S3 ANNUsueja =
AnaAlice
AndressaP.Lawisch
CamilaProto
ChicoFernandes
DaniAmorim
MarinaRombaldi
ThiagoTrindade
Estamos todos, de um modo ou de outro, acariciados pelo prazer da oscilação entre o interior e o exterior de nossas tocas tribais, digitais, urbanas... (Vincenzo Susca, 2019)
Ocupamosoespaçopluraleimaterialdawebparaestarjuntos,entreosmesesde marçoa junhode 2020 e,emcertosentido, serumsoprocriativopulsante durante a pandemia da COVID-19. As nossas existências confinadas, isoladas, prementes pela presença,optarampeladesmaterializaçãoembits,parapoderhabitarinstantesdeper manências digitais e, assim, distrair-se com o gato de Montaigne, em deslocamentos midiáticoscontemporâneosatravésdeexercíciosdialógicos.
Este catálogo traz registros da exposição on-line realizadas através da plataforma Zoom, a qual se propôs ser uma experiência horizontal e interativa, com o intuitodedesarticularlinguagenslineareseacessarasensibilidadedooutro.Oespaço da tela emnossos dispositivos eletrônicos se trasmudou emrecipientes para receber e compartilhar as proposições sensíveis dos artistas Ana Alice, Andressa P. Lawisch, CamilaProto,ChicoFernandes,DaniAmorim,MarianaRombaldieThiagoTrindadeeo ensaiocríticodeLetíciaAbreu.
Esta experiência compartilhada comosquepraticamos deslocamentosnômades em espaços reais ou imaginários traz para mim a alegria de poder dizer que somos um, somosmuitos,somosbits,somospós-urbanos.
TetêBarachini PortoAlegre,Julhode2020
[des]territorializaçõese[des]caminhos:e-transmutáveis
Nossas experiências sensoriais mais primárias advêm do toque já esquecido, um toque tãoíntimo e tãosó: ainda no útero abraçamosnossa própria existência, brinca moscomaconexãovital,nosdebatemoscomasparedesdamorada.Invadimosomun doeeleapressa-seemnosinvadir:oarinflaopeitopelaprimeiravezeentãocortamos o espaçocom aestridência dochoroquelogoécessadoporumtoqueoutroquenão o próprio, sons escapam dasfigurasainda borradas e o espaço torna-se outro. Pouco escuro.Poucosilencioso.Poucosó.Poucocorpoparaimensidãodofora.
O ar logo deixa de ardernos pulmões, os borrões delineiam-se aos olhos, os ouvidos acostumam-seaos sons, essessons traduzem-seempalavraseasmãosseagitamem impulsos curiosos.Acoluna enrijece, os músculos se fortalecem, o corpo flutua entre oequilíbrio eseuoposto,ocorporola,searrasta,seapoia,desequilibra,cai,levantae, aindaqueprecisássemosdeoutrasmãosouartifícios,commenoroumaiordificuldade, aindaquenãooouçaouveja,otoquenapeledoespaçoviriaensinarumacentenade maneirasdedesvendarasbifurcaçõesqueseabremnaveredaemquehabitaocorpo.
Masoprocessodelevanteéignorado,poisanecessidadedodeslocamentoésubstan cialmenteinstintiva,caminhamoscomopodemosetãologoaprendemoscomofazê-lo, esquecemos do esforço empreendido no primeiro movimento. Todavia, a temática é singularetalveznãoporacasoumadasmaioresquestõesacercadocaminharfoides lindadajustamentepordoispersonagensquenãoastomaramcomoóbvias: Qualéo serquepelamanhãandasobrequatropatas,atardesobreduaseanoitesobretrês? perguntouaEsfinge , Oserhumano,poisengatinhanaprimeirainfância,senadao impediraprendeaandarsobreduaspernaseposteriormentetalveznecessitedeapoio respondeuÉdipo.
