CPM 22 * THIAGO PIRES * WAGNER RAMOS * DEATH
MARLON SILVA
CERVEJA E BAGUNÇA
BRUNO FUNIL DO NES À SLS
CONCRETO EM ALTA
O BOWLRIDING PELO MUNDO
LALALA
Felipe Oliveira, wallie. Ano 25 • 2016 • # 242 • R$ 12,90
LATINOS EM LOS ANGELES
PROPELLER TOUR
A VEZ DA AMÉRICA DO SUL www.triboskate.com.br
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marรงo/2016
// índice
TRIBO SKATE 242 MARÇO 2016
ESPECIAIS 28. Motivadores
Bruno “Funil” Collyer
32. Lalala
Latinos lá em LA
38. Concreto em Alta
Oi Bowl Jam e muito mais
46. Propeller Tour
A vez da América do Sul
54. Marlon Silva
Cerveja e bagunça
SEÇÕES
Editorial........................................................12 Zap ..............................................................16 Luz ...............................................................64 Hot Stuff.......................................................68 Casa Nova ...................................................70 Tecnologia e Negócios ................................ 74 Playlist (Wagner Ramos) .............................76 Áudio (CPM 22) ...........................................78 Skateboarding Militant .................................80
CAPA: Mobiliários clássicos das grandes cidades como o Teatro Municipal de São Paulo, pareciam ter seus cantos esgotados para se aplicar um skate diferente. Felipe Oliveira quebra este paradigma ao avançar para a parede com um ollie to wallie wallride nunca antes pensado. Foto: André Calvão ÍNDICE: Outro mobiliário da mesma grandeza, o “tobogã” do Parque da Independência, junto ao Museu do Ipiranga, também em Sampa. A leitura diferente aqui é do Neverton Socado. Nollie fs noseblunt conectando com a rampa. Foto: André Calvão
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Território democrático POR CESAR GYRÃO // FOTO JUNIOR LEMOS
A
princípio, o ambiente é a cara das bikes. Estamos falando dos Pump Tracks do novo Centro de Esportes Radicais de São Paulo, a ser inaugurado neste mês de março. Fomos convidados pelo coordenador deste segmento na Secretaria de Esportes, o Carlos Pretto, para fazer uma visita técnica antes da inauguração. Com Junior Lemos no comando das imagens, contamos com dois pros para brincar numa das atrações do lugar, que mais parece um parque. São três Pump Tracks, que aumentam de proporções e níveis técnicos para atender de iniciantes a experts, dos esportes de rodas ou rodinhas que se aventurarem a desafiá-los. O conceito não é novo, mas foi uma grande sacada que estes aparelhos tenham sido os primeiros a serem construídos no novo Centro, localizado no Bom Retiro, bem ao lado da Marginal Tietê, numa completa prova de que com boa iniciativa do poder público, áreas degradadas podem se revigorar. Em nossa vistoria, nossos sorrisos se confundiram com os dos profissionais Fabio Sleiman e Rogerio Troy, aqueles que bombaram a audiência do site e Instagram Tribo Skate. Voltanto ao conceito, o Pump Track é um circuito onde você pode rodar sem parar, ganhando velocidade a cada volta, e dependendo de suas habilidades, recheando de manobras, até cansar! Por ser de asfalto, o brinquedo pode exigir rodas moles para você acelerar mais, no entanto a diversão será garantida. Mesmo com seu carrinho de street, Sleiman virou o circuito com muito gás… Bom, isto aqui é um editorial, não um registro da inauguração, mas cabe lembrar que o espaço já tem uma mini ramp em V muito docinha e num segundo estágio terá um ginásio coberto com half pipe e área de street de madeira. A moral da nossa história, para a função de um editorial, é passar o recado que teremos a obrigação de zelar por mais este espaço público que foi feito pensando em todos.
A cidade se transforma e Fabio Sleiman aproveita. Ollie sinistro no asfalto do Pump Track médio.
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// editorial
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ANO 25 • MARÇO DE 2016 • NÚMERO 242
Editores: Cesar Gyrão e Fabio “Bolota” Britto Araujo Conselho Editorial: Gyrão, Bolota, Jorge Kuge
Próxima Edição 243
Do Rio a Montevidéu
Por Pedro Macedo
Chefe de redação: Junior Lemos Arte: Edilson Kato Publicidade: Fabio Bolota Cezar Toledo Colaborararam nesta edição: Texto: Fernando Granja, Guto Jimenez, Pedro Damasio, Pedro de Luna. Fotos: Álvaro Porquê?, Ana Paula Negrão, André Calvão, André Magarão, Anthony Acosta, Bruno Park, Cristina Sininho, Diego Bucchieri, Diogo Groselha, Flávio Biehl, João Brinhosa, Júlio Tio Verde, Luiz Trezeta, Marcelo Duarte, Michel Almeida, Pablo Vaz, Pedro Macedo, Rafael Roma, Ricardo Soares, Ricardo Kafka, Rodrigo Porogo, Suisso e Thronn.
Norte Marketing Esportivo Diretor-Executivo e Publisher: Felipe Telles Gerente de Conteúdo: Renato Pezzotti Diretora de Criação: Ana Notte Diretor de Arte: Fernando Pires Editora de Arte: Renata Montanhana Editor de Fotografia: Ricardo Soares Produtora: Carol Medeiros Editor de Vídeo: Paulo Cotrim Distribuição: DINAP
Foto: Pedro Macedo
Assinaturas: www.assineesfera.com.br Telefone: (11) 3522-1008 Endereço: R. Estela Borges Morato, 336 – Limão – CEP 02722-000 – São Paulo – SP Impressão: Leograf
www.triboskate.com.br A revista Tribo Skate é uma publicação mensal da Norte Marketing Esportivo
As opiniões dos artigos assinados nem sempre representam as da revista.
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Jun Matsui e a LUZ POR FABIO BOLOTA // FOTO RICARDO SOARES
O nº 15 de Fabio Pen Longevidade, muitas vezes, não quer dizer velho. Fabio Oliveira Paes, o Pen, ainda tem muito cartucho pra queimar como skatista profissional, sempre criando coisas novas. Nos últimos anos, Pen trocou sua São Paulo por Porto Alegre, onde mantém a rotina de um skatista de rua e pai de família. Sua extensa carreira acaba de ganhar mais um marco, com o lançamento de seu décimo-quinto pro model pela Anti Action. Isso, são 15 decks com seu nome lançados nos últimos anos, talvez um dos brasileiros que mais tenha assinado produtos. O dragão para o gráfico é para marcar bem que Fabio já tem 41 anos de idade, sendo 23 como skatista profissional. Em 1993, seu primeiro pro model foi lançado pela Flywalk, numa época em que os shapes entravam na era do “double deck”, ou seja, com o nose e o tail mais simétricos. Skate no pé é o segredo.
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assimétricas de suas famosas tatuagens desenvolvidas no Japão, que muitos consideram as melhores do mundo e agora, no desenvolvimento de sua linha de confecção e também de joias. Atualmente seus produtos podem ser adquiridos através de seu site e de sua loja diferenciada instalada no coração de São Paulo, nas artérias dos corredores da famosa Galeria do Rock. Se quiser saber um pouco mais sobre sua vida dedicada aos riscos nos corpos, veja o documentário disponível no Youtube, chamado “Jun Matsui”. Loja: Galeria do Rock – Av. São João, 439, Loja 374 - Site/store: http://www.junmatsui.com
DIVULGAÇÃO
“Meu interesse e paixão para o desenvolvimento de roupas vem dos meus dias como um skatista de rua de São Paulo, em meados dos anos 80.” Com essa frase estampada no seu site, Jun Matsui inicia a análise sobre a sua fase dedicada integralmente à sua confecção chamada LUZ (Life Under Zen). Vale dizer que Jun foi um dos top skaters brasileiros nos anos 80, com patrocínios de algumas das melhores marcas do skate nacional, que chegou a ter pro models e reconhecimento. Seus ollies eram dos melhores época, com estilo preciso. Com o passar dos anos, tudo isso foi trocado pelas linhas
zap // STREET ART // POR DIOGO GROSELHA (@DCANDRADE) ACOMPANHAR O SKATE POR ONDE ELE ANDA, QUER DIZER ENTÃO QUE VOCÊ ESTÁ DIRETO NA RUA! É POR ESSAS E OUTRAS QUE O NOSSO COLABORADOR DIOGO GROSELHA SEPAROU NOVE DE SEUS INSTAS, DENTRO DO TEMA QUE ELE TAMBÉM COSTUMA FICAR DE OLHO ALÉM DO SKATE.
Da esquerda pra direita, de cima pra baixo: 1. Aji Panca & Comum, 2. A Zika, 3. BH Art Gallery, 4. Dragão Egípcio, 5. Duelo de MC’s, 6. Eyes, 7. Peace, 8. Por Mare de Matos, 9. Smells Like.
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Death
Sesc Belenzinho/SP - 4 e 5 de fevereiro // TEXTO E FOTO FABIO BOLOTA Uma banda formada só por músicos negrados (ou no politicamente correto - afrodescencentes) e considerada a primeira de punk rock na história da música? Tinha que ver de perto, pois prometia. Esse foi o show da banda Death, formada em 1971 em Detroit e considerada a criadora do punk rock, antes dos Ramones, The Clash e Sex Pistols. Toda essa moral é assinada embaixo por caras como Henry Rollins (Black Flag), Jello Biafra (Dead Kennedys) e Marky Ramone (Ramones). A ótima estrutura do Sesc Belenzinho foi escolhida para os dois dias de show, que se não lotaram, tiveram o espaço bem cheio. Os caras foram eficientes e tocaram um set list de aproximadamente uma hora e meia, com direito a bis. Vale a pena procurar o documentário da banda dos irmãos Hackney pra tirar a história a limpo. Imperdível! Ao lado, alguns depoimentos de quem estava no show:
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“Eu também assino embaixo e fui todos os dias!” Clemente, da banda Inocentes “Assistir o Death tocando clássicos, 40 anos depois de lançados, foi surreal. O trio de tiozinhos rasta toca punk rock na veia. As músicas foram compostas quando não existia nada parecido na época; praticamente eles que criaram. Ao longo dos anos, o punk rock se tornou um rótulo comercial, e a banda Death carrega uma essência que eu nunca tinha escutado antes. Foi impressionante vê-los tocar ao vivo e testemunhar um momento histórico da música pessoalmente.” Sidney Arakaki “Fazia muito tempo que não me sentia ansioso pra ver um show. Poder ver o Death tocar ao vivo em São Paulo, foi simplesmente foda!” Jr Pig “O show do Death foi muito style, pois nunca imaginei ver os caras aqui no Brasil. Foi um choque. O mais legal foi ouvir os caras na California, fazendo uma sessão na piscina ao som do vynil e ouvindo e lembrando toda a vibe da sessão; isso foi bem legal!” Rato (Ratus Skateshop)
Fabio Gheraldini
amaisskateboards.com foto Fabiano Yamada
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THIAGO PIRES “PINGO” FILHO DE CAMAQUÃ, NO RIO GRANDE DO SUL, THIAGO PIRES É MAIS CONHECIDO POR SEU APELIDO DUPLO: THIAGO PINGO. ELE FOI UM DOS RESPONSÁVEIS PELO VÍDEO INDEPENDENTE AME, RETRATANDO A CENA INDEPENDENTE DO SKATE DE RUA DO SUL E TAMBÉM BRIGOU PELA CONSTRUÇÃO DA PISTA PÚBLICA EM SUA TERRA NATAL. DURANTE MAIS DE 10 ANOS TEVE INTENSA PARTICIPAÇÃO COMO SKATISTA AMADOR, NAS RUAS, MAS TAMBÉM NOS EVENTOS E NAS PISTAS, APROVEITANDO PARA FAZER SKATETRIPS POR SETE PAÍSES DIFERENTES. 2014 MARCOU SUA PASSAGEM PARA A CATEGORIA PROFISSIONAL. DONO DE UM ESTILO TÉCNICO E QUE MANTÉM SEMPRE O SEMBLANTE SÉRIO, PINGO ESTÁ HÁ ANOS COMO PATROCINADO PELA QIX E RECENTEMENTE LANÇOU SEU PRIMEIRO PRO MODEL DE SHAPE PELA YERBAH.
