Tribo Skate #239

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LÉO RUIZ * COQUETEL MOLOTOV * MATRIZ SKATE PRO * PANKRAGE

ESPECIAL SKATE SHOES 2015 FOGO NOS PÉS

AS CRIAS DE CRIS MATEUS SIMBIOSE

JN CHARLES E RAMON ESPELHADOS

O PULO DO GATO

SKATE GENERATION 2015 Lehi Leite, fs fifty Ano 25 • 2015 • # 239 • R$ 12,90

www.triboskate.com.br








Ă­ndice //

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TRIBO SKATE 239 DEZEMBRO 2015

ESPECIAIS> 34. Motivadores

As crias de Cris Mateus

40. Simbiose

JN e Ramon se espelham na parceria

44. Fogo nos pés

Especial Skate Shoes 2015

62. O pulo do gato

Red Bull Skate Generation

SEÇÕES>

Editorial......................................................................... 12 Zap ............................................................................... 16 Casa Nova ....................................................................68 Negócios e tecnologia .................................................. 74 Áudio/Playlist (Pankrage) ............................................. 76 Áudio/Punk (Coquetel Molotov) ....................................78 Skateboarding Militant ..................................................80 CAPA: Surgido das ruas de Brasília, Lehi Leite está vivendo um momento especial em sua vida de skatista amador. Além de suas notórias habilidades nas sessões de street, foi mais um brasileiro a colocar bem o nome do Brasil no campeonato amador do Skatepark Of Tampa, na Flórida, Estados Unidos, ao vencer as eliminatórias da grande e disputada vitrine do skate mundial. Considerável frontside fifty em sua terra. Foto: Vinicius Branca ÍNDICE: Sessão fresquinha que rendeu mais uma grande oportunidade para Jean Espinosa mostrar seu domínio em qualquer terreno.Tail drop to fifty na até então intocada tinta branca do corrimão de Piracicaba. Foto: Rodrigo K-b-ça

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editorial //

Todos os planos POR CESAR GYRÃO // FOTO RAPHAEL KUMBREVICIUS

Q

ue ano esquisito foi 2015. Parece que todos foram esmagados pelo rolo compressor da depuração da política no Brasil. Todo mundo juntinho, misturado com pixe, formando a camada espessa de um bom asfalto. Exageros à parte, nunca antes na história deste país se prendeu tanto, se levantou tanta falcatrua, se expôs tantos maus hábitos. E o que parecia ser uma interminável depressão financeira ainda nos acompanhará em 2016. Ou não? Falando em skate, o breque foi acionado em muitas áreas, mas outras nem tanto. Passamos mais um ano sem um circuito nacional profissional decente, pois o Banco do Brasil recuou com sua Copa Brasil de Skate Vertical e os tradicionais eventos do Ceará de street foram cancelados, a DC Shoes e a Drop Dead adiaram seus clássicos “pro champs” para o próximo ano. Em contrapartida, outros tipos de ações movimentaram aqueles nomes que são nossas referências, os ídolos profissionais e amadores que continuam fazendo bonito em campeonatos, em revistas e em vídeos. Luan Oliveira, Kelvin Hoefler, Tiago Lemos, Marcelo Formiga, Lehi Leite, Rony Gomes, Pedro Barros, Felipe Foguinho, Vi Kakinho, Leticia Bufoni são apenas alguns exemplos.

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Enquanto a economia aqui travava muitas iniciativas, Luan e Kelvin destruíam na Street League. O que falar dos brasileiros envolvidos com os grandes projetos de vídeo do planeta, como o We Are Blood da Mountain Dew, o Propeller da Vans, o De La Calle/Da Rua da DC Shoes, entre outros? Em Floripa, o novo “pulo do gato” da galera do RTMF, foi a realização em novembro do quinto Red Bull Skate Generation, agora num super park que eleva o bowlriding a outro patamar. E, neste início de dezembro, Cezar Gordo, Marcus Cida & Cia estariam realizando mais um dos seus ótimos Matriz Skate Pro? Certo, a feira do mercado do skate brasileiro, a URB, teve uma de suas versões do ano cancelada, mas nada parou definitivamente por causa da retração. Em anos esquisitos, como foi o do início da Tribo Skate em 1991, é que os verdadeiros do mercado e do esporte se fortalecem. Numa época que esta palavra está completamente banalizada (verdadeiros), é sempre bom lembrar que para se manter ativo e determinante as pessoas por trás das marcas, das mídias e entidades devem se manter unidas. E, salvo exceções, as uniões dos agentes formadores do skate não estão lá vigorando como poderiam. Vamos juntar novamente as forças em 2016?

A arte da estrutura do viaduto é emblemática, com sua discreta frase: “Eu consigo!”Andar de skate é um ato solitário, como o do Matheus Luz, em seu frontside tailslide transfer, mas se não fosse pela força dos amigos ocultos na foto e do fotógrafo, tudo ficaria mais difícil.



ANO 25 • DEZEMBRO DE 2015 • NÚMERO 239

Editores: Cesar Gyrão e Fabio “Bolota” Britto Araujo

Próxima edição // 240 Bem-vindo 2016! Continuaremos descobrindo e criando novos picos.

Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge Chefe de redação: Junior Lemos Arte: Edilson Kato Publicidade: Fabio Bolota Cezar Toledo Colaborararam nesta edição: Texto: Guto Jimenez, Nefhar Bork, Pedro de Luna, Ramon Ribeiro e Rodrigo K-b-ça Fotos: Andrea Murat, Adriano Rebelo, Bruno Passos, Daniel Bristot, Diogo Groselha, Fabio Bitão, Fernando Gomes, Fred Vegeli, João Brinhosa, João Paulo Ferreira, Jovani Prochnov, Leandro Moska, Mia Davila, Nefhar Bork, Paulo Macedo, Raphael Kumbrevicius, Rodrigo K-b-ça, Thomas Teixeira e Vinicius Branca

Norte Marketing Esportivo Diretor-Executivo e Publisher: Felipe Telles Gerente de Conteúdo: Rafael Spuldar Diretora de Criação: Ana Notte Diretor de Arte: Fernando Pires Editora de Arte: Renata Montanhana Editor de Fotografia: Ricardo Soares Produtora: Carol Medeiros Editora On-line: Anna Paula Lima Editor de Vídeo: Paulo Cotrim Distribuição: DINAP Assinaturas: www.assineesfera.com.br Telefone: (11) 3522-1008 Endereço: R. Estela Borges Morato, 336 – Limão – CEP 02722-000 – São Paulo – SP Impressão: Leograf

www.triboskate.com.br A revista Tribo Skate é uma publicação mensal da Norte Marketing Esportivo

As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista.

Thomas Santos, dando um tapa no “Latão”. Foto: Thomas Toddy



zap //

A nova cara de Urussanga // TEXTO E FOTOS NEFHAR BORCK Outubro marcou a realização do XXI Urussanga Skate Park, um dos campeonatos mais clássicos de bowlriding do mundo, com duas novidades: foi válido como etapa do Circuito Brasileiro CBSK e foi a reinauguração da pista. No lugar do antigo coping de ferro, os melhores coping blocks trouxeram outra experiência e abordagem do pico casca grossa. O espaço foi fundado em 1989 e recebeu seu primeiro campeonato em 1991. Sobre a reforma, Iago Magalhães, skatista de Curitiba, que venceu a categoria amador em 2014 com a borda antiga, disse que “com os coping blocks a pista ficou irada e muito cabreira; ficou perfeita. Os copings de ferro travavam um pouco algumas manobras, já nos blocks, tudo se encaixa, e a sensação de andar neles é sem igual. Outros skatistas me disseram que a pista estava mais difícil em 2014.” Pedro Barros, que foi participar da reinauguração da pista comenta: “Frequentei Urussanga praticamente minha vida toda em eventos. Sempre muita energia nesse campeonato, uma galera acolhedora demais. A pista sempre foi aquela que era ‘quase’ muito boa. Faltava um pouco de vertical e depois que começamos a andar nos coping blocks, isso passou a fazer falta nela. Agora, não tem mais o que falar. É uma pista com personalidade. Gostei que na reforma, pois não mudaram o formato, deixaram a história do bowl se manter viva. O que foi feito nele era fundamental pra deixar o skate andar mais alto.” Os bowlriders de Urussanga ficaram impressionados com a qualidade da reforma e dos blocks produzidos por André Barros, como relata Mauricio Boff, old school local que participou ativamente do processo de reforma que diz ainda: “Muitos achavam que a pista ficaria muito difícil de andar, houve resistência, mas o resultado final surpreendeu a todos.” A reforma foi toda bancada com recursos próprios, sendo rateada entre os skatistas locais e o bar da Associação dos Bowlriders de Urussanga (Bar Boca Seca), que abre apenas em dias de campeonato.

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Augusto Akio, fs tucknee sobre o coping block.

Mauricio Boff, o pro de Criciúma, fs carving grind na antiga versão do bowl.



FRED VEGELI

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Osklen Surfing Concrete Session Este é o nome do evento que toma conta do bowl do Rio Sul pelo segundo ano consecutivo. Nesta edição, a chuva quase melou a festa, mas com a proximidade do Skate Generation, alguns skatistas internacionais uniram-se aos bons e destruíram o bowl. Entre os pros, Felipe Foguinho puxou o coro, com Nilo Peçanha em segundo e Rony Gomes na cola. Augusto Akio mandou entre os amadores. O Rio Sul já foi considerado o melhor bowl do planeta e o evento da Osklen fez juz a sua história.

O local Nilo Peçanha, hip fs air.

FOTOS DIVULGAÇÃO

Festa Amais Skateboards

ADRIANO REBELO

A Bowlhouse, no coração da Vila Mariana, em São Paulo, que conta com bowl de madeira, palco pra bandas, churrasqueira, sinuca, skateshop e lounge, recebeu em novembro uma verdadeira “skateparty” para comemorar o lançamento do novo catálogo da Amais, além do primeiro pro model do skatista Henrique Migliano “Banana” pela marca. Regada de churrasco, breja gelada, som da Búfalo e Laybackband e claro, muito skate. Além de ilustres convidados, amadores arrepiaram num best trick no bowlzinho e seu coping block, que a cada manobra rendia diversos produtos premium da Amais skateboards! Ponto positivo para a Amais, que ainda conta em seu time com os skatistas Fabio Gheraldini, João Gabriel, Guilherme Xelém, Marcus Valente, o filmaker Leo Gussi, além do fotógrafo Fabiano Yamada.

Álvaro Porquê, fs air na mais nova pérola da Ilha da Magia.

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O bowl da Costeira Adriano Rebelo fez uma das primeiras sessions de fotos do novíssimo bowl público da Costeira, em Floripa, uma semana após o Skate Generation. Aproveitou as presenças de Daniel Kim e Álvaro Porquê e garantiu belos momentos. Veja mais no triboskate.ativo.com e saiba quem é a revelação local que está quebrando.



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Célula Skate Shoes

Live Skateboard shoes

Marca criada em 2004 na cidade de Franca, um dos maiores polos calçadistas do Brasil, a Célula ainda estava no estágio de projeto socioeducativo de skate, quando o idealizador Kleber Silva tinha em mente uma missão: promover uma mudança significativa no comportamento dos skatistas da nova geração, levando a eles a verdadeira essência e cultura do skateboard. No decorrer dos anos construiu boas parcerias e uma equipe de nível nacional formada pelos skatistas: o próprio Kleber Silva, Rafael Lourenço, Wellington Oliveira e Tallys Jr.. Seu time elevou o nome da marca, e com isso chegaram ao primeiro “Vestindo a Camisa Célula” com o profissional Vitor Sagaz, desenvolvendo em conjunto a collab com sua loja em Manaus/AM, a Sagaz Skateshop, e seu futuro pro model. https://www.facebook.com/CelulaSkate

Conhecida pela dedicação e valorização da arte em seus produtos, a Live Skateboard agregou o tênis ao seu catálogo e vem trabalhando o mesmo conceito da linha de confecção, shapes e acessórios. Conduzindo com criatividade a plascidade do skate na cultura urbana, os calçados vêm com excelente qualidade tanto no acabamento, quanto nos designs desenvolvidos para cada modelo. Encabeçando a equipe, está o profissional Junior Pig e o amador David Teobaldo. Live and Roll! http://www.liveskateboards.com.br/

Maresia Freeday

Adelmo 3.

Entre algumas conquistas de peso para um skatista profissional, é ter um modelo assinado. E quando esse pro model é um skateshoes, o peso é ainda maior. Vale lembrar que no mundo esportivo, o skate com certeza é uma das únicas modalidades que tem centenas de modelos assinados em calçados. Com isso em vista, a Freeday tem assinaturas na sua linha por todos os profissionais patrocinados pela marca. São eles: Marcus Cida, Paulo “PG” Galera, Patrick Mazzuchini, Ricardo Porva e Adelmo Jr (já com o segundo modelo lançado). Lembre-se que todos têm carteiras assinadas pela empresa, sendo que e o Cida já conta com essa garantia há 10 anos. http://www.freeday.com.br/

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Na atual coleção da Maresia o pro model do Suênio Campos vem com novas opções de cores. O tênis que vai para a sua segunda coleção, tem tido uma ótima aceitação no mercado. Com palmilha de gel, interior com espuma dupla, solado vulcanizado com novo design o produto será encontrado além da cor preta também em vinho e marinho. Além disso , a Maresia fechou parceria com a Cisco e a partir dessa coleção tem 17 modelos de skates, dentre modelos de street, long - retrô, fish, simétrico e speed. Todos com estampas exclusivas com logotipia, floral, reggae, entre outras. Grande parte das opções são também estampas de camisetas.



