O despertar da costa

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10-08-2017

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O despertar

da costa Destino eleito por quem deseja passar férias longe de multidões e próximo da natureza, o Sudoeste está a viver momentos de grande vitalidade. A VISÃO revela as novidades e tendências que estão a dar à costa e as memórias de quatro autores intimamente ligados à região 40

VÂ N I A M A I A

JOSÉ CARIA

VISÃO 10 AGOSTO 2017


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A hesitação torna-se recorrente e, aos poucos, deixa de surpreender. Repetem-se os apaixonados pela costa alentejana e vicentina relutantes em revelarem as maravilhas da região. “Há um misto de emoções entre o desejo de divulgar e o medo de massificar”, dizem-nos. Consensual entre os “especialistas” na costa mais desejada é o momento ímpar que se vive na região. Depois de um período de adormecimento, sente-se uma energia latente que aponta para diversos caminhos, nem todos aplaudidos. Sem prurido de divulgar a região, o empresário Luís Montez, 52 anos, ajudou a revolucionar a Zambujeira do Mar com a criação do festival de música Meo Sudoeste, na Herdade da Casa Branca, há vinte anos. De 1 a 5 de agosto, passaram 35 mil pessoas por dia pelo recinto. Em 1997, ano da primeira edição, o comboio nem sequer parava naquele que é o maior concelho do País em área, Odemira. Mas a relação do diretor da produtora de espetáculos Música no Coração com a região começou ainda antes disso, no final dos anos 80, quando o vocalista dos Xutos & Pontapés, Tim, o convidou para umas férias em sua casa, em São Teotónio. Também o guitarrista da banda, Zé Pedro, tem uma relação especial com Melides, em Grândola, onde a família costumava passar férias, numa residência que apelidaram de Casa dos Sonhos. Hoje, Luís Montez passa parte do ano na sua casa de férias, entre a Zambujeira do Mar e o cabo Sardão, e tem grandes amigos na zona. Um deles é António Guerreiro, 64 anos, que todos conhecem pelo nome da herdade onde trabalha: Tojeiro. Foi o único vizinho que venceu a desconfiança e se dispôs

3

Protagonistas 1. Inspirado nos produtos alentejanos, o chefe Ljubomir Stanisic é responsável por um restaurante na Comporta 2. Giacomo Scalisi e Madalena Victorino têm casa em Aljezur, onde lançaram um projeto cultural 3. Diogo Vasconcelos é dono do restaurante e do alojamento Cato, na Carrapateira 4. O empresário Luís Montez criou raízes na Zambujeira

a emprestar uma máquina de rega para domesticar a poeira da Herdade da Casa Branca na primeira edição do festival. O empresário passou-lhe um cheque de mil escudos (€5), mas Tojeiro devolveu-o depois de visitar o recinto. “Não quero o seu dinheiro porque a sua festa é muito bonita”, repete o pastor, vinte anos depois, na sua casa, durante o tradicional almoço antes do arranque do festival. A Praia da Amália, a meio da estrada entre o Brejão e a Azenha do Mar, é um dos locais de eleição de Luís Montez. Um pequeno ribeiro desagua em cascata na ponta sul do areal e torna a paisagem tão surpreendente


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SETÚBAL A2

Troia SESIMBRA Rio Sado

Comporta

Praia da Comporta

2

261 EN

Praia dos Brejos da Carregueira Praia do Carvalhal Praia do Pego

Carvalhal

-1 261 EN EN 261

IP 8

GRÂNDOLA Melides Praia de Melides Praia e Lagoa Costa de Santo André de Santo André

Vila Nova de Santo André

261

-5

IP 8

SANTIAGO DO CACÉM

EN

SINES

IP 8

Cabo de Sines

Praia de São Torpes Praia de Morgavel

4

IC 4

Praia de Porto Covo Porto Covo Ilha do Pessegueiro Praia da Ilha Praia dos Aivados Praia do Malhão

EN

CERCAL 390

Vila Nova de Milfontes

EN 120

Mira Rio

EN 393

Praia do Brejo Largo

Praia Grande Almograve

ODEMIRA

Cabo Sardão

Praia de Odeceixe

Odeceixe Praia da Carreagem Praia da Amoreira Praia do Monte Clérigo Ponta da Atalaia

Rogil

Arrifana

Aljezur

Praia da Arrifana

5 km 68

AR/VISÃO

EN 2

nos circundantes à Herdade da Casa Branca para impedir a construção de estufas próximo do festival. A praia dos Malmequeres ou da Seiceira ficou mais conhecida como Amália porque, em tempos, era numa casa junto a esta praia que a fadista Amália Rodrigues se refugiava no verão. Há cinquenta anos, a região era ainda mais exclusiva. O crescimento do turismo na costa algarvia, nos anos 60, não se refletiu na selvagem costa alentejana, devido à escassez de povoações costeiras e à falta de acessibilidades. Protegida por classificações como Paisagem Protegida ou Parque Natural, esta zona da costa portu-

Praia da Carrapateira Praia do Amado Praia da Cordoama Praia do Castelejo

Samouqueira

Bordeira Carrapateira

EN 120

quanto deslumbrante. A estrada de terra que leva ao riacho está ladeada de estufas. Há uma década, grandes produtores mundiais de frutos vermelhos descobriram o potencial do sudoeste alentejano e começaram a investir na região. Atualmente, a área total de produção de hortifruticultura coberta aproxima-se dos mil hectares, de acordo com a Associação de Horticultores do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Este ano, preveem-se vendas no valor de €140 milhões (85% em exportações). “O desenvolvimento agrícola é bom, mas tem de haver limites”, defende Luís Montez. A pensar nisso, comprou os terre-

EN

120

Praia do Porto das Barcas Praia da Zambujeira do Mar Zambujeira do Mar Praia de Alteirinhos Praia do Carvalhal Carvalhal SÃO TEOTÓNIO Praia da Amália

A 22 EN 125

VILA DO BISPO

Praia da Ponta Ruiva

Cabo de São Vicente SAGRES Ponta de Sagres

EN 125

LAGOS


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Comporta

AQUELE ABRAÇO

Sou do tempo em que a Comporta era uma herdade perdida no mapa, outro país, distante das torres da Torralta. Sou do tempo dos ferries de outras cores, sem bar nem música ambiente, dos caminhos para as praias sem setas, feitos de estradinhas de terra batida, dos restaurantes construídos em cima da areia, décadas antes de ser tornar a praia mais in de Portugal, com lojas caras, restaurantes famosos e passeios a cavalo na praia que atraem estrelas à escala mundial. A minha Comporta é uma casa térrea rodeada de hortenses, oliveiras e alfazemas, com um tanque de cimento com 4 metros por 5 onde quem quiser se pode sentar com o esqueleto de molho a ler o Expresso, a mesa quadrada e imensa por onde passam todas as refeições que incluem pão alentejano cortado em fatias grossas, o delicioso café a ferver da minha Moka, camarões ao alho, linguiça de porco preto e as saladas mais inspiradas que consigo imaginar. A mesa é rodeada de bancos de alvenaria e de uma