//Thiago Pires “Pingo” 28 anos, 14 de skate De Camaquã, RS, mora em Porto Alegre Patrocínios: Qix International, Yerbah Decks e Donuts Shop
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tando o interior? (Rodrigo Bastos Budy) – Nossa, foram muitos obstáculos e muitos anos também. Ainda assim, não cheguei aonde quero chegar. Aliás, aonde merecemos todos nós skatistas chegar. Os principais desafios foram aqueles básicos de todos nós: falta de material, de lugar bom pra andar, de dinheiro pra ir no campeonato, de ir só com a passagem de ida e ter que ficar entre os três por necessidade pra voltar pra casa. Apesar de todos estes obstáculos que ainda vejo acontecendo no geral com os skatistas e não só comigo, eu ainda vim do interior e a únicas palavras pra mim que superam os obstáculos seriam: dedicação, empenho, força, coragem, amor… Tudo isso a gente tem de sobra, a cada manobra que a gente dá. Se caiu, levanta, levanta, levanta… • Daê brother? Sabendo como é a sua cidade natal, lembrando que na época que você começou não havia pista de skate, qual foi a saída que você achou para conseguir espaço e chegar onde está hoje? (Crysthian Pitana) – Eu nasci em Camaquã, um pequena e charmosa cidade a 120 km de Porto Alegre. Lá me criei e comecei a andar de skate em
uma praça chamada Zeca Netto. Lá conheci skatistas e pessoas incríveis como o Regis, Ary, Ede, Feio, André, Sandro, For, Madruga etc. São meus amigos até hoje. Eles me ensinaram muita coisa, e uma delas seria: “Se não tem, agente FAZ!” Então nessa fase eu construía caixote, soldava corrimão, até spine e um embalador de cima de uma árvore a gente construiu. Tudo no “nós por nós” e, assim, crescendo vendo isso, eu me tornei mais guerreiro e ia pros eventos e me destacava sempre. Até porque eu acredito que no Brasil é meio que assim: se você treina no pior, quando chega no melhor você fica muito bom. Foi o que eu recebi do pior que tive pra andar: o melhor. • Qual o melhor filme de skate para você? (Carla Soares) – São tantos, mas como sou fã do trabalho do Spike Jonze, então gosto de todos que ele fez. Em especial o “Mouse” e o “Yeah Right!” • O mercado brasileiro é instável quando o assunto é patrocinar skatistas, talvez por causa de nossa economia. No seu caso, qual o caminho você seguiu pra manter-se por tanto tempo assim no time da Qix? (Lucas Dias)
ARQUIVO PESSOAL,
• Há um tempo atrás, você tinha mais destaque e era mais divulgado, mas mesmo assim continua no skate. Você acha que está mais difícil atualmente se manter na carreira, nos patrocínios e como profissão? Os vídeos independentes ajudam mais o atleta, ou servem mais para manter o nível de manobras e do skate no geral? Muito legal o vídeo da AME, e da hora que vocês incentivam o esporte. (Thiago Felipe de Albuquerque) – O destaque vem ao natural, com a nossa dedicação e empenho nas metas. Tive uma época que produzia um vídeo por semana para a página da Qix, Yerbah e de outros dos meus patrocínios, mas o foco aos poucos vai mudando. Não deixo de fazer ainda os vídeos, mas não acho que tenha perdido destaque, apenas porque entrei em outros meios que não só o da mídia “skateboard”. Ano passado, por exemplo, eu participei de três comerciais de TV e fiz matérias falando sobre skate para revistas que não são do nosso segmento. Isso tudo ao natural. Eu apenas fui acompanhando a evolução das coisas, vi que me divulgando apenas no meio do skate não ia mudar muito, afinal o pessoal já me conhece no Brasil e em alguns lugares do mundo por onde passei. Então, apenas me dediquei também a sair em outros meios que ajudam tanto quanto a divulgar meus patrocínios. Pra mim foi uma mudança positiva. Estar na mídia e com o skate no pé é o meu trabalho, e faço porque amo. Com certeza os vídeos ajudam. Uma porque é você com você, você quer dar o seu melhor em uma parte de vídeo e acaba evoluindo e com isso você está ali, na cena, manobrando, sendo bem visto, mostrando seu potencial no dia a dia. Obrigado pelo elogio ao AME, foi muito de coração para todos os skatistas, por isso o nome. • Apesar de já ter produzido excelentes skatistas, a falta de estrutura, tanto de pistas e picos de rua, quanto de patrocínio para os amadores, sempre foram grandes obstáculos para nós do interior do RS. Quais foram os principais desafios e como foi o seu corre para superá-los ao longo dos 10 anos de amadorismo e represen-
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THIAGO PIRES “PINGO”
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JOÃO BRINHOSA
// zap
Ollie to fs crooked.
– Sim, há muito mais skatistas bons do que marcas para patrocinar no Brasil; isso é um fato. Eu entrei no time da Qix em 2009 e foi uma das melhores oportunidades que recebi na vida para andar de skate, que é o que eu amo fazer, além de filmar e editar, que eu gosto muito também. A partir daí, eu sempre me empenhei em saber o que a empresa precisa, o que ela espera de mim e o que eu posso oferecer. Com isso sempre trabalhei e me mantive firme no time até chegar à profissional em 2014 e assim sigo, trabalhando, participando das tours, eventos, comerciais, revistas e divulgando; até porque, no mercado atual, uma empresa que realmente investe no skate como a Qix, tem que receber isso de volta de uma forma muito positiva e é o que eu faço: gero resultado pro skate brasileiro e pros meus patrocínios. • Na sua opinião, qual é o maior problema encontrado para a construção de pistas de skate adequadas no Brasil? É falta de empresas especializadas ou de visão dos nossos governantes? (Andrei Larent) – Então, no momento eu até vejo uma época bastante positiva para a construção de pistas e com isso maior evolução do skate no Brasil. Pelo menos aqui no Rio Grande do Sul, no ano passado eu fui em três inaugurações de ótimas pistas de skate. Há dois anos que eu consegui construir junto com a prefeitura e secretária de esportes de Camaquã a nossa própria pista pública. Então vejo que as coisas estão acontecendo, muito por parte dos skatistas se juntarem a arquitetos e se organizarem, ou arquitetos que andam de skate também, como por exemplo o Fred Cheuiche, aqui da SPOT, em Porto Alegre. Ele tem feito um ótimo trabalho no estado e fora também na construção das pistas. Ao meu ver, o que falta ainda são construtoras mais especializadas na hora da obra, porque alguns materiais na construção deixam a desejar na qualidade para durar mais tempo, mas os projetos estão ótimos e acontecendo. • Pingo, a gente vê na internet vídeos que não mostram o skate de alto desempenho e que alcançam altos números de audiência, mas os que são feitos para os skatistas como a gente não chegam nem na metade destas visualização. Por que você acha que isso acontece? (Marco Peres) – Acredito que alguns destes vídeos em sua grande maioria são feitos por grandes clientes na internet, que geram renda para os canais e com isso ganham mais destaque e com isso visualização, mas acredito seriamente que se deve sempre continuar fazendo os vídeos independentes, mesmo com poucos views. Ou seja, o que importa é vocé estar ali fazendo e eternizando suas manobras, vivências, seu trabalho. Os comentários e views vão ser resultado de vários anos de trabalho e se for de verdade mesmo, pode ter certeza, eles dão um ótimo resultado. É aquela história: quem é de verdade, sabe quem é de mentira.
• No ano passado você venceu um evento no Peru, o seu primeiro como profissional. Como foi o formato e qual foi sua estratégia pra vencer? Como foi essa experiência? (Dimitri Tiscosky) – Verdade! Eu fui pro Peru para participar do “De la Calle” e acabei não me saindo muito bem. Cheguei meia hora antes de correr o evento pela manhã cedo e depois de um voo de quase seis horas, cheguei cansado, mas passei pra final. Fiquei mais uns dias em Lima e rolou outro evento profissional. Fui descansado e focado; o formato era jam session, e na final era linha de um minuto, mas que só se pode errar duas manobras, senão você passa a vez. Graças a Deus eu passei em primeiro pra final e mantive a mesma linha; assim acabei ganhando o evento. Fiquei muito feliz, porque além de ganhar uma “plata” fiz vários amigos e aprendi muito sobre a cultura de lá. Até acabei ficando mais um tempo lá por isso. É um país que pretendo voltar sempre e que eu admiro. • Pingo quando você entrou na Yerbah Decks e em que número de pro model você está? Você deu ideia para o gráfico? Quem foi o artista que assinou o seu atual? (Silvio Francis) – Então eu participo da Yerbah faz uns oito ou nove anos. Ela começou dentro da minha sala de aula na faculdade. Pra quem não sabe, eu também sou graduado em Administração de Empresas e meu o trabalho de conclusão foi sobre “pro model”. Nesse meio tempo eu conheci um colega chamado Luciano Peixoto e o TCC dele era sobre a Yerbah. Lá ele começou a marca. Nos unimos, entraram outros skatistas também e hoje está tudo indo bem. A marca faz parte da DropFamily e está aí nos eventos, nas lojas e nos skates na rua. Acho isso muito louco: você ver o início de tudo e ajudar na evolução. Agora, recentemente, saiu o meu primeiro pro model desenvolvido pelo artista oficial da marca, o Medina. Ele faz todos os gráficos desde o início e é membro da nossa família. Eu não opinei muito sobre o meu primeiro model; foi mais uma surpresa, tanto pra mim quanto para o Marlon Silva, que teve lançado o seu também. Os próximos, vamos participar mais ativamente, mas hoje eu vejo que foi mais legal ser assim, uma alegria compartilhada.
Próximo enfocado: MARCELO FORMIGUINHA Envie perguntas em nossas redes sociais (Instagram, Twitter e Facebook) com a referência #LinhaVermelhaTS. E se preferir, no site há um formulário para também enviar perguntas. Participe!
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JÚLIO TIO VERDE
Com a equipe NES, 2015.
Do NES à SLS
NOS ÚLTIMOS ANOS, UMA FIGURA ATUANTE TEM SE DESTACADO NO CENÁRIO DE SKATE DO RIO DE JANEIRO POR SUAS INÚMERAS ATIVIDADES NOS BASTIDORES. BRUNO COLLYER, O “FUNIL”, É O CRIADOR E IDEALIZADOR DO NES, O NÚCLEO ESCOLA DE SKATEBOARD QUE TEM LEVADO ESCOLINHAS E EVENTOS DE SKATE A CLUBES E OUTRAS ÁREAS DAS ZONAS NORTE E OESTE CARIOCAS, FUNDAMENTAL NA FORJA DE TODA UMA GERAÇÃO DE SKATISTAS QUE ESTÁ DESPONTANDO NOS CENÁRIOS LOCAL E NACIONAL. COMO SE NÃO BASTASSE, O CARA É UM DOS LOCUTORES DE EVENTOS DA CBSK E COMENTARISTA DOS EVENTOS DA STREET LEAGUE NA FOX SPORTS E JÁ ESTEVE ATUANTE NA CENA DE SKATE ATÉ DE OUTRO PAÍS. CONHEÇA MAIS SOBRE UM DOS MAIORES MOTIVADORES DO SKATE NA ATUALIDADE NESSA EXCLUSIVA À TRIBO SKATE: BRUNO FUNIL.
POR GUTO JIMENEZ // FOTOS JÚLIO TIO VERDE
J
á há alguns anos, o NES vem marcando uma presença bem forte e constante nas zonas Norte e Oeste do Rio. Quando surgiu a ideia da primeira escolinha e onde ela foi implantada? O NES - Núcleo Escola de Skateboard - surgiu no tradicional clube Mackenzie no Méier. Na época, além da ajuda dos irmãos do skate que meteram a mão na massa comigo (Lampião, Alex e outros), o vereador local Sebastião Ferraz patrocinou as estruturas metálicas das primeiras rampas. Rolava só aos sábados e domingos e ali ficamos por uns 6 meses, quando fomos convidados a sair fora devido aos mesmos problemas de sempre que o skate e seus praticantes conhecem bem, não vou enumerá-los (risos). Daí surgiu a oportunidade de um novo e maravilhoso espaço no Atlas Atlético Clube, também no Méier, uma qua-
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dra enorme, lisa, coberta, cheia de rampas e obstáculos feitos por mim, Jadson, Alex, Besada, onde aconteceram muito campeonatos, eventos, festas inesquecíveis e muitas histórias... Todo mundo do skate do Rio que estava na cena colava no NES. Desde 19 de abril de 2003, eu nunca mais parei de trabalhar no projeto. Atualmente, o NES conta com quantas iniciativas ativas? Já estivemos em muitos locais, clubes, escolas, estacionamentos, shoppings, até no Circo Voador, mas atualmente estamos com o núcleo principal no Méier, onde temos o skatepark indoor com toda estrutura dentro de uma ótima academia, a RBC. Além da matriz, estamos no Sesc (ESEM - Escola Sesc de Ensino Médio, uma super instituição de ensino), na rede de colégios Faria Brito (a filial do Recreio possui uma excelente minirrampa de concreto no pátio da
escola construída pela Rio Ramp Design) e estamos fechando mais duas escolas particulares com núcleos de skate exclusivos. Estamos também em Brasília com o brother Edu Mello, que coordena dois núcleos NES lá no DF! Lá também tá lindo o trabalho! Muitos nomes do cenário do street carioca estão ou estiveram envolvidos com o NES, sem falar nos garotos e meninas revelados pela escola. Quem lhe ajuda atualmente e vem ajudando ao longo do tempo? Sempre tivemos grandes skatistas no time e sempre recebemos toda a galera de braços abertos em nossa casa, mas se tem um cara que ajudou muito o NES e tá lá firme demais até hoje é o JB, Jadson Brian, doutorado em skate de rua. É líder da equipe de treinadores, videomaker e supervisor das aulas e treinos de todas as idades. Além do Jadson, me ajuda demais, meu
bruno “funil” collyer
// motivadores
JÚLIO TIO VERDE
JÚLIO TIO VERDE
Driblar seguranças e atravessar o mar de pedra portuguesa foram a parte mais punk da manobra. O resto era parede. Bs wall ride.
SUISSO
O primeiro NES de todos, em 2003.
