou porque tá no ‘game’? Akira

Bs nollie switch fs crooked em Barcelona.

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Bs lipslide em toda a borda em Oslo, Noruega.

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akira utida

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Ser skatista é uma dificuldade diária, tem que ter muito amor envolvido para continuar nessa caminhada. Akira

Akira e Carlos.

// AKIRA UTIDA 22 anos, 14 de skate Patrôs: Faith Co., C-Vida Skate Shop e Sinah // CARLOS SCUPÊ 23 anos, videomaker há 3 anos Nasceram em Jundiaí e moram em Campo Limpo Paulista

Assista ao vídeo no youtube.com/triboskatemag ou use este QR Code.

Caballerial na double set de Carapicuíba.

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NICHOLAS DIAS:

PARA O ALTO E AVANTE! ELE FEZ UM TREMENDO BARULHO AO FINALIZAR O DC INVITATIONAL DE 2014 EM TERCEIRO LUGAR. FOI UM RITO DE PASSAGEM DE SKATISTA REGIONAL PARA NACIONAL, UMA APRESENTAÇÃO DIGNA DE NOTA. ENTRE ALGUNS DOS MELHORES PROFISSIONAIS E AMADORES DO PAÍS, NICHOLAS TEVE ESSE GRANDE MOMENTO QUE O EMBALOU PARA NOVOS CAMINHOS. ESTE SKATISTA DE JUIZ DE FORA AGORA FAZ PARTE DA RENOVAÇÃO DO CENÁRIO, COM UM POP ABSURDO E UMA CAPACIDADE TÉCNICA DE LANÇAR TRICKS DIFÍCEIS NOS LUGARES MAIS IMPROVÁVEIS OU INVERTER TUDO NOS CLÁSSICOS PICOS DE RUA. TEXTO E FOTOS POR DIOGO GROSELHA, O SKATISTA/JORNALISTA/FOTÓGRAFO TAMBÉM NASCIDO E CRIADO EM JUIZ DE FORA. // TEXTO E FOTOS DIOGO DE ANDRADE

C

omo foi seu início no skate? Na verdade eu comecei jogando bola. Tinha uns 13 a 14 anos, já jogava há um tempão. Participei de uma seletiva de futebol no Sport Club lá no Centro, para ir jogar no Grêmio e, no meio de 240 candidatos, acabei passando. Só que minha mãe não deixou eu ir pro Sul, naquela época, porque tinha que terminar os estudos. Aí desanimei do futebol e vi que não era o que eu queria mesmo. Mais tarde um pouco, aqui na Zona Norte, eu vi uns camaradas que tinham começado a andar de skate e fui ficando curioso. Vi que a geral se divertia, dava risada e acabei pedindo um pra minha mãe. Ela disse que se eu passasse de ano ela ia me dar um (clássico das mães), mas antes disso eu consegui o skate. Fiz rolo num tênis que tinha emprestado pra um amigo. E você passou de ano? Passei, passei...

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E seus familiares, curtiam que você andava de skate? Não, ninguém apoiava. Meu primo jogava bola - hoje ele até é profissional, e todo mundo queria que eu fosse jogador também. Na minha família já tinha dois jogadores, mas pra mim não era aquela cara, sabe? O negócio pra mim era andar de skate mesmo. E você torce pra que time? Não, nem gosto de futebol. Meu pai é flamenguista e minha mãe e meu irmão são botafoguenses. Que dificuldades você teve pra andar de skate numa cidade do interior de Minas Gerais? A maior dificuldade é a falta de picos, mesmo. Eu era muito novo e não podia ir muito longe de casa. Não podia ir pro Centro que era o único lugar que tinha uma pista, então eu ficava aqui no bairro, andava na quadra aqui no Araújo, no solo. Foram construir uma pista aqui na Zona Norte agora em 2015, e eu ando já há oito anos.


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Fs flip no Fluxo. Quadra da Vila II, Zona Norte Juiz de Fora/MG.

// entrevista am

A cena na cidade também não fortalece muito, né? De uns anos pra cá morreu bastante e a gente vem tentando mudar isso; tem alguns videomakers na cidade, tem você que tá sempre fazendo as fotos, o João Paulo de Souza que tá começando agora e manda bem também. No Brasil, por mais que as coisas estejam mudando lentamente, ainda existe a valorização de skatistas que se destacam em campeonatos. Foi o que aconteceu com você que já andava muito e só ganhou visibilidade nacional após ter se destacado no DC Invitational. O que você pensa sobre isso? Falta um olhar mais atencioso para os skatistas que estão andando muito em outras regiões do Brasil, principalmente aqui em Minas Gerais. Tem muito skatista andando demais e quase marca nenhuma apoia. Não rola um campeonato decente, um circuito verdadeiro. A gente tem que sair do nosso estado, que é grande e bom e poderia ter um monte de coisa, e ir para São Paulo, disputar com um monte de caras que já estão na mídia há um tempão. Para se destacar no meio desses caras é preciso ter um misto de sorte e perseverança ao mesmo tempo. Não é qualquer um que chega lá e vai conseguir se destacar. Pode acontecer de ir uma, duas vezes e não arrumar nada, ou pode acontecer igual foi comigo, logo na primeira. E como foi o campeonato da DC? Você ficou em terceiro e já saiu com um patrô da marca? Não, na real, estávamos eu e um camarada aqui de Minas andando um dia antes da competição lá na Praça Roosevelt, aí eu conheci o Reco, que é diretor de marketing da DC, e o Paulinho (Davi), e eles me perguntaram de onde eu era e se eu ganhava os Nikes que eu tava usando. Eu respondi que não, que comprava lá em JF e tinha um desconto de um camarada de uma loja, e eles me perguntaram se eu queria usar uns DCs e começar uma parceria. Eu disse que queria, lógico, então falaram pra colar no campeonato no outro dia e correr pra ver o que eu ia arrumar e dependendo de como eu me saísse, iriam arranjar uma parada legal pra mim na DC. Eu fiquei animadão, porque tinha ido pra São Paulo só para poder ver o evento. Quando o Reco me convidou para correr, eu fiquei muito feliz. Cheguei lá no outro dia bem cedo e fiz minha inscrição, comecei a andar e acabou que fui felizardo de ficar em terceiro lugar. Com isso, comecei a ganhar umas paradas da DC. Estou como flow ainda, mas o sonho mesmo é passar pra equipe principal. Eu lembro que a gente foi andar de skate em Belo Horizonte na pista do Parque das Mangabeiras e você se machucou sério. Como foi que aconteceu? Eu tinha 17 anos e rolou uma van para BH, pra inauguração da pista do Parque das Mangabeiras. Eu tava andando, tudo fluindo normal, quando eu fui usar um corrimão em cima de uma 45 e acabei tomando um tombo e perfurando um rim. Aí eu fiquei internado em Belo Horizonte por sete dias. Minha mãe foi lá para me buscar; vim para Juiz de Fora de helicóptero e fiquei seis meses internado aqui para