GONÇALO ROSA DA SILVA

MARGARIDA REBELO PINTO ESCRITORA

“Na Comporta sou uma versão intemporal da Anita; cozinho, pinto, conserto e restauro, coso e decoro, brinco às casinhas com fervor e alegria”

notável coleção de almofadas coloridas onde se dormem ricas sestas, se conversa sobre o presente o passado e o futuro e se pintam mandalas num livro de colorir para não pensar em nada. A minha Comporta é sempre linda, imensa e misteriosa, desde o areal claro aos arrozais a perder de vista, sem esquecer o cais palafítico. É um lugar de gente de bem, com nomes tão bizarros quanto sugestivos, como o Senhor Adjunto que vende bivalves na Carrasqueira ou o Senhor Garanhão, baixote, entroncado e cheio de si, uma versão local do Zezé Camarinha que durante muitos anos se apresentava com um pendente de ouro

maciço ao pescoço com a inequívoca forma do órgão sexual masculino em sentido vertical, ladeado das partes que lhe correspondem. Reza a lenda que perdeu o fio de ouro e o símbolo da sua identidade adquirida num assalto violento. Existem várias Comportas: a Old School, composta pelos membros e amigos da família Espírito Santo e seus amigos. Saem pouco das suas casas, usam o restaurante do Gervásio nos Brejos como cantina e vão para as praias desertas de jeep. Existe a Comporta dos novos comerciantes, dos estrangeiros que se apaixonaram pelo lugar, e ainda daqueles que vão apenas passar o dia e tiram fotografias

de peito cheio como quem descobriu a Atlântida. Mas a minha Comporta é daqueles que lá nasceram e que por lá continuam a viver: a Xana dos Frescos & Companhia que tem sempre um sorriso cúmplice e iogurtes gregos guardados para mim, o dono do PicaPeixe que faz o mesmo com as amêijoas e o limoncello e onde se comem as melhores chamuças de Portugal. A terra do Senhor Júlio, recoletor e colecionador de velharias que perdeu um braço num acidente de viação na Avenida Marginal, mas nunca perdeu o encanto nem a candura, que me vende abat-jours dos anos 60 com borboletas e outras preciosidades sentimentais.


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Estar na Comporta é estar em casa sem internet nem canais de cabo. O iPod de 2005 ainda toca, mas nem sempre, porque tenho pardalitos às dúzias que conversam comigo do telheiro e da nespereira. E tenho pinheiros e ciprestes e laranjeiras, e tenho tantas flores que me sinto o Candide, embora o mérito seja da jardineira Rosinda, cuja cabeleira redonda e espessa faz lembrar uma grande hortense. E uma Trike para dar voltas à casa quando me apetece ter 5 anos, e uma cama com dossel em rede mosquiteira quando me apetece brincar às princesas. Na Comporta sou uma versão intemporal da Anita; cozinho, pinto, conserto e restauro, coso e decoro, brinco às casinhas com fervor e alegria. Nunca liguei a televisão, um caixote antigo alimentado a TDT que, dizem, dá som e pessoas a cores. Em vez disso jogamos ao Scrabble, ao Risco, ao Trivial, à mímica, às cartas, à enciclopédia e a tudo o que nos apetece. Quando há pequeninos invento caças ao tesouro, enquanto suspiro por mais filhos que não tive e pelos enteados que me escaparam. Lá, durmo sempre bem e acordo sempre feliz. É o meu paraíso para a vida e para a morte, os meus Old Hamptons, lugar de segredos, de abelhas e de cegonhas, onde já escrevi o final de alguns romances, cenário de livros publicados e por publicar. Se voltar a casar, será naquele areal. E, no dia em que Deus ditar a hora do meu descanso, quero as minhas cinzas atiradas na praia do Pego, onde os golfinhos aparecem no final do verão, a praia do meu coração. Esperemos que este entretanto não pare, nem dele salte um cuco zangado de tanto esperar por aquele abraço que traz a paz de um amor eterno, elevado e sossegado, como tanto sonho e mereço.

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Âmbito: Interesse Geral

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Desporto Gonçalo Tomás e Sara Rafael, atletas federados, querem transformar Vila Nova de Milfontes num destino de eleição para os praticantes de canoagem e paddle

guesa só começou a ser verdadeiramente procurada para fins turísticos no início do séc. XXI. “Aqui fala-se em hectares e no Algarve em metros quadrados”, contrasta Luís Montez, que não dispensa uma sesta ao ritmo alentejano, sempre que possível. No inverno, rendeu-se às caminhadas da Rota Vicentina, uma rede de percursos pedestres, criada há cinco anos, que soma 400 quilómetros dentro do território do Parque Natural. O Trilho dos Pescadores, sempre junto à costa, é o mais procurado. Atualmente, tem 120 quilómetros, mas terá ainda um novo percurso, entre Odeceixe e Lagos, até ao final do próximo ano. A prestigiada revista Condé Nast Traveler incluiu-o na lista dos mais belos trilhos costeiros do mundo. Também em 2018 serão inaugurados uma dezena de novos percursos circulares e 300 quilómetros de trilhos BTT, em Odemira. Só haverá números rigorosos no final do ano, mas estima-se em 20 mil os caminhantes anuais, com uma estada média de quatro a cinco noites. “Os caminheiros valorizam que o destino não esteja massificado. Queremos vender menos, mas a preços mais altos”, defende a presidente da direção da Rota Vicentina, a lisboeta Marta Cabral, 41 anos, residente em Aljezur há quinze. Arnaldo Couto, 43 anos, é cofundador da Rota e proprietário do alojamento Casas do Moinho, em Odeceixe. “As taxas de ocupação na época média [abril-junho e setembro-outubro] já são equivalentes às da época alta, embora os preços praticados sejam inferiores”, revela Arnaldo, que trocou o Porto por Odeceixe há oito anos, juntamente com a

mulher e os filhos. Há dois meses, o casal abriu um restaurante de tapas, o Altinho, motivado pela procura dos caminhantes. EXERCITAR CORPO E A MENTE

