Vamos falar de política?!
Nerd is the new Sexy
a abordagem dos produtos televisivos de sucesso sobre o assunto
uma análise sobre a popularidade e massificação da cultura nerd
igualdade nas HQs
a busca por representatividade na nona arte
Especial: Mulheres Nerds Mulheres nas HQs Entrevista: Minas Nerds Perfil: Adriana Aragão
A revolução será Feminista, Negra, Lésbica e Gay. Ou não será.
Expediente Jornal do Império Reitor Silvio Soglia
Reportagem
Lídio Gabriel Responsaveis Thainá Dayube Thielly Cristine Péricles Diniz UanDerson Lima Robério Ribeiro
Editora Chefe Diagramador
Thielly Cristine
Uanderson Lima
Editores Assistentes
Revisores
Uanderson Lima Thainá Dayube
Lidio Gabriel Uanderson Lima
P.S.: Contém imagens retiradas da internet
Empoderamento, combate ao machismo, racismo, homofobia e qualquer tipo de preconceito, resistência: palavras que ultimamente estão sendo muito faladas e debatidas em todos os lugares e mídias. A sociedade anda vivendo tempos extremamente políticos, onde discussões sobre todas essas expressões vêm sendo pautadas incansavelmente. As minorias clamam por seu espaço e por seus direitos e o universo nerd não fica de fora disso. Os quadrinhos, filmes, livros e games também possuem uma enorme importância no meio dessas questões. O mundo da cultura pop passou muito tempo nas amarras da hegemonia, com personagens brancos, homens e héteros no comando, mas, essa era está chegando ao fim. Mulheres (que não precisam ser brancas e magras), gays, lésbicas e negros também existem, são heróis, são vilões e principalmente protagonistas da sua própria história. Tendo noção da importância política de todas esses debates, a equipe do Jornal do Império resolveu fazer sua terceira edição com matérias sobre esses assuntos. Discussões sobre política e massificação da cultura nerd, minorias nos quadrinhos e um especial sobre mulheres no mundo nerd/geek compõem esse número do JDI. Boa leitura e reflexão!
Equipe Jornal do Império.
Sumรกrio
Igualdade Nos Quadrinhos! Especial: Mulher, Sim! Nerd, Tambem! Misturando Politica e Cultura Pop Nerd Is The New Sexy! 04
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Resistência nos quadrinhos!
So b r e a b usca pela i g ua lda d e se r efleti r d entro da n o n a a rte.
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os últimos anos, a bandeira das minorias vem sendo levantada pelas grandes empresas de histórias em quadrinho, assim como aconteceu com a inserção dos negros nos gibis na década de 1970. Porque, além da realidade sócio-econômica-cultural ser a fonte em que os roteiristas bebem, a repercussão causada pelas polêmicas desperta a curiosidade, gera vendas e, logo, rende lucros. As grandes editoras Marvel e a DC Comics são as atuais responsáveis pela manutenção do holofote sobre o universo dos quadrinhos, não só por suas inúmeras adaptações audiovisuais, mas também pela reestruturação editorial sofrida por ambos Essa reestruturação consiste em recontar as histórias dos personagens clássicos, sendo transportados agora para a realidade do século XXI. É complexo de entender para quem não está a par de toda a linha cronológica das HQs e também de suas realidades e universos paralelos, mas basicamente, para abrir espaço para novas histórias sem invalidar totalmente o que já tinha sido construído sobre os personagens, são criados novos universos em que nada é igual ao anterior. Por isso, existem várias versões do mesmo herói. Como é o caso do Flash e do Lanterna Verde, na DC. E do Wolverine, na Marvel.
A BUSCA POR UM ESPAÇO DE DIREITO Os negros vêm a muito tempo tentando burlar a hegemonia branca para ter sua representação aumentada. Primeiramente apareceram personagens pequenos e pouco importantes. Até chegar no Pantera Negra, da
Uanderson lima. Marvel. Depois vieram outros mais marcantes como Luke Cage e John Stewart, o primeiro Lanterna Verde Negro. Mas esses personagens não foram bem aceitos assim que foram lançados. Foi um longo caminho de insistência dos criadores para que os heróis se estabelecerem. Outro ainda maior até o enfrentamento da sociedade como casamento “interracial” de Luke com Jessica Jones ou o papel de destaque de John Stewart na Tropa dos Lanternas Verdes. Hoje em dia ainda existem poucos heróis negros que têm um papel importante ou uma história só para si. Super-Choque e a versão negra e latina do Homem Aranha são os únicos que vem à mente logo de cara. E as mulheres nisso tudo? De início apenas ali para serem o motivo de o herói ser o herói. Depois foram galgando espaço como heroínas de pequeno escalão, e hoje em dia algumas delas tem até série/filme próprios (sim, estou falando de Supergirl, Jessica Jones e Mulher Maravilha). Mas ainda há muito o que se lutar pelo espaço da mulher nos quadrinhos, quando até mesmo um diretor de alto escalão da Marvel diz que suas heroínas não são rentáveis e por isso não tem as mesmas oportunidades de divulgação que os heróis.
