ID: 73828726
02-03-2018
Meio: Imprensa
Pág: 24
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Quinzenal
Área: 21,50 x 28,40 cm²
Âmbito: Viagens e Turismo
Corte: 1 de 5
Turismofobia (ainda) não é ameaça em Portugal >> Inês de Matos
imatos@publituris.pt >> Fotos: DR
Em 2017, Portugal terá recebido mais de 20 milhões de turistas, muitos dos quais com destino a Lisboa e Porto, as duas maiores cidades do País, que têm registado também os maiores crescimentos turísticos. O crescimento do Turismo tem vindo a pressionar essencialmente os bairros históricos de Lisboa e Porto, motivando críticas e acusações de excesso de Turismo. Daí até ao surgimento de movimentos de Turismofobia pode ser um passo, como tem acontecido pela Europa. Mas, por enquanto, ninguém parece acreditar na hipótese destes movimentos ganharem força.
Com 50 mil habitantes e 30 milhões de turistas por ano, Veneza é actualmente um dos maiores exemplos de como o excesso de Turismo pode contribuir para o surgimento de fenómenos sociais perversos. A turismofobia é, actualmente, um dos mais citados. Há muito que os canais venezianos foram invadidos por turistas e com isso chegou também um inevitável aumento
dos custos, seja da habitação ou dos serviços. Viver na cidade é cada vez mais um luxo que muitos não querem, e poucos podem comportar. Resultado: Veneza tem perdido mil residentes a cada ano, as lojas de bairro foram substituídas por cadeias internacionais e a pressão causada pelos cruzeiros traz graves ameaças ambientais. Daí ao surgimento de movimentos anti-turismo foi um salto.
Em Julho de 2017, cerca de duas mil pessoas percorreram as ruas de Veneza em protesto contra o aumento das rendas provocado pelo aluguer turístico e os prejuízos ambientais causados pelos cruzeiros. Barcelona seguiu rapidamente o exemplo de Veneza, com várias manifestações contra a chamada ‘invasão do século XXI’ e, a partir daqui, a palavra turismofobia entrou definitivamente no dicionário de muitas cidades europeias. Lisboa e Porto, incluídas. As críticas a um possível excesso de Turismo nas duas maiores cidades portuguesas começaram quase em surdina, à medida que os bairros históricos foram assistindo a um aumento da procura, e dos despejos para que as casas dessem lugar a estabelecimentos de alojamento local ou hotéis. Hoje, já são públicas, como as da deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, num artigo de opinião assinado no Jornal de Notícias, no Verão passado, sob o título “Turismo ou Maldição”, em que constatava que “a vida em certas zonas das cidades está a tornar-se insuportável. As rendas dispararam, a circulação em
certas áreas é impossível e os preços também. A Lisboa e o Porto de que os turistas tanto gostam vão desaparecendo a cada dia”. Mas das críticas à existência real de movimentos de turismofobia vai um largo passo e, como diz Graça Joaquim, professora da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE) e especialista em questões sociais, este fenómeno, em Portugal, ainda é “bastante incipiente, quando comparado com outros países ocidentais”. Graça Joaquim explica que a turismofobia tem “várias causas distintas”, mas elege a “gentrificação acelerada” e as “questões ambientais graves” como os gatilhos que espoletaram o surgimento de “grupos de activismo claramente hostis, e na fronteira da violência para com o Turismo”, em cidades como Barcelona e Veneza. Apesar de ser possível identificar as causas deste fenómeno, a especialista adverte que “muitos dos problemas que são comumente atribuídos ao Turismo têm, na verdade, a ver com as relações laborais, com a desregulamentação e especu-