“O surf é muito importante, mas as caminhadas vieram contrariar a sazonalidade”, confirma Diogo Vasconcelos, 41 anos, na esplanada do seu restaurante, Cato, que inclui uma guest house. “O conceito reflete as preocupações de quem nos procura: viajantes com consciência ambiental.” O edifício fica no caminho que conduz à praia da Bordeira (ou Carrapateira). A autarquia de Aljezur encomendou um estudo à Universidade do Algarve sobre o impacto do surf na região: a modalidade gera cerca de €5,8 milhões e atrai à volta de 80 mil surfistas, anualmente. Mas a sazonalidade é inegável. Em agosto do ano passado, contabilizaram-se oito vezes mais surfistas do que no mês de novembro e quatro vezes mais do que em abril. Diogo destaca o aumento do alojamento local, motivado por plataformas de aluguer de curta duração, como um dos fatores a atrair mais estrangeiros. Os seis quartos do Cato também podem ser alugados através da Airbnb. Uma pesquisa rápida na página da gigante americana devolve 300 resultados em Aljezur – cerca de 2500 camas foram registadas oficialmente nos últimos quatro anos. Em 2016, a proporção de hóspedes estrangeiros ultrapassou a metade (51,7%). Também em Odemira 50% dos 100 mil visitantes anuais são estrangeiros e os alojamentos locais cresceram de 60 para mais de 300 nos últimos cinco anos.


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Comunidade Os amigos Margaux, Francisco, Cristina e Timo juntaram-se para recuperarem um espaço mítico da Zambujeira do Mar, o Clube da Praia

Garantido o sucesso da região nos meses quentes, o desafio agora é combater a sazonalidade 46

VISÃO 10 AGOSTO 2017

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Âmbito: Interesse Geral

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Uma tendência – não propriamente nova, mas crescente – merece a preocupação de Diogo: “O caravanismo desorganizado.” O músico Frankie Chávez, 38 anos, um dos habitués do cartaz do festival Arrifana Sunset Fest, do qual Diogo é um dos organizadores, faz caravanismo na região desde os 20 anos e reconhece o “crescimento exponencial” do fenómeno. “As caravanas não podem parar em todo o lado, mas tem de haver locais alternativos onde o possam fazer, porque esta costa é incrível para viajar assim”, alerta o guitarrista, que elege como um dos seus refúgios favoritos a praia dos Aivados, na fronteira entre a zona mais rochosa de Porto Covo e a praia do Malhão, que se estende para sul quase até Vila Nova de Milfontes. É precisamente nesta freguesia na margem norte da foz do rio Mira que o casal Gonçalo Tomás, 32 anos, e Sara Rafael, 28 anos, se instalou no final do ano passado para lançar a Paddle South Portugal. Ambos são atletas federados de canoagem, ele de Alhandra, ela de Sesimbra. Juntos, estão a tirar partido do potencial de Milfontes enquanto destino para amantes ou curiosos do paddle e da canoagem. “No surf não se

aprende nada num dia, mas no paddle as pessoas põem-se logo de pé”, propagandeia Gonçalo, que identifica como uma das grandes novidades da região a aposta no turismo ativo. Estão encantados com a qualidade de vida recentemente conquistada. E não são os únicos. Em Aljezur, a associação cultural Moagem de Ideias é dinamizada por um grupo de mais de uma dezena de amigos que se mudou para o concelho nos últimos anos. Alguns herdaram propriedades, outros simplesmente apaixonaram-se pela região. A maioria é profissional liberal, o que facilita a mobilidade. “Estão a aparecer ‘novos rurais’ com uma filosofia semelhante àquela que nos inspirou na criação deste espaço ligado ao bem-estar e à ecologia, aliada a uma componente artística”, explica Diogo Ruivo, 45 anos, cofundador da associação que, desde o mês passado, funciona numa antiga moagem, no centro de Aljezur. Além da Mó, o único bistrô vegetariano da zona, a Moagem inclui programação cultural e workshops. A comunidade local também é chamada a participar: estão a registar em vídeo as memórias daqueles que frequentaram a moagem nos seus tempos áureos. Diogo Ruivo,


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10-08-2017

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País: Portugal

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Área: 17,55 x 24,71 cm²

Âmbito: Interesse Geral

Corte: 8 de 17

Vila Nova de Milfontes NOS PASSOS DE COUSTEAU PATRÍCIA REIS ESCRITORA E JORNALISTA Era o tempo mais lento. Havia um calor absurdo no carro sem ar condicionado. Os mais crescidos falavam por meias verdades, era o que me parecia, palavras sussurradas nas quais pressentia um mistério que talvez me fosse possível desvelar. Chegava a Vila Nova de Milfontes e carregava os sacos de compras para dentro da casa alugada. Não havia televisão. Não havia telemóveis. O grupo de estudantes de Biologia Marinha que eu acompanhava – uma das minhas primeiras tarefas, digamos, profissionalizantes, foi no rio Mira com estes universitários – gostavam de jogar às cartas e de atirar os corpos para o rio pela noite, num rasgo de ousadia. Ouviam-se os grilos e alguns pássaros noctívagos num trinar que acompanhava os risos. Como era preciso cozinhar, o queijo e o fiambre faziam as vezes de açordas e de outras propostas gourmet na versão alentejana. Uma lata de atum era quase como um copo de água: crucial. As férias que fiz na costa vicentina tiveram um pouco de tudo, mas sobretudo encheram-me com os sonhos dos outros, porque os estudantes tinham vinte anos, eram velhíssimos, estavam a léguas da minha existência e tomaram-me como mascote. Fui mascote de muita gente

“Fazíamos piqueniques noturnos, espreitávamos a casa de Amália Rodrigues, comíamos uma única vez num restaurante que mais seria uma tasca” durante muito tempo. Mania de me dar com gente mais velha. Fazíamos piqueniques noturnos, espreitávamos a casa de Amália Rodrigues, comíamos uma única vez num restaurante que mais seria uma tasca e lia-se o Expresso e Pablo Neruda. O mundo cabia na vila das mentiras (não é vila, não é nova e não tem mil fontes). Não existia nenhuma alma a tocar guitarra ou a cantar, mas teria sido idílico e cinematográfico. Jogava-se uma coisa de cartas chamada Escrúpulos e a discussão era certeira. Todas as noites esgrimiam-se princípios, valores, noções de ética. Na Vila, os locais olhavam-nos com um misto de admiração e espanto. É o que acontece com os bandos e, de certa forma, nós cumpríamos a função. Não éramos apenas

amantes da praia, do barco que leva para a outra margem; éramos aqueles que iam de pneumático, carregados de material, estudar as algas e outras coisas que nunca entendi (os universitários chamavam-lhes “pontos fixos do rio Mira”). A maioria fazia mergulho. Rapazes e raparigas que idolatravam Jacques Cousteau e que se sentiam-se especiais nos fatos de borracha preta, com máscara e pés de pato (sempre disse pés de pato, não gosto de barbatanas, não me parece tão bonito). Eu sempre me recusei a mergulhar. Sou de sequeiro. Porque a costa vicentina faz parte do meu percurso, mas não cumpre os requisitos do interior alentejano onde morava (e mora) uma parte da minha família. Gostava da praia, da descontração

da roupa folgada, dos segredos do rio e das conversas tardias, mas faltava-me a mão quente do meu tio-avô a dizer: vamos ali ao jardim; anda, vamos ver os outros. Assim, na minha moldura afetiva o Alentejo separou-se como um figo pingo de mel: de um lado, os mais velhos, as tradições, o pão, o queijo, as azeitonas e as sopas de beldroegas com queijo fresco; do outro, os mais novos – mas encantadoramente mais crescidos e sábios –, mergulhadores entusiastas, jogadores exímios de cartas, sem cantares pela noite de dentro, apenas com gargalhadas e coisas sussurradas. Alguns verões foram assim, em formas distintas de viver esse ser alentejano que nos cai bem na alma e aquece a memória quando calha a recordações.