A BANDEIRA LEVANTADA (E MANTIDA TIMIDAMENTE) Os personagens não-heterossexuais são tão difíceis de encontrar em locais de importância no cânone dos quadrinhos quanto os negros. Mesmo havendo personagens abertamente gays desde meados de 1980, ainda há bastante repercussão quando em um universo alternativo da Marvel, o Wolverine beija Hercules ou na Terra-2 dos Novos 52 da DC, quando o Lanter-
na Verde Hal Jordan tem que salvar o seu parceiro do perigo. E isso gera críticas quase tão grandes quanto a troca de sexo de alguns personagens nos novos quadrinhos da Marvel (Thor é um deles) ou quando uma heroína além de super empoderada, também é lésbica. A Batwoman Kate Kane tinha tudo para ser uma heroína tão grande quanto a Mulher Maravilha. Mas além de muita gente encarar a personagem como uma simples versão feminina do Batman (o mesmo acontece com a Supergirl e seu primo Superman), a personagem ainda tem – até hoje – uma enorme carga de quebra de tabus por ser a primeira heroína abertamente lésbica. Se já é difícil ser mulher empoderada nos quadrinhos, é ainda mais difícil ser empoderada e lésbica.
CONSERVADORISMO (E PRECONCEITO) TUPINIQUIM. Não se pode dizer que não existam heróis, ou ainda, personagens transexuais nos quadrinhos. Existem. Mas aqui no Brasil nenhuma das histórias em que eles apareciam foram publicadas. As HQs da Batgirl por exemplo, onde a companheira de Barbara se assumiu transexual, não é publicada no Brasil. O universo dos quadrinhos é tal qual a nossa realidade: uma hegemonia heteronormativa, machista, cis e branca. Então quebrar todos esses paradigmas é um trabalho árduo. É algo que vem sendo trabalhado aos poucos. Com muitas reclamações e mobilizações que acabam por isso mesmo. Em geral, a reação conservadora é somente de uma parcela do público alvo das HQs; que ao contrário do que se pensa é a faixa etária entre 25 e 35 anos de idade. Tanto que alguns personagens conhecidos, como o Noturno da série X-Men da Marvel, não aceitam a sexualidade de seus companheiros heróis e homossexuais. Constantemente o Brasil é citado como o país com mais mensagens hostis e homofóbicas, e isso não é diferente quando o assunto envolve quadrinhos. Segundo James Robinson, roteirista da história do Lanterna Verde na Terra 2, as mensagens mais agressivas que recebeu em suas redes sociais vieram de
brasileiros revoltados. Também não foi diferente quando ocorreu o momento entre Hercules e Wolverine.
METAFORAS MAL ENTENDIDAS. É notório como muitos desses conservadores não entendem as mensagens subliminares passadas pelos quadrinhos que eles mesmo se dizem fãs. Tomando X-Men como exemplo podemos perceber que a luta do Professor Xavier e seus pupilos é por uma sociedade igualitária, onde haja espaço para que todos possam abraçar suas diferenças de forma positiva, não tentando escondê-las para se enquadrar na normatividade. Se alguém se diz fã de um quadrinho que tem essa mensagem, se implica que essa pessoa seja aberta às diferenças e não alguém conservador que vai protestar porque o personagem com mais trejeitos de machão dos quadrinhos beijou outro símbolo de masculinidade. No fim das contas, pode-se dizer que há representatividade nos quadrinhos. A representatividade da realidade que vivemos fora das páginas dos desenhos. Temos personagens de todos os tipos, mas ainda assim os heróis brancos e heterossexuais tem muito mais espaço que heróis negros ou homossexuais ou até mesmo heroínas. Vivemos de cotas para a tentativa de promoção de igualdade no mundo que nos cerca, e isso se reflete nas oportunidades no mundo dos quadrinhos também.