Em que pese a face humana, a Esfinge tinha patas de leão e asas de pássaro, de todo modo, seu movimento era exíguo na espera daquele queviria derrotá-la. Já à Édipo o desequilíbrioerausualeoandarera-lhedificultoso,distodecorreacompanhiadaben galacomoguia.NessatragédiadeSófocles,asassonânciasparecemsugerirqueninguém além de Oedipous sobreviveria à bruma da incógnita acerca dos caminhares tetrapous, dípouse trípous, pois bastava examinarsua própria existência para perceberque a res postasemprecalçouseuspésinchados.Ohomemquetiveraospésferidoseamarrados paraqueestesnãopudessemsustentarseudestino,lançou-serumoàquiloquenãose podeevitareencerrousuahistóriadamesmamaneiraqueiniciou:caminhando.
LudwigWittgensteinoutroraafirmaraquemesmoascoisasmaisvalorosaspassamaser furtivasseconcebidascomodesafetodasideiastriviais,significaque osfundamentos reais de nossas indagações não nos impressionam em nada, a menos que, em algum momento,tenhamossidoimpressionadosporumfatoespecífico .
Nodiadezoitodemarçode2020previa-seoiníciodosencontrosdadisciplinaEspaços Transmutáveis: deslocamentos e desterritorializações, desenvolvida pela Profa. Dra. Tetê Barachini com o intento de inflamar a diversidade do olhar artístico a partirda diver sidade do movimento no espaço ou seria o contrário? Síncrono a isso um decreto colocouapopulaçãodePortoAlegresobisolamentosocialcomomedidadefrearacon taminaçãopelaCOVID-19.Douinícioaesteensaiocomoqueminiciaumaconfidência sobreosdiasemqueosfundamentosreais,hátantotemporelegadosaoabrigodascoi sassimples,foramexpostosenovamenteoespaçosefazoutro.Silenciosodemais.Só demais.Muitocorpoparaaretidãodaslinhasquecerceiamoprivado.Apeledomundo tambémpareceoutra,talcomoéoutrootoquequesuscita,umtoquequaseproibido.
OqueapropostadeTetêBarachiniinstigavaerapropulsionaromovimentodehabi tar e desabitar a urbe com esses corpos que tem a experiência do deslocamento comofazerartístico deslocamentoquelevaoeu ao encontrodooutro.Desterrito rialização essetermoqueGuillesDeleuzecompreendecomoumapalavrabárbara nascida da necessidade de nomear o conceito de que não há território, e não há saída do território, ou seja, desterritorialização, sem, ao mesmo tempo um esforço para se reterritorializar em outra parte , neste momento faz pensarque, durante a elaboraçãodessatarefa de ocupação, erainimaginávelqueseuopostoseria a úni ca realidade concreta. Transmutamos: o fluxo é irregular, ativamente intermitente e fragmentado entre um cômodo e outro, mas, sobretudo, entre a esfera privada e públicadoexistir.
Transmutaréintrinsecamentetransferir(-se)ealterar(-se),nessesentidonóssóexerce mosamudançasesaímosdeumlugaraooutro.Transmutamosecontinuaremostrans mutando pormais um tempo. O primeiromovimento?O êxodo do interiorpara o ex terior, seguido pelo retorno para casa que deixa de ser local de morada para ser, em simultâneo, local de fazer artístico. Entre esses espaços significados e ressignificados existeumoutroquesemprepareceuinterseccionarenãoneguemosquepareceutam bémseparar,masqueagoraserve-noscomosuturaecolocaambasaspelesdeexistên ciaemunião:peledocorpoepeledoespaço.
Portrêsmesesseguimosemumcaminharambiguamentecontíguoeábditopelasruínas dacidadeesvaziada,porfim,nodiavinteequatrodejunhode2020,seteartistasdes territorializados de paisagem conhecida lançaram-se rumo à [re]ativação do espaço. Mais de oitenta pessoas estiveram conectadas na exposição virtual e-transmutáveis (2020)emumfinaldetarde,cadaumemseuprivadopartilhadoreforçandoaestrutura digital que acolhe e comporta a cidade. Uma exposição orquestrada na circunstância experiencialressignificada,oquefrutificasãotrabalhosqueseesgueirampelasfrestas da casa emumconvite queinsisteemavolumara poética pela experiência de toques inventadosesubversivos.