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Aljezur

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País: Portugal

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Área: 18,00 x 23,76 cm²

Âmbito: Interesse Geral

Corte: 9 de 17

CASTELOS NA AREIA Não sei se o casal bíblico foi expulso de um momento para o outro ou se foi um processo lento. Acho que o fruto demora anos a ser comido e, no meu caso, demorou uma adolescência. Foi passada com as falésias que davam para a vertigem do mar das praias de Aljezur, Arrifana, Monte Clérigo, Amoreira, praias onde aprendi a nadar e a namorar. Nessas férias, comia sempre torradas de manhã antes de sair de casa. O pão de Casais, Marmelete ou do Rogil permitem torradas sublimes e, na altura, achava estranho o sabor perfeito do pão, tão diferente do de Lisboa. Era a levedura, a madre, que são organismos com personalidade. Li, a certa altura, num jornal inglês, que um homem herdou uma queijaria. Como era ambicioso decidiu expandir o negócio e comprou um armazém maior de modo a produzir mais queijos. Munido de uma receita vencedora, começou o seu empreendimento. Os queijos não concordaram com a mudança e saíram horríveis. O homem insistiu sem perceber o que se passava. Aos poucos, o queijo foi melhorando. Passados quatro ou cinco anos, já se assemelhavam aos originais. A diferença estava no ambiente. Como Ortega y Gasset dizia, somos “nós e as circunstâncias”. O queijo também. Só quando o ar, as paredes, os utensílios, se impregnaram de leveduras velhas, leveduras que se sentem confortáveis, é que o queijo voltou a sair perfeito. Não era a receita somente, era o contexto. E nós, tal como estas leveduras, também somos feitos do ambiente, das circunstâncias, do entorno. Quando estou feliz, sinto também o cheiro da minha adolescência: as estevas que rodeavam as praias, porque, nessa

AFONSO CRUZ ESCRITOR E ILUSTRADOR “Aljezur, Arrifana, Monte Clérigo, Amoreira, praias onde aprendi a nadar e a namorar” altura, era assim que cheirava a felicidade. Foi nesses campos que me deitei com a Marieke, uma das minhas paixões mais dramáticas da adolescência. Os pais dela gostavam muito de Brel e deram-lhe esse nome por causa de uma canção. Eu também gostava de Brel, mas essa música em particular passou a ter uma espessura diferente. Passou a ter o corpo de uma mulher. Quando nos separámos, senti ter sido expulso do Éden. Foi uma das muitas expulsões edénicas a que seria sujeito. Decidi comprar, um ou dois anos depois dessa paixão de verão, uma boa guitarra. Endividei-me com essa aquisição acima das minhas possibilidades: uma Fender Telecaster. Batizei-a de Marieke, talvez na esperança de a paixão que tive pudesse tornar-se a música que tocava. Esse batismo é um dos mais tenazes vestígios dessa adolescência e a primeira demonstração da nossa ineficácia a tentar não deixar morrer um passado idílico. Mas não deixa de haver algo épico nestas tentativas de abrir o ventre da morte, do esquecimento, da decadência e resistir

exibindo como arma a memória e a celebração. Devíamos suspeitar, ao ver as ondas desarrumadas da praia do Monte Clérigo, que a vida tende a transformar tudo em areia. Contudo, as construções dessa mesma areia, a mesma dos despojos dos nossos castelos, são um ato heroico. É preciso insistir. Um castelo para cada onda. Iremos perder, no final, e essa será a maior glória. A certa altura – tinha a carta de condução há muito pouco tempo –, tive um acidente junto à praia da Arrifana. Numa curva, bati de frente contra um poste. Se não fosse esse poste teria caído numa ravina e teria certamente morrido (o mal e o bem, a tragédia e a salvação estão sempre entretecidos). O carro foi para a sucata, a parte da frente era uma massa disforme. O volante ficou encostado à minha boca, bateu-me nos dentes e foi, felizmente, o único sangue derramado. De madrugada, os bombeiros, sem saberem que eu era o condutor, disseram-me que a pessoa que ia a conduzir estava obviamente morta. O meu óbito foi, nessa altura, um exagero.

Mas foi o fruto de que fala o Génesis: passamos a mortais depois de o provarmos. O poste custou-me cinquenta contos. Nessa noite fui irremediavelmente expulso do paraíso. Não voltei àquele lugar durante mais de vinte anos. A proximidade da morte, essa intimidade que ela conquistou nessa noite, mudou a minha vida definitivamente. Já não era o ser imortal que mergulhava nas ondas da Arrifana, passei a ser uma frágil entidade transitória que haveria de começar a trabalhar com o suor do seu rosto (como garantia o Génesis). Voltei a Aljezur este verão. Reencontrei o cheiro das estevas, esforcei-me por encontrar a minha juventude. Mas, mal ou bem, vivi algo muito diferente. É certo que a qualidade dos restaurantes se manteve, muito graças à matéria-prima, mas também se alterou, talvez devido à quantidade de estrangeiros e à interculturalidade (sargos grelhados convivem com pizzas). O medronho é um facto alquímico, e vale a pena visitar as adegas da região, ou, indo um pouco mais longe, conhecer as da serra de Monchique (a do Monte


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Âmbito: Interesse Geral

Corte: 10 de 17

Desorganização Os residentes da costa queixam-se do crescimento descontrolado do caravanismo e da falta de espaços preparados para o parqueamento

da Lameira será porventura a mais dramática). O processo de destilação do medronho é uma excelente parábola para a vida, mas bebê-lo é uma maneira mais segura de a compreender. É difícil comer mal em Aljezur. As torradas continuam perfeitas. A batata-doce continua a mais doce. Os percebes são a destilação do mar (de onde a melhor vista é junto ao restaurante O Paulo), e esse mar, para mim, garantidamente, melhorou. As ondas já não são como eram. Deixaram de ser um desafio e são menos ameaçadoras. Dantes, entrar no mar era uma luta. Agora, sei que o mar derrotava os nossos castelos com medo de que no futuro deixássemos de temer a sua fúria e que, em vez disso, apenas mergulhássemos sem preocupações, nadássemos, boiássemos. Chegou a altura de o fazermos. E foi isso, precisamente que aconteceu, desta vez, com os meus filhos: ao descer a falésia da praia da Amoreira, cruzando o pequeno rio, encontrámos o meu passado e o futuro deles.