Agora que eu fui perder o medo de verdade de andar nos corrimãos, nos bagulhos maiores, porque até então minha mente tava travada. outubro/2015

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não ter que fazer cirurgia, para ver se o rim ia regenerar de boa, se ia ter uma recuperação tranquila e acabou regenerando. Fiz meus 18 anos no hospital. Depois que saí, fiquei mais dois a três meses sem andar para a parada fechar direitinho e depois disso eu voltei devagarzinho, andando no solo, em corrimãozinho baixo. Pra voltar a andar em corrimão de rua foi tipo esse ano agora, tá ligado? Agora eu já tô com 21. Agora que eu fui perder o medo de verdade de andar nos corrimãos, nos bagulhos maiores, porque até então minha mente tava travada. Eu não conseguia nem olhar pros corrimãos e já me dava um frio na barriga; já pensava que poderia me machucar de novo. Então eu nem tentava. E como foi dar o rolê de helicóptero? Pô eu nem aproveitei muito. Foi a primeira vez que eu andei de helicóptero, mas tava deitado na maca, sentindo muita dor. (risos) Depois que você conseguiu alguns patrocínios e se destacou sua família mudou de postura em relação ao skate? É, então, teve uma reviravolta depois que eu fiquei em terceiro no DC Invitational e acabei ganhando seis mil reais. A gente é de uma família muito humilde e nunca tinha visto esse dinheiro todo na nossa frente, aí minha família acreditou mesmo que eu podia ter um futuro no skate, conseguir ganhar um dinheiro. Agora eles me apoiam bastante; se precisar de alguma ajuda para passagem, eles me ajudam; sempre perguntam como foi o campeonato, em que colocação eu fiquei, se eu filmei alguma coisa nova, se eu estou em alguma marca nova. Agora eles têm a curiosidade de saber como é o esporte. Antigamente era mais: “Ah, esse menino vai ser só mais um drogado, não vai vingar nada!” Agora eles tão vendo que o skate também serve pra salvar, ajuda muito, tira muita criança da rua e do crime. Foi o que aconteceu comigo. Acho que se eu não estivesse andando de skate eu poderia estar aí traficando ou roubando. Eu percebo que você é um cara bem focado no skate. Você quase não sai de balada, não bebe muito. Você é “meio” atleta? (risos) Eu nunca gostei muito de sair, mas antes de eu machucar o rim lá em Belo Horizonte eu saía com os amigos às vezes, tomava umas geladas, virava uma noite, mas isso nunca me fazia bem. No outro dia eu tava cansado, não conseguia andar de skate bem, ficava com o corpo ruim, tá ligado? Aí eu fui vendo que isso aí não fazia diferença, ficar em casa ou ir para uma balada. Para mim, chegar da sessão, tomar um banho, comer uma parada saudável é muito melhor do que já chegar abafado, sair correndo para tomar uma cerveja em um ambiente barulhento. Eu vou mesmo quando é um evento “da hora”. E você acha que no Brasil dá pra viver de skate? Ah, mano, não sei, viu? Não sei se é viver ou sobreviver. Acho que se você for pros EUA e fizer uma carreira lá fora, arranjar bons patrocínios, quando você voltar terá muito mais valor. Isso é que o brasileiro dá mole, espera a cria dele sair, pra ir fazer sucesso em outro lugar, para depois reconhecer e falar: “Esse moleque aí anda bem mesmo!” Eu tenho como exemplo o Tiago Lemos. Ele sempre tá me dando umas ideias da hora e tal, falando pra eu ir pros EUA, que lá que vai ser o estouro, porque lá o skate é valorizado. Lá, material pros caras, é tipo material de verdade, tá ligado? Não é igual aqui, que você ganha alguns shapes e tem que se virar pra andar e fazer uma grana. E você já pensou em viver de skate sem ser só andando? Em montar uma marca ou uma skateshop? Então, eu penso que daqui uns dois ou três anos, quando eu passar pra profissional, quero abrir uma loja de skate aqui em Juiz de Fora, mais especificamente aqui na Zona Norte e ajudar a molecada. Pretendo também, se eu tiver condição, abrir um galpãozinho com um skatepark da hora, tipo o Skatenation lá de Campinas. Estive lá esses tempos e é uma pista muito style do camarada Túlio Oliveira. Eu sei que o skate é uma parada muito incerta. Pode ser que dê certo, pode ser que não, pode ser que eu me machuque e não

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PEDRO MACEDO

Todo mundo queria que eu fosse jogador de futebol também. Na minha família já tinha dois jogadores, mas pra mim não era aquela cara, sabe?

Ss heelflip no famoso e sinistro canal do Rio de Janeiro.

possa andar mais, mas eu quero viver do esporte, quero ter uma loja, ou ser representante, ou ter uma marca. Quero terminar minha vida vendo alguém andar, mexendo com skate. Você é muito conhecido também pelo seu pop absurdo, apelidado de “pop africano” aqui em Juiz de Fora. Você faz algum tipo de treino específico para aumentar o ollie? Como é isso? Não, não, mano. Não sei, eu visualizo o obstáculo assim e fico imaginando se daria para subir ou mandar alguma manobra, aí acaba que eu consigo subir sempre, mas não tem nenhum trei-


nicholas dias

namento certo para isso. Eu faço alongamento normal igual todo mundo. Eu tenho vontade de chegar lá, de subir o obstáculo e eu sempre subo. (risos) Quais foram suas influências quando você começou a andar e agora? O primeiro vídeo que eu vi foi o Baker 3. Eu gostava bastante do Terry Kennedy, Antwuan Dixon e Andrew Reynolds, mas hoje em dia eu me espelho bastante no rolê do Tiago Lemos, no (Felipe Gustavo) Buchecha, no (Carlos) Iqui, no Marcelo Formiga. Eu guardo muito do

// entrevista am

rolê dos caras, me espelho muito mesmo, nas manobras, no pop. E no (Rodrigo) TX também, né? Eu acho que ele é o mais cabreiro. Acho que a geral do Brasa que gosta de umas manobras mais altas e técnicas, se espelha no cara, porque ele é sem palavras, é muito cabreiro. Que tipo de influência tem pra sua vida ter crescido aqui na ZN de Juiz de Fora? Eu cresci com os moleques que hoje em dia são muito doidos, tá ligado? Uns são traficantes, outros estão presos, uns até já morreram. Mas é aquilo: é ter a cabeça no lugar, saber o que é certo; não outubro/2015

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Gap de responsa no bairro Barreiro em Belo Horizonte. 360 flip.