ComosesucedeemEstrutura(2020),deAnaAlice,obraemqueovirtualdaluzarrisca uma tocadela na sensibilidade da órbita ocular antes de pedir pela reciprocidade da ação,aquiomovimentoédeumcorpoaooutro ocorpoquecriaeocorpoquecoor denaeorganizaoespaço masqueoutro?Overdedochromakeymantem-sevibrando e fazendo pulsar; na ausência das mãos alheiassão os olhos quehabitam as camadas digitaiseretribuemaoperaçãoinvisível.AreciprocidadeexpectadaporChicoFernandes éadoolhardiantedeseucorpoperformáticoqueoutroradesnudava-senaurbe,mas que agora coloca-se em reclusão no privado do privado. Ação de Páscoa (2020) con siste na reprodução do ato artístico realizado dezesseteanos passados, o momento é deverasinsólitoesingular,portanto,aaçãoéabsolutamenteoutra.Enquantooartista removeospelosdeseucorpo,aespumabrancaécoradacomavermelhidãodosangue noimediatismodasferidasfísicasesimbólicasdeestardesacompanhadonoprocesso dereconstruirascamadasdesiedesconstruirascamadasdomundo.
As Destruições (2020), de Andressa P. Lawisch, rebelam-se contra a ordem natural da telasob as lâminas de tinta. O tempo insiste empassarsubtraindo paredeporparede, telhaportelha,lascaporlascaeagoradeixaaverumnovofazerartístico noqualaar tistainsisteemreinventaratexturadaruína,telaportela,imagemporimagem,camada
por[des]camada.MarinaRombaldi,poroutrolado,nãosubtrai,tampoucosesobrepõeà matériadoespaço,nolimiardaslinhaséoprópriocorpoquevolveempleitodeexperi mentaçãoedissimula-sesobreoconcretoemExercíciosdeumCorpo-coremEspera:atoI (2020).Penetraçãodocorponamatéria.Ovulanociclodacor.Germinaçãosobojulgodo tempo.Expulsãodocorpo-corelaboradonasformasdacasaenagestãodeumacircular quenãopermitedesvendariníciooufime,portanto,amoradapassaasertambémação.
DaniAmorim,emseusEntremuros(2020),caminhaentreossedimentosprotetivosque separam o público do mundo, o privado da residência e o privado de si. A abstração das linhas faz surgir o corpo nu e entregue à sua existência autônoma; fora da casa a concretudedomuro,poroutrolado,reforçaeinvisibilizaasituaçãodevulnerabilidade quedesmontaa proteção interna: aviolência doméstica aumentou assustadoramente no período de isolamento social, chegando a quadriplicaremalgumas regiões do país. Outra mácula que se faz presente é a acrescência ininterrupta e fatal que nos coloca em situação permanente de luto, até o fechamento deste ensaio em oito de julho de 2020sãocontabilizadasquasesetentamilmortes,énestecenárioqueThiagoTrindade intensifica seuolharde poética críticae ácida em EntreOutrasMilÉs4k+:l ordesfous 4 real (2020). As errâncias pela cidade que fundamentam e orientam as experiências sensoriais do artistasãointerrompidas embenefícioda observaçãofamiliareemseus arquivospreservadosencontrasubsídiosparaumasériedesimbolismosquetensionam asrelaçõesentreoobservadoreseuentorno.Osuportedaobraéumaplacadourada, objetopromotordo fármacoMaternaque,curiosamente,éumsuplementovitamínico paragestantes,oquenoslevadeencontroareflexãodoartistasobre umapátria(mãe) quetemfalhadocomosseus(filhos) eeu,exercendooatodequestionareefetivando apassagemdoestadodeobservadoravirtualparaespectador,emumdiálogounilateral ponderosenãoseriamosnósquefalhamoscomofilhosdestesolo.