lisboeta de nascença, mas algarvio de coração há quatro anos, aplaude a mobilização da autarquia contra os contratos de exploração de petróleo ao largo da costa algarvia e atribui ao Parque Natural o bloqueio das “extravagâncias” dos construtores. “É preciso ter muita calma ou pode-se estragar o que as pessoas mais apreciam. Não queremos outra Quarteira.” Os “novos rurais” que se mudaram para a região tornaram evidente a necessidade de apostar na oferta cultural. A iniciativa Lavrar o Mar garante uma programação artística regular, entre outubro e maio, numa tentativa de contrariar a concentração de turistas na época alta em Aljezur e em Monchique. A primeira edição realizou-se no ano passado e, para surpresa da organização, todos os espetáculos esgotaram. “Viemos responder a uma exigência da população que aqui vive”, diz o ator e encenador Giacomo Scalisi, 58 anos, diretor artístico do Lavrar o Mar, juntamente com a coreógrafa Madalena Victorino, 60 anos, vencedora do Prémio Universidade de Coimbra deste ano. O casal tem casa em Aljezur há uma dúzia de anos e planeava lançar um projeto na região há muito. A oportunidade surgiu com o programa 365 Algarve, uma iniciativa das secretarias de Estado da Cultura e do Turismo. Este ano, a programação voltará a cruzar-se com acontecimentos locais como o Festival do Medronho – o escritor Sandro William Junqueira reescreveu Romeu e Julieta ao estilo monchiquense, ou seja, duas famílias rivais destilam medronho. No tradicional Festival da Batata-Doce, Giacomo Scalisi fará uma versão do seu espetáculo Pasta e Basta,

um mambo italiano (no qual os espectadores cozinham o próprio jantar) à base de produtos algarvios. Apesar de atrair turistas, a programação é feita, sobretudo, a pensar nos residentes e nas questões locais, como a proliferação das estufas. “Quem está sentado nos bancos de jardim já não são os velhinhos que estávamos habituados a ver, mas sikhs com turbantes na cabeça. Há muitos problemas de inserção destas pessoas nas aldeias e é preciso encontrar formas de sociabilidade”, defende Madalena Victorino. No ano passado, a coreógrafa conseguiu mobilizar 90 destes trabalhadores para um dos seus espetáculos. “Muitos trabalhavam 12 a 14 horas por dia e só tinham a tarde de domingo livre, mas estavam muito motivados.” Nos períodos de colheita, o número de trabalhadores ultrapassa os 5 mil, esmagadoramente asiáticos. REGRESSO À TERRA

Sempre que Francisco de Brion, 40 anos, ia levar os filhos à escola e passava diante do abandonado Clube da Praia, à entrada da Zambujeira do Mar, pensava no potencial daquele lugar emblemático para a população local. Acabou por se juntar a três amigos para recuperar o espaço, reaberto em junho, com uma filosofia voltada para a alimentação biológica e a animação cultural. Além da lisboeta Cristina Chichorro, 37 anos, também o seu namorado, o alemão Timo Kappesser, 37 anos, e a francesa Margaux Naizain, 35 anos, estão envolvidos no projeto. Timo e Margaux residem em Odemira há escassos meses (a autarquia estima que 15% da população do concelho seja estrangeira). Francisco, que também é proprietário do ecocamping A Terra,


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Tiragem: 93360

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País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Semanal

Área: 18,00 x 27,00 cm²

Âmbito: Interesse Geral

Corte: 11 de 17

Zambujeira do Mar ONDE ME SINTO EM CASA

JORGE PALMA COMPOSITOR E CANTOR

Quando, em 1981, resolvi interromper as minhas longas deambulações, de guitarra em punho, por terras de França e países circundantes, achei por bem começar a esboçar uma espécie de plano de vida em Portugal. Nesse mesmo verão fui desembocar (acampar) em Porto Covo, onde ainda era permitido o campismo dito selvagem, sempre rodeado de amigos que, entretanto, me iam dando a conhecer outros pontos da costa alentejana, Zambujeira incluída. E assim foi acontecendo durante os anos 80 e parte dos anos 90, Porto Covo como base principal e, pouco a pouco, ir desbravando e admirando as maravilhas de toda a Costa Vicentina. A verdade é que, se nós escolhemos os lugares, são eles que acabam por nos cativar e por despertar em nós o desejo de sempre lá voltar. Os lugares e as pessoas que os habitam, a tempo inteiro ou em férias. Acontece que, de há 20 anos para cá, tem sido a Zambujeira a chamar-me com crescente intensidade, é lá que me sinto em casa com toda a gente, todos nos conhecemos

"A verdade é que, se nós escolhemos os lugares, são eles que acabam por nos cativar e por despertar em nós o desejo de sempre lá voltar"

e, se precisar dum serviço, dum medicamento ou de uma bela mariscada a qualquer hora do dia, sei que não vou ficar apeado. Os amigos são muitos, dentro da aldeia e espalhados pelos montes em redor. Os dias e as noites de confraternização, as festas, as coisas do arco-da-velha que a gente tem inventado ao longo destes anos não cabem num mero caderno de memórias. E depois... e depois há as belezas naturais, as praias e falésias (algumas bem difíceis de descer e escalar), a vegetação e os recantos

para todos os gostos e níveis de aptidão física. A minha praia favorita, bem como da minha companheira, é a dos Alteirinhos, cujo acesso não é assim tão complicado mas que faz muito veraneante pensar duas vezes antes de descer. Durante mais de 12 anos desfrutei do usufruto da Casa do Capitão em cada mês de julho, por vezes junho e setembro também. A sua localização privilegiada no topo duma falésia, uma grande esplanada em cima do mar, quartos para instalar mais de uma dúzia de amigos ao

mesmo tempo, uma sala ampla e simpática, tudo isso a dois passos do largo principal, fizeram dessa velha casa rústica uma significativa maisvalia para todas essas nossas férias na Zambujeira do Mar. Atualmente está desativada, mas não faltam pensões, casas e montes para todo o tipo de pessoas e bolsas, sem que os habitantes locais tenham de ser desalojados dos seus próprios lares. Convém fazer reservas com bastante antecedência e, sobretudo, ficar a conhecer esta apetitosa aldeia à beira-mar plantada.