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Matriz Skate Pro 2015

Compromisso com a rua // TEXTO E FOTOS JUNIOR LEMOS Qualquer um que for ao Matriz Skate Pro vai confirmar que o skate tem um forte aliado em Porto Alegre. É um cachorro de rua com 14 anos, criado por ninjas e que desde 2009 comemora seu aniversário no Iapi. Ele nunca deixa de pensar em sua matilha, desta vez trocou placas de basalto no piso, abriu uma bateria para amadores (Dwayne Fagundes levou) e sempre recebe a visita de uma galera cada vez mais numerosa e distante, e que conta com a presença de lendas mundiais como o jedi dinamarquês Tom Penny. O dog também faz festa pelo ano intenso de patas na massa, tendo suas mais recentes construções em Canoas e Guaíba. E como se pode ver, ir ao Matriz Skate Pro virou não só uma festa de final de ano da firma do skate de rua brasileiro, mas também a confirmação de que o compromisso desse sagaz canino é o seu habitat natural, a rua.

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Quatro vezes Luan! Bs flip milimetricamente calculado e fielmente executado.



zap // > Matriz Skate Pro 2015

Cotinz bem Ă vonts na sua estreia como profissional, fast plant finger flip.

Campo Grande no Iapi, switch heelflip de Pedro Iti.

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zap // 365 GRAUS // POR @FABIOBITAOPHOTOGRAPHY FABIO AMAD “BITÃO” É CONHECIDO E RESPEITADO POR BECOS, VIELAS E RUAS DE SP. SKATISTA DA “ÉPOCA DE OURO” NO BRASIL (ANOS 90) E FOTÓGRAFO DE SKATE DESDE 1992, SUAS IMAGENS (FOTO E VÍDEO) E IDEIAS JÁ FORAM VISTAS NAS PRINCIPAIS MÍDIAS ESPECIALIZADAS E HOJE SEUS TRABALHOS ULTRAPASSAM AS BARREIRAS DO SKATE, ESTAMPANDO AS MAIS DIVERSAS PUBLICAÇÕES, LIVROS E EXPOSIÇÕES. COMO AQUI NA COLUNA DESTE MÊS!

Da esquerda pra direita, de cima pra baixo: 1. Fernanda Lima, backstage do desfile de Juliana Jabour #SPFW. 2. Tiago Lemos, ss heel de passagem para revista Rolling Stone. 3. Apelão, Skate Até Morrer. 4. Vinícius Santos, durante as filmagens do filme We Are Blood. 5. #fabiobitaophotography 6. Akira Shiroma, stalefish para o programa Skate no Quintal. 7. Daniel Kim, Full Pipe Session (Cidade de Concreto). 8. M.Takara e Del The Funky Homosapien. 9. Shaka #shakathedog

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LÉO RUIZ ELE É DA ESCOLA DO HALF PIPE DA URGH TENT VERT HOUSE, EM SANTO ANDRÉ, LOCAL QUE JÁ REVELOU NOMES COMO EDGARD VOVÔ, DAN CEZAR E JÁ FOI PICO DE TREINOS DE SANDRO DIAS, DUZINHO BRAZ E SÉRGIO NEGÃO, POR EXEMPLO. LÉO COMEÇOU A FREQUENTAR O ESPAÇO AOS 12 ANOS DE IDADE. O GAROTO PEGOU MUITA BASE, APRIMOROU O ESTILO, VENCEU EM 2012 O CIRCUITO BRASILEIRO DE VERTICAL AMADOR E CONQUISTOU A COPA BRASIL EM SUA ESTREIA ENTRE OS PROFISSIONAIS EM 2014. UM ANO ANTES, HAVIA MUDADO PARA SAN DIEGO, NOS EUA, PRA DESENVOLVER MAIS SEU SKATE EM HALF PIPES, NA MEGA RAMP E NAS PISTAS DE CONCRETO. LEONARDO RUIZ É DEDICADO AO QUE FAZ E TEM PRODUZIDO MUITO NOS ÚLTIMOS TEMPOS. ATUALMENTE ELE FAZ PARTE NO BRASIL DO CASTING DA SPOKESMAN, UMA AGÊNCIA DE TALENTOS QUE CUIDA DE SUA CARREIRA. CORRE NO DIA A DIA DO SKATE COM PATRÔS DA RATUS SKATESHOP E VIRTUAL SKATEBOARDS, APOIOS DA RANDOMS HARDWARE, PREDATOR HELMETS E ALTA WHEELS.

// Leonardo Ruiz 21 anos, 9 de skate De Santo André/SP, mora em San Diego, CA, EUA Patrôs: Ratus Skateshop, Virtual Skateboards Apoios: Randoms, Predator e Alta

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culdade para viver na Califórnia? O que mais sente falta do Brasil quando está lá? (Maria Cristina Silveira, Rio de Janeiro/RJ) – Maria, eu nem cheguei a me matricular (risos). Eu sinto falta da minha família e dos meu amigos, mas aqui na Califórnia eu tenho uma “segunda família” brasileira. A galera daqui me acolheu muito bem, e desde o começo o Mancha, o Bruno e o Chris por

exemplo, fizeram eu me sentir em casa e foram me apresentando para a galera. Agora a família só cresce e o skateboard não para! • Prazer falar com você, Léo. Você continua ligado a sua cidade, Santo André, por fazer parte da equipe da Ratus Skateshop. Como funciona o vínculo com a galera da loja? (Ademar Gonzaga Neto, São Bernardo do Campo/SP)

ARQUIVO PESSOAL

• Qual o momento que se apaixonou pelo skate e por quê as transições? (Jorge Kuge, Jacareí/SP) – Existem muitos motivos que me fazem amar o skate, mas a partir do momento que eu entendi o verdadeiro significado de “Família skateboard”, eu tive certeza que eu estou no lugar certo. Não é por competição, não existe um rival e nem um técnico ou professor falando o que você tem que fazer. O objetivo é sempre fazer uma sessão com os amigos, se divertir e o resto é consequência! A imagem que eu tinha na minha mente sobre skate, era o que eu via quando passava em frente à Urgh Tent Vert House perto de casa e na TV, então eu sempre associei skate com transições. O fato de ter começado em uma pista de transições ajudou bastante também! • Você teve uma carreira meteórica no vertical amador ficando em 4° lugar no Circuito Brasileiro em 2009, 7° em 2010, campeão em 2011, venceu algumas etapas em 2012 e depois se mudou para os Estados Unidos. Em 2014 se profissionalizou e logo na primeira temporada foi campeão da Copa Brasil de Skate Vertical dentro do Circuito Banco do Brasil! Valeu a pena ter se profissionalizado? Saudações palestrinas e continue sendo esta pessoa do bem, meu amigo! (Ed Scander, São Paulo/SP) – Com certeza Ed, eu acho que minha trajetória como amador foi importantíssima para minha profissionalização. Todos os anos rola o circuito vertical amador feito pelo Claudinei Bill com a CBSK que preparou e serviu de escola para a maioria dos skatistas de vert que são pros hoje em dia no Brasil. Comigo não foi diferente, aprendi muito nessa época como amador e a profissionalização foi consequência de experiência boa como amador tanto aí no Brasil quanto aqui na Califórnia. Saudações palestrinas meu brother! Muito obrigado, se hoje eu sou profissional, é muito por conta do trabalho que você, Marcelo e todo mundo envolvido faz e sempre fez. Máximo respeito! • Léo, você trancou a matrícula da fa-



zap //

– A Ratus foi meu primeiro patrocínio. O Ratão foi o primeiro a acreditar e me colocou no time. Eu sempre me dei bem com a galera toda da loja e mesmo morando fora eu apareço sempre pra dar um salve na família e não pretendo cortar esse vínculo. Ratus forever! (risos) • Vi sua participação no Trip TV como um velhinho radical. Diferente do Vovô Chapadão do Pânico, você foi mais na boa com os frequentadores da pista, mas no final acabou revelando sua identidade. Como foi essa experiência? (Silvio Bergamini Trento, Curitiba/PR) – Foi muito style, Silvio. No começo eu estava apreensivo, não sabia como ia me sair atuando de velhinho radical, e nem sabia como as pessoas iriam reagir com isso na pista de skate, mas logo que eu comecei a cena eu fiquei tranquilo e tudo rolou naturalment. Depois de uns 15 minutos andando de skate comecei a suar e a maquiagem caiu, aí todo mundo já tinha descoberto. No geral foi uma experiência muito legal e que eu sempre via na TV e em vídeos e achava que nunca ia fazer nada igual. (risos) • Você tem andado direto na Bteam Ramp do Evandro Mancha, mineiro de Divinópolis radicado nos EUA. Como são as sessions por lá? Além dos brasileiros residentes, muitos gringos aparecem pra andar? (Lorenzo Estrázulas, Belo Horizonte/MG) – Bteam Ramp rules! As sessões por lá são as melhores. Vários amigos, música boa, energia boa e skateboard da melhor qualidade. Toda semana vários americanos andam lá (desde os mais conhecidos até os locais aqui de San Diego). Eles, inclusive, gostam bastante. Dizem que a rampa é boa e que a energia do pico é animal. • Como funciona o trabalho com a Spokesman? É importante ter uma assessoria profissional? (Carlos Antonio Colly, São Paulo/SP) – Desde quando comecei meu trabalho com a Spokesman eu aprendi muito. Ter uma assessoria me proporcionou muitas coisas legais e, consequentemente, pude mostrar mais do meu skate para mais gente. É um trabalho muito importante que alguns skatistas já vem fazendo e os resultados são muito positivos para todos! • Fala, Léo! Espero que esteja tudo em cima com você, mesmo com as porradas do skate vertical e de Megarrampa. Aliás, sua primeira experiência com a Mega resultou num acidente. Como foi e como você recuperou a confiança pra andar no “big air”? (Sidney Dantas Fernandes, Porto Alegre/RS) – Eu sempre gostei de Megarrampa e

sempre quis fazer o drop, mas depois que eu caí, eu só pensava em voltar lá e fazer acontecer. Virou uma coisa pessoal… (risos) Em nenhum momento eu pensei em nunca mais andar na Mega. Me recuperei no Brasil e voltei pra lá no mesmo ano; fiz o drop na Mega de Woodward e ando na Dreamland até hoje! • Além de andar em half pipes e na Mega, você está aproveitando bem as pistas de concreto dos Estados Unidos, como fazia aqui no Brasil no Parque da Juventude, o Ana Brandão, em Santo André. Você pensa em competir em bowls, como vários amigos seus, como o Rony Gomes e o Ítalo Penarrubia já vem fazendo? (Henrique Fabris, Campinas/SP) – Na verdade eu nunca fui muito de andar no cimento. Sempre foquei bastante no half e equivocadamente acabei deixando um pouco de lado o street e as transições de cimento. Quando vim morar na Califórnia eu andei em lugares que eu nunca tinha andado: DIY spots, piscinas, Ditches e foi aí que eu comecei a me interessar mais e ter uma visão muito mais ampla do skate. Eu venho andando bastante no cimento desde então; nas últimas semanas mais que na madeira. Eu acho que ainda não tenho um nível para disputar com a galera em um campeonato de bowl, mas eu não deixaria de competir. Sempre é legal estar com os amigos e com certeza serviria de experiência e talvez até uma trick nova, na adrena do campeonato, sempre rola. (risos) • Você falou pro Woohoo, uma vez, que suas principais referências no skate vertical são o Bob Burnquist e o Danny Way. Esses caras também experimentaram algumas vezes o skate de rua em corrimãos, bordas, gaps, downhill. Você também tem feito street? O que faz para fortalecer suas bases? (Marcelo Cabrini Freitas, Blumenau/SC) – Eu tenho feito street ultimamente. Sempre que vou pra uma skatepark, passo a maior parto do tempo na área de street. Estou recuperando o tempo perdido e aprendendo as básicas no street, o que ja me ajudou muito no vert e abriu algumas portas em relação a manobras, a base do street com certeza é necessária! • Quais foram suas melhores experiências internacionais, fora morar na Califa? (Adriana Veloso, Salvador/BA) – Fui para Suécia competir o Vert Attack, simplesmente o melhor campeonato de vert que existe hoje em dia. Os maiores nomes do skate vertical na mesma rampa, sem valer dinheiro, só skate puro e marreta pra tudo que é lado. Muito style.

Próximo enfocado: DENIS SILVA Envie perguntas em nossas redes sociais (Instagram, Twitter e Facebook) com a referência #LinhaVermelhaTS. E se preferir, no site há um formulário para também enviar perguntas. Participe!

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BRUNO PASSOS

LÉO RUIZ

Flip step up na Dreamland, casa do Bob Burnquist.


// zap

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SBC, Mateus.

SBC, Mateus.

As crias do Cris

FOI NO GALPÃO DA LOJA ULTRA PISOS, QUE O SEU NELSON CONSTRUIU, NA VIRADA DE 1988 PARA 1989, O HALF PIPE PARA SEU FILHO CRIS. AGORA TÁ NA HISTÓRIA, O SKATEPARK DE SÃO PAULO QUE FORMOU NOMES COMO O DE BOB BURNQUIST E O PRÓPRIO DO CRIS MATEUS. OS AUTÊNTICOS ULTRABOYS QUE FIZERAM PARTE DO PRIMEIRO FILME LONGA-METRAGEM DO SKATE NACIONAL, O VIDA SOBRE RODAS (QUE INCLUIU ENTRE OS PROTAGONISTAS TAMBÉM LINCOLN UEDA E SANDRO DIAS). CORTA PARA 2015. CRIS MATEUS É O CARA POR TRÁS DA ULTRA SKATES, HOJE UMA LOJA FÍSICA E VIRTUAL QUE TEM UMA ESCOLINHA EM SUAS DEPENDÊNCIAS. AÍ É QUE ENTRA A NOVA FACE DESTE SKATISTA PROFISSIONAL: O CARA TÁ PASSANDO AS BASES PARA A MOLECADA. POR CESAR GYRÃO // FOTOS THOMAS TEIXEIRA

C

mera “real pool” da loja Ultra de Moema? Lembro que lá tinha as escolinhas, mas não de você entre os responsáveis. Naquela época eu tinha pavor de dar aula, achava que não tinha jeito, mas ajudei a escolher os professores. Quando comecei a dar aula e vi o primeiro aluno a dropar em tão pouco tempo, aquilo me deu um prazer inexplicável e até hoje cada manobra que eles acertam e vejo a cara de felicidade deles me sinto muito bem. Se tivesse escola de skate na minha época, teria me ajudado bastante. Vejo ANINHA

ris, quando você começou com a escolinha na Ultra? Foi somente depois da construção da minirrampa? Comecei há 2 anos, mas inicialmente tinha um professor de Educação Física, o Ely. Quando ele saiu para fazer seu próprio projeto, comecei a dar as aulas e criei métodos para acelerar o processo de evolução, transformando as aulas em treinos e focando no desempenho de cada um. Você já tinha experimentado ensinar skate na época da efê-

Theo, ollie sobre o pai.