Agoracaminhamosmascarados,arespiraçãoéabafada,cadavezmaisabafada,precisa mos de um esforço compartilhado para sermos vistos, mas se olharmos atentamente reconheceremosqueosolhosnãomentem,avozabrandadaescapaporentreastramas dotecido queencobrea boca.CamilaProto, coma estabilidadeda imagememEstátu aescuta(2020),preparanossosouvidosparacomportarosgritosqueseguememOEco dosMortoséDiferente(2020),açãocompostaporpalavrasqueperambulamentreafan tasiaeaironiaemumadançatãocativanteeconcretaquefazduvidarda[ir]realidadeda narrativa.Logopercebemosqueotempodaaçãoéirrelevante,masoecoreverberano agoraesim,oecodosmortosédiferente,estejamosatentos aouvi-losmesmoquando asoutraspercepçõesforemimpedidasdesentir.
Como foi dito por um dos integrantes de nossa equipe, tornamos sensível apesar de tudo. As páginas quevirão a seguirsão frutos das inquietações fragmentárias que tateiam a novaestrutura.Acoréoutra, a luz éoutra, a esperaéabsolutamente outra, as inflamações são outras,asdoressãooutras,o lutoé outro,talcomo éoutra avida, a forma é outra e, portanto,a entrega é outra.Será queessas questões quesão, hora subjetivasehoraconcretas,preocupam-seemretornarafaceàsrespostas?Eunãosei. Ocontextopandêmicomantémemlatênciaainsurgênciadeincertezas,nossolevante érematedaexperiênciade[re]descoberta.
Jásãomaisdecemdiasemisolamentoenestemomentoconvenço-medequeestoure tornandoàsexperiênciassensoriaisprimárias,iniciadasnarepetiçãodotoquetãoíntimo etãosóquepotencializaavivênciadocotidianoemqueoabraçoémaisumamemória do que uma contingência. Me debato com as paredes da morada na espera de poder invadiromundo...equesejamnítidosossons,queasmãossetoquemsemmedo,que soprosdevida inflem nospulmões.Anseio a entrega às singularidades e sinuosidades dovaivémquejánãopareceóbvio.
Quandoaceiteiapropostadehabitaroespaçodaspalavraseuofizconscientedeque deveria ordenar uma centena de pensamentos para comportar em algumas linhas as poéticasdeseteartistaseasreflexõesdetantosparceirosdecaminhada.Comojáera deseesperar,desdeaprimeiratentativaacabeipormeestenderdemasiadamente,pois as indagações existem e persistem. Sim, elas continuam aqui, mesmo agora, e talvez continuemaítambém,emtodosessesaísquenosconectampáginaapágina.Detodo modo, como uma das funções do crítico é examinarpara descobriro trânsito dassig nificâncias,encerroesteensaiocompartilhandoalgumasinquiriçõesquemecolocaram submersanosfundamentosreaisdaconstruçãosensíveldohabitar:ocorpohabitaoes paçoouéhabitadoporele?Ondeencerra-seocorpoquandoesteorienta-seasformas, cores e sons do concreto? O que ouve o corpo quando a cidade silencia? Ou quando grita? Qual toque espera a pele do corpo-obra quando o isolamento é o que resta na esperadapaisagempreenchida?Porfim,esobretudo,comoconformarocaminharaos ângulosdacasa?
LetíciaAbreu PortoAlegre,Julhode2020
O olho é atraído pela luz e seduzido pela cor; as partículas de luz tateiam a retina, aguçando operações invisíveis. É possível medir o alcance háptico da luz cor? Visando uma estética da ação, Estrutura traz a luz e a cor enquanto evento sensível não-representativo que se manifesta no espaço. A transmissão começa com as luzes desligadas, sendo ativada uma a uma, na construção de um aparato de linhas abstratas que emanam e preenchem o espaço, organizando-o através de coordenadas do corpo. As cores se tocam e podem perturbar o olho devido a violência da luminosidade, remetendo ao vício em imagens exteriores a si e o fascínio pelas telas e ambientes iluminados artificialmente. O fundo verde é entendido como suporte e transporte para outras camadas alisadas do espaço virtual. A luz não só transforma o espaço, como cria ambientes, entre o fluxo e o corte da ação, se faz uma estrutura de luz, core corpo.