Com alunos do NES, 2016.
irmão e sócio Marcelo Mattos (ÉrreA), que era o agitador do skate na área antes de eu entrar na cena. Minha ex-esposa Melissa Garcia (apresentadora do canal Esporte Interativo) também foi essencial pro NES estar aí até hoje, pois quando tive que morar fora do Brasil ela que segurou a onda no comando da nave. A equipe NES hoje só tem brabeza! (risos) Olha o time: João Suisso, Pablo Florêncio, Jean Lima, João Lira, Luiza Mattos, Nikolas Sá, Eloy Silva, Caio Sandro, JB, Alex Sandro, Pedro Lima e os masters Alex Mothé, Felipe Bessa, Flavio Voigtel, Bigode, Magal, Lampião e eu. Na gringa, tem nosso cara do DH, o Juca, que vive na Espanha e bota pra baixo lá nas ladeiras com o NES no macacão. Vamos voltar ao início de tudo: quando você começou a se envolver com o skate? Quem eram os caras que lhe inspiravam, tanto aqui quanto lá na gringa? Cheguei a ter um patinete Bandeirantes quando criança e arranquei o guidom pra transformá-lo em skate como outros moleques fizeram, mas não continuei daí. Meu saudoso pai me presenteou com o primeiro e inesquecível carrinho comprado na extinta Camping Tour, um skate Plancton model do Tio Liba! Ando de skate desde 1986 mais ou menos; meus vizinhos Bruno e Fabio tinham skates e emprestavam antes de eu possuir um. Minhas inspirações no skate eram os
ZN Boys que arrepiavam no estacionamento do Norte Shopping no final dos 80 (Catinha, Adalberto, Portuga, Ataíde, Lúcio Flávio, Leo da Ilha, Evandro, irmãos Street Line, Dudu, Tobobinho, etc), também teve uma apresentação da Coca-Cola na minha escola onde os skatistas eram Come Rato e Lúcio e eu pirei! Buscava o máximo de referências e informação sobre skate (raríssimas na época); invariavelmente catava todas as revistas, jornais com qualquer matéria de skate, programa Vibração com o Cesinha Chaves, fitas VHS amassadas do Animal Chin, Ban This, Hokus Pokus e aquele vídeo nacional “Skate, o Esporte Emoção”. Você teve uma experiência muito intensa de vida e de skate em Angola. Por favor, conta um pouco como foi lá e o que você aprendeu no nosso país-irmão africano? Muito intensa. Ninguém imagina andar de skate com garotos de 7, 10, 12 anos que nunca tinham visto um skate na vida nem sabiam o nome daquele “carrito”. Dividia o meu skate com todos na sessão, daí começaram a frequentar a quadra do condomínio que eu morava em Angola (Luanda) e foi muito legal. O skate não tem barreiras, nem de idade, cor, credo, classe e até mesmo a ciência de sua existência. Fiz sessões com caras que nunca tinham visto um na vida e nos divertimos com a mesma intensidade. A março/2016
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JÚLIO TIO VERDE
JÚLIO TIO VERDE JÚLIO TIO VERDE
Com a Element Tour, 2012.
Curso do NES, 2015.
ficha me caiu quando uma vez na hora do descanso e da água da sessão, sentado com a molecada na calçada com um muro furado de balas no outro lado da rua, fui fazer uma brincadeira com eles citando personagens como Batman, Super-Homem etc e os moleques simplesmente nunca tinham ouvido falar nos tais “super-heróis”. Mas ollie no solo descalços já estavam mandando! Correspondo-me com a galera do skate de lá atualmente, os Kalemba Street! Fico maravilhado quando entro na página dos moleques e vejo vários em vídeos arrepiando em Angola, Moçambique, etc. Não sei se as crianças que andaram de skate comigo continuaram ou mesmo se estão vivas, as coisas lá não são fáceis, mas acho que uma sementinha foi plantada. Deixei um quarter pipe de madeira numa quadra lá (risos). Espero voltar um dia. Como se não bastasse todo o trabalho que você já desenvolvia nos bastidores, você também atua em locuções de campeonatos. Como surgiu a chance pra você, foi sem esperar como aconteceu comigo? Sim, foi sem esperar, Guto. Eu estava com uma galera do Rio trabalhando de juiz em um campeonato em Rio das Ostras, onde o locutor era um tiozinho do supermercado. O champ estava bombando, mas o público estava caindo na pele do coroa, rindo pra caralho da locução dele, até que ele batizou
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Bs air, NES Riachuelo, 2008.
uma manobra de “pirueta radical” quando o público veio abaixo na zoeira e o coroa teve que ser substituído. “Quem se habilita?”, disse o organizador do evento apontando o microfone pra mim, eu disse: eu! Daí fluiu e eu nunca mais parei. Ter assistido muitos campeonatos (sempre fui assíduo espectador de campeonatos de skate), com principalmente você na locução, me ajudou demais nas referências, sem falar na ajuda que você me deu no início através de bate-papo e um documento completo que você escreveu pra mim com dicas e informações preciosas pra essa profissão. Muito obrigado de novo e pra sempre, Mestre Guto! O curso de árbitros promovido pela CBSk no Rio de Janeiro em 2007 também foi primordial no meu desenvolvimento como narrador de skate; Cesinha Chaves, Ed Scander e Paulinho Davi foram outros essenciais no meu aprimoramento. Atualmente, você é comentarista das transmissões da Street League pela Fox Sports. Como surgiu essa chance em sua carreira? É muito legal comentar a SLS na Fox Sports! Uma responsabilidade enorme, afinal falo pro Brasil todo e o nível das manobras é absurdamente alto, além de serem extremamente complicadas. Um grande irmão chamado Patrick Arditti trabalha na emissora há algum tempo e quando ele ouviu nos bastidores a possibilidade de ser
transmitida a SLS pelo canal, perguntaram: “mas aonde vamos conseguir um comentarista especializado em skate?” Ele respondeu, “eu tenho o cara”. Confiou em mim sem teste nem porra nenhuma e foi. Deu tudo certo, vamos para o terceiro ano de transmissões da SLS. O que é mais maneiro e o que é mais estranho em se trabalhar com a TV? Mais maneiro é a vibe de uma experiência nova, bacana e de grande alcance. Estranho é um headphone lá que fica enorme na minha cabeça (risos). Outro trabalho de bastidores que você esteve envolvido foi com a iniciativa da União Skate Rio. Em sua opinião, qual foi a principal conquista do coletivo e por que não foi adiante? A USR foi responsável pelas maiores conquistas em relação a construção de skateparks na história do Rio de Janeiro. Madureira, Lagoa, Duó, reforma do Aterro e acho que tô esquecendo de alguma... Enfim, num período de 2 anos, enquanto a entidade funcionou conseguiu essas maravilhas aí. Não foi adiante porque não tínhamos mais tempo; os envolvidos estavam participando de outros projetos e acho que o que queríamos foi realizado, acabou, fim. Ultimamente você tem participado das sessões em picos como os bowls do Rio Sul e Madureira. Quando você passou a curtir mais as transições?
JÚLIO TIO VERDE
Inauguração de Madureira, 2012. ARQUIVO PESSOAL
Bowl Jam com Duncan e Paulinho.
SUISSO
ARQUIVO PESSOAL
Nike nas 4uadras, 2013.
// motivadores
JÚLIO TIO VERDE
RODRIGO POROGO
bruno “funil” collyer
Treino elenco Malhação.
Aula no NES, 2016.
JÚLIO TIO VERDE
ARQUIVO PESSOAL
ARQUIVO PESSOAL
Fronteira de Angola com o Congo.
Brasileiro Pro, Madureira, 2013.
Estou apaixonado por skate de transições. É uma novidade pra mim e meus amigos da antiga que também voltaram a andar e estamos todos na febre! Quando a gente é muito cria de rua, fica muito bitolado de andar somente na rua, mas com a idade e o amadurecimento do meu paladar do skateboard, tá sendo maravilhoso conhecer curvas deliciosas em vários picos dentro e fora do Rio. Sempre que posso vou com amigos e famílias pro interior de Sampa, região de Guará, Lorena, Taubaté... por motivos óbvios, né? (risos) Excelentes pistas! E quando é que vai montar um long pra dropar umas ladeiras? O meu joelho já tá quase bom, logo menos vai ter mais um velhinho pra fazer sessão contigo... Ia justamente lhe falar sobre isso, já estou montando e vamos botar pra baixo, com ou sem moderação em breve! Às vezes brinco lá atrás do condomínio Mundo Novo na Barra, no ladeirão que anda muita gente de longboard e DH; pra quem tá começando é excelente, easy. A família da minha esposa mora lá, molezinha (risos). Com quem você tem feito sessões atualmente? Alfie, Flavin, Bigode, Top, ET, Bessa, Patrick, Luiza, Bernardo, Badu, Snk, Igor, Alex, Lamp, Rabujento, Jeff (amigos das antigas e familiares), além das dezenas de alunos e amigos frequentadores do NES e a galera que esbarramos nas sessões por aí.
Com Pablo Florêncio e Felipe Bessa, 2015.
Taí, vou aproveitar pra matar uma curiosidade: por que o apelido de “Funil”? Eu tinha menos de 10 anos. Tinha um comercial de um remédio chamado “Broncofenil” e, de alguma maneira, eu ficava muito puto quando associavam o moleque do anúncio comigo. Ficou puto, já era: o apelido é seu! Bullying era menino (risos). Daí começou com Broncofenil, depois Fenil, passando a “Funil” (risos). Quais são os projetos que você tem engatilhado pro futuro? Vou continuar me aprimorando como narrador e comentarista de skate, ampliar as bases e atuação do NES e, com o anúncio da entrada do skate nas Olimpíadas, espero que muitas oportunidades apareçam pra mim e pra todos os outros guerreiros que, além de skatistas, têm o skate como ganha-pão de cada dia, suado e honesto. Fui recentemente convidado pra um seminário e outro encontro importante do Comitê Olímpico Brasileiro. Só de terem lembrado de mim e meu trabalho já me motiva e me surpreendeu positivamente. E o restaurante, quando vai rolar aquela boca livre pra galera old school do Rio? (Risos) O restaurante Leve é uma delícia! A melhor, mais gostosa e saudável comida da ZN-RJ! A Gabriela minha esposa fica no comando, eu só apareço pra fazer uma boquinha mesmo (risos).
Campanha no Méier.
Vamos imaginar que tenha um garoto por aí que queira começar a fazer locuções de eventos e participar mais do cenário nos bastidores. O que você falaria pra ele, daria algum conselho em especial? Acreditar, estudar a coisa, ainda mais com o skate ficando cada vez mais complicado, no caso do skate de competição, e meter a cara! Se peidar, já era. Falar pouco, agir muito e ter paciência com o peso morto que nunca ajuda, só critica e não soma. Funil, foi um prazer ter sido escolhido pra fazer a entrevista com você! Agora é hora de dar tchau, deixa o recado que você quiser pra quem vai lhe ler na Tribo Skate. Uma honra de verdade ter falado pra Tribo Skate, tipo daquelas viagens de moleque que queria ver seu nome escrito numa página de revista, sempre fui um esfomeado leitor de revistas de skate e conheço a batalha do mestre Cesar Gyrão e cia. Ser entrevistado pelo melhor jornalista do skate nacional também me enche de orgulho! Muito obrigado a todos, andem de skate, sejam felizes, respeitem aqueles que andam na rua, que curtem campeonatos, que só andam na pista perto de casa, no playground, de calça larga ou apertada, aqueles que dizem que o skate é esporte, religião, hobby, lifestyle... Os que começaram a andar há muito tempo e os que começaram ontem também. Paz, amor, respeito e skateboard SEMPRE! março/2016
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los angeles
// viagem
LALALA Com a nossa rapa em LA! UM RASPÃO DOS LATINOS POR LA. ASSIM PODEMOS RESUMIR OS CINCO DIAS DA MISSÃO QUE REUNIU UM SKATISTA BRASILEIRO, UM CHILENO, UM ARGENTINO, UM MEXICANO E UM PERUANO. A VAN FOI DIRIGIDA POR NINGUÉM MENOS QUE DIEGO BUCCHIERI (AKA LA BUCHA), QUE SE ENCARREGOU DE FOTOGRAFAR E PASSAR TODA SUA EXPERIÊNCIA À CREW. TEXTO E VÍDEO FERNANDO GRANJA // FOTOS DIEGO BUCCHIERI
YURI FACCHINI, MOLEQUE DOIDO! Era o mais local de LA, então foi um grande anfitrião para os outros que estavam pela primeira vez na cidade, apesar da pouca idade. Você pode escolher o nome da manobra: frontside noseslide transfer ou transfer backside nosebluntslide? Independente do nome, o pop out dessa manobra era impressionante e ele ainda arrancava de frente para o outro lado! Você pode vê-la no ‘instavídeo’ exclusivo feito para a revista @triboskate.
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JUAN CARLOS ALISTE, EL PERFECTO! Juan é um skatista muito técnico e determinado do que fazer. Quando escolhia uma manobra ou uma linha, o chileno deixava ela no pé e depois pedia para filmar. Anda sempre sorrindo, com um astral muito bom e acertou esse frontside flip na Court com muita facilidade.
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los angeles
// viagem
MATIAS DELL OLIO, EL TORO ARGENTINO! Matias é um moleque de 19 anos com quase dois metros de altura, muito gente fina, sempre disposto a andar em lugares grandes! Estava realizando o sonho de ir para LA e sua empolgação era evidente. Andou em todos os picos que passamos, era sempre o primeiro a sair da van e jogar o skate no chão. Nesse hardflip por cima do corrimão, tomou vários rolas de diferentes tipos até acertar com perfeição, juntando técnica e impacto, merecendo fechar o vídeo da trip com essa manobra.
CHINO ZUMAETA, EL PACATO! O peruano Chino também estava em sua primeira visita às terras norte-americanas e mostrou muita raça e persistência para registrar suas manobras. Andar de switch não é fácil nesse corrimão do Parque Holenbeck, mas Chino fez questão de registrar seu switch fifty. Foi o responsável por um bordão criado na trip: “vamos Chinooooo.”
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los angeles
// viagem
GUSTAVO SERVIN, EL SUICIDA! Gustavo gosta de corrimão e estava na terra deles, então o que mais fez na trip foi caçar canos! Depois de encontrar Jamie Thomas para pegar shapes da Zero, que ele tem apoio, o menino ficou ainda mais energizado pelo rail-master e distribuiu desde um fs bluntslide segurando de crail, passando por um fs nosegrind reverse na linha. O mexicano Gus ainda registrou um fs fifty nesse cano extenso e perigoso. Você pode ver todas essas manobras no vídeo e tirar suas próprias conclusões se o menino é sangue nos olhos ou não!