é porque o cara tá ganhando dinheiro fácil ali, que o cara tem um carro da hora, uma mina da hora, que o bagulho tá certo. Minha mãe me deixou bem solto no mundo, mas ela me explicou tudo antes. Ela falou: “Isso aí você faz, isso aí você não faz. Presta bem atenção nas suas companhias e no que estão te oferecendo!” Eu comecei a andar de skate aqui por causa até de um camarada meu que já morreu, o Michael Douglas. Fiz até uma tatuagem em homenagem a ele. Ele morreu ano passado numa fatalidade, e o irmão dele já andava, o primo dele andava. O meu melhor amigo, o Paulo Giovane, o Tutuka, também já andava; então desses manos que eu comecei a andar, eu fui o último. Depois passei a andar na pista do Vitorino, onde o João Vitor Galvão me passou as manhas de andar em rampa, dropar, andar em corrimão. O que que rola de som no seu iPhone? Pelas influências que eu tenho - meu pai era DJ de Funk das antigas -, meus tios todos gostam de Funk, na comunidade aqui geral gosta de Funk, então eu cresci ouvindo o estilo. Escuto Funk até hoje; gosto muito de Rap, Samba, Reggae. Seu pai toca até hoje? Então, hoje em dia ele faz uns bailes das antigas ali na ABCR. Rolam uns Miamis, Steve B, uns funks das antigas, assim, tá ligado? Uns Melodys. Ele não tá deixando a cena morrer não, mano. Você tem que colar lá, o bagulho é doido. Rolam umas disputas de passinho, muito style. E sua mãe? Minha mãe trampa na cozinha de um bar e curte Legião Urbana. Na época que eu machuquei o rim, ela trabalhava no Hospital Albert Sabin, o hospital em que fiquei internado. Ela trabalhava, depois tomava um banho lá mesmo e já ia ficar comigo no quarto; ficava período integral no hospital, cara. Foi bom ela ter ficado comigo, mas foi ruim ter ficado quase um ano sem andar de skate. E você frequenta baile funk hoje? Ultimamente não, mas eu ia bastante.

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Fs feeble mostrando seu pop africano em ação, na Universidade Federal de Juiz de Fora.

E você entrava nas porradas? Não, não. Eu ficava lá na minha. Eu sou mais do conceito dos caras das antigas, ir lá pra curtir o som. E você dançava Funk? Não, não. Eu sou durão, não sei dançar não. Ficava com copinho no canto, só ouvindo, porque eu gosto de Funk, eu gosto da batida da parada, saca? Eu acho muito style. Ia pra ouvir o bagulho altão, ficar ouvindo os caras cantando. Na época a parada era mais de boa, hoje em dia eu não tenho as manhas de ir mais não. Os caras marcam de brigar antes de começar o baile. E seu irmão não anda de skate? Eu até tentei, mano. O levei lá no Vitorino, uma vez, aí ele desceu


nicholas dias

a pirâmide pela rampinha e ficou felizão. Queria descer o vulcão e tomou um tombão, ficou até sem ar. Falou que nunca mais queria ver skate na frente dele. Não consigo entender, porque os amigos dele são os moleques que eu trombo na pista e ficam me perguntando uma pá de coisas. O negócio dele é videogame. Qual foi a melhor viagem que você fez pra andar de skate? Foi a última que eu fiz pra São Paulo. Fomos eu, o Matheus e o João Vitor Galvão. A gente foi pro campeonato da Element e pra andar de skate e filmar. Essa viagem foi muito style pra mim, mas foi mais legal porque os caras nunca tinham ido, e foi muito gratificante pra mim ter visto o sorriso deles quando a gente chegou na Roosevelt. Nego não parou de andar um minuto, foi muito massa. O João

// entrevista am

Falta um olhar mais atencioso para os skatistas que estão andando muito em outras regiões do Brasil, principalmente aqui em Minas Gerais. outubro/2015

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Vitor começou a andar antes de mim e me ensinou a andar, mas ele nunca tinha ido para SP. Então ele admirava vários skatistas de lá e eu pude apresentar alguns caras que eu já tinha conhecido pra ele. Também apresentei vários picos e logo menos deve sair um videozinho dessa trip aê. Como foi filmar a videoparte do 12mm com o Phillipe Guilherme? Mano, isso daí mudou minha vida, tá ligado? Foi a primeira vez que eu filmei uma vídeo parte assim grande, que eu saí de Juiz de

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Fora, viajei três estados pra filmar skate; era skate 24 horas por dia. Conhecer o Phillipe foi a melhor coisa que aconteceu pra mim, porque o moleque filma pra caralho, é muito sangue bom, tem disposição pra filmar em qualquer lugar. Pode ser em morro, na frente de delegacia, sei lá, qualquer lugar o moleque filma. E filma muito bem, edita melhor ainda. Eu descobri bastante coisa nova, filmava o dia todo, já dormia pensando em filmar no outro dia. Foram os melhores três meses da minha vida, foi skate de verdade mesmo.


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PEDRO MACEDO

O que falta pra você passar para profissional? Pessoalmente eu não quero passar para pro agora. Quero viajar mais, ganhar algumas competições, fazer mais vídeo partes, sair mais em revistas, evoluir pessoalmente mesmo. Tem muito menorzinho que vem me perguntar se eu sou profissional, aí eu falo que ainda não sou e eles falam que eu ando muito, que já sou pro, mas pra mim, só andar de skate bem, não é ser profissional. É preciso ter a cabeça de profissional, é saber tratar todo mundo bem. É tipo um

Escuridão da noite na Praça XV, Rio. Fs bluntslide transfer enquadrado nos ferros.