AnaAlice PortoAlegre,Julhode2020
Apresento um conjunto de trabalhoscomposto pormontagens fotográficase pinturasdigitais.Fazempartedeumasériequeestáemcrescimento,frutodeuma necessidadeemreinventarasformasdeprodução,diantedeumcenáriocatastrófico rumandoàruína.Justamente,asruínassãomeuinteressecentralparaeuelaborar minha poética, mas as imagens que apresento não se tratam da ruína histórica ou romântica, e sim das destruições. São ruínas arquitetônicas provocadas por catástrofes, seja por descaso ou guerra. Os elementos presentes nessas imagens específicas, com texturas, destroços e escombros, faz-me pensar nas camadas da pintura, das quais sobreponho cores para representar o assunto na tela. Por sua vez, as fotomontagens foramrealizadas de maneira inversa: subtraí camadaspara revelar outras. Desenterrei destroços para expor outros elementos das imagens sobrepostas.Provocoareflexãosobreaquestãoelaboraldotrabalhoartísticoque está em desenvolvimento que, portanto, não apresenta uma conclusão definitiva. Aqui, o fazer, a elaboração da imagem, encontra-se em constante mutação.
AndressaP.Lawisch PortoAlegre,Julhode2020
Estátuaescuta (2020) é uma possibilidade de ação para um Brasil contempo râneo.Entreafantasiaeaironia,insta-laemfrenteàAlvoradaumamáquinasônica de guerra.Aos olhos,tudo parece normal, pois o mecanismo está escondido.Mas ouvircom cuidado é todo um ataque.Ao que nos ocultam, manipulam, silenciam.
E nessa escuta atenta também ouvimos os eco dos mortos, esse que é diferente do ecoque ressoa pelas avenidasvaziase corpos mascarados.Não há como fugir.
Neste vídeo refaço uma ação minha de 2003, em que raspei todos os pelos do corpo.Aação durouuma hora e meia e resultou em umvídeo de três minutos. Foi feito durante a madrugada entre sábado e domingo de Páscoa, pois seu sentido estava em ser feito no próprio dia. Editei domingo e compartilhei nas redes sociais segunda, é importante esta questão da data e do compartilhamento nomomento.Desdealgunstrabalhostenhotrabalhadocomaçõesfeitasemdatas especificas, e seu compartilhamento em redes sociais logo para que as pessoas tenham a experiência do tempo, senão instantâneo, muito recente. O vídeo é acompanhadoporuma falaminha quecontextualiza a ação e o sentido derefazê la no dia da Páscoa de 2020, através da questão da solidão, da vulnerabilidade, deumrenascimento.Entãoocorrequeestetrabalho háumacargaexpressivaque destoa tanto dos trabalhos recentes quanto de todos os trabalhos que já havia feito, porestarmosvivendo um momento nunca antes vivido.
Chico Fernandes PortoAlegre,Julho de 2020
Entremuros(2020)éumvídeoquetrazduascamadas.Naprimeira,vestidacom uma capa amarela, perfaço umaação na qual amarro linhas invisíveis queapagam essa camada e revelam a segunda, que porsuavez revela outra ação em curso, na qualmeencontro nuaexperimentando o espaço entreos muros.
Ummuroprevêproteçãoaomesmotempoemqueéoespaçodadicotomiadentro/ fora, e estes muros em questão moram, ambos, no lado de dentro de um terreno privado,aoarlivre.Umimpostoporumaconstruçãodooutrolado,outroconstruído por mim, destituído da função de separar o dentro e o fora e ao mesmo tempo residindo dentroe fora.
Acapa também tem a função de proteger,e aqui também a destituo de suafunção original,eatrago paraocamposimbólico.Meucorpo,vestidocomessacapaqueo protege da nudez, perfazelepróprio a ação queo desnuda, entre muros. O grande muroeacapaserelacionamcomas proteções impostaspelasociedadenoquediz respeitoaoscorposfemininos,eomuroconstruído,juntamentecommeucorponu, trazem a autonomia e avulnerabilidade para refletirsobreessas imposições.
