O tesouro natural do Algarve

ID: 65105948

01-07-2016

Tiragem: 150000

Pág: 40

País: Portugal

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Period.: Semanal

Área: 17,70 x 24,00 cm²

Âmbito: Viagens e Turismo

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O TESOURO NATURAL DO ALGARVE :17_1•1:1.[1.-1.1 No ponto mais a sul de Portugal continental, a ria Formosa è um dos mais

importantes ecossistemas do pais, onde a natureza é o ponto de partida para descobrir um território único, feito de saberes e sabores ancestrais.

IEXTO 1 MIGUEL JUDAS FOTOS 11F GONÇALO VILLAVERDE

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A Casa Modesto, em Olhão, foi recentemente ed..— pelo New York Times como um dos oito melhores hotéis familiares da Europa.

Manuel liga o gerador para servir dois cafés, o que o obriga a alguns minutos de espera, ocupados com dois dedos de conversa. Aponta-nos, algumas portas ao lado, a primeira casa a ser edificada na ilha, por Manuel Lobisomem. o primeiro pioneiro. que também dá nome à rua. Numa mesa próxima, Cláudio Paciência levanta-sede um salto: «Era o meu bisavô», exclama. Ao contrário das restantes aldeias da ilha, Culatra e Farol, os Hangares (o nome vem de uma velha base de hidroaviões, do tempo da I Guerra Mundial) tem-se mantido intocada pelo turismo.

Protegida por um imenso cordão dunar arenoso litoral de praias e dunas, a ria Formosa é um complexo sistema laão tire nada além gunar em permanente mudande fotos, não dei- AS ILHAS DE ça, devido à influência de ventos, xe nada além de CULATRA E DO FAROL correntes e marés. Estende-se ao pegadas, não leve TÉS-SE MANTIDO longo de 60 km de costa desde nada além de sau- INTOCADAS E NELAS o Ancão (no concelho de Loulé) dade», é com es- VIVEM PARENTES até à Manta Rota (no concelho de te singelo aviso que são dadas as DOS PRIMEIROS Vila Real de Santo António) e é boas-vindas aos visitantes na pe- HABITANTES. composta por duas penínsulas quena aldeia de Hangares, um das e cinco ilhas-barreira (península três existentes na ilha da Culatra. do Ancão, ilha da Barrela ou DeFoi aqui que se fixaram os pioneiros. comofi- serta. ilha da Culatra, Ilha da Armona, ilha de carain conhecidos os primeiros pescadores Tavira. ilha de Cabanas e Península de Cace a habitara ilha. no final do século xix. E o cená- Ia), sapais. bancos de areia e de vasa, dunas, rio pouco mudou desde então, como depres- salinas, lagoas de água doce e salobra, cursa se constata ao caminhar por estas ruas pa- sos de água, áreas agrícolas e matas, num divimentadas a areia. Na esplanada improvi- versidade floristica e faunística, classificada, sada da Tasca do Fininho, o proprietário José desde 1987. como Parque Natural.

N A PerNatur promove caminhadas pela Rota das Aves, na zona ribeirinha de 01hZto

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A Algarve Wow promove passeios de barco pela Rota dos Viveiros e servem-se ostras frescas na paragem do porto da ilha de Culatra.

A esquerda, Claudio Paciéncia ainda vive na Culatra, da qual o bisavô Manuel Lobisomem (que da nome a uma das ruas) foi dos primeiros habitantes

A na Formosa tem 80 km, estendendo-se desde Ando atile) ate Vila Real de Santo e e paisagem protegida desde 1987

«Um dos melhores modos de conhecer este verdadeiro paraíso da biodiversidade é

DORMIR

de barco», afirma Paulo Gonçalves, ao atra-

CASA MODESTA Quatrim do Sul, Olhão Tel 964 738 824 / 289 701 096 isininv.casamodesta pt Quarto duplo a partir de 120 euros, com pequeno-almoço

car o seu moderno iate na Ilha da Culatra, onde nos irá dar a provar, ali mesmo no porto, uma das maiores riquezas destas águas. as ostras. Para além da variedade de peixe e marisco aqui existente, a ria é especialmente conhecida por ser um verdadeiro viveiro de bivalves. como a amêijoa e a ostra. as

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espécies mais cultivadas pelos mariscado-

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res da região, que aqui produzem cerca de 80 por cento do total de exportação do pais. «É sempre um dos momentos altos dos passeios, afinal não é todos os dias que se provam umas ostras assim, acabadas de apanhar», sustenta Paulo, enquanto o viveirista losé António abre com mestria os bivalves.

São vários os programas de passeios da Algarve Wow, a empresa de passeios de barco fundada há dois anos por Paulo. O mais simples. de meio-dia, que inclui sempre a

No showcouking t dzinha tradit initai algarvia, promovido pelo tu icismo rural Ge,i mntie,,k? e aprende-se a t.iier ataplana

VILA ADENTRO Praça D Afonso Terceiro.