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Ultra, Sofia.


cris mateus

// motivadores

Cris “empurrando” João, hip bs air, São Bernardo do Campo.

Clínica de equilíbrio, Ultra.

Drop de Diogo, 2 anos. dezembro/2015

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motivadores // cris mateus claramente hoje como uma dica faz a diferença no processo de aprendizagem. O seu filho Theo tá com 8 anos e participa de vários momentos deste seu lado de instrutor. Como tem sido ter ele entre seus alunos? É a melhor coisa do mundo. Trabalho no que gosto e ainda ensino e aprendo com ele. Na verdade eu vivo o SKATE FOR FUN o tempo todo com ele. Inclusive ele dá algumas manobras que eu não dou. O sonho dele é ganhar um “game” de mim. Não facilito não, ele ainda não ganhou. Você criou uma série de ferramentas para introduzir as técnicas do skate para quem está iniciando. Qual foi sua inspiração? A inspiração foi em mim mesmo. Quando sofri o acidente de carro em 2002 precisei fazer uma fisioterapia intensiva. Com certeza essa vivência ajudou a formatar esse modelo que de-

Transfer, SBC, João.

Atenção!

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Conferindo.

Half pipe.

Saideira.

Drop, Pedro.

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senvolvo hoje aqui na Ultra, mas o que determinou mesmo o jeito de dar aula foi a prática do dia a dia e percebendo o que cada aluno necessitava. Percebia, por exemplo, que alguns alunos tinham mais dificuldade no equilíbrio, eram mais duros, e com os exercícios corretos eles adquiriram uma consciência corporal muito maior. Além das crianças você tem ensinado adultos? Sim, muitos. Tenho alunos de 2 a 51 anos. Temos também alunas, mães e pais que fazem aula com seus filhos. Uma das vertentes deste seu trabalho é levar as crianças para skateparks como o de São Bernardo do Campo, para desenvolver mais suas habilidades. Como encarar tanta responsabilidade? Acho que é tão natural o entrosamento que tenho com os alunos que fica tudo mais fácil. Além disso, tenho uma relação de confiança com os pais, o que ajuda muito nesse momento. O

Segura!


Wall bean plant do mestre, na Ultra. dezembro/2015

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aluno encara essa experiência com muito mais vontade e confiança. É tudo muito natural, espontâneo mesmo. Você usa revistas e vídeos para passar mais da cultura do skate? Os meninos sabem que você criou o Silly Society, por exemplo? Sempre! Eles chegam sem saber nada e com o tempo vão aprendendo e querendo saber cada vez mais sobre como começou o skate e a evolução dele. A Ultra faz parte da cultura do skate. Tem muita história aqui pra contar. Você está com 42 anos, tem participado de eventos old school e recentemente correu o Red Bull Generation, em Floripa. Como tem encontrado tempo pra andar de skate com tantas funções na loja? Não tenho tido o tempo que gostaria. Ando sempre que possível, mas agora que estou dando bastante aulas em outras pistas, acabo andando com os alunos ou nos campeonatos. Lá no começo, seu pai, o Nelson, foi muito importante pra você decolar como skatista e se tornar um dos ícones do skate brasileiro. O Theo vai no mesmo caminho? Não sei, ele gosta de outras atividades também, mas com certeza o skate sempre vai estar na vida dele. Ele aprende as manobras com muita facilidade. O importante é ele estar na ativa, se movimentando. Há vários anos você tem saído na época do Natal vestido de Ultra Noel, distribuindo presentes para crianças em pistas e Ongs. Como surgiu esta ideia? Queria só colocar o Papai Noel para andar de skate. Quando vi, já estava fazendo o Ultra Noel. É o melhor personagem que já já fiz. Queria agradecer as marcas que sempre apoiam este projeto, Crail, DC shoes, Cush, Plimax, revista Tribo Skate, Esze, Ong Social Skate. Quem participa com você? O Creke, Narina, Hennio, Aninha e Theo. Recentemente você lançou nas redes sociais que está vendendo o ponto da Ultra, pra alçar novos voos. O que pretende fazer? Surpresa, o segredo é a alma do negócio. O que posso falar é que em 2016 vai ter muita novidade.

ARQUIVO PESSOAL

motivadores // cris mateus

Com Vitória, Aninha e Theo.

// Cristiano Mateus Camilo da Silva 42 anos, 29 de skate Patrôs: Crail, Moog, Ultra Skate, Speed Only São Paulo/SP Casado com Aninha Filhos: Vitória e Theo www.ultraskate.com.br (11) 2638-0095

Ultra Noel, em 2011 na Social Skate.

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Madonna, Kveras Bowl,Taubaté.



Simbiose POR RAMON RIBEIRO // FOTOS RAMON CLICA JN, JN CLICA RAMON

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imbiose, ou também conhecido por mutualismo, é uma interação ecológica interespecífica, ou seja, entre organismos de diferentes espécies, ocorrendo de forma vital e harmoniosa. Esta associação é permanente, causando dependência indispensável à sobrevivência das partes, em razão da colaboração que cada um exerce sobre a transformação de seu dependente, possivelmente prejudicial caso estivessem separados. Essa relação simbiótica no skate está em diversas partes: entre o fotógrafo/skatista e entre videomaker/skatista são algumas delas. Numa visão nítida, um necessita do outro para discutir ângulo, o pico e a manobra até chegar no resultado pretendido. Liberdade e opinião são de fundamental importância entre ambos, para que haja um melhor aproveitamento das sessões, seja fotografando ou filmando skate. E tudo fica melhor ainda se ambos têm o skate nos pés.

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fotografia

// ensaio

Ramon Ribeiro, fakie pivot em ValparaĂ­so, Chile.

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fotografia

// ensaio

JN Charles, wallie no Enea Spor em Santiago, Chile.

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RODRIGO K-B-ÇA

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skate shoes

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PELA TERCEIRA VEZ A TRIBO SKATE FAZ UM RAIO X DOS TÊNIS FEITOS ESPECIFICAMENTE PARA A PRÁTICA DO SKATE. MUITA COISA MUDOU EM RELAÇÃO ÀS MATÉRIAS FEITAS EM 2003 E 2006. OS NOVE ANOS QUE SEPARAM A ÚLTIMA MATÉRIA FEITA NOS MOSTROU QUE MESMO UM DOS PRODUTOS MAIS COBIÇADOS ENTRE SKATISTAS TAMBÉM ESTÁ SUJEITO ÀS AGRURAS DE UM MERCADO UM TANTO INSTÁVEL, MAS REPLETO DE POSSIBILIDADES. MARCAS DESAPARECERAM DO MESMO JEITO QUE APARECERAM. DESAPARECERAM SEM DEIXAR NENHUM RASTRO E, ASSIM COMO A TEORIA DA SELEÇÃO NATURAL, DE CHARLES DARWIN DE 1859, SOMENTE OS MAIS APTOS E MAIS FORTES SOBREVIVERIAM E CONSEGUIRIAM ADAPTAR-SE. SEGUEM ATÉ HOJE, NEM SEMPRE TÃO FIRMES E FORTES, MAS TRABALHANDO MAIS DO QUE NUNCA. NOVAS MARCAS SURGIRAM, EM GERAL DA MÃO DE SKATISTAS COM VISÕES DIFERENCIADAS E BUSCANDO, ATRAVÉS DE ATITUDE E CONHECIMENTO DE CAUSA, DIFERENCIAR-SE DE UM PASSADO (QUE NEM CHEGA A SER TÃO DISTANTE ASSIM) QUE CONHECEMOS BEM: DO TEMPO EM QUE AS CÓPIAS TINHAM QUASE O MESMO VALOR QUE O ORIGINAL, AFINAL, MUITA GENTE NÃO PODIA NEM SONHAR COM AQUELE “PISANTE MUITO LOUCO” QUE SÓ ERA VISTO NAS REVISTAS GRINGAS.

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as o skate shoe ainda é a melhor fatia do bolo? Sem dúvida, os tênis ainda são um dos pilares que ajudam a manter o mercado do skate solidificado, afinal, todo mundo precisa usar calçados e, quando dois públicos, o skatista e o simpatizante, se unem em torno de um produto, o sonho de empresários está realizado. Hoje em dia, mais que nunca, o investimento em novos materiais e tecnologias é acessível, e muitas marcas aproveitam isso para criar produtos cada vez melhores. Seu pé nunca esteve tão protegido, por tênis cada vez mais leves e tecnológicos. O impacto é absorvido com mais eficiência e a sola tem mais grip com a lixa. Mais do que nunca, e graças ao rumo que a humanidade está tomando, (alimentada ferozmente com informação pela internet) e a necessidade de um mercado que cria ídolos que nem sempre são os melhores ou mais carismáticos, mas são fabricados pelos marketings infalíveis, o consumo dos skate shoes continua em alta e o calçado é o fogo que aquece o mercado da cultura que tanto amamos. BREVE CONTO SOBRE A HISTÓRIA DOS SKATE SHOES No começo qualquer calçado era calçado e havia gente que optava por andar com os pés descalços mesmo. Isso até ser lançado, em 1965, o primeiro tênis específico para a prática de skate foi o modelo 720, da marca Randy. O 720 era o tênis oficial do Campeonato Nacional de Skate e, provavelmente serviu de inspiração para os irmãos Van Doren, que trabalhavam na Randy. Porém, a história dos tênis específicos pode ser definida em AV e DV, ou seja, antes e depois da Vans. Em março de 1966 os irmãos James e Paul Van Doren abriam as portas da Van Doren Rubber Company, uma loja que vendia um calçado sem forro, todo feito em lona e com solado vulcanizado. No seu primeiro dia de vida foram vendidos 12 pares do primeiro skate shoe, batizado na época como Deck Shoes e hoje conhecido como Vans Authentic. Começava a se formar na cidade californiana de Anaheim uma parte importante da cultura do skateboard. Apesar de algumas tentativas e marcas terem nascido nos anos 1970, como a Makaha, a Vans dominou o mercado sozinha até os anos 80, quando surgiram algumas concorrentes de peso e a Vans dividiu sua popularidade com duas marcas que foram realmente relevantes. Entre seus shapes clássicos e roupas um tanto chamativas, a Vision lançou alguns modelos de tênis icônicos nos anos 1980, porém foi a Airwalk que conseguiu um grande feito: fazer sombra à empresas gigantes como a Nike e Reebok, com números de gente grande. Claro que nem todos os skatistas usavam marcas de skate nos pés e Christian Hosoi popularizou o clássico

modelo Chuck Taylor entre a galera da época, sendo comum vê-lo usando um pé de cada cor. Porém o mercado ainda era instável e nem sempre as marcas conseguiam ter uma produção satisfatória. Skatistas como Steve Caballero, Lance Mountain e Mike McGill, da equipe Vans, usaram o Air Jordan 1, da Nike, durante as gravações do vídeo The Search of Animal Chin, pois, segundo boatos, a Vans não conseguia enviar uma cota satisfatória para seus profissionais. Na Europa, a Etnies dava seus primeiros passos na segunda metade da década e seria, com pouco tempo de vida, responsável por um importante fato para a história do skateboard mundial: o lançamento do primeiro model assinado por um skatista profissional. No Brasil até o princípio dos 1980, a galera ia se virando como podia. Pintar os tênis de outras marcas para que eles parecessem com os clássicos Vans era a melhor saída, já que em tempos de ditadura militar, a importação era algo bem difícil de acontecer. Essa história foi se repetindo até 1983, quando foi lançado o Mad Rats que, como todos sabemos, era uma cópia dos clássicos Vans de cano baixo. Nascia a indústria nacional de skate shoes. A partir deste momento diversas marcas foram pipocando, geralmente fazendo cópias do Mad Rats. No começo da segunda metade desta década, quando o Brasil ainda sofria boicote dos skatistas gringos por conta das marcas e modelos copiados, talvez o modelo mais original fosse o Braskate, marca de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, um dos principais polos calçadistas do Brasil. No princípio dos anos 1990 houve o primeiro grande corte no setor. E quando você lê corte, pense em algo literal. Os canos altos já eram! A moda agora era cano curto e muita gente passou o estilete nos seus tênis para que eles estivessem de acordo com a nova ordem mundial: rodas minúsculas, tênis de cano baixo e calças grandes, enormes, gigantes. Na primeira metade desta década, marcas como a Airwalk, que lançou o clássico model do Jason Lee, ainda tinham alguma força. A Vans cortava o cano do Full Cab. Mas foi a partir de 1995 que inúmeras marcas surgiram nos Estados Unidos e lançaram clássicos imediatos, que passaram a fazer parte do inconsciente coletivo, ganhando espaço na memória afetiva de muitos skatistas. O francês Pierre Andre, que já havia trabalhado como designer na Etnies, funda duas marcas: Emerica e éS. Pierre também compra a Etnies e funda o grupo Sole Technology. Também fazia parte do grupo a marca Sheep (durou apenas dois anos), que fazia uma alusão a palavra cheap (barato em português) e ganhou muitos pontos com skatistas veganos, já que o tênis era todo feito de materiais sintéticos. Tim Gavin fundou a DVS. Tony Magnusson e outros sócios fundaram a Osiris. Kareem Campbell, em parceria