DaniAmorim PortoAlegre,Julho de 2020
Oestarnacidadesetransformouemumamemóriaque,apesardasmaisrecentes, édistante.Oqueantesestavadoladodelá,agoraestápresoemumlapsotemporal do lado de cáe, porora,permanece dialogando com nadamais do quesimesmo. É aformadelidarcomaperdatemporáriadapossibilidadedesedeslocarereivindicar espaços.Oquerestasãoregistrosdevivênciasetempos,existentesdoladodecáda janela.O corpoque antes se depositava na linha da forma,na densidade da cor,no limiteentreumacoisaeoutradentrodacidade,anunciandoorepensarnasrelações comourbano,reordenandoeprovocandoumprolongamentonasideiasdesolidez, flexibilidade e ocupação, agora se debruça sobre si em ensaios e experimentos. A palavra vira corpo, o espaço vira corpo, o tempo vira corpo. Mescla de pesos e fisicalidades, em uma angustiante tentativa de manter aceso o exercício sobre o corpo-cor. Penetração, ovulação, germinação e expulsão (Lygia Clark, 1938), processocriativodentrodoslimitesdoqueéexperimentável.Maisdoquealgoque acontecenoscorpos e no espaço, algo quese fazcom os mesmos.
Marina Rombaldi PortoAlegre,Julho de 2020
Os trabalhos apresentados em e-transmutáveis (2020) foram produzidos nos marcos de 2.500+ e 4.000+ vítimas fatais pela COVID-19 no Brasil, denotando a mais pura galhofa por parte de governo e uma parcela da população perante a pandemia.Todos estes, sem dúvida, fatos ultrajantes de perturbadores já naquela épocamasque, nememsonho, pensaríamosserpossívelqueavançassem através dosmesesetornassem-seonovostatusquo.Gradualmente,tantoocomportamento da população quanto políticas centrais, ambas mostraram-se progressivamente ineptas no que tange ao ultrapassar da inimaginável marca das 80.000+ vidas perdidas porvolta da finalização deste catálogo.
Entreoisolamentosocialeo#fiqueemcasa,vivenciaracidadetorna-sevirtualmente impossível na mesma proporção em que o acesso ao mundo e ao outro se dá de formadigital,normalmente emuma torrente de lodo tóxico tonitruante, de -nem sempre confiáveis e desencontradas - informações que nos soterram, dividem e confundem. Em meio a isso, faço minha ácida crítica imagética digital e objetual, inserindo minhas palmeiras como chamarizes para as discussões que quero propor, para aquilo o qual intento prementemente fazer visto, como resposta ao despautério que chamamos de (nova) realidade hodierna.
ThiagoTrindade PortoAlegre,Julho de 2020
Ana Alice
Artista e Mestranda em Poéticas Visuais pelo PPGAV-UFRGS, desenvolve uma recon figuração de gêneros, hibridizando estruturas de atuação e evidenciando a característica conceitual da arte. Sua produção perpassa linguagens como instalação, vídeo, perfor mance, gravura e pintura. Principais exposições: Mostra de vídeos Ao lado dela do lado de lá (2017) - Instituto Goethe; Cor maravilha (2018)- Fotogaleria Virgilio Calegari; Bal búrdia(2019)-Pinacoteca Barão do Santo Ângelo-IA-UFRGS.
Andressa P. Lawisch
Artista e Mestranda em Poéticas Visuais pelo PPGAV/UFRGS. Bacharel em Artes Visuais (IA UFRGS). Principais exposições: A Ruína e a Noite (2018) e A Fala da Falha (2019). Integra o grupo de extensão StudioP Atelier aberto de pintura, pesquisa e extensão, pela UFRGS. Sua pesquisa envolve pintura com temáticas das ruínas, demolições e des truições arquitetônicas a partir de, em sua maioria, fotografias autorais.
Camila Proto
Artista e Mestranda em História, Teoria e Critica pelo PPGAV/UFRGS. Bacharel em Ar tes Visuais (IA UFRGS). Sua pesquisa percorre o campo sonoro a partir de propostas participativas e conceituais, criando um diálogo entre ficção e sociedade, resistência e comunidade, som e linguagem. Principais prêmios e exposições: 2º Lugar no III Circuito Universitário Internacional da Bienal de Curitiba (2017); Premiada pelo edital CoMciên cia do MMGerdau (2019); Indicada na categoria Destaque Artista Início de Trajetória, no XIII Prêmio Açorianos de Artes Plásticas-Porto Alegre-RS.
