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“Não consigo estar quieto” >> Carina Monteiro cmonteiro@publituris.pt

Algarvio de gema, Desidério Silva nasceu na freguesia de Boliqueime, em Loulé, a 9 de Agosto de 1951. Na terra, que também viu nascer o ex-Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, vivia-se essencialmente da agricultura, o ganha-pão da maioria das famílias. “A minha infância foi toda passada nesse percurso rural e ajudando nas férias os meus pais e avós”, recorda o presidente da Região de Turismo do Algarve. Vivia em Boliqueime, mas apanhava todos os dias, às sete da manhã, o comboio para Faro, onde estudava. Aos 18 anos concluiu os estudos na Escola Comercial e Industrial, e começou a trabalhar na Lusotur- Empreendimentos Imobiliários e Turísticos, em Vilamoura. Desenhava projectos de casas, moradias e apartamentos. Trabalhou na Lusotur até 1984, altura em que deixou a empresa para trabalhar por conta própria, no mesmo ramo. Trabalhou no próprio atelier até 1998, mas a ida para a Câmara Municipal de Albufeira como vereador a tempo inteiro, ditou o fim do trabalho por conta própria, pela incompatibilidade das funções. ENTRADA NA POLÍTICA Antes de contar o percurso de Desidério

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>> Fotos: Frame It

Silva até se tornar presidente da Câmara Municipal de Albufeira, cargo que ocupou durante uma década (2002-2013), é preciso recuar aos tempos de infância e adolescência dos seus filhos. Foi nesse período que iniciou um percurso na vida associativa. Começou como presidente da Associação de Pais da Escola Secundária de Albufeira entre 1990 e 1998, tendo posteriormente criado a Federação Regional das Associações de Pais (FRAPAL), da qual foi presidente entre 1992 e 2002; foi ainda vice-presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais entre 1996 e 1999. Olhando para trás reconhece que, face à exigência da intervenção cívica no âmbito das escolas, este foi o degrau para a entrada na vida política. “Ser membro de uma associação de pais nesse período foi completamente diferente do que é agora. Estamos a falar de escolas sem condições, sem pavilhões, sem acessos, etc.”, lembra. Inscrito no Partido Social Democrata (PSD) desde 1992, Desidério Silva foi candidato à junta de freguesia de Albufeira em 1994. Não ganhou as eleições, mas ocupou o lugar de secretário da Junta até 1996. Nesse ano, concorreu como número dois na lista do PSD às eleições para a Câmara Municipal de Albufeira. Apesar de não ter vencido, foi convidado a fazer parte do

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Executivo liderado pelo socialista Arsénio Catuna. “A concelhia do PSD não estava muito favorável a que eu aceitasse o convite, mas a distrital e a nacional (na altura o partido era liderado por Marcelo Rebelo de Sousa) entenderam que devia aceitar”, recorda. “Foi o meu primeiro cargo público a sério e foi a sério mesmo”, conta. Primeiro foi vereador sem pelouros, entre 1996 e 1998; e de 1998 a 2002, foi vereador com diversos pelouros: desde o Ambiente à Habitação. “Ia com uma vontade enorme de fazer aquilo que tinha pensado: mostrar disponibilidade, tentar resolver problemas. (…) Nunca fui muito um vereador de gabinete. Era de gabinete quando era necessário, mas também andava muito fora.” PRESIDENTE DA CM DE ALBUFEIRA Em 2002, candidatou-se à presidência da Câmara de Albufeira e ganhou com 48% dos votos. “Foram quatro anos muito difíceis, tendo ganho a Câmara com maioria depois de ter sido vereador, é evidente que as exigências passaram a ser maiores. Albufeira sempre foi muito turística e a cidade não estava preparada para os residentes, ou seja, não havia escolas, creches, centros pré-escolares. A prioridade foi criar condições para os residentes”, conta.


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Ementa

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Desidério Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve

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“É difícil podermos criar expectativas quando estamos atados de uma forma brutal, através das regras que nos são impostas e são feitas por pessoas que não conhecem a realidade. O Turismo não pode funcionar assim”.

