Retratos na Ria

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barlavento.pt | 09mar2017 | Nº2049

atualidade

Os ilhéus também têm direito à arte

«Retratos na Ria» mostra 12 fotografias originais em cais e pontos de embarque. Inserida na «365 Algarve», a exposição foi a única iniciativa cultural proposta para este território Bruno Filipe Pires | bruno.pires@barlavento.pt

As estacas de madeira que delimitam as fronteiras dos viveiros de bivalves, não muito distantes da vista, inspiraram os suportes das fotografias de Jorge Jubilot. Têm dupla face. Uma virada para quem vem de barco, outra para quem vem de terra. Não estão muito elevadas para as crianças também as poderem apreciar. Carlos Norton, da associação Fungo Azul, produtora da iniciativa, explicou o conceito aos jornalistas, num passeio de barco, na passada quartafeira, 1 de março.

«Há muito tempo que acho que o Algarve é um sítio incrível em número de criadores e produtores, mas falha o elo seguinte. Para onde é que vai todo esse trabalho criativo, esse trabalho artístico? Às vezes, fica em casa, fica fechado em casa ou em salas e espaços que não são visitados. É preciso criar o hábito de mostrar, de convidar» a fruir, explicou. A mostra surge em colaboração com a banda algariva OrBlua, que produziu uma coleção fotográfica intitulada «Retratos Cinéticos»,

editada em formato híbrido livro/CD, e que ganha assim, uma nova vida. Norton reconhece que «a falta de formação de públicos» não é um problema exclusivo do Algarve, mas é uma situação que só se consegue reverter «com muitas tentativas, com muita oferta e criando uma mentalidade» aberta às propostas artísticas. No entanto, «antes de irem elas à arte, também podemos nós levar a arte às pessoas e foi um pouco esta a ideia» por detrás da exposição «Retratos na Ria». «Apostar em locais que já são frequentados,

Bruno Filipe Pires

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quer pelos turistas que visitam a Ria Formosa, quer pelos ilhéus que todos os dias apanham os barcos-carreira. A surpresa de chegar ao cais de embarque e verem uma fotografia, uma obra de arte, uma peça de arte, vai certamente mexer com as pessoas e criar essa ideia que podem ter acesso à cultura», defendeu. «Se calhar daqui a uns tempos, se passarem por uma galeria, alguns vão querer entrar, coisa que não terão feito até hoje. Por isso, num cenário que, já por si, é uma peça de arte única, quisemos conjugar as fotografias do Jorge Jubilot com a beleza natural da paisagem». Dália Paulo, comissária do «365 Algarve» revelou que esta foi a única iniciativa proposta a este programa de ani-

mação cultural no território da Ria Formosa. Será desinteresse por parte dos agentes culturais da região? Vanessa Morgado, do Movimento SOS RIA Formosa, não se admira, contudo. «Nada nos chega e é dessa forma que têm conseguido com que a população deixe de morar efectivamente nas ilhas-barreira. Não temos direito a água e esgotos, quanto mais à arte», comentou ao «barlavento», sublinhando, porém, que a iniciativa é bem-vinda. E que os ilhéus estão recetivos e dispostos a acolher outras que possam surgir no futuro. Nesse aspeto, também Dália Paulo reconhece mérito. «Este projeto é único e enquadra-se muito bem no espírito do 365 Algarve, que é um programa de coesão territo-

rial. Acima de tudo, quer ser um programa disseminado por espaços não-convencionais, em que a cultura se encontra connosco na rua. Connosco, algarvios e também com os turistas, para que possam perceber que este é também um lugar de cultura. Podem familiarizar-se com este olhar nosso, sobre quem somos. É interessante dar ao outro aquilo que ele viu», sublinhou. Pois «que fiquem encantados e que possam descobrir um pouco mais sobre o que é esta Ria e sobre tudo o que tem para nos contar». «Retratos na Ria» está patente até 30 de abril, no cais de Faro, Olhão, Fuseta, Santa Luzia e Tavira, e também nos das ilhas de Faro, Deserta, Farol, Culatra, Armona, Fuseta e Tavira.


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