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JÚLIO TIO VERDE
eventos // bowlriding
Concreto em alta
O ANO COMEÇOU BEM NO CONCRETO. LOGO NO INÍCIO, MURILO PERES DESPONTOU NO NOVÍSSIMO BOWLZILLA, EVENTO INTERNACIONAL NO CHILE, QUE REUNIU GRANDES NOMES DO BOWLRIDING E QUANDO PEDRO BARROS, DE BOBEIRA, QUEBROU A CLAVÍCULA. DIAS DEPOIS, AS MENINAS NOS REPRESENTAM NO GIRLS COMBI POOL CLASSIC, NO VANS SKATEPARK, CALIFORNIA. UMA SEMANA A SEGUIR VIRIA O TRADICIONAL OI BOWL JAM, NO RIO DE JANEIRO. OPA! PEDRO VAI CORRER? COMO, SE SÃO APENAS DUAS SEMANAS DA OPERAÇÃO NO OMBRO? O CLIMA VAI ESQUENTANDO, NÃO APENAS POR SE TRATAR DE MADUREIRA. NA SEQUÊNCIA O CIRCO SEGUE PARA A AUSTRÁLIA, PARA OUTRO EVENTO TRADICIONAL, O BOWL-A-RAMA, DE BONDI BEACH. DEFINITIVAMENTE, O CONCRETO ESTÁ EM ALTA E O TOUR ESTÁ APENAS COMEÇANDO.
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ANDRE MAGARAO
Pedro Barros, indy 540 de clavícula biônica.
Oi Bowl Jam
JÚLIO TIO VERDE
// POR GUTO JIMENEZ E CESAR GYRÃO Eliminatórias / sexta-feira São Pedro ligou o maçarico na potência alta, deixando a temperatura ainda mais alta pra grande disputa que rolaria no bowl no meio da tarde. As eliminatórias escolheriam quem teria direito a disputar a semifinal com os pré-classificados pelos rankings brasileiro e mundial, fato que gerou protestos em redes sociais por alguns pros que não foram convidados para a disputa. Justo ou não, esse sempre foi o formato da competição desde os tempos do halfpipe da Lagoa Rodrigo de Freitas, portanto não deveria ser nenhuma novidade. Marlon Silva passeou pelas bordas, com combos de nose grind emendando em fs rockslide no over vert. Rony Gomes executou grosserias como nose grinds na extensão com coping de concreto, além de seus fs heelflips into grab sempre bem mandados. Raul Roger encaixou uma boa linha de aéreos, faltou o necessário 540. Sandro Dias foi aquilo que se esperava dele, a união de manobras de borda velozes com aéreos altos e extensos e até Madonnas barulhentas
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JÚLIO TIO VERDE
Collin Graham surpreendeu. Fs rockslide.
JÚLIO TIO VERDE
JÚLIO TIO VERDE
Bob, flip indy to fakie.
Felipe Foguinho, fs handplant.
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// eventos ANDRE MAGARAO
bowlriding
Chris Russel, monstro, eggplant na black box.
na extensão. Alan Resende mostrou muita segurança e boas manobras logo na primeira volta. Collin Graham passeou: fs certain deaths emendando com switch fs airs e Elgarials na extensão... Nem parecia um menino de 16 anos! Outro jovem ousado e técnico foi o italiano Ivan Frederico, que impressionou a todos com sua linha potente e bem executada. Caique Silva mandou seus poderosos ollies, grabs e disasters na pista toda, tranquilo como se tivesse numa sessão com os amigos e não na etapa de abertura do circuito mundial. Bob foi Bob: bean plant to fakie e switch grinds na extensão, fazendo aquelas linhas que só ele é capaz de inventar. Passaram Sandro, Alan, Collin, Caique, Ivan e Bob, uma garantia que o dia seguinte seria pelo menos tão quente quanto. Semifinais / Sábado “Parece que tem um sol pra cada um de nós”. A descrição do Júlio Tio Verde não podia ser mais precisa: o calor batia na pele como um tapa ardido, imagina pros caras que estavam andando no bowl. Haja sucos e isotônicos! Milagre da medicina ou do preparo físico? Pedro Barros quebrou duas semana antes a clavícula na chegada ao Chile, para correr o Bowlzilla, operou a região com a aplicação de uma placa com alguns parafusos e na tarde do sábado estava disparando na liderança do Oi Bowl Jam, terceira versão do evento que ele já venceu duas vezes. Quando se fala em altura, amplitude e agressividade no skate vertical atual, o nome dele aparece mais do que destaque de escola de samba. Sua ótima segunda volta incluiu bs corner air gigante, 540s em sequência e boardslide saindo pra fora da extensão. Monstro! Bob foi outro que mostrou o carteado, com Burntwists e fakie
grinds, switch fs rockslide no over vert e um dog pisser de manual. Murilo Peres foi veloz, alto e variado, o mesmo que Vi Kakinho – com direito a um McTwist voltado “na raça”. Felipe Foguinho fez jus ao nome e ao clima, derretendo uretano e mentes nas transições de Madureira. Nilo Peçanha fez duas voltas arrebatadoras, de cair o queixo e levantar a galera nas arquibancadas, mesmo efeito causado pelo Chris Russell e a aparente simplicidade de suas 300 grosserias bem espalhadas pela pista. O atual campeão mundial Alex Sorgente não veio pra brincadeira, disposto a cravar o seu nome na história do evento; ano passado foi quase, e ele veio na gana de subir ao lugar mais alto do pódio, com destaque pro melon 540 emendando num alto body jar na extensão. Os “calouros” Ivan Frederico e Collin Graham praticamente repetiram as performances do dia anterior, com a diferença que o italiano começou a soltar mais versões de 540s. Na soma dos resultados, os classificados foram Pedro em primeiro seguido de Ivan, Chris, Vi, Bob, Alex, Foguinho e Murilo. Não entendi o que Nilo e Collin precisariam ter feito pra estarem na final, mas enfim... Pra finalizar, Murilo Peres levou a premiação pelo grind mais extenso com um fs 5-0 de 13,26 metros. Chupa essa manga! É finalmente chegada a hora de refrescar a mente e o corpo com a melhor bebida isotônica que existe, a cerveja... Final é com o chefe; vai lá, Gyrão! Final / Domingo “Uma cerveja antes do almoço é muito bom, pra ficar pensando melhor.” Antes do refrão da música de Chico Science, o instrumental levava Pedro a balançar a cabeça e o corpo, numa espécie de ritual para três voltas impressionantes na final do Oi março/2016
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RESULTADO: 1º Pedro Barros (Brasil) - 95,33 2º Alex Sorgente (EUA) - 90.00 3º Chris Russell (EUA) - 86.67 4º Bob Burnquist (Brasil) - 84.33 5º Ivan Federico (Itália) - 82.33 6º Felipe Foguinho (Brasil) - 80.00 7º Murilo Peres (Brasil) - 77.33 8º Vi Kakinho (Brasil) - 75.67
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JÚLIO TIO VERDE
Alex Sorgente, fs boneless. Danny Leon, fs tailbone. ANDRE MAGARAO
Bowl Jam, na manhã de domingo na tórrida Madureira. Os 40 segundos seguintes de cada uma de suas apresentações foram de puro skate arte. Na primeira volta, ele iniciou com um ollie pra cima da onda da black box, entrou com seu insano ollie in e depois desfilou uma série de manobras longas e altas. O suficiente para garantir 91 pontos. Mas foi na segunda volta que o cara atingiu 95,33 pontos ao lançar dois 540 seguidos e continuar com suas manobras em todos os cantos. Já garantido como campeão, a última volta foi pra comemorar, com um grind emendando num tail wheelie na plataforma, slide no bump e mais algumas pra lá e pra cá. Quem estava presente aplaudiu e gritou muito, e quem assistiu pela TV deve fazer uma ideia da vibração da hora. Pedro respondeu à galera com reverências e recebeu de volta mais gritos. O som continuava. A festa de Madureira rendeu outros grandes momentos com os demais finalistas. Eles valorizaram a conquista do Pedro com skate pesado. Alex Sorgente, por exemplo, além de fazer as linhas mais completas, está voando mais alto do que de costume. Seu caballerial é muito basudo e sua melhor apresentação chegou aos 90 pontos. Chris Russel andando sem equipamentos de segurança, também atacou com muitas manobras cabreiras, incluindo um eggplant one foot na black box. Foi sua primeira participação no Bowl Jam, mas sua segunda competição no Brasil. Ele não pega nada leve e está com muita moral com seus vídeos na internet. Bob Burnquist, apesar de ter estado nas outras vezes no Bowl Jam, antes participava de outros jeitos, fazendo comentários para a TV ou apenas usando a pista nos intervalos. Neste ano, ele resolveu encarar a competição e fez o que sabe de melhor: linhas criativas com algumas de switchstance. Já falado pelo Guto sobre a semi, ele aplicou na final seu patenteado Burntwist e um fs switch nosegrind impressionantes. Finalista entre skatistas em média 20 anos mais novos do que ele. Nada mal. O caçula da brincadeira, o italiano Ivan Federico (16 anos), havia surpreendido na semi com a segunda colocação, mas apesar de andar tão bem quanto andou no sábado, na final não conseguiu se superar. Felipe Foguinho, Murilo Peres e Vi Kakinho, tiveram seus grandes momentos. Vi não conseguiu fechar a sua melhor linha com o 540 da véspera, mas deixou um bs smith na black box como marca registrada. Assim como o amigo Pedro, que usou a música Praieira de Chico Science em suas voltas, Vi também utilizou o rei do Mangue Beat como trilha sonora. A versão 2016 do Oi Bowl Jam vai ficar marcada por estes e outros sons.
bowlriding
Isadora Pacheco, fs fifty.
// eventos
Thais, Indy, Leticia, Dora.
Girls Combi Pool Classic // FOTOS ANTONIO DOS PASSOS JUNIOR “THRONN” Invasão brasileira no campeonato do Vans Skatepark, em Orange County, California. Evento já representado por Karen Jonz em outras épocas, desta vez foram seis garotas da nova geração. A australiana Poppy Olsen tem vitórias seguidas em cada uma das categorias do Pool Classic e não foi diferente em sua estreia como profissional. Embora os rolês mais consistentes fossem mesmo da Lizzie Armanto, Poppy encheu linhas de manobras e faturou. Nora Vasconcellos ficou em segundo depois de completar um flip indy em uma de suas linhas. Nossa representante entre as profissionais foi a carioca Bia Sodré, mas os destaques brasucas foram nas categorias amadoras, com o belo segundo lugar de Yndiara Asp entre as com mais de 15 anos e a vitória de Dora Varella na categoria até os 14 anos de idade. Leticia Gonçalves, Thais Gazarra e Isadora Pacheco, também arrepiaram.
RESULTADOS: Profissional 1º Poppy Starr Olsen (Austrália) 2º Nora Vasconcellos (EUA) 3º Lizzie Armanto (EUA) 4º Brighton Zeuner (EUA) 16º Bia Sodré (Brasil) 15 anos a mais 1º Jordyn Barrett (EUA) 2º Yndiara Asp (Brasil) 3º Hanna Zanzi (EUA) 5º Leticia Gonçalves (Brasil) 7º Thais Gazarra (Brasil) 14 e menos 1º Dora Varella (Brasil) 2º Spencer Breaux (EUA) 3º Bryce Wettstein (EUA) 6º Isadora Pacheco (Brasil)
Bowlzilla Murilo Peres é rei no Chile POR CESAR GYRÃO // FOTO RAFAEL ROMA
Murilo Peres, heelflip indy. RESULTADOS: Master 1º Tony Hawk (EUA) 2º Steve Caballero (EUA) 3º Bruno Passos (Brasil) 4º Pat Ngoho (EUA) 5º Kevin Staab (EUA) 6º Evandro Mancha 7º Chris Patton (EUA) 8º Marco Cruz (Brasil)
9º Miguel Catarina 10º Bill Rennie (EUA) Pro 1º Murilo Peres (Brasil) 2º Tom Schaar (EUA) 3º Chris Russell (EUA) 4º Tristan Rennie (EUA) 5º Vi Kakinho (Brasil) 6º Trey Wood (EUA) 7º Jon Schwann (EUA)
8º Kevin Kowalski (EUA) 9º Josh Borden (EUA) 10º Ben Hatchell (EUA) 12º Rony Gomes (Brasil) 13º Otavio Neto (Brasil) 14º Felipe Foguinho (Brasil) 15º Nilo Peçanha (Brasil) 16º Caique Silva (Brasil)
Depois de um ano difícil por ter operado pela segunda vez o joelho, Murilo Peres foi o grande destaque do primeiro evento internacional de bowl no Chile, o Bowzilla. A praia de Ritoque, em Viña Del Mar, recebeu um festival de música alucinante, com a construção de um bowl verde de boas proporções para sediar uma competição que reuniu grandes nomes do bowlriding do mundo, incluindo pros e masters. Tony Hawk venceu entre os masters, com Steve Caballero em segundo, mas o carioca Bruno Passos logo na cola. O mineiro Evandro Mancha também fez a final, conquistando o sexto lugar e Marco Cruz a oitava posição. Entre os pros, a nossa baixa foi a queda boba de Pedro Barros no trajeto para o evento, que lhe causou uma fratura na clavícula. Para compensar sua ausência, Murilo Peres e Vi Kakinho foram pra cima. Murilo tava inspirado e deixou pra trás o campeão do Vans Pool Party de 2015, Tom Schaar. Vi finalizou em quinto. Um bom começo para 2016. março/2016
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Bucky Lasek não cansa: indy nosebone.