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identifica na região o mesmo cosmopolitismo de quando vivia em Brighton, Inglaterra, há meia dúzia de anos: “Consigo estar à mesa com pessoas de dez países diferentes que vieram para aqui com o desejo de viverem a natureza.” A pensar na importância da ligação à terra, o chefe Ljubomir Stanisic, 39 anos, criou o Food Club, uma cozinha-ringue instalada no centro do Jardim Gastronómico do hotel Sublime Comporta. À volta do balcão há lugar para uma dúzia de pessoas que queiram (e possam) degustar os menus de jantar criados pelos chefes convidados pelo mentor da ideia (€125 por pessoa, com vinhos). Durante as semanas de combate (a próxima é de 11 a 15 de setembro, com o chefe João Rodrigues) há sempre um dia, ou mais, em que Ljubomir está presente. “Usamos a horta em todos os pratos e apostamos em produtos da região”, explica o proprietário do restaurante 100 Maneiras, no Bairro Alto. O arroz é, assim, um ingrediente-chave. “Tenho sangue alentejano, embora seja jugoslavo”, graceja. A “sua” aldeia é Alagoachos, em Milfontes, onde gosta de caçar e pescar. Mas, este ano, é na Comporta que tem estado mais tempo. “Passo 15 dias na cidade e outros tantos no campo. A cada ano, quero

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Pág: 51

País: Portugal

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Period.: Semanal

Área: 18,00 x 23,66 cm²

Âmbito: Interesse Geral

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passar mais um dia no campo, ou seja, daqui a 15 anos estarei a mudar-me para o campo.” Orgulha-se de conhecer Portugal de “ginjinha” e sente que os portugueses estão a olhar cada vez mais para o seu país. Irrita-se com a associação da Comporta a turistas de elite: “Podes alugar uma casinha barata ou escolher uma das três pensões da Comporta. Não gosto de sítios elitistas.” A proprietária da cadeia de roupa e acessórios Hippie Chic – um estilo que ainda não saiu de moda na região – confessa que a loja de Troia é aquela onde os clientes têm mais poder de compra, comparativamente com os espaços de Porto Covo e Milfontes. “Temos peças de €20 a €200 e, em Troia, vendem-se mais as peças de €200”, revela Margarida Bartolomeu, 36 anos. “Chegam-nos muitos clientes da Comporta.” A empresária ainda sente os efeitos da sazonalidade nas vendas, mas Ljubomir acredita que a época baixa tem os dias contados. “Se houver projetos bons, que chamem a atenção dos clientes, as pessoas vêm. Temos 300 dias de sol por ano, há poucos países assim.” Com a veemência que lhe é conhecida, decreta: “A época baixa, garanto, vai morrer em Portugal inteiro.” Torna-se difícil duvidar. vfmaia@impresa.pt

Retorno Anualmente, o surf gera cerca de €5,8 milhões e atrai 80 mil surfistas a Aljezur

Ljubomir Stanisic irrita-se com a associação da Comporta a turistas de elite: “Não gosto de sítios elitistas”


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País: Portugal

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Period.: Semanal

Área: 18,00 x 24,06 cm²

Âmbito: Interesse Geral

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Sabores do mar e da terra Sete restaurantes a não perder ao longo da costa, entre Comporta e Sagres. Ou uma (boa) maneira de confortar a vista – com o estômago

COMPORTA

Chegando ao Alentejo Litoral pelo norte impõe-se uma paragem no restaurante Dona Bia. Tem ambiente acolhedor e boa cozinha regional, capaz de fazer maravilhas com o arroz, os peixes e os mariscos em que a terra e o mar em redor são férteis. Arroz de lagostinha, de lavagante, de garoupa, de cherne, de tamboril, de polvo, de lingueirão, de camarão e arroz de pato são exemplos desse manancial. Porém, o prato mais emblemático é o peixe-galo com açorda de ovas, verdadeiro regalo, a que se juntam o pregado à Bulhão Pato com arroz de feijão, a canja de garoupa e a grelhada mista com arroz de queijo. Boa doçaria caseira. Garrafeira adequada. Serviço competente. > EN 261, Torre, 7580-681 Comporta, Alcácer do Sal T. 265 497 557 seg, qua-dom 12h-16h, 19h30-22h30 €20 (preço médio)

Chez Daniel SANTO ANDRÉ

Ir ao clássico Chez Daniel, em Santo André, é

inevitável. Abriu em 1925 e mudou de instalações e de lugar em 2011, mas permaneceu na posse da mesma família e fiel à cozinha portuguesa. Peixe da costa e carnes certificadas são os seus pontos fortes. Merecem destaque, nas entradas: amêijoas, camarão ao alhinho, paio de porco preto e queijo alentejano (fresco e seco); nos pratos principais: peixe grelhado – robalo, dourada, linguado, pregado, salmonete, o que o mar dá –, ensopado e caldeirada de enguias, bife e costeletas de vitela (Limousina) e de porco preto; nas sobremesas: arroz-doce e musse da casa. Garrafeira alentejana, do barato ao mais caro. Serviço eficiente e simpático. > Costa de Santo André, Santo André, Santiago do Cacém T. 269 749 779, 96 942 5031 seg-ter, qui-dom 12h-15h, 19h-22h €20 (preço médio)

Marquês PORTO COVO

O largo da igreja, à entrada de Porto Covo, parece a sala de visitas da povoação, onde toda a gente acorre, acabando, invariavelmente, na cer-

vejaria Marquês. Vale a pena, porque há sempre muito e bom marisco – amêijoas, bruxas, camarão da costa, navalheiras e perceves –, além de outros petiscos apetecíveis para entrada. Nos pratos principais destacam-se os arrozes de carabineiros com camarão e amêijoas, de lingueirão e de marisco, este cheio de sabor, mas também de cascas, que atrapalham; o peixe do dia grelhado de frescura irrepreensível; e as presas de porco preto com migas de brócolos. Doçaria tradicional. Garrafeira adequada. Serviço competente. > Lg. Marquês de Pombal, 10-11, Porto Covo, Sines T. 269 905 036 seg-dom 12h30-22h30 (15 jul-15 set); encerra à terça no resto do ano e, de novembro a março, só abre de sexta a domingo €25 (preço médio)

Porto das Barcas VILA NOVA DE MILFONTES

É tão bom preguiçar na esplanada, depois da praia, olhando o mar, como recolher-se na sala, à hora da refeição, saboreando bons peixes e mariscos. O restaurante-bar Porto das Barcas,

JOSÉ CARIA

Dona Bia

D.R.