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de passageiros, que pode ir até aos 8», explica. Os passeias são sempre acompanhados da bióloga marinha Nadja Velez, ou não fosse este um dos mais importantes ecossistemas do pais e um autêntico viveiro natural.

A RIA NO PRATO

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O restaurante Veta Artr.,nuo a a dentro das muralhas, no centre,

degustação de ostras, custa 480 euros, enquanto o Ria Formosa Lés-a-Lés, de sete horas por terra e mar, custa 1600. e o Passeio do Guadiana. até Alcoutim, sobe aos 2200. Para além destes, têm também passeios temáticos, como os noturnos Moonlight Gin (800 euros)

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ou o Wow Under the Stars (350 euros), para além de todo o tipo de programas à medida, que incluíram já um pedido de casamento e respetivo jantar romãntico, numa das muitas praias desertas destas ilhas. «O preço é sempre o mesmo. independentemente do número

Não é portanto de admirar que a mesa seja também um dos locais onde melhor se aprecia toda esta riqueza. E atualmente há toda uma nova geração de chefs que está a reinventar todo o manancial de sabores que a ria lhes oferece. É o caso de Cecilia Paixão, uma antiga estudante de quimica, que aprendeu a cozinhar no restaurante dos pais e é hoje a responsável pela cozinha do renovado Gilão. em Tavira, mesmo em frente do rio que lhe dá o nome. Aberto há cerca de um ano por Angela Botelho, uma engenheira zootécnica que herdou o antigo café dos pais no mercado de Tavira, a casa tornou-se em pouco tempo uma referência da restauração da cidade.«Fazia falta diferenciar e mostrar o que é local e regional, com uma outra apresentação, mais contemporãnea», sublinha Angela, enquanto serve as entradas, também elas fiéis a esta premissa: pão algarvio fatiado, manteigas de amendoim e de lima, ricota com tomate seco e manjericão ou muxama de atum com vinagrete de figo e laranja acompanhada de nímia e agrião. A mesa chegaram depois alguns dos petiscos mais afamados da casa: tempura de polvo com mel picante e chamuça de cavala com milho de caril e gengibre. «uma criação minha para despachar algumas latas

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A segunda geração deu ao restaurante Gilão, no mercado de Tavira, um fôlego contemporâneo, com uma cana de base tradicional e muita fusão

de conserva», explica Cecília e que acaba ria to à ria. Recentemente eleita pelo New York por se tornar um dos seus pratos de assinatu- Times um dos oito melhores hotéis familiares da Europa, «pelo modo cora. Mas ainda faltavam os pratos principais: polvo com batata-domo fazem os hóspedes sentirce nobarro, lombinhos de porco NA ANTIGA CASA se em casa», a Casa Modesta «é em molho de uvas e batata-doce CONSTRUIDA PELO um projeto de memória», como frita e lombo de atum em cebo- BISAVÓ, CARLOS o apresenta o proprietário Carlada oriental e migas de pimen- FERNANDES CRIOU los Fernandes. A antiga casa da tos vermelhos. Com a refeição a O TURISMO RURAL familia, construída pelo bisavó prolongar-se pela tarde adentro. DE CHARME «CASA de Carlos. Joaquim Modesto de achegada à Casa Modesta acabou MODESTA» Brita, conhecido na vizinhança como O Campedo. foi o alicerpor acontecer já quaseao sol-posto. E ainda bem que assim foi. pois ce deste projeto de turismo runão há hora melhor para se apreral de traços contemporâneos. ciar este pequeno hotel, situado na zona ru- composto por nove quartos e pátios privaral de Quatrim do Sul. em Olhão, mesmo jun- dos. horta biológica. jardim, piscina natural

e solário. «É uma casa cheia de memórias, que não podíamos deixar morrer», diz Carlos. «Há quem lhe chame férias, nós chamamos-lhe cultura», brinca Carlos, que de vez em quando ali realiza workshops de barro, cesta ria ou brinquedos de cana, para além das já habituais sessões de showcooking, como a que organizou nessa noite para os hóspedes. Os preparativos começaram cedo, na cozinha da Casa Chã, a parte antiga da propriedade, onde hoje funciona zone lounge, à volta do antigo forno a lenha.

A volta dos tachos estão Rolando Correias e Sandra Patrão, um casal de professores com gosto pela cozinha, que transformaram num negócio de catering personalizado ao domicílio, de seu nome Algarve Cooking.

«Costumavam cozinhar para amigos e foram eles que nos convenceram a avançar», recorda Rolando, enquanto ultima a cataplana de amêijoas que servirá de entrada.

Para prato principal, prepararam um borrego, «comprado a um produtor da serra».

Será acompanhado de um arroz de coentros e salicórnia, uma erva da ria, com sabor a sal. «apanhada aqui mesmo, pela manhã»... •

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FIM DE SEMANA PELA NATUREZA, NA RIA FORMOSA