Mas não só, a requalificação urbana também foi uma prioridade. “Albufeira tinha uma série de pequenos empreendimentos que eram autênticas ilhas e a preocupação foi fazer a ligação entre elas. Depois, pelo facto de Albufeira ser uma cidade turística, houve uma preocupação com a qualidade das praias. Tínhamos cinco, seis bandeiras azuis. Quando saí da Câmara já tínhamos mais de 20 bandeiras azuis”. Em 2005, foi novamente candidato à Câmara de Albufeira e reforçou a maioria, ao vencer com 63% dos votos. Concorreu a um terceiro mandato e foi eleito com 70%. Recorda que Albufeira foi uma das cidades de implantação do Programa Polis, o que obrigou a grandes intervenções de requalificação urbana. “As pessoas querem as coisas feitas, mas não querem ter o problema à porta. Foi um processo de negociação e houve um período, em 2006, que todos os dias estava na rua às sete da manhã por causa das obras, dos acessos às lojas”, recorda. O TURISMO A ligação de Desidério Silva ao Turismo não nasceu quando este se tornou, em 2012, o presidente da Região de Turismo do Algarve. Sendo autarca de uma das principais cidades turísticas do País, o Turismo sempre esteve muito presente nas decisões da autarquia. Não foi por acaso que, em 2004, tornou-se presidente da recém-criada APAL – Agência de Promoção de Albufeira. “Nessa altura, já ia com eles a todo lado, desde Madrid, Barcelona, Vigo, Sevilha, Londres, Berlim.” Anos depois, e já no último mandato na Câmara, surgiu a possibilidade de presidir a Região de Turismo do Algarve. Foi em 2012, quando António Pina terminou a presidência da Região de Turismo. Vários presidentes de Câmara falaram com Desidério Silva por causa das eleições da RTA, dizendo-lhe que era a pessoa ideal para o cargo. Para isso, tinha de fazer a opção de não terminar o seu terceiro e último mandato na Câmara de Albufeira. Faltavam 10 meses. “Tendo havido uma concordância, ao nível dos autarcas, que tinha o perfil indicado para assumir aquele cargo, é evidente que decidi aceitar e não estou nada arrependido. Porque, de uma forma indirecta, tenho estado a contribuir para aquilo que tem sido também o sucesso de Albu-

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feira”. Liderar a Região de Turismo do Algarve, decorridos quatro anos, tem trazido um conjunto de desafios, nem sempre fáceis de gerir. “É verdade que me dá muito gosto em certas coisas, mas tem sido difícil, particularmente, os últimos dois anos. Já nem falo das verbas, falo da forma como as verbas nos chegam, como são trabalhadas a nível do Orçamento Geral do Estado, dos cortes, da agilização, da autonomia das Regiões. Grande parte do esforço, que devia ser canalizado para questões concretas e objectivas, como a qualificação do produto, a estruturação e a requalificação da região, é levado a desatar nós. É difícil podermos criar expectativas quando estamos atados de uma forma brutal, através das regras que nos são impostas e são feitas por pessoas que não têm sensibilidade ou que não conhecem a realidade. O Turismo não pode funcionar assim”. FAMÍLIA E DIA-A-DIA Casado há 44 anos, Desidério Silva tem dois filhos, João e Patrícia, de 36 e 41 anos, respectivamente, e duas netas de cinco e um ano de idade. Tentou sempre conciliar a vida profissional com a vida privada. A mulher acompanhou-o sempre e, na altura que entrou na política, os filhos já estavam na idade adulta. “Tenho a minha agenda, mas a minha agenda é sempre sobreposta por outras agendas. Quando julgo que tenho um fimde-semana, acabo por alterar tudo. A minha vida não tem grandes tempos livres”, afirma. “Se há um dia em que estou mais liberto, arranjo logo qualquer coisa, ou vou visitar uma unidade hoteleira, ou outro local”, conta. Diz-se “exigente, mas também compreensivo”. Não admite falta de rigor e falta de responsabilidade. Gosta que as pessoas sejam

leais, independentemente das questões políticas, e que sejam de confiança. “Para mim a palavra confiança é a chave da relação”. Assim é o presidente da Região de Turismo do Algarve, a quem muitos atribuem parecenças físicas com o actor o Anthony Hopkins. “O último que me disse isso foi o Rui Reininho”, brinca. É sportinguista e, em 1992, criou o núcleo do Sporting em Albufeira. Não é pessoa de gozar muitas férias, a avaliar pelos dias que deixou na Câmara por gozar. “Quando saí da Câmara de Albufeira deixei perto de 250 dias de férias para gozar. Estou há quatro anos no Turismo do Algarve, se somarmos os dias de férias que gozei e forem 25, será muito”. Em Novembro, vai uma semana para Cabo Verde, por “uma razão muito simples”, conta. “Quando fui autarca, tinha uma geminação com a Ilha do Sal. Durante esse período fizemos uma série de obras e apoios sociais e atribuíram-me o título de cidadão honorífico da Ilha do Sal. Quando lá chego, sinto-me em casa, tenho lá muitos amigos. É um sítio, não muito longe daqui, que me permite descansar”. Não é homem de sonhar. “A vida ensinoume que as coisas têm de ser feitas em função daquilo que vai acontecendo e da realidade, muitas vezes os sonhos acabam em decepções. Portanto, sou muito práctico, muito pragmático, quando as coisas acontecerem, acontecem” Talvez por isso, não arrisque comentar o futuro. “Neste momento sou presidente da RTA e, se não houver nenhuma alteração orgânica, tenho mandato para cumprir até 2018. Fui autarca, gosto de ser autarca, não sei o que o futuro me reserva, já estou no meu direito pleno de ser autarca”, refere. Uma coisa é certa: “Não consigo estar quieto”. ¶

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