Mulher, Sim!! Nerd, Também!
Ilustrações: Kaol Porfírio
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Mulheres nos Quadrinhos De coadjuvantes à personagens principais: Saiba como as mulheres vêm ocupando espaço no mundo das HQs.
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s quadrinhos começaram entre os anos 40 e 50, com histórias curtas, de rápida conclusão e diversos seguimentos focados em gêneros como terror e ação. Não é fato desconhecido que naqueles tempos, as mulheres tinham uma importância mínima ou nenhuma para o desenvolvimento da história, e mesmo quando tinha, geralmente era para alavancar o papel do herói. A partir dos anos 60, com a consolidação de heróis famosos até hoje, tivemos o começo das aparições de membros femininos nas equipes; mas ainda era bastante raro, com uma média de 1 mulher a cada 4 ou 5 personagens masculinos. E essas poucas mulheres, possuíam muito mais a função de “embelezamento da equipe”, alívio cômico na história ou até mesmo eram o interesse romântico do herói principal. Chegando nas décadas de 70 e 80 é onde temos o boom das personagens femininas. Com as equipes já conhecidas, as editoras começaram a apostar em outros seguimentos de heróis, e dessa gama surgiram várias versões femininas de heróis já existentes; nesse caso temos como exemplo a Miss Marvel, Mulher Hulk e Mulher Aranha. Um fato importante sobre essa época é que as mulheres tinham como enfoque não só a beleza ou romances, todas tiveram histórias e arcos muito bem desenvolvidos. A década de 90 quebrou esse bom ritmo de representatividade das mulheres nos quadrinhos. As duas
Thainá Dayube. décadas passadas, onde houveram histórias profundas e arcos desenvolvidos, deram lugar a banalização do corpo da mulher, que mais uma vez passaram a servir apenas para o deleite masculino com suas roupas curtas e apertadas. Mas, essa situação vem mudando novamente e desenhistas e roteiristas vêm cada vez mais buscando ter uma visão feminina para suas histórias. Além das mudanças nas histórias, o público feminino também vem crescendo ao longo dos anos. Uma pesquisa recente feita pela Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação (Esamc), revelou o perfil dos leitores de quadrinhos. Apesar dos homens ainda serem maioria com 85,1%, o estudo mostra o crescimento do envolvimento das mulheres, atingindo 14,9%, valores semelhantes aos da pesquisa do site Omelete sobre o Universo nerd/geek. Já o levantamento do blog Papo de Quadrinho, especializado em HQs, também apontou aumento, mas de 31% do público leitor feminino contra 69% masculino. As mulheres vêm ocupando espaço como personagens, leitoras e também como roteiristas. Diversos sites têm seu conteúdo voltados apenas para quadrinhos produzidos por mulheres e histórias como o “Lady’s Comics”. A saga “Universos Desconstruídos” também é outro bom exemplo, a coletânea é composta apenas de histórias com mulheres e discute questões de sexualidade, raça e gênero.
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Thainá Dayube.
Deusa,
Sith, Jedi e
Empoderada!
Veja o que a cosplayer, integrante do Conselho Jedi Bahia pensa a respeito de assédio, machismo e empoderamento feminino dentro do universo dos cosplays.
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começo
A sith Twi’lek, Saori, Hera Syndulla e recentemente Rey, personagem do mais novo filme de Star Wars, são algumas das personagens que Adriana Aragão, de 28 anos, já se transformou com a prática do cosplayer. Adriana conta que seu primeiro contato com o universo dos cosplays, aos 23 anos, foi ótimo e ela foi muito bem recebida pelos veteranos. Mas, ao longo do tempo foi percebendo que nem todos eram tão calorosos e respeitosos e conta que já passou por situações de assédio várias vezes. “Eu já tive de dar tapa em alguém por mão boba, ordenar imperativamente para que tirassem a mão dos meus Lekku (tentáculos de uma twi’lek) ou me afastar para não ouvir comentários”, afirma. Mesmo escolhendo personagens com qual se identifica ela já teve que desistir de um cosplay por conta de situações constrangedoras. Adriana conta que foi em um evento com cosplay da Saori (personagem do desenho Cavaleiros do Zodíaco) e ouviu gritos sobre o tamanho dos seus seios e de como ficavam no vestido. “Devido a reação do publico no evento eu me senti desconfortável e nunca mais usarei ele”, diz a cosplayer.