Chico Fernandes
Artista e Doutorando em Arte, Experiência e Linguagem pelo PPGArtes-UERJ, sob orientação de Ricardo Basbaum. Mestre em Linguagens Visuais pelo PPGAV-EBAUFRJ. Pesquisa relações entre corpo e imagem em sua prática e na de outros artis tas. Participou de exposições coletivas em museus e espaços culturais, como MAR, Paço Imperial, Itaú Cultural e Funarte. Desenvolve sua pesquisa com auxílio da bolsa Faperjnota10.
Dani Amorim
Artista e Mestranda em Poéticas Visuais pelo PPGAV-UFRGS. Especialista em Poéti cas Visuais (Feevale-RS). Participou de diversas exposições coletivas e individuais desde 2010. Lecionou por dois anos na Escola de Fotografia Artística. Atualmente integra o coletivo de arte feminista La Concha e o grupo de pesquisa OM-LAB | UFRGS-CNPq. Pesquisa sobre controle social, autonomia, proteção e presença em relação ao corpo feminino.
Marina Rombaldi
Artista e Mestranda em Poéticas Visuais pelo PPGAV/UFRGS. Pós-graduanda em Artes Visuais pela UCS-RS. integrante do grupo de pesquisa Poéticas da Participação UFRGS/ CNPq e o Coletivo UN e o Ateliê Orta. Sua produção tem como diretriz a investigação sobre as relações coletivas e individuais que estabelecem diálogo no espaço da cidade, propondo formas de habitar e perceber a partir da cor e da forma.
Thiago Trindade
Artista e Mestrando em Poéticas Visuais pelo PPGAV/UFRGS. Bacharel em Artes Visuais (IA / UFRGS). Exposições individuais: Pulso.Pulse.Pouls. (2016) no MACRS e Estruturas Transitórias (2016) no Espaço Ado Malagoli. Exposições coletivas: TaMONDUà (2019) no MARGS; Tambores Distintos (2017) na Pinacoteca Barão de Santo Ângelo e Imesura (2017) na Galeria Espaço IAB-RS. Integra o grupo de pesquisa OM-LAB | UFRGS-CNPq. Suas pesquisas abordam suas relações com o espaço urbano, tendo produção artística com foco imagético e objetual.
Letícia Abreu
Mestranda em História, Teoria e Crítica da Arte pelo PPGAV/UFRGS. Durante a gradu ação em Licenciatura em Artes Visuais (IA-UFRGS), integrou o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência no subprojeto Artes Plásticas e Visuais, no qual desen volveu pesquisas cartográficas sobre o patrimônio material e imaterial da cidade do Rio Grande RS, bem como sua influência na construção identitária. Atualmente sua pesquisa concentra-se em investigações memoriais, sobretudo tangenciadas pelo luto, desaparecimento e impermanência.
Bruno Novadvorski
Bolsista de Iniciação Científica PIBIC CNPq-UFRGS no projeto de pesquisa Prática
Urbanas: Poéticas de Aproximação, sob a coordenação da Profa. Dra. Tetê Barachini, junto ao Grupo de Pesquisa Objeto e Multimídia CNPq-UFRGS. Participou como mediador na exposição e-transmutáveis (2020).
Tetê Barachini
Doutora em Poéticas Visuais pelo PPGAV/UFRGS, onde atua como docente desde 2015. Além de publicações na área de artes, participa como artista e curadora em exposições individuais e coletivas, no Brasil e no Exterior. Coordena o grupo de pesquisa do OM-LAB UFRGS|CNPq e atualmente desenvolve projeto de pesquisa envolvendo aproximações poéticas e objetos tridimensionais sensíveis, considerando suas apresentações materiais e imateriais e as possíveis interações com o outro (sujeito) e com o espaço urbano.
LetíciaAbreu
EnsaioCrítico: [des]territorializaçõese [des]caminhos: e-transmutáveis
AnaAlice
Estrutura (2020). Performance e instalação.