// entrevista am

menorzinho que está três horas da manhã te perguntando “ô Nicholas, como faz pra mandar um smith de back? É saber responder o moleque educadamente, é saber chegar nos lugares, saber se comportar. E também ter a marca que vai fazer seu shape, pagar salário, além do consenso de todas as marcas que te patrocinam. Hoje em dia você vive de skate? Eu não vivo, eu sobrevivo. Eu não tenho um salário certo, uma marca que me dê uma ajuda de custo. Eu pego um material e vendo, pra poder comprar alguma coisa que eu não ganho ainda, um rango, uma passagem, pra comprar alguma coisa pra dentro de casa. Mas hoje em dia eu não faço mais nada além de andar de skate. Acordo, já ligo um fotógrafo ou um videomaker. Acho que é bem o corre de um profissional, só não tenho o devido valor ainda. Quais são seus sonhos, não só no skate, na vida mesmo? Eu tenho como sonho viajar o mundo. Não o mundo inteiro, mas conhecer determinados países, voltar pro Brasil e andar de skate aqui em Juiz de Fora, que é onde está minha vida. Eu quero ir, viver e voltar. Eu não me imagino morando em outro lugar. Eu nasci aqui, cresci aqui, todos meus camaradas estão aqui. Eu tenho o sonho de ter uma família aqui, de melhorar a cena de skate de Juiz de Fora, trazer uns eventos pra cá, ter uma loja da hora, que seja referência no Brasil, tipo a Matriz, a Forever de SP. Meu sonho é viver do skate. É ter um filho e falar pra ele: “Isso aqui que você tá ganhando é fruto do skate, eu andei muitos anos pra gente ter essa casa, pra gente ter esse carro, pra você estudar nesse colégio. Tudo é fruto do skate.” Agradecimentos: Um salve pros meus patrocinadores, porque se não fosse eles hoje eu teria parado de andar: Simple, de Goiânia, que é uma marca de shape e confecção que me dá a maior moral, tá sempre fechando comigo pra qualquer lugar que eu for; para a Haze Homies, que é daqui de Juiz de Fora, uma marca só de confecção; são as roupas que eu visto, são os moleques daqui que estão começando agora mas não deixam faltar nada, sempre que eu preciso eles tão em cima. Um salve pra Sphera do Jay Alves, lá de BH, skatista há milianos. Tá começando com a marca e já tem uma equipe da hora. Logo menos sai o vídeo. Obrigado à loja Forever, ao Gore, que depois do DC, fechou comigo; sem palavras. Um salve especial pro Reco e pro Paulinho da DC Shoes Brasil, porque os caras tão me dando um suporte maneiro. E um salve pra La Calle, uma marca de óculos aqui de Juiz de Fora. Tem uns óculos bem da hora, me ajudam muito com grana pra viajar. Um salve pra Zona Norte, um beijo para minha mãe e pro meu pai; eles não me apoiaram no começo, mas tudo bem, todo mundo erra. Meus camaradas, o Joãozinho, o João Vitor Galvão, o Tutuca; ao profissional Peterson Gomes, que se não fosse por ele eu não ficaria em SP e ele tá sempre comigo pro que der e vier; o rasta é responsa. Ao Ken e você, que sempre fortalecem. E aos KNPS, a crew aqui da Zona Norte. Não dá pra citar todo mundo, mas geral tá ligada. Quem anda comigo sabe quem é.

// NICHOLAS DIAS 21 anos, 9 de skate Patrocínio: Simple Apoio: DC Shoes, Haze Homies, Forever, Sphera, La Calle outubro/2015

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GABRIEL KLEIN

vídeo // art of life

Juliano Cassemiro, bs slide na ladeira do Sumaré, Rio.

ARTE DA VIDA

SKATISTAS SABEM VIVER. A EXPRESSÃO FORTE NÃO É UM EXAGERO EM CASOS COMO O DA FAMÍLIA JULIANO CASSEMIRO/REINE OLIVEIRA E SEU FILHO LUCCA. NÃO FICAM PARADOS, ESTÃO SEMPRE AGITANDO NOVOS PROJETOS, EXPLORANDO TODAS AS VERTENTES DO SKATE, SURFANDO E VIAJANDO. NÃO À TOA FORAM ESCOLHIDOS PARA INTEGRAR O PROJETO ART OF LIFE, DO FRANCÊS TIBS PARISE E O FOTÓGRAFO OLEEV TORRIN, CARAS QUE JÁ GRAVARAM COM NOMES TARIMBADOS DO SKATE MUNDIAL, COMO JEFF BUDRO, JAMES KELLY, LOUIS PILLONI E AMANDA POWELL. A TRIP DA VEZ FOI NO BRASIL, COM A FAMÍLIA CASSEMIRO COMO BASE, MAIS O CONVIDADO RENATO SALES, PARA OS ESTADOS DE SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO E SANTA CATARINA. POR CESAR GYRÃO // FOTOS GABRIEL KLEIN E OLEEV TORRIN

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GABRIEL KLEIN

Além de ser um exímio skatista de ladeira, Tibs Parise manda muito no bowlriding. Layback no Rio Sul, na chuva!

OLEEV TORRIN

OLEEV TORRIN

Renato Sales, bs D, São Bernardo do Campo.

Litoral Norte de São Paulo.

GABRIEL KLEIN

Hora de inverter o slide e abrir para fazer a curva.Tibs Parise.

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GABRIEL KLEIN

Reine, Juliano e Tibs.

OLEEV TORRIN

Lucca Cassemiro, layback.

Boi莽ucanga.

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OLEEV TORRIN

OLEEV TORRIN

Reine, ladeira Colinas, Florian贸polis. Bs layback bluntslide.

Colinas, Florian贸polis.

Oleev e Tibs, Boi莽ucanga.


// vídeo

Lucca.

GABRIEL KLEIN

OLEEV TORRIN

OLEEV TORRIN

art of life

Corcovado.

O

projeto Art of Life segue o mundo mostrando diferentes culturas sobre o mesmo olhar de skatistas que vivem intensamente. Patrocinado pela Sector Nine e a Mission Skate Shop, o roteiro iniciou na minirrampa na casa da família em Mairiporã, seguiu para as ladeiras faixa preta dos condomínios próximos na Serra da Cantareira, depois pegou estrada para o litoral de São Paulo, para picos clássicos do Rio e para Santa Catarina. Sempre envolvendo importantes personagens locais, a Art of Life é um alento para a vida em família, para o saudável ambiente do skate, do surf e de outras atividades que melhorar a sintonia entre o corpo e a mente. outubro/2015

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Gian e Gui.

O LAÇO EM COMUM NÃO HÁ COMPROVAÇÃO DE QUE A GENÉTICA INFLUENCIA, MAS SABEMOS QUE AS CRIANÇAS SEGUEM OS EXEMPLOS FAMILIARES. E MESMO TENDO ALGUNS CASOS NOS QUAIS O PAI EXIGE DESDE CEDO DESEMPENHO DE SUA CRIA EM CIMA DO SKATE, É CADA VEZ MAIS COMUM VER FILHOS DE SKATISTAS COMEÇANDO A MANOBRAR NATURALMENTE E SEM PRESSÃO. É O CASO DOS GAROTOS GUILHERME E TALLYS JUNIOR. // TEXTO E FOTOS JUNIOR LEMOS

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pais & filhos

// artigo

Ju e Tallys.

// GUILHERME SANTO PRETE NACCARATO 8 anos, de São Paulo, SP Patrocínios: PTG Crew, Folly Skateboard, Arena Clube do Skate, Shit Griptape e Hoffmeisterhouse // TALLYS MARCOS LEOPOLDINO JUNIOR 11 anos, de Passos, MG Patrocínio: Natividade Skateshop Apoio: Célula Skate

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Guilherme Naccarato segue manobrando no solo onde seu pai se criou: rock’n’roll to fakie na fonte do Vale, Centrão de SP.