M A N U E L G O N Ç A LV E S D A S I LVA

O Sacas

Sítio do Forno

instalado nas arribas do porto de pesca de Vila Nova de Milfontes, convida para esse duplo prazer. Ao consultar a ementa dificilmente se resiste ao marisco para entrada, sejam as simples amêijoas e navalheiras, sejam os mais circunspectos camarão-tigre, carabineiro e lavagante; depois, há dois pratos emblemáticos: o polvo da costa na frigideira com maionese de laranja e o arroz de limão com robalo e amêijoas. Pode acrescentar-se o peixe do dia grelhado. A sobremesa mais célebre é a musse de chocolate gelado com flor de sal e azeite. Garrafeira só portuguesa e maioritariamente alentejana. Serviço simpático. > Estr. Canal, Vila Nova de Milfontes, Odemira

T. 283 997 160 seg, qua-dom 12h-23h (seg-dom, em agosto) €25 (preço médio)

O Josué ALMOGRAVE

Antiga taberna e mercearia transformada num dos restaurantes mais populares da região. Tudo nele é simples, desde a salinha de entrada com balcão e aquário de marisco e da sala interior com decoração e ambiente familiares, até à cozinha, baseada em mariscos e peixes. Para entrada, há perceves, navalheiras, santolas, camarão da costa, amêijoas à Bulhão Pato e moreia frita, entre outros petiscos; nos pratos principais destacam-se, além do peixe


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D.R.

Porto das Barcas

JOSÉ CARIA

FILIPE POMBO

JOSÉ CARIA

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Dona Bia

grelhado – sargo, robalo, linguado, cherne e outros –, o arroz de tamboril e de marisco, a massada de peixe, o peixe frito com arroz de tomate, as migas com carne de porco, a carne mista com camarão e amêijoas e o coelho frito. Doçaria tradicional. Garrafeira alentejana. Serviço simpático. > R. José António Gonçalves, 87, Longueira, Almograve, Odemira T. 283 647 119, 93 652 0048 seg-dom 12h-24h (jul-set, no resto do ano encerra terça) €22 (preço médio)

O Sacas

ZAMBUJEIRA DO MAR Aninhado no alto da falésia que enquadra

o pequeno porto de pesca de Zambujeira do Mar, O Sacas é um restaurante sedutor, tanto pela beleza da paisagem em que está inserido como pelo sabor da cozinha. Tão natural e agradável é o que se vê como o que se come. A ementa baseia-se nos mariscos e peixes da costa, sendo irrecusáveis os búzios, navalheiras e perceves, para entrada; o peixe do dia grelhado – sargo, pampo, sardinha, anchova, sarrajão (atum daquela costa) e outros, conforme a época e o mar –, o polvo à pescador (com molho de tomate e batata-doce), os filetes de peixe-aranha com migas alentejanas, os bifes de peixe à Ti Ana, a feijoada de búzios e muito mais para

Tiragem: 93360

Pág: 53

País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Semanal

Área: 18,00 x 27,00 cm²

Âmbito: Interesse Geral

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Marquês

Chez Daniel

prato principal. Doçaria tradicional. Garrafeira adequada. Serviço diligente e simpático. > Entrada da Barca, Zambujeira do Mar, Odemira T. 283 961 151 seg-dom 12h30-22h30 (jul-ago, no resto do ano encerra quarta)

A gastronomia da região, invulgarmente rica em mariscos e peixes do mar, contempla também bons produtos da terra

€30 (preço médio)

Sítio do Forno CARRAPATEIRA

Sobranceiro à praia do Amado, no ponto mais alto da falésia, o Sítio do Forno tem uma vista privilegiada da Costa Vicentina e uma cozinha especializada em peixes e mariscos, com intervenção culinária li-

mitada ao indispensável para realçar a qualidade única dos produtos. Depois das amêijoas, do camarão da costa ou dos perceves, que sabem a mar, insinuam-se os peixes grelhados – robalo, dourada, sargo, entre outros –, as cataplanas, quer de polvo com batata-doce, quer mista com vários peixes e mariscos, a massada de peixe, o arroz de marisco e o bife à casa com amêndoas e ananás. Para sobremesa, banofi, que é o doce da casa, de banana, bolacha e natas. Garrafeira diversificada, Serviço simpático. > Sítio do Forno, Praia do Amado, Carrapateira, Alzejur T. 282 973 914 ter-dom 12h30-22h €25 (preço médio)


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País: Portugal

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Área: 18,00 x 27,00 cm²

Âmbito: Interesse Geral

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Estrelas no céu Dos resorts de luxo às casas de turismo rural, são muitos os lugares onde se pode ficar ao longo da costa alentejana e vicentina. Para noites bem dormidas e sestas mais do que merecidas

COMPORTA

Começou por ser a casa de férias de Gonçalo Pessoa e da sua mulher Patrícia, mas aos poucos o Sublime Comporta – Country House Retreat & Spa, na Herdade da Comporta, foi ganhando novos quartos, contando atualmente com 50, distribuídos por dois edifícios e por vilas inspiradas nas cabanas da zona. Para lá do descanso e das idas à praia, é possível andar de bicicleta pelo pinhal, dar um passeio de jipe ou reservar mesa no restaurante Sem Porta, do chefe Ljubomir Stanisic. > EN 261-1, Muda, Comporta, Alcácer do Sal > T. 269 449 376 > época baixa €185 (quarto) e €515 (vilas para 4 pessoas), época alta €300 (quarto) e €900 (vila para 4 pessoas)

Santiago Hotel Cooking & Nature SANTIAGO DO CACÉM

Desde a abertura, em julho, que a gastronomia é a aposta do Santiago Hotel Cooking & Nature, a poucos minutos do centro de Santiago do Cacém. Prova disso

é a mercearia e o restaurante À Terra, mas também os workshops de culinária e as degustações que o novo boutique hotel organiza. O edifício, desenhado pelo arquiteto Francisco Aires Mateus – e que já tinha sido o hotel Caminhos de Santiago –, foi remodelado, albergando agora 32 quartos, ginásio, piscina exterior e ainda uma loja de desporto. > R. Cidade de Beja, Santiago do Cacém > T. 269 249 900 > época baixa €90, época alta €133

Casa na Costa Alentejana PORTO COVO

Paredes caiadas de branco, cercaduras azuis e portas vermelhas – é uma casa alentejana em Porto Covo, claro que é, e está equipada para receber até oito pessoas, em quatro quartos. Dali ouve-se e vê-se o mar, mas não falta campo em volta. A pequena piscina, o alpendre com uma mesa corrida e bancos almofadados, a rede e as espreguiçadeiras ao sol convidam a dias longos sem sair de casa, entre amigos e família. > Porto Covo, Sines > T. 96 202 1293 > época baixa €1200/semana, época alta €2900/sema-

na (fora da época alta, é possível alugar menos de uma semana)

Monte Teima

Herdade do Reguenguinho CERCAL DO ALENTEJO

Herdade de família, recuperada para receber hóspedes já lá vão 12 anos, fica a curta distância do Cercal. Susana e Ricardo, os proprietários, chamam-lhe chillout resort, para dizer que a Herdade do Reguenguinho convida a viver o lado bom da vida, seja deitado à beira da piscina seja aproveitando as bicicletas para um passeio até à barragem de Campilhas. Com capacidade para 16 pessoas, dispõe de suítes e quartos duplos. E ainda duas casas palafitas, todas envidraçadas, com vista para os 20 hectares de montado, e arredadas da casa principal. > N262, Espadanal, Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém > T. 96 750 3597, 269 904 985 > época baixa €100, época alta €110, casas palafitas: época baixa €150, época alta €160

Herdade da Estacada ODEMIRA

Quase 90 hectares cercam a Herdade da Esta-

Sublime D.R.