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especial // skate shoes com Steve Rocco funda a Axion. Nesta mesma época, das mãos de Damon Way (irmão de Danny Way) e Ken Block, era fundada a DC Shoes. A Circa é fundada e a Globe, marca australiana, ganhava espaço fora da Oceania. O final desta década ainda viu nascer a Adio e Ipath, entre outras. Quase todas estas marcas estavam capitaneadas por algum skatista, famoso ou não. No Brasil não foi diferente. Logo na virada da década, a Isnau e Alva (homônima brasileira) tinham seus tênis. A Mad Rats seguia firme e forte. Muitas marcas de tênis nasceram nos anos 90 e, inclusive, quem era especialista em outros produtos, resolveu arriscar-se neste mercado, que, sem dúvida, se mostrava uma grande aposta. A Drop Dead, apostou nos tênis e, logo, teria sua divisão chamada Drop Shoes e atualmente se chama Drop Dead Shoes. Nessa época também surgia a Qix, Freeday e Freedom Fog, que ainda hoje são marcas importantes. Outras chegaram causando boa impressão, como a Heelflip e Guns, mas foram perdendo fôlego com o tempo. Outras nasceram e fizeram um bom trabalho, como a Fórmula e SB Shoes, que duraram alguns anos, mas não conseguiram manter-se no mercado até os dias de hoje. Uma que nasceu com grandes pretensões foi a gaúcha Skavator mas, como qualquer oportunista, saiu logo do mercado. Foi durante os anos 1990, mais precisamente no final desta década, que os skateshoes se firmaram como um segmento seguro e rentável quando se falava em mercado do skate e, quem fez um bom trabalho durante essa época, conseguiu mudar de século sendo relevante até hoje, porém, foi na virada dos anos 2000 que tudo iria mudar. A chegada do novo século trouxe com ela a impressão que a galinha dos ovos de ouro no skate era mesmo o tênis. Tanto nos EUA como no Brasil, diversas marcas começaram a aparecer e outras tantas, a crescer muito. Entre as marcas chamadas core, independentes, a Lakai, Voxx e Ipath são as de maior destaque, mas o grande fenômeno é a entrada das grandes corporações no mercado. A Nike, antes de ser SB, fundou a Savier em 2001 e já mostrava a que viria. Em 2002 a marca acaba e em 2003 entra em jogo a Nike SB, apoiada por uma equipe que hoje pode ser considerada underground, apesar de contar com nomes como Richard Mulder, Reese

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PAULO ROGERIO DAVI 47, DC Shoes Brasil (Gerente Comercial)

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A DC Shoes atualmente trabalha com duas linhas de tênis: Importados e nacionais. Quando surgiu a necessidade de uma linha fabricada no Brasil? Sim, temos produtos importados made in China, Vietnã e made in Brasil. Temos produzido tênis no Brasil desde 2013. Na verdade foram vários fatores que determinaram tal decisão. Câmbio (variação da cotação do dólar), carga tributária, preço competitivo, manutenção de tendências e reposição de produtos direcionados ao mercado nacional, aliado à possibilidade de produzir determinadas linhas de produtos tão bons quanto ou melhores que os gringos. Muitas pessoas não sabem, mas o Brasil mantém uma indústria calçadista extremamente competitiva e com padrões internacionais de qualidade, haja vista que fomos o primeiro país fora do eixo de produção asiático a ter permissão de produzir produtos com a marca DC Shoes. Seria viável para a DC ter uma linha só com tênis importados? Na verdade sim, desde que não houvesse tantos impasses com relação à taxas e variação cambial. Mas ficamos muito felizes por ter produção aqui no Brasil. Pois auxiliamos o mercado e indústria nacional. Cabe aos profissionais brasileiros em empresas internacionais mostrar do que nosso país é capaz. De que maneira a DC faz o controle para que os modelos nacionais mantenham o mesmo padrão de qualidade que os importados? Todas as especificações vem do Headquarter USA e nossa missão é fazer com que os fabricantes sigam com fideli-

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Forbes e Gino Ianucci. A Converse apostou em modelos exclusivos e que seguiam a tendência da época: tênis de cano baixo gigantes e robustos. A adidas reforçou alguns laços com skatistas como Mark Gonzalez e Matt Beach. A Supra, marca dos skatistas Erik Ellington e Jim Greco é lançada em 2006 e até hoje chama a atenção por modelos bem diferenciados. Em 2007, após ser vendida para a gigante Timberland, a Ipath sucumbe. Outras grandes marcas tentam entrar no skate. Reebok e KSwiss contratam skatistas, porém a jogada não dá muito certo. Coisa que a New Balance consegue fazer bem. Entre as marcas core bem sucedidas e que chegaram pra incomodar está a Huff, do skatista profissional Keith Huffnagel. No Brasil, os primeiros 10 anos dos anos 2000, o skate viu marcas e mais marcas aparecerem. Uma delas a Plasma, montou uma grande equipe, inaugurou uma pista, mas perdeu força e está tentando voltar ao mercado atualmente. No princípio dos anos 2000 também nasceu, amparada por um marketing eficiente e bons modelos, a Vibe. A Red Nose, apesar de não ser uma marca puramente skateboard, também resolve apostar no carrinho e monta uma equipe. Mas o mar de marcas que surgiu, além de outras que passaram a fazer seus tênis apostando no mercado que era tido como seguro, mostrou que não era tão fácil assim se manter vivo com um público cada vez mais exigente. A chegada de marcas americanas, com preços mais acessíveis, tornou a disputa por um lugar ao sol ainda mais acirrada. Em 2006 o mercado estava saturado e a seleção natural acabou sendo importante para dar uma peneirada. Em 2008 nascia a Öus, marca totalmente comandada por skatistas, que mostrou que, com criatividade e atitude, poderia ir longe. Outra marca que mostrou que estava disposta a ser diferente foi a Hocks, que apesar de ter nascido em 2002, começou a fazer seus tênis só em 2009. A história dos skateshoes praticamente não tem mais separação hoje em dia. Lançamentos internacionais são simultâneos e as principais marcas gringas fazem seu trabalho aqui, com marketings voltados para o mercado local e equipe de skatistas. Mas marcas nacionais seguem seus trabalhos e algumas novas, depois da peneirada do final da década passada, começam a surgir, fazendo trabalhos locais, mas geralmente contando com pessoas que trabalharam com

dade, mantendo os padrões rigorosos de qualidade que a marca impõe, já que a DC Shoes tem a missão de desenvolver o melhor produto para prática do skateboard através das melhores tecnologias e matérias primas. Outro ponto importante, que os produtos passam pela aprovação internacional, de nosso departamento de produto no Brasil e são devidamente testados pela nossa equipe de skaters, pessoas mais que gabaritadas para nos auxiliar na aprovação. Com fabricação no Brasil, a DC poderá ter modelos exclusivos para o nosso mercado, como colorways ou mesmo um pro model de um skatista brasileiro? Sim, temos a liberdade de direcionar os colorways nacionais, bem como trabalhar a longevidade de cores e modelos. Com relação a produzir pro models, já iniciamos processos. Importante deixar claro que colorways podem ser destinadas a membros das equipes das filiais pelo mundo. A filial Brasil, já contou com dois colorways: Alex Carolino “ Café do Brasil” e do “King of São Paulo”, mas na oportunidade ainda feitos na Ásia. Já com relação a pro models, estes são destinados a membros da equipe mundial. Os próximos pro models que estaremos desenvolvendo no Brasil e entram em teste em breve serão Mike Taylor e Wes Kremer 2. A escolha se dá por serem construções de produtos que são bem adaptáveis aos parques fabris brasileiros, havendo apenas necessidade de importação de alguns insumos como palmilhas especiais. Nosso trabalho como um todo, tem sido reconhecido internacionalmente, o que aos poucos vêm nos credenciando a ampliar nossa gama de produtos made in Brasil. Bem como os atletas brasileiros hoje são considerados de elite e, em breve, devem sim fazer parte do time mundial da DC Shoes, possibilitando que eles tenham seus modelos assinados. Inclusive, os modelos podem vir a ser desenvolvidos totalmente no Brasil, algo inédito quando se fala em uma marca mundial originalmente skateboard.


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Biano Bianchin tem uma longa parceria com a Converse que reflete seu lifestyle em suas campanhas e ações. Switchstance wallie to switch crooked, com o mesmo modelo da abertura da pauta, o CVO. dezembro/2015

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PAULO ROBINSON 39 anos, Hocks (gerente de pesquisa e desenvolvimento) É possível criar um modelo realmente do zero hoje em dia? Isso é lenda! todos temos a memória seletiva, influências passadas e nosso gosto pessoal. Isso acaba influenciando diretamente nos processos de desenvolvimento. Como separar o que é inspiração de uma simples cópia de modelo? Fazer algo que vem de uma inspiração está muito ligado ao íntimo, vem de algo que você vivenciou no passado e é o que você gostaria de usar nos dias de hoje com uma nova leitura. Se isso é feito com identidade acaba virando uma tendência de mercado pelo inconsciente coletivo. O cara tem que ir lá e fazer sua leitura, colocar seu traço, propor uma nova paleta de cores, desenvolver um novo material, procurar incorporar algo novo! A inspiração não é simplesmente pegar as linhas de um ícone ou concorrente e trocar a etiqueta, fazer algo sem identidade alguma. Eu penso que quem copia, só o faz porque não entende nada destes processos. E como é seu processo de criação para uma nova coleção? O processo é louco. (risos) Como designer, você acredita que o skatista, em geral, é aberto a novidades ou inovações? O skatista em geral é aberto a novidade, mas ela tem que ser gradual. Vou dar um exemplo: para lançar o modelo Pro Runner do Marcelo Formiga, tive que ir escalando várias etapas para adaptar o consumidor a estética dele, lançando produtos que vieram evoluindo de um vulcanizado para o cupsole (sola-caixa) com biqueira, daí lançando outro modelo com uma entressola mais detalhada e alta até, por fim, achar que era a hora de fazer um estilo running, repensado para andar de skate.

marcas maiores anteriormente, ou seja, com mais conhecimento de causa. Mais do que nunca os skateshoes movimentam milhões de dólares. Muita coisa vai rolar até o final dessa década. Quais são as suas apostas? Independente da sua resposta, pode ter certeza que os tênis feitos para andar de skate estarão sempre em alta. COM MEU NOME VALE MAIS... A história dos modelos assinados por skatistas profissionais é bem mais jovem. Talvez a primeira tentativa nesse sentido tenha sido em 1975, quando Stacy Peralta e Tony Alva ajudaram a desenhar o modelo #95 da Vans, que hoje é conhecido como Era. Mas como o tênis não levou o nome de nenhum dos dois skatistas, ele não acabou sendo considerado o primeiro pro model assinado. Quem iria ter a honra de escrever esta página na história do skate seria a Etnies, que em 1988 lançaria o modelo assinado pelo streeteiro Natas Kaupas. Em 1992 foi lançado o pro model mais longevo de todos: O Half Cab da Vans que há 23 anos faz parte do catálogo da marca. No Brasil, somente em 1995 seria lançado o primeiro modelo de um skatista pro brasileiro. Alexandre Tizil, em parceria com a Drop Dead. Outra curiosidade sobre a primeira geração de pro models no Brasil é que Christian Hosoi tinha um model assinado pela marca Redley. Chad Muska, aproveitando os modelo gigantes dos tênis, inclui em seu modelo, lançado em 1997 pela éS, um bolso secreto na lingueta do seu primeiro pro model. Outro que lança modelo pela éS neste mesmo ano é Eric Koston. 1999 marca o ano em que um brasileiro lança seu model por uma marca gringa. Bob Burnquist inclusive não deixou de fora a bandeira do Brasil no solado do tênis. Bob teve um segundo modelo lançado em 2002. Outro brasileiro que lançou um pro model pela éS, foi Rodrigo TX, em 2003.

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Rider da DC Shoes, Bruno Aguero expõe seus tênis às durezas do skate de rua. Backside tailslide, Espanha.