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pais & filhos

// artigo

O

profissional paulista Gian Naccarato e o amador de Minas Gerais Tallys Marcos são alguns destes pais que agora têm os melhores companheiros de sessão! Skatistas de longa data e que conheceram o skate ao longo da adolescência, eles viram seus filhos tomarem gosto pelo carrinho ainda na infância. “O Gui começou a dar seus primeiros passos e na sequência já começou a subir no skate, isso com 9 meses. Com certeza é o meu maior companheiro de sessão, é muito style andar com ele, vê-lo andando e evoluindo a cada dia”, explica Gian. É comum que ao longo de sua formação as crianças passem por várias fases e o skate seja visto apenas como mais um brinquedo. Mas quando realmente existe o gosto, a brincadeira começa a ficar séria. “O interesse do Junior pelo skate ficou ainda mais forte de cinco anos pra cá. Foi quando ele ficou mais interessado; focado mesmo. Ele só quer saber de skate, de andar de skate! O skate foi o primeiro esporte que ele se interessou. Veio naturalmente e sem pressão, eu o deixei à vontade pra fazer o que quisesse e hoje é meu melhor companheiro de sessão. Sempre evoluímos juntos, naturalmente”, diz Tallys. Gian também deixa bem claro que o skate foi uma escolha livre do filho. “Nunca o forcei a nada. Ele realmente gosta de andar e eu faço o que posso; incentivo e apoio, mas sempre deixando ele a vontade para fazer outras coisas também”. O único momento no qual os pais afirmam ser preciso uma boa conversa é quando se trata dos estudos. “O Gui está numa fase de andar bastante, quase todos os dias e sem

Tallys Junior tem a sagacidade do pai em lançar manobras em picos inéditos. Switch fs ollie na paróquia de N. Sra. de Fátima em Passos, MG.

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artigo // pais & filhos

Gian, switch fs hurricane, SP.

parar. Mas falo para ele que tem que ter hora certa para se alimentar, saber dos compromissos e responsabilidades, pra poder conciliar as coisas. Ainda não quero que ele se preocupe com o que vai ser quando crescer, mas ele sabe que a única responsa é estudar. Converso bastante com ele sobre isso. Tem que se esforçar na escola, nos estudos”, comenta Gian. Quanto ao fenômeno de ver tantas crianças fascinadas pelo skate, os dois skatistas acreditam que o acesso à informação facilita bastante neste início. “Hoje é muito fácil ver skate em qualquer lugar, na TV, internet, na rua, então acho que isso facilita o contato”, explica Gian. Contudo, Tallys destaca que é importante ensiná-los na busca pela informação. “Acho maravilhoso essa paixão das crianças! Devido ao acesso, hoje é muito fácil obter materiais e informações de qualidade, só que essa garotada precisa se instruir pra acessar conteúdos verdadeiros e que agregam à cena do skate”, diz ele. E a principal mensagem que os dois skatistas deixam para seus filhos, e que serve de exemplo pra os demais que também têm seus guris no skate, ou também praqueles crescidos que não tiveram a oportunidade de ouvir isso de alguém, é a de que o skate é livre, não depende de competição ou resultados. “Na parte do skate, sempre pensei de uma forma e falo sempre isso! Ande de skate desencanado, pensando em se divertir, se sentindo bem, dando risada, que a evolução é natural e o que vai acontecer é consequência”, finaliza Gian.

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Tallys, fs ollie into bank, MG. outubro/2015

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casa nova //

Álvaro Koringa // FOTOS FERNANDO GOMES Skate e roupas atuais: Shape Vestígio decks, rodas Bones, rolamentos Shake Junt e trucks Thunder. Camisa Candy, calça Globe e tênis Converse All Star. Manobra que não suporta mais ver: Amo todas as manobras. Manobra que ainda pretende acertar: 50-50 descendo um corrimão cabreiro, estilo Dakota Servold. Principal rede social que usa ultimamente: Apenas Facebook e minha caixa de emails. Não tenho Instagram, Whatsapp e nem uso número telefônico. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Falta de estímulo governamental e social. Skatista profissional em quem se espelha: Aaron “Jaws” Homoki. Uma marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Fender electric guitars. Atual melhor equipe de skate brasileira: Converse. Amador que você gostaria de ver pro: Felipe Oliveira. // Álvaro Barbosa Santos Nasceu em Catu/BA Mora em Brasília/DF 23 anos, 11 de skate Patrocínio: Candy Sessions Skateboarding Projects Apoio: Nordeste Skt Crew

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Fs flip no Jardim dos Namorados, Salvador.

Agradeça cada dia por estar vivo.



casa nova //

Bruno Cascão // FOTOS JOÃO BRINHOSA Skate e roupas atuais: Shape Kronik, rodas Gosma, rolamentos Red Bones, trucks Independent, roupas e tênis Hanff. Manobra que não suporta mais ver: hardflip. Manobra que ainda pretende acertar: Fs smith grind 360 flip out. Principal rede social que usa ultimamente: Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: falta de marcas que apoiem o skate e pista decente pra andar. Skatista profissional em quem se espelha: Akira Shiroma. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Apple. Atual melhor equipe de skate brasileira: Crail trucks. Amador que você gostaria de ver pro: Djorge Oliveira. // Bruno Zanon de Jesus 17 anos, 4 e meio de skate Nasceu em Esteio, mora em Sapucaia do Sul, RS Patrocínio: Hanff shoes

Nollie flip, Porto Alegre.

Uma vida só, tentativa e erro. Sem muito tempo pra errar, na verdade.

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casa nova //

Fs rockslide no Ibira, em SP.

Yuri Formiga // FOTOS CARLOS TAPARELLI Skate e roupas atuais: Shape Hull, rodas Rise, rolamentos Red Bones e trucks Threat. Camisa e boné Funky, calça sem marca e tênis Hocks Gui Zolin. Manobra que não suporta mais ver: Gosto de ver todas as manobras que são bem executadas. Manobra que ainda pretende acertar: 360 flip fs noseblunt. Principal rede social que utiliza ultimamente: Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Falta de marcas que querem

Fé em Deus.

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apoiar os skatistas de verdade. Skatista profissional em quem se espelha: Lenny Rivas. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Integralmédica Suplementos. Atual melhor equipe de skate brasileira: Matriz Skateshop. Amador que você gostaria de ver pro: Anderson Stevie. // Yuri Amorim Paixão Rio de Janeiro, RJ 23 anos, 11 de skate Patrocínios: Grab Skate Shop, Hull Skateboard e Funky Original Clothing


FOTO: JUNIOR LEMOS

˜ JULIANO CASSEMIRO ˜

RESPEITO À CULTURA

DO SKATE

BRASILEIRO

produtostriboskate@gmail.com

www.triboskate.com.br facebook.com/triboskate twitter.com/triboskate instagram.com/triboskate


negócios e tecnologia //

A CÂMERA, O “SKATÃO”, O PROGRAMA E AS CERVEJAS UM SKATE GIGANTE E A CÂMERA DE AÇÃO COM WIFI E RESOLUÇÃO FULL HD. UM PROGRAMA DE SKATISTAS NO YOUTUBE E CERVEJAS INSPIRADAS NO HEAVY METAL DO AC/DC E DO IRON MAIDEN. A COLUNA NEGÓCIOS E TECNOLOGIA DESTE MÊS ESTÁ DE GELAR A GARGANTA. // POR PEDRO DE LUNA