raridade, hoje é muito mais comum e deixa tudo mais confortável. ” Nos eventos ela diz que também percebeu aumento do público feminino e acha que todos os debates acerca do empoderamento e autonomia da mulher foram válvulas propulsoras para esse fato. Rey, representatividade e união feminina Seu cosplay mais recente é a da Rey, personagem de “The Force Awakens” (2015) e para ela a personagem contribui com as questões da representatividade feminina e por ser forte e independente, se consolida como peça fundamental em meio a essas discussões. Adriana diz que “algumas de nós ainda não entendemos a força que temos, mas fazemos de tudo para provar que somos capazes, eu imagino que quem criou a personagem Rey, foi muito feliz, criativo e inteligente. Ela é uma mulher com que várias outras podem se identificar e que as crianças a podem utilizar como modelo de força para o crescimento.” Ela considera necessária a união das mulheres cosplayers diante das situações de assédio e desrespeito e que elas possam montar estratégias de defesa e auto-proteção como por exemplo ficarem sempre juntas em eventos.
Empoderamento Sobre o empoderamento e visibilidade feminina no universo nerd ela acredita que mulheres sempre gostaram e consumiram esse conteúdos, mesmo não sendo produzidos diretamente a elas. Adriana acha que a internet foi um fato decisivo para a união dessas mulheres. “Eu sempre me considerei uma gamer, e eu sempre me escondia atrás de avatares masculinos e moduladores de voz em jogos online, mas alguns anos pra cá conseguia ver grupos de mulheres jogando juntas, o que quando eu tinha 13 anos era
O que é Cosplay? A palavra é a abreviação de “costume play”. O termo refere-se à atividade lúdica, praticada principalmente por jovens, a qual consiste fantasiar-se de personagem real (artista) ou ficcional (personagem de animes, mangás, comics ou videogames), procurando interpretá-lo na medida do possível. Os participantes dessa atividade chamam-se cosplayers.
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Entrevista:
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coletivo Minas Nerds surgiu em março de 2015 e tem como objetivo unir mulheres que gostam e consomem conteúdos da cultura pop. Além disso, elas também buscam mostrar trabalhos feitos por mulheres, como quadrinhos, ilustrações e textos. Confira nossa entrevista com as “minas”, um bate papo sobre machismo e empoderamento feminino no universo nerd.
Jornal do Império: Como e por que surgiu a ideia para
um coletivo só de mulheres nerds? Minas Nerds: Nós sempre consumimos bastante conteúdo geek/nerd e em então em uma reunião percebemos como a maioria desse conteúdo era feito por homens e Thainá Dayube. também que os sites que frequentávamos eram majoritariamente masculinos. Assim, resolvemos nos juntar (e JDI: Como vocês avaliam as representações femininas na chamar outras minas que não estavam presentes) para famídia? (Filmes, games, HQs etc) zer um coletivo nerd feminino e além de tudo, divulgar conteúdos feitos por minas. MN: A representação da mulher na mídia nunca foi tão boa, personagens rasos, que JDI: Quais as principais diferenças “o que nos deixa mais felizes serviam mais de enfeite e troque vocês veem no cenário nerd féu para o herói do que outra atual para o de alguns anos atrás? é ver que nosso coisa, raras eram as que tinham Acham que as mulheres ganharam de fato mais espaço e visibilidade? público feminino vem aumentando uma história mais desenvolvida e que ganhavam a atenção MN: O cenário nerd atual ainda é cada vez mais e a cada evento do público pela personalidade muito machista e preconceituoso, e não pelo seu corpo/roupa. mulheres ainda sofrem misoginia e conhecemos mais minas que Mas, é inegável perceber que tem seus corpos hipersexualizados, gostam e acompanham nosso isso vem também caminhando mas, não podemos negar que houve para a melhoria. Temos ótimas sim um crescimento da nossa visitrabalho.” personagens femininas em sébilidade. Até porque, é importante ries (como as personagens de ressaltar como andamos nos unindo Orange is the new Black, Arrow e Penny Dreadfull), liultimamente, então, isso acaba influenciando no jeito vros (Arya, Cersei, Daenerys d’ As Crônicas de Gelo e que nos tratam, nos representam