Em 2001 era lançado o que é considerado o pro model mais vendido de todos os tempos, o D3, do skatista Dave Mayhen, pela Osiris. O mais controverso é que este mesmo tênis é considerado um dos mais feios já feitos. Claro que números não são divulgados, mas em entrevista, Dave Mayhen afirmou que comprou uma casa com a dinheiro das comissões. Mesmo com Mayhen se afastando do skate profissional em 2002, o tênis foi feito até pouco tempo atrás. Em 2005, a Nike lançou o primeiro model assinado por um skatista, o Nike SB Paul Rodriguez Zoom Air. No Brasil os skatistas Rodrigo Petersen, Fabio Cristiano e Cezar Gordo, além do fotógrafo Flávio Samelo lançam seus colorways para o Nike SB Dunk Low. Em 2007 os skatistas repetem a dose, desta vez com o Nike SB High Dunk. São lançados apenas 480 pares de cada modelo. Um campeão de vendas é lançado em 2009. O modelo de Stefan Janoski se torna um dos tênis mais vendidos da Nike SB e em pouco tempo diversas versões são lançadas, inclusive gerando o boato de


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que Janoski teria vendido o seu nome para a marca por quatro milhões de dólares. O próprio skatista já desmentiu esse boato com uma pergunta: “Qual o valor de um nome sem a pessoa?”. Em 2010 a DC Shoes Brasil lança o colorway Café do Brasil, customizado pelo skatista Alex Carolino. No final de 2013 o skatista Allan Mesquita atinge a marca de mais de 100.000 pares vendidos do seu pro model pela Qix. É lançado em 2013 o modelo Project BA, pela Nike SB. O modelo do pro Brian Anderson é feito pelo skatista brasileiro e designer Fabricio Costa. Fabricio é ainda responsável pelo super tecnológico P Rod 8, do skatista Paul Rodriguez. Em 2014 a adidas lança no Brasil o colorway de Klaus Bomhs para o Campus Vulk. Em comemoração a um dos seus tênis mais conhecidos, a éS relançou em 2015 o icônico Sal 23, do skatista Sal Barbier. A Hocks lança em 2015 o 4miga Pro Runner, um modelo que serve para o relax, mas também para andar de skate. Outro skatista que ga-

nha um pro model com estas características é Adelmo Jr, pela Freeday. A Oakley lança o primeiro modelo assinado por um skatista em 2015. Bob Burnquist assina um modelo em versão de cano baixo e midi para a marca conhecida pelos designs inovadores. Em 2016 a Vans promete relançar seu primeiro pro model feito, o Full Cab, da lenda viva Steve Caballero, que foi lançado originalmente em 1989. QUANTO VALE O SHOW? Qualidade e bom preço. Estas qualidades são importantíssimas para que uma marca venda, porém, ela só será conhecida e respeitada através de boas ações de marketing. E é justamente neste quesito que as empresas de tênis capricham, ou, pelo menos, costumavam caprichar, já que nem só de material de ponto de venda se faz uma marca. Aqui no Brasil, algumas das principais ações de marketing do mercado do skate viram a luz através das marcas de tênis. Além de suas equipes, tours, vídeos e grandes eventos foram o “ás na dezembro/2015

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FELIPE FREITAS 17 anos, Freeday Skate (Marketing)

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A Freeday tem sede em Novo Hamburgo. Como o fato de vocês estarem localizados em uma cidade com tradição no setor calçadista ajudou a Freeday a firmar-se como uma marca que alia qualidade a preço justo? Acredito que no início deve ter ajudado, assim como a experiência do Sr. Freitas, que é o fundador da empresa e trabalhou durante 30 anos no setor calçadista. Hoje os preços competitivos fazem parte da cultura e da estratégia da empresa. A Freeday faz parte da Skatebuilders, que também conta com a Drop Dead Shoes. Como surgiu esta união de marcas? Isso mesmo. A Skatebuilders é a empresa que produz e comercializa as duas marcas. Esta união surgiu através de um amigo em comum que o Daniel (presidente da Skatebuilders) e o Eduardo Dias têm em comum. Na época, a Drop Dead havia parado com as exportações devido à volatilidade do dólar. O Eduardo entendeu que a Skatebuilders seria o parceiro ideal para este negócio, pelo fato de ter um produto com excelência, uma distribuição comercial agressiva e entender de gestão de marca. Como a Skatebuilders faz a escolha de novos materiais para os tênis da Freeday e da Drop Dead Shoes? Hoje temos uma equipe de criação que trabalha junto ao seu gestor. Eles estão conectados diretamente em pesquisas e viagens pelo mundo, trabalhando, desenvolvendo e testando, com seus fornecedores, o que há de melhor e de mais tecnológico, para aplicarem nos produtos de cada marca. A Skatebuilders trabalha com outras marcas além da Freeday e da Drop Dead Shoes? Alguma outra marca de skate será incorporada? Sim, trabalhamos com a Libra Skate também. A Libra é uma marca que procura oferecer um tênis com um ótimo custo benefício aos skatistas, principalmente ao atleta que não tem patrocínio. Sobre alguma outra marca entrar no grupo, não estamos em busca de nada. Nosso foco é total nas marcas com as quais já operamos hoje.

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Mas sem dúvida alguma, o maior destaque entre as marcas nacionais foi a Qix. Já em 1996, eles organizaram o primeiro Circuito Gaúcho de Street. Os amadores ainda viram grandes campeonatos organizados pela marca, sempre com uma premiação mais do que gorda. No começo dos anos 2000, a Qix também foi a primeira marca brasileira a comprar uma van, totalmente equipada, que levou a equipe para demos em diversos estados do Brasil. Nessa

FABIO UMEDA NAGAI 34 anos, Mega Group Internacional - Vibe/ licenciada Red Nose (Footwear Designer)

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manga” de empresas que começaram pequenas, mas que a cada ação, iam tornando-se cada vez mais conhecidas. Entre as marcas nacionais, a primeira de tênis a realmente apostar no marketing foi a Mad Rats, que além a equipe, organizou grandes eventos nos anos 80. Entre as mais jovens, a Freeday também apostou em eventos, mas também nos vídeos. Eles organizaram bons campeonatos, com circuitos que contaram com etapas em diversos estados do Brasil. Há alguns anos, lançaram o Freeday Movies, com a equipe da época e, mais recentemente, a marca lançou o vídeo Cenários, com a equipe andando em cidades como Rio de Janeiro e Brasília e países como Chile, Uruguai e Argentina. A Vibe lançou um dos vídeos mais criativos já feitos no Brasil, o CityZen, além de, regularmente, soltar na rede vídeos com uma excelente produção. Falando em vídeos, a Hocks lançou duas versões do Passaporte Hocks: um com os profissionais e outro com os amadores da equipe. Os dois vídeos foram gravados inteiramente na Europa, com destaques para as inúmeras manobras em Barcelona. Destaque também para as produções da Öus, que além de de boas manobras, contam com roteiros diferenciados. A Freedom Fog, em seu headquarter, mantém uma pista, na qual a equipe de skatistas, além de ter um pico próprio, recebe skatistas de outras marcas para algumas promoções. Por falar em pista, a Plasma, nos seus áureos tempos construiu um skatepark gigante no Shopping Aricanduva, na zona leste paulistana.

A Vibe faz um trabalho forte com o lançamento de modelos assinados por skatistas profissionais. Quais os skatistas têm modelo assinado e qual a participação deles no desenvolvimento dos modelos? Hoje na Vibe são três skatistas profissionais que possuem pro model. De uma forma geral todos participaram ativamente do desenvolvimento de seus respectivos modelos, desde os primeiros esboços, ressaltando suas necessidades individuais, passando pela aprovação do projeto (cabedal e sola) e escolha dos materiais, aos pequenos detalhes, até testes de desempenho e colorações. Quem tem modelo assinado hoje é o Rafael Gomes, que teve quatro modelos assinados e atualmente está na edição 4.5, que é a versão cano médio do quarto pro model dele. Murilo Romão, que teve a primeira assinatura de tênis pela Vibe em 2014. O design é da Mari Scomparin e eu participei em recolorações, análise de qualidade e testes de calce e desempenho; Wagner Ramos que está lançando seu segundo modelo pela Vibe este ano. É o primeiro que faço em parceria com ele e vejo que rendeu bons frutos. Tive uma grande preocupação com a parte técnica e tecnológica do produto, procurando suprir todas as necessidades do Wagner, associadas a um produto arrojado com boa qualidade e um design bacana. Existe muita diferença entre o que os skatistas pensam sobre seus modelos, para as realidades técnicas que podem ser aplicadas em um tênis? Na verdade não muita, pois normalmente os caras já vêm com ideias e referências na cabeça, então cabe a nós, como designers, lapidá-las e criar um modelo legal tendo essas ideias como base. A princípio, apenas no desenho 2D, eles ainda têm uma certa dificuldade e receios para imaginar o produto final. Mas tudo é mostrado para o atleta, eles abraçam nossas sugestões e confiam na gente. Além disso, no QG da Vibe temos diversas possibilidades de materiais e tecnologias com as quais podemos trabalhar para criar projetos que estejam de acordo com as necessidades dos skatistas, mas que também tenham a cara da marca. Quais os pedidos mais frequentes de quem está desenvolvendo um pro model com você? No geral eles sempre pedem que o cabedal seja feito em suede (camurça natural) e com o menor número de costuras e recortes possíveis, principalmente na região do bico e do ollie. Em algum momento houve conflito entre o que você e o skatista pensavam na hora de desenvolver algum model? Aqui na Vibe tanto eu, quanto o departamento de produtos, nunca tivemos esse tipo de problema. Todos os atletas que tiveram pro model assinado pela marca já têm muita bagagem nas costas, são bem flexíveis, somos amigos e transparentes com eles. Existe muita confiança, liberdade, parceria envolvida e isso é muito bom, ajuda bastante.


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Com algumas versões de pro models lançados pela Freeday, Paulo Galera “PG”, não vê problema algum nas superfícies do chão do interior do Brasilzão. Crooked. dezembro/2015

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RAFAEL NARCISO 35 anos, Öus (Fundador) A Öus nasceu como uma marca realmente diferenciada no Brasil. Quando vocês se deram conta que o skate brasileiro precisava de uma marca como a sua? O que fazemos nada mais é do que um processo natural baseado no que realmente gostamos e julgamos necessário fazer. O grupo de pessoas da Öus, desde o time de skate até as pessoas que trabalham no dia a dia da empresa pensam em fazer diferença, em proporcionar boas experiências, em ser um canal de suporte e incentivo à cultura do skate como um todo. O uso de materiais alternativos ainda é um foco? Como funcionam os testes para saber se esses materiais aguentam o skate? Sim, desde que lançamos a marca em 25/08/2008. Contudo, muitos materiais alternativos não são necessariamente para andar de skate. Procuramos materiais ecologicamente corretos, tecidos especiais de fontes inusitadas e por aí vai. Os testes dos tênis para skate são feitos tanto em laboratório quanto na prática. Nossa equipe está em constante uso, teste e avaliação de novos modelos e materiais. Além do nosso time também contamos com o skatista Thiago do Rocio, que é nosso piloto de testes. Ele mora em Curitiba, anda de skate todos os dias e é por natureza um destruidor de tênis. Paralelamente ao trabalho da equipe, os testes realizados pelo Thiaguinho são parte essencial na fase de desenvolvimento e aprovação de um novo produto, pois conseguimos analisar os resultados diariamente, de forma que seja possível nossa equipe de de-

JOVANI PROCHNOV

Suênio Campos, ss crooked, com seu pro model pela Maresia. Gramado, RS.

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senvolvimento analisar o comportamento de um novo material passo a passo para garantir o produto final adequado. Atualmente os tênis de skate estão voltando a ser mais tecnológicos. Como o setor de desenvolvimento e pesquisa da Öus trabalha para acompanhar essa tendência? É um momento bem peculiar na história do tênis de skate, é uma corrida tecnológica que muitas empresas do skate não estão conseguindo acompanhar. É verdade que muitas das novas tecnologias são apenas “tecnologias aparentes”, aquelas que são visíveis externamente e saltam aos olhos do consumidor. Algumas são efetivas, outras nem tanto. Nós temos trabalhado intensamente para desenvolver novas tecnologias que melhorem o desempenho do skatista. Posso destacar os produtos do selo Ao Cubo, que são materiais desenvolvidos para aumentar a resistência do tênis de forma exponencial. É tecnologia brasileira à prova de lixa nacional. Em 2016 chegará ao mercado a palmilha Circular, uma tecnologia que beneficia a circulação do ar nos pés. Com formato anatômico, esta palmilha permite um suporte e encaixe adequado aos pés. A Öus, além de marca de skate, é muito considerada pela galera que compra tênis como itens de colecionador e conhecedores da cultura sneaker. Como é transitar entre estes dois públicos? Na verdade é a mesma coisa. Nós, como skatistas, somos aficionados por tênis por natureza, desde que colocamos o primeiro tênis na lixa. A Öus enxerga o skate não só como uma prática e sim como cultura. Por isso, nós trabalhamos e colaboramos com pessoas que fazem parte e influenciam esta cultura. São artistas, músicos, fotógrafos e designers que têm a oportunidade de expor seus trabalhos através de nossos tênis, ou seja, para nós, o tênis é uma plataforma de expressão do skate e cultura de rua.


PAULO MACEDO

Mauricio Nava faz parte do time de profissionais da Qix e tem fogo nos pĂŠs para encarar trancos como o deste pole jam nos EUA e nos mais diferentes terrenos como no barro e na grama. dezembro/2015

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mesma época a marca lançou seu site, que foi referência no que diz respeito à informação. O skatista Bruno Kbelo ganhou espaço na equipe, da qual ele faz parte até hoje com uma promoção de “sponsor me video”. Outra promoção que envolveu vídeo premiou, em duas edições, skatista e videomaker com um bom dinheiro, além de um carro para o skatista que teve mais votos. Mas sem dúvida alguma, foram os campeonatos profissionais que alavancaram a Qix ao status de grande marca. Com premiações que incluíam carros para o campeão e também para a melhor manobra, os Qix Skate Pro eram considerados as maiores festas do skate brasileiro e chegaram a ser válidas como etapas do circuito mundial de skate. As marcas gringas que estão em solo tupiniquim também trabalharam bem no que diz respeito ao marketing. A Nike SB chegou pisando forte, com um circuito em São Paulo. Foi também deles o primeiro

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campeonato de fotografia de skate do Brasil, que reuniu os principais fotógrafos do país, que convidaram skatistas para um final de semana, em 2006, de muita criatividade e trabalho. Além disso a Nike trouxe ao Brasil alguns dos principais skatistas da sua equipe internacional. Outras equipes que trouxeram skatistas da suas equipes foram a Globe, a DVS e Converse, entre outras. Além de trazer sua equipe principal, algumas marcas realizam outras ações, como o Fix to Ride, da Converse, que reformou pistas em diversas cidades do Brasil. A adidas também fez o mesmo tipo de trabalho com pistas do Rio de Janeiro. A DC Shoes organiza anualmente o King Of, que reúne skatistas convidados para um campeonato de peso. Outra marca que organiza um campeonato anual é a Vans, o Vans Waffle Cup. Apesar das ações de marketing ainda serem uma das principais formas de divulgação das marcas, atualmente, com o advento das


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skate shoes

Danilo do Rosário, frontside smithgrind. Com carreira internacional e atuação forte em seu país, o paranaense representa a primeira marca a definir o termo skate shoes, a Vans.

redes sociais, parece que as marcas estão apostando muito mais no trabalho virtual do que no contato real. As tours, que eram comuns até bem pouco tempo, acontecem com cada vez menor frequência e parece que o êxito do seu produto é medido apenas por likes e curtidas. Uma pena, afinal, nada melhor que criar ídolos para quem produto que é vinculado a um skatista alcance mais pessoas. É um círculo virtuoso... Mas parece que agora, a tela fria de um computador seja a melhor maneira de alguém conhecer aquele skatista que tanto gosta...