Bowl-A-Rama 2016 Sem “The End” para Lasek e Hawk POR CESAR GYRÃO // FOTOS FLÁVIO BIEHL No filme The End, da Birdhouse, Tony Hawk brincou com uma suposta rivalidade entre ele e o #2 (número dois), Bucky Lasek. Na fita, o “Birdman” fez novamente o looping depois de décadas (desde Duane Peters nos anos 70), e mais um monte de manobras em halfpipes modificados, mas Bucky Lasek faz o papel do empregado que vai boicotar o “patrão” com mais um monte de pancadarias em rampas e bowls. Até hoje vale a pena ver o que estes caras produziram em 1998. Corta para 2016. A locação agora é o clássico Bowl-A-Rama, o evento de Bondi Beach, na Austrália, segunda etapa do mundial de bowlriding. Mesmo com 43 anos de idade, Bucky correu entre os pros e novamente foi o campeão, repetindo o posto de 2015. Ele poderia correr entre os pro masters, categoria dos skatistas acima dos 40 anos vencida novamente por… sim, ele, o Birdman! Aos 47 anos, Tony Hawk lançou novamente quase 10 pontos de diferença para os demais. Ele chegou a comentar na cobertura do evento que não gostaria de ter que encarar o Bucky entre os masters. O próprio Hawk faria bonito entre os pros, mas a questão aqui é lembrar que estes dois personagens históricos lideraram pelo segundo ano o evento que foi vencido seguidas vezes por Pedro Barros, entre os pros, parte de sua sequência de títulos de campeão mundial. Ainda não chegou o fim para estes dois. Este ano, Pedro foi super bem na semifinal, mas não conseguiu completar suas linhas na final, ficando apenas em oitavo. Apesar disso, ele venceu no aéreo mais alto e Vi Kakinho na prova de best trick. Marco Cruz estreou na competição entre os masters e ficou em oitavo. Murilo Peres, Felipe Foguinho, Sandro Dias e Marcelo Bastos também representaram o Brasil. Presente outro brasileiro, o carioca que vive girando o mundo, Gunther Viveiros. A cobertura da Tribo Skate contou novamente com Jun Hashimoto, um de nossos primeiros campeões brasileiros de vertical pro e de Flavio Biehl, que desenvolve um trabalho de escola de skate em Sydney.
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RESULTADOS: Profissional 1º Bucky Lasek (EUA) 2º Cory Juneau (EUA) 3º Tom Schaar (EUA) 4º Alex Sorgente (EUA) 5º Joshua Rodriguez (EUA) 6º Ivan Federico (Itália) 7º Trey Wood (EUA) 8º Pedro Barros (Brasil) 9º Vi Kakinho 18º Felipe Foguinho 19º Sandro Dias 20º Murilo Peres 33º Marcelo Bastos Master 1º Tony Hawk (EUA) 2º Pat Ngoho (EUA) 3º Renton Millar (Austrália) 4º Kevin Staab (EUA) 5º Luke Jones (Austrália) 6º Darren Navarrete (EUA) 7º Adam Luxford (Austrália) 8º Marco Cruz (Brasil) 14º Gunther Viveiros
bowlriding
// eventos
Sandro Dias e seu Christ air.
Pedro e a TV.
A gata Poppy Olsen, invert.
Flรกvio e Jun. marรงo/2016
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tour // propeller
A hora da América do Sul
NUNCA SE FEZ TANTO EM TÃO POUCO TEMPO. PARTE DO TIME DA VANS QUE FEZ DO VÍDEO PROPELLER UM DOS MAIORES LANÇAMENTOS NA ÁREA DO ANO PASSADO, ESTEVE RECENTEMENTE NO BRASIL DEPOIS DE EXPLORAR A COLÔMBIA, CHILE, ARGENTINA. NO MEIO DA CORRERIA, OS CARAS FIZERAM UMA DEMO COM OS COLEGAS LOCAIS RICARDO DEXTER, DANILO DO ROSÁRIO E MARLON SILVA NO LARGO DA BATATA, EM SÃO PAULO (VER ZAP) E PERCORRERAM ALGUNS PICOS CLÁSSICOS. SALVAMOS ALGUMAS FOTOS DE ANTHONY ACOSTA DO ROLÊ POR AQUI E OS OUTROS PAÍSES E PEGAMOS ALGUMAS IMPRESSÕES DOS VISITANTES. PARA VER E PARA LER. POR CESAR GYRÃO E JUNIOR LEMOS // FOTOS ANTHONY ACOSTA
CHIMA FERGUSSON (Sidney, Austrália) A Austrália tem uma cena muito grande, com bons skatistas de todos os terrenos, revistas, vídeos e marcas locais. Como você se sentiu representando no vídeo? Bem, pra mim foi especial porque eu nunca havia tido uma parte na abertura de um vídeo, e foi mais especial ainda por se tratar do primeiro vídeo da Vans em todos os tempos. Provavelmente será o único vídeo da Vans, já que levou tanto tempo pra ser produzido (risos). De qualquer forma, é algo que vou guardar com muito carinho pelo resto de minha vida, vou mostrar pros meus filhos e tudo no futuro. Quando você se mudou da Austrália pros EUA? Foi em 2011, logo quando a produção do vídeo começou e eu queria ficar mais próximo de tudo. Eu acabei de me mudar de volta pra Austrália nesse ano. No “Propeller”, dá pra ver que todos os skatistas se excederam tanto no nível de manobras quanto no risco a que se expuseram. Você se machucou durante a produção? Bem, isso é meio que um padrão no meio do skate: você vai se machucar uma hora ou outra. Eu definitivamente tive muita sorte de não ter me quebrado ou distendido nenhum ligamento e nem nada do tipo durante as filmagens. Cortes e ralados são normais, é como se eu tivesse testando se o chão estava quente (risos).
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Mesmo assim, isso acaba afastando um pouco do skate. Sim, você acaba andando em um dia e ficando sem andar uns três ou quatro pra se recuperar, o que não é nada no final das contas. Eu acho até bom quando levo um tombo no qual eu dou uma bela porrada no chão, mas só de vez em quando. Qual foi a sua parte favorita no vídeo? Todos andaram muito e fica difícil de apontar apenas uma, mas se eu tivesse de escolher diria que foi a parte do Kyle, até porque eu estava junto durante muitas das filmagens. É bem diferente quando você vê aquilo tudo acontecendo de verdade na sua frente, é muito louco. Também gostei muito da parte do Pedro, e não estou falando isso porque estou no Brasil. Ele anda muito em campeonatos e muitos skatistas que são competidores não fazem partes em vídeos, mas ele andou tão bem quanto todos os outros no vídeo. E também teve a parte de street dele... Sim, eu nunca soube que ele podia andar no street daquele jeito. Ele manda bem nos bowls, nas rampas e nos corrimãos também, é um cara muito impressionante de ver andar. É a sua segunda vez no país e na América Latina, certo? Isso, eu vim há três anos também pela Vans. Nós viajamos pro Chile e depois viemos pro Brasil, no Rio e em São Paulo. Infelizmente, essas viagens de dois ou três dias não são suficientes pra você ter uma experiência verdadeira dos países, mas é assim mesmo quando se está numa tour.
Rowan Zorilla, um improvรกvel lien to tail na paredona da Roosevelt, em SP. marรงo/2016
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tour // propeller
Chris Russel, bs ollie disaster, Mar Del Plata, Argentina.
E quanto aos skatistas brasileiros, quais são os que você mais conhece? Eu diria que o Pedro com certeza, ele é da geração mais recente. Quando eu era mais novo, antes de ir pros EUA, gostava do Rodrigo TX; ele é ainda um dos meus skatistas favoritos; o cara está na cena desde 1998 ou 99 e ainda representa muito. Tem também essa cara, o Tiago Lemos, todos estão falando muito bem dele; Carlos Iqui é outro que eu gosto. De vez em quando, tem uma nova leva de skatistas brasileiros quebrando tudo por aí e deixando os outros bem nervosos (risos). Como você se sente estando numa equipe legendária como a Vans, que tem nomes históricos como Tony Alva, Steve Caballero e Christian Hosoi? Pra mim, que sou mais novo, é o máximo ter caras como o Kyle – que tem quase a mesma idade do que eu – e outros como o Hosoi, que tem mais de 40 anos. É um sentimento muito especial; não acho que exista outra marca que tenha essas raízes no meio do skate. Todos se dão bem, isso dá pra ver em algumas partes do próprio vídeo. ROWAN ZORILLA (Vista, CA) Como você se sente fazendo parte do primeiro vídeo da Vans em todos os tempos? Foi incrível! Eu não tive muito tempo pra filmar, talvez um ano ou um ano e meio, porque entrei na equipe depois de todos os outros. Além disso, eu também me machuquei duas vezes durante as filmagens; primeiro um joelho e depois o outro, então eu não tive muito tempo pra fazer a minha parte. Tive muita sorte de ter terminado a tempo, então foi legal quando o vídeo saiu. Como foi fazer parte do mesmo projeto de caras como John Cardiel, Steve Caballero e Christian Hosoi? Foi demais! Quando você está crescendo, acaba admirando todos esses caras. Estar na mesma equipe do que eles faz com que você sinta muito mais vontade de andar de skate. Como foi se expor a um nível tão alto de risco pra fazer o vídeo? Olha, a gente quer tanto andar que acaba se colocando em risco, sem dúvidas, e fazendo coisas mais loucas do que o normal. Agora eu me sinto bem, totalmente recuperado e mais forte também. O Pedro Barros é o skatista brasileiro no vídeo. O que você tem a dizer sobre ele? Eu achava que ele era bem mais velho do que realmente é. O jeito que ele anda de skate, como se porta... O cara manda 540s sem equipamentos, anda num estilo tão atirado que eu não imaginava que a gente tivesse a mesma idade. É incrível vê-lo andar, gostei
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O Propeller é um vídeo que está fazendo história... Sim, pra mim o timing foi perfeito: se eu fosse uns dois anos mais novo, talvez perdesse essa oportunidade. Estou muito amarradão em ter uma parte no vídeo. Como é ser da equipe da Vans? Andar pela Vans, viajar o mundo e fazer parte de um filme como esse é como um sonho que virou realidade (risos). Eu costumava comprar os tênis da marca antes de consegui-los de graça, e ainda tenho a chance de estar com todos os caras da equipe e me tornar amigo deles. Viajar com eles, ficar amigo deles... é a melhor coisa. CURREN CAPLES (Ventura, CA) Você vem de uma família de surfistas, como isso influenciou no seu estilo de andar de skate? Meu pai foi um surfista profissional e, quando eu estava crescendo, ele queria que eu também virasse um surfista pro. Eu adoro o surfe, quando tinha 13 anos passei a me envolver cada vez mais com as ondas, então eu posso dizer que surfo bastante também. Você sempre morou perto da praia? Sim, sempre, e agora estou mais perto ainda, a cerca de um quarteirão da praia. Como você se sentiu tendo a sua parte no Propeller? Foi muito louco. Eu me sinto muito honrado em ter uma parte numa produção que teve um resultado final tão bom. Estar no primeiro vídeo da Vans em todos os tempos é muito legal, ainda mais que a marca está fazendo 50 anos. Quando você virou pro? Que tal é a responsabilidade? Foi
quando eu tinha 17 anos. É legal, tem o lado de ser mais sério, mas é demais. Falando no Propeller, qual foi a sua parte favorita no vídeo, a que mais impressionou? A parte do Kyle Walker foi insana e o Anthony Van Engelen é sempre legal de se ver andando, mas a parte que mais me impressionou foi mesmo a do Kyle. Todas as partes do vídeo são boas. Você tem muitas habilidades tanto em transições quanto no street, então qual foi o seu momento favorito na produção? Provavelmente a minha última manobra, foi um Smith grind numa escada de 24 degraus. Aquilo foi muito assustador também... Você chegou a se machucar durante as filmagens? Quanto tempo demorou pra fazer a sua parte? Eu acho que demorou cerca de um ano pra filmarmos tudo. Por sorte eu não me machuquei nesse período. Como foi trabalhar com o Greg Hunt (diretor do Propeller)? Foi demais, ele tem uma visão bem diferente e artística do que a maioria, ele também sabe exatamente o que tem de ser feito e como tem que ser feito. Foi também uma das primeiras vezes que eu trabalhei com ele, foi bem legal. Você chegou a ver a sua parte antes do filme sair? Não, na verdade eu só fui ver quando o vídeo foi lançado, fiquei muito nervoso assistindo a tudo (risos). Como é andar num mesmo pico que o Pedro Barros? Eu não tive muitas oportunidades de andar com ele fora de campeonatos, mas ele é muito cascudo, é muito louco de vê-lo andando. ELIJAH BERLE (Santa Monica/CA) Pra você, qual foi a principal característica do Propeller, o alto nível de skate ou os riscos que vocês se expuseram? Você, por exemplo, foi protagonista de algumas cenas assustadoras... Bem, você tem que superar esses riscos de um jeito ou de outro. Eu acho que é até bom pra você, é como você se mantém saudável sobre o skate. Não tem sentimento igual ao de superar os medos. Não precisa voltar de todas as manobras, mas sim tentar pela primeira vez; você se senta e olha pro pico, depois o encara e dá os impulsos apontando a cabeça praquela direção...