e nos vêem. É um traFogo, por exemplo) e outras várias entre filmes e HQs. balho que tem que ser feito aos poucos, comparado há Acreditamos que a tendência é melhorar e que as mulhealgumas décadas, conquistamos bastante, mas, ainda é res passem a ser cada vez melhor representadas. pouco pra o tanto que precisamos alcançar. JDI: Por ser um coletivo feminino, sofrem muito precon- JDI: Vocês buscam manter parcerias com outros coletivos de mulheres nerds? ceito em eventos e convenções nerds? Essa situação tem MN: Sim, a maioria das nossas parcerias do site são de melhorado nos últimos tempos? MN:Sim, antes tínhamos pouquíssimos espaços para outros coletivos femininos, o Collant sem Decote, a ilustradora Kaol Porfírio e o site Minas do RPG são alguns mostrar nosso trabalho inclusive e já ocorreu de irmos exemplos. e ouvirmos piadas de mau gosto e coisas do tipo “lugar JDI: A figura da mulher nerd muitas vezes sofre fetichide mulher não é aqui”. Mas nesses últimos anos com as zação e não é levada a sério neste universo, como vocês discussões acerca do empoderamento feminino a situação trabalham para desconstruir isso? vem melhorado um pouco, já temos mais participações em estandes de eventos etc e somos mais ouvidas. Mas, MN: Sempre buscamos problematizar situações e fazer o que nos deixa mais felizes é ver que nosso público fetextos reflexivos, sobre a vivência da mulher nesse univerminino vem aumentando cada vez mais e a cada evento so. E o principal de tudo: dar cada vez mais visibilidade conhecemos mais minas que gostam e acompanham nosà mulheres que produzem conteúdos, participam e conso trabalho. tribuem ativamente com o mundo nerd.
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Política e Cultura Pop: uma mistura que dá certo! Lídio Gabriel.
política está em todos os lugares, nos mais diversos tipos de discussões e abordagens, e a cultura pop não fica de fora dessas questões. As abordagens são bem diversas, desde tons mais irônicos e cômicos de South Park e os Simpsons, até as discussões mais sérias de House of Cards e Game of Thrones. É claro que essas abordagens não são realistas, mas cumprem o papel de levantar debates importantes. A maior parte dos produtos são ficcionais e não têm relação direta com acontecimentos atuais, ainda assim suas reivindicações são espelhos de seu tempo. Quando se fala em produtos políticos da cultura pop, vem à nossa cabeça algo mais “simples”, ligado ao partidarismo e a questões governamentais; muitos desses produtos não são tão fáceis de digerir, mesmo assim são aceitos com sucesso pelo público. O mais recente exemplo é House of Cards, série da Netflix. Um seriado inteligente que tenta responder à um questionamento comum: “o que acontece nos bastidores da política governamental?” Usando esse mote como direção, a série acertou ao proporcionar situações possivelmente exageradas, que despertam a atenção do público, mesmo sem ele saber se aquilo pode ou não está sendo realista. Mesmo sendo complexo de acompanhar para quem não tem nenhum conhecimento prévio sobre política norte-americana, o seriado acerta ao harmonizar outros elementos que podem ser explorados fora de seu
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Frank Underwood, House Of Cards
contexto, como a obsessão por poder de seu personagem principal, Frank Underwood; que usa de diversos artifícios para conseguir tudo o que deseja, desde manipulações e suborno até assassinato. Apesar de diferentes em diversas questões, Game of Thrones da HBO, tem algumas enredos semelhantes a House of Cards, pincipalmente na fixação pelo poder de quase todos os personagens da história. Como o universo criado por George Martin vive em plena guerra, sempre existe alguém que está disposto a tomar as rédeas do governo de Westeros. Embora possua dezenas de pretendentes, os setes reinos foram governados por poucas pessoas nesse período. Tywin Lannister talvez seja o personagem que mais obteve destaque; ele soube como nenhum outro governante, passar por diversos reis sem ter sua cabeça exposta na Fortaleza Vermelha. Mesmo não sentando no trono de ferro, o senhor da casa Lannister soube comandar todo o reino por traz das cortinas, hora atuando como Mão do Rei, hora como homem mais rico dos sete reinos.