// especial

NICOLAS PRADO 28 anos, Vans (Marketing/Conteúdo) A Vans está prestes a comemorar 50 anos, sendo que sabemos que o mercado de skate não é tão estável assim. Quais os principais motivos da longevidade da marca? O principal motivo da Vans seguir com essa impressionante longevidade é o respeito à nossa herança, autenticidade e tradição, estando sempre ao lado do skate e dos skatistas. No mundo, muitos skatistas literalmente cresceram com tênis da Vans nos pés, pavimentando um importante espaço dentro da memória afetiva de pessoas de diferentes regiões do planeta. Aqui no Brasil, a Vans está presente no mercado desde 1998 – através de diferentes licenciadas e distribuidoras – e em 2016 inicia seu trabalho no país através do grupo global, que detém os direitos da Vans. Ao longo desses quase 20 anos no Brasil, vemos que a Vans já possui um importante espaço afetivo no coração de muitos brasileiros, que se identificam com o espírito “Off The Wall”, a história de nossos produtos, nossa ligação com as lendas do skate e a constante reinvenção de nossos clássicos modelos de tênis. A Vans sempre apostou no Waffle Sole, antes mesmo dos tênis vulcanizados serem uma tendência. Agora que os solados caixa estão voltando à moda, a Vans seguirá apostando na tradição? A “Waffle Sole” é parte fundamental da trajetória da Vans, inicialmente desenvolvida para o uso marítimo, em barcos, caiaques e veleiros californianos, adotada pelos skatistas do sul da Califórnia na primeira metade dos anos 1970 em função de sua durabilidade (a Vans inovou ao utilizar o dobro da quantidade de borracha normalmente utilizada na construção de solas) e seu grip (utilizando borracha natural pura, sem nenhum tipo de enchimento – normalmente solas vulcanizadas são preenchidas com materiais maleáveis como EVA). Por mais que as energias da Vans estejam concentradas nas solas vulcanizadas, desde meados dos anos 1990 a sola-caixa não foi abandonada pela marca, estando presente em produtos de BMX, para a neve e, no universo do skate, sendo encontrada nos tênis com a tecnologia “Waffle Cup”, que mescla os métodos de produção do vulcanizado com a sola-caixa, criando um solado que utiliza o melhor desses dois mundos distintos. Nos anos 70 Tony Alva e Stacy Peralta já haviam ajudado a desenhar o modelo Era e Steve Cab lançou o seu primeiro pro model em 89, sendo que o Half Cab, de 92 é produzido até hoje. Qual a importância do pro model para a Vans? O pro model possui enorme importância dentro do universo da Vans, como um formato para experimentação de novas tecnologias e técnicas de produção, aliada à fomentação de nossa história e herança, revisitando silhuetas, modelagens e detalhes de períodos antigos da marca. O primeiro pro model da Vans, o Full Cab, que será relançado como comemoração dos 50 anos da marca, possui uma profunda história com o skate, transcendendo os segmentos dentro do esporte: originalmente desenvolvido para o vert no final dos anos 1980 e adotado pelo street no começo da década de 1990, em um momento onde skatistas cortavam um pedaço do tênis para deixá-lo mais baixo, organicamente criando seu “irmão mais novo”, o modelo Half Cab. O Half Cab continua sendo fabricado até hoje em edições básicas, que remetem às cores originais, e também em edições especiais, construídas com materiais e técnicas atuais - e reconhecido como um dos grandes ícones do skate noventista. No final da mesma década, a Vans passou por uma revitalização de seu público com o lançamento do primeiro modelo assinado por Geoff Rowley, que trouxe de volta as atenções aos tênis vulcanizados, transportando características de clássicos tênis da Vans lançados nos anos 1970 e 1980 retiradas da enorme coleção e arquivos de tênis tradicionais da Vans do próprio Rowley. Atualmente, os modelos assinados por Anthony Van Engelen, Gilbert Crockett e Chima Ferguson possuem um papel importante dentro do nosso negócio, mantendo as tradições da Vans em construção e design aliadas com materiais leves e resistentes (como o Duracap) e tecnologias de amortecimento (como a Ultracush). Em 2016 haverá uma grande mudança nos trabalhos da Vans aqui no Brasil? Que poderemos esperar desta nova fase? 2016 marca o aniversário de 50 anos da Vans, com uma coleção que revisita os maiores clássicos da trajetória da marca atualizados com as tecnologias contemporâneas de fabricação. Pelo menos um representante de cada década de atividade de Vans é lembrado nessa coleção, que conta a história da marca através de reedições de cores clássicas imortalizadas em fotos, vídeos e anúncios. Além da celebração de 50 anos, a Vans no Brasil vai contar com uma série de ativações especiais ao longo do ano, e também os já tradicionais eventos desenvolvidos pela marca.

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JOÃO BRINHOSA

Pablo Ribeiro “Xuxu” ajuda a desenvolver os produtos da Hanff. Ollie, Porto Alegre.

RODRIGO K-B-ÇA

CARLOS EDUARDO DIAS 45 anos, Drop Dead (Diretor)

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Em que momento a Drop Dead sentiu a necessidade de entrar no ramo dos tênis, já que ela começou com a confecção e depois com os shapes? Não foi uma questão de necessidade e sim de oportunidade. Isso faz parte da essência da marca, que está sempre buscando novos negócios, formatos e desafios. Simplesmente decidimos encarar e procurar fazer os melhores tênis nacionais na época, foi assim também com os shapes, com a pista e hoje com os licenciamentos das marcas do grupo NHS. Faz parte do nosso DNA. A Drop Dead foi pioneira em muitas coisas e, em 1995, lançou o model do Alexandre Tizil, primeiro modelo assinado de tênis brasileiro. Como isso aconteceu? O Tizil sempre esteve muito próximo, estava sempre em Curitiba com a gente. Sinceramente não me lembro bem,

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mas com certeza foi em uma das nossas conversas. Aconteceu naturalmente. Decidimos fazer e juntos conseguimos. Foi um enorme sucesso. A Drop Shoes foi uma das primeiras marcas a pensar em collabs com artistas, como o Marcelo D2. Como encontrar a fórmula certa para que tanto fãs, quanto skatistas, curtam essas uniões? Todos nós sabemos da relação do skate com a música. É muito chato andar de skate sem som. Nos anos 1990 eu tinha uma casa de shows em Curitiba chamada Mary Jane, que bombou por alguns anos. Fomos os primeiros a fazer um show do Planet Hemp em Curitiba e fiquei amigo dos caras, principalmente do Marcelo. Andamos juntos até hoje, então vejo isso tudo com muita naturalidade, muita amizade envolvida e muito respeito. Assim as coisas acontecem... Não existe uma fórmula pronta. Como funciona atualmente a Drop Dead Shoes? Hoje a Drop Dead Shoes é administrada comercialmente pela Skatebuilders. Eles fazem a criação e o comercial e nós cuidamos do marketing. Em 2016 vamos lançar novos modelos. Vem novidade por aí!


skate shoes

ALLAN CARVALHO

MARCELO XUÊ 38 anos, Live Skateboards (Designer) A Live é uma marca mais conhecida pelas roupas. Por que apostar nos tênis para andar de skate? A Live sempre presou por estar diretamente envolvida em produtos que focam e valorizam o skateboard. Desde o início, produzimos a confecção e os shapes o que, para a Live é fundamental: ter produtos realmente exclusivos para o skatista, que no caso é o shape. A aposta no calçado surgiu com o mesmo princípio da confecção, que é produzir algo de qualidade e com preço justo. Fechar esse mix de produtos com o calçado, nos faz criar um poder maior de marca e, assim, fortalecer a Live Skateboards no mercado. Como foi a transição do design de estampas para o de modelagem de tênis? Quais foram as principais dificuldades. Foi um processo de estudo e aprendizado, não foi de uma hora para outra. Desde o momento no qual resolvemos criar a linha de calçados, focamos no desenvolvimento e tivemos a assessoria de um designer com anos de experiência no mercado de calçado. Todo o processo, ao longo desse tempo, foi amadurecendo com a equipe da Live e, principalmente, com os skatistas da marca nos direcionando. Fomos perguntando, buscando informações, errando e acertando, até que conseguimos desenvolver os primeiros protótipos. A partir disso, sentimos que poderíamos criar algo que pudesse realmente levar o nome da Live Skateboards e agradar os skatistas. Sabemos que nem sempre um designer consegue fazer um produto que ele gostaria de usar, pois muitas vezes ele

// especial

deve trabalhar baseado nas vendas. A coleção tênis da Live é realmente como você imaginava ou a opinião dos representantes está pesando muito nesse começo de trabalho? Isso é muito louco. Minha primeira experiência em desenvolvimento foi uma marca de vanguarda chamada Dynamic. Produzimos exatamente o que gostaríamos de usar e isso mostrou o quanto éramos inocentes, apesar de eu ter muito orgulho do que fizemos. Tínhamos tudo para dar errado e foi isso que aconteceu. A marca acabou por acreditarmos apenas no sonho e deixarmos de lado a parte comercial. Com receio que isso acontecesse com a Live Skateboards, no começo eu realmente produzia o que era comercial e parecia que algo ia dar errado novamente mas, por outro ponto extremo. Chegou um momento que comecei a equilibrar esse processo criativo e hoje conseguimos fazer algo que tenha realmente a essência da marca e ao mesmo tempo seja comercial. O principal disso é ter skatistas na marca, que trazem o feedback da rua e aqui, em reuniões internas, fazemos esse equilíbrio com o comercial. A Live sempre aposta na arte, em conjunto com o skate, dentro das suas coleções. Tem como seguir a mesma linha na hora de desenhar um tênis? Meu professor sempre diz: “Faça de sua arte, seu trabalho.”. Sempre que desenvolvo um produto, um anúncio ou qualquer outro coisa, procuro colocar a arte como aliada na criação. Qualquer produto nos abre um leque de oportunidades de criação e o calçado é só mais uma plataforma de expressão da Live Skateboards. Estamos iniciando o projeto de tênis, dentro de uma marca que também é nova. Temos cinco anos de marca e acredito que temos muito o que fazer ainda, tanto com as linhas de produtos da Live Skateboards, como também no mercado de skateboard. Espero que possamos criar história como marca de skate.

JOÃO PAULO FERREIRA

Junior Pig, wallie bs lip do pro da Live.

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Normalmente as famílias de produtos, cores e agregados tecnológicos das marcas oferecem variações para todos os gostos, necessidades e vontades dos consumidores. Para marcar esta edição especial, indicamos algumas peças únicas. As marcas estão em ordem alfabética.

Célula Model: Citto Collab Verde celula.com.br (16) 3409 2227

Cons Model: Wells OX

Cons Model: Star Player EV OX converse.com.br

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skate shoes

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DC Shoes Model: De La Calle/Da Rua Linx Prestige S

DC Shoes Model: Cole Lite 3 dcshoes.com (11) 3362 9280

Freeday Model: Cenรกrios Profile freeday.com.br (51) 3303 3333 dezembro/2015

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Hanff Model: Buck hanff.com.br

Live Model: Serrano liveskateboards.com.br

Maresia Model: SuĂŞnio Campos Pro maresia.com.br (85) 4012 6000

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skate shoes

// especial

Oakley Model: Bob Burnquist oakley.com.br

Urgh Model: Urban urgh.com (11) 3226 2233

Vans Model: Av Rapidweld Pro vansdobrasil.com.br dezembro/2015

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evento // red bull skate generation

O Pulo do Gato

COMO SE MEDE O CLIMAX? É DIFÍCIL EXPLICAR, SEM VIVER. O MAIS ALTO NÍVEL DE ANSIEDADE, DESTA VEZ NO BOM SENTIDO, É O QUE MOVE UMA SELEÇÃO DE SKATISTAS E UMA MULTIDÃO DE PESSOAS DAS MAIS DIFERENTES ORIGENS PARA O SKATE GENERATION, EVENTO QUE EM SEU QUINTO ANO GANHOU CONTORNOS JAMAIS PENSADOS PARA ALGO SURGIDO DAS ENTRANHAS DE NOSSA CULTURA. DESTA VEZ EM CASA NOVA, O “BOWL DO GUGA ARRUDA” (NA VERDADE UM SUPERPARK), A FESTA TERMINOU EM ÊXTASE PURO COM UMA CHUVARADA DE ABANADORES, ABRAÇOS INTERMINÁVEIS, GRITARIA, POGO, BRINDES, DORES MUSCULARES E UM PUNHADO DE BOAS LEMBRANÇAS QUE JAMAIS SE APAGARÃO. ESTA VERSÃO DO RBSG FOI O VERDADEIRO “PULO DO GATO”. POR CESAR GYRÃO // FOTOS JUNIOR LEMOS, JOÃO BRINHOSA O ANTES No último evento na casa da família Barros no Morro da Cova Funda, onde há sete anos foi construído o RTMF Bowl, havia-se anunciado que o local não mais comportaria o RBSG, por ter crescido tanto. Anunciou-se a possibilidade do evento ser realizado no novo skatepark da Costeira, um local público que ganharia um bowl de grandes dimensões, compatível com a história sendo construída. O tempo passando e nada da pista pública ficar pronta, mas eis que uma nova perspectiva foi sendo criada no plano particular, guardada em segredo até pouco tempo antes do anúncio da quinta edição do evento. No condomínio Casting Arruda, da família do surfista profissional Guga Arruda, pai do skatista Tuco, situado a alguns poucos metros da praia do Rio Tavares e da Pousada Hi Adventure (a origem de tudo), surgia o superpark desenhado por Léo Kakinho com as sugestões de Pedro Barros e os demais amigos que viajam o mundo para andar nas pistas e correr o circuito. Aos poucos o local foi sendo desvendado, dando claros sinais que abrigaria um verdadeiro festival. Numa época de chuvas constantes em Santa Catarina, com o chão empapado de água e poucas chances de se andar de skate, o nível de ansiedade foi crescendo ainda mais. André Barros lançava no seu Facebook a lista de pros que confirmavam presença no evento e a expectativa só crescia. O espetáculo seria garantido, mas para isso a chuva teria que dar uma trégua… O DURANTE … Mas eis que, o Sol brilhou nos dias destinados ao evento. O feriado de XV de Novembro, a instalação da República, foi a redenção da cultura do skate. O palco do show, a nova pista, foi tomado por skate bonito, agressivo, progressivo em todos seus cantinhos e possibilidades. Sem importar a nacionalidade, gringos e brasileiros compartilharam as sessions. Entre os amadores, muitas crianças e adolescentes que parecem conhecer o skate há séculos. O sueco Kalle Berglind, largou na