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FOTOS DIVULGAÇÃO

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PEDRO DE LUNA

Atrio lançou uma câmera esportiva com resolução full HD e o colunista fez o teste. A Fullsport Cam (R$ 659) fotografa e filma com lentes angulares de 170 graus e resolução de 1080p em 30fps ou HD 720p. Já vem com um case à prova d’água, bastão de selfie e diversos suportes para ser acoplada em skate ou capacete. Para o shape, é sugerido utilizar um adesivo que acompanha o produto. Ah, e o WiFi da câmera permite enviar as imagens para um smartphone ou que ela seja controlada remotamente através dele. O gerente de produtos Marcel Balog diz que o grande diferencial desta para as demais é o custo−benefício. “A Atrio Fullsport Cam oferece as mesmas tecnologias das câmeras top do mercado por metade do preço”. Para uso contínuo, a bateria dura 1h30, mas “estamos colocando ainda este ano baterias reservas e outros acessórios”. O usuário que postar e marcar o seu vídeo com a hashtag #atriosportcam pode figurar no Facebook ou Instagram da empresa. A Atrio também detém no Brasil a marca Bob Burnquist para skates, câmeras de ação e equipamento de proteção. Mas ainda não definiu se fará publicidade ou patrocínios de atletas e eventos. “Em breve faremos nosso orçamento para 2016, então, quem sabe?”, diz Balog. Do escritório para as ruas. Em junho, o skatista Jorge Cupim montou um carrinho gigante na Praça XV, no centro do Rio de Janeiro. Este colunista passou por ele em setembro e, apesar dos pneus vazios, continua lá mostrando quem manda no pedaço. Ainda falando no Rio, Baba de Lex continua com o programa Pela Fechadura, que conta com duas edições por mês e veiculação no YouTube. Nicola Grilo, Ionir Mera e Fernando Lobo foram as primeiras vítimas. Regado a drinks e muito humor, as entrevistas são improvisadas e realizadas em sua própria casa. O esquema é pura brodagem. Um amigo filma e fotografa, Baba apresenta e edita, e a namorada ajuda na produção. Em entrevista à coluna, Baba (codinome de Fabio Alexandre, 35 anos, 21 de skate) diz que o objetivo é unir a nova geração em prol do carrinho. “Não dá mais para esperar a associação de skate e a prefeitura terem a iniciativa. Eu quero falar sobre as lojas que não apoiam e nem patrocinam o skate aqui no Rio. Temos poucas marcas que estão começando a crescer e fazendo alguma coisa. Eu vejo que aqui é skatistas por skatistas, e tem muitos bons sem incentivo”. Fechando a coluna, uma pra quem gosta de cerveja e heavy metal. Duas cervas artesanais estão dando o que falar (e beber). A AC/DC Premium Lager é uma German Pilsner vendida em latão de 568 ml. Já a Trooper foi desenvolvida por Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden e grande apreciador de cervejas Ale, em parceria com a Robinsons − vale frisar que foi primeira vez que a tradicional cervejaria utilizou o formato, neste caso um latão de alumínio de 500 ml. “As latas de alumínio são uma excelente proteção contra luz e oxigênio – maiores inimigos da cerveja −, proporcionando que sua bebida mantenha o sabor fresco por mais tempo”, explica o próprio Bruce. Além de gelar mais rápido, ocupar menos espaço e serem mais fáceis de reciclar, podem ser consumidas em shows e festivais. As cervas das duas bandas estão a venda em lojas especializadas e no thebeerplanet.com.br

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1. A Atrio Fullsport Cam dentro do case. 2. O gerente de produtos Marcel Balog. 3. Skate gigante criado por Jorge Cupim. 4. Baba de Lex (de chapéu e com a máscara do Jason) nos bastidores do programa. 5. Cervejas das bandas AC/DC e Iron Maiden.


playlist

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MANOBRAR ENTRE AS DIVERSAS SUPERFÍCIES NAS QUAIS O SKATE CIRCULA É UMA QUALIDADE QUE TORNA COMPLETO O REPERTÓRIO DO SKATISTA. TALVEZ POR ISSO A COMPILAÇÃO DAS 10 MÚSICAS MAIS TOCADAS NOS OUVIDOS DO PETER SEJA TÃO DIVERSA EM RITMO E ESTILO, COMO É SEU CAR­ TEADO EM CIMA DO SKATE. (JR LEMOS)

ANDRÉ CALVÃO

Sabotage, Rap é Compromisso Os Replicantes, Tom e Jerry Black Sabbath, Under the Sun Everyday Comes and Goes Parteum, A Fórmula Bad Brains, Banned in D.C. Wu Tang Clan, Protect yo Neck The Hunns, Skate Away Slayer, Died by the Sword Miles Davis, Autumn Leaves Al Barry and the Cimerons, Morning Sun

Escuta som andando de skate? Sim Não Se sim, em qual aparelho? NO IPHONE Usa qual fone para isso? QUALQUER UM

Bs feeble, Centro de SP.

Assista à playlist no youtube.com/triboskatemag ou use este QR Code.

*Peter Volpi (Yerbah, Balboa e Haiiz. Apoios: Thunder e Spitfire/Plimax)

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DJ CIA MÚSICA

24 HORAS POR DIA

SEGURE DIREITO A REVISTA QUE VOCÊ TEM EM MÃOS AGORA PORQUE ESSAS PÁGINAS ESTÃO PESADAS! QUEM CHEGA POR AQUI NA SEÇÃO ÁUDIO É NINGUÉM MENOS QUE O DJ DE UM DOS GRUPOS MAIS IMPORTANTES DO RAP BRASILEIRO. COMO SE NÃO BASTASSE COMANDAR OS TOCA-DISCOS DO RZO, ELE AINDA ACOMPANHA O CANTOR SEU JORGE, É UM DOS PRINCIPAIS PRODUTORES DE RAP DO PAÍS, INCLUSIVE PARTICIPANDO ATIVAMENTE DO DISCO MAIS RECENTE DOS RACIONAIS – CORES E VALORES. DONO DE UMA CARREIRA CONSOLIDADA, GRAÇAS A MUITO TALENTO E TRABALHO, COM DIREITO ATÉ A LINHA DE TÊNIS LEVANDO SEU NOME, É COM MUITO ORGULHO QUE A TRIBO SKATE APRESENTA A VOCÊS O DJ CIA. POR FERNANDO GOMES // FOTOS RICARDO SOARES

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que você mais gosta de fazer: produzir beats, discotecar ou fazer shows com o RZO/Seu Jorge? Qual a particularidade mais especial de cada uma dessas atividades? Eu vivo música 24 horas por dia. Quando não estou produzindo, eu estou tocando. E cada momento é diferente, porque a cabeça trabalha de formas diferentes. Você produzir é um momento só seu, com suas ideias. Mexe com a mente, você cria o que você quer e tem vontade de fazer. Com show é você trabalhando em sintonia com outras pessoas, com outros manos do Rap. No show do Seu Jorge também é a mesma coisa, estou em sintonia com outros músicos e cada um tem a sua exigência; eu faço inserções junto com os outros instrumentos que têm na banda. No do RZO a gente executa coisas que produzimos no estúdio, então é mais livre, mas sempre atentos aos olhares, em saber qual o próximo som, vendo a