Chima Fergusson, fs bigspin heel, Bogotá, Colômbia. março/2016
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Mesmo que não dê certo, essa primeira tentativa é algo que me faz sentir tão bem, cara, você sente um alívio que parece até que volta a respirar normal de novo. Não se tem esse sentimento com muitas coisas na vida, então eu acho demais. Quanto tempo demorou pras suas filmagens? Acho que uns três anos. Eu estava filmando pro Pretty Sweet (vídeo da Chocolate) e isso foi há uns quatro anos e pouco, então eu tinha 16 anos quando começamos tudo. Eu já tinha 20 anos quando as filmagens do Propeller já estavam acontecendo, então passei de uma produção de vídeo pra outra. Meio que capturaram a sua alma nessa? (risos) Sim, foi muito louco, cara (risos). Eu até comecei a surfar bem mais depois dessa fase. (risos) Você chegou a se machucar durante as filmagens? Não, eu não me machuquei pro Propeller, mas me ferrei todo pro Pretty Sweet. Tive de passar uma semana no hospital, pois eu caí de lado e detonei o meu fígado, estava tendo hemorragia interna e tudo. Foi uma merda! (risos) Quais skatistas brasileiros você conhece? Basicamente o Pedro, nós somos amigos. Eu conheço vários skatistas brasileiros, mas o Pedro é o único com quem eu andei de skate pessoalmente. Os caras detonam demais aqui, cara, precisam maneirar um pouco (risos). Eu fui apresentado ao Dexter e conheci o Marlon nos EUA, ele me dizia: “vocês têm de ir ao Brasil”. Eu sabia que viria um dia, só não sabia quando; o engraçado é que ele foi a primeira pessoa que eu vi quando cheguei aqui, foi tipo “olha lá, o Marlon!” (risos) Voltando ao Propeller, qual foi a parte do vídeo que mais te impressionou? A do Anthony Van Engelen. Fuck yeah! Pois é, tanto que ele acabou ganhando o SOTY da Thrasher. Olha, se ele não tivesse ganho, eu acho que nem olharia mais pra Thrasher (risos). Vocês sabem, sempre rolam umas baboseiras nessas coisas... A Thrasher sabe o que está acontecendo por aí e eles também sabem que o cara é a definição do que é o skate de verdade, não essa bosta de posar maneiro nas manobras pra postar na porra do Instagram. Que se foda essa porra toda, A.V.E. é a parada de verdade! Isso é o que o skate devia ser na realidade, ele mereceu muito. Concordamos totalmente! (risos) Tê-lo visto passar por tudo o que ele passou pro Propeller... Cara, eu não estou dizendo que você é velho (risos), mas ele ter feito tudo aquilo na idade dele é muito inspirador pra mim. KYLE WALKER (Louisville,Texas) Como você se sente fazendo parte do Propeller, o primeiro vídeo da Vans em todos os tempos? Acima de tudo, é algo que ainda não parece ser muito real. Eu tenho o vídeo no meu telefone e, às vezes, boto uma parte pra rodar quando estou viajando, fico babando e acabo assistindo ao vídeo todo. É muito louco! Sabe, todo garoto vê os seus ídolos nos vídeos e sonha em um dia estar num deles. Acho que o Propeller é um dos melhores vídeos que já foi feito, por isso eu digo que é uma honra em fazer parte dele. É muito louco. Quanto tempo demorou pra filmar a sua parte? Acho que quase quatro anos. Eles já tinham começado a filmar quando eu comecei, então acho que é isso aí mesmo. Foram tantas viagens, tantas lembranças boas... Você se machucou durante as filmagens? Sim, uma vez. Estávamos quase terminando as filmagens, faltavam uns três meses eu acho, então a gente estava naquela de filmar as últimas manobras. Foi um pouco antes dessa época que um carro bateu em mim e tudo... Eu e meus amigos estávamos andando nessa barreira que tinha na rua, fazendo uns ollies e umas variações, e o meu camarada acertou uma boa manobra no pico. O local exigia que a gente desse impulso por uns 15 metros e, quando eu estava pra bater o ollie, ouvi umas pessoas gritando pra um carro parar. Eu mandei um 180 e acabei mandando um slide de uns 2 metros, e acabei batendo no carro. Passei por cima e até amassei um pouco o carro, e esse foi o momento mais assustador de toda a minha vida. Acabei fraturando dois ossos do pé, e essa foi a única vez que me machuquei durante a produção.
Profundidade no quadro deste bs tailslide de Kyle Walker. Roosevelt.
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Algumas pessoas acham que a sua parte foi uma das melhores no vídeo. Qual é a sua parte favorita? As que mais me impressionaram foram as do Chima, do A.V.E., do Gilbert, do Chris Pfanner... Ele é um mestre do flat, eu precisaria comprar uns joelhos novos pra fazer aquilo. O vídeo todo é demais, da abertura até os créditos (risos). É a sua primeira vez na América Latina e no Brasil? Eu já havia estado uma vez em Buenos Aires e Mar Del Plata, mas foi a minha primeira vez em Bogotá, Santiago e SP. Estar aqui é demais, gostaria de ter mais tempo. Todas as vezes que se faz uma viagem dessas, é o mesmo: estrada, demo, sessão de autógrafos... É algo que a gente tem que aceitar e se alegrar, afinal eu não estaria aqui se não fosse pelo skate. Quais skatistas brasileiros você conhece? Todos conhecem o Tiago (Lemos), e eu gosto do Rodrigo TX, Danny Cerezini, Luan... Vocês são pesados no skate, todos respeitam quem vem do Brasil. Todos vocês são muito bons, chegam nos EUA e detonam tudo (risos). Tem o Pedro Barros, ele voooa muito! Eu ainda não acredito que ele tenha quebrado a clavícula, infelizmente ele não está aqui. O pior de tudo foi que ele se machucou numa lombada, não voando uns 10 metros acima da pista como ele faz (risos). Isso sempre acontece nas coisas mais simples, mas ele vai se recuperar e logo estará de volta. Como você se sente estando na mesma equipe e no mesmo vídeo que John Cardiel e Steve Caballero, por exemplo? Esses caras são lendários, eles fizeram o skate! Na tour de lançamento mundial, Caballero e Hosoi estavam junto da gente, foi demais estar no mesmo hotel e dar de cara com eles durante o café da manhã (risos). Era até meio estranho no início, mas eles são muito legais e se dão bem com todo mundo, é só conviver um pouco com eles. Outro cara legal é o Tony Alva, eu moro em Long Beach e já o encontrei
numa coffee shop por lá. O cara me cumprimenta e sabe o meu nome, eu fico até meio sem reação (risos). Isso é muito louco! Enfim, é um grande filme e os caras são demais. ANTHONY ACOSTA (fotógrafo) Por quanto tempo você participou do projeto “Propeller”? Nós trabalhamos em cima dele por um bom tempo, talvez algo em torno de seis anos. Eu já trabalho com a Vans há nove anos, comecei lá em 2007 e sempre rolou a ideia de fazer um vídeo, mas eles não tinham achado a pessoa certa. Há cerca de cinco anos, finalmente fizeram um plano pra isso e nós passamos a focar nisso. Foi você quem colocou o foco no planejamento pro vídeo? Na verdade, foi uma ideia coletiva com o Greg, Jamie, de alguns videomakers e eu também participei um bocado. Nós tínhamos a visão de que tudo fosse bem direto, bem simples e sem muito marketing envolvido na produção. Queríamos algo bem cru... Cru e com um alto nível de risco... Sim, o nível mais alto de skate. Então cada um de nós teve a sua participação no desenvolvimento da ideia, de como as coisas deveriam ser ao invés de fazer o que o restante estava fazendo. Quando você começou a fotografar o skate profissionalmente? Quando essa paixão surgiu em você? Eu sempre tive essa paixão pela fotografia, mas nunca tinha o dinheiro enquanto skatista. Eu já ando de skate há 25 anos, já tentei ser patrocinado e tudo. Falando nisso, já tem duas semanas que eu não ando, o que é bom também (risos). Enfim, teve uma hora que eu me toquei que não seria um pro, daí um amigo meu me deu uma câmera e eu comecei a fotografar com filmes ainda. Eu devia ter uns 11 ou 12 anos. Nós temos um grande representante brasileiro na equipe e no filme, o Pedro Barros. Diga-nos algo sobre ele. Eu vi o Pedro andar desde a época dos mais antigos campeonatos em Bondi Beach, ele era um desses pequenos fenômenos – tipo, os caras estavam voando a uma certa altura e ele voava muito mais alto. Ele estava tão acima dos outros que era óbvio pra todos no que ele iria
Elijah Berle, wallie wallride, Bogotá.
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se transformar. Às vezes não dá pra dizer muito, pode ser só como se anda em campeonatos e tal, mas quando nós começamos o projeto do filme e eu pude vê-lo em algumas viagens, era nítido que ele desejava sempre fazer o melhor que podia. Isso é raro, muitos querem o máximo com o mínimo de esforço, mas não ele: o cara quer sempre fazer o seu melhor, fazer manobras de um jeito diferente. Sem falar nas linhas que ele fazia, como em Lincoln City ou em Eugene, com 10 manobras absurdas uma atrás da outra, a gente o via fazendo aquilo direto. Quando ele acertava a linha dele, não tinha pra ninguém – e ele começou a fazer isso repetidas vezes! Bem, vamos falar de seus equipamentos durante as filmagens do “Propeller”: você já perdeu muitas lentes enquanto fotografava alguém andando de skate? Sim, eu quebrei lentes e até levei um skate na cara durante as filmagens. Nem foi na produção do vídeo, foi numa demo na pista nova da Vans em Huntington Beach. Eu estava fotografando o Pedro quando ele descolou do skate e veio direto na minha cara. Ele ficou todo chateado, mas eu não liguei muito, faz parte... (Ryan entra na conversa). RYAN LOVELL (videomaker) Você esteve envolvido em todas as filmagens? Na verdade, eu me envolvi mais com as filmagens um ano e meio antes do filme sair. Eles precisavam de uma terceira pessoa pra edição, já tinham uns 20 filmando tudo. Qual foi a situação mais impressionante que você testemunhou durante as filmagens? Todas as filmagens com o Pedro Barros foram impressionantes, mas a mais impressionante talvez tenha sido a última manobra do Kyle Walker, aquele frontside hard flip pra baixo do Big Five Block em Atlanta. Ele levou algumas horas pra acertar, foi absurdo. Ele nos falou sobre uma situação na qual ele bateu num carro... É mesmo, eu estava lá. Aquilo ali foi realmente assustador! Nós decidimos não usar as imagens na edição do vídeo, achamos que aquilo não seria bom pra instigar os outros a andar de skate. *Obrigado Guto Jimenez pela tradução.
Curren Caples encaixa um belo bs smith na Roosevelt. março/2016
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Skate, ceva e bagunza ERA TUDO O QUE O MARLON SILVA PRECISAVA ESCUTAR PRA PULAR EM UM AVIÃO NA CALIFÓRNIA, ATRAVESSAR OS ESTADOS UNIDOS E DESEMBARCAR NA COSTA LESTE BABANDO. O AUTOR DA PROPOSTA FOI O FOTÓGRAFO MARCELO DUARTE, QUE ESTAVA ESPERANDO O CAMARADA COM UM ROTEIRO TINHOSO DE PICOS DE RUA, SKATEPARKS E PISTAS SECRETAS, FINALIZANDO NO ÉPICO DRUNK VS. SOBER NA FDR. CONFIRA ESSA TRIPZINHA BEM MASOMENOS AGORA, ILUSTRADA E COMENTADA PELOS DOIS. POR PEDRO DAMASIO // FOTOS MARCELO DUARTE
Na página ao lado: Chelsea Park – NYC – Bs smith. Marcelo: O parque tava fechando e o Marlon resolveu dar esse bs smith saideiro no over vert. E os seguranças na pressão mandando a galera embora... Marlon: Querendo ou não, eles tinham que me esperar acertar. Esse over vert é assustador, dá pra quebrar um pescoço despencando ali de cima.
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Queens – NYC – Bs noseblunt. Marlon: Perturbando o banho de sol alheio... Onde é isso afinal, Marcelo? Long Island? Marcelo: Long Island City, fica no Queens. Só deu tempo de fazer essa foto e os seguranças já nos mandaram vazar. Mas a mina tava de boa curtindo.
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Na página ao lado no alto: Owls Head Skatepark – Brooklyn – Lien to tail. Marlon: Skatepark repleto de crianças e seus malditos patinetes e bikes... Mas no bom e velho bowl elas não entram. Marcelo: Marlon usou uma tábua da Yerbah que tava há uns cinco anos lá em casa. (Nota do redator: A tábua foi presente meu, Marcelo, valeu por ter passado adiante.)
Na página ao lado embaixo: Drunk Vs. Sober – Philadelphia – FS ollie transfer. Marcelo: Foi casca o bagulho... Quem conhece o pico sabe que esse transfer é difícil de dar. Marlon lacrou. Marlon: Olliezinho transfer num ângulo muito louco do Marcelo, que me apresentou essa belezura. Sem palavras pra esse lugar, o melhor skatepark d.i.y. que eu já andei...
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Acima: Drunk Vs. Sober – Philadelphia – Hurricane to fakie. Marlon: Fiquei no time dos drunks... Marcelo: Os caras chamavam o Marlon de “Beer Guy” porque ele tava sempre com uma lata na mão. Todo mundo começou a dar cerveja de graça pra ele, a gente não precisava mais comprar. Marlon: Não lembro disso (hahaha)... março/2016
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Lower East Side – NYC – Bs tailslide. Marlon: Esse foi o primeiro registro em NYC e foi foda. Era só um embalo curto antes de bater o ollie e encaixar na borda de madeira quebrada. Marcelo: Se ele errasse, ou desse uma trancada, podia cair na água, mas acabou seco. Damn (hahaha)! março/2016
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Na página ao lado: Drunk Vs. Sober – Philadelphia – Bs wallride to bs disaster reverse. Marlon: Essa foi em meio ao fogo cruzado. Foguetes, bombas, cachorros, pau comendo no som, gente doida andando... Pensa numa sessão maravilhosa. Marcelo: Os caras são totalmente contra qualquer tipo de organização. Era tipo um Woodstock de gente bêbada.
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Abaixo: Mid Town - Manhattan - Fs crooked. Marcelo: Essa foi voltando pra casa, depois de uma tentativa frustrada de fotografar uma borda em Union Square que tava interditada. Marlon: Aquele morador de rua era o que faltava pra foto... Chamei o indivíduo e ofereci 1 dólar pra cada tentativa que eu errasse, com a condição dele ficar ali parado flagrando a manobra. Marcelo: É, mas no fim quem acabou dando cincão pro cara fui eu... Marlon tava na miséria (hahaha).