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ponta, mas o curitibano Miguel Oliveira estava ali, pau a pau. Augusto Akio, que já havia se destacado em versões anteriores no RTMF, cada vez mais afiado. O mais novo da competição, Pedro Carvalho, 10 anos, exibiu uma consistência absurda e pode ser indicado sem dúvida como a revelação deste RBSG. Muito moleque sinistro. Na outra ponta da faixa etária, os legends, encontraram neste ano uma dupla de pastores evangélicos que criou manobras e abordagens do skate vertical e de bowl: Christian Hosoi e Ed Elguera. Os caras andaram o tempo todo com elegância e domínio do carrinho, interagindo com os demais skatistas e o público com incrível carisma. Jorge Zunga, o carioca que é pro desde a época dos eventos do Rio Sul e do Pira Pro e vem se dedicando aos eventos old school do calendário nacional, teve sua melhor participação até hoje no Generation, superando seu parceiro Jeff Cocon, Mauricio Chileno e Álvaro Porquê? Entre os masters, desta vez Bruno Passos impôs o ritmo com Léo Kakinho, pois empataram na eliminatória, com ligeira vantagem para o carioca no critério de desempate. O tipo de pista favoreceu e Allan Mesquita, provou que tem muito skate para apresentar. Intercalando entre a locução do evento e os rolês, Miguel Catarina mais uma vez se posicionou ali pra ficar entre os primeiros. A nota triste da categoria foi o acidente do Marco Cruz, que saiu do evento pro hospital e sofreu um belo susto. Bom, chegamos aos profissionais, a categoria mais disputada de todas, com mais fases e com as maiores estrelas da atualidade. Pedro Barros estava literalmente destruindo a pista, até torcer o pé antes da final, fase que estava pré-qualificado. Sem condições de andar – ele até que tentou – abriu mão da competição e do título de campeão mundial da temporada que foi para o até então líder do ranking, o ítalo-americano Alex Sorgente. Depois de uma eliminatória liderada pelo americano Chris Gregson e a semi por outro americano, Chris Russel, a final foi toda do Felipe Foguinho. Apenas um pro com mais de 40 anos chegou entre os finalistas: Omar Hassan. Os demais, todos bem mais moleques, como


JOÃO BRINHOSA JUNIOR LEMOS

Esta foto denota bem o clima do evento, com arquibancadas lotadas e vários fotógrafos e filmadores em cima do lance. Sandro Dias, madonna.

Chris Gregson liderou a eliminatória pro com muita técnica. O magrelão sabe como poucos o frontside flip. dezembro/2015

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JUNIOR LEMOS

evento // red bull skate generation

JOÃO BRINHOSA

Trey Wood (EUA), Danny Leon (Espanha), Ivan Federico (Itália), Bjorn Lillesoe (Dinamarca) e Tom Schaar (EUA). Vi Kakinho foi outro brasileiro finalista e o cara que registrou uma das melhores manobras de todo o evento, um fs nosegrind despencando do bowl mais alto para a transição de outra parte da pista. Outro cara que fez tremendo barulho, apesar de não ter ido pra final, foi o espanhol maluco Jaime Mateu, com todos os tipos de roll in de foot plants que se possa imaginar, inclusive subindo ao palco para se atirar e voltar de primeira num bean plant suicida. Mais de 3 mil pessoas acompanharam ao vivo das arquibancadas o skate vibrante desta versão do RBSG. O momento ápice, no entanto, ainda viria com a prova final entre as seis primeira equipes. Este ano, além das voltas individuais de cada um, os quatro da equipe teriam que improvisar um rolê juntos! Do primeiro time, Kalle Berglind, Felipe Foguinho, Bruno Passos e Christian Hosoi surgiram linhas

O mais antigo entre os pros, Omar Hassan, fs heelflip fs grab.

JUNIOR LEMOS

Chuva de abanadores.

Felipe Foguinho, invert transfer do campeão pro.

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JUNIOR LEMOS

Este foi considerada “a manobra� do evento: fs nosegrind ollie in com assinatura de Vi Kakinho.

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Kalle Berglind, o sueco que despontou no RBSG como amador. Frontside crailslide.

Antes de lesar o pé, Pedro Barros arrepiou. Bs 540 boné “out”.

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// evento

JUNIOR LEMOS

red bull skate generation

absurdas e cruzamentos perigosos, mas foi o time de Miguel Oliveira, Tom Schaar, Leo Kakinho e Ed Elguera que conseguiram deixar marcada uma linha com El Gato por cima de rockslide, sobre os demais que abre esta matéria. Não foi só isso, durante os dias do evento. A festa de abertura da Drop Dead no RTMF Bowl, na véspera da competição, foi uma tremenda confraternização.

A sincronia do time dois: Elguera, Kakinho, Schaar e Miguel.

O DEPOIS Depois da chuva de abanadores, depois de tanto skate impressinante, a festa se estendeu no ambiente de gala que o condomínio do Guga Arruda abrigou. Estrutura de Food Trucks, bares com Lay Back Beer dominando, o show dos Raimundos no palco desta área de convivência foi um fechamento digno de um evento que sempre será motivo de lembrança, que tem que virar uma meta anual: não posso esperar pelo próximo! dezembro/2015

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casa nova //

Thiaguin // FOTOS DIOGO GROSELHA Skate e roupas atuais: Shape Blaze, rodas Bones, rolamentos Reds e eixos Thunder. Camiseta Five Boro, calça Element e tênis DC. Manobra que não suporta mais ver: Bs nosegrind. Manobra que ainda pretende acertar: Nollie heel tail. Principal rede social que usa ultimamente: Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Poucos picos e poucas pistas. Skatista profissional em quem se espelha: Carlos Ribeiro. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Apple. Atual melhor equipe de skate brasileira: Vibe. Amador que você gostaria de ver pro: Tiago Lemos. // Thiago Gonçalves Peixoto 16 anos, 3 e meio de skate Juiz de Fora, MG

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Ss bs tailslide, Juiz de Fora.

Get tricks or die trying.



casa nova //

Vitor Zekinha // FOTOS RODRIGO K-B-ÇA Skate e roupas atuais: Shape Hábito Skateboard, rodas Bones, rolamentos Red e eixos Independent. Calça e camiseta pretas, tênis Öus. Manobra que não suporta mais ver: 360 flip. Manobra que ainda pretende acertar: Noseblunt nollie heelflip out. Principal rede social que usa ultimamente: Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: As marcas não dão valor aos atletas. Skatista profissional em quem se espelha: Evan Smith. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Toyota. Atual melhor equipe de skate brasileira: Öus. Amador que você gostaria de ver pro: Wilton Souza. // João Vitor Pereira Correia 14 anos, 6 de skate São Paulo Apoio: 90’s Skateshop, Gnarlyfoot, Shit Griptape e Hábito Skateboard

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Bluntslide, Parque Dom Pedro II, SP.

Skate ontem era crime, hoje é moda.



casa nova //

Inward heelflip, Maceió.

Yuri // FOTOS FERNANDO GOMES Skate e roupas atuais: Shape Osb, trucks Independent, rodas Rise e rolamentos Everlong. Boné John Roger, camisa e calça Myllys, tênis Hocks. Manobra que não suporta mais ver: Bs bigspin arrastado, acho muito feio. Manobra que ainda pretende acertar: Inward heel fs noseblunt. Principal rede social que usa: Instagram @yurideyvison, segue lá. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Falta de incentivo do governo. Skatista profissional em quem se espelha: Maurício Nava. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: HarleyDavidson. Atual melhor equipe de skate brasileira: Qix. Amador que você gostaria de ver pro: Pablo Cavallari. // Yuri Deyvison Gomes Souza 24 anos, 9 de skate De Campina Grande, mora em João Pessoa, PB

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negócios e tecnologia //

Passaporte na mão e mochila nos pés COM A ECONOMIA BRASILEIRA EM CRISE, SEMPRE VEM AQUELA IDEIA DE IR EMBORA DO PAÍS. NESTA COLUNA, CONHEÇA A HISTÓRIA DE DOIS MÚSICOS BRASILEIROS QUE SE MANDARAM E SE DERAM BEM. E AINDA, OS BAIANOS QUE CRIARAM A MOCHILA QUE VIRA UM SKATE ELÉTRICO. // POR PEDRO DE LUNA

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1. MovPak, a mochila que vira skate elétrico. 2. Cidinho e os gadgets do dia−a−dia. 3. Napalma ao vivo com Cid na percussão. 4. Dudu Aram pilotando a mesa de gravação. 5. No estúdio, o produtor joga em várias posições.

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MIA DAVILA

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rês baianos desenvolveram em Salvador a MovPak, uma mochila que se transforma num skate elétrico. O meio de transporte pode alcançar 30 km/h com autonomia para percorrer 20 km até esgotar a bateria, que leva duas horas para carregar. A aceleração e o freio se dão por um controle na mão. A ideia é boa, pois tudo que aliviar a coluna é bem-vindo. O problema é que a própria mochila já pesa 7,7 quilos! E o preço não é nada popular. A pré− venda pelo movpak.com custava R$ 999 e, acredite, foi um sucesso. Se apropriar da tecnologia sem perder as raízes é o que nos ensina a banda independente Napalma, formada em 2004, em Vitória (ES), pelo moçambicano Ivo Maia e o capixaba Cid Travaglia − do falecido grupo Pé do Lixo. Após algum tempo, se mudaram para a África do Sul, mas hoje a base é Moçambique. “E ano que vem será Berlim/Alemanha. Bem vindo ao mundo de um International Homeless”, brinca Cid. Esse ano a banda fez 20 shows na Europa, inclusive na 49ª edição do Montreux Jazz Festival, na Suíça. “Nossa dedicação é completa. Acordamos, trabalhamos e dormimos pensando no grupo como uma pequena empresa”. Devido ao peso dos instrumentos e equipamentos da banda, a saída foi optar por equipamentos pequenos e práticos para evitar cobranças absurdas das companhias aéreas. “Sem contar o jaquetão que viaja comigo com os bolsos recheados com as câmeras e HDs compactos”, conta o músico. “A placa de áudio onde disparamos a parte eletrônica nos shows vem de uma Focusrite Scarlet 2i2, onde também realizamos gravações durante as viagens. Também utilizo o Midi Controller AKAI MPK Mini, que é pequeno e leve”. Para produzir os vídeos, são utilizados as câmeras Go Pro e Sony HDR-MVI e um iPhone. “Depois trabalho o áudio em Ableton Live 9 e os vídeos no Premiere Pro”. Mas quando o assunto é skate... “Ivo foi skatista quando era moleque. Eu tinha medo de quebrar o braço por ser baterista. E como era péssimo skatista decidi deixar isso para outras pessoas mais talentosas”, brinca Cid. Para conferir o trabalho deles acesse www.napalma.com.br Quem também saiu do Brasil para uma vida no exterior foi Dudu Aram, morando na Califórnia e compondo trilhas para o cinema. “De 2012 a 2015 trabalhei em mais de 14 filmes. Escrevemos a trilha do The Odissey em três semanas. Até hoje é o meu álbum preferido”. Mas vamos retroceder um pouco no tempo. Quando ainda morava em São Paulo, o advogado havia dado aulas em escolas de áudio, trabalhado em produtoras de vídeo e como DJ. Mas nada disso preenchia a sua vida. E decidiu procurar nos EUA. “Los Angeles é a melhor cidade para se trabalhar com música. E a mais disputada neste ramo também”. Quando voltou ao Brasil, empolgado com a ideia de se mudar pra gringa, conheceu o compositor Antonio Pinto, que o convidou para trabalhar. “Uma das maneiras de entrar no mercado de cinema é ter um cara fera como mentor”. Em L.A., quem também lhe abriu as portas foi Sam Spiegel, do N.A.S.A., duo eletrônico com o DJ e produtor Zegon (eternamente conhecido como o DJ do Planet Hemp). Desde então, Dudu fez seu check in por importantes estúdios do mundo, como Abbey Road, Sony, Paramount, Universal, Disney e Technicolor. Viajando mundo afora, Dudu carrega um estúdio na mala. “Repare o tamanho dos novos equipamentos. Os teclados, as interfaces de áudio, os hds estão cada vez menores. Sem falar da nuvem. Com certeza é viável realizar grandes produções de um quartinho de casa, mas não deixo de lembrar que vão sair direto para um estúdio profissional para etapa de finalização do processo”. Dependendo do caso, é bom saber tanto gravar material próprio quanto também usar a tecnologia. “O segredo é saber resolver os problemas técnicos em qualquer uma das duas opções escolhidas”. Sobre o frenesi consumista, Dudu alerta que muitos equipamentos de última geração são dispensáveis. “Eu já comprei muito controlador MIDI e depois voltei para o bom e velho teclado de piano. É simples e me dá mais foco no espírito da música do que nos comandos”. Feliz Natal e ótimo 2016.