Sublime

NUNO BOTELHO

GABRIELA LOURENÇO, INÊS BELO E SANDRA PINTO

Sítios que convidam a viver o lado bom da vida, seja a ver o mar, a mergulhar na piscina ou a andar de bicicleta pelo campo

cada, em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano. Os oito quartos são amplos, com janelas e portadas abertas para a paisagem a perder de vista, num alpendre que pede descanso e conversas ao luar. Tanto mais que por aqui não há televisão. Se encomendar, pode levar um piquenique para a praia ou para o campo. E também têm bicicletas, disponíveis para percorrer os trilhos e descobrir cores, cheiros e paisagens. > Estrada Nacional 393, km 14.2, Odemira > T. 91 688 0764/5 > época baixa €80, época alta €120


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País: Portugal

Cores: Cor

Period.: Semanal

Área: 18,00 x 27,00 cm²

Âmbito: Interesse Geral

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sas. Da Casa da Pereira, um T0 com 20 metros quadrados, à Casa Principal, um T3 de 310 metros quadrados, são várias as opções de alojamento.

NUNO BOTELHO

> Vale da Ribeira de Odeceixe, Odeceixe, Aljezur > T. 91 444 3717 > época baixa €75 (T0) e €225 (T3), época alta €110 (T0) e €395 (T3)

Amazigh Guest House

Pé no Monte

NUNO BOTELHO

ALJEZUR

Herdade do Reguenguinho

Monte da Teima SÃO TEOTÓNIO

Cinza, Água e Amber. Foram estes os nomes que Luísa Sarmento Botelho deu aos dois quartos e a uma suíte que compõem a nova ala do Monte da Teima. Na decoração foi mantida o que já é uma tradição deste turismo rural: não recorrer a mobiliário feito em série e escolher um tom dominante que dá, já se vê, nome aos quartos. São agora nove, todos com varanda privada – uns virados ao jardim, outros para a piscina. Para se ter as duas vistas, só ficando na nova suíte, em open space e deck com 40 metros quadrados.

> Vale Juncal, São Teotónio, Odemira > T. 96 162 2239, 92 918 1038 > época baixa €115, época alta €175, suíte: época baixa €170, época alta €280

Pé no Monte SÃO TEOTÓNIO

Famílias com crianças, é por aqui: duas piscinas, um pequeno areal para brincar, sala de jogos (matraquilhos e pingue-pongue, sim), trampolins, bicicletas, almofadões e redes para descansar (e baloiçar!)… Em São Teotónio, Helena, Gonçalo e os seus três filhos recebem os hóspedes em seis quartos e nove T1 e T2, todos com um

terraço e espreguiçadeiras. E ainda existe um restaurante na herdade, com gastronomia tradicional. > São Teotónio, Odemira > T. 91 662 4452 > época baixa €50 (quarto) e €100 (apartamento), época alta €140 (quarto) e €170 (apartamento)

Monte West Coast ODECEIXE

Foi à procura de uma casa de férias que Catarina e Ricardo encontraram um terreno com várias ruínas no Vale da Ribeira de Odeceixe. Aos poucos, têm feito a recuperação e hoje já contam com nove ca-

Fica à entrada de Vale da Telha, a cinco minutos das praias de Monte Clérigo e Arrifana, esta antiga albergaria transformada em guest house. Com 23 quartos, todos com casa de banho, apostou-se numa decoração simples, em tons claros e com madeiras, pedras, boias de pesca e outros materiais encontrados nas praias. Lá fora, o jardim é grande, com zonas de estar e court de ténis, e os dias quentes pedem mergulhos nas duas piscinas – uma para adultos, outra para crianças. > Urb. Oceano, Lote 10, Vale da Telha, Aljezur > T. 282 995 149, 96 242 4632 > época baixa €69, época alta €159

Muxima ALJEZUR

A paixão pela natureza revela-se na piscina biológica, nos painéis solares, na vegetação, na ausência de alcatrão, nos espaços ajardinados... Já os três quartos duplos e as quatro suítes familiares, levam os hóspedes a viajar pelos cantos do mundo visitados por Sofia Faustino, a proprietária.

> Montes Ferreiros, Aljezur > T. 282 995 420, 91 705 9969 > época baixa €90 (quarto) e €145 (suíte com kitchenette para 4 pessoas), época alta €110 (quarto) e €215 (suíte para 4 pessoas)

Monte Velho CARRAPATEIRA

Quem ficar alojado no Monte Velho Retreat Centre, do casal Vera e Henrique Balsemão, entre a Carrapateira e a Vilarinha, pode pura e simplesmente não fazer nada. Isso mesmo. Ou então... fazer tudo. Porque, apesar da tranquilidade que se vive neste monte alentejano, também há atividades: aulas de ioga, mergulhos na barragem, massagens... Os quartos são 12, com decoração rústica e uma rede privativa. > Carrapateira, Aljezur > T. 282 973 207 > época baixa €120, época alta €140

Martinhal Beach Family Resort SAGRES

No Martinhal Sagres Beach Family Resort, as crianças podem aventurar-se numa caça ao tesouro ou na sala de jogos. Já os adultos, são convidados a tomar banhos de sol, a mergulhar numa das quatro piscinas do resort ou fazer uma massagem no spa. O hotel (de cinco estrelas) dispõe de 35 quartos e três restaurantes. > Qt.ª do Martinhal, Sagres, Vila do Bispo > T. 21 850 7788 > época baixa €185, época alta €355


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TEXTOS EXCLUSIVOS ZAMBUJEIRA DO MAR por JORGE PALMA ALJEZUR por AFONSO CRUZ COMPORTA por MARGARIDA REBELO PINTO VILA NOVA DE MILFONTES por PATRÍCIA REIS


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