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ÁSIA POP
Na esteira do sucesso da música da Coreia do Sul, agora Índia e China também querem cruzar fronteiras
por_ Eduardo Lemos de_ Londres
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O sucesso global de bandas sulcoreanas como BTS e Blackpink faz o mercado voltar suas atenções para a Ásia, região que concentra 60% da população mundial e registra os melhores resultados econômicos do momento. “O que o K-Pop fez na última década é apenas um indicador do que pode acontecer ao longo do tempo”, avisou Shridhar Subramaniam, presidente do braço asiático da Sony Music, quando a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) publicou seu mais recente relatório, em março.
Para Simon Robson, presidente internacional de música gravada da Warner Music Group, a região também se destaca pela inovação. “As lives, o merchandising e as gorjetas digitais estão estabelecidos há muito tempo na Ásia, e os serviços de streaming da China funcionam como mídia social, o que ainda não foi possível com as plataformas globais até agora.”
Ainda que estejam próximas geograficamente e no ranking de maiores mercados da IFPI — a Coreia ocupa o sexto lugar, com a China em sétimo —, a indústria da música funciona de forma diferente nos dois países. O governo chinês não investe na exportação da cultura local como faz o Estado coreano, e a própria força do mercado da China é um “obstáculo” para o ímpeto exploratório dos artistas, já que os nomes mais populares da música também costumam trabalhar como atores, modelos ou apresentadores de TV.
Um bom exemplo é o rapper Jackson Wang, que, com apenas 26 anos, acumula as funções de estrela da música, da TV, da moda e da publicidade. Ainda assim, no ano passado, ele lançou um disco só com músicas em inglês e prepara para este ano outro álbum com foco no público dos EUA.
Na Índia, Armaan Malik, considerado o “príncipe do pop”, assinou contrato com o selo norte-americano Arista Records, pertencente à Sony Music. “A música pop indiana irá dominar o mundo em breve”, disse recentemente Daniel Ek, CEO do Spotify.
Nos últimos anos, muitos artistas locais têm se distanciado do poderoso mercado de trilhas sonoras de Bollywood em busca de mais liberdade criativa. Este movimento criou uma cena alternativa mais ‘cosmopolita’, que tem seus próprios selos e produz música eletrônica, R&B, hip-hop e até folk, como no caso da banda When Chai Met Toast. “É o mercado independente, e não Bollywood, que fará a música indiana cruzar a fronteira”, escreveu Amit Gurbaxani, jornalista que cobre a indústria musical do país, em ensaio publicado no site Music Ally.
“Os países não estão trabalhando em conjunto para expandir a música asiática no exterior; cada um está focado em sua própria música e como fazer para exportá-la”, explica Jocelle Koh, fundadora do Asian Pop Weekly, plataforma que pesquisa o mercado musical da região.
A banda chinesa Orange Ocean se encaixa muito bem com o som típico das bandas indies estrangeiras. A Sunset Rollercoaster, de Taiwan, também já conseguiu muita aclamação no exterior. No reino pop, artistas como a chinesa Tia Ray estão fazendo coisas realmente interessantes, colaborando com artistas e selos estrangeiros. Taiwan também tem a cantora 9m88, que passou um tempo em Nova York e traz interessantes influências de jazz e neo-soul. Todos são artistas que parecem ter um interesse natural pelo mercado externo, e acho que essa intenção é muito importante, pois vai nortear a direção e os sons desses artistas no futuro.
Ela acredita que Taiwan, Filipinas e Indonésia também podem furar a bolha dos mercados ocidentais, já que por lá há muitos artistas que cantam em inglês e utilizam plataformas globais, como o Spotify. Koh alerta, no entanto, que o sucesso do K-Pop não será facilmente reproduzido. “Embora a Coreia do Sul seja muito aberta sobre a sua estratégia, acho que será muito difícil para outros países obterem os mesmos resultados”, opina.
Seja qual for o próximo sucesso do pop asiático, é certo que ele terá forte apelo audiovisual. “A Ásia aprendeu com os Estados Unidos nos anos 90 e 2000 que a imagem é fundamental e criou uma verdadeira indústria de videoclipes”, observa Lourival Neto, diretor criativo e de conteúdo audiovisual da Sony Music Latin Iberia.
Para Joe Newman, professor do departamento de música da Universidade Goldsmiths, de Londres, é positivo que o mercado abra espaço para artistas fora do eixo EUA-Europa. “A música pode contribuir para que o público tenha uma maior consciência das diferentes culturas e experiências que estão acontecendo no mundo.”
LOURIVAL NETO: COMO O POP BRASILEIRO PODE SE TORNAR GLOBAL
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