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Luz Kelvin Hoefler, bs boardslide. Foto: Ana Paula Negrรฃo marรงo/2016
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Luz Daniel Mordzin, ss fs flip. Foto: Pablo Vaz
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// John Roger Camisetas ETs, dinossauros e super-heróis. Em uma coleção inspirada nas raízes de cada skatista, buscamos representar os filmes que mais impactaram a infância de uma geração que vive sobre rodas. Assim como um pirata conquista novas terras, a John Roger toma de assalto seu espaço! Pregando um estilo de vida livre e irreverente, quem veste essa ideia não negocia seus ideais. comercial@johnroger.com.br (43) 3425-1330
// LUZ Regata Metaru Rasta Edição para colecionador, a regata vem com o símbolo da marca. Camiseta Camiseta clásica de estúdio de tatuagem com estampa do Gallo, com forte influência dos desenhos do oriente e animais do horóscopo chinês. Bermuda moleton - Borneo Essa bermuda de moleton vem com uma estampa que tem mais de 15 anos e é um hit da loja. É um desenho atemporal que vive em perfeita harmonia com gráficos atuais, feitos pelo Jun Matsui. www.junmatsui.com (11) 3333-6701
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// Urgh Calça pro model Diego Garcez Com modelagem cargo, a calça model Diego Garcez é confeccionada com sarja camuflada e costuras reforçadas. O estilo do profissional do skate de rua bem traduzido num produto com ótimo acabamento, para todas as ocasiões, desde as sessions de skate, para trabalhar, ir à escola e também as baladas. contato@urgh.com (11) 3226-2233
// hot stuff
LEO GUSSI
// Amais Maple decks A nova linha da Amais estรก chegando pra atender aos mais exigentes skatistas, seja com o melhor produto para usar e os grรกficos mais originais. Fabricado na California com maple canadense, entre os destaques estรก o pro model do master Henrique Banana. amaisskateboards.com (11) 3482-5331
Fabio Gheraldini, test driver da Amais, mayday.
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Wallie late shovit na paróquia da Nossa Senhora da Consolação, em SP.
Davi Theobaldo // FOTOS JUNIOR LEMOS Skate e roupas atuais: Shape, lixa e rodas Future, eixos Independent. Camiseta Future, calça, boné e tênis Live. Manobra que não suporta mais ver: No comply. Manobra que ainda pretende acertar: Hurricane shovit out. Principal rede social que usa: Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Poucos lugares adaptados para a prática do skate. Skatista profissional em quem se espelha: Daniel Marques. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Lanchonete da Rosa (em frente à Roosevelt). Atual melhor equipe de skate brasileira: Tem muitas equipes boas! É muito difícil de comparar, cada marca tem sua identidade, mas eu curto a equipe da Future. // Davi de Castro Theobaldo 14 anos, 9 de skate São Paulo, SP Patrocínio: Future Skateboards e Live Skateboards
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Ande de skate por amor!
JUNIOR LEMOS
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Nollie flip em Campinas, SP.
Gustavo dos Anjos RONALDO ROS
// FOTOS JUNIOR LEMOS E RONALDO ROS Skate e roupas atuais: Shape Cizma, rodas e rolamentos Bones, trucks Anti Action. Boné Cizma, calça e tênis DC Shoes, camiseta CT Culture. Manobra que não suporta mais ver: No comply. Manobra que ainda pretende acertar: Ss bs tail ss flip 360 out. Principal rede social que usa: Facebook e Instagram. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Falta de lugares bons. Skatista profissional em quem se espelha: Rodrigo TX. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Ferrari. Atual melhor equipe de skate brasileira: DC Shoes. // Gustavo dos Anjos 26 anos, 12 de skate Campinas, SP Patrocínio: Cizma Skateboards Apoio: CT Skate Shop e Anti Trucks
Nunca desista.
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casa nova //
Jonas // FOTOS MICHEL ALMEIDA Skate e roupas atuais: Shape Insanos, rodas CrazynBoard, rolamentos e eixos Crail. Boné CrazynBoard, camiseta e bermuda Narina e tênis Libra. Manobra que não suporta mais ver: Fifty. Manobra que ainda pretende acertar: Mc twist. Principal rede social que usa: Facebook. Maior dificuldade em ser skatista na sua área: Falta de pistas com qualidade. Skatista profissional em quem se espelha: Pedro Barros. Marca fora do skate que gostaria de ter patrô: Red Bull. Atual melhor equipe de skate brasileira: Drop Dead. // Jonas Mateus Gonçalves Tobias 11 anos, 3 de skate De Jacareí, mora em Guararema, SP Patrocínio: Insanos Skateboard Apoio: CrazynBoard, Crail trucks, Narina, SK8shop oficial SJC e CNA Inglês Guararema
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Airwalk to fakie, antiga Pista da Saúde.
Skate no pé, Deus no coração.
negócios e tecnologia //
As marcas de skate e a música PATROCINAR BANDAS, MCS E DJS É UMA AÇÃO DE MARKETING QUE COSTUMA DAR SAMBA. OU SERIA ROCK E RAP? CONHEÇA COMO SE DÁ ESSA RELAÇÃO SUPER BACANA PARA OS NEGÓCIOS DE AMBOS OS LADOS. // POR PEDRO DE LUNA RICARDO KAFKA
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LUIZ TREZETA
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que Vision, Drop Dead e Cavalera têm a ver com as bandas Planet Hemp, Raimundos, Pavilhão 9, Ratos de Porão e Sepultura? Muita coisa. No início dos anos 90, estas marcas se associaram a bandas no Brasil formando uma parceria de sucesso. Já naquela ocasião, alguns empresários vislumbravam que a moda street deveria incluir um conceito, uma personalidade, e que em seu DNA cabiam valores que iriam além do atleta ou do praticante de final de semana. Ao longo do tempo as marcas evoluíram não apenas em tecnologia de produtos, mas também no seu branding. E a parceria com a música continua no planejamento estratégico. O vocalista e guitarrista André Alves acompanhou de perto esta evolução. “Nos anos 80 eu ouvia bandas skate punk em coletâneas em k7 da Thrasher ou de alguma revista gringa qualquer. Sempre achei que as duas coisas estavam intimamente ligadas. O Nitrominds sempre teve relação da sua música com o skate, fomos parceiros de várias marcas: Narina, AVB, Sims, Sick Mind, Red Nose, Vans entre outras”. Hoje, a frente da banda Statues on Fire, ele conta com o apoio da loja Ratus, de Santo André (SP). Na opinião do proprietário, Mauricio Del Cole, “o público que vai aos shows deles são nossos consumidores também. Acho legal apoiar as bandas da cena local, pois elas fazem parte do universo skate para os bons ouvidos dos skatistas.” Eduardo Andrade, vocalista do Questions, que acabou de completar 16 anos de carreira, também se diz realizado. “Quando éramos jovens, sonhávamos em ter apoio de marcas que adorávamos. Hoje podemos dizer que este sonho se realizou de alguma forma. Temos o apoio de grandes marcas da cultura do skate, como Urgh, Weird, Blunt, Vans e Brutal Kill.” Apesar de nunca ter sido o objetivo ganhar dinheiro tocando, o apoio em roupas já ajudou bastante, inclusive nas viagens. “A Urgh já pagou custos de transportes e R$ 500 para ajudar na gravação de um single. A Sick Mind com roupas e lançou dois modelos de shapes nossos.” Fabio Lima, vocalista do 8mm, que nos anos 90 cantava no Cabeçudos, também está feliz da vida. “Ao longo desses mais de 20 anos no cenário já tivemos alguns apoios de marcas ligadas ao skate, como a Extra Hard e Metal Live e recentemente fechamos uma parceria com a Medusa Skate Wear. Medusa é uma marca espanhola que conheceu nosso som pelas redes sociais e nos fez proposta de lançar um model com nossa assinatura. Era um grande sonho e chegou no momento em que celebramos os 15 anos do 8mm.” O baterista Bacalhau lembra que na época do Planet Hemp a banda ganhava roupas, tênis e algum suporte. Depois, na fase em que tocou bateria no Autoramas, “a adidas deu roupas e tênis”. O DJ, produtor e gerente de marketing Guilherme Müller recorda−se que num dos primeiros shows do Planet no Rio Grande do Sul “a gente colou com o porta−malas cheio de tênis Qix porque não sabíamos o número que eles calçavam. Então levamos todas as opções de tamanho e cor”. A empresa também apoiou outras bandas. “Nas turnês do Charlie Brown Jr a gente montava uma mini ramp em frente ao palco. A banda Ultramen também teve contato próximo por muitos anos.”
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1. André (de óculos) e Rato: parceria entre banda e skateshop. 2. Questions e os modelos de shape da banda. 3. Alemão e o shape do 8mm. 4. Guilherme Müller (de óculos), o irmão Lucas e o pai Ramon, dono da Qix. 5. DJ Rodrigues, que foi DJ do Planet e BNegão, agora tem uma marca própria. 6. Dead Fish e New Skate, parceria de 15 anos. 7. DJ Cia e o seu model pela DoubleG. 8. O spray Foot Protect.
ACERVO PESSOAL
// negócios e tecnologia
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Com o tempo as coisas foram se profissionalizando mais. Primeiro DJ do Planet, Rodrigues, se recorda bem da parceria entre a Qix e a banda BNegão & Os Seletores de Frequência, da qual também foi DJ. “Eles tinham um banco de dados com os tamanhos de roupas e tênis dos componentes da banda e assim enviavam uma única caixa para o endereço do Bernardo com vários itens: tênis, calça, boné, casacos etc. Esta cota era mensal, por vezes bimestral. A Qix chegou a lançar uma camisa promocional do primeiro CD, Enxugando Gelo, mas as demais peças eram de coleções da própria marca.” Rodrigues criou uma marca em parceria com o amigo Ronnie fortalecendo o eixo Niterói (RJ)−Texas (EUA). “Na Dreamin’ pretendemos fazer o mesmo esquema, iremos em breve escolher a banda que iremos apoiar. Por enquanto estamos terminando de formar a equipe de atletas para depois partir para o apoio ao cenário musical. A música e skate sempre tiveram extrema ligação e o empresário de skate que não pensa desta forma acaba perdendo uma grande oportunidade de divulgação e de incentivo às bandas.” Uma das relações mais antigas é da New Skate Rock e a banda Dead Fish. A parceria começou em 2000 e o apoio é basicamente em roupas para a banda e equipe de apoio. Mas a marca também ajuda a divulgar a agenda de shows, realizar encontros com os fãs em sessões de autógrafos e outras promoções. No ano passado, Alexandre “Sesper”, vocalista do Garage Fuzz, criou seis modelos de shape para a Drop Dead. A Öus já lançou um modelo do rapper e produtor musical Fábio Luiz “Parteum” e na coleção de 2016 está lançando uma colaboração com o DJ Kl Jay, dos Racionais MC`s. A marca de hip hop da Qix, Double G, apoia Qualy (Haikaiss), Ranny Money e Maomé (Cone Crew), Nissin e Chino (Oriente), o grupo Cidade Verde Sounds e o DJ Cia (RZO), que tem um modelo de tênis exclusivo. A Globe mantém parceria com alguns DJs como Kefing e Dubstrong, que recentemente fez uma mixtape de rock. Porém, das 50 músicas nenhuma era nacional. Mais raros são os modelos de tênis. A Qix já lançou o do Chorão e do João Gordo. O do líder do Ratos de Porão chegou a ganhar uma segunda versão, com a lona substituindo a camurça, já que os vegans não compram produtos de origem animal. E pra cuidar dos pés, a adidas lançou o spray Foot Protect (R$ 17,60) que promete regular o suor, controlar o odor, reduzir a umidade e a irritação causada pela fricção. Esperamos que a dobradinha entre marcas e músicos se estenda a outras ações e produtos. Como já cantava Chico Science em Samba Makossa, “por que é assim que é, mão na cabeça e skate no pé”.
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BRUNO PARK
áudio // playlist
Wagner Ramos, switch heel, Floripa.
WAGNER RAMOS TEM OS OUVIDOS TREINADOS PARA A BOA MÚSICA, UMA VEZ QUE TAMBÉM MANOBRA E MUITO BEM AS CORDAS DO VIOLÃO. MAS O LADO SKATER FALA MAIS ALTO QUANDO O ASSUNTO SÃO AS 10 MAIS TOCADAS QUANDO ESTÁ MANOBRANDO! The Angelic Upstarts, Solidarity (Live in Yugoslavia) The Damned, New Rose The Clash, London Calling Stiff Little Fingers, Alternative Ulster David Bowie, Queen Bitch Buzzcocks, Harmony in My Head New York Dolls, Personality Chris Metallica, Motorbreath Gil Scott-Heron, Gun Alceu Valença, Agalopado
Escuta som andando de skate? Sim Não Em qual aparelho? SE FOR NUMA QUADRINHA OU MINI RAMP, LIGO MEU CELULAR NAS SPEAKERS X-MINI. SE FOR NA RUA, OUÇO MÚSICA SE ESTIVER DE CARRO, DO SEU SOM. Usa algum fone especial para isso? NÃO USO FONES DE OUVIDO.
Wagner Ramos (Patrocínios: Vibe Shoes, Kronik, Type’S; apoios: Arca, Lay Back Beer e Una)
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CRISTINA SININHO
áudio // hc
Japinha, Heitor, Badaui, Phil e Luciano.