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reação do público. Como DJ, estou ali sozinho e então faço aquele raio-x do público, tento entender o estilo de som que eles querem ouvir. Às vezes é um pessoal mais novo, então querem mais novidades. Em outras, é a rapaziada que gosta de ouvir aqueles sons mais antigos mesmo. E assim rola esse lance da identificação de cada pessoa que está na festa. Pra mim, essas são todas coisas que eu amo fazer! Como está sendo esse momento de retorno do RZO? O RZO está voltando com força total. Estamos trabalhando para dar o que os nossos fãs pediram, afinal eles foram os maiores incentivadores da volta do grupo. Eles entram com a certeza de que estão preparados para ouvir um original Rap nacional, com qualidade e música boa. E o que o público pode esperar das próximas ações do grupo? Além dos shows (estamos em turnê nacional), o RZO está traba-


rap

lhando em músicas inéditas para o novo disco. Em nosso processo de criação, estamos primeiro selecionando os temas que o nosso público se identifica para assim poder trazer novos fãs para o RZO. Paralelo a isso estão sendo criados os beats, com a participação de alguns músicos amigos nossos, para que também tenhamos músicas ricas em arranjos orgânicos, e não só samplers. Estamos cuidando com carinho de tudo isso. Qual foi sua participação no disco mais recente dos Racionais - Cores e Valores? E qual a importância que você enxerga nesse disco, no atual contexto do Rap no Brasil? Eu participei desde o começo do álbum, de várias faixas. Algumas nós modificamos, outras já vieram do Brown prontas e nós mudamos algumas coisas juntos, mas fizemos a maioria das faixas em grupo. Então, até as que eu havia produzido sozinho, de acordo com as opiniões e ideias do grupo, acabamos mexendo e modificando. Foi um momento importante, mais um trabalho sendo feito. Para mim, acrescenta também no meu currículo como produtor de Hip Hop - fora os outros estilos que eu trabalho. Mas os Racionais, como todos já sabem, são o maior nome do Rap nacional. Pra mim é bom participar e ter essa responsabilidade de trabalhar com um grupo desse porte, aqui no Brasil. O disco tem um formato diferenciado: é mais rápido. Então foi uma novidade no mercado e eu fico feliz de fazer parte. Como foi produzir um modelo de tênis com seu nome? Comente sobre essa parceria. Está sendo muito legal. Estamos felizes com o resultado e o tênis ficou louco! Eu já tinha o meu selo - BeatLoko - e quando fui convidado a assinar uma linha de tênis, na hora veio a ideia de lançar com esse nome, que já é algo que a molecada se identifica, por causa dos beats. Então lançamos o modelo BeatLoko no mercado, com cinco cores, para homens e mulheres. Isso fortalece e atrai o interesse de outras marcas a investirem em nomes que têm força dentro da música, e até mesmo na rua. Estamos desenvolvendo outras coisas. Sabemos que a moda anda junto com a música e o esporte. Não tem como não dar uma atenção para isso e a Qix teve essa visão: acreditou e estamos tendo bons resultados. Acho que como DJ, ter a oportunidade de lançar um tênis assinado por uma marca grande como a Qix - que já está há mais de 20 anos no mercado - me deu mais força para continuar a acreditar que um dia algo mudaria no Brasil para a cena do Hip Hop, da qual eu sou filho. O que é o projeto Track Rec? O Track Rec é a união do Helião (RZO), comigo e o Ice Blue (Racionais). A ideia é mostrar músicas com diversas vertentes e unir isso a sons orgânicos, com banda. Esse projeto ainda será lançado, mas já tem uma música que o público conhece bem: a Triplex. O pessoal já canta nos shows, tanto dos Racionais, quanto do RZO. Podem esperar um disco bem diferenciado, com dois dos melhores rappers do Brasil! O Rap está hoje em um momento de grande visibilidade dos MCs e grupos. E com relação aos DJs e produtores/beatmakers, que são fundamentais para esse crescimento, você acha que o retorno e reconhecimento que vocês têm hoje é justo? Se falar que é justo eu estarei mentindo, pois ainda não acho que esteja. Estou feliz do jeito que estou: trabalhando e tocando muito. Em todos os lugares que vou, sou bem recebido e meus outros amigos DJs também. Mas eu digo que não está justo, não só pra mim, mas para a maioria dos DJs que são DJs de verdade, que levam o nome e fortalecem a cultura há muitos anos, sempre somando e tocando música nacional. E hoje, em muitos lugares, os DJs não são tão bem pagos. Eu e alguns outros ainda estamos brigando por isso. Infelizmente, como o DJ se tornou algo muito comum (todo mundo é DJ hoje), muita gente se oferece pra tocar por preços bem baixos e as casas aceitam. Mas os de verdade, os que fazem por amor e com responsabilidade, acabam se mantendo e fazendo com que os lugares que a gente vá tocar tenham a estrutura e o valor devido que merecem. O que você diria às pessoas que vaiaram o KL Jay na abertura do show do Bone Thugs? Você já passou por algo parecido? Eu acho que foi um mal entendido do público, que foi mal informado sobre os horários pela organização do evento. Muitos chegaram muito cedo, era um domingo, dia das mães, então não imaginavam que o público ia sair tão cedo de casa e foi o que aconteceu. O show do Bone estava marcado para as 22h00 e as pessoas começaram a chegar e fazer fila pra entrar no local às 16h. Então, ficar dentro desse ambiente por tanto tempo, esperando, causa até um stress. Mas acredito que foi um desentendimento que serve também de li-

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ção para os organizadores de eventos informarem o público melhor. Você já está há bastante tempo trabalhando no Hip Hop e já esteve presente em diversos momentos da cultura. De quando você começou a acompanhar até hoje, destaque um aspecto que você acha que melhorou e um que você acha que piorou? Estou há muito tempo mesmo. Tenho vivido essa transição e acho que melhorou bastante pra alguns e pra outros não. Hoje, o Rap tem um pouco mais de visibilidade, através da internet. Melhorou pra quem é correria, quem tem muita vontade de vencer e corre atrás, batalhar, se estruturar e faz acontecer. Põe CD na rua, faz os clipes, junta a sua equipe e sai trabalhando profissionalmente. E piorou pra quem fica esperando, aguardando pessoas estenderem as mãos ou o enxergar como um talento. Hoje não basta você só ter talento, você tem que ter uma estrutura, tem que ter uma equipe, estar antenado no que está acontecendo e ir atrás. Antigamente não existia tantos grupos de Rap como hoje, então o que aparecia todo mundo ficava sabendo. E hoje não, são muitos e a concorrência é gigante. Se você não estiver preparado, vai ficar pra trás.