A vida imita a arte ou a arte imita avida? As conspirações e traições fazem parte do cotidiano de Westeros e com elas vem diversas formas de manipulações geopolíticas, que quase sempre resultam em execuções e massacres. Martin já afirmou em entrevistas que suas inspirações vêm muito das histórias da Idade Média. A Guerra das Rosas por exemplo, motivou a disputa da casa Lannister com Stark, representantes dos Lancaster e York da vida real. Quem também se apropriou de várias referências históricas para criar suas disputas políticas, foi o diretor e roteirista George Lucas, criador da franquia Star Wars. Em todas as histórias que compunham o universo expandido da saga, a política era fator importante do enredo; assim como a trilogia original de filmes, que tem como plot principal a tentativa de retomada da República pela Aliança Rebelde, diante de um poder autoritário e tirano, o Império. Toda a analogia de poder autoritário, do líder indestrutível e das topas militares são semelhantes ao Terceiro Reich, comandado por Adolf Hitler. Todos esses exemplos de produtos culturais com temáticas políticas, servem também para despertar o interesse do público geral para uma introdução mais profunda no assunto. Assim como servem para questionar alguns elementos ainda vigentes na sociedade, como a obsessão por poder, a ganância, a corrupção e outras questões que são descobertas com um olhar mais atento. Fica mais do que claro, que a cultura pop pode sim abordar toda uma gama de temáticas com profundidade e até mesmo analítico.
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Nerd is the new
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Thielly Cristine.
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m uma rápida pesquisa sobre o que é ser nerd encontramos uma simples definição para o assunto: “Nerd é o termo utilizado para definir uma pessoa muito dedicada aos estudos, que alcançam níveis intelectuais acima dos previstos para sua idade”. Sendo assim, a primeira visão que temos é aquela estereotipada: calça social, camisa xadrez e um óculos fundo de garrafa. Certamente você deve lembrar de algum amigo da escola que era mais ou menos assim. Deve lembrar também do bullying que ele sofria simplesmente por ser diferente, sendo excluído dos demais os círculos sociais. Mas se isso é visto como algo tão ruim; por que todos querem ser nerds hoje em dia? Não podemos afirmar ao certo quando chamar alguém de “nerd” deixou de ser ofensa e passou a significar algo legal e descolado, mas nos últimos anos isso virou tendência.
Fatores sociais e, por que não?, econômicos. Primeiro, devemos levar em consideração que ser nerd nos dias atuais não significa exclusivamente um sinônimo de inteligência elevada. O termo “Nerd” passou a ser referente a um nicho de pessoas com gostos e costumes parecidos, como quadrinhos, séries, livros, RPG e uma gama infinita de itens que antes eram considerados de pessoas socialmente excluídas. E com isso surgiu o que chamamos de cultura nerd. O segundo ponto que podemos destacar, refere-se a mídia e ao atual modelo mercadológico, onde itens considerados nerds tem um grande valor monetário. O surgimento desses novos nerds despertou o inte-
resse da mídia, que influencia a forma de consumo no meio capitalista. Consumo significa novos investimentos e para Visakha Seus, 22, fanática por animes, isso não é de todo ruim: “O surgimento de novas pessoas que se dizem nerds, é algo que acho até legal. Significa dizer que coisas, que antes eram de difícil acesso, vão chegar de forma mais fácil até nós.” O crescimento dos meios tecnológicos e a popularização da internet também influenciou o crescimento da cultura pop e o surgimento de novos nerds. Kaio Lima, 23, estudante de direito, acha que todo esse sucesso da cultura nerd algo passageiro. “Vejo essa mudança do cenário nerd como uma moda, a internet influenciou bastante, mas daqui um tempo a moda vai ser outra coisa. Resta saber se nós nerds vamos continuar recebendo tantos bens de consumo como agora”.
Afinal, ser nerd virou mesmo modinha? Há quem jure que não, mas não é muito difícil encontrar na internet tutoriais como “10 passos para se tornar um nerd”, “Como se tornar um Nerd de sucesso” ou ainda, vlogueiras de moda ensinando como customizar sua camiseta favorita de Star Wars. A figura do nerd passou a ser representada e recriada em diversos pontos, exemplos claros disso aparecem em seriados como Chuck, onde o protagonista Chuck Bartowski, é um nerd informático, ou The Big Bang Theory, que retrata a vida de um grupo de físicos da Caltech e sua vivência em meio a jogos de RPG, filmes e outras infinitas referências a cultura nerd. Ser nerd se tornou algo charmoso e claramente almejado por algumas pessoas, e isso gera um contraponto na vivência dos nerds clássicos, onde ter uma inteligência elevada ou conhecimentos em computação não é motivo para chacotas ou qualquer tipo de preconceito. O bullying deixou de existir? Claro que não. Mas a realidade meus caros, é que esse é um bom tempo para ser nerd. Em outros tempos, o nerd seria rechaçado por usar uma camiseta de desenho, enquanto hoje, o que mais se encontra nas ruas são adultos usando camisetas de Adventure Time.
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Fevereiro, 2016