CPM 20, Badauí 40
NO MÊS EM QUE COMPLETA 40 ANOS DE IDADE, FERNANDO BADAUÍ TEM VINTE E DOIS MOTIVOS PARA COMEMORAR. AFINAL, O CPM 22 ESTÁ COMPLETANDO 20 ANOS DE ESTRADA, RETORNOU A UMA GRANDE GRAVADORA E LANÇARÁ ESTE ANO UM NOVO CD DE MÚSICAS INÉDITAS. NUM PAPO RETO COM A TRIBO SKATE, O MAIS NOVO QUARENTÃO DO HARDCORE BRASILEIRO FALA SOBRE SKATE, CARREIRA, FAMÍLIA, CANNABIS E O FUTURO DO BRASIL. // POR PEDRO DE LUNA
O
mundo realmente dá voltas. A formação inicial do CPM22 mudou, o grupo ficou seis anos sem uma grande gravadora e Badauí virou praticante de Muay Thai. Mas uma coisa se mantém: o amor pelo skate. “Eu tinha seis anos quando o meu padrinho chegou com uns patins e um skate Bandeirantes na mão. Ele falou pra eu escolher e peguei o skate na hora, lógico. Meu irmão mais velho nem quis o patins. Dois anos depois eu mudei pra Alphaville, onde no final dos anos 80 tinha uma cena animal. O pessoal chamava de ´Californinha´. A gente roubava as madeirites das obras para fazer rampas.” Quando o seu irmão voltou dos Estados Unidos trazendo shape, trucks e rodas gringos, ele caiu de cabeça nas pistas. “Meu pai me levava na Ultra, no Velô Skatepark em Santos, na pista de São Bernardo. Eu sempre tive contato com esportes de prancha. Ando até hoje.” Dias (e anos) atrás, Badauí viu amigos se tornarem atletas profissionais, como Robson Reco, que hoje é manager da DC Shoes e patrocinador do vocalista. Perguntado sobre a apropriação do skate pelas corporações e a publicidade, ele devolve na lata: “A rebeldia é de cada um, independente de como o mercado está atuando. Com a banda é a mesma coisa. Talvez a gente não existisse sem uma gravadora. O importante é você conquistar a sua liberdade com estrutura para fazer o seu trabalho.”
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Se a música o aproximou dos seus ídolos, chegar aos 40 anos lhe trouxe outro bem precioso: o respeito. “Quando você é bem sucedido ainda jovem, incomoda algumas pessoas. Agora, mais velho, até quem criticava te respeita. O Fogaça, por exemplo, cozinha pra caralho e canta numa banda mais grind. O cara é foda independente de estar na TV (NR: Henrique Fogaça, sócio de Badauí no bar Cão Véio, é vocalista do Oitão, mas ficou famoso no país todo como jurado no MasterChef da TV Bandeirantes).” Aliás, a velha guarda do HC sempre esteve orbitando por perto. “São pessoas que ajudaram a gente a achar o caminho e a crescer. O Koala (vocal do Hateen) fez grandes hits com a gente. O Carlos Dias (das bandas Againe e Polara) já fez música e capa. Vamos gravar o disco novo com o Fernando (Sanches, que foi baixista do CPM22, Dance of Days e Hateen, e é dono do estúdio El Rocha). O Phil, que criou o Heffer e estava no Dead Fish, hoje toca guitarra com a gente. O Rodrigo (vocal do DF) também já gravou conosco. As amizades que a gente fez tocando, essas são pra sempre.” Talvez a dificuldade maior seja manter mesmo a mesma formação. Da inicial, o CPM 22 não conta mais com o guitarrista Wally e o baixista Portoga. Também já teve outros dois bateristas. Pelo baixo já passaram Fernando e Xixo. “É a posição mais difícil de achar. A banda pegava no pé do Portoga por que eles eram mais virtuosos.
hc
MÚSICA E TECNOLOGIA Enquanto isso, o grupo segue fazendo a sua parte, distribuindo amor e hardcore via internet. “A gente usa muito Instagram, eu só tenho isso, o meu é fbadaui. Agora vamos usar Periscope e Snapshot para bastidores de estúdio e de shows. Fizemos um grupo no WhatsApp com as pessoas mais importantes do fã clube oficial, que existe há mais de 10 anos”. Há duas décadas recebendo relatórios de direitos autorais, Badauí atenta para o crescimento do streaming − a música executada em tempo real, sem download de arquivo. “Os aplicativos foram a salvação das gravadoras”. Apesar de rezar na cartilha do punk rock, o cantor se mostrou animado em reatar a parceria com a Universal, mesmo sabendo que no novo modelo de negócios todas as multinacionais querem uma fatia do cachê dos shows dos artistas, o tal contrato 360º. “A gravadora é uma máquina em que você precisa colocar combustível para usar, mas também pode cobrar o melhor funcionamento dela. Se você dá uma porcentagem do show, e faz mais shows com cachê maior porque tá divulgando bem, no fundo dá na mesma”. E revela uma ótima notícia: “A Universal está com a ideia de trazer o selo Arsenal de volta e eu seria o curador. O projeto está em avaliação nas mãos dos gringos.”
EU VOCÊ, NÓS DOIS, CPM 22 Fazendo um balanço rápido, Badauí acha que a banda conduziu bem a carreira e, principalmente deixa um legado com suas obras e prêmios. Mas o mais importante é colocar em prática o que os ídolos ensinaram. “Escuto muito HC californiano até hoje: Face to Face, Pennywise, NOFX, No Use For a Name, Bad Religion. Eu aprendi a cantar ouvindo o timbre do Trever (Keith, vocal do FtF), como referência de métricas e de melodias. Influência é uma coisa, cópia é outra. E não somos nem de longe o que esses caras são”. Certa vez o CPM tocou “A−OK” do FtF num show e um fã mandou o vídeo pra banda. “Ali comecei a ter contato com o Trever. No último show deles que eu fui o cara me chamou pelo nome. Isso não tem preço, mano.” O que o tira do sério é a competitividade. “As pessoas querem ser melhor que as outras. Não precisa ser melhor ou pior, precisa apenas ser bom. Se todos forem bons, tá ótimo.” As músicas do próximo disco, que este repórter teve a honra e o prazer de ouvir em primeira mão, falam muito sobre esperança, união e amizade. “Tudo é um reflexo do que a gente vive. A degradação começa na educação. A revolta e o ódio só afloram. Se você tiver uma vida mais digna, um Brasil mais justo haverá menos violência. Tudo é uma consequência de um país com sistema podre que não valoriza o ser humano.” Ser positivo, ativo e lutar pela paz. Se a verdade trouxe o CPM 22 até aqui, acredite, eles estão loucos para retornar aos palcos e cantar com os fãs a uma só voz. Let´s go!
ÁLVARO POR QUÊ?
O Fê saiu porque o filho dele tinha acabado de nascer, o pai tido um AVC e ainda tinha o estúdio para cuidar. A gente estava direto na estrada.” Com a saída de Fernando, entrou Heitor Gomes, que estava no Charlie Brown Jr, completando a formação atual ao lado dos bons e velhos Luciano (guitarra) e Japinha (bateria). O vocalista acha que, em muitos casos, ser underground é uma escolha. “Já fomos da Universal, depois Rick Bonadio e agora Universal de novo. Pegamos uma época em que o rock estava em decadência total no Brasil. Tem que viver o melhor para cada momento. Mas uma banda de verdade tem público, sendo independente ou estando numa grande companhia”. Na real, o que incomoda é outra parada. “A gente vive um emburrecimento das novas gerações com cultura lixo. Se o seu amigo só ouve merda, você só ouve merda. Não é uma decadência do rock, é cultural mesmo.”
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SACRIFÍCIOS PESSOAIS Nesse momento ele se distrai com uma mensagem do WhatsApp. É da skatista Karen Jonz, que em janeiro deu a luz a uma menina, filha de Lucas, vocalista do Fresno. Aproveito e pergunto sobre os sacrifícios da vida artística. “Isso vai ser eterno. Já perdi aniversários e casamentos, porque eu preciso trabalhar. Eu só não queria que acontecesse nada grave com a minha família quando eu estivesse na estrada. Os gringos saem de turnê e ficam seis meses fora de casa, em outro continente até. Quando a mulher do Luciano estava grávida, ela girou com a gente na estrada porque ele queria acompanhar a gestação.” E revela um desejo: “Tô louco pra ter um filho”. CANNABI$ Atingir quatro décadas de vida exige também um maior cuidado com a saúde. “Não como junkie food faz tempo. Fiquei três anos sem beber e me fez bem pra caralho. Mas eu gosto. Ainda mais das cervejas artesanais. Com a idade você escolhe os momentos certos para se estragar.” A única coisa que ele não abre mão é de fumar um. “Cannabis eu uso de forma medicinal mesmo, para criar.” Recém chegado da Cannabis Cup, na Califórnia, Badauí voltou impressionado com a movimentação em torno do tema nos EUA. “Está gerando milhões de dólares em impostos. A Califórnia está próxima de seguir o Colorado e liberar o uso recreativo. É um mercado promissor. Arrisco-me a dizer que poderia ser uma forma de melhorar a economia do Brasil, um país fértil, cheio de terras, onde muita gente fuma. Mas já melhorou a questão da descriminalização, porque estamos falando de muita grana e da liberdade de muita gente.” Aliás, se a economia vai bem, há trabalho e bons cachês rolando. “O nosso público é forte, a gente nunca faz show vazio. E a gente sempre cobrou um valor justo pelo momento da banda. Uma hora sobe, uma hora abaixa, mas tem que trazer o contratante pro seu lado. Pela situação atual do país, temos feito cinco a seis shows por mês.” E conta com satisfação que descobriu um novo mercado, o das festas de formatura. “Estamos fazendo três por mês. O mais legal é que os próprios alunos escolhem a gente para tocar.”
Badauí, fs ollie numa mini do Rio Tavares, Floripa.
BADAUÍ RECOMENDA AS BANDAS: Statues on Fire // Bayside Kings // Bullet Bane // Zander // Chuva Negra // Não Há Mais Volta
março/2016
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skateboarding militant // por guto jimenez*
Luzes, câmeras e skate
Q
IVAN SHUPIKOV
uando você ler essa coluna, o mundo já estará sabendo quais foram os filmes, artistas e técnicos premiados na mais recente edição do Oscar. Os brasileiros torcem pela premiação da produção nacional “O Menino e o Mundo”, um longa-metragem de animação que usa de imagens bastante líricas pra contar a história de um menino que sai do interior atrás de seu pai na cidade grande. Como o filme não tem diálogos, o recurso escolhido foi o de se valer das expressões dos personagens pra desenvolver o enredo, de forma que o mesmo pode ser entendido por plateias do mundo todo. Bem, o que isso tem a ver com o skate? O paulista Alê Abreu, diretor e criador de “O Menino e o Mundo”, é skatista. Em algumas entrevistas pré-Oscar, ele declarou ter sido influenciado pela estética de alguns vídeos de skate, principalmente dos que se usaram mais de imagens do que de um enredo pra transmitir uma mensagem. Tem tudo a ver: a maioria dos vídeos de skate faz das manobras os principais protagonistas. Os poucos que tiveram um enredo mais elaborado acabaram se tornando clássicos do estilo; entre os que mais marcaram época, estão “The Search For Animal Chin” (da Powell), “Video Days” (da Blind), “The End” (da Birdhouse), “Menikmati” (da éS) e os das séries “CKA” (que geraram o programa “Jackass”) e “Fully Flared” (da Lakai). Entre as cenas de skate de alguns dos mais talentosos skatistas, havia uma determinada história a ser contada que dava algum sentido às sucessivas cenas contendo manobras. Apesar de ser o primeiro skatista brazuca a ser indicado ao Oscar, Alê não é o primeiro diretor de cinema de sucesso saído do cenário do skate; antes dele, dois norte-americanos alcançaram o sucesso e o estrelato na direção de filmes de Hollywood. O primeiro nome é Stacy Peralta, o ex-skatista profissional que virou empresário do skate e depois revolucionou o mercado a introduzir a produção de vídeos como estratégia de marketing da Powell Peralta. Ele está envolvido no cinema desde os anos 70, quando estrelou o filme “Freewheelin’”, e a sua primeira produção foi “The Bones Brigade Skate Show”, o primeiro vídeo de marca já lançado na história. Também uma produção dele, “Animal Chin” é considerado um dos filmes mais icônicos de toda a história do skate e um dos que melhor se aproveitaram de um enredo. Mais adiante, Peralta largou o skate pra trabalhar com filmes publicitários e documentários de curta-metragem. No início desse século, lançou o seminal “Dogtown and Z-boys”, no qual contou
Alê Abreu teve este half pipe na sua casa em Perus, São Paulo/SP. Bs air, 1987.
a história dele e de outros skatistas legendários como Tony Alva, Jay Adams e Shogo Kubo. O filme foi eleito o melhor documentário do festival de Sundance, o mais importante do cinema independente, e ele não parou mais: “Riding Giants” focou no surfe de ondas gigantes, enquanto que “Made in America: Crisps and Bloods” foi centrado na disputa das duas maiores gangues de Los Angeles. Já Spike Jonze é o aclamado diretor de filmes como “Her” e “Quero Ser John Malkovich”, ambos os quais lhe renderam indicações ao prêmio de melhor diretor do Oscar. O cara está envolvido com o cinema desde o final dos anos 80, quando dirigiu os primeiros vídeos pra World Industries, e passou a se destacar depois do lançamento de “Video Days”, da Blind. Até os dias de hoje, o vídeo é considerado como uma referência não só pelo nível de skate de Mark Gonzales, Jason Lee, Guy Mariano & Cia como também pelo formato que inspirou dezenas de outros videomakers de skate pelo mundo afora. Jonze também foi o responsável pelo programa “Jackass” e pelo primeiro longa tirado do show, sem falar em trabalhos de clipes de artistas como os Beastie Boys, Sonic Youth, Chemical Brothers e Jay-Z, pra citar apenas alguns. Outros filmes dele, como “Adaptação”, surpreenderam o mundo do cinema por conta de sua abordagem arrojada, originalidade e por ser engraçado e provocar o pensamento ao mesmo tempo. A produção é tão diferenciada que fez com que um ator mediano como Nicolas Cage fosse indicado pro prêmio de melhor ator no ano de seu lançamento, veja você... Alguns de nós, skatistas, somos do tipo que têm “uma ideia na cabeça e uma câmera nas mãos”, como já dizia Glauber Rocha. Se você é um desses vai fundo! Use toda a criatividade que o skate lhe ensina, arrume um bom e paciente editor de imagens e aperte o “REC”. Quem sabe se, no futuro, não estaremos falando de você aqui na Tribo? Boa sorte!
APOIO CULTURAL * Guto Jimenez está no planeta desde 1962, sobre o skate desde 1975.
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março/2016
FOTO: JUNIOR LEMOS
˜ LEO SPANGHERO ˜
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