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O primeiro a arriscar o drop no segundo bloco do Monumento às Etnias de Criciúma, SC. Por ter nascido na cidade e ter visto a construção deste pico clássico nos anos 80, jamais imaginaria que isso fosse possível. (Cesar Gyrão)

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FOTOS DANIEL BRISTOT

playlist

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THE SKATE PUNK NEVER DIES! ESSE É O TIPO DE FRASE QUE NÃO PRECISA DE TRADUÇÃO, SE VOCÊ LEVAR EM CONTA O ROLÊ DE DOUGLAS PANKRAGE. MOVIDO PELOS GRANDES DESAFIOS DA JUNÇÃO DE ALTURA + VELOCIDADE, SEJA NA RUA OU NO BOWLRIDING, TEM UM SKATE CRU, VISCERAL. A CARA DAS FAIXAS DE SUA PLAYLIST. SOROCABA, NO INTERIOR DE SÃO PAULO, FOI UMA BOA ESCOLA, MAS VIVENDO NA PAULICEIA, OU NÃO, A TRILHA SONORA DE SEU ROLÊ NUNCA SERÁ SUAVE. LEIA AQUI E CURTA OS CLIPS NO YOUTUBE.COM/TRIBOSKATE Graveyard, Satan’s Finest Joy Division, Disorder The Vandals, Skate Punk Duane Peters & The Hunns, Wild Cards Icecross, Jesus Freaks Shoking Blue, Send Me a Postcard! The Epoxies, Join the Professionals Dark, Zero Time Iggy and The Stooges, I’m Sick Of You Slayer, Raining Blood Garage Fuzz, Cortex

Escuta som andando de skate? Sim Não Em qual aparelho? NO IPHONE 5S. Onde mais você ouve música? EM CASA.

Douglas Pankrage, 28 anos (Blunt Oficial, Alterna Skateboards)

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áudio // punk

Coquetel Molotov

A volta dos pioneiros do punkarioca e do skate rock POR GUTO JIMENEZ // FOTOS ANDREA MURAT

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rasil, início dos anos 80: o processo de “abertura lenta, gradual e segura” conduzido pela ditadura militar contrastava com o desejo de “anistia ampla, geral e irrestrita” de boa parte da população. As explosões de bombas em bancas de jornais, festivais de música e entidades de classe não intimidavam aqueles que bradavam por mais liberdade e pela democracia. Como resultado, o governo viu-se obrigado a convocar eleições municipais e estaduais depois de mais de 20 anos, até mesmo como uma forma de acalmar os ânimos exaltados de ambos os lados. No Rio de Janeiro, duas realidades distintas conviviam numa mesma cidade. De um lado, a juventude dourada se tostava na Praia do Pepino, divertia-se com o “chope e batatas fritas” da Blitz e desfilava pelo Baixo Leblon com suas camisas floridas e jeans com lycra. Do outro lado da cidade, a pista de skate de Campo Grande era frequentada em sua maioria por jovens suburbanos vestidos de

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preto, que escutavam os rocks mais agressivos possíveis enquanto bebiam uma mistura de groselha e cachaça conhecida como “sangue do diabo”. Foi nesse contexto local e nacional que surgiu o Coquetel Molotov, a primeira banda de punk rock do Rio e a pioneira do skate rock nacional. Formada pelos skatistas Jorge Luiz “Tatu” na voz, Olmar Lopes “Marreco” no baixo e Lúcio Flávio na bateria, além do músico Cesar Ninne na guitarra, a banda rapidamente tornou-se a principal referência de música acelerada e engajada na cidade. Suas letras falavam sobre os temas que tanto afligiam a geração que começava a ter voz: as mazelas das áreas menos favorecidas da cidade eram expostas em “Subúrbio”, ao passo que “Sinta, veja, diga” era um libelo contra a alienação imposta pela grande mídia do país. Indo muito mais a fundo no assunto, “Ódio às TVs” tornou-se o hino da banda ao escancarar a alienação provocada por novelas sem sentido e noticiários tenden-


punk

// áudio

MARIA DA PIEDADE MORAES

MARIA DA PIEDADE MORAES

MARIA DA PIEDADE MORAES

MAURICIO VALLADARES

Nunca podemos esquecer: o Coquetel Molotov é a primeira banda de skate rock do país, surgida numa época em que a palavra liberdade começava a fazer sentido novamente no país. ciosos. Já “Capitalismo religioso” criticava abertamente uma das mais fortes instituições existentes, indo abertamente contra a submissão e inércia provocadas pelas religiões, enquanto que “Anarquia” conclamava os cidadãos a tomarem o poder em suas mãos. Parece familiar com o cenário brasileiro da atualidade? Eu tive a sorte e o privilégio de acompanhar essa primeira formação em quase todos os shows e ensaios que eles fizeram, de buracos como o Guaiamum e o Dancy Méier até grandes festivais realizados no Circo Voador e em Juiz de Fora. Porém, como diz o ditado, tudo que é bom dura pouco: a primeira formação se dissolveu em 1984 e cada um seguiu os seus rumos musicais. Enquanto “Tatu” prosseguia com outros integrantes seguindo o estilo pós-punk, César uniu-se ao Finis Africae, uma das bandas seminais dos anos 80, focando em sua carreira solo voltada à black music mais adiante. Já Olmar fez parte de bandas como Black Future e chegou a tocar com o próprio Finis, enquanto Lúcio espancava as baterias em bandas como Os Normais antes de parar de se dedicar à música. Agora, pouco mais de 30 anos depois, os integrantes da área melódica da banda resolveram se reunir para trazer de volta a vibração e o agito do repertório clássico da banda. Cesar e Olmar se juntaram a Rod Santoro, um vocalista energético com passagens em bandas como Explicit Hate, e a Sérgio Conforti, baterista de longa estrada que inclusive fez parte da segunda formação da banda. Após alguns meses de ensaios, voltaram a fazer shows e fizeram o seu retorno triunfal em outubro de 2015 no show “30 Anos de Punk RJ” no Subúrbio Alternativo, um bar que agita a cena musical independente da Zona Norte carioca. Os planos do grupo incluem fazer cada vez mais shows e registrar esse repertório clássico o quanto antes, para que cada vez mais pessoas possam conhecer e se empolgar com as letras politizadas envoltas em melodias aceleradas. Eles já estão agendados pra tocar no Audio Rebel, um dos polos de resistência da cena indie do Rio, e pretendem realizar mais um sonho: tocar em um campeonato de skate. Olmar mantém as raízes do skate vivas dando seus rolés em pistas e com seu long por aí, enquanto que Rod está iniciando na arte de se atirar no carrinho. Seria unir o útil ao agradável, sem dúvida nenhuma! Nunca podemos esquecer: o Coquetel Molotov é a primeira banda de skate rock do país, surgida numa época em que a palavra “liberdade” começava a fazer sentido novamente no país. O inesquecível “Tatu” foi o primeiro campeão brasileiro de vertical e o grande catalisador de uma cena que se desenvolveu em torno das festas que organizava e da banda que montou. Tudo aquilo que surgiu nos cenários do skate rock no país e do punk rock carioca só foi possível por causa daqueles quatro malucos que resolveram montar uma banda em 1982. Agora, a banda ressurge com a possibilidade de levar o seu som e a sua mensagem a cada vez mais pessoas, que também poderão pogar e refletir sobre as mensagens contundentes passadas pelas músicas. Portanto, informe-se sobre os lançamentos da banda e não marque bobeira: se eles tocarem em sua área, não perca de jeito nenhum! www.coquetelmolotov.com Contatos para shows: Andrea Murat - andreamurat@gmail.com

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skateboarding militant // por guto jimenez* MILTON QUINTAS/ARQUIVO PESSOAL

Pais & Heróis

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IVAN SHUPIKOV

er um skatista como membro da família é algo cada vez mais comum em nosso país, assim como a aceitação do skate por parte da sociedade. Por mais que os que são conhecidos por aí ainda sejam alguns poucos nomes das modalidades mais populares, é inegável que o próprio conhecimento geral que se tem do skate é bem maior do que o de épocas anteriores. De proscrito e perseguido, o carrinho passou a ser admirado e até mesmo acolhido por boa parte das famílias brasileiras. Nem sempre foi assim. Da minha geração (anos 70), raros eram os pais que sempre acompanhavam os filhos nas pistas e sessões, e mais raros ainda eram os que se faziam presentes de alguma forma. Um desses paizões era o Seu Bruno, pai do “Junior”, conhecido no meio do skate como Bruno Brown: só pra você ter uma ideia, o “coroa” foi o fundador e primeiro presidente da ABS, a Associação Brasileira de Skate, formada em meados dos anos 80. Isso foi só uma prova do envolvimento do pai com as atividades do filho, que se tornou uma presença constante durante toda a intensa vida do Brown e toda a sua paixão pelo skate. Na mesma década, outros dois pais de skatistas marcaram seus filhos e toda uma geração por suas presenças decisivas nas vidas e carreiras de suas crias. O primeiro deles acompanhava o filho em todas as sessões e filmava todos os rolés que o moleque fizesse, onde quer que fosse; depois, pai e filho analisavam as fitas de vídeo pra que o garoto pudesse ver o que era preciso pra melhorar o seu desempenho. Portanto, não foi à toa que Lincoln Ueda se tornasse um dos mais cascudos e admirados verticaleiros em todo o mundo – tem muito da mão do Seu Jorge ali! O outro Superpai foi um pouco mais adiante: cansado de ouvir o filho e os amigos reclamarem de faltas de boas pistas pra poderem andar, o Seu Nelson resolveu que iria construir a melhor pista que conseguisse num galpão da loja de pisos que ele tinha em SP. Assim nascia a legendária Ultra Skate Park, “quintal” de Cristiano Mateus (filho do Seu Nelson) e pico preferido de amigos como Bob Burnquist, Valter Vale “Valtinho”, Sandro Dias e o próprio Lincoln, entre incontáveis outros. O início dos anos 90 será lembrado pra sempre como um dos períodos mais difíceis do cenário em todos os tempos, e não foi diferente com a credibilidade do skate com os pais: era possível contar nos dedos aqueles que forneciam apoio incondicional ao amor dos filhos pelo skate. Um desses pode ser considerado como um dos alicerces da cena de sua cidade e de seu estado, só porque havia se apaixonado tanto pelo skate quanto os próprios filhos: Seu Mário Herdade. Em suas horas de folga, o funcionário público começou a montar rampas de madeira com estrutura de metal pros seus garotos brincarem com os vizinhos, depois foi montando mais rampas e passou a levar a clubes e shoppings, aumentando com isso o número de praticantes de street pela cidade. Quando montou o MHS Skate Park na Taquara, já tinha alguns anos de experiência tanto com montagem e manutenção de rampas quanto com a realização de eventos – e foi decisivo pra que o cenário de competições se mantivesse ativo durante anos na cidade. Tudo isso graças ao amor dos filhos Marcelo “Marbal” e Marquinhos pelo skate... Vai vendo! Bem, será que as coisas mudam de figura quando os paizões também são skatistas? Melhor perguntar pro veterano skater mineiro Dota Bones, pai do profissional Jefferson “Bill” e dos amadores Paulo “Coyote” e Hugo “Blender”, um paizão coruja que não se cansa de se orgulhar tanto do nível do rolé dos filhos quanto das conquistas que

APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.

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Milton e Pedro Quintas, parceria que transcende o pai e filho.

eles vêm alcançando nos últimos tempos. Definitivamente, valeu a pena ter sido rigoroso com os moleques durante as sessões, né não?! Na atualidade, André Barros é o pai que melhor evidencia o apoio irrestrito ao filho, o incrível pentacampeão mundial de bowl Pedro Barros. Ele mesmo um skatista veterano, além de ter praticamente inserido o skate na vida do filho ainda no berço, André foi viabilizando lugares pro filho andar como minirrampas e half pipe até conseguir fazer um banks junto com o padrinho do garoto, numa história que foi se desenrolando e culminou com o surgimento do RTMF bowl. Depois desse pico, das conquistas mundiais do Pedro e da efervescência que o skate trouxe à Ilha de Santa Catarina, inúmeros outros locais foram surgindo pela cidade, banks e bowls de vários formatos, muitos particulares e alguns públicos, que estão fomentando o cenário de uma forma que jamais fora vista antes. Outro pai-herói que não mediu esforços pra concretizar o sonho do filho é o Miltão Quintas, pai do Pedro Quintas, uma das maiores revelações do skate vertical da atualidade. Contando com o apoio irrestrito dos patrocinadores do filho e do Rony Gomes, Miltão “moveu céus e a terra” e agora pode curtir as sessões pegando fogo no QG bowl, belíssima pista nos arredores de Atibaia (SP), pico que já virou ponto de encontro dos competidores tops da modalidade. Seja como for, a presença e o apoio dos pais nas histórias de seus filhos e filhas skatistas só tende a aumentar, algo impossível de se imaginar em tempos passados. De brincadeira de criança e distração de adolescente mal visto pela sociedade até chegar a ser uma opção de carreira esportiva, o skate passou por um longo caminho até o status atual de aceitação por parte das famílias. Espero que o apoio aumente cada vez mais – e que histórias como as dos pais & heróis homenageados acima sejam cada vez mais comuns!


FOTO: DIEGO SARMENTO

˜ BIANO BIANCHIN ˜

RESPEITO À CULTURA

DO SKATE

BRASILEIRO

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