Detalhe de Estrutura (2020).
Captura de tela durante a exibição de Estrutura (2020).
Grid com frames de Estrutura (2020).
DaniAmorim
Entremuros (2020). Vídeo. 9 19 . Edição: DaniAmorim. Acessoem:https://vimeo.com/442837185Senha:entremuros-daniamorim-2020
Detalhe de frame de Entremuros (2020).
Captura de tela durante a exibição de Entremuros (2020).
Detalhe de frame de Entremuros(2020).
Andressa P.Lawisch
Pintura #1ePintura #2(2020),Série Destruições, Pintura digital.
Fotomontagem #1e Fotomontagem#2(2020),Série Destruições, Fotomontagem com pintura digital.
Detalhe de Fotomontagem#1 (2020).
Captura de tela durante a exibição de Pintura#1 e #2 e Fotomontagem #1 e #2 (2020).
Detalhe de Fotomontagem#2 (2020).
Camila Proto
Estátuaescuta (2020). Desenho, imagem digital e texto. Oecodosmortos édiferente (2020).Perfomance e imagem digital.
Detalhe de Oecodos mortosé diferente (2020).
Captura de tela durante a exibição de Estátuaescuta (2020).
Detalhe de Oecodos mortosé diferente (2020).
ChicoFernandes
AçãodePáscoa (2020). Vídeo. 3 min. Acesso em: https://vimeo.com/407028340
Detalhe de frame de Açãode Páscoa (2020).
Captura de tela durante a exibição de AçãodePáscoa (2020).
Grid com frames de AçãodePáscoa (2020).
Marina Rombaldi
Exercícios de um corpo-coremespera: atoI (2020). Vídeo. 1 11 . Edição: Gabriela Cunha.
Detalhe de frame de Exercíciosdeum corpo-coremespera:ato (2020).
Captura de tela durante a exibição de Exercícios de um corpo-corem espera: atoI (2020).
Detalhe de frame de Exercíciosdeum corpo-coremespera:atoI (2020).
ThiagoTrindade
Entreoutrasmilés 4k+:l ordes fous4real(2020). Foto macro de Instalação. Foto: autor. TheHypnoAntaVirus(2020).Imagem digital. 29,7 x 42 cm.
Detalhe de Entreoutrasmilés 4k+:l ordes fous4 real (2020).
Captura de tela durante a exibição Entre outras milés 4k+ l ordesfous 4real (2020).
Detalhe de The HypnoAntaVirus (2020).
- 57 Captura de tela durante a exposição e-transmutáveis (2020) via Zoom.
UNIVERSIDADEFEDERALDORIOGRANDEDOSUL
Reitor:RuiVicenteOppermann
Pró-ReitoradeExtensão:SandradeDeus
Pró-ReitordePesquisa:LuísdaCunhaLamb
INSTITUTODEARTES
Diretor:RaimundoJoséBarrosCruz
Vice-Diretora:DanielaPinheiroMachadoKern
PROGRAMADEPO S-GRADUAÇÃOEMARTESVISUAIS(realização)
Coordenador:PauloAntoniode MenezesPereiradaSilveira
CoordenadoraSubstituta:TeresinhaBarachini
TécnicaAdmin.:PatríciaPinto
Projetográficoearte
ThiagoTrindade
Capa
ThiagoTrindade
Agradecimentos
DanielaPinheiroMachadoKern
RaimundoJoséBarrosCruz
VanessaFreitag
©dosautores
1ªedição2020
E85
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
E-transmutáveis /Tetê Barachini (Org.). PortoAlegre : Universidade Federal do RioGrande do Sul,2020.
60 p.
ISBN 978-65-86232-38-7 (E-book)
1. Exposição de arte - catálogo I.Barachini,Tetê.II.Alice,Ana. III.Lawisch,Andressa P. IV. Proto,Camila. V. Fernandes,Chico. VI.Amorim,Dani. VII.Rombaldi,Marina. VIII.Trindade,Thiago. IX.Abreu,Leticia.
CDU 7.039
Bibliotecária responsável
Catherine da Silva Cunha CRB 10/1961