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skateboarding militant // por guto jimenez*

P

IVAN SHUPIKOV

eguei carona numa música do Chico Science pra falar sobre um status que é, sempre foi e sempre será o mais recompensador entre todos no universo do skate: ser amador. Por mais que o objetivo de quase todo skatista que leve as competições a sério seja virar profissional e ganhar pra andar de skate, a realidade é que existem muitas vantagens em ser e/ou permanecer amador pelo máximo de tempo que se conseguir. Não, eu não perdi o juízo: acompanhe comigo abaixo e, no final, tenho certeza de que iremos concordar lá no final do texto. Eventos – Não é preciso ser um gênio da matemática ou de estatística pra se constatar que existem muito mais eventos voltados aos amadores do que aos profissionais. Engana-se quem pensa que isso só ocorre pela obrigatoriedade de se oferecer uma premiação em dinheiro, uma vez que existem campeonatos e até circuitos amadores que oferecem prêmios em grana viva. Também está errado quem imagina que a “culpa” é dos cadernos de encargos da CBSk, pois os mesmos são muito menos complicados do que um bocado de gente imagina. A principal razão é simples: a amplitude dos eventos em si. Como temos muito mais amadores do que pros em todas as modalidades, a quantidade de inscritos e participantes em eventos da categoria é muito maior do que as disputas entre os profissionais. É óbvio que quanto maior o público e o número de competidores, maior também será a responsabilidade de quem promove e organiza esses campeonatos, portanto é errado pensar que é uma tarefa mais fácil lidar com amadores. Não é mesmo; por terem mais chances de correr campeonatos, eles sabem perfeitamente quais os critérios que separam os eventos inesquecíveis daqueles que são mal organizados. Pense um pouco com a mentalidade de alguém que está por trás desses eventos: o que você iria preferir, fazer um campeonato profissional e torcer pra que tenha 50 inscritos ou outro amador e ser obrigado a limitar as inscrições a 100 por causa da alta demanda?! Acho que a resposta é bem óbvia. Exposição – Uma coisa leva à outra: quanto mais os amadores são vistos em sessões e eventos, mais as marcas que os apoiam são expostas. As marcas mais espertas costumam pagar incentivos de imagem a seus amadores e profissionais, que nada mais são do que uma grana extra que entra no bolso do skatista todas as vezes que ele aparece na mídia impressa ou virtual e que a marca esteja exposta. Atualmente, a localização de adesivos em skates e capacetes e de patches nos macacões do downhill speed é muito mais uma questão de estratégia do que de composição visual. Nada mais justo, afinal, já que são essas marcas que dão condições ao skatista de fazer o que ele mais gosta. Nesse caso, uma mão lava a outra – e ambas ficam limpas e bem expostas, que é o principal. Justiça seja feita: a TRIBO SKATE vem divulgando alguns dos melhores amadores que já surgiram nesse país desde o primeiro número, traçando perfis e realizando entrevistas desde sempre. Só pra você ter uma ideia, a edição de estreia trouxe o perfil de um então garoto chamado Bob Burnquist... você conhece?! Evolução – O Brasil é um país cujo cenário de skate está focado em competições. Por conta disso, os amadores têm muito mais chances de avaliar os seus desempenhos (e serem avaliados) do que os profissionais. Naturalmente, isso faz com que a evolução entre os integrantes da categoria seja bem maior do que na elite dos competidores. Exagero?! Nem tanto: há poucos anos, foi realizado um evento de ressurreição da histórica Ladeira da Morte, em SP, e a ideia inicial era a de fazer uma disputa amadora, uma pro e uma master de downhill slide. Os amadores tiveram de esperar mais um

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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THOMAS TEIXEIRA

Amadorismo por uma questão de classe

Ser amador é suar a camiseta, de preferência com muita alegria. Gabriel Fortunato, um talento que faz isso todos os dias.

pouco – o nível deles estava muito maior do que o dos próprios profissionais, por causa de longos 13 anos sem nenhum campeonato profissional de DHS. Eu estava lá, fiz a locução e também dropei o pico depois de 21 anos, o que foi ótimo, mas melhor ainda foi o respeito demonstrado com os profissionais, que tanto ralaram e roeram ossos pra que os moleques tivessem pelo menos um campeonato por mês pra correrem. Não tem nada de errado em ter o objetivo de virar profissional, muito pelo contrário; agradeço todos os dias pelo cenário brazuca permitir essa possibilidade a quem merece, já que minha geração foi no máximo “semi-pro” e a gente sonhava com muitas das coisas que estão ao alcance dos amadores atualmente. Porém, é preciso que se tenha consciência de que, quando andar de skate vira obrigação e trabalho, muitas coisas precisam ficar pra trás – e algumas jamais serão tão divertidas e descompromissadas como antes. Também é preciso ter consciência da dificuldade da missão: num país de cerca de 5 milhões de skatistas, cerca de 500 são profissionais em todas as modalidades no país. Sim, é uma elite que doou um bocado de pele, sangue e até ossos pra chegar onde está por puro merecimento. Como tudo na vida, virar pro é uma questão de escolhas feitas, de oportunidades e de foco nos objetivos. Se você é iniciante ou amador e deseja ser um skatista profissional, corra atrás com perseverança e tomara que você consiga, mas não force a barra. Aproveite o tempo de amadorismo ao máximo que você puder, principalmente os rolés sem compromisso com os amigos; depois de se profissionalizar, você provavelmente só terá essa chance de novo quando virar máster. Então, você entenderá os motivos de nós, veteranos, curtirmos tanto cada sessão que fazemos... Boa sorte!


ARRISCAR-SE EIS A QUESTÃO Sabe aquela velha ressalva “Não faça isso em casa” complementada pela afirmação “Estas cenas foram feitas por profissionais devidamente treinados”? O skatista está sempre rompendo limites. São muitas situações administrando riscos, que quando fogem ao controle, podem resultar em sérios problemas. A foto do Índice desta edição, do nollie to fakie do Pedro Dezzen, com os carros passando na avenida logo abaixo, dá uma pequena ideia do perigo que ele corria, mas vista assim desta perspectiva, você consegue enxergar os cerca de 6, 7 metros em relação ao chão da avenida. Assusta, mas enobrece o autor. Realmente, para ele chegar a este resultado, precisou de muitas horas rodadas em cima do carrinho, de treino, foco e persistência, somente para destacar alguns dos requisitos. Foto: Thomas Teixeira

PRÓXIMA EDIÇÃO // 24 ANOS

CONTAGEM REGRESSIVA PARA O PRIMEIRO QUARTO DE SÉCULO TRIBO SKATE – NUNCA UMA REVISTA BRASILEIRA DE SKATE FOI TÃO LONGE!





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